Mulheres na Assembléia Legislativa de São Paulo nos partidos PT, PSDB e PFL e a resistência às políticas neoliberais Terezinha Richartz (Doutoranda Ciências Sociais/PUC-SP) [email protected] As mulheres pertencem a uma classe social que é dominada e explorada pelas questões de gênero e patriarcado. A maioria delas ainda são pobres. Segundo dados do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) as mulheres representam 70% dos cerca de 1 bilhão e 200 milhões de seres humanos que vivem, reconhecidamente, abaixo da linha da pobreza absoluta. Quando ainda pertencem à raça/etnia negra, o grau de exclusão social triplica. O movimento de resistência dessas mulheres sempre existiu expressando-se prioritariamente no âmbito privado. Recentemente as mulheres começaram a lutar para serem incorporadas no espaço público - mercado de trabalho, na política, entre outros. Afinal, um regime democrático que impede mais da metade dos cidadãos de participarem efetivamente em todas as instâncias, não pode ser considerado uma democracia. A participação no legislativo, lócus em que as leis são discutidas e aprovadas, a presença feminina é ínfima. Segundo o TSE, em 2002, 53% do eleitorado, eram integrados por elementos femininos. Não obstante a presença de mulheres nas Assembléias Legislativas e de, no Parlamento, ter crescido de 10,0% para 12,6% na última legislatura, esta categoria social continuou a ser sub-representada. Nesse sentido, cotas para mulheres no legislativo aparecem como uma forma de promover pelo menos a discussão sobre a inclusão de interesses e perspectivas diversas. As mulheres, por serem dominadas e exploradas pelas questões de gênero e patriarcado, são submetidas a experiências diferentes. A ausência da mulher no âmbito político impe que os problemas sociais, provocados pelas políticas neoliberais, pudessem também ser olhados e discutidos sob o prisma feminino. O objeto dessa pesquisa são as mulheres parlamentares eleitas em 2002, pelos partidos PT, PSDB e PFL. Essa foi a 2ª eleição sob vigência da lei de cotas o que permite avaliar, mesmo que de forma provisória, o impacto dessa medida. A seleção da amostra contém um partido de esquerda, um de centro e outro de direita, possibilitando uma análise interessante sobre a situação da mulher nas agremiações partidárias com tendências ideológicas diferentes. O objetivo desse artigo é discutir a importância de cotas no Legislativo de São Paulo, analisando os projetos apresentados e aprovados pelas parlamentares, destacando prioritariamente o conteúdo dos projetos. Avaliar até que ponto esses projetos podem ser considerados parte de um movimento micro político das mulheres como forma de resistência à exclusão que sempre estiveram sujeitas e se esses projetos vem no sentido de contestar o sistema neoliberal vigente. Metodologia: avaliar os projetos aprovados pelas mulheres parlamentares do PT, PSDB e PFL na Assembléia Legislativa de São Paulo, no período de março de 2003 até junho de 2006. Os resultados esperados - já que a pesquisa está sendo desenvolvida nesse momento - apontam para um movimento paradoxal: mulheres que apresentam projetos preocupados com a transformação social e projetos que continuam fazendo parte da política social vigente. A autora desse trabalho acredita que os pequenos movimentos de resistência, as imperceptíveis conquistas e transformações, não podem ser deixados de lado, porque contém um elemento revolucionário importante: começam a transformar as relações sociais na micro política para mais tarde atingir o regime neoliberal de exclusão social. É como o caruncho que vai corroendo por dentro madeiras e cereais sem ser percebido. Quando é descoberto, já destruiu praticamente todo o interior e sustentáculo do móvel e da semente. 