0 UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU – ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL ROSÂNGELA DAGOSTIN A PSICOPEDAGOGIA COMO INSTRUMENTO DE INTERVENÇÃO NA APRENDIZAGEM HUMANA CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2009 1 ROSÂNGELA DAGOSTIN A PSICOPEDAGOGIA COMO INSTRUMENTO DE INTERVENÇÃO NA APRENDIZAGEM HUMANA Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de pós-graduada no curso de Especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientador(a): Prof.(ª) Drª Clarice Monteiro Escott CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2009 2 Ao meu marido Valsi e ao meu filho Sérgio, pelo apoio e compreensão nos momentos de ausência. 3 AGRADECIMENTOS A Deus, luz dos meus passos, pela graça da vida, pelo amor e pela coragem. Que sua presença continue plena e constante em minha vida. A minha orientadora, Que repartiu conosco os seus conhecimentos e experiências, colocando em nossas mãos lições e aprendizados que levaremos ao longo da vida. A todos, Que, direta ou indiretamente, contribuíram para que os objetivos fossem alcançados ao longo desses dois anos. Aos professores e colegas de turma, Pelo companheirismo e troca de experiências. 4 “O diagnóstico é para o psicopedagogo, o que a rede é para o equilibrista.” Alicia Fernandez 5 RESUMO O presente relatório monográfico trata especificamente das questões da aprendizagem do ser humano. Para tanto, tal relato se fundamenta em um estudo de caso realizado em período de 60horas a termo de estágio clínico. O referido período compreende todo o processo de diagnóstico e intervenção psicopedagógicos pertinentes ao mesmo, sendo eles: motivo da consulta, enquadre com o paciente, história vital, hora do jogo, testes e provas projetivas e operatórias, bem como a devolução, plano de intervenção e evolução do caso. Palavras-chave: Psicopedagogia. Intervenção. Aprendizagem. 6 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................9 2 BREVE HISTÓRICO DA PSICOPEDAGOGIA ......................................................10 3 ESTUDO DE CASO EM PSICOPEDAGOGIA.......................................................11 3.1 MOTIVO DA CONSULTA ...................................................................................11 3.1.1 Fundamentação Teórica ................................................................................11 3.1.2 Relato do Motivo da Consulta/Enquadre com o paciente...........................11 3.1.3 Análise do Motivo da Consulta/ Enquadre com o paciente. .......................13 3.2 Relato do motivo da consulta com a mãe. ......................................................13 3.2.1 Análise do Motivo da Consulta com a mãe..................................................15 3.3 HISTÓRIA VITAL ................................................................................................15 3.3.1 Fundamentação teórica .................................................................................15 3.3.2 Relato da História Vital ..................................................................................16 3.3.3 Análise da História Vital.................................................................................18 3.4 HORA DO JOGO ................................................................................................19 3.4.1 Fundamentação Teórica ................................................................................19 3.4.2 Relato da hora do jogo...................................................................................21 3.4.3 Análise da hora do jogo.................................................................................22 3.5 TECNICAS PROJETIVAS PSICOPEDAGÓGICAS ...........................................22 3.5.1 Fundamentação Teórica ................................................................................22 3.5.2 PROVA PROJETIVA: DESENHO DA FAMÍLIA..............................................23 3.5.3 Análise da prova projetiva: desenho da família ..........................................25 3.5.4 Prova projetiva: Par educativo......................................................................26 3.5.5 Análise do par educativo ...............................................................................26 3.5.6 Prova projetiva – Os quatros momentos do dia. .........................................27 3.5.7 Análise da Prova projetiva – Os quatros momentos do dia. ......................28 3.5.8 Prova projetiva – o dia do aniversário / dia de descanso. ..........................28 3.5.9 Análise da Prova projetiva – o dia do aniversário / dia de descanso. .......29 3.6 PROVAS PSICOGENÉTICAS ............................................................................29 7 3.6.1 Fundamentação Teórica ................................................................................29 3.6.2 PROVA ESTEROGNÓSTICA ..........................................................................29 3.6.3 Análise da prova esterognóstica ..................................................................30 3.6.4 PROVA DAS FIGURAS GEOMÉTRICAS .......................................................30 3.6.5 Análise das figuras geométricas. .................................................................31 3.7 PROVAS OPERATÓRIAS ..................................................................................31 3.7.1 Fundamentação Teórica ................................................................................31 3.7.2 Relato das provas operatórias ......................................................................32 3.8 AVALIAÇÃO DA LECTO-ESCRITA ...................................................................37 3.8.1 Fundamentação teórica .................................................................................37 3.8.2 Relato da lecto-escrita ...................................................................................38 3.8.3 Análise Diagnóstica .......................................................................................38 3.9 AVALIAÇÃO DO PENSAMENTO LÓGICO-MATEMÁTICO ..............................39 3.9.1 Fundamentação Teórica ................................................................................39 3.9.2 Relato do Pensamento Lógico-Matemático .................................................39 3.9.3 Análise Diagnóstica .......................................................................................39 4 AVALIAÇÃO PSICOMOTORA ..............................................................................41 4.1 Fundamentação Teórica ...................................................................................41 4.2 Relato da avaliação psicomotora.....................................................................41 4.3 Análise Diagnóstica ..........................................................................................42 5 HIPÓTESE DIAGNÓSTICA ...................................................................................43 6 PLANO DE INTERVENÇÃO..................................................................................44 6.1 Justificativa........................................................................................................44 6.2 Objetivo Geral....................................................................................................45 6.3 Objetivos Específicos .......................................................................................45 6.4 Dinâmica Operacional.......................................................................................46 Com a finalidade de atingir os objetivos acima descritos, buscando uma melhor aprendizagem de M, será realizado: ......................................................................46 6.5 Avaliação do Plano de Intervenção .................................................................46 7 DEVOLUÇÃO (PACIENTE, FAÍLIA E FONOAUDIÓLOGA) .................................47 7.1 Paciente..............................................................................................................47 8 7.2 Família ................................................................................................................47 7.3 Fonoaudióloga...................................................................................................48 8 EVOLUÇÃO DO CASO .........................................................................................49 9 CONCLUSÃO ........................................................................................................50 REFERÊNCIAS.........................................................................................................51 APÊNDICE................................................................................................................53 ANEXOS ...................................................................................................................56 9 1 INTRODUÇÃO O presente relatório monográfico constituiu-se a partir de estudo de caso realizado em estágio clínico do curso de Especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Sendo assim, o mesmo tem a função de relatar todo o processo terapêutico psicopedagógico envolvido no período de estágio a se concretizar nos seguintes procedimentos: motivo da consulta, história vital, hora do jogo, técnicas projetivas, diagnóstico operatório, avaliação da lecto-escrita, avaliação do pensamento lógicomatemático, hipótese diagnóstica, devolução e plano de intervenção. Para o embasamento teórico do mesmo foram utilizados os seguintes autores: Bossa, Escott, Freire, Ferreiro, Oliveira, Pain, Visca e Weiss. 