PECUÁRIA LEITEIRA ECOLÓGICA
PRINCÍPIOS E PRÁTICAS
APOSTILA TÉCNICA
Coordenação Técnica
Rodrigo Machado Moreira – Médico Veterinário
Apoio Técnico
Marcio Gonçalves Campos – Eng Agrônomo
Mariana Galdino – Médica Veterinária
Silvia Pereira – Médica Veterinária
Mariana Pestelli – Médica Veterinária
Luciana Marcolino – Zootecnista
Primeira Edição
BOTUCATU, SETEMBRO DE 2006
INSTITUTO GIRAMUNDO MUTUANDO
INTRODUÇÃO
Este material foi produzido na forma de apostila para a formação de técnicos que trabalham
com pecuária leiteira no Sudeste Brasileiro. A “ecologização gradativa” da pecuária leiteira se dá a
partir da conscientização e mobilização de agricultores/as e técnicos/as no sentido de que é preciso
e possível implementar mudanças no manejo dos animais, dos pastos e de toda a propriedade, de
forma a tornar a produção de leite mais ecológica e sustentável, ao longo do tempo.
Este material se inicia com a abordagem de alguns aspectos históricos da agricultura
convencional e ajuda a entender o porquê da necessidade de tornar a agropecuária mais ecológica.
Será foco deste início os efeitos negativos da produção animal convencional sobre a sociedade e a
natureza e os princípios que devem orientar a mudança que queremos na pecuária leiteira..
Em seguida são abordaremos aspectos teóricos e práticos da recuperação ecológica de
pastagens degradadas e do manejo ecológico dos pastos, oferecendo um guia prático para:
implementação de áreas de Pastoreio Racional Voisin; arborização de pastagens; implantação de
sistemas silvipastoris e fertilização orgânica de pastagens. São listadas, ainda, algumas razões para
não se utilizar fertilizantes químicos nas pastagens.
No quarto capítulo abordamos algumas diretrizes para o manejo ecológico dos animais e para
a suplementação alimentar a base de forragens, nos períodos mais críticos do ano. Estas diretrizes
englobam o manejo ecológico dos animais em lactação, dos bezerros e das novilhas, bem como o
manejo adequado de ordenhas manual e mecânica. São abordadas, ainda, algumas razões para a
não utilização da uréia na alimentação de rebanho leiteiros.
Na seqüência, detalhamos os cuidados com a saúde dos animais em um sistema ecológico
de produção leiteira, oferecendo dicas práticas para o controle alternativo de ecto e endoparasitas e
alternativas terapêuticas, com o uso das plantas medicinais e da homeopatia. Contamos, ainda,
sobre algumas receitas caseiras para a elaboração de medicamentos fitoterápicos de eficácia
reconhecida por produtores de leite.
Observamos, ainda, a importância: da biodiversidade numa propriedade agrícola ecológica;
da adequação da propriedade à legislação ambiental; do planejamento levando-se em conta a microbacia em questão; e da integração da pecuária leiteira com outras atividades agrícolas.
Ao final da leitura, o/a técnico/a terá condições de orientar os/as agricultoras a planejar e
implementar a produção leiteira ecológica.
1. ASPECTOS
HISTÓRICOS
DA
AGRICULTURA
CONVENCIONAL
E
PRINCÍPIOS
DA
AGROPECUÁRIA ECOLÓGICA
a) A agricultura convencional em crise
Segundo especialistas de todo o mundo, atualmente vivemos uma crise ecológica, social, cultural e
ética sem precedentes na história, na qual o Homem é incapaz de ver a realidade de forma mais abrangente
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e de ir além do plano do imediato nas suas escolhas. É como se o Homem moderno usasse uma lente de
contato que impede a humanidade de contabilizar os verdadeiros custos gerados no processo produtivo.
Essa aparente “miopia” das políticas públicas e das empresas privadas ligadas aos complexos
agroindustriais, impulsionada pelo progresso tecnológico do século 20, consolidou um tipo agricultura
conhecida por convencional, a agricultura do agronegócio. Esta agricultura é industrializada, ou seja,
depende da indústria petroquímica, farmacêutica, biotecnológica e automotiva para continuar existindo. Este
modo de produzir na agropecuária foi implantado tendo como base a crença de que seria a única maneira de
suprir as necessidades nutricionais de uma população em rápida expansão.
De fato, desde o século XVII, o Homem acredita que a natureza é fonte inesgotável de matériasprimas para o seu desenvolvimento. No entanto, atualmente sabemos que os recursos naturais, que estão
na base da agricultura, são de fato esgotáveis. Neste sentido, está cada vez mais evidente que a agricultura
convencional, praticada como é atualmente, deve ser responsabilizada por boa parte do esgotamento dos
recursos terrestres.
Após a Segunda Guerra Mundial as nações desenvolvidas deram início à propagação desse modelo
industrializado de agricultura para os países do então “terceiro mundo”. Este fomento à industrialização
completa da agricultura ficou conhecido como Revolução Verde (RV). A RV representou o mecanismo
político, técnico-científico e econômico da chamada modernização conservadora1 da agricultura no mundo
sub-desenvolvido.
É importante lembrar que a referida modernização não poderia ocorrer naturalmente, muito pelo
contrário, a partir dos anos 60 o Estado Brasileiro foi levado a fornecer todas as condições necessárias para
viabilizar a implantação da agricultura convencional, utilizando como instrumento o crédito rural, a pesquisa
científica voltada para as grandes monoculturas de exportação e a extensão rural.
O crédito rural, em especial, foi um instrumento importante na consolidação do modelo, na medida
em que atrelava à liberação dos recursos um pacote de insumos agrícolas industriais, entre eles adubos
químicos, agrotóxicos e sementes melhoradas pelas indústrias. Tal sistema de crédito foi institucionalizado
em 1965 (durante a ditadura militar) como o Sistema Nacional de Crédito Rural - SNCR.
No terreno técnico-científico o suporte veio pela criação de empresas estatais de pesquisa e difusão
agrícola, como a EMBRAPA, EMBRATER e mais tarde, as EMATERs.
Passou-se mais de 30 anos desde que os primeiros pacotes tecnológicos2 desta falsa-revolução
chegaram ao terceiro mundo e, apesar de um rápido aumento global na produção de alimentos, existem
ainda, cerca de 760 milhões de pessoas famintas no mundo.
Se eliminarmos China de uma análise3 da fome no mundo, vemos que o número de famintos passou
1
Segundo FAGNANI (1997), o termo modernização conservadora era utilizado pelos opositores ao processo modernização agrícola brasileiro,
o qual manteve a estrutura fundiária vigente e favoreceu as grandes propriedades.
2
Pacotes técnológicos foi o nome que se deu para o conjunto de tecnologías e insumos producidos pelas indústrias. Faz parte do pacote o
crédito voltado para a agricultura convencional, os técnicos que se dedicam a fazer cegar estes pacotes até os agricultores(as) e os cuentistas
comprometidos com este tipo de agricultura.
3
A Revolução Chinesa, segundo Peter Rosset, foi a grande responsável pela diminuição, na China, do número de famintos de 406 para 189
milhões de chineses, e não A Revolução Verde como se costuma propagar..
4
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de 537 para 597 milhões de pessoas (um aumento de 11%). Na América do Sul, por exemplo, enquanto o
ingresso per capta cresceu 8%, o número de famintos cresceu 19% (ROSSET, 1998). Os outros
aproximadamente 200 milhões, segundo o autor, estão na China.
A RV, além de não solucionar a fome mundial, contribuiu decisivamente para o agravamento das
desigualdades sociais em todo o mundo. No Brasil, o modelo agrícola que incentivou o avanço das
monoculturas de exportação, produzidas em grandes escalas, tornou legítima a concentração crescente de
terras nas mãos dos grandes produtores. Ela fortaleceu os latifúndios e deslocou uma massa de pequenos
agricultores e trabalhadores rurais sem terra para os centros urbanos. Ou seja, a RV agravou o êxodo rural.
Os modelos da RV, altamente carentes em insumos industriais, fracassaram também do ponto de
vista ecológico. Isto se deve ao alto consumo de energia (não-renovável) proveniente do petróleo e
contaminação química do ambiente, o que de fato compromete a base produtiva da agricultura para as
gerações futuras (ROSSET,1998).
b) Impactos negativos da pecuária convencional
Para justificar o porquê de tornarmos a pecuária leiteira mais ecológica é preciso refletir, crítica e
criativamente, sobre o atual estado da pecuária brasileira e sobre as conseqüências negativas geradas
pelos modelos de produção animal de grande escala.
Tanto os sistemas altamente intensivos de produção animal (confinamentos), como aqueles
muito extensivos, têm conseqüências negativas para a natureza e para a sociedade. Os grandes
confinamentos são muitas vezes ineficientes do ponto de vista energético e econômico e causam a
degradação do meio ambiente que está ao redor.
Já o latifúndio da pecuária de corte concentra grandes extensões de terras em avançado estado
de degradação. São estabelecidos sobre ecossistemas extremamente ricos em biodiversidade, como é
o caso da Mata Atlântica, do Cerrado e da Amazônia, para então substituí-los pela dupla boi+pasto, a
qual pode ser antecedida por grandes monoculturas, como é o caso da soja.
Para um melhor detalhamento e compreensão dos impactos sociais e ambientais da pecuária
convencional, os agrupamos da seguinte forma:
•
Água:
Os principais impactos sobre a água são decorrentes dos confinamentos de aves, suínos,
bovinos e outros animais, que poluem e contaminam fontes e cursos d’água. Em zonas de
confinamento animal, como é o caso do sudoeste de Santa Catarina, não há um só curso d’água que
não esteja contaminado com fezes de animais de produção. Mesmo naqueles confinamentos com
fossas e as lagoas de decantação, na época das chuvas fortes há o transbordamento dos dejetos
animais para os rios e riachos (SORIO & HOFFMANN, 2001).
Vale lembrar a extensa contaminação por dejetos animais em países como Holanda e Estados
Unidos, onde as fezes produzidas em confinamentos gigantescos poluem os recursos hídricos, tanto na
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superfície como na profundidade, e vêm criando um grande transtorno para as sociedades do norte. Em
função disso, estes mesmos países buscam territórios no mundo sub-desenvolvido onde possam se
estabelecer e contaminar sem maiores problemas, como é o caso do capital holandês se estabelecendo
no centro-oeste do Brasil para produzir porcos e exportá-los de volta ao seu país, deixando em nosso
território, literalmente, um rastro de fezes.
Outra fonte de poluição das águas é devido ao uso excessivo de adubação nitrogenada nos
sistemas mais intensivos, tanto nos campos de produção dos componentes básicos da ração animal,
como em pastagens manejadas intensivamente para a produção de leite. O excesso de nitrogênio é
transformado em nitritos e nitratos (NO3/NO4), componentes danosos à saúde humana e animal. Estes
sub-produtos dos adubos químicos nitrogenados são carregados pelas chuvas até os lençóis freáticos,
acumulando-se em concentrações acima do nível de toxicidade.
Segundo SORIO e HOFFMANN (2001), a partir da aplicação de 130 Kg de N/ha/ano e uma
lixiviação de 200mm/ha/ano, são carreados 45 Kg de N em forma de nitrato, correspondendo a 99,6 mg
de NO3/litro de água, o triplo do máximo tolerado. Ainda segundo estes autores, no Brasil alguns
pesquisadores ignoram estes fatos difundindo sistemas intensivos de criação de bovinos leiteiros e de
corte, manejados em pastagens de capim elefante (entre outros) rotacionadas e que chegam a receber
adubações nitrogenadas de até 700Kg/N/ha/ano (SORIO & HOFFMANN, 2001). Não é por nada que a
União Européia já proíbe a utilização de mais que 140 kg de N/ha/ano.
O conhecimento da bioquímica básica nos denuncia que a adição sistemática no solo de tais
insumos industriais, geram excessos de nitratos, nitritos e nitrosaminas no interior das plantas e
animais, com produção considerável de radicais livres. Estes compostos, juntos, irão provocar distúrbios
metabólicos e doenças de alta malignidade em todo o complexo operado: Plantas...Animais...Meio
Ambiente....Homem (ARAUJO FILHO, 2000).
•
Solo, Fauna e Flora:
O solo é um ambiente vivo que necessita da diversidade de micro e macro organismos
(minhocas, insetos e atividade microbiana) para que mantenha sua fertilidade ao longo do tempo. Tanto
os insumos químicos utilizados diretamente no manejo dos animais, como os insumos utilizados na
atividade agrícola que fornece alimentos à produção animal, são maléficos a estes componentes
fundamentais para o funcionamento equilibrado dos sistemas de produção. Neste sentido, são
consagrados os efeitos nocivos dos fertilizantes nitrogenados sobre as minhocas e outros
microrganismos do solo.
De modo geral, o que afeta a flora e a fauna, afeta também o solo. Assim, quase todos os
agrotóxicos utilizados na agropecuária convencional são inespecíficos, ou seja, além de controlarem o
ser vivo causador de um eventual problema, afetam outros componentes da fauna que venham a entrar
em contato com o produto químico em questão. São já conhecidos os impactos causados pelas
ivermectinas e pelos piretróides no ambiente, os quais eliminam, também, a população de insetos
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benéficos ao sistema, como é o caso do besouro “rola-bosta” afetado pelo uso das ivermectinas. Este
besouro ajuda a incorporar as fezes animais no solo e a descontaminar as pastagens por larvas de
endo e ecto parasitas, como os vermes e a mosca do chifre, por exemplo.
A perda de fertilidade do solo ocorre também pelo uso contínuo e extensivo das pastagens. No
sudeste brasileiro é evidente o esgotamento dos solos causados pelos anos de monoculturas. Nas
pastagens de Brachiaria Decumbens manejadas de forma extensiva e em pastejo contínuo, por
exemplo, a erosão superficial é um problema sempre presente.
Outro aspecto a ser considerado é o desenvolvimento de resistência, por parte dos parasitas,
aos produtos químicos usados em seu controle. A resistência a medicamentos, em especial aos
antibióticos, tem preocupado estudiosos dessa área.
A fauna é afetada pela eliminação de habitats naturais, após a derrubada de imensas áreas de
matas nativas, nas quais muitos componentes da fauna desse local desaparecem por não encontrarem
mais suas condições naturais de sobrevivência, nem sequer em forma de corredores de
biodiversidades. O hábito de queimar as pastagens, também elimina a maior parte dos organismos que
nelas sobrevivem, como insetos, inúmeros pequenos animais, alguns pássaros, microorganismos e
artrópodes, todos fundamentais na manutenção da vida no solo.
•
Atmosfera:
Os impactos das atividades de produção animal sobre a atmosfera estão ligados ao efeito
estufa. Estima-se que as atividades ligadas à agricultura e pecuária sejam responsáveis por 15% das
emissões causadoras do efeito estufa. As queimadas de florestas, geralmente para implantação de
agricultura ou pecuária extensiva, contribuem com outros 15%. O manejo extensivo e predatório em
decorrência do pastoreio contínuo, leva os pecuaristas, no Brasil, a promoverem queimadas
sistemáticas de pastagens, com reflexos na flora, na fauna e nas emissões de CO2 (SORIO &
HOFFMANN, 2001).
Há ainda o lançamento na atmosfera de quantidades muito altas de metano pelos confinamentos
bovinos. O gás metano, segundo especialistas, é nova (9) vezes mais prejudicial para a camada de
ozônio que o CO2.
•
Animais e Seres Humanos:
Os animais e seres humanos são afetados de diversas formas pelos sistemas convencionais de
produção animal, seja na ingestão de água e alimentos contaminados, seja no trabalho de aplicação de
agrotóxicos ou na exposição a ambientes insalubres. Há mais de 30 anos, Rachel Carson, em
Primavera Silenciosa, já alertava sobre os riscos da crescente contaminação por agentes químicos
sintéticos e sobre os efeitos de seu acúmulo para os seres humanos.
Mais recentemente, pesquisadores descreveram graves efeitos de pesticidas e outros
compostos químicos, que se acumulam em quase todos os organismos vivos, sobre a fertilidade e
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a sobrevivência de várias espécies, incluindo o Homem4 (COLBORN, DUMANOSKI & MAYER
1996).
Foram constatados resíduos de medicamentos veterinários e agrotóxicos no leite de vacas e
mulheres, com reflexos em crianças que deles se alimentaram. Câncer e leucemia em humanos têm
sido associados ao uso de produtos químicos em animais. Atualmente, estuda-se a redução da
concentração e da motilidade de espermatozóides devido aos efeitos de compostos químicos que agem
no organismo, como estrógenos sintéticos, o que reduziria a fertilidade masculina.
O caso da Somatotrofina Bovina – BSTr (recombinante) é emblemático. O BST é o hormônio do
crescimento bovino. Uma versão deste hormônio foi produzida em laboratório a partir de bactérias
geneticamente modificadas (transgenia), passando a ser chamado de BSTr. Este hormônio vem sendo
amplamente utilizado na pecuária leiteira brasileira desde o início da década de 90, com o total apoio
das instituições governamentais, incluindo as universidades. A aplicação quinzenal deste hormônio em
vacas em lactação aumenta a produção de leite em até 30%
Porém, foram detectados numerosos efeitos secundários, diretos e indiretos, associados ao uso
do BSTr. Os animais injetados têm seus níveis desse hormônio artificialmente elevados, ocasionando
um aumento da temperatura corpórea, o que representa uma sobrecarga permanente no organismo
animal, predispondo-o a outras desordens decorrentes do stress metabólico. Em vacas injetadas, foi
indicado uma maior predisposição em contrair mastites, o que por sua vez aumenta o uso de
antibióticos e os níveis deles no leite consumido. Outras seqüelas conhecidas são as perturbações da
fertilidade, isto é, a diminuição dos índices de gestação e aumento do índice de morte embrionária
precoce.
Mas o mais grave de tudo isso talvez sejam os efeitos relacionados ao câncer. O BSTr estimula
nas vacas a produção de outro hormônio chamado Insuline-like Growth Factor 1 (IGF-1) – um hormônio
de ação semelhante à insulina, naturalmente produzido tanto por humanos quanto por bovinos -, cujo
alto nível no sangue pode estar associado a diversos tipos de câncer (próstata, mama) em humanos
(CHALLACOMBE & WHEOER, 1994; RESNICOFF & BASERGA, 1995).
Quando se trata do cultivo e uso dos transgênicos, ou Organismos Geneticamente Modificados
(OGMs), os riscos não são menores. Cientistas norte americanos publicaram resultados preliminares
que indicam que o pólen do milho Bt é potencialmente letal para larvas da mariposa monarca (Danaus
plexippus). Mais recentemente, a transnacional Monsanto admitiu a dispersão de genes “nãodesejáveis” em alguns de seus produtos transgênicos (GOMES & BORBA, 2000).
Ainda que sejam preliminares, estes e outros5 resultados põem em evidência que, uma vez
mais, o “lobby” da indústria agroquímica e das sementes, apoiados por alguns governos, se impõe
4
De 51 compostos químicos causadores de rupturas de mecanismos hormonais (“disruptores endócrinos”), mais da metade são resistentes à
decomposição natural, ou seja, são compostos químicos de vida longa que persistirão na cadeia alimentar por décadas e até centenas de anos
(COLBORN, DUMANOSKI & MAYER 1996).
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sobre a prudência que o tema requer. Em primeiro lugar, tratam de liberar o uso dos OGMs e depois de
avaliar os riscos.
