ALVARO FERREIRA JOÃO RUA REGINA CÉLIA DE MATTOS (ORGS ) Desafios da metropolização do espaço CoNSEQUÊNcIe @ 2015 dos autores SUMÁRIO Direitos desta edição reservados Consequência Editora à Rua Alcântara Machado, 36 sobreloja 210 Centro - CeP: 20.081-010 Rio de |aneiro - RJ B¡asil Tel/Fax: (2 1) 2233'7 935 [email protected] www.consequenciaeditora.com.br I3 Agradecímentos Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação do copyright (Lei no 9.610/98). Coordenação editorial Consequência Editora Metropolização do Espaço, Gestão Territorial e Relaçoes Urbano-Rurais: Processos e Dinâmicas. Uma Introdução............. ........................15 Alvaro Ferreira, Ioão Rua e Regina Célia de Mattos t6 Conselho editorial Metropolização do espaço: dinâmicas Ruy Moreira O papel da gestão territorial t9 ]oão Rua Metropolização do espaço e relações urbano-rurais: o lugar se impondo na matriz analítica 23 Enfim 28 Alvaro Ferreira Regina Célia de Mattos e processos Revisão Priscilla Morandi Capa, projeto gnífco e PARTE r. METROPOLTZAçAO DO ESPAÇO PROCESSOS E DINÂMICAS ............33 diagramação Letra e Imagem CAPÍTULO t. Metropolização do espaço e a constituição de megarregiões..35 Søndrø Lencioni Introdução Homogeneização, fragmentação Deros rxrenNecroNArs lr CererocaçÃo-na-Punr,rcaçÃo (CIP) 35 e hierarquização do espaço. A origem dessa tríade analítica 39 Da ideia de megalópole à de megarregião 42 Rio de janeiro-São Paulo: uma megarregião 57 Des44l Desaflos da metropolizaçâo / Organizadores: Alvaro Ferreira, loão Rua e Regina Célia de Mattos. 1. Ed. - Rio de |aneiro : Consequência, 20 I 5. - CAPÍTULO 2. Metropolização do espaço, cotidiano e ação: uma contribuição teórico-metodológica....... 620.:il.;l6x23cm. ....................69 Alvøro Ferreira ISBN 978-85-64433-29-8 (broch.) 1. Geografia urbana.2. Planejamento urbano. 3. Urbanização. I. Ferreira, Alvaro. IL Rua, João. III. Mattos, Regina Célia de. cDD 307.76 De uma economia baseada na indústria para outra ligada aos serviços? 7I Espaço, cotidiano e ação 74 Que possibilidades? 81 cApfTULo ¡. Redes financeiras e mudanças espaciais na cidade 85 Sobre a metropolização do espaço urbano no contemporàneo ............ 172 85 Circulação e mobilidade na ordem estratégica da metropolização ...... 175 A mobilidade como apropriação e uso social do espaço urbäno .......... 180 A mobilidade como luta espacial pelo direito à metrópole ................... 181 184 Considerações finais Leila Christina Dias Introdução Os termos do debate contemporâneo no campo da Geografia das Finanças,.................. A metrópole paulista - lugar de convergência das redes .............. 86 bancárias e financeiras no Brasil 90 Considerações finais 95 Luciano Ximenes Aragao cAPfTULo 4. Metropolizaçáo María Laura Silveira Território, metrópole e e circuitos da economia urbana 99 urbana 101 ...'..'............ 103 consumo ........125 II . GESTÃO TERRITORIAL, MÚLTIPLAS FACES DO RURAL INTERVENÇOBS ¡ tttOVItttENTOS SOCIAIS r29 Reestruturação da cidade e fragmentação socioespacial '....'...........'.'.. 140 CAPÍTULO 6. Reestruturação imobiliária e produção do espaço metropolitano: ................... 209 209 2r0 Governança: resgatar um conceito de origem suspeita? Governança territorial: potencialidades de um conceito ambíguo ......213 Metrópoles e microprodução de cidade Metrópoles, política e cidadania 2t6 219 ................153 Do telecontrole à "ocupação": in-segurança e contenção .......................225 territorial na metrópole carioca...... CAPÍTULO Paulo Cesar Xavier Pereira Introdução 207 loão Ferrão Introdução Reestruturação urbana nega o urbano e a urbanização tradicional PARTE CAPITULO 9. Governança democrática metropolitana: como construir a "cidade dos cidadãos"? Mariø Encarnação Beltrao Sposito ............. 153 Reestruturação imobiliária: transformação e articulação 156 Reestruturação imobiliária, obscurecimento e campo cego .....'...."....' 161 Considerações finais 164 CAPÍTULO z. A mobilidade urbana no processo de metropolização: um ensaio crítico sobre as condiçoes da produção social do espaço urbano lorge Luiz Barbosa 204 115 cAPfTULo s. Metropolização do espaço: cidades médias, no contemporâneo 194 Considerações finais EM UM CONTEXTO DE METROPOLIZAÇÃO: Relevância do estudo das metrópoles na América Latina lógicas econômicas e Crise das representaçöes e mistificaçoes da consciência divisão do trabalho: uma introduçâo ..........."." 99 Circuitos da economia urbana: existência unitária e oposição dialética Elementos constitutivos e relacionais dos circuitos da economia CAPÍTULO a. A.4.gora (ainda) não é agora: aproximações iniciais entre a r87 urbanização trâgica e a mistificação da consclência t7l 10. Rogério Haesbaert 228 Telecontrole: a urbe monitorada "ocupação" territorial .... 234 O controle em nível local: "pacifi caçáo" como "Ocupação" por dominação e por apropriação: distintas concepções de território À guisa de conclusão: as distintas modalidades de contenção cAPfTULo 11. territorial 240 246 A política habitacional e a intervenção no espaço urbano...253 Arlete Moy s é s Ro drigue s CAPÍTULO 12. Los movimientos sociales urbanos: de la desensa del territorio a la innovación social...... ."""""""""273 OríolNel'lo Los movimientos sociales urbanos, factor clave en la configuración de la ciudad y el território 273 Los movimientos de defensa del território La emergencia de las prácticas de innovación social 280 275 ¿De la defensa a la ofensiva? ¿De la denuncia a la propuesta? ............... 284 CAPÍTULO 13. Movimentos sociais urbanos: a cidade em disputa ..............289 losé Borzacchiello da Silva 289 Introdução cidades ......29I fisionomia urbana das mudanças na Movimentos sociais e A emergência dos movimentos sociais populares no Brasil 298 contemporâneo: a interlocução direta Os movimentos sociais populares no Brasil contemporâneo e o peso das mídias escrita, falada e televisiva: Diretas fá e Fora Collor ............ 306 Cidade e território no Centro de Portugal: dinâmicas regionais .......'.....-- 355 nacionais, especificidades A rede urbana da Região Centro: dinâmicas e especificidades ............. 