Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 UM ESTUDO APROFUNDADO SOBRE OTELO, O MOURO DE VENEZA, DE WILLIAM SHAKESPEARE Fernanda de Cássia Miranda Mônica de Aguiar Moreira Garbelini Ederson da Paixão Arnaldo Nogari Júnior Ana Carolina Von Ah Uliana Larissa Fávaro de Oliveira Souza Eva Cristina Francisco Integrantes do Projeto de Pesquisa “Os Primeiros Dramas Elisabetanos” – GP “A Arte Teatral: Conceituação, História e Reflexões” (UENP/CLCA). RESUMO Considerado o gênio do Teatro Elisabetano e reconhecido como um dos maiores nomes da Literatura Universal, William Shakespeare nos apresenta em suas peças, que mais tarde se transformaram em obras literárias, aspectos que nos levam a refletir sobre a natureza humana, através de seus personagens ricos e complexos; alguns virtuosos, outros, com alguma oscilação de caráter. Nesse sentido, o presente minicurso pretende fazer uma análise profunda da peça Otelo, O Mouro de Veneza, escrita por volta de 1603, ressaltando não apenas o enredo e os personagens, mas outros pontos considerados pertinentes, que serão esmiuçados e explanados. Palavras-chave: William Shakespeare. Personagens. Análise aprofundada. Introdução Considerado o gênio do Teatro Elisabetano, William Shakespeare vem sendo estudado por teóricos de todos os tempos, e observa – se que dependendo da década em que ele é objeto de atenção, há sempre um novo aspecto considerado tão pertinente quanto qualquer outro relacionado à sua vida e às suas produções. Nascido em Stratford – upon – Avon, em 23 de abril de 1564, Shakespeare consolidou sua carreira como um dos maiores dramaturgos de todos os tempos, ao escrever (e reelaborar) peças teatrais, incluindo comédias, peças históricas, tragédias e também belíssimos poemas e sonetos. Ao retratarmos sobre os objetivos de Shakespeare, percebe – se que ele escrevia peças para ganhar dinheiro e possuir propriedades, sem preocupação em deixar para o futuro algum legado literário, exceto, talvez, pelos seus poemas. 896 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 Nesse sentido, dois amigos dele, Heming e Condell, responsabilizaram – se pela primeira edição de suas peças reunidas (First Folio), em 1623, sete anos após a sua morte. Diante disso nota – se que Shakespeare também escrevia suas peças para serem representadas e não para serem publicadas. Outra preocupação de Shakespeare era em agradar e aproximar a plateia elisabetana de suas peças, pois ele sempre procurava promover uma integração entre o mundo real e o mundo idealizado, através de temáticas diversas. No que se refere às condições nas quais Shakespeare trabalhou, sabe – se que havia pouco cenário, e esse fato obrigava o ator a utilizar recursos para criá – lo na imaginação do público, através de descrições muito realistas e vivas nos textos. Em relação às cenas, Anthony Burgess considera Shakespeare como cinematográfico, devido às suas rápidas mudanças de cena, sendo que esta sua agilidade também aplica – se à sua linguagem, ao inventar palavras novas e escrever com facilidade, além de preocupar – se com o som das palavras, e que efeito esse som deveria causar nos ouvidos de seu público. Apesar de Shakespeare não ser bem visto devido às suas reelaborações de peças através de histórias já existentes, e também pelo fato de ele atuar, é notável a sua ousadia e superação diante de seus predecessores, conferindo às suas produções, sua genialidade e sua poeticidade em elaborar palavras novas e de conferir às suas peças o toque criativo e peculiar, com temáticas sobre a natureza humana, as quais podemos considerá – las atemporais. Referente Extratextual O personagem Otelo, a exemplo de todos os heróis da épica e da tragédia clássica, não foi inventado pelo autor da obra, mas inspirado numa história real que se passou na Itália em 1508. Havia um capitão mouro muito corajoso e respeitado por suas habilidades na arte da guerra que era casado com uma linda jovem por quem era muito apaixonado e de quem sentia muito ciúmes, tanto que se fazia acompanhar da esposa mesmo na guerra. Numa certa batalha, sentindo que a derrota era inevitável, o mouro preferiu matar sua esposa à deixá-la à mercê dos inimigos. Em 1535, baseado nos fatos acima, o escritor italiano Giovanni Batista Giraldo, mais conhecido como Cinthio, escreveu o conto (ou novela) Un capitano mouro, que está contido em sua obra Hecatommi (que significa literalmente cento e dez histórias). Cinthio apresentou o mouro como um homem de grande caráter, sendo muito 897 