INSTRUMENTAÇÃO DE PAVIMENTOS COM DIFERENTES ESTRUTURAS: ANÁLISE DE TENSÕES, DEFORMAÇÕES, UMIDADE E TEMPERATURA Igor Amorim Beja Diogo Bento de Morais Hugo André Florêncio José Mario Chaves Arteris Centro de Desenvolvimento Tecnológico Iuri Sidney Bessa Lucas Rodrigues de Andrade Kamilla Vasconcelos Liedi Légi Bariani Bernucci Universidade de São Paulo Departamento de Engenharia de Transportes RESUMO A reciclagem de pavimentos asfálticos antigos deteriorados para o uso nas diversas camadas de novas estruturas tem sido amplamente utilizada ao redor do mundo, devido, principalmente aos seus benefícios técnicos, econômicos e ambientais. O material fresado proveniente dessa técnica pode ser incorporado não apenas em camadas de rolamento, como também em camadas de base, substituindo materiais comumente utilizados, como solo e brita. Apesar do uso crescente desse tipo de material em camadas de base de pavimentos asfálticos, ainda não há no Brasil um modelo de previsão de desempenho para as camadas asfálticas recicladas a frio. A partir disso, este trabalho tem como principal objetivo avaliar o desempenho de dois tipos de misturas asfálticas recicladas a frio, sendo uma com adição de emulsão asfáltica e a outra com adição de espuma de asfalto, através da instrumentação de um trecho experimental executado na Autopista Fernão Dias, no estado de Minas Gerais. Essa instrumentação inclui sensores de captação de pressão, deformação, umidade e temperatura das diversas camadas do pavimento construído, além de uma tecnologia de pesagem em movimento. Os resultados de campo obtidos para as duas camadas recicladas serão comparados com aqueles obtidos para camadas de base convencionais, sendo uma brita graduada simples (BGS) e uma base em brita graduada tratada com cimento (BGTC). Com isso, será avaliado o benefício estrutural que o uso de camadas recicladas pode fornecer aos pavimentos asfálticos através da redução de deflexões, avaliando as tensões transmitidas às camadas inferiores do pavimento. Além disso, será avaliada também a capacidade de suporte que essas camadas podem fornecer à camada de revestimento asfáltico. Por fim, deve-se dar início ao desenvolvimento de um modelo de previsão de desempenho para as camadas recicladas estudadas. Palavras-chave: Misturas asfálticas recicladas; Camadas de base de pavimentos asfálticos; Instrumentação de trechos experimentais; Pesagem em movimento. 1. INTRODUÇÃO Os métodos de dimensionamento de pavimentos modernos têm como base análises empírico-mecanísticas, que consistem na calibração de modelos teóricos baseados na teoria da elasticidade, através de dados experimentais obtidos em campo e em laboratório (Balbo, 2007). Com o uso desta calibração, tem-se o objetivo de avaliar assertivamente o comportamento dos materiais sob condições reais e específicas da construção dos pavimentos, como temperatura, solicitação do tráfego e umidade. Com o objetivo de calibrar e validar os métodos de dimensionamento empíricomecanísticos e os parâmetros de desempenho dos materiais utilizados nos pavimentos asfálticos, a instrumentação dessas estruturas tem uma grande contribuição, pois permitem o monitoramento das respostas dos pavimentos sob condições reais. Dentre as características que devem ser observadas, se destacam: (i) o tráfego, volume de veículos, carga por eixo, tempo de aplicação de carga; (ii) as propriedades dos materiais e as características das camadas, compactação, espessuras das camadas, distribuição granulométrica, comportamento mecânico; (iii) o clima, temperatura, umidade, precipitação, nível de lençol freático; e (iv) o nível de manutenção e presença de irregularidades na pista. As primeiras experiências com instrumentação de pistas de teste datam de 1962, em Londres, onde se utilizaram piezômetros robustos para inferir a tensão vertical nas camadas de base e de subleito sob o tráfego de uma roda com carga de 2.300lb (1.043kg) (Selvaraj, 2012 apud Whiffin e Lister, 