AU TO RA L TO UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES Pedagogia PR OT EG ID O PE LA LE I DE DI R EI INSTITUO A VEZ DO MESTRE DO CU M EN TO MARQUES, Sandra Regina dos Santos VANTAGENS DE UMA EDUCAÇÃO BILINGUE 1 2 RIO DE JANEIRO 2009 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUO A VEZ DO MESTRE Pedagogia MARQUES, Sandra Regina dos Santos VANTAGENS DE UMA EDUCAÇÃO BILINGUE Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Pedagogia, entregue à Universidade Cândido Mendes – Instituto A Vez do Mestre, sob orientação da professora Andressa. 3 RIO DE JANEIRO 2009 DEDICATÓRIA A minha querida tia Ruth que sempre foi para todos nós um grande exemplo de superação e perseverança diante dos desafios da vida. 4 AGRADECIMENTOS Aos amigos que compartilharam dessa minha caminhada me apoiando e a minha sobrinha Camila por sua ajuda e incentivo durante o projeto. 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO RESUMO CAPÍTULO I CAPÍTULO II CAPÍTULO III CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERENÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ÍNDICE Anexo I Anexo II 6 VANTAGENS DE UMA EDUCAÇÃO BILINGUE RESUMO A compreensão das questões que envolvem o bilinguismo e a tradução dos aspectos da educação bilíngue propriamente, são as principais abordagens desse estudo que estabelece em sua idéia cerne a construção de um novo olhar pedagógico no que diz respeito à aquisição de uma segunda língua e os benefícios que essa prática pode trazer no desenvolvimento comunicativo e educacional. Sendo essa abordagem um "produto convite" para o debate deste trabalho, que deve estimular o leitor a inteirar-se com mais afinco desse novo âmbito da educação — um dos principais impulsores para o advento da carreira profissional do indivíduo. PALAVRAS-CHAVE Bilinguismo; Educação; neurolinguistico; Desenvolvimento Comunicativo; Pedagógico; 7 INTRODUÇÃO Bilinguismo é um termo que tem se tornado muito comum, especialmente entre as escolas que oferecem uma educação bilíngue. No entanto, esse vocábulo tem recebido diferentes significados e segundo vários especialistas no assunto, bilinguismo pode ser entendido como a habilidade de se comunicar naturalmente e fluentemente em mais de um idioma. SAUNDERS (1998). Estudos realizados no âmbito da neuropsicologia da linguagem sugerem que os bilingues desenvolvem diferentes estratégias de processamento da informação, de acordo com o contexto de aquisição de ambas as línguas. HAMERS & BLANC (1989). No entanto, especialistas concordam que não é tão simples encontrar uma definição. ―A complexidade do desafio dos professores que estão envolvidos em desenvolver o bilingüismo em crianças é muito evidente‖. (HARWORTH, 2006: 296). Baker (2006) menciona a dificuldade e limitações de se definir ―bilinguismo‖ em uma só frase. O autor sugere que bilingüismo vai além da habilidade de falar duas línguas, uma vez que a fluência em um outro idioma inclui diferentes aptidões. Por esta razão, é importante distinguir as várias habilidades como o ouvir, escrever, ler e falar. MILLS e MILLS (1993) caracterizam bilinguismo como sendo, entre outras definições, algo funcional, produtivo, simultâneo e social. Educação bilíngüe, segundo Baker (2006), é algo muito complexo de ser definido. 8 Numa sociedade que tende para o multiculturalismo, com o aumento da migração dos povos e com a maior visibilidade das comunidades bilingues, não tem razão de ser falar de monolinguismo, se considerarmos o bilinguismo, não só a situação de perfeito domínio de duas ou mais línguas, mas toda a situação que envolve o falar línguas, seja em que situação for, como também não tem razão de ser a nível neuropsicológico nem a nível neurolinguístico falarmos de monolinguismo: o que existem são falantes que, independentemente de dominarem uma ou mais línguas, adaptam registros diferentes segundo as situações. Atualmente, muitos pais estão engajados em oferecer uma boa educação para seus filhos e devido a globalização há a necessidade de se aprender senão um, mas vários idiomas e muitos pais tem procurado escolas que ofereçam tal proposta. Desta forma, o presente estudo sugere apresentar as possíveis articulações do bilinguismo na educação e esclarecer as influências que sua aquisição pode promover no desenvolvimento da criança. E assim facilitar a descoberta de um caminho direcionador de novas idéias, permitindo então, uma visão clara dos benefícios decorrentes de se gerar novos conceitos agregando novos conhecimentos e culturas ao desenvolvimento educacional infantil. 9 Capítulo1 LINGUAGEM Para começar se faz necessária uma definição. Afinal, o que é linguagem? Para simplificarmos, linguagem é a faculdade humana de simbolizar, de criar uma língua para se expressar num sistema organizado de símbolos e sinais que os seres humanos usam para se comunicar. Esses símbolos podem ser falados, podem ser representados por sinais (libras) ou escritos. A linguagem falada consiste em sons (fonemas) e quando combinados dão significado a uma palavra (grafia). A linguagem é a representação compreensiva em face do mundo exterior objetivo e do mundo subjetivo exterior. CAMARA JR (2001). Na abordagem lingüistica de Ferdinand Saussure, a língua funciona como elemento de interação entre o indivíduo e a sociedade em que ele atua. Assim, o sistema lingüistico é um fenômeno social que deve ser estudado na sua estrutura. Conjunto complexo de processos – resultados de uma certa atividade psíquica profundamente determinada pela vida social – que torna possível a aquisição e o emprego concreto de uma língua qualquer. CASCAU (1961) 10 1.1 Linguagem segundo Piaget e Vygosky Nossa habilidade de usar a linguagem é algo importante que nos separa de outros seres do mundo animal. A partir do sec. XIX algumas pessoas começaram a se interessar em conhecer como a linguagem é desenvolvida. Muitos desses estudiosos ouviam diferentes crianças e mantinham um diário com anotações do que era dito por essas crianças. Piaget foi uma dessas pessoas que usou o método do diário para estudar o desenvolvimento