363 Políticas públicas e coesão urbana: dos conceitos aos discursos, das estratégias aos planos de ação '................:....'......'...... 368 Políticas urbanas, programas e planos de ação: do Polis às Açóes Integradas de Desenvolvimento Urbano Sustentável (AIDUS) "'..... 37 3 Política de cidades em Portugal 12000-2d20lt programas' instrumentos e tipologias de intervenções apoiadas, fundamentalmente, pelos Programas Operacionais Regionais ............ 379 Remate: breve balanço prospetivos das políticas de desenvolvimento urbano 383 CAPÍTULO 16. O preço da terra e os megaprojetos como marcantes urbanidades no rural na fase atual de organização do espaço geográfico .....389 Joøo Rua nas ruas das cidades brasileiras 309 Urbanidade, urbanidades, urbanidades no rural: um reposicionamento teórico e empírico Preço da terra e megaprojetos como urbanidades Fechando o texto 3r7 no rural As mídias sociais e as recentes pelejas urbanas .... fluminense 394 ....'..."""""' 402 Em busca de novos desafios ou de um otimismo A gestão do território para o desenvolvimento econômico do Rio de |aneiro: a passagem da era industrial para a economia criativa, CAPÍTULO 14. ou um pouco de cada? ......................32I CAIÍTULO 17. perdido? .............32I A gestão territorial para a promoção do desenvolvimento econômico na cidade do Rio de faneiro na era industrial ......................323 331 Economia criativa e novos desafios para a gestão territorial A gestão territorial para a promoção do desenvolvimento econômico 337 na cidade do Rio de |aneiro na atual fase do capitalismo 345 Considerações finais ............" 415 Nuevas realidades rurales: el valor de la naturalezay el paisaje como activos en los procesos de naturbanización loão Luiz de Figueiredo Introdução que se pensou 42r MaríaJosé Prados Introducción Marco Teórico Método y fuentes Resultados Discusión Agradecimientos ...'.....42I ....'. 426 429 .........".. 43I 438 440 CAPÍTULO 15. Processos de urbanização em contextos não metropolitanos: cAPfTULo cidade e desenvolvimento urbano na Região Centro Portugal 353 contexto das transformações no rural contemporâneo: reflexões sobre o PRODECER e o PToSAVANA ............... ................443 3s3 Vera Lúciø Salazar Pessôa Rui lacinto Apresentação 18. O cerrado brasileiro e a savana africana no Introdução 443 PRODECER: o acordo Brasil-Japão e as transformaçöes das mudanças no espaço do Cerrado O PToSAVANA: um "retrato" do PRODECER Para refletir... CAPfTULO za. Algumas considerações para a compreensão 445 448 (?) 453 climáticas .'..'..............519 Marcelo Motta de Freitas Futuro: um desafio evolutivo Passado: paleoclimas '...520 525 Presente: a geopolítica das mudanças climáticas CAPÍTULO 19. O gênero da paisagem e a natureza do espaço público: rumo cidade.......... ...................459 Ivaldo Gonçalves de Lima Introdução 4s9 Micropaisagens feministas da cidade do Rio de |aneiro: uma busca pelo olhar do Outro 461 O espaço público é a cidade. A cidade é o espaço público 467 Para concluir: A condição cívica da cidade 474 CAPÍTULO 20. Gênero: emancipação é possível? 529 à CAPÍTULo 24. Espécies exóticas, produção de energia e história ambiental das florestas urbanas do Rio de janeiro Alexandro Solórzano, Diogo C. Cabral e 537 Rogério Ribeiro de Oliveirø Introdução ..'..........537 Vasculhando os "arquivos" da floresta para desenhar o presente ........ 540 s44 Remontando ao passado: narrando a ecogênese florestal Considerações Finais '............'...557 ............,..........481 Regina Célia de Mattos CAPÍTULo 25. Carvoeiros do passado, agricultores do presente e turistas do futuro: dilemas sobre a presença humana no CAPÍTULO 21. O trabalho, o gênero e a metropolizaçáo em tempos de reino do rentismo 491 Ruy Moreira A diversificação dos sujeitos A emergência do rentismo Parque Estadual da Pedra Branca, Rio de janeiro, RJ, Brasil .565 Rodrigo Penna-Firme e Celinø Matos .................. 491 Apresentação 493 A mercantilizaçäo da natureza e o discurso global ."....'..... 565 O subdesenvolvimento, a sustentabilidade e a cidadania: as ideologias -ponte da autonomização rentista ................... 494 da sustentabilidade A metropolização A pobreza no paraíso ecológico e a mais-valia socioambiental ""........ 573 Carvoeiros do passado e Agricultores do presente: ...."' 577 buscando os elos históricos 496 PARTE ITL OUTROS OLHARES SOBRE A METROPOLTZAÇAO DO ESPAÇO ......499 Green Grabblng e conservação neoliberal ................ Breves Considerações finais Direitos socioambientais ".'...' 566 s70 ...'............. 582 ...... 586 CAPITULO zz. Introdução à crítica da modernização ecológica das cidades .s01 CAPÍTULO 26. Autoabastecimento olerícola urbano como um caminho para a Regulação e norma no capitalismo da acumulação flexível 507 sustentabilidade: Projeto Rio Hortas da cidade do Rio de Janeiro, Brasil'..589 Luiz Felipe Guanaes Rego A mobilidade como trunfo 508 Introdução s89 Desigualdade ambiental e regulação capitalista 5r2 Resultados 592 Considerações frnais 514 Henri Acselrad Discussões 600 AGRADECIMENTOS Sustentabilidade econômica das hortas comunitárias do projeto Rio Hortas 604 Conclusão 606 Sobre os autores 611 Agradecemos muitíssimo ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científrco e Tecnológico), à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), ao Decanato do Centro de Ciências sociais (ccs) da PUC-Rio e à vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos da PUC-Rio, que, percebendo a importância e grande relevância do evento que agora se transforma em livro, forneceram o apoio necessário para a rcallzaçãn do II Simpósio sobre Metropolização do Espaço, Gestão Ter- ritorial e Relações Urbano-Rurais realizado no campus da PUC-Rio em novembro de2OI4. 