ISSN 1982-3088 Revista Pensamento Plural Revista Científica do Volume 1 Nº1 2007 Artigo Análise por Bioimpedância da Composição Corporal de Indivíduos antes e Imediatamente após a Prática de Exercício Físico - Hugo Evangelista Brandino e Leonardo Duarte Picchi, 05 Cibercultura: Comunicação On-Line nas Cidades - Carolina Dotta Milan e Francisco de Assis Carvalho Arten, 11 Abuso Sexual de Mulheres: Um Estudo da Percepção na Avaliação de Risco e nas Ações de Prevenção - Luciene Cazaroto e Carmen Beatriz Fabriani, 14 Encontro de Gerações - Diversidade de Olhares - Erica Passos Baciuk, Maria Helena Cirne de Toledo, Sérgio Eduardo Nassar, Elizabeth Regina Jesumary Gonçalves e Vagner Luiz da Silva, 20 UNIFAE - Documento Efeitos da Utilização do Cavalo como Recurso Terapêutico na Motricidade de Crianças Portadoras de Mielomeningocele - Mônica Cristina P. Andrade e Valéria Augusto, 28 Avaliação da Amplitude de Movimento dos Ombros em Mulheres Operadas por Câncer de Mama - Maria Catarina Valério Riograndense da Silva e Laura Ferreira Rezende, 41 Avaliação Funcional de Cardiopatas após Fisioterapia Cardiovascular Fase III - Tatiana Lucio de Souza e Daniele Albano Pinheiro, 40 Efeitos do Tratamento Metformina Associada ao Exercício Físico Anaeróbio sobre as Funções Cardíacas de Ratos Diabéticos por Aloxana - Carlos Fabrício de Moraes e Eunice Cristina da Silva Costa, 49 Implantação de uma Cultura de Segurança: Estudo sobre a Avaliação e Prevenção do Risco - Luciene Cazaroto, Elisângela de Souza, Eda Terezinha Tassara e Carmen Beatriz Fabriani, 59 Perfil Kamal Abdel Radi Ismail - Camilo Antônio de Assis Barbosa, 66 Resenha Resenha, 68 Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino - FAE CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO - FAE REIT OR: Prof. Doutorando Valdemir Samonetto REITOR: Vice – Reitor: Prof. Ms. Luiz Antonio de Souza Pró Reitora de Graduação: Prof. Dra. Carmen Beatriz Fabriani Pró R eitor de Pós Graduação e PPesquisa: esquisa: Prof. Ms. Sérgio Venício Dragão Reitor Pró Reitor de Assuntos Comunitários e de Extensão: Prof. Ms. Danilo Leite Vicentini Secretária Geral: Célia Aparecida Motin Corpo Editorial do UNIF AE UNIFAE Editor Geral: Carmen Beatriz Fabriani Comissão Editorial: Carmen Beatriz Fabriani (UNIFAE) Danilo Leite Vicentini (UNIFAE) Eloisa Helena Graf Fernandes (UNIFAE) Ester Evangelista da Costa (UNIFAE) José Acácio Rissardi (UNIFAE) Luiz Antonio de Souza (UNIFAE) Maria Izabel Ferezin Sares (UNIFAE) Renata Carolina Zanetti Lofrano (UNIFAE) Sergio Venício Dragão (UNIFAE) Editor Adjunto: Guilherme Marson Junqueira Editor de TTexto: exto: Camilo Antonio de Assis Barbosa Revisores - Alice Perucchetti Orrú e Maria José Gargantini Moreira da Silva Editor de PProjeto rojeto Gráfico Impresso e Eletrônico: Gleber Paula Comitê Científico: Adão Carlos Bertocin (UNIFAE) Adolpho Carlos Françoso Queiroz (UMESP) Adriana Maria Procópio (USP-Ribeirão) Aldarí Wagner de Souza (UNIFAE) Antonio Terzis (PUC-Campinas) Betânia Alves Veiga Dell Agli (UNIFAE) Camilo Antonio de Assis Barbosa (UNIFAE) Carlos Roberto Corrêa (UNIFAE) Carmen Beatriz Fabriani (UNIFAE) Daniele Albano Pinheiro (UNIFAE) Danilo Leite Vicentini (UNIFAE) Eduardo Francisco Simon Ciaco (UNIFAE) Ellika Trindade (UNIFAE) Emerson Aparecido Pelaquim Rabelo (UNIFAE) Érica Passos Baciuk (UNIFAE) Ester Evangelista da Costa (UNIFAE) Eunice Cristina da Silva Costa (UNIFAE) Francisco de Assis C Arten (UNIFAE) Gilberto Brandão Marcon (UNIFAE) Gino Giacomini Filho (USP – ECA) Gisele Ap do Patrocínio Bazi (UNIFAE) Gleber Paula (UNIFAE) Guilherme Marson Junqueira (UNIFAE) Helder Luis Azevedo da Silva (UNIFAE) Israel Valdecir de Souza (UNIFAE) João Sérgio Januzelli de Souza (UNIFAE) João Soares Sobrinho (UNIFAE) José Acácio Rissardi (UNIFAE) José Carlos Sibila Barbosa (UNIFAE) Kamal Abdel Radi Ismail (UNICAMP - FEM) Laura Ferreira de Rezende (UNIFAE) Leonardo Duarte Picchi (UNIFAE) Lucas Vieira Dutra (UNIFAE) Luciene Maria Barbieri Ázar (UNIFAE) Luiz Antonio de Souza (UNIFAE) Marcolino Fernandes Neto (UNIFAE) Maria de Fátima Antunes Pinto Catunda (UNIFAE) Maria do Socorro F. 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Em continuidade ao apoio que o Centro Universitário tem dado ao ensino, à pesquisa e à extensão, nasce a revista Pensamento Plural – Revista Científica do UNIFAE, com circulação semestral. A revista Pensamento Plural - Revista Científica do UNIFAE visa “promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação” (PDI/UNIFAE 2005). Trata-se, portanto, de uma revista que pretende contribuir para a difusão do conhecimento científico, com uma linha editorial que abre também espaço para a produção da graduação, da pós-graduação e da pesquisa dentro de uma dimensão multidisciplinar. Esperamos que a pluralidade seja uma constante neste periódico, no tratamento de temas a partir dos três núcleos de pesquisa do UNIFAE: Gestão de Negócios, Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida e Inclusão Social. Por fim, aproveito para agradecer àqueles que direta e indiretamente contribuíram para mais essa conquista, que não é só nossa, mas de todos que podem usufruir e participar da construção de uma sociedade melhor e mais justa através do ensino. Valdemir Samonetto Reitor do Unifae Editorial Prezado leitor, A revista Pensamento Plural inicia sua trajetória com quatro artigos, cinco textos Unifae-Documento, um perfil e uma resenha, voltados aos mais diversos interesses científicos. Todos foram produzidos dentro dos três núcleos de pesquisa do UNIFAE: Qualidade de Vida e Desenvolvimento Sustentável, Gestão de Negócios e Inclusão Social. O objetivo é agregar idéias e pesquisas em torno de temas que possam contribuir para a troca de conhecimento e experiências em variadas áreas do saber. Nesse primeiro número foram priorizados os artigos publicados com o apoio do PAIC (Programa de Apoio à Iniciação Científica) e PAPEC (Programa de Apoio à Pesquisa Científica). Nos artigos, os temas partem de uma pesquisa comparativa da composição corporal, através do uso da bioimpedância elétrica; na seqüência, Cibercultura, sobre como o poder público, no âmbito dos municípios, trata a democratização e participação popular na comunicação on-line; seguido do estudo sobre abuso sexual com mulheres, a avaliação de risco e as formas de prevenção e, por fim, um estudo das condições de exclusão social de um grupo de idosos em São João da Boa Vista/SP, antes e depois do convívio com universitários. O UNIFAE-Documento traz o uso da fisioterapia como reabilitador, num estudo dos efeitos da equoterapia na melhora dos movimentos de crianças portadoras de mielomeningocele; acompanhado de um estudo sobre o movimento dos ombros em mulheres pós operadas de câncer de mama; um levantamento sobre a performance de pacientes que têm problemas de coração e os efeitos da metformina associada ao exercício físico anaeróbio. Finalizando, um trabalho sobre a implantação de uma cultura de segurança: estudo sobre a avaliação e prevenção do risco. No perfil, Pensamento Plural apresenta uma entrevista com o professor Kamal Abdel Radi Ismail, sobre a relevância científica e o exemplo de um percurso dedicado à produção e a divulgação do conhecimento e a formação de novos pesquisadores. E, fechando, uma resenha sobre a obra Agenda: o que as empresas devem fazer para dominar esta década, de Michael Hammer. Esperamos que com este trabalho o Pensamento seja realmente Plural Plural, ampliando os horizontes e contribuindo para o desenvolvimento da pesquisa universitária e de ações que viabilizem a melhoria da sociedade em seus mais variados campos. Análise por bioimpedância da composição corporal de indivíduos antes e imediatamente após a prática de exercício físico Resumo Hugo Evangelista Brandino, Leonardo Duarte Picchi A Bioimpedância ou Impedância Bioelétrica (BIA) é um método de análise da Composição Corporal (CC). É utilizada para realizar a avaliação da CC, de modo a mensurar a quantidade de Massa Magra (MM), Massa Gorda (MG) e o Índice de Massa Corpórea (IMC). Estudou-se os efeitos que o exercício físico prévio pode ocasionar na avaliação da CC, conforme discutido por Emed (2006). Foram utilizados 30 voluntários, homens, com idade entre 18 e 25 anos, clinicamente saudáveis, submetidos à realização do exame seguindo um protocolo usual, onde permaneceram 30 minutos em repouso (Medida Inicial - MI), depois foram submetidos ao Teste de Cicloergômetro de Balke (caracterizou a prática de exercício físico) e assim submetidos ao exame de BIA (Medida Pós-Teste – MPT), por fim mais 30 minutos de repouso e finalmente realizaram a última aferição da CC por BIA (Medida Pós-Repouso – MPR). Os resultados mostraram que não houve mudanças nos valores da CC. Pode-se afirmar estatisticamente com um p=0,05 que as variáveis IMC da MPT comparada com a MI e as variáveis MG, MM e IMC da MPR comparada com a MPT, assim como podemos afirmar com um p=0,1 que as variáveis MG, MM da MPT comparadas com a MI; MG, MM e IMC da MPR comparadas com a MI, que a amostra populacional utilizada transfere os valores obtidos para uma população infinita. Pode-se concluir nesse estudo, que a prática de exercícios físicos não influencia significativamente nos resultados dos exames de avaliação da composição corporal obtido por meio da BIA. Autores Leonardo Duarte Picchi, professor do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino - FAE; Fisioterapeuta com Mestrado em fisioterapia pela Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP. E-mail: [email protected] Palavras-chave Bioimpedância Elétrica, Composição Corporal, Exercícios Físicos. Hugo Evangelista Brandino, aluno do 5o semestre do curso de Fisioterapia do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino - FAE. E-mail: [email protected] Recebido em 18/março/2007 Aprovado em 04/setembro/2007 Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 5 BRANDINO, H. E. e PICCHI, L. D. 1. Introdução A Bioimpedância Elétrica (BIA) vem sendo aplicada desde 1940, quando foi relatado o uso da impedância elétrica no estudo da relação do eletrocardiograma e dos sons cardíacos. A utilização mais conhecida deste tipo de tecnologia está na avaliação do volume sistólico, débito cardíaco e estudo do ciclo cardíaco pela bioimpedância torácica. Mas foi somente na década de 80 que o uso da BIA para a avaliação da Composição Corporal (CC) foi corroborado pela comparação da técnica com métodos tradicionalmente utilizados para este fim. Desde então, novos rumos se deram ao aproveitamento dos equipamentos e dados fornecidos pela análise da BIA (RICIERI, 2003). Pode parecer que a preocupação com a CC é primeiramente reservada a atletas, pois a performance atlética é parcialmente influenciada pela proporção entre Massa Gorda (MG) e Massa Magra (MM). Porém, a CC é um importante aspecto na saúde dos indivíduos, independente da idade, sexo e origem. De acordo com o Colégio Americano de Medicina do Exercício (ACSM’s), a obesidade está associada ao aumento no risco de desenvolver doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, certos tipos de câncer e outras doenças crônicas. Tradicionalmente, o modelo clássico de dois componentes (BROZEK, 1963) que separa a Massa Corporal Total (MCT) em MM e MG, vem sendo usado na obtenção de medidas de referência de CC e baseai-se nas seguintes suposições: a) a densidade de gordura é de 0,901 g/cc; b) a densidade de MM é de 1,100 g/cc; c) a MM contém 73,8% de água, 19,4% de proteína e 6,8% de mineral. Sabe-se que as proporções de água, proteína e mineral na MM variam de acordo com a idade, sexo, etnia, níveis de gordura corporal e, conseqüentemente, modificam a densidade de MM (dMM) (BAUMGARTNER, 1991; WANG, 1989; WILLIANS, 1993). Qualquer variação do valor assumido pela dMM pode resultar em erro sistemático na estimativa da gordura corporal relativa. Portanto, enquanto o modelo de dois componentes fornece uma estimativa precisa da gordura relativa, em homens brancos, esse modelo pode não ser ideal pra subgrupos populacionais, nos quais a dMM é diferente do valor assumido. Do mesmo modo, a CC pode variar de acordo com os níveis de atividade física, visto que não se possui na literatura especializada um consenso se existem diferenças nos resultados obtidos por meio da BIA frente à prática ou não de atividade física antes da realização do exame. O objetivo desse estudo foi verificar se a prática de exercícios físicos ocasiona mudanças na CC do indivíduo, utilizando para isso o método de análise quantitativa da CC conhecido como Bioimpedância. 2. Composição Corporal (CC) Composição Corporal é a proporção entre os diferentes componentes corporais e a massa corporal total, sendo resumidamente expressa pelas porcentagens de gordura e de massa magra, porém as quantidades de água, estimativa do metabolismo basal, etc também podem ser observadas. Os valores de tais componentes são de grande importância para os profissionais da saúde, visto que as quantidades dos diferentes componentes corporais, principalmente gordura e massa muscular, apresentam estreita relação com a aptidão física, relacionada tanto à saúde como ao desempenho esportivo. Composição Corporal é considerada um componente da aptidão física relacionada à saúde, em razão das relações 6 existentes entre a quantidade e a distribuição da gordura corporal com alterações no nível de aptidão física e no estado de saúde das pessoas. O treinamento da aptidão física pela prática de atividades físicas promove muitos benefícios para a saúde; entre eles, com relação à CC, o aumento da massa corporal livre de gordura e a diminuição da porcentagem de gordura corporal, o aumento da eficiência de trabalho, uma menor susceptibilidade para doenças, além da melhora da aparência física e menor incidência de problemas de autoconceitos relacionados à obesidade. Reduzir a quantidade de gordura e/ou aumentar a quantidade de massa muscular estão entre aos anseios de grande parte dos praticantes de exercícios físicos. Esta preocupação pode ser notada não somente do ponto de vista estético, mas também do ponto de vista de qualidade de vida dos indivíduos, já que a obesidade está associada a um grande número de doenças crônico-degenerativas. Observando essa relação entre quantidade de gordura corporal e estado de saúde, verifica-se a necessidade da utilização de métodos capazes de avaliar, de forma válida, a quantidade de gordura corporal em relação à massa corporal total. Nesse sentido, a importância da avaliação da composição corporal deve-se ao fato de a massa corporal isoladamente não ser considerada um bom parâmetro para a identificação do excesso ou da carência dos diferentes componentes corporais (massa gorda, massa muscular, massa óssea e massa residual) ou ainda para a avaliação das alterações nas quantidades proporcionais destes componentes, em decorrência de um programa de exercícios físicos e/ou dietas alimentares (COSTA, 2001). A elevada porcentagem de gordura é um grave problema de saúde que reduz a expectativa de vida, pois aumenta o risco individual de desenvolver doenças crônicodegenerativas. O aumento dos riscos de saúde associados à obesidade é relacionado não apenas com a quantidade total de gordura corporal, mas também com a maneira pela qual a gordura está distribuída, especialmente na região abdominal (gordura intra-abdominal ou visceral). A gordura visceral é preditor de doença cardiovascular e outras desordens metabólicas – como diabetes tipo II – mais forte do que a quantidade total de gordura corporal. Pouca gordura corporal, por outro lado, também representa risco à saúde, porque o corpo necessita de certa quantidade de gordura para a manutenção das funções fisiológicas normais. Os lipídios essenciais – como fosfolipídios – são necessários para a formação da membrana celular, enquanto os lipídios não-essenciais – como os triglicérides, encontrados no tecido adiposo – fornecem isolamento térmico e armazenam energia metabólica (ácidos graxos livres). Em adição a isso, os lipídios estão envolvidos no transporte e armazenamento de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K), no funcionamento do sistema nervoso, no ciclo menstrual e no sistema reprodutor, bem como no crescimento e maturação durante a puberdade. Assim, a carência de gordura corporal como a encontrada em indivíduos com desordens alimentares (anorexia nervosa), viciados em exercícios e certas doenças como fibrose cística, pode levar a sérias disfunções fisiológicas. Devido aos riscos de saúde associados a quantidades anormais de gordura corporal em ambos os extremos dessa escala, profissionais de saúde devem entender os princípios que regem a avaliação da composição corporal total e a distribuição regional de gordura. A quantidade de gordura corporal é determinada avaliando-se a massa magra (MM) e a massa gorda (MG) do indivíduo. A MG inclui todos os lipídios que podem ser extraídos do tecido adiposo e outros tecidos. A Massa Livre de Gordu- Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Análise por bioimpedância da composição corporal de indivíduos antes e imediatamente após a prática de exercício físico ra (MLG) consiste em todos os tecidos e substâncias residu ais, incluindo água, músculos, ossos, tecidos conjuntivos e órgãos internos. A Massa Magra (MM) consiste em massa livre de gordura mais uma pequena quantidade de lipídios essenciais (2-3% em homens e 5-8% em mulheres). Apesar de os termos MLG e MM serem às vezes usados indistintamente, existe essa pequena diferença na presença de lipídios essenciais na MM. (PATE, 1988) 2.1 Discriminação da Composição Corporal Dentre as variáveis que são avaliadas para obtenção dos valores da CC, utilizou-se nesse estudo as seguintes variáveis com suas respectivas definições: – Índice de Massa Corpórea (IMC): define-se por razão do peso corporal pela altura elevada ao quadrado. Na prática clínica o cálculo de índice de massa corpórea (IMC ou BMI, de Body Mass Index), também conhecido como Ìndice de Quetelet, é o mais utilizado. O IMC tem cálculo simples e rápido, apresentando boa correlação com a adiposidade corporal. – Massa Gorda (MG): todos os lipídios que se podem extrair do tecido adiposo e de outros tecidos do corpo; – Massa Magra (MM): massa livre de gordura mais lipídios essenciais; 3. Exercícios Físicos x Atividade Física x Aptidão Física De acordo com BÖHME (1993) a atividade física é considerada o processo do qual resultará o estado de aptidão física do individuo. Os benefícios para a saúde estão associados a ambos: a atividade física (como processo) e a aptidão física (como produto). Assim sendo, quanto mais atividade física for praticada, melhor aptidão física será desenvolvida e um melhor estado de saúde resultará para o indivíduo. Por definição, exercício físico é toda atividade física planejada, estruturada e repetitiva que tem por objetivo a melhoria e a manutenção de um ou mais componentes da aptidão física. A atividade física é definida como qualquer movimento corporal, produzido pelos músculos esqueléticos, que resulta num gasto energético maior do que os níveis de repouso. Assim, a quantidade de energia necessária à realização de determinado movimento corporal deverá traduzir o nível de prática da atividade física exigido por esse mesmo movimento (GUEDES, 1995). PATE (1998) definiu aptidão física relacionada à saúde como “a capacidade de realizar as atividades do cotidiano com vigor e energia e demonstrar traços e capacidades associados a um baixo risco de desenvolvimento prematuro de distúrbios orgânicos provocados pela falta de atividade física”. Ainda neste contexto, GUEDES (1995) afirmou que a “aptidão física relacionada à saúde abriga aqueles atributos biológicos que oferecem alguma proteção ao aparecimento de distúrbios orgânicos provocados pelo estilo de vida sedentário que se torna, portanto, extremamente sensível ao nível de pratica de atividade física”. Como componentes da aptidão física relacionada à saúde, consideram-se aqueles voltados às dimensões morfológicas, funcional-motora, fisiológica e comportamental; sendo que, segundo estes autores, a dimensão morfológica reúne aqueles componentes que apresentam alguma relação com o melhor estado de saúde, ou seja, que se identificam com a CC e com a distribuição de gordura corporal. Pensamento Plural: Revista Científica do 4. Bioimpedância Elétrica A bioimpedância elétrica é um método rápido, nãoinvasivo e relativamente barato para estimar a composição corporal, inclusive a distribuição dos fluidos corporais nos espaços intra e extracelulares. A bioimpedância elétrica baseia-se no princípio de que os componentes corporais oferecem uma resistência diferenciada à passagem da corrente elétrica. Os tecidos magros são altamente condutores de corrente elétrica devido a grande quantidade de água e eletrólitos, ou seja, apresentam baixa resistência à passagem da corrente elétrica. Por outro lado, a gordura, os ossos e a pele constituem um meio de baixa condutividade apresentando, portanto, elevada resistência. Uma corrente elétrica imperceptível de 500 a 800mA e 50 kHz é introduzida pelos eletrodos distais e captada pelos eletrodos proximais, gerando vetores de resistência (medida de oposição pura ao fluxo de corrente elétrica através do corpo) e reactância (oposição ao fluxo de corrente causada pela capacitância produzida pela membrana celular). Assim, após identificar os níveis de resistência e reactância do organismo à corrente elétrica, o analisador avalia a água corporal total e, assumindo uma hidratação constante, prediz a quantidade de massa magra. Porém, se o indivíduo apresentar hiperhidratação o valor da massa magra fica superestimado. Portanto, a alteração no estado de hidratação é a principal limitação deste método. O trabalho pioneiro de Thomasett (1962) estabeleceu os princípios básicos da BIA. Com esse método, uma corrente elétrica de baixo nível é passada através do corpo do paciente e a impedância (z), ou oposição ao fluxo da corrente, é medida com um analisador de BIA. A água corporal total do indivíduo (ACT) pode ser estimada pela medida de impedância, porque os eletrólitos na água corporal são excelentes condutores de corrente elétrica. Quando o volume de ACT é grande, a corrente flui mais facilmente através do corpo com menor resistência (R). A resistência ao fluxo da corrente será maior em indivíduos com grande quantidade de gordura corporal, dado que o tecido adiposo é mau condutor de corrente elétrica pela sua relativa baixa quantidade de água. Devido ao fato de o conteúdo de água da massa livre de gordura (MLG) ser relativamente grande (73% de água), esta pode ser predita por meio das estimativas de ACT. Indivíduos com grande MLG e ACT têm menos resistência ao fluxo de corrente elétrica através do seu corpo, em comparação aos que têm menos massa livre de gordura. Hoffer, Meador e Simpson (1969) descobriram uma forte relação entre as medidas de impedância total do corpo e ACT, sugerindo que o método de BIA pode ser uma ferramenta valiosa para analisar a CC e avaliar a ACT no ambiente clínico. Além da pesquisa que reforça que a ACT pode ser estimada pela medida de impedância com um grau moderado de exatidão, outro pesquisador demonstrou que a MLG e a gordura corporal relativa (%G) também poderiam ser estimadas com exatidão utilizando o método da BIA. Vários autores referem que o avaliado tem participação decisiva no exame, pois apesar da relativa facilidade e rapidez da medida, a utilização da técnica de bioimpedância requer um conjunto de procedimentos prévios por parte do avaliado, sem os quais poderá ocorrer prejuízo na qualidade das informações. O conjunto de procedimentos necessários depende do autor considerado por não haver um consenso na literatura especializada. Os itens de mais apontados são: suspender o uso de medicamentos diuréticos de 24 horas a 7 dias antes do teste; estar em jejum de pelo menos 4 horas; estar em abstinência alcoólica por 24 a 48 horas; evitar o consumo de cafeína 24 horas antes do teste; estar fora do perío- , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 7 7 BRANDINO, H. E. e PICCHI, L. D. do pré-menstrual; não ter praticado atividade física intensa nas últimas 24 horas; urinar pelo menos 30 minutos antes da medida; permanecer pelo menos 5 -10 minutos de repouso absoluto em posição de decúbito dorsal antes de efetuar a medida; Contra-Indicação absoluta para a realização do teste: portadores de marcapasso e gestantes. O nível de desidratação e a temperatura ambiente também podem apresentar alguma influência na qualidade das informações (EMED, 2006). 5. Sujeitos e Métodos No estudo foram utilizados 30 indivíduos de 18 a 25 anos, do sexo masculino, clinicamente saudáveis, que se dispunham a seguir as recomendações dadas a cada. Não houve nenhum indivíduo excluído por ingerir diuréticos regularmente ou por apresentar lesão músculo-esquelética que impossibilitasse a realização do exercício físico, assim como não houve descontinuidade por falta de comparecimento dos indivíduos nos dias de realização do estudo. Os sujeitos foram divididos em 3 grupos: - Grupo 1: A Composição Corporal foi obtida por bioimpedância seguindo a recomendação de 30min de repouso (n=30). - Grupo 2: A Composição Corporal foi o obtida por bioimpedância imediatamente após a execução de exercícios físicos, tendo o indivíduo ficado por 30 minutos de repouso antes da execução do exercício físico (n=30). - Grupo 3: A Composição Corporal foi obtida por bioimpedância seguindo a recomendação de 30 minutos de repouso após execução de exercício físico (n=30). Foi utilizado um único grupo de 30 indivíduos (n=30), onde os mesmos realizaram o protocolo convencional - 1ª aferição da Composição Corporal - sendo em seguida submetidos à execução de exercícios físicos - 2ª aferição da Composição Corporal - e novamente submetidos à 30 minutos de repouso antes da 3ª aferição da Composição Corporal. 5.1 Procedimento para Avaliação por Bioimpedância As aferições foram executadas do lado direito do corpo, com o indivíduo deitado em decúbito dorsal em uma superfície não-condutora, em uma sala com temperatura ambiente normal. Os eletrodos-sensores foram colocados na superfície dorsal da articulação do punho de modo que a borda superior do eletrodo se alinhe à cabeça da ulna, e a superfície dorsal do tornozelo, de modo que a borda superior do eletrodo se alinhe aos maléolos medial e lateral. Os eletrodos-fontes (distais) foram posicionados na base da segunda ou terceira articulação metacarpo-falangeana da mão e metatarso-falangeana do pé. Foi assegurado de que havia pelo menos cinco centímetros entre os eletrodos proximal e distal. Não houve contato entre as coxas e entre os braços e o tronco, conforme Stolarcztk (2000). 5.2 Procedimento para a Realização do Exercício Físico Os sujeitos foram submetidos ao protocolo de Cicloergômetro de Balke, seguindo todas as recomendações pertinentes ao mesmo. O Teste de Cicloergômetro de Balke consiste no monitoramento dos indivíduos por freqüencímetro cardíaco, que foi colocado no indivíduo momento antes de se 8 iniciar o teste, onde o eletrodo foi umidificado a fim de otimizar seu funcionamento, e o relógio que demonstra a freqüência cardíaca foi colocado no punho esquerdo do indivíduo. Utilizou-se também um esfigmomanômetro para verificação da pressão arterial (PA) que foi feita sempre nos 45 segundos finais de cada carga. Foi dada a orientação de manter velocidade constante de 50 rotações por minuto (rpm) com carga inicial de 25 Watts (W). Houve um incremento de 25W de carga a cada 2 minutos. O teste cessou quando o indivíduo apresentou estabilização ou variação acima de 20mmHg de uma carga para outra na PA sistólica; variação acima ou abaixo de 10mmHg de uma carga para outra na PA diastólica; alcançou sua freqüência cardíaca máxima (FCmáx); relatou fadiga muscular ou quando finalizou todas as cargas do teste. 5.3 Materiais Utilizados Balança elétrica para aferição do peso; Estetoscópio; Aparelho de Bioimpedância (Maltron body fat analiser II); Eletrodos auto-adesivos; Freqüencímetro cardíaco; Esfigmomanômetro; Bicicleta Ergométrica; Protocolo de Balke para BE; Ficha de Avaliação: para registro das variáveis do teste. 6. Estatística Para cada variável de cada teste foram calculados a mé2), para verifidia (X), o desvio padrão (SD) e a Variância (S2 car diferenças significativas entre as variáveis obtidas em cada grupo. O teste estatístico t de Student foi utilizado, considerando o nível de significância de 95% (p<0,05), compatível com a área da saúde. 7. Resultados 7.1 Massa Gorda e Massa Magra Não foram observadas diferenças estatísticas significantes quando comparadas as variáveis MG e MM da MPR (17,09 ± 6,31% e 82,89 ± 6,25Kg., respectivamente; p=0,05) com as da MPT (17,46 ± 6,34% e 82,54 ± 6,27Kg., respectivamente; p=0,05). Assim como as variáveis MG e MM da MPT (17,46 ± 6,34% e 82,54 ± 6,27Kg., respectivamente, p=0,1) não mostraram diferenças significantes quando comparadas a MI (17,22 ± 6,65% e 82,76 ± 6,58Kg, respectivamente; p=0,1) nem as MG e MM da MPR (17,09 ± 6,31% e 82,89 ± 6,25Kg., respectivamente; p=0,1) quando comparadas a MI (17,22 ± 6,65% e 82,76 ± 6,58Kg., respectivamente; p=0,1). 7.2 IMC ou BMI Os valores do IMC apresentaram uma diferença estatisticamente significante quando comparados os resultados do grupo 1 (protocolo convencional) com o grupo 2 (pós exercício físico); e do grupo 3 (pós 30 minutos de repouso após exercícios físicos) com o grupo 2 (pós exercício físico) como assim representados nos gráficos 1,2 e 3. 8. Discussão Não foram encontrados na literatura relatos de estudos semelhantes ao realizado. Fez-se desse assim, um estudo pioneiro da Avaliação da Composição Corporal e suas respostas frente à prática de exercícios físicos. Os resultados obtidos nas variáveis: Massa Magra e Massa Gorda não apresentaram significância estatística perante a aplicação do teste t de Student. Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Análise por bioimpedância da composição corporal de indivíduos antes e imediatamente após a prática de exercício físico Gráfico 1: Média do Índice de Massa Corpórea nas três aferições. Gráfico 2: Desvio Padrão do Índice de Massa Corpórea nas três aferições. Gráfico 3: Variância do Índice de Massa Corpórea nas três aferições. A variável “Índice de Massa Corpórea” apresentou resultados com significância estatística frente ao teste t de Student, porém como também não foi encontrada bibliografia comprobatória de tal relato, sugere-se que se realize estudos com a finalidade de descobrir a causa da modificação dos valores do Índice de Massa Corpórea devido à pratica de exercícios físicos, analisados por meio do Exame de Bioimpedância. 9. Conclusão Com base no modelo experimental utilizado, os resultados encontrados permitiram concluir que: Pensamento Plural: Revista Científica do a) Não foram verificadas modificações dos valores da Composição Corporal apresentados por meio do exame de Bioimpedância. b) A prática de exercícios físicos antes da realização do exame de Bioimpedância não interfere nos resultados das variáveis, exceto do Índice de Massa Corpórea. Conclui-se que as orientações nos manuais de BIA (EMED, 2006) não conferem com os resultados observados neste trabalho. Sendo assim, este estudo apresenta resultados que sugerem que a prática de atividade física prévia ao exame de BIA não alterou os valores finais da CC apresentados pelo mesmo. , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 9 9 Referências BRANDINO, H. E. e PICCHI, L. D. AMERICAN COLLEGE OF SPORT MEDICINE. ACSM’s guidilines for exercise testing and prescription prescription, 1995, (5th ed.). Media, PA: Willians & Wilkins. BAUMGARTNER, R. N. et al.. 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Ellis, & J. D. Eastman, (Eds.): Human body composition estimates in man and women aged 49-82 years. in vivo: methods, models and assessment, (pp. 109-113). New York, NY; Plenum, 1993. This electrical bio-impedance exam (BIA) is a method for analyses of body composition (BC), to measure the Lean Mass (LM), Fatty Mass (FM) and the Body Mass Index (IMC). This study compares the values related to the Body Composition (BC) before and just after the performance of physical exercises, as discussed in Emed (2006). Participated in this study, 30 men volunteered, age from 18 to 25 years old, all clinically healthy and subjected to the usual evaluation protocol, when they remained 30 minutes rest (Initial Measure – IM) and in sequence submitted to the Cycling Balke’s test (characterizing physical exercise) followed by the BIA exam (Pos test measure- PTM). Finally 30 more minutes of rest and the final measure of BC according to BIA (Post Rest Measure – PRM). The results showed no differences in BC values. The population sample transfers its results to the infinite population considering the statistic results p = 0,05 concerning the variables BMI in the PTM compared with the IM and p = 0,1 concerning the variables FM and LM in the PTM compared with the IM; FM, LM and BMI in the PRM compared with IM. It can be also concluded in this study that the performance of physical exercises does not significantly influences the results of the body composition evaluated by BIA. Key words Body composition, Electric bio-impedance, physical exercises. 