Perda da Competitividade das Indústrias Moveleiras por deficiência na Gestão da Produção Nilson Campos- Msc (UDESC) – [email protected] Adalberto Tavares Vieira – Dr. (UDESC) – [email protected] Ana Luiza Araújo – (UDESC) – [email protected] Gabriel Siviero Lise – (UDESC) - [email protected] Wagner Augusto Krelling – (UDESC) - [email protected] Diego Ramos da Silva – (UDESC) - [email protected] RESUMO Analisando o contexto de alta competitividade, obsolescência de gestão interna e grande variabilidade do mercado em que o pólo moveleiro de São Bento do Sul, Rio Negrinho e Campo Alegre encontra-se inserido, percebeu-se a necessidade de um estudo visando entender a realidade das empresas da região e como elas podem melhorar a sua competitividade nesse contexto supracitado. Através da análise de questionários e estudo bibliográfico sobre filosofias e modelos de gestão, chegou-se a um resultado e aplicação de algumas ferramentas do Lean Manufacturing, e o engajamento na mudança de cultura dentro da empresa, mudança essa focada nos recursos humanos – em todos os níveis hierárquicos – podem ser grandes aliados na melhoria da competitividade da empresa a médio e longo prazo. ABSTRACT Analyzing the context of high competition, obsolescence of internal management and high variability of the foreign market where the furniture industries of Sao Bento do Sul and Rio Negrinho is inserted, it was noted the need for a study to understand the reality of companies in the region and how they can improve their competitiveness in this context referred to above. Through the application of questionnaires into the companies in the region, their analysis and bibliographical study about Lean Thinking, it was concluded that the application of some tools of Lean Manufacturing, and the cultural change within the company, this change focused in human resources - at all levels into the company - can be great allies in improving the competitiveness of the company in medium and long term. 1. INTRODUÇÃO Crise nos EUA, baixa do dólar, instabilidade do comercio mundial, todos estes fatores globais tem reflexo no mercado moveleiro de São Bento do Sul, Rio Negrinho e Campo Alegre. Dados divulgados pelo BNDES em 2007 afirmam que o pólo é responsável por 44% das exportações brasileiras de móveis. O conjunto de municípios totalizava 473 empresas do ramo, segundo pesquisa coordenada por Luiz Carlos da Silva, agente articulador SEBRAE/SC em 2008. A maioria das empresas são familiares e com pouco desenvolvimento na gestão. Isso se deve principalmente aos anos de glória passados, quando o impacto da concorrência e o dólar em alta permitiam os desperdícios. Apesar disso, é fato que o mercado não aceita mais esse comportamento e a exigência pela excelência, tanto na qualidade quanto no custo já é uma realidade. A pesquisa feita pelos alunos Thais Pscheidt e Thiago Otto, acadêmicos do curso de engenharia de produção e sistemas da UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina), relata quais são os principais problemas que fizeram com que as indústrias ganhassem o rótulo de um pólo ultrapassado. A pesquisa aponta problemas na gestão administrativa e da produção e não na defasagem no maquinário. Alguns dos problemas que mais chamaram a atenção na pesquisa foram: • Falta de estruturação da gestão do conhecimento, o conhecimento tácito prevalece sobre o conhecimento organizacional; • Não há uma flexibilidade na produção e com as variações do mercado global e a forte concorrência, a indústria moveleira do estado sofre recessão. Empregos e capital são perdidos e fábricas são fechadas; • Devido aos grandes desperdícios da produção o produto catarinense se torna caro no exterior, o que prejudica suas vendas devido à concorrência; • Problemas com logística e com fornecedores de matéria-prima; • Dificuldade em encontrar mão-de-obra capacitada. Vislumbrando que a grande parte destes problemas pode ser resolvida com uma boa metodologia de produção, estudamos a aplicação de algumas ferramentas pontuais do Lean Manufacturing, (sistema Toyota de produção) que hoje é referencia mundial, para um resultado de melhoria no curto prazo para os principais problemas apresentados no pólo. As ferramentas iniciais em uma implantação de Lean, e as que mais se aplicam ao contexto do pólo moveleiro são o KAIZEN, Setup Rápido e Fluxo Contínuo. Porém é importante enfatizar que a grande conquista será a busca pela cultura Lean nas empresas, para que os resultados sejam sustentáveis e atuem como uma filosofia intrínseca à empresa e não como ferramentas isoladas. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1- Cultura Lean - Lean Thinking Lean é uma estratégia de negócios para aumentar a satisfação dos clientes através da melhor utilização dos recursos, eliminando desperdícios e reduzindo custos . A Gestão Lean procura fornecer consistentemente valor aos clientes com os custos mais baixos (PROPÓSITO) através da identificação de melhoria dos fluxos de valor primários e de suporte (PROCESSOS) por meio do envolvimento das pessoas qualificadas, motivadas e com iniciativa (PESSOAS). O foco da implementação deve estar nas reais necessidades dos negócios e não somente na aplicação das ferramentas lean. Pode-se caracterizar o Lean Manufacturing como um novo modelo de gestão, um modelo que entra na empresa para mudar certos paradigmas. Está baseada fundamentalmente no desenvolvimento de pessoas, processos e procedimentos, buscando sempre a eliminação de desperdícios e a agregação de valor. O Lean Manufacturing ou Sistema de Produção Enxuto é o Lean Thinking aplicada ao chão de fábrica. Ele é um modelo oriundo do Sistema Toyota de Produção. Começou a ser estruturado após a 2ª Guerra mundial, quando o Japão passava por graves crises de abastecimento, falta de matéria-prima, recursos financeiros, logística, clientes e mão-de-obra. Visando fazer frente às grandes montadoras americanas e européias da época que ainda produziam baseada no sistema de produção em massa, os japoneses, representados principalmente por Eiji Toyoda, Taiichi Ohno e Shigeo Shingo, focaram-se em melhorar seus processos produtivos buscando reduzir ao máximo todos os desperdícios. Segundo Womack; Jones e Roos (1990), Lean Manufacturing é definido por: “A produção enxuta é “enxuta” por utilizar menores quantidades de tudo, em comparação com a produção em massa: metade do esforço dos operários na fábrica, metade do espaço para fabricação, metade do investimento em ferramentas, metade das horas de planejamento para desenvolver novos produtos em metade do tempo. Requer também bem menos de metade dos estoques atuais no local de fabricação, além de resultar em bem menos defeitos e produzir uma maior e sempre crescente variedade de produtos.” A expressão “enxuta” foi definida pelo pesquisador do IMVP - International Motor Vehicle Program - John Krafcik. Esta filosofia encaixa-se perfeitamente no contexto em que o pólo moveleiro de São Bento do Sul está inserido. De acordo com pesquisas realizadas alunos Thais Pscheidt e Thiago Otto, acadêmicos do curso de engenharia de produção e sistemas da UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina), percebeu-se grande dificuldade das indústrias em conseguir mão-de-obra capacitada, dificuldade com fornecedores, produto caro comparado com produtos de concorrentes internacionais, grande variação do mercado em que atua, grande número de empresas familiares as quais estão atrasadas tecnologicamente e gerencialmente, além de problemas com layout. Para isto, o Lean oferece diversas ferramentas que ajudam consideravelmente na melhoria desses problemas. Agora, é necessário ter extrema lucidez para perceber que Lean Manufacturing não são ações isoladas, ou ferramentas isoladas. O que a filosofia propõe é uma mudança cultural da empresa. Uma mudança que deve atingir desde chão de fábrica até o nível gerencial, e principalmente este último. Logo, a mudança de uma cultura deve abranger diversos aspectos. Mudança organizacional é definida por: “A mudança no contexto organizacional engloba alterações fundamentais no comportamento humano, dos padrões de trabalho e nos valores em resposta a modificações ou antecipando alterações estratégicas, de recursos ou de tecnologia. Considera que a chave para enfrentar com sucesso o processo de mudança