ISSN 1982-3088
Revista
Pensamento Plural
Revista Científica do
Volume 1 Nº1 2007
Artigo
Análise por Bioimpedância da Composição Corporal de Indivíduos
antes e Imediatamente após a Prática de Exercício Físico - Hugo
Evangelista Brandino e Leonardo Duarte Picchi, 05
Cibercultura: Comunicação On-Line nas Cidades -
Carolina Dotta
Milan e Francisco de Assis Carvalho Arten, 11
Abuso Sexual de Mulheres: Um Estudo da Percepção na
Avaliação de Risco e nas Ações de Prevenção - Luciene Cazaroto
e
Carmen Beatriz Fabriani, 14
Encontro de Gerações - Diversidade de Olhares
- Erica Passos
Baciuk, Maria Helena Cirne de Toledo, Sérgio Eduardo Nassar, Elizabeth Regina
Jesumary Gonçalves e Vagner Luiz da Silva, 20
UNIFAE - Documento
Efeitos da Utilização do Cavalo como Recurso Terapêutico na
Motricidade de Crianças Portadoras de Mielomeningocele - Mônica
Cristina P. Andrade e Valéria Augusto, 28
Avaliação da Amplitude de Movimento dos Ombros em Mulheres
Operadas por Câncer de Mama - Maria Catarina Valério Riograndense da
Silva e Laura Ferreira Rezende, 41
Avaliação Funcional de Cardiopatas após Fisioterapia
Cardiovascular Fase III - Tatiana Lucio de Souza e Daniele Albano
Pinheiro,
40
Efeitos do Tratamento Metformina Associada ao Exercício Físico
Anaeróbio sobre as Funções Cardíacas de Ratos Diabéticos por
Aloxana - Carlos Fabrício de Moraes e Eunice Cristina da Silva Costa, 49
Implantação de uma Cultura de Segurança: Estudo sobre a
Avaliação e Prevenção do Risco - Luciene Cazaroto, Elisângela de Souza,
Eda Terezinha Tassara e Carmen Beatriz Fabriani, 59
Perfil
Kamal Abdel Radi Ismail -
Camilo Antônio de Assis Barbosa, 66
Resenha
Resenha, 68
Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino - FAE
CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS
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ISSN 1982-3088
Carta aos leitores
É com grande satisfação que trazemos à comunidade mais uma produção do UNIFAE. Em continuidade ao apoio
que o Centro Universitário tem dado ao ensino, à pesquisa e à extensão, nasce a revista Pensamento Plural – Revista
Científica do UNIFAE, com circulação semestral.
A revista Pensamento Plural - Revista Científica do UNIFAE visa “promover a divulgação de conhecimentos
culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicações ou de outras formas de comunicação” (PDI/UNIFAE 2005).
Trata-se, portanto, de uma revista que pretende contribuir para a difusão do conhecimento científico, com uma
linha editorial que abre também espaço para a produção da graduação, da pós-graduação e da pesquisa dentro de
uma dimensão multidisciplinar. Esperamos que a pluralidade seja uma constante neste periódico, no tratamento de
temas a partir dos três núcleos de pesquisa do UNIFAE: Gestão de Negócios, Desenvolvimento Sustentável e Qualidade
de Vida e Inclusão Social.
Por fim, aproveito para agradecer àqueles que direta e indiretamente contribuíram para mais essa conquista, que
não é só nossa, mas de todos que podem usufruir e participar da construção de uma sociedade melhor e mais justa
através do ensino.
Valdemir Samonetto
Reitor do Unifae
Editorial
Prezado leitor,
A revista Pensamento Plural inicia sua trajetória com quatro artigos, cinco textos Unifae-Documento, um perfil
e uma resenha, voltados aos mais diversos interesses científicos. Todos foram produzidos dentro dos três núcleos de
pesquisa do UNIFAE: Qualidade de Vida e Desenvolvimento Sustentável, Gestão de Negócios e Inclusão Social. O
objetivo é agregar idéias e pesquisas em torno de temas que possam contribuir para a troca de conhecimento e
experiências em variadas áreas do saber. Nesse primeiro número foram priorizados os artigos publicados com o
apoio do PAIC (Programa de Apoio à Iniciação Científica) e PAPEC (Programa de Apoio à Pesquisa Científica).
Nos artigos, os temas partem de uma pesquisa comparativa da composição corporal, através do uso da
bioimpedância elétrica; na seqüência, Cibercultura, sobre como o poder público, no âmbito dos municípios, trata a
democratização e participação popular na comunicação on-line; seguido do estudo sobre abuso sexual com mulheres,
a avaliação de risco e as formas de prevenção e, por fim, um estudo das condições de exclusão social de um grupo de
idosos em São João da Boa Vista/SP, antes e depois do convívio com universitários.
O UNIFAE-Documento traz o uso da fisioterapia como reabilitador, num estudo dos efeitos da equoterapia na
melhora dos movimentos de crianças portadoras de mielomeningocele; acompanhado de um estudo sobre o movimento
dos ombros em mulheres pós operadas de câncer de mama; um levantamento sobre a performance de pacientes que
têm problemas de coração e os efeitos da metformina associada ao exercício físico anaeróbio. Finalizando, um
trabalho sobre a implantação de uma cultura de segurança: estudo sobre a avaliação e prevenção do risco.
No perfil, Pensamento Plural apresenta uma entrevista com o professor Kamal Abdel Radi Ismail, sobre a relevância
científica e o exemplo de um percurso dedicado à produção e a divulgação do conhecimento e a formação de novos
pesquisadores. E, fechando, uma resenha sobre a obra Agenda: o que as empresas devem fazer para dominar esta
década, de Michael Hammer.
Esperamos que com este trabalho o Pensamento seja realmente Plural
Plural, ampliando os horizontes e contribuindo
para o desenvolvimento da pesquisa universitária e de ações que viabilizem a melhoria da sociedade em seus mais
variados campos.
Análise por bioimpedância da composição corporal de
indivíduos antes e imediatamente após a prática de exercício físico
Resumo
Hugo Evangelista Brandino, Leonardo Duarte Picchi
A Bioimpedância ou Impedância Bioelétrica (BIA) é um método de
análise da Composição Corporal (CC). É utilizada para realizar a
avaliação da CC, de modo a mensurar a quantidade de Massa
Magra (MM), Massa Gorda (MG) e o Índice de Massa Corpórea
(IMC). Estudou-se os efeitos que o exercício físico prévio pode
ocasionar na avaliação da CC, conforme discutido por Emed
(2006). Foram utilizados 30 voluntários, homens, com idade entre 18 e 25 anos, clinicamente saudáveis, submetidos à realização
do exame seguindo um protocolo usual, onde permaneceram 30
minutos em repouso (Medida Inicial - MI), depois foram submetidos ao Teste de Cicloergômetro de Balke (caracterizou a prática
de exercício físico) e assim submetidos ao exame de BIA (Medida
Pós-Teste – MPT), por fim mais 30 minutos de repouso e finalmente realizaram a última aferição da CC por BIA (Medida Pós-Repouso – MPR). Os resultados mostraram que não houve mudanças nos valores da CC. Pode-se afirmar estatisticamente com um
p=0,05 que as variáveis IMC da MPT comparada com a MI e as
variáveis MG, MM e IMC da MPR comparada com a MPT, assim
como podemos afirmar com um p=0,1 que as variáveis MG, MM
da MPT comparadas com a MI; MG, MM e IMC da MPR comparadas com a MI, que a amostra populacional utilizada transfere os
valores obtidos para uma população infinita. Pode-se concluir nesse
estudo, que a prática de exercícios físicos não influencia significativamente nos resultados dos exames de avaliação da composição corporal obtido por meio da BIA.
Autores
Leonardo Duarte Picchi, professor do Centro Universitário das Faculdades Associadas
de Ensino - FAE; Fisioterapeuta com
Mestrado em fisioterapia pela Universidade
Metodista de Piracicaba – UNIMEP.
E-mail:
[email protected]
Palavras-chave
Bioimpedância Elétrica, Composição Corporal, Exercícios Físicos.
Hugo Evangelista Brandino, aluno do 5o semestre do curso de Fisioterapia do Centro
Universitário das Faculdades Associadas de
Ensino - FAE.
E-mail:
[email protected]
Recebido em 18/março/2007
Aprovado em 04/setembro/2007
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
5
BRANDINO, H. E. e PICCHI, L. D.
1. Introdução
A Bioimpedância Elétrica (BIA) vem sendo aplicada desde
1940, quando foi relatado o uso da impedância elétrica no
estudo da relação do eletrocardiograma e dos sons cardíacos. A utilização mais conhecida deste tipo de tecnologia
está na avaliação do volume sistólico, débito cardíaco e estudo do ciclo cardíaco pela bioimpedância torácica. Mas foi
somente na década de 80 que o uso da BIA para a avaliação
da Composição Corporal (CC) foi corroborado pela comparação da técnica com métodos tradicionalmente utilizados
para este fim. Desde então, novos rumos se deram ao aproveitamento dos equipamentos e dados fornecidos pela análise da BIA (RICIERI, 2003).
Pode parecer que a preocupação com a CC é primeiramente reservada a atletas, pois a performance atlética é parcialmente influenciada pela proporção entre Massa Gorda
(MG) e Massa Magra (MM). Porém, a CC é um importante
aspecto na saúde dos indivíduos, independente da idade,
sexo e origem. De acordo com o Colégio Americano de
Medicina do Exercício (ACSM’s), a obesidade está associada
ao aumento no risco de desenvolver doenças
cardiovasculares, hipertensão, diabetes, certos tipos de câncer e outras doenças crônicas.
Tradicionalmente, o modelo clássico de dois componentes (BROZEK, 1963) que separa a Massa Corporal Total
(MCT) em MM e MG, vem sendo usado na obtenção de
medidas de referência de CC e baseai-se nas seguintes suposições: a) a densidade de gordura é de 0,901 g/cc; b) a
densidade de MM é de 1,100 g/cc; c) a MM contém 73,8%
de água, 19,4% de proteína e 6,8% de mineral.
Sabe-se que as proporções de água, proteína e mineral
na MM variam de acordo com a idade, sexo, etnia, níveis de
gordura corporal e, conseqüentemente, modificam a densidade de MM (dMM) (BAUMGARTNER, 1991; WANG, 1989;
WILLIANS, 1993). Qualquer variação do valor assumido pela
dMM pode resultar em erro sistemático na estimativa da gordura corporal relativa. Portanto, enquanto o modelo de dois
componentes fornece uma estimativa precisa da gordura relativa, em homens brancos, esse modelo pode não ser ideal
pra subgrupos populacionais, nos quais a dMM é diferente
do valor assumido.
Do mesmo modo, a CC pode variar de acordo com os
níveis de atividade física, visto que não se possui na literatura
especializada um consenso se existem diferenças nos resultados obtidos por meio da BIA frente à prática ou não de
atividade física antes da realização do exame.
O objetivo desse estudo foi verificar se a prática de exercícios físicos ocasiona mudanças na CC do indivíduo, utilizando para isso o método de análise quantitativa da CC
conhecido como Bioimpedância.
2. Composição Corporal (CC)
Composição Corporal é a proporção entre os diferentes
componentes corporais e a massa corporal total, sendo resumidamente expressa pelas porcentagens de gordura e de massa
magra, porém as quantidades de água, estimativa do
metabolismo basal, etc também podem ser observadas. Os
valores de tais componentes são de grande importância para
os profissionais da saúde, visto que as quantidades dos diferentes componentes corporais, principalmente gordura e massa
muscular, apresentam estreita relação com a aptidão física,
relacionada tanto à saúde como ao desempenho esportivo.
Composição Corporal é considerada um componente
da aptidão física relacionada à saúde, em razão das relações
6
existentes entre a quantidade e a distribuição da gordura
corporal com alterações no nível de aptidão física e no estado de saúde das pessoas.
O treinamento da aptidão física pela prática de atividades
físicas promove muitos benefícios para a saúde; entre eles,
com relação à CC, o aumento da massa corporal livre de
gordura e a diminuição da porcentagem de gordura corporal, o aumento da eficiência de trabalho, uma menor susceptibilidade para doenças, além da melhora da aparência física
e menor incidência de problemas de autoconceitos relacionados à obesidade.
Reduzir a quantidade de gordura e/ou aumentar a quantidade de massa muscular estão entre aos anseios de grande
parte dos praticantes de exercícios físicos. Esta preocupação
pode ser notada não somente do ponto de vista estético, mas
também do ponto de vista de qualidade de vida dos indivíduos, já que a obesidade está associada a um grande número
de doenças crônico-degenerativas.
Observando essa relação entre quantidade de gordura
corporal e estado de saúde, verifica-se a necessidade da
utilização de métodos capazes de avaliar, de forma válida, a
quantidade de gordura corporal em relação à massa corporal total. Nesse sentido, a importância da avaliação da composição corporal deve-se ao fato de a massa corporal isoladamente não ser considerada um bom parâmetro para a identificação do excesso ou da carência dos diferentes componentes corporais (massa gorda, massa muscular, massa óssea e massa residual) ou ainda para a avaliação das alterações nas quantidades proporcionais destes componentes,
em decorrência de um programa de exercícios físicos e/ou
dietas alimentares (COSTA, 2001).
A elevada porcentagem de gordura é um grave problema
de saúde que reduz a expectativa de vida, pois aumenta o
risco individual de desenvolver doenças crônicodegenerativas. O aumento dos riscos de saúde associados à
obesidade é relacionado não apenas com a quantidade total
de gordura corporal, mas também com a maneira pela qual a
gordura está distribuída, especialmente na região abdominal
(gordura intra-abdominal ou visceral). A gordura visceral é
preditor de doença cardiovascular e outras desordens metabólicas – como diabetes tipo II – mais forte do que a quantidade total de gordura corporal.
Pouca gordura corporal, por outro lado, também representa risco à saúde, porque o corpo necessita de certa quantidade de gordura para a manutenção das funções fisiológicas normais. Os lipídios essenciais – como fosfolipídios –
são necessários para a formação da membrana celular, enquanto os lipídios não-essenciais – como os triglicérides,
encontrados no tecido adiposo – fornecem isolamento térmico e armazenam energia metabólica (ácidos graxos livres).
Em adição a isso, os lipídios estão envolvidos no transporte
e armazenamento de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K), no
funcionamento do sistema nervoso, no ciclo menstrual e no
sistema reprodutor, bem como no crescimento e maturação
durante a puberdade. Assim, a carência de gordura corporal
como a encontrada em indivíduos com desordens alimentares (anorexia nervosa), viciados em exercícios e certas doenças como fibrose cística, pode levar a sérias disfunções fisiológicas. Devido aos riscos de saúde associados a quantidades anormais de gordura corporal em ambos os extremos
dessa escala, profissionais de saúde devem entender os princípios que regem a avaliação da composição corporal total e
a distribuição regional de gordura.
A quantidade de gordura corporal é determinada avaliando-se a massa magra (MM) e a massa gorda (MG) do indivíduo. A MG inclui todos os lipídios que podem ser extraídos
do tecido adiposo e outros tecidos. A Massa Livre de Gordu-
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Análise por bioimpedância da composição corporal de indivíduos antes e imediatamente após a prática de exercício físico
ra (MLG) consiste em todos os tecidos e substâncias residu
ais, incluindo água, músculos, ossos, tecidos conjuntivos e
órgãos internos. A Massa Magra (MM) consiste em massa
livre de gordura mais uma pequena quantidade de lipídios
essenciais (2-3% em homens e 5-8% em mulheres). Apesar
de os termos MLG e MM serem às vezes usados indistintamente, existe essa pequena diferença na presença de lipídios
essenciais na MM. (PATE, 1988)
2.1 Discriminação da Composição Corporal
Dentre as variáveis que são avaliadas para obtenção dos
valores da CC, utilizou-se nesse estudo as seguintes variáveis com suas respectivas definições:
– Índice de Massa Corpórea (IMC): define-se por razão do
peso corporal pela altura elevada ao quadrado. Na prática
clínica o cálculo de índice de massa corpórea (IMC ou
BMI, de Body Mass Index), também conhecido como Ìndice
de Quetelet, é o mais utilizado. O IMC tem cálculo simples e rápido, apresentando boa correlação com a
adiposidade corporal.
– Massa Gorda (MG): todos os lipídios que se podem extrair
do tecido adiposo e de outros tecidos do corpo;
– Massa Magra (MM): massa livre de gordura mais lipídios
essenciais;
3. Exercícios Físicos x Atividade Física x
Aptidão Física
De acordo com BÖHME (1993) a atividade física é considerada o processo do qual resultará o estado de aptidão
física do individuo. Os benefícios para a saúde estão associados a ambos: a atividade física (como processo) e a aptidão física (como produto). Assim sendo, quanto mais
atividade física for praticada, melhor aptidão física será desenvolvida e um melhor estado de saúde resultará para o
indivíduo.
Por definição, exercício físico é toda atividade física
planejada, estruturada e repetitiva que tem por objetivo a
melhoria e a manutenção de um ou mais componentes da
aptidão física.
A atividade física é definida como qualquer movimento
corporal, produzido pelos músculos esqueléticos, que resulta num gasto energético maior do que os níveis de repouso.
Assim, a quantidade de energia necessária à realização
de determinado movimento corporal deverá traduzir o nível
de prática da atividade física exigido por esse mesmo movimento (GUEDES, 1995).
PATE (1998) definiu aptidão física relacionada à saúde
como “a capacidade de realizar as atividades do cotidiano
com vigor e energia e demonstrar traços e capacidades
associados a um baixo risco de desenvolvimento prematuro de distúrbios orgânicos provocados pela falta de atividade
física”.
Ainda neste contexto, GUEDES (1995) afirmou que a
“aptidão física relacionada à saúde abriga aqueles atributos biológicos que oferecem alguma proteção ao aparecimento de distúrbios orgânicos provocados pelo estilo de
vida sedentário que se torna, portanto, extremamente sensível ao nível de pratica de atividade física”.
Como componentes da aptidão física relacionada à saúde, consideram-se aqueles voltados às dimensões
morfológicas, funcional-motora, fisiológica e
comportamental; sendo que, segundo estes autores, a dimensão morfológica reúne aqueles componentes que apresentam alguma relação com o melhor estado de saúde, ou
seja, que se identificam com a CC e com a distribuição de
gordura corporal.
Pensamento Plural: Revista Científica do
4. Bioimpedância Elétrica
A bioimpedância elétrica é um método rápido, nãoinvasivo e relativamente barato para estimar a composição
corporal, inclusive a distribuição dos fluidos corporais nos
espaços intra e extracelulares. A bioimpedância elétrica baseia-se no princípio de que os componentes corporais oferecem uma resistência diferenciada à passagem da corrente
elétrica. Os tecidos magros são altamente condutores de
corrente elétrica devido a grande quantidade de água e
eletrólitos, ou seja, apresentam baixa resistência à passagem da corrente elétrica. Por outro lado, a gordura, os ossos
e a pele constituem um meio de baixa condutividade apresentando, portanto, elevada resistência.
Uma corrente elétrica imperceptível de 500 a 800mA e
50 kHz é introduzida pelos eletrodos distais e captada pelos
eletrodos proximais, gerando vetores de resistência (medida
de oposição pura ao fluxo de corrente elétrica através do
corpo) e reactância (oposição ao fluxo de corrente causada
pela capacitância produzida pela membrana celular). Assim,
após identificar os níveis de resistência e reactância do organismo à corrente elétrica, o analisador avalia a água corporal total e, assumindo uma hidratação constante, prediz a
quantidade de massa magra. Porém, se o indivíduo apresentar hiperhidratação o valor da massa magra fica superestimado. Portanto, a alteração no estado de hidratação é a principal limitação deste método.
O trabalho pioneiro de Thomasett (1962) estabeleceu os
princípios básicos da BIA. Com esse método, uma corrente
elétrica de baixo nível é passada através do corpo do paciente e
a impedância (z), ou oposição ao fluxo da corrente, é medida
com um analisador de BIA. A água corporal total do indivíduo
(ACT) pode ser estimada pela medida de impedância, porque os
eletrólitos na água corporal são excelentes condutores de corrente elétrica. Quando o volume de ACT é grande, a corrente
flui mais facilmente através do corpo com menor resistência (R).
A resistência ao fluxo da corrente será maior em indivíduos com
grande quantidade de gordura corporal, dado que o tecido
adiposo é mau condutor de corrente elétrica pela sua relativa
baixa quantidade de água. Devido ao fato de o conteúdo de água
da massa livre de gordura (MLG) ser relativamente grande (73%
de água), esta pode ser predita por meio das estimativas de ACT.
Indivíduos com grande MLG e ACT têm menos resistência ao
fluxo de corrente elétrica através do seu corpo, em comparação
aos que têm menos massa livre de gordura.
Hoffer, Meador e Simpson (1969) descobriram uma forte
relação entre as medidas de impedância total do corpo e ACT,
sugerindo que o método de BIA pode ser uma ferramenta valiosa para analisar a CC e avaliar a ACT no ambiente clínico. Além
da pesquisa que reforça que a ACT pode ser estimada pela
medida de impedância com um grau moderado de exatidão,
outro pesquisador demonstrou que a MLG e a gordura corporal
relativa (%G) também poderiam ser estimadas com exatidão
utilizando o método da BIA.
Vários autores referem que o avaliado tem participação decisiva no exame, pois apesar da relativa facilidade e rapidez da
medida, a utilização da técnica de bioimpedância requer um
conjunto de procedimentos prévios por parte do avaliado, sem
os quais poderá ocorrer prejuízo na qualidade das informações.
O conjunto de procedimentos necessários depende do
autor considerado por não haver um consenso na literatura
especializada. Os itens de mais apontados são: suspender
o uso de medicamentos diuréticos de 24 horas a 7 dias
antes do teste; estar em jejum de pelo menos 4 horas; estar
em abstinência alcoólica por 24 a 48 horas; evitar o consumo de cafeína 24 horas antes do teste; estar fora do perío-
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
7
7
BRANDINO, H. E. e PICCHI, L. D.
do pré-menstrual; não ter praticado atividade física intensa
nas últimas 24 horas; urinar pelo menos 30 minutos antes
da medida; permanecer pelo menos 5 -10 minutos de repouso absoluto em posição de decúbito dorsal antes de
efetuar a medida; Contra-Indicação absoluta para a realização do teste: portadores de marcapasso e gestantes.
O nível de desidratação e a temperatura ambiente também podem apresentar alguma influência na qualidade das
informações (EMED, 2006).
5. Sujeitos e Métodos
No estudo foram utilizados 30 indivíduos de 18 a 25
anos, do sexo masculino, clinicamente saudáveis, que se
dispunham a seguir as recomendações dadas a cada.
Não houve nenhum indivíduo excluído por ingerir diuréticos
regularmente ou por apresentar lesão músculo-esquelética que
impossibilitasse a realização do exercício físico, assim como
não houve descontinuidade por falta de comparecimento dos
indivíduos nos dias de realização do estudo.
Os sujeitos foram divididos em 3 grupos:
- Grupo 1: A Composição Corporal foi obtida por
bioimpedância seguindo a recomendação de 30min de
repouso (n=30).
- Grupo 2: A Composição Corporal foi o obtida por
bioimpedância imediatamente após a execução de exercícios físicos, tendo o indivíduo ficado por 30 minutos de
repouso antes da execução do exercício físico (n=30).
- Grupo 3: A Composição Corporal foi obtida por
bioimpedância seguindo a recomendação de 30 minutos
de repouso após execução de exercício físico (n=30).
Foi utilizado um único grupo de 30 indivíduos (n=30),
onde os mesmos realizaram o protocolo convencional - 1ª
aferição da Composição Corporal - sendo em seguida submetidos à execução de exercícios físicos - 2ª aferição da Composição Corporal - e novamente submetidos à 30 minutos de
repouso antes da 3ª aferição da Composição Corporal.
5.1
Procedimento
para
Avaliação
por
Bioimpedância
As aferições foram executadas do lado direito do corpo,
com o indivíduo deitado em decúbito dorsal em uma superfície não-condutora, em uma sala com temperatura
ambiente normal.
Os eletrodos-sensores foram colocados na superfície
dorsal da articulação do punho de modo que a borda superior do eletrodo se alinhe à cabeça da ulna, e a superfície
dorsal do tornozelo, de modo que a borda superior do
eletrodo se alinhe aos maléolos medial e lateral.
Os eletrodos-fontes (distais) foram posicionados na base
da segunda ou terceira articulação metacarpo-falangeana
da mão e metatarso-falangeana do pé. Foi assegurado de
que havia pelo menos cinco centímetros entre os eletrodos
proximal e distal.
Não houve contato entre as coxas e entre os braços e o
tronco, conforme Stolarcztk (2000).
5.2 Procedimento para a Realização do
Exercício Físico
Os sujeitos foram submetidos ao protocolo de
Cicloergômetro de Balke, seguindo todas as recomendações pertinentes ao mesmo.
O Teste de Cicloergômetro de Balke consiste no
monitoramento dos indivíduos por freqüencímetro cardíaco, que foi colocado no indivíduo momento antes de se
8
iniciar o teste, onde o eletrodo foi umidificado a fim de
otimizar seu funcionamento, e o relógio que demonstra a
freqüência cardíaca foi colocado no punho esquerdo do
indivíduo. Utilizou-se também um esfigmomanômetro para
verificação da pressão arterial (PA) que foi feita sempre nos
45 segundos finais de cada carga. Foi dada a orientação de
manter velocidade constante de 50 rotações por minuto
(rpm) com carga inicial de 25 Watts (W). Houve um incremento de 25W de carga a cada 2 minutos. O teste cessou
quando o indivíduo apresentou estabilização ou variação
acima de 20mmHg de uma carga para outra na PA sistólica;
variação acima ou abaixo de 10mmHg de uma carga para
outra na PA diastólica; alcançou sua freqüência cardíaca
máxima (FCmáx); relatou fadiga muscular ou quando finalizou todas as cargas do teste.
5.3 Materiais Utilizados
Balança elétrica para aferição do peso; Estetoscópio;
Aparelho de Bioimpedância (Maltron body fat analiser II);
Eletrodos auto-adesivos; Freqüencímetro cardíaco;
Esfigmomanômetro; Bicicleta Ergométrica; Protocolo de
Balke para BE; Ficha de Avaliação: para registro das variáveis do teste.
6. Estatística
Para cada variável de cada teste foram calculados a mé2), para verifidia (X), o desvio padrão (SD) e a Variância (S2
car diferenças significativas entre as variáveis obtidas em
cada grupo. O teste estatístico t de Student foi utilizado,
considerando o nível de significância de 95% (p<0,05),
compatível com a área da saúde.
7. Resultados
7.1 Massa Gorda e Massa Magra
Não foram observadas diferenças estatísticas
significantes quando comparadas as variáveis MG e MM da
MPR (17,09 ± 6,31% e 82,89 ± 6,25Kg., respectivamente; p=0,05) com as da MPT (17,46 ± 6,34% e 82,54 ±
6,27Kg., respectivamente; p=0,05).
Assim como as variáveis MG e MM da MPT (17,46 ±
6,34% e 82,54 ± 6,27Kg., respectivamente, p=0,1) não
mostraram diferenças significantes quando comparadas a
MI (17,22 ± 6,65% e 82,76 ± 6,58Kg, respectivamente;
p=0,1) nem as MG e MM da MPR (17,09 ± 6,31% e 82,89
± 6,25Kg., respectivamente; p=0,1) quando comparadas a
MI (17,22 ± 6,65% e 82,76 ± 6,58Kg., respectivamente;
p=0,1).
7.2 IMC ou BMI
Os valores do IMC apresentaram uma diferença estatisticamente significante quando comparados os resultados
do grupo 1 (protocolo convencional) com o grupo 2 (pós
exercício físico); e do grupo 3 (pós 30 minutos de repouso
após exercícios físicos) com o grupo 2 (pós exercício físico)
como assim representados nos gráficos 1,2 e 3.
8. Discussão
Não foram encontrados na literatura relatos de estudos
semelhantes ao realizado. Fez-se desse assim, um estudo
pioneiro da Avaliação da Composição Corporal e suas respostas frente à prática de exercícios físicos.
Os resultados obtidos nas variáveis: Massa Magra e
Massa Gorda não apresentaram significância estatística perante a aplicação do teste t de Student.
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Análise por bioimpedância da composição corporal de indivíduos antes e imediatamente após a prática de exercício físico
Gráfico 1: Média do Índice de Massa Corpórea nas três aferições.
Gráfico 2: Desvio Padrão do Índice de Massa Corpórea nas três aferições.
Gráfico 3: Variância do Índice de Massa Corpórea nas três aferições.
A variável “Índice de Massa Corpórea” apresentou resultados com significância estatística frente ao teste t de Student,
porém como também não foi encontrada bibliografia
comprobatória de tal relato, sugere-se que se realize estudos
com a finalidade de descobrir a causa da modificação dos valores
do Índice de Massa Corpórea devido à pratica de exercícios
físicos, analisados por meio do Exame de Bioimpedância.
9. Conclusão
Com base no modelo experimental utilizado, os resultados encontrados permitiram concluir que:
Pensamento Plural: Revista Científica do
a) Não foram verificadas modificações dos valores da Composição Corporal apresentados por meio do exame de
Bioimpedância.
b) A prática de exercícios físicos antes da realização do exame de Bioimpedância não interfere nos resultados das
variáveis, exceto do Índice de Massa Corpórea.
Conclui-se que as orientações nos manuais de BIA (EMED,
2006) não conferem com os resultados observados neste trabalho.
Sendo assim, este estudo apresenta resultados que sugerem que a prática de atividade física prévia ao exame de BIA
não alterou os valores finais da CC apresentados
pelo mesmo.
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
9
9
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This electrical bio-impedance exam (BIA) is a method for analyses of body composition (BC), to measure the Lean
Mass (LM), Fatty Mass (FM) and the Body Mass Index (IMC). This study compares the values related to the Body
Composition (BC) before and just after the performance of physical exercises, as discussed in Emed (2006). Participated
in this study, 30 men volunteered, age from 18 to 25 years old, all clinically healthy and subjected to the usual
evaluation protocol, when they remained 30 minutes rest (Initial Measure – IM) and in sequence submitted to the
Cycling Balke’s test (characterizing physical exercise) followed by the BIA exam (Pos test measure- PTM). Finally 30
more minutes of rest and the final measure of BC according to BIA (Post Rest Measure – PRM). The results showed no
differences in BC values. The population sample transfers its results to the infinite population considering the statistic
results p = 0,05 concerning the variables BMI in the PTM compared with the IM and p = 0,1 concerning the variables
FM and LM in the PTM compared with the IM; FM, LM and BMI in the PRM compared with IM. It can be also concluded
in this study that the performance of physical exercises does not significantly influences the results of the body
composition evaluated by BIA.
Key words
Body composition, Electric bio-impedance, physical exercises.
10
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Cibercultura: comunicação on-line nas cidades
Resumo
Carolina Dotta Milan, Francisco de Assis Carvalho Arten
O foco dessa pesquisa é estudar como estão sendo desenvolvidos
os projetos principalmente no âmbito dos municípios com o
objetivo de detectar se realmente as iniciativas estão atingindo as
metas de promover a democracia e a participação popular nas
decisões. São várias as faces da pesquisa, como análise dos sites
públicos e retorno nas iniciativas que visam à interatividade. Várias
pesquisas estão sendo realizadas no campo da cibercultura, voltadas à comunicação on-line pública. Entre elas estão os projetos de
cidades digitais ou cibercidades. Tais projetos, entre outros
objetivos, visam possibilitar um avanço democrático na comunicação pública, promovendo a interatividade entre os munícipes, a
prestação de serviço, principalmente através dos programas denominados “governos eletrônicos”, disponibilização dos dados públicos etc. O importante é que se desenvolvam esforços para pensar as cibercidades, tendo em mente as possibilidades de avanços
sociais, a valorização humana e a inclusão social e digital. Pretendemos, ao final do trabalho, apresentar sugestões aos poderes
públicos locais, para dinamizar a comunicação on-line, incentivar
a participação popular e trabalhar para o desenvolvimento da democracia.
Autores
Francisco de Assis Carvalho Arten,
professor do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE;
Cientísta Jurídico pela Fundação de Ensino
Otávio Bastos – UNIFEOB e Jornalista com
Mestrado em Comunicação e Mercado
pela Faculdade de Comunicação Social
Cásper Líbero
E-mail:
[email protected]
Palavras-chave
Cibercultura;
Digital
Comunicação
Pública;
Inclusão
Carolina Dotta Milan,
aluna do 2o ano do curso de Comunicação
Social - habilitação Jornalismo do Centro
Universitário das Faculdades Associadas de
Ensino – FAE.
