DESSECAÇÃO
DESSECAÇÃO EM ÁREAS COM GRANDE
COBERTURA VEGETAL:
ALTERNATIVAS DE MANEJO
Jamil Constantin1
Rubem Silvério de Oliveira Jr.1
N
Mônica Cagnin Martins2
Pedro Venícius Lopes3
Alberto Leão de Lemos Barroso4
o Boletim Informações Agronômicas no 109, de
março de 2005, fizemos considerações sobre o efeito
da dessecação de manejo sobre o desenvolvimento e a produtividade das culturas semeadas posteriormente. Demonstramos que a modalidade aplique-plante (ou simplesmente AP)
em áreas de alta infestação pode prejudicar o desenvolvimento inicial das culturas, redundando em queda de produtividade.
Em experimentos realizados na área de atuação das cooperativas COAMO e COPACOL, na safra 2003/2004, observou-se reduções de produtividade quando o sistema de manejo AP foi utilizado, ou seja, quando a semeadura foi realizada imediatamente ou até
sete dias após a operação de manejo.
Nos trabalhos conduzidos dentro das estações experimentais das cooperativas, verificou-se que a dessecação 20 dias antes
da semeadura resultou num incremento de produtividade da soja
de 6,8 sacos ha-1 e 7,8 sacos ha-1, respectivamente, quando comparada com as dessecações realizadas sete dias antes da semeadura e
na data da semeadura (AP). No milho, estas diferenças foram de
10,9 sacos ha-1 e 18,5 sacos ha -1 a mais a favor da dessecação
realizada 20 dias antes da semeadura. Em experimentos conduzidos em seis áreas de cooperados da COAMO, na cultura da soja,
as diferenças foram ainda maiores, resultando em queda média de
11,23 sacos ha-1 no sistema AP em comparação com a dessecação
realizada 20 dias antes.
Conclui-se, desta forma, que a soja e o milho que emergiram
e tiveram o seu desenvolvimento inicial em meio à cobertura vege-
Aplique-plante (AP)
tal não totalmente dessecada (sistemas AP e sete dias antes do
plantio) mostraram sua produtividade reduzida. Estes trabalhos foram recentemente apresentados na 27a Reunião de Pesquisa de Soja
da Região Central do Brasil (CONSTANTIN et al., 2005a, 2005b;
OLIVEIRA Jr. et al., 2005).
Todos os sistemas testados acabam atingindo bons níveis
de controle das infestantes com o decorrer do tempo. A diferença
básica entre eles está principalmente na velocidade de dessecação
da biomassa das plantas daninhas, o que, por sua vez, implica no
grau de cobertura do solo no momento da emergência da cultura e
no seu desenvolvimento inicial. Assim, para os sistemas de dessecação sete dias antes do plantio e AP, as culturas emergiram e se
desenvolveram inicialmente sob intenso sombreamento (Figura 1),
e mesmo estes sistemas atingindo uma boa dessecação aos 14 dias
após a semeadura, as plantas daninhas ainda continuavam “em pé”
e sombreando o milho e a soja. O resultado deste fato foi o aparecimento de clorose e estiolamento das culturas, retardando o desenvolvimento e culminando com menores produtividades (Figura 2).
São, portanto, evidentes os benefícios do manejo antecipado nas áreas de alta infestação e/ou elevada cobertura do solo por
ocasião da operação de manejo. No entanto, em muitas ocasiões a
efetivação desta operação pode implicar no atraso da data da semeadura da cultura, o que pode resultar em efeitos indesejáveis
para a lavoura. A primeira aplicação de manejo depende do início
das chuvas que antecedem a semeadura de verão. Este fato ocorre
pela necessidade de haver disponibilidade de água no solo para
7 DAP
20 DAP
Figura 1. Eficiência da dessecação dos diferentes manejos – aplique-plante (AP), dessecação sete dias antes do plantio (7 DAP) e dessecação 20 dias
antes do plantio (20 DAP) – aos sete dias após o plantio.
1
Engenheiro Agrônomo, D.S., Doutor, Professor da área de Ciência das Plantas Daninhas da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá, PR;
e-mail: [email protected]
2
Engenheira Agrônoma, D.S., Pesquisadora da Fundação Bahia.
3
Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da Fundação Bahia.
4
Engenheiro Agrônomo, D.S., Doutor, Professor do Departamento de Agronomia da Fundação do Ensino Superior de Rio Verde (ESUCARV).