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 respeitado pelos governantes pois sua grande habilidade na arte da guerra era muito necessária para defender os territórios contra os exércitos inimigos. Porém, o capitão tinha ciúmes doentios de sua linda esposa, e acreditando nas falsas insinuações de um alferes invejoso de que a jovem o traía, ele a matou. Shakespeare, ao adaptar para o palco em 1605 a história do mouro, se baseou no conto de Cinthio, conferindo ao personagem principal todas as qualidades de um verdadeiro herói e também toda a desconfiança e ciúmes de um homem inseguro e apaixonado. Ele usou na sua peça todos os ingredientes necessários para uma verdadeira tragédia shakespeariana, explorando temas variados como o racismo, amor, ciúmes, traição, atração sexual, inveja, astúcia discórdia, poder e choque cultural, fazendo de Otelo, o Mouro de Veneza, uma obra universal e atemporal. Análise dos Personagens: Principais Características Neste momento será empreendida uma análise breve, porém importante acerca das principais características dos personagens presentes na peça Otelo, o Mouro de Veneza, de William Shakespeare. Quando pensamos em personagens podemos mencionar os apontamentos de Franco Junior (2003), que ressalta que os mesmos são seres constituídos por meio de signos (verbais e visuais – peças de teatro, novelas), e que, portanto, são representações dos seres que movimentam a narrativa por meio de suas ações e/ou estados. Dessa maneira, ao estudar de maneira breve, mas de importância considerável tais elementos referentes à obra em questão, propôs-se uma divisão com base nos Personagens Protagonistas, Antagonista, Secundários bem como os demais, cuja participação não é de extrema importância, mas que contribuem (mesmo que de maneira superficial), para com o desenvolvimento da trama. Personagens Protagonistas • Otelo: Otelo era um general mouro, de aparência rude, cujos sentimentos eram de nobre. A idade não é revelada no desenrolar da obra, porém dá-se a entender de que já era um homem de, idade um pouco avançada. De coração humilde, foi incapaz de perceber a malícia e a maldade das pessoas ao seu redor às quais acreditava. Podemos verificar tal aspecto no momento em que este acredita que a traição de Iago é fruto do “inimigo”. Por não ter sido seguro em seu amor, acreditou na armadilha de Iago a respeito de uma suposta traição por parte de sua esposa, Desdêmona. 898 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 Otelo (A Iago): Não irei. Quero que me encontrem. Minha dignidade, meus feitos e minha alma íntegra lhes mostrarão exatamente como eu sou. (SHAKESPEARE, 2009, p. 28) • Desdêmona: Esposa de Otelo, Desdêmona era uma jovem nobre muito desejada por muitos rapazes tanto por sua beleza quanto pelo dote que possuía. Viveu em um período em que os pais decidiam os casamentos dos filhos, porém esta teve autonomia para escolher seu próprio esposo, o qual seu pai acreditava que teria ocorrido devido a bruxarias. Sua vida terminou de maneira trágica sem o apoio de ninguém. Desdêmona: Se amei o mouro o bastante para viver com ele, o desafio de minha conduta e a tempestade enfrentada por minha sorte são proclamados ao mundo ao som da trombeta. Meu coração aceita a profissão militar de meu marido. Em sua alma, vi o semblante de Otelo e consagrei a minha vida e meu destino à sua honra e sua valentia (...). (SHAKESPEARE, 2009, p. 38) Personagem Antagonista • Iago: Iago era um personagem que odiava o mouro Otelo visto que este concedeu o cargo de tenente a Cássio, visto que ele pretendia por se julgar mais experiente. Egocêntrico, se submetia aos mandamentos, ordens e desejos de Otelo pensando apenas em seus próprios interesses e necessidades. Enquanto traía a confiança de Otelo, era visto por este como uma pessoa honesta. Iago (A Rodrigo): Podes ficar tranquilo! Eu só continuo sob as ordens dele para servir meus propósitos a seu respeito. Nem todos podem ser senhores, nem todos os senhores podem ser fielmente seguidos. (SHAKESPEARE, 2009, p. 22) Personagens Secundários • Cássio: O tenente Cássio foi escolhido para tal cargo de confiança por ter-se tornado confidente do amor e relacionamento entre Otelo e Desdêmona, possuindo, assim, a confiança do casal. Ingênuo, também não foi capaz de perceber a trama de Iago para 899 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 com sua desgraça, que foi se embriagar e se envolver em uma situação que lhe custou a perda de seu cargo. Cássio: (...) Não penseis, cavalheiros, que eu esteja bêbado! Este é meu