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Classificação do artigo 24 fev 2015 O Globo
JOÃO SORIMA NETO, FLÁVIO ILHA, DÉBORA DINIZ, CÁSSIA ALMEIDA E CRISTIANE BONFANTI economia@
oglobo.com. br
Estradas paradas
Protesto de caminhoneiros afeta sete estados e prejudica exportações do
agronegócio
“Ainda não é possível estimar o impacto, mas o setor de suínos e aves movimenta R$ 220 milhões por dia e
contabiliza US$ 27 milhões em exportações diárias” Francisco Turra Presidente executivo da Associação Brasileira
de Proteína Animal (ABPA)
Iniciado quarta­feira em Santa Catarina, o protesto de caminhoneiros ganhou adesões e, ontem,
interrompia o tráfego em rodovias de sete estados. Frigoríficos do Sul paralisaram o abate de aves e suínos
por falta de ração. Ao menos cem contêineres de carne, que seriam exportados por Itajaí, ficaram presos
nas estradas. Laticínios também foram afetados, e não há óleo diesel para máquinas agrícolas em cidades
do Mato Grosso, prejudicando a colheita de soja. Os caminhoneiros protestam contra o reajuste do diesel,
o valor do pedágio e o preço do frete. A AGU ajuizou ações pedindo a liberação das pistas e a fixação de
multa de R$ 100 mil por cada hora em que o tráfego continuar fechado por manifestantes. ­SÃO PAULO,
PORTO ALEGRE, RIO E BRASÍLIA­ O protesto de caminhoneiros em pelo menos sete estados do país ( Rio
Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás) já
prejudica as exportações do agronegócio, além de causar desabastecimento de combustível e falta de
alimentos perecíveis. A manifestação dos caminhoneiros começou em Santa Catarina no último dia 18 e,
mesmo sem uma liderança ordenada, rapidamente se espalhou para outros estados.
MOISES SILVA /“O TEMPO”
Sem rodar. Manifestação interrompe o tráfego em parte da Rodovia Fernão Dias na Região
Metropolitana de Belo Horizonte. Protesto é contra reajuste do diesel e valores de pedágio e
frete
Entre as razões para o protesto estão o valor pago pelo frete, o aumento do diesel e as taxas de
pedágio. A manifestação comprometeu o transporte de produtos em 64 trechos em rodovias federais,
além de transtornos em estradas sob administração estadual. Somente no Rio Grande do Sul, segundo a
Polícia Militar, 14 trechos de rodovias estaduais permaneciam fechados ontem à noite. No Rio, segundo a
Polícia Rodoviária Federal, não houve registro de manifestações.
— Num momento de crise, quem está desesperado sobe no bonde — disse Edison Mei, assessor
jurídico da União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam), sobre a rápida disseminação do movimento.
AGU ENTRA COM AÇÕES CONTRA BLOQUEIO
A Advocacia­Geral da União (AGU) informou que mobilizou uma força­tarefa para solicitar, na Justiça, a
liberação de rodovias federais bloqueadas pelos manifestantes. O Ministério da Justiça informou, em nota
conjunta com a AGU, que apoiará a ação por meio da Polícia Rodoviária Federal e da Força Nacional. A AGU
pede em ações ajuizadas simultaneamente nos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato
Grosso, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul a fixação de multa de R$ 100 mil a cada hora que os
caminhoneiros se recusarem a liberar o tráfego.
As procuradorias regionais da União, unidades da AGU responsáveis pelo ajuizamento coletivo,
argumentam que os bloqueios “aumentam os riscos de acidentes e ameaçam a segurança de todos que
precisam utilizar as rodovias, além de provocar graves prejuízos econômicos ao impedir que cargas, muitas
delas perecíveis ou perigosas, cheguem ao destino”.
Ontem, frigoríficos informaram que estão paralisando parcial ou totalmente o abate de aves e suínos
no Sul do país por falta de matéria­prima. Diversos contêineres com carne processada que seriam
despachados para o exterior pelo Porto de Itajaí, em Santa Catarina, não conseguiram chegar ao destino
por causa dos bloqueios nas estradas.
As empresas também reclamam que está faltando ração para os animais. Na região Centro­Oeste, no
estado de Mato Grosso, maior produtor de grãos do país, há piquetes em cinco trechos na BR­163, o que
impede a passagem do diesel usado para as máquinas que realizam a colheita de soja.
