A leitura da imagem no PROJETO AGENTES DE LEITURA Image Reading in the READING AGENTS PROJECT Coelho, Luiz Antonio L.; Doutor; PUC-Rio [email protected] Resumo O projeto AGENTES DE LEITURA pretende capacitar 3500 jovens com o ensino médio completo para promover a inclusão e a integração sociais em comunidades de baixa renda até o final de 2010. Através da utilização de livros previamente selecionados para cada comunidade segundo as vocações regionais, o projeto utiliza uma metodologia de dinamização dos conteúdos para atingir seus objetivos. O presente texto apresenta o método de análise da imagem para as aulas da primeira fase de treinamento dos agentes com base em técnicas e práticas de leitura da imagem desenvolvidas pelo grupo de Design da Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio. Palavras-chave: leitura; imagem Abstract The READING AGENTS PROJECT aims at training 3,500 youngsters who have completed their second-grade in the promotion of low-income communities’ social inclusion and integration until de end of 2010. Books are going to be selected according to each community’s cultural profile, and used within a special methodology of content interpretation. This text presents the method adopted in the analysis of book images in the first section of the Agents’ training developed by the Design group of UNESCO Chair in Reading at the Pontifical Catholic University of Rio de Janeiro. Keywords: reading; image A leitura da imagem no PROJETO AGENTES DE LEITURA 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A leitura da imagem no PROJETO AGENTES DE LEITURA Introdução Desenvolvido pelos Ministérios da Educação (MEC) e Cultura (MinC), através do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), o projeto AGENTES DE LEITURA, segundo seus criadores, [...] tem como objetivo promover a democratização do acesso à produção, à fruição e à difusão cultural através do livro e da leitura como ação cultural estratégica de inclusão social e de desenvolvimento humano, por meio de atividades de socialização de acervo bibliográfico e de experiências de leituras compartilhadas como exercícios de cidadania, de compreensão de mundo e de ação alfabetizadora. (SANTOS, 200-). O projeto [...] têm como referência o Projeto Agentes de Leitura criado em 2005 pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, financiado pelo Fundo Estadual de Combate à Pobreza (FECOP), com atuação em municípios do interior cearense e em bairros da cidade de Fortaleza com baixos índices de Desenvolvimento Municipal (IDM) e de Desenvolvimento Humano (IDH), em parceria com as Secretarias de Educação e de Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado, associações comunitárias, organizações não governamentais, instituições da sociedade civil e com as prefeituras municipais por meio de suas secretarias de cultura e de educação. O projeto teve início com 175 agentes de leitura em 15 municípios e 05 bairros de Fortaleza. Hoje são mais de 500 agentes atuando em 30 municípios e em 10 bairros da capital. (SANTOS, 200-). O ambiente de atuação dos agentes em sua atividade fim junto às comunidades compreende bibliotecas públicas municipais, escolas, fábricas, empresas, associações, comunidades e os lares cujos moradores dispõem-se a participar do projeto. Os agentes de leitura são jovens entre dezoito e vinte e nove anos, com ensino médio completo, oriundos, preferencialmente, de um contexto sócio-econômico do programa Bolsa Família, selecionados por meio de teste de fluência de leitura, avaliação de habilidade na escrita—através de interpretação e produção de texto—e, finalmente, por meio de entrevista. Os selecionados passam por um treinamento de formação continuada—presencial e a distância—com técnicas desenvolvidas no projeto original combinadas com outras desenvolvidas pela Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio. Cada agente cadastra um grupo de trinta famílias de sua comunidade, onde desenvolve atividades de formação leitora como rodas de leituras, cirandas de livros, leituras compartilhadas, empréstimos de livros, contação de histórias, saraus artísticos, performances