Mas sem dúvida, o caso que melhor retrata os desastres dos sistemas intensivos de produção
animal, em nível mundial, é o caso da Síndrome da “Vaca Louca”. Os primeiros casos da Encefalopatia
Espongiforme Bovina (BSE) foram detectados em 1986. O surgimento da síndrome permitiu conhecer a
irresponsabilidade de determinadas práticas de manejo incentivadas por técnicos e pesquisadores da
nutrição animal. O problema surgiu em conseqüência da utilização de carcaças e restos do abate de
ovinos na preparação de farinhas para alimentação de bovinos. A necessidade de baixar custos de
produção levou a situações absurdas, como a alimentação de ruminantes, que são herbívoros, com
proteína de origem animal.
•
Sócio-Econômicos
São numerosos os impactos econômicos e sociais causados pelos sistemas intensivos de
produção animal. O conhecido como “queda tendencial das taxas de lucro” da agricultura convencional
e o crescente endividamento dos produtores dos países do chamado Primeiro Mundo, são algumas das
conseqüências desses modelos de produção. O exemplo mais claro é o estoque de US$ 280 bilhões de
dívida dos agricultores norte americanos (SORIO, 2001).
Os grandes confinamentos de bovinos de corte nos Estados Unidos têm apresentado enormes
perdas econômicas para os agricultores. O maior de todos eles, que chegou a engordar 200 mil
novilhos/ano, ostentava um prejuízo anual de US$ 20 milhões (US$ 100/cabeça). No Brasil, muitos
confinamentos têm proporcionado margens líquidas muito baixas. É comum um pecuarista estar com
seus bois terminados e o preço não haver subido para os valores mínimos capazes de justificar
economicamente o investimento (SORIO, 2001).
O manejo extensivo, no outro extremo, leva os pecuaristas a periodicamente reformarem suas
pastagens. Estima-se que, nos últimos 25 anos, os pecuaristas tenham reformado mais de 50 milhões
de hectares de pastagens tropicais, com gastos superiores a US$ 10 bilhões no período. Essa é uma
das causas mais decisivas da baixa rentabilidade da pecuária bovina extensiva do Brasil. Por outro
lado, os sistemas que recebem doses elevadas de fertilizantes nitrogenados, também têm sido causa
de baixa compensação financeira da pecuária de corte no Brasil.
No caso da pecuária leiteira a crise econômica não é menor. Motivados por incentivos fiscais e
juros baixos, os produtores de leite norte-americanos contraíram nas décadas de 70 e 80 grandes
empréstimos para investir na atividade, com o objetivo de aumentar a eficiência, aumentar a produção
por vaca, produzir em larga escala para baratear custos, mecanizar e evitar gastos com mão-de-obra.
5
SILVA & LIMA (1998), em GOMES & BORBA (2001) também apontam para problemas na Escócia com as batatas geneticamente
modificadas , as quais produziram em ratos diminuição do crescimento e depressão do sistema imunológico.
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Mas, o preço do leite baixou 49,2% de 1974 a 1994 e os produtores ficaram em difícil situação social e
econômica (SCHMITT & MURPHY, 1999).
A corrida produtivista do setor leiteiro nos Estados Unidos na década de noventa levou ao
traslado do pólo produtivo leiteiro do meio oeste norte americano para os desertos da Arizona e
Califórnia, na forma de mega-fazendas de bovinos leiteiros confinados, onde a vida útil dos animais não
passa de 4 lactações, em média. Neste processo, os pequenos pecuaristas foram engolidos por estes
grandes conglomerados agroindustriais.
No Brasil, o apelo para o confinamento do gado leiteiro
levou os pequenos produtores brasileiros (tradicionais produtores de leite) a um estado de maior
marginalidade. O domínio de corporações como a Parmalat, a Nestlé e Nabisco, em meados da década
de 1990 sobre a cadeia do leite, incentivou o contínuo aumento de escala de produção na produção
leiteira. As propriedades mais aptas a investir conseguiram, por algum tempo se ajusta, mas os
agricultores familiares, juntamente com os pequenos laticínios, foram levados a um processo de
empobrecimento sistemático.
Na suinocultura e avicultura, tradicionais atividades de pequenos agricultores da Região Sul, a
situação não é melhor. Atualmente, essas criações se deslocam para o centro-oeste brasileiro e
passam a ser desenvolvidas em grandes propriedades, não só para fugirem da poluição de áreas com
grande concentração populacional, mas também visando aumento da escala de produção e a
proximidade das fontes de matéria-prima para as rações. Os mega-projetos e a entrada de
transnacionais na produção de aves e suínos têm repercussões muito negativas sobre a vida dos
pequenos agricultores brasileiros.
Todas essas conseqüências negativas sobre a natureza e a sociedade nos remete à seguinte
pergunta: Até quando vamos permitir que a sociedade, como um todo, subsidie (pesquisa &
desenvolvimento, formação de profissionais e subsídios diretos) atividades tão ineficientes nos aspectos
citados?
c) Princípios da pecuária leiteira ecológica
A pecuária leiteira ecológica é um sistema de produção leiteiro que vem crescendo entre os
agricultores de todo o mundo, principalmente nos últimos 20 anos. E a cada dia que passa, ganha
mais simpatia de amplos setores da sociedade, entre agricultores, consumidores, cientistas e
políticos. A sua base técnica está sendo construída por meio do avanço da Agroecologia, uma nova
ciência que valoriza o conhecimento dos/as agricultores/as e vem se constituindo como uma
importante ferramenta de Desenvolvimento Rural Sustentável.
Este sistema se desenvolve aos poucos numa propriedade leiteira e é mais adaptado a
escalas menores de produção, características da agricultura familiar. Ele se desenvolve aos poucos,
pois depende da incorporação de um conjunto de inovações em diversas áreas da produção. A
pecuária leiteira ecológica depende dos seguintes princípios:
•
Melhoramento genético voltado para a constituição de raças adaptadas às condições
tropicais;
10
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•
Utilização de práticas de manejo dos animais que respeitem seu comportamento
natural de socialização e seu bem-estar;
•
Manejo nutricional tendo como objetivo a independência dos recursos externos à
propriedade e o planejamento da produção de forragens em quantidade e qualidade
para o ano todo;
•
Manejo ecológico das pastagens por meio do pastoreio rotativo e da arborização
(Pastoreio Voisin e Silvipastoril);
•
Manejo preventivo de doenças dos animais e utilização de práticas curativas baseadas
na Fitoterapia e Homeopatia. Os medicamentos sintéticos elaborados pelas indústrias
farmacêuticas devem ser usados esporadicamente e nunca de forma sistemática;
•
Produção vegetal que substitua os agroquímicos por práticas de manejo que utilizam o
máximo de recursos presentes na propriedade, como o esterco, a adubação verde e
as variedades de sementes disponíveis em nossa região;
•
Integração crescente entre Lavoura e Pecuária;
•
Maior agregação de valor ao produto mediante a conquista de mercados específicos
para os produtos ecológicos;
•
Maximização das diversas formas de cooperação na produção e comercialização.
Mas não basta substituir os insumos químicos pelos mais ecológicos na produção vegetal e
animal, é preciso aprender a manejar a propriedade rural de maneira integrada entre a produção
animal e vegetal, de forma inteiramente ecológica, cuidando dos cursos e fontes d’água, plantando
árvores, utilizando massivamente a adubação verde, fazendo plantio direto sem o uso de
agrotóxicos, diversificando a produção, fazendo a rotação de culturas, utilizando os biofertilizantes
etc. É preciso re-aprender a manejar a propriedade trabalhando com a natureza e não contra ela.
2. RECUPERAÇÃO DE PASTAGENS
O manejo ecológico de pastagens deve compreender o uso racional e intensivo da adubação
orgânica vegetal (adubação verde) e animal, a utilização potencializada do esterco (biofertilizantes), o
pastoreio racional e rotativo (Voisin) de capins e outras forragens adaptadas, a utilização de técnicas de
conservação de solo e a arborização dos pastos com espécies arbustivas e arbóreas, produtoras de
sombra, madeira e/ou frutos.
As árvores e arbustos comestíveis, característicos dos sistemas silvipastoris, são produtores de
sombra, biodiversidade, aeração do solo, alimentos alternativos para os animais e fontes alternativas de
renda para o/a agricultor/a. O pastoreio racional e rotativo, aliado à arborização das áreas de pastos, é
uma medida que recupera as áreas de pastagem. No entanto, em áreas de estágio avançado de
degradação, é preciso intervir com mais intensidade. É o que veremos a seguir, antes de entrarmos no
Manejo Ecológico de Pastagens.
a) Técnicas ecológicas de recuperação de pastagens degradadas
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A América Latina tem milhões de hectares de pastagens em diferentes condições de solo e
clima, as quais constituem a base da alimentação do rebanho bovino. Grande parte dessas áreas é
ocupada exclusivamente por gramíneas, encontrando-se variados graus de degradação. Dentre as
causas está o esgotamento da fertilidade do solo decorrente do manejo inadequado das plantas e dos
animais (SOARES FILHO et al., 1992). Como parte integrante do “mau manejo” está o uso
indiscriminado do fogo, a utilização de monocultura forrageira, o aparecimento de plantas invasoras e o
ataque de pragas e doenças (MELLA, 1991).
Apontamos, ainda, o fato de que em muitas pastagens que se encontram em processo de
degradação, observamos que a espécie utilizada não é a mais adequada para a condição local, o que
compromete a durabilidade da pastagem. As plantas definham quando o manejo é inadequado e os
teores de nutrientes ficam abaixo dos níveis exigidos por uma determinada espécie utilizada como
pasto. Nesta situação, observa-se um menor vigor de rebrota e uma menor produtividade forrageira,
com conseqüente diminuição da cobertura do solo.
A diminuição da competitividade das plantas forrageiras favorece o aumento da população de
plantas invasoras. A recuperação de áreas de pastagens com muitas plantas invasoras de difícil
controle pode, às vezes, tornar mais custosa a recuperação. Dependendo do estágio de degradação, a
opção mais viável pode ser a reforma total da área da pastagem.
Em áreas de pastagem degradada observamos, quase sempre, a superficialização das raízes,
indicando que o solo está erodido e compactado (MARUN & ALVES, 1995). Esse efeito aumenta na
medida em que a pastagem vai perdendo o vigor de rebrota. O sistema radicular do capim vai
diminuindo ao longo do tempo e o solo vai adquirindo um aspecto de "lavado". O solo lavado é um solo
erodido, no qual a intensa lixiviação diminui, gradativamente, os teores de matéria orgânica no solo.
Embora nas pastagens degradadas o solo esteja compactado, observamos que esta
compactação se restringe aos 10 primeiros centímetros do solo, o que muitas vezes dispensa a
utilização de um subsolador. De fato, na maioria das áreas de pastagens que apresentam aspecto de
compactação, a adubação verde e a vedação da área podem ser suficientes para reverter o processo
de compactação.
Nas pastagens degradadas, a deficiência de nitrogênio, fósforo, potássio, enxofre, zinco, entre
outros minerais, se coloca como um limite à recuperação do pasto. Por isso a análise de solo é um
instrumento importante no diagnóstico e planejamento do processo de recuperação. A reposição destes
elementos por meio da adubação orgânica, como veremos, será crucial para o sucesso da operação.
Antes de definir um plano de recuperação de uma pastagem é necessário conhecer o estado e o
nível de deterioração em que esta se encontra. Segundo BARCELLOS (1986), podemos classificar a
degradação em 4 graus com as seguintes características:
Grau 1: Diminuição da produção da pastagem por perdas de qualidade, altura e volume;
Grau 2: Redução de cobertura do solo e do repovoamento com plantas novas;
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Grau 3: Aparição de plantas invasoras de folha larga e início do processo erosivo;
Grau 4: Incremento da população das plantas invasoras, colonização da pastagem por gramíneas
nativas, com processos erosivos acelerados.
A avaliação do grau de degradação das pastagens ajuda a definir a estratégica mais adequada
para a recuperação. Pastagens em graus elevados de degradação podem ser de difícil recuperação,
principalmente quando existem sulcos de erosão, infestações de insetos e plantas invasoras de difícil
controle.
b) Recuperação de pastagens degradadas
A recuperação de pastagens pressupõe a presença de uma ou mais espécies forrageiras
desejáveis, para serem conservadas, estimuladas ou complementadas. A ausência de espécies
desejáveis implicará em um novo processo de formação da pastagem (novo estabelecimento ou
reforma).
Na recuperação de pastagens temos como objetivos: obter um sistema com pastagem de boa
qualidade, produtividade e cobertura; ter estabilidade na estação seca e controle de espécies invasoras;
e aumentar o número de espécies forrageiras e leguminosas para enriquecer a pastagem.
Em áreas que ainda têm boa cobertura de forrageiras, sem erosão aparente, baixa infestação de
plantas invasoras ou infestado por invasoras de fácil controle (grau 1 e 2), a adoção de algumas
práticas agronômicas podem, muitas vezes, recuperar a produtividade sem que seja necessário efetuar
a reforma.
Uma proposta de seqüência de procedimentos para recuperação de pastagens degradadas é:
•
Análise de solo das diferentes áreas destinadas à pastagem;
•
Implantar práticas de conservação de solo;
•
Correção do solo com adubação orgânica necessária;
•
Consórcio de plantas forrageiras e adubadoras de solo (leguminosas) e árvores nativas
forrageiras na pastagem;
•
Dividir as áreas de pastagem em piquetes com corredores de cercas-vivas;
•
Planejar a rotação do pastejo nos piquetes, segundo os princípios do Pastoreio Racional Voisin,
que veremos mais adiante.
Em estágios mais avançados de degradação, outras práticas podem ser necessárias, tais como
sobressemeadura consorciada de gramíneas e leguminosas, uso de calcários em área parcial ou total,
preparo mecanizado do solo, reforma de curvas de nível com arborização em linhas e faixas etc.
O processo de recuperação é uma excelente oportunidade para a introdução de leguminosas em
áreas de pastagens, por meio da sobressemeadura, e para o plantio, em linhas e faixas, com espécies
leguminosas arbustivas e arbóreas produtoras de forragem, madeira e frutos.
13
INSTITUTO GIRAMUNDO MUTUANDO
Uma avaliação criteriosa do estágio de degradação das diferentes áreas destinadas a pastagem
é fundamental para a definição da estratégia de recuperação. Aspectos como invasoras, erosão,
insetos, suscetibilidade do solo a erosão, adequação da espécie forrageira ao sistema de produção,
etc., devem ser avaliados. Na definição da estratégia devemos avaliar os custos e riscos de degradação
ambiental das práticas a serem adotadas e, principalmente, as possibilidades de cada agricultor/a.
c) Reforma de pastagens
Pastagens em níveis avançados de degradação (com alta infestação de invasoras, sulcos de
erosão, baixa fertilidade, alta compactação, baixo estande de plantas forrageiras – grau 3 ou 4)
necessitam, muitas vezes, de procedimentos mais intensivos. Na pecuária leiteira ecológica, a reforma
de pastagens degradadas deve ser empreendida aos poucos, de forma a racionalizar os investimentos
necessários e tornar o empreendimento possível. Isto pode ser feito por meio de um planejamento
plurianual da seqüência de áreas a serem reformadas, de acordo com as reais possibilidades do/a
agricultor/a.
A reforma de uma área de pastagem pode ser realizada pelo restabelecimento imediato de uma
nova pastagem ou pela reforma por meio de ciclos produtivos de culturas anuais.
Restabelecimento imediato de nova pastagem: neste caso, pouco recomendado na pecuária
ecológica, há um controle geral da vegetação existente por meios mecânicos (aração e gradagem) ou
químicos (dessecação). Depois é feita a aplicação de corretivos, fertilizantes químicos e outros insumos,
havendo, num curto período de tempo, o restabelecimento da nova pastagem após a semeadura.
Este restabelecimento pode ser feito em plantio direto ou convencional. O plantio direto tem
menor risco de erosão, mantém a estrutura física dos solos, diminui as perdas de fósforo por
imobilização e causa menor aparecimento de plantas invasoras. As principais limitações são a
necessidade de equipamentos de plantio apropriados, uma maior presença de insetos e a necessidade
de se ter sementes com maior vigor (MORAES et. al., 1999).
Reforma por meio de ciclos produtivos de culturas anuais: na pecuária leiteira ecológica há
uma constante busca da integração da produção animal com a produção vegetal, pois isso ajuda na
melhoria da qualidade do sistema de produção como um todo e aumenta as fontes de renda. Assim,
quando selecionamos uma área para ser recuperada, devemos transformá-la em uma área de produção
agrícola de base ecológica, até que ela esteja com níveis de fertilidade que possibilitará o
estabelecimento de uma pastagem de qualidade. Os benefícios da reforma de pastagens com culturas
anuais são os seguintes:
• Gera renda complementar para a família agricultora;
• Recupera, de forma eficiente, a fertilidade do solo, por meio da melhoria nas
propriedades físicas, químicas e biológicas do solo;
• Diminui o custo da re-implantação da pastagem, o que facilita a renovação da mesma;
14
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• Controla pragas, doenças e invasoras;
• Recicla os nutrientes do solo;
• Aproveita o adubo residual do cultivo anual;
• Aumenta a produção de grãos e resíduos para os animais;
• Facilita as práticas de conservação de solo;
• Diversifica o sistema produtivo;
• Aumento da produtividade e lucratividade do sistema.
O número de cultivos agrícolas anuais é variável e depende, entre outros fatores, de aspectos
econômicos, presença de restrições de solo, o grau de infestação de plantas invasoras presentes na
área e do tipo de cultura utilizada na sucessão.
Diversos cultivos agrícolas são utilizados nas áreas de reforma: soja, milho, sorgo, mandioca,
algodão, amendoim, etc. Além dos cultivos de grãos, utiliza-se em muitas áreas, o plantio de forrageiras
anuais, tais como: aveia preta, milheto, sorgo forrageiro, feijão-guandu etc.
A alternância temporária (rotação) de cultivos para grãos e pastagens de gramíneas ou
leguminosas vem sendo denominada de “integração lavoura-pecuária”. Ou seja, a integração
lavoura-pecuária é mais do que utilizar ocasionalmente uma lavoura para reformar uma área de
pastagem, é antes de tudo, um sistema planejado de utilização racional do solo, em que participam
lavouras e animais, com vantagens para ambos (ALVES E MORAES, 1999 – não publicado).
Duas possibilidades de integração lavoura-pecuária são:
•
A rotação de cultivos anuais de grãos com pastagens perenes;
•
A utilização na alimentação animal de plantas de cobertura e/ou pastagens anuais em
rotação com cultivos anuais de grãos.
Na rotação de cultivos anuais de grãos com pastagens perenes, as forrageiras normalmente
produzem grande quantidade de matéria seca, com alta relação carbono:nitrogênio, o que mantém o
solo coberto e diminui a incidência de pragas e doenças nas culturas subseqüentes. Por outro lado, a
agricultura de base ecológica nas áreas de lavoura permite recuperar a produtividade das áreas de
pastagem, com rápido retorno financeiro, incremento dos nutrientes de forma econômica
(principalmente nitrogênio) e diminuição de pragas e doenças nas forrageiras.