alferes, esta é a minha mão direita e esta a minha mão esquerda... Não estou embriagado agora; posso ficar de pé muito bem e falar melhor ainda! Todos: Perfeitamente bem! (SHAKESPEARE, 2009, p. 57) Otelo (A Iago): Já sei, Iago, que tua honestidade e tua amizade te induzem a atenuar o fato para que pese menos sobre Cássio. Gosto de ti, Cássio, porém nunca mais serás meu oficial. (SHAKESPEARE, 2009, p. 61) • Brabâncio: Senador da República de Veneza e pai de Desdêmona. Não era favorável para com o casamento de sua filha com o mouro Otelo. Brabâncio: Foi seduzida, roubaram-na de mim, e corrompida com feitiços e drogas compradas de charlatães, pois, por natureza, não sendo ela imbecil, cega e coxa de sentidos, não poderia ter-se enganado tão loucamente, sem a ajuda da feitiçaria. (SHAKESPEARE, 2009, p. 33) • Emília: Esposa do astuto e sábio Iago, serviçal de Desdêmona. Sua figura a princípio parece de pouca importância na obra mas aos poucos vai adquirindo espaço. Acaba entregando seu esposo a Otelo, Ludovico e Montano, tudo pela honra de Desdêmona. Otelo: Era falsa como a água! Emília: E vós, o fogo que queima sem pensar, dizendo que ela era falsa. Oh! Ela era honesta! (SHAKESPEARE, 2009, p. 133) Os demais personagens da obra, cuja participação não é tão importante para o desenrolar da trama quanto os acima elencados são os seguintes: • Bianca: Amante de Cássio; • Montano: Governador antes de Otelo; • Ludovico: Parente de Brabâncio; • Graciano: Irmão de Brabâncio; • Rodrigo: Fidalgo apaixonado por Desdêmona; 900 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 • Bobo: Criado de Otelo; • Doge de Veneza. A inveja presente na obra Otelo, o Mouro de Veneza, de William Shakespeare A literatura é fundamental a todos os seres humanos. Como se sabe, a sua produção e fruição se baseiam numa condição de necessidade universal de ficção e de fantasia, que é coextensiva ao homem, pois aparece firmemente em sua vida, como indivíduo e como grupo, junto da satisfação das necessidades mais primárias. Dessa forma, a literatura é uma das classes que contribuem para essa necessidade universal, cujos exemplos mais simples e espontâneos de contentamento são o provérbio, a adivinhação, o trocadilho entre outros. Em seguida, com o desenvolvimento da civilização, as formas mais simples deram origem aos textos impressos, anunciados pelo livro, o folheto, o jornal, e pela revista, em forma de poema, conto, romance e narrativa romanceada. Recentemente, ocorreu a expansão das modalidades ligadas à comunicação pela imagem e à redefinição da comunicação oral, propiciada pela técnica: fita de cinema, histórias em quadrinhos, telenovela, etc. Dessa forma, por via oral ou visual, a necessidade de ficção se manifesta a cada instante, pois ninguém consegue passar um só dia sem fantasiar e fazer uso sua imaginação. No entanto, a fantasia nem sempre é pura, pois muitas vezes ela se refere a uma realidade presente na nossa sociedade, podendo refletir um fenômeno da natureza, um acontecimento histórico, nossas emoções, tradições, e até mesmo, novos problemas sociais. Por esse motivo surge uma indagação a respeito da ligação entre fantasia e realidade, a qual pode servir de princípio para pensar na função da literatura, como afirma Cândido: A fantasia quase nunca é pura. Ela se refere constantemente a alguma realidade: fenômeno natural, paisagem, sentimento, fato, desejo de explicação, costumes, problemas humanos, etc. Eis por que surge a indagação sobre o vínculo entre fantasia e realidade, que pode servir de entrada para pensar na função da literatura. (CÂNDIDO, 2002, 80-81) Por assim ser, as obras literárias por mais que sejam fantasiadas têm por base a realidade. Ao apresentar a realidade da sociedade, a literatura pode atuar no 901 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 subconsciente do homem, dando-o subsídios, os quais podem ajudá-lo a se relacionar com os demais e a compreender o comportamento dos grupos sociais. Portanto, a literatura tem a função de formar, porém não como a ideologia pedagógica que apresenta exclusivamente o Verdadeiro, o Bom e o Belo, acentuados de acordo com os interesses dos grupos dominantes, mas educando como ela realmente é, com altos e baixos, luzes e sombras, ou seja, “ela não corrompe nem edifica, portanto; mas, trazendo livremente em si o que chamamos o bem e o que chamamos o mal, humaniza em sentido profundo, porque faz viver”. (CÂNDIDO, 2002, p.85) Dessa forma, a literatura apresenta a vida de fato como ela é, tanto com os prazeres e