1 Mulheres na Assembléia Legislativa de São Paulo nos partidos PT, PSDB e PFL e a resistência às políticas neoliberais1 Terezinha Richartz2 Grupo de trabalho: Estado, democracia e partidos políticos Resumo As mulheres pertencem a uma classe social que é dominada e explorada pelas questões de gênero e patriarcado. Recentemente começaram a lutar para serem incorporadas no espaço público, para participarem em igualdade de condições com os homens. O objetivo deste artigo é discutir a importância de cotas no Legislativo de São Paulo, analisando os projetos apresentados e aprovados pelas parlamentares, destacando prioritariamente o conteúdo dos projetos. Avaliar até que ponto esses projetos podem ser considerados parte de um movimento micro político das mulheres, como forma de resistência à exclusão a que sempre estiveram sujeitas, e se esses projetos vêm no sentido de contestar o atual sistema neoliberal. Introdução A luta para construir uma sociedade democrática, trabalhando as relações entre homens e mulheres não é recente, porém, com o advento da mundialização do capital, novas questões passam a integrar a agenda dos debates e intervenções. Como eliminar a dominação-exploração patriarcal a que estão expostas as mulheres no âmbito político? As relações entre homens e mulheres são ricas e conflituosas, afetadas pelas transformações neoliberais. Cabe realizar uma reflexão crítica desse processo, para orientar a ação política das mulheres neste início de milênio. Democracia, neoliberalismo e as relações de gênero Apesar de toda a apologia que o capitalismo faz da mundialização do capital, as contradições no interior desse sistema saltam-nos aos olhos. Agudizam-se os 1 Este artigo é parte de pesquisa realizada para qualificação de doutorado em Ciências Sociais na PUC/SP. 2 Doutoranda em Ciências Sociais pela PUC/SP. 2 processos de competição. Ele é tão brutal que massacra eventuais gestos de solidariedade, de tolerância à diferença, de luta contra as desigualdades. A partilha do poder entre os sexos não é um problema vivenciado só no Brasil. O preconceito e os obstáculos sociais e culturais geraram um déficit histórico que excluiu e continua excluindo mulheres em todo o mundo. A presença predominantemente masculina nos cargos públicos e na política de maneira geral é o efeito dessa cultura excludente. A minimização da capacidade política, intelectual e produtiva das mulheres produziu um desequilíbrio social complexo entre os dois sexos. Segundo o TSE, 53% do eleitorado, em 2002, eram integrados por elementos femininos. Não obstante a presença de mulheres nas Assembléias Legislativas e dessa participação ter crescido no Parlamento de 10% para 12,6% na última legislatura, essa categoria social continuou a ser sub-representada nas eleições de 2002. O número de eleitas está ainda, longe de se aproximar da porcentagem por elas representada no seio do eleitorado. Esse resultado acontece na vigência da lei de cotas Apesar de reconhecer a mulher como sujeito político e de ela ter conseguido ampliar a sua participação em muitos espaços sociais, percebe-se que os direitos conquistados em relação à cidadania política, direito ao voto e a representação, não têm sido suficientes para alterar a desigualdade na maioria dos países, principalmente no que se refere à presença feminina nas instâncias diretivas. Nesse sentido, cotas apareceu como uma tentativa de diminuir o fosso existente entre a representação masculina e a feminina no parlamento. Em 1995, por meio da Lei nº 9.100, em seu artigo 11 § 3°, foi estabelecida uma cota mínima de 20% de mulheres para candidatas à Câmara de Vereadores. Em 1997, a Lei nº 9.504 instituiu cotas de 30% e estendeu as cotas para todas as eleições proporcionais: Câmara de Vereadores, Assembléias Legislativas Estaduais e Câmara Legislativa do Distrito Federal e Câmara dos Deputados. Agora, cada partido ou coligação deverá reservar o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada categoria de sexo. O sistema de cotas, também chamado de Ação Positiva é, “simultaneamente, uma estratégia e uma técnica jurídica” (ACÕES..., 1989:18). O conceito de Ação 3 Positiva não se pode definir nem compreender, senão situado em relação a duas dimensões: 1) O reconhecimento de um princípio geral de igualdade de tratamento e de oportunidade entre homens e mulheres. 