A utilização de plantas forrageiras anuais na alimentação animal nas áreas de lavoura, como é o
caso do Feijão-Guandú, pode tornar viável a suplementação alimentar para o gado no período de
inverno, após a retirada dos grãos da lavoura. Isso aumenta a oferta de carne e leite durante este
período crítico para a pecuária leiteira, garantindo maior renda para os/as agricultores/as.
Os benefícios econômicos da diversificação de propriedades agrícolas por meio da integração
lavoura-pecuária são:
15
INSTITUTO GIRAMUNDO MUTUANDO
•
Aumento da rentabilidade;
•
Diminuição da dependência por grãos de verão;
•
Aumento da produção de leite e da qualidade do sistema de produção leiteiro
3. MANEJO ECOLÓGICO DE PASTAGENS E SUPLEMENTAÇÃO A BASE DE FORRAGENS
No Brasil a média anual de produção de leite por vaca é de aproximadamente 1000 litros, com
rebanhos pouco melhorados geneticamente e intervalo-entre-partos (IEP) de aproximadamente 19
meses. Como conseqüência, há alta proporção de vacas não lactantes e com alta sazonalidade na
produção leiteira. Estes fatores estão intimamente ligados à nutrição dos animais. A nutrição dos
animais, em sistemas de leite a pasto, está intimamente ligada à qualidade da pastagem, sendo a
qualidade do pasto diretamente determinada pelo tipo de sistema de manejo empregado na pastagem.
Discutiremos, neste capítulo, como devemos realizar o manejo ecológico de pastagens por meio
do Pastoreio Racional Voisin (PRV) e as melhores alternativas para a estação seca.
a) Pastejo contínuo
No sistema de pastejo continuo o gado fica sobre uma mesma área de pastagem um período
prolongado, de alguns dias, podendo o gado ficar permanentemente no mesmo pasto. Geralmente é
realizado em áreas extensivas com pastagens de baixa produtividade/animal/hectare.
O gado, mantido sempre sobre a mesma área, após alguns dias de permanência, passa a
consumir o capim antes que ele complete o seu desenvolvimento. Desta maneira, não permitem que as
plantas refaçam periodicamente suas reservas, diminuindo progressivamente a sua produtividade e
vigor, com reflexos também na cobertura do solo, que fica desprotegido e suscetível aos efeitos da
erosão. Segundo MACEDO et al., 1993 e MACEDO (1995), neste sistema de pastejo, em alguns anos,
a pastagem se degrada, causando prejuízos irrecuperáveis.
b) Sistema de Pastoreio Voisin (PRV)
O PRV, proposto por André Voisin em meados do século passado, é um sistema que permite um
equilíbrio positivo dos fatores Solo, Pasto e Gado, com cada fator tendo um efeito positivo sobre os
outros dois. Neste sistema, a utilização da pastagem é feita por meio de uma rotação racional, que
proporciona o melhor aproveitamento possível das forrageiras, resultando num nível de produtividade
que chega a três vezes a alcançada pelo sistema de pastejo contínuo na mesma pastagem.
O PRV é o principal componente da “receita” da pastagem ecológica, ou seja, para que uma
pastagem se torne sustentável e mais produtiva ao longo do tempo. Este sistema tem seu ponto
fundamental no atendimento das necessidades fisiológicas do capim, ao mesmo tempo em que se
procura atender às necessidades do gado. Assim, automaticamente as necessidades do solo também
são satisfeitas, proporcionando um equilíbrio positivo do trinômio solo-capim-gado.
É importante frisar que o PRV é um empreendimento de baixo risco em função do reduzido uso
de insumos industriais. Nele, a vida do solo é ativada pelo esterco e urina dos animais e pela não
16
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lavração da área. Esta vida é representada pelos insetos, fungos, minhocas, besouros, bactérias, entre
outros.
Segundo Voisin, o manejo racional e rotativo da pastagem promove o encontro do animal com a
planta. Isto deve ocorrer no momento ideal, ou seja, quando a planta oferecer as melhores condições
para ser pastoreada. No caso de pastagens a serem estabelecidas, é importante escolher para a
formação do pasto espécies que tenham um bom rebrote após o corte pelo dente do animal e que
apresente, em suas raízes ou nas bases de suas hastes, substâncias de reserva6 suficientes que
permitam a formação de uma vigorosa parte verde, a qual, por meio de fotossíntese, permitirá o
crescimento normal da planta.
O PRV favorece o suprimento das necessidades dos animais, pois colhe maior quantidade e
qualidade de pasto, além de satisfazer as necessidades da planta, pois tem respeitado o seu tempo
ideal para o rebrote.
Para que o pastejo satisfaça as necessidades apontadas acima, é necessário respeitar alguns
pontos:
•
Período de Descanso: após o corte da planta pelo dente do animal, esta deve ter um
tempo para armazenar substâncias de reserva para a produção de massa verde e ter
“força” para o rebrote e crescimento pós-corte.
•
Tempo de Permanência nos piquetes: Se os animais passarem muito tempo no piquete,
cortarão o talo da planta, que junto com a raiz são ricos em reserva para o posterior rebrote
e crescimento da planta.
O rebrote e crescimento7 das plantas pode variar em função de fatores como:
•
Duração do dia: no verão os dias mais longos oferecem mais luz para a planta, que realiza
mais fotossíntese e cresce mais rápido.
•
Precipitações pluviométricas (chuva) e umidade do solo: no verão (época das águas) a
maior concentração de chuva proporciona um crescimento mais rápido à planta.
•
Temperatura ambiente: Temperaturas elevadas favorecem o crescimento das gramíneas
tropicais.
6
As substâncias de reserva são o combustível que a planta utiliza para iniciar um novo crescimento após o corte pelo animal. Permitem
a planta vencer os períodos críticos e são utilizadas para a formação de talos, folhas, sementes e raízes, além de serem utilizadas nos
períodos de forte crescimento da planta. Se as vacas permanecerem muito tempo no mesmo piquete, rasparão o pasto, deixando poucas
substâncias para um rebrote vigoroso. As substâncias de reserva dividem-se em dois tipos: Glicídios não-estruturais (açúcares e
polissacarídeos); Glicidios estruturais (celulose, hemicelulose e lignina). Estas substâncias compõem a maior parte da dieta dos
bovinos e são importante substrato para a fermentação no rúmen, que produz, por meio de micro-organismos, os Ácidos Graxos Voláteis
(AGVs), uma das principais fontes de energia para os ruminantes. No entanto, a lignina é um glicídio que não é praticamente digerido
pelo ruminante. Quando presente em demasia, a lignina pode atrapalhar o funcionamento da digestão dos animais.
7
O rebrote constante do capim ocorre graças ao processo de fotossíntese, no qual as plantas captam a energia solar e sintetizam as
substancias de reserva que a planta utilizará para o seu crescimento e manutenção. Assim, parte do produto da fotossíntese é
imediatamente utilizada para o crescimento das raízes e caule/folhas da planta. Outra parte satisfaz as necessidades fisiológicas da
planta (respiração e o metabolismo em geral) e o resto se mantém como reserva para as épocas em que a planta realiza menos
fotossíntese ou nenhuma, como é o caso do início do rebrote.
17
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•
Quantidade de elementos nutrientes na solução do solo: um solo bem equilibrado em
termos de nutrientes disponíveis favorece o crescimento de uma forragem de melhor
qualidade.
Assim como um pasto pode ser pastejado antes da hora, ele pode “passar do ponto”. Isso
acontece quando o tempo de descanso entre um pastejo e outro é excessivamente longo, o que
favorece o acúmulo de lignina no capim, o tornando mais fibroso e de difícil digestão. Quanto maior o
tempo de descanso, maior o teor de fibra do capim, menor a digestibilidade da matéria seca do capim e,
em conseqüência, menor a quantidade de matéria seca consumida.
Princípios importantes para o manejo:
Para compreender o manejo no PRV, é importante conhecer as leis que regem este sistema.
•
Lei do Repouso
Esta é considerada a primeira lei deste sistema, onde se estabelece o período de descanso do
pasto entre o intervalo de saída e entrada de um novo grupo de animais. Mas, qual é o tempo ideal de
repouso de uma pastagem? Esta resposta vai depender da forragem utilizada e do período do ano. Na
seca o período deve ser maior.
O parâmetro mais importante para definir o tempo de descanso de um piquete é a própria
observação do/a agricultor/a, aliada às recomendações técnicas de cada espécie de capim para uma
certa região.
•
Lei da Ocupação
O tempo de ocupação de um piquete deve ser o mais curto possível, para evitar que um pasto
cortado em um período de ocupação seja cortado novamente, antes que os animais deixem a parcela.
Esta lei é importante para garantir que os pontos de crescimento das plantas não sejam danificados
pelo pisoteio e pelo corte da folha que já rebrotou.
O principal fator para estabelecer o período de ocupação de uma parcela é a velocidade com
que as plantas iniciam a rebrota depois do corte. Assim, segue uma tabela com sugestão do tempo
máximo de ocupação para regiões de secas sazonais.
•
Estação
Tempo máximo de ocupação das parcelas (dias)
Início das chuvas
01
Final das chuvas
01-02
Início da seca
03-05
Plena seca
06-10
Lei da Ajuda
É preciso ajudar os animais que possuem exigências nutricionais mais elevadas, como vacas em
lactação, para que possam colher a maior quantidade e melhor qualidade de pasto. Isso significa
permitir a entrada dos animais no pasto no momento em que este possua uma altura ideal para o
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pastejo, variando de espécie para espécie de capim. Considerando-se essa lei, os animais terão menor
trabalho no pastejo e maior quantidade de massa verde colhida.
•
Lei dos Rendimentos Regulares
Para que um bovino possa dar rendimentos regulares é necessário que não permaneça, em média,
mais do que 2-3 dias na mesma parcela, isso porque quanto mais permanece numa parcela, menor
quantidade de pasto o herbívoro é capaz de ingerir, pois o pasto fresco estimula aos animais comerem
com avidez, enquanto que numa parcela semi-pastoreada, o pasto encontra-se com odor desagradável
para o bovino e isso diminui o seu apetite, e conseqüentemente, reduz a sua ingestão.
A fertilidade do solo no PRV
A fertilidade do solo melhora com o PRV, por que:
•
Os bovinos devolvem no esterco e na urina a maior parte dos nutrientes por eles ingeridos:
70% do N, 80% do P, 90% do K e 95% dos micronutrientes. No entanto, aproveitam 70% da
matéria orgânica (MONTEIRO e WERNER, 1989 apud SORIO 2003). Isto é relevante, pois
um rebanho bem mineralizado atuará como repositor de micro e macro-nutrientes no solo;
•
Além dos nutrientes devolvidos ao solo, o esterco e a urina ativam a biota do solo (vida no
solo), uma das principais condições para que os nutrientes nele existentes sejam liberados
para as plantas;
•
O PRV aumenta o teor de matéria orgânica e de excreções ácidas liberadas pelas raízes no
solo, o que aumenta a disponibilidade das reservas de minerais do solo;
•
As gramíneas possuem no seu espaço radicular micorrizas que ajudam na absorção de
fósforo em solos com baixos teores desse elemento, pois aumentam o volume de raízes que
exploram o solo. Podem fixar, ainda, entre 40-150 kg N/ha/ano.
Contribuição do PRV no controle de plantas invasoras
O PRV ajuda a controlar as espécies vegetais indesejáveis no pasto. Na implantação deste
sistema de pastejo, deve-se roçar o pasto ao menos duas vezes por ano, caso o próprio pisoteio dos
animais não diminua a população das plantas invasoras.
As folhas cortadas e repousando sobre o solo servirão de cobertura e alimento aos
microorganismos do solo. Após uma diminuição considerável das plantas invasoras, o produtor deve
colocar na rotina de manejo a arrancada manual destas espécies.
Assim, as roçadas estratégicas, somadas a retirada manual e a contribuição dos animais
pisoteando estas plantas extinguem ou diminuem estas plantas a níveis não prejudiciais ao pasto.
Questões importantes para a implantação de um projeto de PRV
19
INSTITUTO GIRAMUNDO MUTUANDO
Antes de iniciar o projeto de PRV é preciso realizar um bom diagnóstico e planejamento do sistema,
de modo a compatibilizar a realidade do/a agricultor/a, o histórico de ocupação da área e as aspirações
quanto ao futuro da produção leiteira. São informações importantes para o diagnóstico e planejamento:
•
Dados gerais da propriedade: denominação, localização e vias de acesso, distâncias à
sede do município e centros de interesse do processo produtivo; ocupação da
propriedade, área de pastagem, áreas de reserva legal e preservação permanente
(APPs), lavouras, pomares, sede e outras ocupações;
•
Dados do rebanho: categorias dos animais, número de cabeças, peso médio por
cabeça, desempenho do rebanho;
•
Instalações e benfeitorias;
•
Máquinas, veículos e equipamentos, situação do abastecimento de água para os
animais: fontes de abastecimento (açudes, rios, córregos e poços artesianos), modo
de abastecimento, acesso à água, possibilidades da ampliação da oferta de água para
os animais;
•
Dados de clima e meteorologia: temperaturas médias, mínimas e máximas, por mês e
por estação, ocorrência de geadas, ocorrência normal de seca e retomada do
crescimento das pastagens;
•
Administração e mão-de-obra;
•
Assistência Técnica e Extensão Rural;
•
Balanço econômico e financeiro do estabelecimento, bem como a capacidade de
investimento.
Estes dados devem desenhar um mapa preciso para projetar o novo sistema, para estimativa do
tamanho e número de piquetes.
Dimensionando um Sistema PRV
•
Número de piquetes
Este número dependerá da quantidade de dias que a pastagem necessitará para se estruturar
novamente; cada caso tem que ser analisado cautelosamente. No entanto, o próprio Voisin indicava um
número mínimo de 39 piquetes para o correto respeito ao tempo de repouso da pastagem. Também
existe uma recomendação considerada infalível, de que o número de piquetes deve ser igual ou
superior ao número de dias de mais escasso crescimento das pastagens. Ou seja, se numa
determinada região o período de escasso crescimento das pastagens ocorre de junho a agosto, devido
à seca e ao frio, o dimensionamento do número de piquetes pode representar o número de 80.
Outra orientação, talvez a mais útil do PRV, é a de que o/a agricultor/a faça o maior número de
piquetes possível, pois quanto mais piquetes, melhor será o aproveitamento da pastagem, tanto no
20
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período de inverno como de verão. Mais piquetes, apesar de significar um maior custo de implantação,
significa a possibilidade de maior produtividade no sistema.
Os métodos mais modernos e intensivos de rotação de pastagens utilizam a seguinte fórmula,
que poderá nos ajudar a chegar numa recomendação aceitável do ponto de vista técnico:
N=(PD/PO)+1, Onde N é o número de piquetes, PD é o período de descanso do capim e PO é o
período de ocupação. Consideraremos, segundo as Leis do PRV, que o PO ideal é o de 1 dia. Por
exemplo: se utilizamos um capim de 40 dias de PD, teremos 41 piquetes.
Esta fórmula está pensada como estratégia de verão, sendo que no inverno ela não funciona. Na
pecuária leiteira ecológica, queremos que o sistema funcione também no inverno, pois é no período
seco que se encontra o desafio de manter a produção sem gastar excessivamente com a
suplementação alimentar a base de capineiras fornecidas no cocho. Aqui voltamos à recomendação
dos/as agricultores/as que já possuem experiência com o PRV: se possível, dobre o número de
piquetes pensados para o verão, ou seja, seriam aproximadamente 80 piquetes.
Como o período de descanso é diferente entre os períodos de inverno e verão, é praticamente
impossível desenhar um sistema que funcione, da mesma maneira, nas duas estações. É preciso,
portanto, criar possibilidades de variação em PO, Número e Piquetes e Carga Animal. Quanto mais
piquetes, mais flexível poderá ser o manejo no inverno e no verão, e maior a quantidade de piquetes
que podem permanecer vedados para as épocas de escassez de alimentos ou em recuperação e/ou
reforma.
•
Tamanho dos piquetes
Para dimensionar o tamanho dos piquetes pode se fazer o seguinte cálculo:
t= (s x 0,85)/número de piquetes, sendo:
t: tamanho do piquete; s: superfície total a ser dividida;
O fator constante 0,85 é baseado no fato de que o máximo de área possível com os piquetes é
85%, utilizando-se 15% para corredores e áreas de lazer. A área do corredor não será perdida, pois
permite que os animais transitem de um piquete ao outro sem pisotear a área de pastoreio.
Por exemplo, numa área de 6 ha (60.000 m2) teremos:
t= (60.000 x 0,85)/80
t= 51.000/80 = aproximadamente 640 m2
Neste caso teremos a divisão de toda a área de pasto em 80 parcelas de 640 m2 ou de
aproximadamente 25m x 26m.
O excesso de piquetes é sempre bem vindo neste caso, pois parte destes piquetes estão vedados
para: substituir piquetes que não rebrotaram a tempo da entrada dos animais (veranicos e variações
individuais da fertilidade de cada piquete); servir como áreas em repouso e recuperação; serem usados
como áreas de lavouras anuais a serem sucedidas pela pastagem em anos posteriores; áreas de
produção de forragem para conservação em forma de feno ou silagem. Enfim, ter piquetes de sobra é a
segurança de que o sistema irá funcionar independente do regime de chuvas ou da adubação química.
21
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Caso não haja recursos suficientes para 80 piquetes, comece com 41e, ano a ano, vá aumentando este
número na medida das possibilidades. O importante é começar o manejo rotativo.
•
Número de animais por piquete
O número de animais/piquete pode variar ao longo do ano. Mas, de forma geral, uma vaca
necessita de aproximadamente 40 m2 para produzir satisfatoriamente durante o período das águas.
Assim, se cada piquete tem 640 m2, a lotação possível é de 16 animais, contando com as novilhas
acima de 1 ano de idade. No inverno, os animais precisarão de o dobro de espaço, necessitando
redimensionar, para o inverno, a divisão dos piquetes.
•
Divisão dos piquetes e de outras áreas de pasto
Para a divisão e planejamento dos piquetes e corredores, é preciso fazer uma medição da área
(levantamento topográfico) e o croqui do sistema de pastejo. Deve-se localizar a área de pastejo
levando em consideração os outros sistemas da propriedade.
Para a implementação do PRV é necessário vedar, primeiramente, toda a área de rotação. A
vedação tem duas finalidades: dar descanso às pastagens para o início da rotação e possibilitar a
demarcação dos piquetes e construção das cercas elétricas sem a presença dos animais.
No momento de determinar os piquetes, é importante que a maioria tenha conformação dos
quatro lados iguais, ou seja, os piquetes devem ser o mais quadrado possível. Em área de declividade
acentuada ou pedregosas, pode não se conseguir um desenho muito perfeito. Em alguns projetos, a
maioria dos piquetes são retangulares pela facilidade do acesso dos animais nas parcelas pelos
corredores.
Especial atenção deve ser dada à disposição dos corredores, que devem acompanhar, ao
máximo, o sentido da conservação de solo (curvas de nível). É importante alinhar aos corredores dos
animais e às linhas divisórias dos piquetes, linhas e/ou faixas de arbustos e árvores, que deverão ser
protegidos por um fio elétrico.
•
Cercas elétricas
A cerca elétrica constitui-se numa ferramenta de grande importância na montagem de projeto de
pastoreio racional, sendo o meio mais eficiente para obter-se grande número de parcelas e conter os
animais.
Existem modelos acabados de cerca elétrica à disposição dos produtores a um custo
compensador pelos benefícios que podem propiciar.