10 2 BREVE HISTÓRICO DA PSICOPEDAGOGIA Segundo Escott (2004), a Psicopedagogia tem suas origens em meados dos séculos XVIII e XIX, embora sempre tenha sido vinculada às questões patológicas. Portanto, o crescimento de fato se deu no século XX na Europa e nos Estados Unidos, com o surgimento de escolas especializadas e clínicas para atendimentos a crianças com déficit na aprendizagem. Em seu processo histórico, a Psicopedagogia teve várias denominações como pedagogia curativa, pedagogia terapêutica, psicopedagogia curativa, psicopedagogia até assumir-se finalmente como Psicopedagogia, como conhecemos hoje. Por muito tempo no Brasil, a Psicopedagogia, diferentemente da Argentina, esteve vinculada a uma concepção de reeducação, através de um modelo médicopatológico, orgânico. Com o tempo, passa a integrar outros campos do conhecimento como a Neurologia, a Lingüística, a Psicomotricidade para poder entender e intervir nos processos de aprendizagem e não-aprendizagem. (ESCOTT, 2004) Nos dias de hoje a Psicopedagogia tem se preocupado cada vez mais com a ação preventiva das dificuldades de aprendizagens a partir das instituições de ensino, o que conhecemos como Psicopedagogia Institucional. No âmbito da Psicopedagogia Clínica, a preocupação está em descobrir, investigar as causas da dificuldade de aprendizagem, resgatar fraturas e o desejo de aprender. O desrespeito à leitura de mundo do educando revela o gosto elitista, portanto, antidemocrático, do educador que, desta forma, não escutando o educando, com ele não fala. Nele deposita seus comunicados. (FREIRE, 2008, p. 123) Visto que a Psicopedagogia Institucional se caracteriza pela ressignificação das relações de aprendizagem, por meio de uma ação interdisciplinar com os demais profissionais que nela atuam, é fato que o gosto pela aprendizagem também seja de responsabilidade do educador. 11 3 ESTUDO DE CASO EM PSICOPEDAGOGIA 3.1 MOTIVO DA CONSULTA 3.1.1 Fundamentação Teórica Como o próprio nome sugere, trata-se do momento em que a família, no caso do paciente ser uma criança, ou do próprio paciente, no caso de ser um adolescente ou um adulto, falarem sobre o “motivo”, a causa de estarem ali. Este momento acontece logo na primeira sessão. É o marco inicial para o diagnóstico psicopedagógico. Em suma, esta é a ocasião onde se estabelecem as hipóteses acerca dos problemas de aprendizagem como, por exemplo: significação do sintoma na família, onde se subentende a articulação funcional do problema de aprendizagem, e para a família, que são as reações comportamentais de seus membros ao assumir a presença do problema; fantasias de enfermidade e cura; modalidades de comunicação do casal e função do terceiro. “Tal tarefa junto aos pais e à criança é na realidade o começo do tratamento psicopedagógico” [...] (PAIN, 1992, p.42). 3.1.2 Relato do Motivo da Consulta/Enquadre com o paciente. M. tem 14 anos e está na quarta série do ensino fundamental. No primeiro contato de motivo da consulta, ao ser questionado sobre o porquê da consulta e da procura pelo atendimento, M diz que não se lembra o que o fonoaudióloga falou, uma vez que veio por intermédio dela. Mas, M diz ter dificuldade de aprendizagem na fala e na escrita. Relata que quando a professora pede para ele escrever alguma coisa ele escreve tudo errado. M segue dizendo que os colegas riem dele na escola porque ele fala errado e que agora não riem mais porque ele “quebra a cara” deles se riem pois é maior que seus colegas. 12 Perguntei se ele faz algum tipo de tratamento médico, ele diz que não. M ficou alguns minutos em silêncio. Perguntei se gostaria da me falar mais alguma coisa. Disse que não. Então perguntei se ele queria jogar. Disse que sim. Ofereci o Super Lince e perguntei se ele sabia jogar. M disse que não sabia jogar, mas que queria aprender. Apresentei o jogo a ele e M se apropriou rapidamente das regras do jogo. Começamos o jogo pelo nível 1, depois o 2 e por último o 3. M venceu em todos os níveis. Inclusive na segunda fase, M criou uma estratégia de jogo. Cada ficha tinha no seu verso um número indicando os níveis 1,2 ou 3. Isso facilitava a localização das figuras no tabuleiro. Enquanto jogávamos M relatou que tem mais quatro irmãos, três meninos e uma menina. E que ele é o mais novo, o caçula da família. Falou que gosta de matemática, que esta é a sua matéria preferida e que não gosta muito é de Português porque erra tudo. Escreve faltando letras e faz confusão com algumas letras. Por duas vezes M olha no celular para ver as horas. Pergunto se está com pressa, se tem algum compromisso em casa. Ele disse que não, que não queria olhar para a cara do irmão que é muito chato. M relata que todos em sua casa, com exceção de apenas um, falam assim como ele. Durante o jogo, M se mostrou bastante comprometido às regras. Porém, as vezes ele localizava algumas imagens que eram minhas e me mostrava. Então disse a ele que não devia fazer isto, pois seria prejudicado. Mas, mesmo assim, M ganhou todas. Perguntei se ele gostaria de fazer um jogo diferente, com uma caixa cheia de materiais diferentes. Ele me disse que sim. Perguntei se veio sozinho de ônibus, disse que sim. Perguntei se a escola tinha até a oitava série, ele disse que não, que no ano seguinte irá estudar em outra escola, num bairro próximo. Então perguntei se gostaria de falar mais sobre a sua dificuldade na fala e na escrita. M diz que é assim porque é “burro”. Falei pra ele que ele é bastante inteligente, pois havia vencido todas as partidas de Lince. Por quê da dificuldade dele, nós iremos descobrir juntos, para poder ajudá-lo a superá-la. 13 3.1.3 Análise do Motivo da Consulta/ Enquadre com o paciente. O paciente demonstrou muita habilidade no jogo Super Lince, embora tenha dito não conhecê-lo. Fez rápida localização das imagens demonstrando boa percepção criando inclusive estratégias de jogo. Neste encontro não foi possível observar o sintoma na família e nem o sintoma para a família. Não foi relatada nenhuma fantasia de enfermidade. O paciente demonstrou ter construído a função simbólica, pois sabia nomear todas as figuras do jogo, localizando-as rapidamente. Entretanto, o paciente mostrou-se cooperativo, com vontade de mudar. Isto significa dizer que existe nele o “desejo” de aprender. A Psicopedagogia busca compreender a subjetividade constituída pelo desejo de saber e pela demanda de conhecimento. 3.2 RELATO DO MOTIVO DA CONSULTA COM A MÃE Após as cordialidades de recebimento da mãe de M, pergunto por que M está vindo ao psicopedagogo. Ela me diz que nem sabia que ele iria para um psicopedagogo, foi a fono que mandou, só fiquei sabendo quando ele começou. Pergunto então se ela sabe o que faz um psicopedagogo. Ela responde que não. Então explico que fazemos uma espécie de pesquisa para saber a causa da dificuldade de aprendizagem e então aproveito e pergunto se ela acha que seu filho tem dificuldades de aprendizagem. Ela diz que sim. Pergunto por que ela acha isso. A mãe de M diz que ele tem dificuldades na escola por sua maneira de falar e complementa dizendo que todos os outros filhos também falavam assim, mas que lá pela quarta série dava um “estralo” e pronto, não falavam mais errado. Diz ainda que M é inteligente para o que é pra ele, mas o que é para ente, ai, ai, ai. Relata ainda que fez teste do pezinho quando era pequeno e não deu nada. Fez teste auditivo e também não deu nada. “O otorrino disse que surda é a fono que mandou ele lá”. Ele foi encaminhado pela fono. 14 - “O M é o seguinte, se eu to em casa ele fica sem fazer nada. Quando eu não to ele faz tudo, até faxina. Vai no mercado, faz tudo.” E continua: “Ele não presta muita atenção no que a gente fala. Outro dia mandei ele ir na vizinha comprar um moletom para ele. Ele foi e disse que era pro cachorro. Teve que voltar e perguntar o que era. Eu acho que ele não quer é sair do colégio por causa da Fátima (Diretora). Eu crio os meu filhos sozinha, o M desde que ele tinha 2 anos, Quando pergunto o que ela espera do atendimento, ela diz que espera que dê aquele “estralo” de falar corretamente e escrever também. Que agora em duas (a psicopedagoga e a fono) vai render. A mãe relata que M agora tem um amigo, mas que ela tem medo e pergunta: “Será que isso é bom pro M?” Eu criei eles sozinha, então eu nunca deixei eles saírem. Agora ele ta com esse amigo que está na sala dele. Pergunto se o amigo tem a idade dele. Ela diz que sim. Então falo que ele se apegou porque são da mesma idade, diferente do resto da turma que é bem mais jovem que eles. Por isso ele se sente bem com o novo amigo e isso é bom pra ele. Uma boa amizade sempre é bom. Ela continua dizendo: “Antes ele era sempre sozinho, ficava sozinho vendo TV feito um velho barrigudo. Mas eu não deixo M sair a noite. Ele com o irmão de 17 vivem se pegando, se brigam o tempo todo. Agora pararam um pouco. O amiguinho já dormiu lá em casa, eu mão sei se deixaria o M dormir na casa assim lá, sei lá eu nem conheço. Os meus filhos são bem caseiros, só a D(filha) namora a oito anos é que sai mais. Meus filhos não me incomodam com noite assim. O mais avoadinho é o de 17. Toda a semana se apaixona. Mais é muito responsável pelas coisas dele. O M se mete nas coisas dele. Ontem eu limpei o que o M sujou na obra para não dar briga. (estão construindo e o M resolveu ajudar na pintura, mas não ficou muito bom e a mãe limpou antes que o irmão visse). Ele nem liga de falar errado. Ele vai às festas e tudo, nem liga. A mãe se emociona ao falar dos filhos. 15 3.2.1 Análise do Motivo da Consulta com a mãe Ao analisarmos o motivo da consulta com a mãe de M, fica claro o sintoma na família como sendo de contrato de sobrevivência estabelecido entre M e a mãe. A mãe em sua fala demonstra uma super proteção com relação ao seu filho caçula, M. Como por exemplo: quando fala que não deixa ele sair, que ele não liga de falar errado e sobretudo quando relata que limpou o que M sujou para que o irmão não brigasse com ele. Segundo PAIN (1985), o sintoma na família subentende-se a articulação funcional do problema de aprendizagem. Como neste caso, onde o contrato de sobrevivência da mãe ocorre de maneira inconsciente. Já o significado do sintoma para a família, acontece de forma consciente, onde a família justifica a dificuldade de aprendizagem do filho por alguma razão. Neste caso, a mãe sugere que M não tem dificuldade de aprender porque todos os outros irmãos também tiveram. Justifica também dizendo que é falta de atenção e ainda, que ele não sai da quarta série porque gosta muito da diretora e não quer ficar longe dela. Esta conduta da mãe fortalece ainda mais a certeza do contrato de sobrevivência, onde a mãe não quer, inconscientemente, que o filho cresça, encontrando justificativas infundadas para manter o filho no lugar de que não aprende. Nesta sessão não foi possível identificar nenhuma fantasia de enfermidade. No entanto, a mãe espera que o filho melhore na fala e na escrita. Segunda ele, que “Dê aquele estralo” que ocorreu com os demais filhos. 