2) O princípio da não-discriminação. Segundo a definição do Comitê para a Igualdade entre Homens e Mulheres do Conselho da Europa, a “ação positiva é uma estratégia destinada a estabelecer a igualdade de oportunidades, por meio de medidas que permitam contrastar e corrigir aquelas discriminações que são o resultado de práticas dos sistemas sociais” (AÇÕES..., 1989:18). Essa alternativa propõe programas de ações concretas, que outorguem às mulheres vantagens concretas. São de caráter temporário, justificadas pela existência da discriminação contra categorias sociais (negros, mulheres, dentre outros) e resultam da vontade política e das condições objetivas de superá-las. Para Phillips (1995;1998), defensora do sistema de cotas, o modelo vigente de democracia representativa não enfatiza a identidade dos representantes e sim a ação e os interesses que ele representa. O problema é que essa “política de idéias” é insuficiente para incorporar mulheres, negros e pobres, setores historicamente sub representados ou, até mesmo, excluídos. Nesse sentido, ocorre o deslocamento em direção à “política de presença”. De acordo com Phillips (1995), a “política de presença” prevê a inclusão desses setores nos espaços políticos. É estar presente fisicamente, participando dos debates. A cota traz para a arena política, pelo menos em tese, as preferências femininas, já que as mulheres estarão presentes nas instâncias deliberativas, tendo a oportunidade de debater, questionar e propor aquilo que, do seu ponto de vista e de suas experiências, é melhor para a coletividade. Hoje se questiona se o modelo de democracia existente no Brasil é capaz de dar conta das aspirações de todos os grupos sociais, em especial das mulheres. Um regime que impede o acesso ao poder à metade – ou mais – da população (mulheres, pobres, negros) não é, verdadeiramente, uma democracia. 4 A democracia plena, “capaz de eliminar as diferenças sociais, só se constrói quando se atacam simultaneamente, as três contradições fundamentais, ou seja, as desigualdades entre as classes sociais, entre as etnias e entre os sexos” (SAFFIOTI, 1987:92). A destruição desse trio patriarcado-racismo-capitalismo é elemento essencial para a construção da verdadeira democracia. Nesse “novelo” formado pelo trio em questão, as contradições são potencializadas. Assumem uma complexidade maior do que a encontrada em cada uma isoladamente. Para serem eliminadas, é preciso “formular estratégias de enfrentamento desta realidade mais complexa” (SAFFIOTI, 1999:142). Nesse sentido, é importante pensar na presença qualificada de mulheres nas instâncias de poder, para poder de fato, contribuir para que as aspirações e necessidades das mulheres sejam reconhecidas. Assim, é fundamental, segundo Phillips (2001), passar da “política de idéias” para a “política de presença”. Iris Marion Young (2000) defende a “Perspectiva Social”, em vez da “Política de Interesses”. O acesso ao poder dos grupos sociais marginalizados não deve acontecer porque compartilham dos mesmos interesses, mas porque partem de uma mesma realidade social. É mais importante o ponto de onde saíram e não o ponto de chegada. No caso das mulheres, os seus interesses, que muitas vezes são contraditórios ou divergentes, podem ser defendidos pelos homens. Já do ponto de vista da perspectiva social, isso é impossível, pois a experiência das mulheres é diferente do que é vivenciado pelos homens. Essa experiência vivenciada pelas mulheres não pode ser levada ao espaço público pelos homens, por mais sensíveis que sejam à questão feminina. O patriarcado submete mulheres e homens a vivências cotidianas diferenciadas e isso faz com que eles tenham perspectivas diferentes. Young e Phillips, portanto, concordam que as mulheres devem representar mulheres, mesmo que nem todas as parlamentares defendam os mesmos interesses. A experiência de gênero é que faz a diferença. 5 Metodologia Na atual legislatura, a Assembléia Legislativa de São Paulo conta com 10 mulheres, num total de 94 eleitos. Mas o objeto dessa pesquisa são os projetos apresentados e já aprovados, no período de março de 2003 até junho de 2006, pelas oito mulheres parlamentares eleitas em 2002, pelos partidos PT, PSDB e PFL. Essa foi a 2ª eleição sob vigência da lei de cotas, o que permite avaliar - mesmo que de forma provisória - o impacto dessa medida. A seleção da amostra contém um partido de esquerda, um de centro e outro de direita (ALMEIDA; CARNEIRO, 2003)3, possibilitando uma análise interessante sobre a situação da mulher