Material necessário para as cercas elétricas:
Material
Especificação
Unidade
Número de unidades
01 fio
2 fios
Arame galvanizado mole
bwh 14 (38,4 m/kg)
kg
26,7
53,4
Arame galvanizado mole
bwg 16 (62,5 m/kg
kg
1,02
2,05
Isolador-tensor
do fabricante
peça
27,0
54,0
Mangueira plástica
½” parede 1,5 mm com proteção
m
22,4
34,3
22
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uv
Mourão de madeira (1 fio)
1,60 x 1,80 m (10x10cm)
(2 fios)
2,00 x 2,20 m (10x10cm)
Ripa de telha
(1 fio)
0,90 x 0,05 x 0,04 m
(2 fios)
1,20 x 0,05 x 0,04 m
Vergalhão nervurado (1 fio)
3/8” 1,20 m
(2 fios)
3/8” 1,50 m
peça
peça
peça
11,5
-
-
11,5
4,0
-
-
4,0
85
-
-
85
A tabela acima foi concebida para um quilômetro de cercas para piquetes de 1 hectare e cercas
de 1 e 2 fios. Para tamanhos diferentes, faz-se necessária a adequação.
c) Suplementação
Na estação seca, as forragens apresentam desenvolvimento lento, com redução marcante nos
teores de proteína e elevação nos teores de fibras pouco digestíveis, resultando na redução do
consumo voluntário dos animais.
Uma alternativa para a baixa produtividade e escassez de alimento nas pastagens é a utilização
de alimentos complementares à pastagem, ou seja, uma suplementação de inverno por meio do
aproveitamento de sobras conservadas de forragem do período das águas (fenadas ou ensiladas) ou
com a constituição de capineiras.
Capineira
A capineira é uma área de forragem verde reservada para ser cortada ao atingir um ponto
máximo de valor nutritivo, quando será dado no cocho para os animais. Como as áreas de capineira são
livres do pisoteio, consegue-se maior produção de massa verde por área. A forragem pode ser cortada
diversas vezes ao ano, principalmente na época seca para complementar o pasto.
Para o manejo da capineira é importante atentar-se a algumas questões:
•
Localização - A capineira deve ser plantada às proximidades do local de fornecimento aos
animais (estábulo, curral etc.), para facilitar o transporte e as operações de manutenção,
diminuindo os custos. Os solos mais recomendados são os bem drenados e profundos,
evitando-se aqueles excessivamente arenosos ou pedregosos.
•
Escolha da forrageira - Deve ser adaptada ao clima e ao solo do local e apresentar uma
produção forrageira de alta qualidade, inclusive na estação seca. Dentre as forrageiras, o
capim elefante ou capim napier e a cana-de-açúcar são boas opções para este tipo de
manejo.
•
Área da capineira - Logicamente, a área da capineira vai depender da forrageira e do
número de vacas a serem suplementadas. Para calcular a área da capineira, consideram-se
as seguintes condições:
23
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- A área da capineira atenderá 50% do consumo diário das vacas (a pastagem fornecerá os 50%
restantes, no inverno).
- Forragem verde com 25% de matéria seca.
- Vaca com 450 kg de peso vivo.
- Consumo total diário de forragem verde das vacas é 10% do peso vivo, ou seja, 45 kg/vaca/dia.
Logo, a fração do consumo total diário de forragem verde a ser suprida para cada animal é de 22,5
kg (50% de 45 kg) de capim picado.
- Consumo anual de forragem verde de uma vaca é 22,5 kg x 180 dias = 4.000 kg.
•
Capineira de Capim Elefante
O capim-elefante é considerado uma das mais importantes forrageiras tropicais devido ao seu
elevado potencial de produção de biomassa, boa adaptação aos diversos ecossistemas e boa aceitação
pelo animal. É largamente utilizado na alimentação de rebanhos leiteiros sob diversas formas, como:
capineira, feno, silagem e, também, sob pastejo.
É a forrageira mais indicada para a formação de capineiras, para corte e fornecimento de
forragem verde picado no cocho. Isto pois, além de uma elevada produtividade, apresenta as vantagens
de propiciar maior aproveitamento da forragem produzida e uma redução de perdas no campo. Como
desvantagem, apresenta uma rápida perda de qualidade decorrente do aumento da idade da planta,
fator observado na maioria das forrageiras tropicais.
Preparo da Área
A área deve ser preparada no final do período seco (julho a agosto), por meio da limpeza da
vegetação, aração e gradagem ou simplesmente gradagem (grade aradora e niveladora) do solo.
Plantio
O plantio deve ser feito logo após as primeiras chuvas. O material de propagação é o colmo (não
se usa sementes). Para assegurar maior índice de pega, os colmos do capim devem ser retirados de
plantas matrizes com rebrote de 90 a 120 dias.
Plantio com estacas, em covas: a planta é desfolhada e os colmos são cortados em estacas de
três a quatro nós. Cada planta inteira pode produzir de 7 a 10 estacas. Em cada cova, de 15 a 20 cm de
profundidade, plantam-se duas estacas, inclinadas em forma de "V".
O espaçamento pode ser em distribuição uniforme, de 1,00 ou 1,20 x 0,50 m, ou em linhas
duplas, afastadas de 1,0 m, sendo o espaçamento nas linhas de 0,40 x 50 cm.
Plantio com estacas ou colmos inteiros, em sulcos - As estacas ou os colmos inteiros são
plantados longitudinalmente, um após outro, distanciados 10 cm entre si, em sulcos de profundidade de
10 cm. A distância entre sulcos pode ser de 1m. Os sulcos podem ser em linhas duplas, como no caso
de plantio com estacas. Espaçamento entre estacas nos sulcos 0,10 m.
Altura de Corte
O capim elefante deve ser cortado 30 cm acima do solo, com terçado, foice ou máquina
ensiladeira.
Adubação de Manutenção
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Essa adubação pode ser anual ou a cada 2 anos, conforme a intensidade da exploração.
É feita aplicando-se o esterco de curral num máximo de 50 t/ha/ano. O esterco pode ser tanto
normal (pastoso e curtido) como na forma líquida, quando coletado na água de lavagem do estábulo.
Deve ser distribuído sobre as touceiras recém-cortadas, logo após cada corte.
Produção e Qualidade da Forragem
Ao contrário do valor nutritivo da forragem de uma capineira (expressa por proteína bruta ou
digestibilidade, por exemplo), a produção de forragem diminui em intervalos de corte mais curtos e
aumenta nos mais longos.
Pesquisas têm mostrado que as capineiras desse capim podem produzir de 120 a 160 t de
forragem verde/ha/ano, dependendo, principalmente, da reposição de nutrientes ao solo e das
condições climáticas. Aos 28 e 56 dias, os teores de proteína bruta da folha têm variado de 15% a 17%
e 10% a 13%, respectivamente.
Fornecimento aos Animais
A forragem colhida deve ser triturada em partículas de 1 a 2 cm e fornecida fresca aos animais
no cocho.
Resposta Animal
Ao longo do ano, o fornecimento de forragem de capineira é uma valiosa suplementação de
vacas em regime de pastagem de baixa a média qualidade. Capineiras cortadas a intervalos menores,
até 35 dias, evitam a queda da produção de leite no período seco, época em que normalmente cai a
performance das pastagens.
•
Capineira de Cana-de-Açúcar
Nos países tropicais, a cana-de-açúcar representa grande potencial para utilização na
alimentação de bovinos, dada a sua alta produtividade por área plantada (20 a 30 t MS/ha), atingindo
uma produção de 10 a 20 toneladas de nutrientes digestíveis totais por hectare, podendo ser usada
como reserva forrageira para o período da seca. Neste período, quando a maioria das forrageiras
perdem em qualidade e quantidade, a cana possui seu melhor valor nutritivo, determinado pela maior
concentração de carboidratos solúveis.
Desvantagens
Apesar de ser uma ótima opção no inverno, a cana apresenta uma desvantagem: possui baixa
digestibilidade e ingestão, pois possui alto teor de lignina, que dificulta a ação dos microorganismos do
rúmen e aumenta o tempo de digestão do alimento, além de fermentar rapidamente, podendo ocasionar
acidose nos animais.
Hidrólise da Cana
Para contornar os problemas citados acima existe um processo que permite melhorar a ingestão
da cana, além de controlar a acidose nos animais. A hidrólise da cana ocorre nas fibras de celulose. Ela
rompe as camadas de lignina que recobrem as fibras de celulose, promovendo a liberação das
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moléculas de açúcar que estavam ligadas quimicamente entre si, na celulose, disponibilizando este
açúcar “extra” (além do açúcar já existente na solução) para os microorganismos do rúmen.
Para tal processo utiliza-se o hidróxido de cálcio, a cal, uma substância alcalinizante que
promove o aumento da digestibilidade da matéria seca. A utilização da cal neste processo apresenta
muitas vantagens, são elas:
• Baixo custo de tratamento (1 tonelada custa de R$ 2,00 a 2,50);
• Possibilidade de estocar a cana por 3 a 4 dias, otimizando a mão-de-obra e maquinários;
• A baixa fermentação permite um melhor aproveitamento no cocho;
• A palatabilidade muda fazendo com que a cana tenha cheiro de melaço;
• Alcalinização leve no rúmen do animal prevenindo a acidose;
• A cal fornece cálcio aos animais;
• Permite uma adaptação mais rápida dos animais;
• Pode-se fenar a cana e armazená-la a granel ou ensacada (até um ano com boa qualidade);
• A ensilagem de cana hidrolisada é melhor, pois a fermentação alcoólica é menor;
•
Um hectare de cana hidrolisada pode alimentar aproximadamente, 50 (cinqüenta) bovinos
adultos, durante 4 a 5 meses.
Para realizar a hidrólise da cana, deve-se seguir a seguinte receita:
Diluir bem 500 gramas de cal micro-processada ou micro-pulverizada em 2 litros de água e
aplicá-la da maneira mais homogênea possível sobre 100 Kg de cana, com um balde ou regador.
Misturar à cana picada (tamanho do corte de no máximo 8 milímetros) e esperar por 8 horas para
depois fornecer aos animais.
É ideal manter a cana hidrolisada em pequenos amontoados, conforme planejamento de uso, ou
seja, em função da quantidade diária por animal. O produtor pode planejar a hidrólise de uma
quantidade suficiente para a alimentação dos animais durante o final de semana, facilitando o manejo,
pois a cana hidrolisada pode ser armazenada por até 4 dias.
É importante ressaltar que a cal deve ser do tipo cal virgem microprocessada ou
micropulverizada, com certificação do Ministério da Agricultura. Caso contrário, pode haver a presença
de dioxinas e furanos, que colocam em risco a saúde dos animais.
A cana hidrolisada deverá ser fornecida aos animais com complemento protéico que será
discutido adiante (bancos de proteína).
O custo do tratamento varia em torno de R$ 2,00 a 3,00 por tonelada de cana tratada.
Escolha da Variedade
A escolha da variedade de cana-de-açúcar a ser estabelecida é importante para garantir a boa
produtividade e a qualidade do canavial. Assim, deve-se escolher variedade com alta capacidade de
produção de matéria seca, alto teor de açúcar, que não seja sujeita ao pendoamento e chochamento, e
que tenha o mínimo possível de joçal (pilosidade). Outra característica importante na escolha da
variedade de cana-de-açúcar,refere-se ao seu ciclo vegetativo. Encontram-se disponíveis variedades de
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ciclo curto, ciclo médio e ciclo tardio. As variedades de ciclo curto atingem o teor máximo de açúcar em
meados do outono, as de ciclo médio, no final do outono e as de ciclo tardio, no início/meado da
primavera.
Plantio
O plantio da cana-de-açúcar pode ser feito manual ou mecanicamente. Nos plantios
em áreas menores, normalmente utiliza-se plantio manual.
O sistema de plantio mais utilizado é o sulcamento. Os sulcos são abertos com 20 a 40 cm de
profundidade, de acordo com o tipo de solo. Efetuando-se, em seguida, a distribuição e incorporação do
adubo orgânico no fundo do sulco. Após esta etapa distribui-se os toletes.
As mudas inteiras, com idade de 10 a 12 meses, levadas a campo com palha devem ser
despalhadas cuidadosamente, para não ferir as gemas. O plantio de cana com a palha é
desaconselhável.
Os toletes inteiros devem ser distribuídos uniformemente no sulco, efetuando-se a transposição
das canas, chamados pé com ponta, sempre cruzando a ponta do colmo anterior com o pé do seguinte.
Após a distribuição, os colmos devem ser cortados no sulco, deixando-se sempre de 3 a 4 gemas em
cada tolete. Este procedimento permite maior rendimento de trabalho e evita a dominância apical.
A densidade do plantio é em torno de 12 gemas por metro linear de sulco, que, dependendo da
variedade e do seu desenvolvimento vegetativo, corresponde a um gasto de 7-10 toneladas por hectare.
Os toletes são cobertos com uma camada de terra de 7 cm, devendo ser ligeiramente
compactada. Dependendo do tipo de solo e das condições climáticas, pode haver uma variação na
espessura dessa camada.
O adensamento é recomendado também para terrenos íngremes e pedregosos, que
impossibilitam a mecanização para pequenas áreas.
Manejo da Palhada
A palhada deve ser deixada sem queimar e sem enleirar, o que reduzirá a necessidade de
capina da soca, aumentará o teor de matéria orgânica e reduzirá a perda de água do solo.
Controle de Plantas Invasoras
O canavial deve ser mantido limpo por meio de capinas. O canavial bem formado e manejado de
forma correta se manterá produtivo por vários anos.
Adubação de Manutenção
A adubação da cana-soca é feita no início do período chuvoso, colocando-se o adubo próximo à
linha da cana. Essa adubação tem por finalidade repor os nutrientes removidos do solo, por ocasião dos
cortes da capineira. Essa operação deverá ser feita em função da produção de forragem que foi
removida da área, pois é essencial que exista um equilíbrio entre os vários elementos do solo para um
bom desenvolvimento da capineira.
Nessa adubação, destaque especial deverá ser dado no que diz respeito à manutenção de
potássio, embora os demais nutrientes, como o nitrogênio, o fósforo, o cálcio e o magnésio sejam
também importantes, sendo estes dois últimos repostos por ocasião da calagem.
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É importante que neste momento ter os resultados da análise do solo, pois estes permitirão ao
técnico fazer recomendações racionais tanto da calagem como da adubação de manutenção.
Vale a pena considerar que a necessidade de calagem a ser aplicada em áreas de capineiras
estabelecidas é reduzida em relação a uma capineira a ser implantada. Isso se deve principalmente ao
fato de a planta já se encontrar estabelecida, com seu sistema radicular, explorando um maior volume
de solo, além do fato de que, para o calcário desempenhar sua função como neutralizante da acidez,
necessita ser incorporado à massa de solo. Em culturas estabelecidas, como é o caso das capineiras, o
impedimento relativo à incorporação do calcário reduz a necessidade de calcário a ser aplicado.
Adubação Orgânica
Havendo disponibilidade de esterco na propriedade, utilize-o curtido numa proporção de 10 a 15
toneladas por hectare.
Colheita
Quando existe mais de uma variedade ou cultivar implantadas, o início da colheita deverá ser
feito com a variedade ou cultivar de cana precoce, seguido da mediana e, por último, as variedades ou
cultivares tardias.
Durante o processo de corte, especialmente no corte manual, é importante que sejam retiradas
as folhas secas da planta. No caso de áreas maiores e onde o corte é mecanizado, é aconselhável que
se usem variedades ou cultivares que tenham capacidade de desfolha natural.
O corte deverá ser feito rente ao solo, usando facão ou enxada bem afiados. Quando cortar com
enxada, tomar cuidado, pois cortes profundos prejudicarão a rebrota da cana, e cortes altos possibilitam
infestações de broca da cana-de-açúcar, permitindo brotações mais altas nas soqueiras e reduzindo a
longevidade do canavial.
Fabricação de feno de feijão-guandu, leucena e rama de mandioca
A fenação é um processo de secagem a sol, utilizado para conservar a sobra de forragem
existente em períodos de fartura, para ser utilizada nos períodos de escassez.
O feno é um alimento que pode ser feito na propriedade, utilizando feijão-guandu, leucena, rama
de mandioca, gramíneas ou outras plantas e serve para alimentar os animais, principalmente no período
de seca. O processo de fenação é feito seguindo as etapas:
Corte das plantas:
Leucena: 40 cm de altura;
Guandu: 80 cm de altura;
Mandioca: Terço superior da planta (folhagem).
Trituração de ramos, folhas e vagens para reduzir o tempo da secagem.
A trituração do material deve ser feita com um triturador de forragem munido de lâmina
Secagem do material em piso cimentado ou terreiro de chão batido, revirando o material todo,
após uma hora de exposição e diariamente, duas vezes pela manhã e duas à tarde.
Ensacar o material seco e guardá-lo em local seco e ventilado.
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Onde Consultar Mais
Site da Internet: www.sistemavoisin.com.br
Site da Internet: www.hidrocana.com.br
Site da Internet: www.agencia.cnptia.embrapa.br
d. Arborização de corredores e pastagens
Cercas-vivas forrageiras
As cercas dos corredores podem ser planejadas para serem cercas-vivas, que ao mesmo
tempo cercam as áreas e servem de alimentação aos animais, além de criar um micro-clima ideal para
o desenvolvimento da pastagem e para o combate natural às pragas. Daremos o exemplo baseado em
cercas de Gliricídia, uma árvore de crescimento rápido e boa palatabilidade para os animais.
Após o plantio em linha e tendo havido um bom enraizamento e formação da copa, o arame
pode ser grampeado às estacas de forma definitiva. É importante dizer que a casca da gliricídia não
envolve o arame, a exemplo de outras espécies comumente utilizadas para esse fim. Assim, não
enferruja o arame. Construídas com espaçamentos de 5 metros entre plantas, podem prover,
adicionalmente, sem ocupação de espaço nas propriedades, cerca de 200 kg de matéria seca
comestível para cada 100 metros lineares, podadas uma vez ao ano.
Cerca-viva forrageira de gliricídia.
•
Implantação
A implantação se refere às operações que se iniciam com a seleção, corte e preparo das
estacas até a fixação dos arames, bem como, o plantio das mudas produzidas em viveiro, sejam elas
por estaquia ou sementes. A maioria das operações referentes à implantação da cerca viva é
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semelhante às realizadas para a implantação dos bancos de produção de estacas (seleção de estacas,
corte, preparo, pré-enraizamento, época de plantio, manejo e outros), salvo a diferença da maior
necessidade de porte das estacas.
Para uma maior eficiência e funcionalidade, as cercas-vivas requerem um planejamento
adequado para sua implantação, visto que demanda um período de dois anos para se obter estacas
com porte ideal, bem como para fixar o arame no moirão vivo.
•
Seleção e preparo das estacas
A grande dificuldade para utilização de moirões vivos de Gliricídia é a obtenção das estacas de
tamanho e diâmetros recomendados. Estacas com 2,50 m de comprimento e 4 cm de diâmetro já são
consideradas ideais para uso. Esse valor constitui o diâmetro mínimo requerido para que as estacas
apresentem um bom índice de estabelecimento (porcentagem de enraizamento e sobrevivência). Este
comprimento é necessário para evitar que o gado pasteje as brotações e o ápice da planta que darão
origem à copa do moirão vivo. Em áreas sem gado ou apenas com bezerros, o comprimento das
estacas pode ser reduzido para 1,80 a 2,10 m.
