Revista Científica Revista Científica Intr@ciência EDIÇÃO V ISSN: 2177-3645 ARTIGOS CIENTÍFICOS POESIAS TEXTOS DE REFLEXÃO ACADÊMICA NORMAS RESENHA Faculdade do Guarujá Dezembro/2012 [email protected] Revista Eletrônica Intr@ciência Expediente OR ADMINISTRAÇÃO SUPERIOR Presidente José Fernando Pinto da Costa Vice-Presidente Cláudia Aparecida Pereira Diretor Geral da Faculdade do Guarujá Prof. Me. Benedito Luiz Franco CONSELHO EDITORIAL Editor Responsável Prof. Me. Klim Wertz Schender Coordenadores de Revisão Profa. Ma. Solange Kitahara Profa. Ma. Roseli Arboleya Ratcov Franco Conselho Editorial Profa. Ma. Berta Lucia Tagliari Feba Profa. Ma. Claudinice Maneira Goulart Prof. Aldemir Vicente de Almeida Kelly Castro Pieroni Prof. Marat Guedes Barreiros Profa. Yara Maria Antonietti Silveira Equipe de realização Adriana Fidelis de Souza Bruno Spagnuolo Os trabalhos assinados são de exclusiva responsabilidade responsabilidade dos seus autores. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, desde que devidamente citada a fonte. Foto da capa: Barco de pesca na entrada do porto de Santos 2 Revista Eletrônica Intr@ciência SUMÁRIO I. ARTIGOS CIENTÍFICOS ................................................................................................ ................................ ................................................ 4 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL NO SEGMENTO HOTELEIRO ................................................. ................................ 4 BREVES APONTAMENTOS ACERCA DA TRANSFUSÃO DE SANGUE EM TESTEMUNHAS DE JEOVÁ. ................................................................................................................................ ................................ ....................................... 25 PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: prática e ética docente ........................................................... ................................ 31 MEDIAÇÃO DE CONFLITOS: o papel do ministério ministério público face a indisciplina no contexto escolar................................................................................................................................. ................................ ...................................... 41 UMA ANÁLISE SOBRE A PENA DE MORTE ................................................................ ................................................ 44 CENTRO DE DADOS (DATACENTERS) ................................................................ ........................................................ 52 A EDUCAÇÃO COMO PRESSUPOSTO DE UMA FORMAÇÃO PROFISSIONAL ADEQUADA À SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: as alternativas para superar a crise do desemprego estrutural ................................................................................................................................ ................................ .................................. 60 A TEORIA DA JUSTICA DE JOHN RAWLS E A PROBLEMÁTICA ARGUMENTATIVA E PRINCIPIOLÓGICA ENTRE A IGUALDADE DE OPORTUNIDADES E A DISTRIBUIÇÃO DE RIQUEZAS ................................................................................................................................ ................................ .................................. 75 A ALMOFADA DE PENAS: um conto, duas histórias ................................................................ ................................. 85 II. POESIA ................................................................................................................................ ................................ ................................... 94 PROFESSORA ................................................................................................ ................................ ............................................................. 94 VOTOS ................................................................................................................................ ................................ ....................................... 95 III. REFLEXÃO ACADÊMICA ................................................................................................ ................................ ........................................... 96 ASSASSINATO DE MULHERES ................................................................................................ ................................... 96 TODA A NUDEZ DO PODER ................................................................................................ ....................................... 98 NO CAMINHO DA CIVILIZAÇÃO .............................................................................................. .............................. 100 SENSO CRÍTICO ................................................................................................ ................................ ....................................................... 105 O MULTICULTURALISMO E OS DIREITOS DE COTAS NA EDUCAÇÃO. .................................... ................................ 107 IV. NORMAS .............................................................................................................................. ................................ .............................. 112 O EMPREGO DAS ASPAS: texto acadêmico ................................................................ ............................................ 112 EMPREGO DAS INICIAIS MAIÚSCULAS E MINÚSCULAS: texto acadêmico ............................. 113 COLCHETES [ ] / PARÊNTESES ( ): texto acadêmico .............................................................. .............................. 114 GRAFIA DE ESTRANGEIRISMOS: texto acadêmico................................................................ .................................. 115 MESTRE E MESTRA: texto acadêmico................................................................ acadêmico ..................................................... 116 V. RESENHA............................................................................................................................... ................................ ............................... 117 LIBRAS? que língua é essa?..............................................................................................117 essa?..............................................................................................117 3 Revista Eletrônica Intr@ciência I. ARTIGOS CIENTÍFICOS SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL NO SEGMENTO HOTELEIRO1 SCHENINI, Pedro Carlos2 LEMOS, Renato Nunes3 SILVA, Fernando Amorim da4 da Resumo: Atualmente é uma questão de bom senso empresarial investir na conservação do meio ambiente visto o rápido avanço a um mundo mais populoso e consumista e, conseqüentemente, muito mais ameaçado pela poluição e degradação ambiental. Indústrias do turismo no mundo inteiro, em particular a hotelaria, estão trazendo para o dia-a-dia dia de seus negócios o gerenciamento ambiental, pois os recursos naturais ameaçados ameaçad são base da manutenção das atividades desse setor. Dessa forma, o presente artigo teve o objetivo de verificar a adaptabilidade do Sistema de Gestão Ambiental (SGA), baseado na Norma ISO 14001, ao gerenciamento de uma organização do segmento hoteleiro localizada l em Florianópolis. O estudo se justifica pela necessidade e importância do SGA em colaborar para a obtenção da sustentabilidade através de uma gestão ecologicamente correta do segmento hoteleiro, que pode valer-se se de uma posterior certificação ambiental ambiental como instrumento de competitividade. Palavras-chave: Sistema de gestão ambiental; Norma ISO 14001; Turismo; Segmento hoteleiro. 1 SCHENINI, P. C.; LEMOS, R. N.; SILVA, F. A. da. Sistema de gestão ambiental no segmento hoteleiro. In: Seminário de Gestão de Negócios, 2., 2005, Paraná. Anais do II Seminário de Gestão de Negócios.. Paraná: FAE, 2005. 2 Doutor em Engenharia de Produção pela UFSC, Mestre em Administração pela UFRGS. Professor da UFSC e Coordenador do Núcleo de Pesquisas e Estudos em Gestão do Meio Ambiente (NUPEGEMA). E-mail: E mail: [email protected] 3 Mestre em Administração pela UFSC. Professor da Faculdade SEAMA. e-mail: [email protected] 4 Mestrando em Administração da Universidade Federal de Santa Catarina. e-mail: mail: [email protected] Endereço para contato: Núcleo de Pesquisas e Estudos em Gestão do Meio Ambiente (NUPEGEMA). (NUPEGEMA) Centro Sócio Econômico, sala 222, Campus Universitário, Trindade, Trin Florianópolis-SC. CEP 88.040-900. 4 Revista Eletrônica Intr@ciência INTRODUÇÃO Atualmente, o meio ambiente vem sendo tema em evidência. Pressões referentes à preservação ambiental são cada vez mais vistas e vindas de todas as partes. Tal preocupação é notória visto a quantidade de leis pertinentes ao assunto, formações de organizações organizaçõe visando trabalhos relacionados à preservação do meio ambiente, preocupação da comunidade, clientes a procura de produtos e serviços ecologicamente corretos, gestões ambientais nas organizações. O segmento organizacional produtivo é considerado como o principal pri causador de impactos no meio ambiente, mas os recursos naturais são utilizados por todos e, desta forma, todos tem responsabilidade ética com o meio ambiente. Sendo responsabilidade de todos, pessoas cada vez mais conscientes dos problemas ambientais ambientai utilizam produtos e serviços que venham a causar mínimos impactos. Não obstante disso, organizações, até como forma de sobrevivência e competitividade, vem trabalhando através de gestões e operações ambientalmente responsáveis. A realidade de mercado da hotelaria prevê a médio e longo prazo sua sobrevivência ligada à atratividade exercida pela localização do hotel e as características apresentadas pelo próprio estabelecimento. Particularmente no Brasil, tal realidade está muito mais potencializada visto que ue o patrimônio natural do país é seu maior atrativo. Hotéis do mundo inteiro estão trazendo o gerenciamento ambiental para o dia-a-dia dia dia de seus negócios, tendo em vista grandes preocupações com a utilização de recursos naturais crescentemente ameaçados. Os hotéis também usam recursos naturais e, ao utilizá-los, utilizá los, provocam sua redução, representando significativo impacto ambiental. Impactos também decorrentes do lixo gerado, dos equipamentos, dos produtos de uso diário, de efluentes líquidos misturados com detergentes ergentes