O eu e o outro no grupo Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida Considerando-se que nosso trabalho se desenvolve em uma dança que entrelaça atividades em grupo e individuais, é importante analisarmos o sentido de um grupo com objetivos e realizações em comum, para melhor situarmos a dinâmica desta formação que se desenvolve levando em conta as múltiplas dimensões que constituem cada ser humano: cognitiva, afetiva, sócio-histórica. Trabalhar em grupo traz o sentido da produção conjunta criada na inter-relação entre as representações internas. É pouco afirmar que um grupo se caracteriza por um trabalho de interação entre pessoas. Trata-se de um processo sustentado por motivações e interações que ocorrem em uma dinâmica de assumir e trocar papéis conforme as competências exigidas em cada momento do trabalho desenvolvido por um conjunto de pessoas com interesses e necessidades convergentes, cujas ações estão direcionadas a atingir um objetivo comum. Na interação em torno de um objetivo, as pessoas se unem e gradativamente se assumem como participantes comprometidos com uma ação desenvolvida em conjunto que se viabiliza na interação de todos com todos e na produção de algo que representa o grupo, podendo ser um objeto físico, artigo, plano, projeto, idéia, sonho, etc. O grupo se forma e se desenvolve no exercício de falar e ouvir o outro, reconhecer a si mesmo, colocar opiniões, identificar a singularidade do outro pelo diálogo que se estabelece no encontro com abertura, intercâmbio de idéias e respeito à diversidade, considerando o contexto em que o trabalho se realiza, bem como os aspectos histórico-sociais, objetivos, subjetivos. A internalização da realidade, a articulação do pensamento do outro com o próprio pensamento e a transformação do pensamento individual em uma produção grupal são propiciadas pelas trocas intersubjetivas e pela integração entre 1 concepções convergentes. Não se trata da busca do consenso, e sim da formação de um grupo por meio do reconhecimento de si mesmo e do outro em sua singularidade e diferenciação, do respeito mútuo, da construção da identidade individual simultânea com a construção do grupo como um sistema que engloba pensamentos, emoções, ações, experiências anteriores, maneiras de ser, estar, sentir, pensar e fazer com o outro. As interações e produções grupais ocorrem em uma complexa estrutura multidimensional constituindo um sistema aberto, provisório e incompleto, sujeito a constantes mudanças provocadas por qualquer um de seus elementos (pessoas, objetos, acontecimentos, tecnologias, etc.) ou por outros sistemas interrelacionados. Cada participante de um grupo é um ser histórico-social, portanto é um ser de relações, situado em um contexto específico que ajuda a produzir e, dialeticamente, é produzido nesse contexto. Para Enrique Pichon Riviere, o sujeito de um grupo é um ser descentrado e intersubjetivo, que produz e se constitui em encontros e desencontros com o outro. O sistema referencial de um grupo é construído e reconstruído continuamente através dos vínculos humanos que se criam nas interações intersubjetivas produzindo seus referenciais sociais e individuais em conexão com os demais sistemas que constituem o mundo como os sistemas familiares, institucionais e sociais. O grupo se auto-organiza e seu sistema de normas emana da comunicação multidirecional, do respeito às singularidades e dos talentos necessários à ação em desenvolvimento, cuja liderança múltipla e funcional, se explicita no coletivo do grupo e na especificidade da situação (Guerín, 1997). Sobre os Grupos Carlos Alberto Guerín http://www.interpsic.com.br/saladeleitura/textos/sobregrupos.html 2 Estava pensando nos grupos e de repente me dei conta: como é difícil manter-se em situação. Muitos querem tirar-nos dela. São aqueles que se mantém em confusão. Porque seguro estou … de por ela termos de passar (a confusão) porque é o primeiro momento que todo grupo atravessa a caminho de sua organização. Conta-nos Sartre, e outros também, que os grupos primeiro se formam do coletivo (série) tentando sair. Reúnem-se aqueles que conseguiram com o OUTRO falar … e, nesse momento, não mais eu, com você, quero falar! Falando já estamos, companheiro, mas falta algo mais … Com quem você veio? Com um amigo, e talvez mais! … Eu também tenho um, e outros mais. Pois adiante, quando nos reunimos? Os homens em situação, 3 terão de passar pela confusão que é o caminho da fusão Dele sairão com normas a comunicar EM PERMANENTE E DIALÉTICA COMUNICAÇÃO. (...) Os sujeitos não são hoje o que foram ontem e o que serão amanhã. De sua mudança são responsáveis e juntamente com os demais, a produzem. Porque não há coisa mais linda do que sermos produtores de NOSSA PRODUÇÃO. Os outros nos mostram nossas mudanças, nós lhes mostramos as suas. Porque este é o momento da AVALIAÇÃO. É de novo RECOMEÇAR. E assim há de começar … uma, duas e mais reuniões também. É um momento de FUSÃO. O denominador é a CON-FUSÃO. Mas, seguramente … deste momento há que sair, porque o homem em SITUAÇÃO não pode permanecer na confusão, 4 embora, por ela, sempre tenha que passar: esse é o caminho do viver. Não vem quem não passa pela confusão. Não vem quem fica na confusão. Porque é um momento do todo em sua totalidade … Mas não há de ser a totalidade do todo. Na primeira reunião, Já se falou de TAREFA. Só se a anunciou … mas o grupo se centrou. Porque não há grupo sem tarefa. Essa é uma realidade: explícita ou latente, sempre ela existe. Porque tornar a começar (ou recomeçar) não é o mesmo que o começo. Já na avaliação, diferentes nos vimos e apesar de podermos ser os mesmos, ESTAMOS DIFERENTES. SOMOS DIFERENTES. Uma tarefa cumprimos e nela nos conhecemos. Sei quem você é para mim trabalhando nesta tarefa. 5 Sei que você será diferente trabalhando outra tarefa … Você era para mim, diferente do que é hoje. Hoje conheço você, junto com o conhecimento que em CON-JUNTO conseguimos. … Hoje conheço você mais do que ontem e, seguramente, menos do que amanhã … Já estou propondo FALAR COM VOCÊ. Traz um amigo, e outro mais. Há que recomeçar!!! Este texto foi produzido para o curso Gestão Escolar e Tecnologias. ALMEIDA, M. O eu e o outro no grupo. São Paulo, PUC-SP, 2004. 6