é o gerenciamento das pessoas, mantendo alto nível de motivação e evitando desapontamentos. O grande desafio não é mudança tecnológica, mas mudar pessoas e a cultura organizacional, renovando os valores para ganhar vantagem competitiva.” (HERZOG apud ROSSI, 2000, p. 36). O papel da liderança nesse processo de mudança é extremamente importante. Ter uma alta e média gerência disposta a fazer a mudança acontecer já é um grande passo para a implementação do Lean. Têm-se diversos exemplos de empresas que em um ímpeto inicial desenvolvem diversas ferramentas como 5S, Kanban, e outras mais, as quais tem um apelo muito visual, passando a sensação de melhorias, mudanças profundas. Passado algum tempo, essa disposição inicial vai se perdendo e enfraquecendo. Mas os benefícios perenes e estáveis que a filosofia busca não são alcançados. Para que os benefícios do Lean realmente sejam concretos, a persistência, o gosto pelo desafio e a cultura de melhoria contínua devem estar intrínsecos à empresa. Este pensamento deve ser vivenciado dia após dia, todos os integrantes das equipes precisam estar motivados e dispostos a isso, nunca se contentarem com a zona de conforto da estagnação. Para iniciar a implantação de um sistema de produção baseado no Lean Manufacturing, algumas ações devem ser tomadas inicialmente. Podemos chamar de o “início da jornada Lean”. Analisando o contexto econômico e cultural do pólo moveleiro de SBS através das pesquisas realizadas, percebe-se que um bom caminho para iniciar a jornada Lean é aplicando algumas ferramentas básicas, as quais poderão trazer ganhos consideráveis em um primeiro momento. A aplicação constante de KAIZEN, redução de tempo de preparação das máquinas e também uma mudança no layout para conquista de um fluxo contínuo de produtos são ações que podem trazer um retorno rápido e motivação a toda empresa para a continuação da jornada Lean. FIGURA 1 – Custo, quantidade, qualidade e mão-de-obra são as melhorias do Sistema de Produção Toyota. Fonte: Mondem, 1983, p.2 Baseado na figura 1,percebe-se que as ferramentas citadas são, realmente, o início de uma jornada Lean. Percebe-se também que esse caminho é longo, mas se bem trabalhado, inevitavelmente o principal objetivo (aumento dos lucros e redução de desperdícios) será alcançado. 2.2 Kaizen – Melhoria Contínua Masaaki Imai, na obra “KAIZEN, A Estratégia para o Sucesso Competitivo”, define KAIZEN como melhoramento, mais do que isso, contínuo melhoramento na vida pessoal, na vida domiciliar, na vida social e na vida do trabalho. E que aplicado ao local de trabalho significa continuo melhoramento envolvendo todos, de gerentes a operário. Melhoramento este, que vai além da definição do dicionário. KAIZEN é um conjunto de idéias ligadas para manter e melhorar os padrões. “Em um sentido ainda mais amplo, melhoramento pode ser definido como KAIZEN e inovação, onde a estratégia do KAIZEN mantém e melhora o padrão de trabalho através de melhoramentos pequenos e graduais e onde a inovação realiza melhoramentos radicais, como resultado de grandes investimentos em tecnologia e/ou equipamentos” (MASAAKI IMAI, 1994). O autor destaca também que em uma estratégia bem sucedida de KAIZEN o melhoramento dos padrões é função da administração, além de deixar claro aos operários a responsabilidade de manter esses padrões. “A percepção japonesa de administração se resume em um preceito: manter e melhorar os padrões” (MASAAKI IMAI, 1994). Uma gestão baseada no KAIZEN é voltada para um melhor aproveitamento da produtividade e da rentabilidade, procurando eliminar desperdícios e envolver todos os empregados, sem implicar em um aumento de gastos. As atividades ligadas ao KAIZEN envolvem as áreas administrativa, vendas, marketing, desenvolvimento, financeira e não apenas os processos produtivos. As vantagens para as empresas são: aumento de produtividade sem investimentos significativos; melhoria na qualidade e variedade de produtos; reduções nos custos; capacidade de adaptação às mudanças de mercado e motivação dos colaboradores, além da melhor integração organizacional. O KAIZEN bem aplicado é basicamente um meio de se criar vantagem