NÚMERO:
012/2014
DATA:
08/08/2014
signed by Maria da Graça
Maria da Graça Digitally
Gregório de Freitas
DN: c=PT, o=Ministério da Saúde,
ou=Direcção-Geral
da Saúde,
Gregório de cn=Maria da Graça Gregório
de
Freitas
Freitas
Date: 2014.08.11 14:40:57 +01'00'
ASSUNTO:
Doença por vírus Ebola. Procedimentos a adotar pelos Serviços de Saúde.
PALAVRAS-CHAVE:
Vírus; Ebola
PARA:
Sistema Nacional de Saúde (Instituições públicas e privadas)
CONTACTOS:
DGS - Unidade de Apoio à Autoridade de Saúde Nacional e à Gestão de
Emergências em Saúde Pública | [email protected] | Telefone: 300 015 015
INSA (Laboratório) – Unidade de Resposta a Emergências e Biopreparação |
[email protected] | Telefone emergência: 911 000 612
INEM/CODU – Telefone: 800 203 264
Nos termos da alínea a) do nº 2 do artigo 2º do Decreto Regulamentar nº 14/2012, de 26 de
janeiro, emite-se a Orientação seguinte:
1. INTRODUÇÃO
Decorre desde há alguns meses, na África ocidental, um surto de Doença por Vírus Ebola
afetando, até ao momento, Guiné-Conacry, Libéria, Serra Leoa e Nigéria. Até à data foram
reportados cerca de 1700 casos, estimando-se uma taxa de letalidade de 60%. O vírus
identificado é 98% semelhante ao vírus Ebola Zaire, que está associado a elevadas taxas de
letalidade.
Em seres humanos, a evidência obtida a partir de surtos relatados, sugere que a principal via de
transmissão do vírus Ebola é por contacto com:

sangue, secreções, tecidos, órgãos ou líquidos orgânicos de doentes vivos ou cadáveres
ou com animais infetados, vivos ou mortos, ou através da manipulação ou ingestão de
carne de caça (primatas, antílopes e algumas espécies de morcegos);

objetos ou superfícies contaminados com sangue ou outros fluidos orgânicos de pessoas
ou animais infetados, vivos ou mortos.
A transmissão do vírus ocorre apenas com o início dos sintomas. Não há evidência
epidemiológica de transmissão por aerossol deste vírus. Ocasionalmente, constatou-se que pode
ocorrer transmissão através de contactos sexuais não protegidos com homens infetados, até 7
semanas após a cura clínica.
O risco de infeção é considerado muito baixo em visitantes e residentes nos países afetados,
desde que não se verifique exposição direta a pessoas ou animais doentes. No entanto, existe
um risco acrescido para os profissionais de saúde que pode ser minimizado se forem cumpridos
os procedimentos recomendados para prevenção da transmissão da doença.
Não estão interditadas as viagens internacionais para as áreas afetadas mas os cidadãos devem
ponderar viajar apenas em situações essenciais, tendo em atenção o princípio da precaução.
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A Direcção-Geral da Saúde (DGS) continua a acompanhar a situação e adotará as medidas
adequadas de acordo com a avaliação de risco, tendo em conta as características do agente
infecioso e as suas formas de transmissão.
Em Portugal, até ao momento, não foi identificado nenhum caso desta doença.
2. DEFINIÇÕES
Doença por vírus Ebola - Definição de caso e de contacto próximo
2.1 Caso suspeito
É considerado caso suspeito de doença por vírus Ebola um doente que apresente os seguintes
critérios clínicos e epidemiológicos:
Critérios clínicos
1
Critério epidemiológico
E
Febre de início súbito
E
pelo
menos,
sintomas/sinais:







mais
um
dos
seguintes
Mialgias, astenia, cãibras, odinofagia;
Vómitos,
diarreia,
anorexia,
dor
abdominal;
Cefaleias, confusão, prostração;
Conjuntivite, faringe hiperemiada;
Exantema maculo-papular, predominante
no tronco;
Tosse,
dor
torácica,
dificuldade
respiratória e ou dispneia;
Hemorragias.
História recente, nos 21 dias antes do
início dos sintomas, de viagem, escala
ou residência na Guiné-Conacry,
Libéria, Serra Leoa, Nigéria ou noutros
países onde tenham sido reportados
casos suspeitos ou confirmados de
infeção por vírus Ebola.
OU
Contacto
próximo
com
doente
infetado por vírus Ebola, com objetos
ou materiais contaminados ou outras
situações definidas no ponto 2.3.
Em estádios mais avançados da doença pode
ocorrer insuficiência renal e hepática, distúrbios
da coagulação, entre os quais coagulação
intravascular disseminada (CID) e evolução para
falência multiorgânica.
1
Deverão ser ponderados diagnósticos diferenciais, entre outros: malária, shigellose e outras doenças infeciosas entéricas bacterianas, febre
tifóide, febre amarela e outras febres hemorrágicas a flavivírus, leptospirose, hantavírus, hepatite viral, febre reumática, peste, tularémia, tifo
exantemático e mononucleose infeciosa. A confirmação laboratorial de malária (presença de parasitas) ou outra doença não exclui a
presença de infeção por vírus Ebola.
Orientação nº 012/2014 de 08/08/2014
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2.2 Caso Confirmado
Caso suspeito que foi confirmado laboratorialmente.
2.3 Contacto Próximo
Define-se como contacto próximo uma pessoa que:
 Prestou assistência, sem proteção adequada, a doentes com infeção por vírus Ebola;
 Coabitou com doentes infetados por vírus Ebola;
 Teve contacto direto com:
- sangue, secreções, tecidos, órgãos ou líquidos orgânicos de doentes vivos ou cadáveres
ou animais infetados, vivos ou mortos, através da manipulação de carne de caça doente
infetado por vírus Ebola ou com objetos ou superfícies contaminados com sangue ou
outros fluidos orgânicos de pessoas ou animais infetados, vivos ou mortos;
- material ou objetos manuseados por doentes ou dispositivos médicos utilizados no seu
tratamento;
- cadáveres suspeitos de doença por vírus Ebola;
- participação em rituais fúnebres;
 Outras situações.
3. ACTUAÇÃO PERANTE UM CASO SUSPEITO
Os hospitais de referência para a doença por vírus Ebola são:


Hospital de São João (adultos e pediatria)
Hospital Curry Cabral (adultos) e Hospital D. Estefânia (pediatria)
Estes hospitais são ativados em colaboração com os respetivos Conselhos de Administração e
Direções Clínicas.
As grávidas deverão ser encaminhadas para um dos hospitais de referência identificados. Os
respetivos centros hospitalares devem estar preparados para deslocar equipas de obstetras e
neonatalogistas quando necessário.
A existência de um caso suspeito pode ser conhecida pelos serviços de saúde das seguintes
formas:
3.1 Por contacto telefónico
a. Para a linha Saúde 24 (808 24 24 24) ou para o INEM
b. Para um profissional de saúde
3.2 Pela presença do doente num serviço de saúde
Orientação nº 012/2014 de 08/08/2014
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3.1 Contacto telefónico
O profissional de saúde que identifica um “caso suspeito” deverá contactar a DGS através do
telefone 300 015 015, para validação da suspeição.
3.1.1 A DGS procederá à validação do caso em coordenação com o hospital de referência e
eventualmente, com outros profissionais de saúde;
3.1.2 Se o caso não for validado como suspeito fica encerrado para doença por vírus Ebola,
devendo continuar a investigação diagnóstica de acordo com a situação clínica;
3.1.3 Se o caso for validado como suspeito, a DGS contactará o INEM para providenciar o
transporte do doente para o hospital de referência e promoverá a articulação entre o INEM
e o hospital para a receção do doente.
3.1.4 No hospital de referência será feita a recolha de produtos biológicos para diagnóstico, a
enviar ao INSA, de acordo com os procedimentos previstos no ponto 5 – Procedimentos
Laboratoriais.
3.2 Presença do doente num serviço de saúde
Perante a presença de um doente suspeito de doença por vírus Ebola os profissionais de saúde
deverão observar rigorosamente as seguintes regras:
3.2.1 Colocar o doente em isolamento em quarto, se possível com pressão negativa e com casa
de banho reservada ao seu uso exclusivo. Deverá ser limitada a sua mobilidade ao
indispensável. Se a condição clínica permitir, colocar uma máscara cirúrgica ao doente. Os
profissionais de saúde deverão usar Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e cumprir
2
recomendações previstas pela OMS e pelo Grupo de Coordenação Local do Programa de
Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA).
3.2.2 Contactar a DGS através do telefone 300 015 015, para validação do caso:
a) Se o caso não for validado como suspeito fica encerrado para doença por vírus Ebola, devendo
continuar a investigação diagnóstica de acordo com a situação clínica;
b) Se o caso for validado como suspeito podem colocar-se duas situações:
-
O doente está num hospital de referência, onde será feita a recolha de produtos biológicos,
de acordo com os procedimentos previstos no Orientação nº 004/2014 de 28/04/2014 –
Procedimentos Laboratoriais;
-
O doente não se encontra num hospital de referência devendo aplicar-se o procedimento
referido em 3.1.3.
2
http://www.who.int/csr/bioriskreduction/interim_recommendations_filovirus.pdf?ua=1
http://www.who.int/csr/resources/publications/EPR_AM2_E7.pdf?ua=1
Orientação nº 012/2014 de 08/08/2014
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O médico responsável pelo doente deverá preencher a folha de notificação disponível na
Orientação nº 002/2014 de 28/04/2014, que acompanhará as amostras de produtos biológicos
enviados para o INSA para confirmação laboratorial.
Para efeitos de notificação à DGS (notificação obrigatória de doença por vírus Ebola, prevista na
Lei nº 81/2009 de 21 de agosto), uma cópia da folha de notificação deverá ser enviada para
[email protected]. Em alternativa, a notificação poderá ser feita através do SINAVE.
A assistência do doente em meio hospitalar seguirá as orientações estabelecidas sobre medidas
de proteção individual e recolha de amostras biológicas para diagnóstico laboratorial (Orientação
nº003/2014 de 28/04/2014).
4. VIGILÂNCIA DOS CONTACTOS
Após validação do caso suspeito, a DGS contactará, para ativação da vigilância dos contactos
próximos do doente, se aplicável, os Delegados de Saúde Regionais do Continente ou os seus
homólogos das Regiões Autónomas dos Açores ou da Madeira, ou seus congéneres de países em
cuja área de intervenção o doente possa ter permanecido nos 21 dias anteriores ao início dos
sintomas.
Às Autoridades de Saúde competirá identificar os contactos próximos do doente e mantê-los sob
vigilância até que o caso índice seja infirmado ou confirmado, informando posteriormente a DGS
sobre o número de contactos em vigilância através de [email protected].
Se for confirmado o diagnóstico de doença por vírus Ebola no caso índice, os contactos
anteriormente identificados devem ficar sob vigilância ativa, com medição da temperatura duas
vezes por dia, pelo próprio ou familiar, até 21 dias após o último contacto com o doente. Os
valores da temperatura, data e hora da sua medição, devem ser registados.
Não se recomendam restrições à deslocação dos contactos assintomáticos. No entanto, estes
devem ser informados que, se desenvolverem qualquer sintoma, nomeadamente, os referidos
na definição de caso suspeito em 2.1, deverão contactar de imediato a respetiva Autoridade de
Saúde.
Se qualquer das pessoas em vigilância desenvolver febre de início súbito (≥38ºC), a Autoridade de
Saúde deverá contactar a DGS através do telefone 300 015 015 para validação do caso.
5. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
De acordo com a diretiva 2000/54/CE o vírus Ebola é classificado como agente de grupo de risco
4. Os procedimentos indicados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), pelo Centers for
Disease Control and Prevention (CDC) e pelo European Network for Diagnostic of Imported Viral
Diseases (ENIVD), para a manipulação e diagnóstico laboratorial, preconizam a utilização de um
Orientação nº 012/2014 de 08/08/2014
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laboratório preparado para o diagnóstico de febres hemorrágicas virais. As condições de
segurança para a recolha de produtos biológicos estão descritas na Orientação nº004/2014 de
28/04/2014.
6. TRATAMENTO
O tratamento é de suporte, dependendo do quadro clínico do doente.
Não há indicação para quimioprofilaxia nem há vacina disponível.
Links úteis