cognitivo de suas três crianças nas décadas de 20 e 30. Esse método mostrou-se ineficaz, pois é impossível anotar tudo o que uma criança diz ao longo de um dia ou semanas, bem como descrever as situações nas quais tais sentenças ou palavras foram ditas. Nas décadas de 50/60, estudiosos passaram a usar gravadores para gravar as falas das crianças. Esse método também se mostrou inadequado porque as crianças não falavam com naturalidade e de forma espontânea como era preciso para os estudos, nem tão pouco, podiam analisar as expressões que é também é uma forma de linguagem. A partir dessas conclusões, a filmagem começou a ser usada. Jerone Bruner usou esse método para observar crianças que estavam sendo analisadas, pois os estudiosos podiam analisar não somente o que era dito, mas também as circunstâncias e efeitos que causavam nas crianças. Esse método ainda é usado por estudiosos no assunto. Todos os testes usados levaram alguns dos estudiosos a concluírem que o desenvolvimento cognitivo da linguagem ocorre em diferentes estágios. Piaget foi um defensor dessa linha de pensamento. Sendo assim, cada estágio de desenvolvimento é dominada por um 11 diferente tipo de raciocínio e dessa forma, a linguagem também ocorre em estágios. Behavoristas como Skinner, por exemplo, acreditam que nossas diferentes habilidades se desenvolvem a medida que ganhamos experiência e recebemos diferentes estímulos. Há grandes evidências de que bebês se beneficiam da interação social. Por volta dos seis meses os bebes começam a balbuciar e produzem sons que podem aparecer em qualquer linguagem do mundo. Já com dez a doze meses eles começam a dizer as primeiras palavras. Provavelmente, a partir dos dezoito meses a criança já consegue um vocabulário de 50 palavras. Com 24 meses começa a formar frases simples e a partir daí a criança irá expandir seu vocabulário e a maneira de se comunicar com outros. (COLLINS LONDON, pp 255-274) É óbvio que estamos falando em tese, pois devemos pensar que apesar dos estágios defendidos por Piaget e outros, cada criança é um indivíduo e sendo assim, pode responder de forma que lhe seja peculiar. No entanto, essa é uma diferença entre o pensamento de Piaget e Vygosky. Para Piaget, há uma relação entre pensamento e raciocínio lógico, onde o desenvolvimento realiza-se em diferentes etapas, por isso o tempo cronológico deve ser respeitado. Cada fase tem sua importância. Segundo as teorias de Vygotsky, pensamento e linguagem também são duas premissas dissociáveis. No entanto, segundo Vygotsky, a criança pode se desenvolver não necessariamente, seguindo tais etapas e estágios defendidos por 12 Piaget. Se ela for exposta a um ambiente onde ela possa interagir com outros mais velhos ou mais desenvolvidos do que ela, poderá ter um desenvolvimento mais do que o esperado para sua idade cronológica, pois segundo ele, é com o outro e com a troca que acontece a aprendizagem. (Zona de desenvolvimento proximal). Vygotsky ressalta que a linguagem e o espaço em que a criança se constitui como sujeito e em que o conhecimento do mundo e do outro e selecionado e incorporado. 1.2 Pensamento e Linguagem Sabemos que diferentes línguas possuem estruturas lexicais e sintáticas diferentes. Essas diferenças, geralmente, refletem as diferenças no ambiente físico e cultural no qual as línguas surgiram e se desenvolveram. Um conceito relevante a essa questão é o do determinismo lingüístico, também chamado de hipótese Sapir-Whorf, que afirma que os pensamentos das pessoas são determinados pelas categorias permitidas pela língua, e na sua versão mais fraca, a relatividade lingüística, afirma que as diferenças entre as línguas causam diferenças nos pensamentos de seus falantes. Nas palavras de Pinker: "Na qualidade de cientista cognitivo posso me dar o direito de ser presunçoso e afirmar que o senso comum está correto: o 13 pensamento é diferente da linguagem e que o determinismo lingüístico é um absurdo convencional." (2002, p.75) "Mas isso é falso, completamente falso. A idéia de que o pensamento seja a mesma coisa que a linguagem é um exemplo do que se pode chamar de absurdo convencional: uma afirmação totalmente contrária ao senso comum, mas em que todos acreditam porque têm uma vaga lembrança de tê-la escutado em algum lugar e porque ela tem tantas implicações. [...] Todos tivemos a experiência de enunciar ou escrever uma frase, parar e perceber que não era exatamente o que queríamos dizer. Para que haja esse sentimento, é preciso haver um 'o que queríamos dizer' diferente do que dissemos. Nem sempre é fácil encontrar as palavras que expressam adequadamente um pensamento." (2002, p.62) Deficientes auditivos completamente destituídos de linguagem são um claro exemplo de pensamento sem linguagem. Além disso, muitas pessoas criativas afirmam que em seus momentos mais inspirados pensam com imagens mentais, e não com palavras. Lui Chi Kung, um famoso pianista, ficou preso durante sete anos, e quando finalmente saiu da prisão, tocava melhor que antes. Lui afirma ter ensaiado todos os dias, mentalmente, na prisão. Muitas atletas treinam mentalmente antes das competições e até o exército americano já utilizou essa técnica para treinar os seus soldados. Os físicos afirmam que seu pensamento é geométrico e não-verbal. O mais famoso auto-intitulado pensador visual foi Albert Einstein chegou a algumas de suas descobertas se imaginando montado num 14 facho de luz e olhando para um relógio situado atrás, ou deixando cair uma moeda dentro de um elevador em queda. Para Vygotsky (1991), o pensamento e a palavra não são ligados por um elo primário, mas, ao longo da evolução do pensamento e da fala, tem início uma conexão entre ambos, que se modifica e se desenvolve. Segundo ele, o fato mais importante revelado pelo estudo genético do pensamento e da fala é que a reação entre ambos passa por várias mudanças. O progresso da fala não é paralelo ao progresso do pensamento. As curvas de crescimentos de ambos cruzam-se muitas vezes; podem atingir o mesmo ponto e correr lado a lado, e até mesmo fundir-se