Uma resposta à Folha Artigo enviado à ombudsman da Folha de São Paulo pelo professor do Instituto de Artes da Unesp e violinista, Luciano Cesar Morais Prezada Vera Guimarães, ouvidoria da Folha de São Paulo: Meu nome é Luciano Morais e trabalho na UNESP, campus São Paulo, Instituto de Artes. Escrevo para tratar de uma questão que julgo muito grave para o debate público em torno da universidade pública e sua relação com a sociedade. No dia 16 de setembro a Folha publicou os salários dos servidores, com o pretexto de “informar” a população sobre os gastos com folha de pagamento de docentes, que seriam, supostamente, altos demais, justificando enxugamentos de cortes em orçamentos e redução da cota parte de 9,57 por cento do ICMS. Essa redução já foi proposta pelo governador, sem alarde nenhum da imprensa, o que pressupõe que ela está de acordo. O problema é que não se informa à população sobre o constante aumento de trabalho dessas instituições, que tem tornado os professores alvo de aumento nos índices de doenças provocadas por stress e excesso de trabalho. A internacionalização, o aumento de alunos nos cursos, a exigência de criação de novos cursos, novos turnos e turmas, mais uma séria defasagem no reajuste salarial discutida pelo sindicato dos professores (a Adunesp), tem tornado a profissão muito difícil de se sustentar. Se há mais exigências, tem que haver mais investimento. Ao contrário, o que tem havido é uma tentativa de reduzir o investimento real, já reduzido pela sua relação com trabalho exigido, somado à dificuldade de repor professores aposentados e falecidos. O que nos leva diretamente ao meu caso: sou contrato como professor substituto, preenchendo uma lacuna deixada pela aposentadoria de um professor. O salário que ganho é de 1.585,22, conforme o holerite que envio em anexo à senhora. Não é preciso dizer que esse salário é insuficiente para o sustento de minha família e que preciso complementar renda em outros trabalhos. Mas na Unesp, já que tenho título de doutor, desempenho um trabalho compatível com a função de qualquer outro professor. Apenas sou mais barato para a instituição. Pois bem, na matéria da folha, já mencionada, meu salário consta como sendo de 7.576,90 reais, muito diferente dos 1.585,22 que recebo. Em anexo, um printscream da busca no site do jornal. O valor divulgado é flagrantemente falso e passa uma impressão errada para a população. Por essa medida, esconde-se o fato de que um professor substituto trabalha na instituição com menos possibilidade de dedicação e que isso sucateia o ensino. Professores somente com mestrado recebem cerca de 1.100 reais, conforme divulgo no edital em anexo, que regulamentou minha contratação. Divulgando-se esse dado distorcido de maneira tão ridícula, além do problema moral, cria-se uma pré-disposição negativa na socieda de que não condiz com o que de fato tem sido investido. Verifiquei que todos os professores substitutos estão com o mesmo problema, o salário está divulgado como sendo mais de 7 mil e quinhentos reais, enquanto que o valor real é de menos de 1.200 para mestres, e para doutores, menos de 1.600. Neste site: https://sistemas.unesp.br/sic/paginas/transparencia.xhtml ... é possível observar os ganhos de todos os professores e servidores, com valores corretos disponíveis a consulta pública. Há um item chamado “redutor constitucional”, que impede que qualquer professor ganhe mais do que o teto do salário do governador, mesmo que ele tenha décadas de serviços prestados e acréscimos por composição em órgãos administrativos. Ninguém ganha mais do que o governador na Unesp, nem na USP, nem na Unicamp. Mas se meu salário e o de toda a categoria de professores substitutos foi divulgado com essa discrepância de cerca de cinco mil reais, imagino que não haja razão para confiar em qualquer informação prestada pela Folha a esse respeito. Isso compro mete, mais uma vez, a credibilidade do jornal. Mentindo assim, fica fácil defender o número de 96 por cento comprometido com folha de pagamento, como se não fosse absolutamente justo remunerar decentemente os professores das três universidades de maior excelência no país. Digo “mentindo”, não por agressividade gratuita, mas por saber – e concordar com o fato – que o salário verdadeiro já é público, disponível à consulta pela internet, o que parece não ter sido feito de forma correta pela equipe da Folha. Neste caso, um crime por incompetência ou má fé não faz a menor diferença, por que o efeito foi o mesmo: desinformação escandalosa. Solicito uma matéria corrigindo o problema. Solicito também que seja dada visibilidade a essa correção. E solicito que o jornal cumpra sua função de informar, ao invés de divulgar mentiras convenientes a uma ideologia de sucateamento do ensino público. Cordialmente, Luciano Cesar Morais – professor e violonista