E-mail:
[email protected]
Recebido em 18/março/2007
Aprovado em 04/setembro/2007
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
11
MILAN, C. D. e ARTEN F. de A. C.
1. Introdução
Várias inovações estão acontecendo nos meios de comunicação a partir do advento da internet e das novas médias. Entre
as ações interativas e modificadoras estão as experiências relacionadas à cibercidades, governos eletrônicos, portal das cidades, enfim, a comunicação on-line na polis. Até aqui estas experiências, grosso modo, buscam a implementação de fóruns de
debates, incentivando a participação do cidadão, visando a
interatividade a fim de proporcionar a transparência. Também
estão sendo disponibilizados cada vez mais serviços on-line,
como o “Acessa São Paulo”, que luta contra a exclusão digital.
Alguns pesquisadores afirmam que estamos na era da conexão,
que não é apenas uma era da expansão dos contatos sobre
forma de relação telemática, mas sim a era da mobilidade. Como
a cibercultura provém de um espaço de comunicação mais flexível que o produzido nas mídias convencionais como rádio, jornal e televisão, etc, a comunicação on-line pode se constituir
numa peça fundamental para o combate a exclusão e
incentivadora da participação popular nas decisões políticas da
comunidade. Os projetos de cibercidades pretendem, entre
outros objetivos, colocar os indivíduos em sinergia, utilizando o
potencial do ciberespaço como vetor de agregação social. Algumas iniciativas de cibercidades promovem a virtualização de
museus, galerias, bibliotecas, centros culturais, arte, escolas e
meio ambiente, o que resgataria a memória, tornando disponível para a comunidade. Outra idéia é de incentivar oficinas para
a construção de home pages pessoais. Um dos objetivos é o de
fortalecer o conhecimento individual e detectar competências
que possam entrar em sinergia. O importante é que se desenvolvam esforços para pensar as cibercidades, tendo em mente
as possibilidades de avanços sociais, a valorização humana e a
inclusão social e digital, porque estamos na era da Internet, na
qual estar conectado é estar envolvido com todos os assuntos
que regem a sociedade.
2. Objetivos
Um dos objetivos desta pesquisa é analisar o alcance dos
meios de comunicação on-line na sociedade atual, a partir
dos projetos de cibercidades. Especificamente estudamos a
comunicação on-line pública na região, analisando sites dos
poderes públicos municipais para saber se seus conteúdos
estão contribuindo para melhor transparência dos atos dos
poderes públicos e, paralelamente, se atingem o objetivo de
incentivar a participação popular possibilitando sua intervenção nas tomadas das decisões.
Estudar as iniciativas que visem à inclusão digital foi uma
das preocupações que tivemos, já que existe um grande número de cidadãos que ainda não tem acesso a essa nova
comunicação. Uma das metas é detectar se as informações
on-line, os projetos de cibercidades, estão promovendo
interação com o contribuinte e se as mensagens estão atingindo seus objetivos. O senso crítico em relação a essa nova
cultura é uma das reações que pretendemos despertar, principalmente em profissionais de comunicação.
3. Materiais e métodos
A metodologia usada para a pesquisa foi o acompanhamento do processo de comunicação on-line em Prefeituras e
Câmaras Municipais da região, principalmente no Legislativo
de São João da Boa Vista. Realizamos pesquisa em vários
modelos de cidades digitais fazendo comparações com a comunicação on-line de São João da Boa Vista e região.
A leitura de livros e artigos sobre cibercultura, ciberespaço,
cibercidades foi o primeiro passo e início do estudo. A análise
12
de como se processa a comunicação on-line dos Poderes Públicos locais foi uma das preocupações. Os estudos estão
sendo desenvolvidos para aprimorar a comunicação on-line,
visando maior participação do cidadão.
4. Resultados e discussão
Com a pesquisa desenvolvida, podemos perceber que
existem duas linhas distintas de pensamento sobre a
cibercultura. Alguns estudiosos como Tony Negri e Eugênio
Trevinho, entre outros, são pessimistas em relação à comunicação on-line como vetores do desenvolvimento da democracia e aprimoramento da participação popular. Acreditam
que, pelo contrário, as novas tecnologias estão distanciando
ainda mais as diferenças sociais, promovendo uma verdadeira exclusão digital, já que o acesso é limitado. Também defendem a idéia de que os Poderes Públicos não estão preocupados em desenvolver a participação popular, utilizando a
internet e os novos veículos de comunicação como “simulacro” dos antigos meios, com suas mazelas e déficits democráticos. Todos concordam, no entanto, que a comunicação
on-line se constitui num ambiente propício para o desenvolvimento democrático, porém, discordam se este objetivo está
sendo alcançado.
Pierre Lévy e outros teóricos são mais entusiasmados
com a internet e acreditam que, por si só, o ciberespaço faz
com que os navegantes da rede participem democraticamente de um modelo interativo entre os povos, consolidando a
idéia de “aldeia global”, profetizada por MacLuhan, que
morreu antes da invenção da Internet.
O que ficou claro com o estudo foi que os poderes municipais não perceberam o potencial que a Internet possui. Ela
tem sido tratada como um “simulacro” dos demais veículos
de comunicação, isto é, estão copiando os outros meios e
transferindo para a Internet seu conteúdo, sem entender que
esse veículo possui maior alcance e é o único com poder de
interatividade.
Ainda não se foi possível chegar a um resultado concreto, mas o que ficou explícito é que a comunicação on-line
está aquém do que poderia proporcionar e que os poderes
públicos ainda não entenderam o enorme poder desta nova
comunicação, como vetor de processos democráticos
interativos, proporcionando, aí sim, uma grande colaboração para a democracia.
5. Conclusão
Através desta análise inicial chegamos a algumas
constatações que consideramos importante para, a partir
delas, canalizar nossos esforços para entender melhor a comunicação on-line e sugerir modelos e ações para que sejam mais eficientes no objetivo de se conseguir a interatividade
e participação do munícipe:
a) A comunicação on-line desenvolvida em São João da Boa
Vista, Câmara e Prefeitura Municipal, assim como em cidades da região, são apenas ‘simulacro’ dos antigos meios
de comunicação.
b) Os Poderes Públicos locais não perceberam que a linguagem a ser utilizada neste tipo de comunicação deve ser
diferenciada. O que está havendo é apenas uma transposição de textos.
c) Não encontramos nenhuma iniciativa dos Poderes Públicos locais para promover a interatividade – uma das
principais características da comunicação on-line.
d) Conseqüência desta falta de entendimento sobre comunicação on-line é que o interesse do munícipe é nulo.
São raras as navegações nos sites públicos, através de
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Cibercultura: comunicação on-line nas cidades
Referências
pesquisa particular que desenvolvemos, já que tanto no
site da Câmara Municipal de São João da Boa Vista
como da Prefeitura, não existe possibilidade de aferimento
de audiência.
e) Não existe em São João da Boa Vista ou região nenhuma
experiência de governo eletrônico, nem para pagamento de tributos, impostos ou informações relacionadas
ao Poder Público.
f) Constatamos que setores vitais da Prefeitura Municipal
de São João da Boa Vista, como o Departamento de
Saúde, por exemplo, não está informatizado, o que constitui num enorme desperdício de recursos e dificuldades
e transtornos para o contribuinte.
g) Que a comunicação on-line da Câmara Municipal que
deveria, sobretudo, promover a participação popular acabou sendo apenas um informativo qualquer, sem
aprofundamento dos temas, o que é uma das maiores e
melhores possibilidades da comunicação on-line.
h) Que não é dado ao contribuinte, cidadão, o direito de
participar das decisões, através da comunicação on-line,
uma vez que as informações são superficiais e não foi
implantado mecanismo como fóruns de debate, sala de
discussões, etc. Enfim, que a comunicação on-line, que
deve ser interativa, e o receptor igualmente um agente
ativo desta comunicação, não vem acontecendo.
i) Não foi implantando ou está em projeto, nenhum programa
de inclusão digital como tipo quiosques eletrônicos, etc.
j) Que outros serviços públicos, como biblioteca, também
não foram digitalizados.
A partir destas constatações, pretendemos levar nossa
crítica à Mesa Diretora da Câmara Municipal e ao Prefeito de
São João da Boa Vista. E em seguida aos outros poderes
públicos da região, apontando sugestões e caminhos para
corrigir as possíveis distorções, visando assim, alertá-los do
grande potencial comunicador que estão perdendo, e proporcionar à comunidade uma participação mais efetiva e avanço nas conquistas contra a exclusão digital.
BAITELLO JÚNIOR, N. O Animal que parou os relógios: Comunicação e Semiótica da Mídia, [s.d.] p. 93-102.
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Abstract
SILVA JÚNIOR, J A. As relações do Jornalismo Digital na Cibercidade. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt.
The research’s aim is to study how these projects have being developed, trying to identify observing the cities mainly, if
the initiatives are really reaching the objectives to promote democracy and popular participation in the decisions.
Several points had being analyzed, as the public sites and the return initiatives that looks for the interactivity. What is
important is to think about the cybercities, having im mind the possibilities of social advances, the human being
valuation and the social and digital inclusion. Some researches about cyberculture have being done, considering the
on-line public communication. Among these are projects of digital cities or cybercities. The aim of these projects,
among others objectives, is to make possible a democratic advance in the public communication, promoting the
interactivity among the citizens, the providing services – mainly through the programs called “electronic governments”
– the availability of the public data etc.as a conclusion, it intends to present suggestions to the local public government,
trying to the on-line communication, to stimulate the popular participation and to work for the democracy.
Key words
Cyberculture, Cybercities, Public Communication
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
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13
Abuso sexual de mulheres: um estudo da
percepção na avaliação de risco e nas ações de prevenção
Resumo
Luciene Cazaroto, Carmen Beatriz Fabriani
Este estudo tem como objetivo realizar uma investigação com
vítimas de violência sexual para buscar sua compreensão em relação
às experiências e aos fatores determinantes que as colocaram na
situação de risco. Busca também verificar se ocorreu uma
elaboração que permita o desenvolvimento de um conjunto de
atitudes que visem à prevenção de sua repetição. Foram
selecionados seis históricos de abuso sexual, por meio de um
levantamento dos protocolos de casos atendidos no Neap (Núcleo
de Estudo e Atendimento em Psicologia do UNIFAE), com prévia
autorização da coordenação do curso. Após contato telefônico,
foram marcadas três entrevistas qualitativas com vítimas de violência
sexual, com idades entre 23 e 46 anos, todas do sexo feminino.
Foi colhido o consentimento livre e esclarecido das participantes
no projeto. O método utilizado foi a análise do argumento
construído pelas vítimas, mediante a identificação no discurso da
entrevistada, a relação entre a experiência do abuso, a atribuição
de causas para o fato, a compreensão da relação entre o antes e o
depois e a elaboração de estratégias de evitação da repetição da
experiência. Como resultado, tem-se que a primeira entrevistada
estabelece uma relação de causa e efeito e cria uma estratégia
pragmática de evitação não passando pelo mesmo lugar do
ocorrido. A segunda entrevistada não estabelece nenhuma relação
de causa e efeito, não se vendo sujeito da história; a terceira
entrevistada estabelece a relação de causa e efeito e tem uma idéia
de evitação em relação a sua prole, através da informação e do
conhecimento. Diante disso, pode-se concluir que ao se estabelecer
uma relação entre a elaboração do trauma, sua resignificação
simbólica cria-se a possibilidade de construção de estratégias de
segurança. Estas considerações podem subsidiar o
encaminhamento de políticas públicas por parte dos agentes de
intervenção visando a prevenção do abuso sexual e
encaminhamento de ações por parte dos agentes de intervenção.
Palavras-chave
Abuso Sexual, Psicanálise, Psicologia Social, Risco.
Autores
Carmen Beatriz Fabriani,
Pró-reitora de Graduação e Professora do
Centro Universitário das Faculdades
Associadas de Ensino - FAE; Psicóloga com
Doutorado em Psicologia Social pelo
Instituto de Psicologia da Universidade de
São Paulo - IP/USP e Mestrado em
Engenharia de Produção pela Coordenação
dos Programas de Pós-graduação em
engenharia da Universidade Federal do Rio
de Janeiro – COPPE/UFRJ.
E-mail:
[email protected]
Luciene Cazaroto,
Aluna do 5o ano do curso de Psicologia do
Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE.
E-mail:
[email protected]
Recebido em 18/março/2007
Aprovado em 04/setembro/2007
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
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Abuso sexual de mulheres: um estudo da percepção na avaliação de risco e nas ações de prevenção
1. Introdução
A realidade do abuso sexual está presente no mundo
desde épocas longínquas. Durante anos, por razões
religiosas, políticas e sociais, negavam à criança direitos
fundamentais (descritos atualmente no ECA), tais como a
integridade do corpo, a independência da mente, controlandoa como propriedade particular.
Cronologicamente, livros religiosos como o Alcorão
colocavam as mulheres e as crianças como seres inferiores,
de capacidade jurídica restrita, só possuindo privilégios como
a educação religiosa e profissional. Existem no Antigo
Testamento passagens envolvendo fatos de violência contra
menores. A violência familiar é encontrada na Bíblia de forma
expressiva, mostrando o círculo vicioso da violência, seja
por questões políticas, sociais, religiosas ou culturais.
[...] Esaú e Jacó, filhos de Isaac, nutrem um ódio
mortal entre si, Siquien, filho de Hamour,
violentara Dinah, filha de Jacó. (Gênesis 27:41)
[...] O rei do Egito ordena às parteiras Hebréias
que todo e qualquer filho homem seja
assassinado ou lançado ao Nilo. Moisés com
três meses de idade, por proteção materna, é
abandonado dentro de um cesto de junco, ao rio
[...].(Êxodo 1:16)
No século XVII, é consignada a luta contra o poder patriarcal
e a figura materna é vista como estabilizadora da relação. Até
o final deste século, a criança se mantém em poder do adulto
pelo reconhecimento do pátrio poder pelo estado que se exime
de responsabilidade direta sobre a criança.
Permanece durante grande parte do século XVIII a criança
considerada como um peso para a família devendo colaborar
em seu sustento e com a revolução industrial, reconhecida
como força de trabalho e de interesse do Estado. Nesse
sentido, o primeiro caso de retirada de pátrio poder se dá em
Nova York, no ano de 1846, por uma menina severamente
espancada, com intervenção da sociedade protetora dos
animais, alegando que a criança era membro do reino animal
e, entretanto, estaria protegida pelas leis que protegem os
animais contra crueldade. Mais tarde é criada a primeira
instituição preocupada com a crueldade às crianças. No início
do Século XIX, com o fortalecimento do Estado, buscou-se
transferir o cuidado e a educação para a mãe principalmente
de classe social média ou alta, ficando e o Estado responsável
pelas crianças das classes menos favorecidas. Em 1881, surge
em Nova York a “Sociedade Provedora de Proteção à
Infância”, cuja preocupação é com a quantidade de crianças
maltratadas e abandonadas.
A psicanálise no final do século XIX e século XX se dedica
à compreensão do desenvolvimento humano e é fortemente
influenciada pela passagem de Freud em Paris (1885), como
parte de sua formação acadêmica, sob supervisão de Charcot,
onde tem contato com crianças vítimas de abuso sexual na
primeira infância, em sua maioria no âmbito familiar.
Na literatura brasileira, é escasso o material sobre a
violência contra crianças. No século passado, há casos de
denúncia de exploração de menores de quatro anos de idade
que trabalhavam nas minas de carvão (SANTOS, 2005).
A violência sexual contra menores, hoje, representa 10%
das violências cometidas, caracterizadas pelo estupro,
atentado violento ao pudor, sevícias etc. Para Azevedo e
Guerra (1989), a violência sexual se configura como todo
ato ou jogo sexual, relação hétero ou homossexual, entre
um ou mais adultos e uma criança ou adolescente, tendo por
Pensamento Plural: Revista Científica do
finalidade estimular sexualmente esta criança ou adolescente
ou utilizá-los para obter uma estimulação sexual sobre sua
pessoa ou de outra pessoa. Esta situação aqui descrita se
constitui em um acontecimento traumático na vida da criança
ou adulto que motiva o desenvolvimento de estratégias de
defesa do eu da vítima e que cristalizam os comportamentos
e atitudes, relativos à expressão da sexualidade e dos afetos.
Por outro lado, tais comportamentos não garantem o
desenvolvimento de atitudes que no cotidiano representem
uma proteção à não repetição do fato traumático.
Para Laplanche e Pontalis (2001), trauma é todo
acontecimento da vida do sujeito que se define pela sua
intensidade, pela incapacidade em que se encontra o sujeito
de reagir a ele de forma adequada, pelo transtorno e pelos
efeitos patogênicos duradouros que provocam na
organização psíquica. Em termos econômicos, o traumatismo
caracteriza-se por um afluxo de excitações que é excessivo
em relação à tolerância do sujeito e à sua capacidade de
dominar e de elaborar psiquicamente estas excitações. Assim,
o abuso sexual é extremamente marcante para a criança que
é vítima, causando um desgaste emocional bastante severo.
De acordo com Gabel (1997), essas marcas são profundas e
traumáticas pela vulnerabilidade, a idade, a repetição e o
tipo de abuso ou o silêncio em torno da criança
fundamentando a gravidade do traumatismo.
A psicologia, como ciência, trouxe algumas contribuições
para a compreensão do desenvolvimento infanto-juvenil, que
dentro do contexto social tem importância para enfrentar as
conseqüências da violência sexual contra crianças e
adolescentes. As crianças e adolescentes têm estruturas
mentais diferentes das do adulto. Não são adultos em
miniatura, como há tempo se pensou e no Brasil, o Estatuto
da Criança e do Adolescente reconhece essa nova visão, ao
considerá-los como sujeito de direito. Inicialmente, se
interpretou o ser sujeito principalmente como sujeito social,
com direito à educação, saúde, profissionalização, moradia
etc. E com o avanço da preocupação social, voltou-se o olhar
para o direto à liberdade, ao respeito e à dignidade, integrando
o entendimento da criança e adolescente, também, como
sujeitos psicológicos, com vontades, desejos e com processo
particular de desenvolvimento.
Para alguns pesquisadores da área de saúde, mesmo com
a falta de integração e escassez de dados, é possível inferir
que as várias modalidades de violência ocorridas no ambiente
familiar podem ser responsáveis por grande parte dos atos
violentos que compõem o índice de morbi-mortalidade
(Minayo, 1994). Apesar de ser um fenômeno que ocorre
desde a Antiguidade, o abuso sexual, em especial aquele
dirigido à criança e ao adolescente, passou a ser mais
discutido no meio científico a partir dos anos 80 (Santos,
1987; Azevedo & Guerra, 1988; 1989; 1995; Marques,
1986; Minayo, 1993; Safioti, 1997). É também nessa década
que começam a surgir os primeiros programas específicos
para atendimento dessa problemática. Desde então, o
conhecimento sobre essa forma de violência vem sendo
ampliado e sua gravidade reconhecida, ainda que os dados
globais sobre sua magnitude não estejam devidamente
dimensionados. No Brasil, a padronização para registrar
situações de violência familiar é fragmentada, o que provoca
prejuízo para uma rotina clara e eficaz, ocasionando
deficiências nos procedimentos a serem seguidos pelos
profissionais e instituições.
Verifica-se que a questão do abuso sexual continua sendo
tratado de forma ambígua pelo Estado, principalmente no
que se refere a crianças do sexo feminino, não dispondo de
mecanismos jurídicos e sociais que possam responder a
multiplicidade de implicações decorrentes destas questões,
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
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15
CAZAROTO, L., FABRIANI, C. B.
sendo comum para aqueles que atendem a população em clínicas
sócias de psicologia receberem famílias inteiras onde o abuso
sexual se torna recorrente e encontram dificuldades no
encaminhamento de soluções efetivas. Nesse sentido, apresentase a seguir a questão vista pela ótica de vítimas, visando uma
melhor compreensão deste universo, permitindo a proposição
de um conjunto de atitudes que enfoquem a prevenção de sua
repetição e, por fim, são tecidas considerações sobre possíveis
formas de enfrentamento da questão pelo poder público.
2. Metodologia
Este estudo foi realizado no Neap (Núcleo de Estudos e
Atendimento em Psicologia do UNIFAE), onde foram
entrevistadas 3 pessoas, com idade entre 23 e 46 anos,
todas do sexo feminino. A seleção dos sujeitos da pesquisa
iniciou-se pelo levantamento dos protocolos de casos
atendidos, sendo pré-selecionados seis históricos de abuso
sexual dentre os quais, após contato telefônico e residencial,
3 aceitaram dar entrevistas, sendo estas precedidas da
autorização livre e consentimento das entrevistadas.
As entrevistas tiveram duração entre uma e duas horas,
com total privacidade. Nelas, buscou-se a narrativa da
experiência por meio do registro de suas lembranças sobre o
que aconteceu. Neste processo as entrevistadas colocam a
experiência em seqüência, encontram possíveis explicações
para o fato e jogam com a cadeia de acontecimentos que
constroem a vida individual e social. (Javchelovitch, apud
Fabriani, 2004). Esta forma de reconstruir a história e de
construir o significado dos fatos leva em conta que contar
histórias é uma habilidade relativamente independente da
educação e da competência lingüística, e o acontecimento
pode ser traduzido em termos indexados, como foi o caso
em que a referência é feita a um acontecimento concreto, em
um lugar e em um tempo – o abuso. Após sua realização, as
entrevistas foram transcritas com o objetivo de propiciar uma
compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e
motivações em relação ao comportamento dessas pessoas.
(Gaskell, apud Fabriani, 2004).
O método utilizado foi a análise da construção do
argumento por meio da identificação, no discurso das
entrevistadas, da relação entre a experiência do abuso, a
atribuição de causas para o fato, a compreensão da relação
entre o antes e o depois e a elaboração da evitação da
repetição da experiência. Conforme apresentado por
Liakopoulo (2002), Blackburn (1996) e Rosa (2003) (apud
Fabriani, 2004), o interesse no discurso é parcial e
objetivamente o interesse recai sobre a construção do
argumento, entendido como uma série de afirmações com
o objetivo de justificar ou refutar determinada opinião, e de
maneira geral a análise do argumento tem por objetivo
apresentar a maneira como as afirmações estão estruturadas
no discurso e avaliar sua solidez.
O interesse fundamental deste estudo é o de identificar
quais os tipos de argumentos utilizados no processo
decisório das vítimas de abuso sexual, descritos e analisados
sob o ponto de vista lógico, identificando quais as
conclusões reconhecidas na avaliação dos fatos. Parte-se
do pressuposto de que a decisão se situa na esfera
psicossocial e que o argumento racional não se introduz no
processo decisório, constituindo-se como apêndice muitas
vezes de negação da decisão racional.
3. Depoimentos
3.1 Depoimento Nº1
A entrevistada é uma mulher de 23 anos, solteira e
16
estudante. A experiência ocorreu aos 21 anos. Quando
voltava para casa em um percurso rotineiro e foi abordada
na rua, à noite, por um homem armado e desconhecido que
tentou imobilizá-la. A entrevistada reagiu lutando com o
agressor, desarmando-o e fugindo correndo sendo ajudada
por um carro que estava passando pela rua.
Percepção da experiência: Sente-se ameaçada de
que possa se repetir a experiência e desenvolve alguns
comportamentos para evitar esta repetição, com pode-se
perceber em alguns trechos de seu depoimento:
“Cheguei numa época, a trancar todas as janelas
[...] eu trancava tudo, verificava porta, trancava
tudo mesmo com cadeado e assim [...]”.
Denúncia: Parece que na denúncia busca principalmente
reparar o dano, a afronta a ela sofrida do que a justiça da sociedade.
“Fiz ocorrência no mesmo dia [...] No outro dia,
fiz exame de corpo delito. Me chamaram na
delegacia mais umas 2 ou 3 vezes na delegacia
para ver algumas fotos para ver se conhecia o
cara. [...] Eu cheguei toda machucada em casa,
nem esperei pro outro dia [...] no mesmo dia fui
fazer a denúncia [...] nem tomar banho eu pude,
só no outro dia, pra fazer corpo delito”.
Conseqüências da experiência (T
rauma): Percebe(Trauma):
se uma mudança no seu comportamento, passando a agir
desconfiada.
“Não consigo ser do mesmo jeito (risos). Antes
eu era assim, super extrovertida, até hoje sou,
converso com todo mundo. [...] Hoje em dia, até
para pegar amizades tornou-se mais difícil. [...]
sempre fico com um pé atrás, até com meu
namorado, depende da atitude dele, eu já não
gosto, depende do tom de voz também não gosto
[...] você acaba ficando com receio de todo mundo
[...]. Eu não consigo me entregar totalmente assim,
sabe. É muito difícil. A gente vai ter um receio em
tudo... será que convém eu ficar com o cara, pegar
amizade? Até hoje sabe, ando com a cabeça meio
baixa, não gosto de ficar olhando, não sei se é
medo de ver de novo, ou se é medo de alguém
ver que to olhando diferente e vir atrás. [...] fiquei
com todo esse cuidado, de ficar trancando tudo e
queria mudar o número do meu telefone [...]. Hoje
em dia, relou a mão em mim, ou esbarrei em
alguém, fico amedrontada. Porque é uma invasão
relar em você, sem você querer, entendeu”.
Construção de prevenção: Parece que percebe a
prevenção ligada a mudanças de rotinas e procedimentos.
“Não passar naquele lugar, naquele momento, a
pé [...]. Sempre que eu vejo alguém passando por
ali sozinha e eu conheço, eu dou carona, faço
esse tipo de coisa. Sozinha, à noite não passo
mais por lá, de jeito nenhum”.
3.2. Depoimento Nº 2
Mulher de 46 anos, casada e do lar. A experiência ocorreu
há 36 anos. Na sua casa, havia somente um quarto e o que
separava seu quarto do seu e de seus irmãos era um guarda-
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Abuso sexual de mulheres: um estudo da percepção na avaliação de risco e nas ações de prevenção
roupa. Numa noite, seu padrasto a descobriu, baixando seu
pijama e manipulando-a com as mãos.
Percepção da experiência: - Percebe-se ameaçada e
erotizada perante a situação vivida.
“Eu tinha medo, não ficava com roupa mais
curta, tinha medo de colocar blusa apertada,
porque ele ficava me vendo. Tinha uma vergonha
[...] não passava nem perto dele. [...] com
vergonha, com medo. Fiquei com vergonha da
vida, preocupada com ela. Aborrecida, porque
pensava daqui em diante o que será que vai
acontecer comigo, né. Daqui pra frente só vai
acontecer o pior, né. [...] vivia com medo de tudo
[...]”.
Denúncia: - Percebe-se que usa mecanismos como a
ingenuidade e racionalização para justificar o porquê de não
ter feito a denúncia.
“Só contei pra minha mãe e só no dia. [...]. Só
falo que Deus sabe o que faz com todo mundo. E
é isso mesmo, eu pensava assim: Deus sabe o
que vai fazer com ele [...]. Naquele tempo lá, a
gente era bobinha, não entendia as coisas. Não
achava que fez por mal, achava que ele queria me
ver. Eu entendia que ele não podia colocar a mão
em mim, e também eu tinha vergonha. Eu achava
que ele só queria me ver, aqui dentro não sabia
de nada da vida, nem de coisas ainda piores eu
sabia [...] nem de sexo [...] nada [...] só entendia
que às vezes alguém queria ver a gente pelada e
eu dizia ‘Olha aí, mãe, o X tá querendo descobrir
eu’, pensava que ele ia só ver eu, sabe, e como
minha mãe entendia, fez o que fez, brigou com
ele a noite inteira até no outro dia e pegou minhas
coisas e me colocou pra morar junto com minha
vó. Eu lembro que tinha duas tias que moravam
juntas e deixei passar, porque pensava: graças a
Deus, eu tô aqui inteira, não me aconteceu mais
nada, nunca mais deixei fazer aquilo. [...] Fiquei
com medo de contar. Achava que iam ser mais
inimigos ainda e não queria isso”.
Conseqüências da experiência (T
(Trauma):
rauma): Desenvolve comportamentos erotizados e generalizados em
relação a todos os homens.
“Vergonha e medo ainda tenho. Tenho medo
ainda, medo de ficar perto de homem ainda tem.
[...] ainda tenho medo hoje. Tenho medo de
quando todo mundo sai pra trabalhar de entrar
um lá e me agarrar [...] eu tranco o portão com a
chave [...] fico trancada [...] tenho medo de estar
sentada no sofá e quando olhar assim ter um
homem [...] eu não escapo [...] com esses braços
aqui [...] ele me agarra mesmo [...] O medo não
sai não, fico aqui até hoje [...] tenho medo sim.
Tenho medo até se meu marido tá em casa e
todos os filhos for trabalhar [...] eu morro de
medo [...] tenho medo até dele.”
Construção de prevenção: Parece que usa a reificação,
ou seja, naturaliza o mundo social e também a generalização
sendo todos os padrastos abusadores das filhas.
“Se um dia eu tivesse uma filha, não tenho, mas
Pensamento Plural: Revista Científica do
se tivesse, aí mesmo que eu nunca ia arrumar um
padrasto pra ela, sabe por quê? Porque eu não
acredito que padrasto gosta das filhas da mulher,
que não é filha dele não. Eu não acredito. [...]
Acho que é difícil evitar. Tem que aconselhar,
conversar, mas acho muito difícil evitar. Eu, na
minha opinião, penso assim, olha: mulher, tem
filha mulher, não arrume outro homem, outro
marido, eu penso assim, mas não adianta falar.
Uma amiga minha lá tem 3 filhas e mora com um
homem. Os outros não acreditam em mim [...]
‘Esse aí é como um pai para elas’ e eu digo: ‘Meu
padrasto também era como um pai pra mim’. Olha
não sei o que pode ser feito pra evitar isso não.
Tem que pensar muito [...] não sei de nada [...] é
difícil [...] se a mulher gostar do homem que
arrumou, vai ter que ficar 24 horas do lado dele
ou da filha pra evitar que faça alguma coisa. 24
horas atenta. Se largar um pouquinho pra ir ali ou
lá [...] olha! É naquela horinha que pode acontecer
alguma coisa. [...] Dentro de casa, têm certas
roupas que não pode usar”.
3.3. Depoimento Nº. 3
Mulher de 30 anos, casada e doméstica. A primeira
experiência ocorreu quando tinha 9 anos de idade. Trabalhava
junto com o irmão mais velho na roça de cacau, ficavam
sozinhos quando o mesmo começou a abusar sexualmente.
Os abusos ocorreram várias vezes por vários anos até que
um dia não agüentando mais a situação e não vendo saída
para ela, tentou matar seu irmão com um facão.
Percepção da experiência: Parece que para a
entrevistada a situação de abuso causou sentimentos muito
intensos de culpa, mágoa, tristeza e desespero.
“[...] me dava agonia, me agoniava [...]. A primeira
vez fiquei assustada [...] Eu não gosto muito de
falar, é difícil [...]. Dava vontade de pegar minhas
roupas, sem destino e sair andando. [...] eu quase
matei ele [...] não sabia se chorava de desespero
ou de alegria, porque eu tava ficando (risos) livre
dele e ao mesmo tempo, minha mãe me bateu,
meu pai também, todo mundo achava que eu era
culpada [...]. É uma angústia, uma mágoa. É assim,
talvez se fosse outra pessoa, se não fosse sangue
do meu sangue, pode parecer até esquisito pra
você, se fosse outra pessoa que eu não
conhecesse, sei lá, se eu tivesse saído na rua e
alguém tivesse me pegado, sei lá, não seria tão
triste, tão angustiante”.
Denúncia: Percebe-se que a entrevistada sente-se
culpada em relação ao ato do irmão e por isso não faz a
denúncia.