por algum tempo, mas acabam se separando novamente. Isso se aplica tanto à filogenia como à ontogenia. Com base na abordagem genética do desenvolvimento da linguagem, Vygotsky (in SOUZA, 2001) observa que o pensamento da criança pequena inicialmente evolui sem a linguagem; assim como os seus primeiros balbucios são uma forma de comunicação sem pensamento. Entretanto, já nos primeiros meses, na fase pré-intelectual, a função social da fala já é aparente: a criança tenta atrair a atenção do adulto por meio de sons variados. Até por volta dos dois anos, a criança possui um pensamento pré-lingüístico e uma linguagem pré-intelectual, mas a partir daí, eles se encontram e se unem, iniciando um novo tipo de organização do pensamento e da linguagem. Nesse momento, surge o pensamento verbal e a fala racional. A criança descobre que cada objeto tem seu 15 nome e a fala começa a servir ao intelecto e os pensamentos começam a ser verbalizados. Assim, segundo Vygotsky, o desenvolvimento do pensamento é determinado pela linguagem, pelos instrumentos lingüísticos do pensamento e pela experiência sócio-cultural da criança. 1.3 Llinguagem e bilingüismo Segundo Stenberg (2000), existem questões que fascinam os psicolingüistas: "se uma pessoa pode falar e pensar em duas línguas, essa pessoa pensa diferentemente em cada língua? Realmente, os bilíngües - pessoas que falam duas línguas - pensam de modo diferente dos monolíngues - pessoas que podem falar apenas uma língua‖. James Cummins (1976 in STENBERG, 2000) sugeriu que existem dois tipos de bilingüismo, o aditivo e o substrativo. No aditivo, a segunda língua é relativamente bem desenvolvida em relação à primeira, no substrativo, elementos da segunda língua substituem elementos da primeira língua. No primeiro caso, o funcionamento cognitivo seria aumentado, no segundo diminuído. Assim, para o bilingüismo ser benéfico, as pessoas precisam ter uma competência relativamente alta nas duas línguas. Alguns psicólogos cognitivos interessam-se em descobrir como as duas línguas são representadas na mente do bilíngüe. A hipótese do sistema único 16 sugere que as duas línguas são representadas num único sistema, já a hipótese do sistema dual, que as mesmas são representadas, de alguma forma, num sistema dual. Estudos feitos por Geroge Ojemann e Harry Whitaker (1978 in STENBERG, 2000) no córtex de dois pacientes epilépticos, através de estimulação elétrica, indicam que alguns aspectos das duas línguas podem ser representados unificadamente, enquanto outros podem ser representados separadamente. Os resultados também sugerem que a língua mais fraca era representada de forma mais difusa através do córtex que a língua mais forte. A teoria de que as duas línguas parecem compartilhar alguns aspectos da representação mental é defendida por vários estudiosos, sendo J Cummins um dos principais estudiosos da atualidade a afirmar tal premissa. Para alcançarmos os benefícios do aprendizado de uma segunda língua, ela deve ser bem aprendida e a pessoa deve estar num ambiente onde esta língua irá acrescentar-se a sua primeira língua. 17 Capítulo 2 ASPECTOS NEUROLINGUISTÍSCOS NA AQUISIÇÃO DE UMA SEGUNDA LÍNGUA A idade dos alunos é um fator chave nesse processo e para comprovar essa tese, há um estudo realizado por Kim (1997) com outros pesquisadores da Universidade de Cornell (EUA), juntamente com o departamento de neurologia e neurociência da mesma universidade. Eles usaram imagens de ressonância magnética para investigar diferenças entre estudantes pequenos e outros mais velhos que aprenderam uma segunda língua. O primeiro grupo havia aprendido uma segunda língua na infância e o segundo grupo tinha aprendido uma segunda língua na adolescência e juventude. Foi pesquisado em ambos os grupos as áreas do cérebro responsáveis pela fala (Broca) e a área responsável pela compreensão da língua (Wernicke). A figura 1 mostra a lateral do hemisfério esquerdo do cérebro indicando as áreas em questão. 18 Figura 1. Broca and Wernicke’s áreas - vista lateral do lado esquerdo do cérebro 19 Kim (1997) descobriu que a área responsável pela fala (broca) era maior nas pessoas que tinham aprendido uma segunda língua na infância enquanto duas áreas adjacentes, porém distintas, foram ativadas nas pessoas que adquiram a segunda língua posteriormente. Em contraste, eles descobriram que a área responsável pela compreensão da língua (Wernecke) foi ativada igualmente nos dois grupos. A partir destas descobertas, eles sugerem que a linguagem representada na área de Wernecke (compreensão) é menos afetada pela idade do que a área de Broca (fala). Além disso, eles também descobriram que havia diferenças individuais, mesmo em pessoas que falavam a mesma língua. As imagens da ressonância ilustram as descobertas. Figura 2. O centro de ativação na área do broca é aumentado. Figura 3. Axial slice of a late bilingual subject. The centres of activation in Broca areas are magnified 20 Kim et al sugere que a linguagem é representada de forma diferenciada na área da fala quando a aquisição de uma segunda língua é feita mais tarde. No entanto, a representação da área da compreensão parece não ser influenciada pela idade. Estas descobertas são importantes para o entendimento sobre a função da linguagem e como ela é mantida e processada pelo cérebro. A tecnologia tornouse aliada para nos ajudar a ensinar crianças dentro de uma proposta bilíngue e a tirar vantagem dessa fase em que a criança pequena terá mais facilidade com a aquisição de uma segunda língua. Vimos que a fala é processada em partes do cérebro dependendo da idade em que é ela é ensinada. Talvez isso explique o porquê de quem adquiri uma segunda língua, ainda pequeno, desenvolverá um sotaque e entonação de um nativo da língua. (Cummins, J. (1980). The construct of language proficiency in bilingual education. In: J. E. Alatis (ed). 