O COLÉGIO DOS JESUÍTAS DE PARANAGUÁ Janymere Picanço de Silva Andrade Mestra em Educação e Professora do Instituto Superior do Litoral do Paraná 1. A Reforma e a Contra-Reforma Católica; 2. Inácio de Loyola e a Companhia de Jesus; 3. A Educação Jesuítica; 4. A relação entre a catequese e o mercantilismo; 5. Os jesuítas no Brasil e em Paranaguá; 6. O Colégio dos Jesuítas de Paranaguá; 7. Conclusão; 8. Referencial RESUMO A realidade parnanguara, como se apresenta hoje, é resultado de um série de fatores históricos se que iniciaram com a vinda dos primeiros povoadores e que se destaca com o período da permanência jesuítica, representada na construção do Colégio dos Jesuítas, símbolo maior da presença deles em Paranaguá. Numa análise histórica, iniciada na origem da Ordem dos Jesuítas e no perfil de seu fundador, Inácio de Loyola, procura-se explicar a metodologia e didática adotada pelos padres da Companhia de Jesus, fazendo uma relação com os aspectos políticos e econômicos que nortearam sua atuação na Europa, sua vinda ao Brasil e suas atividades em Paranaguá, construindo-se, assim, uma visão crítica sobre a presença desses educadores nesta cidade do litoral paranaense. 1. A Reforma e a Contra-Reforma Faz-se necessário, inicialmente, discorrer sobre o contexto histórico em que está inserida a formação e a atuação da Companhia de Jesus. No mesmo século XVI, em que surgiria tal Ordem, a Europa passava por transformações de cunho sócio-econômico, cultural e religioso. No âmbito religioso, destacou-se a Reforma Religiosa iniciada na Alemanha com Martinho Lutero, professor de Teologia na Universidade de Wittenberg, nascido em 1483. Durante anos num convento e posteriormente como professor de Teologia, Lutero foi aperfeiçoando sua visão a respeito da salvação do homem e do pecado. Lutero era admirador dos escritos de João Huss – herege queimado pela Igreja em 1415 – especialmente de suas idéias sobre a liberdade da igreja diante dos Papas, sobre a liberdade da consciência individual diante do Concílio e sobre a necessidade de reconduzir o mundo cristão à simplicidade apostólica. Termina ele, então, por convencer-se da impotência total e irremediável da vontade humana diante da onipotência da vontade divina. O livre-arbítrio foi corrompido pelo pecado de Adão, e, por isso, somente a fé, que é a primeira das graças que Deus envia gratuitamente àqueles que escolheu, pode salvar-nos. As obras não têm importância para a salvação, elas são simples sinal da graça de Deus. A Igreja apresentava sinais claros de decadência: crise moral, cujo poder e abusos contrastavam com suas pregações , a vida desregrada, a opulência e o luxo do clero, a venda de cargos eclesiásticos, os conflitos em Roma e a venda de relíquias sagradas e de indulgências. Contra as indulgências (venda de perdão dos pecados) lutou Lutero. Em 1517, pregou na porta da catedral de Wittenberg as famosas noventa e cinco teses criticando a vergonhosa atividade da Igreja. A Reforma já se havia iniciado. Em 1520, Leão X publicou a Bula “Exurge Domine”, que condenava quarenta e uma declarações de Lutero e ordenava a queima de suas obras, dando-lhe sessenta dias para ir a Roma desculpar-se. Ele não vai. Em 1521 foi excomungado por intermédio da bula “Decet Romanum Pontificem”. Lutero recebe o apoio dos príncipes alemães, que viam na Reforma a possibilidade de romper com a submissão financeira de Roma e tomar as propriedades da Igreja na Alemanha. Na Inglaterra, o rei Henrique VIII desejando um filho herdeiro, o que não conseguia com Catarina, sua esposa, pede ao Papa a anulação de seu casamento. O papa inicia uma série de manobras adiando ao máximo sua decisão. O parlamento inglês, que queria diminuir a riqueza e o poder eclesiástico, apóia o rei em sua campanha por um herdeiro masculino ao trono. Os bispos ingleses apóiam Henrique VIII contra o Papa Clemente VII e, em 1533, ele se casa com Ana Bolena, que já estava grávida de quatro meses. O Papa declara nulo seu casamento e excomunga o rei. Em novembro de 1534, o parlamento vota os Estatutos do Ato de Supremacia, afirmando a soberania do rei e criando a nova igreja nacional, batizada com o nome de “Eclesia Anglicana” ou Igreja Anglicana. Por volta de 1540, todas as propriedades da Igreja haviam passado para as mãos do rei. Na Suíça, Calvino consegue, a partir de 1541, com o auxílio das autoridades de Genebra, impor uma disciplina moral e religiosa a todos os habitantes da cidade. O rigor da disciplina calvinista pode ser medido pelo número de excomunhões, que subiram de oitenta no quadriênio 1551-4 para cerca de trezentas só no ano de 1559. Um aspecto importante do Calvinismo é a valorização da moral do trabalho e da poupança, que resulta de bem-estar social e econômico, o que poderia ser interpretado como sinal favorável de Deus à salvação do indivíduo. Nesse sentido o calvinismo se associa à ideologia burguesa nascente, dignificadora do trabalho e do hábito de poupar, que aí encontram uma justificativa religiosa. A idéia de predestinação defendida pelo calvinismo está amparada no dogma cristão da onisciência divina – Deus tudo sabe e tudo vê. Sendo assim, Deus sabe, desde sempre, quem vai ser destinado à salvação e quem vai ser destinado à condenação. Era a perda da unidade religiosa, com as divisões do cristianismo. Isso faz com que, no final do de 1535, o papa Paulo III constitua um grupo de conselheiros para estudar a questão da Reforma da Igreja Católica. Após muitos desentendimento entre o Papa , Bispos, reis imperadores, abriu-se a 13 de dezembro de 1545 o “ Décimo Nono Concílio Ecumênico da Igreja Cristã”, na cidade de Trento. O Concílio de Trento reforçou o poder do papa, criou o Index, relação de livros proibidos à leitura do cristão, eliminou a comunhão de ambos os tipos ( pão e vinho ), mantendo apenas a comunhão do pão, conservou os sete sacramentos, reforçou o Tribunal da Inquisição, salientou a importância da missa como sacrifício que renova o de Cristo e afirmou que somente a Igreja poderia interpretar as Escrituras. Essa série de medidas caracterizaram a Contra-Reforma, a reação da Igreja Católica. Ao longo de todo o Concílio teve grande influência nas discussões teológicas um grupo de padres de sólida formação cultural e intensa atividade militante, pertencente à, no momento, recém formada Companhia de Jesus – os Jesuítas - , que já eram o braço direito do papa. A Igreja encontrava-se tão fragilizada que toda a ajuda era bem vinda ao Pontífice. E esta realmente aconteceu: com a Companhia de Jesus, a Igreja Católica ressurgiu fortalecida e disciplinada e sobre alguns aspectos moralizada. 