1962), sendo os dados obtidos usados para calcular os módulos elásticos dos materiais utilizados. Considerado o primeiro projeto de instrumentação dos EUA, a Pista de Teste de San Diego, construída em 1966, já contava com um maior nível de instrumentação, onde foram instaladas células de pressão, medidores de deformação (strain gauges), termopares e medidores de umidade, posicionados em diferentes locais das camadas do pavimento (Selvaraj, 2012 apud Hicks e Finn, 1970). As instrumentações de pavimentos mais modernas seguem as mesmas tendências daquelas desenvolvidas em San Diego e têm sido realizadas pelo Centro Nacional para Tecnologia de Asfalto dos Estados Unidos (National Center for Asphalt Technology), pelo projeto de pesquisa Leopoldo da Itália, entre outros. Em 2004, o NCAT (Timm, 2009) construiu uma pista experimental tendo como objetivos principais validar os modelos mecanicistas de análise estrutural de pavimentos e desenvolver funções de transferência correlacionassem dados de campo com a vida de fadiga de revestimentos asfálticos convencionais, além de estudar os efeitos que podem influenciar a deterioração de pavimentos sob o ponto de vista mecanicista. O projeto de pesquisa Leopoldo, da Itália (Leandri et al., 2013), propôs a construção de um trecho experimental instrumentado, composto por seis seções que utilizavam materiais tradicionais e alternativos, na cidade de Toscana. O objetivo era monitorar a resposta do pavimento ao tráfego e às condições ambientais, bem como avaliar o seu desempenho ao longo do tempo. Os dispositivos utilizados nessa pesquisa foram células de carga, medidores de deformação, sensores de temperatura e umidade, além de um sistema de pesagem em movimento, também conhecido como WIM (do inglês weight-in-motion). No Brasil, um projeto foi desenvolvido no estado de Santa Catarina a partir de 2007 (DNIT, 2008) pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no qual se pretendia analisar: as deformações na fibra inferior da camada asfáltica; as deformações nas diversas camadas; as cargas transmitidas, causadas pelo tráfego de veículos; além das características às quais as camadas estão sujeitas, como a umidade variável nas camadas granulares e a mudança de temperatura nas misturas asfálticas. Uma das metodologias de projeto de pavimentos flexíveis mais utilizadas no Brasil procede com a determinação das espessuras necessárias das camadas para que não ocorra: (i) ruptura por tensões verticais no subleito/reforço de subleito, (ii) fadiga da camada asfáltica de revestimento por tensões de tração na fibra inferior desta, (iii) fadiga da camada cimentada de base/ ou subbase, por tensão de tração na fibra inferior, e (iv) fadiga estrutural por deflexões no topo do revestimento. Esses modelos de fadiga adotados geralmente não são calibrados para condições de tráfego, clima e materiais brasileiros, sendo em grande parte adotados os modelos mais consagrados, como por exemplo, a equação proposta pela associação americana Federal Highway Administration (FHWA), de 1976, para a fadiga de revestimentos asfálticos. Para materiais relativamente novos, não há ainda modelos consagrados e amplamente utilizados, como é o caso dos materiais reciclados. Poucos são os trabalhos na literatura sobre eles, e os poucos que se encontram são estudos laboratoriais, que necessitam ainda de calibração, como em Shu et al. (2007) e Yan et al. (2010). O desenvolvimento de um modelo de fadiga calibrado com as condições de campo é de grande complexidade e exige um amplo conhecimento sobre os tipos de materiais, os danos causados e os agentes causadores, além das inúmeras variáveis acerca das condições de contorno que devem ser consideradas na definição dos dados utilizados na formulação. O presente trabalho pretende apresentar ao meio técnico a metodologia técnica desenvolvida para a instrumentação do trecho experimental situado na Rodovia BR 381, Pista Sul. Esta etapa faz parte de um projeto de pesquisa que tem como objetivo desenvolver no futuro, através da instrumentação do trecho experimental citado, modelos de fadiga para as camadas recicladas, sendo calibrados para as condições de tráfego, clima e materiais brasileiros. 