3.3 HISTÓRIA VITAL 3.3.1 Fundamentação teórica A história vital consiste na reconstrução da história de vida do paciente, com os pais e/ou responsáveis em caso do paciente ser criança. Para Pain (1992), a história vital nos proverá de uma série de dados relativamente objetivos vinculados às condições atuais do problema, permitindo-nos 16 simultaneamente, detectar o grau de individualização que o paciente tem com relação à mãe e a conservação de sua história nela. 3.3.2 Relato da História Vital Como já havíamos nos apresentado no motivo da consulta, explico sobre o que vamos conversar e digo: “Gostaria que a senhora me falasse tudo sobre a história de vida de M. Me conte tudo o que a senhora lembra sobre a vida dele, desde sempre.” A mãe começa dizendo que ele foi criado pelos irmãos, que ela sempre teve que trabalhar. Afirma que M sempre foi um bebê saudável e que mamou até os seis meses. Nunca teve nenhuma doença, só coisas do tipo “dor de garganta”. A mãe se justifica dizendo que nunca teve muito tempo de ficar com ele, pois sempre trabalhou fora. Agora, há mais ou menos um ano tem, porque está aposentada. Pausa... A mãe relata que certa vez havia feito compras e nas compras trouxe muitos ovos, umas três dúzias e que quando ela chegou em casa do trabalho M havia jogado todos na menina da vizinha. M tinha por volta dos nove anos e até hoje ninguém sabe porque ele fez aquilo. A mãe diz que encontrou ovos pelo jardim dias mais tarde. Conta que tinham uma vídeo locadora quando M era bem pequeno, uns seis anos, e que ele roubava as balas e escondia debaixo de casa para comer mais tarde. Dona V. conta que M. em casa faz serviços do tipo passar cera no chão, passar enceradeira mas briga muito com o irmão Desso de 18 anos. Em seu relato, a mãe diz que a gravidez foi tranqüila, fez pré natal, tudo certinho. O parto foi normal, tudo tranqüilo. Fez o teste do pezinho, também não deu nada. M. chupou bico ate por volta dos dois anos de idade. Tomou mamadeira só de café com leite, pois não aceitava outras coisas, também até por volta dos dois anos. Usou fraldas também até mais ou menos esta idade. Andou e falou também com mais ou menos dois anos de idade. Dentição normal por volta dos seis meses. A mãe conta que quando M nasceu ela saiu do serviço e ficou com ele até os seis meses. Depois voltou a trabalhar e os irmãos mais velhos foram que cuidaram 17 dele. M dormiu um certo tempo, não relatou até quando, na cama da mãe. Hoje ela diz que pede para ele se ele quer dormir com ela mas ele diz que não porque a mãe ronca. Hoje M está dormindo no sofá porque o colchão dele está ruim. “Pedi pra ele tirar as medidas da cama para mandar fazer outro, mas ele não tira, vou tirar eu então.” A mãe acredita que depois que se separou do marido, M sentiu um pouco a falta do pai. Relata que foi chamada na escola recentemente porque M aprontou e diz: “Eu disse pra ele que ele tem uma semana, eu vou mandar ele morar com o pai dele se ele não melhorar.” Conta ainda que M ficou uma semana na casa do pai nas férias. Agora ele queria ir de novo, mas o pai dele disse que não tem lugar pra ele, não tem roupa de cama. A mãe disse para ele falar com o pai para ele levar cobertor de casa, porque ela não fala com ele, o pai. Mas, M não quis mais ir para a casa dele, já que não tem lugar pra ele na casa do pai. Pausa... Dona V. diz que nunca fez festinha de aniversário por não ter condições mas que sempre deu presente. Faz comida em casa e dá dinheiro no natal para ele escolher o presente dele. Uma vez veio com ele, mesmo estando muito doente, só para ele comprar o presente de natal dele, um celular. Diz que depois que M arrumou um amigo está preguisoço, não cuida mais nem do cachorro. Agora proibiu M de sair com o amigo e ele está voltando ao normal, deu banho no cachorro e tudo. M dorme no triliche com os outros irmãos, quatro rapazes. “Quando ta só eu e o M é um silêncio, depois é uma barulheia.” “E comida! Final de semana eu fico só em cima do fogão e lavando roupa. Mas cada um passa a sua roupa. Só a Dani que não, ela paga o M para passar pra ela, R$ 0,25 por peça.” “O M sempre soube que o pai dele nunca ajudou com nada, se não sou eu a dar as coisinhas para eles, eles não ganham de ninguém. Eu prefiro trabalhar de domingo a domingo, do que mendigar. Quando me separei fiquei sem luz, sme água. É 18 muito fácil criticar, mas quero ver viver a sua vida.” Chora... “Por isso é que eu cobro muito deles, se acontece algo, sou só eu por eles.” A mãe relata que M tem mais “vida boa” que os irmãos dele. Que fazia faxina por R$10,00, R$15,00 para não deixar faltar o pão e o leite deles. Que antes de se casar com o pai de M, ela já tinha uma menina D. Relata que em todas as vezes que esteve grávida foi por acaso, que não tomava nenhum medicamento preventivo e acabava engravidando. “A gravidez dos mais novos, eu queria que talvez não tivesse porque o meu marido não trabalhava, eu que tomava conta de tudo e já tinha os outros pequenos.” Conta que a madrinha de M sempre a ajudou. Depois que se separou, o pessoal da igreja consegui uma casa descente pra ela. Com o tempo, trabalhando, consegui fazer uma outra ainda melhor pré-fabricada e a que ganhou, doou. Queixa-se que quando acontece alguma coisa com a família da mãe dela, é ela quem sempre tem que socorrer. Mas, quando é pra participar de festas, eles não a chamam. Afirma que há uns quatro anos foi ao juiz e o ex-marido teve que pagar pensão. Mas, pagou somente por dois meses, depois não pagou mais. A mãe quer que M estude na Floresta, bairro próximo, porque é perto e é melhor. No Giacca, colégio, diz que se já se incomodou com amiguinho de M imagina lá. “A D tinha uns 13, 14 anos, eu vi um desenho no guarda-roupa dela escrito:”Droga, to dentro.” Foi horrível pra mim. Fui na escola e a Diretora disse o que elas aprontavam. Dei uma surra nela e tirei ela da escola. Ela ficou seis meses em casa até eu encontrar vaga em outra escola. Nunca mais me incomodou.” Antes de encerrar a sessão a mãe pede para que a psicopedagoga fale para ele, o M, que não é que eu não quero que ele tenha amigos, mas não pode descuidar das coisas. “As vez uma outra pessoa falando , ajuda.” 3.3.3 Análise da História Vital Ao analisarmos a história acima relatada pela mãe de M, notamos que a mãe deixa evidente seu contrato de sobrevivência com o filho M, o caçula da família. 19 Porém, pode-se levantar a hipótese de que antes de M nascer, a mãe mantinha o contrato com os demais filhos e a medida que nasciam, ela fazia a transferência deste para o filho menor. Nota-se que a mãe guarda certo sentimento de culpa por não ter podido ficar com seu filho M nos primeiros anos de vida. Veio a ficar com ele efetivamente a pouco mais de um ano. Deixa implícito q rejeição da gravidez dos filhos mais novos. A mãe mostra-se bastante preventiva com relação ao filho M, uma vez que no passado teve “problemas” com a filha mais velha, irmã de M por parte de mãe. Pelo relato da mãe, a fratura no desenvolvimento que se apresenta é o andar e falar com mais de dois anos de idade. 3.4 HORA DO JOGO 3.4.1 Fundamentação Teórica Segundo Pain (1992), é através do jogo que a criança combina propriedades numa alquimia peculiar na qual o impossível pode ser experimentado. O jogo põe em marcha uma série de possibilidades, dentre as quais as mais equilibradas são conservadas. Neste sentido, a hora do jogo, consiste na observação do paciente enquanto joga. Nesta sessão, o psicopedagogo monta uma caixa com vários itens não representativos, onde o paciente possa criar várias coisas. É nesta hora em que podemos analisar a modalidade de aprendizagem do paciente, observar prazeres, frustrações, desejos, enfim, podemos trabalhar com o erro e articular a construção do conhecimento. Este momento constitui para o terapeuta importante ferramenta de observação sobre a simbolização e as relações que o indivíduo estabelece com o jogo. Possibilitando assim a formulação de hipóteses que poderão ser comprovadas, ou não, posteriormente. É este momento também que possibilita ao terapeuta avaliar as modalidades de aprendizagens apresentadas pelo paciente. 20 Segundo PAIN (1992), a inibição precoce de atividades assimilativoacomodativas dá lugar a modalidade nos processos representativos cujos extremos podemos caracterizar da seguinte maneira: • Hipoassimilação: os esquemas de objeto permanecem empobrecidos, bem como a capacidade de ccordená-los. Isto resulta num déficit lúdico, e na disfunção do papel antecipatório da imaginação criadora; • Hiperassimilação: pode dar-se uma internalização prematura dos esquemas, com um predomínio lúdico, que ao invés de permitir a antecipação de transformações possíveis, desrealiza negativamente o pensamento da criança; • Hipoacomodação: que aparece quando o ritmo da criança não foi respeitado, nem sua necessidade de repetir muitas vezes a mesma experiência. Sabemos que a modalidade de atividade do bebê é a circularidade, mas esta não pode ser exercitada no caso de perderse o objeto sobre o qual se aplica; isto por sua vez atrasa a imitação adiada e, portanto, a internalização das imagens. Assim, podem aparecer problemas na aquisição da linguagem, quando os estímulos são confusos e fugazes; • Hiperacomodação: acontece quando houve superestimulação da imitação. A criança pode cumprir as instruções atuais, mas não dispõe de suas expectativas nem de sua experiência prévia com facilidade. Esta criança é descrita com expressões como “não é um mau aluno, mas não tem iniciativa, não é criativo; falha em redação”. Para tanto, observa-se a maneira como retira os materiais da caixa e/ou se não os tira; a maneira como elabora seus trabalhos com os materiais disponibilizados; o que cria, se com riqueza de detalhes ou não; se tem construído algumas funções operatórias, organização simbólica. Por último, observa-se a equilibração dos esquemas do paciente. A tarefa precisa estar perfeitamente enquadrada para que o paciente possa mobilizar-se dentro de uma situação insólita, a de brincar enquanto um desconhecido a olha. Por este motivo pergunta-se se sabe por que veio e o que somos. Durante a execução desta atividade, é importante que a participação do psicopedagogo seja a mínima possível, deixando que a criança não se sinta pressionada e fique bem à vontade. 