“[...] eu ficava com medo de contar pra minha
mãe e ela achar que era mentira minha e colocar
a culpa em mim [...] eu chorava, chorava e minha
mãe perguntava por que eu tava chorando e eu
dizia que não era nada, porque meu irmão falava:
‘Você acha que se contar pra ela, ela vai acreditar
em você. Não vai, ela vai acreditar em mim’. Ele
era mais velho do que eu, e minha mãe pela
educação dela [...] acha que ela ia acreditar, não
ia acreditar. E eu ficava sofrendo [...]. Contei pra
minha amiga, meu marido, meu médico e pra
minha irmã. Pra outra mocinha que foi minha
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
17
17
CAZAROTO, L., FABRIANI, C. B.
psicóloga e pra você agora [...] acho que ela não
ia acreditar (irmã), minha mãe não ia acreditar e
ela também não, minha mãe estava sempre do
lado do meu irmão, ele mesmo que fazia alguma
coisa errada, ela sempre dizia que era o certo. Eu
ficava com medo, porque sempre o apoiava, eu
ficava com medo e não contava pra ela. O meu
pai, pro meu pai, tinha vergonha, tinha vergonha,
não tinha coragem pra contar pro meu pai.
Deveria ter contado pra minha irmã, mas também
não tinha coragem [...]. Se fosse ver minha irmã,
ela queria falar contar, mas já passou tanto tempo,
porque falar agora, não vai acontecer nada
mesmo, já fez, já consegui passar por isso já, vou
voltar lá de novo, aí falei pra ela que não queria.
Contar pro meu pai, ele ia sofrer muito coitado,
eu acho, né, saber de uma coisa dessas faz sofrer
demais [...]”
Construção de prevenção: Estabelece uma relação
de causa e efeito e tem uma idéia de evitação em relação a
sua prole através da informação e do conhecimento.
“De não acontecer, acho difícil, porque às vezes
acontece sem a gente querer. Agora uma forma
que eu acho de não acontecer é conversar. Eu
converso e pretendo conversar com minha filha,
explicando tudo que passei pra ela, porque se eu
não tivesse ficado tanto tempo quieta, não tinha
sofrido tanto. Pelo menos eu pretendo fazer isso
com ela, não sei se tô certa, mas acho que é dar
experiência pra ela e não esconder nada como
minha mãe fazia: ‘Como nasce o neném?’. ‘Veio
da cegonha.’. Acho que tem que ser falado a
verdade, vai saber mesmo de qualquer jeito, então
tem que contar, é assim, assim e assado [...] Eu
penso assim, desse jeito. Pra minha filha, vou
contar tudo pra ela”.
4 Considerações FFinais
inais
Deve-se observar que, na construção de um argumento,
é imperioso que se estabeleça uma relação de causalidade
entre uma seqüência de experiências e mesmo que incluam
certos aspectos ficcionais, devem constituir-se em um todo
coerente capaz de levar a uma avaliação da experiência
quanto a ser boa ou ruim e ainda possibilitar a elaboração de
atitudes conscientes, que levem à repetição da experiência
ou sua evitação. Na psicanálise, quando se fala do mecanismo
de defesa do ego de avaliação e/ou condenação, pressupõese um eu suficientemente estruturado para poder entrar em
contato com conteúdos psíquicos, muitas vezes penosos do
ponto de vista evocado, mas que são indispensáveis na
construção dos significados das experiências pelas quais passa
o sujeito. Este processo psíquico fica muitas vezes impedido
de se realizar plenamente devido à qualidade e à intensidade
da experiência, tendo como resultado uma compreensão
fragmentada e a impossibilidade da construção das atitudes
adequadas.
Nesse sentido, verifica-se que a primeira entrevistada não
elabora a experiência de abuso de forma a logicamente
18
estabelecer uma relação de causalidade e propõe formas de
evitação generalistas e preconcebidas não muito eficazes na
prevenção e que tem como conseqüência a limitação de
experiências e empobrecimento da vida social afetiva. Como
forma de compreensão do processo psíquico envolvido,
pode-se recorrer ao mecanismo psicológico da negação de
um aspecto da realidade que é intensamente traumático para
o sujeito e, de acordo com Fabriani (2004), a aceitação do
conteúdo de um pensamento integra a construção do
argumento e a negação de uma idéia existente na construção
de um argumento é reprimi-la, ou seja, impedir, por um
processo psicológico, que ela produza seus efeitos na
compreensão do presente e na construção do futuro. Portanto,
na avaliação de uma situação, a negação de algumas
qualidades ou características da situação pode ser considerada
como a expressão de um processo psicológico, onde o
indivíduo que nega expressa sua preferência de que aquela
qualidade não estivesse presente. Para Freud (1925), ao se
tratar deste processo psicológico da negativa, desenvolve-se
uma série de proposições com grandes implicações sobre a
compreensão do processo de tomada de decisão pelo
indivíduo, passando pela avaliação da situação, afirmando
ou “desafirmando” que uma idéia tenha existência na
realidade.
O processo psicológico presente para a segunda
entrevistada passou pela ação da repressão, e de acordo
com Laplanche e Pontalis (2001), em sentido amplo, é uma
operação psíquica, que tende a fazer desaparecer da
consciência um conteúdo desagradável ou inoportuno: idéia,
afeto etc e segundo D’Andrea (2003), é um processo
automático que mantém fora da consciência, impulsos ou
sentimentos inaceitáveis.
Na terceira entrevistada, pode-se observar um grau mais
elevado de elaboração do fato, resignificando o trauma e
demonstrando um pensamento criativo com capacidade para
criar uma solução para a evitação do fato, mais próximo da
avaliação consciente dos fatos pressupondo um eu mais
estruturado.
Portanto, tanto ao se considerar o indivíduo vítima de
abuso, como o grupo social em que se configura o feito,
verifica-se que a prevenção desta situação não é apenas
heteronímica, e representada pela criação de mecanismos
de denúncia, repressão e punição do agressor, cuja prevenção
requer uma participação emancipatória do sujeito, conforme
apresentado por Tassara & Ardans (2004), colocando-se
como parte de processos de transformação social, enquanto
agentes do processo em todas as suas fases e para todos os
efeitos. Verifica-se ainda que esta participação que aqui se
falou pressupõe sujeitos capazes de pensar sobre as
experiências por mais penosas que sejam e criativos na
proposição de procedimentos individuais e coletivos que
encaminhem soluções de preservação da vida individual e
coletiva. Diante disso, pode-se concluir com a pesquisa
realizada que ela colabora no esclarecimento dos processos
psíquicos presentes na situação traumática e aponta para
processos psicossociais de intervenção, seja de remediação
ou de prevenção que possam colaborar na construção da
emancipação. Neste sentido, pode-se ainda subsidiar o
encaminhamento de políticas públicas por parte dos agentes
de intervenção, com o desenvolvimento de estratégia
participativa de prevenção do abuso sexual.
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
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MINAYO, M.C.S (coord). Previnir e proteger: análise de um serviço de atenção à criança vítima de
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Abstract
TASSARA & ARDANS, O. Participação emancipatória: reflexões sobre a mudança social na complexidade
contemporânea. Revista Imaginário n.º 9 NIME – LABI. Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo. 2003
opular
VASCONCELOS, J. Senado autoriza empréstimo para Campinas. Correio PPopular
opular. Campinas, 18 de dezembro de
1996.
The aim of this study is to investigate victims of sexual violence trying to find what they think about their experiences and
the determinants factors which placed them in a risk situation. It also tries to verify if an elaboration occurred that allow
the development of attitudes toward the prevention of others sexual violence attack. Six sexual abuses historical were
selected from the protocols of the assisted cases in Neap (Nucleus of Study and Service in Psychology of UNIFAE), with
previous authorization from the course coordinator. Phone calls resulted in three qualitative interviews with female
victims of sexual violence, ages between 23 and 46 years old. These interviews were recorded and transcribed, after
the free and willing consent of the victims. It was used the method of analysis of the victims’ arguments, through the
identification in the interviewee’s speech of the establishment of a relationship between abuse experience and its
causes, the understanding of the relationship between before abuse and after abuse and the elaboration of strategies
to prevent a new violent episode. As a result, we have that the first interviewee establishes a relation of cause and effect
and the pragmatic strategy of prevention, avoiding the place of the occurrence. The second interviewee does not
establish a relation of cause and effect, she does not see herself as the subject of the story; the third interviewee
establishes the relation of cause and effect and she has an idea of prevention with respect to her children, through
information and knowledge. From this, it can be concluded that with the establishment of the relationship amid the
elaboration of the trauma, its symbolic new meaning, it is created a possibility for the construction of safety strategies.
These considerations can subsidize the elaboration of public policies by the intervention agents aiming the prevention
of the sexual abuse and directions actions by those agents.
Key words
Sexual Abuse, Psychoanalysis, Social Psychology, Risk
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
19
19
Encontro de gerações: diversidade de olhares
Resumo
Vagner Luiz da Silva, Elizabeth Regina Jesumary Gonçalves, Sérgio Eduardo
Nassar, Maria Helena Cirne de Toledo, Erica Passos Baciuk
Este artigo tem como proposta estudar algumas condições de
exclusão social, assim como questões que afetam a qualidade de
vida dos idosos institucionalizados do Lar Vicentino São José, no
município de São João da Boa Vista - SP. São enfocados aspectos
de saúde física e mental, além da inclusão social de 31 idosos,
homens e mulheres, utilizando-se um questionário pré-estabelecido. Também foram aplicadas atividades lúdicas por universitários do UNIFAE durante três meses. Identificou-se uma população
com baixa escolaridade, proveniente da zona rural e predominantemente do sexo masculino onde o desencantamento pela vida,
inicialmente percebido, deu lugar à mudança de hábitos, como o
interesse por caminhadas, entre os homens, o que traduz uma
ampliação de possibilidades de inserção social e da própria
motricidade, e a redução do tabagismo e etilismo entre as mulheres, aspectos que interferem na qualidade de vida do grupo. Houve uma modificação incipiente na percepção das próprias necessidades dos assistidos. Foi adotado um estilo de vida mais
participativo e integrado o que pode expressar um maior comprometimento com a vida.
Autores
Elizabeth Regina Jesumary Gonçalves
Professora do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE; Comunicadora
Visual com Doutorado em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo –
UMESP/SP e Mestrado em Educação pela
Universidade Paulista – UNIP/SP
E-mail: [email protected]
Maria Helena Cirne de Toledo
Coordenadora do Curso de Psicologia e Professora do Centro Universitário das Faculdades
Associadas de Ensino – FAE; Psicologia com
Doutorado em Psicologia: Ciência e Profissão e
Mestrado em Psicologia Clínica pela Pontifícia
Universidade Católica de Campinas –
PUCCAMP.
E-mail: [email protected]
Sergio Eduardo Nassar
Professor do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE; Educador Físico
com Mestrado em Educação pela Faculdade de
Ciências da Saúde da Universidade Metodista
de Piracicaba - FACIS/UNIMEP.
E-mail: [email protected]
Vagner Luiz da Silva
Professor do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE; Licenciado em
Matemática com Mestrado em Física pelo
Instituto de Física da Universidade Estadual de
Campinas-IF/UNICAMP.
E-mail: [email protected]
Palavras-chave
Idoso Institucionalizado; Inclusão Social; Qualidade de
Vida; Universitários
Érica Passos Baciuk
Coordenadora do Curso de Fisioterapia (diurno) e Professora do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE; Fisioterapeuta com Doutorado em Tocoginecologia pela
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas – FCM/UNICAMP e
Mestrado em Educação Física pela Faculdade
de Educação Física da Universidade Estadual
de Campinas – FEF/UNICAMP.
E-mail: [email protected]
Recebido em 18/março/2007
Aprovado em 04/setembro/2007
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
20
Encontro de gerações: diversidade de olhares
1. Introdução
O corpo idoso tem sido objeto de estudo em diferentes
áreas de conhecimento, na tentativa de oferecer à população
um padrão de longevidade e, com isso, um grande avanço
nas pesquisas referentes ao envelhecimento.
Atualmente, as gerações vivem segmentadas em espaços
exclusivos. Na sociedade moderna facilmente constata-se a
separação das faixas de idade. Crianças, adolescentes,
adultos jovens e adultos velhos ocupam áreas reservadas,
como creches, escolas, oficinas, escritórios, asilos, locais de
lazer etc. A exceção se dá na família. Sem dúvida, é no contexto
familiar que ocorrem mais freqüentemente os encontros entre
as gerações, ao menos por proximidade física, visto que em
muitas delas prevalece o distanciamento afetivo. Por isso, a
qualidade dessas relações tem sido alvo de muitas discussões
entre especialistas e entre pessoas em geral.
O desenvolvimento biológico do ser humano pode ser
visto por meio de uma sucessão de etapas, a infância, a
adolescência, a do adulto jovem, a meia-idade e a velhice;
fases decorrentes de singularidades orgânicas, mas também
produzidas pela cultura.
Pode-se considerar que as gerações são socialmente
construídas, porque antes de tudo o indivíduo é socialmente
construído. A construção social das gerações se concretiza
pelo estabelecimento de valores morais e de expectativas de
conduta para cada geração em diferentes etapas da história.
Se as gerações são continuamente construídas,
desconstruídas e reconstruídas, a relação entre elas também
está sempre sendo refeita. Novas relações, por sua vez,
determinam novos comportamentos das gerações, num
movimento dialético de retroalimentação permanente.
Vários autores na literatura, esclarecem definições sobre
o processo de envelhecimento. Py e Trein (2002) consideram
o envelhecimento humano um processo de transformações
que se desdobram pela ação do tempo, no percurso da
existência, com as variações peculiares à individualidade de
cada ser.
A velhice, no momento atual, é tida como sinônimo de
decadência, daquilo que já foi ou que já era, expressão
bastante usada principalmente pelos jovens. O idoso não
deixa de ser um adulto, continua sendo um adulto, um adulto
mais velho. No caminho em direção à fase da terceira idade,
em decorrência de inúmeros fatores culturais
contemporâneos, os contatos sociais tendem a rarear, isto é,
assiste-se a um progressivo esvaziamento de papéis, fato
que determina ao idoso um crescente isolamento ou
recolhimento ao espaço doméstico. A aposentadoria, a viuvez,
a perda de amigos e a chamada síndrome do ninho vazio,
esta última caracterizada pela debandada dos filhos
emancipados, são fenômenos que impõem aos mais velhos
uma expressiva diminuição de funções.
Há um número vasto de idosos que moram sozinhos ou
apenas com seu cônjuge, além daqueles confinados em asilos.
Mesmo no caso de idosos que coabitam com filhos e netos,
as conversas mais duradouras são raras e até inexistentes.
Parece que a maior visibilidade social adquirida pelos idosos,
seja por sua crescente expressividade numérica, seja por uma
participação social cada vez mais intensa, tende a melhorar o
relacionamento com os jovens.
Um contingente cada vez maior de idosos tem reagido às
vicissitudes e vem desenvolvendo um estilo de vida cada vez
mais participativo e integrado. Pesquisas concluem que quanto
mais positiva a atitude do idoso em relação à velhice e quanto
melhor seu estado de saúde, melhor é a qualidade do
relacionamento com os seus filhos. Porém, as Instituições e
espaços segregam e selecionam seus públicos, levando-os a
Pensamento Plural: Revista Científica do
um isolacionismo impar, excluindo seus participantes do
restante da sociedade.
Os estudos também têm mostrado que os idosos não
perdem sua capacidade funcional se preparados com
atividades físicas e mentais, uma questão que merece bastante
respeito, visto que com os avanços da ciência e medicina, há
um aumento paulatino da expectativa de vida dos seres
humanos.
É importante salientar que, muitas vezes, o idoso não
necessita somente de força, equilíbrio, resistência e destreza,
mas também de carinho, atenção, cuidados, lazer, contato
social e auto-estima, aspectos pelos quais muitas outras
atividades podem colaborar.
Cabem aos profissionais, principalmente de instituições
formadoras como as instituições de ensino, nos seus mais
diferentes níveis, se organizarem para melhor receitar
atividades inclusivas. Investigando melhor o estado de saúde
física e mental em que se encontra o idoso, seu nível de
dependência, suas necessidades, seus anseios, seus temores,
para assim, melhor estruturar programas de saúde e inclusão
social com equipes interdisciplinares que sejam
verdadeiramente dedicadas aos idosos.
Experiências, como a apresentada no Congresso
Internacional Co-Educação de Gerações, em São Paulo
(MIRANDA, 2003), afirmam que eventos promovidos pelo SESC
constituem-se em proveitosos encontros: oficinas de brinquedo,
de teatro, de música, nos grupos de canto coral, de artes plásticas,
de fotografia mostraram-se como as atividades que mais têm
permitido aos idosos interagirem com outras faixas etárias,
sendo possível observar uma troca de experiências agradável e
produtiva. Em outra pesquisa, sobre brinquedos populares,
destaca-se a participação dos idosos, que se revelam ainda
possuidores de técnicas de confecção artesanal. Por isso foram
convidados a desenvolverem suas habilidades em oficinas de
criatividade monitoradas.
A atividade em grupo traz para os idosos maior convivência
social, novo ânimo, incentivo para a vida, aspectos que, na
maioria dos idosos, são esquecidos. Neste contexto, Marcellino
(1989) afirma que os avanços apresentados nos grupos de idosos
oferecem muitos exemplos de pessoas que, motivadas pela
convivência, passaram a desenvolver novas atividades nas áreas
das artes plásticas, do artesanato, do esporte e, até mesmo, a
prática de atividades físicas, a reabilitação e a fisioterapia.
Geralmente, as associações de terceira idade não mantêm
contato com outras faixas etárias, alguns desses agrupamentos
tendem mesmo a evitar interações com pessoas de outra geração,
configurando-se assim verdadeiros guetos. Já atividades
interessantes para moços e idosos tendem a produzir efeitos
bastante animadores.
São muitos os interesses comuns das gerações. As atividades
de lazer, por seu caráter lúdico, voluntário e descompromissado,
podem facilitar a emergência de interações intergeracionais.
Sabe-se que a qualidade de vida reflete a satisfação
harmoniosa do ser humano, pois diz respeito a seus objetivos e
desejos, considerando a quantidade de aspectos positivos
acumulados no dia-a-dia, denominada “felicidade”, e a superação
dos aspectos negativos. Para o idoso, o termo se insere sobre o
seu estilo de vida.
Simões (2001, p.189) define, a partir de uma perspectiva
abrangente, o que vem a ser qualidade de vida na velhice
[...] a qualidade de vida é a qualidade da vivência do
dia-a-dia e no interior da Terceira Idade, é
proporcionar o início de um caminho, um ponto de
partida, não um ponto de chegada,
independentemente das perdas que o mundo adulto
produtivo e rentável coloca, é ir à busca dos
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
21
BACIUK, E. P. (et al.)
encontros dos incentivos, dos desafios, dos
projetos, das incertezas, dos desejos e, sem dúvida
dos sonhos.
Sendo assim, trabalho tem como proposta facilitar o encontro de gerações, utilizando a pesquisa interdisciplinar como um
veículo norteador, envolvendo aspectos da saúde, culturais e
sociais dos idosos residentes no Lar São José, por meio dos
alunos dos cursos do UNIFAE, no município de São João da
Boa Vista.
Os objetivos deste estudo são: verificar as condições de
exclusão social, assim como as questões que afetam a qualidade de vida dos idosos institucionalizados do Lar São José; apontar
a resposta dos idosos ao desenvolvimento de ações dos acadêmicos que contribuam para o bem-estar, analizar a prevenção e
a reabilitação das condições de saúde; e observar o efeito disto
para a inclusão deste grupo de idosos na sociedade.
2. Método
Este estudo de caso enfoca aspectos de saúde física e mental, além da inclusão social dos 31 idosos, homens e mulheres,
residentes no Lar Vicentino São José, no município de São João
da Boa Vista - SP.
O Lar São José é uma instituição filantrópica, administrada
pelos Vicentinos de São João da Boa Vista. Existem 40 casas
(individuais), sendo 31 ocupadas, um refeitório, uma igreja e um
coreto, além de uma ampla área livre. O Lar tem registro no
CNS (Conselho Nacional de Saúde) e mantém convênio com a
prefeitura municipal.
Inicialmente realiza-se a seleção dos alunos dos cursos de
fisioterapia, psicologia, educação física e publicidade e propaganda, interessados em participar do projeto.
É realizado um primeiro contato com os idosos, sob forma
de visita para esclarecimentos sobre o presente trabalho. Posteriormente, duplas de alunos realizam visitas aos idosos individualmente, com o objetivo de convidá-los a participação na
pesquisa, os quais, no caso de concordarem em participar, assinam um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
É realizado um levantamento sobre as condições de saúde,
física e mental, de cada voluntário assistido, além de aspectos
sociais do grupo e condições ambientais, utilizando-se de ques-
tionário previamente elaborado.
Após a análise parcial desses resultados, são implantadas
dinâmicas, pré-estabelecidas, aplicadas por alunos dos quatro
cursos, sob supervisão dos pesquisadores de forma simultânea.
3. Análise dos resultados
Os dados são registrados nos questionários, além dos
registros visuais, por meio do uso de imagem (foto) de alguns
encontros. Os dados quantitativos são tabulados em planilhas
do excel e analisados de forma descritiva. Na análise estatística,
as variáveis qualitativas são comparadas, usando o teste de pvalue e as variáveis quantitativas usando o teste ANOVA.
4. Resultados e Discussão
Dos 31 idosos residentes no Lar, 29 concordam em responder ao questionário, sendo 17 homens e 12 mulheres. A maior
parte dos participantes tem idade entre 60 e 80 anos (33,3%
mulheres e 37,4% homens); daqueles com idade menor que 60
anos, 7,4% são mulheres e 14,8% homens; e 7,4% são homens com mais de 80 anos, não havendo mulheres nesta faixa
etária.
Fato que merece atenção, visto que as pesquisas mostram
maior prevalência de idosos institucionalizados com idade acima de 72 anos, com predominância do sexo feminino, sendo a
probabilidade de institucionalização das idosas três vezes maior. O que coloca em relevo a questão das diferenças de expectativa de vida entre os sexos, apontando para a constatação de
que a terceira idade vem expressando ser composta principalmente por mulheres (BULLA; CLOSS; VENTURA, 2007).
Esta ocorrência é justificada na literatura por vários motivos,
além da expectativa de vida ser maior nas mulheres em relação
aos homens. A viuvez é mais freqüente para as mulheres; as
idosas geralmente possuem grau de instrução e nível de renda
baixo, fatores que somados favorecem o ingresso nas instituições (FERREIRA, 2007)
Os resultados do gráfico 1 indicam que os indivíduos
institucionalizados apresentam baixa escolaridade (analfabetos
= 32,1% e, com 1º grau incompleto = 60,7%). Entre as profissões, há uma maior incidência de trabalhadores rurais (42,9%)
e domésticas (17,9%).
Escolaridade x PProfissão
rofissão
Gráfico 1: Distribuição percentual da escolaridade versus profissão dos idosos
Fonte: Resultados da pesquisa dos autores.
22
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Avaliação da amplitude de movimento dos ombros em mulheres operadas por câncer de mama
Fem.
Fem.
Masc.
Fem.
Masc.
Fem.
Masc.
Masc.
Gráfico 2: Distribuição percentual da realização de atividade física
dos idosos, a) antes do convívio com jovens universitários, b) depois
do convívio com jovens universitários, categorizado por sexo.
Fonte: Resultados da pesquisa dos autores.
Gráfico 3: Distribuição percentual de tabagismo e etilismo entre
os idosos, a) antes do convívio com jovens universitários, b) depois
do convívio com jovens universitários, categorizado por sexo.
Fonte: Resultados da pesquisa dos autores.
O gráfico 2 (a) mostra que a maioria dos participantes
(66,6% das mulheres e 70,6% dos homens) não praticavam
qualquer tipo de atividade física antes do convívio com os jovens universitários.
A falta de atividade física predominante nos participantes
inicialmente, implica em baixa auto-estima, sensação de cansaço, presença de dores e consequentemente baixa qualidade de
vida.
Após aproximadamente cinco meses de contato semanal
com jovens universitários, parece ter início um movimento de
Fem.
Masc.
Gráfico 4: Distribuição percentual das opiniões dos idosos do que falta na Instituição, categorizado por sexo
Fonte: Resultados da pesquisa dos autores
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
23
23
BACIUK, E. P. (et al.)
Antes
Fem.
Masc.
Depois
Fem.
Masc.
Gráfico 5: Distribuição percentual das expectativas em relação ao próprio corpo, nos idosos assistidos, a) antes do convívio com jovens
universitários, b) depois do convívio com jovens universitários, categorizado por sexo.
Fonte: Resultados da pesquisa dos autores.
mudança de hábitos entre os idosos assistidos. Observa-se
que, em relação à realização de atividade física, há um aumento
do hábito da caminhada (de 6,9% para 17,29%) entre os homens (com p-value < 0,01), reduzindo a inatividade de 48,3%
para 37,3%. Entre as mulheres os hábitos relacionados à
atividade física não se alteram.
O hábito do tabagismo e do etilismo esteve presente, respectivamente, em 14,3% e 14,8% entre mulheres e 39,3% e
37% entre os homens, antes do convívio com os jovens
24
universitários (gráfico 3 a).
No entanto, para o tabagismo e etilismo, há uma redução,
entre as mulheres, de 14,3% para 8,7% para o tabagismo e de
14,8% para 9,1% para o etilismo (com p-value < 0,03). Entre
os homens não há modificação nestes hábitos.
Quando questionados sobre o que falta no Lar, um grande
número de assistidos afirma “não falta nada”, como mostra o
gráfico 4.
Talvez esta resposta permita inferir que a necessidade de ser
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Encontro de gerações: diversidade de olhares
Masc.
Fem.
Gráfico 6: Distribuição percentual da opinião sobre seu próprio corpo na instituição, nos idosos assistidos, categorizado por sexo
Fonte: Resultados da pesquisa dos autores.
Antes
Fem.
Masc.
Depois
Fem.
Masc.
Gráfico 7: Distribuição percentual sobre a visão do próprio corpo, nos idosos assistidos, a) antes do convívio com jovens universitários,
b) depois do convívio com jovens universitários, categorizado por sexo.
Fonte: Resultados da pesquisa dos autores.
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
25
BACIUK, E. P. (et al.)
cuidado (garantia de moradia e alimentação) seja prioritária
para os idosos deste estudo. Aspectos como ”amor dos
visitantes”, “atividades de lazer”, “informação sobre os parentes”, “visitas” são aspectos visivelmente negligenciados ou
desconsiderados por esta população. Por outro lado, a incidência maior de trabalhadores rurais e domésticos pode ser uma
variável significativa na amostra.
Pode-se supor, em relação às mulheres, que a somatória do
convívio com os jovens universitários e as intervenções realizadas
na instituição, levam a uma maior compreensão das
necessidades próprias e ambientais, modificando a percepção
sobre a instituição.
Por outro lado, o incremento de atividade física por parte
dos homens, após a realização da primeira fase da pesquisa,
sugere uma melhora da consciência corporal, aumento da autoestima e indiretamente da qualidade vida, que se reflete no grau
de satisfação com a instituição. Ao mesmo tempo, deve-se
considerar que a caminhada (modalidade escolhida como
atividade física pelos homens) torna-se uma atividade
eminentemente social na instituição a partir das intervenções,
por serem realizadas em grupo e fora do espaço físico do Lar.
Salientando que no início da pesquisa, o Lar propiciava como
eventos sociais 3 (três) lanches por mês, oferecidos por
voluntárias, novenas semanais e missa aos domingos.
Simultaneamente, quando questionados sobre o desejo do
que melhorar em seu próprio corpo, inicialmente, destaca-se o
desejo de maior disposição, com média de respostas de 37,6%
e 11,8%, entre os homens e mulheres, respectivamente. Os
movimentos aparecem em segundo lugar entre os homens, com
média de respostas de 11,8%. Entre as mulheres, há destaque
para o sono, com média de 13,5% e as dores, com 11,4%.
A diferença das respostas entre homens e mulheres no item
“o que você gostaria que melhorasse no seu próprio corpo”,
antes do convívio com jovens universitários, possivelmente explica
a maior procura pela atividade física por parte dos homens,
após as intervenções.
Após os cinco meses de convívio com os jovens, não se
nota qualquer modificação neste ítem.
Aproximadamente 93% dos homens afirmam ter um corpo
participativo na instituição. Esta opção está presente em
aproximadamente 42% das mulheres. O gráfico 6 mostra a
distribuição percentual geral. Deve-se lembrar que os homens
Referências
representam 58,6% desta população e as mulheres 41,4%.
Aparentemente, a compreensão dos assistidos sobre ter um
corpo “participativo” não implica nem em realizar atividades
físicas nem sequer se envolver em eventos sociais. O que
sugere provavelmente uma visão pobre de suas possibilidades
de inserção social e da própria motricidade.
Ainda em relação à visão do idoso sobre seu próprio corpo,
os homens que corresponderam ao “ativo” apresentsm média,
no início, de 49,9% e, após convívio, de 39,5%. “Cansado”
representa média, no início, de 14,1% e, após o convívio, de
13,9%. Nas mulheres, o corpo “cansado” destaca-se, tendo de
média, no início, 20,7% e, após convívio, de 23,6% e a visão de
um corpo “útil” ou “ativo”, com média no início de 14,5% e
16,5% após, como mostram os gráficos 7 (a e b).
A percepção que os idosos têm de corpo “ativo” / ”útil” e
“cansado” não tem necessariamente uma correspondência com
a prática de atividade física ou a participação no grupo social.
Talvez tenha uma relação com as possibilidades de desenvolver
as atividades de vida diária (comunicação, locomoção, higiene,
alimentação e vestuário) de forma mais independente. Este é um
aspecto que merece atenção especial.
No início da pesquisa, no item sexualidade, destacam-se as
opções “adormecida” e “esquecida”, sendo a incidência de
respostas respectivamente 27,1% e 14,6% entre os homens e
14,6% e 6,3% entre as mulheres. E a alternativa “ativa” está
presente em 12,5% dos homens e 4,2% das mulheres, o que
talvez possa ser explicado como um traço cultural. No entanto,
não é possível relacionar as respostas encontradas na aplicação
do questionário pós-intervenções em virtude da omissão de um
número significativo de participantes, fato que distorce os
resultados.
5. Considerações finais
O estudo identifica uma clientela com baixa escolaridade,
proveniente da zona rural e predominantemente do sexo
masculino entre os moradores do Lar Vicentino São José. O
desencantamento pela vida, inicialmente predominante nos
assistidos, refletido na percepção da própria impotência para
modificar sua rotina, acomodando-se e entregando-se à
passividade, na dificuldade ou desinteresse em participar das
atividades propostas, dá lugar à mudança de hábitos. O interesse
por caminhadas, entre os homens, que traduz uma ampliação
de possibilidades de inserção social e da própria motricidade, e
a redução do tabagismo e etilismo entre as mulheres, são
aspectos que interferem de maneira incisiva na qualidade de
vida do grupo.
Há uma modificação incipiente na percepção das próprias
necessidades dos assistidos, o que é possível identificar na
mudança de percepção das mulheres sobre a instituição.
Sabe-se que quanto mais positiva a atitude do idoso em
relação à velhice e quanto melhor seu estado de saúde, melhor
a qualidade do relacionamento com outros seres humanos. A
adoção de um estilo de vida mais participativo e integrado
expressa um maior comprometimento com a vida.
BULLA, L.C, CLOSS, T.T, VENTURA, T.A. A vida cotidiana do idoso institucionalizado
institucionalizado. Rio Grande do Sul:
NEDEPS - PUC/RS. Disponível em: http://www.pucrs.br/eventos/sbpc/pucrs/relato/005.doc. Acesso em: 26 fev.
2007.
FERREIRA, P.A. Qualidade de vida nas instituições de longa permanência para idosos do estado de
Gerais São Paulo: PUC-SP. Disponível em: http://www.mp.mg.gov.br/caoppdi/legisla/artidoso/ArtigoILP.doc.
Minas Gerais.
Acesso em: 26 fev. 2007.
MARCELLINO, N. C. Lazer e Qualidade de Vida. In: MOREIRA, W.W. e SIMÕES, R. (org.), Qualidade de Vida:
Complexidade e Educação. Campinas: Papirus, 2001.
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Animação.. 4ª ed. Campinas: Papirus, 1989.