e outros dejetos orgânicos lançados em mares e rios. Tendo consciência da variedade e dimensão dos impactos causados por essa atividade e afetando diretamente esse próprio segmento, a utilização de um sistema de gestão ambiental nos hotéis surge como omo garantia futura de grandes retornos. Visando solucionar a problemática desse cenário que envolve a hotelaria e sua necessidade de competitividade através de serviços ambientalmente corretos, e em conformidade com a legislação, sugere-se sugere o desenvolvimento to desse artigo que tem como 5 Revista Eletrônica Intr@ciência objetivo apresentar estudos no SGA – Sistema de gestão ambiental, relativo ao segmento hoteleiro, para conhecer ações e procedimentos de gerenciamento em conformidade com a Norma ABNT – ISO 14001. A adoção de um SGA – Sistema dee Gestão Ambiental, especialmente o que atenda a ISO 14001, representa importante passo para a organização hoteleira, principalmente porque passa a ser vantagem competitiva em um mercado onde as organizações apenas atuam nos limites das conformidades de Leis Leis Ambientais. Dessa forma, os estudos feitos para a implementação de um SGA na hotelaria, serão conduzidos com base às questões contidas nas normas oficiais, que atenda as exigências da ISO 14001 visando à certificação. Nesse sentido, tal artigo possibilitará possibilitará à adequação das etapas da norma a especificidade de atuação da hotelaria. Um Sistema de Gestão Ambiental, bem implantado, tende a proporcionar significantes melhorias nos custos das empresas; consegue racionalizar a aquisição e utilização de insumos e matérias-primas, primas, contratação de serviços e o uso de recursos naturais. Atenua significativamente o impacto ambiental, além de gerar bons resultados para o empreendimento. Como justificativa de tal estudo, a implementação de um SGA na hotelaria oferece significativa nificativa contribuição para a solução de problemas ambientais, além de tomar-se tomar infalível instrumento para conquista de clientes que valorizam o meio ambiente, já que no segmento hoteleiro os hóspedes preocupam-se preocupam se em saber se o hotel possui além de algum Sistema de Gestão da Qualidade a intenção de implementar ou se, até mesmo, já possui um Sistema de Gestão Ambiental. 2 Fundamentação Teórica 2.1 Limitações Geo-Espaciais Espaciais A atualidade prevê um constante aumento da utilização de bens e serviços por parte daa humanidade. Tal afirmação está calçada num grande crescimento populacional e numa constante industrialização aliada a novas tecnologias. Um desenvolvimento rápido gera o aperfeiçoamento de métodos e explorações de recursos naturais de uma forma descontrolada. lada. A exploração e transformação desordenada dos recursos finitos não renováveis, cada vez mais causam impactos nos ambientes humanos. Introduzem no meio 6 Revista Eletrônica Intr@ciência ambiente elementos poluidores causando desequilíbrio ambiental. Define-se Define meio ambiente como: “a integração egração dos fatores físicos, químicos e biológicos que condicionam a existência de seres vivos e de recursos naturais e culturais” (Decreto 14250, 05/06/81, Cap. I. Seção I, Art. 1°). Quanto mais rápido o desenvolvimento, maior é o ritmo das alterações provocadas pro no meio ambiente. Cada nova descoberta produz determinado tipo de desequilíbrio ecológico e de poluição, onde a poluição ambiental: “[...] pode ser definida como toda a ação ou omissão do homem que, através da descarga de material ou energia atuando atuand sobre as águas, o solo e o ar, cause um equilíbrio nocivo, seja de curto ou longo prazo, sobre o meio ambiente” (Valle, 1995, p.06). Segundo Mellanby (1982) as causas da poluição ambiental estão relacionadas à industrialização, a utilização de recursos naturais e ao contínuo aumento populacional. A condição atual de se viver está baseada no não aumento da poluição e na prevenção da degradação irreversível vel em que se apresenta atualmente o meio ambiente. A degradação ambiental está diretamente vinculada às atividades econômicas praticadas no planeta. O atual estilo de desenvolvimento econômico estimula o desperdício; o consumo aumenta a extração de recursos recursos naturais; o aumento de lixo através de embalagens, produtos descartáveis não-recicláveis não recicláveis e nem biodegradáveis; a diferença econômica entre nações; falta de infra-estrutura infra estrutura que acompanhe o crescimento demográfico, principalmente o que tange saneamento básico; básico; depósito na natureza, sem qualquer tipo de tratamento, de dejetos humanos, lixo urbano e industrial; exploração da terra; desmatamento; aumento de exportações; desenvolvimento interno; todos esses fatores, atuando de forma descontrolada, tendem a uma degradação ambiental. A degradação da qualidade ambiental consiste na alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causadas por qualquer forma de energia ou substâncias sólidas, líquidas ou gasosas, ou combinação de elementos elemento produzidos por atividades humanas ou delas decorrentes, em níveis capazes de, direta ou indiretamente: a) prejudicar a saúde, a segurança e o bem-estar bem estar da população; b) criar condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) ocasionar danos relevantes relevantes à flora, a fauna e outros recursos naturais” (Decreto 14250, 05/06/81. Cap. I. Seção II, Art. 30). Nas abordagens feitas, cabe salientar que o meio ambiente vive passível a poluição emergente de um desenvolvimento rápido e desordenado, mas que providências provid vem sendo 7 Revista Eletrônica Intr@ciência tomadas para que não se tenha um grande aumento da degradação ambiental já sofrida por ele. Com isso, cabe destacar a importância de um SGA nas empresas, já que elas também são responsáveis pela poluição e degradação do meio ambiente, visto visto que tal sistema tende a trabalhar com políticas ambientais visando o gerenciamento e operação responsáveis no tocante a preservação ambiental. 2.2 Desenvolvimento Sustentável e Tecnologias Limpas No início da década de 80, a Comissão Mundial sobre o Meio Me Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) elaborou estudos sobre a situação da qualidade ambiental. O resultado desses estudos foi o Relatório Nosso Futuro Comum que mostra os indivíduos como responsáveis em manter a sustentabilidade do planeta em função de suas su próprias preservações. Segundo Brito (1992), tal documento faz uma relação entre o meio ambiente e o desenvolvimento, apresentando propostas de mudanças institucionais e legais necessárias à obtenção da sustentabilidade. Outro acontecimento importante no n que cerceia o desenvolvimento sustentável foi a realização da Conferência do Rio, nome dado a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que tratou de temas como a pobreza, crescimento econômico, industrialização e degradação ambiental. Tal acontecimento garantiu que o assunto ganhasse espaço nas organizações e nas comunidades locais refletindo nelas uma crescente preocupação ecológica. O desenvolvimento sustentável consiste naquele que atende as necessidades do presente sem comprometer mprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades (CMMAD, 1991). Por sua vez, Sachs (1996) afirma que o desenvolvimento sustentável deve ser socialmente desejável, economicamente viável e ecologicamente prudente. Pôr em prática um desenvolvimento sustentado tem levado as empresas a tomar medidas, provocando mudanças de valores, de paradigmas e em sua operacionalização. Elas vêm se adequando as exigências da preservação pela utilização de técnicas que visam a utilização racional de recursos e que evitam a poluição, dentre elas temos: cultura ambiental (educação, consciência ambiental), normas de gestão ambiental (ISO 14000), adoção de diretrizes sustentáveis (agenda 21), atividades potencializadoras de desenvolvimento sustentável, stentável, uso de tecnologias limpas gerenciais e operacionais e o compromisso ambiental. 8 Revista Eletrônica Intr@ciência Entende-se se por tecnologias limpas, de acordo com a Gazeta Mercantil (1996), como sendo todas as tecnologias, tanto as operacionais como as gerências, ger ncias, que são utilizadas utilizad na produção de bens e serviços e que não afetam o meio ambiente. Misra (1996) garante que a adoção de tecnologias limpas pelas empresas trarão resultados favoráveis a elas. Como resultados, tem-se: se: proteção ambiental, melhoria nas condições de trabalho, economia em matéria prima e energia, melhoria na qualidade dos produtos e serviços, diminuição dos custos e perdas e incremento na produtividade e lucratividade. A implantação de tecnologias limpas constitui um grupo de métodos que são escolhidos de acordo acord com o problema específico de cada empresa, sendo viável em qualquer atividade industrial ou de serviço. 2.3 ISO 14000 e SGA - Sistema de Gestão Ambiental A ISO (International Organization for Standardization) é uma federação mundial nãonão governamental fundada em 1947, com sede em Genebra, Suíça. Conta com a participação de 111 países e seu objetivo é propor normas e padrões relativos a medidas, procedimentos, materiais e seu uso, praticamente em todos os setores de atividades. Os trabalhos da ISO resultam tam em acordos internacionais que são publicados como Normas Internacionais. O Brasil participa da ISO através da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Durante o período preparatório a Conferência do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento vimento Sustentado, a Câmara Internacional de Comércio (ICC) divulgou, em 1991, a Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, estabelecendo 16 princípios de Gestão Ambiental. Baseando-se Baseando se nos princípios da Carta Empresarial da ICC e na experiência com a elaboração dos Sistemas de Gestão da Qualidade, a British Standards (BS), em 1992 lançou a Norma BS 7750 visando ordenar os procedimentos de gestão ambiental existentes, permitindo sua certificação. Em 1991 a ISO criou o Grupo Assessor Estratégico sobre meio Ambiente – SAGE, tendo por finalidade propor ações necessárias a um enfoque sistêmico da normalização e certificação ambiental. Tais trabalhos conduziram a criação do Comitê Técnico 207 – Gestão Ambiental que passou a responsabilizarresponsabilizar-se pela condução dos trabalhos relativos a normalização no campo da gestão ambiental empresarial. A série ISO 14000 define normas para estabelecer um padrão internacional de gerenciamento ambiental. Abrange seis áreas: sistema de gestão