http://www.who.int/csr/disease/ebola/en/
http://who.int/csr/resources/publications/ebola/ebola-case-definition-contact-en.pdf
http://wwwn.cdc.gov/nndss/script/casedef.aspx?CondYrID=894&DatePub=1/1/2011%2012:
00:00%20AM
http://fas.org/nuke/intro/bw/whoemcdis977E.pdf
http://www.hpa.org.uk/webc/HPAwebFile/HPAweb_C/1194947382005
Fica revogada a Orientação nº 002/2014 de 28/04/2014 exceto os seus anexos que serão
atualizados em breve.
Graça Freitas
Subdiretora-Geral da Saúde
(em substituição do Diretor-Geral da Saúde)
Orientação nº 012/2014 de 08/08/2014
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FLUXOGRAMA DE ATUAÇÃO PERANTE UM CASO SUSPEITO DE DOENÇA POR VÍRUS EBOLA
Doente com critério clínico e epidemiológico
Profissional de Saúde
contacta a Linha de Apoio ao
Médico da DGS (300 015 015)
para validação da suspeição
Garantir o isolamento do
doente no local onde se
encontra
Caso validado
Doente em
ambulatório
OU
em hospital que
não de referência
Caso não validado
DGS ativa
INEM para
transporte
Doente em Hospital
de referência
Encerrado
para Ebola
(procurar outra
causa)
Colheita de produto biológico
(envio de folha de notificação )
INSA
Ebola
positivo
Ebola
negativo
- Cuidados ao doente
- Medidas de controlo da infeção
- Vigilância dos contactos
- Notificação à DGS
Orientação nº 012/2014 de 08/08/2014
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