competitiva em relação às outras concorrentes. Acredita-se que a melhor maneira de se transmitir o conhecimento entre funcionários é através da convivência direta entre os mesmos. Proporcionar meios de se obter um contato maior entre eles, é a maneira mais eficiente de disseminar o conhecimento dentro de uma empresa. O KAIZEN promove a formação de Grupos Pequenos de discussão organizados dentro das empresas para desempenhar tarefas especificas na área de trabalho, com o propósito de estimular o múltiplo desenvolvimento entre seus funcionários. O KAIZEN também trabalha com o Sistema de Sugestões, no qual funcionários interagem entre si em busca de melhorias nos sistemas, e orienta-se no principio de que o operário deve trabalhar com mais empenho. Ele se torna um “operário pensante” que procura maneiras melhores de realizar o seu serviço. O KAIZEN propicia aos empregados usarem seu potencial no alcance da meta da corporação O ponto de partida do KAIZEN é a adoção por parte do trabalhador de uma atitude positiva em relação à mudança da maneira que ele trabalha. O operário deve ter a habilidade de identificar os problemas, utilizar ferramentas para a resolução dos mesmos e depois de solucionados, os resultados devem ser padronizados a fim de evitar repetições. Os operários, segundo Masaaki, devem se envolver com os aspectos do KAIZEN da seguinte forma: • Participar do KAIZEN através do sistema de sugestões e das atividades em pequeno grupo; • Praticar a disciplina na área de trabalho; • Envolver-se no contínuo desenvolvimento próprio para tornar-se melhor solucionador de problemas; • Ressaltar a habilidade e a experiência no desempenho do serviço, aprendendo várias funções. Casos práticos de melhoramentos no ambiente de trabalho: 1. A Brasilata S/A Embalagens Metálicas é uma empresa brasileira, que produz embalagens metálicas de aço (latas e baldes), possui alta lucratividade e grande representatividade no mercado. A empresa trabalha com um sofisticado sistema de sugestões no estilo kaizen team (cujo objetivo é produzir um clima favorável à participação de todos os funcionários na solução dos problemas do dia a dia conduzindo à melhoria contínua), e em 2004 atingiu a média de 34 idéias por funcionário ano, considerado um número elevado. Esse sistema torna o ambiente mais cooperativo, melhorando as relações internas e aumentando a satisfação dos funcionários, além de tornar o ambiente de trabalho mais propício ao desenvolvimento pessoal. A empresa implementou o “Projeto Simplificação”, cujo objetivo é abrir os canais de comunicação com os funcionários. Para que os mesmos pudessem demonstrar suas idéias para promover um melhoramento nos produtos, nos processos de produção, e também na vida das pessoas no trabalho. Importante salientar que os inventores com o maior número de idéias aprovadas ganham prêmios como viagens entre outros. O “Projeto Simplificação” não trouxe à Brasilata apenas um resultado econômico expressivo, como também a mesma por três vezes (2000, 2001 e 2004) foi escolhida como uma das melhores empresas para se trabalhar no Brasil, pela pesquisa elaborada pelo Great Place to Work Institute com o patrocínio da revista Exame. Conseqüências da credibilidade da empresa que a origem de sua força se encontra no seu pessoal. 2. Na Bridgestone Tire, Sachiko Kamata formou um “Círculo da Abelha Rainha” com quatro projetistas no departamento de engenharia para melhorar os procedimentos de projeto de moldes e ferramentas para a fabricação de pneus. Realizando reuniões de duas horas todas as semanas para obter e analisar as informações relacionadas ao tema, elas descobriram que havia muita redundância no seu trabalho de projeto e que o problema poderia ser resolvido através de uma utilização especial das fotocopiadoras. “Como resultado do novo procedimento”, disse ela, “nós conseguimos reduzir o tempo de projeto em 60%. Nós costumávamos fazer em média, duas horas extras todos os dias e conseguimos eliminá-las” (MASAAKI IMAI, 1994). Esses exemplos práticos demonstram como a participação ativa dos funcionários, pode trazer um grande benefício para as empresas. O Sistema de Sugestões torna os funcionários altamente participativos, eles “vestem a camisa da empresa”, os mesmos tornam-se agentes de mudança. E os resultados para as empresas são: economia de dinheiro, otimização do tempo, auto estima elevada dos funcionários, melhoramento nos sistemas produtivos e nos produtos. E tudo isso sem precisar de elevados investimentos econômicos. 