10 Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Cibercultura: comunicação on-line nas cidades Resumo Carolina Dotta Milan, Francisco de Assis Carvalho Arten O foco dessa pesquisa é estudar como estão sendo desenvolvidos os projetos principalmente no âmbito dos municípios com o objetivo de detectar se realmente as iniciativas estão atingindo as metas de promover a democracia e a participação popular nas decisões. São várias as faces da pesquisa, como análise dos sites públicos e retorno nas iniciativas que visam à interatividade. Várias pesquisas estão sendo realizadas no campo da cibercultura, voltadas à comunicação on-line pública. Entre elas estão os projetos de cidades digitais ou cibercidades. Tais projetos, entre outros objetivos, visam possibilitar um avanço democrático na comunicação pública, promovendo a interatividade entre os munícipes, a prestação de serviço, principalmente através dos programas denominados “governos eletrônicos”, disponibilização dos dados públicos etc. O importante é que se desenvolvam esforços para pensar as cibercidades, tendo em mente as possibilidades de avanços sociais, a valorização humana e a inclusão social e digital. Pretendemos, ao final do trabalho, apresentar sugestões aos poderes públicos locais, para dinamizar a comunicação on-line, incentivar a participação popular e trabalhar para o desenvolvimento da democracia. Autores Francisco de Assis Carvalho Arten, professor do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE; Cientísta Jurídico pela Fundação de Ensino Otávio Bastos – UNIFEOB e Jornalista com Mestrado em Comunicação e Mercado pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero E-mail: [email protected] Palavras-chave Cibercultura; Digital Comunicação Pública; Inclusão Carolina Dotta Milan, aluna do 2o ano do curso de Comunicação Social - habilitação Jornalismo do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE. E-mail: [email protected] Recebido em 18/março/2007 Aprovado em 04/setembro/2007 Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 11 MILAN, C. D. e ARTEN F. de A. C. 1. Introdução Várias inovações estão acontecendo nos meios de comunicação a partir do advento da internet e das novas médias. Entre as ações interativas e modificadoras estão as experiências relacionadas à cibercidades, governos eletrônicos, portal das cidades, enfim, a comunicação on-line na polis. Até aqui estas experiências, grosso modo, buscam a implementação de fóruns de debates, incentivando a participação do cidadão, visando a interatividade a fim de proporcionar a transparência. Também estão sendo disponibilizados cada vez mais serviços on-line, como o “Acessa São Paulo”, que luta contra a exclusão digital. Alguns pesquisadores afirmam que estamos na era da conexão, que não é apenas uma era da expansão dos contatos sobre forma de relação telemática, mas sim a era da mobilidade. Como a cibercultura provém de um espaço de comunicação mais flexível que o produzido nas mídias convencionais como rádio, jornal e televisão, etc, a comunicação on-line pode se constituir numa peça fundamental para o combate a exclusão e incentivadora da participação popular nas decisões políticas da comunidade. Os projetos de cibercidades pretendem, entre outros objetivos, colocar os indivíduos em sinergia, utilizando o potencial do ciberespaço como vetor de agregação social. Algumas iniciativas de cibercidades promovem a virtualização de museus, galerias, bibliotecas, centros culturais, arte, escolas e meio ambiente, o que resgataria a memória, tornando disponível para a comunidade. Outra idéia é de incentivar oficinas para a construção de home pages pessoais. Um dos objetivos é o de fortalecer o conhecimento individual e detectar competências que possam entrar em sinergia. O importante é que se desenvolvam esforços para pensar as cibercidades, tendo em mente as possibilidades de avanços sociais, a valorização humana e a inclusão social e digital, porque estamos na era da Internet, na qual estar conectado é estar envolvido com todos os assuntos que regem a sociedade. 2. Objetivos Um dos objetivos desta pesquisa é analisar o alcance dos meios de comunicação on-line na sociedade atual, a partir dos projetos de cibercidades. Especificamente estudamos a comunicação on-line pública na região, analisando sites dos poderes públicos municipais para saber se seus conteúdos estão contribuindo para melhor transparência dos atos dos poderes públicos e, paralelamente, se atingem o objetivo de incentivar a participação popular possibilitando sua intervenção nas tomadas das decisões. Estudar as iniciativas que visem à inclusão digital foi uma das preocupações que tivemos, já que existe um grande número de cidadãos que ainda não tem acesso a essa nova comunicação. Uma das metas é detectar se as informações on-line, os projetos de cibercidades, estão promovendo interação com o contribuinte e se as mensagens estão atingindo seus objetivos. O senso crítico em relação a essa nova cultura é uma das reações que pretendemos despertar, principalmente em profissionais de comunicação. 3. Materiais e métodos A metodologia usada para a pesquisa foi o acompanhamento do processo de comunicação on-line em Prefeituras e Câmaras Municipais da região, principalmente no Legislativo de São João da Boa Vista. Realizamos pesquisa em vários modelos de cidades digitais fazendo comparações com a comunicação on-line de São João da Boa Vista e região. A leitura de livros e artigos sobre cibercultura, ciberespaço, cibercidades foi o primeiro passo e início do estudo. A análise 12 de como se processa a comunicação on-line dos Poderes Públicos locais foi uma das preocupações. Os estudos estão sendo desenvolvidos para aprimorar a comunicação on-line, visando maior participação do cidadão. 4. Resultados e discussão Com a pesquisa desenvolvida, podemos perceber que existem duas linhas distintas de pensamento sobre a cibercultura. Alguns estudiosos como Tony Negri e Eugênio Trevinho, entre outros, são pessimistas em relação à comunicação on-line como vetores do desenvolvimento da democracia e aprimoramento da participação popular. Acreditam que, pelo contrário, as novas tecnologias estão distanciando ainda mais as diferenças sociais, promovendo uma verdadeira exclusão digital, já que o acesso é limitado. Também defendem a idéia de que os Poderes Públicos não estão preocupados em desenvolver a participação popular, utilizando a internet e os novos veículos de comunicação como “simulacro” dos antigos meios, com suas mazelas e déficits democráticos. Todos concordam, no entanto, que a comunicação on-line se constitui num ambiente propício para o desenvolvimento democrático, porém, discordam se este objetivo está sendo alcançado. Pierre Lévy e outros teóricos são mais entusiasmados com a internet e acreditam que, por si só, o ciberespaço faz com que os navegantes da rede participem democraticamente de um modelo interativo entre os povos, consolidando a idéia de “aldeia global”, profetizada por MacLuhan, que morreu antes da invenção da Internet. O que ficou claro com o estudo foi que os poderes municipais não perceberam o potencial que a Internet possui. Ela tem sido tratada como um “simulacro” dos demais veículos de comunicação, isto é, estão copiando os outros meios e transferindo para a Internet seu conteúdo, sem entender que esse veículo possui maior alcance e é o único com poder de interatividade. Ainda não se foi possível chegar a um resultado concreto, mas o que ficou explícito é que a comunicação on-line está aquém do que poderia proporcionar e que os poderes públicos ainda não entenderam o enorme poder desta nova comunicação, como vetor de processos democráticos interativos, proporcionando, aí sim, uma grande colaboração para a democracia. 5. Conclusão Através desta análise inicial chegamos a algumas constatações que consideramos importante para, a partir delas, canalizar nossos esforços para entender melhor a comunicação on-line e sugerir modelos e ações para que sejam mais eficientes no objetivo de se conseguir a interatividade e participação do munícipe: a) A comunicação on-line desenvolvida em São João da Boa Vista, Câmara e Prefeitura Municipal, assim como em cidades da região, são apenas ‘simulacro’ dos antigos meios de comunicação. b) Os Poderes Públicos locais não perceberam que a linguagem a ser utilizada neste tipo de comunicação deve ser diferenciada. O que está havendo é apenas uma transposição de textos. c) Não encontramos nenhuma iniciativa dos Poderes Públicos locais para promover a interatividade – uma das principais características da comunicação on-line. d) Conseqüência desta falta de entendimento sobre comunicação on-line é que o interesse do munícipe é nulo. São raras as navegações nos sites públicos, através de Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Cibercultura: comunicação on-line nas cidades Referências pesquisa particular que desenvolvemos, já que tanto no site da Câmara Municipal de São João da Boa Vista como da Prefeitura, não existe possibilidade de aferimento de audiência. e) Não existe em São João da Boa Vista ou região nenhuma experiência de governo eletrônico, nem para pagamento de tributos, impostos ou informações relacionadas ao Poder Público. f) Constatamos que setores vitais da Prefeitura Municipal de São João da Boa Vista, como o Departamento de Saúde, por exemplo, não está informatizado, o que constitui num enorme desperdício de recursos e dificuldades e transtornos para o contribuinte. g) Que a comunicação on-line da Câmara Municipal que deveria, sobretudo, promover a participação popular acabou sendo apenas um informativo qualquer, sem aprofundamento dos temas, o que é uma das maiores e melhores possibilidades da comunicação on-line. h) Que não é dado ao contribuinte, cidadão, o direito de participar das decisões, através da comunicação on-line, uma vez que as informações são superficiais e não foi implantado mecanismo como fóruns de debate, sala de discussões, etc. Enfim, que a comunicação on-line, que deve ser interativa, e o receptor igualmente um agente ativo desta comunicação, não vem acontecendo. i) Não foi implantando ou está em projeto, nenhum programa de inclusão digital como tipo quiosques eletrônicos, etc. j) Que outros serviços públicos, como biblioteca, também não foram digitalizados. A partir destas constatações, pretendemos levar nossa crítica à Mesa Diretora da Câmara Municipal e ao Prefeito de São João da Boa Vista. E em seguida aos outros poderes públicos da região, apontando sugestões e caminhos para corrigir as possíveis distorções, visando assim, alertá-los do grande potencial comunicador que estão perdendo, e proporcionar à comunidade uma participação mais efetiva e avanço nas conquistas contra a exclusão digital. BAITELLO JÚNIOR, N. O Animal que parou os relógios: Comunicação e Semiótica da Mídia, [s.d.] p. 93-102. emporalidade Mundo BARBOSA, M. Meios de Comunicação e a Construção da TTemporalidade Mundo. [s.l., s.n., s.d] LEMOS, A. Cibercidades Cibercidades. [s.l.]: Sulina, 2000. ____________. Cibercultura. Tecnologia e Vida Social na Cultura Contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2002. LÉVY, P. Cyberculture. Paris: Odile Jacob, 1997. ________. Cyberspace. Paris: lá Découvert, 1945. RAMADAN, N. Um novo espaço para o fazer jornalístico jornalístico. Líbero, Ano II, 1999, p. 20-23. aculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Paulus, Vol. 2, REVISTA DE PESQUISA. Communicare, FFaculdade 2002. Abstract SILVA JÚNIOR, J A. As relações do Jornalismo Digital na Cibercidade. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt. The research’s aim is to study how these projects have being developed, trying to identify observing the cities mainly, if the initiatives are really reaching the objectives to promote democracy and popular participation in the decisions. Several points had being analyzed, as the public sites and the return initiatives that looks for the interactivity. What is important is to think about the cybercities, having im mind the possibilities of social advances, the human being valuation and the social and digital inclusion. Some researches about cyberculture have being done, considering the on-line public communication. Among these are projects of digital cities or cybercities. The aim of these projects, among others objectives, is to make possible a democratic advance in the public communication, promoting the interactivity among the citizens, the providing services – mainly through the programs called “electronic governments” – the availability of the public data etc.as a conclusion, it intends to present suggestions to the local public government, trying to the on-line communication, to stimulate the popular participation and to work for the democracy. Key words Cyberculture, Cybercities, Public Communication Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 13 13 Abuso sexual de mulheres: um estudo da percepção na avaliação de risco e nas ações de prevenção Resumo Luciene Cazaroto, Carmen Beatriz Fabriani Este estudo tem como objetivo realizar uma investigação com vítimas de violência sexual para buscar sua compreensão em relação às experiências e aos fatores determinantes que as colocaram na situação de risco. Busca também verificar se ocorreu uma elaboração que permita o desenvolvimento de um conjunto de atitudes que visem à prevenção de sua repetição. Foram selecionados seis históricos de abuso sexual, por meio de um levantamento dos protocolos de casos atendidos no Neap (Núcleo de Estudo e Atendimento em Psicologia do UNIFAE), com prévia autorização da coordenação do curso. Após contato telefônico, foram marcadas três entrevistas qualitativas com vítimas de violência sexual, com idades entre 23 e 46 anos, todas do sexo feminino. Foi colhido o consentimento livre e esclarecido das participantes no projeto. O método utilizado foi a análise do argumento construído pelas vítimas, mediante a identificação no discurso da entrevistada, a relação entre a experiência do abuso, a atribuição de causas para o fato, a compreensão da relação entre o antes e o depois e a elaboração de estratégias de evitação da repetição da experiência. Como resultado, tem-se que a primeira entrevistada estabelece uma relação de causa e efeito e cria uma estratégia pragmática de evitação não passando pelo mesmo lugar do ocorrido. A segunda entrevistada não estabelece nenhuma relação de causa e efeito, não se vendo sujeito da história; a terceira entrevistada estabelece a relação de causa e efeito e tem uma idéia de evitação em relação a sua prole, através da informação e do conhecimento. Diante disso, pode-se concluir que ao se estabelecer uma relação entre a elaboração do trauma, sua resignificação simbólica cria-se a possibilidade de construção de estratégias de segurança. Estas considerações podem subsidiar o encaminhamento de políticas públicas por parte dos agentes de intervenção visando a prevenção do abuso sexual e encaminhamento de ações por parte dos agentes de intervenção. Palavras-chave Abuso Sexual, Psicanálise, Psicologia Social, Risco. Autores Carmen Beatriz Fabriani, Pró-reitora de Graduação e Professora do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino - FAE; Psicóloga com Doutorado em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo - IP/USP e Mestrado em Engenharia de Produção pela Coordenação dos Programas de Pós-graduação em engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE/UFRJ. E-mail: [email protected] Luciene Cazaroto, Aluna do 5o ano do curso de Psicologia do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE. E-mail: [email protected] Recebido em 18/março/2007 Aprovado em 04/setembro/2007 Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 14 Abuso sexual de mulheres: um estudo da percepção na avaliação de risco e nas ações de prevenção 1. Introdução A realidade do abuso sexual está presente no mundo desde épocas longínquas. Durante anos, por razões religiosas, políticas e sociais, negavam à criança direitos fundamentais (descritos atualmente no ECA), tais como a integridade do corpo, a independência da mente, controlandoa como propriedade particular. Cronologicamente, livros religiosos como o Alcorão colocavam as mulheres e as crianças como seres inferiores, de capacidade jurídica restrita, só possuindo privilégios como a educação religiosa e profissional. Existem no Antigo Testamento passagens envolvendo fatos de violência contra menores. A violência familiar é encontrada na Bíblia de forma expressiva, mostrando o círculo vicioso da violência, seja por questões políticas, sociais, religiosas ou culturais. [...] Esaú e Jacó, filhos de Isaac, nutrem um ódio mortal entre si, Siquien, filho de Hamour, violentara Dinah, filha de Jacó. (Gênesis 27:41) [...] O rei do Egito ordena às parteiras Hebréias que todo e qualquer filho homem seja assassinado ou lançado ao Nilo. Moisés com três meses de idade, por proteção materna, é abandonado dentro de um cesto de junco, ao rio [...].(Êxodo 1:16) No século XVII, é consignada a luta contra o poder patriarcal e a figura materna é vista como estabilizadora da relação. Até o final deste século, a criança se mantém em poder do adulto pelo reconhecimento do pátrio poder pelo estado que se exime de responsabilidade direta sobre a criança. Permanece durante grande parte do século XVIII a criança considerada como um peso para a família devendo colaborar em seu sustento e com a revolução industrial, reconhecida como força de trabalho e de interesse do Estado. Nesse sentido, o primeiro caso de retirada de pátrio poder se dá em Nova York, no ano de 1846, por uma menina severamente espancada, com intervenção da sociedade protetora dos animais, alegando que a criança era membro do reino animal e, entretanto, estaria protegida pelas leis que protegem os animais contra crueldade. Mais tarde é criada a primeira instituição preocupada com a crueldade às crianças. No início do Século XIX, com o fortalecimento do Estado, buscou-se transferir o cuidado e a educação para a mãe principalmente de classe social média ou alta, ficando e o Estado responsável pelas crianças das classes menos favorecidas. Em 1881, surge em Nova York a “Sociedade Provedora de Proteção à Infância”, cuja preocupação é com a quantidade de crianças maltratadas e abandonadas. A psicanálise no final do século XIX e século XX se dedica à compreensão do desenvolvimento humano e é fortemente influenciada pela passagem de Freud em Paris (1885), como parte de sua formação acadêmica, sob supervisão de Charcot, onde tem contato com crianças vítimas de abuso sexual na primeira infância, em sua maioria no âmbito familiar. Na literatura brasileira, é escasso o material sobre a violência contra crianças. No século passado, há casos de denúncia de exploração de menores de quatro anos de idade que trabalhavam nas minas de carvão (SANTOS, 2005). A violência sexual contra menores, hoje, representa 10% das violências cometidas, caracterizadas pelo estupro, atentado violento ao pudor, sevícias etc. Para Azevedo e Guerra (1989), a violência sexual se configura como todo ato ou jogo sexual, relação hétero ou homossexual, entre um ou mais adultos e uma criança ou adolescente, tendo por Pensamento Plural: Revista Científica do finalidade estimular sexualmente esta criança ou adolescente ou utilizá-los para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa. Esta situação aqui descrita se constitui em um acontecimento traumático na vida da criança ou adulto que motiva o desenvolvimento de estratégias de defesa do eu da vítima e que cristalizam os comportamentos e atitudes, relativos à expressão da sexualidade e dos afetos. Por outro lado, tais comportamentos não garantem o desenvolvimento de atitudes que no cotidiano representem uma proteção à não repetição do fato traumático. Para Laplanche e Pontalis (2001), trauma é todo acontecimento da vida do sujeito que se define pela sua intensidade, pela incapacidade em que se encontra o sujeito de reagir a ele de forma adequada, pelo transtorno e pelos efeitos patogênicos duradouros que provocam na organização psíquica. Em termos econômicos, o traumatismo caracteriza-se por um afluxo de excitações que é excessivo em relação à tolerância do sujeito e à sua capacidade de dominar e de elaborar psiquicamente estas excitações. Assim, o abuso sexual é extremamente marcante para a criança que é vítima, causando um desgaste emocional bastante severo. De acordo com Gabel (1997), essas marcas são profundas e traumáticas pela vulnerabilidade, a idade, a repetição e o tipo de abuso ou o silêncio em torno da criança fundamentando a gravidade do traumatismo. A psicologia, como ciência, trouxe algumas contribuições para a compreensão do desenvolvimento infanto-juvenil, que dentro do contexto social tem importância para enfrentar as conseqüências da violência sexual contra crianças e adolescentes. As crianças e adolescentes têm estruturas mentais diferentes das do adulto. Não são adultos em miniatura, como há tempo se pensou e no Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente reconhece essa nova visão, ao considerá-los como sujeito de direito. Inicialmente, se interpretou o ser sujeito principalmente como sujeito social, com direito à educação, saúde, profissionalização, moradia etc. E com o avanço da preocupação social, voltou-se o olhar para o direto à liberdade, ao respeito e à dignidade, integrando o entendimento da criança e adolescente, também, como sujeitos psicológicos, com vontades, desejos e com processo particular de desenvolvimento. Para alguns pesquisadores da área de saúde, mesmo com a falta de integração e escassez de dados, é possível inferir que as várias modalidades de violência ocorridas no ambiente familiar podem ser responsáveis por grande parte dos atos violentos que compõem o índice de morbi-mortalidade (Minayo, 1994). Apesar de ser um fenômeno que ocorre desde a Antiguidade, o abuso sexual, em especial aquele dirigido à criança e ao adolescente, passou a ser mais discutido no meio científico a partir dos anos 80 (Santos, 1987; Azevedo & Guerra, 1988; 1989; 1995; Marques, 1986; Minayo, 1993; Safioti, 1997). É também nessa década que começam a surgir os primeiros programas específicos para atendimento dessa problemática. Desde então, o conhecimento sobre essa forma de violência vem sendo ampliado e sua gravidade reconhecida, ainda que os dados globais sobre sua magnitude não estejam devidamente dimensionados. No Brasil, a padronização para registrar situações de violência familiar é fragmentada, o que provoca prejuízo para uma rotina clara e eficaz, ocasionando deficiências nos procedimentos a serem seguidos pelos profissionais e instituições. Verifica-se que a questão do abuso sexual continua sendo tratado de forma ambígua pelo Estado, principalmente no que se refere a crianças do sexo feminino, não dispondo de mecanismos jurídicos e sociais que possam responder a multiplicidade de implicações decorrentes destas questões, , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 15 15 CAZAROTO, L., FABRIANI, C. B. sendo comum para aqueles que atendem a população em clínicas sócias de psicologia receberem famílias inteiras onde o abuso sexual se torna recorrente e encontram dificuldades no encaminhamento de soluções efetivas. Nesse sentido, apresentase a seguir a questão vista pela ótica de vítimas, visando uma melhor compreensão deste universo, permitindo a proposição de um conjunto de atitudes que enfoquem a prevenção de sua repetição e, por fim, são tecidas considerações sobre possíveis formas de enfrentamento da questão pelo poder público. 2. Metodologia Este estudo foi realizado no Neap (Núcleo de Estudos e Atendimento em Psicologia do UNIFAE), onde foram entrevistadas 3 pessoas, com idade entre 23 e 46 anos, todas do sexo feminino. A seleção dos sujeitos da pesquisa iniciou-se pelo levantamento dos protocolos de casos atendidos, sendo pré-selecionados seis históricos de abuso sexual dentre os quais, após contato telefônico e residencial, 3 aceitaram dar entrevistas, sendo estas precedidas da autorização livre e consentimento das entrevistadas. As entrevistas tiveram duração entre uma e duas horas, com total privacidade. Nelas, buscou-se a narrativa da experiência por meio do registro de suas lembranças sobre o que aconteceu. Neste processo as entrevistadas colocam a experiência em seqüência, encontram possíveis explicações para o fato e jogam com a cadeia de acontecimentos que constroem a vida individual e social. (Javchelovitch, apud Fabriani, 2004). Esta forma de reconstruir a história e de construir o significado dos fatos leva em conta que contar histórias é uma habilidade relativamente independente da educação e da competência lingüística, e o acontecimento pode ser traduzido em termos indexados, como foi o caso em que a referência é feita a um acontecimento concreto, em um lugar e em um tempo – o abuso. Após sua realização, as entrevistas foram transcritas com o objetivo de propiciar uma compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e motivações em relação ao comportamento dessas pessoas. (Gaskell, apud Fabriani, 2004). O método utilizado foi a análise da construção do argumento por meio da identificação, no discurso das entrevistadas, da relação entre a experiência do abuso, a atribuição de causas para o fato, a compreensão da relação entre o antes e o depois e a elaboração da evitação da repetição da experiência. Conforme apresentado por Liakopoulo (2002), Blackburn (1996) e Rosa (2003) (apud Fabriani, 2004), o interesse no discurso é parcial e objetivamente o interesse recai sobre a construção do argumento, entendido como uma série de afirmações com o objetivo de justificar ou refutar determinada opinião, e de maneira geral a análise do argumento tem por objetivo apresentar a maneira como as afirmações estão estruturadas no discurso e avaliar sua solidez. O interesse fundamental deste estudo é o de identificar quais os tipos de argumentos utilizados no processo decisório das vítimas de abuso sexual, descritos e analisados sob o ponto de vista lógico, identificando quais as conclusões reconhecidas na avaliação dos fatos. Parte-se do pressuposto de que a decisão se situa na esfera psicossocial e que o argumento racional não se introduz no processo decisório, constituindo-se como apêndice muitas vezes de negação da decisão racional. 3. Depoimentos 3.1 Depoimento Nº1 A entrevistada é uma mulher de 23 anos, solteira e 16 estudante. A experiência ocorreu aos 21 anos. Quando voltava para casa em um percurso rotineiro e foi abordada na rua, à noite, por um homem armado e desconhecido que tentou imobilizá-la. A entrevistada reagiu lutando com o agressor, desarmando-o e fugindo correndo sendo ajudada por um carro que estava passando pela rua. Percepção da experiência: Sente-se ameaçada de que possa se repetir a experiência e desenvolve alguns comportamentos para evitar esta repetição, com pode-se perceber em alguns trechos de seu depoimento: “Cheguei numa época, a trancar todas as janelas [...] eu trancava tudo, verificava porta, trancava tudo mesmo com cadeado e assim [...]”. Denúncia: Parece que na denúncia busca principalmente reparar o dano, a afronta a ela sofrida do que a justiça da sociedade. “Fiz ocorrência no mesmo dia [...] No outro dia, fiz exame de corpo delito. Me chamaram na delegacia mais umas 2 ou 3 vezes na delegacia para ver algumas fotos para ver se conhecia o cara. [...] Eu cheguei toda machucada em casa, nem esperei pro outro dia [...] no mesmo dia fui fazer a denúncia [...] nem tomar banho eu pude, só no outro dia, pra fazer corpo delito”. Conseqüências da experiência (T rauma): Percebe(Trauma): se uma mudança no seu comportamento, passando a agir desconfiada. “Não consigo ser do mesmo jeito (risos). Antes eu era assim, super extrovertida, até hoje sou, converso com todo mundo. [...] Hoje em dia, até para pegar amizades tornou-se mais difícil. [...] sempre fico com um pé atrás, até com meu namorado, depende da atitude dele, eu já não gosto, depende do tom de voz também não gosto [...] você acaba ficando com receio de todo mundo [...]. Eu não consigo me entregar totalmente assim, sabe. É muito difícil. A gente vai ter um receio em tudo... será que convém eu ficar com o cara, pegar amizade? Até hoje sabe, ando com a cabeça meio baixa, não gosto de ficar olhando, não sei se é medo de ver de novo, ou se é medo de alguém ver que to olhando diferente e vir atrás. [...] fiquei com todo esse cuidado, de ficar trancando tudo e queria mudar o número do meu telefone [...]. Hoje em dia, relou a mão em mim, ou esbarrei em alguém, fico amedrontada. Porque é uma invasão relar em você, sem você querer, entendeu”. Construção de prevenção: Parece que percebe a prevenção ligada a mudanças de rotinas e procedimentos. “Não passar naquele lugar, naquele momento, a pé [...]. Sempre que eu vejo alguém passando por ali sozinha e eu conheço, eu dou carona, faço esse tipo de coisa. Sozinha, à noite não passo mais por lá, de jeito nenhum”. 3.2. Depoimento Nº 2 Mulher de 46 anos, casada e do lar. A experiência ocorreu há 36 anos. Na sua casa, havia somente um quarto e o que separava seu quarto do seu e de seus irmãos era um guarda- Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Abuso sexual de mulheres: um estudo da percepção na avaliação de risco e nas ações de prevenção roupa. Numa noite, seu padrasto a descobriu, baixando seu pijama e manipulando-a com as mãos. Percepção da experiência: - Percebe-se ameaçada e erotizada perante a situação vivida. “Eu tinha medo, não ficava com roupa mais curta, tinha medo de colocar blusa apertada, porque ele ficava me vendo. Tinha uma vergonha [...] não passava nem perto dele. [...] com vergonha, com medo. Fiquei com vergonha da vida, preocupada com ela. Aborrecida, porque pensava daqui em diante o que será que vai acontecer comigo, né. Daqui pra frente só vai acontecer o pior, né. [...] vivia com medo de tudo [...]”. Denúncia: - Percebe-se que usa mecanismos como a ingenuidade e racionalização para justificar o porquê de não ter feito a denúncia. “Só contei pra minha mãe e só no dia. [...]. Só falo que Deus sabe o que faz com todo mundo. E é isso mesmo, eu pensava assim: Deus sabe o que vai fazer com ele [...]. Naquele tempo lá, a gente era bobinha, não entendia as coisas. Não achava que fez por mal, achava que ele queria me ver. Eu entendia que ele não podia colocar a mão em mim, e também eu tinha vergonha. Eu achava que ele só queria me ver, aqui dentro não sabia de nada da vida, nem de coisas ainda piores eu sabia [...] nem de sexo [...] nada [...] só entendia que às vezes alguém queria ver a gente pelada e eu dizia ‘Olha aí, mãe, o X tá querendo descobrir eu’, pensava que ele ia só ver eu, sabe, e como minha mãe entendia, fez o que fez, brigou com ele a noite inteira até no outro dia e pegou minhas coisas e me colocou pra morar junto com minha vó. Eu lembro que tinha duas tias que moravam juntas e deixei passar, porque pensava: graças a Deus, eu tô aqui inteira, não me aconteceu mais nada, nunca mais deixei fazer aquilo. [...] Fiquei com medo de contar. Achava que iam ser mais inimigos ainda e não queria isso”. Conseqüências da experiência (T (Trauma): rauma): Desenvolve comportamentos erotizados e generalizados em relação a todos os homens. “Vergonha e medo ainda tenho. Tenho medo ainda, medo de ficar perto de homem ainda tem. [...] ainda tenho medo hoje. Tenho medo de quando todo mundo sai pra trabalhar de entrar um lá e me agarrar [...] eu tranco o portão com a chave [...] fico trancada [...] tenho medo de estar sentada no sofá e quando olhar assim ter um homem [...] eu não escapo [...] com esses braços aqui [...] ele me agarra mesmo [...] O medo não sai não, fico aqui até hoje [...] tenho medo sim. Tenho medo até se meu marido tá em casa e todos os filhos for trabalhar [...] eu morro de medo [...] tenho medo até dele.” Construção de prevenção: Parece que usa a reificação, ou seja, naturaliza o mundo social e também a generalização sendo todos os padrastos abusadores das filhas. “Se um dia eu tivesse uma filha, não tenho, mas Pensamento Plural: Revista Científica do se tivesse, aí mesmo que eu nunca ia arrumar um padrasto pra ela, sabe por quê? Porque eu não acredito que padrasto gosta das filhas da mulher, que não é filha dele não. Eu não acredito. [...] Acho que é difícil evitar. Tem que aconselhar, conversar, mas acho muito difícil evitar. Eu, na minha opinião, penso assim, olha: mulher, tem filha mulher, não arrume outro homem, outro marido, eu penso assim, mas não adianta falar. Uma amiga minha lá tem 3 filhas e mora com um homem. Os outros não acreditam em mim [...] ‘Esse aí é como um pai para elas’ e eu digo: ‘Meu padrasto também era como um pai pra mim’. Olha não sei o que pode ser feito pra evitar isso não. Tem que pensar muito [...] não sei de nada [...] é difícil [...] se a mulher gostar do homem que arrumou, vai ter que ficar 24 horas do lado dele ou da filha pra evitar que faça alguma coisa. 24 horas atenta. Se largar um pouquinho pra ir ali ou lá [...] olha! É naquela horinha que pode acontecer alguma coisa. [...] Dentro de casa, têm certas roupas que não pode usar”. 3.3. Depoimento Nº. 3 Mulher de 30 anos, casada e doméstica. A primeira experiência ocorreu quando tinha 9 anos de idade. Trabalhava junto com o irmão mais velho na roça de cacau, ficavam sozinhos quando o mesmo começou a abusar sexualmente. Os abusos ocorreram várias vezes por vários anos até que um dia não agüentando mais a situação e não vendo saída para ela, tentou matar seu irmão com um facão. Percepção da experiência: Parece que para a entrevistada a situação de abuso causou sentimentos muito intensos de culpa, mágoa, tristeza e desespero. “[...] me dava agonia, me agoniava [...]. A primeira vez fiquei assustada [...] Eu não gosto muito de falar, é difícil [...]. Dava vontade de pegar minhas roupas, sem destino e sair andando. [...] eu quase matei ele [...] não sabia se chorava de desespero ou de alegria, porque eu tava ficando (risos) livre dele e ao mesmo tempo, minha mãe me bateu, meu pai também, todo mundo achava que eu era culpada [...]