alegrias que vivemos no nosso cotidiano, quanto os fatos ruins, os quais devemos lidar. Sendo assim, a literatura acaba por influenciar a humanidade, pois nos expõe as mais diversas situações e nos faz refletir sobre elas. De acordo com Cândido (2002, p.92): ...o leitor, nivelado ao personagem pela comunidade do meio expressivo, se sente participante de uma humanidade que é a sua, desde modo, pronto para incorporar à sua experiência humana mais profunda o que o escritor lhe oferece como visão da realidade. (CÂNDIDO, 2002, p.92) O drama Otelo, o Mouro de Veneza, de William Shakespeare, escrito por volta de 1603, é exemplo de obra que chama a atenção do leitor para essa conformidade. Nele o autor apresenta determinados comportamentos humanos, os quais são muito presentes na sociedade atual e que são prejudiciais a todos, portanto impuros. Uma das características que mais se faz presente no drama, o qual certamente nos deparamos constantemente na nossa sociedade atual, é a inveja. Entendemos por inveja um sentimento de tristeza perante o que o outro tem e a própria pessoa não tem. Este sentimento gera o desejo de ter exatamente o que a outra pessoa possui, desde coisas materiais como qualidades inerentes ao ser. Analisando a obra, nos deparamos com o sentimento de inveja o tempo todo. Logo no início do drama nos deparamos com um diálogo entre Iago e Rodrigo, onde aquele se queixa por Otelo ter sido promovido a tenente e não ele: RODRIGO - Cala-te! Não me fales. Aborrece-me demais verificar que justamente tu, Iago, que dispunhas à vontade de minha bolsa, como se teus fossem seus cordões, conhecesses isso tudo... IAGO - Mas escuta-me, ao menos! Se eu já sonhei alguma vez com isso, podes abominar-me. RODRIGO - Dito me havias que lhe tinhas ódio. 902 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 IAGO - Despreza-me, se não for assim mesmo. Três pessoas de grande influência aqui vieram falar-lhe, chapéu na mão, com humildade, para que fizesse de mim o seu tenente. E por minha fé de homem, tenho plena consciência do que valho; não mereço posto menor do que esse. Ele, no entanto, consultando somente o orgulho e os próprios interesses, furtou-se com fraseado bombástico, recheado só de epítetos de guerra. Em conclusão: não entendeu aos meus intercessores. "Pois já escolhi meu oficial", lhes disse. E quem é ele? Ora, por minha fé, um matemático, um tal Micael Cássio, um florentino, um tipo quase pelo próprio inferno fadado a ser uma mulher bonita, que nunca comandou nenhum soldado um campo de batalha e que conhece tanto de guerra como uma fiandeira; erudição de livros, simplesmente, sobre o que podem dissertar com a mesma proficiência que a dele os nossos cônsules togados; palavrório sem sentido, carecente de prática: eis sua arte. No entanto, meu senhor, foi o escolhido; ao passo que eu, que aos próprios olhos dele provas cabais já dera em Chipre e Rodes e em muitos outros pontos habitados por cristãos e pagãos, terei de, agora, ficar a sota-vento e calmaria, só por causa do dever-e-haver de um simples calculista, que - oh tempos! - vai tornar-se tenente, enquanto que eu - Deus me perdoe! - continuarei sendo do Mouro o alferes. Podemos perceber no fragmento acima a inveja de Iago para com a promoção de Otelo. Iago acredita que ele próprio deveria ter recebido tal promoção, pois acredita ser melhor que Otelo e por isso, o critica e o discrimina de várias formas. Por consequência dessa inveja, Iago tenta prejudicar Otelo, acusando-o para Bradâncio, pai de Desdêmona, de ter casado com sua filha utilizando-se de bruxaria: IAGO - Com mil diabos, senhor, fostes roubados; por vergonha, ide vestir a toga; arrebentado tendes o coração; metade da alma já vos foi alienada. Agora mesmo, neste momento, um velho bode negro está cobrindo vossa ovelha branca. Tocai o sino, para que despertem os cidadãos que roncam; do contrário, o diabo vos fará ficar avô. Despertai! E o que eu digo. BRABÂNCIO - Mas que é isso! Perdestes o juízo? RODRIGO - Venerável senhor, reconheceis-me pela voz? BRABÂNCIO - Não; mas quem sois? RODRIGO - Rodrigo; assim me chamo. BRABÂNCIO - Pior nome não podias revelar-me. Não te proibi de me rondar a casa? Não me ouviste dizer, com leal franqueza, que para ti não era minha filha? Por que me vens agora, transtornado pela ceia e os vapores da bebida, com tua tratantagem maliciosa perturbar-me o repouso? RODRIGO - Meu senhor, senhor, senhor... BRABÂNCIO - Mas podes ficar certo de que minha coragem e meu posto na república têm poder bastante para fazer-te