2.3. Troca Rápida de Ferramenta - Setup Rápido A troca rápida de ferramenta é uma metodologia criada por Shigeo Shingo e pontualmente visa a diminuição do tempo de setup das máquinas através de um estudo simples, de fácil entendimento e grande impacto. Trata-se de um processo dividido em quatro estágios: 1. Descrição das atividades realizadas no setup sem distinção se o elemento é externo (ocorre obrigatoriamente quando a máquina está funcionando) ou interno (ocorre necessariamente quando a máquina está parada); 2. Separação entre atividades externas e internas do setup; 3. Análise da operação de setup com o objetivo de converter operações internas para externas, para isso procura-se avaliar os procedimentos atuais e estudar melhorias; 4. Simplificação de todos os aspectos. Porém estrategicamente o TRF tem muitas vantagens econômicas, (Shingo, 2000, pg. VI): • Os baixos tempos de preparação reduzem o tempo de atravessamento das peças; • O faturamento da empresa será mais uniforme ao longo do mês, principalmente em empresas em que a entrega está vinculada a um mix de produtos, onde todo este o mix deve estar pronto para que a entrega seja realizada; • Menor incidência de penalização por atrasos nas entregas; • Diminuição do numero de itens como matérias-primas, produtos em processos e produtos acabados, resultando em menor necessidade de controle e, conseqüentemente, de uma redução no custo de controle no chãode-fábrica; • Menor necessidade de capital de curto prazo para a movimentação da empresa; • Menor risco de perda de material por obsolescência e mudanças de mercado. O sucesso na implementação do TRF está diretamente ligado ao envolvimento dos operadores nas sugestões de melhoria e no apoio total da alta gerencia que deve estar ciente que a mudança tem um impacto global nos custos da produção. Segundo o Artigo (Gontijo, Felipe Kich e Dias, Alexandre Magno de Paul, 2005) foi aplicada a metodologia proposta por Shingo na empresa Móveis Simosul Ltda, na máquina furadeira Biesse resultando numa economia de tempo de setup em 44% sem nenhum custo além da disponibilização dos colaboradores para o estudo. Com a redução alcançada foi possível aumentar a capacidade de produção em 144 peças, para apenas uma regulagem, redução do tempo de ciclo total do processo e ainda eliminação de erros devido à padronização. Outro exemplo é o trabalho de conclusão de curso (Sistemática para Redução do Tempo de Setup na Indústria Moveleira. FAGUNDES, Paulo Ricardo Motta. 2002) feito na empresa Madecenter Móveis Ltda. que conseguiu uma diminuição significativa de redução de tempo de setup (de 34 minutos e 47 segundos para 6 minutos e 17 segundos) nas furadeiras, que eram o grande gargalo. Isso impactou em uma redução de 58% no tamanho dos lotes de fabricação que antes do TRF eram de 367 peças e passaram para 154 peças. Com isso a empresa teve vantagens com a maior flexibilidade na fábrica, podendo atender a pedidos de tamanho reduzido sem perdas financeiras com o setup, bem como redução nos estoques de produtos acabados. 2.4. Fluxo Contínuo O processo de Fluxo Contínuo é um conceito que em seu estado ideal, significa que os itens são processados e movidos diretamente de um processo para o próximo, uma peça de cada vez. Cada passo do processo opera somente na peça que é necessária ao próximo passo, pouco antes que este passo precise dela, e o tamanho do lote de transferência é um. O fluxo contínuo também é chamado “fluxo de uma peça”, “fluxo de uma única peça” e “faça uma mova uma”. (ROTHER e HARRIS, 2001) Uma Célula Produtiva é um arranjo de pessoas, máquinas, peças e métodos em que as etapas do processo ocorrem em forma seqüencial, por meio do qual as partes estão em fluxo contínuo (ou em alguns casos, de forma consistente com lotes pequenos mantidos em toda a