. É uma angústia, uma mágoa. É assim, talvez se fosse outra pessoa, se não fosse sangue do meu sangue, pode parecer até esquisito pra você, se fosse outra pessoa que eu não conhecesse, sei lá, se eu tivesse saído na rua e alguém tivesse me pegado, sei lá, não seria tão triste, tão angustiante”. Denúncia: Percebe-se que a entrevistada sente-se culpada em relação ao ato do irmão e por isso não faz a denúncia. “[...] eu ficava com medo de contar pra minha mãe e ela achar que era mentira minha e colocar a culpa em mim [...] eu chorava, chorava e minha mãe perguntava por que eu tava chorando e eu dizia que não era nada, porque meu irmão falava: ‘Você acha que se contar pra ela, ela vai acreditar em você. Não vai, ela vai acreditar em mim’. Ele era mais velho do que eu, e minha mãe pela educação dela [...] acha que ela ia acreditar, não ia acreditar. E eu ficava sofrendo [...]. Contei pra minha amiga, meu marido, meu médico e pra minha irmã. Pra outra mocinha que foi minha , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 17 17 CAZAROTO, L., FABRIANI, C. B. psicóloga e pra você agora [...] acho que ela não ia acreditar (irmã), minha mãe não ia acreditar e ela também não, minha mãe estava sempre do lado do meu irmão, ele mesmo que fazia alguma coisa errada, ela sempre dizia que era o certo. Eu ficava com medo, porque sempre o apoiava, eu ficava com medo e não contava pra ela. O meu pai, pro meu pai, tinha vergonha, tinha vergonha, não tinha coragem pra contar pro meu pai. Deveria ter contado pra minha irmã, mas também não tinha coragem [...]. Se fosse ver minha irmã, ela queria falar contar, mas já passou tanto tempo, porque falar agora, não vai acontecer nada mesmo, já fez, já consegui passar por isso já, vou voltar lá de novo, aí falei pra ela que não queria. Contar pro meu pai, ele ia sofrer muito coitado, eu acho, né, saber de uma coisa dessas faz sofrer demais [...]” Construção de prevenção: Estabelece uma relação de causa e efeito e tem uma idéia de evitação em relação a sua prole através da informação e do conhecimento. “De não acontecer, acho difícil, porque às vezes acontece sem a gente querer. Agora uma forma que eu acho de não acontecer é conversar. Eu converso e pretendo conversar com minha filha, explicando tudo que passei pra ela, porque se eu não tivesse ficado tanto tempo quieta, não tinha sofrido tanto. Pelo menos eu pretendo fazer isso com ela, não sei se tô certa, mas acho que é dar experiência pra ela e não esconder nada como minha mãe fazia: ‘Como nasce o neném?’. ‘Veio da cegonha.’. Acho que tem que ser falado a verdade, vai saber mesmo de qualquer jeito, então tem que contar, é assim, assim e assado [...] Eu penso assim, desse jeito. Pra minha filha, vou contar tudo pra ela”. 4 Considerações FFinais inais Deve-se observar que, na construção de um argumento, é imperioso que se estabeleça uma relação de causalidade entre uma seqüência de experiências e mesmo que incluam certos aspectos ficcionais, devem constituir-se em um todo coerente capaz de levar a uma avaliação da experiência quanto a ser boa ou ruim e ainda possibilitar a elaboração de atitudes conscientes, que levem à repetição da experiência ou sua evitação. Na psicanálise, quando se fala do mecanismo de defesa do ego de avaliação e/ou condenação, pressupõese um eu suficientemente estruturado para poder entrar em contato com conteúdos psíquicos, muitas vezes penosos do ponto de vista evocado, mas que são indispensáveis na construção dos significados das experiências pelas quais passa o sujeito. Este processo psíquico fica muitas vezes impedido de se realizar plenamente devido à qualidade e à intensidade da experiência, tendo como resultado uma compreensão fragmentada e a impossibilidade da construção das atitudes adequadas. Nesse sentido, verifica-se que a primeira entrevistada não elabora a experiência de abuso de forma a logicamente 18 estabelecer uma relação de causalidade e propõe formas de evitação generalistas e preconcebidas não muito eficazes na prevenção e que tem como conseqüência a limitação de experiências e empobrecimento da vida social afetiva. Como forma de compreensão do processo psíquico envolvido, pode-se recorrer ao mecanismo psicológico da negação de um aspecto da realidade que é intensamente traumático para o sujeito e, de acordo com Fabriani (2004), a aceitação do conteúdo de um pensamento integra a construção do argumento e a negação de uma idéia existente na construção de um argumento é reprimi-la, ou seja, impedir, por um processo psicológico, que ela produza seus efeitos na compreensão do presente e na construção do futuro. Portanto, na avaliação de uma situação, a negação de algumas qualidades ou características da situação pode ser considerada como a expressão de um processo psicológico, onde o indivíduo que nega expressa sua preferência de que aquela qualidade não estivesse presente. Para Freud (1925), ao se tratar deste processo psicológico da negativa, desenvolve-se uma série de proposições com grandes implicações sobre a compreensão do processo de tomada de decisão pelo indivíduo, passando pela avaliação da situação, afirmando ou “desafirmando” que uma idéia tenha existência na realidade. O processo psicológico presente para a segunda entrevistada passou pela ação da repressão, e de acordo com Laplanche e Pontalis (2001), em sentido amplo, é uma operação psíquica, que tende a fazer desaparecer da consciência um conteúdo desagradável ou inoportuno: idéia, afeto etc e segundo D’Andrea (2003), é um processo automático que mantém fora da consciência, impulsos ou sentimentos inaceitáveis. Na terceira entrevistada, pode-se observar um grau mais elevado de elaboração do fato, resignificando o trauma e demonstrando um pensamento criativo com capacidade para criar uma solução para a evitação do fato, mais próximo da avaliação consciente dos fatos pressupondo um eu mais estruturado. Portanto, tanto ao se considerar o indivíduo vítima de abuso, como o grupo social em que se configura o feito, verifica-se que a prevenção desta situação não é apenas heteronímica, e representada pela criação de mecanismos de denúncia, repressão e punição do agressor, cuja prevenção requer uma participação emancipatória do sujeito, conforme apresentado por Tassara & Ardans (2004), colocando-se como parte de processos de transformação social, enquanto agentes do processo em todas as suas fases e para todos os efeitos. Verifica-se ainda que esta participação que aqui se falou pressupõe sujeitos capazes de pensar sobre as experiências por mais penosas que sejam e criativos na proposição de procedimentos individuais e coletivos que encaminhem soluções de preservação da vida individual e coletiva. Diante disso, pode-se concluir com a pesquisa realizada que ela colabora no esclarecimento dos processos psíquicos presentes na situação traumática e aponta para processos psicossociais de intervenção, seja de remediação ou de prevenção que possam colaborar na construção da emancipação. Neste sentido, pode-se ainda subsidiar o encaminhamento de políticas públicas por parte dos agentes de intervenção, com o desenvolvimento de estratégia participativa de prevenção do abuso sexual. Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Referências Abuso sexual de mulheres: um estudo da percepção na avaliação de risco e nas ações de prevenção AZEVEDO, M.A. e GUERRA, V.N.A. Crianças vitimizadas vitimizadas: a síndrome do pequeno poder. São Paulo: IGLU, 1989. D’ANDREA, F. F. Desenvolvimento da personalidade personalidade: enfoque psicodinâmico. 16ª ed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. FABRIANI, C.B.R.. Cultura de segurança versus cultura de risco: estudo psicossocial sobre o olhar e ambientais. Tese (doutorado) – Instituto de Psicologia da a possibilidade de captação de informações ambientais Universidade de São Paulo. Departamento de Psicologia Social e do Trabalho. São Paulo: s.n., 2004. – 162p. FREUD, S. (1925) A Negativa. In Edição standard brasileira de obras psicológicas completas de Sigmund reud. Trad. sob a direção de Jayme Salomão. Rio de Janeiro, Imago, 1974. v. 19, p.295 – 302 Freud GABER, M. Crianças vítimas de abuso sexual sexual: [tradução Sonia Goldfeder] – São Paulo: Summus, 1997. Gênesis 27:41 - Êxodo 1:16 . BÍBLIA ON LINE consulta em 18/03/2006. http://www.bibliaonline.com.br/acf/busca/pt/Esa%C3%BA+e+Jac%C3%B3%2C+ sicanálise LAPLANCHE, J. Vocabulário de PPsicanálise sicanálise/Laplanche e Pontalis: [tradução Pedro Tamen] – 4ªed. – são Paulo: Martins Fontes, 2001. MINAYO, M.C.S (coord). Previnir e proteger: análise de um serviço de atenção à criança vítima de doméstica ENSP-Fiocruz-Claves, Rio de Janeiro, 1993. violência doméstica. ______________. A violência social sob perspectiva da saúde pública pública. Cadernos de Saúde Pública 10(1):718, 1994. espancadas 2ªed – Campinas: ATO Gráficas&Editora, 2005. SANTOS, H.O. Crianças espancadas. Abstract TASSARA & ARDANS, O. Participação emancipatória: reflexões sobre a mudança social na complexidade contemporânea. Revista Imaginário n.º 9 NIME – LABI. Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo. 2003 opular VASCONCELOS, J. Senado autoriza empréstimo para Campinas. Correio PPopular opular. Campinas, 18 de dezembro de 1996. The aim of this study is to investigate victims of sexual violence trying to find what they think about their experiences and the determinants factors which placed them in a risk situation. It also tries to verify if an elaboration occurred that allow the development of attitudes toward the prevention of others sexual violence attack. Six sexual abuses historical were selected from the protocols of the assisted cases in Neap (Nucleus of Study and Service in Psychology of UNIFAE), with previous authorization from the course coordinator. Phone calls resulted in three qualitative interviews with female victims of sexual violence, ages between 23 and 46 years old. These interviews were recorded and transcribed, after the free and willing consent of the victims. It was used the method of analysis of the victims’ arguments, through the identification in the interviewee’s speech of the establishment of a relationship between abuse experience and its causes, the understanding of the relationship between before abuse and after abuse and the elaboration of strategies to prevent a new violent episode. As a result, we have that the first interviewee establishes a relation of cause and effect and the pragmatic strategy of prevention, avoiding the place of the occurrence. The second interviewee does not establish a relation of cause and effect, she does not see herself as the subject of the story; the third interviewee establishes the relation of cause and effect and she has an idea of prevention with respect to her children, through information and knowledge. From this, it can be concluded that with the establishment of the relationship amid the elaboration of the trauma, its symbolic new meaning, it is created a possibility for the construction of safety strategies. These considerations can subsidize the elaboration of public policies by the intervention agents aiming the prevention of the sexual abuse and directions actions by those agents. Key words Sexual Abuse, Psychoanalysis, Social Psychology, Risk Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 19 19 Encontro de gerações: diversidade de olhares Resumo Vagner Luiz da Silva, Elizabeth Regina Jesumary Gonçalves, Sérgio Eduardo Nassar, Maria Helena Cirne de Toledo, Erica Passos Baciuk Este artigo tem como proposta estudar algumas condições de exclusão social, assim como questões que afetam a qualidade de vida dos idosos institucionalizados do Lar Vicentino São José, no município de São João da Boa Vista - SP. São enfocados aspectos de saúde física e mental, além da inclusão social de 31 idosos, homens e mulheres, utilizando-se um questionário pré-estabelecido. Também foram aplicadas atividades lúdicas por universitários do UNIFAE durante três meses. Identificou-se uma população com baixa escolaridade, proveniente da zona rural e predominantemente do sexo masculino onde o desencantamento pela vida, inicialmente percebido, deu lugar à mudança de hábitos, como o interesse por caminhadas, entre os homens, o que traduz uma ampliação de possibilidades de inserção social e da própria motricidade, e a redução do tabagismo e etilismo entre as mulheres, aspectos que interferem na qualidade de vida do grupo. Houve uma modificação incipiente na percepção das próprias necessidades dos assistidos. Foi adotado um estilo de vida mais participativo e integrado o que pode expressar um maior comprometimento com a vida. Autores Elizabeth Regina Jesumary Gonçalves Professora do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE; Comunicadora Visual com Doutorado em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo – UMESP/SP e Mestrado em Educação pela Universidade Paulista – UNIP/SP E-mail: [email protected] Maria Helena Cirne de Toledo Coordenadora do Curso de Psicologia e Professora do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE; Psicologia com Doutorado em Psicologia: Ciência e Profissão e Mestrado em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCCAMP. E-mail: [email protected] Sergio Eduardo Nassar Professor do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE; Educador Físico com Mestrado em Educação pela Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metodista de Piracicaba - FACIS/UNIMEP. E-mail: [email protected] Vagner Luiz da Silva Professor do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE; Licenciado em Matemática com Mestrado em Física pelo Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas-IF/UNICAMP. E-mail: [email protected] Palavras-chave Idoso Institucionalizado; Inclusão Social; Qualidade de Vida; Universitários Érica Passos Baciuk Coordenadora do Curso de Fisioterapia (diurno) e Professora do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE; Fisioterapeuta com Doutorado em Tocoginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas – FCM/UNICAMP e Mestrado em Educação Física pela Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas – FEF/UNICAMP. E-mail: [email protected] Recebido em 18/março/2007 Aprovado em 04/setembro/2007 Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 20 Encontro de gerações: diversidade de olhares 1. Introdução O corpo idoso tem sido objeto de estudo em diferentes áreas de conhecimento, na tentativa de oferecer à população um padrão de longevidade e, com isso, um grande avanço nas pesquisas referentes ao envelhecimento. Atualmente, as gerações vivem segmentadas em espaços exclusivos. Na sociedade moderna facilmente constata-se a separação das faixas de idade. Crianças, adolescentes, adultos jovens e adultos velhos ocupam áreas reservadas, como creches, escolas, oficinas, escritórios, asilos, locais de lazer etc. A exceção se dá na família. Sem dúvida, é no contexto familiar que ocorrem mais freqüentemente os encontros entre as gerações, ao menos por proximidade física, visto que em muitas delas prevalece o distanciamento afetivo. Por isso, a qualidade dessas relações tem sido alvo de muitas discussões entre especialistas e entre pessoas em geral. O desenvolvimento biológico do ser humano pode ser visto por meio de uma sucessão de etapas, a infância, a adolescência, a do adulto jovem, a meia-idade e a velhice; fases decorrentes de singularidades orgânicas, mas também produzidas pela cultura. Pode-se considerar que as gerações são socialmente construídas, porque antes de tudo o indivíduo é socialmente construído. A construção social das gerações se concretiza pelo estabelecimento de valores morais e de expectativas de conduta para cada geração em diferentes etapas da história. Se as gerações são continuamente construídas, desconstruídas e reconstruídas, a relação entre elas também está sempre sendo refeita. Novas relações, por sua vez, determinam novos comportamentos das gerações, num movimento dialético de retroalimentação permanente. Vários autores na literatura, esclarecem definições sobre o processo de envelhecimento. Py e Trein (2002) consideram o envelhecimento humano um processo de transformações que se desdobram pela ação do tempo, no percurso da existência, com as variações peculiares à individualidade de cada ser. A velhice, no momento atual, é tida como sinônimo de decadência, daquilo que já foi ou que já era, expressão bastante usada principalmente pelos jovens. O idoso não deixa de ser um adulto, continua sendo um adulto, um adulto mais velho. No caminho em direção à fase da terceira idade, em decorrência de inúmeros fatores culturais contemporâneos, os contatos sociais tendem a rarear, isto é, assiste-se a um progressivo esvaziamento de papéis, fato que determina ao idoso um crescente isolamento ou recolhimento ao espaço doméstico. A aposentadoria, a viuvez, a perda de amigos e a chamada síndrome do ninho vazio, esta última caracterizada pela debandada dos filhos emancipados, são fenômenos que impõem aos mais velhos uma expressiva diminuição de funções. Há um número vasto de idosos que moram sozinhos ou apenas com seu cônjuge, além daqueles confinados em asilos. Mesmo no caso de idosos que coabitam com filhos e netos, as conversas mais duradouras são raras e até inexistentes. Parece que a maior visibilidade social adquirida pelos idosos, seja por sua crescente expressividade numérica, seja por uma participação social cada vez mais intensa, tende a melhorar o relacionamento com os jovens. Um contingente cada vez maior de idosos tem reagido às vicissitudes e vem desenvolvendo um estilo de vida cada vez mais participativo e integrado. Pesquisas concluem que quanto mais positiva a atitude do idoso em relação à velhice e quanto melhor seu estado de saúde, melhor é a qualidade do relacionamento com os seus filhos. Porém, as Instituições e espaços segregam e selecionam seus públicos, levando-os a Pensamento Plural: Revista Científica do um isolacionismo impar, excluindo seus participantes do restante da sociedade. Os estudos também têm mostrado que os idosos não perdem sua capacidade funcional se preparados com atividades físicas e mentais, uma questão que merece bastante respeito, visto que com os avanços da ciência e medicina, há um aumento paulatino da expectativa de vida dos seres humanos. É importante salientar que, muitas vezes, o idoso não necessita somente de força, equilíbrio, resistência e destreza, mas também de carinho, atenção, cuidados, lazer, contato social e auto-estima, aspectos pelos quais muitas outras atividades podem colaborar. Cabem aos profissionais, principalmente de instituições formadoras como as instituições de ensino, nos seus mais diferentes níveis, se organizarem para melhor receitar atividades inclusivas. Investigando melhor o estado de saúde física e mental em que se encontra o idoso, seu nível de dependência, suas necessidades, seus anseios, seus temores, para assim, melhor estruturar programas de saúde e inclusão social com equipes interdisciplinares que sejam verdadeiramente dedicadas aos idosos. Experiências, como a apresentada no Congresso Internacional Co-Educação de Gerações, em São Paulo (MIRANDA, 2003), afirmam que eventos promovidos pelo SESC constituem-se em proveitosos encontros: oficinas de brinquedo, de teatro, de música, nos grupos de canto coral, de artes plásticas, de fotografia mostraram-se como as atividades que mais têm permitido aos idosos interagirem com outras faixas etárias, sendo possível observar uma troca de experiências agradável e produtiva. Em outra pesquisa, sobre brinquedos populares, destaca-se a participação dos idosos, que se revelam ainda possuidores de técnicas de confecção artesanal. Por isso foram convidados a desenvolverem suas habilidades em oficinas de criatividade monitoradas. A atividade em grupo traz para os idosos maior convivência social, novo ânimo, incentivo para a vida, aspectos que, na maioria dos idosos, são esquecidos. Neste contexto, Marcellino (1989) afirma que os avanços apresentados nos grupos de idosos oferecem muitos exemplos de pessoas que, motivadas pela convivência, passaram a desenvolver novas atividades nas áreas das artes plásticas, do artesanato, do esporte e, até mesmo, a prática de atividades físicas, a reabilitação e a fisioterapia. Geralmente, as associações de terceira idade não mantêm contato com outras faixas etárias, alguns desses agrupamentos tendem mesmo a evitar interações com pessoas de outra geração, configurando-se assim verdadeiros guetos. Já atividades interessantes para moços e idosos tendem a produzir efeitos bastante animadores. São muitos os interesses comuns das gerações. As atividades de lazer, por seu caráter lúdico, voluntário e descompromissado, podem facilitar a emergência de interações intergeracionais. Sabe-se que a qualidade de vida reflete a satisfação harmoniosa do ser humano, pois diz respeito a seus objetivos e desejos, considerando a quantidade de aspectos positivos acumulados no dia-a-dia, denominada “felicidade”, e a superação dos aspectos negativos. Para o idoso, o termo se insere sobre o seu estilo de vida. Simões (2001, p.189) define, a partir de uma perspectiva abrangente, o que vem a ser qualidade de vida na velhice [...] a qualidade de vida é a qualidade da vivência do dia-a-dia e no interior da Terceira Idade, é proporcionar o início de um caminho, um ponto de partida, não um ponto de chegada, independentemente das perdas que o mundo adulto produtivo e rentável coloca, é ir à busca dos , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 21 BACIUK, E. P. (et al.) encontros dos incentivos, dos desafios, dos projetos, das incertezas, dos desejos e, sem dúvida dos sonhos. Sendo assim, trabalho tem como proposta facilitar o encontro de gerações, utilizando a pesquisa interdisciplinar como um veículo norteador, envolvendo aspectos da saúde, culturais e sociais dos idosos residentes no Lar São José, por meio dos alunos dos cursos do UNIFAE, no município de São João da Boa Vista. Os objetivos deste estudo são: verificar as condições de exclusão social, assim como as questões que afetam a qualidade de vida dos idosos institucionalizados do Lar São José; apontar a resposta dos idosos ao desenvolvimento de ações dos acadêmicos que contribuam para o bem-estar, analizar a prevenção e a reabilitação das condições de saúde; e observar o efeito disto para a inclusão deste grupo de idosos na sociedade. 2. Método Este estudo de caso enfoca aspectos de saúde física e mental, além da inclusão social dos 31 idosos, homens e mulheres, residentes no Lar Vicentino São José, no município de São João da Boa Vista - SP. O Lar São José é uma instituição filantrópica, administrada pelos Vicentinos de São João da Boa Vista. Existem 40 casas (individuais), sendo 31 ocupadas, um refeitório, uma igreja e um coreto, além de uma ampla área livre. O Lar tem registro no CNS (Conselho Nacional de Saúde) e mantém convênio com a prefeitura municipal. Inicialmente realiza-se a seleção dos alunos dos cursos de fisioterapia, psicologia, educação física e publicidade e propaganda, interessados em participar do projeto. É realizado um primeiro contato com os idosos, sob forma de visita para esclarecimentos sobre o presente trabalho. Posteriormente, duplas de alunos realizam visitas aos idosos individualmente, com o objetivo de convidá-los a participação na pesquisa, os quais, no caso de concordarem em participar, assinam um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. É realizado um levantamento sobre as condições de saúde, física e mental, de cada voluntário assistido, além de aspectos sociais do grupo e condições ambientais, utilizando-se de ques- tionário previamente elaborado. Após a análise parcial desses resultados, são implantadas dinâmicas, pré-estabelecidas, aplicadas por alunos dos quatro cursos, sob supervisão dos pesquisadores de forma simultânea. 3. Análise dos resultados Os dados são registrados nos questionários, além dos registros visuais, por meio do uso de imagem (foto) de alguns encontros. Os dados quantitativos são tabulados em planilhas do excel e analisados de forma descritiva. Na análise estatística, as variáveis qualitativas são comparadas, usando o teste de pvalue e as variáveis quantitativas usando o teste ANOVA. 4. Resultados e Discussão Dos 31 idosos residentes no Lar, 29 concordam em responder ao questionário, sendo 17 homens e 12 mulheres. A maior parte dos participantes tem idade entre 60 e 80 anos (33,3% mulheres e 37,4% homens); daqueles com idade menor que 60 anos, 7,4% são mulheres e 14,8% homens; e 7,4% são homens com mais de 80 anos, não havendo mulheres nesta faixa etária. Fato que merece atenção, visto que as pesquisas mostram maior prevalência de idosos institucionalizados com idade acima de 72 anos, com predominância do sexo feminino, sendo a probabilidade de institucionalização das idosas três vezes maior. O que coloca em relevo a questão das diferenças de expectativa de vida entre os sexos, apontando para a constatação de que a terceira idade vem expressando ser composta principalmente por mulheres (BULLA; CLOSS; VENTURA, 2007). Esta ocorrência é justificada na literatura por vários motivos, além da expectativa de vida ser maior nas mulheres em relação aos homens. A viuvez é mais freqüente para as mulheres; as idosas geralmente possuem grau de instrução e nível de renda baixo, fatores que somados favorecem o ingresso nas instituições (FERREIRA, 2007) Os resultados do gráfico 1 indicam que os indivíduos institucionalizados apresentam baixa escolaridade (analfabetos = 32,1% e, com 1º grau incompleto = 60,7%). Entre as profissões, há uma maior incidência de trabalhadores rurais (42,9%) e domésticas (17,9%). Escolaridade x PProfissão rofissão Gráfico 1: Distribuição percentual da escolaridade versus profissão dos idosos Fonte: Resultados da pesquisa dos autores. 22 Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Avaliação da amplitude de movimento dos ombros em mulheres operadas por câncer de mama Fem. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Masc. Gráfico 2: Distribuição percentual da realização de atividade física dos idosos, a) antes do convívio com jovens universitários, b) depois do convívio com jovens universitários, categorizado por sexo. Fonte: Resultados da pesquisa dos autores. Gráfico 3: Distribuição percentual de tabagismo e etilismo entre os idosos, a) antes do convívio com jovens universitários, b) depois do convívio com jovens universitários, categorizado por sexo. Fonte: Resultados da pesquisa dos autores. O gráfico 2 (a) mostra que a maioria dos participantes (66,6% das mulheres e 70,6% dos homens) não praticavam qualquer tipo de atividade física antes do convívio com os jovens universitários. A falta de atividade física predominante nos participantes inicialmente, implica em baixa auto-estima, sensação de cansaço, presença de dores e consequentemente baixa qualidade de vida. Após aproximadamente cinco meses de contato semanal com jovens universitários, parece ter início um movimento de Fem. Masc. Gráfico 4: Distribuição percentual das opiniões dos idosos do que falta na Instituição, categorizado por sexo Fonte: Resultados da pesquisa dos autores Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 23 23 BACIUK, E. P. (et al.) Antes Fem. Masc. Depois Fem. Masc. Gráfico 5: Distribuição percentual das expectativas em relação ao próprio corpo, nos idosos assistidos, a) antes do convívio com jovens universitários, b) depois do convívio com jovens universitários, categorizado por sexo. Fonte: Resultados da pesquisa dos autores. mudança de hábitos entre os idosos assistidos. Observa-se que, em relação à realização de atividade física, há um aumento do hábito da caminhada (de 6,9% para 17,29%) entre os homens (com p-value < 0,01), reduzindo a inatividade de 48,3% para 37,3%. Entre as mulheres os hábitos relacionados à atividade física não se alteram. O hábito do tabagismo e do etilismo esteve presente, respectivamente, em 14,3% e 14,8% entre mulheres e 39,3% e 37% entre os homens, antes do convívio com os jovens 24 universitários (gráfico 3 a). No entanto, para o tabagismo e etilismo, há uma redução, entre as mulheres, de 14,3% para 8,7% para o tabagismo e de 14,8% para 9,1% para o etilismo (com p-value < 0,03). Entre os homens não há modificação nestes hábitos. Quando questionados sobre o que falta no Lar, um grande número de assistidos afirma “não falta nada”, como mostra o gráfico 4. Talvez esta resposta permita inferir que a necessidade de ser Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Encontro de gerações: diversidade de olhares Masc. Fem. Gráfico 6: Distribuição percentual da opinião sobre seu próprio corpo na instituição, nos idosos assistidos, categorizado por sexo Fonte: Resultados da pesquisa dos autores. Antes Fem. Masc. Depois Fem. Masc. Gráfico 7: Distribuição percentual sobre a visão do próprio corpo, nos idosos assistidos, a) antes do convívio com jovens universitários, b) depois do convívio com jovens universitários, categorizado por sexo. Fonte: Resultados da pesquisa dos autores. Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 25 BACIUK, E. P. (et al.) cuidado (garantia de moradia e alimentação) seja prioritária para os idosos deste estudo. Aspectos como ”amor dos visitantes”, “atividades de lazer”, “informação sobre os parentes”, “visitas” são aspectos visivelmente negligenciados ou desconsiderados por esta população. Por outro lado, a incidência maior de trabalhadores rurais e domésticos pode ser uma variável significativa na amostra. Pode-se supor, em relação às mulheres, que a somatória do convívio com os jovens universitários e as intervenções realizadas na instituição, levam a uma maior compreensão das necessidades próprias e ambientais, modificando a percepção sobre a instituição. Por outro lado, o incremento de atividade física por parte dos homens, após a realização da primeira fase da pesquisa, sugere uma melhora da consciência corporal, aumento da autoestima e indiretamente da qualidade vida, que se reflete no grau de satisfação com a instituição. Ao mesmo tempo, deve-se considerar que a caminhada (modalidade escolhida como atividade física pelos homens) torna-se uma atividade eminentemente social na instituição a partir das intervenções, por serem realizadas em grupo e fora do espaço físico do Lar. Salientando que no início da pesquisa, o Lar propiciava como eventos sociais 3 (três) lanches por mês, oferecidos por voluntárias, novenas semanais e missa aos domingos. Simultaneamente, quando questionados sobre o desejo do que melhorar em seu próprio corpo, inicialmente, destaca-se o desejo de maior disposição, com média de respostas de 37,6% e 11,8%, entre os homens e mulheres, respectivamente. Os movimentos aparecem em segundo lugar entre os homens, com média de respostas de 11,8%. Entre as mulheres, há destaque para o sono, com média de 13,5% e as dores, com 11,4%. A diferença das respostas entre homens e mulheres no item “o que você gostaria que melhorasse no seu próprio corpo”, antes do convívio com jovens universitários, possivelmente explica a maior procura pela atividade física por parte dos homens, após as intervenções. Após os cinco meses de convívio com os jovens, não se nota qualquer modificação neste ítem. Aproximadamente 93% dos homens afirmam ter um corpo participativo na instituição. Esta opção está presente em aproximadamente 42% das mulheres. O gráfico 6 mostra a distribuição percentual geral. Deve-se lembrar que os homens Referências representam 58,6% desta população e as mulheres 41,4%. Aparentemente, a compreensão dos assistidos sobre ter um corpo “participativo” não implica nem em realizar atividades físicas nem sequer se envolver em eventos sociais. O que sugere provavelmente uma visão pobre de suas possibilidades de inserção social e da própria motricidade. Ainda em relação à visão do idoso sobre seu próprio corpo, os homens que corresponderam ao “ativo” apresentsm média, no início, de 49,9% e, após convívio, de 39,5%. “Cansado” representa média, no início, de 14,1% e, após o convívio, de 13,9%. Nas mulheres, o corpo “cansado” destaca-se, tendo de média, no início, 20,7% e, após convívio, de 23,6% e a visão de um corpo “útil” ou “ativo”, com média no início de 14,5% e 16,5% após, como mostram os gráficos 7 (a e b). A percepção que os idosos têm de corpo “ativo” / ”útil” e “cansado” não tem necessariamente uma correspondência com a prática de atividade física ou a participação no grupo social. Talvez tenha uma relação com as possibilidades de desenvolver as atividades de vida diária (comunicação, locomoção, higiene, alimentação e vestuário) de forma mais independente. Este é um aspecto que merece atenção especial. No início da pesquisa, no item sexualidade, destacam-se as opções “adormecida” e “esquecida”, sendo a incidência de respostas respectivamente 27,1% e 14,6% entre os homens e 14,6% e 6,3% entre as mulheres. E a alternativa “ativa” está presente em 12,5% dos homens e 4,2% das mulheres, o que talvez possa ser explicado como um traço cultural. No entanto, não é possível relacionar as respostas encontradas na aplicação do questionário pós-intervenções em virtude da omissão de um número significativo de participantes, fato que distorce os resultados. 