21 3.4.2 Relato da hora do jogo Entrego a caixa e digo que ele poderá fazer o que quiser com o seu conteúdo. M pega a caixa, espia sem retirar a tampa. Mexe nos materiais. Retira a tampa, coloca de lado. Pega massinha de modelar e começa modelar. Porém, faz isso atrás da caixa, não vejo. Pergunto se posso sentar na cadeira a seu lado para que eu possa usar a mesa para escrever, ele diz que sim. M pega um pedaço de tecido e deixa ao lado das massinhas. Observo que M está fazendo um boneco, uma pessoa. Usa as cores preta, azul e salmão. Agora M pega um pincel grande e tinta guache preta. Pinta o cabelo na cabeça rosada. Limpa o pincel, guarda na caixa. Fecha a tinta e guarda na caixa. Faz o “buraco” dos olhos com a ponta de um lápis. Quebra um pedaço de palito de churrasco e utiliza para unir a cabeça ao corpo, fazendo o pescoço. Pega alguns percevejos, coloca em um pedaço de pano colorido e prende nas costas do boneco fazendo uma capa. M trabalha em silêncio. Só retira da caixa o material em uso. Pega mais um palito de churrasco e corta-o em várias partes. Em um pedaço de massinha branca ele espeta quatro pedaços de palito fazendo 4 patas. Depois faz uma cabeça com massinha rosa. M constrói um cavalo. Coloca em cima dele o boneco que havia construído anteriormente. Faz um brazão, escreve a letra S nele e me diz: ”Deu.” Isso num tempo aproximado de 30 min. Pergunto se quer fazer mais alguma coisa, ele diz que não. Pergunto se quer me falar alguma coisa sobre o que fez. Diz que não. Pedi então para me dizer o que ele havia feito. M diz que fez o Batmam, depois corrige dizendo que não, que fez o Super Homem. Pergunto por que ele fez o Super Homem e ele me diz que estava lembrando do filme “Super Homem – O retorno” Perguntei se podia fotografar. Ele disse que si. Recolhei os restos de palito de sobre a mesa, jogou no lixo. Depois disso, ofereci o jogo do mico. Perguntei se sabia jogar. Disse que não sabia, mas aceitava jogar. Coloco as peças sobre a mesa e peço para que observe e 22 me diga como se joga. Ele olha e diz: “Acho que já sei, é para formar pares”. Jogamos algumas partidas e M se saiu muito bem. Depois disso, conversamos sobre sua família. M me falou das idades de seus irmãos. M tem 14, Ds tem 17, E tem 21, Dr tem 23 e Da tem 24. E a mãe, ele acha que tem uns trinta e poucos. Ainda nesta sessão, jogamos jogo da velha 11 vezes. M ganhou 4 vezes e eu nenhuma. 3.4.3 Análise da hora do jogo Ao analisarmos a hora do jogo, é possível perceber que M tem modalidade de aprendizagem Hiperacomodativo/hipoassimilativo. Possui superestimulação à imitação, falta de iniciativa, obediência acrítica às normas, submissão. Cumpre instruções mas não dispõe de expectativas. Pobreza no contato com o objeto. Déficit lúdico e criativo. Utilizou muito pouco do material oferecido. Apesar de ter feito um boneco muito bem feito, M utilizou-se de reprodução e não de criação. Tem noção de objeto permanente e função simbólica. Lembrou e refez o super homem e o cavalo sem tê-los presente. Possui noção de tempo e espaço. 3.5 TECNICAS PROJETIVAS PSICOPEDAGÓGICAS 3.5.1 Fundamentação Teórica Segundo Oliveira (1994), a criança adquire condições de ser autônomo, que constrói a própria história e toma conhecimento de suas ações através da formação e utilização das diversas manifestações simbólicas como linguagem, imagem mental, brincadeira simbólica, desenho representativo, imitação e ausência de modelo e da fabulação lúdica. Por tudo isso, as técnicas projetivas auxiliam a descobrir os significados, fazer interpretações, conhecer a criança como um ser único através de seus desenhos, 23 comentários feitos enquanto desenham, relação entre a fala e o desenho demonstrando atitude, pensamento e sentimento. O conteúdo do desenho diz algo sobre a pessoa e sua natureza, criando uma perspectiva do desenvolvimento. (DI LEO, 1985). Tenta explicar as variáveis emocionais que influenciam positiva ou negativamente a aprendizagem. As técnicas projetivas são um recurso que permitem investigar a relação do sujeito com a aprendizagem. (VISCA, 1995). Segundo Visca (1995), deve-se considerar aprendizagens tanto aquelas que acontecem em contexto escolar quanto as que acontecem fora dele, ou seja, na família ou comunidade. Para tanto, interessa saber quais os vínculos que o sujeito estabelece com o professor, com a aula em si e com os colegas da escola; as relações com adultos que lhe ofereçam modelos de aprendizagem; os cenários em que ocorrem tais aprendizagens. Assim sendo, as provas criadas por Visca buscam entender estas aprendizagens em três dimensões: Escolar (par educativo, eu com meus companheiros, o plano de sala de aula); Familiar (o plano de minha casa, os quatro momentos do dia, família educativa) e Consigo mesmo (o desenho dos episódios, o dia do meu aniversário, em minhas férias, fazendo o que gosta). 3.5.2 PROVA PROJETIVA: DESENHO DA FAMÍLIA A mãe não pode vir por motivos de doença, veio somente o paciente M. Este encontro deveria ser para a História Vital. Pedi para que M escolhesse entre a caixa, que não sabia o que havia dentro, hora do jogo ou desenhar. M titubeou um pouco, disse que tanto faz. Depois falou que era o melhor desenhista da escola e que escolhia o desenho. Perguntou o que era para desenhar. Pedi então que M desenhasse uma família. Este então exclamou: “Ah! Porque eu não escolhi a caixa, eu nunca gostei de desenhar família. Posso desenhar só os rostos? Como você quiser, disse a ele. É a família toda ou só quem mora na casa? Me perguntou. Como você quiser, eu disse. Faça uma família. M desenha a princípio escondendo com a mão o seu desenho de mim. Utiliza como modelos imagens de carinhas que estão coladas na parede atrás de mim. Estala os dedos e 24 cobre o desenho com as mãos novamente. Pede uma borracha, apaga. Faz os desenhos com muito cuidado, copia os detalhes. Os rostos que copia da parede são imagens que representam expressões faciais. Ele copia as expressões de nervoso, amor, raiva. Agora já não se importa em mostrá-los e deixa-os a vista. Ao terminar o terceiro rosto, M fica olhando para a parede escolhendo qual seria o próximo a desenhar. Escolhe a calma e me pergunta: “É uma família que é para desenhar né? Ou é a minha?” Faça como você quiser, respondi. Começa a desenhar outro rosto, desta vez escolhe feliz. Há oito carinhas na parede, ele desenha cinco delas. Diz que terminou. Peço para falar sobre a família que desenhou. Ele pergunta como assim, o nome? Se você quiser. M me responde dizendo: o primeiro é Eduardo (irmão), o segundo é Eriton (amigo da escola), o terceiro é Desso (irmão), o quarto é Nathália (colega da escola) e o quinto é Gabriela (ex colega da escola). Menina que M gostava, mostra foto dela na carteira. M diz que escolheu estes nomes só para dar nome aos rostos e foram estes que ele lembrou no momento. Pergunto se esta é a sua família. Ele diz que não. Pergunto se pode haver uma família assim de irmãos e amigos. Ele diz que sim. Então começa a desenhar uma cobra na mesma folha. Pergunto o que é se faz parte da família. Ele diz que não, mas é que desenhar lhe acalma. Pergunto se está nervoso. Diz que não e que na verdade é um dragão e não uma cobra. Pergunto o que o desenho representa para ele. M diz: nada. Então pega um caderno e me mostra alguns desenhos que fez. Um dragão e dois corações, um escrito BEM e no outro escrito MAU. Diz que copiou do irmão. Que adora desenhar, quando não tem nada pra fazer, inclusive na sala de aula, começa a desenhar. Neste instante M fica em silêncio por alguns minutos. Pergunto se ele quer jogar. Diz que sim. Mostro o Cara a Cara e pergunto se ele conhece, diz que não. Pergunto se ele imagina como que se joga, ele diz que nem imagina. Insisto. Ele diz que não faz ideia. Olha para as peças mas sem nenhuma 25 opinião. Pede para que eu explique. Peço para ele dar mais uma olhadinha e me dizer o que será que dá pra fazer com tantas carinhas. M diz: Não sei! Explico então o jogo. No início, se confunde bastante em fazer as perguntas e principalmente em baixar as carinhas certas. Por exemplo: Perguntava se era mulher. Se eu respondesse que sim, ele baixava as mulheres em vez dos homens. Fez assim várias vezes, até a terceira jogada. Então ele passou a ganhar, até empatarmos em 4 x 4. Na última jogada, ele tinha só duas carinhas e na ânsia de ganhar quis chutar a resposta e errou. Eu ganhei e ele ficou chateado. Disse que ele deveria ter esperado e dado uma resposta assertiva. Na ansiedade ele errou. Pedi para que a mãe viesse no próximo encontro se estivesse melhor de saúde. Então M pergunta: “Tu vai contar pra ela o que a gente faz aqui?” Respondi que não, nada do que fazemos ali eu comento, fica só entre nós. O que eu gostaria de falar com sua mãe eram coisas que só ela pode me dizer. Como de quando ele era pequeno por exemplo. Ele não lembra. M então me pergunta: “O que a gente faz quando gosta de alguém e quer esquecer”. Pergunto por que ele quer esquecer e ele diz que precisa pois não consegue estudar, fica só pensando nela. Eu disse que não precisamos nos esquecer de quem a gente gosta para poder fazer as coisas, é só saber conciliar. Buscar se ocupar com outras coisas que gosta de fazer. Enquanto jogávamos, houve um momento em que M mentiu a resposta para que eu não acertasse, mas logo desmentiu. Conversamos sobre isso. 3.5.3 Análise da prova projetiva: desenho da família M não se inseriu na família que desenhou e inseriu alguns de seus amigos como membros da mesma. Isso demonstra um certo desconforto de M no meio familiar, como demonstrou claramente quando disse não gostar de desenhar famílias. Segundo Bossa (2008), em sua coleção Psicopedagogia, a criança, quando chega a escola, leva uma história de experiências, relações, vivências que serão, de certa forma, reeditadas na escola, ou seja, ao estabelecer os seus novos 26 relacionamentos com professores e colegas, a criança estará se pautando pela sua história de relacionamento familiar. O modelo de relacionamento construído nessas relações familiares será transferido, reproduzido na escola, na relação com as outras pessoas do meio escolar. 