Tanto a gliricídia como outras espécies usadas como moirão vivo (gênero Erithrina), têm
tendência de ramificar profusamente, necessitando de cuidados especiais na seleção e produção de
estacas longas e retilíneas (FRANCO et al., 1997). Assim como na produção de mudas para instalação
dos bancos, as estacas (moirões vivos) não devem sofrer danos mecânicos durante o manuseio.
As porções basais das ramificações apresentam melhores índices de estabelecimento, porém
outras partes também podem ser utilizadas. Durante o preparo das estacas, é indicado um corte em
bisel na extremidade inferior para aumentar a área de contato da estaca com o substrato (BAGGIO &
HEUVELDOP, 1982). Este mesmo corte é feito no ápice para evitar o apodrecimento da estaca por
acúmulo de água no período chuvoso e reduzir a perda de água e transpiração excessiva no inverno.
Também, pode-se fazer pequenas incisões na casca da base da estaca para favorecer o enraizamento
em diferentes áreas da base enterrada, propiciando maior estabilidade à planta.
•
Pré-enraizamento no viveiro
O pré-enraizamento em viveiro se tornou uma prática importante no estabelecimento de estacas
para uso como moirão vivo, proporcionando um alto índice de estabelecimento (80 a 100%) quando
comparado ao plantio da estaca diretamente no campo (60 a 80% de enraizamento). Como as estacas
são relativamente altas (2,5 m), é necessária a montagem de uma estrutura que as suporte no viveiro
ou sob a sombra de uma árvore, até que sejam plantadas no campo.
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Pré-enraizamento de estacas com 2,5m de comprimento. Note o porte e as características das estacas boas para moirões
vivos. Fonte: Embrapa Agrobiologia, Seropédica, RJ.
Após um período aproximado de 3 a 4 meses, quando as mudas estiverem enraizadas, poderão ser
transplantadas para o campo.
Início da formação de raízes em estacas de gliricídia, Seropédica, RJ
•
Escolha do local e plantio
Normalmente, os moirões vivos são plantados em cercas já existentes, de preferência junto ao
moirão onde a estaca é presa utilizando uma tira de borracha (câmara de ar). Na ausência de animais é
possível colocar as estacas sem suporte. Na escolha do local, deve-se evitar condições limitantes à
espécie (solos de má drenagem, adensados e de baixa fertilidade) para favorecer o desenvolvimento
das plantas, e consequentemente, obter uma cerca bem estruturada.
Usar estacas com 2,5 m de comprimento e pelo menos 4 cm de diâmetro plantadas em covas
com 30 cm de profundidade. Em condições favoráveis de crescimento, as estacas estarão prontas para
fixar o arame em aproximadamente dois anos. Enquanto o enraizamento não estiver bem desenvolvido,
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o que ocorre entre 18 e 24 meses, a estaca deve ser mantida amarrada ao moirão, inclusive para não
desalinhar a cerca. Após este período, o arame já poderá ser fixado ao moirão vivo de forma definitiva.
O plantio dos moirões, sejam eles pré-enraizados ou não, nas condições do Brasil, deve ser feito
no início do período chuvoso. As estacas que não conseguirem enraizar devem ser logo substituídas,
visando aproveitar o fim do período de chuvas. Caso contrário, o replantio só poderá ser feito na
próxima estação chuvosa. O rendimento da operação de plantio, segundo experiências realizadas na
Embrapa Agrobiologia, é de 50 a 100 estacas/pessoa/dia, considerando a abertura da cova e plantio da
estaca.
A implantação da cerca através de mudas produzidas por sementes demanda cuidados
especiais e um maior tempo. As mudas são transplantadas na linha da cerca, também no início do
período chuvoso, e quando atingirem entre 50 a 70 cm devem ser tutoradas, de modo que fiquem
alinhadas à cerca. Se houver gado na área onde foi implantada a cerca, as mudas de gliricídia devem
ser protegidas com estruturas de madeira ou arame farpado para evitar que o gado as pasteje, ou isolar
o gado da área, até que as plantas atinjam altura superior a 2 m. As podas anuais são práticas
importantes no estabelecimento, para evitar desalinhamento e, posteriormente, para produção de novas
estacas.
A correção da fertilidade do solo é feita com base na análise de terra. A gliricídia é responsiva à
adubação, esta prática contribui para que ocorra um engrossamento mais rápido das estacas.
•
Fixação do arame
Inicialmente, as estacas podem ser amarradas ao moirão tratado com tiras de borracha flexível,
de modo que fiquem encostadas em todos os fios da cerca. Isto é feito até que as plantas se
desenvolvam o suficiente para a fixação do arame de forma definitiva, após aproximadamente dois anos
do plantio no campo. A fixação do arame na estaca pode ser feita diretamente com o uso do grampo
inserido no tecido vegetal ou colocando-se um pedaço de conduíte ou borracha intercalado entre o
arame e a estaca, para reduzir o processo de oxidação do arame e do grampo no local onde o mesmo é
fixado, e consequentemente, evitar danos à planta e proporcionar uma maior durabilidade do arame.
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Fixação do arame ao moirão vivo sem o uso de borracha isolante (A) e com borracha isolante (B). Vista geral de
uma cerca ecológica com moirões vivos de gliricídia (C), Embrapa Agrobiologia, Seropédica, RJ.
Como as árvores só crescem em altura a partir das gemas apicais, não há risco da cerca subir
após o arame ser pregado no seu tronco, pois nesta posição só ocorre o crescimento radial, com
aumento do diâmetro.
Caso as estacas ainda não estejam suficientemente desenvolvidas para serem grampeadas
aos arames, pode-se amarrá-las aos mesmos através de borrachas, até atingirem um porte que
possibilite grampear. Esta operação parece ser mais segura e econômica, pois evita danos mecânicos
provocados pelos grampos nas estacas que ainda não se estabeleceram, evitando-se perdas de
estacas (BAGGIO & HEUVELDOP, 1982).
Corte de estacas em moirões vivos de gliricídia, com detalhe (círculo) da decepa da parte onde se formam as
brotações visando rejuvenescimento do tecido e retirada de estacas para serem utilizadas na implantação de novas
cercas ecológicas. Seropédica, RJ
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Após a implantação e estabelecimento, a cerca ecológica não demanda muitos tratos culturais
e mão-de-obra, sendo importante a retirada dos brotos e ramificações excessivas, mantendo a copa
com tamanho e forma desejável. Com isso, se estabelece um melhor aproveitamento da cerca e das
matrizes (moirões vivos), dinamizando e diversificando o sistema produtivo do agricultor com
subprodutos da cerca, como forragem, lenha, estacas, adubo verde, sombra para animais, efeito
paisagístico, quebra ventos e outros, que consequentemente, potencializam as interações benéficas
dos agroecossistemas (GLIESSMAN, 2001; ALTIERI, 2002; NEVES et al., 2004).
Outras opções forrageiras poderão ser agregadas ao sistema a exemplo das espécies:
•
Feijão guandu (Gajanus cajan), leguminosa arbustiva de múltiplo uso: produção de feno, grãos e
melhoramento de solo;
•
Maniçoba ou mandioca-brava (Manihot pseudoglasivi), planta nativa de alta resistência à seca,
destinada à produção de feno com 15% de proteina bruta;
•
Melancia forrageira (Citrulus lanatus), também nativa, de ciclo rápido e de valor nutritivo
semelhante à da palma;
•
Erva sal (Atriplex nummularia), que pode ser plantada em solos salinizados, compondo dietas na
forma de feno ou fornecimento in natura.
Sistemas silvipastoris
Com o planejamento do Sistema de Pastoreio Racional Voisin (PRV), temos a oportunidade de
re-pensar o desenho de toda a propriedade, destinando áreas de pastoreio rotativo, áreas de pastagem
vedada de suporte ao PRV para períodos secos e áreas de recuperação e reforma de pastagem, por
meio de culturas anuais (integração lavoura-pecuária). Portanto, pode ser utilizado em toda a
propriedade o cercamento dessas áreas com cerca elétrica, formando corredores menores e maiores
entre as parcelas.
Nos corredores maiores das áreas de PRV e também na divisão entre áreas de plantio e
pastoreio e até em toda a divisa da propriedade, é possível implantar faixas com árvores de interesse
econômico e ecológico para o/a agricultor/a. Começa-se, portanto, a misturar, cada vez mais, o
elemento “árvore” com as pastagens e os animais. É o que chamamos de Sistemas Silvipastoris.
Os sistemas silvipastoris, conhecidos como uma modalidade de Sistemas Agroflorestais, são
sistemas compostos pelo trinômio pastagem-gado-árvores, onde os componentes são intencionalmente
utilizados em associação numa mesma área. São praticados em várias partes do mundo e sob
diferentes condições ambientais e sócio-econômicas.
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Em situações onde as árvores se constituem também em forrageiras, são utilizadas espécies
que permitem o pastoreio direto ou corte de suas folhas, ramos, frutos e vagens. Já em situações onde
as árvores têm tanto a finalidade de compor um sistema ameno aos animais, como o fornecimento de
madeira, buscam-se outras alternativas para a alimentação animal.
Exemplos de árvores importantes observadas neste sistema foram o abacateiro, citros
(laranjeiras e limoeiros), bambuseiros, jaqueiras, bananeiras, capoeira branca, bracatinga,
amoreiras, gliricídia e leucena.
Os sistemas silvipastoris podem, ainda, fazer parte de um programa amplo regional de formação
de corredores de biodiversidade, onde agricultores se unem na recuperação de seus remanescentes
florestais, aliando-se no processo de recuperação das áreas de preservação permanente e de reserva
legal, propiciando o surgimento de um agroecossistema regional próprio para a recuperação da
biodiversidade perdida. Esta biodiversidade irá compor o sucesso de um sistema ecológico de produção
animal.
e) 10 razões para não se utilizar a adubação química nitrogenada nas pastagens
• Prejudica a vida no solo (biota) e os mecanismos naturais de fixação de nitrogênio e outros
elementos no solo, sendo a adubação nitrogenada tóxica para minhocas e outros
organismos de um solo vivo;
• Aumenta a susceptibilidade das plantas adubadas a pragas e doenças;
• Aumenta o custo de produção;
• Aumenta a dependência dos agricultores/as em relação a um insumo externo e de alto
custo;
• Contamina as águas superficiais e profundas com Nitratos e Nitritos;
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• Desrespeita os limites internacionais mais rígidos relativos à utilização de adubação
nitrogenada de alta solubilidade8;
• Seu uso está proibido pela legislação de produtos orgânicos do Brasil e do Mundo;
• A adubação nitrogenada sintética e solúvel (Uréia, NPK - prontamente disponível) é
produzida à partir de energia não-renovável (petróleo), que tende a se esgotar;
• Leva ao acúmulo de Nitratos no ambiente, nos animais e nos alimentos, sendo estas
substâncias sabidamente relacionadas a processos câncerígenos nos seres humanos;
• Acelera o esgotamento das reservas de nutrientes do solo, pois eleva a produtividade do
sistema a níveis que ultrapassam a capacidade de renovação do solo e tudo que faz parte
dele.
Portanto, sistemas altamente adubados com adubos químicos solúveis não sustentam, em longo
prazo, a produtividade no sistema. Isso diminui a vida útil do sistema de produção!
f. Fertilização orgânica de pastagens
A fertilização mineral tem uma grande influência na produção e permanência das pastagens. Na
verdade, uma adubação deficiente, quantitativa e qualitativamente, é freqüentemente a causa de
redução ou mesmo, do desaparecimento de espécies semeadas. Em geral, as pastagens se instalam
em solos pobres, de baixa fertilidade. Acresce a isto que o pastoreio leva as plantas a terem que
produzir muito mais caules e folhas do que sucederia se apenas se destinassem a obtenção de
sementes, resultando a necessidade de absorverem do solo mais nutrientes.
Há três (3) elementos nutritivos que as plantas requerem em grandes quantidades, e que são: o
Nitrogênio, o Fósforo e o Potássio.
Há outros três (3) elementos que são necessários em quantidades moderadas e se chamam
elementos secundários, e que são: o Cálcio, o Magnésio e o Enxofre.
Outros elementos são requeridos em quantidades muito pequenas e, por isso, se chamam
elementos mínimos ou micro-nutrientes. È o caso do Cobre, Zinco, Molibdênio, Boro, Manganês e
Ferro.
Em virtude das leguminosas poderem obter o Nitrogênio de que necessitam, via simbiose com o
Rhizobium, a adubação nitrogenada pode ser feita com uma adubação verde com espécies
leguminosas nas seguintes formas:
•
Consorciada com as touceiras de capim na pastagem;
•
Em corredores entre piquetes e áreas de pastejo;
•
Antecessora à cultura anual, no caso de integração lavoura-pecuária, no período do outonoinverno;
8
A União Européia não permite, por razões ambientais, adubações nitrogenadas que ultrapassam 140 kg de N/Ha/Ano. Enquanto que no
Brasil, instituições de pesquisa recomendam adubações de até 700 kg de N/ha/ano em pastagens rotacionadas.
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Consorciada com a mesma cultura anual no período da primavera-verão, para que, após a
•
colheita, os animais possam entrar e se beneficiar da palhada e folhas verdes da adubação que
permanece verde no inverno, como é o caso do Feijão Guandu.
A adubação Fosfatada deve ser sempre recomendada, pois em geral, os solos destinados a
pastagens são pobres em fósforo. Na pecuária convencional, são recomendados adubos em que o
fósforo seja facilmente assimilável, como é caso do superfosfato de cálcio, em grandes quantidades e
preços altos, inviável para pequenos agricultores.
Na pecuária ecológica, recomendamos a utilização de adubos de fosfatos naturais, cujo fósforo
vai gradualmente se tornando disponível e assimilável, tais como: Pó-de-Rocha, Fosfato GAFSA,
Fosfato Natural ARAD e o Hiperfosfato. As quantidades podem começar pelos 200-250 Kg/ha.
Os solos brasileiros revelam baixos teores de Potássio, no entanto, a adubação potássica é
menos exigida do que a de Fósforo e Nitrogênio, sendo reposta ao solo através da matéria orgânica
presente nos restos da adubação verde, no esterco dos animais e nos biofertilizantes líquidos.
Em relação aos elementos secundários – Cálcio, Magnésio e Enxofre, a aplicação dos dois
primeiros é realizada, por meio de calcário, quando os solos estão ácidos e o pH é inferior a 5,5. Com
esta operação faz-se subir o pH, com o que se conseguem três benefícios:
•
Melhoria do aproveitamento (assimilação) de alguns elementos nutritivos do solo, como o
Nitrogênio, Fósforo, Potássio, Enxofre, Molibdênio;
•
Diminuição de uma possível toxicidade de Alumínio, Magnésio e Ferro;
•
Incremento da capacidade de fixação de Nitrogênio e da persistência das bactérias Rhizobium.
Além disso, o corretivo ou calagem fornece cálcio, se for calcítico, ou cálcio e magnésio, se for
magnesiano (dolomítico). Em muitos solos, a exemplo de derivados de arenitos e granitos, é freqüente
haver carência de magnésio. Aconselhamos, nesses casos, o calcário magnesiano ou dolomítico.
Embora seja mais caro que o calcário calcítico, tem um poder neutralizante maior, provocando, com
isso, um maior acréscimo do pH.
Tanto o Cálcio como o Magnésio são importantes para a saúde animal, sobretudo quando há
nas pastagens um predomínio das gramíneas, as quais são pobres nestes elementos.
A quantidade de corretivo, calcítico ou dolomítico, a serem aplicados nos solos com teor baixo
de matéria orgânica é de 2 a 3 ton/ha. Posteriormente, passados três ou quatro anos, repete-se a
calagem, com 1 a 2 ton/ha. A análise de solo apontará a quantidade exata necessária.
No caso do Enxofre, ele é um elemento de grande importância, em especial para as
leguminosas. Sucede, porém, que entra, em proporção apreciável, na composição de alguns adubos
fosfatados, de rochas fosfatadas, sendo estes preferidos para suprir as carências de fósforo e enxofre.
Quando houver fortes razões para suspeitar de carência de elementos mínimos (microelementos), pode-se elaborar formulações de adubação orgânica com micro-elementos. Mas, em geral,
quando há a recuperação das condições ideais do solo, através de um manejo ecológico dos solos,
adubação verde, rotação de culturas, adubação orgânica, calagem, aplicação de biofertilizantes e
chorumes diversos, estarão garantidos os nutrientes necessários para o pleno desenvolvimento das
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plantas, pastagens, culturas agrícolas, capineiras etc. A mineralização dos animais no cocho ajuda a
manter o equilíbrio de micro-elementos na pastagem.
g. Adubação Verde e Consorciação das Pastagens
Adubação verde é uma prática utilizada para a fertilização do solo que consiste no cultivo de
determinada planta, normalmente uma leguminosa, gramínea, crucífera e outras, com a finalidade de
proteger e melhorar o solo. Depois de um determinado período, é cortada e deixada sobre o solo ou
incorporada ainda verde, promovendo, assim, o enriquecimento do solo com matéria orgânica e
nutrientes, principalmente o nitrogênio.
Os adubos verdes são de grande importância para a conversão de um sistema degradado, em
um sistema de agricultura de base ecológica, pois auxiliam na desintoxicação do solo causada por
herbicida ou outros produtos químicos, são importantes fontes de nitrogênio e facilitam sua fixação no
solo. Já as gramíneas são boas fontes de carbono e produtoras de biomassa, sendo que as ervas
nativas auxiliam a reciclagem de nutrientes e a preservação do ecossistema. O adubo verde deve ser
cortado na época de floração, podendo ser deixado sobre o solo ou incorporado de forma superficial
para que possa se decompor.
As pastagens naturais e cultivadas constituem a principal e a mais econômica fonte de
alimentação para os ruminantes. Dos cerca de 100 milhões de hectares de pastagens cultivadas
existentes no Brasil, estima-se que 60 milhões encontram-se degradadas ou em processo de
degradação. Portanto, precisam ser recuperadas e a adubação verde é a forma mais eficiente de fazêla. A reversão deste quadro passa pela revisão do conceito sobre pastagens e pela necessidade da
intensificação do uso racional da adubação verde e a consorciação planejada do seu uso.
Assim, uma pastagem de qualidade para a pecuária leiteira ecológica deve contemplar a
consorciação do capim com leguminosas forrageiras, como feijão-guandu, alfafa, soja-perene,
centrosema, calopogônio, estilosantes, leucena e outras. Esta consorciação poderá resultar, a curto
prazo, em aumentos expressivos na produtividade da pecuária brasileira.
Por outro lado, devemos incentivar áreas de produção de forrageiras como sorgo, milheto,
aveias e outras no período denominado "safrinha". Esta prática, aliada à conservação do excedente
forrageiro produzido nas águas (em piquetes destinados a fenação e/ou silagem), são essenciais para
complementar, ou até substituir, as capineiras em determinadas épocas. Esta prática aumentará a
lucratividade da pecuária leiteira.
•
Alguns adubos verdes utilizados na pecuária leiteira ecológica:
Feijão Guandu ( Cajanus Caján )
Descrição: Família – Leguminosa; Cultivar – Caqui; Ciclo vegetativo – perene; Forma de crescimento –
arbustiva.