amargurar por isso. RODRIGO - Paciência, bom senhor. BRABÂNCIO - Por que me falas em roubo? Estamos em Veneza; minha casa não é uma granja. RODRIGO - Venerável senhor, vim procurar-vos com lisura. IAGO - Ora, senhor! Sois uma dessas pessoas que se negariam a servir a Deus, se fosse o diabo que lhes ordenasse. Por que viemos prestar-vos um serviço e nos tendes na conta de velhacos, quereis que vossa filha seja coberta por um cavalo berbere e que vossos netos relinchem atrás de vós? Quereis ter cordéis como primos e ginetes como parentes? BRABÂNCIO - Quem és tu, miserável licencioso? IAGO - Sou um homem, senhor, que vim revelar-vos que vossa filha e o Mouro se acham no ponto de fazer o animal de duas costas”. 903 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 No trecho acima nos deparamos com o resultado da inveja de Iago. Por não ter sido promovido a tenente, Iago tenta prejudicar Otelo, acusando-o de ter seduzido Desdêmona a se casar com ele por meio de bruxarias. No nosso cotidiano, nos deparamos constantemente com situações semelhantes a esta, onde a crueldade do ser humano é evidente. Como afirma Cândido, a literatura não trás só o belo “mas, trazendo livremente em si o que chamamos o bem e o que chamamos o mal, humaniza em sentido profundo, porque faz viver”. (CÂNDIDO, 2002, p.85) Durante toda a obra, Iago tenta elaborar uma estratégia eficaz para de alguma forma atingir Otelo. Tudo isso, como afirmado anteriormente, é resultado da inveja da personagem para com o Mouro. Podemos observar tal sentimento no trecho abaixo, onde Iago decide causar ciúmes em Otelo para com sua esposa Desdêmona: IAGO - Que amor lhe tenha Cássio, é o que acredito; que ela o ame, é quase certo e compreensível. O Mouro, embora eu suportar não o possa, por natureza é firme, nobre e amável, tendo eu plena certeza de que ele há de ser o marido ideal para Desdêmona. Mas eu também a amo, não por simples concupiscência, muito embora eu seja também passível dessa grande falta. Não; é para saciar minha vingança, pois suspeito que o Mouro luxurioso pulou na minha sela, pensamento esse que, como mineral nocivo, me corrói as entranhas, sem que nada possa ou deva deixar-me a alma aliviada antes de virmos nisso a ficar quites: é mulher por mulher. Falhando o plano, farei tal ciúme despertar no Mouro, que não possa curá-lo o raciocínio. Para obter isso - caso este sabujo de Veneza, que à trela sempre trago, saiba encontrar o rasto correr firme - pegarei Miguel Cássio pelo flanco, pois temo que ele também tenha usado meu gorro de dormir. Assim, o Mouro me amará, ficar-me-á reconhecido, e um prêmio me dará por eu ter feito dele um asno completo, e o ter privado da paz e do sossego, até nas raias ir bater da loucura. Aqui está tudo. Meio confuso, é certo; mas, inteira, nunca se mostra, nunca, a bandalheira. Dessa forma, percebemos o quanto o sentimento de inveja pode ser prejudicial ao homem. Iago está decidido em utilizar do ciúme para com Desdêmona, com o intuito de ferir Otelo, fazendo com que o mesmo cometa algum crime para destituí-lo de seu posto. O Ciúme de Otelo Segundo consta no Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, “ciúme é um sentimento doloroso causado pela suspeita de infidelidade da pessoa amada” (p. 238), mas propomos nesse artigo analisar o ciúme através da literatura, para ser mais específico, através do personagem Otelo, de William Shakespeare, pois “Literatura é a vida no papel” (BARASH, David P. e BARASH, Nanelle , p. 22). 904 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 A peça, como já vimos, traz uma história intensamente dramática de um general mouro de Veneza, Otelo, que ao ser manipulado por seu alferes Iago, mata sua esposa Desdêmona por ciúmes e ao descobrir o grande erro que cometeu se suicida. O rumo trágico dos personagens está traçado desde o início da peça, Otelo, inseguro por sofrer preconceito racial e ser tolerado somente por ser um grande líder militar, fica suscetível às intrigas do astucioso Iago e passa a sofrer do “monstro dos olhos verdes” (p. 34) - a green-eyed monster, brilhante definição de Shakespeare para o ciúme. “O ciúme é uma emoção extremamente comum” (Kingham & Gordon, 2004), é um complexo de pensamentos, sentimentos e ações que se seguem às ameaças para a existência ou a qualidade de um relacionamento, enquanto estas ameaças são geradas pela percepção de uma real ou potencial atração entre um parceiro e um (talvez imaginário) rival (White, 1981c, p.129) Quando o ciúme ultrapassa os limites da compreensão