Teoremas de Zeckendorf Flavio Henrique de Oliveira Ali Messaoudi Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas - IBILCE/UNESP São José do Rio Preto, SP E-mail: [email protected], [email protected] RESUMO Sequência de Fibonacci é uma sucessão de números que aparece em muitos fenômenos da natureza. O italiano Leonardo Fibonacci definiu-a por volta do século XII. Usualmente, a sequência de Fibonacci começa com 0 e 1 e os números seguintes são definidos recursivamente como a soma dos dois números anteriores. Portato, os primeiros termos da sequência de Fibonacci são 0, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 146, . . . Ao transformar esses números em quadrados e dispô-los de maneira geométrica é possı́vel traçar uma espiral perfeita, cuja existência é observada em várias situações. Por exemplo, na concha do caramujo, na cauda do camaleão e nas presas de marfim de um elefante (caso não parassem de crescer). As sementes do girassol também preenchem o miolo dispostas em dois conjuntos de espirais. Geralmente, 21 no sentido horário e 34 no anti-horário. Denotando os elementos da sequência de Fibonacci por F0 = 0, F1 = 1, Fn = Fn−1 + Fn−2 , a √ 1+ 5 sequência (Fn /Fn−1 )n≥2 converge para o número φ = 2 , chamado número de ouro, ou ainda, proporção áurea. Tal proporção aparece frequentemente nas artes, pois representa ideologicamente a beleza divina, já que é considerada agradável aos olhos. O valor φ é de aproximadamente 1,618. Encontramos o número de ouro e a sequência de Fibonacci em obras de arte, tais como Monalisa e o Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci, e em obras literárias tais como o poema épico Ilı́ada de Homero, Os Lusı́adas, de Camões, e Eneida, de Virgı́lio. A razão áurea ainda aparece em construções, tais como as pirâmides do Egito, pois cada bloco das pirâmides é 1,618 vezes maior que o bloco do nı́vel imediatamente acima e, em algumas, as câmaras internas têm comprimento 1,618 vezes maior que sua largura. Além disso, a largura e altura do Partenon estão na proporção áurea, o que mostra que os gregos já conheciam o número de ouro. Não é difı́cil provar que qualquer número inteiro maior do que zero é escrito como soma de elementos da sequência de Fibonacci. Além disso, se colocarmos a restrição de que dois elementos consecutivos da sequência de Fibonacci não estejam na soma, teremos a unicidade dessa representação. Apresenta-se neste trabalho um estudo relacionado às generalizações da sequência de Fibonacci, que são as sequências de K-bonacci e os vetores de K-bonacci. Pretendemos demonsrar que todo número inteiro maior do que zero é escrito como soma de elementos da sequência de K-Bonacci e que, sob algumas restrições, essa representação é única (e praticamente análoga à da sequência de Fibonacci). Até mesmo o algoritmo para encontrar essa representação é similar. Para escrever os elementos de Zk−1 como soma de vetores de K-bonacci de maneira única não há um algoritmo, mas é possı́vel provar a existência dessa representação, o que faremos por indução. Inicialmente, definamos o que é uma sequência de K-bonacci, para todo K ≥ 2: Definição 0.1 (Sequência de K-bonacci) A sequência de K-bonacci é definida recursivamente por Fi = 0 para − k + 2 ≥ i ≥ 0 F1 = 1 Fi = k X Fi−j , para i ∈ Z j=1 Note que para K = 2, a sequência definida acima é exatamente a sequência de Fibonacci. Teorema 0.1 (Primeiro Teorema de Zeckendorf ) Todo n ∈ Z∗+ pode ser escrito de maneira única como combinação linear de elementos da sequência de K-bonacci sobre Z2 , isto é, X cj Fj n= j≥2 tal que cj ∈ {0, 1} e cj cj+1 . . . cj+k−1 = 0 para todo j. A sequência {cj } que satisfaz cj ∈ {0, 1} e cj cj+1 . . . cj+k−1 = 0 para todo j é chamada de representação padrão, à qual denotaremos simplesmente por (RP ). Definição 0.2 (Vetores de K-bonacci) Os vetores de K-Bonacci em Zk−1 são obtidos recursivamente por → − → − X0 = 0 → − → X =− e , para 1 ≤ i ≤ k − 1 −i − → Xn = i k X − → X n−i , para todo n ∈ Z∗+ i=1 k−1 X− − → → − → X n = X n+k − X n+i , para todo n ∈ Z∗− i=1 − em que → e i é o i-ésimo vetor canónico de Rk−1 O principal teorema deste trabalho é o resultado a seguir, que generaliza um resultado já conhecido para sequências de Fibonacci. Teorema 0.2 (Segundo Teorema de Zeckendorf ) Todo vetor de Zk−1 tem uma única representação padrão (RP), isto é, X − → → − v = ci X −i i≥1 em que ci ∈ {0, 1} e ci ci+1 . . . ci+k−1 = 0 para todo i. A fim de ilustrar o resultado definimos o conjunto dos vetores com uma representação n-bit como sendo n X → − → → D = {− v ∈ Z2 ; − v = c X }. n i −i i=1 Segue da definição que a cardinalidade de Dn é Fn+2 , onde Fi é um elemento da sequência → de tribonacci (K=3). Note que Di ⊂ Dj para todo i ≤ j e que todo − v ∈ Z2 pertence a algum Di . A partir dos conjuntos Di , quando i cresce, é possı́vel construir uma figura conhecida como fractal de Rauzy, a qual pretendemos apresentar neste trabalho. Classificação: Teoria dos números (11 - Number theory) Palavras chave: Sequência de K-bonacci, Vetor de K-bonacci, Zeckendorf, Fractal de Rauzy. Referências [1] P. G. Anderson, M. Bicknell-Johnson, Multidimensional Zeckendorf Representations, (2010) [2] M. W. Bunder, Zeckendorf representations using negative Fibonacci numbers, The Fibonacci Quarterly, 30.2 (1992), 111?115. [3] L. Carlitz, R. Scoville, and V. E. Hoggatt, Jr., Pellian representations, The Fibonacci Quarterly, 10.5 (1972), 449?488. [4] A. S. Fraenkel, Systems of numeration, American Mathematical Monthly, 92 (1985), 105?114. [5] J. Shallit, What this country needs is an 18 piece, Mathematical Intelligencer, 25 (2003), Part 2:20?23. [6] E. Zeckendorf, Repr´esentation des nombres naturels par une somme de nombres de Fibonacci ou de nombres de Lucas, Bull. Soc. Roy. Liege, 41 (1972), 179?182.