Adaptação: Tipo de solo – todos/bem drenado; Altitude – até 1500 metros; Precipitação anual –de 700 a
4000mm.
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Resistência: Seca – alta; Frio – boa; Umidade – baixa; Cigarrinha – alta; sombreamento – alta.
Indicação: Pastoreio – direto e em faixas nas pastagens / Cerca viva; Fenação – sim; Ensilagem – sim
com Milho e Sorgo; Banco de proteína – piquetes de 10% da área de pastagens e ao lado das
gramíneas; Consorciação – Brachiarias e Panicuns; Adubação verde – sim.
Plantio: Em linha – 1.400 pontos e 20 Kg sementes/há, com plantadeira 70 cm entre linhas.
À lanço – banco de proteína-800 pontos de vc por ha, com esparramadora de calcário, manual e com
uso de rolo compactador ou incorporação com grade.
Covas: 1050 pontos de vc ou 15 kg sementes por ha com matraca ou enxada.
Exigências: Solo (pH) – corrigir acidez; Época – estação chuvosa; Adubação – conforme análise de
solo; Profundidade – 2,0 a 3,0 cm ; Preparo do solo – convencional, bem destorroado, nivelado.
Produção: Matéria seca (ha/ano) – 6 a 10 toneladas; Proteína bruta na MS – 14 a 16%;
D.I.V MS – Ótima; Palatabilidade – boa.
Utilização e Manejo: Tempo de formação –120 dias; Primeiro patoreio –Antes do florescimento; Altura
do corte – 10 a 15 cm de altura (feno); Incorporação – 15 dias após início do florescimento; Nitrogênio
fixado – 100 a 200 Kg/ha/ano.
Leucena ( Leucaena leucocephala)
Descrição: Família – leguminosas; Cultivar – Cunninghan; Ciclo vegetativo – perene; Forma de
crescimento
–
arbustiva.
Adaptação: Tipo de solo – todos/bem drenado; Altitude – até 1500 metros; Precipitação anual –de 700 a
4000mm.
Resistência: Seca – alta; Frio – alta; Umidade – média; Cigarrinha – alta; sombreamento–alta.
Indicação: Pastoreio – em faixas nas pastagens / Cerca viva; Fenação – não; Ensilagem – não; Banco
de proteína – piquetes de 10% da área de pastagens; Consorciação – Brachiarias; Adubação verde –
não.
Plantio: Em linha – em consórcio 320 pontos de vc por ha, 25/30 sementes por metro linear.
À lanço – banco de proteína - 800 pontos de vc por ha, com esparramadora de calcário, manual e com
uso de rolo compactador ou incorporação com grade.
Covas: 320 - consorciada e 800 pontos de vc - banco de proteínas pontos de vc por ha com matraca ou
enxada.
Exigências: Solo (pH) – corrigir acidez; Época – estação chuvosa; Adubação – conforme análise de
solo; Profundidade – 1,0 a 2,0cm ; Preparo do solo – convencional, bem destorroado, nivelado. OBS.:
escarificar
as
sementes
Produção: Matéria seca (ha/ano) – 12 toneladas; Proteína bruta na MS – 18 a 20%; D.I.V MS – 64%;
Palatabilidade – boa.
Utilização e Manejo: Tempo de formação –180 dias; Primeiro patoreio – 1,20 m de altura; Altura do
corte – 20cm (corte mecânico); Incorporação – não; Nitrogênio fixado – 500 a 600 Kg/ha/ano.
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Calopogônio ( Calopogonium mucunoides)
Descrição: Família – leguminosas; Cultivar – comum; Ciclo vegetativo – perene; Forma de crescimento
– trepadora volúvel.
Adaptação: Tipo de solo – todos; Altitude – até 1800 metros; Precipitação anual – acima de 1000mm.
Resistência: Seca – alta; Frio – baixa; Umidade – alta; Cigarrinha – alta; sombreamento – alta.
Indicação:Pastoreio – consorciada com gramíneas; Fenação – sim; Ensilagem – não; Banco de proteína
– piquetes ao lado das pastagens; Consorciação – Panicuns, Brachiarias e Andropogon; Adubação
verde – pode ser utilizada.
Plantio: Em linha – solteiro-800 pontos de vc por ha, com plantadeira e rolo compactador.
À lanço – consórcio-320 pontos de vc por ha, em banco de proteína-800 pontos de vc por ha, com
esparramadora de calcário, manual e com uso de rolo compactador ou incorporação com grade leve
Covas: 320-consorciada e 800-banco de proteínas pontos de vc por ha com matraca e enxada
respectivamente.
Exigências: Solo (pH) – corrigir acidez; Época – estação chuvosa; Adubação – conforme análise de
solo; Profundidade – 1,0 a 2,0cm ; Preparo do solo – convencional, bem destorroado. OBS.: escarificar
as sementes
Produção: Matéria seca (ha/ano) – 4 a 5 toneladas; Proteína bruta na MS – 16 a 18%; D.I.V MS – 58%;
Palatabilidade – boa na seca.
Utilização e Manejo: Tempo de formação –120 dias; Primeiro patoreio – 120 dias (gado jovem); Altura
do corte – 20cm / retirada dos animais; Incorporação – 50% da inflorescência.
Mineirão (Stylosanthes guianensis)
Descrição: Família – leguminosas; Cultivar – Mineirão – BR 017817; Ciclo vegetativo – perene; Forma
de crescimento – semi-erecta.
Adaptação:Tipo de solo – baixa fertilidade; Altitude – até 1200 metros; Precipitação anual –1800 a
2200mm.
Resistência: Seca – alta; Frio – alta; Umidade – baixa; Cigarrinha – alta; sombreamento – baixa
Indicação: Pastoreio – direto/consórcio; Fenação – sim; Ensilagem – não; Banco de proteína – sim;
Consorciação
–
Panicuns,
Brachiarias
e
Andropogon;
Adubação
verde
–
não.
Plantio: Em linha – solteiro-800 pontos de vc por ha, com plantadeira, espaçamento entre linhas 40cm –
20
sementes
por
metro
linear.
À lanço – consórcio-320 pontos de vc por ha, em banco de proteína-800 pontos de vc por ha, com
esparramadora de calcário, manual e com uso de rolo compactador ou incorporação com grade.
Covas:
320
pontos
de
vc
por
ha
com
matraca
ou
enxada.
Exigências: Solo (pH) – corrigir acidez; Época – estação chuvosa; Adubação – conforme análise de
40
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solo; Profundidade – 1,0 a 2,0cm ; Preparo do solo – convencional, bem destorroado. OBS.: escarificar
as sementes( térmico)
Produção: Matéria seca (ha/ano) – 5 a 13 toneladas; Proteína bruta na MS – 12 a 18%; D.I.V MS – 52 a
60%; Palatabilidade – boa.
Utilização e Manejo: Tempo de formação –120 dias; Primeiro patoreio – 120 dias; Altura do corte –
mínimo de 20cm; Incorporação – não.
Puerária ( Puerária phaseoloides)
Descrição: Família – leguminosas; Cultivar – comum; Ciclo vegetativo – perene; Forma de crescimento
– trepadora .
Adaptação: Tipo de solo – médio/fértil; Altitude – até 2000 metros; Precipitação anual – acima de
1300mm.
Resistência: Seca – média; Frio – média; Umidade – alta; Cigarrinha – alta; sombreamento – alta.
Indicação: Pastoreio – direto e corte no cocho; Fenação – sim; Ensilagem – não; Banco de proteína –
sim; Consorciação – Panicuns, Setária e Brizantha; Adubação verde – pode ser utilizada.
Plantio: Em linha – solteiro-800 pontos de vc por ha, com plantadeira, espaçamento de 40cm.
À lanço – consórcio-320 pontos de vc por ha, em banco de proteína-800 pontos de vc por ha, com
esparramadora de calcário, manual e com uso de rolo compactador ou incorporação com grade.
Covas: 320-consorciada e 800-banco de proteínas pontos de vc por ha com matraca ou enxada.
Exigências: Solo (pH) – corrigir acidez; Época – estação chuvosa; Adubação – conforme análise de
solo; Profundidade – 1,0 a 2,0cm ; Preparo do solo – convencional, bem destorroado. OBS.: escarificar
as
sementes
Produção: Matéria seca (ha/ano) – 6 a 15 toneladas; Proteína bruta na MS – 23%; D.I.V MS – 61%;
Palatabilidade – boa na seca.
Utilização e Manejo: Tempo de formação –120 dias; Primeiro patoreio – 120 dias; Altura do corte –
30cm / retirada dos animais; Incorporação – quando florescer.
h. Chorume e outros biofertilizantes nas pastagens
Basicamente, o Biofertilizante é o resíduo do biodigestor, obtido da fermentação de materiais
orgânicos como a vinhaça e o Chorume das águas de lavagem de estábulos, baias e pocilgas. O
biofertilizante de esterco bovino, por exemplo, é o material pastoso resultante de sua fermentação
(digestão anaeróbica) em mistura com água.
Na digestão anaeróbia há maior retenção de nitrogênio do que na decomposição aeróbia, pela
compostagem. Isto ocorre pelo fato de as bactérias anaeróbias utilizarem pequena quantidade de
nitrogênio dos resíduos vegetais e animais para sintetizarem proteínas.
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Os biofertilizantes, além de serem importantes fontes de macro e micronutrientes, contêm
substâncias com potencial de funcionar como defensivos naturais, quando regularmente aplicados via
foliar. Vários tipos de biofertilizantes são utilizados, podendo ser obtidos da mistura de diversos
materiais orgânicos com água, enriquecidos ou não com minerais. Podem ser aplicadas sobre a planta
via pulverizações e sobre o solo. Os efluentes de pocilgas e estábulos contém somente esterco e água.
Outros biofertilizantes, como o Supermagro, têm na sua formulação fontes variadas de matéria
orgânica, incluindo animais, vegetais e minerais, como pós de rocha e micronutrientes.
Os biofertilizantes funcionam como fonte suplementar de micro-nutrientes e de componentes não
específicos e estimulam a resistência das plantas ao ataque de pragas e agentes de doenças. Têm
papel direto no controle de alguns parasitas das plantas, através de substâncias com ações fungicidas,
bactericidas e/ou inseticida presentes em sua composição. Há estudos mostrando, também, seus
efeitos na promoção de florescimento e de enraizamento em algumas plantas cultivadas, possivelmente
pelos hormônios vegetais nela presentes.
O Supermagro, nossa sugestão de biofertilizante, é proveniente da fermentação anaeróbia da
matéria orgânica de origem animal (esterco) e vegetal (folhas), que resulta num líquido escuro utilizado
em pulverização foliar complementar à adubação de solo, como fonte de micro-nutrientes. Atua,
também, como defensivo natural por meio de bactérias benéficas, principalmente Bacillus subtilis
(PEDINI, 2000), que inibe o crescimento de fungos e bactérias causadores de doenças nas plantas,
além de aumentar a resistência contra insetos e ácaros.
Os ingredientes básicos do biofertilizante Supermagro são água, esterco bovino, mistura de sais
minerais (micro-nutrientes), resíduos animais, melaço e leite. Em qualquer das formulações citadas, as
pulverizações devem ser feitas nas concentrações de 2 a 5%, sendo que para as espécies perenes
poderão ser suficientes quatro pulverizações por ano.
Na fase de formação, até seis meses após o plantio, pulverizações de Supermagro (13 a 15%)
promovem melhor crescimento das pastagens. Por conterem micro-nutrientes, pulverizações excessivas
podem ocasionar teores elevados nos tecidos foliares. Por este motivo, análises químicas foliares
devem ser feitas sempre que possível, a fim de monitorar os teores desses nutrientes nas plantas e
direcionar a formulação do biofertilizante.
O biofertilizante líquido, produzido a partir da simples fermentação de esterco fresco de
bovinos, é recomendado para aplicação em maiores concentrações. É distribuído usando-se tanques
ou através de um sistema de aspersão sobre o solo ou sobre a planta, em diluições de 20 a 40%.
•
Biofertilizante Supermagro
No preparo do Supermagro deve-se primeiramente preparar as misturas minerais:
Mistura número 1: 2 kg de sulfato de zinco + 300g de sulfato de manganês + 300g de sulfato de ferro +
300g de sulfato de cobre.
Mistura número 2: 2 kg cloreto de cálcio + 1 kg de ácido bórico.
Mistura número 3: 2 kg de sulfato de magnésio + 50g de sulfato de cobalto.
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Mistura número 4: 100g de molibdato de sódio (este sal não pode ser misturado com nenhum outro
mineral, devendo ser acrescentado na última etapa de preparo do biofertilizante).
O preparo do biofertilizante "Supermagro" é simples, basta seguir as etapas descritas a seguir,
considerando ingredientes básicos e misturas de sais minerais necessários para preparar 250 litros do
biofertilizantes:
Etapas
1o dia
Ingredientes
Mistura protéica
100 litros de água + 20 kg ou 1 lata de 1 litro de leite ou soro; 500g de
20 litros de esterco bovino fresco
açúcar preto; 100 ml de sangue; 100g
de fígado; 200g de calcário calcítico;
200g de fosfato de araxá; 200g de
farinha de osso.
4o dia
1 kg da mistura de sais no 1
mistura protéica
7o dia
1 kg da mistura de sais no 1
mistura protéica
o
10 dia O restante da mistura de sais no 1
mistura protéica
13o dia 1 kg da mistura de sais no 2
mistura protéica
16o dia 1 kg da mistura de sais no 2
mistura protéica
19o dia 1 kg da mistura de sais no 2
mistura protéica
22o dia 1 kg da mistura de sais no 3
mistura protéica
o
o
25 dia 1 kg da mistura de sais n 1 + a mistura mistura protéica
de sais no 4 e completar com água até
250 litros.
30o dia O produto está pronto para ser usado
Fonte: Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata, 1999.
Para 200 litros de biofertilizante, misturar 40 kg de esterco verde com 6,0 kg de mato fresco e
vigoroso. Adicionar, a cada cinco dias, 1,0 kg de uma mistura de micronutrientes, mais 50g de sulfato de
cobre, 1,0 litro de leite; 1,0 litro de melaço (ou 0,5 kg de açúcar), 100 ml de EM-4 ou 2 copos de leite
fermentado contendo lactobacilos, 0,5 kg de calcário e 0,5 litro de sangue ou 200g de farinha de ossos
ou 0,5 kg de restos de peixe. Deixar fermentando por 30 dias antes de coar e usar.
4. A IMPORTÃNCIA DAS APPs e RESERVAS LEGAIS PARA A PROPRIEDADE
Para se entender a importância dessas duas áreas dentro de uma propriedade, precisamos
entender as diferenças entre elas. Áreas de Preservação Permanente ou APPs são áreas protegidas
nos termos dos artigos 2º e 3º do Código Florestal, coberta ou não por vegetação nativa, com a função
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o
fluxo gênico da fauna e da flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. Nas
APPs os recursos naturais não podem, no longo prazo, ser explorados. Dentro das áreas de APPs
encontram-se as matas ciliares, que são extremamente importantes e devem ser conservadas ou
reconstituídas, pois protegem as nascentes e cursos d´água.
Já a Reserva Legal (RL) é uma área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural,
exceto a de preservação permanente. A Reserva Florestal Legal é necessária ao uso sustentável dos
recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da
biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas. Pode ser explorada através de plano de
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manejo. A área de reserva florestal legal, dentro de cada propriedade, varia de acordo com a região do
País em que está inserida.
O/a agricultor/a deve aproveitar o planejamento do cercamento das áreas do Sistema de
Pastoreio Racional Voisin e vedar a entrada dos animais nas APPs, o que já ajuda na recuperação da
cobertura florestal nessas áreas.
5. MANEJO ECOLÓGICO DOS ANIMAIS E DA ALIMENTAÇÃO
O manejo ecológico de animais de produção leiteira está intimamente relacionado com o
respeito ao comportamento natural dos animais e com o manejo ecológico de seu entorno ambiental.
Assim, os animais devem passar pelo menos metade de seu dia ao ar livre, juntamente com um grupo
de animais da mesma espécie, compreendidos em um sistema que ofereça condições para que gozem
de sua máxima saúde e bem estar, como é o caso de piquetes de pastoreio rotativo com forragens em
ótimo ponto nutricional. Áreas de descanso bem arborizadas e bebedouros expostos à luz solar e com
água de boa qualidade e quantidade são fundamentais.
Em períodos de recolhimento dos animais para alimentação suplementar no cocho (de maneira
geral nunca superior a 8 horas), os animais devem ter espaços suficientes para uma circulação
confortável. Estes ambientes devem ser constantemente manejados no intuito da manutenção de
condições de higiene. O esterco produzido nos momentos em que os animais estiverem sob manejo de
estábulo (ordenha, alimentação no cocho, condutas médico-veterinárias, etc), deve ser recolhido para
ser redistribuído nas capineiras e outras culturas.
No manejo nutricional da pecuária leiteira ecológica recomenda-se o fornecimento prioritário aos
animais de volumoso fresco, fenado ou ensilado, de boa qualidade e em bom ponto para corte ou
pastoreio e com a maior variedade possível. A diminuição considerável da administração de rações
concentradas industriais é fator preponderante na administração de um plantel do ponto de vista
ecológico.
Especial cuidado deve ser tomado com a origem dos alimentos que suplementam as dietas de
animais sob sistema ecológicos de produção. Recomenda-se que toda a alimentação dos animais seja
produzida na própria propriedade de maneira também ecológica, em uma perspectiva de integração da
produção animal com a atividade agrícola, a qual é essencial na busca de um sistema produtivo que
dependa apenas minimamente do meio externo.
a) Manejo nutricional
Como já foi dito, deve-se adequar a espécie animal ao ambiente onde ele viverá. E isto também
serve aos vegetais, pois é aconselhável trabalhar com pastagens, leguminosas, raízes, dentre outros
alimentos para o gado, que também se adaptem ao ambiente onde se localiza a propriedade. Este
cuidado evita gastos com adubo e diversos manejos que seriam desnecessários durante o ano.
Os pastos brasileiros produzem alimento para o gado durante todo o ano, diminuindo no período
da seca, porém, ainda assim, se fornecido alguma suplementação e fizer o pastoreio rotativo,
consegue-se manter o gado no pasto durante todo o ano.
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O desempenho do animal em pastagem depende, sobretudo, do valor nutritivo e da qualidade de
forragem disponível, independentemente da espécie forrageira. O solo deve ser bem cuidado em
termos nutricionais e não sofrer compactação ou erosão.
Há várias formas de nutrir os animais, porém é importante focalizar algumas informações sobre
o rebanho, como o período de gestação ou de lactação em que a vaca está, ou ainda o seu estado de
saúde. Por isso a importância de fazer as fichas de anotações, inclusive a sanitária, ou seja, anotar
doenças e tratamentos que cada animal sofreu.
Dependendo do estado da vaca ela necessitará de uma nutrição mais reforçada que as demais.
Como por exemplo, vacas recém-paridas, vacas muito magras ou doentes, vacas que estão nos últimos
três meses de gestação, dentre outros casos. Separar estes animais e fornecer uma alimentação
adequada evitará problemas no futuro, como infertilidade, bezerros fracos e animais mais susceptíveis a
contrair doenças.
Animais rústicos como o Zebu e seus cruzamentos não necessitam de grandes quantidades de
concentrado para produzirem bem, porém, o alimento fornecido a eles deve ser de boa qualidade.