5. Considerações finais O estudo identifica uma clientela com baixa escolaridade, proveniente da zona rural e predominantemente do sexo masculino entre os moradores do Lar Vicentino São José. O desencantamento pela vida, inicialmente predominante nos assistidos, refletido na percepção da própria impotência para modificar sua rotina, acomodando-se e entregando-se à passividade, na dificuldade ou desinteresse em participar das atividades propostas, dá lugar à mudança de hábitos. O interesse por caminhadas, entre os homens, que traduz uma ampliação de possibilidades de inserção social e da própria motricidade, e a redução do tabagismo e etilismo entre as mulheres, são aspectos que interferem de maneira incisiva na qualidade de vida do grupo. Há uma modificação incipiente na percepção das próprias necessidades dos assistidos, o que é possível identificar na mudança de percepção das mulheres sobre a instituição. Sabe-se que quanto mais positiva a atitude do idoso em relação à velhice e quanto melhor seu estado de saúde, melhor a qualidade do relacionamento com outros seres humanos. A adoção de um estilo de vida mais participativo e integrado expressa um maior comprometimento com a vida. BULLA, L.C, CLOSS, T.T, VENTURA, T.A. A vida cotidiana do idoso institucionalizado institucionalizado. Rio Grande do Sul: NEDEPS - PUC/RS. Disponível em: http://www.pucrs.br/eventos/sbpc/pucrs/relato/005.doc. Acesso em: 26 fev. 2007. FERREIRA, P.A. Qualidade de vida nas instituições de longa permanência para idosos do estado de Gerais São Paulo: PUC-SP. Disponível em: http://www.mp.mg.gov.br/caoppdi/legisla/artidoso/ArtigoILP.doc. Minas Gerais. Acesso em: 26 fev. 2007. MARCELLINO, N. C. Lazer e Qualidade de Vida. In: MOREIRA, W.W. e SIMÕES, R. (org.), Qualidade de Vida: Complexidade e Educação. Campinas: Papirus, 2001. ______________. Pedagogia da Animação Animação.. 4ª ed. Campinas: Papirus, 1989. MIRANDA, D. S. O Encontro de Gerações no SESC São PPaulo: aulo: a história de um processo de inclusão social. Congresso Internacional Co-Educação de Gerações. SESC São Paulo, outubro 2003. social 26 Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Referências Abstract Encontro de gerações: diversidade de olhares PY, L.; TREIN F. Finitude e Infinitude: Dimensões do tempo na experiência do envelhecimento. In: FREITAS, E., PY, L., NERI, A., CANÇADO, F., GORZONI, M., ROCHA S. (Org.) Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. This article has the purpose to study some conditions of social exclusion, as well as some questions that affect the quality of life, of senior citizens retired in Lar Vicentino São José, in São João da Boa Vista -SP. It is focused on their physical and mental health conditions along with the social inclusion of 31 old men and women, using a pre-designed questionnaire form. Later, undergraduate students from UNIFAE engaged these senior citizens in playful activities for three months, after which was reapplied the same questionnaire. It was identified a mainly masculine population, with low level of education and from the rural area, where the initial disenchantment gave place to a change of habits, such as interest in walking among the men, what increases the possibilities for social insertion and helps their mobility, and the reduction on the use of tobacco and alcohol among women. These aspects affect the group quality of life. There was an incipient modification on their needs perception. The adoption of a more participative and integrated life style can express a stronger compromise with life itself. SIMÕES, R. (Qual) idade de vida na (Qual) idade da vida. In: MOREIRA, W. W. (org.) Qualidade de Vida: Complexidade e Educação.. Campinas: Papirus, 2001. Key words retired elderly people; Social Inclusion, Quality of Life, Youth. Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 27 Efeitos da utilização do cavalo como recurso terapêutico na motricidade de crianças portadoras de mielomeningocele Resumo Mônica Cristina P. Andrade, Valéria Augusto A pesquisa1 tem como objetivo documentar possíveis melhoras clínicas em pacientes com mielomeningocele, que são atendidos pela equoterapia e pela fisioterapia convencional. A Mielomeningocele é um tipo de Espinha Bífida Cística, que consiste numa malformação congênita devida a um erro no desenvolvimento da coluna vertebral. Afeta o sistema osteoneuromuscular e o aparelho geniturinário. O diagnóstico fisioterapêutico geralmente é a paraplegia ou paraparesia de membros inferiores. Por outro lado, o cavalo vem sendo utilizado como recurso terapêutico alternativo no tratamento de desordens motoras, cognitivas e sociais. Os pacientes portadores de mielomeningocele vêm apresentando considerável melhora clínica quando a terapia convencional vem acompanhada da Equoterapia. Porém o número de trabalhos científicos de qualidade é praticamente inexistente, embora o interesse nesta área tenha se mostrado relevante. Como conclusão do estudo, pode-se afirmar que o tratamento fisioterapêutico e a Equoterapia mostraram evoluções na maioria dos pacientes, quanto aos testes de equilíbrio propostos. Quanto ao tônus de cada paciente relacionado com suas funções (principalmente o engatinhar), obtiveram-se resultados positivos em dois dos pacientes. Autores Mônica Cristina Paulo Andrade Professora do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE; Fisioterapeuta com Mestrado em Biologia Funcional e Molecular pelo Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas – IB/UNICAMP. E-mail: [email protected] Palavras-chave Mielomeningocele, Equoterapia, Testes de Equilíbrio Valéria Augusto Professora do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE; Fisioterapeuta com Mestrado em Biologia Celular e Estrutural pelo Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas – IB/UNICAMP. E-mail: [email protected] Recebido em 18/março/2007 Aprovado em 04/setembro/2007 Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 28 Efeitos da utilização do cavalo como recurso terapêutico na motricidade de crianças portadoras de mielomeningocele 1. Introdução 1.1 Histórico O primeiro trabalho sobre equitação terapêutica foi publicado por Chassaigne em 1870(cf. Guimarães). Este trabalho fala sobre conlusões a respeito da melhora no equilíbrio, postura e controle muscular de pacientes com distúrbios neurológicos. Em sua pesquisa, constatou que desde 1870 até 1946 nada foi publicado sobre Equitação Terapêutica. Em 1946, então, a Escandinávia enfatizou a importância da equitação após dois surtos de poliomielite. O uso do cavalo como terapia foi mais estimulado a partir de 1952, graças à medalha olímpica ganha por Liz Hortel, da Escandinávia. A campeã era portadora de poliomielite e ganhou medalha de prata em “dessage”, uma modalidade hípica. Com todos esses dados, vê-se a importante contribuição da Escandinávia como precursora da hippoterapia (cf.TERRASSANI,1992). A contribuição da Noruega para a equitação terapêutica conta com a fisioterapeuta Eliset Bodter, que foi a primeira a organizar a equitação como um recurso terapêutico para crianças deficientes. O equitador Her Dr. Hider sofreu um acidente vascular cerebral na década de 60. Apesar das limitações adquiridas, continuou a montar, sentindo melhoras sensíveis em seu quadro clínico. Então graduou-se em fisioterapia e se propôs a conhecer melhor a ação do cavalo em portadores de problemas neurológicos, no que diz respeito aos efeitos fisiológicos. A fisioterapeuta dinamarquesa, Ulla Harpoth, relatou em 1970 por uma carta à norte americana Senhorita Trotter acontecimentos em hippoterapia. Relatava a respeito do famoso jóckey Jurgen Dulo, que após um acidente enquanto montava, tornou-se paraplégico. Este organizou um torneio hípico para deficientes, com noventa e sete participantes; sendo campeão um dinamarquês portador de mielomeningocele. Mais tarde fundou uma escola para pessoas paraplégicas com o Dr. Dulz. A carta dizia também sobre localidades como Inglaterra e Holanda, que se utilizavam da equitação terapêutica. Hoje, encontram-se espalhados vários centros de equitação terapêutica em vários países da Europa e Estados Unidos. O primeiro centro dos Estados Unidos estabeleceu-se em Chicago, em 1969. 1.2 Definição de hippoterapia “A hippoterapia é um tratamento que visa a reabilitação global e a reintegração social de pacientes portadores de deficiência física e/ou mental através da equitação terapêutica e que se aplica a qualquer tipo de lesão do sistema nervoso central”. (GUIMARÃES, 1998). 1.3 Indicações Em “A Manual for Therapeutic Horseback Programs”, os autores classificam as patologias a serem tratadas com a equitação terapêutica como disfunções físicas (Phisical Disabilities) e não físicas (Non - Phisical Disabilities). Esta última consiste em pacientes que apresentam disfunções mentais, podendo ou não estar associadas a desabilidades puramente funcionais (HEINE, 1997). 1.4 Contra-Indicações As contra-indicações estão mais relacionadas aos cuidados específicos com cada paciente portador de determinada patologia do que com a patologia, contra-indicando o tratamento com a equitação terapêutica (AUGUSTO, 1998). Por esse motivo, é imprescindível que o fisioterapeuta tenha em Pensamento Plural: Revista Científica do mãos o diagnóstico médico de cada paciente, para que possam ser avaliadas as limitações de cada um em particular. Contra-indicar o tratamento depende muito do bom senso do terapeuta, pois doenças em processo agudo, falta de sensibilidade nas nádegas e coxas, alergias, falta de cooperação por parte do paciente, intolerância (dor ou medo) aos movimentos do cavalo e, como já mencionado, síndromes desconhecidas são algumas das situações que devem ser evitadas. 1.5 A Mielomeningocele A Mielomeningocele é um tipo de Espinha Bífida Cística, que consiste numa malformação congênita devida a um erro no desenvolvimento da coluna vertebral. Não ocorre a fusão dos arcos vertebrais, resultando em fechamento incompleto do canal vertebral. A medula espinhal, as raízes nervosas e as meninges podem projetar-se através da falha da coluna vertebral. O tecido nervoso é anormal e encontra-se, às vezes, preso à superfície interna de uma das membranas e, outras vezes, está exposto a céu aberto, quando há mielosquise (ausência completa de fechamento do tubo neural). A incidência geralmente ocorre entre 1 e 4 casos por 1.000 recém-nascidos vivos. O tipo e a intensidade das deficiências neurológicas e funcionais dependem da localização e da extensão da falha. A região mais freqüente da mielomeningocele é a lombossacra, tendo como manifestações clínicas: hipotonia (paralisia flácida); diminuição da força muscular; hipotrofia muscular; diminuição ou abolição dos reflexos tendíneos; diminuição ou abolição da sensibilidade exteroceptiva e proprioceptiva; incontinência dos esfíncteres de reto e bexiga; deformidades de origem paralítica e congênita; hidrocefalia. Afeta o sitema osteoneuromuscular e o aparelho geniturinário. O diagnóstico fisioterapêutico geralmente é a paraplegia ou paraparesia de membros inferiores. 2. Objetivos O objetivo deste trabalho foi analisar e documentar possíveis melhoras clínicas em pacientes com mielomeningocele, que são atendidos pela equoterapia e pela fisioterapia convencional. 3. Materiais e métodos 3.1 Plano de trabalho Foram realizadas avaliações em todos os participantes do estudo, detectando-se suas principais limitações e disfunções. Após esta, foram iniciados os atendimentos em equoterapia, com exercícios de estimulação sensorial, de equilíbrio, coordenação e de estímulo ao movimento passivo e voluntário. Após seis meses de estimulação, foi avaliado o desempenho motor desses pacientes, observando-se possíveis alterações em suas funções motoras. A avaliação desses pacientes seguiu o mesmo padrão das avaliações realizadas no setor de Fisioterapia em Neurologia – Pediatria. Participaram deste estudo quatro portadores de mielomeningocele do sexo masculino, tendo idades entre 2 e 11 anos. Foram realizadas avaliações em todos os participantes do estudo, detectando suas principais limitações e disfunções. Foram realizadas sessões de equoterapia nas dependências do Centro de Equoterapia Macaubeiras, em São João da Boa Vista. Este Centro já se encontra cadastrado na Associação Nacional de Equoterapia (ANDE – Brasil), entidade que regulamenta o funcionamento e a prática dos centros filiados. , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 29 ANDRADE, M. C. P., AUGUSTO, V. 4. Resultados e conclusões Foram analisadas as avaliações iniciais (antes do tratamento) e as avaliações finais (1 ano depois do início do tratamento) de cada paciente e comparadas entre si. Além da ficha de avaliação utilizada, examinou-se também a função de engatinhar, considerando ser esta uma função primordial aos pacientes portadores de Mielomeningocele para sua locomoção, visto que não possuem movimentos e força suficientes para se manterem na postura em pé, sem auxílio. Obteve-se os seguintes resultados: PACIENTE 1 1- L.C.C.T – 1 ano Primeira Avaliação - realizada em 30 de setembro de 2005. Tabela 1 - EQUILÍBRIO ESTÁTICO Bom Em pé Sentado Dec.dorsal Dec.lateral Dec.ventral Gatas Semi-ajoelhado Ajoelhado Regular Ruim Ausente x x x x x x x x Obs.: o paciente ficou de gatas e ajoelhado com auxílio do fisioterapeuta. Tabela 2 - EQUILÍBRIO DINÂMICO E DISSOCIAÇÃO Rolar de dec.dorsal p/ ventral Rolar de dec. ventral p/ dorsal De ventral p/ gatas De dorsal p/ sentado De sentado p/ dec.dorsal De gatas p/ sentado sobre os calcanhares De sentado sobre os calcanhares p/ ajoelhado De ajoelhado p/ semi-ajoelhado De semi-ajoelhado p/ em pé De em pé p/ sentado Sem Com dissociação dissociação x x Sem auxílio x x Com auxílio Não realiza x x x x x x x x x Nesta primeira avaliação, o paciente apresenta um atraso no seu desenvolvimento neuropsicomotor, para sua idade cronológica. Isso justifica-se pelo equilíbrio estático sentado regular e de gatas e ajoelhado ruins. No equilíbrio dinâmico, as mudanças de decúbito de ventral para gatas e de dorsal para sentado apresentam-se insatisfatórias, pois o paciente só as realiza com auxílio. Já as mudanças de gatas para sentado sobre os calcanhares, de sentado sobre os calcanhares para ajoelhado, de ajoelhado para semi-ajoelhado, de semi-ajoelhado para em pé e de em pé para sentado ainda estão ausentes. A função de engatinhar também está ausente. PACIENTE 1 1- L.C.C.T – 2 anos Segunda avaliação - realizada em 30 de setembro de 2006 Tabela 3 - EQUILÍBRIO ESTÁTICO Bom Em pé Sentado Dec.dorsal Dec.lateral Dec.ventral Gatas Semi-ajoelhado Ajoelhado 30 Regular Ruim Ausente x x x x x x Pensamento Plural: Revista Científica do x x , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Efeitos da utilização do cavalo como recurso terapêutico na motricidade de crianças portadoras de mielomeningocele Tabela 4 - EQUILÍBRIO DINÂMICO E DISSOCIAÇÃO Rolar de dec.dorsal p/ ventral Rolar de dec. ventral p/ dorsal De ventral p/ gatas De dorsal p/ sentado De sentado p/ dec.dorsal De gatas p/sentadosobreos calcanhares De sentadosobre os calcanhares p/ajoelhado De ajoelhadop/ semi-ajoelhado De semi-ajoelhado p/ em pé De em pé p/ sentado Sem Com dissociação dissociação x x x Sem auxílio x x x Com auxílio Não realiza x x x x x x x x x Houve uma melhora considerável no equilíbrio estático sentado e de gatas, além da postura de semi-ajoelhado, que era ausente e agora está presente, porém ruim. No equilíbrio dinâmico, a mudança de sentado sobre os cal- canhares para ajoelhado não realizava e agora realiza com auxílio. De ventral para gatas, realizava com auxílio e agora realiza sem auxílio. Vários encurtamentos musculares instalaram-se nesse período, mas a função de engatinhar já está presente. PACIENTE 2 – K.V.R.S. – 5 anos Primeira Avaliação - realizada em 20 de setembro de 2005 Tabela 5 - EQUILÍBRIO ESTÁTICO . Bom Em pé Sentado Dec.dorsal Dec.lateral Dec.ventral Gatas Semi-ajoelhado Ajoelhado Regular Ruim x Ausente x x x x x x x Obs.: o paciente ficou em pé com auxílio do fisioterapeuta. Tabela 6 - EQUILÍBRIO DINÂMICO E DISSOCIAÇÃO Rolar de dec.dorsal p/ ventral Rolar de dec. Ventral p/ dorsal De ventral p/ gatas De dorsal p/ sentado De sentado p/ dec.dorsal De gatas p/ sentado sobre os calcanhares De sentado sobre os calcanhares p/ ajoelhado De ajoelhado p/ semi-ajoelhado De semi-ajoelhado p/ em pé De em pé p/ sentado Sem Com dissociação dissociação x x x Com auxílio Não realiza x x x x x x x x x x Para a idade cronológica, o paciente apresenta um atraso no seu desenvolvimento neuropsicomotor. A função de engatinhar já está presente. O paciente faz uso de órteses em membros inferiores, que auxiliam na marcha com andador. Pensamento Plural: Revista Científica do Sem auxílio x x x Nos testes de equilíbrio estático, apenas na posição ajoelhado está regular e em pé ruim. No equilíbrio dinâmico, está com bons resultados dentro dos limites da patologia. , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 31 ANDRADE, M. C. P., AUGUSTO, V. PACIENTE 2 – K.V.R.S. – 6 anos Segunda Avaliação - Realizada em 17 de novembro de 2006 Tabela 7 - EQUILÍBRIO ESTÁTICO Bom Em pé Sentado Dec.dorsal Dec.lateral Dec.ventral Gatas Semi-ajoelhado Ajoelhado Regular Ruim x Ausente x x x x x x x Obs.: o paciente apresentou equilíbrio regular na posição semi-ajoelhado (sobre o joelho esquerdo). Tabela 8 - EQUILÍBRIO DINÂMICO E DISSOCIAÇÃO Rolar de dec.dorsal p/ ventral Rolar de dec. Ventral p/ dorsal De ventral p/ gatas De dorsal p/ sentado De sentado p/ dec.dorsal De gatas p/ sentado sobre os calcanhares De sentado sobre os calcanhares p/ ajoelhado De ajoelhado p/ semi-ajoelhado De semi-ajoelhado p/ em pé De em pé p/ sentado Sem Com dissociação dissociação x x x x x x x Sem auxílio x x x x x x x Com auxílio Não realiza x x x O equilíbrio estático manteve-se praticamente igual como na primeira avaliação. Já nos testes de equilíbrio dinâmico, houve uma melhora considerável, principalmente de dorsal x para sentado e de em pé para sentado. O paciente iniciou treino de marcha com órteses e muletas canadenses, mas ainda sem muito equilíbrio dinâmico. PACIENTE 3 3- G.F.M – 5 anos Primeira Avaliação - realizada em 30 de setembro de 2005. Tabela 9 - EQUILÍBRIO ESTÁTICO Bom Em pé Sentado Dec.dorsal Dec.lateral Dec.ventral Gatas Semi-ajoelhado Ajoelhado Regular Ruim Ausente x x x x x x x x Tabela 10 - EQUILÍBRIO DINÂMICO E DISSOCIAÇÃO: Sem Com dissociação dissociação Rolar de dec.dorsal p/ ventral x Rolar de dec. Ventral p/ dorsal x De ventral p/ gatas De dorsal p/ sentado De sentado p/ dec.dorsal x De gatas p/ sentado sobre os calcanhares x De sentado sobre os calcanhares p/ ajoelhado De ajoelhado p/ semi-ajoelhado De semi-ajoelhado p/ em pé De em pé p/ sentado 32 Pensamento Plural: Revista Científica do Sem auxílio x x Com auxílio Não realiza x x x x x x x x , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Efeitos da utilização do cavalo como recurso terapêutico na motricidade de crianças portadoras de mielomeningocele Para a idade cronológica, o paciente apresenta um atraso no seu desenvolvimento neuropsicomotor. Nos testes de equilíbrio estático, as posições com maiores dificuldades são gatas, ajoelhado, semi-ajoelhado e em pé. No equilíbrio dinâmico, também apresenta dificuldades em várias mudanças de decúbito vistas na tabela acima. Não apresenta função de engatinhar. Locomove-se arrastando-se sentado ou de ventral no chão. PACIENTE 3 - G.F.M – 6 anos Segunda Avaliação - Realizada em 01 de agosto de 2006 Tabela 11 - EQUILÍBRIO ESTÁTICO Bom Em pé Sentado Dec.dorsal Dec.lateral Dec.ventral Gatas Semi-ajoelhado Ajoelhado Regular Ruim Ausente x x x x x x x x Tabela 12 - EQUILÍBRIO DINÂMICO E DISSOCIAÇÃO Rolar de dec.dorsal p/ ventral Rolar de dec. Ventral p/ dorsal De ventral p/ gatas De dorsal p/ sentado De sentado p/ dec.dorsal De gatas p/ sentado sobre os calcanhares De sentado sobre os calcanhares p/ ajoelhado De ajoelhado p/ semi-ajoelhado De semi-ajoelhado p/ em pé De em pé p/ sentado Sem Com dissociação dissociação x x x x x x x Sem auxílio x x x x x x x Com auxílio Não realiza x x x No equilíbrio estático, apenas a função de gatas melhorou. Já nos testes de equilíbrio dinâmico, houve melhoras em várias mudanças de decúbito como: de ventral p/ gatas, de dorsal p/ sentado e de sentado sobre os calcanhares p/ ajo- elhado que eram realizadas com auxílio e agora já sem auxílio. A função de engatinhar não está presente. Vale salientar que o paciente faltou em 20% das terapias, devido a visitas freqüentes à AACD, afim de programar cirurgia de alongamento de tendão calcanear. PACIENTE 4 – M.H.S – 10 anos Primeira Avaliação - realizada em 30 de setembro de 2005. Tabela 13 - EQUILÍBRIO ESTÁTICO Bom Em pé Sentado Dec.dorsal Dec.lateral Dec.ventral Gatas Semi-ajoelhado Ajoelhado Regular Ruim Ausente x x x x x x x x Obs.: o paciente ficou semi-ajoelhado com auxílio do fisioterapeuta. Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 33 ANDRADE, M. C. P., AUGUSTO, V. Tabela 14 - EQUILÍBRIO DINÂMICO E DISSOCIAÇÃO Rolar de dec.dorsal p/ ventral Rolar de dec. Ventral p/ dorsal De ventral p/ gatas De dorsal p/ sentado De sentado p/ dec.dorsal De gatas p/ sentado sobre os calcanhares De sentado sobre os calcanhares p/ ajoelhado De ajoelhado p/ semi-ajoelhado De semi-ajoelhado p/ em pé De em pé p/ sentado Sem Com dissociação dissociação x x x x x x Sem auxílio x x x x x x Com auxílio Não realiza x x x x Obs.: o paciente fica de ajoelhado para semi-ajoelhado com auxílio do fisioterapeuta. O paciente já possuía encurtamentos em musculatura anterior e posterior de membros inferiores, que contribuem para as maiores dificuldades de equilíbrio tanto estático quanto dinâmico. Pela idade cronológica, há um atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.Não realiza o engatinhar. Locomove-se independente com cadeira de rodas. Paciente 4 – M.H.S – 11 anos Segunda Avaliação - realizada em 30 de setembro de 2006. Tabela 15 - EQUILÍBRIO ESTÁTICO Bom Em pé Sentado Dec.dorsal Dec.lateral Dec.ventral Gatas Semi-ajoelhado Ajoelhado Regular Ruim Ausente x x x x x x x x Obs.: o paciente tem dificuldades na posição de gatas em três apoios. Tabela 16 - EQUILÍBRIO DINÂMICO E DISSOCIAÇÃO Rolar de dec.dorsal p/ ventral Rolar de dec. Ventral p/ dorsal De ventral p/ gatas De dorsal p/ sentado De sentado p/ dec.dorsal De gatas p/ sentado sobre os calcanhares De sentado sobre os calcanhares p/ ajoelhado De ajoelhado p/ semi-ajoelhado De semi-ajoelhado p/ em pé De em pé p/ sentado Sem Com dissociação dissociação x x x x x x x Melhorou em alguns testes de equilíbrio estático como na posição ajoelhada que era ruim e agora está regular. No equilíbrio dinâmico, melhorou de sentado sobre os calcanhares p/ ajoelhado que não realizava e agora realiza 34 Sem auxílio x x x x x x Com auxílio Não realiza x x x x com auxílio. Mas de ajoelhado p/ semi-ajoelhado realizava com auxílio e nesta avaliação posterior não realizou. Não realiza o engatinhar. Continua com os encurtamentos musculares. Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Efeitos da utilização do cavalo como recurso terapêutico na motricidade de crianças portadoras de mielomeningocele 5. CONCLUSÕES Referências (1) O estudo integra o Programa de Apoio à Pesquisa Científica (PAPEC), patrocinado pelo UNIFAE Notes Notas Como conclusão final e estudo individualizado dos casos, pode-se afirmar que o tratamento fisioterapêutico e a Equoterapia mostraram evoluções, na maioria dos pacientes, quanto aos testes de equilíbrio propostos. Quanto ao tônus de cada paciente relacionado com suas funções (principalmente o engatinhar) obteve-se resultados positivos com os pacientes 1 e 2. Sugere-se que os resultados dos efeitos da Equoterapia em pacientes com Mielomeningocele sejam melhores analisados em situações onde o paciente permaneça maior tempo em tratamento. (1) The study is part of the Program in Support of the Scientific Research (PAPEC), sponsored by UNIFAE. AUGUSTO, V. Equoterapia Equoterapia: Levantamento bibliográfico sobre as principais indicações e contra-indicações do método. São Carlos: UFSCar, 1998. p. 76. Monografia para conclusão de curso. GUIMARÃES, F, L. Primeiro encontro brasileiro informativo de hippoterapia hippoterapia. Barueri: Livraria 1998. p. 2527. HEINE, B. Hippotherapy: a multisystem approach to the treatment of neuromuscular disorders. Australian Physiotherapy, vol.43, n.2, 1997. ROSENBERG, S. Neuropediatria Neuropediatria. São Paulo: Sarvier, 1992. ediatria SHEPHERD, R. Fisioterapia em PPediatria ediatria. 3 ed., São Paulo: Livraria Santos, 1996. Abstract TERRASSANI, W, J. Hippoterapia como método coadjuvante do método neuroevolutivo na paralisia cerebral. Campinas: PUCCAMP, 1992. p.134. Monografia para conclusão de curso. The objective of this research1 is to register possible clinical improvements in patients with Mielomeningocele who have being treating by Equine therapy and conventional physiotherapy. The Mielomeningocele is a type of Cystic Spina Bifida that consists of a congenital malformation due to an error in the development of the vertebral column. It affects the osteoneuromuscular system and the genitourinary system. Generally the physiotherapeutic diagnosis is paraplegia or paraparesis of inferior members. On the other hand, horse riding is being used as an alternative therapeutic resource in the treatment of motor, cognitive and social diseases. Patients with Mielomeningocele present considerable clinical improvement when the conventional therapy is associated with Equine therapy. However the number of good scientific works is practically inexistent, even so the interest about this area is increasing. As a conclusion of the study2, it can be affirmed that the physiotherapeutic and Equine therapeutic treatment had shown improvements, considering balance tests, on majority of the patients. It had positive results in two of the patients with respect to tonus related functions (crawl mainly). Key words Meilomeningocele, Equine Therapy, Balance Tests Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 35 35 Avaliação da amplitude de movimento dos ombros em mulheres operadas por câncer de mama Resumo Maria Catarina Valério Riograndense da Silva, Laura Ferreira de Rezende O objetivo deste estudo1 foi avaliar a amplitude de movimento (ADM) dos ombros das mulheres no pós-operatório de câncer de mama na cidade de São João da Boa Vista. Para este estudo foram convidadas a participar do estudo 90 mulheres, das quais 14 aceitaram. Foi realizada goniometria (exame realizado para determinar amplitude do movimento articular) para avaliação da ADM do ombro e aplicada uma ficha para coleta de dados pessoais e sobre a cirurgia. Foram encontrados ADM funcionais de flexão, abdução e rotação externa do ombro acometido, sem diferença significativa com o membro contralateral. Autores Laura Ferreira de Rezende, Coordenadora do Curso de Fisioterapia (noturno) e Professora do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE; Fisioterapeuta doutoranda em Tocoginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas – FCM/UNICAMP e Mestrado E-mail: [email protected] Palavras-chave Amplitude de Movimento, Ombros, Câncer de Mama, Pós-operatório. Maria Catarina Valério Riograndense da Silva, Aluna do 3o ano do curso de Fisioterapia do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE. E-mail: [email protected] Recebido em 18/março/2007 Aprovado em 04/setembro/2007 Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 36 Avaliação da amplitude de movimento dos ombros em mulheres operadas por câncer de mama 1. Introdução O câncer de mama apresenta grande incidência e significativos índices de mortalidade entre as mulheres. Em 2000, foram registradas no Brasil 8.390 mortes decorrentes deste tipo de câncer. Dos 467.440 novos casos diagnosticados em 2005, o câncer de mama foi o segundo mais incidente entre a população feminina, sendo responsável por 49.470 novos casos (BRASIL, 2005). Nos EUA, 211.300 novos casos foram diagnosticados em 2003, apresentando um crescimento de 2% ao ano na taxa de incidência. Uma em cada 14 mulheres entre 60 e 79 anos terão câncer de mama, sendo que 50% delas receberão o diagnóstico com 65 anos ou mais, o que representará 20% da população em geral em 2030. Considerando a expectativa de vida de 17.5 anos para essas mulheres, tornou-se fundamental o aprimoramento das técnicas de reabilitação para proporcionar uma adequada qualidade de vida física e mental (HOLMES e MUSS, 2003). A reabilitação física, realizada por meio da fisioterapia, desempenha papel fundamental no restabelecimento das funções do membro superior, na prevenção de formação de cicatrizes aderentes e de disfunções linfáticas como o linfedema . Várias são as razões para que se recomende a fisioterapia no pós-operatório de câncer de mama (SACHS et al., 1981; CAMARGO e MARX, 2000): 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Pela contratura da musculatura da região escapular, principalmente de trapézios e adutores, devido ao estresse da cirurgia e do tratamento complementar; Pela posição de extrema amplitude do membro superior durante o ato cirúrgico; Pelo potencial de desenvolvimento de retrações e lesões músculo-tendinosas e articulares no pós-operatório; Pela alteração da imagem corporal; Pelo medo de dor, deiscência e possibilidade de incapacidade do membro superior; Pela necessidade de posicionar o membro superior com, no mínimo, 90 graus de flexão, abdução e rotação externa para a realização de radioterapia; Para prevenção do linfedema, uma vez que a contração muscular é um fator de aumento do retorno linfático; Pela alteração postural gerada pelo fator mecânico, principalmente em mulheres com mama grande e pesada, levando a elevação e rotação interna do ombro, com abdução da escápula e contratura da musculatura cervical; Pela diminuição da elasticidade e mobilidade da musculatura que compõe o cavo axilar, provocando incapacidade funcional e limitação articular. A disfunção da amplitude de movimento do ombro é uma das complicações mais comuns das cirurgias de câncer de mama, atingindo mais de 50% das mulheres no pós-operatório (SUGDEN et al., 1998) interferindo na qualidade de vida das pacientes, uma vez que pode causar limitações funcionais e laborais. Outro ponto importante é o desequilíbrio postural causado pelo membro limitado, além do risco de desenvolvimento de linfedema no braço. Podem ser observados, também, problemas de posicionamento na radioterapia, uma vez que pacientes com limitações severas de movimento apresentam impossibilidade para colocar o braço em abdução e rotação externa (SUGDEN et al., 1998). Pensamento Plural: Revista Científica do O progresso do comprometimento da função do ombro deve ser acompanhado cuidadosamente. O desenvolvimento total ou parcial das limitações articulares requer uma reabilitação com exercícios intensos. A capsulite adesiva ou ombro congelado é uma complicação do pós-operatório de câncer de mama em decorrência da limitação dos movimentos da articulação glenoumeral. Isso é provocado pela imobilização prolongada, o que causou dores articulares ao movimentar-se e provoca compensações posturais importantes. Dessa forma a realização de exercícios no pós-operatório minimizaria essa complicação. Serviços de saúde de referência em tratamento de câncer de mama apresentam rotineiramente um programa de reabilitação que inclui o serviço de fisioterapia. Entretanto, cidades de menor porte apresentam descentralização do serviço, sendo que o atendimento de fisioterapia nem sempre é realizado ou realizado tardiamente. 2. Objetivo geral Avaliar a Amplitude de Movimento (ADM) do ombro em mulheres operadas de câncer de mama na cidade de São João da Boa Vista entre os anos de 2000 e 2004. 3. Objetivo específico Avaliar, nas mulheres operadas por câncer de mama, a amplitude de movimento de: - flexão de ombro; - abdução de ombro; - rotação externa de ombro. 4. Critérios de inclusão e exclusão - Primeira cirurgia por câncer de mama; - Cirurgia realizada entre os anos de 2000 e 2004; - Cirurgia realizada na cidade de São João da Boa Vista ou acompanhamento pós-operatório realizado na cidade. 5. Sujeitos e métodos Foram estudadas 14 mulheres operadas por câncer de mama no período de 2000 a 2004, independentemente do estadiamento e do tipo de cirurgia realizada, selecionadas no Grupo Renascer de São João da Boa Vista, nos meses de agosto e setembro de 2006. Foi realizada goniometria para avaliação da ADM do ombro e aplicada uma ficha para coleta de dados pessoais e sobre a cirurgia. Todas as pacientes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A goniometria foi utilizada para medir a amplitude de movimento da articulação do ombro, em graus. O aparelho utilizado foi um goniômetro (marca CARCI), que é um círculo completo (0 a 360°) que acompanha o arco de movimento. Para realizar a goniometria, o sujeito permaneceu com a região a ser avaliada despida, com movimentação ativo-livre do ombro e com bom alinhamento postural. Na flexão do ombro, o movimento foi realizado levando o braço para frente, com a palma da mão voltada medialmente paralela ao plano sagital, em decúbito dorsal. Na abdução do ombro, o movimento foi realizado levando o braço lateralmente ao corpo, com palma da mão voltada anteriormente paralela ao plano frontal, em decúbito lateral. Na rotação externa do ombro, o movimento foi realizado com o braço em 90 graus de abdução, mantendo o cotovelo em flexão de 90 graus, levando-o em rotação lateral, , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 37 37 da SILVA, M. C. V. R., REZENDE, L. F gem linfática acrescida aos exercícios e apenas uma realizou eletroterapia, o que não é comumente indicado. Sete pacientes relatam dor no membro superior e cinco relatam dormência em face póstero-medial do braço. Esse trabalho teve como objetivo avaliar pacientes que já tem no mínimo dois anos de pós-operatório, e os resultados encontrados são satisfatórios para a funcionalidade da paciente. O uso funcional da amplitude de movimento do ombro é definido como 145 graus de abdução, 160 graus de flexão e 80 graus de rotação externa (GERBER et al., 1992), sendo que 100-120 graus de média de abdução e 120-140 graus de média de flexão representam sérios prejuízos funcionais (BOX et al., 2002). As diferenças encontradas no membro acometido e no membro não acometido não representam diferença estatística e clínica significativa. Apesar da importância funcional e de qualidade de vida da paciente, além da precoce reabilitação do movimento, vários estudos mostram que não há prejuízo para a amplitude de movimento articular, a longo prazo, em pacientes no pós-operatório de câncer de mama. (CHEN e CHEN, 1999). em decúbito dorsal. Foram contatadas 68 mulheres, número total de pacientes cadastradas no Grupo Renascer, de um total de 90 operadas segundo cadastro da Secretaria Municipal de Saúde. Dessas apenas 14 preencheram os critérios de inclusão e concordaram em participar da pesquisa. As fichas de avaliação foram submetidas à revisão com relação à qualidade e legitimidade das informações. Os dados foram codificados e duplamente digitados, utilizando o programa Excel. Procedeu-se, então, a limpeza dos dados, obtendo o arquivo final a ser utilizado para análise. Os dados foram armazenados com cópia em local seguro. Os dados foram avaliados descritivamente através de média, desvio, mediana, mínimo e máximo, sendo as variáveis contínuas. 