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 111 – SETEMBRO/2005
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20 DAP
Aplique-plante (AP)
Figura 2. Estiolamento e clorose da soja no manejo AP comparado ao
ambos aos 14 dias após o plantio.
que os herbicidas sistêmicos utilizados na primeira aplicação de
manejo possam ser adequadamente absorvidos e translocados.
Também é esperado que, entre a primeira e a segunda aplicação de
manejo, haja a ocorrência de chuvas que estimulem a germinação
do primeiro fluxo de plantas daninhas.
Haverá ocasiões nas quais não será possível realizar duas
aplicações de manejo, seja por questões de logística da propriedade, seja pelo atraso do início das chuvas ou mesmo pela resistência do produtor em adotar o sistema de manejo antecipado.
Partindo do pressuposto que a decisão tomada privilegiou uma
única aplicação de manejo em áreas-problema, é necessário traçar
novas estratégias eficazes para evitar a interferência negativa da
biomassa sobre a emergência e o desenvolvimento inicial das culturas semeadas.
Devido à natureza sistêmica dos herbicidas tradicionalmente utilizados em manejo (glyphosate e 2,4-D), o efeito sobre as
Glyphosate (AP)
plantas daninhas é lento e a cobertura demora
alguns dias para morrer completamente. Uma das
possibilidades interessantes para acelerar este processo seria a associação destes princípios ativos
com outros de ação mais rápida. Com este objetivo, novos experimentos antecedendo a semeadura da soja foram conduzidos pela Universidade Estadual de Maringá, na safra 2004/2005, no
intuito de estudar opções que viabilizassem tal
possibilidade.
Nestes trabalhos, conduzidos em várias localidades do Brasil pela Universidade Estadual de
Maringá em conjunto com instituições como a
ESUCARV e a Fundação Bahia, ficou evidente que
uma das alternativas viáveis seria a associação de
glyphosate com flumioxazin. Dentre os aspectos
favoráveis desta associação, em comparação com
a utilização de glyphosate isoladamente (Figura 3),
destacam-se a maior velocidade de dessecação da
biomassa presente, estabelecendo melhores condições de emergência para a cultura, a maximização
de controle de espécies consideradas de difícil
manejo 20 DAP,
controle (corda-de-viola, erva-quente, apaga-fogo)
e um efeito residual no controle do primeiro fluxo
de infestação da cultura (Figura 4). A conjunção
destes três fatores permite a emergência no limpo e impede o sombreamento inicial da cultura, além de retardar a instalação da infestação de plantas daninhas.
Como benefícios adicionais, em função da inibição do primeiro fluxo de emergência de plantas daninhas, pode-se conseguir
uma postergação da época de aplicação do controle pós-emergente
nas culturas, o que, no caso de culturas como a soja, por exemplo,
implica no aumento da tolerância da cultura aos herbicidas utilizados. A médio e longo prazos, tal manejo permite prever a redução da
densidade dos bancos de sementes de plantas daninhas presentes
no solo, o que permite supor a maior facilidade no controle das
mesmas. Um outro aspecto interessante é que, dentro do panorama
de intensificação do uso de glyphosate, em virtude das culturas
transgênicas, a utilização de um outro herbicida com mecanismo de
ação distinto pode prevenir ou retardar o aparecimento de biótipos
resistentes de plantas daninhas.
Glyphosate + flumioxazin 50 g (AP)
Figura 3. À esquerda, emergência da soja no tratamento glyphosate (AP) aos sete dias depois do plantio; à direita, emergência da soja no tratamento
glyphosate + flumioxazin 50 g (AP) aos sete dias depois do plantio.
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Glyphosate
Glyphosate + flumioxazin 50 g
Glyphosate + flumioxazin 80 g
Figura 4. Emergência da sementeira de plantas daninhas em sistema AP aos 24 dias após o plantio (época de aplicação do pós-emergente).
Os experimentos demonstraram que, principalmente nos primeiros dez dias após a aplicação da associação glyphosate +
flumioxazin, a velocidade de dessecação da biomassa vegetal foi
aproximadamente o dobro daquela observada nas áreas com glyphosate isoladamente. Este fato permitiu um melhor desenvolvimento inicial da soja, evitando quedas de produtividade mesmo em
áreas onde se realizou o manejo na modalidade AP e que apresentavam grande cobertura vegetal .