MIRANDA, D. S. O Encontro de Gerações no SESC São PPaulo:
aulo: a história de um processo de inclusão
social. Congresso Internacional Co-Educação de Gerações. SESC São Paulo, outubro 2003.
social
26
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Referências
Abstract
Encontro de gerações: diversidade de olhares
PY, L.; TREIN F. Finitude e Infinitude: Dimensões do tempo na experiência do envelhecimento. In: FREITAS, E., PY, L.,
NERI, A., CANÇADO, F., GORZONI, M., ROCHA S. (Org.) Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
This article has the purpose to study some conditions of social exclusion, as well as some questions that affect the
quality of life, of senior citizens retired in Lar Vicentino São José, in São João da Boa Vista -SP. It is focused on their
physical and mental health conditions along with the social inclusion of 31 old men and women, using a pre-designed
questionnaire form. Later, undergraduate students from UNIFAE engaged these senior citizens in playful activities for
three months, after which was reapplied the same questionnaire. It was identified a mainly masculine population, with
low level of education and from the rural area, where the initial disenchantment gave place to a change of habits, such
as interest in walking among the men, what increases the possibilities for social insertion and helps their mobility, and
the reduction on the use of tobacco and alcohol among women. These aspects affect the group quality of life. There was
an incipient modification on their needs perception. The adoption of a more participative and integrated life style can
express a stronger compromise with life itself.
SIMÕES, R. (Qual) idade de vida na (Qual) idade da vida. In: MOREIRA, W. W. (org.) Qualidade de Vida:
Complexidade e Educação.. Campinas: Papirus, 2001.
Key words
retired elderly people; Social Inclusion, Quality of Life, Youth.
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
27
Efeitos da utilização do cavalo como recurso terapêutico na
motricidade de crianças portadoras de mielomeningocele
Resumo
Mônica Cristina P. Andrade, Valéria Augusto
A pesquisa1 tem como objetivo documentar possíveis melhoras
clínicas em pacientes com mielomeningocele, que são atendidos
pela equoterapia e pela fisioterapia convencional. A
Mielomeningocele é um tipo de Espinha Bífida Cística, que consiste numa malformação congênita devida a um erro no desenvolvimento da coluna vertebral. Afeta o sistema osteoneuromuscular
e o aparelho geniturinário. O diagnóstico fisioterapêutico geralmente é a paraplegia ou paraparesia de membros inferiores. Por
outro lado, o cavalo vem sendo utilizado como recurso terapêutico
alternativo no tratamento de desordens motoras, cognitivas e sociais. Os pacientes portadores de mielomeningocele vêm apresentando considerável melhora clínica quando a terapia convencional vem acompanhada da Equoterapia. Porém o número de trabalhos científicos de qualidade é praticamente inexistente, embora o interesse nesta área tenha se mostrado relevante. Como
conclusão do estudo, pode-se afirmar que o tratamento
fisioterapêutico e a Equoterapia mostraram evoluções na maioria
dos pacientes, quanto aos testes de equilíbrio propostos. Quanto
ao tônus de cada paciente relacionado com suas funções (principalmente o engatinhar), obtiveram-se resultados positivos em dois
dos pacientes.
Autores
Mônica Cristina Paulo Andrade
Professora do Centro Universitário das
Faculdades Associadas de Ensino – FAE;
Fisioterapeuta com Mestrado em Biologia
Funcional e Molecular pelo Instituto de Biologia da Universidade Estadual de
Campinas – IB/UNICAMP.
E-mail:
[email protected]
Palavras-chave
Mielomeningocele, Equoterapia, Testes de Equilíbrio
Valéria Augusto
Professora do Centro Universitário das
Faculdades Associadas de Ensino – FAE;
Fisioterapeuta com Mestrado em Biologia
Celular e Estrutural pelo Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas
– IB/UNICAMP.
E-mail:
[email protected]
Recebido em 18/março/2007
Aprovado em 04/setembro/2007
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
28
Efeitos da utilização do cavalo como recurso terapêutico na motricidade de crianças portadoras de mielomeningocele
1. Introdução
1.1 Histórico
O primeiro trabalho sobre equitação terapêutica foi publicado por Chassaigne em 1870(cf. Guimarães). Este trabalho fala
sobre conlusões a respeito da melhora no equilíbrio, postura e
controle muscular de pacientes com distúrbios neurológicos. Em
sua pesquisa, constatou que desde 1870 até 1946 nada foi publicado sobre Equitação Terapêutica. Em 1946, então, a Escandinávia
enfatizou a importância da equitação após dois surtos de poliomielite.
O uso do cavalo como terapia foi mais estimulado a partir de
1952, graças à medalha olímpica ganha por Liz Hortel, da
Escandinávia. A campeã era portadora de poliomielite e ganhou
medalha de prata em “dessage”, uma modalidade hípica. Com
todos esses dados, vê-se a importante contribuição da Escandinávia
como precursora da hippoterapia (cf.TERRASSANI,1992).
A contribuição da Noruega para a equitação terapêutica conta com a fisioterapeuta Eliset Bodter, que foi a primeira a organizar a equitação como um recurso terapêutico para crianças deficientes.
O equitador Her Dr. Hider sofreu um acidente vascular cerebral na década de 60. Apesar das limitações adquiridas, continuou a montar, sentindo melhoras sensíveis em seu quadro clínico. Então graduou-se em fisioterapia e se propôs a conhecer
melhor a ação do cavalo em portadores de problemas neurológicos, no que diz respeito aos efeitos fisiológicos.
A fisioterapeuta dinamarquesa, Ulla Harpoth, relatou em 1970
por uma carta à norte americana Senhorita Trotter acontecimentos em hippoterapia. Relatava a respeito do famoso jóckey Jurgen
Dulo, que após um acidente enquanto montava, tornou-se
paraplégico. Este organizou um torneio hípico para deficientes,
com noventa e sete participantes; sendo campeão um dinamarquês portador de mielomeningocele. Mais tarde fundou uma escola
para pessoas paraplégicas com o Dr. Dulz. A carta dizia também
sobre localidades como Inglaterra e Holanda, que se utilizavam
da equitação terapêutica.
Hoje, encontram-se espalhados vários centros de equitação
terapêutica em vários países da Europa e Estados Unidos. O
primeiro centro dos Estados Unidos estabeleceu-se em Chicago,
em 1969.
1.2 Definição de hippoterapia
“A hippoterapia é um tratamento que visa a reabilitação global e a reintegração social de pacientes portadores de deficiência física e/ou mental
através da equitação terapêutica e que se aplica a
qualquer tipo de lesão do sistema nervoso central”. (GUIMARÃES, 1998).
1.3 Indicações
Em “A Manual for Therapeutic Horseback Programs”, os
autores classificam as patologias a serem tratadas com a
equitação terapêutica como disfunções físicas (Phisical
Disabilities) e não físicas (Non - Phisical Disabilities). Esta
última consiste em pacientes que apresentam disfunções
mentais, podendo ou não estar associadas a desabilidades
puramente funcionais (HEINE, 1997).
1.4 Contra-Indicações
As contra-indicações estão mais relacionadas aos cuidados específicos com cada paciente portador de determinada
patologia do que com a patologia, contra-indicando o tratamento com a equitação terapêutica (AUGUSTO, 1998). Por
esse motivo, é imprescindível que o fisioterapeuta tenha em
Pensamento Plural: Revista Científica do
mãos o diagnóstico médico de cada paciente, para que possam ser avaliadas as limitações de cada um em particular.
Contra-indicar o tratamento depende muito do bom senso
do terapeuta, pois doenças em processo agudo, falta de sensibilidade nas nádegas e coxas, alergias, falta de cooperação
por parte do paciente, intolerância (dor ou medo) aos movimentos do cavalo e, como já mencionado, síndromes desconhecidas são algumas das situações que devem ser evitadas.
1.5 A Mielomeningocele
A Mielomeningocele é um tipo de Espinha Bífida Cística,
que consiste numa malformação congênita devida a um erro
no desenvolvimento da coluna vertebral. Não ocorre a fusão
dos arcos vertebrais, resultando em fechamento incompleto
do canal vertebral. A medula espinhal, as raízes nervosas e
as meninges podem projetar-se através da falha da coluna
vertebral. O tecido nervoso é anormal e encontra-se, às vezes, preso à superfície interna de uma das membranas e,
outras vezes, está exposto a céu aberto, quando há
mielosquise (ausência completa de fechamento do tubo
neural). A incidência geralmente ocorre entre 1 e 4 casos por
1.000 recém-nascidos vivos. O tipo e a intensidade das deficiências neurológicas e funcionais dependem da localização e da extensão da falha. A região mais freqüente da
mielomeningocele é a lombossacra, tendo como manifestações clínicas: hipotonia (paralisia flácida); diminuição da força
muscular; hipotrofia muscular; diminuição ou abolição dos reflexos tendíneos; diminuição ou abolição da sensibilidade
exteroceptiva e proprioceptiva; incontinência dos esfíncteres de
reto e bexiga; deformidades de origem paralítica e congênita;
hidrocefalia. Afeta o sitema osteoneuromuscular e o aparelho
geniturinário. O diagnóstico fisioterapêutico geralmente é a
paraplegia ou paraparesia de membros inferiores.
2. Objetivos
O objetivo deste trabalho foi analisar e documentar possíveis melhoras clínicas em pacientes com mielomeningocele,
que são atendidos pela equoterapia e pela fisioterapia convencional.
3. Materiais e métodos
3.1 Plano de trabalho
Foram realizadas avaliações em todos os participantes
do estudo, detectando-se suas principais limitações e
disfunções. Após esta, foram iniciados os atendimentos em
equoterapia, com exercícios de estimulação sensorial, de
equilíbrio, coordenação e de estímulo ao movimento passivo e voluntário.
Após seis meses de estimulação, foi avaliado o desempenho motor desses pacientes, observando-se possíveis alterações em suas funções motoras.
A avaliação desses pacientes seguiu o mesmo padrão
das avaliações realizadas no setor de Fisioterapia em Neurologia – Pediatria.
Participaram deste estudo quatro portadores de
mielomeningocele do sexo masculino, tendo idades entre 2
e 11 anos. Foram realizadas avaliações em todos os participantes do estudo, detectando suas principais limitações e
disfunções.
Foram realizadas sessões de equoterapia nas dependências do Centro de Equoterapia Macaubeiras, em São João da
Boa Vista. Este Centro já se encontra cadastrado na Associação Nacional de Equoterapia (ANDE – Brasil), entidade que
regulamenta o funcionamento e a prática dos centros filiados.
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
29
ANDRADE, M. C. P., AUGUSTO, V.
4. Resultados e conclusões
Foram analisadas as avaliações iniciais (antes do tratamento) e as avaliações finais (1 ano depois do início do
tratamento) de cada paciente e comparadas entre si. Além da
ficha de avaliação utilizada, examinou-se também a função
de engatinhar, considerando ser esta uma função primordial
aos pacientes portadores de Mielomeningocele para sua locomoção, visto que não possuem movimentos e força suficientes para se manterem na postura em pé, sem auxílio.
Obteve-se os seguintes resultados:
PACIENTE 1
1- L.C.C.T – 1 ano
Primeira Avaliação - realizada em 30 de setembro de 2005.
Tabela 1 - EQUILÍBRIO ESTÁTICO
Bom
Em pé
Sentado
Dec.dorsal
Dec.lateral
Dec.ventral
Gatas
Semi-ajoelhado
Ajoelhado
Regular
Ruim
Ausente
x
x
x
x
x
x
x
x
Obs.: o paciente ficou de gatas e ajoelhado com auxílio do fisioterapeuta.
Tabela 2 - EQUILÍBRIO DINÂMICO E DISSOCIAÇÃO
Rolar de dec.dorsal p/ ventral
Rolar de dec. ventral p/ dorsal
De ventral p/ gatas
De dorsal p/ sentado
De sentado p/ dec.dorsal
De gatas p/ sentado sobre os calcanhares
De sentado sobre os calcanhares p/ ajoelhado
De ajoelhado p/ semi-ajoelhado
De semi-ajoelhado p/ em pé
De em pé p/ sentado
Sem
Com
dissociação dissociação
x
x
Sem
auxílio
x
x
Com
auxílio
Não
realiza
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Nesta primeira avaliação, o paciente apresenta um atraso no seu desenvolvimento neuropsicomotor, para sua idade
cronológica. Isso justifica-se pelo equilíbrio estático sentado
regular e de gatas e ajoelhado ruins.
No equilíbrio dinâmico, as mudanças de decúbito de ventral para gatas e de dorsal para sentado apresentam-se
insatisfatórias, pois o paciente só as realiza com auxílio. Já
as mudanças de gatas para sentado sobre os calcanhares, de
sentado sobre os calcanhares para ajoelhado, de ajoelhado
para semi-ajoelhado, de semi-ajoelhado para em pé e de em
pé para sentado ainda estão ausentes.
A função de engatinhar também está ausente.
PACIENTE 1
1- L.C.C.T – 2 anos
Segunda avaliação - realizada em 30 de setembro de 2006
Tabela 3 - EQUILÍBRIO ESTÁTICO
Bom
Em pé
Sentado
Dec.dorsal
Dec.lateral
Dec.ventral
Gatas
Semi-ajoelhado
Ajoelhado
30
Regular
Ruim
Ausente
x
x
x
x
x
x
Pensamento Plural: Revista Científica do
x
x
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Efeitos da utilização do cavalo como recurso terapêutico na motricidade de crianças portadoras de mielomeningocele
Tabela 4 - EQUILÍBRIO DINÂMICO E DISSOCIAÇÃO
Rolar de dec.dorsal p/ ventral
Rolar de dec. ventral p/ dorsal
De ventral p/ gatas
De dorsal p/ sentado
De sentado p/ dec.dorsal
De gatas p/sentadosobreos calcanhares
De sentadosobre os calcanhares p/ajoelhado
De ajoelhadop/ semi-ajoelhado
De semi-ajoelhado p/ em pé
De em pé p/ sentado
Sem
Com
dissociação dissociação
x
x
x
Sem
auxílio
x
x
x
Com
auxílio
Não
realiza
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Houve uma melhora considerável no equilíbrio estático sentado e de gatas, além da postura de semi-ajoelhado, que era
ausente e agora está presente, porém ruim.
No equilíbrio dinâmico, a mudança de sentado sobre os cal-
canhares para ajoelhado não realizava e agora realiza com auxílio. De ventral para gatas, realizava com auxílio e agora realiza
sem auxílio. Vários encurtamentos musculares instalaram-se nesse período, mas a função de engatinhar já está presente.
PACIENTE 2 – K.V.R.S. – 5 anos
Primeira Avaliação - realizada em 20 de setembro de 2005
Tabela 5 - EQUILÍBRIO ESTÁTICO
.
Bom
Em pé
Sentado
Dec.dorsal
Dec.lateral
Dec.ventral
Gatas
Semi-ajoelhado
Ajoelhado
Regular
Ruim
x
Ausente
x
x
x
x
x
x
x
Obs.: o paciente ficou em pé com auxílio do fisioterapeuta.
Tabela 6 - EQUILÍBRIO DINÂMICO E DISSOCIAÇÃO
Rolar de dec.dorsal p/ ventral
Rolar de dec. Ventral p/ dorsal
De ventral p/ gatas
De dorsal p/ sentado
De sentado p/ dec.dorsal
De gatas p/ sentado sobre os calcanhares
De sentado sobre os calcanhares p/ ajoelhado
De ajoelhado p/ semi-ajoelhado
De semi-ajoelhado p/ em pé
De em pé p/ sentado
Sem
Com
dissociação dissociação
x
x
x
Com
auxílio
Não
realiza
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Para a idade cronológica, o paciente apresenta um atraso
no seu desenvolvimento neuropsicomotor. A função de
engatinhar já está presente. O paciente faz uso de órteses
em membros inferiores, que auxiliam na marcha com andador.
Pensamento Plural: Revista Científica do
Sem
auxílio
x
x
x
Nos testes de equilíbrio estático, apenas na posição
ajoelhado está regular e em pé ruim. No equilíbrio dinâmico, está com bons resultados dentro dos limites
da patologia.
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
31
ANDRADE, M. C. P., AUGUSTO, V.
PACIENTE 2 – K.V.R.S. – 6 anos
Segunda Avaliação - Realizada em 17 de novembro de 2006
Tabela 7 - EQUILÍBRIO ESTÁTICO
Bom
Em pé
Sentado
Dec.dorsal
Dec.lateral
Dec.ventral
Gatas
Semi-ajoelhado
Ajoelhado
Regular
Ruim
x
Ausente
x
x
x
x
x
x
x
Obs.: o paciente apresentou equilíbrio regular na posição semi-ajoelhado (sobre o joelho esquerdo).
Tabela 8 - EQUILÍBRIO DINÂMICO E DISSOCIAÇÃO
Rolar de dec.dorsal p/ ventral
Rolar de dec. Ventral p/ dorsal
De ventral p/ gatas
De dorsal p/ sentado
De sentado p/ dec.dorsal
De gatas p/ sentado sobre os calcanhares
De sentado sobre os calcanhares p/ ajoelhado
De ajoelhado p/ semi-ajoelhado
De semi-ajoelhado p/ em pé
De em pé p/ sentado
Sem
Com
dissociação dissociação
x
x
x
x
x
x
x
Sem
auxílio
x
x
x
x
x
x
x
Com
auxílio
Não
realiza
x
x
x
O equilíbrio estático manteve-se praticamente igual como
na primeira avaliação. Já nos testes de equilíbrio dinâmico,
houve uma melhora considerável, principalmente de dorsal
x
para sentado e de em pé para sentado.
O paciente iniciou treino de marcha com órteses e muletas
canadenses, mas ainda sem muito equilíbrio dinâmico.
PACIENTE 3
3- G.F.M – 5 anos
Primeira Avaliação - realizada em 30 de setembro de 2005.
Tabela 9 - EQUILÍBRIO ESTÁTICO
Bom
Em pé
Sentado
Dec.dorsal
Dec.lateral
Dec.ventral
Gatas
Semi-ajoelhado
Ajoelhado
Regular
Ruim
Ausente
x
x
x
x
x
x
x
x
Tabela 10 - EQUILÍBRIO DINÂMICO E DISSOCIAÇÃO:
Sem
Com
dissociação dissociação
Rolar de dec.dorsal p/ ventral
x
Rolar de dec. Ventral p/ dorsal
x
De ventral p/ gatas
De dorsal p/ sentado
De sentado p/ dec.dorsal
x
De gatas p/ sentado sobre os calcanhares
x
De sentado sobre os calcanhares p/ ajoelhado
De ajoelhado p/ semi-ajoelhado
De semi-ajoelhado p/ em pé
De em pé p/ sentado
32
Pensamento Plural: Revista Científica do
Sem
auxílio
x
x
Com
auxílio
Não
realiza
x
x
x
x
x
x
x
x
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Efeitos da utilização do cavalo como recurso terapêutico na motricidade de crianças portadoras de mielomeningocele
Para a idade cronológica, o paciente apresenta um atraso
no seu desenvolvimento neuropsicomotor. Nos testes de
equilíbrio estático, as posições com maiores dificuldades são
gatas, ajoelhado, semi-ajoelhado e em pé.
No equilíbrio dinâmico, também apresenta dificuldades
em várias mudanças de decúbito vistas na tabela acima. Não
apresenta função de engatinhar. Locomove-se arrastando-se
sentado ou de ventral no chão.
PACIENTE 3 - G.F.M – 6 anos
Segunda Avaliação - Realizada em 01 de agosto de 2006
Tabela 11 - EQUILÍBRIO ESTÁTICO
Bom
Em pé
Sentado
Dec.dorsal
Dec.lateral
Dec.ventral
Gatas
Semi-ajoelhado
Ajoelhado
Regular
Ruim
Ausente
x
x
x
x
x
x
x
x
Tabela 12 - EQUILÍBRIO DINÂMICO E DISSOCIAÇÃO
Rolar de dec.dorsal p/ ventral
Rolar de dec. Ventral p/ dorsal
De ventral p/ gatas
De dorsal p/ sentado
De sentado p/ dec.dorsal
De gatas p/ sentado sobre os calcanhares
De sentado sobre os calcanhares p/ ajoelhado
De ajoelhado p/ semi-ajoelhado
De semi-ajoelhado p/ em pé
De em pé p/ sentado
Sem
Com
dissociação dissociação
x
x
x
x
x
x
x
Sem
auxílio
x
x
x
x
x
x
x
Com
auxílio
Não
realiza
x
x
x
No equilíbrio estático, apenas a função de gatas
melhorou.
Já nos testes de equilíbrio dinâmico, houve melhoras em
várias mudanças de decúbito como: de ventral p/ gatas, de
dorsal p/ sentado e de sentado sobre os calcanhares p/ ajo-
elhado que eram realizadas com auxílio e agora já sem auxílio. A função de engatinhar não está presente.
Vale salientar que o paciente faltou em 20% das terapias,
devido a visitas freqüentes à AACD, afim de programar cirurgia de alongamento de tendão calcanear.
PACIENTE 4 – M.H.S – 10 anos
Primeira Avaliação - realizada em 30 de setembro de 2005.
Tabela 13 - EQUILÍBRIO ESTÁTICO
Bom
Em pé
Sentado
Dec.dorsal
Dec.lateral
Dec.ventral
Gatas
Semi-ajoelhado
Ajoelhado
Regular
Ruim
Ausente
x
x
x
x
x
x
x
x
Obs.: o paciente ficou semi-ajoelhado com auxílio do fisioterapeuta.
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
33
ANDRADE, M. C. P., AUGUSTO, V.
Tabela 14 - EQUILÍBRIO DINÂMICO E DISSOCIAÇÃO
Rolar de dec.dorsal p/ ventral
Rolar de dec. Ventral p/ dorsal
De ventral p/ gatas
De dorsal p/ sentado
De sentado p/ dec.dorsal
De gatas p/ sentado sobre os calcanhares
De sentado sobre os calcanhares p/ ajoelhado
De ajoelhado p/ semi-ajoelhado
De semi-ajoelhado p/ em pé
De em pé p/ sentado
Sem
Com
dissociação dissociação
x
x
x
x
x
x
Sem
auxílio
x
x
x
x
x
x
Com
auxílio
Não
realiza
x
x
x
x
Obs.: o paciente fica de ajoelhado para semi-ajoelhado com auxílio do fisioterapeuta.
O paciente já possuía encurtamentos em musculatura anterior e
posterior de membros inferiores, que contribuem para as maiores
dificuldades de equilíbrio tanto estático quanto dinâmico.
Pela idade cronológica, há um atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.Não realiza o engatinhar. Locomove-se
independente com cadeira de rodas.
Paciente 4 – M.H.S – 11 anos
Segunda Avaliação - realizada em 30 de setembro de 2006.
Tabela 15 - EQUILÍBRIO ESTÁTICO
Bom
Em pé
Sentado
Dec.dorsal
Dec.lateral
Dec.ventral
Gatas
Semi-ajoelhado
Ajoelhado
Regular
Ruim
Ausente
x
x
x
x
x
x
x
x
Obs.: o paciente tem dificuldades na posição de gatas em três apoios.
Tabela 16 - EQUILÍBRIO DINÂMICO E DISSOCIAÇÃO
Rolar de dec.dorsal p/ ventral
Rolar de dec. Ventral p/ dorsal
De ventral p/ gatas
De dorsal p/ sentado
De sentado p/ dec.dorsal
De gatas p/ sentado sobre os calcanhares
De sentado sobre os calcanhares p/ ajoelhado
De ajoelhado p/ semi-ajoelhado
De semi-ajoelhado p/ em pé
De em pé p/ sentado
Sem
Com
dissociação dissociação
x
x
x
x
x
x
x
Melhorou em alguns testes de equilíbrio estático como
na posição ajoelhada que era ruim e agora está regular.
No equilíbrio dinâmico, melhorou de sentado sobre os
calcanhares p/ ajoelhado que não realizava e agora realiza
34
Sem
auxílio
x
x
x
x
x
x
Com
auxílio
Não
realiza
x
x
x
x
com auxílio. Mas de ajoelhado p/ semi-ajoelhado realizava
com auxílio e nesta avaliação posterior não realizou. Não
realiza o engatinhar. Continua com os encurtamentos musculares.
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Efeitos da utilização do cavalo como recurso terapêutico na motricidade de crianças portadoras de mielomeningocele
5. CONCLUSÕES
Referências
(1) O estudo integra o Programa de Apoio à Pesquisa
Científica (PAPEC), patrocinado pelo UNIFAE
Notes
Notas
Como conclusão final e estudo individualizado dos casos,
pode-se afirmar que o tratamento fisioterapêutico e a Equoterapia
mostraram evoluções, na maioria dos pacientes, quanto aos testes de equilíbrio propostos.
Quanto ao tônus de cada paciente relacionado com suas
funções (principalmente o engatinhar) obteve-se resultados
positivos com os pacientes 1 e 2.
Sugere-se que os resultados dos efeitos da Equoterapia em
pacientes com Mielomeningocele sejam melhores analisados em
situações onde o paciente permaneça maior tempo em tratamento.
(1) The study is part of the Program in Support of
the Scientific Research (PAPEC), sponsored by
UNIFAE.
AUGUSTO, V. Equoterapia
Equoterapia: Levantamento bibliográfico sobre as principais indicações e contra-indicações do
método. São Carlos: UFSCar, 1998. p. 76. Monografia para conclusão de curso.
GUIMARÃES, F, L. Primeiro encontro brasileiro informativo de hippoterapia
hippoterapia. Barueri: Livraria 1998. p. 2527.
HEINE, B. Hippotherapy: a multisystem approach to the treatment of neuromuscular disorders. Australian
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ROSENBERG, S. Neuropediatria
Neuropediatria. São Paulo: Sarvier, 1992.
ediatria
SHEPHERD, R. Fisioterapia em PPediatria
ediatria. 3 ed., São Paulo: Livraria Santos, 1996.
Abstract
TERRASSANI, W, J. Hippoterapia como método coadjuvante do método neuroevolutivo na paralisia
cerebral. Campinas: PUCCAMP, 1992. p.134. Monografia para conclusão de curso.
The objective of this research1 is to register possible clinical improvements in patients with Mielomeningocele who
have being treating by Equine therapy and conventional physiotherapy. The Mielomeningocele is a type of Cystic Spina
Bifida that consists of a congenital malformation due to an error in the development of the vertebral column. It affects
the osteoneuromuscular system and the genitourinary system. Generally the physiotherapeutic diagnosis is paraplegia
or paraparesis of inferior members. On the other hand, horse riding is being used as an alternative therapeutic
resource in the treatment of motor, cognitive and social diseases. Patients with Mielomeningocele present considerable
clinical improvement when the conventional therapy is associated with Equine therapy. However the number of good
scientific works is practically inexistent, even so the interest about this area is increasing. As a conclusion of the study2,
it can be affirmed that the physiotherapeutic and Equine therapeutic treatment had shown improvements, considering
balance tests, on majority of the patients. It had positive results in two of the patients with respect to tonus related
functions (crawl mainly).
Key words
Meilomeningocele, Equine Therapy, Balance Tests
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
35
35
Avaliação da amplitude de
movimento dos ombros em mulheres
operadas por câncer de mama
Resumo
Maria Catarina Valério Riograndense da Silva, Laura Ferreira de Rezende
O objetivo deste estudo1 foi avaliar a amplitude de movimento
(ADM) dos ombros das mulheres no pós-operatório de câncer de
mama na cidade de São João da Boa Vista. Para este estudo foram
convidadas a participar do estudo 90 mulheres, das quais 14 aceitaram. Foi realizada goniometria (exame realizado para determinar amplitude do movimento articular) para avaliação da ADM do
ombro e aplicada uma ficha para coleta de dados pessoais e sobre
a cirurgia. Foram encontrados ADM funcionais de flexão, abdução
e rotação externa do ombro acometido, sem diferença significativa com o membro contralateral.
Autores
Laura Ferreira de Rezende,
Coordenadora do Curso de Fisioterapia
(noturno) e Professora do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino
– FAE; Fisioterapeuta doutoranda em
Tocoginecologia pela Faculdade de
Ciências Médicas da Universidade Estadual
de Campinas – FCM/UNICAMP e
Mestrado
E-mail:
[email protected]
Palavras-chave
Amplitude de Movimento, Ombros, Câncer de Mama, Pós-operatório.
Maria Catarina Valério Riograndense
da Silva,
Aluna do 3o ano do curso de Fisioterapia
do Centro Universitário das Faculdades
Associadas de Ensino – FAE.
E-mail:
[email protected]
Recebido em 18/março/2007
Aprovado em 04/setembro/2007
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
36
Avaliação da amplitude de movimento dos ombros em mulheres operadas por câncer de mama
1. Introdução
O câncer de mama apresenta grande incidência e significativos índices de mortalidade entre as mulheres. Em 2000,
foram registradas no Brasil 8.390 mortes decorrentes deste
tipo de câncer. Dos 467.440 novos casos diagnosticados
em 2005, o câncer de mama foi o segundo mais incidente
entre a população feminina, sendo responsável por 49.470
novos casos (BRASIL, 2005).
Nos EUA, 211.300 novos casos foram diagnosticados
em 2003, apresentando um crescimento de 2% ao ano na
taxa de incidência. Uma em cada 14 mulheres entre 60 e 79
anos terão câncer de mama, sendo que 50% delas receberão
o diagnóstico com 65 anos ou mais, o que representará 20%
da população em geral em 2030. Considerando a expectativa de vida de 17.5 anos para essas mulheres, tornou-se
fundamental o aprimoramento das técnicas de reabilitação
para proporcionar uma adequada qualidade de vida física e
mental (HOLMES e MUSS, 2003).
A reabilitação física, realizada por meio da fisioterapia,
desempenha papel fundamental no restabelecimento das funções do membro superior, na prevenção de formação de
cicatrizes aderentes e de disfunções linfáticas como o
linfedema .
Várias são as razões para que se recomende a fisioterapia no pós-operatório de câncer de mama (SACHS et al.,
1981; CAMARGO e MARX, 2000):
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Pela contratura da musculatura da região escapular,
principalmente de trapézios e adutores, devido ao
estresse da cirurgia e do tratamento complementar;
Pela posição de extrema amplitude do membro superior durante o ato cirúrgico;
Pelo potencial de desenvolvimento de retrações e
lesões músculo-tendinosas e articulares no pós-operatório;
Pela alteração da imagem corporal;
Pelo medo de dor, deiscência e possibilidade de incapacidade do membro superior;
Pela necessidade de posicionar o membro superior
com, no mínimo, 90 graus de flexão, abdução e rotação externa para a realização de radioterapia;
Para prevenção do linfedema, uma vez que a
contração muscular é um fator de aumento do retorno linfático;
Pela alteração postural gerada pelo fator mecânico,
principalmente em mulheres com mama grande e
pesada, levando a elevação e rotação interna do
ombro, com abdução da escápula e contratura da
musculatura cervical;
Pela diminuição da elasticidade e mobilidade da
musculatura que compõe o cavo axilar, provocando
incapacidade funcional e limitação articular.
A disfunção da amplitude de movimento do ombro é uma
das complicações mais comuns das cirurgias de câncer de
mama, atingindo mais de 50% das mulheres no pós-operatório (SUGDEN et al., 1998) interferindo na qualidade de
vida das pacientes, uma vez que pode causar limitações funcionais e laborais.
Outro ponto importante é o desequilíbrio postural causado pelo membro limitado, além do risco de desenvolvimento de linfedema no braço. Podem ser observados, também, problemas de posicionamento na radioterapia, uma
vez que pacientes com limitações severas de movimento apresentam impossibilidade para colocar o braço em abdução e
rotação externa (SUGDEN et al., 1998).
Pensamento Plural: Revista Científica do
O progresso do comprometimento da função do ombro
deve ser acompanhado cuidadosamente. O desenvolvimento total ou parcial das limitações articulares requer uma reabilitação com exercícios intensos. A capsulite adesiva ou
ombro congelado é uma complicação do pós-operatório de
câncer de mama em decorrência da limitação dos movimentos da articulação glenoumeral. Isso é provocado pela imobilização prolongada, o que causou dores articulares ao
movimentar-se e provoca compensações posturais importantes. Dessa forma a realização de exercícios no pós-operatório minimizaria essa complicação.
Serviços de saúde de referência em tratamento de câncer
de mama apresentam rotineiramente um programa de reabilitação que inclui o serviço de fisioterapia. Entretanto, cidades de menor porte apresentam descentralização do serviço,
sendo que o atendimento de fisioterapia nem sempre é realizado ou realizado tardiamente.
2. Objetivo geral
Avaliar a Amplitude de Movimento (ADM) do ombro em
mulheres operadas de câncer de mama na cidade de São
João da Boa Vista entre os anos de 2000 e 2004.
3. Objetivo específico
Avaliar, nas mulheres operadas por câncer de mama, a
amplitude de movimento de:
- flexão de ombro;
- abdução de ombro;
- rotação externa de ombro.