2. Inácio de Loyola e a Companhia de Jesus O ano de 1491 é o do nascimento de Iñigo, décimo terceiro filho de Beltran Yanes de Oñaz Loyola e de D. Marina de Licona y Salda, na Espanha. Nascido num século de transição, Iñigo ou Inácio, viveu nos tempos em que o humanismo desabrochava na Espanha. As grandes navegações estavam em processo de superação dos entraves medievais, o que levaria ao desenvolvimento da economia mercantil e ao fortalecimento da classe burguesa. Inácio de Loyola teve educação assaz mundana e instrução descuidada. A princípio deu-se à vida da corte em Arévalo, vindo, posteriormente, a dedicar-se à carreira das armas sob ordens de Antônio Manrique, duque de Nájera e vice-rei de Navarra, seu parente remoto (ROSA, 1954, p. 15). Em Pamplona transforma-se em escudeiro; fidalgo, membro de uma sociedade guerreira e sendo de uma família de soldados, Inácio tornou-se um homem guerrilheiro. Em 1521, um exército francês, sob o comando de André de Foix, atacou Pamplona e conquistou a cidade em 20 de maio desse ano. Durante a defesa Inácio teve sua perna atingida e quebrada. E como a bala passou de uma perna para outra, ele ficou bastante ferido. Talvez em razão do nome de sua família é poupado pelos vencedores. Depois de atendido precariamente no local é transportado para Azpeitia. Quase não consegue sobreviver. Com os ossos novamente soldados constata-se que um se encavalara sobre o outro. Não havia outro meio senão serrar o osso, escarnando-se cruelmente a perna. Durante a fastigiosa convalescença e repouso forçado, passa o tempo a dedicar-se à leitura e, havendo à sua disposição livros religiosos, lê-os. Segundo Henrique Rosa, sobre este período de sua vida: “Ia-se operando nele maravilhosa transformação. Já não eram as sedutoras visões de damas, disputas, triunfos, amores que lhe fascinavam a fantasia, mas imagens de santos e penitentes, de apóstolos e mártires...” (ROSA, 1954, p. 17). No dia 24 de março de 1522, ocorre a cerimônia, mais de acordo com os costumes da época, pela qual ele se despe, diante do altar da Virgem, de todos seus tributos feudais – pendura as armas que lhe restam e ora a noite toda. Estava pronto para a viagem rumo a Jerusalém. Decide, então, que a primeira escala seria Barcelona. Todavia, antes, destina-se a Manresa onde resolveu abrigar-se num hospital para cuidar da perna que inchara na viagem desde Azpeitia. A, de início, simples escala em Manresa, torna-se nos onze meses que ali esteve uma etapa de sua aventura espiritual, a qual os estudiosos sobre a biografia de Inácio chamam de “sua revolução interior”, cujo fruto são seus famosos “Exercícios Espirituais”, sua grande obra, utilizada quatro séculos depois. O fim deste pequeno livro é explicado pelas anotações que o seguem, quase à guisa do prefácio: “Exercícios Espirituais para que o homem vença a si mesmo e ordene a sua vida sem determinar-se por afeições que sejam desregradas.” (ROSA, 1954, p. 115). O conteúdo dos Exercícios Espirituais enaltece a transformação pessoal vivida por Inácio servindo, até mesmo, como uma justificativa a mudança que o levou de homem pecador a fiel pregador. Loyola considera-os como sendo a revelação do Senhor ao seus Profetas. O livro dos Exercícios, efetivamente, não foi escrito todo de uma vez, mas esboçado parte a parte, por meio de notas e apontamentos, segundo a experiência e a inspiração de Inácio. (LACOUTURE, 1994, p. 32) Era o ano de 1538 quando Inácio e nove companheiros são recebidos pelo Papa Paulo III para serem submetidos publicamente a um exame de doutrina. A aprovação em tal exame garante-lhes pelo Papa a faculdade de pregar e confessar pelo mundo sem necessitar recorrer aos Bispos locais. O grupo, então, em novembro desse ano, decide por colocar-se à disposição da vontade papal: “ (...) nos oferecemos ao Pontífice Supremo, enquanto senhor da messe universal de Cristo, e, neste oferecimento, significamo-lhe que estávamos prontos a tudo que resolvesse fazer de nós em Cristo. ” (RAVIER, 1982, p. 24). Em Roma, Inácio de Loyola, assim como também seus companheiros, envolvem-se em diversas tarefas de instrução e catequese. Logo começam a ser requisitados. Carlos V os quer para as Índias espanholas; D. João III deseja enviálos às Índias portuguesas; os bispos e os príncipes do norte da Itália os solicitam a seus domínios; o arcebispo de Sena os quer para a reforma de um mosteiro; o cardeal de Parma e Placência necessita deles para efetuar uma reforma nos costumes das cidades (ROSA, 1954, p. 114). Muito embora todos os primeiros companheiros de Inácio fossem formados na Universidade de Paris, a finalidade original da Companhia não incluía instituição educacionais. Conforme a Fórmula apresentada ao Papa Paulo III para sua aprovação, a Companhia de Jesus foi fundada para dedicar-se ao proveito: “...das almas na vida e na doutrina cristãs, e para a propagação da fé, por meio das pregações públicas, do ministério da palavra de Deus, dos Exercícios Espirituais e obras de caridade, e concretamente pela formação cristã das crianças e dos ignorantes, bem como por meio de confissões, buscando principalmente a consolação espiritual dos fiéis” (RAHNER, s/d, p. 78). Logo se tornam evidentes os resultados que se poderia obter através da educação da juventude e não passou muito tempo sem que os jesuítas se dedicassem a esse trabalho. Dessa forma, o continente americano, o Novo Mundo, foi um dos lugares de intensa missão jesuítica. 