seqüência das etapas do processo). Atingir e manter um eficiente fluxo contínuo é o propósito da célula (ROTHER e HARRIS, 2001). O takt time é o tempo em que deve ser produzido uma peça ou produto, baseado no ritmo das vendas, para atender a demanda dos clientes. O takt time é calculado dividindo-se o volume da demanda do cliente (em unidades) por turno pelo tempo disponível de trabalho (em segundos). O takt time é usado para sincronizar o ritmo da produção com o ritmo das vendas. Este indicador de ritmo de produção é um referencial que mostra a velocidade em que cada processo precisa estar produzindo e ajuda a enxergar como as coisas estão indo e o que você precisa fazer para melhorá-las (ALVAREZ, 2001). Rother e Harris (2001) afirmam que o fluxo contínuo é o objetivo principal da produção enxuta. Notam que muitos concentram esforços no desenvolvimento de layouts em formatos de U ao invés do mais importante: criar e manter um fluxo contínuo eficiente. Destacam a importância de se projetar processos e administrar processos simples, flexíveis, baratos e criativos baseados em mão-de-obra. Utilizam o método e o processo mental baseado nas experiências pioneiramente postas em pratica pela Toyota e por suas empresas associadas, que você pode utilizar em qualquer lugar em que queira criar um fluxo contínuo. Ainda colocam que as ferramentas e técnicas podem ser de grande valor, mas o importante é que você e sua equipe tornem-se capazes de enxergar e sentir o fluxo, focar menos no layout da celula de produção e mais no fluxo em si. Segundo Womack e Jones (2004) muitas vezes é preciso ignorar as fronteiras tradicionais de tarefas, profissionais, funções (freqüentemente organizadas em departamentos) e empresas para criar uma empresa enxuta, eliminando todos os obstáculos ao fluxo contínuo do produto ou à família específica de produtos. Atentar para o arranjo físico da fábrica como um todo é primordial para estabelecer um fluxo contínuo eficiente. De acordo com Slack, Chambers e Johnston (2007), se o arranjo físico está errado, pode levar a longos ou confusos estoques de materiais, filas de clientes formando-se ao longo da operação, inconveniência para os clientes, tempos de processamento longos, operações inflexíveis, fluxos imprevisíveis e altos custos. Rother e Harris (2001) tratam o fluxo contínuo como sendo a maneira mais eficiente de transformar materiais em produtos, o que possibilita: • Uso mínimo de recursos. A quantidade de pessoas (direta ou indireta), máquinas, materiais, prédios, equipamentos de movimentação, etc., requerida para produzir, se mantém no mínimo. Isto significa alta produtividade e baixo custo; • Lead time curto, que permite rápida resposta para o cliente e um ciclo de conversão em dinheiro menor (tempo entre pagar a matéria prima e receber o pagamento dos produtos feitos com esta matéria-prima); • Problemas como defeitos, rapidamente tornam-se aparentes em vez de permanecerem escondidos. Os problemas podem ser identificados rapidamente e corrigidos antes de se prosseguir. É mais fácil identificar as causas raiz das anormalidades, quando elas são detectadas assim que ocorrem; • Encoraja a comunicação entre as operações, que se tornam ligadas em uma relação “cliente-fornecedor”. Womack e Jones (2004) relatam o caso de uma micro-empresa norte americana que tornou o fluxo de valor mais seqüencial, de acordo com a demanda do cliente em busca da perfeição. A tabela 01 apresenta os resultados alcançados após a aplicação do fluxo contínuo na fábrica. Transformação enxuta na empresa Lotes filas/1991 Tempo de desenvolvimento de uma nova família de produtos e Fluxo/1995 3-4 anos 1 ano Horas de funcionário por máquina 160 80 Espaço para fabricação por máquina 9,3 metros quadrados 4,6 metros quadrados Defeitos por máquina 8 0,8 US$ 2,6 Milhões 1,9 milhões Tempo de throughput de produção 16 semanas 14 horas – 5 dias Lead time de entrega de produto 4 – 20 semanas 1 – 4 semanas Valor do estoque de acabados e acabados produtos semi- Tabela 01- Fluxo Contínuo Fonte: Womack e Jones, Hoje os funcionários das células de produção podem ver todo o fluxo de trabalho da matéria-prima ao produto