2. INSTRUMENTAÇÃO DA AUTOPISTA FERNÃO DIAS (BR 381) Para cumprir os objetivos propostos pela presente pesquisa, foi projetado um trecho experimental construído na Autopista Fernão Dias (Rodovia BR 381). O local escolhido para a construção do trecho experimental foi entre o km 947 e o km 948, na pista sul (sentido de Belo Horizonte a São Paulo). A faixa 2 foi adotada para a construção do trecho por possuir um tráfego mais pesado. O projeto do trecho experimental, composto por quatro segmentos distintos, previa a instrumentação das suas diferentes camadas, ao longo de todos esses segmentos. Os sensores utilizados foram distribuídos nas diversas camadas do pavimento, a depender de sua função. 2.1. Estruturas e materiais Conforme mencionado anteriormente, o trecho experimental construído para o presente estudo possui quatro segmentos de 100m de comprimento cada, e que se diferenciam entre si pelo tipo de camada de base aplicada em cada um deles, conforme será apresentado na sequência. O objetivo desse estudo era verificar como os materiais reciclados utilizados como base atuam no desempenho mecânico de pavimentos asfálticos, aliviando as tensões que são transmitidas ao longo de suas diversas camadas. Sendo assim, foram construídos dois segmentos compostos por camadas de base convencionais e amplamente utilizadas – brita graduada simples (BGS) e brita graduada tratada com cimento (BGTC), caracterizando um pavimento puramente flexível e outro semirrígido, respectivamente. Os outros dois segmentos possuem em sua estrutura camadas de base constituídas por materiais asfálticos reciclados (RAP, do inglês Reclaimed Asphalt Pavement): reciclado com emulsão e reciclado com espuma de asfalto. Os materiais utilizados em cada uma das camadas foram dosados em laboratório. Em relação aos agregados, os mesmos são de origem granítica, sendo utilizados tanto nas camadas granulares de BGS e BGTC, como na composição da camada de revestimento asfáltico. As distribuições granulométricas das misturas adotadas encontram-se na Figura 1. O ligante asfáltico utilizado na produção do concreto asfáltico (CA) é de classificação CAP 30/45, enquanto que o ligante utilizado na composição da camada de base reciclada com espuma de asfalto é de classificação 85/100. Na composição da camada de base reciclada com emulsão foi utilizada uma emulsão asfáltica catiônica modificada por polímero. 100 (%) passante 80 60 BGS BGTC RAP CA 40 20 0 0.01 0.1 1 10 Abertura de peneiras (mm) Figura 1 – Distribuição granulométrica das misturas executadas 100 2.2. Layout da instrumentação No que diz respeito à instrumentação das camadas que constituem os diversos segmentos construídos, a Figura 2 apresenta um layout das quatro estruturas instrumentadas no trecho experimental da rodovia Fernão Dias. (a) (b) (c) (d) Figura 2 – Croqui com a instrumentação de cada segmento: (a) BGS, (b) BGTC, (c) reciclado com emulsão e (d) reciclado com espuma 2.3. Sensores Os sensores utilizados na instrumentação do pavimento do trecho experimental podem ser divididos em quatro categorias distintas, de acordo com a funcionalidade de cada um e com o tipo de dados que cada um deve adquirir: sensores de umidade, sensores de temperatura, sensores de deformação (strain gauges) e células de pressão. Os sensores de umidade foram instalados nas camadas de base dos os segmentos, menos no experimento com base em BGS. Isso foi feito devido à importante influência que a variação no teor de água das camadas granulares exerce no seu desempenho mecânico. A aquisição desses dados tem grande importância na criação dos modelos de deterioração dos pavimentos. Foram utilizados sensores da marca Campbell, do tipo CS616, conhecidos como reflectômetros de teor de água (Figura 3a). Esse sensor utiliza uma medição indireta para determinar o teor de água, que é sensível à permissividade dielétrica dos materiais que estão em volta de seus bastões de medição. O princípio fundamental da operação do sensor de umidade é que um pulso eletromagnético se propaga ao longo dos seus bastões em uma velocidade que depende da permissividade dielétrica do material que está em volta do sensor. Com o aumento no teor de água, essa velocidade de propagação diminui, uma vez que a polarização das moléculas de água demanda tempo. O tempo de resposta do pulso aplicado é então medido. Sendo assim, a calibração desse sensor é realizada através de uma curva de calibração que relaciona o tempo de viagem do pulso de carga com o teor de água, em volume. Os sensores de temperatura, da marca Campbell tipo 108 (Figura 3b), foram escolhidos para serem instalados apenas na camada de revestimento asfáltico, pois a temperatura na faixa de serviço de campo tem grande influência apenas nesse tipo de material, afetando seu desempenho. Considerando que a temperatura da camada de revestimento, ou camada superficial, do pavimento deve ser a mesma ao longo de todo o trecho experimental, apenas um segmento foi instrumentado com esse tipo de sensor (uma vez que os revestimentos adotados foram os mesmos em termos de material e espessura). Decidiu-se, no entanto, por posicioná-los em diferentes alturas dentro da camada asfáltica, para se obter informações do gradiente de temperatura que existe dentro dessa camada. (a) (b) Figura 3 – Detalhamento relativo ao: (a) sensor de umidade e (b) sensor de temperatura Os strain gauges da Dynatest, do tipo PAST II AC, são transdutores específicos para o uso em pavimentos asfálticos ou de concreto (Figura 4a). Possuem um formato em H e podem ser instalados em qualquer direção. Na instrumentação do trecho experimental relativo a esta pesquisa, esses sensores de deformação foram posicionados ao longo das trilhas de roda interna e externa, e em diferentes alturas: (i) no fundo das camadas de base hidraulicamente ligadas e (ii) no fundo das camadas de revestimento asfáltico. Os strain gauges são transdutores totalmente recobertos por uma tira de epóxi reforçada com fibra de vidro, constituindo um material com baixa rigidez e elevada flexibilidade e elevada resistência. As pontas da tira de epóxi são acopladas a um suporte de aço inoxidável, o que garante a ligação mecânica apropriada com o material da camada após sua instalação. Esses sensores são protegidos contra deterioração mecânica e química devido às diversas camadas que servem para cobrilos. A combinação dos materiais utilizados nesse recobrimento garante uma resistência à variação de temperatura de -30 a +150°C. Os mesmos são capazes de resistir à fadiga por mais de 100 milhões de ciclos, ou aproximadamente 36 meses. As células de pressão utilizadas fazem parte da série SOPT (Figura 4b), também da Dynatest. Foram posicionadas no topo do subleito dos quatro segmentos, bem como na base das camadas de base recicladas (referentes aos segmentos três e quatro, constituídos por reciclado com emulsão e reciclado com espuma, respectivamente). O objetivo do uso desse tipo de dispositivo era medir a tensão vertical que chega aos diversos pontos a serem analisados, uma vez que esse parâmetro é essencial no projeto de pavimentos asfálticos. Essas células são feitas de titânio puro, o que garante uma máxima resistência mecânica e resistência à corrosão. As células são ainda recobertas por epóxi e areia, o que garante seu desempenho em materiais de graduação uniforme. São capazes de resistir à fadiga por mais de três milhões de ciclos ou até 36 meses. (a) (b) Figura 4 – Detalhe: (a) strain gauge e (b) célula de pressão 2.4. Sistema de aquisição Para a aquisição das respostas lidas pelos sensores, foi selecionado e adquirido o sistema PMX da Hottinger Baldwin Messetechnik (HBM Brasil), que possui 16 canais, sincronização automáticas