3. A educação jesuítica Consta no primeiro plano educacional elaborado por Nóbrega o desejo de catequizar e instruir os indígenas como estabeleciam os “Regimentos”. Nota-se também a intenção de inclusão dos filhos dos colonos, visto que naquele momento os jesuítas são os únicos educadores existentes na Colônia. O plano de estudos foi estabelecido de maneira diversificada, visando atender às diferenças de interesses entre índios e brancos. Iniciava-se com o ensino do português, doutrina cristã, leitura e escrita, depois fazia-se a opção pelo ensino de canto e música instrumental, havendo uma separação entre o aprendizado sacerdotal e agrícola. Observa-se que havia a intenção de direcionar o ensino agrícola à população indígena e instrução sacerdotal à população branca, pois logo se perceberia a não adaptação do Índio às atividades católicas sacerdotais e esse fato influencia na proposta de um ensino agrícola aos indígenas, necessário para manter em funcionamento atividades fundamentais à vida da Colônia. A partir de 1556, quando começaram a vigorar as "Constituições" da Companhia de Jesus, Nóbrega entra em choque com a orientação da Ordem Religiosa, pois no período de 1570 a 1579, as etapas iniciais - canto, música instrumental, profissional e agrícola - são excluídas. A orientação proposta no "Ratio" (organização de plano de estudos da Companhia de Jesus, publicado em 1599) está centrado nos elementos da cultura européia - curso de Humanidades, de Filosofia e de Teologia. Torna-se claro desta forma a falta de interesse em instruir o Índio. O plano legítimo - instruir e catequizar o Índio - e o plano real divergem. Os indígenas serão simplesmente catequizados. Os filhos dos colonizadores serão instruídos. Maria Elizabete Sampaio Prado Xavier, afirma que os jesuítas teriam vindo ao Brasil para dar “... suporte espiritual necessário para os ´civilizados` súditos da Coroa portuguesa”. (XAVIER, 1994, p. 32) A catequese interessa à Companhia na medida em que arrebanha novos adeptos ao Catolicismo, enfraquecido com a Reforma. No aspecto econômico torna o Índio mais submisso e, assim, mais fácil de ser aproveitado como mão-de-obra. Os autos teatrais montados pelos jesuítas tiveram um fim pedagógico e missionário, visando converter pelo caminho da dramaticidade e da emoção. Já os sermões foram, para a pregação jesuíta, o que foram os autos para a catequese. A Companhia de Jesus torna-se a Ordem dominante no terreno educacional. Seus colégios passam a ser procurados mesmo por aqueles que não têm a intenção de tornarem-se sacerdotes, porém reconheciam que esses colégios eram a única forma de preparo intelectual. A formação intelectual oferecida pelos jesuítas à nata intelectual, será caracterizada por uma severa rigidez na forma de pensar e de analisar a realidade. Os jesuítas se mostram competentes no sentido de converter seus alunos ao Catolicismo e afastá-los das influências danosas. Dedicaram rigorosa atenção ao preparo dos Professores e exerceram grande controle no que diz respeito às questões que seriam tratadas por estes. Os Cursos Superiores (Filosofia e Teologia) subordinados ao "Escolasticismo", faziam com que os religiosos intelectuais, de uma forma geral, afastassem-se de outras correntes religiosas, como também do espírito científico emergente que alcançava durante o Século XVII uma etapa importante. Isso porque procurava um novo método de conhecimento, que tem sua origem no reconhecimento dos limites do método escolástico medieval, empregado pelos jesuítas (XAVIER, 1994, p. 32). Este isolacionismo, resultado dessa orientação educacional e do fato da Colônia estar subordinada à Metrópole também intelectualmente, teve sérias conseqüências, visto que a Metrópole achava-se afastada das influências modernas. A formação da elite colonial dentro desse modelo, adapta-se totalmente à política colonial, pois a orientação jesuítica baseava-se na literatura antiga e na língua latina, havendo necessidade de complementação de estudos na Metrópole, além de privilegiar o trabalho intelectual em prejuízo do manual. Criava-se a idéia de que o mundo civilizado estava na Europa e servia de referência a ser seguida. Os filhos da elite dominante que possuíam condições de terminar seus estudos na universidades européias o faziam, o que contribuía para manter a dominação externa ao invés de superá-la. Era a elite que apoiava e desejava a presença jesuítica a fim de educar seus filhos. Os estabelecimentos dos jesuítas seguiam normas, que vieram a ser sistematizadas na "Ratio Studiorum" de 1599. Previa-se assim, um currículo único para os estudos escolares, dividido em dois graus: Studia Inferiora, correspondente ao atual ensino secundário, e os "Studia Superiora", estudos universitários. A pedagogia da Ratio Studiorum baseava-se na unidade do Professor, na unidade do Método e na unidade da Matéria. Era, então, o mesmo Professor do início ao fim da Matéria utilizando um Método de explorar ao máximo o pensamento de poucos autores, entre os quais destacam-se Aristóteles e Tomás de Aquino. “Para quem, pela primeira vez, se põe em rápido contato com o Ratio, a impressão espontânea é quase a de uma decepção. Em vez de um tratado bem sistematizado de pedagogia, depara com uma coleção de regras positivas e uma série de prescrições práticas e minuciosas” (FRANCA, 1952, p. 27) Assim, o ensino se transforma em fator de conformismo intelectual perante à ciência, à igreja e ao poder dos europeus. Porém, a educação nos colégios jesuítas, apresentava-se "fechada" à análise crítica. A fé tornara-se parâmetro do humanismo jesuítico, na época, baseado na concepção tomista: o primado de Deus, e da autoridade; a razão submissa da fé, a filosofia sob o controle da teologia. 