literárias, registros de contos. (SANTOS, ibid). Além de clubes de leitura, resultado imediato e inerente à atividade do jovem mediador, o projeto prevê a produção de livros artesanais, cadernos de campo, grupos de estudos, seminários interativos para as comunidades atendidas, edição de contos populares tradicionais, entre outros. Segundo Santos, concebeu-se o agente como mediador de transformação social, tendo por objetivo maior a promoção da emancipação cidadã das pessoas das comunidades participantes a partir da expressão. Busca-se, com isso, diminuir barreiras sociais e culturais, respeitando-se as diferenças individuais e regionais e valorizando tal diversidade como patrimônio da cultura nacional. CÁTEDRA UNESCO DE LEITURA PUC-Rio Na fase nacional, o projeto pedagógico para a formação dos jovens agentes de leitura está a cargo da CÁTEDRA UNESCO DE LEITURA PUC-Rio. Quando falamos em “agente de leitura” neste contexto, estamos nos referindo a cada um dos 3500 jovens selecionados que estarão atuando diretamente com as comunidades em dez estados brasileiros. No entanto, 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A leitura da imagem no PROJETO AGENTES DE LEITURA existem outros mediadores que fazem parte do processo, os agentes de leitura articuladores, que serão definidos pelas secretarias estaduais de Educação e pelo MinC e que receberão o primeiro treinamento, devendo capilarizar o conhecimento obtido para os jovens agentes Pretende-se que os jovens selecionados segundo os critérios definidos pelo PNLL sejam treinados por essas equipes regionais, A Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio foi criada em 2006 em torno do conceito de leitura de múltiplas linguagens. A leitura é compreendida como interação entre texto e leitor, ambos forjados no amplo circuito de significações, mídias e culturas da contemporaneidade. Deste modo, qualquer projeto de formação de leitores precisa considerar: a) as linguagens do mundo, os repertórios individuais e acervos coletivos; b) o ambiente cultural em que se dá a leitura (modos de leitura); c) as distinções e aproximações existentes entre a história de vida e a história do leitor; d) as diversidades de narrativas e de técnicas de escrita (verbal e não verbal); e, sobretudo; e) recepção e contexto (o momento único da interação). (CÁTEDRA UNESCO DE LEITURA PUC-Rio, mimeo, 2010). O projeto pedagógico, tanto para texto alfabético impresso quanto para imagem, prevê a criação de um conjunto de cadernos a serem usados junto aos agentes articuladores regionais e por parte destes junto aos jovens agentes que trabalharão diretamente com as comunidades. Está prevista uma carga horária de 160 horas de treinamento, distribuída entre aulas presenciais e encontros on-line (EAD) em período de doze meses. Para tanto, pretende-se uma ação integrada de formação entre a Cátedra, o MinC e as Secretarias estaduais de Educação. A leitura da imagem Especificamente em relação à pedagogia da imagem, o Projeto Agentes de Leitura compreenderá uma carga horária de vinte horas de trabalho voltado para o estudo da relação entre imagem e texto verbal impresso no livro e para o estudo do objeto enquanto livro em si. Nessa carga horária há uma parte de aulas presenciais e outra a distância. Na parte de formação presencial, com a carga de oito horas para o módulo “literatura e outras linguagens”, quatro horas serão dedicadas ao letramento visual. Outras quatro horas, dentro do módulo “acervos e narrativas”, serão dedicadas à narrativa visual. Consideramos, também, a questão do multiletramento relativo ao cruzamento da linguagem visual com outras linguagens além da alfabética impressa. Seria o caso de se buscar a interpretação e leitura de representações esquemáticas, tais como tabelas e gráficos. Da mesma forma, relacionar o texto impresso— alfabético e icônico—em sua dimensão sinestésica, isto é, com os sons, tato e mesmo “leituras” que compreendam os sentidos do tato e olfato, algo que deverá ser contemplado provavelmente nos cadernos em EAD. Na parte de formação em EAD, no módulo denominado “construção do olhar,” estão previstas oito horas para o tema sobre leitura da imagem e o livro e quatro horas para o tema sobre a produção do livro. Há que se mencionar o fato de que se prevê como um dos resultados do projeto a confecção de livros artesanais e cadernos de campo pelos agentes, o que requererá oficinas específicas de produção de livro. Metodologia geral: “Destrava Olhar” No trabalho com a imagem, utilizamos uma metodologia denominada “Destrava Olhar” por analogia ao projeto “Destrava Lingua”, que vem sendo adotado na Cátedra, com bastante sucesso, para os cursos de letramento verbal há cerca de dois anos junto a diferentes públicos. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A leitura da imagem no PROJETO AGENTES DE LEITURA O “Destrava Lingua” busca o atingir o letramento com base na utilização de obras literárias e textos impressos de diferentes naturezas. A dinâmica consiste na interação entre os participantes do grupo em rodas de leitura. Cada participante é incentivado a trazer sua visão de mundo e experiências em relação ao tema proposto. A interação entre alunos é conduzida por um animador, isto é, o agente articulador, que utiliza materiais em diferentes linguagens (verbal—oral e escrita—sons e, obviamente figuras). Também variam os suportes. São utilizados filmes, cartazes, selos, folhetos, animações, quadrinhos, pinturas e objetos relacionados ao tema. Esse material é previamente identificado e levado para o espaço da aula no momento da interação. Um computador fica à disposição do animador com um data show, que é usado por iniciativa de qualquer um dos presentes. Em relação ao Projeto Agentes de Leitura, um grupo de três designers e um coordenador da área visual da Cátedra têm assumido as ações definidas pelo projeto na criação do material de treinamento dos agentes articuladores e dos agentes de leitura, tanto nos cursos presenciais quanto no treinamento remoto via computador. Apresentamos, abaixo, a estrutura dos cursos sobre a leitura da imagem compreendidos na elaboração de quatro cadernos. Em seguida, apresentamos o primeiro desses cadernos, o de práticas leitoras, com a metodologia utilizada na análise de imagens estáticas. Educação presencial Caderno 1 - Literatura e outras linguagens: letramento visual (4 horas) Neste manual tratamos apenas da análise de imagens que normalmente aparecem nas páginas de livros de literatura sem, porém, considerar aspectos de narratividade ou relação com outras imagens de natureza dinâmica. Este caderno procura habilitar o agente articulador a analisar uma imagem figurativa estática de estilo realista. Consideramos que narratividade e a relação da imagem com o texto ou com o objeto livro deverão ser objeto de outra obra, assim como outras abordagens da imagem. Desta forma, portanto, fica de fora, nesta fase, a análise de imagens em relação ao texto impresso. Acreditamos que começar pela imagem fora do contexto de uma história dará uma base melhor de interpretação ao agente quando for chamado a relacionar uma imagem específica com o texto alfabético onde aparece. É este o caderno que será tratado em detalhe abaixo. Caderno 2 - Acervos e narrativas: narrativas visuais (4 horas) Aqui será explicitada a metodologia para a análise de imagens no eixo das narrativas. Utilizamos os trabalhos de Cardoso (2001) e Rhodes (1998), e as imagens escolhidas têm maior definição relativa a personagens, contexto físico e sugestões de desenvolvimento temporal. Educação a distância Caderno 3 - Construção do olhar: Lendo a imagem e o livro (8 horas) Este manual prevê produção de conteúdos em animação em 3D com a feição de videogame, em que a matéria é passada através de desafios como nesse tipo de interação. Nesta fase trabalharemos também aspectos da relação da ilustração do livro com o texto impresso. A imagem é aqui examinada a partir de análises de diagramação, uso de fontes, tipos de papel, uso de linguagem esquemática, etc., com outros aspectos como legibilidade e escolha do tipo de imagem para o tipo de texto e, finalmente, a verificação da situação da imagem em relação ao texto alfabético sendo ela “âncora” ou “reboque”. Também será trabalhada a dimensão simbólica do objeto livro e examinados os aspectos afetivos do códice. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A leitura da imagem no PROJETO AGENTES DE LEITURA Caderno 4 - Construção do olhar: Oficina de produção do livro e encadernação (4 horas) Aqui estarão as oficinas de encadernação propostas e em fase de produção. Implicam metodologia de produção de imagens em movimento através do uso de filmes e animações, mostrando como se faz um livro e capa artesanalmente. As oficinas cobrirão as fases da feitura do papel, impressão, encarte e encadernação. Caderno 1- Literatura e outras linguagens: letramento visual Este segmento da formação dos agentes considera apenas imagens de natureza estática. A ideia é que se atinja o letramento visual, considerando este como um nível interpretativo que vai além da superficialidade da mera identificação e descrição da imagem em sua aparência formal, e que possa levar a um entendimento do porquê da existência daquela imagem. Nesta fase do processo de treinamento do agente de leitura, o animador deverá escolher uma imagem simples ou um livro cujas imagens sejam figurativas, de estilo realista e, na medida do possível, apareçam como figuras isoladas na página. A intenção é tentar afastar elementos narrativos e, assim, simplificar a abordagem neste primeiro momento. O ideal é que as imagens sejam únicas e projetadas em tela, via data show. Caso as condições de infraestrutura não o permitam, deve o animador buscar imagens de boa dimensão e visibilidade. O animador é quem propõe a dinâmica, adotando, como mencionado a técnica de roda de leitura. Aqui as pessoas são chamadas a posicionarem-se espacialmente de forma que todas vejam todas. O animador deverá considerar um primeiro momento de adaptação dos presentes à configuração do grupo, período em que contará um caso ou comentará algo sobre o dia, o tempo, etc. É importante perceber se as pessoas estão confortáveis e sintonizadas. Verificada a condição pragmática do grupo, o animador mostrará a imagem e começará a sessão do “Destrava Imagem”, que pressupõe perguntas sobre a imagem proposta. Nessa dinâmica, teremos por base o sistema formulado por Erwin Panofsky no livro Significado nas Artes Visuais. (PANOFSKY, 1976) O Esquema Panofsky Panofsky divide seu esquema em quatro partes: objeto de interpretação, ato de interpretação, equipamento para a interpretação e princípios corretivos de interpretação. Cada uma dessas partes pressupõe aspectos (às vezes fases, como nas duas primeiras partes) de um processo de leitura da imagem que vai da identificação, descrição, decomposição para a análise em si, onde o significado é explorado em duas fases de complexidade. O autor define, ainda, o conhecimento necessário para se atingir os níveis de sentido e a complexidade exigidas para o que chamamos de letramento visual. Panofsky apresenta também as disciplinas que nos pautam para atingirmos as metas pretendidas. Objeto de interpretação A primeira parte do esquema fala do aspecto da imagem, ou objeto, onde recai o olhar daquele que examina a imagem no início do processo de análise. Este aspecto a ser considerado na imagem será o que Panofsky chama de tema ou significado. O autor apresenta três fases: a do tema primário ou natural; a do tema secundário ou convencional; e a do significado intrínseco ou conteúdo. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A leitura da imagem no PROJETO AGENTES DE LEITURA Ato de interpretação A segunda parte trata das ações empreendidas, que compreendem a atividade descritiva e a análise da imagem em si. Tais ações são apresentadas em três fases: a descrição préiconográfica (e análise pseudoformal), a análise iconográfica e a interpretação iconológica. Nas ações compreendidas nesta parte, a ideia de fase parece-nos mais adequada do que a de nível. Parece-nos claro que há um sentido de nível de complexidade maior da passagem da fase pré-iconográfica à iconográfica. Entretanto, na passagem da fase iconográfica para a iconológica, a ideia é mais de síntese do que de complexidade, seja de sentido seja de dificuldade do ato. Equipamento para a