4. Critérios de inclusão e exclusão
- Primeira cirurgia por câncer de mama;
- Cirurgia realizada entre os anos de 2000 e 2004;
- Cirurgia realizada na cidade de São João da Boa Vista
ou acompanhamento pós-operatório realizado na cidade.
5. Sujeitos e métodos
Foram estudadas 14 mulheres operadas por câncer
de mama no período de 2000 a 2004, independentemente
do estadiamento e do tipo de cirurgia realizada, selecionadas
no Grupo Renascer de São João da Boa Vista, nos meses de
agosto e setembro de 2006. Foi realizada goniometria para
avaliação da ADM do ombro e aplicada uma ficha para coleta
de dados pessoais e sobre a cirurgia. Todas as pacientes
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
A goniometria foi utilizada para medir a amplitude de
movimento da articulação do ombro, em graus. O aparelho
utilizado foi um goniômetro (marca CARCI), que é um círculo
completo (0 a 360°) que acompanha o arco de movimento.
Para realizar a goniometria, o sujeito permaneceu com a
região a ser avaliada despida, com movimentação ativo-livre
do ombro e com bom alinhamento postural.
Na flexão do ombro, o movimento foi realizado levando
o braço para frente, com a palma da mão voltada medialmente
paralela ao plano sagital, em decúbito dorsal.
Na abdução do ombro, o movimento foi realizado levando o braço lateralmente ao corpo, com palma da mão voltada
anteriormente paralela ao plano frontal, em decúbito lateral.
Na rotação externa do ombro, o movimento foi realizado com o braço em 90 graus de abdução, mantendo o cotovelo em flexão de 90 graus, levando-o em rotação lateral,
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
37
37
da SILVA, M. C. V. R., REZENDE, L. F
gem linfática acrescida aos exercícios e apenas uma realizou
eletroterapia, o que não é comumente indicado. Sete pacientes relatam dor no membro superior e cinco relatam
dormência em face póstero-medial do braço.
Esse trabalho teve como objetivo avaliar pacientes que já
tem no mínimo dois anos de pós-operatório, e os resultados
encontrados são satisfatórios para a funcionalidade da paciente. O uso funcional da amplitude de movimento do ombro
é definido como 145 graus de abdução, 160 graus de flexão
e 80 graus de rotação externa (GERBER et al., 1992), sendo
que 100-120 graus de média de abdução e 120-140 graus
de média de flexão representam sérios prejuízos funcionais
(BOX et al., 2002). As diferenças encontradas no membro
acometido e no membro não acometido não representam
diferença estatística e clínica significativa.
Apesar da importância funcional e de qualidade de
vida da paciente, além da precoce reabilitação do movimento, vários estudos mostram que não há prejuízo para a amplitude de movimento articular, a longo prazo, em pacientes no
pós-operatório de câncer de mama. (CHEN e CHEN, 1999).
em decúbito dorsal.
Foram contatadas 68 mulheres, número total de pacientes cadastradas no Grupo Renascer, de um total de 90 operadas segundo cadastro da Secretaria Municipal de Saúde. Dessas apenas 14 preencheram os critérios de inclusão e concordaram em participar da pesquisa.
As fichas de avaliação foram submetidas à revisão com
relação à qualidade e legitimidade das informações. Os dados foram codificados e duplamente digitados, utilizando o
programa Excel. Procedeu-se, então, a limpeza dos dados,
obtendo o arquivo final a ser utilizado para análise. Os dados foram armazenados com cópia em local seguro. Os
dados foram avaliados descritivamente através de média,
desvio, mediana, mínimo e máximo, sendo as variáveis contínuas.
6. Resultados/discussão
Referências
7. Considerações finais
(1) O estudo integra o Programa de Apoio à Iniciação
Científica (PAIC), patrocinado pelo UNIFAE.
Não sendo São João da Boa Vista um município de
referência para o tratamento de câncer de mama e não possuindo um serviço de reabilitação especializado, os resultados obtidos são satisfatórios, com déficits aceitáveis para a
funcionalidade.
Outra questão importante observada no trabalho foi a
relutância dos profissionais da saúde do município e das
pacientes em participar da pesquisa, que compreendia um
questionário e avaliação da medida da amplitude de movimento do ombro. A cultura científica precisa ser implantada e
cada vez mais explorada para que os resultados clínicos possam ser melhores. O tamanho da amostra do trabalho foi
limitado devido à recusa das pacientes em informar.
Notes
Notas
A média de idade das pacientes foi 60,5 anos (7347), sendo que 9 pacientes realizaram cirurgia conservadora
e 5 mastectomia radical, todas com esvaziamento axilar completo. Destas, 12 realizaram cirurgia na Santa Casa de São
João da Boa Vista, uma em serviço privado do município e
outra fora do município. Onze pacientes realizaram radioterapia.
A média de flexão do ombro encontrada no membro
acometido foi de 145,43º (174-108), em comparação com
154,93º (174-125) do membro contralateral.
A média de abdução do ombro do membro acometido foi de 162,14° (98-180), em comparação com 162,57º
(178-142) do membro contralateral.
A média de rotação externa do ombro do membro acometido foi de 80,71° (88-70), em comparação com 81,43º
(90-62) do membro contralateral.
Realizaram fisioterapia no pós-operatório 12 pacientes,
dentre as quais sete realizaram exercícios individualmente e
as outras sete realizaram em grupo. Cinco realizaram drena-
(1) The study is part of the Program in Support of
Undergraduate research (PAIC), sponsored by
UNIFAE.
BOX, R.C., REUL-HIRCHE, H.M., BULLOCK-SAXTON, J.E., FURNIVAL, C.M. Shoulder movement after breast cancer
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GERBER, L.; LAMPERT, M.; WOOD, C.; DUNCAN, M.; D´ANGELO, T.; SCHAIN, W. et al. Comparison of pain,
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Rehabil,
38
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Abstract
Avaliação da amplitude de movimento dos ombros em mulheres operadas por câncer de mama
The objective of this study1 was to evaluate the amplitude of shoulder’s movement (ADM) of women, who are in a post
breast cancer surgery codition in São João da Boa Vista. For this study, 90 women had been invited to participate, of
which 14 had accepted. Goniometry was used for the evaluation of the shoulders’ ADM and it was applied a form to
collect the personal dates about the surgery. It was found an ADM functional flexion, shoulders external abduction and
external rotation, without significant differences with a contralateral limb.
Key words
Amplitude of Movement, Shoulders, Breast Cancer, Post Surgery.
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, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
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39
Avaliação funcional de cardiopatas
após fisioterapia cardiovascular fase III
Resumo
Tatiana Lucio de Souza, Daniele Albano Pinheiro
O objetivo desse estudo1 foi avaliar a performance de cardiopatas
atendidos na Fisioterapia Cardiovascular fase III, da Clínica-Escola do UNIFAE, comparando testes antes e depois do treinamento.
Realizaram-se testes de avaliação funcional em 15 cardiopatas de
ambos os sexos antes e depois de 16 sessões de Fisioterapia
cardiovascular (8 semanas).A doença cardiovascular, hoje em, dia
tem grande morbi-mortalidade, sendo que muitos são os fatores
de risco para sua instalação e agravamento. Entretanto, essa
disfunção é beneficiada com a prática regular de atividade física,
denominada de treinamento físico ou Fisioterapia Cardiovascular
fase III, uma fase ambulatorial. A melhor forma de se observar
essas mudanças benéficas do treinamento é através da realização
de testes de avaliação funcional. Com os resultados, observa-se
uma melhora na resposta dos valores de pressão arterial, tanto
sistólica como diastólica, com valores menores após treinamento
físico e com maior carga máxima do teste pós-treinamento. Como
conclusão tem-se que o treinamento físico aplicado pelos alunos
do UNIFAE na Reabilitação Cardíaca melhorou a performance
dos voluntários que participaram do estudo, com melhores respostas aos testes de avaliação funcional.
Autores
Daniele Albano Pinheiro
Professora do Centro Universitário das
Faculdades Associadas de Ensino – FAE;
Fisioterapeuta com Mestrado Ciências
Fisiológicas pelo Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal
de São Carlos - CBS/UFSC.
E-mail:
[email protected]
Palavras-chave
Avaliação Funcional, Cardiopatas, Fisioterapia Cardiovascular
Fase III
Tatiana Lucio de Souza
Aluna do 5o semestre do curso de Fisioterapia do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE.
E-mail:
[email protected]
Recebido em 18/março/2007
Aprovado em 04/setembro/2007
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
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Avaliação funcional de cardiopatas após fisioterapia cardiovascular fase III
1. Introdução
O sedentarismo era considerado um fator de risco secundário para qualquer doença, o qual vem sendo estudado desde 1950; somente a partir de 1992 foi reconhecido como fator de risco primário para a morbidade
populacional, principalmente para doença cardiovascular
(SILVA, 1999). Existem estudos que demonstram que o
sedentarismo está associado à maior incidência de doença coronária e que a atividade física é importante na prevenção primária e secundária dessa doença. Assim, a ação
benéfica da atividade física atua sobre vários fatores de
risco e tem sido demonstrado que a intensidade do exercício é capaz de melhorar o perfil metabólico necessário
para se desenvolver a capacidade cardiorrespiratória
(GRIMA, 1996; RAMOS, 2000).
O exercício e atividade física fazem parte da vida da
maioria dos indivíduos, tornando-os fisicamente ativos e
possibilitando-os desempenhar atividades simples. Esta
prática do exercício busca melhorar, manter ou expressar
um tipo específico de aptidão física, que na verdade se
define como: função corporal capaz de tolerar o estresse
do exercício, sendo que a prática regular de atividade física é denominada de treinamento físico (REGENGA, 2000).
Cada tipo de pessoa busca o treinamento físico de
acordo com suas condições. Os indivíduos sedentários
procuram os exercícios para que consigam o bem-estar
físico, social e mental e, assim, evitar possíveis doenças.
Já os atletas se submetem aos duros programas de exercícios por motivações intrínsecas como competência social,
prazer pelo sucesso e desenvolvimento cardiorrespiratório
e motor. No entanto, os indivíduos portadores de alguma
doença orgânica, metabólica ou psicossomática (por exemplo, pacientes cardíacos e/ou obesos), buscam no exercício retomar suas capacidades funcionais que foram debilitadas pela doença (NEGRÃO; BARRETO, 2005).
Dentre as cardiopatias, a hipertensão arterial é hoje a
mais comum e a que também complica a função
cardiovascular. Ela é modernamente entendida como uma
doença inserida em um contexto mais abrangente do que
apenas naquele resultante da simples definição dos níveis
pressóricos e é, hoje, considerada, por muitos, como um
critério intermediário dentro de um amplo quadro de
disfunção cardiovascular (DOUGLAS, 2002). O conceito
mais atual da doença caracteriza-a como uma condição
sistêmica que envolve a presença de alterações estruturais das artérias e do miocárdio, associadas à disfunção
endotelial e a vasoconstrição, com remodelamento da musculatura lisa vascular, resultando em aumento dos valores
de pressão arterial (MENDES, 2006). As diretrizes definem a hipertensão arterial quando a pressão arterial
sistólica, a pressão determinada na sístole ventricular, se
encontra em níveis iguais ou acima de140mmHg e/ou
quando a pressão arterial diastólica, pressão determinada
na diástole do ventrículo, for igual ou superior do que
90mmHg em duas ou mais ocasiões de aferição (ACSM,
2003; GUYTON e HALL, 2002; RONDON E BRUM,
2003).
Sabe-se que, com a realização de um treinamento físico regular, há adaptações fisiológicas significativas, principalmente no sistema cardiovascular-sangüíneo, que resultam em melhora dos níveis pressóricos de indivíduos
hipertensos. Assim, a prática regular de atividade física é
uma maneira de se prevenir doenças, principalmente as
cardiovasculares, já que esse treinamento físico promove
adaptações fisiológicas benéficas ao paciente (GHORAYEB
e col. 1999; LEITE, 2000).
Pensamento Plural: Revista Científica do
1.1 Fisioterapia cardiovascular ambulatorial – fase
III da reabilitação cardiovascular
A fisioterapia cardiovascular atua como parte integrante
da reabilitação cardíaca na fase tardia: recuperação e manutenção do cardiopata. A realização é considerada no período de doze semanas após a alta hospitalar para pacientes
que se submeteram à cirurgia de revascularização do
miocárdio, que foram acometidos por um episódio agudo de
infarto do miocárdio ou se submeteram a um procedimento
hemodinâmico ou, ainda, para os indivíduos que apresentam
fatores de risco para a doença coronária. Sendo, portanto,
considerada também uma fase preventiva à doença cardíaca/
coronariana. Assim, a fisioterapia intervém de forma preventiva e curativa, por meio da aplicação de programas de treinamento físico ambulatorial e comunitário, com supervisão
continuada (REGENGA, 2000).
A intervenção preventiva fisioterapêutica visa à profilaxia,
a partir de controle e redução dos fatores de risco para a
doença da artéria coronária. Já a intervenção curativa visa ao
restabelecimento das funções cardiovasculares, permitindo
ao cardiopata executar atividade física compatível com a capacidade funcional de seu coração (CIOLAC e GUIMARÃES,
2006; FORJAZ e col., 1998).
O programa de treinamento físico, nessa fase, objetiva
promover adaptações no sistema cardiovascular, para que
os pacientes retornem, o quanto antes, às atividades profissionais, esportivas e de lazer, com maior segurança. As sessões de reabilitação cardíaca na fase III são compostas por
uma rotina que envolve aquecimento, exercícios de treinamento ou de condicionamento físico e resfriamento e relaxamento (FARDY e col., 2003).
O aquecimento prepara o sistema cardiovascular
sangüíneo para uma demanda metabólica maior, que ocorre
posteriormente a essa fase. Fisiologicamente seu objetivo é
aumentar a circulação e, daí, aumentar a liberação de oxigênio
para o tecido muscular, melhorando a flexibilidade e, também, elevando a temperatura corporal. O aquecimento também diminui o potencial de risco de lesões ortopédicas que
incluem as distensões e as lesões músculo-esqueléticas, além
de sobrecarga articular (GHORAYEB e col. 1999).
No condicionamento, o objetivo é exercitar o paciente
em uma freqüência cardíaca previamente programada a fim
de obter efeito de treinamento, ou seja, conseguir as adaptações fisiológicas, que vão melhorar a performance do paciente, com a melhora da funcionalidade cardiovascular
(McARDLE, 1996).
Durante o desaquecimento, é importante recuperar-se
gradualmente após o exercício. O suprimento da reserva de
energia deve ser reposto e os produtos do metabolismo devem ser eliminados. Os exercícios de relaxamento podem
ser realizados com objetivo de reduzir a freqüência cardíaca,
a pressão arterial e a incidência de arritmias cardíacas, sendo o relaxamento iniciado após um suficiente resfriamento.
As técnicas de relaxamento são particularmente úteis para os
indivíduos que têm dificuldade de relaxar espontaneamente
(REGENGA, 2000).
Antes e durante o treinamento físico o indivíduo deve
realizar testes de avaliação funcional, que, quando realizados com ergômetros, são também denominados de
Ergometria. O teste de esforço é um dos exames mais usados para avaliar pacientes com doenças cardiovasculares,
além de ser um exame de baixo custo, de fácil execução e de
alta reprodutibilidade, usado com a finalidade de avaliar a
resposta clínica, hemodinâmica, eletrocardiográfica e metabólica ao esforço (LEITE, 2000).
A Fisiologia do exercício é a área da Fisiologia que estuda as respostas e adaptações fisiológicas que ocorrem frente
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
41
41
SOUZA, T. L. de, PINHEIRO, D. A.
a um exercício, seja ele praticado de forma aguda ou cronicamente. O exercício realizado de maneira crônica é denominado de treinamento físico (WILMORE e COSTIL, 2001).
Segundo Leite (2000), com a atividade física há benefícios físicos, metabólicos, psicológicos e sociais, resultando na
melhor qualidade de vida do participante. É importante salientar que cada tipo de exercício desenvolve diferentes adaptações fisiológicas. Assim, corridas lentas e contínuas e ciclismos aeróbios desenvolverão a resistência aeróbia geral
e localizada e programa exclusivo de força muscular desenvolverá habilidade motora e não resistência geral.
Ainda da atividade física Ghorayeb e col. (2000) diz que
evidências epidemiológicas e laboratoriais convincentes
mostram que a atividade física regular protege contra o desenvolvimento e a progressão de muitas patologias crônicas,
além de mostrar reduções subseqüentes na mortalidade.
Segundo Leite (2000), as adaptações no sistema
cardiovascular induzidas pelo condicionamento físico em
repouso são: diminuição da freqüência cardíaca (FC), aumento do volume sistólico (VS), aumento da contratilidade
miocárdica e hipertrofia cardíaca. Durante exercício
submáximo, indivíduos treinados apresentam diminuição
da FC, aumento do VS, aumento da contratilidade
miocárdica, aumento do tônus vagal, aumento da diferença arteriovenosa de oxigênio e diminuição do duplo produto (DP). Já durante exercícios máximos, esses indivíduos apresentam aumento do consumo máximo de oxigênio
(VO2 max), aumento do Débito Cardíaco (DC), aumento
do VS, nenhuma alteração ou baixa da FC máxima e aumento da diferença arteriovenosa de oxigênio.
Existem adaptações gerais, ou seja, ajustes sistêmicos
frente a um exercício físico realizado de maneira sistemática, o que caracteriza o treinamento físico. Em visto disso,
Foss e col. (2000) diferem essas adaptações em agudas e
crônicas:
• Agudas: são reações envolvidas no aumento do metabolismo muscular durante o exercício e na sua recuperação;
• Crônicas: são benefícios fisiológicos do exercício realizado de maneira sistemática, ou seja, do treinamento
físico, chamados de adaptações fisiológicas.
1.2 Respostas crônicas ao treinamento: adaptações
fisiológicas
Hoje, não se têm dúvidas quanto aos efeitos benéficos
do exercício físico praticado regularmente sobre a pressão
arterial. No entanto, estudos bastante recentes mostram que
esta queda pressórica depende, em grande parte, da intensidade do treinamento físico. Enquanto o treinamento físico de
baixa intensidade, isto é, aquele realizado em torno de 5055% do consumo máximo de oxigênio atenua, sobremaneira, a hipertensão arterial, o treinamento físico de alta intensidade não modifica a hipertensão arterial. Estes resultados
alteram de forma drástica o conceito de que quanto maior o
volume e a intensidade do exercício físico, maior será o benefício para o paciente hipertenso. Ao contrário, o exercício
de baixa intensidade e longa duração é aquele que mais
beneficia o paciente hipertenso (FORJAZ e col., 1998;
WILMORE e COSTIL, 2001; NEGRÃO e BARRETO, 2005;
Mendes, 2006).
Se, por um lado, não existem dúvidas sobre o efeito
hipotensor do exercício, por outro, os mecanismos que
norteiam essa queda pressórica ainda são controversos. De
acordo com alguns investigadores, a redução da pressão
arterial é conseqüência de uma diminuição na resistência
vascular periférica, enquanto para outros, ela se deve a uma
42
diminuição no débito cardíaco, associada a uma menor
freqüência cardíaca que se instala durante o período de treinamento físico. Em outras palavras, o treinamento físico normaliza a atividade nervosa simpática que se encontra aumentada na presença de hipertensão arterial. Ao contrário da
bradicardia provocada pelo treinamento físico no
normotenso, que ocorre pela modificação do marca passo
que regula o ritmo do coração, a diminuição da freqüência
cardíaca no hipertenso ocorre por uma normalização da
atividade nervosa simpática no coração (POLLOCK e
WILMORE, 1993; LEITE, 2000; NEDER e NERY, 2003).
O exercício físico é aceito como agente preventivo e
terapêutico de diversas enfermidades. No tratamento de doenças cardiovasculares e crônicas, a atividade física tem sido
apontada como principal medida não farmacológica, assumindo aspecto benéfico e protetor. A inatividade física e o
baixo nível de condicionamento têm sido considerados fatores de risco para a mortalidade prematura tão importantes
quanto fumo, dislipidemia, diabetes e hipertensão arterial.
(POLLOCK e SCHMIDT, 2003).
A melhora na saúde do indivíduo que pratica exercício
físico regularmente é devido à exposição repetida do organismo a uma situação que requer uma reação mais forte do
que a correspondente a sua atividade orgânica normal. Tal
estresse gerado pela prática regular de exercício físico produz algumas alterações morfofuncionais no organismo também conhecidas como efeitos crônicos do exercício, a fim de
adaptar o indivíduo a uma situação ao qual está sendo submetido (GHORAYEB e col., 1999).
Uma das principais adaptações que o exercício físico promove pode ser observada no tecido muscular que sofre um
aumento de sua secção transversa denominado “hipertrofia”.
Sendo acompanhada de alguns fenômenos como aumento
nos estoques de glicogênio, aumento do número e tamanho
das miofibrilas, maior capacidade da via oxidativa, que é
refletida por incrementos na densidade mitocôndrial e na
atividade máxima de enzimas do processo de respiração celular, aumento da vascularização e capilarização (RAMOS,
2000).
Estas adaptações reduzem a resistência vascular, melhorando o fluxo sangüíneo e ocasionam um maior transporte
de glicose e lipídios para o metabolismo dos tecidos, e ainda
potencializam a ação da insulina. Além de melhorar o transporte e captação de insulina, os exercícios tanto aeróbicos
quanto os resistidos promovem um aumento do metabolismo basal conhecido como metabolismo de repouso, que é
responsável por 60% a 70% do gasto energético total, contribuindo para a perda de peso e diminuição do risco de
desenvolver diabetes, hipertensão, e outras doenças
(CIOLAC e GUIMARÃES, 2006).
A fim de acompanhar e suprir as necessidades de adaptação do tecido muscular, o sistema cardiovascular evolui de
forma a suprir as exigências crescentes (CARNEIRO, 2002),
ocasionando uma hipertrofia das fibras cardíacas, tornando
o coração maior e mais forte, melhorando, assim, a capacidade contrátil do miocárdio (BIBLIOTECA SAÚDE, 1996).
Esta ação é seguida de um aumento do
volume de ejeção, diminuição da freqüência cardíaca de
repouso (bradicardia), decorrente de uma redução do tônus
simpático e um aumento do tônus parassimpático, resultando em uma dilatação arteríola e venodilatação (McARDLE,
1996), contribuindo para uma queda da pressão arterial
sistêmica, melhorando a eficácia do sistema circulatório
(BIBLIOTECA SAÚDE, 1996).
Segundo Silva (1999) a adoção de um estilo de vida não
sedentário, calçado na prática regular de atividade física,
encerra a possibilidade de desenvolvimento da maior parte
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Avaliação funcional de cardiopatas após fisioterapia cardiovascular fase III
das doenças crônicas degenerativas, além de servir como
elemento promotor de mudanças com relação a fatores de
risco para inúmeras outras doenças. Sugere inclusive que a
prática regular de atividade física pode ser usada na tentativa de controle das doenças crônicas degenerativas, equivalente ao que a imunização representa na tentativa de controle das doenças infecto-contagiosas.
Com isso, a prática de exercícios é de fundamental importância para qualquer indivíduo, seja ele saudável ou diabético e hipertenso e melhora a saúde e a qualidade de vida
destes, mantendo, portanto, suas respectivas doenças controladas. Essa melhora na saúde de qualquer indivíduo que
pratica exercício físico, se deve à exposição regular do organismo a um trabalho acima dos níveis de repouso capaz de
promover adaptações hemodinâmicas e autonômicas, seguida de uma diminuição do débito cardíaco e da resistência
vascular periférica, que geram efeitos hipotensores pós-exercício, o que contribui para um maior transporte e captação de
oxigênio, aumenta a utilização de ácidos graxos como
substratos energéticos pelo metabolismo basal, auxilia para
uma melhor eficácia do hormônio insulina, diminuindo os
níveis de glicose plasmática, ajudando na perda de peso e
auto-estima, proporcionando uma melhora na saúde e qualidade de vida (FOSS, 1991; GHORAYEB e col., 1999; RAMOS, 2000).
Para melhor programação da intensidade de exercício
que resultará nessas adaptações fisiológicas é utilizado um
teste de avaliação funcional. O teste de esforço físico graduado pode ser utilizado como teste do condicionamento
cardiorrespiratório, antes do indivíduo realizar e iniciar um
programa de condicionamento físico ou, até, ser utilizado
como um teste diagnóstico. O teste clínico de esforço é utilizado para determinar a capacidade funcional de indivíduos
saudáveis, sedentários e/ou indivíduos assintomáticos. Para
pacientes que estão em fase de recuperação de uma cirurgia
de revascularização coronariana, o teste clínico de esforço é
de suma importância para se desenvolver um programa de
prescrição de exercícios (POLLOCK e WILMORE, 1993).
As adaptações do treinamento levam o indivíduo a uma
melhor performance, com, conseqüentemente, melhores resultados em testes de avaliação funcional (O’CONNOR, 1993).
“O interesse crescente no teste de esforço
cardiorrespiratório provém de sua natureza essencialmente não invasiva, dos avanços no reconhecimento dos diversos padrões fisiopatológicos
de exercício [...]” (NEDER e NERY, 2003. pg. 153).
1.3 Respostas fisiológicas aos testes de avaliação
funcional
Embora o coração possua seus próprios sistemas intrínsecos de controle e possa continuar a operar, sem quaisquer
influências nervosas, a eficácia da ação cardíaca pode ser
muito modificada pelos impulsos reguladores do sistema
nervoso central. O sistema nervoso é conectado com o coração através de dois grupos diferentes de nervos, os sistemas parassimpático e simpático. A estimulação dos nervos
parassimpáticos causa os seguintes efeitos sobre o coração:
diminuição da freqüência dos batimentos cardíacos; diminuição da força de contração do músculo atrial; diminuição na
velocidade de condução dos impulsos através do nódulo AV
(átrio-ventricular), aumentando o período de retardo entre a
contração atrial e a ventricular; e diminuição do fluxo
sangüíneo através dos vasos coronários que mantêm a nutrição do próprio músculo cardíaco (DOUGLAS, 2002).
Todos esses efeitos, segundo Ghorayeb e col (1999),
podem ser resumidos, dizendo-se que a estimulação
Pensamento Plural: Revista Científica do
parassimpática diminui todas as atividades do coração. Usualmente, a função cardíaca é reduzida pelo parassimpático
durante o período de repouso, juntamente com o restante do
corpo. Isso talvez ajude a preservar os recursos do coração;
pois, durante os períodos de repouso, indubitavelmente há
um menor desgaste do órgão.
A estimulação dos nervos simpáticos apresenta efeitos
exatamente opostos sobre o coração: aumento da freqüência
cardíaca, aumento da força de contração e aumento do fluxo
sangüíneo através dos vasos coronarianos, visando suprir o
aumento da nutrição do músculo cardíaco. Esses efeitos podem ser resumidos, dizendo-se que a estimulação simpática
aumenta a atividade cardíaca como bomba, algumas vezes
aumentando a capacidade de bombear sangue em até 100
por cento. Esse efeito é necessário quando um indivíduo é
submetido a situações de estresse, tais como exercício, doença, calor excessivo, ou outras condições que exigem um
rápido fluxo sangüíneo através do sistema circulatório. Por
conseguinte, os efeitos simpáticos sobre o coração constituem o mecanismo de auxílio utilizado numa emergência, tornando mais forte o batimento cardíaco, quando necessário
(NEDER e NERY, 2002).
Os neurônios pós-ganglionares do sistema nervoso simpático secretam principalmente noradrenalina, razão pela qual
são denominados neurônios adrenérgicos. A estimulação
simpática do cérebro também promove a secreção de
adrenalina pelas glândulas adrenais ou supra-renais. A
adrenalina é responsável pela taquicardia (batimento cardíaco acelerado), aumento da pressão arterial e da freqüência
respiratória, aumento da secreção do suor, da glicose
sangüínea e da atividade mental, além da constrição dos
vasos sangüíneos da pele (McARDLE, 1996).
O neurotransmissor secretado pelos neurônios pósganglionares do sistema nervoso parassimpático é a
acetilcolina, razão pela qual são denominados colinérgicos,
geralmente com efeitos antagônicos aos neurônios
adrenérgicos. Dessa forma, a estimulação parassimpática do
cérebro promove bradicardia (redução dos batimentos cardíacos), diminuição da pressão arterial e da freqüência respiratória, relaxamento muscular e outros efeitos antagônicos aos
da adrenalina (NEGRÃO e BARRETO, 2005).
Sendo os testes ergométricos crescentes, ou seja, testes
que recrutam de maneira gradativa mais funcionalidade dos
sistemas fisiológicos, tem-se que, com o passar do tempo e,
conseqüentemente, com o crescer da intensidade de exercício, mais atuação simpática e menos atuação parassimpática.
Dessa forma, há aumento gradativo da pressão arterial e da
freqüência cardíaca, variáveis cardiovasculares que necessitam aumentar para promover aumento do débito cardíaco,
ou seja, do próprio fluxo sangüíneo (FARDY e col., 1998;
ACSM, 2003)
2. Objetivos
O objetivo geral desse estudo foi comparar os pacientes
cardiopatas atendidos na fase III na Clínica Escola de Fisioterapia do UNIFAE, antes e após o treinamento físico, realizado para prevenção e tratamento de doença cardíaca.
Os objetivos específicos desse estudo foram:
• Comparar o valor de carga máxima dos testes, antes e
após treinamento físico;
• Comparar a resposta de pressão arterial durante o teste,
antes e após treinamento físico;
• Comparar a resposta de freqüência cardíaca durante o teste,
antes e após treinamento físico.
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
43
43
SOUZA, T. L. de, PINHEIRO, D. A.
3. Materiais e métodos
3.1 V
oluntários
Voluntários
Participaram deste estudo 8 voluntários do sexo masculino
e feminino, hipertensos e não fumantes, que realizavam treinamento físico cardiovascular - fase III na Clínica Escola de
Fisioterapia do UNIFAE.
Antes de participarem dos procedimentos experimentais
propriamente ditos, cada voluntário foi informado de todos
os riscos e estresses associados a este estudo.
3.2 Materiais
Os seguintes materiais foram utilizados nesse estudo:
• Ficha de avaliação para controle das variáveis fisiológicas
de cada paciente;
• Esteira Ergométrica (Moviment®), para a realização dos
testes de avaliação funcional;
• Freqüencímetro Polar ®, para aferição da freqüência cardíaca em cada step de trabalho físico do teste;
• Estetoscópio Bic® e Esfigmomanômetro Tycos®, para aferição da pressão arterial, tanto sistólica como diastólica,
em cada step de trabalho físico do teste.
3.3 Procedimento
Os indivíduos foram submetidos a um teste ergométrico
de avaliação funcional, em uma esteira de frenagem
eletromagnética com potências de esforço crescentes,
caracterizando um teste de esforço em degrau contínuo, com
o protocolo de Ellestad. Esse é um teste máximo para esteira
ergométrica e é usado, principalmente, em idosos, por não
exigir inclinações acentuadas. A velocidade do teste fica entre
1,7 e 8,0 milhas por hora (mph) e a duração de cada estágio
varia de 2 a 3 minutos. Nos quatro primeiros estágios, a
inclinação da esteira é de 10%; e no quinto, aumenta-se a
inclinação em 5% até o fim do teste, que ocorre com 7 steps.
A carga foi aumentada até que os voluntários não conseguissem mais continuar o teste, mesmo com os incentivos
dados verbalmente para que eles continuassem, ou quando
algum sinal de PA ou FC assim contra indicassem a continuidade do mesmo. A potência de trabalho foi, então, diminuída
gradativamente. Quando os voluntários atingiram a carga
máxima do teste (sétimo step) diminuía-se a carga
gradativamente também.
Durante todo o teste os voluntários estavam conectados
a um freqüencímetro para determinação da freqüência cardíaca (FC), registrada por esse aparelho, em média, a cada 3
batimentos do coração.
A PA também foi mensurada ao final de cada potência de
trabalho e também ao final do primeiro, terceiro e quinto
minutos da recuperação por meio de um esfigmomanômetro
e de um estetoscópio pelo método auscultatório, sempre no
membro superior esquerdo.
Em seguida os pacientes realizaram treinamento físico da
Reabilitação Cardiovascular-fase III na Clínica Escola do
UNIFAE, com alunos do último ano de Fisioterapia, com supervisão da Professora Mestre Daniele Albano Pinheiro. Esse
treinamento foi dividido em fases: Aquecimento, Condicionamento e Desaquecimento.
