Automóveis Clave de sol Carro solar feito no Mackenzie deverá ser testado na Austrália, no 2º semestre. R espeito ao ser humano e ao meio ambiente, com inovações e tecnologia de ponta. Os desafios do milênio começam a ser respondidos pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, com o Clave de Sol, carro de competição movido a energia solar — fotovoltaica —, que deve ficar pronto em agosto de 2003. “Nosso compromisso é social e ambiental. Estamos colaborando para melhorar a qualidade de vida das pessoas”, afirma o professor de Eletrônica, Mecatrônica, Protótipos e Automação, Vinicius Rodrigues de Moraes, da Escola de Engenharia Mackenzie, que coordena o projeto. Filho de mackenzistas — o pai, Ricardo Rodrigues, graduou-se em Arquitetura (1958) e Direito (1970), onde conheceu Maria Cristina, que fez o mesmo curso. Os irmãos, dois, são formados pelo Mackenzie. Vinícius revela que o veículo é resultado do projeto Bossa Nova no qual Mackenzie e Escola Politécnica O professor Vinícius, coordenador do projeto que desenvolve com Rodrigo e Filipe, seus alunos. (USP) são parceiros e compartilham conhecimentos. No carro solar, a luz do sol é convertida em corrente pelo conjunto de células fotovoltaicas, o painel solar que fica na carroceria e alimenta o motor elétrico.“Construir carros solares é para poucas universidades”, diz Moraes. “Eles demandam altíssimo domínio da eficiência e da tecnologia, de recursos huma- nos e investimentos de toda ordem, razão pela qual só foram construídos quatro modelos no Brasil”, diz.A seu ver a UPM tem tal capacidade. Nela, foram desenvolvidos os projetos mecânico, eletrônico e de controle, que, segundo Vinícius, é o cérebro do veículo, controlando todo o sistema. “Os carros solares são o que se tem de mais moderno. A estrutura mecânica — chassis, suspensão, direção e rodas — já está pronta e seu coração, o motor elétrico de altíssimo desempenho, projetado e desenvolvido no Brasil, já está definido”. O motor, construído pelo Instituto de Dois detalhes da fase de construção: cálculo estrutural pelo programa Ansys e a estrutura básica do veículo, em alumínio. 18 Mackenzie Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), é o protótipo de geração anterior, o SunBA — Samba, na pronúncia correta. A idéia de fabricar o veículo solar está assentada em três razões: 1. Mostrar a viabilidade e a conveniência de desenvolver projetos alternativos, com energia renovável, livre da emissão de poluentes, portanto “ambientalmente corretos”. 2. Apresentar ao mundo que o Mackenzie desenvolve pesquisa e tecnologia de elite, de um Brasil sério e tecnológico. 3. Participar do Rallye World Solar Challenge (WSC-2003), que deverá ser realizado em outubro de 2003, na Austrália. Na competição, o Clave de Sol vai percorrer mais de 3.000 quilômetros em linha reta, cruzando o país no sentido Norte-Sul, pela pista Stuart Railway. Espera-se concluir o trajeto em 43 horas, uma vez que o veículo tem velocidade média de 61 km/h e máxima de 125 km/h. Seu antecessor, o SunBA, foi o carro solar com melhor desempenho entre os quatro fabricados pelo Brasil — terminou o WSC 1996 com o tempo de 58 horas. A equipe brasileira, composta de 16 membros, terá Vinícius como chefe. Para disputar o WSC, o carro — que está sendo fabricado pela Jakko Mastin, empresa de barramentos elétricos especializada nesse tipo de veículo — precisa ficar pronto em três meses e ser testado nos 45 dias seguintes, antes de seguir viagem. Vanguarda tecnológica Quando se pergunta como o carro funciona em dias nublados, Vinícius explica que as baterias demoram mais para carregar, porém o motor não deixa de funcionar. Se você está enxergando, ele está carregando, porque as células de cap- O Clave de Sol, tecnologia e cores brasileiras, vai cruzar a Austrália em outubro. tação de luz têm sensibilidade semelhante ao olho humano”, compara. Segundo ele, quase todos os componentes foram concebidos por projetos de mackenzistas, com exceção das células fotovoltaicas, que captam a luz e são importadas: “Mas queremos reverter a situação. Se pesquisar por dois ou três anos o Mackenzie conseguirá produzir a tecnologia necessária”, diz o engenheiro, confiante no projeto, que deverá custar 100.000 dólares, incluindo a viagem à Austrália. Na UPM ele diz ter encontrado condições ideais de trabalho porque dispõe de consultoria sobre estrutura e resistência de materiais e de outras questões: “Tudo o que queremos fazer temos o professor especialista que pode nos ajudar. O que não sabemos, perguntamos aos colegas do Mackenzie. Eles estão sempre prontos a responder. Nesse sentido, eles têm dado va- liosa ajuda, contribuindo também para que o Mackenzie esteja entre as universidades de primeira linha”, avalia. Envolvidos no projeto estão outros três mackenzistas do sétimo semestre: Filipe Fabian Buscariolo, Rodrigo Di Grado Alonso (Engenharia Mecânica), Paulo de Tarso (Elétrica) e o antigo aluno Nilson Doris Franceschetti, formado em Engenharia Elétrica, que está se doutorando na Poli. Vinícius brinca que vive puxando as orelhas deles. Em seguida, elogia: “Os alunos são todos guerreiros e estão se desenvolvendo muito”. Prevê: “Aqui eles aprendem a trabalhar com prazos, orçamentos, responsabilidades. Quando saírem da faculdade terão larga experiência. Quem faz um projeto desses não pode ser considerado engenheiro júnior, mas engenheiro pleno”. Os outros que não estão diretamente envolvidos com o projeto também recebem informação sobre o andamento da construção do Clave de Sol. “Levamos para a sala de aula os conceitos aprendidos e eles também perguntam sobre o projeto”, explica.“Nesse sentido, estamos ajudando os alunos do Mackenzie, oferecendo curso mais agradável”, conclui. Mackenzie 19