dos sensores registrados em cada placa, taxa de amostragem de 19.200Hz e frequência de aquisição de até 2kHz. Tal sistema trabalha com várias configurações de sensores, dos tipos: (i) ponte completa de Wheatstone, (ii) meia ponte de Wheatston, (iii) frequencímetros, (iv) resistores, (v) transdutores e (vi) etc. A Figura 5 apresenta o sistema de aquisição adquirido para o presente projeto e a situação de operação no campo, com o sistema instalado, em operação. (a) (b) Figura 5 – Sistema de aquisição dos dados: (a) visão geral e (b) operação do sistema instalado em campo 3. EXECUÇÃO DO TRECHO EXPERIMENTAL A execução do trecho experimental foi iniciada no final do mês de novembro e concluída no início do mês de dezembro, em 2014. A primeira atividade da construção foi o serviço de fresagem da camada de revestimento asfáltico preexistente na rodovia. A fresadora utilizada tinha uma produção de aproximadamente 100m por hora, com espessura de fresagem de 5cm. A espessura total fresada foi de 37cm (o que corresponde à camada de revestimento asfáltico antiga existente e parte da camada de base existente) e a largura da fresagem era de 1,27m, aproximadamente. O material fresado (RAP) foi estocado em pilhas no entorno do canteiro de obra e utilizado posteriormente para a composição das camadas recicladas na base. A Figura 6 ilustra o esquema de fresagem e armazenamento do material. (a) (b) Figura 6 – Fresagem do revestimento asfáltico preexistente: (a) despejo do material fresado em caminhões e (b) pilhas de material fresado para reutilização Os primeiros sensores, referentes ao primeiro segmento (composto pela camada de base de BGS), foram posicionados aproximadamente no ponto médio do comprimento total do segmento. Para a colocação tanto do sensor de umidade como da célula de pressão no topo do subleito do segmento em questão, foi realizado um procedimento de abertura desta camada, abrindo-se uma caixa de aproximadamente 15cm de altura e 50cm² de área (Figura 7a). Antes de cobrir os sensores com o material de solo da camada, foi realizado um procedimento que consistiu em aplicar uma camada de material fino em cima dos sensores para evitar que os mesmos fossem danificados através da ação de partículas mais graúdas (Figura 7b). Deve-se atentar para o cuidado ao nivelamento da célula de carga, onde esta deve ser perfeitamente assentada sem desníveis que venham a provocar interpretações de leituras equivocadas. (a) (b) Figura 7 – Primeiro segmento: (a) posicionamento do sensor de umidade e da célula de pressão e (b) utilização da material fino para cobrar os sensores Após a colocação dos primeiros sensores, a camada de base composta por BGS foi aplicada e compactada. Após o fim da compactação dessa camada, os strain gauges e o sensor de umidade referentes às camadas de CA e BGS respectivamente, foram posicionados, com o auxílio de uma massa composta por pedrisco e água para que eles pudessem ser bem fixados dentro do pavimento. No segmento 2, referente à base em BGTC, a instrumentação foi instalada na fibra inferior da camada (no topo do remanescente), sob uma mistura de pedrisco, cimento e água, na consistência de pasta para que esta apresentasse uma perfeita condição de alinhamento (Figura 8a). Em relação ao segmento com camada de base composta por reciclado com emulsão, os strain gauges e o sensor de umidade foram posicionados e, em seguida, cobertos por uma mistura de material fresado fino com emulsão (Figura 8b). A compactação desse material em cima dos sensores e dos cabos foi feita de forma manual, tendo-se o cuidado para não danificar os instrumentos. (a) (b) Figura 8 – Instrumentação das camadas de base: (a) camada de BGTC e (b) camada de reciclado com emulsão Para a instalação dos sensores referentes à camada de base composta por reciclado com espuma de asfalto, a Figura 9 ilustra o procedimento adotado. Os sensores foram cobertos por material fino de fresado com adição de água, enquanto que seus cabos