3.5.4 Prova projetiva: Par educativo Começo a sessão perguntando como M está. Ele diz que está bem, que fez uma prova de interpretação de texto e acha que foi bem. Pensa ter “tirado” nota 8, mas que o colega foi mal acreditando que ele não vai passar de ano. “Mas eu vou“. Pergunto se está feliz em ir para outra escola no próximo ano. Diz que sim que está feliz em trocar de escola. Peço para M desenhar uma pessoa ensinando e outra aprendendo. M diz que tudo bem e pede uma régua. Eu entrego a régua e ele passa a desenhar o quadro negro com auxílio da régua. M pergunta: Que dia é hoje? Respondo: 31 de agosto. M escreve no topo do quadro a data que lhe falei. Depois começa a escrever várias contas de matemática. Faz uma pessoa baixa, menina, de costas, escrevendo muitos números no quadro. Me faz pensar que era a professora. Depois desenha um rapaz alto virado de frente para a classe. Diz: terminei!. Então pergunto a M o que ele desenhou e se poderia falar-me sobre. E M diz que o moço alto é o professor e a moça baixinha é uma aluna fazendo a tabuada para resolver as contas. Diz que desenhou um professor porque ele sempre vê mulheres professoras e quis fazer diferente desenhando um professor homem. 3.5.5 Análise do par educativo Em nenhum momento M se insere na sala de aula, ele não se vê nela, não se vê incluso. 27 O Desenho do Par Educativo leva a relações onde um se propõe a ensinar e o outro a aprender. Logo, além de ser uma relação de aprendizagem, é também uma relação onde o desenvolvimento afetivo de cada um, aluno e professor, também afloram, ficando o aprender envolvido nos aspectos pessoal e psicológico. 3.5.6 Prova projetiva – Os quatros momentos do dia. Entrego folha A4, lápis e borracha e peço que M desenhe os quatro momentos, desde quando acorda até quando vai dormir. M pergunta se tem que ser do dia atual ou de qualquer dia. Digo que são quatro momentos do seu dia, desde a hora que acorda até a hora de dormir. M pede uma régua e divide a folha em quatro. Começa a desenhar no primeiro quadrado da folha. Fica concentrado, procura detalhar a imagem. Mas, tem dificuldade em lembrar os momentos relevantes. Faz mais um desenho e parte para o terceiro. Até então M só desenhou objetos. Não fez nenhuma figura humana, nem a sua própria. “Deu!” Diz M. Desenhou no primeiro quadrado uma cozinha, diz ser onde toma o café da manhã. No segundo um sofá e um televisor, onde ele assiste TV. No terceiro um cachorro com uma bola e uma mão jogando a bola. M. diz que este é seu cão e a mão é a dela brincando com o cachorro que diz gostar muito. No quarto quadrado M faz o desenho de uma brincadeira chamada “taco”. Relata que brinca de taco com os amigos da rua. “Posso perguntar por que você não desenhou a escola?” M diz: “Porque eu não gosto muito da escola. Todo o dia a mesma coisa, mesmas pessoas, mesma professora, todos com a mesma roupa. A única coisa que muda é a escola”. Pergunto: “E por que você não se incluiu nos desenhos?” Responde: “Eu não gosto de me desenhar.” 28 3.5.7 Análise da Prova projetiva – Os quatros momentos do dia. Analisando a prova acima relatada, observamos que M não considerou a escola como fazendo parte do seu dia, nem a hora de dormir. Além de não se incluir nas imagens. Desenhou o que gosta, mas não se vê ali. Para Paín (1992), As provas projetivas tratam de desvendar quais são as partes do sujeito depositadas nos objetos que aparecem como suportes da identificação e que mecanismos atuam diante de uma instrução que obriga o sujeito a representar-se situações estereotipadas e carregadas emotivamente. Sendo assim, neste caso em específico, M manifesta desinteresse pela escola, ao menos não a quis representar como momento do seu dia. E, ainda que tenha desenhado outros momentos que tenha considerado como relevantes, não se faz presente neles fisicamente. 3.5.8 Prova projetiva – o dia do aniversário / dia de descanso. Inicialmente pedi para desenhar o dia do aniversário. M falou que não se lembra de nenhum aniversário dele e observa: “Se eu tivesse com o meu diário, eu escrevo tudo. Se bem que tem um monte de folha que eu joguei fora.” Perguntei então se não lembrava do último. Diz que não. Perguntei se lembrava de algum de quando era pequeno. Diz que não. Então peço a M que desenhe os episódios do seu dia de descanso. Entrego uma folha dobrada em seis. M se concentra ao máximo para fazer o desenho. Se debruça sobre ele. Vejo que apaga alguma coisa que não gostou. Esconde o desenho com a mão. Pensa e fala alto: “Deixa eu ver...mais o quê.” Termina o desenho. Explica que o primeiro é ele na cãs do amigo esperando para sair. O segundo ele está brincando com o cachorro e o terceiro ele esta deitado, assistindo TV na cama da mãe dele. 29 3.5.9 Análise da Prova projetiva – o dia do aniversário / dia de descanso. Observamos que M desta vez se inclui nas cenas, em todas elas. Embora tenha se restringido a fazer apenas três episódios, mesmo percebendo que tinha espaço para seis. 3.6 PROVAS PSICOGENÉTICAS 3.6.1 Fundamentação Teórica As provas psicogenéticas possibilitam avaliar em que estágio a criança se encontra em termos das variantes cognitivas: constâncias perspectivas (forma, tamanho, cor e som) e conservação operatória. (ESCOTT, 2004) Esta avaliação dá-se por intermédio do reconhecimento tátil-cinestésico, ou seja, o movimento realizado pelo paciente para identificação das peças através do tato. 3.6.2 PROVA ESTEROGNÓSTICA Apresento todas as figuras da prova esterognóstica a M e peço que ele as nomeie como achar melhor. M as visualiza e dá um nome para cada uma delas. Logo, deixo-as sobre a mesa para que M as visualize durante a execução da prova. Em uma caixa com dois furos, peço que M introduza as suas mãos nos dois buracos. Então, entrego uma peça de cada vez e peço que ele as identifique utilizando somente o tato. M faz uma a prova acertando quase todas as peças, tanto as com furos, denominadas topológicas ou abertas, quanto às fechadas denominadas euclidianas. M se equivoca apenas nas figuras das argolas, trocando os seus nomes. 30 3.6.3 Análise da prova esterognóstica Analisando a prova apresentada, conclui-se que M está entre o estágio 2 e o 3. Ou seja, não acertou com totalidade as figuras, caracterizando estar no nível 2. M trocou os nomes de duas peças abertas, podendo-se levantar a hipótese de que o mesmo não possui definido as estruturas operatórias de conservação e função simbólica. 3.6.4 PROVA DAS FIGURAS GEOMÉTRICAS Entrego a folha de canto, mais o lápis e M me diz que o lápis ele trouxe de casa. Falei então que não poderia utilizar borracha nem régua para fazer os desenhos geométricos e expliquei o que ele deveria fazer. M não gostou muito. Perguntou sobre os tamanhos e eu disse que ele deveria fazer como achasse melhor, do jeito dele. O primeiro desenho M fez rapidamente. O segundo, o terceiro, o quarto, o quinto, o sexto. Me perguntou se fui eu quem fiz as fichas. Disse que sim. Então ele disse: “Ah! Usou a régua, né?” Peço que ele enumere uma a cada 5 figuras e pergunto se entendeu? Diz que sim. Mas M enumera todas elas. Desenha muito rápido. M erra a 12ª figura e me pergunta o que ele deve fazer já que não tem borracha. Oriento que ele marque a que errou e faço uma outra. Mas, M prefere dar um jeitinho nesta mesma. M gira a folha conforme precise para desenhar. Começa a desenhar no verso da folha a partir da 17ª figura. Na 18ª acha que não ficou muito bom e tenta melhorar passando o lápis várias vezes na mesma linha. A 19 ele erra, marca com um X e faz uma outra logo abaixo. As 20ª e 21ª figuras (+ e x) M coloca as fichas debaixo da folha e copias com os traços um pouco menores para caber. M atira as fichas para mim conforme vai terminando. M levou 15 minutos para fazer todas as figuras. 31 3.6.5 Análise das figuras geométricas. Avaliando a prova de figuras geométricas realizada por M., identifico que o mesmo encontra-se intermediário entre o estágio 2 e o estágio 3. Visto que, embora M tenha desenhado a maioria das figuras respeitando suas dimensões, inclusive das encaixadas, esta prática não foi unânime. M inverteu a posição da pirâmide na figura 12 e reforçou seus traços. Também usou traços reforçados na 15, na 18 e na 19. Sendo que, esta última teve que refazer. Na cruz e no xis, M utilizou-se do recurso de cópia sobre a imagem, colocando a folha sobre o desenho e copiando-o por cima. Ainda, embora tenha utilizado bem o espaço da folha, M fez repasse em algumas figuras, indo e voltando com o lápis no mesmo traço, demonstrando uma certa ansiedade, tensão. M não apresentou nenhum indício de problemas neurológicos, visto que manteve a gestalt das figuras solicitadas. 3.7 PROVAS OPERATÓRIAS 3.7.1 Fundamentação Teórica Segundo Weiss (1997) as provas operatórias têm como objetivo principal determinar o grau de aquisição de algumas noções-chave do desenvolvimento cognitivo, detectando o nível de pensamento alcançado pela criança, ou seja, o nível de estrutura cognoscitiva com que opera. Assim, faz-se necessário obter informações do sujeito quanto as suas noções operatórias segundo a epistemologia genética de Piaget: classificação, seriação, conservação, reversibilidade, noção de causalidade, correspondência termoa-termo, noção de tempo, função simbólica, noção de objeto permanente e noção de espaço. (ESCOTT, 2004). Contudo, o diagnóstico deve compreender um grau de observação ainda maior. 