13 l -l Parte ll Gestão territorial, múltiplas faces d0 rural em um contexto de metropolização lntervenções e movimentos sociais L- ) \- CAPITULO 9 Governança democrática metropolitana Como construir a "cidade dos cidadãos"? João Ferrã01 A anulação do dissenso é o fim da política RnNcrÈnE (zoor) rN BoaNo (zor4) lntrodução procura dar um contributo modesto para uma questão ambidireito à cidade nas metrópoles contemporâneas? A resposta baseia-se numa hipótese provisória, a exigir aprofundamento futuro: reforçando as relações de coevolução dialética entre novas formas de regulação pós-burocrática por parte do Estado à escala metropolitana e novos modos de microprodução de cidade, resultantes de processos de ação coletiva capazes de criar espaços de respiração e emancipação Este texto ciosa: como garantir o democrática. A formulação desta hipótese parte de três constatações. Em primeiro lugar, o esgotamento da visão moderna, racional e burocrática de governo e de administração de raiz weberiana. Em segundo lugar, os efeitos devastadores da crescente desregulação da vida coletiva associada ao modelo neoliberal: diminuição das atribuições e competências do estado, degradação da administração e dos serviços públicos, desman- telamento do estado social, autorregulação dos mercados, financeirização da economia e valorização de soluções de base individual (empreendedorismo social) para a resoluçäo de problemas sociais de natureza estrutural, coordenador do Instituto de ciências Sociais da universidade de Lisboa, 209 DO ESPAÇO DESAFIOS DA METROPOLIZAÇÃO Governança democrática metropolitana 21j 210 lugat a terceiro a pobtezaou o desemprego' Em (SWYNde sociedade e de cidade emergência a. to"t"iåt iot-pofititas em bo"u da eficácia e do compromisso GEDOUW 2010), tt"i'ui* "u de dissensão' como a exclusão social' formas Jetrimento de quaisquer baseia-se em a "cidade dos cidadäos" Na hipótese uti-u up"tentada' isto é' a cidade entre a cidade com poder' interaçöes e tensÓes "'ä*u' de regulaçäo assenta na legitimidade instituciona lizadacuja autoridade direto e universal' de eleições por sufrágio democrática conferiá através coletiva e soespaço de práticas de açäo um t;;' ; poder, com rua ea portanto, a qualidade da hipótese proiosta é, ciabilidade pública. o foco quer recusando-se se estabelecem entre ambas' das relações dialéticas que com poder) quer (a cidade com poder ou a rua falsas opções dicotómicas rua com poder em visões ingenuament;;Att"t (a cidade com podet ea diálogo Permanente e Pacífico)' Na organizado em quatro secções' O texto que se segue encontra-se sem ignorar o prot"'u-oi resgatar o conceito de governança' primeira, contextoemquefoioriginariamenteproduzido(governançacorporativa) n"t:t:tÏ::::ês décadas que lhe têm sido atribuídos e os usos dominantes do parte salientamos a especificidade (governança neoliberal)' Na segunda governane a sua relevância para uma conceito de governança territorial metrópoles Na terceira apresentamos as democrática das metrópoles' ça comocomplexossocioterritoriaisconstituídospormúltiplosespaçosrelacionaisnãoinstitucionalizadosdemicroproduçãoquotidianadecidade. à argumendo texto defendemos' recorrendo Finalmente, na trltima parte quadro novo um anteriores' a construção de tação exposta nas ""çã"' pesquisa que de uma nova agenda de analítico e de ação e a necessidade entendamasmetrópolessimultaneamentecomocontextoeprodutodereos atores da metrópole e transformadoras entre laçöes dialéticas, t'î**ut instituciona|izadaeosatoresdeespaçosdemicroproduçãoquotidianade cidade. de origem suspcita? Governança: resgatar um conceito nos recente, tendo tido origem o conceito de governança e relativamente práticas de primeiro como conjunto de empresas' das domínio no EUA, parte de fornecedores e clientes por envolvimento de acionistas' nadas firmas e mais tarde, com a obra de Eells (1960), formalizado através do conceito de governança corporativa (BECHT BoLToN e ROELL, 2007). A partir dos anos 1980 do século passado, o conceito de governança ganha um novo ölego e a sua apricação ararga-se a domínios muito diversos. Esta emergência associa-se à ascensão das ideias neoliberais, defensoras da transferência de um número significativo de poderes e funções do Estado para as empresas e para a sociedade civil no contexto do paradigma ..me_ nos Estado, melhor Estado". Invocando os efeitos p.rrr.rro, decorrentes de uma interferência abusiva do Estado nas opções individuais de empresá_ rios e de cidadãos e, em simultâneo, a ineficiência de uma administração burocrática, lenta e, por isso, vista como um custo de contexto que prejudica fortemente a produtividade económica, os defensores das ideias neoli- berais recorrem ao conceito de governan çaparalegitimar a construção de economias e sociedades mais libertas do jugo do Estado e das intervenções dos serviços da administração pública. No que se refere à transferência de poderes do Estado para as emprea uma crescente desregulação da vida económica, criamse múltiplas empresas públicas, multiplicam-se formas diversificadas de parcerias público-privadas e privatizam-se setores ou atividades até aí de natureza pública. No que diz respeito à transferência de poderes para as comunidades locais e organizações da sociedade civil n'ma ótica de inisas, assiste-se ciativa e responsabilizaçáo individual, conceitos como empreendedorismo social e, de forma mais abrangente, de Grande Sociedade (Big Society), por contraponto ao que é designado (pejorativamente) como Grande Estado, passam a marcaf os discursos e as agendas emergentes ao nível político, mediático e até académico (cARMo, FERR,ÄO e MALHEIROS,2014). Em ambas as frentes, o governo de natureza weberiana vai dando oriformas de governança, isto e, de situações em que o Estado partilha com agentes económicos e grupos organizados da sociedade civil gem a múltiplas atribuições e competências que até então eram da sua exclusiva responsabilidade A conceção de governo sem governança", prevalecente até então base uma segmentação rígida entre funções públicas e nao púPor parcialmente substituída Por modelos de governança, uns orlenpara o mercado e outros para a sociedade civil, podendo mesmo dar em casos extremos, a casos de '.governança sem governo,': e privati_ total numa ótica de mercado ou formas de neocomunitarismo, em DO ESPAÇO DESAFIOS DA METROPOLIZAÇÃO 212 de serviços sociais em assumem a autoprovisão que as comunidades locais ou a educaçäo' domínios básicos como a saúde eficiende uma administração pública Simultaneamttt", u construçáo em emergência' na adoçäo de teorias entäo te "pós-buro ctâtic{'baseou-se referência' como de e de práticas consideradas