AVALIAÇÃO DA GESTÃO OPERACIONAL DAS ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA DO PROGRAMA PRÓ- RURAL NO MUNICÍPIO DE SANTA TERESA - ES Elvis Pantaleão Ferreira1 Graduando em Tecnologia de Saneamento Ambiental, pelo Instituto Federal do Espírito Santo - IFES Campus Colatina. Colatina – ES. Leonardo Ribeiro da Costa2 Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Espírito Santo, Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor do Instituto Federal do Espírito Santo - IFES Campus Colatina – ES. Josiana Laporti Fiorotti3 Bióloga pela Escola Superior São Francisco de Assis – ESFA, Mestre em Tecnologia Ambiental pela FAACZ- Faculdade de Aracruz. Professora do Instituto Federal do Espírito Santo - IFES Campus Colatina – ES. Endereço (1): Rua do Comércio, nº 10 São João de Petrópolis, Santa Teresa – ES - CEP: 29660-000 – Brasil – Tel: (27) 9989-9224 – e-mail: [email protected] AVALIAÇÃO DA GESTÃO OPERACIONAL DAS ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA DO PROGRAMA PRÓ- RURAL NO MUNICÍPIO DE SANTA TERESA - ES INTRODUÇÃO O tratamento de água assume importância essencial para diversos fins, sejam eles industriais, principalmente em indústrias alimentícias, e/ou domésticos, considerado mais nobre e prioritário, buscando garantir pós-tratamento que a água captada do meio ambiente atenda às necessidades humanas isenta de qualquer tipo de poluição ou contaminação. Braga et al., (2005) desta que a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 25% milhões de pessoas no mundo morrem por ano em virtude de doenças transmitidas por água, como diarréias. Ainda ressalta que nos países em desenvolvimento 70% da população rural e 25% da população urbana não dispõe de abastecimento e tratamento adequado de água. Neste contexto o Município de Santa Teresa foi contemplado em 1996 e 2002 com dois sistemas de abastecimento e tratamento de água do Programa Nacional de Saneamento Rural – PRÓ-RURAL voltado para as comunidades rurais de São João de Petrópolis e de 25 de Julho, ambas caracterizadas por apresentar população rural, com pequenas fazendas, onde prevalece agricultura e pecuária, com destaque para o cultivo de café. O PRÓ-RURAL define-se como um programa social de saneamento básico, onde a comunidade opera e faz a manutenção dos sistemas, preconiza uma estratégia de ação descentralizada e participativa distribuindo a responsabilidade e o poder de decisão entre três esferas do governo (Federal, Estadual e Municipal) e as comunidades organizadas, na realização dos processos de planejamento, execução e gestão das ações de saneamento. O programa é calcado na carência dos serviços de saneamento no meio rural, tendo como algumas finalidades, a melhoria da qualidade de vida no meio rural, a diminuição do êxodo, e a diminuição com gastos na saúde pública. Este modelo foi desenvolvido para atender as pequenas comunidades rurais com população de 50 a 1500 habitantes. A disposição dos serviços de saneamento ambiental em pequenas localidades no Brasil, segundo avaliações realizadas pelo governo brasileiro, tem se caracterizado pela elevada deficiência nos níveis de atendimento, com impactos negativos nas condições de vida e de bem-estar da população e, conseqüentemente, no seu grau de desenvolvimento. Tal precariedade é caracterizada pela inexistência de uma política de saneamento para pequenas localidades claramente definida (IPEA; IPLAN, 1989ª apud MORAES et al., 1999). Neste contexto Heller e Pádua (2010) mencionam que muitos problemas observados nas ETA’s brasileiras, que levam à produção de água que não atendem ao padrão de potabilidade e ao aumento dos custos operacionais, estão relacionados com o baixo nível de qualificação de parte dos operadores. Deste modo, baseando-se nessas premissas, no presente trabalho tem por objetivo avaliar o quadro atual da Gestão Operacional das Estações de Tratamento de Água – ETA’s do modelo do programa PRÓRURAL no Município de Santa Teresa – ES. METODOLOGIA A metodologia do trabalho constou da visita in loco para análise dos processos unitários subsequentes do tratamento das Estações de Tratamento de Água, no distrito de São João de Petrópolis (ETA-1) e no distrito de 25 de Julho (ETA-2), mediante a gestão das ETA´s e as condições de operação e eficiência do tratamento de água para abastecimento. Para complementar os dados adquiridos foram realizadas entrevistas com os operadores responsáveis pelo tratamento da água, buscando avaliar o grau de conhecimento frente às atividades que lhes são atribuídas. Para analisar o nível de conhecimento dos operadores frente aos processos e operações unitárias do tratamento de água, foi realiza da entrevista