32 3.7.2 Relato das provas operatórias Seriação de bastonetes Entrego a M os dez bastonetes em desordem e peço para que tome conhecimento do material. Logo, solicito que faça uma escadinha, colocando-os em ordem do menor para o maior, encaixando-os na base. M pega os bastonetes, arruma-os sobre a mesa, deitados, utilizando a base com apoio para alinhar um dos lados. Então coloca um a um nos furos da base de maneira correta, do menor para o maior. Peço então que feche os olhos e retiro um dos bastões. Peço para que localize de onde este foi retirado. M pega o bastão, mede e reorganiza , colocando-o no lugar certo. Agora, peço que me entregue os bastões um a um de menor para o maior. Porém, escondo a base atrás de um papelão. M alinha os bastões na mesa e me entrega de forma correta, fazendo uma escadinha. Análise da prova de seriação de bastonetes. Êxito obtido por método operatório. M antecipou com facilidade a escala, fazendo metodicamente a sua construção, colocando primeiro os bastões menores e a seguir em graduação até o final. Fez a descoberta atrás do anteparo, construindo espontaneamente a linha de base. Prova operatória – conservação de pequenos conjuntos discretos de elementos. Coloco sobre a mesa vinte fichas do mesmo tamanho, dez rosas e dez azuis e peço que M escolha um dos grupos. Ele escolhe as dez fichas azuis.Alinho as seis de minhas dez fichas e peço para que ele faço o mesmo. M repete a operação, uma ficha 33 azul para cada uma rosa. Depois afasto as seis fichas deixando um dos lados alinhados com as fichas azuis dele e pergunto: E agora, quem tem mais? M responde que temos a mesma coisa porque eu não coloquei nem tirei nada, apenas afastei. Em seguida eu junto as minhas fichas, aproximando-as de maneira que a fila de minhas fichas rosas ficasse menor que a dele, deixando sempre uma das extremidades alinhada com a fila de fichas de M. Pergunto: E agora quem tem mais? M responde que temos a mesma coisa porque eu só juntei, sem tirar nem colocar nada. Pergunto sobre a quantidade que temos nas mãos sem contar. M responde: quatro. Então pergunto como ele sabe e M me diz que tínhamos ao todo dez fichas cada um, colocamos seis na mesa, então ficamos com quatro na mão. Faço o mesmo procedimento colocando desta vez as fichas em círculo e faço as mesmas perguntas, M as responde como do procedimento anterior. Análise da prova operatória - conservação de pequenos conjuntos discretos de elementos. Avaliamos o procedimento de M nesta prova como sendo conduta conservativa. O mesmo justificou com argumentação de identidade, afirmando que não foi tirado nem colocado nada e por isso ficou a mesma quantidade. De reversibilidade e de conservação, dizendo que tanta faz afastar ou juntar, se não se colocar nada e nem por nada, a quantidade é a mesma. Prova Operatória – Conservação do comprimento. Apresento dois fios a M, um com 10 e 15 cm. Em seguida, coloco-os na mesa de maneira que o maior de 15cm fique com suas extremidades juntas com o menor de 10cm. Sugiro a M que imagine que imagine que os fios são estradas e pergunto qual é o maior e o menor caminho. M responde que o fio deformado é a estrada mais comprida porque o fio é maior, apenas está cheio de “curvas”. 34 Depois, também deformo o fio menor de maneira que suas extremidades fiquem diferentes do fio maior e repito a pergunta. M diz que continua igual, pois não mudou o tamanho, apenas a forma. Análise da prova operatória – Conservação do comprimento. Analisando a prova acima citada, avaliamos que M se comportou com condutas conservativas, respondendo corretamente as duas transformações. Prova operatória – Conservação do volume Apresento a M dois copos exatamente iguais contendo a mesma quantidade de água em ambos. Peço então que M faça duas bolinhas de massa de modelar do mesmo tamanho. M pega um rolinho de massa de modelar e o parte ao meio, enrola fazendo duas bolas do mesmo tamanho. Pergunto como ele sabe que está do mesmo tamanho e M responde que partiu ao meio, então deve estar igual. Peço uma das bolas para M e a coloco em um dos copos com água e pergunto onde tem mais água. M diz que tem a mesma coisa, só que um parece ter mais por causa da bolinha que está junto agora. Sugiro então que coloquemos a outra bola no outro copo e pergunto: onde tem mais água agora? M responde dizendo que não mudou nada com relação a água dos copos, apenas acrescentamos as bolinhas. Então peço agora que M transforme uma das bolas em rolinho, fizemos os mesmos procedimentos, mas as respostas de M são as mesmas, não mexemos na água e por isso não mudou a quantidade, só a aparência. Embora eu quisesse convencê-lo de que o nível estava maior, M estava convencido de que não, a água era a mesma, a bolinha é quem fez subir o nível de água. 35 Análise da prova operatória – conservação de volume Analisando a prova acima citada, podemos observar que M demonstrou conduta conservativa em todas as transformações, julgando o volume igual. Os juízos de conservação se mantêm apesar da contra-argumentação. Prova operatória – Classes - Mudança de critério (dicotomia) Apresento para M um conjunto de fichas coloridas pequenas e grandes, nos formatos de círculos e quadrados. Pergunto para M o que ele está vendo e M me responde que está vendo quadrados e bolinhas azuis e vermelhas. Antes que eu solicitasse, M começou a organizar as fichas por forma e por cores e faz a seguinte observação: “Cada um tem a mesma quantidade”. Então pergunto para ele: “Você pode me explicar por que colocou assim?” Diz que não sabe. Então pergunto: “O que você fez?” M diz: “Coloquei em ordem de bolinha e quadrado e por tamanho e por cor. Digo:” Muito bem! Agora quero que faça o seguinte: separe-as em apenas dois grupos, dois montes utilizando esta tampa dividida em dois.” M coloca uma peça de cada, vermelho de um lado e azul do outro. Pergunto porquê ele colou assim e M diz: “É como se fosse no vôlei, 4 x 4”. Colocou um círculo grande e um quadrado grande separados de um lado e fez o mesmo do outro lado com os vermelhos. Círculo com círculo, quadrado com quadrado, mas em quatro grupos. Tento explicar, M demora a entender o que estou pedindo e diz: “Tive uma idéia. Bolinhas pequenas, quadrados pequenos, quadrados grandes e bolinhas grandes”. Digo:”Ainda tem quatro montes, quero só dois”. E M diz: “Agora não sei. Tipo dois montes aqui e dois aqui ou só dois mesmo?” Respondo: “Dois montes, um cada lado.” Pedi para fazer dois montes diferentes mas M apenas inverte a ordem. Passa os que estão em baixo para cima e vice versa. Enquanto escrevo M brinca de terremoto com as fichas, fazendo barulho com a boca e derrubando os montes. 36 Faço mais uma tentativa: “Tu consegues fazer diferente?” Responde: “Só misturando as cores”. E M arruma intercalando uma ficha azul, uma vermelha até terminar as fichas, as mesmas. M não consegue chegar a conclusão de separar por cores e mantém sempre do mesmo jeito, apenas mudando de lugar. Então começo uma separação por cor e ele diz: “Oh! É mesmo!” Análise da Prova operatória – Classes - Mudança de critério (dicotomia) Analisando a prova acima citada, verificamos que M está no nível 2 da classificação por mudança de critérios. M consegue fazer pequenos grupos não-figurais, mas não coleções justapostas. Num desenvolvimento maior, no caso quando lhe foi solicitado que fizesse apenas dois montes, M não consegue uma antecipação de critérios e só se dá conta de que é possível quando faço a intervenção mostrando como poderia ser. Prova Operatória – Quantificação da inclusão de classes Apresento a M um ramo contendo 10 girassóis e três rosas. Pergunto se ele sabe o que são. M diz que sim, são flores. Pergunto então o nome, se ele sabe o nome das flores. M diz: “Estas três são rosas, estas não sei o que são”. Explico que são girassóis. Procedo então fazendo as questões pertinentes a esta prova: “Neste ramo tem mais girassóis ou mais flores?” M diz que tem mais girassóis. Pergunto como ele sabe. Ele diz: “Porque tem mais.” Você pode me mostrar. M conta os dez girassóis. Faço a pergunta de outro jeito: Digo que ele fará um ramo com os girassóis, depois ele desmancha, me dá e eu faço com as flores. Pergunto quem fez o ramos maior. Faço isso utilizando as flores nas mãos dele e minha conforme a minha fala. M responde que eu porque tenho todas agora. 37 Num passo seguinte entrego os dez girassóis para M e pergunto: “O eu ficou comigo”. M responde que as rosas. Então pergunto: “Se eu der para você as flores, o que fica no ramos?” M responde: “Nada, você me deu tudo.” Agora digo que vou fazer um ramos com os girassóis e que ele irá fazer com todas as flores. Pergunto quem vai fazer o ramo maior. M diz que eu porque tenho mais girassóis. Pergunto como ele sabe e M diz que tenho dez e ele três. Análise da Prova Operatória – Quantificação da inclusão de classes Ao analisar a prova citada acima, observamos que M ainda se encontra no nível de conduta intermediário. M responde corretamente a maioria delas, mas se confunde quando e pergunta pelo nome específico das flores e quando é perguntado utilizando apenas a palavra flores, hesitando na resposta 1 e na 4. 3.8 AVALIAÇÃO DA LECTO-ESCRITA 3.8.1 Fundamentação teórica Segundo Escott (2004), também na construção da lecto-escrita, o psicopedagogo deve voltar seu olhar para entender os processos pelos quais a criança vai estabelecendo relações e construindo hipóteses. Assim sendo, avaliando o processo de desenvolvimento da lecto-escrita, segundo Ferreiro (1991), podemos dizer que: • As escritas pré-silábicas que podem ser identificadas através de escritas indiferenciadas ou escritas diferenciadas quando, ao contrário da anterior, a criança já responde a estímulos diferenciando a grafia através de variação de repertório em quantidade ou posição; • As escritas silábicas que já apresentam correspondência quantitativa através da análise sonora da linguagem, correspondendo a cada sílaba uma grafia; • As escritas alfabéticas onde já existe correspondência sonora do valor fonético e com o valor sonoro convencional; • As escritas ortográficas já respeitam a convenção social da escrita. 