nas agremiações partidárias com tendências ideológicas diferentes. Resultado e discussão A partir dos dados disponibilizados pela Assembléia Legislativa de São Paulo quanto aos projetos aprovados, é possível promover uma breve reflexão sobre a atuação dessas parlamentares na atual legislatura e discutir o impacto de cotas. Algumas questões aparecem como importantes para explicar a eleição dessas mulheres. A maioria possui curso superior, vêm de profissões consideradas relevantes para eleição: professora, advogada e médica. A atividade política em sindicatos e associações permeia o currículo das eleitas, além de carreira política anterior, como secretárias, vereadoras e deputadas estaduais. Essas características são consideradas significativas para explicar a elegibilidade. Militar em sindicatos traz para a política a experiência de quem é explorado no mercado de trabalho pelo sistema neoliberal. Na atual legislatura, o PFL não elegeu nenhuma mulher. Mas, nas duas eleições anteriores, elegeu duas mulheres respectivamente. 6 Projetos de lei apresentados pelas deputadas estaduais e aprovados A seguir, serão enumerados os projetos de lei apresentados até junho de 2006, aprovados e já promulgados. Serão excluídos os projetos de lei que versem sobre denominação de estradas, escolas, hospitais, etc., declaração de utilidade pública, além da revogação de leis e resoluções. Tabela 1 Deputadas Estaduais e projetos de lei aprovados. DEPUTADA EMENTA ESTADUAL ANA DO CARMO Aprovou 3 projetos de lei4. (PT) Lei (§ 8º - artigo 28) 12253 de 10/02/2006 - Obriga as farmácias e drogarias a manterem, à disposição do público - para consulta - lista de medicamentos genéricos em caracteres Braile. ANALICE Aprovou 10 projetos dentre os quais destacam-se: FERNANDES (PSDB) Lei 11634 de 08/01/2004 - Institui o "Dia do Desarmamento Infantil" Lei 12043 de 20/09/2005 - Institui o Dia Estadual do Jovem Adventista. BETH SAHÃO Aprovou 3 projetos de lei. (PT) Lei 11657 de 14/01/2004 - Institui o "Dia dos empregados domésticos". Lei (§ 8º - artigo 28) 12257 de 10/02/2006 3 Essa classificação não encontra unanimidade na literatura. As outras leis versam sobre denominação de estradas, escolas, hospitais, etc., declaração de utilidade pública, além da revogação de leis e resoluções. 4 7 - Institui Política de Reestruturação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos no Estado de São Paulo QUALICASAS. CÉLIA LEÃO Aprovou 28 projetos de lei. (PSDB) Lei 11517 de 23/10/2003 - Torna proibida a veiculação de propaganda de bebidas alcoólicas à beira das rodovias estaduais. DOUTORA Aprovou 3 projetos de lei.Lei 12297 de 08/03/2006 HAVANIR NIMTZ - Obriga a aplicação do "Programa de Educação (PSDB) Específica Contra os Males do Fumo, do Álcool e das Drogas", nas escolas públicas de primeiro grau, da rede estadual. Lei 11757 de 02/07/2004 - Assegura, às mulheres acometidas de tensão prémenstrual (TPM), o atendimento médico ambulatorial especializado no Estado. MARIA LUCIA Aprovou 11 projetos de lei. AMARY (PSDB) MARIA LÚCIA Aprovou 7 projetos de lei. PRANDI (PT) Lei (§ 8º - artigo 28) 12252 de 10/02/2006 - Veda a prática de atividades inerentes à função de cobrador por motorista de ônibus das linhas intermunicipais de transporte coletivo do Estado de São Paulo. Lei 11972 de 26/08/2005 - Dispõe sobre a implantação de programa de prevenção e atendimento à gravidez na adolescência. Lei 11676 de 14/01/2004 Institui o "Dia Estadual de Combate às Barreiras aos 8 Portadores de Deficiência". Lei 11366 de 29/03/2003 - Institui do "Dia do Supervisor de Ensino". ROSMARY Aprovou 14 projetos de lei. CORREA (PSDB) Lei 12259 de 16/02/2006 - Institui o "Dia da Polícia Civil do Estado de São Paulo". Lei 11624 de 08/01/2004 - Institui o Dia do "Elos Internacional". Lei 11594 de 10/12/2003 - Institui o `Prêmio Paulista de Qualidade da Gestão PPQG. Fonte: http://www.al.sp.gov.br. Acesso 02 abr. 2006. As mulheres que mais aprovaram projetos de lei são as que já atuaram como deputadas estaduais por mais de uma legislatura. Essas provavelmente conhecem melhor o trâmite necessário para aprovar uma proposta. As deputadas estaduais apresentaram projetos prioritariamente na área de sua formação. Médicas