interpretação A terceira parte diz respeito ao que mencionamos acima como o conhecimento necessário para se atingir os níveis de sentido e a complexidade exigidas para o que chamamos de letramento visual. Panofsky refere-se aqui ao instrumental requerido no ato de interpretação. Constitui esse instrumental a experiência prática a partir da familiaridade que já possuímos sobre objetos e eventos, o conhecimento de fontes literárias a partir da familiaridade com temas e conceitos específicos e, finalmente, a intuição sintética a partir da familiaridade com as tendências essenciais da mente humana, condicionadas pela psicologia social ou Weltanschauung, ligado à visão de mundo de uma sociedade, ou paradigma de seus valores fundamentais. Envolve ética e ideologia. Princípios corretivos de interpretação A quarta parte do esquema refere-se a disciplinas que auxiliam em cada fase do ato de interpretação, onde reside a parte da análise em si (descrição pré-iconográfica ou análise pseudoformal, análise iconográfica e interpretação iconológica). Se no equipamento para a interpretação somos chamados a por em prática nossos conhecimentos de vida e nossa experiência prática, nesta terceira parte Panofsky nos apresenta as fontes formais do conhecimento. Aqui ele se refere à História do estilo para a descrição pré-iconográfica, à História dos tipos para auxiliar na análise iconográfica e a História dos sintomas culturais ou “símbolos” para o auxílio na interpretação iconológica. Como se pode deduzir do que foi dito até este ponto, o que é natural em qualquer esquema, existe uma busca de sistematização, quer em relação à separação do olhar em um primeiro momento (na parte da definição do objeto), quer na divisão das fases apresentadas no que o autor chama de ato de interpretação. Observa-se, também, que a segunda parte é a que dá conta dos sentidos da imagem, de sua descrição à análise e interpretação. Estaria aqui o centro ou a razão de ser do esquema. Se combinarmos as quatro partes desse esquema, enlaçando o que colocamos como os aspectos ou fases trazidos por Panofsky, poderemos adensar nossa discussão e caminhar para melhor visão do sistema. Assim, quando o animador que pretende analisar com o grupo de agentes determinada imagem já pré-selecionada, deverá ele incentivar que os agentes identifiquem-na em primeiro lugar. Panofsky chama a atenção de dois aspectos, o factual e o expressional observados no mundo dos motivos artísticos. O factual corresponde à simples identificação das formas visíveis a partir das vivências pessoais, do que se conhece por experiência prática. É o resultado da primeira reação diante da imagem e que procura responder à pergunta o que é. do que se trata? Não é possível separar qualquer identificação da experiência e da dimensão afetiva do indivíduo. Desta maneira, o agente deve ser incentivado a conscientizar-se de sua identificação e das palavras que usa para descrevê-la. Para tanto, ele deverá ser estimulado a falar em detalhes e apresentar razões para sua opção verbal. O animador deve estar atento e 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A leitura da imagem no PROJETO AGENTES DE LEITURA observar em voz alta aspectos que dizem respeito à sensibilidade do observador, envolvendo aspectos simbólicos e psicológicos que levam a uma interpretação por empatia. Panofsky menciona os aspectos expressivos do objeto, algo que o animador deverá também levantar neste momento do processo. Diz respeito a gestos, expressões ou quaisquer traços da figura e ambiente mostrados que digam respeito à dimensão emocional, sentimental. Esse tema primário ou natural leva à descrição pré-iconográfica e análise pseudoformal. Isto se dá simplesmente porque estamos ainda em nível básico de identificação, aquém do que se poderia caracterizar ou reconhecer como análise formal per se. O equipamento para a interpretação desta fase é instruído pela experiência prática, ou a familiaridade com objetos e eventos, como mencionado. Mas neste momento entram conhecimentos formais para se chegar ao que Panofsky chama de princípios corretivos de interpretação, baseados na História