38 3.8.2 Relato da lecto-escrita Para avaliação da lecto-escrita, foram utilizadas as testagens de Emília Ferreiro, onde foi solicitado ao paciente que escrevesse as seguintes palavras: gato, borboleta, cavalo e cão, sendo que para cada palavra pedida, foi perguntado se o mesmo conhecia determinado bicho. Em todos ele respondeu que sim. Pois bem, em seguida foi pedido a M que escreve a seguinte frase: O cão é meu amigo. Na execução desta atividade, o paciente M escreveu da seguinte forma: gato, borboleta, cavalo, cão e “O cão é meu amigo”, corretamente. No mesmo dia, foi realizado a mesma atividade com outras palavras: café, margarina, xícara e pão. A frase solicitada foi: “O café está na cozinha.” Na escrita destas palavras M as fez da seguinte forma: cafe, masgalinha, xicala, pão, “O cafe está na cosinha.” 3.8.3 Análise Diagnóstica Analisando as testagens acima mencionadas, pode-se levantar a hipótese de que M, embora tenha escrito corretamente as palavras da primeira testagem, não obteve o mesmo resultado com o teste seguinte, realizando escritas confusas. Podendo-se desta forma, segundo FERREIRO (1991), levantar a hipótese de que M encontra-se no nível alfabético, pois ainda troca letras, confunde fonemas e tende a escrever exatamente como fala e/ou ouve. Observa-se que a dificuldade maior de M está na troca da letra R pela letra L, como fica claro em suas escritas de xícara e margarina. 39 3.9 AVALIAÇÃO DO PENSAMENTO LÓGICO-MATEMÁTICO 3.9.1 Fundamentação Teórica Segundo Escott (2004), diante das dificuldades apresentadas acerca da matemática, é necessário que o psicopedagogo investigue em que momento da vida do paciente ocorreram as possíveis fraturas. Isto significa dizer que o mesmo deve ir a fundo na história relacional que envolve o sujeito em questão e os conhecimentos lógicos-matemáticos. Para tanto, o psicopedagogo deve ter claro o quanto o indivíduo já deveria ter construído e de que forma estes saberes deveriam ter sido integrados na rede cognitiva do paciente. Portanto, cabe ao psicopedagogo um olhar absolutamente voltado para as questões da aprendizagem, sendo que o seu compromisso é o de fazer com que os sujeitos resgatem e reconstruam o desejo de aprender e de enfrentar os desafios impostos pela vida, entendendo que a matemática faz parte da vida. 3.9.2 Relato do Pensamento Lógico-Matemático A avaliação do pensamento lógico-matemático com M deu-se através da observação das atividades e diálogos realizados nas sessões psicopedagógicas. Não foi realizado nenhuma prova específica a fim de avaliar esta construção. No entanto, M demonstrou, enquanto realizava outras atividades, que possui conhecimento de números, formas e cores. Porém, em determinado momento, M relatou não saber olhar as horas em relógio analógico, apenas no digital onde aparecem os números. 3.9.3 Análise Diagnóstica M demonstrou ter as noções primárias acerca do pensamento lógicomatemático. Porém, pode-se levantar a hipótese de que ainda está imaturo para sua 40 idade, 14 anos. Pois, embora reconheça os números, formas e cores, não consegue ver as horas em relógio analógico onde os números não aparecem. Não consegue estabelecer relações entre os pontinhos do relógio com os números a que eles se referem. 41 4 AVALIAÇÃO PSICOMOTORA 4.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Segundo Escott (2004), é impossível desvincular a psicomotricidade do contexto onde o indivíduo se desenvolve e nem da problemática emocional existente. É nessa dialética de interferências e reforços mútuos que o sintoma psicomotor se instala, traduzindo sempre uma perturbação de conjunto única, particular a cada criança, em um dado momento de sua história. Para que se consiga realizar a avaliação psicomotora do paciente, o psicopedagogo precisa buscar relação do sintoma psicomotor com o significado do sintoma na família; qual o lugar do corpo neste contexto familiar; qual seu significado e que relação tem o não aprender. É através do seu corpo que a criança comunica, de forma não verbal, seu modo de ser, sua unidade existencial, sua totalidade enquanto ser-no-mundo. Essa comunicação vivida ao nível do corpo, que se inicia nos primórdios de vida através dos primeiros contatos da criança com o outro e com o mundo que o rodeia, denomina-se diálogo corporal. (AJURIAGUERRA, J. 1973). (GOMEs, In OLIVEIRA, 1994, p.127). Neste sentido, o psicopedagogo deve buscar na história vital, dados que signifiquem o sintoma psicomotor atual, para só assim poder realizar o diagnóstico psicopedagógico. 4.2 RELATO DA AVALIAÇÃO PSICOMOTORA O método de avaliação psicomotor utilizado com o paciente M foi o de observação direta de sua ação motora. Bem como a vinculação deste com o relato da história vital e ainda análise dos desenhos da figura humana por M. 42 4.3 ANÁLISE DIAGNÓSTICA Com base nos aspectos levantados acima, foi possível observar a possibilidade de fraturas em seu desenvolvimento psicomotor, haja vista que no relato da história vital a mãe conta que M começou a andar com mais de dois anos e meio. Segundo Escott (2001, p. 230), a organização corporal inicia-se nos primórdios dos estágios sensório-motor, através dos primeiros contatos da criança com a mãe, com o outro e com o mundo que rodeia através do diálogo corporal. Porém, nos relatos da mãe, fica claro que M passava boa parte de seu tempo no berço, ou então no andador, por conta de que quem cuidava dele eram os irmãos mais velhos, dificultando assim que o mesmo pudesse se desenvolver corporalmente e andasse. Durante as sessões M se mostra “bem comportado”, com postura rígida, sem espontaneidade, um tanto tímido. 43 5 HIPÓTESE DIAGNÓSTICA Diagnosticar a não aprendizagem como sintoma, significa encontrar sua funcionalidade de acordo com as articulações apresentadas pelo paciente e seus familiares. Uma vez coletada e resumidas as informações em seus diferentes aspectos e áreas investigadas é necessário avaliar o peso de cada fator na ocorrência do transtorno da aprendizagem. Pain (1985). Isto posto, busca-se o para quê do sintoma em: motivo da consulta, história vital, relato de enfermidades e expectativas de cura. Com base nestes aspectos, o paciente apresenta fraturas na relação familiar com a figura da mãe, sendo que esta relatou ter rejeitado a gravidez de M. Fratura com a figura do pai ausente, pais separados. E ainda fratura com os irmãos mais velhos, com os quais M demonstra ter sentimento de rejeição da parte de seus irmãos por achar que ele M, “não serve pra nada, só incomoda”. Após da realização das etapas do diagnóstico, pode-se perceber que a modalidade de aprendizagem de M é hiperacomodativo-hipoassimilativo. Pois o mesmo na realização da hora do jogo, utilizou apenas massa de modelar, realizando a réplica de um boneco, cópia. Em outras atividade como desenho da família e outros, M também copiou as imagens que fez. Na avaliação das provas operatórias M demonstrou não ter construído ainda as noções operatórias de conservação e reversibilidade e função simbólica, haja vista que não consegue representar, só copiar. Em relação à lecto-escrita, M se encontra no nível alfabético, lê e escreve porém apresenta troca de letras (p/b, f/v, m/n e r/l, principalmente). Hipótese confirmada nas testagens feitas por M da Emília Ferreiro. Onde este realizou a escrita das palavras solicitadas baseando-se em uma escrita fonética, escreve do jeito que fala. A hipótese do não-aprender de M está relacionada com sintoma na família que é o contrato de sobrevivência com a mãe, pois os pais são separados e a mãe quer compensar a ausência do pai e os momentos em que não pode ficar com M quando era pequeno e ainda por ter tido no passado, problemas com a filha mais velha. O sintoma para a família (mãe) é a falta de atenção de M, problemas auditivos e a Diretora da escola que o “mima” muito. 44 6 PLANO DE INTERVENÇÃO Paciente: M Idade: 14 anos e 6 meses Série: 4ª série do ensino fundamental – séries iniciais 6.1 JUSTIFICATIVA O paciente M foi encaminhado pela fonoaudióloga que já o atende há algum tempo. Em relação ao diagnóstico psicopedagógico, constatou-se que M apresenta uma dificuldade de aprendizagem sintoma na família vinculado ao contrato sobrevivência com a mãe, justificado pela ausência do pai, problemas com a filha mais velha no passado e sentimento de culpa pelos anos em que não pode se dedicar exclusivamente a M. Por ter sido cuidado pelos irmãos mais velhos quando bebê, M passou grande parte dos seus primeiros anos de vida dentro do berço e no andador o que pode ter sido a causa de seu atraso para começar a andar. M andou com mais de dois anos e meio. No relato de história vital, a mãe sugere o sintoma para a família como sendo: falta de atenção, problemas auditivos e a superproteção da diretora da escola de M. Nas observações e testes realizados com o paciente (hora do jogo), constatou-se que sua modalidade de aprendizagem é hipoassimilação- hipoacomodação, pois as relações de aprendizagem com os adultos ao longo do seu desenvolvimento conduziram a superestimulação à imitação, falta de iniciativa, obediência acrítica às normas, submissão. Cumpre instruções, mas não dispõe de expectativas. Pobreza no contato com o objeto. Déficit lúdico e criativo. Pode-se ainda levantar a hipótese de que M não tem construído as estruturas de conservação e função simbólica, o que dificulta a aprendizagem e faz com que M troque muitas letras, inclusive o R por L. 45 Neste sentido, o presente projeto volta-se para a intervenção nas estruturas citadas a fim de corrigir tais fraturas e proporcionar-lhe condições para que resgate o papel de sujeito aprendente. 6.2 OBJETIVO GERAL Agir psicopedagogicamente no intuito de resgatar o papel de sujeito aprendente através de intervenções que possibilitem a construção das estruturas inacabadas do paciente, fazendo com que este possa sair do lugar de que não aprende. 6.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Desenvolver atividades que contribuam para a construção das estruturas operatórias de conservação e reversibilidade através de jogos; • Contribuir para a construção da função simbólica, bem como para o processo construtivo • Intervir para a equilibração da modalidade de aprendizagem; • Possibilitar experiências que contribuam para o processo de desenvolvimento da lecto-escrita, bem como para a superação das trocas de letras, principalmente do R pelo L; • Incentivar a auto-estima e autonomia; • Resgatar o papel de sujeito aprendente; • Refletir sobre a importância de afetividade (vínculos) na construção do conhecimento, sobretudo no meio familiar; • Promover ao paciente o desejo do conhecimento através dos jogos. 