Não existe um capim “milagroso” para a produção de leite, o que existe são algumas forrageiras
de alto potencial para a produção de forragem de alta qualidade que, se bem manejadas, podem
resultar em boas produções de leite por animal por área.
Exemplos de capins que possuem produções relativamente mais elevadas que outras
forrageiras é o Capim-elefante (Pennisetum purpureum), cultivar Napier e o Capim Setária (Setaria
sphacelata), porém, deve-se considerar a diversidade de clima e solo existente no Brasil, as espécies
indicadas diferem de região para região. De modo geral, no entanto, o melhor capim é aquele que já
está implantado e que pode ter sua qualidade melhorada.
Consorciar gramíneas com leguminosas é uma ótima saída para fornecer proteína às vacas,
podem-se fazer bancos de proteínas ou manejá-las com as gramíneas. Mas também existem diversas
fontes de alimentos alternativos que o/a agricultor/a pode produzir em sua propriedade, evitando ao
máximo comprar suplementos externos, como a ração comercial.
A utilização de sobras da agricultura ou alguns resíduos de indústrias próximas da propriedade
podem auxiliar principalmente no período crítico da seca. Algumas alternativas como suplemento no
período seco, além da cana, silagem e da capineira, que são mais usuais, é a utilização do bagaço,
raspa, farinha ou ate mesmo da casca da mandioca, fornecido junto com milho. Podem ser incluídas
como fonte protéica sementes moídas de leguminosas como feijão guandu e as mucunas, sementes de
leucenas ou folhas de leguminosas que se conservam no inverno, como também folhas de mandioca.
Num sistema silvipastoril, como observamos, os animais encontram nas árvores alternativas de
alimento, como frutas e folhas. Esta diversidade de alimentos enriquece o nível nutricional das vacas e
ainda oferece maior conforto e bem estar a estes animais.
Os/as agricultores/as precisam utilizar melhor os seus resíduos de agricultura ou até mesmo
unir-se com seus vizinhos para minimizarem os custos com suplementação para o gado. Utilização de
resíduos evita poluição ambiental, melhora a qualidade de vida das pessoas e dos animais, valoriza a
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propriedade e diminui custos. Mas atenção, ciudado com resíduos industriais, pois geralemten estão
contaminados com agrotóxicos (provenientes do sistema de produção) e elementos químicos utilizados
em processos industriais.
b) Manejo das vacas em lactação
As vacas em lactação devem ser tratadas com muito cuidado, evitando o estresse, que pode ser
causado por mudanças de rotina, de alimentação e tratamento agressivo, que leva a uma significativa
diminuição na produção leiteira.
No manejo ecológico o bezerro fica ao pé da vaca durante a ordenha e é solto com a vaca após
a ordenha, permanecendo com ela por até 4 horas. Porém, é importante sempre observar a relação
entre o bezerro e a vaca, conforme o bezerro vai crescendo, ele pode estar mamando muito, o que além
de não ser sua necessidade, pode deixar a vaca muito magra. Por volta dos 6 meses de idade, o
bezerro só deve ser deixado com a vaca antes, na hora e momentos depois da ordenha.Deve ser
desmamado aos 8 meses.
É importante que o/a agricultor/a não realize, desnecessariamente, 2 ordenhas diárias, pois na
pecuária leiteira ecológica é preciso ter tempo para implementar outras práticas de manejo, como cuidar
do PRV, das áreas de culturas anuais e das áreas de Sistemas Silvipastoris (plantio de árvores e
arbustos).
c) Manejo do bezerreiro
O ideal é que se tenha um pasto separado, com abrigo, sombras, local para tomar sol e pasto de
boa qualidade e espaço para correr e brincar (bem-estar). É importante que o bezerreiro esteja
conectado a um pequeno PRV, para obtenham a melhor forragem possível e para que sejam treinados
para o manejo de rotação de pastagens. A partir da terceira ou quarta semana os bezerros já começam
a pastar.
A limpeza e higiene do bezerreiro são fundamentais para manter a saúde e o bem-estar dos
animais, principalmente se for mais fechado. Nessa época da vida os animais são mais susceptíveis a
infecções, como as bacterianas e verminóticas. Quanto menos higiene houver e mais lotado estiver o
local, maior as chances de contaminação. É recomendado, também, que se tenha dois bezerreiros
distintos e que os animais sejam separados por faixas etárias.
Os animais vão para o bezerreiro depois de ficarem pelo menos 4 horas com a vaca após a
ordenha e ficam separados até o dia seguinte.
O bezerreiro dos animais mais novos (até 4 meses), deve ser dividido em 2 ambientes, com
telhados removíveis. Utilizar cada parte alternadamente, de modo a retirar o telhado da área que está
em descanso para que o sol realize a higienização do local. É importante manter o bezerreiro sempre
com uma nova palhada cobrindo o solo, tomando-se o cuidado de trocá-la sempre que necessário.
d) Manejo das novilhas
As novilhas, após um ano de idade, devem ser manejadas juntamente com as vacas de maior
produção. No caso das novilhas de primeira cria, estas devem receber especial atenção, pois, além de
estarem em lactação, ainda estão em crescimento. As novilhas até o primeiro ano de vida devem pastar
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no PRV, juntamente com os bezerros mais novos, realizando uma suplementação sempre que
necessário, pois as novilhas são o futuro da produção leiteira.
e) Manejo reprodutivo
Na produção animal a pasto, o rebanho deve ser formado predominantemente por animais
rústicos, que se adaptam melhor ao sol, calor e doenças tropicais. Porém, os bovinos selecionados para
alta produção de leite são europeus e adaptados a condições climáticas de países frios. Eles são os
taurinos, como o holandês. Por isso as vacas holandesas são grandes produtoras leiteiras, mas sofrem
muito com o calor, doenças como tristeza parasitária bovina e algumas não engordam e ficam
susceptíveis a muitas doenças. Os mais rústicos são os zebuínos ou zebus, que possuem o cupim na
altura da paleta. Um exemplo é o gir, também selecionado para produção leiteira. Outros zebus, como o
nelore, não são selecionados para produzir leite, mas apenas para carne, e assim não devem ser
misturados na raça do rebanho.
Na seleção genética, são sempre escolhidos animais com características procuradas, e estes
são cruzados entre si. Assim foi feita, por exemplo, a raça girolanda, que tem a rusticidade da gir e alta
produção de leite da holandesa. O produtor pode comprar animais aptos para uma boa produção a
pasto e também pode formar seus próprios animais leiteiros. Ao comprar animais, deve evitar as vacas
de descarte de rebanho leiteiro, que normalmente são frágeis ou até vendidas doentes. As novilhas
mestiças devem ser as preferidas, mas sem cruzamento com raças exclusivas para corte. Assim, o
touro deve ser puro de uma raça de leiteira.
O gir é bom para ser manejado e é resistente a doenças, ao contrário do holandês que pode ser
agressivo e adoecer com facilidade. Outras raças são o pardo suíço, que foi selecionado tanto para leite
quanto para carne, portanto pode gerar bons bezerros para corte, e o jersey, que tem a vantagem do
pequeno porte. O produtor pode ficar com as novilhas que nascerem do cruzamento com seu touro,
mas não é indicado que seja usado sempre o mesmo pai com as filhas, para que não apareçam
problemas genéticos. A inseminação artificial de parte do rebanho é uma saída para este problema.
f) Fichas fundamentais para o controle do rebanho leiteiro
Quando trabalhamos com pecuária, seja qual for o animal em questão, temos que ter controle e
consciência sobre tudo o que esta sendo feito com o rebanho. Não basta apenas dar alimento, cuidar
de um animal doente, fazer a limpeza dos utensílios que se usa durante a ordenha e comprar um bom
touro, se não houver organização. Existem informações que são fundamentais para auxiliar o manejo de
qualquer produção, inclusive na produção de leite.
Na pecuária leiteira, ter maior consciência sobre o rebanho significa anotar datas de cobertura e
parição da vacas, pesar, pelo menos uma vez por mês, a produção de cada e anotar tudo o que se
gasta com o rebanho em remédios, ração, mão-de-obra, dentre outras coisas. Somente assim é
possível avaliar a lucratividade da atividade leiteira.
Assim, as anotações são muito importantes para que os agricultores/as descubram onde está
havendo maiores falhas ou problemas em sua produção, podendo tomar medidas rápidas e mais
corretas quando for necessário.
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Exemplo de ficha para controle Reprodutivo e Leiteiro:
CONTROLE REPRODUTIVO
PAI: Tanger
MÃE: Apagada
VACA: Floresta
Nº: 825
NASCIMENTO: 07/06/2002
COBERTURA
TOURO
PARIÇÃO
M/F
RAÇA
Nº BEZERRO
Nº PARTOS
02/04/2005
Senador
25/01/2006
f
Gir
254
01
OBS
CONTROLE DE LEITE
VACA: FLORESTA
ANO
2006
Nº: 825
2007
2008
2009
MÊS
JANEIRO
12
FEVEREIRO
14
MARÇO
13,5
ABRIL
10
O controle leiteiro é um instrumento importante para a seleção de animais do rebanho, para
propósitos comerciais e para a orientação do manejo e da alimentação, como o fornecimento de
forrageira de melhor qualidade de acordo com a produção de leite, para a divisão dos animais em
grupos de produção e o período ideal para a secagem de animais, entre outros.
6. QUALIDADE DO LEITE E MANEJO DA ORDENHA
Na pecuária leiteira ecológica, praticada com animais de média produção, é importante avaliar a
pertinência ou não de duas ordenhas diárias, pois esta rotina onera excessivamente o trabalho da
família agricultora. No geral, em rebanhos que produzem em média 10 a 12 litros/dia, somente uma
ordenha diária é suficiente. Para aqueles animais com maior potencial de produção, pode-se recorrer a
mais de uma ordenha diária, se a família verificar que é possível dentro da rotina de trabalho na
propriedadde.
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a) Princípios gerais para um leite de qualidade
Para se obter um leite de qualidade é importante manter o rebanho livre de doenças como a
brucelose e a tuberculose. O controle de doenças é importante, tanto do ponto de vista da produção
quanto da saúde pública e é condição indispensável para não comercializar leite com micro-organismos
que causam doenças para o Homem.
Devem-se adotar medidas preventivas e de higiene, ambiente limpo para as vacas, manutenção
e limpeza adequadas dos equipamentos da ordenha, de modo a controlar a incidência de mastite e as
perdas causadas por esta doença. Todas as medidas de higiene adotadas na prevenção da mastite
contribuem para a obtenção de leite com baixa contaminação microbiana.
A higiene antes, durante e depois da ordenha é fundamental para evitar a mastite e será
discutida a seguir.
b) Entendendo o úbere da vaca
O úbere da vaca é composto por quatro quartos e estes não possuem ligação entre si (Figuras 1
e 2). No interior do úbere existem glândulas que formam o leite em um processo contínuo, sendo que
este leite permanece armazenado no interior da glândula.
Fig.1
Fig.2
Figuras 1 e 2. Tetos e Úbere das vacas
No interior do teto há um canal que é mantido fechado pela existência de um esfíncter em sua
extremidade, evitando assim o vazamento de leite para o exterior e também a entrada de
microorganismos na glândula. Na pele, tanto limpa quanto suja de barro, há a presença de
microrganismos que devem ser eliminados no momento da ordenha para que estes não penetrem na
glândula pelo canal do teto, provocando enfermidades nas vacas.
A retirada do leite pode ser realizada pelo bezerro, com ordenha manual e ordenha mecânica.
Por qualquer que seja o processo, a retirada é necessária para aliviar a pressão exercida pelo leite
armazenado, permitindo a secreção de leite por um longo período.
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c) A mastite
A mastite é uma inflamação da glândula mamária, ocasionada pela entrada de bactérias no teto
e conseqüente infecção do tecido secretor. É uma das principais doenças que temos nas fazendas de
leite, pois diminui a produção e pode até provocar a morte dos animais. Na maioria dos casos é uma
mastite sub-clínica e não percebemos que a vaca está infectada e produzindo menos leite.
A susceptibilidade do animal a esta enfermidade ocorre justamente durante e logo após a
ordenha, onde as bactérias alcançam o úbere através do esfíncter do teto. O organismo do animal
responde a estes microorganismos através de mecanismos de defesa, resultando nos sinais clínicos do
processo inflamatório, como vermelhidão, inchaço, dor e presença de grumos no leite. Porém, muitas
vezes esses sinais podem não ocorrer. Em outros casos a cura não é efetiva e as bactérias acabam
colonizando o úbere e destruindo as células que produzem o leite. Por isso é muito importante que o
produtor faça não só a análises e observações da vaca e do leite, mas também a prevenção de todo o
sistema. Para se reduzir novos casos de mastite, deve-se prestar atenção na limpeza das instalações e
na rotina da ordenha.
d) Rotina de Ordenha
A rotina de ordenha deve ser realizada com os objetivos de reduzir o número de bactérias no
teto e de evitar que as bactérias entrem no teto no momento da ordenha.
O primeiro passo a ser executado é a lavagem dos tetos, quando estes estão sujos de barro
úmido.
A utilização da água deve ser restrita, usada apenas quando os tetos estiverem realmente sujos
com barro ou fezes e, ainda assim, evitando molhar o úbere. Dessa forma, a água suja de barro ou
fezes não escorrerá para a ponta dos tetos, o que pode levar doenças para dentro deles.
A limpeza deve ser feita da forma mais enxuta possível, utilizando um papel toalha para cada
teto ou papel jornal. Esta prática é necessária para eliminar a sujeira e ao mesmo tempo provocar o
reflexo necessário para a “descida do leite”. Um outro motivo para a lavagem apenas do teto seria o
menor uso de água, o que reduz a contaminação de microrganismos no local da ordenha.
O local de ordenha deve estar sempre limpo antes da ordenha, ou seja, sem a presença de
fezes de outros animais, como de cães, cavalos ou fezes secas das próprias vacas que não tinham sido
retiradas desde a ordenha anterior. A limpeza do local pode ser feita com água e sabão. Além do local,
os utensílios, como baldes e latões, também devem estar muito bem limpos e higienizados. É
importante que a pessoa que ordenha as vacas esteja com roupas limpas e as mãos também
higienizadas com água e sabão.
Se o teto da vaca estiver muito sujo, deve-se, após a lavagem, utilizar uma solução desinfetante,
com o objetivo de minimizar a presença de microorganismos no exterior do teto. Lembrar que o
desinfetante deve ser próprio para o uso em animais, pois outros produtos podem não fazer o efeito
desejado e até mesmo irritar e machucar o teto das vacas.
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Os desinfetantes mais utilizados para limpar os tetos são o cloro e o iodo. O cloro é uma boa
opção por ser barato e normalmente é utilizado numa solução a 4,5%. Há também os desinfetantes
comerciais prontos para o uso, porém são mais caros. Todos esses desinfetantes não contaminam o
leite, se forem utilizados de forma correta. Esta concentração deve ser usada tanto no pré quanto no
pós-ordenha.
Um ponto muito importante é que o desinfetante deve ser colocado no teto como um todo para
que se consiga eliminar o número máximo de microrganismos. Após passar o desinfetante, deve-se
esperar 30 segundos para que o produto faça efeito (Figura 4). Caso se utilize o manejo de bezerro ao
pé, o mais indicado é fazer a desinfecção após o rápido estímulo do bezerro e antes de iniciar a
ordenha propriamente dita. Com o bezerro ao pé após a ordenha, não é necessário desinfetar o teto
após a ordenha.
Figura 4. Passagem do desinfetante
O teste da caneca pode ser realizado tanto no chão escuro quanto em uma caneca com fundo
preto. Este teste consiste na retirada de 2 a 3 jatos de leite (Figura 5) e deve ser feito antes mesmo do
estímulo do bezerro. Se nestes jatos aparecerem grumos, este leite não deve ser misturado aos demais
e, se possível, a vaca deve ser avaliada por um médico veterinário. A freqüência aconselhável do teste
é diária, mas se esta não for possível, deve-se fazer pelo menos três vezes por semana
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Figura 5. Teste da caneca
Após a desinfecção, deve-se secar os tetos da vaca (Figuras 6 e 7). A secagem pode ser
realizada tanto com pano quanto com papel toalha. Quando a escolha for o pano, deve-se utilizar
apenas 1 pano por vaca, para não haver a transferência de microrganismos de uma vaca doente
para as demais. O mesmo se aplica quando for utilizado o papel toalha. É importante, ainda, que se
evite a contaminação entre os tetos do próprio animal, uma vez que nem sempre todos eles estão
acometidos por microorganismos. Assim, é aconselhável evitar o uso do mesmo lado do papel para
tetos diferentes.
Figuras 6 e 7. Secagem dos tetos
Durante a ordenha manual propriamente dita, deve-se levar em conta a mão do/a ordenhador/a.
A mão, por mais limpa que esteja, ainda contém microrganismos naturais da pele que podem passar
para a vaca. Dessa forma, é estritamente necessário a lavagem das mãos com água e sabão entre a
ordenha de uma vaca e de outra. Isso também faz com que não haja transmissão de microrganismos
entre os animais.
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Terminada a ordenha, o animal é liberado para o pasto com seu bezerro, que mamará o leite
residual e fará com que a vaca fique de pé tempo suficiente para o fechamento do esfíncter do teto,
evitando assim, que possíveis microrganismos do ambiente entrem na glândula. Alimentação
suplementar no cocho após a ordenha ajuda a manter os animais em pé.
O local dever ser limpo e o leite levado imediatamente para um resfriador, que também deve
estar sempre limpo e com bom funcionamento para que não prejudique a qualidade do leite.
Realizando todos esses passos e as medidas de prevenção da mastite, é possível obter um leite
com melhor qualidade, sem risco para a saúde tanto dos animais quanto dos homens, além de se
reduzir perdas financeiras causadas pela mastite.
7. SAÚDE ANIMAL
A saúde dos animais na pecuária leiteira ecológica se dá por práticas de manejo preventivas e
por um ambiente que fortaleça as capacidades naturais de defesa imunológica dos animais. No caso de
tratamentos curativos, podem ser utilizadas várias terapias alternativas, entre elas a fitoterapia e a
homeopatia. A alopatia (medicamentos sintetizados por laboratórios convencionais) pode ser usada
como medida de salvamento.
As terapias alternativas substituem algumas terapias convencionais com enorme vantagem nos
resultados e custos financeiros para os/as agricultores/as. A utilização da homeopatia e das plantas
medicinais (fitoterapia) fica facilitada pela sua prática obtenção (muitas vezes na propriedade) e pela
sua simplicidade de uso. Estas práticas melhoram o perfil produtivo dos animais sem a contaminação
residual tóxica.
a) Não há saúde sem bem-estar animal
O bem estar dos animais é fundamental na construção de sistemas ecológicos e sustentáveis de
produção animal e devem seguir alguns princípios básicos, os quais vêm sendo adotados por
organizações e governos9. Estes princípios básicos, para se garantir o bem estar e a saúde dos animais
para fins produtivos, devem estar de acordo com o que tem sido conhecido como “As Cinco
Liberdades”. Ou seja, os animais devem estar:
-
Livres de fome e sede: devem ter acesso a água fresca em qualidade e quantidade, além de uma
dieta diversa que possibilite um alto nível de vigor e saúde;
-
Livres de desconforto: um ambiente apropriado com área de lazer ampla e sombreada
-
Livres de dor, ferimentos e doenças: a prevenção através de práticas de manejo adequadas, e se
necessário algum tipo de tratamento, deve se dar prioridade aos métodos alternativos de
tratamento;
9
Entre documentos e entidades que discorrem sobre esta temática estão: Normas gerais de produção animal orgânica dos organismos
nacionais e transnacionais de certificação de produtos orgânicos, Concil of Europe, European Convention for the Protection of Animals kept for
Farming Purposes, Farm Animal Welfare Concil (Reino Unido) e a NAHWOA- Network for Animal Health and Welfare in Organic Agriculture.