2.1 Outros aspectos que influenciam a aquisição de uma segunda língua ainda na infância Para fronkin & Rondan, (1998,p.420) o adulto monolingue, por já possuir uma matriz fonológica sedimentada, se caracteriza por uma sensibilidade auditiva amortecida, treinada a perceber e produzir apenas os fonemas do sistema de sua língua nativa. A criança por sua vez, ainda no início de seu desenvolvimento cognitivo, com filtros menos desenvolvidos e hábitos menos enraizados, mantém a habilidade de expandir a matriz fonológica, podendo 21 adquirir um sistema enriquecido por fonemas de línguas estrangeiras, com as quais vier a ter contato. Não são apenas fatores biológicos que influenciam no aprendizado de uma segunda língua. Fatores de ordem psicológica e afetiva podem causar impacto direto da aprendizagem. O adulto tende a apresentar maiores problemas causados pela ausência de motivo espontâneo, fato preponderante na criança. A resistência à língua do outro e a falta de conhecimento da cultura estrangeira pode ser um fator negativo no processo de aquisição do novo idioma. A criança está, de certa forma, isenta disso, pois é desprovida de preconceitos. O adulto também não possui a curiosidade e o desprendimento da criança, pois se não consegue acertar ou se comete deslizes durante a aprendizagem, tem a tendência de criar bloqueios e isso o impede de usufruir de maneira natural do aprendizado do idioma. Os estudos na área confirmam que crianças assimilam línguas com mais facilidade que os adultos e ao iniciar sua vida escolar estão abertas e motivadas para todo tipo de aprendizagem. Por isso, acredita-se que a escola deve aproveitar essa disponibilidade nata e oferecer o ensino de uma nova língua. Outro aspecto importante é o ambiente e aprendizado de uma nova língua a forma lúdica em que o ocorre ainda na infância . Isso favorece a aprendizagem, pois a criança terá prazer com os jogos, as competições, e com explicações que podem fazer sentido no mundo ― mágico ― da criança‖, sendo oferecido como uma brincadeira. No entanto, o adulto terá que estudar o 22 segundo idioma pensando de maneira mais formal pensando na gramática, semântica e fonética e isso nem sempre poderá ser prazeroso. 2.3. TEORIA DOS ICEBERGS SEGUNDO J. CUMMINS J. Cummins (1981), afirma que tanto a língua materna quanto um segundo idioma operam através do mesmo sistema central de processamento como se fosse um ―tanque de pensamento‖. Cummins é um educador canadense e especialista nesta área há décadas e com grande experiência em educação bilingue. Sua teoria baseia-se no modelo de um iceberg com dois picos representando as diferentes línguas visíveis na superfície, porém sustentadas por uma base comum e integradas pela mesma fonte de pensamento. Os dois idiomas são diferentes quando usados numa conversação, no entanto, os dois ―icebergs‖ estão unidos de tal forma que não funcionam separadamente. Cummins afirma que ouvir, falar, ler e escrever na língua materna ou na segunda língua irá ajudar o ―tanque de pensamento‖ como um todo a se expandir. J. Cummins (1981), acredita que na aprendizagem de um idioma a criança adquire habilidades e conhecimento metalinguístico implícito que poderá ajudá-la quando estiver aprendendo outra língua. Cummins afirma que essas habilidades e conhecimento provêem uma base para o desenvolvimento de ambas as línguas (materna e adicional) e todo aprofundamento em uma língua trará efeitos benéficos na outra. J. Cummins (1991) afirma: "Conceitos aprendidos em uma 23 língua ajudará a criança a entendê-los também numa segunda língua." Se a criança já entende o conceito de justiça e honestidade em sua língua materna, ela somente precisará aprender a palavra correspondente num segundo idioma para tais conceitos. Essa teoria também explica que quando se aprende um segundo idioma fica mais fácil aprender outros. A teoria de Cummins pode ser resumida da seguinte forma. Independente do idioma que a pessoa esteja usando, os pensamentos que norteiam a fala, a leitura, a escrita e a audição procedem de uma mesma fonte. Quando a pessoa fala dois idiomas ou mais, há apenas uma fonte de pensamento. Bilinguismo e multilinguismo só é possível porque as pessoas tem a capacidade de armazenar dois ou mais idiomas. Falar, escrever, ouvir e ler no idioma materno ou em um segundo idioma ajuda a sistema cognitivo a se desenvolver como um todo. Vygostsky (1986.pp 159-161) argumenta que (...) Quando aprendemos uma segunda língua, usamos o significado da palavra que já está bem desenvolvida na língua materna e apenas traduzimos. O conhecimento da língua materna também tem um papel importante no estudo do segundo idioma. 24 Capítulo 3 VANTAGENS DE UMA EDUCAÇÃO BILINGUE Como vimos anteriormente, pesquisas indicam que estudantes bilíngües desenvolvem melhor suas habilidades nas áreas cognitivas. Esta talvez seja a explicação porque estes estudantes geralmente apresentam um melhor desempenho em testes de inteligência verbal, na conceitualização, no pensamento global e na solução de problemas. A criança bilíngüe também tem a vantagem de se apropriar da língua com um distanciamento vantajoso dos mecanismos lingüísticos. Se uma criança encontra dificuldades de aprendizagem, provavelmente não é devido à educação bilíngüe e este problema deve ser tratado com cuidado. Tokuhama-Espinosa (2001) identifica alguns mitos sobre bilinguismo, e um deles é que se uma criança aprende mais de uma língua, ela poderá ter problemas de aprendizagem por causa disso. Aprender com fluência um segundo idioma abre muitas portas. ―Como a quantidade de informações tem aumentado de forma tremenda, e a maneira de como essa informação pode ser compartilhada, quem possui a habilidade de falar mais de uma língua terá mais oportunidades no mercado de trabalho‖. (Baker,2006: 423) Bilinguismo também virou sinônimo de status em nossa sociedade. No entanto, MacKenzie (2001) aponta que essa escolha está relacionada às necessidades do mundo moderno. Portanto, quando pais escolhem por uma educação bilíngüe acreditam que estão investindo no futuro profissional de seus filhos. 