Chegando para a sessão, os pacientes tinham sua pressão
arterial e sua freqüência cardíaca aferidas, valores denominados como valores de repouso. Realizava-se, então, a fase de
Aquecimento, fase de duração média de dez minutos, composta por exercícios de alongamentos, exercícios calistênicos e
exercícios dinâmicos para que houvesse pequena elevação da
freqüência cardíaca, como preparação para uma fase de au44
mento metabólico maior. O aquecimento é preventivo para
complicações cardíacas, como arritmias e lesões músculoesqueléticas. Após esses exercícios, a freqüência cardíaca era
aferida, valor denominado de pós-aquecimento.
Os pacientes, então, realizavam a fase de Condicionamento propriamente dito, fase de 25 a 30 minutos, composta de exercícios aeróbios dinâmicos, como caminhadas. Essa
fase era separada em “steps”, tempos em que se interrompia
o exercício e aferia-se tanto pressão arterial como freqüência
cardíaca. Essa fase tinha como objetivo atingir a chamada FC
alvo ou FC treino, valor de FC do limiar de anaerobiose, ou
seja, momento metabólico máximo do exercício aeróbio,
onde as adaptações fisiológicas são estimuladas de forma
máxima. Assim, a intensidade dessa fase é dada pela velocidade, quando o paciente andava ou corria, dependendo do
paciente estar ou não na faixa da FC alvo, valor esse de 70 a
85% da FC máxima do teste de avaliação funcional previamente realizado. Essa fase foi realizada nos arredores do
UNIFAE.
Em seguida, os pacientes retornavam ao interior da Clínica Escola do UNIFAE para realizarem a última fase da Reabilitação Cardíaca-Fase III: o Desaquecimento, composto
por exercícios de alongamentos e de relaxamentos, com
objetivo de fazer as variáveis fisiológicas retornarem aos
valores basais. O desaquecimento tinha duração média de
10 minutos. Após essa fase, novamente aferiam-se FC e PA
de cada paciente.
As sessões de treinamento físico foram realizadas duas
vezes por semana com duração média total em torno de 60
minutos. Todos os valores aferidos de cada paciente durante
toda a sessão eram registrados em uma ficha própria do
setor de Cardiologia Ambulatorial.
Após oito semanas de Fisioterapia Cardiovascular-fase
III, os pacientes foram submetidos novamente ao teste de
avaliação funcional, (Protocolo de Ellestad), seguindo
exatamente os mesmos moldes do primeiro teste.
3.4 Estatística
Para cada variável de cada teste foi calculada média (X) e
desvio padrão (SD) e, para verificar diferenças significativas
entre os testes ergométricos antes e depois do treinamento
de Fisioterapia Cardiovascular Fase III, o teste estatístico t de
Student foi utilizado, considerando como nível de significância
de 95% (p<0,05), compatível com a área da saúde.
4. Resultados e discussão
Os resultados desse estudo serão apresentados separados por cada variável estudada.
R esposta de Carga Máxima do TTeste
este de Esforço
antes e após Fisioterapia Cardiovascular – Fase III
O valor médio ± desvio padrão (SD) da carga máxima,
em steps, no primeiro teste, aquele realizado pelos voluntários antes do treinamento foi de 4,12 ± 1,80 steps, variando
de um mínimo de 2 a um máximo de 7 steps. Já o valor médio
dessa variável no segundo teste de avaliação funcional, após
o período de treinamento de Reabilitação Cardíaca Fase III,
foi de 5,00 ± 1,85 steps, variando de 2 a 7 steps. Quando
esses valores foram comparados com o teste t de Student,
não se encontraram diferenças estatisticamente significativas, com p>0,05. Esses resultados podem ser melhor
visualizados no gráfico 1.
Analisando-se o gráfico 1, mesmo sem diferenças estatísticas, nota-se que o treinamento físico da Fisioterapia
Cardiovascular Fase III melhorou o desempenho dos voluntários, já que houve aumento da carga máxima. Esse resulta-
Pensamento Plural: Revista Científica do
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Avaliação funcional de cardiopatas após fisioterapia cardiovascular fase III
Gráfico1: Média da carga máxima do 1º e 2º Teste de Esforço p>0,05
Gráfico 2: Média da PAS aferida na carga máxima do 1º e 2º Teste de Esforço p<0,05
do ocorre pelas adaptações fisiológicas do treinamento que
resultam em maior funcionalidade dos sistemas fisiológicos
e permitem, portanto, maior performance aos cardiopatas
(FORJAZ e col., 1998; GHORAYEB e col., 1999; MENDES,
2006).
refletem menor trabalho cardíaco, o que é interessante para
um cardiopata, principalmente se considerar, também, que a
carga máxima dos voluntários foi maior com esse valor de
PAS menor. Esses resultados estão de acordo com Forjaz e
col. (1998) e Ghorayeb e col. (1999).
Resposta da PPressão
ressão Arterial Sistólica (P
AS) na carga
(PAS)
máxima do TTeste
este de Esforço
O valor médio ± desvio padrão (SD) da PAS no primeiro
teste, aquele realizado pelos voluntários antes do treinamento foi de 165,00 ± 25,07 mmHg, variando de um mínimo de 120 a um máximo de 190 mmHg. Já o valor médio
dessa variável no segundo teste de avaliação funcional, após
o período de treinamento de Reabilitação Cardíaca Fase III,
foi de 150,00 ± 10,69 mmHg, variando de 140 a 170 mmHg.
Quando esses valores foram comparados com o teste t de
Student, diferenças estatisticamente significativas foram notadas, com p<0,05. Esses resultados podem ser melhor
visualizados no gráfico 2.
Observando-se o gráfico da PAS na carga máxima do
teste de esforço, nota-se que houve grande diminuição dos
valores quando comparados o primeiro e o segundo teste de
esforço, após as sessões de Fisioterapia Cardiovascular.
Esses resultados já eram esperados, em função da atividade
física promover, após treinamento aeróbio, exercícios preconizados nessas sessões, grande vasodilatação periférica,
com queda na Resistência Vascular Periférica e, conseqüentemente, queda nos valores de PAS (FOX, 1991). Pode-se relacionar essa queda da PAS na carga máxima do teste
ergométrico, também, com a grande atuação parassimpática
que há após treinamento físico. O sistema parassimpático é
a divisão do sistema nervoso autônomo que promove diminuição das variáveis fisiológicas, dentre elas a PAS
(DOUGLAS, 2002).
Vale ressaltar aqui que esses valores menores de PAS
AD) na
R esposta da PPressão
ressão Arterial Diastólica (P
(PAD)
este Crescente
carga máxima do TTeste
O valor médio ± desvio padrão (SD) da PAD no primeiro
teste, aquele realizado pelos voluntários antes do treinamento, foi de 100,00 ± 19,27 mmHg, variando de um mínimo de 80 a um máximo de 140 mmHg. Já o valor médio
dessa variável no segundo teste de avaliação funcional, após
o período de treinamento de Reabilitação Cardíaca Fase III,
foi de 87,50 ± 12,81 mmHg, variando de 70 a 110 mmHg.
Quando esses valores foram comparados com o teste t de
Student, diferenças estatisticamente significativas foram notadas, com p<0,05. Esses resultados podem ser melhor
visualizados no gráfico 3.
Ao analisar o gráfico da PAD, visualiza-se grande diminuição dos valores de PAD dos voluntários após o término
das 16 sessões de Fisioterapia Cardiovascular. Segundo Fox
(1991), após um treinamento físico que tenha intensidade de
trabalho sendo uma sobrecarga fisiológica e não patológica,
há queda da PAD, de responsabilidade também, da queda da
RVP e da maior ativação parassimpática, significando, também, menor sobrecarga cardiovascular.
Pensamento Plural: Revista Científica do
R e sposta da FFreqüência
reqüência Cardíaca (FC) na carga
este Crescente
máxima do TTeste
O valor médio ± desvio padrão (SD) da FC no primeiro
teste, aquele realizado pelos voluntários antes do treinamento,
foi de 127,37 ± 11,87 mmHg, variando de um mínimo de 114
a um máximo de 149 mmHg. Já o valor médio dessa variável no
segundo teste de avaliação funcional, após o período de treina-
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
45
45
SOUZA, T. L. de, PINHEIRO, D. A.
mento de Reabilitação Cardíaca Fase III, foi de 130,12 ± 8,07
mmHg, variando de 129 a 139 mmHg. Quando esses valores
foram comparados com o teste t de Student, não se encontraram diferenças estatisticamente significativas, com p>0,05. Esses resultados podem ser melhor visualizados no gráfico 4.
Observando-se o gráfico 4, nota-se que não houve diferenças entre os valores de FC comparando-se o primeiro com o
segundo teste de esforço, que foram realizados separados pelo
treinamento físico da Fisioterapia Cardiovascular-Fase III. Es-
ses dados corroboram com Fardy e col. (1998); Forjaz e col.
(1998) e Ciolac e Guimarães (2006), que dizem que indivíduos
que recebem treinamento físico, dentro de uma sobrecarga fisiológica (mantendo-se, portanto, sua FC alvo ou treino), suportam uma carga de trabalho máxima maior, com um valor menor
de FC, mostrando, novamente, menor sobrecarga no sistema
cardíaco. Considerando o indivíduo com cardiopatia, essa menor sobrecarga no próprio sistema cardiovascular, resulta, para
ele, melhor performance no teste de esforço (MENDES, 2006).
Gráfico 3: Média da PAD aferida na carga máxima do 1º e 2º Teste de Esforço
Gráfico 4: Média da FC na carga máxima no 1º e 2º Teste de Esforço
5. Considerações finais
As conclusões desse trabalho seguem abaixo, divididas
em específicas e geral.
Conclusões Específicas
São conclusões específicas desse estudo:
• A carga máxima do segundo teste foi maior que o primeiro;
assim, após treinamento físico da Fisioterapia
Cardiovascular os cardiopatas apresentaram melhor condição de manter e suportar cargas maiores nos testes de
avaliação funcional.
• Em relação aos valores de Pressão Arterial na carga máxima dos testes, tanto a Sistólica como a Diastólica apre46
•
sentaram valor menor após treinamento físico, mostrando menor sobrecarga cardiovascular.
A Freqüência Cardíaca na carga máxima dos testes foi
menor após a Reabilitação Cardíaca, portanto, no segundo teste comparado com o primeiro, também assegurando aos cardiopatas melhor funcionalidade do sistema cardíaco, já que eles apresentaram esse valor menor, mesmo
com uma carga máxima maior.
Como conclusão geral, esse trabalho traz que os pacientes atendidos na Clínica Escola de Fisioterapia do UNIFAE,
setor de Cardiologia Clínica, apresentam melhoras funcionais que resultam em melhor performance em testes de avaliação física, atingindo valor de carga máxima maior, com
valores de pressão arterial e freqüência cardíaca menores.
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
esquisa das Diretrizes do A
CSM para os TTestes
estes de Esforços e sua PPrescrição,
rescrição,
ACSM.. Manual de PPesquisa
ACSM
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Exercício e Hipertensão
Notes
Notas
(1) O estudo integra o Programa de Apoio à Iniciação
Científica (PAIC), patrocinado pelo UNIFAE.
Referências
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(1) The study is part of the Program in Support of
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UNIFAE
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Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
47
47
Abstract
SOUZA, T. L. de, PINHEIRO, D. A.
The objectiveof this study1 was to evaluate the performance of cardiopaths, assisted by Cardiovascular Physiotherapy
phase III, at the School Clinic of UNIFAE, comparing tests done before and after the training. Fifteen cardiopaths,
women and men, participated on the functional evaluation tests before and after they did sixteen sessions of
Cardiovascular Physiotherapy (8 weeks). The cardiovascular illness, nowadays, has a great morbid-mortality, presenting
several risk factors for its installation and worsening. However, this dysfunction is benefited by a regular physical
activity, called physical training or Cardiovascular Physiotherapy phase III, an ambulatory phase. The best form to
observe the beneficial changes of the training is through performing functional evaluation tests. From the results, it was
detected an improvement on the values for the arterial pressure, both systolic and diastolic measures, with lower values
after the physical training and with a larger maximum load of the after-training test. A conclusion of the study is that the
physical training applied by the sutends of UNIFAE on the Cardiac Reabilitation, improved the performance of the
volunteers who had participated on the study, with better results on the tests of functional evaluation.
Key words
Functional Evaluation, Cardiopaths, Cardiovascular Physiotherapy Phase III.
48
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Efeito do tratamento metformina associado ao
exercício físico anaeróbio sobre as funções
cardíacas de ratos diabéticos por aloxana
Resumo
Carlos Fabrício de Moraes, Eunice Cristina da Silva Costa
Esta pesquisa1 tem com objetivo estudar os efeitos do exercício
anaeróbio regular e sua associação com metformina sobre o
intervalo QT e sua dispersão em ratos diabéticos por aloxana. O
prolongamento do intervalo QTc, observado em
eletrocardiograma, está relacionado à doença isquêmica cardíaca
e é associado à morte súbita em pacientes diabéticos com grande
aumento da glicemia. O treinamento anaeróbio reduz a glicemia
e pode diminuir os riscos de morte súbita em diabéticos. A
metformina, um fármaco utilizado para reduzir a glicemia pode
causar alterações eletrofisiológicas obtidas em eletrocardiograma.
Para o estudo foram utilizados ratos diabéticos por aloxana e
controle foram submetidos ao treinamento físico (natação) durante
30 dias (5x/semana), com sobrecarga de 10% p.c. e duração de
40 minutos. Cada série durou 90 segundos com intervalos de 3
min. Para registrar as ondas do ECG os eletrodos foram conectados
por meio de agulhas hipodérmicas às patas do rato anestesiado.
O intervalo QT foi corrigido pela fórmula de Bazzet’s e
posteriormente foi calculada sua dispersão.
Autores
Eunice Cristina da Silva Costa
Professora do Centro Universitário das
Faculdades Associadas de Ensino – FAE;
Educadora Física com Doutorado e
Mestrado em Fisiologia pelo Instituto de
Biologia da Universidade Estadual de
Campinas – IB/UNICAMP.
E-mail:
[email protected]
Carlos Fabrício de Moraes
Aluno do 3o ano do curso de Educação Física do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE.
E-mail:
[email protected]
Palavras-chave
Metformina, Aloxana, Indução de Diabetes
Recebido em 18/março/2007
Aprovado em 04/setembro/2007
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
49
MORAES, C. F., COSTA, E. C. S.
1. Introdução
Diabetes é uma desordem metabólica caracterizada pelo
aumento da glicemia, devido a alterações no metabolismo
de proteínas, lipídios e carboidratos, resultante de secreção
deficiente ou de resistência periférica à insulina. Estas alterações aumentam a tendência ao desenvolvimento de doenças
cardiovasculares e neuropatias, as quais representam uma
das maiores causas de morte de pacientes. (PAULSON, 1996).
As alterações do metabolismo lipídico aumentam os riscos de aterosclerose e de outras doenças cardiovasculares
como: hipertensão arterial, isquemia e hiperlipoproteinemia
(BODEN, 1997). Além destas, as mudanças no metabolismo
de carboidratos do próprio músculo cardíaco também podem promover complicações cardíacas. Nos diabéticos, o
aumento da concentração de glicogênio no ventrículo cardíaco, aparentemente está associado à gravidade do diabetes
(HIGUCHI et al., 1995). Embora este aumento represente
uma proteção ao miocárdio durante a isquemia de curta duração, não tem o mesmo efeito na isquemia de longa duração, pois o glicogênio é rapidamente degradado devido ao
aumento da atividade da glicogênio fosforilase (HIGUCHI et
al., 1995), o que pode levar à morte súbita em função da
ausência de energia para manter a contração cardíaca.
Além disso, as alterações promovidas no metabolismo
de carboidratos e de lipídeos podem causar modificações na
estrutura e fisiologia cardiovascular, que por sua vez, alteram
o registro do eletrocardiograma. Dentre as principais alterações observadas, encontra-se o aumento do intervalo QT. O
intervalo QT corresponde ao tempo necessário para a completa excitação elétrica e a recuperação dos ventrículos, sendo, portanto, a medida da duração da sístole “elétrica”, a
qual inclui a despolarização e a repolarização ventricular
(ROCHA E SILVA, 1999). O intervalo QT varia com a
freqüência cardíaca. Por esta razão, em 1920, Bazett’s (citado por ARILDSEN, 1999) introduziu uma equação que permitiu corrigir este valor em função da freqüência cardíaca:
O aumento do intervalo QT é chamado de síndrome do
QT longo e é considerado como precursor de aumento do
risco de morte súbita em pacientes diabéticos. Além disso, a
dispersão deste intervalo registrado nas derivadas geram o
QTd e o QTcd, que estão associados a um maior risco de
morte súbita (CHRISTENSEN et al., 2000).
Entretanto, fármacos, como a biguanida metformina, um
anti-hiperglicemiante utilizado no tratamento de diabéticos
tipo 2, contribuem para a diminuição da glicemia e a melhora
do perfil metabólico. Além dos efeitos indiretos da metformina
favorecerem a diminuição da resistência tecidual à insulina
ela parece oferecer proteção contra doenças
cardiovasculares, que afetam particularmente os obesos,
dislipidêmicos e hipertensos. Em contraposição, resultados
(da SILVA et al, 2003; GONÇALVES et al, 2003) mostraram
que altas doses de metformina, como as recomendadas a
pacientes humanos, promovem grande aumento de
glicogênio cardíaco em ratos aloxanizados. Porém após
perfusão com noradrenalina durante 1 hora, houve quase
que total depleção do glicogênio armazenado no ventrículo
cardíaco. Além disso, foi observado em eletrocardiograma,
um aumento do intervalo QT, sugerindo alterações na
despolarização da membrana ventricular, que indica aumen-
50
to do risco de morte súbita nestes ratos.
Além de tratamentos farmacológicos, os exercícios físicos também são utilizados para diminuir a glicemia e conseqüentemente promover benefícios ao metabolismo de diabéticos (SHEPHARD & ASTRAND, 1992).
O padrão metabólico de um indivíduo saudável é
afetado pelo tipo, intensidade e duração do exercício, promovendo utilização diferenciada de reservas energéticas
(HOLLOZZY & KOHRT, 1996) principalmente de glicogênio
muscular e hepático e triglicerídeos do tecido adiposo,
afetando os níveis circulantes de glicose, triglicerídeos e ácidos graxos livres.
Conforme a intensidade do exercício, estes podem ser
classificados em exercícios de resistência aeróbia e exercícios de resistência anaeróbia láctica ou aláctica. O desempenho aeróbio é definido como exercício de resistência prolongada com intensidade submáxima, com equilíbrio entre o
oxigênio requerido pelo metabolismo e o transportado pela
corrente sanguínea até ao tecido muscular. A energia necessária é obtida através da combustão oxidativa de glicogênio
e das fontes lipídicas. Por outro lado, a resistência anaeróbia
aláctica ocorre em exercícios de grande intensidade e
curtíssima duração, com atividade metabólica originando débito de oxigênio, onde a energia é obtida através da
fosfocreatina, sem grande produção de ácido láctico. Na resistência anaeróbia láctica, o esforço de grande intensidade
é prolongado em relação a aláctica e a energia passa a ser
obtida através da degradação de glicogênio, com simultânea
elevação de ácido láctico no sangue (BERG, 1986).
Apesar do exercício aeróbio ser o mais indicado para
portadores de doenças metabólicas, como o diabetes, estudos (NEIVA et al., 2000) demonstraram que o exercício
anaeróbio melhora o perfil lipídico e glicêmico de ratos diabéticos por streptozotocina.
Durante o exercício anaeróbio, com a privação grave de
oxigênio, os ácidos graxos livres não podem ser oxidados
tornando o coração dependente da produção de energia
anaeróbia. A produção anaeróbia de ATP é largamente dependente da disponibilidade de substratos intracelulares para
a glicólise. Nestes casos, as reservas de glicogênio são utilizadas como substrato glicolítico adicional durante a prática
de atividade anaeróbia, simulando a mesma situação que
ocorre durante uma isquemia (revisão em HOLLOZZY &
KOHRT, 1996).
Entretanto, em diversas situações, a metformina tem sido
combinada a exercícios físicos para aumentar o efeito do
tratamento sobre o metabolismo. Todavia, esta associação
pode ser fatal, pois a metformina aumenta o risco de morte
súbita durante a isquemia e os exercícios anaeróbios têm
diminuição de aporte de oxigênio durante sua execução com
conseqüente aumento da depleção de glicogênio muscular,
podendo assim aumentar os riscos de dano sobre o sistema
cardiovascular.
2. Objetivos
Nesse projeto iremos investigar os efeitos dose-resposta
do tratamento com metformina e sua associação à exercícios
físicos sobre:
1) as funções cardíacas representadas em
eletrocardiograma;
2) a glicemia;
3) a ingestão hídrica.
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Efeito do tratamento metformina associado ao exercício físico anaeróbio sobre as funções cardíacas de ratos diabéticos por aloxana
3. Materiais e métodos
3.1 Animais
Foram utilizados ratos machos, albinos, Wistar com idade de 3 meses, criados no Biotério do UNIFAE. Os ratos
foram alimentados com ração (Purina para roedores) e água
“ad libitum” em ciclo fotoperiódico, de 12 h claro e 12 h
escuro, a 22 ± 2oC.
Os ratos foram distribuídos em grupos de não diabéticos
(controle) e diabéticos. A metformina foi adicionada na água
de beber e o consumo hídrico foi medido.
Grupos:
Sedentários
Controle
Diabetes
Diabetes + metformina [112 ug/ml]
Treinados
Controle
Diabetes
Diabetes + metformina [112 ug/ml]
3.4 Eletrocardiograma
Os ratos foram anestesiados com pentobarbital sódico
(40 mg/kg) e mantidos na posição supina para registrar o
ECG durante respiração espontânea. Os eletrodos foram
conectados aos canais do ECG (Funbec) e as ondas D1, D2,
D3, aVL, aVF e aVR foram registradas a uma velocidade de
50 mm/segundo para posterior verificação da freqüência cardíaca e intervalos (SGOIFO et al., 1996). O QTc foi corrigido pela equação de Bazzet’s: QT/VRR. A dispersão do QT e
QTc foi calculada através dos valores absolutos, subtraindo
o mais longo do mais curto intervalo registrado: %QTd =
[QT max – Qtmin/Qtmin} x 100]). A mesma operação foi
usada para calcular o QTcd.
3.5 Determinação da glicemia
A glicemia foi determinada pelo método da glicose oxidase
(TRINDER, 1969).
3.2 Indução do diabetes mellitus
Antes da indução do diabetes mellitus, os ratos foram
mantidos em jejum por 24 horas com livre acesso a água.
Após anestesia com pentobarbital sódico (40mg/kg de peso
corporal), os ratos receberam uma injeção de aloxana em
salina (40 mg/kg de peso, i.v. pH 4,5). O estabelecimento do
diabetes foi verificado através da presença de glicose na urina.
3.3 Exercício físico e esquema de treinamento
Ratos constituem um bom modelo para a observação da
maioria dos efeitos metabólicos produzidos pelo treinamento. (OSTMAN-SMITH, 1979).
Os ratos dos grupos treinados nadaram em um tanque,
contendo água a 30o ± 2 o C. Após indução do diabetes, os
ratos iniciaram o programa de treinamento anaeróbio. As
sessões de natação foram realizadas à tarde, 5 vezes por
semana, totalizando 20 sessões. A carga de 10 a 15% do
peso corporal foi colocada no peito do rato e o treinamento
teve duração de 40 minutos. Cada série de exercício teve
duração de 90 segundos, com intervalos de 2-3 minutos
entre elas.
3.6 Análise estatística
A avaliação estatística dos dados foi feita através da análise de variância por dois fatores e, quando necessário, seguida do teste de TUKEY. Foram considerados significativos
os valores cujas diferenças fossem menores que 5%.
4. RESUL
TADOS
RESULT
4.1 Glicemia
Inicialmente caracterizamos o modelo diabético, avaliando as principais diferenças em relação ao grupo controle.
Nos ratos diabéticos por aloxana a glicemia aumentou de
86.3 ± 6.2 mg/dl to 433.3 ± 24 mg/dL (p< 0.001) após 15
dias e para 495.3 ± 53 mg/dL após 30 dias (p< 0.001; fig.
1). Não foram detectadas diferenças entre os grupos controle e controle treinado durante o período experimental (fig 1).
A aloxana também aumentou a glicemia dos ratos do
grupo diabético treinado de 75.3 ± 7.4 mg/dL para 347.1 ±
41.6 mg/dL (p< 0.001) após 15 dias e para 304 ± 34.2
mg/dL (p< 0.001) após 30 dias. Entretanto, a glicemia diminuiu quando comparado com o grupo Diabetes Sedentário
(p< 0.05).
Os grupos tratados com metformina tiveram aumento da
glicemia durante o período experimental. No grupo diabetes
sedentário metformina, a glicemia aumentou de 102 ± 1,4
para 470 ± 26 (p< 0,001) e no grupo diabetes treinado
metformina, aumentou de 80 ± 8 para 566 ± 32 (p< 0,001),
não diferindo do grupo diabetes sedentário sem tratamento
(fig 1)
f: p< 0.05 vs controle-15 dias; h: p< 0.05 vs diabetes sedentário metformina-15
dias; k: p< 0.05 vs controle-30 dias; l: p< 0.05 vs diabetes sedentário-30 dias.
Figura 1: Mudanças na glicemia após indução de diabetes por aloxana e após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio e ou
tratamento com metformina em altas doses.
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
51
51
MORAES, C. F., COSTA, E. C. S.
Figura 2
2: Efeito do treinamento e/ou tratamento com metformina em altas doses sobre a glicemia de ratos não diabéticos
Os grupos não diabéticos não apresentaram diferenças
quanto a glicemia durante todo o período experimental (fig 2).
4.2 Ingestão hídrica
O diabetes causou aumento da ingestão hídrica no grupo
sedentário. Após 7 dias, a ingestão de água foi de 48 ml por
rato (média estimada), após 15 dias aumentou para 91 ml
(p<0.001) e após 30 dias aumentou para 176 ml (p< 0.001).
Assim como ocorreu no grupo diabetes sedentário, após 7
dias houve aumento da ingestão hídrica para 110 ml (p<
0.001) no grupo Diabetes Treinado, mas após 15 dias, o
treinamento promoveu diminuição do consumo de água para
69 ml e 75 ml após 30 dias (p< 0.001).
Entretanto, ao tratar o grupo treinado com metformina
houve aumento da ingestão hídrica de 42 ml para 105 ml
após 7 dias, para 138 ml após 15 dias e para 200 ml após
30 dias. O mesmo comportamento foi observado no grupo
sedentário tratado com metformina. (fig 3).
A figura 4 mostra que não foram encontradas diferenças
entre os grupos controle (treinado ou sedentário e tratados
ou não com metformina).
4.3 Eletrocardiograma
As figuras 5, 6, 7 e 8 mostram respectivamente o intervalo
QT e suas derivadas: QTc, QTd and QTcd em ratos não diabéticos treinado e/ou tratados com metformina. Não foram demonstradas diferenças estatísticas entre todos os grupos experimentais durante o primeiro registro eletrocardiográfico em todos os intervalos. Após 15 dias de tratamento com metformina,
o intervalo QTc aumentou de 0,25 ± 0,03 para 0,31 ± 0,23
(p<0,001; figura 6) no grupo controle sedentário metformina.
Ao término do período experimental, houve aumento do
intervalo QT (fig 5) no grupo treinado e tratado com metformina
(de: 0,12 ± 0,007 para 0,14 ± 0,006; p< 0,001) diferindo do
grupo controle no mesmo período (0,11 ± 0,004; p< 0,001)
e houve aumento do intervalo QTc de 0,3 ± 0,008 para 0,33 ±
0,005 (p< 0,001), também diferindo do grupo controle (0,27
± 0,01; p< 0,001; fig 6).
As figuras 7 e 8 mostram os intervalos QTd e QTcd respec-
a: p< 0.05 vs controle-0; b: p< 0.05 vs diabetes-0; c: p< 0.05 vs diabetes sedentário
metformina-0; d: p< 0.05 vs diabetes treinado-0; e: p< 0.05 vs diabetes treinado
metformina-0; f: p< 0.05 vs controle-7 dias; h: p< 0,05 vs diabetes sedentário
metformina-7 dias; i: p< 0,05 diabetes treinado – 7 dias; k: p< 0,05 vs controle-15
dias; l: p< 0,05 vs diabetes sedentário-15 dias; m: p<0,05 vs diabetes sedentário
metformina-15 dias; n: p<0,05 vs diabetes treinado-15 dias; o: p< 0,05 vs diabetes
treinado metformina-15 dias; p: p<0,05 vs controle-30 dias; q: p< 0,05 vs diabetes
sedentário-30dias; s: p< 0,05 vs diabetes treinado-30 dias
Figura 3: Mudanças na ingestão de água após indução de diabetes por aloxana e após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio
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Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Efeito do tratamento metformina associado ao exercício físico anaeróbio sobre as funções cardíacas de ratos diabéticos por aloxana
Ingestão Hídrica
Figura 4: Efeito do treinamento e/ou tratamento com metformina em altas doses sobre a ingestão hídrica de ratos não
diabéticos
tivamente. Os grupos treinado e treinado metformina apresentaram redução dos intervalos QTd (treinado: de 34,2 ± 3 para
15,7 ± 2,43; treinado metformina: de 28,6 ± 5,7 para 17,8 ±
3,6) e QTcd (treinado: 28,7 ± 1,9 para 18,1 ± 3,3; treinado
metformina: de 32 ± 5 para 27,2 ± 6,1). Entretanto, no grupo
controle sedentário tratado com metformina houve aumento do
intervalo QTd após 30 dias de tratamento de 15 ± 2,9 para
31,3 ±7,2.
As figuras 9, 10, 11 e 12 mostram os intervalos QT, QTc,
QTd e QTcd de ratos diabéticos sedentários e treinados e/ou
tratados com metformina em altas doses. Os registros
eletrocardiográficos obtidos no primeiro dia experimental não
apresentaram diferenças entre si em todos os intervalos.
O intervalo QT aumentou apenas nos grupos diabético
treinado após 15 dias(de 0,11 ± 0,005 para 0,14 ± 0,007;
p<0,001) e no grupo diabético treinado tratado com
metformina após 15 (de 0,11 ± 0,01 para 0,15 ± 0,007;
p< 0,05) e 30 dias (de 0,11 ± 0,01 para 0,18 ± 0,04; p<
0,001) de período experimental.
O grupo diabético treinado com metformina apresentou
o mesmo comportamento em relação ao intervalo QTc. Houve
aumento de 0,26 ± 0,03 para 0,34 ± 0,01 após 15 dias e
para 0,37 ± 0,05 após 30 dias de período experimental. Os
demais grupos não apresentaram diferenças entre si.
Os intervalos QTd e QTcd aumentaram nos grupos diabético sedentário, diabético sedentário metformina e diabético treinado metformina após 15 e 30 dias de período experimental (figs 11 e 12).
No grupo diabético, o intervalo QTd aumentou de 14,5
± 2,8 para 56,7 ± 4,3 após 15 dias e para 71,8 ± 6,1 após
30 dias e o QTcd aumentou de 15,7 ± 3,1 para 86,9 ± 4,4
após 15 dias e para 86,3 ± 8,4 após 30 dias de período
experimental. No grupo diabetes sedentário metformina, o
intervalo QTd aumentou de 16,23 ± 2,8 para 36,5 ± 3,17
após 15 dias e para 74,5 ± 4,36 após 30 dias. O intervalo
QTcd aumentou de 16,1 ± 2,1 para 47,9 ± 2,7 após 15
dias e para 71,9 ± 5,2 após 30 dias de tratamento. E no
grupo treinado e tratado com metformina, o intervalo QTd
aumentou de 26,7 ± 1,7 para 47 ± 1,4 após 30 dias e o
intervalo QTcd aumentou de 28,3 ± 0,3 para 49,3 ± 3,5
após 30 dias de treinamento e tratamento.
5. DISCUSSÃO
O diabetes promove alterações metabólicas envolvendo
o transporte, armazenamento e a degradação de várias substâncias utilizadas pelas células como fonte energética.
As alterações do metabolismo no diabético decorrem da
ausência ou de secreção deficiente de insulina, levando conseqüentemente à diminuição da captação de glicose e ao
aumento da produção de glicose, resultando em hiperglicemia.