da tradição, que tem a ver com a História do estilo, ou a compreensão da maneira pela qual, sob diferentes condições históricas, objetos e eventos foram expressos pelas formas. Aqui o animador tem de estar preparado para introduzir teorias e estudos desenvolvidos nas matérias citadas. Passada a fase de identificação e descrição da imagem do tema primário, o animador deverá incentivar o olhar do agente para o que Panofsky chama de tema secundário ou convencional, que é buscar as relações do que se identificou e descreveu com relatos e alegorias da cultura. Responde à pergunta para que serve? como funciona? Nesta segunda etapa, que corresponde à análise iconográfica, considera-se o conhecimento que se tem de fontes literárias, casos passados por tradição oral ou a familiaridade com temas e conceitos específicos. Os princípios corretivos de interpretação, baseados na História da Tradição e História dos tipos, vale-se da compreensão da maneira pela qual, sob diferentes condições históricas, temas ou conceitos foram expressos por objetos e eventos. Aqui se chega a rótulos e classificações de acordo com a intertextualidade de contextos culturais. É o momento de se relacionar as imagem em questão com o entorno, com o ambiente físico e, a partir deste, com a sociedade como um todo. Se a imagem é constituída por um objeto, há que se incentivar que o agente busque os usos diretos e indiretos do mesmo, seus materiais em relação aos recursos naturais e como se reusa e descarta o mesmo. Finalmente, chega-se à fase da síntese, de conclusões quanto ao sentido maior da imagem em foco, tentando responder à pergunta qual o sentido? o que representa para o grupo e para a sociedade como um todo? por que existe? Estamos diante do que Panofsky chama de significado intrínseco ou conteúdo, inspirado pela interpretação a partir dos valores simbólicos, da interpretação iconológica. Trabalhamos aqui com a intuição sintética, ou familiaridade com as tendências essenciais da mente humana, condicionada pela psicologia pessoal e Weltanschauung. A disciplina ou os princípios corretivos de interpretação são inspirados pela História da Tradição ou História dos sintomas culturais ou símbolos (compreensão da maneira pela qual, sob diferentes condições históricas, tendências essenciais da mente humana foram expressas por temas e conceitos específicos). É a parte conclusiva da análise, onde os sentidos da imagem examinada juntam-se a sentidos de outros objetos dentro de um sistema integrado de valores, cujas relações dão o significado maior à sociedade e à cultura em sua condição de comunidade. É preciso que se enfatize a necessidade de valorização das diferenças culturais de cada grupo e do papel que cada um tem enquanto contribuição a dar para a sociedade como um todo. É necessário encadear as análises com as atividades econômicas do grupo, que englobam o artesanato, a pequena criação ou agricultura como aporte para o desenvolvimento do país. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A leitura da imagem no PROJETO AGENTES DE LEITURA Fontes para a interpretação Finalizando a metodologia, lembramos alguns autores e obras que poderão auxiliar na condução das três fases interpretativas apresentadas. Para a parte da história de estilos, sugerimos o próprio Panofsky e coleções sobre Arte Brasileira encontradas em bibliotecas, como Arte no Brasil, em dois volumes. (PANOFSKY, 1976; ARTE NO BRASIL, 1979) Para a História dos tipos, apontamos Philippe Ariès, Laura de Mello e Souza, Fernando Novais, Lilia Moritz Schwarcs (ARIÈS, 1997; MELLO E SOUZA, 2001; NOVAIS, 2002; SCHWARCS, 2000). Por fim, para a parte relativa à História dos sintomas culturais, sugerimos a coleção didática de Ricardo Dreguer e Eliete Toledo e outros autores que têm trabalho com a história das mentalidades como Ronaldo Vainfas. (DREGUER e TOLEDO, 2000; VAINFAS, 1997) Os agentes articuladores—ou animadores, como nos referimos aqui—assim como os agentes de leitura têm, também, à sua disposição o Sistema ELO de consulta, ou Estação de Leitura On-line da Cátedra UNESCO de Leitura PUC-Rio. Situada nas instalações da Cátedra, a ELO é