25 Na hora de concorrer a uma vaga de emprego, prestar concurso público,viajar para o exterior, as pessoas que dominam uma segunda língua levam vantagem. Pesquisas realizadas por agências que oferecem empregos revelam que, em média, uma pessoa que domina o segundo idioma pode ganhar até 70% a mais do que um monoglota. Além disso, um indivíduo bilíngüe terá muito mais facilidade de continuar os seus estudos em outro país, sem prejuízos na sua formação. O domínio do segundo idioma também exerce um papel preponderante na formação cultural de um indivíduo e o torna mais aberto às transformações. A formação simultânea em um segundo idioma também evita a pressão psicológica em ter de se acostumar aos fonemas de uma nova língua na adolescência ou na fase adulta, período em que já é mais difícil o aprendizado em conseqüência do trabalho e da vida social intensa. A pressão para falar precocemente outro idioma pode levar a criança a uma aversão ao aprendizado, quando o mesmo não é direcionado da maneira correta. Os especialistas revelam que a alfabetização em duas línguas ao mesmo tempo, em alguns casos, pode atrasar o desenvolvimento da escrita nos dois idiomas. 3.1 Vantagens do Bilinguismo na Educação Inclusiva O reconhecimento dos surdos e da sua comunidade linguística está inserido dentro de um conceito mais geral de bilingüismo. Esse conceito mais geral de 26 bilingüismo é determinado pela situação sócio-cultural da comunidade surda como parte do processo educacional. O fato de serem pressupostas duas línguas no processo educacional da pessoa surda, a Língua Brasileira de Sinais e a Língua Portuguesa, está inserido num processo educacional. Bilingüismo para surdos atravessa a fronteira lingüística e inclui o desenvolvimento da pessoa surda dentro da escola e fora dela dentro de uma perspectiva sócio-antropológica. A educação de surdos deve ser pensada em termos educacionais e não mais em termos de línguas. Dentro desse contexto, o bilingüismo está sendo apresentando como um caminho de reflexão e análise da educação inclusiva. O bilingüismo propõe que o surdo comunique-se fluentemente na sua língua materna (língua de sinais) e na língua oficial de seu país, seja oral, seja escrita. A língua de sinais propicia o desenvolvimento lingüístico e cognitivo da criança surda, facilita o processo de aprendizagem, serve de apoio para a leitura e compreensão. Em síntese, a integração plena da pessoa surda passa, necessariamente, pela garantia de convívio em um espaço, onde não haja repressão de sua condição de surdo, onde possa expressar-se da maneira que mais lhe satisfaça, mantendo situações prazerosas de comunicação e de aprendizagem. Assim, a língua de sinais constitui o modo mais direto de atingir as crianças surdas, o meio mais simples de lhes permitir o desenvolvimento pleno, e o único que respeita sua diferença, sua singularidade. Por isso, educar a criança na sua própria língua favorece seu desenvolvimento emocional (construção de sua identidade, segurança, auto-estima, etc), cognitivo e social, assim como 27 proporcionar a oportunidade de crianças não-surdas de aprenderem a língua de sinais e com isso inserir o bilinguismo na educação inclusiva, favorece o desenvolvimento de seu processo comunicativo e desenvoltura das inter-relações. 3.2 O que é Alfabetização bilingue ? A alfabetização bilíngüe proporciona o aprendizado de um segundo idioma sem deixar de lado a língua materna. Nas principais escolas brasileiras que oferecem este sistema, geralmente professores nativos no segundo idioma, mas que dominam o português, são os responsáveis pelas aulas na língua estrangeira. Existem também estabelecimentos que contratam professores brasileiros que moraram muito tempo no exterior e ganharam fluência no segundo idioma. Basicamente, existem duas técnicas para a alfabetização bilíngüe: a seqüencial e simultânea. No seqüencial, a alfabetização acontece inicialmente em apenas um idioma e depois de um determinado tempo (média de um ano), as crianças aprendem as diferenças de uma língua para a outra em relação à letra e ao som. Como o próprio nome revela, na alfabetização simultânea, mais comum nas escolas brasileiras, as crianças são submetidas aos dois idiomas ao mesmo tempo. Os pais ou os responsáveis pelas crianças são quem devem determinar quando a alfabetização bilíngüe deve começar. No Brasil, existem escolas que trabalham com esta metodologia desde os primeiros anos da educação infantil. Há 28 também, estabelecimentos que trabalham especificamente com uma determinada faixa etária. E, ainda, existem escolas de idiomas que aceitam matrículas de crianças que já iniciaram o processo de alfabetização (por volta dos 6 anos). Além das aulas, os pais também devem estimular os seus filhos com atividades fora das escolas: leitura de jornais, revistas e livros, acompanhamento de emissoras internacionais, troca de mensagens entre os colegas e acompanhar filmes sem legendas, por exemplo. 3.3. Como acontece a alfabetização bilingue? Pesquisas indicam que há um desenvolvimento seqüencial consistente na aquisição de uma segunda língua por crianças. Primeiramente há um período no qual a criança continua a usar sua língua nativa nas situações da segunda língua. A seguir, a maioria das crianças entra num período não-verbal ou de "silêncio". Depois disso, as crianças começam a usar frases "telegráficas" e "frases feitas" na segunda língua, até que começam a produzir frases mais completas. Durante o período de "silêncio", elas estão trabalhando ativamente na compreensão e no sentido da segunda língua. Elas observam e ouvem com atenção a professora e as outras crianças que usam a segunda língua. Os professores podem então, estabelecer rotinas e planejar atividades de construção e repetição, de forma de que a criança possa progressivamente ir se tornando familiar com a segunda língua. Durante o período "silencioso", as crianças utilizam também linguagem não-verbal, como gestos e mímicas, para se comunicar. 