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-
Livres para expressar seu comportamento natural: os animais devem ser criados em espaço aberto,
amplo e com facilidades suficientes para que permita ao animal gozar de seu pleno comportamento
natural de socialização com outros animais da mesma espécie;
-
Livres de medo e estresse: condições e manejo que evitem sofrimentos físicos e mentais;
b) Princípios de saúde animal
Manter a plena saúde dos animais, além de ser fundamental para o bem-estar, é muito
importante por dois fatores:
•
Produtividade
Os animais saudáveis produzem mais leite e com melhor qualidade, gerando a possibilidade de
maior preço no mercado. Alguns laticínios já pagam mais pelo leite com baixa contagem de células
somáticas, isto é, produzidos com mínima contaminação bacteriana.
•
Saúde das pessoas
A garantia de saúde dos animais também beneficia os trabalhadores que convivem diretamente
com eles e os consumidores de produtos de origem animal. No caso da produção leiteira, as principais
zoonoses (doenças transmissíveis entre homens e animais) são a tuberculose e a brucelose. Outras
doenças, como raiva e leptospirose, também devem ser prevenidas. A vacinação, os testes para
verificação de doenças e o manejo adequado, são fatores importantes para garantir a saúde do rebanho
e das pessoas.
Os animais adoecem por diversas causas, que podem ser um ambiente muito contaminado com
falta de higiene, manejo incorreto e alimentação deficiente ou desequilibrada. Quando estes itens se
somam, a chance de ocorrência de doenças é ainda maior. Estas causas devem ser avaliadas e
corrigidas, uma vez que os animais bem nutridos e manejados têm menor probabilidade de adoecer. Os
produtores rurais devem estar sempre atentos ao estado geral dos animais, escore corporal, apetite,
presença de secreções anormais e outros sintomas. Se o animal aparentar apatia ou desânimo, o
problema deve ser procurado e se o produtor não souber tratar, um médico veterinário é importante
para auxiliar na cura da doença.
Para escolher o tratamento para os animais temos que pensar em alguns aspectos:
•
Eficácia e rapidez do tratamento;
•
Custo;
•
Resíduo tóxico no alimento.
Um bom tratamento deve ter baixo custo, ser eficaz e não prejudicar os animais e a qualidade
dos produtos alimentícios com seus resíduos.
De maneira geral, os medicamentos convencionais comprados são caros e deixam resíduos nos
alimentos por vários dias, fazendo-se a necessidade do período de carência, que deve ser
rigorosamente respeitado. Por outro lado, pode ser feito o uso dos medicamentos naturais, sendo que
os mais acessíveis são aqueles feitos de plantas medicinais, chamados de fitoterápicos, e os
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homeopáticos. Os fitoterápicos podem ser produzidos dentro da propriedade desde a matéria-prima até
o produto a ser administrado para o animal, o que o torna barato, além de não causar danos à saúde.
Mas uma vantagem é que muitas vezes os próprios agricultores têm conhecimentos tradicionais para o
preparo e uso dos remédios, o que pode ser chamado de medicina popular.
Administração de soro caseiro para vaca que
não está se alimentando. O soro re-hidrata e
anima animais fracos.
Para fazer este procedimento, colocar a
mangueira pelo lado esquerdo da boca do
animal e empurrar pela garganta até que
chegue ao rúmen. Deve ser verificado se está
no lugar certo procedendo assim: uma pessoa
deve assoprar a ponta da mangueira e outra
deve
escutar
no
vazio
do
animal
(lado
esquerdo) para ver se o ar está entrando
(bolhas). Se tiver certeza que esta correto,
coloque o soro (20 L de água, 200 g. (1%) de
sal e 1Kg (5%) de açúcar para um animal
adulto) com um funil encaixado na mangueira.
Se for para o lugar errado (pulmão) a vaca vai engasgar e o soro não pode ser colocado, com risco de morte. Em caso de
duvida, procure um veterinário antes de fazer o procedimento.
c) Controle alternativo de ecto e endoparasitas
Os parasitas são um grave problema nos rebanhos brasileiros e representam perdas
econômicas. Por isso, oo/as agricultores/as devem tomar medidas para controlar carrapatos, bernes,
vermes e outros. O controle de endo e ectoparasitas é feito com a adoção de várias medidas, pois
nenhuma ação isolada melhora significativamente as infestações por parasitas. As medidas devem ser
baseadas em princípios ecológicos, como a ativação da vida no solo para o controle biológico, a rotação
de pastagens, a fitoterapia e a homeopatia. Quando existe vida no solo, os organismos se interagem,
formam uma cadeia alimentar equilibrada e pode ser que um organismo vivo controle a população de
outro organismo prejudicial aos animais de produção. Como exemplo, temos que as pastagens
diversificadas possuem mais microorganismos e insetos, que atraem pássaros que se alimentam
também dos carrapatos. Como uma forma de “imitar a natureza”, aves domésticas, como as galinhas,
também podem ser introduzidas no sistema para o controle de carrapatos dos animais e das pastagens.
Esta medida tem ótimos resultados em alguns sistemas de produção.
A rotação de pastagens pode ajudar no controle de ectoparasitas presentes no pasto, uma vez
que o ciclo de alguns parasitas pode ser interrompido totalmente quando o gado fica por um período
extenso sem acesso à determinada área (vedação de pasto). Com a rotação de pastagens no PRV isso
ocorre apenas parcialmente, pois os ovos de parasitas e larvas de carrapatos podem durar vários
meses nas fezes. É necessário que haja transferência de animais para pastagens livres, como áreas de
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conservação de pasto, pastejo alternado com outras espécies animais, ou rotação de pastagem
integrada, na qual os bezerros (que são os mais sensíveis) são seguidos por adultos mais resistentes.
Além do manejo de pastagens, o controle de ectoparasitas pode ser feito através de
pulverização dos animais com chás ou tinturas que matam ou repelem carrapatos, bernes, moscas-dochifre etc. O uso de medicamentos homeopáticos também é eficiente neste caso.
As verminoses ou endoparasitas atingem em maior escala os animais jovens, que são mais
sensíveis, principalmente quando introduzidos em pastagens com alta incidência de parasitas. Portanto,
devem ser vermifugados durante seus primeiros 12 meses de vida. Esta vermifugação pode ser
realizada administrando determinadas plantas que combatem a verminose, como as folhas de
bananeiras e eucalipto e o alho, além da homeopatia.
Caso não haja sucesso, uma sugestão de vermífugo é o albendazol, que não causa danos ao
ambiente e deve ser usado conforme recomendação da embalagem. Já a ivermectina, é totalmente
desaconselhada, porque seu resíduo eliminado pelas fezes mata os besouros rola-bosta (Coleoptero
coprofago), que funcionam como controle biológico das larvas de moscas-do-chifre, alimento do
besouro. A ivermectina, quando presente como resíduo no leite, pode afetar a saúde humana de
diversas formas.
Os animais adultos que estão fracos e magros ou vacas após o parto, também são bastante
acometidos pelas verminoses. Chás administrados por via oral para os animais, tanto jovens como
adultos, ajudam a controlar estes parasitas. Existem tratamentos homeopáticos que também podem
controlar os endoparasitas quando o animal não está muito doente.
Apenas a soma de diversas ações diminui a infecção por parasitas. Portanto, os animais e as
pastagens devem ser observados constantemente para que os parasitas sejam controlados através de
várias medidas, antes de haver grandes infestações.
d) Algumas receitas caseiras a partir de plantas medicinais
O uso de plantas na cura das pessoas e animais é praticada há milhares de anos. Porém, como
o uso de remédios comprados vem sendo mais valorizado, várias tradições têm sido perdidas. Hoje em
dia, o uso de produtos naturais está sendo novamente valorizado na busca da sustentabilidade e um
modo de vida saudável.
Assim, na pecuária leiteira ecológica se valoriza o conhecimento dos agricultores e suas
comunidades, nas quais as pessoas, principalmente as mais velhas, ajudam no tratamento dos animais
com produtos naturais e caseiros feitos de plantas.
Todas as pessoas já fizeram ou ouviram falar do uso de plantas medicinais, e os/as
agricultores/as devem ser incentivados a usar plantas que conhecem em seus animais de produção. A
realização de experimentos com chás, pomadas e administração de plantas frescas ou desidratadas
pode tornar a produção do leite mais barata e saudável, além de incrementar a auto-estima das famílais
agricultoras. Deve ser ressaltado que as mulheres têm um importante papel na manutenção do
conhecimento do uso de plantas na cura de doenças. Portanto, as mulheres do meio rural podem
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INSTITUTO GIRAMUNDO MUTUANDO
colaborar de maneira especial no processo de introdução desta medicina popular nos animais, através
da produção, beneficiamento e administração das plantas.
A seguir, algumas dicas para o uso em veterinária:
Controle de vermes
Folhas de bananeira (Musa sp) e de eucalipto (Eucalyptus glóbulos) secas picadas e dadas aos
bezerros por três dias, em três semanas seguidas.
Controle de carrapatos
Faça um chá com as ervas: erva cidreira (Cymbopogon citratus), catinga de mulata (Tanacetum
vulgare) e fumo (Nicotina tabacum) e pulverize sobre os animais com carrapato*.
Outra opção é o uso da grimpa de pinheiro. Adicione 1 kg de grimpa em 20 litros de água, deixe 5
dias de molho e pulverize os animais.
Também pode ser usada para berne, deixando descansar 3 dias**.
O Nim é uma arvore indiana que há muitos anos é usada para controle de parasitas em animais e
plantas. Com suas folhas e sementes, pode-se preparar receitas para controlar carrapatos.
Para cada litro de água devem ser usados 30 gramas de sementes ou 40 gramas de folhas. Em
cada litro desta mistura coloque 10 ml de água e deixe descansar por 12 horas. Dê banho nos
animais infestados com cerca de 4 litros do preparado.
O nim nunca deve ser dado para as vacas comerem, pois causa defeito no feto!
Controle de vermes e resistência imune
O alho (Alium sativum) é ótimo para deixar o animal mais resistente a doenças. Pode ser dado
moído ou amassado no sal, principalmente para bezerros, na proporção de 2%.
Diarréia
Ofereça ao animal adulto uma mistura de 150g de folhas de pitangueira (Eugenia uniflora L.), 150g
de folhas de goiabeira (Psidium guajava), 300g de diferentes hortelãs (Mentha piperita L. e outras).
As folhas devem ser moídas junto a 20 Kg de milho ou outra fonte de alimento palatável e deve ser
oferecida uma pequena porção (cerca de 200g) aos animais, duas vezes ao dia, durante 3 dias.
Para os bezerros deve ser oferecida metade da quantidade e o hortelã também pode ser oferecido
em forma de “chá”, juntamente com o leite para os terneiros**.
Rachadura de teto
Aplique pomada milagrosa no teto limpo após a ordenha e no final da tarde, até curar*.
Mastite e feridas no úbere e teto
Pode ser preparada uma pomada de tansagem (Plantago major L)., com 50gr de banha, 25gr de
folhas da erva, 10gr de cera de abelha. Fritar bem as folhas na banha, depois acrescentar a cera.
Deixar desmanchar, coar e guardar. Se possível, acrescentar 10 ml de tintura de tansagem.
Também podem ser acrescentadas folhas de confrei (Symphytunn officinale L), e erva-de-bicho
(Poyigonum hidropiper Michaux), 8gr de cada planta. Passar no teto com mastite ou como
cicatrizante e anti-séptico nos ferimentos**.
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Cicatrizantes
Para feridas superficiais e cura do umbigo prepare uma pomada misturando os seguintes
ingredientes:
-Óleo de copaíba – 400 ml
-Óxido de Zinco – 1Kg
-Óleo de citronela – 50ml
Aplique até a cicatrização.
Para feridas profundas use chá fervido de casca de barbatimão (Stiphnodendron
barbatimam) ou bata a casca no liquidificador com água e aplique na ferida até cicatrizar.
Origem das receitas
*Coletivo de Mulheres do Assentamento Rural Pirituba II – Itapeva
**Produtores Rurais de São João da Urtiga - RS
Existe também uma empresa que fabrica produtos fitoterápicos veterinários, chamada Fitovet. Os
comercializados são:
Fitofix® para cicatrização de ferimentos; Fitocalmyn® calmante; Fitoenterin® para regulação
entestinal; Fitometrin® para endometrites e pós-parto; Traumagel® para traumas e dores musculares;
Repellvet® repelente; Fitocasco® gel protetor do casco; Dermeplus® para micoses de pele e outros.
O site da empresa é www.fitovet.com e o telefone é 0800 5106896.
e) A homeopatia
Esta forma de medicina alternativa surgiu na Europa e hoje é aceita e utilizada no mundo todo. Ela é
baseada no princípio de que um determinado produto, como uma planta ou um inseto, depois de diluído
e dinamizado, tem o poder de curar o mau que causaria antes deste processo. Isto é chamado de
“semelhante cura semelhante”. Portanto, um carrapato pode ser usado para produzir um medicamento
que controla a infestação de carrapatos, ou uma planta que causa diarréia pode ser usada para um
medicamento que cura a diarréia.
Acredita-se que isto ocorre porque os medicamentos homeopáticos são capazes de equilibrar o
organismo e o rebanho, isto é, não agem na doença e sim no corpo do animal. Esta ação no organismo
inclui também a parte emocional e por isso é conhecido que os medicamentos não agem da mesma
forma para todas as pessoas ou animais. Apesar deste fato, pode-se usar o mesmo medicamento para
animais que estão em condições parecidas, como é o caso de um rebanho.
Para entender melhor como age e é feito o medicamento, segue o significado de algumas
palavras na homeopatia:
Diluição: Uma gota do medicamento é diluída em 100 partes de água destilada ou mineral fervida
Sucussão: agitação do frasco de medicamento, batendo o fundo do frasco contra a palma da mão,
no mesmo ritmo, por 100 vezes.
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Nosódio: medicamento que é feito do que causa a doença, como carrapatos. Pode ser feito em
diversas potências e até pelo próprio agricultor.
Potência: é medida em CH e determinada pela quantidade de vezes que o medicamento é diluído e
sucussionado, sendo que quanto mais diluído, maior a potência.
Os produtos homeopáticos são feitos a partir da diluição e sucussão das tinturas. Podem ser
encontrados na forma líquida ou sólida no açúcar e farinha ou ainda misturados em sal mineral para
dar aos animais.
Alguns produtos homeopáticos para animais são:
•
Nosódio para carrapatos, bernes e mosca do chifre
•
Nosódio para vermes
•
Arnica montana CH 6 para machucado e retenção de placenta
•
Thuia CH 6 para mal de vacina e verrugas
•
Natrum muriaticum CH 30 para vacas sentidas da separação com o bezerro
Os medicamentos a serem dados a todos os animais devem ser misturados no açúcar ou farinha
e colocados na ração ou no sal. Já aqueles que serão dados a um animal, podem ser dados na boca ou
aplicados na vulva uma ou duas vezes ao dia.
Para preparar o produto homeopático é necessário primeiramente ter a tintura da planta ou do
animal (como carrapato) com que se vai preparar o medicamento. O produto deve ser macerado e ficar
de molho álcool de cereais na proporção de 40% de planta ou animal para 60% de álcool de cereais,
por 2 semanas. Depois deve ser colocado 20 ml de álcool 70% (3 partes de água pura em 7 partes de
álcool de cereais) e 5 gotas da tintura (diluição). Logo em seguida, fazer a sucussão (ver acima). Assim
está feita a homeopatia CH1. Para fazer a CH2 deve-se pegar um novo vidro, colocar álcool 70% (20
ml) e 5 gotas de CH1 e fazer a sucussão. Do CH2 faz-se o CH3, do CH3 o CH4 e assim em diante.
Conheça alguns produtos homeopáticos para bovinos encontrados no mercado:
Tratamento
Diarréia / Infecções
Marcas
Sigo®
Arenales®
_
BO2 Fator Infecções
Real H®
Núcleo Entérico
Pasta Entérica
Vermes
EndectoSigo
Mastite
MastiSigo
BO8 Fator M&P
Núcleo Mastite
EndectoSigo
BO6 Fator C&MC
_
Verrugas
VerruSigo
BO9 Fator Figueira
_
Fertilidade / Parto
Fertilidade
Produção de leite
_
Ectoparasitas
Núcleo Parasitário
BO5 Fator Cria
BO7 Fator Parto
BO4 Fator Pró
_
Convert H Leite
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Estes medicamentos homeopáticos são indicados pelos fabricantes para prevenir e tratar as
doenças. Estes e outros produtos podem ser conhecidos e adquiridos nas empresas:
Real H® - Telefone: (67) 3028-9000, site: www.realh.com.br
Arenales® - Telefone: (18) 3909-9090, site: www.arenales.com.br
Sigo® - Telefone: (67) 387- 6350, site: www.sigohomeopatia.com.br
Lembramos que nem sempre o uso do produto homeopático dispensa o tratamento convencional
(produtos da indústria farmacêutica), principalmente se o animal está muito doente.
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O/a técnico/a que orienta os/as agricultores/as na transição agroecológica, participa de um
importante momento da agricultura e pecuária mundiais, no somos todos convidados a rever a nossa
formação profissional em Ciências Agrárias. Neste processo é inevitável que encontremos dificuldades
em se contrapor ao modelo convencional imposto pelo mercado. Com as tecnologias descritas nesta
apostila, esperamos contribuir para a evolução do conhecimento agroecológico em permanente diálogo
com as famílias do campo, para que, assim, sejam produzidos alimentos saudáveis para todas as
pessoas e que a renda seja garantida ao meio rural.
Apesar das técnicas aqui descritas e simplificadas nas Fichas Técnicas voltadas ao diálogo com
os/as agricultores/as, estamos conscientes de que é preciso ter bastante criatividade para encontrar
soluções verdadeiramente sustentáveis para os problemas práticos que certamente surgem na
produção, como em todo sistema agropecuário. E muitas vezes a solução está em seguir a natureza,
que é parte do sistema ecológico de produção leiteira. Ou ainda, está justamente na sabedoria popular,
com receitas caseiras de remédios e nas observações atentas do desenvolvimento das plantas e do
comportamento dos animais.
É importante ressaltar que este material está em permanente construção, para a qual será
fundamental a contribuição de todos que acumularam experiências de referência nas questões
trabalhadas aqui. Estamos, portanto, a disposição para trocar estas experiências.
Boas aplicações práticas de seus novos conhecimentos!
Saudações Agroecológicas,
INSTITUTO GIRAMUNDO MUTUANDO
(14) 3814-6878 – www.mutuando.org.br
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PROGRAMA DE EXTENSÃO RURAL AGROECOLÓGICA
DE BOTUCATU E REGIÃO
INSTITUTO GIRAMUNDO MUTUANDO
R. José Barbosa de Barros, 2000 - 18610-307
BOTUCATU – SP – BRASIL
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