SERVIÇO SERVIÇO Saúde Saúde Velha conhecida PAULO STOCKER e sempre ativa Os casos de gripe tendem a aumentar com a chegada do outono A gripe é uma das doenças respiratórias mais comuns entre os homens. Presente em todas as comunidades, atinge anualmente 600 milhões de pessoas no mundo. Ninguém está prontamente imune ao vírus influenza, o responsável pela enfermidade, e o mesmo indivíduo pode ser contaminado duas ou três vezes no mesmo ano, já que as cepas (tipos) de vírus são variadas. A única coisa certa é que a mesma cepa do influenza não contamina um mesmo organismo duas vezes. “De maneira geral, ela atinge indistintamente a todos, mas possui maior repercussão em pacientes com doenças preexistentes”, explica o professor de pneumologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade de São Paulo, Clystenes Odyr Soares Silva. O contágio é freqüente, pois o RNA (ácido ribonucléico), material genético que compõe o vírus, possui uma grande capacidade de mutação. Dessa maneira, as defesas que o corpo criou contra um primeiro ataque podem não ser eficazes para combater infecções posteriores. A pessoa gripada tem obrigatoriamente febre, que pode se estender 36 Revista do Idec | Abril 2005 por vários dias e ultrapassar 38,5°C e, em alguns casos, chegar a 40°C. Além disso, as dores no corpo, a sensação de mal-estar muito intensa e a cabeça levemente zonza comprometem a atividade física e intelectual. Como o influenza não se manifesta apenas na rinofaringe, mas em toda a árvore respiratória e, eventualmente, nos pulmões, seu impacto no corpo é muito maior. COMPLICAÇÕES Por ser uma doença de maior extensão e intensidade, a gripe pode levar a algumas complicações. A mais comum é a pneumonia, mas ocorrem também: otite média aguda, sinusite, laringite, complicações no sistema nervoso e síndrome de Reye (doença rara que envolve danos ao fígado e ao cérebro). Pertencem ao grupo com maior possibilidade de desenvolver complicações: indivíduos acima de 60 anos; com problemas pulmonares, cardíacos e renais; com comprometimento do sistema imunológico e que utilizem medicamentos à base de ácido acetilsalicílico; hirpertensos; diabéticos; crianças entre 6 e 23 meses; e gestantes. Enquanto o período de incubação da gripe varia entre 24 e 72 horas e os sintomas se estendem por até sete dias, a recuperação completa pode levar até duas semanas. As pessoas gripadas precisam de repouso e da ingestão de líquidos para fluidificar as secreções a fim de que estas sejam facilmente expelidas. “Gripe é uma doença autolimitada, o próprio organismo irá pro- Como a gripe acontece? O vírus influenza entra no corpo principalmente através da mucosa — revestimento interno do nariz, da boca e dos olhos — e atinge as células das vias aéreas superiores, reproduzindo-se. Na passagem do vírus pela mucosa nasal ocorre um aumento da produção de secreção (coriza), o primeiro sintoma da gripe. O vírus penetra na célula, libera o RNA, logo transformado em DNA (ácido desoxirribonucléico), e a célula é enganada, pois não interpreta o vírus como corpo estranho. O DNA do vírus se funde com o da célula, fazendo com que ela produza cópias do vírus. duzir anticorpos para combatê-la. Não existe tratamento, e medicamentos sintomáticos são indicados apenas por diminuírem os sintomas”, esclarece o médico. Cada vez mais comum, a vacinação tornou-se uma das principais ferramentas para prevenir a gripe. A cada ano, mais de 150 milhões de pessoas de diversos países recebem uma dose da vacina. No Brasil, o governo federal planeja o início da campanha de 2005 para a segunda quinzena de abril, antes do inverno, para que seja maior o grau de proteção quando vier o período de maior circulação viral. Pessoas acima de 65 anos podem receber a dose gratuitamente em qualquer posto de saúde. As demais pessoas precisam de prescrição médica e só podem ser vacina- das depois do término da campanha. “A vacinação é uma maneira eficaz e segura de prevenção. E deveria ser tomada por todos, para que fosse possível quebrar a carreira da transmissão”, afirma Clystenes. Algumas clínicas particulares também oferecem o serviço. Em três estabelecimentos procurados pelo Idec, os preços pela dose da vacina variaram entre R$ 30,00 e R$ 50,00. quimioterapia, pós-transplantandos, portadores do HIV), trabalhadores de ambientes fechados, grávidas de alto risco (após o primeiro trimestre) e indivíduos internados ou em acompanhamento médico rotineiro. Especialmente para o portador de HIV, a vacinação sempre deve ser indicada pelo médico que o acompanha, já que há situações em que o paciente não pode ser vacinado. A vacina é contra-indicada para pessoas com reações alérgicas gra- ves a proteínas de ovo, que estão presentes na composição do imunizante. A aplicação ainda deve ser evitada em pessoas com doença febril aguda ou em evolução. Embora as reações adversas sejam pouco comuns (a febre pode aparecer cerca de 6 a 24 horas depois da aplicação e reações locais ocorrem em 10% dos indivíduos vacinados), caso haja alguma manifestação importante, é necessário procurar um especialista para obter a orientação adequada. Vacinação A vacina é composta por vírus inativos, que são fracos e não têm forças para desencadear uma infecção. Uma vez no corpo eles estimulam o sistema de defesa, que passa a ativar os macrófagos (células que recolhem microorganismos e seus restos) e anticorpos. Mas um mito precisa ser desfeito: em hipótese alguma a vacina pode provocar a doença. É preciso lembrar que o período de incubação do vírus é de um a três dias, mas são necessários quinze dias para que a vacina comece a fazer efeito. Portanto, há duas explicações para o contágio pós-vacinação: o vírus já estaria incubado na pessoa quando ela recebeu a dose; e o fato de que a vacina imuniza apenas contra as formas de vírus influenza mais freqüentes. No período de duração da vacina (cerca de um ano), a pessoa terá as estruturas necessárias para combater o vírus, que será destruído antes de começar a atuar. Qualquer pessoa pode receber a imunização, mas devem ser vacinados os profissionais de saúde, adultos e crianças com doenças crônicas cardiovasculares e/ou pulmonares, indivíduos acima de 65 anos, indivíduos imunossuprimidos de qualquer natureza (pacientes em Diferenças entre gripe e resfriado Resfriado Gripe Agente causador vários vírus, por ex.: adenovírus vírus influenza Início dos sintomas progressivo súbito Sintomas coriza, congestão nasal calafrios, queda do estado geral, mialgia (dores musculares), dor de garganta, tosse Febre ausente ou baixa normalmente alta Grau de exaustão leve/moderada importante Evolução rápida recuperação 1 a 2 semanas: comumente evolui com tosse no 4o-5o dia, que perdura até por 2 semanas Complicações leves/moderadas severas (ex.: pneumonia) Ocorrência todo o ano sazonal (outono/inverno Fonte: adaptado de National Institute of Allergy and Infectious diseases (www.niaid.nih.gv/publications/cold/sick.htm) Revista do Idec | Abril 2005 37