ambiental, auditorias 9 Revista Eletrônica Intr@ciência ambientais, s, avaliação de desempenho ambiental, rotulagem ambiental, aspectos ambientais nas normas de produtos, análise do ciclo de vida do produto. A ISO emitiu a norma ISO 14001 especificando os requisitos para implantação, manutenção, auditoria e melhoria contínua contínua do SGA. A ABNT adotou essa norma como norma brasileira, dando-lhe lhe o nome NBR ISO 14001. O certificado ISO 14001 é específico para o Sistema de Gerenciamento Ambiental. A obtenção desse certificado indica que a empresa adotou um conjunto de procedimentos para evitar danos ao meio ambiente em seu processo de produção. Segundo Valle (1995), uma empresa para alcançar a Certificação Ambiental deve cumprir três exigências básicas: a) ter implantado um Sistema de Gestão Ambiental; b) cumprir a legislação ambiental ambiental aplicável ao local de instalação; e c) Assumir um compromisso com a melhoria contínua de seu desempenho ambiental. O SGA – Sistema de Gestão Ambiental é um meio gerencial que as empresas dispõem para obter o controle e o acompanhamento organizacional ambiental. Pode ser entendido como um conjunto de ações (procedimentos e controles) e recursos (humanos, financeiros, materiais) organizados e que tem como objetivo garantir que os produtos e atividades da empresa sejam ecologicamente corretos. É um sistema sistema criado para implementar e acompanhar as atividades de proteção ambiental. Suas diretrizes são: organizar, planejar, atribuir responsabilidade, prever recursos materiais e humanos, determinar procedimento para atender assim, a uma “Política Ambiental” e as as expectativas de desempenho, conforme as exigências da ISO 14001 (ISO 14000, 2001, p.2)”. E segundo Verde Gaia (2001), diz que a implantação e certificação do SGA surge como tendência mundial visto a necessidade de atuar frente a um desenvolvimento sustentável, susten as legislações ambientais cada vez mais rigorosas e como diferencial competitivo, fornecendo produtos ou serviços através de processos ecologicamente adequados. Como conseqüência da implantação desse sistema, acarreta a redução de custos, melhora a qualidade de vida dentro e fora da empresa bem como, melhora a imagem da organização. Conforme a norma ISO 14000, as etapas de implementação do SGA adotam os seguintes princípios: a) Comprometimento e definição da política ambiental da empresa; b) Elaboração do plano; 10 Revista Eletrônica Intr@ciência c) Implantação e operacionalização; d) Avaliação periódica; e) Revisão do SGA e implementação de melhorias. 2.4 A Organização Hoteleira e Serviços Considerando a abordagem hoteleira significativa neste artigo, serão apresentadas a seguir, eguir, algumas definições de hotel. Um estabelecimento que oferecia alojamento até o século XIX, conforme JANEIRO (1996), era denominado “hospedaria”, do latim hospitiolum, casa que recebe todos, ou ainda onde se abrigam peregrinos, bem como hóspedes, mediante ante retribuição condicional. “Hotel” é uma palavra derivada do francês, adotada no português no sentido de hospedaria, que significava inicialmente casa mobiliada onde se instalavam viajantes, proporcionando bom tratamento. Os hotéis como um dos meios de hospedagem, constituem um dos principais agentes econômicos do turismo em uma localidade ou região. O hotel, segundo JANEIRO (1991), é definido como sendo um estabelecimento que deverá fornecer um bom serviço de alojamento, de refeições, bar, tratamento de roupas, informações turísticas e de caráter geral. Para TORRE (1989), o hotel é definido como uma instituição de caráter público que oferece ao viajante, alojamento, alimentos e bebidas, assim como entretenimento. SOLER (1985) traz em seu trabalho, o conceito conceito de empresas hoteleiras, que são organizações que operam de modo profissional e habitual, mediante o estabelecimento de um preço, e proporcionam habitação às pessoas, com ou sem serviços de caráter complementar. Já, CASTELLI (1991) estabelece que um hotel hotel é uma empresa prestadora de serviços e diferencia-se se completamente de outras empresas do tipo industrial ou comercial. Geralmente, o hotel oferece aos hóspedes, uma quantidade de serviços além de acomodação. De acordo com CNTur n. 1.118, de 23/08/78, hotel hotel é um “estabelecimento comercial de hospedagem, que oferece aposentos mobiliados, com banheiro privativo, para a ocupação eminentemente temporária, oferecendo serviço completo de alimentação, além dos demais serviços inerentes a atividade hoteleira” (apud (apud Castelli, 1982, p.47). As definições de hotel demonstram que o produto principal de um hotel é a acomodação, que é um serviço, seguido por outros serviços, que podem ser alimentação, 11 Revista Eletrônica Intr@ciência lazer, salas para reuniões e congressos, informações turísticas, serviços serviços de quarto, lavanderia entre outros. A diferenciação dos serviços oferecidos em um hotel, é que irá definir o apelo da empresa. Por exemplo, se um hotel oferece serviços de lazer, ficará conhecido como um hotel resort, um hotel que oferece serviços para para realização de reuniões e congressos, será conhecido como um hotel tipo executivo. Todo hotel sempre terá como objetivo principal a acomodação, mas será na diferenciação dos serviços, em quantidade e qualidade que ele vai definir o seu mercado. Geralmente, Geralmente, os hotéis que oferecem muitos serviços e com qualidade, possuem qualificação mais alta e são conhecidos como os de luxo ou de cinco estrelas. Considerando a hotelaria uma indústria que tem como principal produto os serviços oferecidos no hotel, veremos a seguir alguns conceitos de serviço. O serviço é definido por KOTLER (1993), como uma mercadoria negociável, onde o produto é intangível, inseparável, simultâneo, perecível e variável: a) é intangível, pois não é possível experimentar ou sentir antes de suaa compra; b) é inseparável, pois os serviços são vendidos antes de serem consumidos, e o seu consumo é logo após a sua aquisição; c) é simultâneo, pois é produzido e consumido ao mesmo tempo; d) é perecível, pois os serviços são oferecidos para consumo momentâneo entâneo e não futuro, ou seja, não podem ser estocados por serem perecíveis; e) é variável, a qualidade dos serviços dependem de quem, onde, quando e como são entregues ao mercado. Uma outra forma de conceituar serviços e conseqüentemente as organizações que q os prestam, é a definição operacional proposta por TEBOUL (1995), onde um serviço caracteriza-se se essencialmente pela interface, isto é, o local de interação entre o usuário e o cliente e um sistema de produção. Nesta interface, o usuário está fisicamente fisicament presente e a produção e o consumo ocorrem simultaneamente. Esta simultaneidade coloca de imediato o consumidor dentro do processo de produção. A interface é com freqüência sustentada por um setor de suporte, que vai elaborar os processos físicos e acompanhar acompanhar a produção. Esta definição busca uma certa praticidade, onde o autor estabelece um grau de intensidade para interface que corresponde ao grau de serviço. A conceituação de serviços contribui para que se tenha um melhor entendimento do que é um hotel, ou seja, ela afirma a definição de um hotel quando menciona que é uma empresa que vende serviços por um determinado período de tempo. 12 Revista Eletrônica Intr@ciência Além dos conceitos de hotel e serviços mencionados anteriormente, é relevante também fazer um breve histórico do crescimento crescimento hoteleiro no Brasil. Com o advento do “milagre econômico brasileiro” na década de 70, observou-se observou se um crescimento significativo da demanda hoteleira. Neste período, o fluxo de turistas e negócios cresceu aumentando com isso a ocupação nos hotéis. A exploração exploração deste novo mercado favoreceu o crescimento das cadeias hoteleiras nacionais Othon e Tropical, e as redes hoteleiras internacionais como Sheraton, Meridien, Novotel e Club Mediterranèe. A entrada destas redes hoteleiras fez com que um novo conceito de hotelaria se solidificasse no Brasil, criando a necessidade da profissionalização dos serviços hoteleiros, e demanda por mão-de-obra mão obra qualificada para atender o crescimento desta nova indústria. A grande maioria dos profissionais da hotelaria contratados pelos elos grandes hotéis ocupavam cargos importantes e eram de origem americana e européia. Indiscutivelmente foi significativa a contribuição destas redes de hotéis nacionais e internacionais para o nosso país. Na década de 1980, a hotelaria não prosperou devido devido à conjuntura econômica na qual o país atravessava, gerando com isto, uma insegurança pelos investidores hoteleiros. Ao contrário, na década de 1990 com a estabilidade econômica e abertura do capital internacional proporcionou grandes investimentos hoteleiros hoteleiros das redes internacionais Accor, Best Western, Hyatt, Ramada Renaissance, Marriot, Choice, Posadas e Meliá em sua maior parte de padrão quatro e cinco estrelas e com mais de duzentos apartamentos nas principais capitais do país. De acordo com a EMBRATUR EMBRATUR (2001), existe uma previsão para construção de vários projetos hoteleiros nos próximos anos, favorecendo positivamente o crescimento da hotelaria no Brasil. 3 Sistema de Gestão Ambiental para Hotelaria 3.1 Metodologia A presente pesquisa consiste na adaptação do modelo de Sistema de Gestão Ambiental (SGA) da norma ISO 14.001 a organizações turísticas de hotelaria. Para realizar essa adaptação, inicialmente foram levantadas as informações presentes na literatura pertinente, a fim de fornecer subsídios teóricos para os pesquisadores. Em seguida, procurou-se se identificar quais as especificidades que o segmento hoteleiro exige para que o 13 Revista Eletrônica Intr@ciência modelo de SGA proposto seja implantado. Para a realização desta proposta, foram seguidas as etapas estabelecidas pela Norma No ISO 14.001, buscando-se se adequar esse modelo de SGA a um empreendimento turístico de hotelaria. Em seqüência, foi realizado estudo de caso em uma organização do segmento hoteleiro, localizada em Florianópolis, e, que, por motivos éticos, não será nominalmente lmente identificada. Quanto à forma de abordagem, esta pesquisa foi caracterizada como qualitativa, já que a realização deste estudo baseou-se baseou se na opinião de pessoas relacionadas diretamente com o trabalho desenvolvido, sem nenhum tipo de dado numérico e estatístico es que fundamentem seus pressupostos. Nesta pesquisa a preocupação foi com o nível de realidade que não pode ser padronizado nem quantificado; como motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes. As pesquisas qualitativas encaixam-se encaixam perfeitamente em situações como o estudo de funcionamento das organizações. 