individual, referente a cada fase do processo de tratamento (coagulação, floculação, decantação, filtração, e desinfecção). Delimitação da Área de Estudo As áreas de estudos estão inseridas no Município de Santa Teresa – ES, o Município conta com uma área de 694,534 Km2, a 650 metros de altitude, se distância de Vitória, capital do Estado, em aproximadamente 80 km e o principal acesso ao município se dá através da Rodovia BR 101, no município da cidade de Fundão, a aproximadamente 55 km da capital (IBGE, 2010). No município de Santa Teresa existem apenas duas ETA’s no sistema PRÓ-RURAL, localizadas nos respectivos Distritos – São João de Petrópolis (ETA-1), situado as margens da rodovia ES 080 km 21 e 25 de Julho (ETA-2), localizado na zona rural do município apresentam respectivamente uma população estimada de 1.663 e 1.044 habitantes (IBGE, 2010). Ambos os Distritos caracterizam por apresentar população rural com a ocupação de sítios e até mesmo pequena fazendas com grande destaque o cultivo de café. RESULTADOS E DISCUSSÃO As duas comunidades em que estão inseridas as Estações de Tratamento de Água – ETA’s se distinguem quanto ao tipo de manancial e captação. A ETA-1 apresenta captação da água por poço subterrâneo, também caracterizado como poço freático, está situado em cota altimétrica inferior a estação de tratamento de água, o que obriga que a água seja bombeada até a estação. Já a ETA-2 possui captação superficial de água bruta situada em cota altimétrica superior à estação de tratamento, permitindo a adução por gravidade do Rio 25 de Julho. No processo unitário da “mistura rápida”, responsável pelo fenômeno químico da desestabilização das cargas superficiais, das partículas coloidais e em suspensão presentes na água, a partir da adição de um agente coagulante, observou-se: ETA-1: ocorre adição do agente coagulante em local inadequado, uma vez que não esta sendo adicionado imediatamente no ponto de maior turbulência da água, que é o ponto de maior dissipação de energia. Ao se questionado sobre este procedimento ao operador, este afirmou desconhecer o ponto exato da adição do produto. ETA-2: o procedimento acontece de maneira correto. Em ambas as ETA´s a dosagem do coagulante é ministrada de forma empírica. Durante a entrevista, pode-se observar que os operadores desconhecem a importância dessa etapa diante dos processos unitários subsequentes e do processo de tratamento como um todo. Além disso, não realizam teste de jarros necessários ao justamento dos parâmetros reais de operação levando em consideração as variações sazonais da qualidade da água. O próximo processo unitário avaliado foi o de mistura lenta, denominado “floculação”. Este processo consiste em promover a agregação de partículas formadas durante a mistura rápida, etapa anterior. As duas ETA’s possuem floculadores do tipo chicanas com escoamento horizontal. As unidades de floculação estão com suas estruturas perfeitas, no entanto há uma deficiência de limpezas periódicas da unidade. Na continuidade do tratamento da água ocorre o processo de “decantação”. Ambas as Estações de Tratamento de Água possuem decantadores convencionais de fluxo laminar com divisão em duas câmaras. As unidades de decantação existente nas ETA’s 1 e 2 apresentam falha de construção nos vertedores de saída de água decantada, o que promove à coleta em volume desigual da água na caneleta devido ao desnivelamento da borda da calha. Fato este, que pode promover a sobrecarga dos filtros através do arreste de flocos, comprometendo ainda sua vida útil e a eficiência da filtração. Segundo os operadores das ETA´s a frequência de limpeza dos decantadores acontece no período entre 2 a 3 meses. Essa condição tem favorecido o aparecimento de zonas de lodo com cerca de 1 cm nas paredes da estruturais, bem como vem contribuindo para a formação de gases devido a decomposição da matéria orgânica. Todavia, sabe-se que a presença de lodo não vem comprometer diretamente a qualidade da água. Outro fator relevante que merece atenção é o fato de não existir nestas ETA’s local adequado para a disposição do lodo, sua disposição vem ocorrendo as margens das Estações. O próximo passo foi avaliar “filtração”. O processo acontece por escoamento descendente. Os filtros estão em bom estado de conservação, embora haja necessidade de maior atenção dos operadores da ETA1 quanto à limpeza interna, uma vez que apresentam acumulo de lodo no seu interior, que pode vir a comprometer essa fase do tratamento. As ETA’s não possuem planos para a substituição do material filtrante. Na ETA-1 o meio filtrante (antracito e areia) encontra-se comprometido devido à presença de argila junto às