A aloxana causou aumento da glicemia em ratos diabéticos
(fig 1) em função da destruição de parte das células b e decorrente diminuição da secreção de insulina (STEINER et al,
1961).
a p< 0.05 vs controle sedentário-0; d p< 0.05 vs controle treinado metformina-0; i p<
0.05 vs controle sedentário-30 dias; j p< 0.05 vs controle treinado-30 dias; k p< 0.05 vs
controle sedentário metformina-30 dias.
Figura 5: Mudanças no intervalo QT após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio e ou tratamento com metformina em altas doses.
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
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a p< 0.05 vs controle sedentário-0; d p< 0.05 vs controle treinado metformina-0; g
p< 0.05 vs controle sedentário metformina-15 dias; h: p< 0.05 vs controle treinado
metformina-15 dias;
Figura 6: Mudanças no intervalo QTc após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio e ou tratamento com metformina em altas doses.
Dias
g p< 0.05 vs controle sedentário metformina-15 dias; h: p< 0.05 vs controle
treinado metformina-15 dias; i p< 0.05 vs controle sedentário-30 dias;
Figura 7
7: Mudanças no intervalo QTd após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio e ou tratamento com metformina em altas doses.
Figura 8
8: Mudanças no intervalo QTcd após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio e ou tratamento com metformina em altas doses.
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, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Efeito do tratamento metformina associado ao exercício físico anaeróbio sobre as funções cardíacas de ratos diabéticos por aloxana
f p< 0.05 vs controle sedentário-15 dias; g p< 0.05 vs diabetes sedentário-15 dias; h: p<
0.05 vs diabetes sedentário metformina-15 dias; k p< 0.05 vs controle sedentário-30 dias;
l p< 0.05 vs diabetes sedentário-30 dias; m p< 0.05 vs diabetes sedentário metformina-30
dias; n p< 0.05 vs diabetes treinado.
Figura 9: Mudanças no intervalo QT após indução de diabetes por aloxana e após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio e/ou
tratamento com metformina em altas doses.
b p< 0.05 vs diabetes sedentário-0; e p< 0.05 vs diabetes treinado metformina-0;
h: p< 0.05 vs diabetes sedentário metformina-15 dias; k p< 0.05 vs controle
sedentário-30 dias; m p< 0.05 vs diabetes sedentário metformina-30 dias; n p<
0.05 vs diabetes treinado.
Figura 10
10: Mudanças no intervalo QTc após indução de diabetes por aloxana e após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio e/ou
tratamento com metformina em altas doses.
b p< 0.05 vs diabetes sedentário-0; f p< 0.05 vs controle sedentário-15 dias; g
p< 0.05 vs diabetes sedentário-15 dias; k p< 0.05 vs controle sedentário-30
dias; l p< 0.05 vs diabetes sedentário-30 dias; m p< 0.05 vs diabetes sedentário
metformina-30 dias; n p< 0.05 vs diabetes treinado.
Figura 11
11: Mudanças no intervalo QTd após indução de diabetes por aloxana e após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio e/ou
tratamento com metformina em altas doses.
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b p< 0.05 vs diabetes sedentário-0; c p< 0.05 vs diabetes sedentário metformina0; f p< 0.05 vs controle sedentário-15 dias; g p< 0.05 vs diabetes sedentário-15
dias; h: p< 0.05 vs diabetes sedentário metformina-15 dias; j p< 0.05 vs diabetes
treinado metformina-15 dias; k p< 0.05 vs controle sedentário-30 dias; l p<
0.05 vs diabetes sedentário-30 dias; m p< 0.05 vs diabetes sedentário metformina30 dias; n p< 0.05 vs diabetes treinado.
Figura 12
12: Mudanças no intervalo QTcd após indução de diabetes por aloxana e após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio e/ou
tratamento com metformina em altas doses.
As alterações promovidas no metabolismo de
carboidratos e de lipídeos podem causar modificações na
estrutura e fisiologia cardiovascular, que por sua vez, alteram
o registro do eletrocardiograma. Um dos mais comuns problemas detectados em diabéticos é o aumento do intervalo
QT e suas derivadas QTc, QTd e QTcd. Este fato se deve ao
retardo na despolarização e/ou na repolarização do potencial de ação cardíaco (FEUVRAY & LOPASCHUK 1997).
Esta alteração observada em eletrocardiograma pode ser
explicada em função da mais comum manifestação clínica do
diabetes mellitus, a poliúria (aumento da diurese), que leva a
conseqüente polidipsia (aumento da ingestão de água)
(BRODSKY et al, 1950), assim como observado na figura 3.
A poliúria observada em diabéticos é tradicionalmente atribuída à diurese osmótica secundária ao aumento da glicemia
(glicosúria) (BRODSKY et al, 1950). A hiperglicemia leva a
perda de água e potássio do meio intracelular para o
extracelular (JOO et al, 2000). A depleção de potássio ocorre devido à sua excessiva perda urinária (KITABCHI & WALL,
1995). A baixa disponibilidade de K+ no plasma, causada
pela desidratação, pode ser responsável por prejuízos na
repolarização da membrana (PUNSKE et al, 2004).
Esta alteração eletrofisiológica promove aumento da
duração do potencial de ação com resultante prolongamento do intervalo QT. O aumento do intervalo QT e de sua
dispersão (QTd) observado em eletrocardiograma (ECG) tem
sido relacionado à uma predição de morte súbita em pacientes diabéticos tipo 2 (OKIN et al, 2004). Nossos resultados
mostram que houve aumento do intervalo QT e suas derivadas em ratos diabéticos (fig 9-12).
O aumento da dispersão do intervalo QT pode ocorrer
devido a mudanças na concentração de potássio no soro e
no meio intracelular (TOWBIN & VATTA, 2001), mas também pode ser explicada através de mudanças nos canais de
K+ voltagem dependentes (NISHIYAMA et al, 2001). O diabetes pode afetar o tecido cardíaco, alterando a magnitude
dos canais de K+ que estão envolvidos no processo de
repolarização da membrana (SHIMONI et al, 2000).
Entretanto, os exercícios anaeróbios podem promover
adaptações no corpo, que são importantes para o controle
da glicose sangüínea e prevenção de doenças
cardiovasculares. O treinamento anaeróbio promove alta
utilização da via glicolítica. Além disso, melhora a capacidade de contração que induz a captação de glicose pelos mús56
culos esqueléticos em função do aumento da translocação
de GLUT para a membrana via ativação da MAP quinase
(FUJIMOTO et al, 2003). Estes efeitos podem explicar a diminuição da glicemia observada na figura 1.
Assim como a glicemia, a ingestão de água também diminuiu nos ratos diabéticos treinados, como pode ser observado na figura 3, sugerindo que a diurese osmótica diminuiu
também.
As alterações metabólicas promovidas pelo treinamento
físico podem diminuir os riscos de doenças cardiovasculares.
Nossos resultados mostram que houve diminuição da dispersão do intervalo QT e QTc em ratos diabéticos treinados
(Fig. 9-12). Dessa maneira, o exercício anaeróbio promoveu
alterações no ciclo cardíaco reduzindo o período de
repolarização ventricular, que causou diminuição dos intervalos QT, bem como, sua dispersão. Isso pode ser associado
à redução de potássio na urina ou em função da correção da
magnitude dos canais de potássio que aumenta sua resposta.
Outros agentes farmacológicos também podem alterar a
função cardíaca promovendo mudanças na membrana de
cardiomiócitos, afetando a sua atividade enzimática, a função de receptores e o metabolismo relacionado ao transporte de íons em diabéticos (NAVARATNAM & KHATTER, 1989).
Fármacos, como a biguanida metformina, um antihiperglicemiante utilizado no tratamento de diabéticos tipo
2, contribuem para a diminuição da glicemia melhorando o
perfil metabólico e aumentando a concentração de glicogênio
no fígado e músculos.
O mecanismo pelo qual a metformina atua é multifatorial.
Metformina aumenta a ação da insulina através do aumento
da atividade de seu receptor e pela incorporação de novos
transportadores de glicose à membrana (HOWLETT & BAILEY,
1999).
Entretanto, metformina pode induzir efeitos colaterais.
Isto foi demonstrado através de estudos, onde altas doses de
metformina ativaram a AMPK reduzindo a responsividade
das células b ao aumento de glicose e, em caso de exposição
prolongada, metformina pode estimular a apoptose destas
células (KEFAS et al, 2004).
Nossos resultados demonstraram que metformina, em
concentrações equivalentes à máxima recomendada a pacientes humanos, não diminuem a glicemia e aumentam a
ingestão hídrica de ratos diabéticos (fig. 1).
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Efeito do tratamento metformina associado ao exercício físico anaeróbio sobre as funções cardíacas de ratos diabéticos por aloxana
reduziu o efeito protetor do exercício físico, causando aumento dos intervalos QTd e QTcd também e tornando o
animal mais susceptível à morte súbita.
Em conclusão prévia, exercícios de alta intensidade foi
benéfico em reduzir a dispersão dos intervalos QT e QTc,
diminuindo os riscos de morte súbita em ratos diabéticos.
Entretanto, metformina aumentou os riscos de morte súbita
em ratos sedentários e treinados em função da elevação dos
intervalos QTd e QTcd, sendo portanto desaconselhável seu
uso concomitante aos exercícios físicos de alta intensidade.
ARILDSEN, H. A.; MAY, O.; CHRISTIANSEN, E. H.; DAMSGAARD, E. M. Increased QT dispersion in patients with insulindependent diabetes mellitus. Intern. JJ.. Cardiol. 71: 235-242, 1999.
Notes
Notas
(1) The study is part of the Program in Support of
Undergraduate research (PAIC), sponsored by
UNIFAE.
(1) O estudo integra o Programa de Apoio à Iniciação
Científica (PAIC), patrocinado pelo UNIFAE.
Referências
Além de seu efeito sobre as células b, através da ativação
da AMPK, as doses terapêuticas de metformina estimulam a
atividade da tirosina quinase da subunidade b da porção
intracelular do receptor de insulina. Porém, em altas concentrações, metformina inibe a tirosina quinase, e conseqüentemente inibe a ação da insulina (STITH et al, 1998).
Este efeito da metformina aparentemente causou anormalidades
eletrofisiológicas
registradas
em
eletrocardiograma. Em doses altas, a metformina promoveu
aumento dos intervalos QTd e QTcd. Além disso, metformina
BERG, K. E. Diabetic’s Guide to health and fitness - An authoritative approach to leading an active life. Life Enhancement
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Abstract
TRINDER, R. Determination of glucose in blood using glucose oxidase with alternative oxygen acceptor. Ann. Clin.
Biochem. 6: 24, 1969.
Biochem
The aim of this research1 is to study the effect of the regular anaerobic exercise and its association with metformin on
QT interval and its dispersion in rats with aloxan-induced diabetes. The prolongation of the QT interval is related to the
cardiac ischemic illness and it is associated with the sudden death in diabetic patients with great increase of the glicemy.
The anaerobic training increases the glicemy and the risks of sudden death in diabetics ones. Metformin is a pharmaco
used to reduce the glicemy that can cause eletrofisiologics alterations on the electrocardiogram. For the study it was
used rats with aloxan-induced diabetes and controlled ones, which have been submitted to the physical training
(swimming) during 30 days (5x/weaks), with 10% overload p.c. e duration of 40 minutes. Each series took 90 seconds
with 3 minutes interval. To register the waves of the ECG the electrodes had been connected to the legs of an
anesthetized rat by hypodermics needles. The QT interval was corrected by the Bazzet’s formula and later its dispersion
has been calculated.
Key words
Metformin, Aloxan, Induced Diabetes
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Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Implantação de uma cultura de segurança:
estudo sobre a avaliação e prevenção do risco
Resumo
Luciene Cazaroto, Elisângela de Souza,
Eda Terezinha de Oliveira Tassara , Carmen Beatriz Fabriani
Nesta pesquisa1 os autores buscam estabelecer as relações entre
a subjetividade do indivíduo em relação ao risco e sua disponibilidade afetiva e cognitiva para modificar a realidade de forma a
garantir sua sobrevivência. Pretende-se investigar a idéia que as
pessoas de uma comunidade têm sobre os fatores que ameaçam a
sua sobrevivência e a de seu grupo. Selecionou-se como participantes da pesquisa mulheres que passaram por uma experiência
traumática, sendo realizada em dois campos distintos. O campo
de estudo 1 foi constituído por três entrevistadas, com idade entre
23 e 46 anos, do NEAP (Núcleo de Estudos e Atendimento em
Psicologia do UNIFAE – São João da Boa Vista/SP). O campo de
estudo 2 foi constituído a partir do LAR CRIANÇA FELIZ, instituição que desenvolve um programa de acompanhamento sócio
educativo a mães, crianças e adolescentes, do qual foram entrevistadas cinco mães, de 27 a 59 anos, moradoras da mesma
comunidade. O método de coleta de informações utilizado foi o
de entrevistas individuais em profundidade quando se busca a
narrativa da experiência, e suas possíveis explicações para isso e
jogam com a cadeia de acontecimentos que constrói a vida, individual e social. Após a analise da construção do argumento a
partir do texto das entrevistas, percebe-se que os entrevistados,
em sua grande maioria, não conseguem aprender com a experiência a desenvolver atos de prevenção em relação a eles mesmos ou
em relação a sua prole. Apenas em dois casos, sendo um no
campo 1 e um no campo 2, percebe-se um movimento ainda que
incipiente de alteração de atitudes, visando a não repetição da
experiência traumática.
Autores
Carmen Beatriz Fabriani
Pró-reitora de Graduação e Professora do
Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE; Psicóloga com
Doutorado em Psicologia Social pelo
Instituto de Psicologia da Universidade de
São Paulo - IP/USP e Mestrado Engenharia
de Produção pela Coordenação dos
Programas de Pós-graduação em
engenharia da Universidade Federal do Rio
de Janeiro – COPPE/UFRJ.
E-mail:
[email protected]
Eda Terezinha de Oliveira Tassara
Professora Titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo – IP/USP.
Física com Pós-Doutoramento pela Ecole
des Hautes Etudes en Sciences Sociales –
EHESS/França e Doutorado e Mestrado em
Psicologia Experimental pela Universidade
de São Paulo – IP/USP.
E-mail:
[email protected]
Luciene Cazaroto
Aluna do 5o ano do curso de Psicologia do
Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE.
E-mail:
[email protected]
Palavras-chave
Mulheres, Subjetividade do Indivíduo, Disponibilidade Afetiva e
Cognitiva, Psicologia Social
Elisangela de Souza
Aluna do 5o ano do curso de Psicologia do
Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE.
E-mail:
[email protected]
Recebido em 18/março/2007
Aprovado em 04/setembro/2007
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
59
FABRIANI, C. B. (et al.)
1. Introdução
O presente projeto de pesquisa e intervenção se insere
no tema atual de trabalho deste grupo de pesquisa, ao estudar as razões não lógicas presentes no processo de decisão.
O indivíduo frente à necessidade de decidir sobre questões
que configuram seu estilo de vida (Fabriani, 2005) passa por
um processo muitas vezes não consciente de avaliação do
risco nas situações de ameaça à sobrevivência social, física e
identitária. Nesse sentido, busca-se desenvolver a inclusão
nos objetivos de estudar programas de intervenção entre
grupos da comunidade, principalmente aqueles com uma problemática comum relacionada a situações de risco, visando
tanto a promoção de uma cultura de segurança, como a geração de dados para a pesquisa.
Nos próximos itens será apresentado o recorte que se
pretende seguir na realização deste projeto
1.1 Configuração do tema
Em 1992, realizou-se no Rio de Janeiro, a Conferência
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida por ECO-92. Entre suas
muitas e relevantes atividades, ficou aprovado um programa
de ação, conhecido como Agenda 21. Este programa constitui-se numa ousada e abrangente tentativa de promover, em
escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica.
Enfim, a Agenda 21 traduz em ações o conceito de desenvolvimento sustentável. Do ponto de vista da Agenda 21,
as situações de risco recebem uma atenção especial, ficando
estabelecido em seu capítulo 7, item 57, a urgente necessidade de fazer frente a questão da prevenção e redução dos
desastres provocados pelo homem e/ou dos desastres naturais. Fica também estabelecido que o objetivo prioritário a
ser alcançado refere-se a capacitar todos os países, em especial os que apresentem propensão a desastres, a mitigar o
impacto negativo dos mesmos, sejam naturais e/ou provocados pelo homem sobre os assentamentos humanos, sobre
as economias nacionais e sobre o meio ambiente. Ficam
previstas três distintas áreas de atividade para este aspecto
do programa, a saber: o desenvolvimento de uma cultura da
segurança, o planejamento pré-desastres e a reconstrução
pós-desastres. O foco de preocupação do presente estudo
recai principalmente, sobre o potencial de desenvolvimento
de uma cultura de segurança e, secundariamente, sobre as
possibilidades de implementação do planejamento pré-desastre. Quanto ao desenvolvimento de uma cultura de segurança entre as muitas atividades previstas pela Agenda 21,
ressalta-se a de:
Implementar campanhas de conscientização de
âmbito nacional e local por meio de todos os
meios disponíveis, traduzindo o conhecimento em
informações facilmente compreensíveis pelo público em geral e pelas populações diretamente
expostas a riscos (cap.7, 60.b).
O entendimento sobre a cultura da segurança não deve
restringir-se às questões ambientais stricto sensu. Percebese a mesma dificuldade em outras áreas da organização humana em que esta cultura da segurança encontra dificuldade
em se concretizar. Nesse sentido pode-se citar inúmeras iniciativas para a prevenção da epidemia de HIV entre vários
segmentos da comunidade, considerando que os indivíduos
que conseguem manter uma vida social, afetiva e profissional ativa, apesar da condição de portador de HIV, apresentam
60
menor freqüência de infeções oportunistas e demais
intercorrências negativas. Pode-se considerar que esta melhor qualidade de vida relaciona-se, também, a uma maior
aderência aos tratamentos, muitas vezes penosos e invasivos.
Quanto à perspectiva de expansão da epidemia é importante
também a revelação dessa informação, o quanto antes, ao
círculo de relações, seja para antecipar o início do tratamento, seja para evitar a disseminação do vírus. Entretanto, verifica-se que os portadores de HIV têm, em geral, muita dificuldade em revelar esta informação para este círculo de relações, por medo de punição e, por outro lado, a razão para
revelar é a expectativa de recebimento de aceitação e
companheirismo (Fabriani, 2000).
Portanto, a implantação de uma cultura de segurança não
deve ficar restrita, mas ser abrangente a outros campos da
interação humana, tais como violência familiar, uso de drogas, inclusão de grupos discriminados por gênero, idade,
renda, raça, instrução, deficiência ou outros estereótipos que
levam a segregação do convívio social gerando situações de
risco para este grupo e para a população em geral.
A cultura de segurança refere-se a todas aos eixos de
interação humana, homem x natureza, homem x sociedade e
homem x homem, nos quais se desenvolvem ações carregadas de significados e sua implantação requer uma maior compreensão dos fatores subjetivos que determinam as decisões
no âmbito individual e que, certamente, passam pela avaliação subjetiva e objetiva do risco, estando implicada nesta
decisão a qualidade de vida que o sujeito considera boa,
aceitável, viável no âmbito pessoal. Lieber (2002) Considerando a importância dos fatores de ordem subjetiva na
operacionalização de uma cultura de segurança impõe-se a
necessidade da articulação da subjetividade com a formulação de projetos de intervenção na comunidade. Uma contribuição importante no sentido desta articulação está contida
na perspectiva oferecida por Giddens (1991) sobre a pósmodernidade, em que o viver na pós-modernidade é viver
num ambiente de chance e risco, em um sistema sócioeconômico e cultural direcionado à dominação da natureza
e a operacionalização de um franco controle do mundo natural e social. Este direcionamento no sentido do controle sobre o mundo natural já se manifestava nas culturas não modernas, através das idéias de destino e carma, refletindo uma
concepção de que os fatos da história não se sucediam aleatoriamente, mas segundo uma ordem desconhecida, porém
existente. A operacionalização de uma cultura de segurança
implica a idéia de que além dos acontecimentos futuros não
serem tão aleatórios assim, também o conhecimento sobre
as variáveis intervenientes em cada evento ou sucessão de
eventos possibilita a criação de rotinas preventivas em relação à ocorrência de acontecimentos indesejáveis, ou de rotinas para mitigação dos efeitos e conseqüências dos acontecimentos.
O sujeito pós-moderno, em meio a este bombardeio de
informações freqüentemente conflitantes, é chamado a tomar decisões, todas importantíssimas para a sobrevivência
do eu em um processo de avaliação constante de risco e de
chances. Esta avaliação é pessoal e intransferível para a sobrevivência do eu biopsicossocial1, e depende da estrutura
deste eu para hierarquizar e ordenar esta imensidão de informações de acordo com seus valores e gostos pessoais, contidos naquilo que usualmente chamamos de sua subjetividade. Estudos e exemplos relatados por Giddens (1991) apontam que esta auditoria do sistema de informações quanto à
sua autenticidade é apoiada numa rede de confiança entre
pares ou dirigida a alguma fonte geradora de informações, e
substitui um sistema pericial individual pela confiança e possibilita a recomposição de uma rotina cotidiana com aparen-
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Implantação de uma cultura de segurança: estudo sobre a avaliação e prevenção do risco
te normalidade, alheia aos riscos permanentes a que estariam todos submetidos.
2. Objetivos
De forma geral, os objetivos desta proposta de estudo
são de estabelecer as relações entre a subjetividade do indivíduo com relação ao risco e sua disponibilidade afetiva e
cognitiva para modificar a realidade de forma a garantir sua
sobrevivência. Acredita-se que este conhecimento poderá ser
compartilhado pelos vários agentes intervenientes na situação de risco e poderá contribuir na formulação de programas de prevenção do risco psicossocial.
Pretende-se investigar a idéia que as pessoas de uma
comunidade têm sobre os fatores que ameaçam a sobrevivência sua e de seu grupo, que pode ser família, pares, colegas de trabalho, ou moradores de uma comunidade e que
moldam as inter-relações.
Em última instância, o reconhecer-se em risco, o pensar
sobre este risco, vindo a conhecer as múltiplas facetas da
situação e ser capaz de reconhecer os fatores de risco futuros nos fatos do presente são fatores de esclarecimento desta população, que poderá moldar uma atitude esclarecida de
resistência ao meio sócio cultural na gênese do risco no
sentido estabelecido por Adorno (1942).
Deve-se também considerar que um dos objetivos de ação
estratégica, previsto na Agenda 21, é a ação específica de
inclusão de toda a população no desenvolvimento sustentável e eqüitativo, pela participação de todos na construção do
mundo social e de prevenção da degradação nacional e
ambiental.
2.1 Objetivos específicos
Verificar a possibilidade de desenvolver um trabalho cultural de previsão do risco segundo dois aspectos teóricos.
Por um lado, Giddens afirma que o que caracteriza o mundo
contemporâneo é a avaliação do risco. Por outro lado, Lasch
considera que, em uma época carregada de problemas, a
vida cotidiana passa a ser um exercício de sobrevivência e
que, em tais condições, a individualidade transforma-se num
bem de luxo, fora de lugar em uma era de iminente austeridade. A individualidade supõe uma história pessoal, amigos,
família em um sentido de situação.
· Implantar projetos de pesquisa e intervenção junto à
população de São João da Boa Vista e cidades da região, buscando a identificação de situações de risco e a
operacionalização da percepção psico afetiva do risco.
· Possibilitar a formação de alunos de vários cursos do
UNIFAE como, por exemplo, Economia, Administração
de Empresas, Educação Física, Psicologia e outros, com
habilidade e competência para avaliação da problemática de risco psicossocial e na atuação junto a comunidades.
3. Método
A pesquisa foi realizada em dois campos distintos, sendo
o primeiro em São João da Boa Vista/SP, com mulheres vítimas de abuso sexual e o segundo em Poços de Caldas/MG,
com mães em situação de vulnerabilidade psicossocial. O
método de coleta de informações utilizado foi o de entrevistas individuais em profundidade que, conforme Gaskell
(2002), permitem explorar em detalhe a cosmo visão do
entrevistado, sendo que em todas elas realizadas com
agendamento prévio, foi explicado o objetivo do estudo e
apresentado o termo de consentimento livre e esclarecido e
colhida a assinatura de concordância do entrevistado. Foi
Pensamento Plural: Revista Científica do
também explicada a forma da entrevista, solicitada sua permissão para gravar os depoimentos e observado que estes
poderiam ser interrompidos a qualquer momento caso o
entrevistado assim o quisesse. Foi também firmado o compromisso de sigilo quanto a identidade dos entrevistados na
divulgação dos resultados.
Nas entrevistas, buscou-se a narrativa da experiência, na
qual as pessoas lembram o que aconteceu, colocam a experiência em seqüência, encontram possíveis explicações para
isso e jogam com a cadeia de acontecimentos que constroem a vida individual e social, de acordo com Javchelovitch
(apud Fabriani, 2005 p. 38). Esta forma de reconstruir a história e de construir o significado dos fatos leva em conta que
contar histórias é uma habilidade relativamente independente da educação e da competência lingüística, e o acontecimento pode ser traduzido em termos indexados, como foi o
caso em que a referência é feita a um acontecimento concreto, em um lugar e em um tempo, o abuso sexual no campo 1
e a experiência da maternidade no campo 2.
3.1 PParticipantes:
articipantes:
3.1.1. Campo de pesquisa 1: São João da Boa
Vista
O campo de estudo foi constituído a partir do NEAP (Núcleo de Estudos e Atendimento em Psicologia do UNIFAE –
São João da Boa Vista/SP), do qual foram entrevistadas três
pessoas, com idade entre 23 e 46 anos, todas do sexo feminino. A seleção dos participantes foi realizada através das
seguintes etapas:
· Solicitação de autorização à coordenação do curso de
psicologia para consulta aos prontuários de pacientes atendidos no NEAP, para seleção de casos com queixa de
abuso sexual.
· Levantamento dos prontuários de casos atendidos no
Neap, quando foram pré-selecionados seis históricos de
abuso sexual que, após contato telefônico e residencial,
resultaram no agendamento de 3 entrevistas.
· Entrevistas com duração entre uma e duas horas realizadas no mês de julho de 2006, em uma das salas de
atendimento do NEAP.
3.1.2. Campo de pesquisa 2: PPoços
oços de Caldas
O campo de estudo foi constituído a partir do LAR CRIANÇA FELIZ, uma instituição que desenvolve um programa
de acompanhamento sócio-educativo a mães, crianças e adolescentes. Foram entrevistadas cinco mães de 27 a 59 anos,
que têm pelo menos um de seus filhos em acompanhamentos na Instituição e moradoras do Bairro São José. A seleção
dos participantes foi realizada através das seguintes etapas:
· Apresentação à diretora da Instituição Lar Criança Feliz
dos objetivos da pesquisa e solicitação de indicação
de cinco mães em atendimento na instituição e seus
respectivos endereços.
· Escolha por sorteio de um nome a partir dos cinco
fornecidos, com quem foi realizado um agendamento
da primeira entrevista. As demais entrevistas foram
selecionadas seguindo a amostragem por bola de neve,
na qual uma nova entrevistada era indicada pela anterior (Fabriani, Tassara, Turato).
· Entrevistas com duração entre uma e duas horas, realizadas no mês de julho de 2006, nas residências dos
entrevistos, a partir de agendamento anterior.
3.2 Coleta de informações
Para coleta de informações as entrevistas foram realizadas através de agendamento prévio, em horário e local em
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
61
61
FABRIANI, C. B. (et al.)
que as entrevistadas se sentissem confortáveis e onde pudesse ser preservada a privacidade dos depoimentos. Todas as
entrevistas foram gravadas e depois transcritas literalmente,
sendo que nas transcrições estão sempre omitidos os dados
de identificação. Este controle está restrito a uma ficha que
não integra o material da pesquisa. Após a finalização da
pesquisa o material gravado será inutilizado.
Em ambas as pesquisas, as entrevistas se caracterizam
por semi dirigidas, que a partir de perguntas disparadoras se
registra o relato do entrevistado sem interrupções ou censuras. O roteiro pré-definido com perguntas disparadoras visava obter dados que pudessem explicar e reconstituir os
fatos da história do sujeito a partir de sua percepção e também o registro da elaboração possível com relação a possibilidades de ações de prevenção do fato no campo 1 e no
campo 2, sendo que neste último buscou-se também a compreensão da percepção da maternidade e da construção de
atitudes de prevenção com relação aos filhos.
3.2.1. Entrevistas campo 1
As entrevistas tiveram quatro perguntas disparadoras.
Deu-se início com uma primeira pergunta por meio da qual a
entrevistada pudesse relatar sua percepção do acontecimento do abuso. A segunda pergunta teve o objetivo de conhecer
o processo decisório quanto a denunciar ou não o acusado.
Na terceira pergunta, o intuito foi o de verificar as conseqüências do fato traumático na vida posterior da entrevistada.
Na quarta pergunta, o objetivo foi verificar o discernimento
decorrente do fato que poderia promover ações de prevenção de repetição da experiência no futuro seja com a própria
ou com sua prole.
3.2.2. Entrevistas campo 2
As entrevistas tiveram seis perguntas disparadoras, iniciando com uma pergunta a entrevistada para que esta relatasse sua percepção quando soube da gravidez. A segunda
pergunta foi referente à percepção quanto ‘ao ser mãe’, nesta primeira gravidez e parto. Na terceira e quarta perguntas,
buscou-se a compreensão da função materna tanto na relação direta com os filhos como na sua inserção na comunidade. Na quinta pergunta, buscou-se uma reflexão sobre a
maternidade a partir das múltiplas experiências com os vários filhos e netos.
4. Análise dos resultados
O método utilizado foi o de análise da construção do
argumento. Busca-se nessa pesquisa identificar os tipos de
argumentos utilizados no processo decisório, analisados sob
o ponto de vista lógico. Conforme apresentado por
Liakopoulo (2002), Blackburn (1996) e Rosa (2003) (apud
Fabriani, 2004 p. 43), o interesse no discurso é parcial e
objetivamente recai sobre a construção do argumento,
entendido como uma série de afirmações com o objetivo de
justificar ou refutar determinada opinião. De maneira geral a
análise do argumento tem por objetivo apresentar a maneira
como as afirmações estão estruturadas no discurso e avaliar
sua solidez.
Conforme Fabriani (2006), na construção de um argumento é imperioso que se estabeleça uma relação de causalidade entre uma seqüência de experiências e mesmo que
incluam certos aspectos ficcionais, devam constituir-se em
um todo coerente capaz de levar a uma avaliação da experiência quanto a ser boa ou ruim e ainda possibilitar a elaboração de atitudes conscientes que levem a repetição da experiência ou sua evitação. Na psicanálise, quando falamos do
mecanismo de defesa do ego de avaliação e/ou condena62
ção, pressupõe-se um eu suficientemente estruturado para
poder entrar em contato com conteúdos psíquicos, muitas
vezes penosos do ponto e vista psico-afetivo evocados, mas
que são indispensáveis na construção dos significados das
experiências pelas quais passa o sujeito. Este processo psíquico fica muitas vezes impedido de se realizar plenamente
devido a qualidade e ou intensidade da experiência, tendo
como resultado uma compreensão fragmentada e a impossibilidade da construção das atitudes adequadas, ou seja, o
processo de pensar fica refém das emoções e submetido a
outros mecanismos de defesa do ego, conforme veremos a
seguir na análise das entrevistas.
Campo 1: Optamos por apresentar um síntese da análise dos dados nas entrevistas e a categorização dos depoimentos estão apresentados de forma completa no anexo 2.
Entrevista 1- Verificou-se que a entrevistada não elabora
a experiência de abuso de forma a logicamente estabelecer
uma relação de causalidade e esta propõe formas de evitação
generalistas e preconcebidas não muito eficazes na prevenção e que tem como conseqüência a limitação de experiências e empobrecimento da vida social afetiva. Como forma de
compreensão do processo psíquico envolvido, podemos recorrer ao mecanismo psicológico da negação de um aspecto
da realidade que é intensamente traumático para o sujeito
que, de acordo com Fabriani (2004), a aceitação do conteúdo de um pensamento integra a construção do argumento e
a negação de uma idéia existente na construção de um argumento é reprimi-la, ou seja, impedir por um processo psicológico que ela produza seus efeitos na compreensão do presente e na construção do futuro. Portanto, na avaliação de
uma situação, a negação de algumas qualidades ou características da situação pode ser considerada como a expressão
de um processo psicológico em que o indivíduo que nega,
expressa sua preferência de que aquela qualidade não estivesse presente. Para Freud (1925), ao tratar deste processo
psicológico da negativa desenvolve uma série de proposições com grandes implicações sobre a compreensão do processo de tomada de decisão pelo indivíduo, passando pela
avaliação da situação, afirmando ou “desafirmando” que uma
idéia tenha existência na realidade.