e a pessoa perde o controle de seus atos, ele é considerado patológico. Popularmente conhecido por Síndrome de Otelo, em referência a obra analisada, o ciúme patológico compreende várias emoções e pensamentos irracionais e perturbadores, além de comportamentos inaceitáveis ou bizarros (Leong et al, 1994). Podemos, então, diagnosticar o mouro de Veneza como portador do ciúme patológico, pois seu sentimento foi fundamentado em falsas ideias ou delírios, não sendo abaladas pelas argumentações racionais da doce Desdêmona, como vemos nos trechos que seguem: DESDÊMONA - Contudo, sinto medo, pois terrível sois sempre, quando revirais os olhos dessa maneira. A causa desse medo, não sei dizê-lo, pois não sou culpada; porém sinto que tenho muito medo. OTELO - Pensa nos teus pecados. DESDÊMONA - Só consistem no amor que vos dedico. (p. 64) (...) OTELO - O lenço que te dei que eu tanto amava, a Cássio o deste? DESDÊMONA - Não, por minha vida, por minha alma, não o dei. Mandai chamá-lo e interrogai-o. (p. 64-65) Ao estrangular Desdêmona, Otelo, comprova ser portador do ciúme patológico, pois como afirma Mukai (2003) os portadores dessa síndrome têm a tendência a serem violentos com o cônjuge e em alguns casos podem chegar a cometer crimes. 905 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 William Shakespeare é admirado até hoje, pois suas obras são atemporais. E com Otelo não é diferente, pois casos como esse acontecem até hoje, são as tragédias da vida real. Assim como Otelo assassina Desdêmona sem base em evidências concretas, vimos recentemente em todos os noticiários que a enfermeira Elize Araújo Kiutano Matsunaga matou e esquartejou o marido, Marcos Kitano Matsunaga, de 42 anos, dono da empresa de alimentos Yoki, ao descobrir que ele a traia. Segundo o depoimento de Elize, o crime foi motivado por ciúmes, provocado após a descoberta de uma traição por parte dele (http://www.mundopositivo.com.br/noticias). Outro exemplo recente aconteceu no dia 30 de junho desse ano, quando Um casal foi encontrado morto em um apartamento na zona leste de São Paulo (...) segundo a Polícia Miliar, o homem teria descoberto uma traição da namorada e a matado a facadas. Logo em seguida, deu um tiro na cabeça. (http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/) A razão pela qual Otelo continua a ser lida e encenada quinhentos anos depois de Shakespeare tê-la escrito é porque essa peça nos fala de algo eterno e universal... não tanto sobre um sujeito chamado Otelo, mas sim sobre nós mesmos. Ela fala ao Otelo que existe no interior de cada um de nós: nossa natureza humana comum. (BARASH, David P. e BARASH, Nanelle, 13-14). Tema da Astúcia 1ª Astúcia de Iago Iago conversa com Rodrigo indignado, pois, Otelo escolhe Cássio para ocupar o cargo de tenente. Iago então, dominado por ódio, planeja vingança: conta para Brabâncio que sua filha Desdêmona havia fugido para se casar com Otelo às escondidas. IAGO: Chama o pai dela; desperta-o; corre atrás do Mouro, põe-lhe veneno na alegria [...] atormenta-o cm praga de mosquitos. RODRIGO: Fica aqui mesmo a casa do pai dela; vou chamar em voz alta. [...] IAGO: [...] senhor, fôste roubado [...] Agora mesmo, neste momento um velho bode negro está cobrindo vossa ovelha branca [...] o diabo vos fará ficar avô. (Ato I – Cena I - p. 20 – 2) 2ª Astúcia de Iago 906 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 Iago, ainda inconformado por não ter sido escolhido tenente, alimenta muito ódio por Otelo, que não tendo conhecimento desse ódio, confia-lhe Desdêmona aos seus cuidados. Iago aproveita-se da situação para forjar um falso caso amoroso entre Desdêmona e Cássio. IAGO: [...] Ora vejamos como posso alcançar o lugar dêle e enfeitar meu desejo com patifaria. Como? De que modo? Reflitamos. (Ato I - Cena III - p. 45) 3ª Astúcia de Iago Iago forja para que Cássio seja pego em flagrante bêbado e tendo um comportamento violento, a fim de que fosse mais fácil acusá-lo a Otelo. IAGO: Vamos tenente; tenho um quartal de vinho e aí fora um par de galantes chipriotas que de bom grado beberiam à saúde do negro Otelo. CÁSSIO: Não hoje à noite, meu bom Iago; tenho a cabeça muito fraca para bebidas [...] IAGO: Oh! São nossos amigos! Um copo, somente [...] (Ato I - Cena III - p. 61) Cássio embriaga-se e mete-se numa briga com Rodrigo e Iago logo conta a Otelo do ocorrido e Otelo decide desligar Cássio do cargo de tenente. Após fingir lamentar a situação de Cássio, Iago aconselha-o a procurar por Desdêmona para pedir-lhe que interceda por ele diante de Otelo. IAGO: [...] Falai-lhe com franqueza; importunai-a, que ela vos ajudará a reconquistar êsse lugar [...]