3.2 Apresentação e Análise dos Dados Os principais passos do Sistema de Gestão Ambiental – SGA, descritos na norma ISO 14001, estão ilustrados na figura 01 São constituídos por: política ambiental; planejamento; implantação e operação; monitoramento e ações corretivas; análise crítica pela alta administração; e melhoria contínua. Cajazeiras (1997) propõe que este ciclo inicie-se inicie por uma Revisão Ambiental Inicial, ou seja, o diagnóstico ambiental ambiental da empresa. Os dirigentes de uma empresa geralmente desconhecem os aspectos ambientais que a constituem e, portanto dificultaria a elaboração da definição da Política Ambiental. Ao se elaborar a revisão inicial vislumbrando o diagnóstico das condições condições ambientais antes da implantação do empreendimento, ou antes, da adoção do SGA, recomenda observar quatro pontos importantes: 1. Requisito e requerimentos legais; 2. Avaliação e registro dos aspectos ambientais significativos; 3. Exame das práticas e procedimentos procedimentos do sistema de gerenciamento ambiental já existente; e 4. Avaliação e investigação de acidentes ambientais passados e não-conformidades não em relação a legislação, regulamentos, políticas e práticas anteriores a revisão. 14 Revista Eletrônica Intr@ciência Ainda, no diagnóstico inicial inicial do ambiente onde está ou será localizado o empreendimento hoteleiro, deverá examinar as práticas e procedimentos existentes de SGA, e avaliar e investigar acidentes ambientais passados. Todos estes dados deverão estar devidamente documentados, pois servirão servirão de fontes importantes para a definição da política ambiental a ser adotada pelo hotel futuramente. A adoção de uma política voltada para a conservação do ecossistema e o desenvolvimento sustentável é a primeira fase do sistema de gestão ambiental descrita descr na Norma ISO 14001. Para que uma empresa hoteleira possa definir a sua política ambiental, a administração do hotel deverá investigar os seguintes tópicos: a) legislação ambiente vigente; b) aspiração de seus hospedes em potencial; c) anseio da comunidade dade da circunvizinhança; d) reação da comunidade organizada; e e) expectativa dos colaboradores. A norma ISO 14001 recomenda a administração que ao se definir a política, deverá também contemplar os seguintes requisitos: a) ser apropriada ao tamanho e a natureza dos impactos causados pelo hotel; b) ser de proteção ao meio ambiente e redutora dos impactos negativos causados pela atividade da empresa; c) atender aos requisitos legais e ter o compromisso com a melhoria contínua; d) ser documentada, divulgada divulgada e a documentação ser colocada à disposição dos interessados; e) ser compatível com outras políticas e normas internas, como as de qualidade, saúde do trabalhador e segurança; e f) forneça a estrutura para o estabelecimento e revisão dos objetivos e metas ambientais. É importante que após a elaboração da política ambiental exista o comprometimento de todos os níveis hierárquicos da empresa, sem o comprometimento, o sistema estará 15 Revista Eletrônica Intr@ciência comprometido ao fracasso. O planejamento é um elemento de grande relevância em uma empresa. No caso do SGA outros quatro aspectos também devem ser considerados conforme a norma. São eles: aspectos ambientais; legislação e outros requisitos legais; objetivos e metas ambientais; programa de gestão ambiental. Os aspectos ambientais, conforme CAJAZEIRA (1997), são todos os elementos pertencentes às atividades, produtos e serviços da organização, que podem interagir com o meio ambiente. O hotel deve estabelecer processos para identificar a influência de suas atividades no meio ambiente, quer sejam diretas ou indiretamente. Afim de que se tenha um controle sobre os aspectos ambientais dos seus produtos, faz-se faz se necessário a Análise do Ciclo de Vida – ACV, de cada um deles, previstas nas Normas da série ISO 14040/41/42/43/47/48 e 14049. O segmento egmento hoteleiro deve investigar e documentar toda legislação pertinente, tais como códigos, acordos com órgãos ambientais e correspondências correlatas. Os principais documentos são formados pela Constituição Federal e Estadual, Leis e Decretos Federais e Estaduais, Portarias e Normas do IBAMA, EMBRATUR e órgãos estaduais fiscalizadores, tais como: CETESB-SP, FATMA-SC SC e lAP-PR. lAP Os objetivos do hotel relacionados com o meio ambiente devem ser bem definidos, além de vislumbrar o desenvolvimento sustentável, deverá proporcionar a redução dos impactos ambientais negativos e aumentar dos impactos positivos. As metas, devem também ser consistentes com a política ambiental definida, incluindo o compromisso com o desenvolvimento sustentável e quantificadas com prazos prazos através de indicadores específicos. Ao estabelecer os indicadores, é possível acompanhar o cumprimento dos objetivos e metas ambientais do hotel, ilustrados no quadro 01. OBJETIVOS Diminuir o consumo de água, estimulando a redução do desperdício. METAS INDICADORES Diminuir o consumo de 25% Consumo de água em m3 por dia. no prazo de nove meses. Atender aos padrões de Melhorar a qualidade dos qualidade dos efluentes ao efluentes ao serem lançados no serem lançados no corpo corpo receptor através de receptor num prazo de doze tratamento adequado. meses. Reduzir o consumo de energia Diminuir o consumo em 15% elétrica, estimulando o seu uso em um prazo de seis meses. racional, sem desperdícios. Quantidade de DBO, DQO, OD e P total por ml de efluente ao ser lançado no corpo receptor. Kilowatts/hora de energia elétrica consumida. Quadro 01. Exemplos de objetivos e metas ambientais de um hotel. (Fonte: Adaptado ptado da Norma ISO 14001 (1996)) 16 Revista Eletrônica Intr@ciência É importante salientar que para alcançar os objetivos e metas ambientais do hotel, conforme FERREIRA (1999), alguns princípios básicos deverão considerados, como: 1. Ter os recursos físicos, financeiros e de mão-de-obra mão obra disponíveis quando necessários, para que não ocorram problemas de continuidade na execução dos projetos. 2. Definir previamente de forma objetiva, as atribuições e responsabilidades ambientais na empresa. 3. Implementar, paralelamente, os programas de conscientização e treinamento de pessoal em todos os níveis hierárquicos e funcionais. 4. Implementar programas integrados integrados de gestão ambiental, específicos para cada área da organização. 5. Veicular informações de forma clara e direta para os empregados e de forma confiável para o público externo. 6. Fazer registro de todas as ações implementadas no SGA e de todas as informações geradas. 7. Assegurar rígido controle operacional de todos os processos. 8. Organizar o manual de gestão ambiental devidamente atualizado e acessível a todos os empregados. O programa de gestão ambiental é definido de acordo com com os objetivos e metas do hotel, sendo designados os responsáveis para sua implementação em cada setor do hotel, fornecendo-lhes lhes os meios necessários para que o cronograma estabelecido seja cumprido. Para isto, cada setor do hotel deverá ter alguém responsável responsável para cumprir o programa decorrente do plano de ação, estabelecido na fase do planejamento ambiental. O objetivo do programa de gestão ambiental é controlar os impactos ambientais identificados. A quarta etapa do SGA é o da implantação e operação, ou seja, seja, esta etapa vai colocar em prática todas as ações previamente definidas, usando todos os recursos físicos, humanos e os estudos, que incluem os procedimentos, normas e regras, colocados a disposição do SGA. Para que se alcance a eficácia do SGA é imprescindível imprescindível que haja a integração de todos setores e responsáveis com os outros programas de gestão ambiental, permitindo desta forma que cada integrante participe e tenha uma visão mais abrangente de todo o sistema. Essa etapa está subdividida em: 17 Revista Eletrônica Intr@ciência 1. Estruturaa e responsabilidades: são definidos pela alta administração da empresa hoteleira os setores e os responsáveis pelos programas e ações da gestão ambiental. Recomenda-se Recomenda se que para os hotéis de médio e grande porte possuam um gerente de SGA, este profissional poderá ser um funcionário do hotel ou um prestador de serviços, que estará subordinado ao gerente geral, porém responsável pela coordenação e treinamento de todos os funcionários envolvidos no programa da gestão ambiental. O Quadro 02 apresenta um exemplo de setores e responsáveis por cada ação. 2. Treinamento, conscientização e competência: os recursos humanos de um hotel devem ser considerados como o bem de maior valor da empresa hoteleira. No hotel, que é uma empresa prestadora de serviços, o hóspede geralmente ge vai associar aos bons serviços recebidos na recepção, portaria, governança ou restaurante, e não ao último tipo de máquina ou tecnologia utilizada no hotel. A mesma relação vai acontecer quando for implementado o SGA no hotel. Os hóspedes não vão estar interessados nas últimas tecnologias utilizadas no hotel para redução do impacto ambiental do hotel, mas sim na atitude dos colaboradores do hotel com relação ao SGA implantado no hotel. Mas para que isso venha a ser observado pelos hóspedes, é importante importante que os colaboradores recebam os treinamentos adequados, definidos no planejamento ambiental. O treinamento ambiental deverá atingir todos os níveis hierárquicos dentro do hotel, tratando sobre vários temas ambientais. 3. Procedimentos de comunicação: o hotel deverá manter um sistema de comunicação eficiente facilitando com que todos os interessados, hóspedes, fornecedores, colaboradores, comunidade próxima, ONGs, poder público e sociedade em geral, possam acompanhar as atividades do SGA, sugerindo ou criticando as ações. 4. Controle de documentação: é recomendado que toda a documentação enviada para os diversos órgãos fiscalizadores ou recebidas destes, assim como contratos, acordos e outros documentos devem ficar devidamente arquivados, facilitando desta esta forma o controle e fácil acesso quando necessário. 