— Ainda não é possível estimar o impacto financeiro, mas o setor de suínos e aves movimenta R$ 220
milhões por dia, além de contabilizar US$ 27 milhões em exportações diariamente. Isso tudo está sendo
afetado — disse ao GLOBO o presidente executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA),
Francisco Turra.
A ABPA recebeu relatos de empresas do Sul do país sobre problemas na produção. O frigorífico Aurora,
com unidades em Santa Catarina, informou que ao menos cem contêineres que seriam exportados com
carne não conseguiram chegar a Itajaí, desde o início do movimento dos caminhoneiros, onde o navio já
aguardava o embarque. O Brasil é o maior exportador de frangos do mundo.
A Aurora relatou falta de embalagem para suínos. Além disso, informou que a unidade em Abelardo
Luz baixou pela metade o processamento de frangos e pode parar nesta semana se o fluxo de entrega de
aves não for normalizado. A BRF divulgou nota comunicando que suas fábricas de Francisco Beltão e Dois
Vizinhos, no Paraná, interromperam a produção de aves por falta de matéria­prima. A JBS também
comunicou que caminhões transportando matéria­prima e ração estão parados nos vários bloqueios nas
rodovias.
Segundo o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Carne e Derivados de Santa Catarina
(Sindicarne), Ricardo de Gouvêa, há bloqueios nas rodovias federais e estaduais em cidades como São
Miguel do Oeste, Maravilha, Palmitos, Anchieta, Nova Erechim, Campo Erê, Xaxim, Xanxerê, Guaraciaba,
Mafra e Campos Novos. Os caminhoneiros não permitem a passagem de veículos vazios nem de
mercadorias não perecíveis. Segundo ele, os caminhões que transportam rações para os estabelecimentos
rurais passam carregados, mas, quando retornam sem carga, são barrados nos bloqueios. O mesmo
ocorre com os caminhões que retiram do campo o leite e os animais para abate. Eles passam carregados,
mas têm a passagem impedida na volta.
— A paralisação está estrangulando a economia regional — disse Gouvêa.
Santa Catarina é o quinto produtor nacional de leite, e o movimento dos caminhoneiros prejudica o
transporte de 5,8 milhões de litros por dia, causando prejuízos a cerca de 60 mil famílias produtoras. A
coleta do leite nas áreas rurais foi suspensa na maioria dos laticínios. Segundo números do Sindicarne, há
mais de 50 agroindústrias de médio e grande porte no oeste do estado e outras 600 de natureza familiar
produzindo alimentos à base de carne, grãos e leite.
FALTA DE COMBUSTÍVEL
Em Mato Grosso, pela BR­163 são escoados 70% da safra de grãos do estado, e a paralisação dos
caminhoneiros acontece exatamente no período mais intenso da colheita. Em cidades como Vera, há falta
de óleo diesel para abastecer propriedades rurais, segundo a Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja)
para a região Norte de Mato Grosso. O temor é de desabastecimento generalizado.
Segundo Fabio Silveira, diretor de Pesquisas Econômicas da GO Associados, a paralisação é um evento
político lastreado num quadro econômico adverso:
— O protesto está ocorrendo num período crucial, que é o de colheita da safra de verão. Sem dúvida,
não ajuda nem na produção e nem no preço. A pauta de reivindicações é ampla, meio difusa, o que
dificulta a entrada em acordo.
No Rio Grande do Sul, ao menos 28 pontos de rodovias federais e estaduais foram afetados pelos
protestos. O bloqueio mas grave ocorreu na BR­392, rodovia que liga o Porto de Rio Grande ao centro do
Rio Grande do Sul. Houve paralisação em trechos da BR­386, em Rodeio Bonito, e na BR­468, em Coronel
Bicaco. As rodovias são usadas para escoamento da safra de soja até o Porto de Rio Grande. Na BR­285,
em Ijuí, o trânsito ficou lento devido ao protesto. Os manifestantes começaram a movimentação por volta
de 7h.
Agricultores da região Norte do Rio Grande do Sul se juntaram ao movimento. Na BR­392, em São
Sepé, cerca de 40 manifestantes distribuíram panfletos em que criticam a alta de combustíveis e os casos
de corrupção na Petrobras.
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