camadas. Podendo desta forma ocorre interferência na distribuição do tamanho das partículas o que reduz os vazios intergranulares e compromete a velocidade intersticial. A ETA-2 ainda não apresenta problemas no meio filtrante. Observa-se também que nestas Estações de Tratamento de Água vem ocorrendo controle inadequado da operação pós-lavagem do filtro. Deveria acontecer o descarte temporário após a lavagem e/ou a remoção da camada filtrante, através de um dispositivo no filtro que permita esgotar as primeiras águas filtradas. O fato mais alarmante ainda detectado nessa fase do trabalho foi diagnosticar que os operadores desconheciam este procedimento. Como última operação unitária deste sistema de tratamento de água de abastecimento, foi avaliada a etapa de “desinfecção”, a qual apresenta diferentes mecanismos: A ETA-1 utiliza como agente de desinfecção o hipoclorito de cálcio. Todavia, não é realizado um monitoramento das condições do pH, turbidez e temperatura da água, fatores estes determinantes na cinética da desinfecção. A aferição do teor de cloro residual livre (CRL) do reservatório é realizada diariamente pelo método da ortoloidina. No entanto, não caberia apenas a necessidade de uma análise quantitativa do residual de cloro no reservatório, mas também que ocorra de forma sistemática na rede de distribuição e ainda que se promova a aferição contínua deste agente desinfectante no dosador. ETA-2 a cloração das águas ocorre mediante o uso da tecnologia alternativa “Hidrogerox” de produção de cloro in loco que consiste na produção de hipoclorito de sódio a partir do cloreto de sódio (NaCl) obtida através de um eletrolisador. A adição do cloro é realizada mediante o uso de dosadores de nível. Da mesma forma que na ETA-1, não acontece o monitoramento das condições do pH, turbidez, temperatura da água e nem ao menos CRL. Também, não há na nesta ETA aferição do agente desinfectante no dosador. Como determina a Portaria 518 de março de 2004 do Ministério da Saúde estas Estações de Tratamento de Água deveriam possuir tanque de contato, que tem por objetivo promover a dispersão do produto desinfectante na massa líquida, aumentando assim a tempo de contato. A Portaria ainda recomenda que o tempo mínimo detenção seja de 30 minutos, visando alcançar assim, um maior grau de eficiência da etapa. CONCLUSÕES As ETA’s encontram-se com a sua eficiência comprometida haja vista problemas com manutenção e gestão das unidades. Deste modo, através dos dados obtidos, considera-se questionável a qualidade da água utilizada para consumo doméstico das comunidades estudadas em atinência à Portaria 518 de março de 2004 do Ministério da Saúde. Devido a falta de formação técnica e ausência de treinamentos e reciclagem, os operadores das ETA´s vem promovendo o tratamento de água de maneira inapropriada. Isso é nítido quando se observa a falta de familiaridade com os produtos e parâmetros relevantes dos processos físico-químicos envolvidos no tratamento. Todavia, as Estações de Tratamento de Água ao menos possuem equipamentos para a determinação dos parâmetros reais de operação, podendo assim oferecer risco sanitário à saúde da população pela água tratada e distribuída, devido à falta de monitoramento. Atribui-se a este fato a falta de apoio por parte dos responsáveis pelo projeto, que após a implantação fica a cargo da Gestão Municipal. Dessa forma o processo de excelência do programa PRO-RURAL, que surgiu com o intuito de solucionar problemas, fica comprometido. Por fim, é importante concluir que o projeto de qualquer ETA não se deve restringir ao dimensionamento das unidades de tratamento, reservação e distribuição. É imprescindível a existência de operadores e funcionários que sejam treinados e capacitados para exercer as funções que lhes são designadas, prevendo-se cursos periódicos de capacitação e atualização profissional, além de equipamentos de controle e monitoramento. BIBLIOGRÁFICA 1. BRAGA, Benedito; HESPANHOL, Ivanildo; CONEJO, João G. Lotufo; MIERZWA, Jose Carlos; BARROS, Mario Thadeu L. De; SPENCER, MILTON; Porto, Monica; NUCCI, Nelson; Juliano, Neusa; ELIGER, Sérgio. Introdução a Engenharia Ambiental: o desafio do desenvolvimento sustentável. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. xvi, 318 p. 2. IBGE. 2010. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades – Santa Teresa/ES. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 16 mar. 2011. 3. LEO HELLER; PÁDUA. V.L. (Organizadores) Abastecimento de água para consumo humano – Belo Horizonte: editora UFMG, 2010. 859 p. 4. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. 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