18 Revista Eletrônica Intr@ciência 5. Controle operacional: o controle operacional e a manutenção dos programas devem obedecer às normas e padrões estabelecidos pela administração do hotel, de maneira a permitir a eficiência das mesmas. mesmas 6. Planos de controle de emergência: esta etapa também é considerada de grande importância, pois a prevenção de impactos ambientais depende muitas vezes de um programa bem elaborado para que não ocorram acidentes. Para tanto, recomendarecomenda se que a administração administração tenha um plano de ação emergencial, onde todos os funcionários recebam treinamento contínuo, simulando se possível, as ações de emergências. PROGRAMAS Gestão da Qualidade da Água AÇÕES SETOR RESPONSÁVEL 1. Inventário dos efluentes líquidos. 2. Separação e identificação das redes hidráulicas (lavatórios, esgotos, sanitários, águas pluviais). 3. Controle dos efluentes líquidos através de monitoramento, redução das cargas poluidoras nas fontes e implantação de sistema de tratamento. 4. Controle da qualidade da água no corpo receptor. 5. Minimização do consumo de água através do reuso. 6. Treinamento e implementação de procedimentos e instruções de trabalhos específicos. Gestão da 1. Inventário das fontes de consumo. Energia Elétrica 2. Priorização de uso. 3. Utilização de fontes alternativas (aquecimento solar, hidroelétrica, eólica). 4. Troca de equipamentos eletro-intensivos. eletro 5. Colocação de células fotoelétricas, termostatos, temporizadores e sensores de presença. 6. Controle do consumo por unidade habitacional e áreas comuns. 7. Treinamento e implementação de procedimentos e instruções. 19 Revista Eletrônica Intr@ciência Gestão dos 1. Inventário de resíduos resíduos sólidos 2. Mapeamento das fontes de geração, seleção, estocagem e disposição dos resíduos. 3. Programa de minimização de resíduos: reuso – reciclagem – redução – recuperação. 4. Coleta, tratamento e disposição final adequados. 5. Treinamentos e implementação de procedimentos e instruções de trabalhos específicos. Gestão dos 1. Inventários dos produtos fornecidos produtos (produtos acabados ou matéria prima) ao fornecidos por hotel. terceiros 2. Classificação e seleção das embalagens ecologicamente corretas (reusável, reciclável e reduzida). 3. Cadastro e seleção dos fornecedores. 4. Análise do ciclo de vida dos produtos adquiridos. 5. Programa de esclarecimento aos hóspedes e substituição dos fornecedores visando diminuir os impactos ambientais na fonte. 6. Treinamento de trabalhos específicos. Quadro 02. Setores e responsáveis pelos programas de gestão ambiental. Fonte: Adaptado de Pereira (1999) e baseado na Norma ISO 14001 (1996). A partir do momento em que o SGA é implantado, ele deverá ser monitorado para que sejam elaboradas as ações corretivas quando as operações e atividades ambientais não estiverem de acordo com o planejamento. Para isto, se faz necessário que exista o monitoramento constante através de registros registros conforme os objetivos e metas do hotel. O acompanhamento de cada programa de gestão ambiental deve ser monitorado através de dados concretos e objetivos. Para que seja possível avaliar os critérios de desempenho ambiental é importante que se utilize alguns alguns indicadores de avaliação, tais como: 1. Indicador do consumo de água no hotel, que pode ser calculado como: Índice de utilização de água = consumo de água tratada/número de usuários no hotel 2. Indicador de geração de resíduos, que pode ser medido da seguinte seguin maneira: Índice de geração de resíduos = quantidade de resíduos/número de usuários no hotel 20 Revista Eletrônica Intr@ciência 3. Indicador de consumo de energia no hotel, o qual pode ser determinado como: Índice de consumo de energia = consumo de energia em Kwh/número de usuários no hotel Quando forem detectadas não-conformidades, não conformidades, o hotel deverá adotar ações no sentido de estabelecer a regularidade. Para isto, é necessário que o hotel já tenha definido anteriormente os procedimentos e as responsabilidades para cada ação preventiva. A auditoria oria interna tem como objetivo investigar se as especificações estão de acordo com a ISO 14001 e se realmente estão sendo implementadas atendendo as necessidades do hotel. Para CAJAZEIRAS (1997), recomenda-se recomenda se que cada setor faça uma auditoria interna anual considerando a importância dos aspectos ambientais identificados. A administração do hotel deve elaborar o seu plano de auditoria interna para todos os setores, informando-os informando do seu conteúdo e fazendo as devidas atualizações. A administração do hotel, em período pré-determinado determinado deverá fazer avaliações do SGA implementado. Baseado nestas avaliações poderão ser agregadas melhorias nos processos, melhorando desta forma a eficácia do SGA. Esta é a última fase do processo, chamado de melhoria contínua, ou seja, toda vez que o ciclo é alterado para um nível superior ao anterior com melhores técnicas e procedimentos, aumenta também as exigências da melhoria contínua do SGA. 4 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES A partir da revisão bibliográfica e do desenvolvimento de um SGA para a hotelaria, podemos constatar a viabilidade da aplicação da ISO 14001 no setor hoteleiro. A implementação de um sistema de gestão ambiental objetiva a melhoria do desempenho ambiental da empresa, prevenção da poluição e o cumprimento da legislação legislaç ambiental aplicável, tratando-se se de um processo cíclico, onde tal sistema é revisto e avaliado de forma a identificar periodicamente oportunidades de melhorias. Entre os benefícios provenientes de um SGA para hotéis, destacam-se: destacam redução de geração de resíduos, esíduos, redução do consumo de água e energia; aumento da ecoeficiência; melhoria dos processos; redução de custos; aumento do faturamento; aumento da autonomia dos funcionários; retenção de hóspedes; incremento da satisfação dos hospedes; melhoria da imagem imagem hoteleira perante a sociedade. 21 Revista Eletrônica Intr@ciência A inserção de um SGA para hotéis não acontece de forma imediata. Para que um hotel consiga a certificação da ISO 14001, é imprescindível que exista a reorganização da empresa, conjugada com o comprometimento da alta administração, administração, a participação de todos os colaboradores, profissionalismo, infra-estrutura infra adequada, mão-de-obra obra qualificada, e a coordenação de todas as atividades propostas pela ISO 14001. Com a disseminação da responsabilidade ambiental a cada setor da organização, organização, quando todos passam a ver as questões ambientais sob a mesma ótica, soluções criativas começam a surgir de toda a empresa. A certificação da norma ISO 14001 em um hotel depende, também, da comunidade, dos órgãos governamentais, da própria estrutura do hotel, da capacidade de investimento, da infra-estrutura estrutura local e da característica do estabelecimento. A visibilidade de um certificado perante as exigências de certos mercados influenciam fortemente a decisão das organizações. Alguns gerentes de hotéis de perfil conservador podem entender, em um primeiro momento, que ocorrerá aumento de custo operacional sem retorno. Contudo, hoteleiros de sucesso e com uma visão futurista, reconhecem a importância em adotar um SGA para hotelaria. Enquanto alguns se perguntam perguntam quanto custa implantar um sistema de gestão ambiental, outros chegam à conclusão de que fica muito mais caro não ter o sistema, face aos diversos riscos que estão sujeitos, como acidentes ambientais, multas, processos judiciais, custos de remediações remediações de passivos, danos à imagem e perda de competitividade. A conscientização ambiental para hotéis é um processo global e de longo prazo e compete a cada empresa fazer a sua parte. A ISO 14001, possui uma proposta ambiental racional, como também de responsabilidade responsabilidade social, onde é possível reduzir o impacto ambiental e ao mesmo tempo preservar o meio ambiente de forma sustentável. A aceitação da responsabilidade ambiental pressupõe a tomada de consciência, pela organização, de seu verdadeiro papel. O simples fato de separar o lixo reciclável do não reciclável, de apagar a luz, de arrumar uma torneira que está pingando, entre outras atividades, se toma tão importante como projetar a infra-estrutura infra estrutura orientada para a preservação do meio ambiente. O gerenciamento ambiental para hotéis é um tema recente e inovador, no entanto, tem promovido transformações significativas na consciência coletiva, aparecendo, assim, como fenômeno de singular importância para a sustentabilidade. 22 Revista Eletrônica Intr@ciência Por fim, recomenda-se se que todas as empresas empresas hoteleiras comecem a adotar dentro de seu empreendimento atitudes ambientais, de preferência as orientações propostas pela norma ISO 14001. Uma empresa existe e se mantém viva enquanto estiver atendendo a uma demanda da sociedade. Cessando a demanda, ou se essa não for atendida, a empresa perde a razão de existir. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, Dora. Os ilustres hóspedes verdes. Salvador: Casa da Qualidade, 2001. CAJAZEIRA, Jorge. E.R. ISO 14001: 14001 Manual de implantação. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997. CASTELLI, Geraldo. O hotel como empresa. Porto Alegre: Sulina, 1987. CASTELLI, Geraldo. Marketing hoteleiro. Caxias do Sul: Educs, 1991. JANEIRO, Joaquim A. Guia técnico de hotelaria. Lisboa: Cevop, 1991. KOTLER, Philip. Princípios de Marketing. Rio de Janeiro: Prentice Hall do Brasil, 1993. MELLANBY, Kenneth. Biologia de Poluição. Poluição São Paulo: EPU, 1982, v.28. MISRA, K. B. Clean Production: environmental and economics perspectives spring. Berlim: Mercedes Druck Print, 1996. SACHS, Ignacy. Ecodesenvolvimento: envolvimento: crescer sem destruir. São Paulo: Vértice, 1996. SOBOLL, Walter. Teoria e prática do desenvolvimento sustentado. Revista Bio, nov/dez, 1989. TEBOUL, James. Gerenciando a dinâmica de qualidade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1991. TORRE, Francisco de La. Administração hoteleira. México: Trilhas, 1989. VALLE, Cyro E. do. Qualidade ambiental: ambiental como se preparar para as normas ISO 14000. São Paulo: Pioneira, 1995. VALLE, Cyro E. do. Qualidade ambiental: o desafio de ser competitivo protegendo o meio ambiente. São Paulo: Pioneira, 1995. 14000 rumo à certificação verde. Revista ABNT, ABNT Rio de Janeiro, v.1, _________ ABNT – ISO 14000: n.0, p. 22-24, 24, jan/fev, 1996. 23 Revista Eletrônica Intr@ciência COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO DESENVOLVIMENTO (CMMAD). Nosso Futuro Comum. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1991. GAZETA MERCANTIL. Gestão Ambiental: compromisso da empresa, n. 1, 20/mar/1996, p. 3. 24 Revista Eletrônica Intr@ciência BREVES APONTAMENTOS ACERCA DA TRANSFUSÃO DE SANGUE EM TESTEMUNHAS DE JEOVÁ. VIEIRA SEGUNDO, Luiz Carlos Furquim5 Resumo: O presente artigo aborda a colisão entre os direitos constitucionais a vida e a liberdade de crença, diante da negativa do paciente Testemunha de Jeová em se submeter a transfusão de sangue, e a responsabilidade civil e penal do médico. Palavras-chave: Testemunha de Jeová, Transfusão de Sangue, Colisão, Vida, Liberdade de Crença. Abstract: This article discusses the conflict between the constitutional rights to life and freedom of belief, in the face of negative Jehovah's Witnesses patient to undergo blood b transfusion, and civil and criminal liability of the doctor. Keywords: Jehovah’s Witnesses, Blood Transfusion, Conflict, Life, Freedom of Belief. INTRODUÇÃO A Constituição Federal assegura em seu art. 5º, caput, a inviolabilidade do direito à vida,, sendo certo que este direito é para nós o DIREITO DOS DIREITOS, pois sem ele não há que se falar nos demais direitos. Todavia, a Carta Magna de 1988, consagra em seu art. 5º, inciso VI, a inviolabilidade da liberdade de crença, assim, conforme nossa Constituição, Constituição, a ninguém é dado o direito de violar a liberdade religiosa de outrem. 5 Advogado e Professor Universitário. Pós-graduado Pós graduado em Função Social do Direito (UNISUL/LFG). Autor dos livros “ Crimes Contra a Vida (Ed. Memória Jurídica)” e “Responsabilidade Civil: compensar, punir e educar (Ed. Memória Jurídica)”. Autor de diversos artigos jurídicos publicados. 25 Revista Eletrônica Intr@ciência Destarte, surge inevitavelmente um problema ao analisarmos hipótese de um médico realizar transfusão de sangue em paciente testemunha de Jeová, pois ocorre verdadeira colisão entre o direito a vida e a liberdade de crença. Assim, indaga-se: indaga Como deve ser solucionada a hipótese de uma testemunha de Jeová negar-se negar se a transfusão de sangue? O médico que mesmo assim realizar a intervenção deve responder civil e criminalmente? Inicialmente mente seria possível que alguém surgisse com a afirmação apressada de que o direito a vida há sempre de prevalecer sobre os demais direitos fundamentais. Todavia, ainda que este seja o DIREITO dos DIREITOS, quando houver colisão entre este e outro direito fundamental, a solução só poderá ser encontrada através de uma ponderação, de modo que um direito fundamental não aniquile por completo outro, mas sim que com este coexista em harmonia. Dessa maneira, iremos primeiro analisar a questão no âmbito penal. No campo do Direito Penal, para nós, não há que se falar em crime diante da conduta do médico que realiza transfusão de sangue em paciente que se encontra em iminente risco de vida, pois não há como uma norma proibir aquilo que é fomentado ou autorizado por outra utra norma. Portanto, modernamente, a questão da intervenção médica deve ser resolvida no campo da tipicidade, desse modo, atuando o médico conforme autoriza ou fomenta o Direito, não há que se falar em fato típico. O fundamento para nossa posição encontra-se encontra se na Tipicidade Conglobante, pois conforme a precisa lição de Eugênio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli6: Além do fato de que o direito, eventualmente, obriga o cirurgião a praticar certas intervenções, não não há dúvida de que as intervenções cirúrgicas com finalidade terapêutica, são altamente fomentadas pela ordem jurídica, o que pode ser comprovado por uma ligeira consulta à legislação sanitária. Como, conforme os princípios que regem a tipicidade conglobante, congloban resulta inadmissível que uma norma proíba o que outra fomenta, dentro da mesma ordem normativa, o problema deve ser resolvido neste nível, sem pretender a inexistência do tipo legal, nem cometer a incoerência de explicá explicá-lo em nível de justificação. A atipicidade surge da consideração conglobada da norma anteposta ao tipo de lesões, para isto bastando que se busque o fim terapêutico, sem importar se ele é efetivamente alcançado, sempre que, no caso dele não ter sido atingido, se tenha procedido de acordo com as regras da arte médica, cuja violação pode dar lugar à acordo 6 ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro. Brasileiro 7.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. v.1, p. 480/481. 26 Revista Eletrônica Intr@ciência tipicidade culposa de lesões (art. 129, § 6º, do CP) ou de homicídio(art. 121, §3º, do CP). Por intervenções com fim terapêutico devem ser entendidas aquelas que perseguem a conservação ou o restabelecimento restabelecimento da saúde, ou então a prevenção de um dano maior ou, em alguns casos, a simples atenuação ou desaparecimento da dor. Há também de se ressaltar que a mesma solução (exclusão da tipicidade) chega-se chega ao recorrer a uma das linhas mestras de Roxin Ro 7 para a Teoria da Imputação Objetiva, qual seja “ a criação de um risco não permitido”, logo, como o médico não cria um risco proibido, outrossim, não há que se falar em fato típico. Luiz Flávio Gomes8 ensina que o médico: Quando realiza uma intervenção intervenção médica curativa seguindo rigorosamente a lei da medicina cria riscos para o paciente (e danos físicos também), porém, são riscos permitidos. São danos produzidos no contexto de risco permitido. Por isso é que tais danos não se convertem em lesão (jurídica (jurí ) punível. Quem cria risco permitido não pratica nenhum fato típico. Para encerrar a questão no âmbito penal, mister colacionar a lição de Rogério Greco9: Na hipótese de ser imprescindível a transfusão de sangue, mesmo sendo a vítima maior e capaz, em caso de recusa, tal comportamento deverá ser encarado como uma tentativa de suicídio, podendo o médico intervir, inclusive sem o seu consentimento, uma vez que atuaria amparado pelo inciso I do § 3º do art. 146 do Código Penal, que diz não se configurar constrangimento ilegal a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida. vi No que tange a responsabilidade civil, ao que nos parece, não há de se falar em responsabilidade civil do médico que realiza intervenção médica em paciente cuja crença religiosa colide com tal procedimento, desde que haja iminente risco a vida do enfermo, e pois 7 ROXIN, Claus. Estudos de Direito to Penal. 2.ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 104. GOMES, Luiz Flávio; MOLINA, Antonio García-Pablos García de. Direito Penal: parte geral.. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.v.2, p.275. 9 GRECO, Rogério. Código Penal Comentado. Comentado Rio de Janeiro: Impetus, 2008. p.401. 8 27 Revista Eletrônica Intr@ciência não havendo este iminente perigo, a vontade do paciente deve prevalecer (salvo se este for incapaz, caso em que o médico também há de intervir, não devendo ser responsabilizado civilmente). A solução entre a colisão direito à vida x direito a liberdade de crença, há de ser assim solucionada, visto que não há como aniquilar por completo o segundo, aderindo a uma solução de que sempre o médico há de intervir e não ser responsabilizado civilmente, pois isso não é compatível com um Estado Democrático Democrático e Constitucional de Direito, onde conflitos entre direitos fundamentais, devem ser resolvidos de modo a não fulminar absolutamente um direito em prevalência do outro, mas sim de modo a ambos conviverem, sendo efetivamente aplicados, ainda que de forma mitigada (como é o caso). É inegável que o direito à vida é indisponível, por isso mesmo em havendo iminente risco a este direito, o médico ao intervir (por exemplo: realizando transfusão de sangue em testemunha de Jeová), não deve ser responsabilizado civilmente, civilmente, visto que ninguém pode dispor da própria vida, aliás, mister é a lição de Nelson Hungria10: A vida não é um bem que se aceite ou se abandone ad libitum. Só se pode renunciar o que se possui, e não também o que se é.O direito de viver não é um direito direito sobre a vida, mas à vida, no sentido de correlativo da obrigação de que os outros homens respeitem a nossa vida.E não podemos renunciar o direito à vida, porque a vida de cada homem diz com a própria existência da sociedade e representa uma função social. soc Corroborando nosso entendimento que em caso de iminente risco a vida do paciente o médico que intervir não deverá ser responsabilizado civilmente, temos a lição de Miguel Kfouri Neto11: Entendemos que em nenhuma hipótese poder-sepoder -ia buscar reparação de eventual dano— dano de natureza moral—,, junto ao médico: se este realizasse, p. ex., a transfusão de sangue, contra a vontade do paciente ou de seu responsável provado o grave e iminente risco de vida. responsável— 10 11 HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal .4.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1958. v. V, p 227. KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade Civil do Médico. Médico. São Paulo: Revista dos Tribunais,1994. p.160-161. p.160 28 Revista Eletrônica Intr@ciência Trazemos também a preciosa lição de Pablo Stolze Gagliano Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho12: Temos plena convicção de que, no caso da realização de transfusão de sangue em pacientes que não aceitam esse tratamento, o direito à vida se sobrepõe ao direito à liberdade religiosa, uma vez que a vida é o pressuposto da aquisição de todos os outros direitos. Além disso, como já colocado, a manutenção da vida é interesse da sociedade e não só do indivíduo. Ou seja, mesmo que, intimamente, por força de seu fervor, ele se sinta violado pela transfusão feita, o interesse social social na manutenção de sua vida justificaria a conduta cerceadora de sua opção religiosa. Acreditamos, realmente, que o parâmetro a ser tomado é sempre a existência ou não de iminente perigo de vida. No caso de pacientes maiores e capazes, no momento da concessão co do consentimento, entendemos que, ausente o perigo de perda da vida, mas, só e somente só, a recomendação do tratamento, o médico não deve ministrá lo, sob pena de estar constrangendo ilegalmente o paciente. ministrá-lo, Assim, caso não observe essa determinação, determinação, o médico corre o risco de ser responsabilizado civilmente. [...] Mesmo no caso de pacientes que estejam, temporária ou permanentemente, impossibilitados de manifestar sua vontade, no que se incluem os pacientes menores, por isso incapazes, o médico também tamb tem a obrigação de ministrar o tratamento, até mesmo porque nem sempre é possível obter a anuência do responsável legal. Diante do exposto, é imprescindível que a análise do caso parta inicialmente da existência ou não de perigo a vida do paciente, pois pois se efetivamente há a sua presença, o médico ao intervir, não poderá ser responsabilizado civilmente. Todavia, não havendo qualquer risco à vida do paciente, caso o médico realize intervenção, após a negativa do enfermo de não se submeter ao procedimento procedimento indicado pelo discípulo de Hipócrates, haverá a possibilidade de responsabilização na esfera cível. Todavia, em caso de pacientes incapazes de consentir, o médico dever intervir, não havendo que se falar nesse caso em responsabilidade civil do médico por po violação de liberdade de crença. Assim, para fechar a questão lembramos que não haverá crime do médico que intervém realizando transfusão de sangue em paciente testemunha de Jeová, quer seja com amparo na tipicidade conglobante, quer seja com amparo na imputação objetiva em razão 12 GAGLIANO, Pablo Stolze;; PAMPLONA FILHO, Rodolfo.Novo Curso de Direito Civil.São Paulo: Saraiva, 2008. v.III, p.214-217. 