propuseram projetos na área da saúde, professoras na área da educação, comprovando que a “perspectiva social” também aparece na apresentação das propostas. . Os projetos aprovados não trazem grandes transformações. Versam, sobretudo, sobre saúde e educação, locus em que as questões da vida privada – “especialidade feminina” – aparecem com maior nitidez. Mas ao se preocuparem com os portadores de deficiência, combatendo às barreiras, inserindo braile na lista de medicamentos genéricos, ao priorizar o cuidado com jovens e adolescentes (desarmamento, bebida alcoólica, drogas, gravidez na adolescência), essas mulheres estão preocupadas com o ser humano - como gente - não como mercadoria. Essa é uma questão importante no Brasil em que o neoliberalismo mercantiliza as relações sociais. 9 O fato de estarem participando como eleitas já é uma forma de contestar o regime vigente, que permitiu formalmente, que as mulheres se tornassem cidadãs só em 1932. Essa igualdade aparente, desembocou na necessidade de criar cotas para ampliar a insignificante participação feminina na política até agora. Conclusão As relações de gênero apresentam contradições. Nessa categoria, a desigualdade e a igualdade são possíveis. Nesse sentido, gênero abre espaço para as lutas em busca de maior igualdade entre homens e mulheres. Ao se organizarem e lutarem por transformações, conquistando mais espaço no âmbito político, as mulheres criam as condições para alterar paulatinamente as relações de poder. Já o patriarcado explica a exploração-dominação tão presentes na vida de muitas mulheres. Apesar dos avanços ocorridos nas relações entre homens e mulheres sob o patriarcado, as mudanças são mais lentas do que sob a ótica de gênero. Com o acirramento da mundialização do capital e o acelerado processo de comunicação a que estamos sujeitos, as contradições aparecem com maior rapidez. Hoje, as mulheres conseguiram significativos avanços nos campos profissional, educacional e político. Mesmo assim, continuam sendo dominadas-exploradas no lar. Também sofrem no campo do trabalho, ao serem submetidas à dupla jornada de trabalho. Estudam mais e recebem salários menores que os homens por trabalhos equivalentes, aprofundando o fosso da exclusão social, já que muitas famílias são chefiadas por mulheres. Na política, ainda são sub-representadas, apesar de serem maioria do eleitorado. Para superar essas contradições, são necessárias mudanças estruturais profundas, desde um sólido movimento feminista, que traga para o debate público as questões de gênero e patriarcado, até as lutas individuais travadas por mulheres, no seio da família, em busca de maior autonomia. O próprio sistema patriarcal aos poucos cria condições para o nascimento de novas sociabilidades. As pequenas transgressões que mulheres, negros, e pobres fazem diariamente são 10 elementos importantes na luta contra o patriarcado. É como o “caruncho”5 que vai corroendo, por dentro, madeiras e cereais sem ser percebido. Quando é descoberto, já destruiu praticamente todo o interior e sustentáculos do móvel ou semente. Bibliografia AÇÕES Positivas: uma aposta para a igualdade de oportunidades entre mulheres e homens (1989). Portugal Lisboa: Codex/Comissão da Condição Feminina (nº 28) ALMEIDA, Maria Hermínia Tavares de; CARNEIRO, Leandro Piquet (2003). Liderança local, democracia e políticas públicas no Brasil. Opinião Pública, Campinas, v. IX, n. 1, p. 124-147. PHILLIPS, Anne (1995). The polítics of presence. Oxford: Oxford University Press. PHILLIPS, Anne. Democracy e representation: or, why should it mattrer who our representative are? In: PHILLIPS, Anne (org.) (1998). Feminism e politics. Oxford: Oxford University Press. SAFFIOTI, Heleieth I. B. (1987). O poder do macho. São Paulo: Moderna. (Coleção Polêmica) -------------------. O estatuto teórico da violência de gênero. In: SANTOS, José Vicente Tavares dos (Org.) (1999). Violência em tempo de globalização. São Paulo: Hucitec. p.142-163 YOUNG, Iris Marion (2000) . Inclusion and democracy. Oxford: Oxford University Press. 5 Designação dada a insetos que perfuram, sobretudo, madeiras e cereais. (Ferreira, A. B. de Holanda. Novo dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.