um webcenter de pesquisa voltado para as questões de leitura e literatura. A ELO reúne alunos de graduação orientados por professores pesquisadores da Cátedra de várias áreas acadêmicas para o atendimento e elaboração de pesquisas on-line e off-line qualificadas e está pronta para fazer a interação, via meio digital, entre professores, estudantes, bibliotecários e profissionais ligados a pesquisas e atividades em leitura. Esse recurso tem provado flexível para se atingir uma interpretação atualizada das imagens propostas. Aqui, a pessoa conversa, em tempo real, com um atendente, que a auxilia na busca de obras, imagens ou referências bibliográficas para desenvolver sua atividade dentro do programa. Resumo Em resumo, o esquema de Panofsky pode parecer confuso ou complexo de início, mas é bastante simples e eficaz no exame dos sentidos da imagem. É um processo de análise da imagem que parte de uma imagem simples, de um objeto qualquer ou figura humana e animal. Para o treinamento, deve-se começar com uma imagem sem fundo elaborado e sem muitos elementos na imagem. A escolha pode e deve tornar-se mais elaborada na medida em que se ganha experiência com o método. Escolhida a imagem, deve-se buscar responder às perguntas: 1- O que é? A resposta visa à identificação do objeto a partir da experiência que se tem da realidade. 2- Do que se trata? Depois da identificação segue-se para a descrição das partes constitutivas, dos componentes e dos materiais de que o objeto é feito, prosseguindo para a identificação das formas alternativas do objeto. Busca-se, também, o nome, ou nomes, deste objeto. 3- Para que serve e qual seu papel? A ideia é buscar as funções diretas e outras utilizações. Discute-se aqui o papel deste objeto no contexto de uso. 4- Qual o sentido? A pergunta final diz respeito ao significado do objeto para aquele grupo ou comunidade e para a sociedade como um todo. Busca-se a razão de ser do objeto e suas funções simbólicas ou a razão de sua existência. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design A leitura da imagem no PROJETO AGENTES DE LEITURA Em cada uma dessas fases, o esquema de Panofsky apresenta as fontes diretas e conhecimento intuitivo que auxiliam nas respostas. Para além da experiência com o mundo e vivência, que nos dá a capacidade falar sobre a imagem, o sistema também apresenta a possibilidade de se examinar fontes formais. Procuramos trazer, neste particular, algumas sugestões concretas. Quando se chega ao nível da análise iconológica, a imagem deverá ter sido relacionada com o mundo em sua dimensão micro e macro, ganhando significado para além de seu primeiro contexto de referência. A duração da dinâmica proposta para a análise de uma imagem, dependendo da quantidade de alunos da turma, leva cerca de uma hora. Entretanto, analisar apenas uma imagem não costuma ser suficiente para que um indivíduo sem prática no trato com a imagem consiga absorver a metodologia. Isto significa que, teoricamente, a carga deste curso permite trabalho com quatro imagens diferentes. Neste caso, sugere-se uma seleção prévia de imagens de naturezas distintas. A duas primeiras imagens deverão ser a de objetos a que o aluno esteja familiarizado, que pertençam a seu entorno cultural. A partir daí, sugere-se a escolha de imagem de pessoa, animal ou planta. Havendo tempo, a escolha deverá recair em imagens compostas, a fim de se tratar de relações como entre objeto e pessoa, relações estas de trabalho, de afeto, parentesco, etc. Além da imagem em si, o animador poderá lançar mão de outras fontes de informação como outros livros, imagens, objetos sonoros ou mesmo o objeto concreto que está sendo apresentado em imagem. A ideia aqui é partir da concretude para que o aluno perceba a dimensão representacional que se encerra em uma imagem. Referências ARIÈS, Philippe et al. História da vida privada (5 v.). São Paulo: Companhia das Letras, 1997. ARTE NO BRASIL, 2 v. São Paulo: Abril 1979. DREGUER, Ricardo e TOLEDO, Eliete. São Paulo: Editora Atual, História: cotidiano e mentalidades, 2000. CARDOSO, João Batista. 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