DISCIPLINA SEMIPRESENCIAL —————————————————————— Ética Profissional —————————————————————— Walkyria Paranhos —————————————————————— Módulo I ——————————-––––———–––––— Ética Profissional —–––––––––––——————–––––– Professora: Disciplina: Carga Horária: Walkyria Paranhos. Ética Profissional. 60 ha DEFINIÇÃO A Ética é a parte da filosofia que se ocupa com o valor do comportamento humano. Investiga o sentido que o homem imprimi à sua conduta para ser verdadeiramente feliz. Ética é a parte da filosofia que estuda a moralidade do agir humano; quer dizer; atos humanos enquanto são bons ou maus. considera os ETIMOLOGIA Etimologicamente, a palavra ética deriva do grego ethos, que significa comportamento. Pertencem ao vasto campo da Ética a reflexão sobre os valores da vida, a virtude e o vício, o direito e o dever, o bem e o mal. Sendo uma disciplina prática, a Ética procura responder a questão do tipo: que devo fazer? Como devo ser? Como devo agir? Quando essas questões éticas são colocadas pelos indivíduos e respondidas por suas consciências, surgem as normas morais. Desta maneira, podemos estabelecer a seguinte diferença entre normas morais e normas jurídicas: h normas morais: são regras de conduta que tem como base as consciências moral das pessoas ou de um grupo social. As normas morais podem estender-se por toda uma coletividade por meio dos costumes e tradições predominantes em determinado meio social. h normas jurídicas: são regras sociais de conduta que têm como base o poder social do Estado sobre a população que habita seu território. Assim, uma das principais características da norma jurídica é a coercibilidade. Isto é: a norma jurídica conta com a força e a repressão potencial do Estado para ser obedecida pelas pessoas. Quando alguém desrespeita uma norma moral, como, por exemplo, um dever de cortesia, sua atitude ofende apenas a moralidade convencional de um determinado grupo, que não tem poderes energéticos para promover uma punição. Ao contrário, se uma pessoa desrespeita uma norma jurídica prevista, por exemplo, no Código Penal, sua atitude provoca a coação do Estado, que tem poderes efetivos para impor uma pena ao infrator. Faculdade Machado de Assis 2 ——————————-––––———–––––— Ética Profissional —–––––––––––——————–––––– A CONSCIÊNCIA REFLEXIVA DO HOMEM A característica que, essencialmente, torna a ser humano diferente dos outros animais é o desenvolvimento da consciência reflexiva. Por intermédio dessa consciência, que é expressão do seu aparelho psíquico, o homem pode acumular conhecimento e experiências sobre o mundo. Graças a linguagem, primeiramente oral e depois escrita, o ser humano desenvolveu a comunicação entre os membros da espécie. E, assim, o conhecimento de cada pessoa foi-se tornando patrimônio coletivo, constituído pela soma dos conhecimentos individuais, colocados à disposição do grupo social. Devido à transmissão dos conhecimentos, as sucessivas gerações de seres humanos não precisaram reinventar as soluções já desenvolvidas, anteriormente, pelos antepassados. Cada nova geração pode herdar as descobertas da geração anterior, ficando com tempo disponível para efetuar novas conquistas. Acumulando e desenvolvendo conhecimentos, o homem passou a interferir progressivamente no meio ambiente, criando um “mundo novo”, diferente daquele encontrado na natureza. Assim, dentro da Biosfera terrestre – a parte do Planeta que reúne condições para o desenvolvimento dos seres vivos -, o homem foi criado a Antroposfera – que resulta da adaptação do ambiente natural às necessidades humanas. O desenvolvimento da consciência reflexiva torna o homem diferente dos outros animais não apenas pelas extraordinárias conseqüências que a ação humana provoca no mundo, mas também, e sobre tudo, pelos efeitos que provoca no próprio homem. Devido à consciência reflexiva, o ser humano tornou-se capaz de pensar sobre sua própria existência, de perguntar-se sobre o sentido da vida, questionando o presente, analisando o passado e projetando o futuro. Adquirindo consciência de si mesmo, o homem passou a refletir sobre os limites da sua existência, começou a avaliar as possibilidades da sua ação em vida, antes da chegada inevitável da morte. Por isso, “o homem é o único animal que pode aborrecer-se, que pode ficar descontente, que pode sentirse expulso do paraíso. O homem é o único animal para quem sua própria existência é um problema que ele tem de solucionar e do qual não pode fugir”. Não pode fugir porque tem uma vida que não pode mas ser vivida apenas no plano fisiológico da natureza