4. A relação entre a catequese e o mercantilismo No período colonial a educação brasileira ocorre em função da colonização portuguesa. O Regimento era a nova política ditada por D. João III e, dentre os seus objetivos, previa-se, por meio da catequese e da instrução, a conversão dos indígenas ao catolicismo. Nota-se que a organização escolar do Brasil Colônia esteve fortemente ligada à política colonizadora dos portugueses. O sistema colonial compunha-se de dois pontos principais: a Metrópole, centro das tomadas de decisões, e a Colônia, dependente, o que levava à necessidade da dinamização da vida metropolitana pela exploração da Colônia. Este tipo de exploração se faz necessária para estimular a transição do capitalismo industrial. “As regiões conquistadas pelo colonialismo mercantilista são as regiões da natureza. A metrópole é a sede da civilização. E apesar da heterogeneidade e da distância, há a possibilidade de um relacionamento. E o melhor relacionamento é a troca. A cristandade dá a civilização e os gentios dão a natureza”. (NEVES, 1978, p. 42) Portugal, entretanto, apesar de haver conseguido dinamizar sua economia não passou à segunda etapa. Favorecido por vários fatores como centralização política, burguesia forte, localização geográfica favorável, etc., torna-se pioneiro na expansão marítima. A tomada de posse do território brasileiro e sua colonização estão inseridos neste contexto. O objetivo da colonização era obter lucro para a Metrópole; a função da população colonial era gerar tais lucros. Porém eficaz funcionamento desse sistema, os lucros não poderiam se direcionar somente aos grupos externos. Pequena parte deveria permanecer na Colônia, com o grupo responsável internamente pela atividade produtiva. Isso garantia à metrópole duplo lucro: na compra e na venda, visto que esta dispunha da exclusividade da oferta. Os riscos desta tarefa – produção – tornam necessária a escravidão de quem trabalhasse na terra: os negros e os índios. O primeiro grupo de jesuítas chegou ao Brasil em 1549. Os jesuítas que para cá vieram procuraram atingir seu objetivo missionário, ao mesmo tempo que se avalia a política colonizadora do rei de Portugal. A intenção era clara: seria mais fácil dominar o índio, tomando suas terras, se os portugueses se apresentassem em nome de Deus, respaldados pela Igreja. Assim, a Igreja e a monarquia se uniram na conquista da América para alcançar de forma mais eficaz os seus objetivos: a monarquia favorecia o trabalho missionário da Igreja e esta, convertendo os índios à religião católica, facilitava o trabalho colonizador da Coroa Portuguesa. Além disso, deve-se lembrar que os jesuítas surgiram no contexto da ContraReforma na Europa e, sendo assim, deveriam lutar contra a difusão dos ideais do protestantismo no Novo Mundo. “Havia de se doutrinar as suas elites condutoras para manter cativa a alma da Colônia. Os ventos reformistas sopravam de todos os lados, e era preciso manter-se em guarda e ocupar os espaços estratégicos para garantir a vitória, ou seja, a posse espiritual desta parte do Novo Mundo, já que tanto se havia perdido no Velho Mundo” (XAVIER, 1994, p. 46). Os jesuítas dedicavam-se a duas atividades principais: pregar a fé católica (e com isso abrir caminho aos colonizadores) e ao trabalho de ensinar (ao mesmo tempo que ensinarem a escrever, ensinavam a doutrina católica e os costumes europeus). Os jesuítas recebiam da Coroa subsídios para a fundação de colégios e missões. Desta maneira, tinham a obrigação de formar sacerdotes para a catequese. As “Constituições” jesuíticas, no que se referiam à administração dos bens materiais, mostram como esta função entre governo português e jesuítas foi guiada em benefício, principalmente, destes últimos, pois os bens eram conseguidos com a aplicação de recursos do “Padrão de Redízima” colocado em execução a partir de 10% da arrecadação de todos os impostos reais de todas as capitanias da Colônia e seus povoados ficavam definitivamente ligados à manutenção e sustento dos colégios jesuíticos. É bem verdade que o aparelho repressivo da Metrópole portuguesa no Brasil tinha como base o exército e a marinha destinados a resguardar a exclusividade da exploração diante da ameaça das potências colonizadoras rivais. No entanto, a atuação jesuítica também consiste em instrumento compreendido neste contexto colonizador. 5. Os jesuítas no Brasil e em Paranaguá De 1549 a 1605 foram encaminhados ao Brasil cerca de 169 religiosos. Em 56 anos de atividade, os jesuítas já se achavam estabelecidos por todo o litoral brasileiro e nesse período de expansão, além de terem contribuído para a edificação das cidades de Salvador e Rio de Janeiro, fundaram a cidade de São Paulo, no planalto de Piratininga, no interior da capitania de São Vicente. Um ano após a chegada dos jesuítas no Brasil, já haviam se estabelecido alguns padres em São Vicente. Nesse período o padre Leonardo Nunes encontrou no planalto, brancos e mamelucos que há anos iam ao litoral, sem ouvir missa e sem se confessar. Eles viviam à margem do Piratininga. Em 1553, os jesuítas, reunidos em assembléias, deliberavam sobre a importância de reunir seus pupilos numa só aldeia. Por serem poucos os padres poderiam mais facilmente catequizar os índios juntando-os no mesmo local. Assim, separaram-se para procurar o local adequado; dois meses depois, atravessando a Serra do Mar, encontra-se o planalto de Piratininga. No dia 25 de janeiro é celebrada a primeira missa pelo padre Manuel de Paiva com a presença de José de Anchieta (BASBAUN, 1968, p. 57). A construção inicial do edifício tinha quatorze passos de cumprimento e dez de largura. Ao mesmo tempo servia de refeitório, dormitório, cozinha, despensa, enfermaria e escola. O nome dado à nova povoação homenageava São Paulo, o santo que deixara de ser um perseguidor de cristãos, ao perder a visão, e passara a ser um apóstolo, quando a recuperara e cuja data de conversão se comemorava naquele dia. Logo depois se iniciou a construção do primeiro edifício que seria a casa dos jesuítas, o colégio e a igreja. Durante oitenta e quatro anos o colégio realizou as mais importantes atividades educacionais e religiosas da Vila de Piratininga. De 1652 a 1661 destaca-se a figura missionária e eloqüente do Padre Antônio Vieira no Grão Pará, Maranhão e Amazônia. De 1681 a1697 passa seus últimos anos na Bahia, na Comunidade do Colégio, trabalhando em suas obras. Por três anos ocupa o cargo de Visitador Geral do Brasil e do Maranhão. A presença dos jesuítas no Brasil inseria-se na política portuguesa aplicada ao Brasil-Colônia. Os objetivos da Metrópole: “...consistiam em extrair o máximo de que precisava sem dar nada, pois nada tinha para dar, a não ser suas extensões de terra praticamente ilimitadas, mas que nada valiam pela impossibilidade de serem exploradas” (BASBAUN, 1968, p. 58). No que diz respeito à colonização: “..organizava-se no sentido de promover a primitiva acumulação capitalista nos quadros da economia européia ou, noutros termos, estipular