29 ―Frases feitas" surgem depois de a criança ter memorizado frases inteiras que elas ouviram de seus colegas ou professores. Frases feitas ou "préformuladas", como também são chamadas, são muito úteis por permitir às crianças interagir em situações de brincadeiras com falantes de segunda língua. Frases como "I want to play with you" ou "May I have a…" são exemplos de como as crianças compreendem e adquirem significados para se comunicar na segunda língua. Após o período de frases pré-formuladas, se inicia uma linguagem mais elaborada, quando a criança começa a desenvolver um entendimento da sintaxe e da estrutura gramatical da língua (o que não significa que neste estágio a criança conheça as regras de sintaxe ou a nomenclatura gramatical, mas sim que já estabelece um método para usá-las). Através da comparação e da ampliação ou abandono das frases pré-formuladas e, juntamente com o desenvolvimento e a aplicação das regras da sintaxe da língua, as crianças aprendizes de uma segunda língua, chegam a um controle na produção da nova língua. Elas iniciam, então, seus próprios novos usos da segunda língua e progridem a partir daí, ampliando o vocabulário e as estruturas gramaticais. (TABORS, P. 1997) 3.4 É normal que as crianças troquem palavras e misturem as duas línguas Isto é normal para crianças que estão se tornando bilíngües; ocasionalmente elas misturam as duas línguas. Isto é conhecido como "troca de 30 código". Isto ocorre naturalmente e depende da audiência e do propósito da comunicação. A "troca de código" geralmente ocorre quando uma criança está tentando clarificar uma idéia ou resolver uma ambigüidade. Ela é também usada para atrair ou manter a atenção do ouvinte ou para elaborar uma afirmação. As crianças algumas vezes misturam as duas línguas quando tentam comunicar uma palavra ou expressão que não está imediatamente disponível para elas na segunda língua. Isso confirma a Teoria dos Icebergs, segundo Cummins, já visto anteriormente. Como as crianças monolíngües, crianças bilíngües também brincam com suas duas línguas, fazendo rimas, inventando palavras e usando certas palavras fora do contexto apropriado. "Troca de código" e mistura de línguas são fenômenos temporários na aquisição de uma segunda língua. (GENESEE, F. 1987). A medida em que as crianças se tornam mais familiares com suas duas línguas, não há mais necessidade ou desejo de combiná-las. As crianças entendem que cada língua tem o seu próprio vocabulário e sintaxe. Elas também entendem que certas pessoas com quem elas estão em contato não falam duas línguas, como elas. Consequentemente, elas aprendem a usar somente uma das línguas com determinadas pessoas. (BAKER, Collins, 1996) 3.5 Qual a condição para que uma escola seja considerada bilingue? 31 Segundo todas as fontes de estudos citadas nesse projeto, fica claro o que é o bilinguismo e portanto qual deve ser a proposta de uma escola bilingue. No entanto, hoje em dia há muitas escolas que por questão de ― status‖ ou para impressionar sua clientela ou para aumentar o valor da mensalidade dizem oferecer uma educação bilingue. Entretanto, na verdade, o que acontece é que uma vez na semana as crianças têm uma aula de meia hora para aprender um segundo idioma. O máximo que elas conseguem aprender é a contar até 10, a dizer o nome das cores e algumas outras frase como: esse é meu nome e qual é o seu, a dizer quantos anos tem etc. Não há nenhum mal da criança ser exposta a outro idioma e aprender apenas algumas palavras. O problema é que muitos pais matriculam seu filhos nessas escolas e acham que eles vão a aprender a ―falar‖ um outro idioma. Vimos através desse estudo que a aquisição de uma segunda língua é um processo complexo e que para isso, há a necessidade de uma metodologia, bem como uma boa qualificação do professor. Sendo assim, para que uma escola seja considerada bilingue ela precisa oferecer um currículo que ao final dele, a criança seja capaz de se comunicar em uma segunda língua tão bem quanto consegue se comunicar na língua materna e isso envolve a habilidade de falar, ouvir e compreender o que está sendo dito. Para que isso aconteça é necessário que o aluno seja exposto aos dois idiomas de forma consistente e adequada. 32 CONSIDERAÇÕES FINAIS Segundo as pesquisas feitas durante este estudo, podemos concluir que pessoas que aprendem uma segunda língua ainda na infância terão mais chances de desenvolver um maior grau de proficiência do que aqueles que aprenderam um segundo idioma mais tarde. (Colin Baker – 2006). No entanto , não é contraditório dizer que qualquer pessoa pode ter proficiência num segundo idioma aprendido na juventude. Os adultos podem até aprender mais rápido que uma criança, porém um fator relevante é o tempo que esse aluno será exposto a uma segundo idioma. Aquelas pessoas que aprendem uma segunda língua na infância e continuam sendo expostos a esse idioma durante toda a vida acadêmica terão mais chances de se tornarem totalmente fluentes e com um sotaque parecido aos nativos do que aqueles que começaram a aprender uma outra língua mais tarde. J. Cummins defende a Teoria dos icebergs (1981). Ele afirma que assim como os icebergs podem ser vistos como dois blocos separados, mas abaixo da superfície tem uma base comum, desta mesma forma acontece com o sistema central de processamento da linguagem, ou seja, as duas línguas não operam separadamente. Existem muitas outras teorias sobre o assunto, inclusive algumas que contradizem o estudo de J. Cummins. Entretanto, segundo consultada, as afirmações feitas por a bibliografia Cummins são totalmente coerentes É natural que as crianças quando estão aprendendo uma outra língua, usem palavras da sua primeira língua para expressar algo que ainda não sabem no novo idioma, o que é denominado de troca de códigos (GENESEE, F. 1987). Como 33 afirma Cummins em sua teoria ―uma fonte de conhecimento abastece a outra‖. Partindo destes estudos podemos afirmar que a educação bilingüe favorece a aprendizagem, e em especial ao desenvolvimento verbal. A pessoa que aprende um idioma na infância terá mais facilidade de aprender outros. Devido a necessidade de se falar mais de um idioma numa sociedade globalizada como a que vivemos, muitos pais estão engajados em proporcionar uma educação bilingue para seus filhos para que eles possam estar