animal, atendendo-se passivamente as necessidades do corpo. A consciência de si mesmo tornou o homem dono de uma vida que somente ele pode viver. A CONSCIÊNCIA MORAL E A LIBERDADE HUMANA A consciência de si mesmo ou autoconsciência confere ao ser humano a capacidade de julgar suas ações, e de escolher, dentre as circunstâncias possíveis, seu próprio caminho na vida. A essa característica peculiar ao homem, de julgar suas próprias ações, decidindo se elas são boas ou más, damos o nome de consciência moral. À possibilidade que o homem tem de escolher seu caminho na vida e construir sua história damos o nome de liberdade. Evidentemente, a liberdade não é algo que se exerce no vazio, mas dentro das limitações imposta pelas circunstâncias; o exercício da liberdade é a luta para ampliar ou romper os limites das circunstâncias. Pois, como escreveu Karl Marx, “os homens fazem sua própria Faculdade Machado de Assis 3 ——————————-––––———–––––— Ética Profissional —–––––––––––——————–––––– história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstância de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”. A liberdade e a consciência moral estão intimamente relacionadas. Isso porque só tem sentido julgar moralmente a ação de uma pessoa se esta ação foi praticada em liberdade. Quando não se tem escolha ( liberdade ), é impossível decidir entre o bem e o mal (consciência moral ). Entretanto, quando estamos livres para escolher entre esta ou aquela ação, tornamo-nos responsáveis pelo que praticamos. É está responsabilidade que pode ser julgada pela consciência moral do próprio indivíduo ou do grupo social. AS DIFERENTES CONCEPÇÕES ÉTICAS Grande número de filósofos que se ocupam da Ética defende que a consciência moral nos inclina para o caminho da virtude. Etimologicamente, a palavra virtude deriva do latim virtus, que significa a qualidade própria da natureza humana. De modo geral, a expressão virtude designa, atualmente, a prática constante do bem, correspondendo ao uso da liberdade com responsabilidade. O oposto da virtude é o vício, que consiste no hábito de praticar o mal, correspondendo ao uso da liberdade sem responsabilidade. Ultrapassando o campo desses conceitos formais, uma difícil discussão filosófica se estabelece quando se trata de definir, concretamente, o que seja vício ou virtude, pois, afinal, o que é o bem é o mal? Vejamos algumas concepções éticas a respeito do bem e do mal: • o hedonismo: doutrina que foi pregada desde a Grécia Antiga por filósofos como Górgias, Cálicles e Arístipo. Defende que o bem é tudo aquilo capaz de oferecer prazer imediato. O mal é aquilo que gera sofrimento; • o epicurismo: doutrina elaborada por Epicuro , que procurava aperfeiçoar o hedonismo. Defendia que o bem não era qualquer prazer, mas os prazeres devidamente selecionados. Assim, Epicuro construiu uma espécie de hierarquia dos prazeres, considerando superiores, por exemplo, os prazeres naturais em vez dos artificiais; os prazeres calmos, em vez dos violentos. O supremo prazer era, entretanto, o prazer intelectual, que se obtinha mediante o domínio das paixões pela razão; • o estoicismo: o filósofo Zenão de Citium é considerado o fundador da escola estóica, que pregava um espírito de total renúncia aos desejos, considerados como a fonte de todo sofrimento humano. O bem consistia na aceitação da ordem universal, que deve ser compreendida pela razão; • o formalismo kantiano: o filósofo alemão Kant defende a concepção moral que identifica o bem ao cumprimento puro e simples do dever. A fonte do dever é a razão humana que elabora normas orientadoras de nossa conduta; • o tomismo: o filósofo cristão Santo Tomás de Aquino defende que o bem consiste nas ações capazes de aproximar o homem de Deus. Tomás de Aquino reconhece que a razão humana tem condições de estabelecer deveres morais, mas procura harmonizar esses deveres à ordem de Deus, revelada ao homem pela fé cristã; Faculdade Machado de Assis 4 ——————————-––––———–––––— Ética Profissional —–––––––––––——————–––––– • o humanismo: pensadores contemporâneos como Erich Fromm defendem que somente o homem deve determinar, para si próprio, o que seja bem ou mal. E o que é bem? É tudo o que é bom para a natureza humana; tudo o que impulsiona a vida dessa natureza; tudo o que colabora para a realização das potencialidades humanas. Assim, para determinarmos o bem, devemos estudar e conhecer a natureza humana em profundidade, tarefa da qual se ocupam ciências como a Psicologia, a Antropologia, a História etc. Na ética humanista, escreve Fromm, “o bem é a