como a nova gestão pública' prioridade das retransforma-se mesmo numa a governança. Esta última defendidas por entidades internacionais comendaçóe, at "Uo- g;t';rno" (Comissáo Europeia)' Nes(OCDE, agências da ONU) e supranacionais uma questão basicamente apresentada como te contexto, a governança é que visam objetivos e procedimentos técnica, um conjunto ãt p'itttipios' não só diferende decisão que envolvem uma gestão eficiente de p'ott'*' de mas também um leque diversificado tes níveis político-administrativos civil' atores económicos e da sociedade t:l:':1Ï:"::'":iÏtråîä:,. *xï#Ï:'åì sua reemerge e a corporativa) o facto de o conceit"d. (governança muitos autores 1980 do século passado levaram berais a partir da décadade aconsiderá-laummeroinstrumentodoneoliberalismo'Aomesmotempo' à participação do Estado e da administração o apelo a uma *uio' abertura colabora- mais mais inclusivos e a soluções pública, u pro.""o' Je decisao para garantir autores como um artifício tivas é interpretado por diversos neoliberal e dos decisores no modelo uma maior ,.tttg'uçí" ão' cidadaos do capital e de domínio do (MIRAFTAB, 2009j e nas lógicas de acurnulação moverdade' a generalizaçáo de diferentes Estado (RAND.Ló H',2014i'Na da transição sido um elemento constitutivo dalidades d. gou""tãn" tt- doparadigmu,,,odt"'oeweberianodeEstadoparaoparadigmaneoliberal da ecodesregulação e frnanceirização ocorrida num contexto de crescente moderna de burocrátiJo subjacente à visão nomia. À conceção de governo ao (neoliberal) associada perspetiva de governança Estado' melhor Estado"' paradigma defensor de'?nenos Estado opÕe-se, ugo'u, i Masseráque"l"j":.._1ï'",:ï:ï:ï::îi:,:",ïï:iff para aprlsron säo sufrcientemente fortes tar o concei governança dt;;;;;;;' t"qoud'u"do-o .i#:ïïl num novo paradit-"'::: "melhor governo " democrática assente no princípio com mals governança",eatribuindo-lheumafinalidadediferente'agenenl\zaçáodo ; *bjetivo' individual e coletivo' dos cidadäos? rneio e bem-estar "bjtti"t rugar, que a governança é um convém sublinhar, em primeiro nãoumfimemsimesma.Aquequestáo"rtu-ornósaresponderquando Governança democrática metropolitana 213 rnvocamos a governança como parte da resposta? precisamos de novos regimes de governança democrática para quê e para quem? Na verdade, e porque a governança é um meio, ela pressupõe a definição prévia de obje_ tivos, de uma visão estratégica e de uma agenda de transiçao que permita atingir esses objetivos à luz da visão adotada. Mas tão importante como saber para quê e para quem precisamos de novos regimes d.e governança democrática é esclarecer quem deûne esses.objetivo, e o como -odã definidos. são os processos de governança baseiam-se em dois princípios fundamentais: o princípio da subsidiariedade (descentrali zação) e o princípio parceria (codecisão). da A construção de espaços de governançuà"mocráti.u nas metrópoles exige que seja garantida a aplicação justa e transparente desses princípios ao nível dos processos de decisão, implementação, moni- to'ização e avaliação dos programas, planos e projetos que fazem cidade. "Melhor governo com mais governança" significa, justamente, atribuir ao Estado e às suas instituições de regulação, e não ao mercado ou à sociedade civil, o papel de último recurso na garantia de que essa aplicação é efetuada de modo adequado. Mas significa, também, que a função de última instância atribuída ao Estado deve estar sob permanente escrutínio público. Governança territorial: potencialidades de um conce¡to ambíguo o conceito de governança territorial, de origem ainda mais recente, padece das ambiguidades próprias de expressões ou noções que se desenvolvem em estreita associação com políticas públicas. sem um prévio enquadramento teórico robusto, essas expressões ou noções tendem a evoluir d.e forma gradual, não tanto como consequência do debate científico, mas, antes, como resultado de diversos exercícios de avaliação da sua aplicação prática em diferentes contextos político-administrativos, institucionais e culturais' são, por isso, "conceitãs" que em geral possuem ciclos de vida ditados pela centralidade ou marginaìidade que lhes é atribuída nas agendas políticas internacionais e nacionais. Em bora seja um desdobramento do conceito mal S amplo de gover o facto de a governança territorial se relacionar priori tariamente corn obj etivos operacionais coloc a a, aparentemente num patamar mâls 214 Governança democrática metropol itana ESPAÇO DESAFIOS DA I/ETROPOLIZAÇÃO DO vertical rígida de atribuições e competências entre os distintos níveis político - administrativos. técnicoe,porisso,maisimuneàscríticasreferidasnocapítuloanterior.É verdadequeexisteumaproduçãobibliográficasignificativasobregoversuas ou regional)' onde se questionam as nança territorial (metropolitana (por exemplo' DALLABRIDA e BECKER' finalidades e potencialùades A governança territorial que tem por base espaços político-administrativos é, portanto, mais rígida, mas possui legitimidade democrática e pode recorrer a formas de reguraçäo mais fortes. pelo contrário, a governança territorial de espaços relacionais tem uma geometria de atores mais flexível e rege-se de modo mais claro por critérios de eficiência, mas não tem ZOTO CZOI3;FUINI C PIRES' 2OO9; 2003;DALLABRIDA,2011; FERRÃ'O' 2014; RODRIGUES' 2005' KLINK,2014; MONTEIRO' 2009; PEREIRA' de língua portuguesa): tu: uma parpara referir apenas alguns autores territorial está centrada te significativa da p'ãd"çao sobre governança (fatores de êxito e insucesso; quaírpeto. sobretudo procedimentais "m condições de transferibilidade de lidade dos processos de governança; questöes é dada a devida atenção às experiências), pelo q.t" ,t"- sempre da história do conceito de gosubstantivas ,",r.luda' pela análise cr.