29 Revista Eletrônica Intr@ciência da não criação de um risco proibido. Não se pode cogitar nem mesmo o crime de constrangimento ilegal em razão do art.146, § 3º, inciso I do Código Penal. Já no campo da responsabilidade civil, é imprescindível que a análise do caso parta inicialmente da existência ou não de perigo a vida do paciente, pois se efetivamente há a sua presença, o médico ao intervir, não poderá ser responsabilizado civilmente. Todavia, não havendo qualquer risco à vida do paciente, caso o médico realize realize intervenção, após a negativa do enfermo de não se submeter ao procedimento, surge a possibilidade de responsabilização na esfera cível. Há de se lembrar ainda acerca da responsabilidade civil, que no caso de pacientes incapazes de consentir, o médico dever intervir, não havendo que se falar nesse caso em responsabilidade civil do médico por violação de liberdade de crença REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil.São Civil Paulo: Saraiva, 2008. v.3 GOMES, Luiz Flávio; MOLINA, Antonio García-Pablos García de.. Direito Penal: parte geral. geral São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.v.2 GRECO, Rogério. Código Penal Comentado. Comentado. Rio de Janeiro: Impetus, 2008. HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal .4.ed. 4.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1958. v. 5. KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade Civil do Médico. Médico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. ROXIN, Claus. Estudos de Direito Penal. Penal. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. 30 Revista Eletrônica Intr@ciência PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: prática e ética docente SCHENDER, Klim Wertz Independente da opção política do educador, há saberes aceitos por todos os docentes, entes, por exemplo: não há professor sem aluno. Partindo desta premissa, o professor deve-se se conscientizar da sua existência, isto é, a ligação íntima entre a docência e discência. O objeto do seu trabalho, ensino, prática, pesquisa, reflexão é o seu aluno. aluno Assim, na prática, o professor entra num processo de ratificar e retificar as suas ações. Os saberes são ampliados, alterados e confirmados à proporção que o docente aplica-os, os, numa dinâmica que deve acontecer entre a teoria e a prática (práxis), que segundo s Aranha e Martins (1991, p. 430), no marxismo - filosofia da práxis - é a “união “ dialética da teoria e da prática”. ”. (grifo do autor) O aluno deve ser protagonista na produção e construção do saber, por conseguinte, para Freire (2009), ensinar não se restringe a transferir conhecimentos. Então, se o professor considerar a única fonte de saber, promoverá forças externas vindas de seus alunos alu que o sugarão, pois não procurarão outras rotas, direções ou caminhos, ou lhe menosprezá-lo-ão, menosprezá aumentando o nível de estresse, e por sua vez, conflitos; envolvendo-se envolvendo num processo repetitivo de explicar o mesmo conteúdo, através de um ensino bancário, ou rejeitar o ensino eficiente, conduzindo o professor a concluir que os alunos são fracos, incapazes de aprender e outros rótulos. Qualquer profissional não pode ter a ideia de um ser acabado em sua formação, isso o impede de experimentar novas situações, situações, fechando portas para novos saberes e experiências. O docente, como profissional, não pode ser ingênuo ao ponto de pensar que sabe tudo, e os seus alunos não sabem nada, e que não há o que aprender com eles, criando uma mão única de aprendizagem. Portanto, Portanto, Freire (2009, p. 23), alerta que: “Quem forma se forma e re-forma forma ao formar e quem é formado forma-se forma se e forma ao ser formado [...] Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender [...] Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa”. 31 Revista Eletrônica Intr@ciência É necessário essário compreender que aprender precede ao ato de ensinar, e quando se vive, autenticamente, a prática ensinar e aprender o ser humano participa de “uma experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética” (FREIRE,, 2009, p. 24). Quanto à “estética”, Aranha e Martins (1991), assim define, etimologicamente, como: a percepção total, a faculdade e compreensão através dos sentidos. A pesquisa é ferramenta que auxilia, alarga a visão que se tem do horizonte do conhecimento, nto, e deve andar junta ao ensino. É através da pesquisa que no final o professor ao constatar resultados, intervirá, e de acordo com Freire (2009, p. 29) “intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade”. Fugir da pesquisa produzirá com o tempo: alienação em seu saber e prática; conforme Aranha e Martins (2009, 425), a consequência é: “[...] a fragmentação de sua consciência, que também deixa de lhe pertencer; [...] perda da individualidade; perda pe da consciência crítica”. Supostamente, muralhas são criadas, em torno de um conhecimento adquirido no passado, intocável, tendo como resultado, a inflexibilidade do pensar, do agir e do falar. A partir desta reflexão, salta à imaginação: este professor perante uma classe de alunos, com sua diversidade cultural, não aceitando certos paradigmas ensinados, e a inflexibilidade no ensino gerando conflitos. Os saberes dos educandos devem ser respeitados; saberes estes, construídos na prática comunitária. De acordo com Hoffman (2007, p. 38), [...] a construção do conhecimento pelo educando se dá de forma dinâmica e progressiva, não havendo início, meio ou fim nesse processo. Cada hipótese construída pelo aluno estará constantemente sendo refutada por ele, ampliada, ampliada, complementada a partir de suas experiências de vida, do seu desenvolvimento geral, das provocações intelectuais sofridas dentro e fora da escola. Muitos pertencem à classe popular, portanto, deve-se deve se criar relações com o conteúdo e a experiência de cada aluno, não distanciando as disciplinas (conteúdos), os saberes curriculares fundamentais da experiência social dos educandos, uma vez que, resultará em desinteresse, e outros males, tais como: não-aprendizagem, não aprendizagem, confusão e associação da figura 32 Revista Eletrônica Intr@ciência do professor rofessor com a disciplina. Já que, muitos não têm a maturidade para abstrair a figura docente da disciplina que ministra. Muitos docentes, segundo Freire (2009), tem discurso farisaico “faça o que mando e não o que eu faço”, por isso afirma que “pensar certo certo é fazer certo” (p. 34), no entanto a prática contradiz o discurso. Muitos se consideram os “donos da verdade”, portanto, “não é possível ao professor pensar que pensa certo, mas ao mesmo tempo perguntar ao aluno ‘se sabe com quem está falando’[...]” (p. 34 - 35). A ação do professor vale mais do que suas palavras, ou seja, o seu exemplo é mais forte do que o seu discurso. O professor, ao aproximar-se aproximar do aluno, deve mostrar-lhe lhe a fragilidade do homem, isto é, como os seres humanos estão sujeitos, a serem tentados a desviarem para caminhos fáceis, ignorando as dificuldades que os caminhos verdadeiros podem colocá-lo, colocá criando condições mais humanitárias na relação aluno e professor. Ensinar requer estar aberto ao novo, correr riscos e rejeitar qualquer ato de discriminação. Pois, para Freire (2009, p. 36) “A prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero, ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia”. O pensar certo para o autor deve-se deve se dar através do diálogo e não controverso, controver envolvendo a prática docente num dinamismo dialético. É difícil para muitos educadores depararem-se depararem com a falta de conhecimentos básicos dos alunos e retomar ou explicar, conteúdos que não estão diretamente ligados à sua disciplina. Essa diferença de saberes saberes e conhecimento entre o educador e o educando é polêmico, pois são duas culturas diferentes que se encontram, e cabe àquele que abraçou a docência, refletir criticamente sobre sua prática, observando os resultados que envolvem o ato de ensinar e o aprender. ap Não adianta pensar que ensina se não há aprendizagem, sendo fundamental refletir criticamente, revendo a prática passada, comparando-a comparando a com o presente, a fim de aperfeiçoar a futura. De acordo com Blikstein (1995), o ato comunicativo envolve um emissor ssor (remetente), um receptor (destinatário) e uma mensagem entre eles. Portanto, O remetente tem por função enviar uma mensagem ao destinatário, estimulando o a produzir uma determinada resposta. O destinatário, por estimulando-o sua vez, ao ser estimulado pela mensagem, mensagem, deverá produzir, em princípio, a resposta esperada ou desejada pelo remetente. [...] Se o remetente e o destinatário não estiverem conscientes de suas respectivas funções e atentos ao seu papel, a estrutura da comunicação ficará bem vulnerável a ruído (p. 27). ruídos. 33 Revista Eletrônica Intr@ciência O quanto há em cada ser humano, a curiosidade ingênua, que se estabelece no patamar do senso comum. O homem não domina todos os saberes, em muitas partes do conhecimento do universo é leigo, e se o professor é humano, logo, observam-se observam as características acterísticas de ingenuidade, por conseguinte, tanto o aluno quanto o professor devem superar a curiosidade ingênua e partir para a curiosidade epistemológica, que, de acordo com Aranha e Martins (1991, p. 427), é o “[...] estudo do conhecimento científico do ponto de vista crítico, isto é, do seu valor [...]”