afirmação da vida, o desenvolvimento das capacidades do homem. A virtude consiste em assumir-se a responsabilidade por sua própria existência. O mal constitui a mutilação das capacidades do homem; o vicio reside na irresponsabilidade perante si mesmo”. Numa linha semelhante ao pensamento de Erich Fromm, o psicólogo Carl Rogers identifica o bem como o processo pelo qual cada um deve ser aquilo que realmente é . Isso implica confiança profunda na natureza do ser humano, quando esta pode funcionar livremente. Segundo Rogers, quando o homem assumiu viver conforme sua real natureza, todo o seu organismo desenvolve, em termos físicos e psíquicos, uma harmonia crescente consigo mesmo, seus semelhantes e a Natureza. “O indivíduo descobre pouco a pouco que pode ser a sua irritação, quando essa irritação é a sua verdadeira reação, e que, aceita ou transparente, essa irritação não é destrutiva. Descobre quer pode ser o seu receio e que saber que tem medo não o dissolve. Descobre que pode ter pena de si e que isso não é “mau”. Ele sente que pode ser e sentir as suas reações sexuais, ou os seus sentimentos de preguiça ou hostilidade, sem que lhe caia o céu em cima. A razão parece ser esta: quanto mas ele for capaz de permitir que esse sentimentos o invadam, melhor estes encontram o seu lugar adequado numa total harmonia. Ele descobre que tem outros sentimentos que se juntam a estes e que se equilibram. Ele sente que ama, que é terno, respeitoso, cooperador, como também é hostil, sensual ou colérico. Ele sente interesse, zelo e curiosidade, como sente preguiça ou apatia. Ele sente-se corajoso e ousado como se sente medroso. Os seus sentimentos, quando os vive de uma maneira íntima e os aceita na sua complexidade, realizam uma harmonia construtiva e não um mergulho em qualquer forma de vida descontrolada“. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Básica - Maria Cecília C. de Arruda, Whitaker, Maria do Carmo, José Maria Rodriguez Ramos Fundamentos da ética empresarial e economia, Atlas, 2001. Complementar - Adolfo Sanchez Valquez Ética, Editora Civilização Brasileira. Faculdade Machado de Assis 5 ——————————-––––———–––––— Ética Profissional —–––––––––––——————–––––– ATIVIDADE (ANÁLISE E REFLEXÃO) 1. O que podemos entender por Ética? 2. Quais as grandes questões que a Ética procura responder? 3. Qual a diferença básica entre norma moral e norma jurídica? 4. Seria correto afirmar que somente as normas morais pertencem à Ética? Por quê? 5. Comente o seguinte tema: A consciência reflexiva e a evolução cultural. 6. Em que consiste a consciência moral? 7. Você acha que o homem é um ser livre? Por quê? 8. Dê um conceito de virtude e de vício. 9. Na sua opinião, o que é o bem e o que é o mal? Cite situações em que você possa empregar os conceitos bem e mal. 10. Das concepções éticas sintetizadas com qual você mais se identifica? Por quê? Faculdade Machado de Assis 6 ——————————-––––———–––––— Ética Profissional —–––––––––––——————–––––– ESTUDO DE CASO Pensando em ética... Dois colegas de trabalho acabam de almoçar e caminham pensativos pelo jardim do restaurante. Nada parece alterar o silêncio até que um deles expressa em voz alta suas reflexões: - Todas as vezes que preciso pensar em algo importante, saio para dar uma volta no jardim junto ao restaurante. O amigo limita-se a escutar. - Há sempre distrações por aqui! Comenta, enquanto examina o tronco de uma árvore. E prossegue: - Eu não acredito mais na ética. Por mim, acho que os fins justificam os meios. E, como conseqüência: - Aproveite o que puder enquanto levar vantagens. É o que eu digo, o poder é o que dita as regras. São os vencedores os que escrevem os livros de história. È um mundo cão. Vou fazer tudo que achar necessário e deixar que os outros fiquem se perguntando o que é certo e o que é errado! Nessa altura, o acompanhante, que até esse momento só ouvia o amigo falar, resolveu dar um empurrãozinho no colega. Cambaleante, o tagarela perdeu o equilíbrio, tropeçou e foi de cabeça para uma poça de lama. Indignado gritou: - Por que você fez isso? - Você estava no meu caminho e agora não está mais. Você não acabou de dizer que os fins justificam os meios? - Mas não para todos, seu burro, só para mim. O silencioso amigo afastou-se emitindo uma simples interjeição: - Ah! 1) Após ler o texto acima, como você enquadraria a importância da ética? 2) Entre as concepções éticas aqui citadas qual, na sua visão, melhor retrata o comportamento expresso no texto acima? _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ Faculdade Machado de Assis 7