. CÁSSIO: Dais-me um bom conselho. (Ato II – Cena III – p. 71) 4ª Astúcia de Iago Cássio, seguindo o conselho do falso amigo, pede à Emília que lhe arranje para conversar à sós com Desdêmona e trata logo de levar Otelo até os dois para que ele flagrasse a mulher e o ex-tenente conversando. Em seguida, Iago lança uma cizânia a Otelo: diz-lhe algo sobre a honestidade de Cássio que fica subentendido, despertando a curiosidade de Otelo. Logo 907 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 depois, Iago faz insinuações que deixam Otelo em dúvida quanto à honestidade e a fidelidade de Desdêmona. IAGO: Nobre senhor... OTELO: Que queres Iago? IAGO: Acaso Miguel Cássio estava a par de vossos sentimentos quando a corte fizestes à senhora? OTELO: Desde o início até o fim. Por que o perguntas? IAGO: Para satisfazer o pensamento; não há malícia alguma. OTELO: Como Iago! Que pensamentos? (Ato II – Cena III – p. 82) 5ª Astúcia de Iago Iago havia pedido à sua mulher, Emília, que roubasse de Desdêmona um lenço que Otelo havia lhe dado de presente. Emília não precisou roubá-lo porque Desdêmona, num descuido deixa o lenço cair, e Emília logo recolhe e entrega ao marido que planeja entrar no quarto de Cássio e deixar o lenço de Desdêmona, a fim de Otelo encontrar ali a prova de que precisava contra a esposa. IAGO: [...] não vistes por ventura na mão de vossa espôsa, algumas vezes, um lenço com bordados de morangos? OTELO: Dei-lhe um assim; foi meu primeiro mimo. IAGO: Ignorava êsse fato; porém tenho certeza plena de ter hoje visto Cássio passar na barba um lenço desses, que foi de vossa esposa. [...] OTELO: Que baixe para o inferno essa lasciva prostituta! Que baixe para o inferno! [...] Doravante serás o meu tenente. IAGO: E eu me declaro vosso pôr toda vida. (Ato II – cena III – p. 96 – 98) 6ª Astúcia de Iago Após envenenar Otelo contra Desdêmona, dando continuidade ao seu plano, Iago planeja a morte de Cássio. Para isso, induz Rodrigo, prometendo-lhe ajudá-lo a se casar com Desdêmona. Porém, Iago planejava também a morte de Rodrigo para que não houvesse testemunhas que poderiam chantageá-lo no futuro. IAGO: [...] se na próxima noite não vieres a possuir Desdêmona, tira-me traiçoeiramente deste mundo e inverta suplícios para fazer-me morrer [...] Veio uma ordem especial de Veneza, para que Cássio fique no lugar de Otelo. RODRIGO: Isso é verdade? Nesse caso Otelo e Desdêmona terão de voltar para Veneza. 908 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 IAGO: Oh, não! Êle vai para a Mauritânia e levará consigo a bela Desdêmona, a menos que sua permanência aqui seja prolongada por algum acidente[...] (se Cássio) ficar incapaz de ocupar o lugar de Otelo, por lhe terem estourado os miolos. RODRIGO: É isso que desejais que eu faça. IAGO: Sim [...] (Ato IV - Cena II - p. 127 – 128) 7ª Astúcia de Iago A última astúcia de Iago vem a ser o conselho que dá a Otelo de que lavará sua honra somente se matar Desdêmona. E Otelo, Como já está possuído por ódio porque pensa ter sido traído, asfixia Desdêmona friamente sem lhe dar ouvidos às suas explicações ou à defesa. OTELO: Pensa nos teus pecados. DESDÊMONA: Só consistem no amor que vos dedico. OTELO: Pois por êle vais agora morrer. [...] DESDÊMONA: [...] Em tôda vida jamais vos ofendi. Nunca amei Cássio, só lhe tenho dedicado essa amizade que o céu permite, e nunca o presenteei. OTELO: Pelo céu, vi o lenço na mão dêle [...] Vi o lenço! Eu mesmo! DESDÊMONA: Então, é que êle o achou. Nunca lho dei. Mandai chamá-lo, para vir confessar o que há. OTELO: Já confessou [...] que te possuiu. DESDÊMONA: Absurdo! Não dirá isso. OTELO: Não, porque tapada já tem a bôca. [...] OTELO: Para trás, prostituta! (Ato V - Cena II - p. 141-142) Otelo : a adaptação para o cinema Após as considerações feitas nos temas anteriores, vale discutir a adaptação fílmica feita sobre mais essa obra shakesperiana. A pergunta reflexiva que instiga os admiradores do dramaturgo: Por que transcodificar Shakespeare? Como já mencionado, o dramaturgo poderia ser considerado cinematográfico, devido à rapidez e a habilidade que tinha na troca de cenas durante a apresentação de suas peças. Além disso, como se sabe, seus dramas foram feitos para serem assistidos e não para mera leitura. Nesse sentido, mesmo sem aperfeiçoamento acadêmico ou qualquer tipo de especialização na área, o dramaturgo ultrapassa o papel de escritor para atuar como diretor, roteirista e muitas outras atuações existentes na coletividade da arte do gênero dramático. 