o progresso burguês nos quadros da sociedade ocidental. É esse sentido profundo que articula todas as peças do sistema: assim, em primeiro lugar, o regime do comércio se desenvolve nos quadros do exclusivo metropolitano” (PAIVA, 1982, p. 30) A vinda dos jesuítas para o Brasil e a atividade por eles aqui desenvolvida está relacionada com a função da colônia no contexto do Pacto Colonial enquanto característica da política mercantilista. Eram os jesuítas, assim, homens cumprindo a tarefa estabelecida pela sociedade, segundo seus moldes. “Não se trata de ser pró ou contra os jesuítas, mas de entender os móveis da colonização e sua efetivação histórica. Não há lugar, por exemplo, para uma questão como ´honestidade` dos jesuítas face aos objetivos específicos de sua missão evangelizadora.” (PAIVA, 1982, p. 25). Nos colégios jesuítas do Brasil havia quatro graus de ensino, sucessivos e propedêuticos: Curso Elementar - com duração não definida onde acontecia o ensino das primeiras letras e da doutrina religiosa Católica; Curso de Humanidades com dois anos de duração onde se ensinava da gramática, da retórica e das humanidades, utilizando-se o Latim; Curso de Artes, Ciências ou Filosofia - com duração de três anos, onde se ensinava lógica, física, matemática, ética e metafísica com ênfase ao autor Aristóteles; e, Curso de Teologia - com quatro anos de duração, conferia o grau de Doutor, estudando-se Teologia Moral e Teologia Especulativa como matérias básicas. Os colégios de jesuítas eram em número de dezessete na época do Brasil Colônia e seus cursos funcionavam para estudantes externos e em seminários para estudantes internos. Os colégios dos jesuítas tinham padrões disciplinares que chegaram a ter "aplicações" militares. Seus alunos não eram soldados, mas em momentos de defesa contra os holandeses eram solicitados devido a sua organização e obediência. Os cursos de artes do Brasil-Colônia reproduziam os rituais das universidades européias. Embora os estudos do Colégio da Bahia fossem idênticos aos do Colégio dirigido pelos jesuítas na cidade de Évora, em Portugal, o grau conferido por aquele não tinha o "valor" deste último. Com o curso da Bahia os graduados eram obrigados a repetir o curso em Coimbra. No Século XVII, iniciou-se o processo de reivindicação para haver os mesmos privilégios no Colégio da Bahia. A preocupação dos filhos da terra era prevalecerem nos cargos mais vistosos dela, ou nos postos mais eminentes do ensino. Em 1689, o Estado, conferiu o Estatuto Civil aos Colégios Jesuítas do Brasil, eliminando a necessidade de exames de "equivalência" para os graduados que quisessem freqüentar as Universidades Européias. Embora os outros colégios prosperassem, o da Bahia, até a expulsão dos jesuítas em 1759, apresentou inovações inéditas, entre elas uma disciplina de Matemática do Século XVIII. O Colégio do Rio de Janeiro ofereceu o curso de Filosofia em 1638. O Colégio de Olinda iniciou cursos superiores em 1687. A rivalidade entre os comerciantes da região provocou o desdobramento de colégios. Há registro de um curso superior em Recife no ano de 1721. No Maranhão, curso de Teologia em 1688. No Pará, curso de Artes em 1695, funcionando de modo complementar no Colégio do Maranhão. No período colonial teve grande influência, em parte da elite, a Universidade de Coimbra que era convencional, conformista e subordinada ao Rei, fato coincidente com o surgimento do absolutismo na Idade Moderna. Assim, o ensino se transforma em fator de conformismo intelectual perante à ciência, à igreja e ao poder dos europeus. Porém, a educação nos colégios jesuítas, apresentava-se "fechada" à análise crítica. A fé tornara-se parâmetro do humanismo jesuítico, na época, baseado na concepção tomista: o primado de Deus, e da autoridade; a razão submissa da fé, a filosofia sob o controle da teologia. Porém, apenas em 1699 a Companhia de Jesus atendeu as representações da Câmara Municipal, enviando alguns Jesuítas à Paranaguá. Aquela, por ocasião da chegada destes, entregou-lhes seis escrituras para seus estabelecimentos na Vila. 6. O Colégio dos Jesuítas de Paranaguá Enquanto a Câmara ainda não alcançava de sua majestade licença para a fundação de seu Colégio e Seminário, onde os moradores abastastados pudessem criar seus filhos com a doutrina da mesma Companhia, convocaram-se várias vezes os interessados para saber com quanto queriam contribuir cada um para a dita fundação e sustentação dos religiosos; o que tudo consta do termo que no livro de Vereanças desta Vila, folhas 85, está lançado em 2 de maio de 1707 e de cinco escrituras de obrigações que em nome de todo o povo fizeram os Oficiais da Câmara. Para a construção da Igreja foram dados cerca de sete mil cruzados; para a edificação da Casa Residência, dois currais e quatrocentas cabeças de gado. Enquanto não terminadas as obras, a população fez o sustento dos Padres. No ano de 1708, aos 14 de maio, a "Casa" dos Jesuítas, com a chegada dos Padres Antônio da Cruz e Tomás de Aquino, foi, enfim, fundada. Essa data marcou a fundação da "Casa Escolar", mesmo antes de ficar pronto o monumento principal, o Colégio dos Jesuítas (SANTOS, 1952, p. 204). Em 1714, aos 17 de julho, escrevia a Câmara novamente ao Padre Geral, já temerosa que não se conseguisse o Colégio e dizendo que, se isso acontecesse, ao menos não se tirasse a Residência. Essa carta foi assinada por André Benedito, Manuel Pacheco de Amorim, Francisco Dias Veloso, André Gomes Malquer e André Machado Pereira. Novamente se dirigia a Câmara ao Provincial pedindo a fundação, agora aos 5 de outubro de 1722. A resposta do Padre Provincial Manoel Dias, conforme Serafim Leite, deu-se da seguinte forma: "Muitos nobres Senhores do Senado da Câmara de Paranaguá: Pelas boas informações, que me haviam dado os Padres Antônio da Cruz e Manuel Amaro e os mais que aí assistiram e por essas Vilas andaram em Missão, estava eu já no conhecimento de quão proveitosa e necessária para o serviço de Deus e do próximo era a fundação do Colégio da Companhia nessa Vila de Paranaguá entre todas a maior e principal. Para mais me persuadir, ajudaram também muito as boas informações que aqui me deu os dias passados o Desembargador