46 6.4 DINÂMICA OPERACIONAL Com a finalidade de atingir os objetivos acima descritos, buscando uma melhor aprendizagem de M, será realizado: • Atividades que promovam a apresentação simbólica: dramatizações, criações espontâneas de histórias e/ou com tema sugerido, jogo: imagem e ação e outros; • Jogos de regras: hora do rush, cara-a-cara, jogo-da-velha, banco imobiliário, torre de Hanói, combate, super lince; • Jogos de senha: Senha e outros; • Diálogo com a família. 6.5 AVALIAÇÃO DO PLANO DE INTERVENÇÃO A avaliação psicopedagógico será de forma contínua, qualitativa e estará sujeita as novas hipóteses diagnosticadas, sendo assim, sujeita as novas intervenções. 47 7 DEVOLUÇÃO (PACIENTE, FAÍLIA E FONOAUDIÓLOGA) Para Weiss (1998), o que se entende por devolução é uma comunicação verbal feita ao paciente, à família e a quem encaminhou o paciente. Nesta devolução, o terapeuta relata os resultados obtidos ao longo do diagnóstico. Esta prática deve ser repetida sempre que haja uma nova informação, reorganizando a situação no sentido da diminuição das resistências. Não é necessário apenas relatar conclusões, mas sim aproveitar o momento para que os pais assumam o problema em todas as suas dimensões. A entrevista de devolução é parte de um processo de diagnóstico que começa logo com o primeiro contato. 7.1 PACIENTE Na entrevista de devolução com o paciente M, pontuou-se algumas reflexões que o mesmo deveria fazer acerca de seu comportamento, sugerindo-se que este refletisse estrategicamente antes de agir. Ser mais autônomo, responsável por suas atividades. Reformulando seu comportamento de infantilizado a amadurecido, visto que M já está com quase 15 anos. Pontuou-se ainda, a necessidade de M realizar atividades fora da escola e do ambiente familiar como atividades esportivas por exemplo. Como sugestão foi-lhe entregue os dados para participar do projeto esportivo: “Donos da bola”, realizado pela prefeitura da cidade. 7.2 FAMÍLIA A devolução para a família foi realizada apenas com a mãe de M. Pontuou-se a necessidade de delegar autonomia a M, de modo que o deixe realizar as suas atividades sozinho, com responsabilidade. Deixando que ele amadureça conforme tem que acontecer. 48 Falou-se ainda da importância de elogiar quando M faz algo de bom, de “bacana”, propiciando a ele prazer, realização, sentimento de não-rejeição. E não somente criticar quando ele não faz direito ou deixa de fazer. Foi sugerido a mãe também que o incentivasse a praticar algum esporte. Da mesma forma foi-lhe dado como sugestão o projeto da prefeitura acima citado. 7.3 FONOAUDIÓLOGA Para a profissional de fonoaudiologia que encaminhou M, foi-lhe relatado que o mesmo possui desenvolvimento afetivo incompatível com a idade cronológica. Sendo que este se desenvolveu em alguns aspectos e em outros não. 49 8 EVOLUÇÃO DO CASO Analisando todo o processo de atendimento psicopedagógico realizado com o paciente M, nota-se que o mesmo já se porta de maneira mais compatível com sua idade. Sendo que agora está disposto a passar de ano e mudar de escola, visto que onde estuda só tem as séries iniciais do ensino fundamental. Quando iniciamos M nem pensava em sair da escola onde está desde os seis anos de idade. Demonstrando insegurança por medo da mudança. Outro fator importante nesta evolução se deve ao fato de M ter se permitido falar utilizando a letra R corretamente. Como por exemplo: falar CORAÇÃO e não COLAÇÃO. Embora ainda não faça isso fluentemente, M já apresentou melhoras, pois no início ele não conseguia pronunciar o R. M também se permitiu ler para a psicopedagoga, o que não se arriscava no início, demonstrando timidez por falar “errado”. 50 9 CONCLUSÃO Partindo da premissa que o estágio supervisionado é um momento de estudo, prática e reflexão sobre as informações obtidas durante o curso, considero que o mesmo foi uma oportunidade de aprendizagem, crescimento pessoal e profissional. Todas as etapas foram realizadas com muita dedicação e esmero. A realização do estágio aliada ao conhecimento teórico que obtivemos ao longo do curso, nos proporcionou conhecimentos que nos levam a reconhecer e valorizar o trabalho do Psicopedagogo. Porém este universo é muito vasto, havendo a necessidade de aprimoramentos e constantes leituras acerca do assunto. Sobretudo, é preciso gostar do se faz, e sem dúvidas, esta é para mim, uma área apaixonante. No entanto, não se pode fazer interpretação não fundamentadas ao tentar compreender as dificuldades de aprendizagem de uma criança. Para tanto é que se faz todo um processo de diagnóstico do sintoma haja vista a importância deste para tratar e/ou encaminhar, se for o caso. É importante relatar que o saber psicopedagógico, antes de tudo, é o trabalho de auto-análise das próprias dificuldades e possibilidades no aprender, pois a formação do Psicopedagogo, assim como requer a transmissão de conhecimentos e teorias, também requer um espaço para a construção de um olhar e escuta psicopedagógica a partir de uma análise de seu próprio aprender. A prática psicopedagógica, se faz, então, sob olhar clínico e sob o trabalho competente do Psicopedagogo e dos elementos de intervenção. Dessa forma, propõese que este, aproveite do “poder” que lhe é atribuído para possibilitar que o atendimento clínico seja um espaço de escuta do desejo e de trocas acima de tudo. E para concluir, penso que o psicopedagogo reflita sobre seu exercício, pois não basta ter o domínio teórico e sim, a capacidade de selecionar e processar saberes infinitos, de acordo com cada caso, para dar conta de cada um, identificando as possíveis intervenções. 51 REFERÊNCIAS BOSSA, Nadia A. Coleção Psicopedagogia. Belo Horizonte: CEDIC, 2008. DI LEO, J. H. A Interpretação do Desenho Infantil. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985. ESCOTT, Clarice Monteiro; WOLFFENBUTTEL, Patrícia Argenti e Org. A formação em psicopedagogia nas abordagens clínica e institucional: uma construção teórica e prática. Novo Hamburgo, RS: Feevale, 2001. ESCOTT, Clarice Monteiro. Interfaces entre a psicopedagogia clínica e institucional: um olhar e uma escuta na ação preventiva das dificuldades de aprendizagem. Novo Hamburgo, RS: Feevale, 2004. FERREIRO, Emília & TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 37ª Ed.São Paulo, Paz e Terra, 1996. OLIVEIRA, Vera Barros de & BOSSA, Nádia Aparecida. (org.). Avaliação psicopedagógica da criança de zero a seis anos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. PAIN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985. ______, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. 4.ed. Porto Alegre,RS: Artes Médicas Sul, 1992. VISCA, Jorge. El diagnóstico operatório em lá practica psicopedagógica. Buenos Aires: 1995. VISCA, Jorge. Técnicas projetivas psicopedagógicas e pautas gráficas para sua interpretação. 2008. 52 WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica do problema de aprendizagem escolar. 4ª ed. Rio de Janeiro, RJ: DP&A, 1998. 53 APÊNDICE 54 Curso de Pós-Graduação Lato Sensu – Especialização em PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL 1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: Nome da estagiária: Rosângela Dagostin Local de estágio: Prefeitura Municipal de Criciúma - NCE Coordenador: Maria Aparecida Denoni Supervisor acadêmico: Clarice Monteiro Escott Mês: de julho a Novembro de 2009. Paciente: L e M 2. REGISTRO DO ATENDIMENTO PSICOPEDAGÓGICO: DATA N° DE HORAS PACIENTE/INTERVENÇÃO MOTIVO DA CONSULTA C/ L 08/07/09 1hora e 30 min. ENQUADRE C/ PACIENTE L 13/07/09 1hora e 30 min. HISTÓRIA VITAL C/ TIA DE L 15/07/09 1hora e 30 min. HORA DO JOGO C/ L 20/07/09 1hora e 30 min. PACIENTE L NÃO COMPARECEU 22/07/09 1hora e 30 min. PACIENTE L NÃO COMPARECEU 27/07/09 1hora e 30 min. PACIENTE L NÃO COMPARECEU 29/07/09 1hora e 30 min. PACIENTE L NÃO COMPARECEU 03/08/09 1hora e 30 min. PACIENTE L NÃO COMPARECEU 05/08/09 1hora e 30 min. MOTIVO DA CONSULTA C/ PACIENTE M 10/08/09 1hora e 30 min. PACIENTE M NÃO COMPARECEU 12/08/09 1hora e 30 min. PACIENTE M NÃO COMPARECEU 17/08/09 1hora e 30 min. 19/08/09 1hora e 30 min. PROVA PROJETIVA: DESENHO DA FAMÍLIA HORA DO JOGO C/ M 24/08/09 1hora e 30 min. MOTIVO DA CONSULTA C/ A MÃE DE M 26/08/09 1hora e 30 min. 28/08/09 1hora e 30 min. TESTAGEM EMÍLIA FERREIRO 02/09/09 1hora e 30 min. PROVA ESTEROGNÓSTICO 09/09/09 1hora e 30 min. PROVA DE DES. FIGURAS GEOMÉTRICAS 14/09/09 1hora e 30 min. PROVAS OPERATÓRIAS 16/09/09 1hora e 30 min. PROVA PROJETIVA: OS 4 MOMENTOS DIA 21/09/09 1hora e 30 min. PROVA PROJETIVA: UM DIA DE DESCANSO 23/09/09 1hora e 30 min. HISTÓRIA VITAL COM A MÃE 28/09/09 1hora e 30 min. PROVAS OP. PENSAMENTO FORMAL 30/09/09 1hora e 30 min. INTERVENÇAÕ C/ JOGOS 05/10/09 1hora e 30 min. INTERVENÇAÕ C/ JOGOS 07/10/09 1hora e 30 min. INTERVENÇAÕ C/ JOGOS 14/10/09 1hora e 30 min. INTERVENÇAÕ C/ JOGOS 19/10/09 1hora e 30 min. INTERVENÇAÕ C/ JOGOS 21/10/09 1hora e 30 min. INTERVENÇAÕ C/ JOGOS 26/10/09 1hora e 30 min. ANÁLISE DO CASO 2horas e 30min. ELABORAÇÃO DEVOLUÇÃO/ PROPOSTA 55 INTERVENÇÃO DATA 28/10/09 04/11/09 09/11/09 11/11/09 16/11/09 18/11/09 19/11/09 N° DE HORAS 1hora e 30 min. 1hora e 30 min. 1hora e 30 min. 1hora e 30 min. 1hora e 30 min. 1hora e 30 min. 1hora e 30 min. 2 horas PACIENTE/INTERVENÇÃO DEVOLUÇÃO PACIENTE AVALIAÇÃO DA INTERVENÇÃO INTERVENÇAÕ C/ JOGOS INTERVENÇAÕ C/ JOGOS DEVOLUÇÃO FONO DEVOLUÇÃO MÃE PACIENTE NÃO COMPARECEU ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DO CASO. 56 ANEXOS 57 DESENHO DA FAMÍLIA 58 PRIMEIRA TESTAGEM EMÍLIA FERREIRO 59 SEGUNDA TESTAGEM EMÍLIA FERREIRO 60 DESENHO DE PAR EDUCATIVO 61 DESENHO OS QUATRO MOMENTOS DO DIA 62 DESENHO DIA DE DESCANSO 63 DESENHO DAS FIGURAS GEOMÉTRICAS FRENTE DA FOLHA 64 DESENHO DAS FIGURAS GEOMÉTRICAS VERSO DA FOLHA