Em experimento conduzido na região de Ponta Grossa (PR),
cuja infestação predominante era de Brachiaria plantaginea cobrindo totalmente o solo e com altura por volta de um metro, quando se realizou o AP com glyphosate isoladamente a perda em produtividade na soja foi de quase 12 sacas ha-1. Nesta mesma modalidade de manejo, quando se utilizou glyphosate + flumioxazin também foram observadas perdas, mas num montante de menos de
8 sacas ha-1. Por outro lado, quando a operação de manejo foi realizado três dias antes da semeadura, o glyphosate isolado acarretou
uma perda de 8 sacas ha-1, ao passo que a associação dele com
flumioxazin eliminou as perdas de produtividade. Desta forma,
viabilizou-se uma alternativa para evitar a necessidade de duas
operações de manejo em áreas de alta infestação, sem que haja
prejuízos na produtividade.
Em experimento conduzido em Luis Eduardo Magalhães
(BA), onde a cobertura do solo pelas plantas daninhas era da ordem de 40% a 50%, o AP com glyphosate isolado resultou em perda
de 6,7 sacas ha-1. Com a associação com o flumioxazin, estas perdas
não ocorreram.
Em área experimental estabelecida em Rio Verde (GO), cuja
infestação era predominantemente de Alternanthera tenella (apaga-fogo), o AP com glyphosate resultou em perdas de 12,2 sacas ha-1
e quando o manejo foi realizado três dias antes da semeadura as
perdas foram de 9,9 sacas ha-1. Já para a associação com flumioxazin,
quer seja no AP ou três dias antes, não houve decréscimos de
produtividade.
Em outra área que recebeu o mesmo experimento, com
infestação de Parthenium hysterophorus (losna-branca), em Maringá (PR), os resultados obtidos foram semelhantes aos anteriores. No manejo AP ou na dessecação três dias antes da semeadura, a utilização de glyphosate resultou em perdas de 6,6 sacas ha-1 e
de 7,7 sacas ha-1, respectivamente, ao passo que a associação com
flumioxazin, em ambos os casos, não afetou a produtividade. Na
Figura 5 é possível observar como o sistema de manejo afetou o
desenvolvimento da soja, com desenvolvimento normal nas áreas
onde a dessecação foi acelerada com o flumioxazin e com o estiolamento das plantas nas áreas onde a dessecação foi mais lenta
(glyphosate isoladamente).
GLY
GLY + FMZ 50
GLY + FMZ 80
Figura 5. Efeito de diferentes sistemas de manejo sobre o desenvolvimento da soja, 24 dias após a semeadura: glyphosate isoladamente (à esquerda) e glyphosate + flumioxazin na dose de
50 g ha-1 (centro) e de 80 g ha-1 (à direita).
Comprova-se, desta forma, que o fato de se poder acelerar
a morte da cobertura vegetal constitui um componente muito importante no desenvolvimento e, por conseqüência, na produtividade das culturas semeadas posteriormente. A associação de
glyphosate com flumioxazin demonstrou ser uma opção viável
para a utilização desta proposta de manejo. Com base nos resultados apresentados, conclui-se que, numa condição de aceleração
da morte da cobertura vegetal, torna-se possível a semeadura em
um curto espaço de tempo após a dessecação, evitando-se grandes perdas na produtividade.
LITERATURA
CONSTANTIN, J.; OLIVEIRA JR., R. S.; PAGLIARI, P. H.; COSTA, J. M.;
ARANTES, J. G. Z.; CAVALIERI, S. D.; ALONSO, D. G.; ROSO, A. C. Sistemas de
manejo: efeitos sobre o desenvolvimento da soja e sobre o controle de plantas daninhas.
In: REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL, 27.,
2005, Cornélio Procópio, PR. Resumos... Londrina: Embrapa Soja, 2005a. p. 527-528.
CONSTANTIN, J.; OLIVEIRA JR., R. S.; PAGLIARI, P. H.; DALBOSCO, M.;
ARANTES, J. G. Z.; CAVALIERI, S. D.; ALONSO, D. G. Influência de sistemas de
manejo de plantas daninhas antecedendo o plantio sobre a cultura da soja. In: REUNIÃO
DE PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL, 27., 2005, Cornélio
Procópio, PR. Resumos... Londrina: Embrapa Soja, 2005b. p. 529-530.
OLIVEIRA JR., R. S.; CONSTANTIN, J.; PAGLIARI, P. H.; ARANTES, J. G. Z.;
CAVALIERI, S. D.; ROSO, A. C.; SOARES, R.; HOMEM, L. M. Efeito de dois
sistemas de manejo sobre o desenvolvimento e a produtividade da soja. In: REUNIÃO
DE PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL, 27., 2005, Cornélio
Procópio, PR. Resumos... Londrina: Embrapa Soja, 2005. p. 525-526.
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