Ouvidor Geral de São Paulo e de todas essas partes, Rafael Pires Pardinho, e as grandes instãncias que me fez, protestando da parte de Deus e de El-Rei, para que de nenhum modo deixássemos de abraçar essa fundação, de que sem dúvida Deus e El-Rei seriam bem servidos, pelo grande proveito espiritual que com seus olhos tinha visto resultava da assistência dos Padres a todos esses povos, que quanto mais remotos necessitavam mais de operários apostólicos; acrescentando que não somente havia de dar calor a essa fundação, senão também havia de requerer e suplicar a El-Rei Nosso Senhor não permitisse que faltasse aí a assistência dos Padres. (...) E porque isto não pareça oferecimento "mere" político, por esta mesma (que junta uma cópia da de Vossas Mercês, me pareceu fazê-la presente a El-Rei nosso senhor) peço eficazmente a meu Reverendíssimo Padre Geral seja servido a aceitar-me a renúncia deste cargo, de que me conheço ser indigno, e me conceda ir para essa Missão, aonde no serviço de Deus farei quanto puder e o Superior dela me mandar, especialmente nas doutrinas e no ensinar os princípios de latinidade aos meninos, que sem dúvida será para mim ofício de mais gosto, por ser de menos encargos de consciência, do que este provincial. Deus disponha o que for de seu maior serviço, e com sua graça dê muita vida e saúde a Vossas Mercês e lhes cumpra os seus desejos. Colégio do Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1722. De Vossas Mercês, humilde servo de Deus, Manuel Dias." (LEITE, 1938, p. 452) Vê-se que as informações contidas na Carta do Provincial não eram perfeitamente concordes com as do Ouvidor Pardinho. O Provincial continuou a manter os Padres retirados de Paranaguá, ocupando-os entretanto em missões nas vilas e povoações intermediárias, sendo um deles o Padre João Gomes. Apesar de sempre estar concorde, adiou por anos a autorização almejada. Observa-se que a opulenta classe paranagüense dedicava-se em sua empreitada rumo à construção do Colégio. Em 1736, o Ouvidor de Paranaguá, e o Conde de Sarzedas, que era Governador de São Paulo, comunicaram ao Rei da intenção quanto à fundação. A solução se deu aos 25 de setembro de 1738, quando da resposta tão esperada - o Alvará da fundação. Quase trinta anos depois da proibição pelo Ouvidor de São Paulo, a licença é finalmente concedida por D. João V. Nesse período de espera (1709 - 1738), que se deu devido a tantos impasses burocráticos, os Jesuítas continuavam a ministrar suas aulas e a população pedira e fora atendida que além do Externato, criasse-se um Internato. Em 1740 teve início, de fato, a construção do edifício do Colégio dos Jesuítas. O Colégio, ainda hoje, possui três pavimentos com longos corredores da reclusão, abertas em arcadas de pedras para um pátio interno. Algumas paredes chegam a possuir mais de um metro de espessura. O Colégio foi erguido a 10 de dezembro de 1752 e a transferência para ele se deu dois anos depois . Só no dia 19 de março de 1755 é que se inaugura o Colégio com missa solene e festas na Vila. A estada dos Jesuítas no Colégio apresentou grande organização e notória evolução econômica. Mas seria curta, pois em 1759, como sabe-se, eles seriam expulsos do Brasil e, conseqüentemente, de Paranaguá. Mesmo assim serviu para a divulgação e propagação da doutrina cristã e dos sacramentos perante a juventude opulenta da época. A fonte de informações mais completa no que diz respeito as aspectos do espaço físico do Colégio dos Jesuítas encontra-se nas obras de Antonio Vieira dos Santos. Em documento histórico, descreve a construção da seguinte forma: "Este magestozo ediffício do lado do mar representa num grande apparáto, composto de dois sobrados no corpo do convento, com sua Igreja anexa; e toda feita de pedra de cantaria primorosamente lavrada no frontispício das Igreja em frisos, cordões, meias cannas e outros louvores principalmente no nicho do meio onde pretendiaão collocar Stº Ignácio de Loyola e sua Associação ao lado do qual estão duas grandes janelas para darem a Igreja a competente claridade, seus portões umbreiras, até mesmo a própria cimalha do ramito do ediffício he de cantária. Este consta de 4 divisões 1.º o do pizo do Convento 2.º o do primeiro Sobrado 3.º o do segundo Sobrado 4.º a Igreja e a Capella Mor 3 salões grandes 11 quartos 8 corredores sendo dois do Claustro 6 Dormitórios 27 Portas para comunicações interiores e exteriores 51 janelas de peitoril 2 Frestras para dar claridade 6 Escadórios 20 Arcadas de abobadas para suster o pavimento do primeiro Sóbrado 11 Salas utilizadas como Armazens” (SANTOS, 1952, p.206) As construções jesuítas apresentavam característcas medievais seguindo: “...o programa construtivo de ´quadra´, com a formação de pátio ou pátios, características dos mosteiros medievais, porém sem o caráter de isolamento destes” (COSTA, 1987, p. 27). A professora Regina Sueli Timi, em trabalho sobre o Convento dos Jesuítas de Paranaguá, até o momento não publicado, afirma: “...Este programa foi utilizado, por exemplo, na construção dos colégios da Bahia, Belém, Olinda, Espírito Santo e Rio de Janeiro, mas diferente destes, o de Paranaguá tem aspecto sombrio e pesado de praça-forte. O sistema construtivo adotado pelos jesuítas fundamenta-se geralmente na mesma técnica, diferenciando-se nas localidades onde matéria prima para construição não era encontrada, o que se pode dizer é que este sistema baseia-se na ´justa posição de alvenarias de pedras argamassa com barro e óleo de baleia – que sustentam as estruturas de madeira dos pisos e telhados, além da cobertura em telha de barro” (TIMI, 1995, p. 9) Segundo Vieira dos Santos: “(...) a cal utilizada no litoral do Paraná e em Paranaguá era oriunda dos sambaquis encontrados na região (SANTOS, 1952, p.51) Desta forma, a cal utilizada pelos padres jesuítas, provavelmente, teria a mesma origem. O estilo arquitetônico da Companhia no Brasil é marcada pelo sobriedade. Apresenta, porém, riqueza de detalhes, como se percebe na descrição da Igreja de Paranaguá: “Toda feita de pedra calcária primorzamente lavrada, no frontispício da igreja em frizos, cordões, meias cannas, e outros lavores, principalmente no nicho, onde pretendião collocar santo