6. Resultados/discussão Referências 7. Considerações finais (1) O estudo integra o Programa de Apoio à Iniciação Científica (PAIC), patrocinado pelo UNIFAE. Não sendo São João da Boa Vista um município de referência para o tratamento de câncer de mama e não possuindo um serviço de reabilitação especializado, os resultados obtidos são satisfatórios, com déficits aceitáveis para a funcionalidade. Outra questão importante observada no trabalho foi a relutância dos profissionais da saúde do município e das pacientes em participar da pesquisa, que compreendia um questionário e avaliação da medida da amplitude de movimento do ombro. A cultura científica precisa ser implantada e cada vez mais explorada para que os resultados clínicos possam ser melhores. O tamanho da amostra do trabalho foi limitado devido à recusa das pacientes em informar. Notes Notas A média de idade das pacientes foi 60,5 anos (7347), sendo que 9 pacientes realizaram cirurgia conservadora e 5 mastectomia radical, todas com esvaziamento axilar completo. Destas, 12 realizaram cirurgia na Santa Casa de São João da Boa Vista, uma em serviço privado do município e outra fora do município. Onze pacientes realizaram radioterapia. A média de flexão do ombro encontrada no membro acometido foi de 145,43º (174-108), em comparação com 154,93º (174-125) do membro contralateral. A média de abdução do ombro do membro acometido foi de 162,14° (98-180), em comparação com 162,57º (178-142) do membro contralateral. A média de rotação externa do ombro do membro acometido foi de 80,71° (88-70), em comparação com 81,43º (90-62) do membro contralateral. Realizaram fisioterapia no pós-operatório 12 pacientes, dentre as quais sete realizaram exercícios individualmente e as outras sete realizaram em grupo. Cinco realizaram drena- (1) The study is part of the Program in Support of Undergraduate research (PAIC), sponsored by UNIFAE. BOX, R.C., REUL-HIRCHE, H.M., BULLOCK-SAXTON, J.E., FURNIVAL, C.M. Shoulder movement after breast cancer es TTreat reat surgery: results of a randomized controlled study of postoperative physiotherapy. Breast Cancer R Res reat, [s.l.]: 75:35-50, 2002. BRASIL. Ministério da Saúde. [INCA] Instituto Nacional de Câncer [on line]. 2005. Disponível em <http://www.inca.gov.br [15 Nov 2006] CAMARGO, M.; MARX, A. Reabilitação física no câncer de mama mama. São Paulo: Manole, 2000. CHEN, S.H.; CHEN, M.F. Timing of shoulder exercise after modified radical mastectomy: a prospective study. Chang Gung Med JJ,, [s.l.]: 22:37-43, 1999. GERBER, L.; LAMPERT, M.; WOOD, C.; DUNCAN, M.; D´ANGELO, T.; SCHAIN, W. et al. Comparison of pain, motion, and edema after modified radical mastectomy vs. Local excision with axillary dissection and radiation. Breast Cancer R es TTreat reat Res reat, [s.l]: 21:139-45, 1992. HOLMES, C.E.; MUSS, H.B. Diagnosis and Treatment of Breast Cancer in the Eldery. Cancer J Clin Clin, CA: 53:227-44, 2003. SUGDEN, E.M., REZVANI, M.; HARRISON, J.M.; HUGHES, L.K. Shoulder movement after treatment of early stage breast cancer. Clin Oncol Oncol, [s.l.]: 10:173-81, 1998. WINGATE, L.; CROGHAN, I.; NATARAJAN, N.; MICHALEK, A.M.; JORDAN, C. Rehabilitation of the mastectomy ehabil, [s.l.]: 70:21-4, 1989. patient: a randomized, blind, prospective study. Arch Phys Med R Rehabil, 38 Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Abstract Avaliação da amplitude de movimento dos ombros em mulheres operadas por câncer de mama The objective of this study1 was to evaluate the amplitude of shoulder’s movement (ADM) of women, who are in a post breast cancer surgery codition in São João da Boa Vista. For this study, 90 women had been invited to participate, of which 14 had accepted. Goniometry was used for the evaluation of the shoulders’ ADM and it was applied a form to collect the personal dates about the surgery. It was found an ADM functional flexion, shoulders external abduction and external rotation, without significant differences with a contralateral limb. Key words Amplitude of Movement, Shoulders, Breast Cancer, Post Surgery. Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 39 39 Avaliação funcional de cardiopatas após fisioterapia cardiovascular fase III Resumo Tatiana Lucio de Souza, Daniele Albano Pinheiro O objetivo desse estudo1 foi avaliar a performance de cardiopatas atendidos na Fisioterapia Cardiovascular fase III, da Clínica-Escola do UNIFAE, comparando testes antes e depois do treinamento. Realizaram-se testes de avaliação funcional em 15 cardiopatas de ambos os sexos antes e depois de 16 sessões de Fisioterapia cardiovascular (8 semanas).A doença cardiovascular, hoje em, dia tem grande morbi-mortalidade, sendo que muitos são os fatores de risco para sua instalação e agravamento. Entretanto, essa disfunção é beneficiada com a prática regular de atividade física, denominada de treinamento físico ou Fisioterapia Cardiovascular fase III, uma fase ambulatorial. A melhor forma de se observar essas mudanças benéficas do treinamento é através da realização de testes de avaliação funcional. Com os resultados, observa-se uma melhora na resposta dos valores de pressão arterial, tanto sistólica como diastólica, com valores menores após treinamento físico e com maior carga máxima do teste pós-treinamento. Como conclusão tem-se que o treinamento físico aplicado pelos alunos do UNIFAE na Reabilitação Cardíaca melhorou a performance dos voluntários que participaram do estudo, com melhores respostas aos testes de avaliação funcional. Autores Daniele Albano Pinheiro Professora do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE; Fisioterapeuta com Mestrado Ciências Fisiológicas pelo Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal de São Carlos - CBS/UFSC. E-mail: [email protected] Palavras-chave Avaliação Funcional, Cardiopatas, Fisioterapia Cardiovascular Fase III Tatiana Lucio de Souza Aluna do 5o semestre do curso de Fisioterapia do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE. E-mail: [email protected] Recebido em 18/março/2007 Aprovado em 04/setembro/2007 Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 40 Avaliação funcional de cardiopatas após fisioterapia cardiovascular fase III 1. Introdução O sedentarismo era considerado um fator de risco secundário para qualquer doença, o qual vem sendo estudado desde 1950; somente a partir de 1992 foi reconhecido como fator de risco primário para a morbidade populacional, principalmente para doença cardiovascular (SILVA, 1999). Existem estudos que demonstram que o sedentarismo está associado à maior incidência de doença coronária e que a atividade física é importante na prevenção primária e secundária dessa doença. Assim, a ação benéfica da atividade física atua sobre vários fatores de risco e tem sido demonstrado que a intensidade do exercício é capaz de melhorar o perfil metabólico necessário para se desenvolver a capacidade cardiorrespiratória (GRIMA, 1996; RAMOS, 2000). O exercício e atividade física fazem parte da vida da maioria dos indivíduos, tornando-os fisicamente ativos e possibilitando-os desempenhar atividades simples. Esta prática do exercício busca melhorar, manter ou expressar um tipo específico de aptidão física, que na verdade se define como: função corporal capaz de tolerar o estresse do exercício, sendo que a prática regular de atividade física é denominada de treinamento físico (REGENGA, 2000). Cada tipo de pessoa busca o treinamento físico de acordo com suas condições. Os indivíduos sedentários procuram os exercícios para que consigam o bem-estar físico, social e mental e, assim, evitar possíveis doenças. Já os atletas se submetem aos duros programas de exercícios por motivações intrínsecas como competência social, prazer pelo sucesso e desenvolvimento cardiorrespiratório e motor. No entanto, os indivíduos portadores de alguma doença orgânica, metabólica ou psicossomática (por exemplo, pacientes cardíacos e/ou obesos), buscam no exercício retomar suas capacidades funcionais que foram debilitadas pela doença (NEGRÃO; BARRETO, 2005). Dentre as cardiopatias, a hipertensão arterial é hoje a mais comum e a que também complica a função cardiovascular. Ela é modernamente entendida como uma doença inserida em um contexto mais abrangente do que apenas naquele resultante da simples definição dos níveis pressóricos e é, hoje, considerada, por muitos, como um critério intermediário dentro de um amplo quadro de disfunção cardiovascular (DOUGLAS, 2002). O conceito mais atual da doença caracteriza-a como uma condição sistêmica que envolve a presença de alterações estruturais das artérias e do miocárdio, associadas à disfunção endotelial e a vasoconstrição, com remodelamento da musculatura lisa vascular, resultando em aumento dos valores de pressão arterial (MENDES, 2006). As diretrizes definem a hipertensão arterial quando a pressão arterial sistólica, a pressão determinada na sístole ventricular, se encontra em níveis iguais ou acima de140mmHg e/ou quando a pressão arterial diastólica, pressão determinada na diástole do ventrículo, for igual ou superior do que 90mmHg em duas ou mais ocasiões de aferição (ACSM, 2003; GUYTON e HALL, 2002; RONDON E BRUM, 2003). Sabe-se que, com a realização de um treinamento físico regular, há adaptações fisiológicas significativas, principalmente no sistema cardiovascular-sangüíneo, que resultam em melhora dos níveis pressóricos de indivíduos hipertensos. Assim, a prática regular de atividade física é uma maneira de se prevenir doenças, principalmente as cardiovasculares, já que esse treinamento físico promove adaptações fisiológicas benéficas ao paciente (GHORAYEB e col. 1999; LEITE, 2000). Pensamento Plural: Revista Científica do 1.1 Fisioterapia cardiovascular ambulatorial – fase III da reabilitação cardiovascular A fisioterapia cardiovascular atua como parte integrante da reabilitação cardíaca na fase tardia: recuperação e manutenção do cardiopata. A realização é considerada no período de doze semanas após a alta hospitalar para pacientes que se submeteram à cirurgia de revascularização do miocárdio, que foram acometidos por um episódio agudo de infarto do miocárdio ou se submeteram a um procedimento hemodinâmico ou, ainda, para os indivíduos que apresentam fatores de risco para a doença coronária. Sendo, portanto, considerada também uma fase preventiva à doença cardíaca/ coronariana. Assim, a fisioterapia intervém de forma preventiva e curativa, por meio da aplicação de programas de treinamento físico ambulatorial e comunitário, com supervisão continuada (REGENGA, 2000). A intervenção preventiva fisioterapêutica visa à profilaxia, a partir de controle e redução dos fatores de risco para a doença da artéria coronária. Já a intervenção curativa visa ao restabelecimento das funções cardiovasculares, permitindo ao cardiopata executar atividade física compatível com a capacidade funcional de seu coração (CIOLAC e GUIMARÃES, 2006; FORJAZ e col., 1998). O programa de treinamento físico, nessa fase, objetiva promover adaptações no sistema cardiovascular, para que os pacientes retornem, o quanto antes, às atividades profissionais, esportivas e de lazer, com maior segurança. As sessões de reabilitação cardíaca na fase III são compostas por uma rotina que envolve aquecimento, exercícios de treinamento ou de condicionamento físico e resfriamento e relaxamento (FARDY e col., 2003). O aquecimento prepara o sistema cardiovascular sangüíneo para uma demanda metabólica maior, que ocorre posteriormente a essa fase. Fisiologicamente seu objetivo é aumentar a circulação e, daí, aumentar a liberação de oxigênio para o tecido muscular, melhorando a flexibilidade e, também, elevando a temperatura corporal. O aquecimento também diminui o potencial de risco de lesões ortopédicas que incluem as distensões e as lesões músculo-esqueléticas, além de sobrecarga articular (GHORAYEB e col. 1999). No condicionamento, o objetivo é exercitar o paciente em uma freqüência cardíaca previamente programada a fim de obter efeito de treinamento, ou seja, conseguir as adaptações fisiológicas, que vão melhorar a performance do paciente, com a melhora da funcionalidade cardiovascular (McARDLE, 1996). Durante o desaquecimento, é importante recuperar-se gradualmente após o exercício. O suprimento da reserva de energia deve ser reposto e os produtos do metabolismo devem ser eliminados. Os exercícios de relaxamento podem ser realizados com objetivo de reduzir a freqüência cardíaca, a pressão arterial e a incidência de arritmias cardíacas, sendo o relaxamento iniciado após um suficiente resfriamento. As técnicas de relaxamento são particularmente úteis para os indivíduos que têm dificuldade de relaxar espontaneamente (REGENGA, 2000). Antes e durante o treinamento físico o indivíduo deve realizar testes de avaliação funcional, que, quando realizados com ergômetros, são também denominados de Ergometria. O teste de esforço é um dos exames mais usados para avaliar pacientes com doenças cardiovasculares, além de ser um exame de baixo custo, de fácil execução e de alta reprodutibilidade, usado com a finalidade de avaliar a resposta clínica, hemodinâmica, eletrocardiográfica e metabólica ao esforço (LEITE, 2000). A Fisiologia do exercício é a área da Fisiologia que estuda as respostas e adaptações fisiológicas que ocorrem frente , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 41 41 SOUZA, T. L. de, PINHEIRO, D. A. a um exercício, seja ele praticado de forma aguda ou cronicamente. O exercício realizado de maneira crônica é denominado de treinamento físico (WILMORE e COSTIL, 2001). Segundo Leite (2000), com a atividade física há benefícios físicos, metabólicos, psicológicos e sociais, resultando na melhor qualidade de vida do participante. É importante salientar que cada tipo de exercício desenvolve diferentes adaptações fisiológicas. Assim, corridas lentas e contínuas e ciclismos aeróbios desenvolverão a resistência aeróbia geral e localizada e programa exclusivo de força muscular desenvolverá habilidade motora e não resistência geral. Ainda da atividade física Ghorayeb e col. (2000) diz que evidências epidemiológicas e laboratoriais convincentes mostram que a atividade física regular protege contra o desenvolvimento e a progressão de muitas patologias crônicas, além de mostrar reduções subseqüentes na mortalidade. Segundo Leite (2000), as adaptações no sistema cardiovascular induzidas pelo condicionamento físico em repouso são: diminuição da freqüência cardíaca (FC), aumento do volume sistólico (VS), aumento da contratilidade miocárdica e hipertrofia cardíaca. Durante exercício submáximo, indivíduos treinados apresentam diminuição da FC, aumento do VS, aumento da contratilidade miocárdica, aumento do tônus vagal, aumento da diferença arteriovenosa de oxigênio e diminuição do duplo produto (DP). Já durante exercícios máximos, esses indivíduos apresentam aumento do consumo máximo de oxigênio (VO2 max), aumento do Débito Cardíaco (DC), aumento do VS, nenhuma alteração ou baixa da FC máxima e aumento da diferença arteriovenosa de oxigênio. Existem adaptações gerais, ou seja, ajustes sistêmicos frente a um exercício físico realizado de maneira sistemática, o que caracteriza o treinamento físico. Em visto disso, Foss e col. (2000) diferem essas adaptações em agudas e crônicas: • Agudas: são reações envolvidas no aumento do metabolismo muscular durante o exercício e na sua recuperação; • Crônicas: são benefícios fisiológicos do exercício realizado de maneira sistemática, ou seja, do treinamento físico, chamados de adaptações fisiológicas. 1.2 Respostas crônicas ao treinamento: adaptações fisiológicas Hoje, não se têm dúvidas quanto aos efeitos benéficos do exercício físico praticado regularmente sobre a pressão arterial. No entanto, estudos bastante recentes mostram que esta queda pressórica depende, em grande parte, da intensidade do treinamento físico. Enquanto o treinamento físico de baixa intensidade, isto é, aquele realizado em torno de 5055% do consumo máximo de oxigênio atenua, sobremaneira, a hipertensão arterial, o treinamento físico de alta intensidade não modifica a hipertensão arterial. Estes resultados alteram de forma drástica o conceito de que quanto maior o volume e a intensidade do exercício físico, maior será o benefício para o paciente hipertenso. Ao contrário, o exercício de baixa intensidade e longa duração é aquele que mais beneficia o paciente hipertenso (FORJAZ e col., 1998; WILMORE e COSTIL, 2001; NEGRÃO e BARRETO, 2005; Mendes, 2006). Se, por um lado, não existem dúvidas sobre o efeito hipotensor do exercício, por outro, os mecanismos que norteiam essa queda pressórica ainda são controversos. De acordo com alguns investigadores, a redução da pressão arterial é conseqüência de uma diminuição na resistência vascular periférica, enquanto para outros, ela se deve a uma 42 diminuição no débito cardíaco, associada a uma menor freqüência cardíaca que se instala durante o período de treinamento físico. Em outras palavras, o treinamento físico normaliza a atividade nervosa simpática que se encontra aumentada na presença de hipertensão arterial. Ao contrário da bradicardia provocada pelo treinamento físico no normotenso, que ocorre pela modificação do marca passo que regula o ritmo do coração, a diminuição da freqüência cardíaca no hipertenso ocorre por uma normalização da atividade nervosa simpática no coração (POLLOCK e WILMORE, 1993; LEITE, 2000; NEDER e NERY, 2003). O exercício físico é aceito como agente preventivo e terapêutico de diversas enfermidades. No tratamento de doenças cardiovasculares e crônicas, a atividade física tem sido apontada como principal medida não farmacológica, assumindo aspecto benéfico e protetor. A inatividade física e o baixo nível de condicionamento têm sido considerados fatores de risco para a mortalidade prematura tão importantes quanto fumo, dislipidemia, diabetes e hipertensão arterial. (POLLOCK e SCHMIDT, 2003). A melhora na saúde do indivíduo que pratica exercício físico regularmente é devido à exposição repetida do organismo a uma situação que requer uma reação mais forte do que a correspondente a sua atividade orgânica normal. Tal estresse gerado pela prática regular de exercício físico produz algumas alterações morfofuncionais no organismo também conhecidas como efeitos crônicos do exercício, a fim de adaptar o indivíduo a uma situação ao qual está sendo submetido (GHORAYEB e col., 1999). Uma das principais adaptações que o exercício físico promove pode ser observada no tecido muscular que sofre um aumento de sua secção transversa denominado “hipertrofia”. Sendo acompanhada de alguns fenômenos como aumento nos estoques de glicogênio, aumento do número e tamanho das miofibrilas, maior capacidade da via oxidativa, que é refletida por incrementos na densidade mitocôndrial e na atividade máxima de enzimas do processo de respiração celular, aumento da vascularização e capilarização (RAMOS, 2000). Estas adaptações reduzem a resistência vascular, melhorando o fluxo sangüíneo e ocasionam um maior transporte de glicose e lipídios para o metabolismo dos tecidos, e ainda potencializam a ação da insulina. Além de melhorar o transporte e captação de insulina, os exercícios tanto aeróbicos quanto os resistidos promovem um aumento do metabolismo basal conhecido como metabolismo de repouso, que é responsável por 60% a 70% do gasto energético total, contribuindo para a perda de peso e diminuição do risco de desenvolver diabetes, hipertensão, e outras doenças (CIOLAC e GUIMARÃES, 2006). A fim de acompanhar e suprir as necessidades de adaptação do tecido muscular, o sistema cardiovascular evolui de forma a suprir as exigências crescentes (CARNEIRO, 2002), ocasionando uma hipertrofia das fibras cardíacas, tornando o coração maior e mais forte, melhorando, assim, a capacidade contrátil do miocárdio (BIBLIOTECA SAÚDE, 1996). Esta ação é seguida de um aumento do volume de ejeção, diminuição da freqüência cardíaca de repouso (bradicardia), decorrente de uma redução do tônus simpático e um aumento do tônus parassimpático, resultando em uma dilatação arteríola e venodilatação (McARDLE, 1996), contribuindo para uma queda da pressão arterial sistêmica, melhorando a eficácia do sistema circulatório (BIBLIOTECA SAÚDE, 1996). Segundo Silva (1999) a adoção de um estilo de vida não sedentário, calçado na prática regular de atividade física, encerra a possibilidade de desenvolvimento da maior parte Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Avaliação funcional de cardiopatas após fisioterapia cardiovascular fase III das doenças crônicas degenerativas, além de servir como elemento promotor de mudanças com relação a fatores de risco para inúmeras outras doenças. Sugere inclusive que a prática regular de atividade física pode ser usada na tentativa de controle das doenças crônicas degenerativas, equivalente ao que a imunização representa na tentativa de controle das doenças infecto-contagiosas. Com isso, a prática de exercícios é de fundamental importância para qualquer indivíduo, seja ele saudável ou diabético e hipertenso e melhora a saúde e a qualidade de vida destes, mantendo, portanto, suas respectivas doenças controladas. Essa melhora na saúde de qualquer indivíduo que pratica exercício físico, se deve à exposição regular do organismo a um trabalho acima dos níveis de repouso capaz de promover adaptações hemodinâmicas e autonômicas, seguida de uma diminuição do débito cardíaco e da resistência vascular periférica, que geram efeitos hipotensores pós-exercício, o que contribui para um maior transporte e captação de oxigênio, aumenta a utilização de ácidos graxos como substratos energéticos pelo metabolismo basal, auxilia para uma melhor eficácia do hormônio insulina, diminuindo os níveis de glicose plasmática, ajudando na perda de peso e auto-estima, proporcionando uma melhora na saúde e qualidade de vida (FOSS, 1991; GHORAYEB e col., 1999; RAMOS, 2000). Para melhor programação da intensidade de exercício que resultará nessas adaptações fisiológicas é utilizado um teste de avaliação funcional. O teste de esforço físico graduado pode ser utilizado como teste do condicionamento cardiorrespiratório, antes do indivíduo realizar e iniciar um programa de condicionamento físico ou, até, ser utilizado como um teste diagnóstico. O teste clínico de esforço é utilizado para determinar a capacidade funcional de indivíduos saudáveis, sedentários e/ou indivíduos assintomáticos. Para pacientes que estão em fase de recuperação de uma cirurgia de revascularização coronariana, o teste clínico de esforço é de suma importância para se desenvolver um programa de prescrição de exercícios (POLLOCK e WILMORE, 1993). As adaptações do treinamento levam o indivíduo a uma melhor performance, com, conseqüentemente, melhores resultados em testes de avaliação funcional (O’CONNOR, 1993). “O interesse crescente no teste de esforço cardiorrespiratório provém de sua natureza essencialmente não invasiva, dos avanços no reconhecimento dos diversos padrões fisiopatológicos de exercício [...]” (NEDER e NERY, 2003. pg. 153). 1.3 Respostas fisiológicas aos testes de avaliação funcional Embora o coração possua seus próprios sistemas intrínsecos de controle e possa continuar a operar, sem quaisquer influências nervosas, a eficácia da ação cardíaca pode ser muito modificada pelos impulsos reguladores do sistema nervoso central. O sistema nervoso é conectado com o coração através de dois grupos diferentes de nervos, os sistemas parassimpático e simpático. A estimulação dos nervos parassimpáticos causa os seguintes efeitos sobre o coração: diminuição da freqüência dos batimentos cardíacos; diminuição da força de contração do músculo atrial; diminuição na velocidade de condução dos impulsos através do nódulo AV (átrio-ventricular), aumentando o período de retardo entre a contração atrial e a ventricular; e diminuição do fluxo sangüíneo através dos vasos coronários que mantêm a nutrição do próprio músculo cardíaco (DOUGLAS, 2002). Todos esses efeitos, segundo Ghorayeb e col (1999), podem ser resumidos, dizendo-se que a estimulação Pensamento Plural: Revista Científica do parassimpática diminui todas as atividades do coração. Usualmente, a função cardíaca é reduzida pelo parassimpático durante o período de repouso, juntamente com o restante do corpo. Isso talvez ajude a preservar os recursos do coração; pois, durante os períodos de repouso, indubitavelmente há um menor desgaste do órgão. A estimulação dos nervos simpáticos apresenta efeitos exatamente opostos sobre o coração: aumento da freqüência cardíaca, aumento da força de contração e aumento do fluxo sangüíneo através dos vasos coronarianos, visando suprir o aumento da nutrição do músculo cardíaco. Esses efeitos podem ser resumidos, dizendo-se que a estimulação simpática aumenta a atividade cardíaca como bomba, algumas vezes aumentando a capacidade de bombear sangue em até 100 por cento. Esse efeito é necessário quando um indivíduo é submetido a situações de estresse, tais como exercício, doença, calor excessivo, ou outras condições que exigem um rápido fluxo sangüíneo através do sistema circulatório. Por conseguinte, os efeitos simpáticos sobre o coração constituem o mecanismo de auxílio utilizado numa emergência, tornando mais forte o batimento cardíaco, quando necessário (NEDER e NERY, 2002). Os neurônios pós-ganglionares do sistema nervoso simpático secretam principalmente noradrenalina, razão pela qual são denominados neurônios adrenérgicos. A estimulação simpática do cérebro também promove a secreção de adrenalina pelas glândulas adrenais ou supra-renais. A adrenalina é responsável pela taquicardia (batimento cardíaco acelerado), aumento da pressão arterial e da freqüência respiratória, aumento da secreção do suor, da glicose sangüínea e da atividade mental, além da constrição dos vasos sangüíneos da pele (McARDLE, 1996). O neurotransmissor secretado pelos neurônios pósganglionares do sistema nervoso parassimpático é a acetilcolina, razão pela qual são denominados colinérgicos, geralmente com efeitos antagônicos aos neurônios adrenérgicos. Dessa forma, a estimulação parassimpática do cérebro promove bradicardia (redução dos batimentos cardíacos), diminuição da pressão arterial e da freqüência respiratória, relaxamento muscular e outros efeitos antagônicos aos da adrenalina (NEGRÃO e BARRETO, 2005). Sendo os testes ergométricos crescentes, ou seja, testes que recrutam de maneira gradativa mais funcionalidade dos sistemas fisiológicos, tem-se que, com o passar do tempo e, conseqüentemente, com o crescer da intensidade de exercício, mais atuação simpática e menos atuação parassimpática. Dessa forma, há aumento gradativo da pressão arterial e da freqüência cardíaca, variáveis cardiovasculares que necessitam aumentar para promover aumento do débito cardíaco, ou seja, do próprio fluxo sangüíneo (FARDY e col., 1998; ACSM, 2003) 2. Objetivos O objetivo geral desse estudo foi comparar os pacientes cardiopatas atendidos na fase III na Clínica Escola de Fisioterapia do UNIFAE, antes e após o treinamento físico, realizado para prevenção e tratamento de doença cardíaca. Os objetivos específicos desse estudo foram: • Comparar o valor de carga máxima dos testes, antes e após treinamento físico; • Comparar a resposta de pressão arterial durante o teste, antes e após treinamento físico; • Comparar a resposta de freqüência cardíaca durante o teste, antes e após treinamento físico. , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 43 43 SOUZA, T. L. de, PINHEIRO, D. A. 3. Materiais e métodos 3.1 V oluntários Voluntários Participaram deste estudo 8 voluntários do sexo masculino e feminino, hipertensos e não fumantes, que realizavam treinamento físico cardiovascular - fase III na Clínica Escola de Fisioterapia do UNIFAE. Antes de participarem dos procedimentos experimentais propriamente ditos, cada voluntário foi informado de todos os riscos e estresses associados a este estudo. 3.2 Materiais Os seguintes materiais foram utilizados nesse estudo: • Ficha de avaliação para controle das variáveis fisiológicas de cada paciente; • Esteira Ergométrica (Moviment®), para a realização dos testes de avaliação funcional; • Freqüencímetro Polar ®, para aferição da freqüência cardíaca em cada step de trabalho físico do teste; • Estetoscópio Bic® e Esfigmomanômetro Tycos®, para aferição da pressão arterial, tanto sistólica como diastólica, em cada step de trabalho físico do teste. 3.3 Procedimento Os indivíduos foram submetidos a um teste ergométrico de avaliação funcional, em uma esteira de frenagem eletromagnética com potências de esforço crescentes, caracterizando um teste de esforço em degrau contínuo, com o protocolo de Ellestad. Esse é um teste máximo para esteira ergométrica e é usado, principalmente, em idosos, por não exigir inclinações acentuadas. A velocidade do teste fica entre 1,7 e 8,0 milhas por hora (mph) e a duração de cada estágio varia de 2 a 3 minutos. Nos quatro primeiros estágios, a inclinação da esteira é de 10%; e no quinto, aumenta-se a inclinação em 5% até o fim do teste, que ocorre com 7 steps. A carga foi aumentada até que os voluntários não conseguissem mais continuar o teste, mesmo com os incentivos dados verbalmente para que eles continuassem, ou quando algum sinal de PA ou FC assim contra indicassem a continuidade do mesmo. A potência de trabalho foi, então, diminuída gradativamente. Quando os voluntários atingiram a carga máxima do teste (sétimo step) diminuía-se a carga gradativamente também. Durante todo o teste os voluntários estavam conectados a um freqüencímetro para determinação da freqüência cardíaca (FC), registrada por esse aparelho, em média, a cada 3 batimentos do coração. A PA também foi mensurada ao final de cada potência de trabalho e também ao final do primeiro, terceiro e quinto minutos da recuperação por meio de um esfigmomanômetro e de um estetoscópio pelo método auscultatório, sempre no membro superior esquerdo. Em seguida os pacientes realizaram treinamento físico da Reabilitação Cardiovascular-fase III na Clínica Escola do UNIFAE, com alunos do último ano de Fisioterapia, com supervisão da Professora Mestre Daniele Albano Pinheiro. Esse treinamento foi dividido em fases: Aquecimento, Condicionamento e Desaquecimento. Chegando para a sessão, os pacientes tinham sua pressão arterial e sua freqüência cardíaca aferidas, valores denominados como valores de repouso. Realizava-se, então, a fase de Aquecimento, fase de duração média de dez minutos, composta por exercícios de alongamentos, exercícios calistênicos e exercícios dinâmicos para que houvesse pequena elevação da freqüência cardíaca, como preparação para uma fase de au44 mento metabólico maior. O aquecimento é preventivo para complicações cardíacas, como arritmias e lesões músculoesqueléticas. Após esses exercícios, a freqüência cardíaca era aferida, valor denominado de pós-aquecimento. Os pacientes, então, realizavam a fase de Condicionamento propriamente dito, fase de 25 a 30 minutos, composta de exercícios aeróbios dinâmicos, como caminhadas. Essa fase era separada em “steps”, tempos em que se interrompia o exercício e aferia-se tanto pressão arterial como freqüência cardíaca. Essa fase tinha como objetivo atingir a chamada FC alvo ou FC treino, valor de FC do limiar de anaerobiose, ou seja, momento metabólico máximo do exercício aeróbio, onde as adaptações fisiológicas são estimuladas de forma máxima. Assim, a intensidade dessa fase é dada pela velocidade, quando o paciente andava ou corria, dependendo do paciente estar ou não na faixa da FC alvo, valor esse de 70 a 85% da FC máxima do teste de avaliação funcional previamente realizado. Essa fase foi realizada nos arredores do UNIFAE. Em seguida, os pacientes retornavam ao interior da Clínica Escola do UNIFAE para realizarem a última fase da Reabilitação Cardíaca-Fase III: o Desaquecimento, composto por exercícios de alongamentos e de relaxamentos, com objetivo de fazer as variáveis fisiológicas retornarem aos valores basais. O desaquecimento tinha duração média de 10 minutos. Após essa fase, novamente aferiam-se FC e PA de cada paciente. As sessões de treinamento físico foram realizadas duas vezes por semana com duração média total em torno de 60 minutos. Todos os valores aferidos de cada paciente durante toda a sessão eram registrados em uma ficha própria do setor de Cardiologia Ambulatorial. Após oito semanas de Fisioterapia Cardiovascular-fase III, os pacientes foram submetidos novamente ao teste de avaliação funcional, (Protocolo de Ellestad), seguindo exatamente os mesmos moldes do primeiro teste. 