ítica et al'2013; ESPON TANGO vernança (ver, a título áe exemplo' BOHME PROIECT,2014). paradigma de governança deA governança territorial no contexto do governança" baseia-se nos mesmos rno.rã,iau "melhor governo com mais entre atores com valores pressupostos de base: negociação e compromisso â-bito de processos de codecisão vinculativos e interesses distintos "J conceito de governança territorial e publicamente escrutináveis' Mas o pressupostos comuns' Por um lado' adiciona objetivos específicos a esses territorial' regular g.,ì, formas sustentáveis de desenvolvimento animar, " Pelooutro,monitorizareavaliarosimpactesterritoriaisdedecisõestan. topúblicas(políticas,programas'investimentos)comoprivadas(projetos' investimentos). podem incidir sobre espaços Os dispositivos de governança territorial 215 legiti_ midade democrática. Esta diferenciação sugere, portanto, a necessidade de estabelecer alguma comprementaridade entre os dois tipos de governança territorial, evitando opções dicotómicas entre regitimidade demo cratica, capacidade regulatória e rigidez,por um lado, e eficiência, frexibilidade e ausência de legitimidade democrática e capacidade regulatória, pelo outro. A governança territoriar em espaços metroporitanos ilustra Lem as cri- vagens e tensões referidas no parágrafo anterior (FERRAO,2013). A governança territoriar de metrópoles enquanto espaços político-administrativos pode basear-se em três tipos principais de soruçöes institucionais: ' Governos metropolitanos supramunicipais, eleitos por sufrágio direto e universal e com poder deliberativo; Governos metropolitanos intermunicipais, eleitos indiretamente ' por um colégio eleitoral restrito (prefeitos dos municípios, por exempro) e também com poder deliberativo; Estruturas metropolitanas de cooperação intermunicipar, baseadas ' em conselhos metropolitanos constituídos pelos prefeito; dos vários municípios e com um papel deliberativo mais limitado e, geralmente, um leque de domínios de intervenção mais circunscrito. municípios) ou sobre espaços repolítico-aàministrativás (países' regiÓes' bacias hidrográficas' bairros urbalacionais (regiöes u,ba"us funcionais' ' se considerarmos as metrópoles como espaços relacionais nos, etc.). ' por redes de fluxos materiais e imateriais, as formas de governança territorial são também sobretudo de três tipos: Agências temáticas ou setoriais (por exemplo, de governança mulNo primeiro caso' predominam os mecanismos e competências de cada um tinível, isto é' em que å perfil de atribuiçöes (por exemplo' União Europeia / Estados níveis político-administrativos dos-membros/regiões/municípiosou'noBrasil'federação/estados/ govera geometria das formas de municípios) condiciona inevitavelmente nança (atores a envolver e respetivos papeis)' com delimitações fluidas' No caso dos espaços relacionais' em geral flexíveis, de natureza multiespodem ocorrer formas de governançu -ui, de uma repattiçâo e translocal, não necessariamente dependentes cala ' estruturados no domínio dos trans- portes e mobilidade, da gestão de redes de saneamento e energia, etc.); conselhos consultivos estratégicos, envolvendo um leque nos alargado de representantes dos setores púbrico e dade civil; .'uf, privado o,, -.- e da socie- Espaços não institucionalizados de ação coletiva, d,e naturezatenden- cialmente mais efrmera na medida em que dependem da capacidade de iniciativa das comunidades ou dos grupos de cidadãos envolvidos. DO ESPAÇO DESAFIOS DA METROPOLIZAÇÃO Governança democrática metropol itana ¿tl 216 de governança territorial dos Nas últimas décadas' as modalidades europeus' tanto na ótica político-administrativa espaços metropolitanos as soluçöes da cidade pós perspetiva'"lutiotul' têm privilegiado como na na gestão isto é' baseadas na eficiência' -política (SWYNGEDOUW' 2010)' portanto' que' das decisöes' Não admira' do consenso e na despolit izaçâo metrodos vários tipos de governança pelo menos ,ro, puítå' t"'oito'' supramunios governos metropolitanos politana anteriormente referidos' sido tenham de ação coletiva cipais e os esPaços não institucionalizados modalidades' po"lu' exceções' a favor das restantes democrática das metrópoles' No entanto' e na ótica da governança sáo justamente os que merecem uq*t., dois tipos de governança territorial e transformadora preteridos, .orn pelas relaçOes de tensão criativa maior atenção, ,ob'"i'io quepodemestabelecer"ntresi'Aexistênciadegovernosmetropolitanossutécnicos e de competências e de recursos pramunicipais, desde que dotados legitimidade política' essencial para garantir, com financeiros udequudor, é para face a a. ,""grúii" . ¿. .eaistriuuiçao essenciais .fazer como e de elevada complexidade f'ugtt"tadas realidades profrr,,daået'å de os mecanismo. tempo' os espaços não institucionalizados são as metrópoles' Ao mesmo (SASSEN' de possibilidade democrátic¿ açäo coletiva constituern espaços urbanas de zo0õ) geradores de nrltilas 2011) e d" .rp.,u"i" ttl¡nïev' por parte de é' de microprodução da cidade' transformação e mudança' isto e movimentos sociais' cidadäos, organizaçóes informais Metrópoles e micropr0duçã0 de cidade Por razoes compreensíveis, as dinâmicas do mercado imobiliário' OS gran- processos de reestruturação megaeventos urbanos e os procurarn de muitos dos autores que económica têm atraído a atenção produzisao AS metróPoles contemPorâneas compreender o modo como que rne' Esses sao, de facto, os processos apropriadas. e segmentadas das, do e a crescente metroPolização thor explicam a formação das metrópoles comandam esseg interesses e racionalidades que esp aço' Face ao S poderes, e dos das organizações informais processos, o papel dos cidadãos ocupa um papel ação coletiva mentos soclals em suma, da rnais curtos períodos de irrupção social des proJ etos, OS quase invisível, menos violenta SE e excetuarmos com significativa projeçäo mediática. No entanto, a uma escala micro e tendo como referência as vivências e experiências quotidianas dos habitantes, da sua vida social, é impossível îegar a existência de dinâmicas quase sub-reptícias de mobilização, participação e transformação que, pelas suas consequências, arteram pedaços de cidade - ruas, bairros, frentes marítimas, áreas verdes através da in_ trodução não programada de novas rógicas de produção e apropriação da cidade. Em termos genéricos, a participação då cidadãos em processos de microprodução de cidade pode assumir três modaridades, que designaremos, respetivamente, por participação reativa, participação induzida e participaçâo por iniciativa própria. A participação reativa surge associada a situações de