preparadas para o mercado de trabalho. Atualmente, pessoas que falam mais de um idioma terão mais oportunidades de conseguirem melhores empregos e boas colocações em grandes empresas. Infelizmente, algumas escolas oferecem tal proposta apenas como ― nicho de mercado‖ mas não estão adequadamente preparadas e assim geram nos pais falsas expectativas. Como foi mencionado no estudo apresentado, uma boa escola bilingue precisa ter professores qualificados e bem treinados, uma proposta pedagógica clara e coerente com o currículo e recursos que proporcionem o aprendizado de forma lúdica e agradável. Outro fator importante é o que afirma alguns estudiosos: ― Como língua e cultura são inseparáveis, portanto, quando se alcança proficiência em uma outra língua, inevitavelmente estaremos envolvidos com outra cultura‖ (Haworth et al 2006:295). Baker (2006) sugere que bilinguismo inclui, além da educação, 34 aspectos sócio-políticos e econômicos. Desta forma, é importante que a escola que ofereça uma educação bilíngüe, também permita que o aluno tenha envolvimento com a cultura em questão, pois desta forma o ensino será mais contextualizado e trazendo sentido para a aprendizagem. 35 REFERENCIAS SAUNDERS, George. Bilingual children: From Birth to teens. England: Mutlingula Matters, 1988. P.8.) CUMMINs, J. (1980). The construct of language proficiency in bilingual education. In: J. E. Alatis (ed). CUMMINS .J (1984). Wanted: A theoretical framework for relating language proficiency to academic achievement among bilingual students. In C. Rivera (ed.), Christianne Visvanathan. "HowStuffWorks - Como funciona a educação bilíngüe". Publicado em 26 de agosto de 2008 (atualizado em 04 de setembro de 2008) Internet http://pessoas.hsw.uol.com.br/educacao-bilingue2.htm (04 de janeiro de 2009) Bilinguism in Education - Jim Cummins and Merrill Swain Hamers & Blanc, 1989). BAKER, Colin (1996). Foundations of Bilingual Education and Bilingualism. 2nd edition. Clevedon: Multilingual Matters Ltda. GENESEE, F. (Ed.) (1994). Educating second language children: The whole child, 36 the whole curriculum, the whole community. New York: Cambridge University Press. GENESEE, F. (1987). Learning through two languages: Studies of immersion and bilingual education. Boston: Heinle & Heinle Publishers. GROSJEAN, F. (1982). Life with two languages: An introduction to bilingualism. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press. TABORS, Patton O (1997). One Child, Two Languages: A Guide for Preschool Educators of Children Learning English as a Second Language. Cambridge, Massachusetts: Brookes Publishing Cº. 37 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO DEDICÁTORIA AGRADECIMENTO SUMÁRIO INTRODUÇÃO CAPÍTULO I LINGUAGEM SEGUNDO PIAGET E VYGOSTKY 1.1 PENSAMENTO E LINGUAGEM 1.2 LINGUAGEM E BILINGUISMO CAPÍTULO II 2.1 2.2 OUTROS ASPECTOS NA AQUISIÇÃO DE UMA SEGUNDA LÍNGUA TEORIA DOS ICEBERGS SEGUNSO CUNNINS CAPÍTULO III 3.1. VANTAGENS DO BILINGUISMO NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA 3.2. O QUE É ALFABETIZAÇÃO BILINGUE? 3.3. COMO ACONTECE A ALFABETIZAÇÃO BILINGUE? 3.4. É NORMAL QUE AS CRIANÇAS TROQUEM PALAVRAS E MISTUREM AS DUAS LÍNGUAS 3.5. QUAL A CONDIÇÃO PARA QUE UMA ESCOLA SEJA CONSIDERADA BILINGUE? CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ÍNDICE Anexo I Anexo II 38 ANEXO 1 39 PUBLICAÇÃO DO JORNAL ... 29 DE JANEIRO DE 2008 - Gazeta do Povo on line - PR A fluência em um segundo idioma - e muitas vezes em um terceiro e até quarto - e o acesso a uma faculdade no exterior fazem das escolas bilíngües o sonho de consumo de muitos pais brasileiros. Segundo a professora Ana Canen, PhD em educação pela Universidade de Glasgow, na Escócia, os pais que têm condições financeiras de pagar por um ensino internacional como o oferecido por essas escolas, mesmo sem ter qualquer ligação com o país estrangeiro em questão, esperam que seus filhos adquiram competências e habilidades que abram portas no mercado de trabalho. As empresas hoje estão atuando em contextos plurais, fruto da globalização e do progresso tecnológico. Os pais consideram que, ao matricular os filhos em escolas bilíngües, eles estão dando a eles as ferramentas necessárias para atuar nesse mundo, tanto na questão de desenvolvimento de competências e habilidades, quanto do ponto de vista cultural - afirma. A professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro lembra que as crianças estão aptas a aprender um segundo idioma desde muito cedo e explica também que é muito importante para sua formação lidar com outra cultura: - Aprender o segundo idioma ainda na infância não traz prejuízo nenhum para a criança. Ao contrário, assim, desde pequena, ela passa a relativizar sua maneira de ver o mundo. Percebe que há outra forma de concebê-lo. E isso é essencial ao mundo globalizado - defende Ana. 40 A professora Janaína Cardoso, doutora em estudos da linguagem pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), concorda que aprender a lidar com a diversidade é um ponto positivo, mas alerta que, mesmo a idade sendo propícia para o aprendizado, o aluno tem que se sentir motivado para isso: - É preciso que a criança goste de aprender o segundo idioma. Que ela seja motivada pela escola. O estresse, provocado pelo medo de errar, por uma sensação de insegurança, podem tornar o aprendizado difícil e sofrido - afirma. Para Ana Canen, o questionamento sobre se o ensino bilíngüe é melhor do que o brasileiro não cabe na discussão. O que existe, segundo a pesquisadora, são abordagens diferentes para ensinar o mesmo conteúdo. - Não há como dizer se é melhor. Os pais devem pensar no que eles querem oferecer aos filhos e escolher uma escola que atenda a essa expectativa. As escolas bilíngües proporcionam o ensino de outras línguas, oferecem cursos extra-curriculares como música, marcenaria, informática, muitas vezes estimulam o trabalho comunitário... Por considerar o ensino do Lycée Molière de acordo com o que espera para a educação de sua filha Sophie, a roteirista Aline Garbati escolheu a escola. - A segunda língua fluente desde a infancia é o benefício mais óbvio em qualquer escola bilíngüe. Mas na escola francesa ainda ganha-se cultura geral ampla, amor às artes e principalmente o hábito da leitura. E de brinde, mais duas línguas: inglês e alemão ou inglês e espanhol - afirma Aline, que também estudou na escola. 