3.4 Estatística Para cada variável de cada teste foi calculada média (X) e desvio padrão (SD) e, para verificar diferenças significativas entre os testes ergométricos antes e depois do treinamento de Fisioterapia Cardiovascular Fase III, o teste estatístico t de Student foi utilizado, considerando como nível de significância de 95% (p<0,05), compatível com a área da saúde. 4. Resultados e discussão Os resultados desse estudo serão apresentados separados por cada variável estudada. R esposta de Carga Máxima do TTeste este de Esforço antes e após Fisioterapia Cardiovascular – Fase III O valor médio ± desvio padrão (SD) da carga máxima, em steps, no primeiro teste, aquele realizado pelos voluntários antes do treinamento foi de 4,12 ± 1,80 steps, variando de um mínimo de 2 a um máximo de 7 steps. Já o valor médio dessa variável no segundo teste de avaliação funcional, após o período de treinamento de Reabilitação Cardíaca Fase III, foi de 5,00 ± 1,85 steps, variando de 2 a 7 steps. Quando esses valores foram comparados com o teste t de Student, não se encontraram diferenças estatisticamente significativas, com p>0,05. Esses resultados podem ser melhor visualizados no gráfico 1. Analisando-se o gráfico 1, mesmo sem diferenças estatísticas, nota-se que o treinamento físico da Fisioterapia Cardiovascular Fase III melhorou o desempenho dos voluntários, já que houve aumento da carga máxima. Esse resulta- Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Avaliação funcional de cardiopatas após fisioterapia cardiovascular fase III Gráfico1: Média da carga máxima do 1º e 2º Teste de Esforço p>0,05 Gráfico 2: Média da PAS aferida na carga máxima do 1º e 2º Teste de Esforço p<0,05 do ocorre pelas adaptações fisiológicas do treinamento que resultam em maior funcionalidade dos sistemas fisiológicos e permitem, portanto, maior performance aos cardiopatas (FORJAZ e col., 1998; GHORAYEB e col., 1999; MENDES, 2006). refletem menor trabalho cardíaco, o que é interessante para um cardiopata, principalmente se considerar, também, que a carga máxima dos voluntários foi maior com esse valor de PAS menor. Esses resultados estão de acordo com Forjaz e col. (1998) e Ghorayeb e col. (1999). Resposta da PPressão ressão Arterial Sistólica (P AS) na carga (PAS) máxima do TTeste este de Esforço O valor médio ± desvio padrão (SD) da PAS no primeiro teste, aquele realizado pelos voluntários antes do treinamento foi de 165,00 ± 25,07 mmHg, variando de um mínimo de 120 a um máximo de 190 mmHg. Já o valor médio dessa variável no segundo teste de avaliação funcional, após o período de treinamento de Reabilitação Cardíaca Fase III, foi de 150,00 ± 10,69 mmHg, variando de 140 a 170 mmHg. Quando esses valores foram comparados com o teste t de Student, diferenças estatisticamente significativas foram notadas, com p<0,05. Esses resultados podem ser melhor visualizados no gráfico 2. Observando-se o gráfico da PAS na carga máxima do teste de esforço, nota-se que houve grande diminuição dos valores quando comparados o primeiro e o segundo teste de esforço, após as sessões de Fisioterapia Cardiovascular. Esses resultados já eram esperados, em função da atividade física promover, após treinamento aeróbio, exercícios preconizados nessas sessões, grande vasodilatação periférica, com queda na Resistência Vascular Periférica e, conseqüentemente, queda nos valores de PAS (FOX, 1991). Pode-se relacionar essa queda da PAS na carga máxima do teste ergométrico, também, com a grande atuação parassimpática que há após treinamento físico. O sistema parassimpático é a divisão do sistema nervoso autônomo que promove diminuição das variáveis fisiológicas, dentre elas a PAS (DOUGLAS, 2002). Vale ressaltar aqui que esses valores menores de PAS AD) na R esposta da PPressão ressão Arterial Diastólica (P (PAD) este Crescente carga máxima do TTeste O valor médio ± desvio padrão (SD) da PAD no primeiro teste, aquele realizado pelos voluntários antes do treinamento, foi de 100,00 ± 19,27 mmHg, variando de um mínimo de 80 a um máximo de 140 mmHg. Já o valor médio dessa variável no segundo teste de avaliação funcional, após o período de treinamento de Reabilitação Cardíaca Fase III, foi de 87,50 ± 12,81 mmHg, variando de 70 a 110 mmHg. Quando esses valores foram comparados com o teste t de Student, diferenças estatisticamente significativas foram notadas, com p<0,05. Esses resultados podem ser melhor visualizados no gráfico 3. Ao analisar o gráfico da PAD, visualiza-se grande diminuição dos valores de PAD dos voluntários após o término das 16 sessões de Fisioterapia Cardiovascular. Segundo Fox (1991), após um treinamento físico que tenha intensidade de trabalho sendo uma sobrecarga fisiológica e não patológica, há queda da PAD, de responsabilidade também, da queda da RVP e da maior ativação parassimpática, significando, também, menor sobrecarga cardiovascular. Pensamento Plural: Revista Científica do R e sposta da FFreqüência reqüência Cardíaca (FC) na carga este Crescente máxima do TTeste O valor médio ± desvio padrão (SD) da FC no primeiro teste, aquele realizado pelos voluntários antes do treinamento, foi de 127,37 ± 11,87 mmHg, variando de um mínimo de 114 a um máximo de 149 mmHg. Já o valor médio dessa variável no segundo teste de avaliação funcional, após o período de treina- , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 45 45 SOUZA, T. L. de, PINHEIRO, D. A. mento de Reabilitação Cardíaca Fase III, foi de 130,12 ± 8,07 mmHg, variando de 129 a 139 mmHg. Quando esses valores foram comparados com o teste t de Student, não se encontraram diferenças estatisticamente significativas, com p>0,05. Esses resultados podem ser melhor visualizados no gráfico 4. Observando-se o gráfico 4, nota-se que não houve diferenças entre os valores de FC comparando-se o primeiro com o segundo teste de esforço, que foram realizados separados pelo treinamento físico da Fisioterapia Cardiovascular-Fase III. Es- ses dados corroboram com Fardy e col. (1998); Forjaz e col. (1998) e Ciolac e Guimarães (2006), que dizem que indivíduos que recebem treinamento físico, dentro de uma sobrecarga fisiológica (mantendo-se, portanto, sua FC alvo ou treino), suportam uma carga de trabalho máxima maior, com um valor menor de FC, mostrando, novamente, menor sobrecarga no sistema cardíaco. Considerando o indivíduo com cardiopatia, essa menor sobrecarga no próprio sistema cardiovascular, resulta, para ele, melhor performance no teste de esforço (MENDES, 2006). Gráfico 3: Média da PAD aferida na carga máxima do 1º e 2º Teste de Esforço Gráfico 4: Média da FC na carga máxima no 1º e 2º Teste de Esforço 5. Considerações finais As conclusões desse trabalho seguem abaixo, divididas em específicas e geral. Conclusões Específicas São conclusões específicas desse estudo: • A carga máxima do segundo teste foi maior que o primeiro; assim, após treinamento físico da Fisioterapia Cardiovascular os cardiopatas apresentaram melhor condição de manter e suportar cargas maiores nos testes de avaliação funcional. • Em relação aos valores de Pressão Arterial na carga máxima dos testes, tanto a Sistólica como a Diastólica apre46 • sentaram valor menor após treinamento físico, mostrando menor sobrecarga cardiovascular. A Freqüência Cardíaca na carga máxima dos testes foi menor após a Reabilitação Cardíaca, portanto, no segundo teste comparado com o primeiro, também assegurando aos cardiopatas melhor funcionalidade do sistema cardíaco, já que eles apresentaram esse valor menor, mesmo com uma carga máxima maior. Como conclusão geral, esse trabalho traz que os pacientes atendidos na Clínica Escola de Fisioterapia do UNIFAE, setor de Cardiologia Clínica, apresentam melhoras funcionais que resultam em melhor performance em testes de avaliação física, atingindo valor de carga máxima maior, com valores de pressão arterial e freqüência cardíaca menores. Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 esquisa das Diretrizes do A CSM para os TTestes estes de Esforços e sua PPrescrição, rescrição, ACSM.. Manual de PPesquisa ACSM Hipertensão. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. Exercício e Hipertensão Notes Notas (1) O estudo integra o Programa de Apoio à Iniciação Científica (PAIC), patrocinado pelo UNIFAE. Referências Avaliação funcional de cardiopatas após fisioterapia cardiovascular fase III (1) The study is part of the Program in Support of Undergraduate research (PAIC), sponsored by UNIFAE BIBLIOTECA DA SAÚDE. Exercícios, boa forma e saúde saúde. 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The best form to observe the beneficial changes of the training is through performing functional evaluation tests. From the results, it was detected an improvement on the values for the arterial pressure, both systolic and diastolic measures, with lower values after the physical training and with a larger maximum load of the after-training test. A conclusion of the study is that the physical training applied by the sutends of UNIFAE on the Cardiac Reabilitation, improved the performance of the volunteers who had participated on the study, with better results on the tests of functional evaluation. Key words Functional Evaluation, Cardiopaths, Cardiovascular Physiotherapy Phase III. 48 Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Efeito do tratamento metformina associado ao exercício físico anaeróbio sobre as funções cardíacas de ratos diabéticos por aloxana Resumo Carlos Fabrício de Moraes, Eunice Cristina da Silva Costa Esta pesquisa1 tem com objetivo estudar os efeitos do exercício anaeróbio regular e sua associação com metformina sobre o intervalo QT e sua dispersão em ratos diabéticos por aloxana. O prolongamento do intervalo QTc, observado em eletrocardiograma, está relacionado à doença isquêmica cardíaca e é associado à morte súbita em pacientes diabéticos com grande aumento da glicemia. O treinamento anaeróbio reduz a glicemia e pode diminuir os riscos de morte súbita em diabéticos. A metformina, um fármaco utilizado para reduzir a glicemia pode causar alterações eletrofisiológicas obtidas em eletrocardiograma. Para o estudo foram utilizados ratos diabéticos por aloxana e controle foram submetidos ao treinamento físico (natação) durante 30 dias (5x/semana), com sobrecarga de 10% p.c. e duração de 40 minutos. Cada série durou 90 segundos com intervalos de 3 min. Para registrar as ondas do ECG os eletrodos foram conectados por meio de agulhas hipodérmicas às patas do rato anestesiado. O intervalo QT foi corrigido pela fórmula de Bazzet’s e posteriormente foi calculada sua dispersão. Autores Eunice Cristina da Silva Costa Professora do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE; Educadora Física com Doutorado e Mestrado em Fisiologia pelo Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas – IB/UNICAMP. E-mail: [email protected] Carlos Fabrício de Moraes Aluno do 3o ano do curso de Educação Física do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE. E-mail: [email protected] Palavras-chave Metformina, Aloxana, Indução de Diabetes Recebido em 18/março/2007 Aprovado em 04/setembro/2007 Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 49 MORAES, C. F., COSTA, E. C. S. 1. Introdução Diabetes é uma desordem metabólica caracterizada pelo aumento da glicemia, devido a alterações no metabolismo de proteínas, lipídios e carboidratos, resultante de secreção deficiente ou de resistência periférica à insulina. Estas alterações aumentam a tendência ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares e neuropatias, as quais representam uma das maiores causas de morte de pacientes. (PAULSON, 1996). As alterações do metabolismo lipídico aumentam os riscos de aterosclerose e de outras doenças cardiovasculares como: hipertensão arterial, isquemia e hiperlipoproteinemia (BODEN, 1997). Além destas, as mudanças no metabolismo de carboidratos do próprio músculo cardíaco também podem promover complicações cardíacas. Nos diabéticos, o aumento da concentração de glicogênio no ventrículo cardíaco, aparentemente está associado à gravidade do diabetes (HIGUCHI et al., 1995). Embora este aumento represente uma proteção ao miocárdio durante a isquemia de curta duração, não tem o mesmo efeito na isquemia de longa duração, pois o glicogênio é rapidamente degradado devido ao aumento da atividade da glicogênio fosforilase (HIGUCHI et al., 1995), o que pode levar à morte súbita em função da ausência de energia para manter a contração cardíaca. Além disso, as alterações promovidas no metabolismo de carboidratos e de lipídeos podem causar modificações na estrutura e fisiologia cardiovascular, que por sua vez, alteram o registro do eletrocardiograma. Dentre as principais alterações observadas, encontra-se o aumento do intervalo QT. O intervalo QT corresponde ao tempo necessário para a completa excitação elétrica e a recuperação dos ventrículos, sendo, portanto, a medida da duração da sístole “elétrica”, a qual inclui a despolarização e a repolarização ventricular (ROCHA E SILVA, 1999). O intervalo QT varia com a freqüência cardíaca. Por esta razão, em 1920, Bazett’s (citado por ARILDSEN, 1999) introduziu uma equação que permitiu corrigir este valor em função da freqüência cardíaca: O aumento do intervalo QT é chamado de síndrome do QT longo e é considerado como precursor de aumento do risco de morte súbita em pacientes diabéticos. Além disso, a dispersão deste intervalo registrado nas derivadas geram o QTd e o QTcd, que estão associados a um maior risco de morte súbita (CHRISTENSEN et al., 2000). Entretanto, fármacos, como a biguanida metformina, um anti-hiperglicemiante utilizado no tratamento de diabéticos tipo 2, contribuem para a diminuição da glicemia e a melhora do perfil metabólico. Além dos efeitos indiretos da metformina favorecerem a diminuição da resistência tecidual à insulina ela parece oferecer proteção contra doenças cardiovasculares, que afetam particularmente os obesos, dislipidêmicos e hipertensos. Em contraposição, resultados (da SILVA et al, 2003; GONÇALVES et al, 2003) mostraram que altas doses de metformina, como as recomendadas a pacientes humanos, promovem grande aumento de glicogênio cardíaco em ratos aloxanizados. Porém após perfusão com noradrenalina durante 1 hora, houve quase que total depleção do glicogênio armazenado no ventrículo cardíaco. Além disso, foi observado em eletrocardiograma, um aumento do intervalo QT, sugerindo alterações na despolarização da membrana ventricular, que indica aumen- 50 to do risco de morte súbita nestes ratos. Além de tratamentos farmacológicos, os exercícios físicos também são utilizados para diminuir a glicemia e conseqüentemente promover benefícios ao metabolismo de diabéticos (SHEPHARD & ASTRAND, 1992). O padrão metabólico de um indivíduo saudável é afetado pelo tipo, intensidade e duração do exercício, promovendo utilização diferenciada de reservas energéticas (HOLLOZZY & KOHRT, 1996) principalmente de glicogênio muscular e hepático e triglicerídeos do tecido adiposo, afetando os níveis circulantes de glicose, triglicerídeos e ácidos graxos livres. Conforme a intensidade do exercício, estes podem ser classificados em exercícios de resistência aeróbia e exercícios de resistência anaeróbia láctica ou aláctica. O desempenho aeróbio é definido como exercício de resistência prolongada com intensidade submáxima, com equilíbrio entre o oxigênio requerido pelo metabolismo e o transportado pela corrente sanguínea até ao tecido muscular. A energia necessária é obtida através da combustão oxidativa de glicogênio e das fontes lipídicas. Por outro lado, a resistência anaeróbia aláctica ocorre em exercícios de grande intensidade e curtíssima duração, com atividade metabólica originando débito de oxigênio, onde a energia é obtida através da fosfocreatina, sem grande produção de ácido láctico. Na resistência anaeróbia láctica, o esforço de grande intensidade é prolongado em relação a aláctica e a energia passa a ser obtida através da degradação de glicogênio, com simultânea elevação de ácido láctico no sangue (BERG, 1986). Apesar do exercício aeróbio ser o mais indicado para portadores de doenças metabólicas, como o diabetes, estudos (NEIVA et al., 2000) demonstraram que o exercício anaeróbio melhora o perfil lipídico e glicêmico de ratos diabéticos por streptozotocina. Durante o exercício anaeróbio, com a privação grave de oxigênio, os ácidos graxos livres não podem ser oxidados tornando o coração dependente da produção de energia anaeróbia. A produção anaeróbia de ATP é largamente dependente da disponibilidade de substratos intracelulares para a glicólise. Nestes casos, as reservas de glicogênio são utilizadas como substrato glicolítico adicional durante a prática de atividade anaeróbia, simulando a mesma situação que ocorre durante uma isquemia (revisão em HOLLOZZY & KOHRT, 1996). Entretanto, em diversas situações, a metformina tem sido combinada a exercícios físicos para aumentar o efeito do tratamento sobre o metabolismo. Todavia, esta associação pode ser fatal, pois a metformina aumenta o risco de morte súbita durante a isquemia e os exercícios anaeróbios têm diminuição de aporte de oxigênio durante sua execução com conseqüente aumento da depleção de glicogênio muscular, podendo assim aumentar os riscos de dano sobre o sistema cardiovascular. 2. Objetivos Nesse projeto iremos investigar os efeitos dose-resposta do tratamento com metformina e sua associação à exercícios físicos sobre: 1) as funções cardíacas representadas em eletrocardiograma; 2) a glicemia; 3) a ingestão hídrica. Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Efeito do tratamento metformina associado ao exercício físico anaeróbio sobre as funções cardíacas de ratos diabéticos por aloxana 3. Materiais e métodos 3.1 Animais Foram utilizados ratos machos, albinos, Wistar com idade de 3 meses, criados no Biotério do UNIFAE. Os ratos foram alimentados com ração (Purina para roedores) e água “ad libitum” em ciclo fotoperiódico, de 12 h claro e 12 h escuro, a 22 ± 2oC. Os ratos foram distribuídos em grupos de não diabéticos (controle) e diabéticos. A metformina foi adicionada na água de beber e o consumo hídrico foi medido. Grupos: Sedentários Controle Diabetes Diabetes + metformina [112 ug/ml] Treinados Controle Diabetes Diabetes + metformina [112 ug/ml] 3.4 Eletrocardiograma Os ratos foram anestesiados com pentobarbital sódico (40 mg/kg) e mantidos na posição supina para registrar o ECG durante respiração espontânea. Os eletrodos foram conectados aos canais do ECG (Funbec) e as ondas D1, D2, D3, aVL, aVF e aVR foram registradas a uma velocidade de 50 mm/segundo para posterior verificação da freqüência cardíaca e intervalos (SGOIFO et al., 1996). O QTc foi corrigido pela equação de Bazzet’s: QT/VRR. A dispersão do QT e QTc foi calculada através dos valores absolutos, subtraindo o mais longo do mais curto intervalo registrado: %QTd = [QT max – Qtmin/Qtmin} x 100]). A mesma operação foi usada para calcular o QTcd. 3.5 Determinação da glicemia A glicemia foi determinada pelo método da glicose oxidase (TRINDER, 1969). 3.2 Indução do diabetes mellitus Antes da indução do diabetes mellitus, os ratos foram mantidos em jejum por 24 horas com livre acesso a água. Após anestesia com pentobarbital sódico (40mg/kg de peso corporal), os ratos receberam uma injeção de aloxana em salina (40 mg/kg de peso, i.v. pH 4,5). O estabelecimento do diabetes foi verificado através da presença de glicose na urina. 3.3 Exercício físico e esquema de treinamento Ratos constituem um bom modelo para a observação da maioria dos efeitos metabólicos produzidos pelo treinamento. (OSTMAN-SMITH, 1979). Os ratos dos grupos treinados nadaram em um tanque, contendo água a 30o ± 2 o C. Após indução do diabetes, os ratos iniciaram o programa de treinamento anaeróbio. As sessões de natação foram realizadas à tarde, 5 vezes por semana, totalizando 20 sessões. A carga de 10 a 15% do peso corporal foi colocada no peito do rato e o treinamento teve duração de 40 minutos. Cada série de exercício teve duração de 90 segundos, com intervalos de 2-3 minutos entre elas. 3.6 Análise estatística A avaliação estatística dos dados foi feita através da análise de variância por dois fatores e, quando necessário, seguida do teste de TUKEY. Foram considerados significativos os valores cujas diferenças fossem menores que 5%. 4. RESUL TADOS RESULT 4.1 Glicemia Inicialmente caracterizamos o modelo diabético, avaliando as principais diferenças em relação ao grupo controle. Nos ratos diabéticos por aloxana a glicemia aumentou de 86.3 ± 6.2 mg/dl to 433.3 ± 24 mg/dL (p< 0.001) após 15 dias e para 495.3 ± 53 mg/dL após 30 dias (p< 0.001; fig. 1). Não foram detectadas diferenças entre os grupos controle e controle treinado durante o período experimental (fig 1). A aloxana também aumentou a glicemia dos ratos do grupo diabético treinado de 75.3 ± 7.4 mg/dL para 347.1 ± 41.6 mg/dL (p< 0.001) após 15 dias e para 304 ± 34.2 mg/dL (p< 0.001) após 30 dias. Entretanto, a glicemia diminuiu quando comparado com o grupo Diabetes Sedentário (p< 0.05). Os grupos tratados com metformina tiveram aumento da glicemia durante o período experimental. No grupo diabetes sedentário metformina, a glicemia aumentou de 102 ± 1,4 para 470 ± 26 (p< 0,001) e no grupo diabetes treinado metformina, aumentou de 80 ± 8 para 566 ± 32 (p< 0,001), não diferindo do grupo diabetes sedentário sem tratamento (fig 1) f: p< 0.05 vs controle-15 dias; h: p< 0.05 vs diabetes sedentário metformina-15 dias; k: p< 0.05 vs controle-30 dias; l: p< 0.05 vs diabetes sedentário-30 dias. Figura 1: Mudanças na glicemia após indução de diabetes por aloxana e após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio e ou tratamento com metformina em altas doses. Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 51 51 MORAES, C. F., COSTA, E. C. S. Figura 2 2: Efeito do treinamento e/ou tratamento com metformina em altas doses sobre a glicemia de ratos não diabéticos Os grupos não diabéticos não apresentaram diferenças quanto a glicemia durante todo o período experimental (fig 2). 4.2 Ingestão hídrica O diabetes causou aumento da ingestão hídrica no grupo sedentário. Após 7 dias, a ingestão de água foi de 48 ml por rato (média estimada), após 15 dias aumentou para 91 ml (p<0.001) e após 30 dias aumentou para 176 ml (p< 0.001). Assim como ocorreu no grupo diabetes sedentário, após 7 dias houve aumento da ingestão hídrica para 110 ml (p< 0.001) no grupo Diabetes Treinado, mas após 15 dias, o treinamento promoveu diminuição do consumo de água para 69 ml e 75 ml após 30 dias (p< 0.001). Entretanto, ao tratar o grupo treinado com metformina houve aumento da ingestão hídrica de 42 ml para 105 ml após 7 dias, para 138 ml após 15 dias e para 200 ml após 30 dias. O mesmo comportamento foi observado no grupo sedentário tratado com metformina. (fig 3). A figura 4 mostra que não foram encontradas diferenças entre os grupos controle (treinado ou sedentário e tratados ou não com metformina). 4.3 Eletrocardiograma As figuras 5, 6, 7 e 8 mostram respectivamente o intervalo QT e suas derivadas: QTc, QTd and QTcd em ratos não diabéticos treinado e/ou tratados com metformina. Não foram demonstradas diferenças estatísticas entre todos os grupos experimentais durante o primeiro registro eletrocardiográfico em todos os intervalos. Após 15 dias de tratamento com metformina, o intervalo QTc aumentou de 0,25 ± 0,03 para 0,31 ± 0,23 (p<0,001; figura 6) no grupo controle sedentário metformina. Ao término do período experimental, houve aumento do intervalo QT (fig 5) no grupo treinado e tratado com metformina (de: 0,12 ± 0,007 para 0,14 ± 0,006; p< 0,001) diferindo do grupo controle no mesmo período (0,11 ± 0,004; p< 0,001) e houve aumento do intervalo QTc de 0,3 ± 0,008 para 0,33 ± 0,005 (p< 0,001), também diferindo do grupo controle (0,27 ± 0,01; p< 0,001; fig 6). As figuras 7 e 8 mostram os intervalos QTd e QTcd respec- a: p< 0.05 vs controle-0; b: p< 0.05 vs diabetes-0; c: p< 0.05 vs diabetes sedentário metformina-0; d: p< 0.05 vs diabetes treinado-0; e: p< 0.05 vs diabetes treinado metformina-0; f: p< 0.05 vs controle-7 dias; h: p< 0,05 vs diabetes sedentário metformina-7 dias; i: p< 0,05 diabetes treinado – 7 dias; k: p< 0,05 vs controle-15 dias; l: p< 0,05 vs diabetes sedentário-15 dias; m: p<0,05 vs diabetes sedentário metformina-15 dias; n: p<0,05 vs diabetes treinado-15 dias; o: p< 0,05 vs diabetes treinado metformina-15 dias; p: p<0,05 vs controle-30 dias; q: p< 0,05 vs diabetes sedentário-30dias; s: p< 0,05 vs diabetes treinado-30 dias Figura 3: Mudanças na ingestão de água após indução de diabetes por aloxana e após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio 52 Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Efeito do tratamento metformina associado ao exercício físico anaeróbio sobre as funções cardíacas de ratos diabéticos por aloxana Ingestão Hídrica Figura 4: Efeito do treinamento e/ou tratamento com metformina em altas doses sobre a ingestão hídrica de ratos não diabéticos tivamente. Os grupos treinado e treinado metformina apresentaram redução dos intervalos QTd (treinado: de 34,2 ± 3 para 15,7 ± 2,43; treinado metformina: de 28,6 ± 5,7 para 17,8 ± 3,6) e QTcd (treinado: 28,7 ± 1,9 para 18,1 ± 3,3; treinado metformina: de 32 ± 5 para 27,2 ± 6,1). Entretanto, no grupo controle sedentário tratado com metformina houve aumento do intervalo QTd após 30 dias de tratamento de 15 ± 2,9 para 31,3 ±7,2. As figuras 9, 10, 11 e 12 mostram os intervalos QT, QTc, QTd e QTcd de ratos diabéticos sedentários e treinados e/ou tratados com metformina em altas doses. Os registros eletrocardiográficos obtidos no primeiro dia experimental não apresentaram diferenças entre si em todos os intervalos. O intervalo QT aumentou apenas nos grupos diabético treinado após 15 dias(de 0,11 ± 0,005 para 0,14 ± 0,007; p<0,001) e no grupo diabético treinado tratado com metformina após 15 (de 0,11 ± 0,01 para 0,15 ± 0,007; p< 0,05) e 30 dias (de 0,11 ± 0,01 para 0,18 ± 0,04; p< 0,001) de período experimental. O grupo diabético treinado com metformina apresentou o mesmo comportamento em relação ao intervalo QTc. Houve aumento de 0,26 ± 0,03 para 0,34 ± 0,01 após 15 dias e para 0,37 ± 0,05 após 30 dias de período experimental. Os demais grupos não apresentaram diferenças entre si. Os intervalos QTd e QTcd aumentaram nos grupos diabético sedentário, diabético sedentário metformina e diabético treinado metformina após 15 e 30 dias de período experimental (figs 11 e 12). No grupo diabético, o intervalo QTd aumentou de 14,5 ± 2,8 para 56,7 ± 4,3 após 15 dias e para 71,8 ± 6,1 após 30 dias e o QTcd aumentou de 15,7 ± 3,1 para 86,9 ± 4,4 após 15 dias e para 86,3 ± 8,4 após 30 dias de período experimental. No grupo diabetes sedentário metformina, o intervalo QTd aumentou de 16,23 ± 2,8 para 36,5 ± 3,17 após 15 dias e para 74,5 ± 4,36 após 30 dias. O intervalo QTcd aumentou de 16,1 ± 2,1 para 47,9 ± 2,7 após 15 dias e para 71,9 ± 5,2 após 30 dias de tratamento. E no grupo treinado e tratado com metformina, o intervalo QTd aumentou de 26,7 ± 1,7 para 47 ± 1,4 após 30 dias e o intervalo QTcd aumentou de 28,3 ± 0,3 para 49,3 ± 3,5 após 30 dias de treinamento e tratamento. 5. DISCUSSÃO O diabetes promove alterações metabólicas envolvendo o transporte, armazenamento e a degradação de várias substâncias utilizadas pelas células como fonte energética. As alterações do metabolismo no diabético decorrem da ausência ou de secreção deficiente de insulina, levando conseqüentemente à diminuição da captação de glicose e ao aumento da produção de glicose, resultando em hiperglicemia. A aloxana causou aumento da glicemia em ratos diabéticos (fig 1) em função da destruição de parte das células b e decorrente diminuição da secreção de insulina (STEINER et al, 1961). a p< 0.05 vs controle sedentário-0; d p< 0.05 vs controle treinado metformina-0; i p< 0.05 vs controle sedentário-30 dias; j p< 0.05 vs controle treinado-30 dias; k p< 0.05 vs controle sedentário metformina-30 dias. Figura 5: Mudanças no intervalo QT após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio e ou tratamento com metformina em altas doses. Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 53 53 MORAES, C. F., COSTA, E. C. S. a p< 0.05 vs controle sedentário-0; d p< 0.05 vs controle treinado metformina-0; g p< 0.05 vs controle sedentário metformina-15 dias; h: p< 0.05 vs controle treinado metformina-15 dias; Figura 6: Mudanças no intervalo QTc após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio e ou tratamento com metformina em altas doses. Dias g p< 0.05 vs controle sedentário metformina-15 dias; h: p< 0.05 vs controle treinado metformina-15 dias; i p< 0.05 vs controle sedentário-30 dias; Figura 7 7: Mudanças no intervalo QTd após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio e ou tratamento com metformina em altas doses. Figura 8 8: Mudanças no intervalo QTcd após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio e ou tratamento com metformina em altas doses. 54 Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Efeito do tratamento metformina associado ao exercício físico anaeróbio sobre as funções cardíacas de ratos diabéticos por aloxana f p< 0.05 vs controle sedentário-15 dias; g p< 0.05 vs diabetes sedentário-15 dias; h: p< 0.05 vs diabetes sedentário metformina-15 dias; k p< 0.05 vs controle sedentário-30 dias; l p< 0.05 vs diabetes sedentário-30 dias; m p< 0.05 vs diabetes sedentário metformina-30 dias; n p< 0.05 vs diabetes treinado. Figura 9: Mudanças no intervalo QT após indução de diabetes por aloxana e após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio e/ou tratamento com metformina em altas doses. b p< 0.05 vs diabetes sedentário-0; e p< 0.05 vs diabetes treinado metformina-0; h: p< 0.05 vs diabetes sedentário metformina-15 dias; k p< 0.05 vs controle sedentário-30 dias; m p< 0.05 vs diabetes sedentário metformina-30 dias; n p< 0.05 vs diabetes treinado. Figura 10 10: Mudanças no intervalo QTc após indução de diabetes por aloxana e após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio e/ou tratamento com metformina em altas doses. b p< 0.05 vs diabetes sedentário-0; f p< 0.05 vs controle sedentário-15 dias; g p< 0.05 vs diabetes sedentário-15 dias; k p< 0.05 vs controle sedentário-30 dias; l p< 0.05 vs diabetes sedentário-30 dias; m p< 0.05 vs diabetes sedentário metformina-30 dias; n p< 0.05 vs diabetes treinado. Figura 11 11: Mudanças no intervalo QTd após indução de diabetes por aloxana e após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio e/ou tratamento com metformina em altas doses. Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 55 55 MORAES, C. F., COSTA, E. C. S. b p< 0.05 vs diabetes sedentário-0; c p< 0.05 vs diabetes sedentário metformina0; f p< 0.05 vs controle sedentário-15 dias; g p< 0.05 vs diabetes sedentário-15 dias; h: p< 0.05 vs diabetes sedentário metformina-15 dias; j p< 0.05 vs diabetes treinado metformina-15 dias; k p< 0.05 vs controle sedentário-30 dias; l p< 0.05 vs diabetes sedentário-30 dias; m p< 0.05 vs diabetes sedentário metformina30 dias; n p< 0.05 vs diabetes treinado. Figura 12 12: Mudanças no intervalo QTcd após indução de diabetes por aloxana e após 15 e 30 dias de treinamento anaeróbio e/ou tratamento com metformina em altas doses. As alterações promovidas no metabolismo de carboidratos e de lipídeos podem causar modificações na estrutura e fisiologia cardiovascular, que por sua vez, alteram o registro do eletrocardiograma. Um dos mais comuns problemas detectados em diabéticos é o aumento do intervalo QT e suas derivadas QTc, QTd e QTcd. Este fato se deve ao retardo na despolarização e/ou na repolarização do potencial de ação cardíaco (FEUVRAY & LOPASCHUK 1997). Esta alteração observada em eletrocardiograma pode ser explicada em função da mais comum manifestação clínica do diabetes mellitus, a poliúria (aumento da diurese), que leva a conseqüente polidipsia (aumento da ingestão de água) (BRODSKY et al, 1950), assim como observado na figura 3. A poliúria observada em diabéticos é tradicionalmente atribuída à diurese osmótica secundária ao aumento da glicemia (glicosúria) (BRODSKY et al, 1950). A hiperglicemia leva a perda de água e potássio do meio intracelular para o extracelular (JOO et al, 2000). A depleção de potássio ocorre devido à sua excessiva perda urinária (KITABCHI & WALL, 1995). A baixa disponibilidade de K+ no plasma, causada pela desidratação, pode ser responsável por prejuízos na repolarização da membrana (PUNSKE et al, 2004). Esta alteração eletrofisiológica promove aumento da duração do potencial de ação com resultante prolongamento do intervalo QT. O aumento do intervalo QT e de sua dispersão (QTd) observado em eletrocardiograma (ECG) tem sido relacionado à uma predição de morte súbita em pacientes diabéticos tipo 2 (OKIN et al, 2004). Nossos resultados mostram que houve aumento do intervalo QT e suas derivadas em ratos diabéticos (fig 9-12). O aumento da dispersão do intervalo QT pode ocorrer devido a mudanças na concentração de potássio no soro e no meio intracelular (TOWBIN & VATTA, 2001), mas também pode ser explicada através de mudanças nos canais de K+ voltagem dependentes (NISHIYAMA et al, 2001). O diabetes pode afetar o tecido cardíaco, alterando a magnitude dos canais de K+ que estão envolvidos no processo de repolarização da membrana (SHIMONI et al, 2000). Entretanto, os exercícios anaeróbios podem promover adaptações no corpo, que são importantes para o controle da glicose sangüínea e prevenção de doenças cardiovasculares. O treinamento anaeróbio promove alta utilização da via glicolítica. Além disso, melhora a capacidade de contração que induz a captação de glicose pelos mús56 culos esqueléticos em função do aumento da translocação de GLUT para a membrana via ativação da MAP quinase (FUJIMOTO et al, 2003). Estes efeitos podem explicar a diminuição da glicemia observada na figura 1. Assim como a glicemia, a ingestão de água também diminuiu nos ratos diabéticos treinados, como pode ser observado na figura 3, sugerindo que a diurese osmótica diminuiu também. As alterações metabólicas promovidas pelo treinamento físico podem diminuir os riscos de doenças cardiovasculares. Nossos resultados mostram que houve diminuição da dispersão do intervalo QT e QTc em ratos diabéticos treinados (Fig. 9-12). Dessa maneira, o exercício anaeróbio promoveu alterações no ciclo cardíaco reduzindo o período de repolarização ventricular, que causou diminuição dos intervalos QT, bem como, sua dispersão. Isso pode ser associado à redução de potássio na urina ou em função da correção da magnitude dos canais de potássio que aumenta sua resposta. Outros agentes farmacológicos também podem alterar a função cardíaca promovendo mudanças na membrana de cardiomiócitos, afetando a sua atividade enzimática, a função de receptores e o metabolismo relacionado ao transporte de íons em diabéticos (NAVARATNAM & KHATTER, 1989). Fármacos, como a biguanida metformina, um antihiperglicemiante utilizado no tratamento de diabéticos tipo 2, contribuem para a diminuição da glicemia melhorando o perfil metabólico e aumentando a concentração de glicogênio no fígado e músculos. O mecanismo pelo qual a metformina atua é multifatorial. Metformina aumenta a ação da insulina através do aumento da atividade de seu receptor e pela incorporação de novos transportadores de glicose à membrana (HOWLETT & BAILEY, 1999). Entretanto, metformina pode induzir efeitos colaterais. Isto foi demonstrado através de estudos, onde altas doses de metformina ativaram a AMPK reduzindo a responsividade das células b ao aumento de glicose e, em caso de exposição prolongada, metformina pode estimular a apoptose destas células (KEFAS et al, 2004). Nossos resultados demonstraram que metformina, em concentrações equivalentes à máxima recomendada a pacientes humanos, não diminuem a glicemia e aumentam a ingestão hídrica de ratos diabéticos (fig. 1). Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Efeito do tratamento metformina associado ao exercício físico anaeróbio sobre as funções cardíacas de ratos diabéticos por aloxana reduziu o efeito protetor do exercício físico, causando aumento dos intervalos QTd e QTcd também e tornando o animal mais susceptível à morte súbita. Em conclusão prévia, exercícios de alta intensidade foi benéfico em reduzir a dispersão dos intervalos QT e QTc, diminuindo os riscos de morte súbita em ratos diabéticos. Entretanto, metformina aumentou os riscos de morte súbita em ratos sedentários e treinados em função da elevação dos intervalos QTd e QTcd, sendo portanto desaconselhável seu uso concomitante aos exercícios físicos de alta intensidade. ARILDSEN, H. A.; MAY, O.; CHRISTIANSEN, E. H.; DAMSGAARD, E. M. Increased QT dispersion in patients with insulindependent diabetes mellitus. Intern. JJ.. Cardiol. 71: 235-242, 1999. Notes Notas (1) The study is part of the Program in Support of Undergraduate research (PAIC), sponsored by UNIFAE. (1) O estudo integra o Programa de Apoio à Iniciação Científica (PAIC), patrocinado pelo UNIFAE. Referências Além de seu efeito sobre as células b, através da ativação da AMPK, as doses terapêuticas de metformina estimulam a atividade da tirosina quinase da subunidade b da porção intracelular do receptor de insulina. Porém, em altas concentrações, metformina inibe a tirosina quinase, e conseqüentemente inibe a ação da insulina (STITH et al, 1998). Este efeito da metformina aparentemente causou anormalidades eletrofisiológicas registradas em eletrocardiograma. Em doses altas, a metformina promoveu aumento dos intervalos QTd e QTcd. Além disso, metformina BERG, K. E. Diabetic’s Guide to health and fitness - An authoritative approach to leading an active life. Life Enhancement Publications Publications, 1986 BODEN, G. 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The anaerobic training increases the glicemy and the risks of sudden death in diabetics ones. Metformin is a pharmaco used to reduce the glicemy that can cause eletrofisiologics alterations on the electrocardiogram. For the study it was used rats with aloxan-induced diabetes and controlled ones, which have been submitted to the physical training (swimming) during 30 days (5x/weaks), with 10% overload p.c. e duration of 40 minutes. Each series took 90 seconds with 3 minutes interval. To register the waves of the ECG the electrodes had been connected to the legs of an anesthetized rat by hypodermics needles. The QT interval was corrected by the Bazzet’s formula and later its dispersion has been calculated. Key words Metformin, Aloxan, Induced Diabetes 58 Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Implantação de uma cultura de segurança: estudo sobre a avaliação e prevenção do risco Resumo Luciene Cazaroto, Elisângela de Souza, Eda Terezinha de Oliveira Tassara , Carmen Beatriz Fabriani Nesta pesquisa1 os autores buscam estabelecer as relações entre a subjetividade do indivíduo em relação ao risco e sua disponibilidade afetiva e cognitiva para modificar a realidade de forma a garantir sua sobrevivência. Pretende-se investigar a idéia que as pessoas de uma comunidade têm sobre os fatores que ameaçam a sua sobrevivência e a de seu grupo. Selecionou-se como participantes da pesquisa mulheres que passaram por uma experiência traumática, sendo realizada em dois campos distintos. O campo de estudo 1 foi constituído por três entrevistadas, com idade entre 23 e 46 anos, do NEAP (Núcleo de Estudos e Atendimento em Psicologia do UNIFAE – São João da Boa Vista/SP). O campo de estudo 2 foi constituído a partir do LAR CRIANÇA FELIZ, instituição que desenvolve um programa de acompanhamento sócio educativo a mães, crianças e adolescentes, do qual foram entrevistadas cinco mães, de 27 a 59 anos, moradoras da mesma comunidade. O método de coleta de informações utilizado foi o de entrevistas individuais em profundidade quando se busca a narrativa da experiência, e suas possíveis explicações para isso e jogam com a cadeia de acontecimentos que constrói a vida, individual e social. Após a analise da construção do argumento a partir do texto das entrevistas, percebe-se que os entrevistados, em sua grande maioria, não conseguem aprender com a experiência a desenvolver atos de prevenção em relação a eles mesmos ou em relação a sua prole. Apenas em dois casos, sendo um no campo 1 e um no campo 2, percebe-se um movimento ainda que incipiente de alteração de atitudes, visando a não repetição da experiência traumática. Autores Carmen Beatriz Fabriani Pró-reitora de Graduação e Professora do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE; Psicóloga com Doutorado em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo - IP/USP e Mestrado Engenharia de Produção pela Coordenação dos Programas de Pós-graduação em engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE/UFRJ. E-mail: [email protected] Eda Terezinha de Oliveira Tassara Professora Titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo – IP/USP. Física com Pós-Doutoramento pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales – EHESS/França e Doutorado e Mestrado em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo – IP/USP. E-mail: [email protected] Luciene Cazaroto Aluna do 5o ano do curso de Psicologia do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE. E-mail: [email protected] Palavras-chave Mulheres, Subjetividade do Indivíduo, Disponibilidade Afetiva e Cognitiva, Psicologia Social Elisangela de Souza Aluna do 5o ano do curso de Psicologia do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE. E-mail: [email protected] Recebido em 18/março/2007 Aprovado em 04/setembro/2007 Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 59 FABRIANI, C. B. (et al.) 1. Introdução O presente projeto de pesquisa e intervenção se insere no tema atual de trabalho deste grupo de pesquisa, ao estudar as razões não lógicas presentes no processo de decisão. O indivíduo frente à necessidade de decidir sobre questões que configuram seu estilo de vida (Fabriani, 2005) passa por um processo muitas vezes não consciente de avaliação do risco nas situações de ameaça à sobrevivência social, física e identitária. Nesse sentido, busca-se desenvolver a inclusão nos objetivos de estudar programas de intervenção entre grupos da comunidade, principalmente aqueles com uma problemática comum relacionada a situações de risco, visando tanto a promoção de uma cultura de segurança, como a geração de dados para a pesquisa. Nos próximos itens será apresentado o recorte que se pretende seguir na realização deste projeto 1.1 Configuração do tema Em 1992, realizou-se no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida por ECO-92. Entre suas muitas e relevantes atividades, ficou aprovado um programa de ação, conhecido como Agenda 21. Este programa constitui-se numa ousada e abrangente tentativa de promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. Enfim, a Agenda 21 traduz em ações o conceito de desenvolvimento sustentável. Do ponto de vista da Agenda 21, as situações de risco recebem uma atenção especial, ficando estabelecido em seu capítulo 7, item 57, a urgente necessidade de fazer frente a questão da prevenção e redução dos desastres provocados pelo homem e/ou dos desastres naturais. Fica também estabelecido que o objetivo prioritário a ser alcançado refere-se a capacitar todos os países, em especial os que apresentem propensão a desastres, a mitigar o impacto negativo dos mesmos, sejam naturais e/ou provocados pelo homem sobre os assentamentos humanos, sobre as economias nacionais e sobre o meio ambiente. Ficam previstas três distintas áreas de atividade para este aspecto do programa, a saber: o desenvolvimento de uma cultura da segurança, o planejamento pré-desastres e a reconstrução pós-desastres. O foco de preocupação do presente estudo recai principalmente, sobre o potencial de desenvolvimento de uma cultura de segurança e, secundariamente, sobre as possibilidades de implementação do planejamento pré-desastre. Quanto ao desenvolvimento de uma cultura de segurança entre as muitas atividades previstas pela Agenda 21, ressalta-se a de: Implementar campanhas de conscientização de âmbito nacional e local por meio de todos os meios disponíveis, traduzindo o conhecimento em informações facilmente compreensíveis pelo público em geral e pelas populações diretamente expostas a riscos (cap.7, 60.b). O entendimento sobre a cultura da segurança não deve restringir-se às questões ambientais stricto sensu. Percebese a mesma dificuldade em outras áreas da organização humana em que esta cultura da segurança encontra dificuldade em se concretizar. Nesse sentido pode-se citar inúmeras iniciativas para a prevenção da epidemia de HIV entre vários segmentos da comunidade, considerando que os indivíduos que conseguem manter uma vida social, afetiva e profissional ativa, apesar da condição de portador de HIV, apresentam 60 menor freqüência de infeções oportunistas e demais intercorrências negativas. Pode-se considerar que esta melhor qualidade de vida relaciona-se, também, a uma maior aderência aos tratamentos, muitas vezes penosos e invasivos. Quanto à perspectiva de expansão da epidemia é importante também a revelação dessa informação, o quanto antes, ao círculo de relações, seja para antecipar o início do tratamento, seja para evitar a disseminação do vírus. Entretanto, verifica-se que os portadores de HIV têm, em geral, muita dificuldade em revelar esta informação para este círculo de relações, por medo de punição e, por outro lado, a razão para revelar é a expectativa de recebimento de aceitação e companheirismo (Fabriani, 2000). Portanto, a implantação de uma cultura de segurança não deve ficar restrita, mas ser abrangente a outros campos da interação humana, tais como violência familiar, uso de drogas, inclusão de grupos discriminados por gênero, idade, renda, raça, instrução, deficiência ou outros estereótipos que levam a segregação do convívio social gerando situações de risco para este grupo e para a população em geral. A cultura de segurança refere-se a todas aos eixos de interação humana, homem x natureza, homem x sociedade e homem x homem, nos quais se desenvolvem ações carregadas de significados e sua implantação requer uma maior compreensão dos fatores subjetivos que determinam as decisões no âmbito individual e que, certamente, passam pela avaliação subjetiva e objetiva do risco, estando implicada nesta decisão a qualidade de vida que o sujeito considera boa, aceitável, viável no âmbito pessoal. Lieber (2002) Considerando a importância dos fatores de ordem subjetiva na operacionalização de uma cultura de segurança impõe-se a necessidade da articulação da subjetividade com a formulação de projetos de intervenção na comunidade. Uma contribuição importante no sentido desta articulação está contida na perspectiva oferecida por Giddens (1991) sobre a pósmodernidade, em que o viver na pós-modernidade é viver num ambiente de chance e risco, em um sistema sócioeconômico e cultural direcionado à dominação da natureza e a operacionalização de um franco controle do mundo natural e social. Este direcionamento no sentido do controle sobre o mundo natural já se manifestava nas culturas não modernas, através das idéias de destino e carma, refletindo uma concepção de que os fatos da história não se sucediam aleatoriamente, mas segundo uma ordem desconhecida, porém existente. A operacionalização de uma cultura de segurança implica a idéia de que além dos acontecimentos futuros não serem tão aleatórios assim, também o conhecimento sobre as variáveis intervenientes em cada evento ou sucessão de eventos possibilita a criação de rotinas preventivas em relação à ocorrência de acontecimentos indesejáveis, ou de rotinas para mitigação dos efeitos e conseqüências dos acontecimentos. O sujeito pós-moderno, em meio a este bombardeio de informações freqüentemente conflitantes, é chamado a tomar decisões, todas importantíssimas para a sobrevivência do eu em um processo de avaliação constante de risco e de chances. Esta avaliação é pessoal e intransferível para a sobrevivência do eu biopsicossocial1, e depende da estrutura deste eu para hierarquizar e ordenar esta imensidão de informações de acordo com seus valores e gostos pessoais, contidos naquilo que usualmente chamamos de sua subjetividade. Estudos e exemplos relatados por Giddens (1991) apontam que esta auditoria do sistema de informações quanto à sua autenticidade é apoiada numa rede de confiança entre pares ou dirigida a alguma fonte geradora de informações, e substitui um sistema pericial individual pela confiança e possibilita a recomposição de uma rotina cotidiana com aparen- Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Implantação de uma cultura de segurança: estudo sobre a avaliação e prevenção do risco te normalidade, alheia aos riscos permanentes a que estariam todos submetidos. 2. Objetivos De forma geral, os objetivos desta proposta de estudo são de estabelecer as relações entre a subjetividade do indivíduo com relação ao risco e sua disponibilidade afetiva e cognitiva para modificar a realidade de forma a garantir sua sobrevivência. Acredita-se que este conhecimento poderá ser compartilhado pelos vários agentes intervenientes na situação de risco e poderá contribuir na formulação de programas de prevenção do risco psicossocial. Pretende-se investigar a idéia que as pessoas de uma comunidade têm sobre os fatores que ameaçam a sobrevivência sua e de seu grupo, que pode ser família, pares, colegas de trabalho, ou moradores de uma comunidade e que moldam as inter-relações. Em última instância, o reconhecer-se em risco, o pensar sobre este risco, vindo a conhecer as múltiplas facetas da situação e ser capaz de reconhecer os fatores de risco futuros nos fatos do presente são fatores de esclarecimento desta população, que poderá moldar uma atitude esclarecida de resistência ao meio sócio cultural na gênese do risco no sentido estabelecido por Adorno (1942). Deve-se também considerar que um dos objetivos de ação estratégica, previsto na Agenda 21, é a ação específica de inclusão de toda a população no desenvolvimento sustentável e eqüitativo, pela participação de todos na construção do mundo social e de prevenção da degradação nacional e ambiental. 2.1 Objetivos específicos Verificar a possibilidade de desenvolver um trabalho cultural de previsão do risco segundo dois aspectos teóricos. Por um lado, Giddens afirma que o que caracteriza o mundo contemporâneo é a avaliação do risco. Por outro lado, Lasch considera que, em uma época carregada de problemas, a vida cotidiana passa a ser um exercício de sobrevivência e que, em tais condições, a individualidade transforma-se num bem de luxo, fora de lugar em uma era de iminente austeridade. A individualidade supõe uma história pessoal, amigos, família em um sentido de situação. · Implantar projetos de pesquisa e intervenção junto à população de São João da Boa Vista e cidades da região, buscando a identificação de situações de risco e a operacionalização da percepção psico afetiva do risco. · Possibilitar a formação de alunos de vários cursos do UNIFAE como, por exemplo, Economia, Administração de Empresas, Educação Física, Psicologia e outros, com habilidade e competência para avaliação da problemática de risco psicossocial e na atuação junto a comunidades. 3. Método A pesquisa foi realizada em dois campos distintos, sendo o primeiro em São João da Boa Vista/SP, com mulheres vítimas de abuso sexual e o segundo em Poços de Caldas/MG, com mães em situação de vulnerabilidade psicossocial. O método de coleta de informações utilizado foi o de entrevistas individuais em profundidade que, conforme Gaskell (2002), permitem explorar em detalhe a cosmo visão do entrevistado, sendo que em todas elas realizadas com agendamento prévio, foi explicado o objetivo do estudo e apresentado o termo de consentimento livre e esclarecido e colhida a assinatura de concordância do entrevistado. Foi Pensamento Plural: Revista Científica do também explicada a forma da entrevista, solicitada sua permissão para gravar os depoimentos e observado que estes poderiam ser interrompidos a qualquer momento caso o entrevistado assim o quisesse. Foi também firmado o compromisso de sigilo quanto a identidade dos entrevistados na divulgação dos resultados. Nas entrevistas, buscou-se a narrativa da experiência, na qual as pessoas lembram o que aconteceu, colocam a experiência em seqüência, encontram possíveis explicações para isso e jogam com a cadeia de acontecimentos que constroem a vida individual e social, de acordo com Javchelovitch (apud Fabriani, 2005 p. 38). Esta forma de reconstruir a história e de construir o significado dos fatos leva em conta que contar histórias é uma habilidade relativamente independente da educação e da competência lingüística, e o acontecimento pode ser traduzido em termos indexados, como foi o caso em que a referência é feita a um acontecimento concreto, em um lugar e em um tempo, o abuso sexual no campo 1 e a experiência da maternidade no campo 2. 3.1 PParticipantes: articipantes: 3.1.1. Campo de pesquisa 1: São João da Boa Vista O campo de estudo foi constituído a partir do NEAP (Núcleo de Estudos e Atendimento em Psicologia do UNIFAE – São João da Boa Vista/SP), do qual foram entrevistadas três pessoas, com idade entre 23 e 46 anos, todas do sexo feminino. A seleção dos participantes foi realizada através das seguintes etapas: · Solicitação de autorização à coordenação do curso de psicologia para consulta aos prontuários de pacientes atendidos no NEAP, para seleção de casos com queixa de abuso sexual. · Levantamento dos prontuários de casos atendidos no Neap, quando foram pré-selecionados seis históricos de abuso sexual que, após contato telefônico e residencial, resultaram no agendamento de 3 entrevistas. · Entrevistas com duração entre uma e duas horas realizadas no mês de julho de 2006, em uma das salas de atendimento do NEAP. 3.1.2. Campo de pesquisa 2: PPoços oços de Caldas O campo de estudo foi constituído a partir do LAR CRIANÇA FELIZ, uma instituição que desenvolve um programa de acompanhamento sócio-educativo a mães, crianças e adolescentes. Foram entrevistadas cinco mães de 27 a 59 anos, que têm pelo menos um de seus filhos em acompanhamentos na Instituição e moradoras do Bairro São José. A seleção dos participantes foi realizada através das seguintes etapas: · Apresentação à diretora da Instituição Lar Criança Feliz dos objetivos da pesquisa e solicitação de indicação de cinco mães em atendimento na instituição e seus respectivos endereços. · Escolha por sorteio de um nome a partir dos cinco fornecidos, com quem foi realizado um agendamento da primeira entrevista. As demais entrevistas foram selecionadas seguindo a amostragem por bola de neve, na qual uma nova entrevistada era indicada pela anterior (Fabriani, Tassara, Turato). · Entrevistas com duração entre uma e duas horas, realizadas no mês de julho de 2006, nas residências dos entrevistos, a partir de agendamento anterior. 3.2 Coleta de informações Para coleta de informações as entrevistas foram realizadas através de agendamento prévio, em horário e local em , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 61 61 FABRIANI, C. B. (et al.) que as entrevistadas se sentissem confortáveis e onde pudesse ser preservada a privacidade dos depoimentos. Todas as entrevistas foram gravadas e depois transcritas literalmente, sendo que nas transcrições estão sempre omitidos os dados de identificação. Este controle está restrito a uma ficha que não integra o material da pesquisa. Após a finalização da pesquisa o material gravado será inutilizado. Em ambas as pesquisas, as entrevistas se caracterizam por semi dirigidas, que a partir de perguntas disparadoras se registra o relato do entrevistado sem interrupções ou censuras. O roteiro pré-definido com perguntas disparadoras visava obter dados que pudessem explicar e reconstituir os fatos da história do sujeito a partir de sua percepção e também o registro da elaboração possível com relação a possibilidades de ações de prevenção do fato no campo 1 e no campo 2, sendo que neste último buscou-se também a compreensão da percepção da maternidade e da construção de atitudes de prevenção com relação aos filhos. 3.2.1. Entrevistas campo 1 As entrevistas tiveram quatro perguntas disparadoras. Deu-se início com uma primeira pergunta por meio da qual a entrevistada pudesse relatar sua percepção do acontecimento do abuso. A segunda pergunta teve o objetivo de conhecer o processo decisório quanto a denunciar ou não o acusado. Na terceira pergunta, o intuito foi o de verificar as conseqüências do fato traumático na vida posterior da entrevistada. Na quarta pergunta, o objetivo foi verificar o discernimento decorrente do fato que poderia promover ações de prevenção de repetição da experiência no futuro seja com a própria ou com sua prole. 3.2.2. Entrevistas campo 2 As entrevistas tiveram seis perguntas disparadoras, iniciando com uma pergunta a entrevistada para que esta relatasse sua percepção quando soube da gravidez. A segunda pergunta foi referente à percepção quanto ‘ao ser mãe’, nesta primeira gravidez e parto. Na terceira e quarta perguntas, buscou-se a compreensão da função materna tanto na relação direta com os filhos como na sua inserção na comunidade. Na quinta pergunta, buscou-se uma reflexão sobre a maternidade a partir das múltiplas experiências com os vários filhos e netos. 4. Análise dos resultados O método utilizado foi o de análise da construção do argumento. Busca-se nessa pesquisa identificar os tipos de argumentos utilizados no processo decisório, analisados sob o ponto de vista lógico. Conforme apresentado por Liakopoulo (2002), Blackburn (1996) e Rosa (2003) (apud Fabriani, 2004 p. 43), o interesse no discurso é parcial e objetivamente recai sobre a construção do argumento, entendido como uma série de afirmações com o objetivo de justificar ou refutar determinada opinião. De maneira geral a análise do argumento tem por objetivo apresentar a maneira como as afirmações estão estruturadas no discurso e avaliar sua solidez. Conforme Fabriani (2006), na construção de um argumento é imperioso que se estabeleça uma relação de causalidade entre uma seqüência de experiências e mesmo que incluam certos aspectos ficcionais, devam constituir-se em um todo coerente capaz de levar a uma avaliação da experiência quanto a ser boa ou ruim e ainda possibilitar a elaboração de atitudes conscientes que levem a repetição da experiência ou sua evitação. Na psicanálise, quando falamos do mecanismo de defesa do ego de avaliação e/ou condena62 ção, pressupõe-se um eu suficientemente estruturado para poder entrar em contato com conteúdos psíquicos, muitas vezes penosos do ponto e vista psico-afetivo evocados, mas que são indispensáveis na construção dos significados das experiências pelas quais passa o sujeito. Este processo psíquico fica muitas vezes impedido de se realizar plenamente devido a qualidade e ou intensidade da experiência, tendo como resultado uma compreensão fragmentada e a impossibilidade da construção das atitudes adequadas, ou seja, o processo de pensar fica refém das emoções e submetido a outros mecanismos de defesa do ego, conforme veremos a seguir na análise das entrevistas. Campo 1: Optamos por apresentar um síntese da análise dos dados nas entrevistas e a categorização dos depoimentos estão apresentados de forma completa no anexo 2. Entrevista 1- Verificou-se que a entrevistada não elabora a experiência de abuso de forma a logicamente estabelecer uma relação de causalidade e esta propõe formas de evitação generalistas e preconcebidas não muito eficazes na prevenção e que tem como conseqüência a limitação de experiências e empobrecimento da vida social afetiva. Como forma de compreensão do processo psíquico envolvido, podemos recorrer ao mecanismo psicológico da negação de um aspecto da realidade que é intensamente traumático para o sujeito que, de acordo com Fabriani (2004), a aceitação do conteúdo de um pensamento integra a construção do argumento e a negação de uma idéia existente na construção de um argumento é reprimi-la, ou seja, impedir por um processo psicológico que ela produza seus efeitos na compreensão do presente e na construção do futuro. Portanto, na avaliação de uma situação, a negação de algumas qualidades ou características da situação pode ser considerada como a expressão de um processo psicológico em que o indivíduo que nega, expressa sua preferência de que aquela qualidade não estivesse presente. Para Freud (1925), ao tratar deste processo psicológico da negativa desenvolve uma série de proposições com grandes implicações sobre a compreensão do processo de tomada de decisão pelo indivíduo, passando pela avaliação da situação, afirmando ou “desafirmando” que uma idéia tenha existência na realidade. Entrevista 2 - O processo psicológico pelo qual a segunda entrevistada passou foi a repressão que em sentido amplo, é uma operação psíquica que tende a fazer desaparecer da consciência um conteúdo desagradável ou inoportuno: idéia, afeto etc. Trata-se de um processo automático que mantém fora da consciência impulsos ou sentimentos inaceitáveis. (Freud, 1925) Entrevista 3 - Nesta, pode-se observar um grau maior de elaboração do fato. A entrevistada resignificou o trauma e demonstrou um pensamento criativo com capacidade para criar uma solução para a evitação do fato mais próximo da avaliação consciente dos fatos, pressupondo um ego mais estruturado. Portanto, de maneira geral e se considerarmos o indivíduo vítima de abuso sexual como o grupo social em que se configura o abuso, verifica-se que a prevenção desta situação não é apenas heteronímica, constituída pela criação de mecanismos de denúncia, repressão e punição do agressor, mas a prevenção requer uma participação emancipatória do sujeito vitimizado, conforme apresentado por Tassara & Ardans (2004), como uma ação integração aos “processos de transformação social que suponham não uma passividade dos atores (convocados de cima e de fora, meros receptores das conseqüências das políticas públicas), mas, pelo contrário, uma ação enquanto agentes do processo em todas as suas fases e para todos os efeitos”. Verifica-se, ainda, que esta participação que aqui falamos pressupõe sujeitos capa- Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Implantação de uma cultura de segurança: estudo sobre a avaliação e prevenção do risco zes de pensar sobre as experiências por mais penosas que sejam e criativos na proposição de procedimentos individuais e coletivos que encaminhem soluções de preservação da vida individual e coletiva. Diante disso, a análise dos resultados do campo 1 contribuem para o esclarecimento dos processos psíquicos presentes na situação traumática e aponta para processos psicossociais de intervenção, seja de remediação ou de prevenção que possam pressupor a construção da emancipação. Neste sentido, pode ainda subsidiar o encaminhamento de políticas públicas por parte dos agentes de intervenção, com o desenvolvimento de estratégia participativa de prevenção do abuso sexual. Campo 2: Optamos por apresentar um síntese da análise dos dados em três entrevistas que nos pareceram mais significativas e a categorização dos depoimentos de todas as entrevistas estão apresentadas de forma completa no anexo 2. Entrevista 1 – Pode-se verificar que a entrevistada não desejou ter os filhos, mas, de acordo com sua compreensão, é necessário criá-los. Sua relação com os filhos é marcada pelas obrigações que ela atribuiu como maternas, principalmente àquelas ligadas ao provimento das necessidades básicas (alimentar, vestir e abrigar) e, sentindo grande ansiedade em relação a isso e faz uso do processo psicológico da racionalização, quando encontra motivos plausíveis para pensamentos e ações pouco plausíveis considerando a lógica dos fatos e apresenta também certo embotamento afetivo na relação com os filhos. Entrevista 2 - Verifica-se, a partir do depoimento, que os filhos foram gerados como um movimento quase que apenas biológico, como se a mãe não estivesse imbricada neste processo. Ao falar da maternidade parece colocar uma visão idealializada de uma mãe ideal e não dela mesma, sobre a qual tem uma opinião muito crítica. Entretanto, parece haver um movimento no sentido do resgate das experiências de maternidade com o crescimento dos filhos, ao identificar-se com eles na mesma idade de quando engravidou a primeira vez e resolve abandonar o uso de drogas para não dar exemplo ruim. Em síntese, pode-se falar que é uma situação em movimento, mas que a idéia de maternidade ainda está em construção. Entrevista 3 – A entrevistada tem 3 filhos, afirma não ter planejado nenhum e tudo ter ido acontecendo. Parece que define a maternidade como um cuidar higiênico e com o crescimento dos filhos acrescenta a isto o papel de educadora no sentido da inserção deles na vida social. Entretanto, coloca-se também como filha ou irmã ao procurar nos filhos a cura de cura solidão existencial. Entretanto, seu relacionamento é pautado pela agressividade e desconfiança. Portanto, de maneira geral, pode-se afirmar que a experiência de maternidade para estas mulheres/mães, há pelo menos 10 anos, continua sendo uma “bomba”, um “susto”, uma “droga” percebida em todo o seu contexto emocional, e ainda não significando, em termos de uma elaboração secundária, o que certamente compromete o exercício da função materna, conforme Freud, em que a primeira idéia que o bebê tem sobre si mesmo e o mundo que o cerca é um reflexo de como a mãe percebe esta criança e o mundo. A qualidade deste vínculo primário é introjetada pelo bebê e se constitui na base de estruturação de sua personalidade. Se este vínculo é hostil (rejeição), inconstante (impaciente) o sujeito tenderá a repetir esta forma de compreender o mundo e a si mesmo em todas suas futuras relações consigo mesmo e com a sociedade. Sendo assim, a figura da mãe suficientemente boa trazida, para Winnicott, é interessante ao balizar que ela é quem traduz o mundo para o bebê, dosando a intensidade do contato e oferecendo explicações que comporão eventualmente os significados construídos Pensamento Plural: Revista Científica do pelo próprio indivíduo. Giddens coloca que viver na modernidade é ser capaz de avaliar riscos e esta é uma habilidade digamos, psiquicamente sofisticada, pois implica no estabelecimento de reações de causalidade, no cálculo probabilístico da possibilidade de ocorrência dos fatos e na avaliação da desejabilidade de sua ocorrência, segundo os valores e gostos do sujeito. Este sofisticado processo psicossocial pressupõe um eu suficientemente organizado que oriente as escolhas e saudável no sentido da preservação da vida, ou seja, estamos falando de filhos de mães suficientemente boas. Entretanto, a pesquisa evidencia que estas mulheres estão freqüentemente em desacordo com a maternidade que significa um fardo, um remédio contra a solidão. Enfim, algo em desacordo com sua vida, mas que, por outro lado, dão sentido a viver o cotidiano, o que configura o conflito. Este estado de coisas se traduz nas entrevistas em uma compreensão da maternidade limitada aos cuidados “higiênicos” entendidos como alimentar, vestir, abrigar. Percebe-se ainda um certo embotamento afetivo e o estabelecimento de relações mãe e filhos hostis, em que a rivalidade presente é resolvida com prepotência e ou submissão. Não se percebe, de maneira geral nesta relação, um projeto de vida que oriente o que chamam de educação, na construção de um futuro para si e para os filhos. As intervenções buscam soluções imediatistas que os afastam da construção de Winnicott da mãe suficientemente boa. Percebe-se que a gravidez, de maneira geral, vem em resposta a um anseio de gerarem uma criança que as acompanhasse e impedisse sua solidão. Entretanto, duas entrevistadas mostraram um movimento transformador de maternidade, quando os filhos atingem a adolescência, de buscar ativamente a substituição da rivalidade e a hostilidade pela colaboração e tolerância no relacionamento familiar, inclusive com a decisão de abandono das drogas e da violência com a intenção de proteger e orientar os filhos. Dessa forma, este estudo aponta para a necessidade de intervenções psicossociais junto a grupos de mães visando a elaboração do significado da maternidade como possibilidade de maior satisfação pessoal e, também, a construção de valores de tolerância e cooperação na vida social. 