Entrevista 2 - O processo psicológico pelo qual a segunda entrevistada passou foi a repressão que em sentido amplo, é uma operação psíquica que tende a fazer desaparecer
da consciência um conteúdo desagradável ou inoportuno:
idéia, afeto etc. Trata-se de um processo automático que
mantém fora da consciência impulsos ou sentimentos inaceitáveis. (Freud, 1925)
Entrevista 3 - Nesta, pode-se observar um grau maior de
elaboração do fato. A entrevistada resignificou o trauma e
demonstrou um pensamento criativo com capacidade para
criar uma solução para a evitação do fato mais próximo da
avaliação consciente dos fatos, pressupondo um ego mais
estruturado.
Portanto, de maneira geral e se considerarmos o indivíduo vítima de abuso sexual como o grupo social em que se
configura o abuso, verifica-se que a prevenção desta situação não é apenas heteronímica, constituída pela criação de
mecanismos de denúncia, repressão e punição do agressor,
mas a prevenção requer uma participação emancipatória do
sujeito vitimizado, conforme apresentado por Tassara &
Ardans (2004), como uma ação integração aos “processos
de transformação social que suponham não uma passividade
dos atores (convocados de cima e de fora, meros receptores
das conseqüências das políticas públicas), mas, pelo contrário, uma ação enquanto agentes do processo em todas as
suas fases e para todos os efeitos”. Verifica-se, ainda, que
esta participação que aqui falamos pressupõe sujeitos capa-
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Implantação de uma cultura de segurança: estudo sobre a avaliação e prevenção do risco
zes de pensar sobre as experiências por mais penosas que
sejam e criativos na proposição de procedimentos individuais e coletivos que encaminhem soluções de preservação da
vida individual e coletiva. Diante disso, a análise dos resultados do campo 1 contribuem para o esclarecimento dos processos psíquicos presentes na situação traumática e aponta
para processos psicossociais de intervenção, seja de
remediação ou de prevenção que possam pressupor a construção da emancipação. Neste sentido, pode ainda subsidiar
o encaminhamento de políticas públicas por parte dos agentes de intervenção, com o desenvolvimento de estratégia
participativa de prevenção do abuso sexual.
Campo 2: Optamos por apresentar um síntese da análise dos dados em três entrevistas que nos pareceram mais
significativas e a categorização dos depoimentos de todas as
entrevistas estão apresentadas de forma completa no anexo 2.
Entrevista 1 – Pode-se verificar que a entrevistada não
desejou ter os filhos, mas, de acordo com sua compreensão,
é necessário criá-los. Sua relação com os filhos é marcada
pelas obrigações que ela atribuiu como maternas, principalmente àquelas ligadas ao provimento das necessidades básicas (alimentar, vestir e abrigar) e, sentindo grande ansiedade
em relação a isso e faz uso do processo psicológico da
racionalização, quando encontra motivos plausíveis para
pensamentos e ações pouco plausíveis considerando a lógica dos fatos e apresenta também certo embotamento afetivo
na relação com os filhos.
Entrevista 2 - Verifica-se, a partir do depoimento, que os
filhos foram gerados como um movimento quase que apenas
biológico, como se a mãe não estivesse imbricada neste
processo. Ao falar da maternidade parece colocar uma visão
idealializada de uma mãe ideal e não dela mesma, sobre a
qual tem uma opinião muito crítica. Entretanto, parece haver
um movimento no sentido do resgate das experiências de
maternidade com o crescimento dos filhos, ao identificar-se
com eles na mesma idade de quando engravidou a primeira
vez e resolve abandonar o uso de drogas para não dar exemplo ruim. Em síntese, pode-se falar que é uma situação em
movimento, mas que a idéia de maternidade ainda está em
construção.
Entrevista 3 – A entrevistada tem 3 filhos, afirma não ter
planejado nenhum e tudo ter ido acontecendo. Parece que
define a maternidade como um cuidar higiênico e com o
crescimento dos filhos acrescenta a isto o papel de educadora no sentido da inserção deles na vida social. Entretanto,
coloca-se também como filha ou irmã ao procurar nos filhos
a cura de cura solidão existencial. Entretanto, seu relacionamento é pautado pela agressividade e desconfiança.
Portanto, de maneira geral, pode-se afirmar que a experiência de maternidade para estas mulheres/mães, há pelo
menos 10 anos, continua sendo uma “bomba”, um “susto”,
uma “droga” percebida em todo o seu contexto emocional, e
ainda não significando, em termos de uma elaboração secundária, o que certamente compromete o exercício da função materna, conforme Freud, em que a primeira idéia que o
bebê tem sobre si mesmo e o mundo que o cerca é um
reflexo de como a mãe percebe esta criança e o mundo. A
qualidade deste vínculo primário é introjetada pelo bebê e se
constitui na base de estruturação de sua personalidade. Se
este vínculo é hostil (rejeição), inconstante (impaciente) o
sujeito tenderá a repetir esta forma de compreender o mundo e a si mesmo em todas suas futuras relações consigo
mesmo e com a sociedade. Sendo assim, a figura da mãe
suficientemente boa trazida, para Winnicott, é interessante
ao balizar que ela é quem traduz o mundo para o bebê,
dosando a intensidade do contato e oferecendo explicações
que comporão eventualmente os significados construídos
Pensamento Plural: Revista Científica do
pelo próprio indivíduo. Giddens coloca que viver na
modernidade é ser capaz de avaliar riscos e esta é uma habilidade digamos, psiquicamente sofisticada, pois implica no
estabelecimento de reações de causalidade, no cálculo
probabilístico da possibilidade de ocorrência dos fatos e na
avaliação da desejabilidade de sua ocorrência, segundo os
valores e gostos do sujeito. Este sofisticado processo
psicossocial pressupõe um eu suficientemente organizado
que oriente as escolhas e saudável no sentido da preservação da vida, ou seja, estamos falando de filhos de mães
suficientemente boas. Entretanto, a pesquisa evidencia que
estas mulheres estão freqüentemente em desacordo com a
maternidade que significa um fardo, um remédio contra a
solidão. Enfim, algo em desacordo com sua vida, mas que,
por outro lado, dão sentido a viver o cotidiano, o que configura o conflito. Este estado de coisas se traduz nas entrevistas em uma compreensão da maternidade limitada aos cuidados “higiênicos” entendidos como alimentar, vestir, abrigar. Percebe-se ainda um certo embotamento afetivo e o estabelecimento de relações mãe e filhos hostis, em que a
rivalidade presente é resolvida com prepotência e ou submissão. Não se percebe, de maneira geral nesta relação, um
projeto de vida que oriente o que chamam de educação, na
construção de um futuro para si e para os filhos. As intervenções buscam soluções imediatistas que os afastam da construção de Winnicott da mãe suficientemente boa. Percebe-se
que a gravidez, de maneira geral, vem em resposta a um
anseio de gerarem uma criança que as acompanhasse e impedisse sua solidão. Entretanto, duas entrevistadas mostraram um movimento transformador de maternidade, quando
os filhos atingem a adolescência, de buscar ativamente a
substituição da rivalidade e a hostilidade pela colaboração e
tolerância no relacionamento familiar, inclusive com a decisão de abandono das drogas e da violência com a intenção
de proteger e orientar os filhos. Dessa forma, este estudo
aponta para a necessidade de intervenções psicossociais junto
a grupos de mães visando a elaboração do significado da
maternidade como possibilidade de maior satisfação pessoal e, também, a construção de valores de tolerância e cooperação na vida social.
5. Considerações finais
Retomando os objetivos gerais desta pesquisa, de estabelecer as relações entre a subjetividade do indivíduo e a
relação ao risco, e sua disponibilidade afetiva e cognitiva
para modificar a realidade de forma a garantir sua sobrevivência, percebe-se que os entrevistados em sua grande maioria não conseguem aprender com a experiência e desenvolver atos de prevenção em relação a eles mesmos ou em
relação a sua prole. Apenas em dois casos, sendo uma no
campo 1 e uma no campo 2, percebe-se um movimento ainda que incipiente de alteração de atitudes visando a não
repetição da experiência traumática.
Especificamente, em relação aos dois parâmetros de avaliação das experiências aqui consideradas, selecionamos o
parâmetro proposto por Giddens, o qual afirma que o que
caracteriza o mundo contemporâneo é a avaliação do risco.
E o que completa este, proposto Lasch, considera que em
uma época carregada de problemas, a vida cotidiana passa a
ser um exercício de sobrevivência e que, em tais condições, a
individualidade transforma-se num bem de luxo, fora de lugar em uma era de iminente austeridade. A individualidade
supõe uma história pessoal, amigos, família em um sentido
de situação e não se percebe nos programas e projetos conduzidos pelos órgãos governamentais ou não governamentais de atenção psicossocial à população este tipo de preo-
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
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63
FABRIANI, C. B. (et al.)
iniciação cientifica realizados, a contento, em 2006, e pelo
menos 4 campos de estágio no curso de psicologia. Por fim,
quanto à perspectiva de consolidação desta linha de pesquisa científica, deve-se observar que para 2007 os campos de
estágio terão continuidade e deverá ser implantado o projeto “Nós gostamos de gente”, que reúne numa abordagem
interdisciplinar professores e alunos dos cursos de psicologia, administração, educação física e comunicação. Todos
estes esforços integram o núcleo de Inclusão, conforme definido no Plano de Desenvolvimento Institucional do UNIFAE.
ADORNO, T; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento
esclarecimento. Jorge Zahar. Rio de Janeiro: [s.n] 1984.
Notes
Notas
(1) The study is part of the Program in Support of
the Scientific Research (PAPEC), sponsored by
UNIFAE.
(1) O estudo integra o Programa de Apoio à Pesquisa
Científica (PAPEC), patrocinado pelo UNIFAE.
(2) As manifestações culturais recentes trazem inúmeros
exemplos deste conflito subjacente ao viver na
modernidade, quando podemos citar desde clássicos
com Admirável Mundo Novo
Novo, de Huxley, e 1984,
de Orwell, quanto às produções cinematográficas com
THX1138 e, recentemente, Minority Report. Em todas
elas está em debate este deslocamento do processo
decisório para um poder político maior capaz de conter todas as informações para o “bem viver” e tomar
as decisões pelo sujeito que resulta em um eu alienado de si mesmo.
Referências
cupação, ou seja, de oferecer oportunidades de reflexão da
experiência e sua elaboração do sentido de promover o pensamento esclarecido entre esta população e do alimentaria
cidadãos com discernimento para decidir sobre os fatos de
seu cotidiano no sentido da prevenção da vida. Portanto, esta
pesquisa indica a existência de um vácuo a ser preenchido por
intervenções pioneiras a partir do mundo acadêmico, seja na
forma de estágios e/ou projetos de extensão universitária.
Quanto oportunidade de contribuir com a formação de
alunos, o projeto propiciou diretamente dois projetos de
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Pensamento Plural: Revista Científica do
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In this research1 the authors search to establish the relationship between individual subjectivity in relation to the risk and
its affective and cognitive availability to modify the reality in order to guarantee its survival. This work investigates what
people of a community think about the factors that threaten their survival and the survival of the group. The subjects of
this research are women who had passed through a traumatic experience. This research had two different fields. In field
1 was made three interviews with women patients with ages between 23 and 46 years old, from NEAP (Nucleus of
Studies and Attendance in Psychology - UNIFAE, in São João da Boa Vista /SP). In field 2 was made 5 interviews with
mothers, with ages between 27 and 59 years old, from the same community assisted by HOME HAPPY CHILD (Lar
criança feliz), an institution that develops a social program with mothers, children . The method for data collection was
individual interviews “in depth” which allows to explore in detail the cosmo vision of the interviewed, searching from the
narrative of experiences, that people remember what happened to them, find a sequence for them experiences, they find
possible explanations for this and they understand events that construct the individual and social life. After argument
analyses from the text of the interviews, it can be observed that the interviewed ones, in its great majority, do not learn
with the experience in order to develop acts of prevention in relation to them or their descendents. But in two cases, one
in field 1 and one in field 2, showed an incipient movement in constructing some change in tjheir environment in order
to avoid the repetition of the traumatic experience.
Key words
Women, Individual Subjectivity, Affective and Cognitive Availability, Social Psychology
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
65
65
Perfil
Kamal Abdel Radi Ismail,
uma vida dedicada à ciência
Camilo Antônio de Assis Barbosa
Coordenador do Curso de Jornalismo do Centro Universitário das Faculdades
Associadas de Ensino – FAE e professor da Universidade do Vale do Sapucaí UNIVÁS e do Instituto Nacional de Pós Graduação – INPG, com mestrado em
Comunicação e Mercado pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero
E-mail: [email protected]
Sala 312, bloco G, prédio de Engenharia Mecânica
da Universidade Estadual de Campinas... É nesse endereço, em meio a centenas de livros dos mais variados temas, junto a fotos e peças egípcias que se encontra um
exemplo de pesquisador no País, o professor Dr. Kamal
Abdel Radi Ismail ou simplesmente, Kamal, como prefere
ser chamado. É nesse local, em 18 de outubro de 2007,
que o cientista nos recebe para a entrevista. Graduado
em Engenharia Mecânica pela Universidade do Cairo
(1963), Mestre em Engenharia Mecânica pela University
of Assiut (1966), também no Egito, e Doutor em Engenharia Aeronáutica pela University Southampton, na Inglaterra (1972), ele não esconde a paixão pelo ensino e pela
pesquisa. Seus 212 artigos publicados, aliados aos oito
livros, 39 orientações de mestrado, 27 de doutorado e as
centenas de experimentos desenvolvidos conferem ao pesquisador um diferencial que poucos profissionais realizam ao longo de toda a vida.
A marca do pesquisador
1. Ter clareza desde muito jovem do que queria estudar –
ENGENHARIA AERONÁUTICA;
2. Ter buscado com persistência as oportunidades de estudo e trabalho que o aproximassem deste objetivo mantendo uma grande independência em suas escolhas, isto
é, não se deixando influenciar por dinheiro ou prestígio;
3. Considerar a formação de professores e pesquisadores com uma concepção bastante democrática com
relação à divulgação do saber. Nesse sentido, acolheu
solicitações de várias IES, inicialmente no Iraque e depois no Brasil (USP/São Carlos, Universidade Federal
do Maranhão/São Luiz, UNIFAE/São João da Boa Vista)
centros onde apoiou a celebração de convênios visando a formação de professores e pesquisadores;
4. Considerar a gestão universitária como um meio para
atingir seus objetivos de formação de professores, pesquisadores e democratização no acesso ao saber;
5. Ter persistência para a concretização do curso de Engenharia Aeronáutica na UNICAMP, em 2003.
O início de tudo
Nascido na cidade de Suez, no Egito, em junho 1940,
Kamal sempre gostou das exatas, destacando-se, desde
muito cedo, nas áreas de matemática e física. Mas não só
os números fazem parte de sua vida. As línguas também
acompanharam seu aprendizado. O inglês, o francês, o
alemão e, por último o português, são companheiros das
leituras, viagens e trabalhos que desenvolve. O pai era
engenheiro ferroviário e todos os irmãos fizeram curso
superior. Mas não eram ricos. Os estudos foram custeados pelo Estado, que garantia as bolsas em função das
notas altas. Na Universidade, os estudos também foram
cobertos pelo mérito, inclusive os livros. “Não recebíamos dinheiro, mas podíamos escolher as literaturas que
nos eram dadas. Para garantir o ensino, era preciso se
66
destacar. Enquanto o professor estava no primeiro capítulo
eu já estava no terceiro”.
No Egito, foi o terceiro da turma no vestibular nacional. Já no curso de engenharia, na Universidade do Cairo,
não se contentava com o que os professores colocavam
em sala. Segundo suas próprias palavras, sempre queria
mais. Recém-formado, atuou como assistente de ensino
na University of Assiut (UNIASI), onde permaneceu até
1965. Lá, desenvolveu pesquisas sobre atrito em bombas
hidráulicas. “A faculdade estava começando. Não tínhamos laboratório. Precisei montar tudo. Na época, com
criatividade, estudo e muito esforço criamos tudo o que
precisávamos”. Aliado às aulas o pesquisador dava continuidade aos estudos, desenvolvendo seu mestrado, o
primeiro da UNIASI.
A vontade de aprender e o jeito irrequieto e independente o levaram a novos sonhos, o doutorado. Foi para a
França desenvolver sua tese em 1966/67. Queria estudar
Aeronáutica, mas tal temática era reservada somente aos
franceses. “Não podíamos assistir algumas aulas específicas. O que me foi oferecido eram estudos em matemática.
Isso não me fazia feliz. E os colegas diziam que se eu
mudasse perderia a bolsa. Mas não estava atrás de um
pedaço de papel, de um diploma. Estava em busca do aprendizado”. Kamal muda-se então para a Inglaterra. “Para o
cientista o diploma é conseqüência. O grande barato é
aprender. Para dar um exemplo, não consigo dar aula duas
vezes da mesma forma”.
Inglaterra, Iraque e Brasil
Da graduação ao doutorado o professor envolveu-se
em diversas pesquisas sobre energia, com ênfase na solar e
térmica, e em estudos sobre aerodinâmica. A vinda para o
Brasil, em 1973, deu-se porque conheceu brasileiros nas
terras inglesas. “Sempre gostei deles. Eram alegres, honestos. Foi interessante esse meu novo rumo, porque não falava
nem uma palavra em português e o único livro que li sobre o
país falava mais da América Latina que do próprio Brasil”.
Mas a chegada do cientista foi demorada por razões burocráticas no Brasil. Enquanto esperava, foi para Iraque. Kamal
lecionou na Universidade de Mosul, em 1972, como professor visitante, ministrando disciplinas na graduação e na pósgraduação para civis e militares, na área de engenharia mecânica. Lá, ele também montou um parque de laboratórios.
“Foi o único lugar em que trabalhei e que não conseguia
gastar um terço do que ganhava. Quando foi para vir para
cá, dobraram meu salário”. Mas, como já tinha contrato
firmado com a Unicamp e já pensava em vir há algum tempo,
optou por vir para o Brasil.
A Unicamp
Em 1973 inicia suas atividades na Universidade Estadual de Campinas, onde implanta pesquisas inéditas na
área de energia térmica. O pioneirismo trouxe desafios.
“Eu acho que fazer pesquisa é quando você inicia usando
Pensamento Plural: Revista Científica do
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
Universidade de São PPaulo
aulo
Kamal foi ainda professor colaborador da Universidade de São Paulo (1977-81), na graduação e pós-graduação, em São Carlos, e participou da criação de ênfase
de aeronáutica. “Fui para auxiliar na formação do corpo
docente. Em sala ficavam professores e alunos. A cada
semestre os professores assumiam gradualmente as disciplinas dadas. Formamos vários docentes dessa forma.
Na pós, buscamos a formação de mestres, conseguindo a
conclusão de um profissional que se formou e que depois
foi para a Inglaterra continuar as pesquisas”.
Diretor da Faculdade de Engenharia Mecânica
“Nunca pensei em atuar na área administrativa. Só
pensava nisso quando achava que algo não ia bem”. E foi
assim, de 2002 a 2006, que o pesquisador assume a
Direção da Faculdade de Engenharia Mecânica da
Unicamp. Dentre as diversas atividades realizadas, lembra de algumas que considera marcantes, como o aumento do número de vagas de 60 para 140 na engenharia
mecânica. Em troca, o governo do estado garantiu mais
de 4 milhões de reais em investimentos para equipamentos e infra-estrutura. Observa que na sua gestão, escutava
mais as pessoas. “Os técnicos, funcionários e professores
eram tratados de outra forma. Penso que a faculdade ficou
mais amigável, social e menos um prédio de apenas
paredes”. Os alunos de graduação sempre foram o foco
do pedagogo/administrador. Assim, comprou novos
micros, deu mais liberdade para o uso das instalações
durante o dia todo e implantou um sistema de segurança
interno. Pelos corredores da faculdade vêem-se alunos
reunidos, conversando, lendo ou simplesmente discutindo
assuntos das aulas, espalhados pelas muitas mesas
colocadas na gestão de Kamal. “Muitos diziam que eles
Pensamento Plural: Revista Científica do
iam quebrar os computadores, estragar as mesas, tirar o
sossego porque ficariam nos corredores. E o que se vê é isso,
uma harmonia e o uso do patrimônio público com
tranqüilidade, facilitando o ensino, como eu queria que fosse”.
Outro trabalho foi a criação de mais sete modalidades
de especialização como em aeronáutica, automotiva, energia e meio ambiente, petróleo, etc. “Reformulamos a pósgraduação sem mexer na estrutura, garantindo novos acessos e viabilidades aos estudantes”. Kamal começou a atuar
na pós-graduação em 1974, participando tecnicamente
na elaboração do projeto de pós-graduação em engenharia mecânica, que levou ao reconhecimento pela Capes
do curso de mestrado em 1974 e do doutorado em 1975.
As ementas eram preparadas em inglês e traduzidas para
português. Sempre participou das mudanças na graduação
e na pós-graduação. Em 1996 assumiu a coordenação da
pós-graduação, reformulando o curso, mudando os procedimentos acadêmicos, regimento, critérios de bolsa, acesso dos alunos aos recursos financeiros de pós-graduação,
incentivando a participação dos alunos nas divulgações de
pesquisa junto com seus orientadores. Como conseqüência subiu o conceito do curso de (B-) para nível cinco e
depois 6. O professor auxiliou ainda na implantação do
mestrado profissional em 2000 e contribuiu para a montagem do curso de aeronáutica, em 2003.
Perfil
os recursos que têm. Universidade não é ter recursos
milionários. Você pode fazer muita coisa e com recursos
mais modestos. Por exemplo, montei um túnel de vento
junto com meus alunos para o curso de Aeronáutica da
Unicamp. Ele custou R$ 90 mil, sem importar nenhuma
peça. Se fôssemos comprar fora, custaria R$ 400 mil. E o
principal do projeto é que os alunos aprenderam na prática e montamos uma bela estrutura com recursos condizentes com nossa situação”.
A trajetória na Unicamp, onde é Professor Titular desde 1980, é marcada pelas experiências pedagógicas,
atividades práticas, desenvolvimento de pesquisas e na
luta pelo crescimento do curso de Engenharia Mecânica e
da própria Universidade. “No começo de tudo, era preciso
implantar os laboratórios de graduação em mecânica. E
lá fomos eu e o Dr. Zeferino Vaz (de quem fala com muito
respeito) com projeto em inglês debaixo do braço, até
São Paulo buscar investimentos. O primeiro convênio
firmado na faculdade de Engenharia foi com a Companhia
de Gás de SP”. O pesquisador tem no currículo o fato de
ser um dos desbravadores na Unicamp. Através de uma
proposta enviada ao Reitor, Dr. Zeferino Vaz, muda o
destino dos laboratórios de engenharia mecânica,
trazendo-os para o domínio do departamento da mecânica
ao invés de Centro de Tecnologia.
Do laboratório de mecânica nasce o primeiro livro,
escrito em 1981, com base nos experimentos próprios
desenvolvidos na universidade. “Em um ano montamos
14 experimentos. A ciência está nas coisas simples. Com
um fogão, por exemplo, pode-se fazer pelo menos oito
experiências básicas. Gosto de desafios... se não os encontro os procuro”.
Dois prêmios Zeferino V
az
Vaz
Ele carrega na vasta bagagem dois prêmios Zeferino
Vaz, ganhos em 1996 e 2006, em função de sua produção
científica que é uma das mais altas da Unicamp. Segundo
ele, trata-se de um pesquisador não alienado, pois gosta
de gente e de estar no meio das pessoas. “Trabalhar a
pesquisa é muito fácil, é prazeroso, está no sangue. Gosto
de alunos que entendam, não que simplesmente aprendam, mas que saibam utilizar as informações para a vida.
Sou fascinado pelo ensino que muda a realidade. Aprendi
com pessoas que também gostavam de ensinar e acho que
isso foi fundamental para minha carreira”. Kamal implantou linhas de pesquisa inéditas no país, como tubos de
calor aplicados a geração de energia não convencional,
armazenamento de calor, bancos de gelo e janelas térmicas passivas e ativas.
Dicas aos pesquisadores
Sobre as orientações que daria a quem quer iniciar no
campo das pesquisas ou àqueles que já perseguem tais
objetivos, o professor diz que é preciso ser persistente, sério
e honesto acima de tudo. “Honestidade para dizer que não
entendeu, que não sabe, mas que vai correr atrás. Honestidade para reconhecer, também, os méritos dos outros”.
Um sonho
“Ainda tenho um sonho: fechar e abrir os olhos e ver
que as universidades mais afastadas, como as do norte e
nordeste, tenham atingido um nível de excelência. Penso
que os núcleos de excelência no ensino fazem muito pouco pelas regiões do país que têm mais dificuldade”.
Realização pessoal
Sobre a realização pessoal e profissional, o professor
ainda mostra fôlego, como se estivesse começando a carreira. “Ainda quero fazer muito. Posso dizer que sou quase
realizado, mas ainda tenho desafios a cumprir”. No final,
terminamos a entrevista visitando os laboratórios, onde
Kamal nos apresentou cada experimento desenvolvido por
ele e seus alunos, tais como, o túnel de vento que o enche
de satisfação.
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
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Resenha
Lição de casa
para os administradores
Maria Izabel Ferezin Sares
Professora do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE e da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC-Minas é graduada em Administração e em Direito pela Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB com mestrado em
Administração pelo Centro Universitário de Franca - UNIFACEF e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP.
E-mail: [email protected]
A obra é dividida em doze capítulos, nos quais são
apresentados e discutidos conceitos simples e de conhecimento difundidos, mas que acabam ficando esquecidos
diante da enormidade de modelos que eclodem no mundo da gestão e que se propõem a resolver os problemas
dos executivos.
O que muito se procura nas obras que tratam de problemas administrativos são as famosas receitas prescritas
como um mapa para levar as organizações a status privilegiados de sucesso. O livro apresenta muitos destes mapas, cabendo destaque para conceitos como ETDBW (Easy
To Do Business With) Fácil de fazer negócios. A sigla é
para lembrar aos administradores que o preço do produto
não se restringe ao valor pago pelo cliente, o preço é
apenas parte do custo: os clientes ainda pagam pela dificuldade no acesso e nas transações. Em muitas situações
estas dificuldades não estão claras para os administradores, sendo assim o autor apresenta um diagnóstico do
problema e alternativas para saná-lo.
A solução apontada é que as empresas devem se
apresentar de forma única para os clientes, que não devem ficar perdidos, procurando como atender suas necessidades. O autor também sugere que a base para a
segmentação deve ser as características do cliente e a
que o auto-serviço deve ser explorado.
O autor destaca a importância dos administradores
entenderem o negócio com o qual a empresa trabalha,
muitos exemplos são citados que demonstram que a visão equivocada da atividade da empresa leva também a
decisões menos precisas. As empresas vendem produtos, mas os clientes compram soluções, assim os preços
devem ser formatados com base no valor e não no custo.
Ainda são apresentados os processos como essência para a gestão e que os mesmos devem ser um estilo
de vida, bem como devem ser abandonadas as
mensurações de indicadores usados no passado, os quais
devem ser substituídos por indicadores oportunos, fáceis de calcular e de compreender. Quanto à área de
pessoal, as recompensas devem considerar o desempenho grupal e a estrutura formal deve ser substituída por
uma liderança inspiradora.
O autor não traz para a discussão um modelo novo
como o fez na obra “Reengenharia - Revolucionando a
Empresa”, lançada em 1993, com James Champy. O
livro citado teve um impacto muito grande no mundo
gerencial e resultou nos destaques que o autor recebeu
junto a crítica nos meios de comunicação. Mesmo assim,
apresenta uma somatória de posições já testadas e que
de forma duradoura produziram resultados. Pensar naquilo que o cliente compra e não se dedicar àquilo que a
empresa produz é um alerta apresentado por vários autores que trataram do tema do comportamento do consumidor e também foi fartamente apresentado por Peter
Drucker durante sua atuação como consultor.
O processo como essência contraria algumas posições, como a de Wright et al (2000) de que uma empresa
deve competir considerando o equilíbrio de seus recursos físicos, humanos e organizacionais. Mas é sabido
que a cultura japonesa se detém predominantemente
sobre o processo, ou seja, a forma de organizar sua
produção e encontra neste diferencial sua vantagem competitiva.
Na área de pessoal também não existe novidade, a
liderança inspiradora e as redes de relacionamento são
amplamente utilizadas.
Ainda há que registrar que muito embora não existam posições novas a grande contribuição é que a obra
reuniu alguns pontos que somados produzem uma relação sinérgica com a grande vantagem de serem simples
de entender e aplicar. É um livro para ficar na cabeceira
dos administradores e gestores e ser lido e relido para
que os conceitos sejam repensados e sirvam de subsídio
científico nos momentos de sua aplicação aos fatos do
cotidiano.
Credenciais do Autor
Michael Hammer é criador de conceitos como
reengenharia e organização voltada para processos que
marcaram a gestão das empresas a partir dos anos 90.
Foi considerado pela revista Businees Week um dos quatro pensadores gerenciais mais importantes da década
de 90 e também foi incluído pela Revista Times como
uma das 25 pessoas mais influentes da América. Foi
professor do MIT ( Massachusetts Institute of Technology).
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Pensamento Plural: Revista Científica do
HAMMER, M. A
agenda: o que as
empresas
devem
fazer para dominar
esta década
década. Rio de
Janeiro: Campus, 2001.
(Tradução: Afonso Celso
da Cunha Serra).
, São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007
LINHA EDIT
ORIAL
EDITORIAL
Serão considerados para publicação na Revista manuscritos em português que se enquadrem dentro de uma das modalidades abaixo:
Artigo original
original: refere-se a trabalhos inéditos de pesquisa, sendo aceitos artigos que já foram publicados resumidamente
em anais de congressos. Devem seguir a forma usual de apresentação, contendo introdução, método, resultados, discussão
e considerações finais, de acordo com as peculiaridades de cada trabalho.
Unifae-documento
Unifae-documento: refere-se aos trabalhos de conclusão de curso (TCC), relatórios finais de estágios, projetos
experimentais, relatórios de projetos de extensão, e monografias produzidos nos diferentes cursos de graduação e de pósgraduação do UNIFAE.
Revisão
Revisão: Artigos de reflexão e análise de pesquisa bibliográfica destinada à apresentação do progresso em uma área
específica, com o objetivo de dar uma visão do estado da arte do ponto de vista do especialista altamente qualificado e
experiente. A Comissão Editorial do UNIFAE poderá, eventualmente, convidar pesquisadores qualificados para submeter
artigo de revisão.
Perfil
erfil: Divulgação dos caminhos para produção da ciência através da apresentação do perfil de pesquisadores nas várias
áreas do conhecimento de interesse da revista.
Resenha
Resenha: Análise crítica de livro relacionado ao campo temático do periódico.
Nota Técnica
Técnica: destinada à comunicação e divulgação de métodos, técnicas, aparelhagens ou acessórios desenvolvidos
em diferentes áreas, relatos de casos, relatos pedagógicos e relatos de congressos dentro da área de origem do autor do
manuscrito. Não sendo exigidas originalidade e exclusividade na publicação.
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• Citações com mais de três linhas deverão ser recuadas no texto em um centímetro, sem aspas e em fonte tamanho 11
conforme exemplo abaixo:
Da mesma forma, a descentralização não significa apenas transferir atribuições, de forma a garantir eficiência, mas é
vista sobre tudo como redistribuição de poder, favorecendo a democratização das relações entre Estado e Sociedade
e a democratização do acesso aos serviços (FARAH, 2000, p. 12).
• As eventuais notas deverão ser numeradas seqüencialmente e apresentadas antes das referências bibliográficas.
• As referências bibliográficas devem ser citadas no corpo do trabalho com indicação do sobrenome do(s) autor(es),
ano e página de publicação. Elas deverão ser apresentadas em ordem alfabética no final do texto, de acordo com o
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