Ignácio de Loyola; ... ao lado da qual estão duas grandes janelas, seus portaes, umbreiras, mesma a prórpia çimallha edifficio, he de cataria.” (SANTOS, 1952, p. 193) “O corpo da igreja tem 78 palmos de comprimento desde a porta principal e o arco da Capella Mor, até o fim as paredes do edifficio do lado do mar tem 49 palmos e outro tanto de largura, comprehendendo neste grande Sallão o que antigamente era a Capella Mor, e Sachristia... nelle ha três janellas de peitoril que olhão p.a do Lado mar, e duas mais para o lado do Sul. O antigo arco da Capella Môr foi tapádo e nelle collocarão hua porta com o servéntia para o côrpo da Igreja, que ao prezénte se acha descoberto ...” (SANTOS, 1952, p.16) As medidas adotas por Vieira dos Santos para definir o corpo (78 palmos) e a largura das paredes da Igreja (49 palmos) equivalem, respectivamente, a 17,16 metros e 10,78 metros. No seu interior havia um altar-mor e um colateral. O altarmor, que foi concluído, recebeu decoração com ornamentos artísticos. Em relação ao altar colateral, as fontes históricas trazem pouquíssima informação. A arte jesuítica apresentava diferentes formas, pois adaptou-se aos recursos e conveniências locais e às caracterísitcas próprias de estilo de cada período, conforme lembra a professora Regina Timi (TIMI, 1995, p. 9). O estilo barroco, presente no Colégio dos Jesuítas de Paranaguá, foi predominante nas igrejas coloniais. Deve-se enquadrar a arte colonial presente na arquitetura jesuítica à transformação sofrida pela cultura brasileira como reflexo do sistema colonial português. Luiz Roberto Lopez bem define esta situação: “...a arte colonial brasileira resultou... do sistema de dominação portuguesa, visando assegurar os benefícios da política mercantilista e monopolista. Em suma, O Barroco foi a ideologia colonialista, clerical e absolutista transformada em ouro, volutas, espirituais, virgens coroadas, anjinhos flutuantes e sorridentes” (LOPEZ, 1994, 38) A arte barroca que inspirou a arquitetura do Colégio de Paranaguá: “...em decorrência da, até então, união Igreja/Estado,... teve o objetivo de reforçar plasticamente o discurso,... que conclamava toda uma população ao conformismo e obediência perante as estruturas” (TIMI, 1999, p.10) Além da intenção de induzir o crente ao êxtase celestial, como se o paraíso estivesse sendo recriado no interior do templo, os jesuítas utilizavam-se da iconografia como estratégia para atrair fiéis. O estilo barroco das imagens que se encontravam na Igreja do Colégio foi usado para desviar a idolatria dos crentes. As plantas do projeto original do Colégio até o momento não foram localizadas. O que se possui são projetos elaborados posteriormente à construção do prédio. O Colégio, entretanto, teve destinações diversas nos anos posteriores à expulsão dos jesuítas do Brasil. Vale lembrar, inicialmente, que a expulsão dos Jesuítas, providenciada pelo poderoso Ministro de Portugal e déspota esclarecido, Marquês de Pombal, teve como motivo principal o fato de a Companhia de Jesus ser detentora de um poder econômico, que deveria ser devolvido ao Governo. Além disso, os Jesuítas eram acusados de participação de uma conspiração, ao lado dos nobres, contra o Rei, que dificultava as tentativas de demarcação do território a nordeste do Rio Grande do Sul (Sete Povos das Missões) por ocasião da "Guerra Guaranítica", revolta dos indígenas contra as forças luso-castelhanas. A Carta Régia de 4 de julho de 1759 ordenou a expulsão dos padres, confiscando-lhe os bens. A expulsão dos jesuítas acabou por desmontar o sistema de ensino da colônia. Essa reforma pombalina, que em Portugal gerava um sistema moderna de educação, acabava por não trazer os mesmos benefícios ao Brasil. “Enquanto em Portugal isso fazia parte de um projeto de reconstrução cultural e acabou desembocando na criação de um sistema público de ensino, mais moderno e mais popular, entre nós foi a supressão pura e simples do sistema que havia. Nenhuma reforma cultural, nenhuma reforma educacional; parece que a sociedade brasileira tinha mais com que se preocupar e se ocupar. De fato, a Reforma Pombalina expressa uma reação da Coroa portuguesa à lenta agonia por que passava a sociedade lusitana, em processo de decadência, empobrecimento e perda da própria soberania” (XAVIER, 1994, p. 49). A situação do Colégio de Paranaguá era próspera, e suas dependências, quando o Desembargador Serafim dos Anjos Pacheco de Abreu, Professor da Ordem de Cristo, Juiz da Coroa, Fazenda e Fisco Real da relação do Rio de Janeiro, recebeu a incumbência de confiscar os bens dos Jesuítas na Comarca de Paranaguá. Foi em 1760 que esse magistrado, acompanhado de Manoel Pinto Moreira, escrivão, deu desempenho à sua comissão. Depois disso, os sítios do Viradouro, de Superagüi e de Cubatão, as fazendas de Borba de Campo, Capivari e Pitangui decaíram em poder dos relapsos. As salas cheias do Colégio conservariam o silêncio dos túmulos e das ruínas (SANTOS, 1952, p.16). Após a expulsão dos padres, em 1759, e o confisco, em 1760, o prédio ficou abandonado, conforme mencionado. O ensino em todo a colônia passava a ser ministrado através de aulas avulsas, chamadas de Aulas Régias, sustentadas por um imposto colonial, o subsídio literário: “Destinado a sustentar um ensino de elite, o ´subsídio literário` constituía um imposto que, curiosamente, incidia sobre o consumo de carne e aguardente” (XAVIER, 1994, p. 52). Quanto ao colégio, até 1774, o prédio serviu de palácio do Governo Afonso Botelho. Em 1821, através da portaria de 10 de junho de 1821, o general da Província ordenou que o vigário Joaquim Júlio da Ressurreição Leal: “...despejasse a casa do colégio de Paranaguá, ordenando a Junta da Real Fazenda ao coronel Miguel reinaldo Bistein, que imediatamente aquartelasse no dito colégio, a tropa que guarnece a Vila, enquanto não mandasse o contrário” (FREITAS, 1999, p. 166). Em 18 de junho de 1827, a Real Junta da Fazenda de São Paulo, criou a Alfândega de Paranaguá, designando Luís Antônio Neves de Carvalho para presidir a ata de instalação: “Em 1837, cumprindo determinação da presidente da Província de São Paulo, o Inspetor da Alfândega oficia à Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Paranaguá, fundada