concluído. O takt time, o trabalho padronizado e o controle visual (inclusive gráficos afixados nas paredes para todas as tarefas) dão uma idéia imediata de como o trabalho está evoluindo. As habilidades múltiplas e a rotação de funções utilizam totalmente as habilidades de cada operário e a repetição freqüente de eventos kaizen proporciona uma oportunidade de participar ativamente do projeto do trabalho. A eliminação do constante desperdício e o movimento dos operários para fora das células de trabalho mostra como métodos mais eficientes promovem meios de descobrir que o trabalho é um desafio constante. Finalmente, há poucas interrupções sob a forma de paralisações de linha e uma maior adaptabilidade frente as demandas súbitas de mudança para uma tarefa totalmente diferente. Contudo a reorganização das tarefas em um fluxo contínuo parece ter produzido uma satisfação psicológica disseminada em relação às tarefas do dia-adia, mas também produziu a necessidade de melhoria constante. 3. METODOLOGIA O presente artigo foi elaborado baseado na necessidade de atualização que o pólo moveleiro de São Bento do Sul, Rio Negrinho e Campo Alegre apresentam. As principais necessidades encontradas foram descobertas através da aplicação de questionários em 15 empresas da região. Esses questionários foram desenvolvidos e aplicados por acadêmicos e professores do curso de Engenharia de Produção e Sistemas da UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina). Foram aplicados presencialmente com os principais responsáveis pelo processo produtivo nessas indústrias. Após a aplicação desses questionários, os mesmos foram analisados a fim de se descobrir as principais necessidades das indústrias moveleiras. Com essa análise, foram levantadas hipóteses que pudessem suprir da melhor maneira possível os problemas encontrados. Após a leitura de diversos artigos e livros relacionados à filosofias e modelos de gestão, chegou-se à conclusão de que uma maneira eficiente das empresas da região conseguirem evoluir é através da aplicação da cultura Lean e de algumas de suas ferramentas, que poderão trazer benefícios mais impactantes a curto e médio prazo. 4. CONCLUSÃO Para que as empresas consigam manter a sua competitividade, é fundamental que tenham uma capacidade de adaptabilidade às novas tendências e às rápidas mudanças que o mercado proporciona. As metodologias apresentadas são o início de um caminho que as empresas podem seguir rumo a essa alta competitividade, e analisando os exemplos citados, observa-se o êxito na aplicação das ferramentas em diversas empresas, tanto do ramo moveleiro como outros ramos da indústria. As ferramentas que foram apresentadas nesta pesquisa - Kaizen, TRF e Fluxo Contínuo – podem proporcionar para as empresas uma grande vantagem competitiva, pois irão trazer benefícios como: aumento da motivação dos funcionários, melhorias nos sistemas produtivos, aumento da produtividade, ganho de flexibilidade na produção, redução de estoques, diminuição do tempo de entrega, otimização da produção, retorno financeiro mais rápido, evidencia gargalos e facilita as resoluções de problemas. Salienta-se também que a mudança de cultura de uma empresa não se constitui apenas na utilização de uma ferramenta, mas de um conjunto delas. A cultura lean é abrangente e começa por uma mudança de mentalidade, ponta pé inicial para a mudança do todo. Percebe-se a imensa necessidade da alta gerência da empresa estar à frente desta mudança, pois somente dessa forma o Lean será garantido a médio e longo prazo. Além disso, deve-se ter em mente a extrema importância dos recursos humanos na mudança de cultura, e são esses recursos que tornarão o resultado bom ou ruim. É importante se conscientizar de que a gestão da empresa deve estar sempre em constante melhoria e adaptação ao mercado global, evitando a perda de mercado para a sua concorrência e garantindo sua sustentabilidade financeira. “Acabamos de conseguir que uma coisa funcione tranquilamente, já é hora de melhorá-la novamente” Womack e Jones (2004). 5. BIBLIOGRAFIA ÁLVARES, R. R.; Antunes Jr., J. A. 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