conflito, protesto e resistência. Decisões, como o aumento dos preços dos transportes públicos ou o encerramento de equipamentos públicos, projetos, como operações de regeneração urbana que impricam o rearojamento de moradores ou a ocupação de espaços de uso público, e investimentos controversos, vistos como injustos e indesejáveis, suscitam movimentos de contestação que podem levar à alteração parcial ou mesmo à suspensão das iniciativas inicialmente programadas. Em algumas situações, a superação do conflito por oferecer contrapartidas aos grupos ou comunidades contestatários, dando resposta a reivindicações antigas (construção de equipamenpassa tos, espaços verdes, etc.). Independentemente dos resurtados obtidos, estes movimentos de participação, pela sua natureza, são predominantemente reativos e de duração efemera. A participação induzida processa-se no âmbito de iniciativas públicas em que os processos participativos correspondem uma componente de procedimentos institucionalizados. A participação pública durante a ela boração de planos, Agenda XXI Local oUt mars recentemente, os orça mentos participativos constituem exemplos canonrcos desse tipo de situa No contexto da União Europeia, têm sido desenvolvidos nas últimas varlos programas de iniciativa da Comissão Europeia ou dos estados membros que VISAfn estimular intervençöes urbanas integradas baseadas em estratégias preparadas pelas próprias comunidades. Estes ções. duas décadas importantes nao SO por garantirem uma melhor adequa entre necessidades, prioridades, açoes e resultados, mas também pelos efeitos de aprendizagem, capacitação e empoderamento que suscitam nas sao Çäo envolvidas. Ao contrário dos processos de participação re_ i I D0 ESPAÇ0 DESAFt0s DA METRoP0LIzAÇÃ0 G0vernança dem0crática metr0politana 219 218 a situações da participação não é a resistência ativa, neste caso a ignição públicas para lançada por entidades discutam entre si e definam em projetos prioritários e futuros desejados -ur, u"t"" u interpelaçäã tå-t"'idades que cidadão., o,gu"i'uçàt" indesejadas, conjunto uma visão partilhada' dessas in- No entanto' o enquadramento para áreas específicas da cidade' critérios participação' tipos de ações apoiadas' tervençöes - condiçöes de etc' - é definido por entidades de seleção e de financiu*t"to de projetos' externasàscomunidadeseadoraçãodosprocessosdemobiliaçãoepartiiniciativa ou do gout' com o período de vigência da cipação coincide, "rn programa em causa2' iniciativa própria pode assumir caracteFinalmente' a participação por em comum o facto de não serem rísticas muito distintas, mas que Possuem estimuladasporsituaçöesdeconflitoouinduzidasporaçöespúblicas.A da sociedade civil' por razöes iniciativa' neste caso, emana diretamente dos Jt i"'uti'fução ou de vontade de transformação de consciên.iu de "iui"u, ou de interesse público' As associações espaços de vivência [uotidiana (juristas' arquitetos' sociólogos' geómoradores, o. g"'poi dt profissionais de vigilância ctiticados impactos de apoio às cåmunidades ou mar este tipo de ações coletivas de base ou incidência urbana em catali_ sadores da democracia é tão importante como consolidar uma instância metropolitana com legitimidade democrática. .claro que a relação entre ambas é avassaladoramente assimétrica em termos de poder de decisão, capacidade de influência e possibilidade de concretização, e muitas vezes contraditória em termos de racionalidade e intencionalidade. Mas a mul_ tiplicação dos processos de microprodução da cidade, facilitada por uma sociedade cadavez mais organi zada emrede e por isso translocal, permite que as vivências e experiências quotidianas ocupem uma centralidade crescente nos processos de mudança. É verdade que a macroprodução da cidade está subordinada aos interesses económicos . qrr. ..rtr. estes e os decisores políticos se verifica não raro uma perigosa osmose. A solução para essa situação, seja ela qual for, implica o reforço e a qualificação da democracia. E isso significa maximizar as vantagens e potencialidades da democracia representativa, da democracia participativa e da democracia deliberativa, tendo consciência de que entre elas surgirão inevitavelmente tensöes e contradições significativas. grafos, etc.) auto-orna cidade, bem como os grupos de decisões públicas e privadas juntam para desenvolver diretamente açöes guniruao, då cidadãos que se urbana' são exemplos de modalidades t de transformuçao processos é "ui'opriaçao própria. A multiplicação destes de participação por iniciativa ou mesmo integração em redes ou muitas vezes favorecida por inspiração ou como as Cidades em Transição3 movimentos entretanto globalizados' o Urbanismo Táticoa (MOTA, 20r4) crlùza estes três o mlcro ativismo social pelas cidades a urbana, estimulando mobilização, tipos de processos de particiPação práticas urbanas geradoræ e inovação societal, criando experimentação 14), açao política (BARNETT 20 de sociabilidade pública e de de direções futuras alternativas. do, asslm, para identificaçäo î Metrópoles, política e cidadania como garantir o direito à cidade nas metrópoles contemporâneas? Esta foi questão que formulámos no início deste texto. como primeiro contribuprovisória, especulativa, a exrgrr aprofundamento e debate. A hipótese e que apenas reforçando as relações de coevolução dialética entre NOVAS formas de regulação pós-burocrática por parte do Estado a escala metropolitana e modos de microprodução de cidade a partir de espaços relacionais nâo institucionalizados poderá a complexa equação legitimidade demo cidadania rnsurgente ganhar vida e expressão. A "cidade dos cidadãos pressupöe uma cidade com poder político, isto que possa atuar como instância de regulação e de redistribuição com democrática, e uma rua com poder cidadão, ou seJa, com ln grupos e comunidades insurgentes, portadores de uma agenda transformação progressista da cidade. Neste contexto, a metrópole ins_ e a metrópole enquanto complexo soclo territorial de esde microprodução de cidade sao igualmente importantes. Mas entre a to para responder a pergunta colocada, apresentámos uma hipótese DO ESPAçO DESAFIOS DA METROPOLIZAÇAO G0vernança democrática metropolitana 221 220 processos