em 1835, colocando à sua disposição uma parte do colégio não ocupada pela repartição. A Santa Casa, entretanto, considerando as despesas de instalação, preferiu alugar uma casa para o início das atividades nosocomiais, enquanto cogitada a construção de seu próprio hospital em terreno anexo à capela da Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Perdões ” (FREITAS, 1999, p. 166). Em 1838, uma parte do colégio foi ocupado pela guarda nacional; em 1903 iniciou-se a construção do edifício da Alfândega, no porto D. Pedro II, uma obra federal; e em 1911 foi inaugurado o edifício da Alfândega. Em 17 de junho de 1958 foi fechado um convênio entre o Diretor do Ensino Superior da Universidade do Paraná e o Diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN, ficando o antigo Colégio dos Jesuítas confiado à guarda da Universidade do Paraná, instalando-se nele o Museu de Arqueologia e Artes Populares. A inauguração do Museu foi em 29 de julho de 1963 data em que se comemora o 315.º aniversário da elevação de Paranaguá à categoria de Vila. “Além de ser um dos mais importantes museus do Sul do Brasil é, sem dúvida, um dos poros histórico-culturais da sociedade paranagüense. (...) O Colégio dos Jesuítas de Paranaguá é também monumento tombado como Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Paraná, devidamente inscrito no Livro do Tombo Histórico, processo n.º 38/72.” (FREITAS, 1993, p. 23). A pretensão de se instalar no velho colégio, um museu, vem desde um pouco antes da Revolução de 1930, quando Caetano Munhoz da Rocha, ex-prefeito de Paranaguá, ex-governador do Paraná e ex-senador da República, apresentou um projeto para que o colégio passasse à jurisdição do município, com o objetivo de ali instalar-se um museu. Em 1990, através de Regimento Institucional aprovado pelo Conselho de Administração da UFPR, o prédio passou a chamar-se Museu de Arqueologia e Etnologia de Paranaguá, denominação pela qual é conhecida nos dias de hoje. 7. Conclusão Com a mentalidade do presente e colocando-se no tempo em que viveu Inácio de Loyola (1491 - 1556), fundador da Ordem dos Jesuítas, é que se pode compreender o ideal que o norteou em seus primeiros tempos, unindo jovens em atividades comuns como estudos, trabalhos e orações, mesmo antes quando era um pequeno grupo, mas no qual já se observava um germe fecundo cujas características principais seriam transmitidas ao longo do tempo. A Companhia de Jesus viria a se fortalecer durante a Contra-Reforma na Europa onde, com caráter militante, os Jesuítas atuaram como confessores, pregadores e "soldados de Cristo". Ao Novo Mundo vieram como educadores e catequistas e viam a natureza e o indígena como algo em estado bruto, elementos passivos de criação, à espera de serem lapidados por uma mensagem que trazia a civilização. Os Jesuítas estavam inseridos no contexto histórico do período no qual a Colônia estava subordinada à Metrópole segundo as regras do Pacto Colonial. Assim ocorreu com o Brasil, lugar em que a colonização consistia, basicamente, na organização de uma economia complementar a da Metrópole, guiada pela doutrina mercantilista. E foi assim que a educação jesuítica veio a ser implantada no Brasil, como parte da sociedade mercantilista. Na verdade, os padres jesuítas foram instrumentos inconscientes do contexto histórico em que estavam inseridos, pois, ao cumprirem as determinações da Companhia, atingiam os objetivos colonialistas de Portugal. Os Jesuítas, através da religião, deixaram os nativos dóceis frente ao domínio português. Sabe-se que a formação cultural ficou restrita à elite dirigente e para ela foram criados Colégios ainda que, no início, ocorresse uma certa preocupação com vocações sacerdotais. Nesses Colégios percebe-se, pela análise mais minuciosa, havia grande desinteresse pela pesquisa científica, além de serem fechados à análise crítica. Outra restrição era a censura de textos que colocassem em dúvida a cosmovisão católica. Isso ajuda a compreender o tipo de ensino retórico, bacharelesco, humanista e literário que vigorou na época no Brasil e que, por conseguinte, foi aplicado em Paranaguá, por ocasião da presença jesuítica. Ocorre que, durante o Século XVII, a elite de Paranaguá apresentava carência de uma base cultural sólida e de assistência religiosa. Tal situação explica a grande solicitação e desejo pela chegada dos Jesuítas a Paranaguá. Mas, apenas a presença dos Jesuítas não bastaria. Como a formação cultural da elite dava-se nos Colégios, era necessária a Paranaguá a construção de um prédio onde os jesuítas pudessem fazer Casa e Colégio. Fica clara a existência de, em Paranaguá, uma distinção entre catequizar e instruir, como fases distintas da educação jesuítica. Da mesma forma ocorrida nas demais regiões do Brasil, primeiro deu-se a catequese, através das missões. Tentou-se catequizar os Carijós, índios habitantes das regiões próximas a Paranaguá. A Segunda fase foi direcionada à instrução da elite. Nos próprios textos de autores parnanguaras, observa-se que o Colégio dos Jesuítas mostrou-se influente ante a elite da sociedade de Paranaguá que confiou aos Padres a instrução de seus filhos. Após a expulsão dos jesuítas o Colégio fica abandonado por 75 anos. A elite, que tanto insistira pelo envio dos padres da Companhia a Paranaguá, podia pagar aulas avulsas, chamadas régias, aos seus filhos. Por isso, nada fizeram para reverter o quadro de abandono do Colégio. O Colégio dos Jesuítas, hoje Museu de Arqueologia e Etnologia de Paranaguá, faz com seja possível se compreender que a História de um povo deve ser analisada como um todo, sob pena de se transformar em mera divagação literária. 8. Referências ALBUQUERQUE, Manuel Martins de. “Pequena História da formação social brasileira”. Rio de Janeiro: Editora Graal, 4.ª edição, 1986. ARANHA, Maria Lúcia de Aranha; MARTINS, Maria Helena P. “Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Editora Moderna, 2.ª, 1997. AZEVEDO, Fernando Corrêa. “Aspectos folclóricos do Paraná.” Curitiba: Editora Conselho Municipal de Cultura de Paranaguá, 1975. BARRETO, Anibal. “Fortificações do Brasil”. 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