Gabriel D'Espindula – Bolsista do Programa do Governo Brasileiro Ciência sem Fronteiras Como é ser bolsista CsF no Japão Hoje estou a exatamente duas semanas de meu retorno ao Brasil, depois de um ano de intercâmbio na Universidade de Osaka. Acho importante ao registrar minha experiência através desse depoimento, primeiro falar um pouco a meu respeito e também o que me levou a escolher o Japão como opção de intercambio. Bem, meu nome é Gabriel D’Espindula, tenho 23 anos e estudo Engenharia Elétrica na Universidade positivo. Além disso, tenho também curso de Técnico de Eletrônica e trabalho no SENAI como técnico de ensino. Na verdade eu sempre gostei muito de eletrônica e faço meus circuitos desde os 15 anos. O principal e único motivo que me fez vir ao Japão é que aqui é o melhor país nessa área. Existem diversas empresas e universidades famosas que desenvolvem e pesquisam na área de eletrônica e robótica, não é a toa que quando pensamos em robôs ou eletrônica nos vêm à cabeça coisas malucas feitas no Japão. Normalmente os Brasileiros vêm ao Japão ou porque tem algum tipo de família ou descendência japonesa, ou porque gostam da cultura pop (anime, jpop, manga, videogames). Diferente da maioria, eu vim para ver como as coisas acontecem por aqui na minha área de interesse profissional, logo, não conhecia absolutamente nada do Japão. Confesso que o primeiro mês foi difícil. Por um lado me impressionei muito com a segurança, trens, metrôs, quantidade de pessoas, pessoas baixas, ruas mais estreitas, vending machines em todos os lugares, lojas de conveniência em todos os lugares, o tamanho da Universidade, a qualidade dos laboratórios, o método de ensino, os grupos de atividade extracurricular, etc. Por outro lado o choque cultural me deixou bastante solitário, não sabia nada da língua japonesa, o inglês é muito precário, as pessoas não se encostam, mantém um espaço pessoal maior, não olham nos olhos se não te conhecem direito. Eu também sentia uma atmosfera muito pesada no laboratório, todos trabalhavam muito até muito tarde, eventualmente dormiam no laboratório, muitos faziam refeições sozinhos, etc. Enfim, pequenas coisas que talvez apenas com esse texto não seja possível expressar o quão diferente é a atmosfera Japonesa. Com o passar do tempo aprendi a conviver com essas diferenças e hoje elas não me afetam mais. Comecei a estudar japonês, entrei para grupos de atividades extracurriculares (bukatsu 部活) e conheci melhor o pessoal do laboratório. Hoje estou na fase melancólica em que preciso dizer adeus a todos sem saber quando voltarei para cá novamente. A vida na universidade no Japão é bem diferente. Aqui na Universidade de Osaka o principal objetivo para os alunos do CsF é a pesquisa, logo, a única matéria obrigatória é chamada Frontier Lab e, basicamente, entrei em um laboratório, precisei entender a linha de pesquisa deles e propor meu trabalho. Cada laboratório tem seu próprio método, mas na grande maioria o aluno faz a pesquisa por conta própria e tem ajuda dos professores para algum eventual problema. No meu laboratório tinha reunião de progresso a cada 15 dias e eventualmente reunião com professores convidados de outras Universidades. E o trabalho é bastante puxado, as pessoas trabalham inclusive nas férias letivas. Em vários dias entrei de manhã e fiquei até altas horas da noite trabalhando, eventualmente sábado ou domingo também. Mas não reclamo, porque o meu tema de pesquisa era incrível e procurei ao máximo aproveitar a estrutura por aqui, mesmo porque sei que não encontrarei nada parecido pelo Brasil, infelizmente. Antes de vir escolhi a Universidade de Osaka como primeira opção porque aqui me pareceu o melhor lugar para estudar robótica, eu havia visto na televisão pessoas que trabalham ao meu lado hoje. Isso é sensacional! Além do que, eventualmente tenho aulas com professores muito famosos da área de outros países ou de outras universidades do Japão que vem para cá de vez em quando. A universidade está entre as melhores do Japão e para mim é um orgulho ser aluno daqui. Além do Frontier Lab estão disponíveis também outras matérias lecionadas em inglês, mas como meu trabalho no laboratório estava bastante difícil acabei me matriculando somente no Frontier Lab e nas aulas de Japonês. Hoje consigo me comunicar um pouco em Japonês, o suficiente para conhecer novas pessoas, ir ao mercado, farmácia, perguntar informações, etc. Longe de ser fluente, mas ao menos entendo o bastante para sobreviver aqui, conviver com amigos do laboratório e dos bukatsu. A Universidade de Osaka possui um sistema de apoio a alunos estrangeiros muito bom, fui muito bem recebido e auxiliado por aqui. Existem vários programas e departamentos que ajudam estudantes internacionais, como meu laboratório faz parte do Engineering Science, frequentei bastante o International Office deste prédio para todo o tipo de ajuda, tinha também um tutor no laboratório e fiz muitos amigos Japoneses e de outros países. A Tasaka san que cuida do International Office é ótima! Não somente a Tasaka san, mas todos os japoneses que conheci aqui são muito legais. Em princípio parecem mais reservados, mas é só uma primeira impressão. Todos têm medo de errar e falar inglês para eles é difícil justamente porque tem medo de falar errado. Porém, diferente dos trotes no Brasil, novos estudantes são recebidos com festas e os grupos de atividade extracurricular fazem o máximo para receber novos membros, Os veteranos pagam tudo para os calouros nas festas de boas vindas e nos grupos eles têm bastante paciência para ensinar os novatos. Eu conheci também alguns japoneses que estudam português! Não acreditei, mas eles passam 4 anos estudando português! Muito legal! Enfim, foi um ano muito enriquecedor para mim. Aprendi muito, fiz muitos amigos e consegui visitar muitos lugares nos finais de semanas e feriados! A bolsa do CsF é o bastante para, se poupar durante a semana, viajar bastante. Osaka é um lugar ótimo. O povo daqui é muito amigável, fica perto de outros lugares muito bonitos como Kobe, Kyoto, Nara, etc. Além disso, diferente de Tóquio que não gostei muito, acho que é possível se sentir de verdade no Japão aqui. A cidade é o reflexo de um Japão novo com um Japão tradicional e isso a torna única. Não tem tantos estrangeiros como Tóquio e as pessoas não estão sempre com a cara fechada como em Tóquio, mas é também uma cidade grande onde se encontra de tudo. É difícil resumir tudo o que senti e passei durante esse ano, mas com certeza não me arrependo nada de ter vindo ao Japão, não conhecia nada daqui e agora admiro muito o país e principalmente o povo Japonês. Meu objetivo que era aprender mais sobre a área da eletrônica e robótica aqui foi cumprido e, além disso, cresci bastante pessoalmente e aprendi muita coisa da cultura daqui. Talvez a única desvantagem de ter vindo a um país tão longe é que agora vou precisar guardar dinheiro no Brasil para vir visitar o Japão e meus amigos aqui mais vezes no futuro, e é tão longe! Enfim, espero ter passado um pouco do que vivi aqui nesse texto, mas de qualquer forma me coloco a disposição para quaisquer dúvidas ou curiosidades que futuros intercambistas tenham! Att,