de "melhor goverdemocrática' sob o paradigma governança metropolitana dinâmicas tensõe S ambas haverá, inevitavelmente, e contradiçöes que OS em poderão ajudar transformar no com mais governança" "cidade dos cidadãos" favoráveis a construção da de coevolução dialética os deintelectualmente asfixiante entre Vivemos hoje uma polarizaçâo têm uma neoliberal' por um lado, e OS que fensores G praticantes) da cidade perspetiva dos movimentos socrars e uma vlSao acriticamente redentora ponto de Deste papel do Estado, pelo outro estruturalmente cética sobre o e a Europa abateu sobre a Europa, em geral, vista, a crlse que desde 2008 SC a de relem vantagens' Em primeiro lugar do Sul, em particular' teve duas no que precipitados e mars cuidadoso S brar que convem sermos menos predominantemente nos movimentos soclals, hoje SE refere quer à crença quer a crítica ao papel do Estado face nacionalistas e xenófo bos na Europa, SO cial e da do desmantelamento do estado ao S efeitos nefastos decorrentes públicos bem visíveis em muitos países degradação crescente dos servlços de chamar crise teve também a vantagem europ eus. Em segundo lugar, a simultânea das várias componentes atenção para o facto de qualificação apenas particiPativa e deliberati va), e nao da democracia (representativa' segura para evitar das restantes, ser a vra mals de uma delas em detrimento ou de globalizaçâo desregulada. derivas autoritárias' populistas percentagem significativa e crescente As metróPole S concentram uma exagero, que atividades Podemos dizer, sem de pesso âS, organizações e a sua 1mque do planeta, dado discutir o seu futuro e discutir o futuro em mals diversos domínios ultrapassam p ortância e OS SCUS impactes nos ue q extenso, que ocupam e, sobretudo, muito o território, a de SI bem direito a clavanço da metropolização' o p olarizam diretamente. Com o assume um (1e 68), isto e, o direito a vida urbana, dade de Henri Lefe bvre e reln' natuteza o direito de transformar alcance duplamente malor: em (HARVEY 20r2); e em OS nossos desejos ventar AS cidades de acordo com conscom futuro. Política e cidadania ambiçáo o direito a uma sociedade de um humanismo revolucionário tituem, por 1SSO, dois pilares essenclals oles que a construção de metróP (H ARV EY 20 1 4) capaz de impulsionar cidadåos" seJam verdadeiras "cidades de contudo, ser efetuada penas em pode, Esta discuss ao nao a existência de contextos numa espécie de vácuo que ignora que diversificados o mundo das realidades ográficos muito que semelhanças existern por metróP oles e claramente heterogéneo: s' Paulo, euito ou Londres? Também distintas são as estrutupolítico-administrativas ras dos países a que essas metrópoles pertencem: poderão as autoridades metropolitanas de estados federais o,, d" países centralizados' para dar apenas dois exemplos, ter o mesmo tipo de atribuições e competências? Finalmente, as diferenças histórico-culturais, tanto ao nível da administração pública como dos cidadãos, não deixarão de condicionar as soluções preconizadas: poderemos esperar dinâmicas significativas de participação e mobilização em todas as metrópoles? Lisboa e sobre a macroprodução da cidade existe hoje um acervo ãe estudos que permite mapear, entender e comparar os atores individuais e coletivos, as estruturas, os processos e as ações responsáveis pela formação das metró_ poles e pelo avanço dos fenómenos de metropolização do espaço. Heróis para uns' vilões para outros, os grandes atores desses pro."rrã, são conhecidos e integram a história - oficial ou crítica - de cada uma das metrópo_ les. Mas a maior parte dos atores da microprodução de cidade, ,.o outro do urbano" (FERREIRA,2013, p.72), e das suas dinâmicas transformadoras permanecem invisíveis. Da mesma forma, o privilégio atribuído aos fatores económicos na análise da macroprodução da cidade tem levado à des- valorização, relativa ou mesmo absoluta, dos aspetos institucionais e cul, turais, assim como da vida social dos que não são nem vilões nem heróis. O debate da hipótese apresentada exige, portanto, uma agenda de pes_ quisa que permita reequilibrar o nosso conhecimento sobre as metrópoles e os fenómenos de metropolização na sua diversidade e comprexidade. Im- plica' também, entender melhor as condições de ação e de transformação em contextos tão diversos. "É necessário pensar o possível conjuntural- mente", afirma Lencioni (2013, p.32). Esse é, justamente, o repto que aqui deixamos a todos os que desejam que as metrópoles constituam efetivas 'tidades de cidadãos". Referências BARNETT clive. "what do cities have to do with democracy?,,. 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Alguns autores deram tamanho destaque à segurança na política contemporânea que propuseram denominar nossa sociedade, genericamente, uma "sociedade de controle" (DELEUZE , r9g2) ou "de segurança" (FoucAULT 200g [curso s d,e r977-r97g]). outros, como Neocleous (200g), advogam uma leitura mais ampla, considerando que a própria sociedade burguesa e a ideorogia liberal tem a segurança como uma estratégia fundante. para ele, "devemos ler o liberalismo menos como uma filosofia da liberdade e mais como uma técnica de segurança, como propõe Mitchell Dean, uma estratégia de governança na qual a segu_ rança é empregada como liberdade', (p. 3l) Independentemente de ser ou não uma propriedade com tamanha amplitude, e mesmo considerando a enorme diversidade de formas com que se apresenta em diferentes regiões do mundo, não há dúvida de que o bi- nômio segurança-insegurança marca parcela expressiva das decisões políticas contemporâneas, ao mesmo tempo em que alimenta toda uma gama de interesses econômicos e um ideário da estigmati zação da desconfiança e do medo. Alguns contextos geográficos, como o latino-americano, manifestam essa problemática de forma ainda mais incisiva, em diferentes esferas da vida social. A cidade do Rio de |aneiro, em particular, tornou-se um dos espaços 'emblemáticos onde a in-segurança é central na construção de todo um Departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense. Pesq uisador em Pesquisa do CNPq. [email protected] Produti aaE a¿J SOBRE OS AUTORES Alexandro Solórzano (pUC-Rio) Possui