909 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 Assim, encontramos uma das respostas para a pergunta lançada e consideramos algumas abordagens teóricas sobre a adaptação fílmica, pois, o teatro fica aquém do que o cinema pode oferecer no que se refere à impressão de realidade transmitida ao espectador. Desde os primórdios da sétima arte, encontramos a relação entre cinema e literatura. Esta relação, mais recentemente, passou a despertar um interesse particular por parte dos estudiosos e críticos da arte, em relação à fidedignidade da obra. A questão da transcodificação de linguagens da literatura para o cinema, estabelecendo o contraste entre “contar” e “mostrar” é bem esclarecida por Hutcheon (2006), sendo o primeiro próprio do modo literário e o segundo do fílmico. Ao assistirmos a um filme, em uma única tomada, conseguimos absorver a descrição de uma personagem que seria feita em várias páginas. O diretor ou roteirista deve reestruturar as ações dramáticas existentes e quando assistimos a uma obra transcodificada de um drama shakespeariano, conseguimos comprovar a competência do artista em transmitir a história de um modo instigante e retórico. Isso também acontece devido ao sincretismo da linguagem cinematográfica, ou seja, em uma única sequência são encontrados diversos elementos ou informações que levariam, muitas vezes, quase a obra toda em páginas escritas. Ademais, ao assistirmos a um filme, é como se os fatos estivessem ocorrendo diante dos nossos olhos, a preocupação é maior quanto aos elementos futuros da trama do que com os passados, ansiamos pelo clímax da história. Vivemos a história junto com o personagem, momento a momento, é a vivência em tempo real. E, desse modo, torna-se possível entender que o filme se liberta da obra original e passa a ser independente, ter vida própria, e é dessa forma que deve ser compreendido: uma nova experiência com novas formas e significados, teoria essa que comprova todas as atribuições dadas ao dramaturgo aqui estudado e ao merecimento à transmutação de sua obra para o cinema. Referências ALMEIDA, T. (2007). Ciúme e suas consequências para os relacionamentos amorosos. Curitiba: Editora Certa. 910 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 BARASH, David P. e BARASH, Nanelle. Os ovários de Madame Bovary: uma visão darwiniana da literatura – Tradução de Cláudio Figueiredo – Rio de Janeiro: Editora Relume Dumará, 2006. CANDIDO, Antonio. “A Literatura e a formação do homem” In ______. Vários Escritos. 3. ed. rev. E ampl. São Paulo: Duas Cidades, 1996. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini-Aurélio: o minidicionário da língua portuguesa, 7ª edição – Curitiba: Editora Positivo, 2008. FRANCO JUNIOR, A. Operadores de leitura da narrativa. In.: BONNICI, T.; ZOLIN, L. O. (Org.) Teoria literária: Abordagens históricas e tendências contemporâneas. Maringá: Eduem, 2003, p. 33-56. HUTCHEON, Linda. A Theory of Adaptation. New York: Routledge, 2006. KINGHAM, M. & GORDON, H. Aspects of morbid jealousy. Advances in Psychiatric Treatment, 10, 2004, p. 207-215. LEONG, G. B., Silva, J.A., Garza-Trevino, E.S., Oliva Jr, D., Ferrari, M.M., Komanduri, R.V., et al. The dangerousness of persons with the Othello Syndrome. Journal of Forensic Sciences, 39, 1994, p. 1445-1454. MARTIN, Marcel. A Linguagem cinematográfica. São Paulo: Brasiliense, 2003. MUKAI, T. Tiapride for pathological jealousy (Othello syndrome) in elderly patients. Psychogeriatrics, 3, 2003, p. 132-134. SHAKESPEARE, William. Otelo: O Mouro de Veneza. Tradução de Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1974. SHAKESPEARE, William. Otelo, o Mouro de Veneza. Tradução de Jean Melville. São Paulo: Martin Claret, 2009. WHITE, G. L. Some correlates of romantic jealousy. Journal of Personality, 49, 1981, p. 129-147. WHITE, G. L., & MULLEN, P. E. Jealousy: Theory, research, and clinical strategies. New York: Guilford, 1989. http://www.mundopositivo.com.br/noticias http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias Para citar este artigo: FRANCISCO, Eva C. et al. Um estudo aprofundado sobre Otelo, o Mouro de Veneza, de William Shakespeare. In: IX SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SÓLETRAS Estudos Linguísticos e Literários. 2012. Anais... UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Centro de Letras, Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2012. ISSN – 18089216. p. 896-911. 911