5. Considerações finais Retomando os objetivos gerais desta pesquisa, de estabelecer as relações entre a subjetividade do indivíduo e a relação ao risco, e sua disponibilidade afetiva e cognitiva para modificar a realidade de forma a garantir sua sobrevivência, percebe-se que os entrevistados em sua grande maioria não conseguem aprender com a experiência e desenvolver atos de prevenção em relação a eles mesmos ou em relação a sua prole. Apenas em dois casos, sendo uma no campo 1 e uma no campo 2, percebe-se um movimento ainda que incipiente de alteração de atitudes visando a não repetição da experiência traumática. Especificamente, em relação aos dois parâmetros de avaliação das experiências aqui consideradas, selecionamos o parâmetro proposto por Giddens, o qual afirma que o que caracteriza o mundo contemporâneo é a avaliação do risco. E o que completa este, proposto Lasch, considera que em uma época carregada de problemas, a vida cotidiana passa a ser um exercício de sobrevivência e que, em tais condições, a individualidade transforma-se num bem de luxo, fora de lugar em uma era de iminente austeridade. A individualidade supõe uma história pessoal, amigos, família em um sentido de situação e não se percebe nos programas e projetos conduzidos pelos órgãos governamentais ou não governamentais de atenção psicossocial à população este tipo de preo- , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 63 63 FABRIANI, C. B. (et al.) iniciação cientifica realizados, a contento, em 2006, e pelo menos 4 campos de estágio no curso de psicologia. Por fim, quanto à perspectiva de consolidação desta linha de pesquisa científica, deve-se observar que para 2007 os campos de estágio terão continuidade e deverá ser implantado o projeto “Nós gostamos de gente”, que reúne numa abordagem interdisciplinar professores e alunos dos cursos de psicologia, administração, educação física e comunicação. Todos estes esforços integram o núcleo de Inclusão, conforme definido no Plano de Desenvolvimento Institucional do UNIFAE. ADORNO, T; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento esclarecimento. Jorge Zahar. Rio de Janeiro: [s.n] 1984. Notes Notas (1) The study is part of the Program in Support of the Scientific Research (PAPEC), sponsored by UNIFAE. (1) O estudo integra o Programa de Apoio à Pesquisa Científica (PAPEC), patrocinado pelo UNIFAE. (2) As manifestações culturais recentes trazem inúmeros exemplos deste conflito subjacente ao viver na modernidade, quando podemos citar desde clássicos com Admirável Mundo Novo Novo, de Huxley, e 1984, de Orwell, quanto às produções cinematográficas com THX1138 e, recentemente, Minority Report. Em todas elas está em debate este deslocamento do processo decisório para um poder político maior capaz de conter todas as informações para o “bem viver” e tomar as decisões pelo sujeito que resulta em um eu alienado de si mesmo. Referências cupação, ou seja, de oferecer oportunidades de reflexão da experiência e sua elaboração do sentido de promover o pensamento esclarecido entre esta população e do alimentaria cidadãos com discernimento para decidir sobre os fatos de seu cotidiano no sentido da prevenção da vida. Portanto, esta pesquisa indica a existência de um vácuo a ser preenchido por intervenções pioneiras a partir do mundo acadêmico, seja na forma de estágios e/ou projetos de extensão universitária. Quanto oportunidade de contribuir com a formação de alunos, o projeto propiciou diretamente dois projetos de BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. FABRIANI, C. B Cultura de Segurança versus Cultura de Risco: estudo psicossocial sobre o olhar sobre e a possibilidade de captação de informações ambientais. São Paulo, 2005. Tese (doutorado) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo. _______________, Reflexões sobre as possibilidades de transformação de uma cultura de risco em cultura de segurança emáticas em desenvolvimento social. São João da Boa Vista:: Otoni Editora, com relação ao HIV. Pesquisas TTemáticas 2005. FREUD, S. (1925). A Negativa. In: Edição Standard Brasileira de Obras PPsicológicas sicológicas Completas de reud reud. Trad. sob a direção de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1974. v. 19, p.293 – 300. Sigmund FFreud GASKELL, G. Entrevistas individuais e grupais. In Pesquisa Qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático, Org. Bauer e Gaskell. Petrópolis: Vozes, 2002. GIDDENS, A (1991) Modernity and self-identity: Self and society in the late modern age age. California: Stanford University Press, 1999 GRANATO, T.M.M. Encontro terapêutico com gestantes à luz da preocupação materna primária. primária 2000. 106f. Dissertação (mestrado) - Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo: 2000. LASH, C. (1984) O Mínimo Eu: Sobrevivência psíquica em tempos difíceis difíceis. São Paulo: Brasiliense, 1986 LIAKOPOULOS, M. Análise Argumentativa Argumentativa, in Pesquisa Qualitativa com Texto Imagem e Som: Um manual prático. Org. Bauer e Gaskell. Petrópolis: Vozes, 2002. 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Coletâneas 64 Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Referências Implantação de uma cultura de segurança: estudo sobre a avaliação e prevenção do risco eflexões Geopolíticas Sobre PPolítica olítica Ambiental. TTrabalho rabalho ______________ Psicologia Ambiental e Futuro – R Reflexões Apresentado No Simpósio Internacional: ““O O PPapel apel da PPsicologia sicologia Ambiental No Estudo das Questões Ambientais”. LLapsi-Iaps. apsi-Iaps. São PPaulo, aulo, 2002. TASSARA, E.T.O, & ARDANS, O. Participação Emancipatória: reflexões sobre a mudança social na complexidade contemporânea. Revista Imaginário n.º 9 NIME – LABI. Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo: 2003.01 p.211 - 267. TURATO, E.B. Tratado de metodologia e pesquisa clínico clínico--qualitativa qualitativa: construção teórico-epistemológica, discussão comparada e aplicada nas áreas de saúde e humanas. Petrópolis: Vozes, 2003. Abstract WINNICOTT, D. W. (1960). Distorção do ego em termos de falso e verdadeiro “self”. In: O ambiente e os maturação: estudo sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artes Médicas, processos de maturação 1983. In this research1 the authors search to establish the relationship between individual subjectivity in relation to the risk and its affective and cognitive availability to modify the reality in order to guarantee its survival. This work investigates what people of a community think about the factors that threaten their survival and the survival of the group. The subjects of this research are women who had passed through a traumatic experience. This research had two different fields. In field 1 was made three interviews with women patients with ages between 23 and 46 years old, from NEAP (Nucleus of Studies and Attendance in Psychology - UNIFAE, in São João da Boa Vista /SP). In field 2 was made 5 interviews with mothers, with ages between 27 and 59 years old, from the same community assisted by HOME HAPPY CHILD (Lar criança feliz), an institution that develops a social program with mothers, children . The method for data collection was individual interviews “in depth” which allows to explore in detail the cosmo vision of the interviewed, searching from the narrative of experiences, that people remember what happened to them, find a sequence for them experiences, they find possible explanations for this and they understand events that construct the individual and social life. After argument analyses from the text of the interviews, it can be observed that the interviewed ones, in its great majority, do not learn with the experience in order to develop acts of prevention in relation to them or their descendents. But in two cases, one in field 1 and one in field 2, showed an incipient movement in constructing some change in tjheir environment in order to avoid the repetition of the traumatic experience. Key words Women, Individual Subjectivity, Affective and Cognitive Availability, Social Psychology Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 65 65 Perfil Kamal Abdel Radi Ismail, uma vida dedicada à ciência Camilo Antônio de Assis Barbosa Coordenador do Curso de Jornalismo do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE e professor da Universidade do Vale do Sapucaí UNIVÁS e do Instituto Nacional de Pós Graduação – INPG, com mestrado em Comunicação e Mercado pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero E-mail: [email protected] Sala 312, bloco G, prédio de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas... É nesse endereço, em meio a centenas de livros dos mais variados temas, junto a fotos e peças egípcias que se encontra um exemplo de pesquisador no País, o professor Dr. Kamal Abdel Radi Ismail ou simplesmente, Kamal, como prefere ser chamado. É nesse local, em 18 de outubro de 2007, que o cientista nos recebe para a entrevista. Graduado em Engenharia Mecânica pela Universidade do Cairo (1963), Mestre em Engenharia Mecânica pela University of Assiut (1966), também no Egito, e Doutor em Engenharia Aeronáutica pela University Southampton, na Inglaterra (1972), ele não esconde a paixão pelo ensino e pela pesquisa. Seus 212 artigos publicados, aliados aos oito livros, 39 orientações de mestrado, 27 de doutorado e as centenas de experimentos desenvolvidos conferem ao pesquisador um diferencial que poucos profissionais realizam ao longo de toda a vida. A marca do pesquisador 1. Ter clareza desde muito jovem do que queria estudar – ENGENHARIA AERONÁUTICA; 2. Ter buscado com persistência as oportunidades de estudo e trabalho que o aproximassem deste objetivo mantendo uma grande independência em suas escolhas, isto é, não se deixando influenciar por dinheiro ou prestígio; 3. Considerar a formação de professores e pesquisadores com uma concepção bastante democrática com relação à divulgação do saber. Nesse sentido, acolheu solicitações de várias IES, inicialmente no Iraque e depois no Brasil (USP/São Carlos, Universidade Federal do Maranhão/São Luiz, UNIFAE/São João da Boa Vista) centros onde apoiou a celebração de convênios visando a formação de professores e pesquisadores; 4. Considerar a gestão universitária como um meio para atingir seus objetivos de formação de professores, pesquisadores e democratização no acesso ao saber; 5. Ter persistência para a concretização do curso de Engenharia Aeronáutica na UNICAMP, em 2003. O início de tudo Nascido na cidade de Suez, no Egito, em junho 1940, Kamal sempre gostou das exatas, destacando-se, desde muito cedo, nas áreas de matemática e física. Mas não só os números fazem parte de sua vida. As línguas também acompanharam seu aprendizado. O inglês, o francês, o alemão e, por último o português, são companheiros das leituras, viagens e trabalhos que desenvolve. O pai era engenheiro ferroviário e todos os irmãos fizeram curso superior. Mas não eram ricos. Os estudos foram custeados pelo Estado, que garantia as bolsas em função das notas altas. Na Universidade, os estudos também foram cobertos pelo mérito, inclusive os livros. “Não recebíamos dinheiro, mas podíamos escolher as literaturas que nos eram dadas. Para garantir o ensino, era preciso se 66 destacar. Enquanto o professor estava no primeiro capítulo eu já estava no terceiro”. No Egito, foi o terceiro da turma no vestibular nacional. Já no curso de engenharia, na Universidade do Cairo, não se contentava com o que os professores colocavam em sala. Segundo suas próprias palavras, sempre queria mais. Recém-formado, atuou como assistente de ensino na University of Assiut (UNIASI), onde permaneceu até 1965. Lá, desenvolveu pesquisas sobre atrito em bombas hidráulicas. “A faculdade estava começando. Não tínhamos laboratório. Precisei montar tudo. Na época, com criatividade, estudo e muito esforço criamos tudo o que precisávamos”. Aliado às aulas o pesquisador dava continuidade aos estudos, desenvolvendo seu mestrado, o primeiro da UNIASI. A vontade de aprender e o jeito irrequieto e independente o levaram a novos sonhos, o doutorado. Foi para a França desenvolver sua tese em 1966/67. Queria estudar Aeronáutica, mas tal temática era reservada somente aos franceses. “Não podíamos assistir algumas aulas específicas. O que me foi oferecido eram estudos em matemática. Isso não me fazia feliz. E os colegas diziam que se eu mudasse perderia a bolsa. Mas não estava atrás de um pedaço de papel, de um diploma. Estava em busca do aprendizado”. Kamal muda-se então para a Inglaterra. “Para o cientista o diploma é conseqüência. O grande barato é aprender. Para dar um exemplo, não consigo dar aula duas vezes da mesma forma”. Inglaterra, Iraque e Brasil Da graduação ao doutorado o professor envolveu-se em diversas pesquisas sobre energia, com ênfase na solar e térmica, e em estudos sobre aerodinâmica. A vinda para o Brasil, em 1973, deu-se porque conheceu brasileiros nas terras inglesas. “Sempre gostei deles. Eram alegres, honestos. Foi interessante esse meu novo rumo, porque não falava nem uma palavra em português e o único livro que li sobre o país falava mais da América Latina que do próprio Brasil”. Mas a chegada do cientista foi demorada por razões burocráticas no Brasil. Enquanto esperava, foi para Iraque. Kamal lecionou na Universidade de Mosul, em 1972, como professor visitante, ministrando disciplinas na graduação e na pósgraduação para civis e militares, na área de engenharia mecânica. Lá, ele também montou um parque de laboratórios. “Foi o único lugar em que trabalhei e que não conseguia gastar um terço do que ganhava. Quando foi para vir para cá, dobraram meu salário”. Mas, como já tinha contrato firmado com a Unicamp e já pensava em vir há algum tempo, optou por vir para o Brasil. A Unicamp Em 1973 inicia suas atividades na Universidade Estadual de Campinas, onde implanta pesquisas inéditas na área de energia térmica. O pioneirismo trouxe desafios. “Eu acho que fazer pesquisa é quando você inicia usando Pensamento Plural: Revista Científica do , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 Universidade de São PPaulo aulo Kamal foi ainda professor colaborador da Universidade de São Paulo (1977-81), na graduação e pós-graduação, em São Carlos, e participou da criação de ênfase de aeronáutica. “Fui para auxiliar na formação do corpo docente. Em sala ficavam professores e alunos. A cada semestre os professores assumiam gradualmente as disciplinas dadas. Formamos vários docentes dessa forma. Na pós, buscamos a formação de mestres, conseguindo a conclusão de um profissional que se formou e que depois foi para a Inglaterra continuar as pesquisas”. Diretor da Faculdade de Engenharia Mecânica “Nunca pensei em atuar na área administrativa. Só pensava nisso quando achava que algo não ia bem”. E foi assim, de 2002 a 2006, que o pesquisador assume a Direção da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp. Dentre as diversas atividades realizadas, lembra de algumas que considera marcantes, como o aumento do número de vagas de 60 para 140 na engenharia mecânica. Em troca, o governo do estado garantiu mais de 4 milhões de reais em investimentos para equipamentos e infra-estrutura. Observa que na sua gestão, escutava mais as pessoas. “Os técnicos, funcionários e professores eram tratados de outra forma. Penso que a faculdade ficou mais amigável, social e menos um prédio de apenas paredes”. Os alunos de graduação sempre foram o foco do pedagogo/administrador. Assim, comprou novos micros, deu mais liberdade para o uso das instalações durante o dia todo e implantou um sistema de segurança interno. Pelos corredores da faculdade vêem-se alunos reunidos, conversando, lendo ou simplesmente discutindo assuntos das aulas, espalhados pelas muitas mesas colocadas na gestão de Kamal. “Muitos diziam que eles Pensamento Plural: Revista Científica do iam quebrar os computadores, estragar as mesas, tirar o sossego porque ficariam nos corredores. E o que se vê é isso, uma harmonia e o uso do patrimônio público com tranqüilidade, facilitando o ensino, como eu queria que fosse”. Outro trabalho foi a criação de mais sete modalidades de especialização como em aeronáutica, automotiva, energia e meio ambiente, petróleo, etc. “Reformulamos a pósgraduação sem mexer na estrutura, garantindo novos acessos e viabilidades aos estudantes”. Kamal começou a atuar na pós-graduação em 1974, participando tecnicamente na elaboração do projeto de pós-graduação em engenharia mecânica, que levou ao reconhecimento pela Capes do curso de mestrado em 1974 e do doutorado em 1975. As ementas eram preparadas em inglês e traduzidas para português. Sempre participou das mudanças na graduação e na pós-graduação. Em 1996 assumiu a coordenação da pós-graduação, reformulando o curso, mudando os procedimentos acadêmicos, regimento, critérios de bolsa, acesso dos alunos aos recursos financeiros de pós-graduação, incentivando a participação dos alunos nas divulgações de pesquisa junto com seus orientadores. Como conseqüência subiu o conceito do curso de (B-) para nível cinco e depois 6. O professor auxiliou ainda na implantação do mestrado profissional em 2000 e contribuiu para a montagem do curso de aeronáutica, em 2003. Perfil os recursos que têm. Universidade não é ter recursos milionários. Você pode fazer muita coisa e com recursos mais modestos. Por exemplo, montei um túnel de vento junto com meus alunos para o curso de Aeronáutica da Unicamp. Ele custou R$ 90 mil, sem importar nenhuma peça. Se fôssemos comprar fora, custaria R$ 400 mil. E o principal do projeto é que os alunos aprenderam na prática e montamos uma bela estrutura com recursos condizentes com nossa situação”. A trajetória na Unicamp, onde é Professor Titular desde 1980, é marcada pelas experiências pedagógicas, atividades práticas, desenvolvimento de pesquisas e na luta pelo crescimento do curso de Engenharia Mecânica e da própria Universidade. “No começo de tudo, era preciso implantar os laboratórios de graduação em mecânica. E lá fomos eu e o Dr. Zeferino Vaz (de quem fala com muito respeito) com projeto em inglês debaixo do braço, até São Paulo buscar investimentos. O primeiro convênio firmado na faculdade de Engenharia foi com a Companhia de Gás de SP”. O pesquisador tem no currículo o fato de ser um dos desbravadores na Unicamp. Através de uma proposta enviada ao Reitor, Dr. Zeferino Vaz, muda o destino dos laboratórios de engenharia mecânica, trazendo-os para o domínio do departamento da mecânica ao invés de Centro de Tecnologia. Do laboratório de mecânica nasce o primeiro livro, escrito em 1981, com base nos experimentos próprios desenvolvidos na universidade. “Em um ano montamos 14 experimentos. A ciência está nas coisas simples. Com um fogão, por exemplo, pode-se fazer pelo menos oito experiências básicas. Gosto de desafios... se não os encontro os procuro”. Dois prêmios Zeferino V az Vaz Ele carrega na vasta bagagem dois prêmios Zeferino Vaz, ganhos em 1996 e 2006, em função de sua produção científica que é uma das mais altas da Unicamp. Segundo ele, trata-se de um pesquisador não alienado, pois gosta de gente e de estar no meio das pessoas. “Trabalhar a pesquisa é muito fácil, é prazeroso, está no sangue. Gosto de alunos que entendam, não que simplesmente aprendam, mas que saibam utilizar as informações para a vida. Sou fascinado pelo ensino que muda a realidade. Aprendi com pessoas que também gostavam de ensinar e acho que isso foi fundamental para minha carreira”. Kamal implantou linhas de pesquisa inéditas no país, como tubos de calor aplicados a geração de energia não convencional, armazenamento de calor, bancos de gelo e janelas térmicas passivas e ativas. Dicas aos pesquisadores Sobre as orientações que daria a quem quer iniciar no campo das pesquisas ou àqueles que já perseguem tais objetivos, o professor diz que é preciso ser persistente, sério e honesto acima de tudo. “Honestidade para dizer que não entendeu, que não sabe, mas que vai correr atrás. Honestidade para reconhecer, também, os méritos dos outros”. Um sonho “Ainda tenho um sonho: fechar e abrir os olhos e ver que as universidades mais afastadas, como as do norte e nordeste, tenham atingido um nível de excelência. Penso que os núcleos de excelência no ensino fazem muito pouco pelas regiões do país que têm mais dificuldade”. Realização pessoal Sobre a realização pessoal e profissional, o professor ainda mostra fôlego, como se estivesse começando a carreira. “Ainda quero fazer muito. Posso dizer que sou quase realizado, mas ainda tenho desafios a cumprir”. No final, terminamos a entrevista visitando os laboratórios, onde Kamal nos apresentou cada experimento desenvolvido por ele e seus alunos, tais como, o túnel de vento que o enche de satisfação. , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 67 67 Resenha Lição de casa para os administradores Maria Izabel Ferezin Sares Professora do Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE e da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC-Minas é graduada em Administração e em Direito pela Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB com mestrado em Administração pelo Centro Universitário de Franca - UNIFACEF e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP. E-mail: [email protected] A obra é dividida em doze capítulos, nos quais são apresentados e discutidos conceitos simples e de conhecimento difundidos, mas que acabam ficando esquecidos diante da enormidade de modelos que eclodem no mundo da gestão e que se propõem a resolver os problemas dos executivos. O que muito se procura nas obras que tratam de problemas administrativos são as famosas receitas prescritas como um mapa para levar as organizações a status privilegiados de sucesso. O livro apresenta muitos destes mapas, cabendo destaque para conceitos como ETDBW (Easy To Do Business With) Fácil de fazer negócios. A sigla é para lembrar aos administradores que o preço do produto não se restringe ao valor pago pelo cliente, o preço é apenas parte do custo: os clientes ainda pagam pela dificuldade no acesso e nas transações. Em muitas situações estas dificuldades não estão claras para os administradores, sendo assim o autor apresenta um diagnóstico do problema e alternativas para saná-lo. A solução apontada é que as empresas devem se apresentar de forma única para os clientes, que não devem ficar perdidos, procurando como atender suas necessidades. O autor também sugere que a base para a segmentação deve ser as características do cliente e a que o auto-serviço deve ser explorado. O autor destaca a importância dos administradores entenderem o negócio com o qual a empresa trabalha, muitos exemplos são citados que demonstram que a visão equivocada da atividade da empresa leva também a decisões menos precisas. As empresas vendem produtos, mas os clientes compram soluções, assim os preços devem ser formatados com base no valor e não no custo. Ainda são apresentados os processos como essência para a gestão e que os mesmos devem ser um estilo de vida, bem como devem ser abandonadas as mensurações de indicadores usados no passado, os quais devem ser substituídos por indicadores oportunos, fáceis de calcular e de compreender. Quanto à área de pessoal, as recompensas devem considerar o desempenho grupal e a estrutura formal deve ser substituída por uma liderança inspiradora. O autor não traz para a discussão um modelo novo como o fez na obra “Reengenharia - Revolucionando a Empresa”, lançada em 1993, com James Champy. O livro citado teve um impacto muito grande no mundo gerencial e resultou nos destaques que o autor recebeu junto a crítica nos meios de comunicação. Mesmo assim, apresenta uma somatória de posições já testadas e que de forma duradoura produziram resultados. Pensar naquilo que o cliente compra e não se dedicar àquilo que a empresa produz é um alerta apresentado por vários autores que trataram do tema do comportamento do consumidor e também foi fartamente apresentado por Peter Drucker durante sua atuação como consultor. O processo como essência contraria algumas posições, como a de Wright et al (2000) de que uma empresa deve competir considerando o equilíbrio de seus recursos físicos, humanos e organizacionais. Mas é sabido que a cultura japonesa se detém predominantemente sobre o processo, ou seja, a forma de organizar sua produção e encontra neste diferencial sua vantagem competitiva. Na área de pessoal também não existe novidade, a liderança inspiradora e as redes de relacionamento são amplamente utilizadas. Ainda há que registrar que muito embora não existam posições novas a grande contribuição é que a obra reuniu alguns pontos que somados produzem uma relação sinérgica com a grande vantagem de serem simples de entender e aplicar. É um livro para ficar na cabeceira dos administradores e gestores e ser lido e relido para que os conceitos sejam repensados e sirvam de subsídio científico nos momentos de sua aplicação aos fatos do cotidiano. Credenciais do Autor Michael Hammer é criador de conceitos como reengenharia e organização voltada para processos que marcaram a gestão das empresas a partir dos anos 90. Foi considerado pela revista Businees Week um dos quatro pensadores gerenciais mais importantes da década de 90 e também foi incluído pela Revista Times como uma das 25 pessoas mais influentes da América. Foi professor do MIT ( Massachusetts Institute of Technology). Referências Bibliográficas D´ONOFRIO, S. Metodologia do trabalho intelectual. São Paulo: Atlas, 1999. Administrando em tempos de grandes mudanças. São DRUCKER, P. F.Administrando Paulo: Pioneira, 1995. GONÇALVES, E. P. Conversas sobre a Iniciação Científica. Campinas: Alínea, 2003. eengenharia. Rio de Janeiro: Campus, 1994. HAMMER, M., CHAMPY, J.. R Reengenharia. WRIGHT, P.; KROLL, M.; PARNELL, J. Administração estratégica: Conceitos.. São Paulo; Atlas, 2000. 68 Pensamento Plural: Revista Científica do HAMMER, M. A agenda: o que as empresas devem fazer para dominar esta década década. Rio de Janeiro: Campus, 2001. (Tradução: Afonso Celso da Cunha Serra). , São João da Boa Vista, v.1, n.1, 2007 LINHA EDIT ORIAL EDITORIAL Serão considerados para publicação na Revista manuscritos em português que se enquadrem dentro de uma das modalidades abaixo: Artigo original original: refere-se a trabalhos inéditos de pesquisa, sendo aceitos artigos que já foram publicados resumidamente em anais de congressos. Devem seguir a forma usual de apresentação, contendo introdução, método, resultados, discussão e considerações finais, de acordo com as peculiaridades de cada trabalho. Unifae-documento Unifae-documento: refere-se aos trabalhos de conclusão de curso (TCC), relatórios finais de estágios, projetos experimentais, relatórios de projetos de extensão, e monografias produzidos nos diferentes cursos de graduação e de pósgraduação do UNIFAE. Revisão Revisão: Artigos de reflexão e análise de pesquisa bibliográfica destinada à apresentação do progresso em uma área específica, com o objetivo de dar uma visão do estado da arte do ponto de vista do especialista altamente qualificado e experiente. A Comissão Editorial do UNIFAE poderá, eventualmente, convidar pesquisadores qualificados para submeter artigo de revisão. Perfil erfil: Divulgação dos caminhos para produção da ciência através da apresentação do perfil de pesquisadores nas várias áreas do conhecimento de interesse da revista. Resenha Resenha: Análise crítica de livro relacionado ao campo temático do periódico. Nota Técnica Técnica: destinada à comunicação e divulgação de métodos, técnicas, aparelhagens ou acessórios desenvolvidos em diferentes áreas, relatos de casos, relatos pedagógicos e relatos de congressos dentro da área de origem do autor do manuscrito. Não sendo exigidas originalidade e exclusividade na publicação. Os textos enviados à Revista devem ser originais e ao enviarem seus textos para avaliação, os autores se comprometem a não submeterem o mesmo material a outro periódico. Os trabalhos enviados serão analisados por revisores, especialistas reconhecidos em cada tema abordado, para tanto os textos serão encaminhados sem a identificação do(s) autor(es) e a decisão final sobre a publicação caberá à Comissão Editorial. O material encaminhado não será devolvido aos autores e nem os pareceres serão divulgados. A Comissão Editorial informará sobre o resultado da avaliação A Comissão Editorial se reserva no direito de solicitar aos autores possíveis alterações nos textos aprovados para publicação. Os trabalhos que receberem sugestões, mesmo que pequenas, serão encaminhados ao(s) autor(es) para as devidas adaptações. A Comissão Editorial se reserva no direito de convidar especialistas para publicação de textos de relevância em determinadas áreas de interesse. As matérias assinadas são de total responsabilidade dos autores. Todos os direitos reservados ao UNIFAE, sendo permitida a publicação de trechos e de artigos, com autorização prévia e identificação de fonte. Todos os textos e contribuições aceitos pela Revista Pensamento Plural tornar-se-ão propriedades desta Revista cabendo à Comissão Editorial deliberar sobre a publicação nesta ou em outros veículos, em até 24 meses a contar da data de aceitação. NORMAS EDIT ORIAIS EDITORIAIS O texto submetido à apreciação para publicação deverá apresentar as características técnicas apontadas a seguir: • • • • • Papel A4; Digitado em Word for Windows; Fonte: Times New Roman tamanho 12; Sem espaçamento entre parágrafos e 1,5 entre linhas, com alinhamento justificado; Margens Esquerda 3,0 cm da borda; superior 3,0 cm da borda; direita 2,0 cm da borda; inferior 2,0 cm da borda; • A primeira página deverá conter: o título com no máximo 8 palavras e nome(s) do(s) autor(es). Em seguida, deverá apresentar para cada autor, uma breve descrição de sua atividade atual e/ou cargo, formação e titulação, e seus respectivos e-mails. • A segunda página deverá conter o resumo com no máximo 200 palavras acompanhado de 5 palavras-chave, seguido do Abstract e Keywords; • Palavras de línguas estrangeiras utilizadas no texto, deverão ser marcadas com itálico; • O uso de negrito somente será permitido para título e subtítulos, não sendo permitido no corpo do texto em quaisquer circunstancias; • Deverá conter no caso de: Artigo original de 5000 a 8000 palavras, Unifae-documento de 5000 a 8000 palavras, Revisão de 2000 a 5000 palavras, Perfil cerca de 2000 palavras, Resenha cerca de 1000 palavras e Nota técnica cerca de 1000 palavras. Excetuando-se as referências bibliográficas. • As figuras (gráficos, fotos, tabelas, esquemas etc.) deverão ter qualidade gráfica adequada (usar somente fundo branco) e deverão estar devidamente identificadas. As fotos, bem como figuras escaneadas, devem ser em alta resolução (800 dpi/ bitmap para traços) com extensão tif ou jpg. • Citações com mais de três linhas deverão ser recuadas no texto em um centímetro, sem aspas e em fonte tamanho 11 conforme exemplo abaixo: Da mesma forma, a descentralização não significa apenas transferir atribuições, de forma a garantir eficiência, mas é vista sobre tudo como redistribuição de poder, favorecendo a democratização das relações entre Estado e Sociedade e a democratização do acesso aos serviços (FARAH, 2000, p. 12). • As eventuais notas deverão ser numeradas seqüencialmente e apresentadas antes das referências bibliográficas. • As referências bibliográficas devem ser citadas no corpo do trabalho com indicação do sobrenome do(s) autor(es), ano e página de publicação. Elas deverão ser apresentadas em ordem alfabética no final do texto, de acordo com o Manual de Produção de TextosCientíficos do UNIFAE, disponível no site: www.fae.br; A responsabilidade pela correção ortográfica e gramatical, revisão da digitação, formatação do texto segundo as normas da revista e do Manual de Produção de Textos Científicos do UNIFAE é/são do(s) autor(es). Os manuscritos deverão ser encaminhados para publicação em 3 vias impressas e 1 via em CD que deverá conter os respectivos arquivos originais de gráficos, fotos e esquemas e também estar acompanhados de carta ao editor geral da revista, conforme modelo disponível no site www.fae.br/pensamentoplural, onde consta a autorização do(s) autor(es) para publicação na Revista Pensamento Plural: R evista Científica do UNIF AE Revista UNIFAE AE. As dúvidas podem ser esclarecidas através do e-mail: [email protected] Todo o material deve ser encaminhado para o endereço: Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – FAE Largo Engenheiro Paulo de Almeida Sandeville, 15 CEP 13.870-377 – São João da Boa Vista - SP