graduação em Geografia pela pontifícia universidade católica do Rio de faneiro e mestrado em Botânica pela Escola Nacional de Botânica Tropical do Instituto de pesquisas |ardim Botânico do Rio de /aneiro, onde desenvolveu pesquisa na área de História Ambiental da Mata Atlântica. A tese de Doutorado foi realizada no programa de pós-graduação em Ecologia da universidade de Brasília, tendo realizado doutorado sanduíche na colorado state university. Atualmente busca realizar uma pesquisa integrada entre sociedade e natureza.Apresenta as seguintes linhas de pesquisa: Biogeografia, Análise Integrada de sistemas socioecológicos, História Ambiental, Dinâmica Ecológica da paisagem, Análise de percepçao Ambiental, conservação da natureza e sustentabilidade da paisagem e Ecologia de Comunidades Florestais e Savânicas. Alvaro Ferreira (PUC-Rio / UERJ) Bolsista de Produtividade em pesquisa do cNpq. possui graduação em Geografia pela universidade do Estado do Rio de (rgg6),mestrado faneiro em Planejamento urbano e Regional pelo lppuR da universidade Federal do Rio de faneiro (1999) e doutorado em Geografia (Geografia Humana) pera universidade de São Paulo (2003). Realizou pós-Doutoramento com prof. o Horacio capel na universitat de Barcelona. É professor do Departamento de Geografia e do Programa de pós-Graduação em Geografia da pontifícia universidade católica do Rio de |aneiro (puc-Rio) e professor adjunto da universidade do Estado do Rio de /aneiro (UERJ). participa como líder no grupo de pesquisa denominado Núcleo de Estudos e pesquisa em Espaço e Metropolização (NEpEM) e no Núcleo Interdisciplinar de Estudos do Espaço da Baixada Fluminense (NIESBF); e como pesquisador do Núcleo de Estudos de Geografia Fluminense (NEGEF) e do Grupo de Estudos ur611 612 DESAFT0S DA MElR0p0LtZAÇÃ0 D0 ESpAÇ0 Sobre os autores 613 banos e Rurais (URAIS). Tem participado de congressos no Brasil e no exterior, além de produzir livros e artigos em periódicos nacionais e internacionais principalmente ligados aos seguintes temas: metropolização do espaço; (re)produção do espaço urbano; tecnologias de comunic ação e informação e as novas espacialidades nas cidades; representações no espaço urbano; espaço e movimentos sociais; relações de trabalho e o espaço urbano. Arlete Moysés Rodrigues (Unicamp) Bolsista de Produtividade em Pesquisa do cNPq. Graduada e licenciada em Geografia pela Universidade de São Paulo (1971), mestrado em Geografia (Geografia Humana) pela Universidade de São paulo (1981) e doutorado em Geografia (Geografia Humana) pela universidade de são paulo (1988). Livre Docente em Geografia pela UNICAMP (1997). Atualmente é professora colaboradora ms4 - inativo - universidade Estadual de campinas - IFCH - Mestrado e Doutorado em Sociologia e Doutorado em Ci- mento e conflitos ambientais; Ecorogia porítica da sustentabiridade; políti_ ca e regulação ambiental; Apropriações sociais da sustentabilidade urbana; Movimentos sociais, desigualdade Possui graduação em Geografia pera universidade Federal do Rio de faneiro (uFRf, 1986), mestrado em Geografia pela universidade Federal do Rio de |aneiro (UFRJ,1993) e doutorado em Geografia pera universidade Federal Fluminense (UFR 2005), com estágio doutoral na Universitat de Barcelona (uB, 2004-200s). Realizou estágio de pós-doutoramento na universitat Autònoma de Barcelona (uAB, 20r2-20r3).Atuarmente é pro_ fessor adjunto da universidade Federar Fluminense. Têm experiência na ánea de Geografia, com ênfase em Geografia política, atuanåo principalmente nos seguintes temas: geopolítica, redes poríticas, justiça territoriar, globalização do mundo contemporâneo, porítlas púbricas e goveïnança territorial, geografia legar crítica, geografia política e gênero, . arra- liação de geografia. mente nos seguintes temas: cidade; espaço urbano; estatuto da cidade; pro_ blemática ambiental urbana; e movimentos populares. De 1988 a 1990 foi João Ferrão (Universidade de Lisboa) das cidades de2006 a2ol0 no segmento entidades acadêmicas, científicas e profrssionais. É coordenadora do Projeto de Pesquisa sobre a problemática Urbana e Ambiental. O blog http://www.arletemoysesrodrigues.blogspot.com.br/ contém vários artigos e livros para consulta. Henri Acselrad (IPPUR-UFRJ) Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Possui mestrado em Economia pela Université Paris 1 (Panthéon-Sorbonne) e doutorado em Planejamento, Econ. Pública e Org. do Território pela Université Paris I (Panthéon-Sorbonne) (1980). Atualmente é Professor Associado do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de |aneiro. Tem experiência na ítrea de Planejamento Urbano e Regional, atuand.o principalmente nos seguintes temâs: Modelos de desenvolvi- justiça ambientar; cartografia sociar. lvaldo Lima (UFF) ências sociais e IG- Mestrado e Doutorado em Geografia. Tem experiência naârea de Geografia com ênfase em Geografla urbana, atuando principal- Presidente da AGB - Associação dos Geógrafos Brasileiros. Representa a AGB no Fórum Nacional de Reforma urbana. Foi conselheira do conselho e "irirro Licenciado em Geografia, Facurdade de Letras da uL. Doutorado pera em Geografra Humana. É atualmente investigador principal uL do Instituto de ciências sociais da universidade de Lisboa. Docente nå departamento de Geografia da Faculdade de Letras de Lisboa (r976-g5)e na universidade Atlântica (1996-2000). presidente da ApDR Associação portugues a para o Desenvolvimento Regional (r9g7-rgg0).secretário de Estado do ordena_ mento do Território e das cidades no XVII Governo constitucional (2005, 9)' Foi coordenador nacional de diversos projetos e redes de investigação internacionais, nomeadamente no âmbito de vários programas - euadro da comissão Europeia e da European Science Foundation. Desenvorveu atividades de consultoria na área dageografia económica e social e do de_ senvolvimento regional e urbano. Foi consultor da ocDE (programa de Desenvolvimento Rural, 1993). coordenou diversos estudos de ãvahação de políticas públicas, para o Governo português e para a comissão Europeia, incluindo a avaliação ex-ante dos euadros comunitários de Apoio II e III (Portugal). Publicou, individuarmente ou em colaboração, dezenas de