41 Paula Richard tem três filhos na escola: Julien, de 17 anos, Alexandre, de 15, e Joanna, de 11. Segundo Paula, como todos moraram na França quando pequenos, a escola francesa foi uma escolha natural quando chegaram ao Rio: - No caso dos meus filhos, que possuem dupla-nacionalidade, estudando no Lycée é como se eles estivessem estudando na França. Além de poderem fazer, no Brasil, os exames para ingressar numa faculdade francesa, eles poderão optar por seguir os estudos superiores aqui também. Em termos de futuro, sabemos que qualquer diferencial positivo no currículo pode ser decisivo na hora de disputar uma vaga no mercado de trabalho - explica. E se a preocupação dos pais é quanto à preparação para o vestibular, Ana Canen explica que, na maioria dos casos, o problema está resolvido: - Hoje em dia, as escolas bilíngües no Brasil recebem mais alunos brasileiros do que estrangeiros. E, sabendo que esses alunos possivelmente seguirão estudos aqui, já incorporaram a seus currículos a preparação para o vestibular. Segundo Suely Peçanha, orientadora pedagógica da Escola Americana, esta é uma preocupação da instituição. Ao sair da Escola Americana o aluno recebe dois diplomas, um brasileiro e um americano. A escola tem como objetivo preparar o aluno para entrar na universidade, seja aqui, nos Estados Unidos, ou na Europa. Carolina Machado, de 17 anos, ainda não sabe se cursará uma universidade no Brasil ou nos Estados Unidos: - Tenho que decidir esse ano, mas ainda estou em dúvida. A tendência será fazer uma faculdade aqui e um mestrado lá fora - conta a aluna da Escola Americana. 42 Thomas Wolfer, diretor da Escola Suiço-Brasileira - onde os alunos aprendem francês, alemão e inglês, além do português -, afirma que 90% dos alunos são brasileiros. Por isso, além do ensino europeu, a escola sabe da importância de preparar para o vestibular. Além de pesquisadora sobre o assunto, a professora Ana Canen experimenta a vivência do estudo bilíngüe em sua própria casa. Como morou seis anos na Escócia, ao voltar para o Brasil acabou matriculando os dois filhos na Escola Britânica. - Logo que chegamos, tentei colocá-los numa escola brasileira, mas eles não se adaptaram. Estudaram na Escola Britânica e foram muito bem sucedidos. A mais velha, hoje com 23 anos, fez direito. O de 17 anos acaba de passar para economia na FGV, teve pontuação muito boa nos exames que prestou para as universidades britânicas e ganhou um bolsa para estudar nos EUA - conta, orgulhosa. 43 ANEXO II 44 Além da gramática Agosto de 2008 – Revista Nova Escola Para aprimorar o ensino de inglês e espanhol, o ideal é usar textos diversos, valorizando a interação e as situações reais de comunicação. Os jovens – sejam japoneses, franceses, angolanos, brasileiros ou mexicanos – vêem os mesmos filmes, curtem as músicas de sucesso internacional, lêem os mesmos best- sellers e acessam ao mesmo tempo as páginas da internet.. E fazem tudo isso usando, além da língua materna, o inglês e o espanhol, que amplia cada vez mais seu alcance. Por isso, o ensino de Língua Estrangeira vem se modificando e hoje busca, como principal objetivo, fazer com que os estudantes participem ativa e criticamente de um mundo de fronteiras diluídas no que diz respeito ao acesso à informação. ―Os alunos têm sim, interesse em aprender outro idioma a fim de entender as letras das canções e poder cantá-las e se comunicar via internet‖, explica Deise Prina Dutra, formadora de professores de Língua Estrangeira na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). As pesquisas mais recentes no ensino das disciplinas estão vinculadas à perspectiva sociointeracionista defendida pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Essa visão leva em conta as necessidades dos alunos. ― Sempre se deve perguntar por que o brasileiro precisa aprender outra língua e para quê‖, diz Maria Antonieta Alha Celani, pesquisadora da Pontífica Católica de São Paulo (PUCSP) e uma das autoras dos PCNs. 45 O sociointeracionismo critica a concepção de aprendizagem de abordagens e métodos que valorizam apenas as questões relativas a cognição e os comportamentos (aquisição de hábitos lingüisticos), sem considerar o contexto social, a interação e a mediação. De acordo com essa perspectiva, cuja origem é o pensamento do psicólogo Vygostsky (1896-1934), a interação mediada pela linguagem sempre ocorre num determinado lugar social e num momento da história, e os professores tem que saber disso. Críticas e outras teorias aparecem também pela falta de preocupação com aspectos políticos, culturais ideológicos que sempre estão associados à linguagem. O importante é não cair nos engodos da moda, mas usar diferentes recursos para entender as práticas sociais de leitura e escrita e participar delas (...). Isso significa que, os participarem de uma atividade real, as crianças vão aprender os conteúdos lingüisticos e também ligados à própria ação. (...) Ao estudar um segundo idioma, o aluno usa conhecimentos prévios de leitura e escrita e faz analogias com a língua materna. Embora a maior parte dessas comparações não tenha correspondência, existe um conceito abrangente, vindo da área de alfabetização que pode ser usada em Língua Estrangeira: o desenvolvimento de comportamentos leitores e escritores por meio de práticas sociais. (...). De acordo com especialistas, uma deficiência comum às faculdades de Letras é a pouca atenção que se dá à proficiência no idioma – já que existem professores que não dominam habilidades essenciais para o ensino de Língua Estrangeira, como a fala ,a escrita e a audição. Outra é a falta de novas práticas no currículo, 46 em especial o trabalho de gêneros. No geral, as grades disciplinares apresentam poucos momentos dedicados à didática. (...)