foram cobertos por uma mistura de cimento e água, para melhorar a fixação dos mesmos na camada. Foi adotado um processo de compactação manual para que os sensores não fossem danificados por esforços muito elevados. (a) (b) Figura 9 – Instrumentação da camada de fresado com espuma de asfalto: (a) compactação manual e (b) aspecto geral dos sensores posicionados Ao fim da aplicação e compactação das camadas de base, foi dado início ao processo de aplicação da camada de CA: (i) aplicação da massa asfáltica, (ii) abertura de caixas para colocação dos strain gauges e sensores de temperatura e respectivos cabos e, por fim, colocação de massa asfáltica em cima dos cabos e sensores (Figura 10), (iii) peneiramento manual da mistura, tendo cuidado para que partículas graúdas não tivessem contato direto com os sensores e (iv) compactação manual das áreas onde eles se localizavam. Por fim, os rolos compactadores foram utilizados. (a) (b) Figura 10 – Aplicação da mistura asfáltica: (a) colocação e (b) detalhe dos sensores 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa, que ainda se encontra em fase inicial, tem como objetivo principal desenvolver modelos de previsão de desempenho de pavimentos asfálticos compostos por diferentes tipos de camadas de base. O uso da técnica de instrumentação em um trecho experimental tem como objetivo final fornecer dados reais de um pavimento, a serem utilizados para a calibração dos modelos propostos. Por ainda não existir na literatura modelos de desempenho que considerem especificamente o uso de camadas recicladas na composição de camadas de base, esta pesquisa pode se tornar uma referência em relação ao tema abordado. Como sugestão para pesquisas similares a serem desenvolvidas no futuro, os autores deste trabalho indicam que deve haver um cuidado especial durante a construção do pavimento e sua consequente instrumentação. A instalação dos diferentes sensores requer um trabalho minucioso e delicado. Deve-se tomar cuidado com o posicionamento correto dos sensores, incluindo a angulação e a nivelação desses instrumentos. Outro cuidado importante a ser tomado é durante a compactação das camadas, uma vez que o peso dos compactadores pode danificar os sensores. O ideal é realizar uma compactação manual nos pontos de instalação de cada sensor, sem a utilização de rolos em cima desses locais específicos. AGRADECIMENTOS Agradecimentos são devidos à ANTT pelo financiamento desta pesquisa, à Autopista Fernão Dias e ao Centro de Desenvolvimento Tecnológico da Arteris pelo apoio no desenvolvimento do projeto, e à CAPES e ao CNPq pelo apoio financeiro em forma de bolsa de pesquisa aos autores deste trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Balbo, J.T. (2007) Pavimentação Asfáltica: Projetos e Restauração. Oficina de Textos, São Paulo, SP. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (2008) Projeto de Instrumentação para Medição de Deformação do Pavimento. Brasília, DF. Hicks, R.G. e Finn, F.N. (1970) Analysis of Results from the Dynamic Measurements Program in the San Diego Test Road. Proceedings of the Association of Asphalt Paving Technologists, Vol.39. Leandri, P.; Bacci, R.; Di Natale, A.; Rocchio, P. e Losa, M. (2013) Appropriate and Reliable Use of Pavement Instrumentation on In-Service Roads. Airfield and Highway Pavement 2013: Sustainable and Efficient Pavements, ASCE. Selvaraj, S.I. (2012) Review on the Use of Instrumented Pavement Test Data in Validating Flexible Pavement Mechanistic Load Response Models. 8th. International Conference on Traffic and Transportation Studies Changsha, China. Timm, D.H. (2009) Design, Construction and Instrumentation of the 2006 Test Track Structural Study. NCAT Report 09-01. Shu, X.; Huang, B. e Vukosavljevic, D. (2007) Laboratory Evaluation of Fatigue Characteristics of Recycled Asphalt Mixture. Construction and Building Materials. Yan, J.; Ni, F.; Yang, M. e Li, J. 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