. O aluno tem experiências informais, aprendizagens que ocorrem, nas ruas, no trabalho, nas escolas, nas praças, enfim, carrega uma bagagem cultural e de conhecimento. O processo educativo deve partir dessas premissas, ou seja, daquilo que o aluno possui. Uma vez que, o ser humano só pode dar aquilo que tem. Há muitos professores que coagem os seus alunos além de suas capacidades, o que conduz ambos para uma zona de confronto. Portanto, a prática docente te considerada verdadeira é aquela que, para Freire (2009), exige a presença vinculada da estética e a ética “decência e boniteza”. Para isso, devem ser criadas as condições para que o aluno se construa e produza e não seja um depósito de conhecimento, porque, que, quem ensina deve ter a concepção de que ensinar não é transferir conhecimento, mas precisa conduzir o aluno a vivenciá-lo. vivenciá lo. Quanto à importância do professor, Freire (2009) destaca o efeito da ação docente sobre o discente: “O que pode um gesto aparentemente temente insignificante valer como força formadora ou como contribuição à do educando por si mesmo” (p. 42). O discurso e a prática docente não podem tornar-se tornar se falseados “[...] quanto quem pretende estimular o clima democrático na escola por meios e caminhos caminh autoritários” (FREIRE, 2009, p. 48). O aluno deve ser olhado como um ser que precisa ser estimulado, independente de sua cor de pele, intelectualidade, cultura, fator econômico, político e outros. Essas barreiras precisam ser transpostas, e é necessário vencer a si próprio, e como relata Freire (2009, p. 49): É difícil porque nem sempre temos o valor indispensável para não permitir que a raiva que podemos ter de alguém vire raivosidade que gera um pensar errado e falso. Por mais que me desagrade uma pessoa p não posso menosprezá la com um discurso em que, cheio de mim mesmo, decreto sua menosprezá-la incompetência absoluta. Discurso em que, cheio de mim mesmo, trato-a trato 34 Revista Eletrônica Intr@ciência com desdém, do alto de minha falsa superioridade. A mim não me dá raiva, mas pena quando pessoas assim assim raivosas, arvoradas em figuras de gênio, me minimizam e destratam. É cansativo, por exemplo, viver a humildade [...]. A leitura de mundo do professor é distinta do aluno, e os atritos surgem, pois são culturas e formações diferentes. Mas, quem estará certo? Conforme Freire (2009) “Sem rigorosidade metódica não há pensar certo” (p. 49), daí, surge uma pergunta: Quanto há de d rigor metódico nos pensamentos dos professores? É necessário haver esta reflexão. Como ser humano é preciso ter a consciência do inacabado, pois “onde há vida, há inacabamento” (p. 50). Há docentes que se consideram perfeitos diante dos seus alunos, portanto, port qualquer atitude considerada um erro, não hão de assumi-la. assumi Assim descreve Freire (2009, p. 83), em Pedagogia da Esperança: Esperança Um professor que não leva a sério sua prática docente, que, por isso mesmo, não estuda e ensina mal o que mal sabe, que não luta para que disponha de condições materiais indispensáveis à sua prática docente, se proíbe de concorrer para a formação da imprescindível disciplina intelectual dos estudantes. Se anula, pois, como professor. Os seres éticos tem a capacidade de intervenção no mundo, de comparação, ajuizamento, decisão, rompimentos, escolha, embora, também tenham capacidades de atitudes mais baixas e indignas “só os seres que se tornaram éticos podem romper com a ética”, Todavia, “[...] as coisas sas podem até piorar, mas sei também que é possível intervir para melhorá-las” las” (FREIRE, 2009, p. 52). O professor precisa conscientizar do seu estado inacabado, contudo acreditar que pode ir mais além. O aluno, com ser humano, também possui características característi semelhantes a do docente. Portanto, tanto um como o outro deve-se deve se posicionar “para não ser apenas ‘objeto’, mas sujeito também da História” (FREIRE, 2009, p. 54). O homem está sujeito a trair ou negar a eticidade. Quantas vezes, professores não foram éticos? éticos? Por que os seus alunos, assim deveriam? Há docentes que acreditam existir mulheres e homens impossíveis de educar, esse pensamento vai de encontro as ideias de Freire (2009, p. 58) que descreve: 35 Revista Eletrônica Intr@ciência Mulheres e homens se tornaram educáveis na medida em que se reconheceram inacabados. Não foi a educação que fez mulheres e homens educáveis, mas a consciência de sua inconclusão é que gerou sua educabilidade. Perceber-se se inacabado, e conscientizar-se conscientizar se dessa situação, faz do ser humano um ser ético. Os seres eres éticos são seres histórico-sociais, histórico sociais, com capacidade para decidir, romper, comparar, valorar, escolher, intervir. Por conseguinte, distanciar homens e mulheres da ética é ato de transgressão, ou seja, é afastar de tais capacidades. Portanto, “o respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros” (FREIRE, 2009, p. 59). Desrespeitar e negar a ética é transgredi-la. la. Sendo assim, o professor, consciente de sua natureza, deve respeitar a autonomia do ser do educando “seu semelhante”, pois, O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que “ele se ponha em seu lugar” ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor que se exime do cumprimento de seu dever e propor limites à liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente respeitosamente presente à experiência formadora do educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência. (FREIRE, 2009, p. 59-60). 59 O bom senso faz parte da prática docente, não confundindo autoridade com autoritarismo e, liberdade com licença. Muitos docentes têm agido como os “donos da verdade”, mas o que é a verdade? E como tem mudado no decorrer do tempo, ou seja, o que era verdade absoluta ontem, já não é hoje. Todavia, o bom senso deve ser exercitado: indagando, comparando, duvidando, duvidando, aferindo, o que contribuirá na criticidade, na posição ética. O bom senso não dirá o que é, mas deixará claro que existe algo a ser descoberto, sabido. Não se pode menosprezar, zombar, do saber que o educando traz consigo para a faculdade. O professorr deve respeitar a autonomia, identidade e a dignidade de seus alunos. O respeito pela pessoa do professor será adquirido quando houver esforço por parte dele para diminuir a distância do discurso à prática. “A prática docente especificamente humana, é profundamente fundamente formadora, por isso, ética. Se não se pode esperar de seus agentes que 36 Revista Eletrônica Intr@ciência sejam santos ou anjos, pode-se pode e deve-se se deles exigir seriedade e retidão” (FREIRE, 2009, p. 65). Freire (2009, p. 66), não permite esquecer que: O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, mal amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum desses passa pelos p alunos sem deixar sua marca. Para Freire (2009, p. 67) o professor deve ser humilde, tolerante quanto “à pessoa do educando, à sua curiosidade, à sua timidez, [...] não [...] agravar com procedimentos inibidores exige [...] o cultivo da humildade e da tolerância”. Lutar pela educação é dever de todo aquele que abraça a docência: “O que não é possível é, ficando nela, aviltá-la aviltá com o desdém de mim mesmo e dos educandos” (p. 67). Apreender a realidade faz parte da prática docente, conhecer as diferentes dimensões que fazem parte dessa essência, essência, resultando segurança para desempenhar o seu ofício. O professor como ser inconcluso deve aprender, não somente para adaptar, todavia para transformar a realidade, num processo de recriação e intervenção. A prática educativa “demanda a existência dee sujeitos, um que, ensinando, aprende, outro que, aprendendo, ensina, daí o seu cunho gnosiológico” (FREIRE, 2009, p. 69). O docente deve ser o estimulador, mediador da difícil passagem das práticas heterônomas para as autônomas. Posicionando de forma respeitosa respeitosa em relação ao desejo de mudança ou recusa pelo aluno. Isso não quer dizer, que a postura docente deverá ser anulada, porém exposta, isto é, sua opção política, filosófica, cultural, enfim, respeitando o direito do educando de rejeitar a sua exposição. expos Consoante Freire (2009, p. 72), a alegria e a esperança são exigidas no ensino, pois a “esperança de que professor e alunos juntos podemos aprender, ensinar, inquietar-nos, inquietar produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos a nossa alegria”. O professor p não se pode entregar ao discurso repetitivo, monótono e universal de que diante da realidade, não há nada o que fazer. Criando assim, a desesperança, isto é, ausência da esperança. Diante desse cenário, o que gerará é insatisfação, estresse, apatia apatia e conflitos pela inexorabilidade 37 Revista Eletrônica Intr@ciência do docente. Conscientizar-se Conscientizar se de que a eliminação de problemas não ocorrerá, mas a intervenção poderá diminuir os males. O que não resolve, é a inércia de ficar na “zona de conforto”. Não há como haver neutralidade daqueles daqueles que estão no mundo, com o mundo e com os outros. De forma positiva ou negativa, a ação docente irá afetar os educandos. Quanto as posturas rebeldes, devem ser transformadas em revolucionárias, e não reacionárias. Nos grupos populares há o “saber ingênuo”; ingênuo”; e o docente não deve converter-se, converter ou adaptar-se se a esse saber. Também não pode impor de forma arrogante os seus saberes como se fossem os únicos que contém a verdade. Então, como sair desse impasse? Através do diálogo, o pensar é desafiado, e a história história social dos grupos populares é refletida, relida, construída, dando uma nova compreensão do contexto em que vivem. Conduzindo a conclusão, que o seu estado social não é totalmente culpa sua, há um passado, há forças por detrás. Contudo, incentivar à mudança, mudança, a busca da qualidade de vida, que não é direito exclusivamente de alguns, mas de todos. O educador autoritário dificulta o exercício da curiosidade do aluno. Porém, o professor deve se conscientizar de que a curiosidade: dinamiza, inquieta, insere em e novas buscas, e na ausência dela, nem o professor ensina, e nem o aluno aprende. A curiosidade deve ser exercida corretamente, construída eticamente, ou seja, “minha curiosidade não tem o direito de invadir a privacidade do outro e expô-la expô la aos demais” (FREIRE, (F 2009, p. 85). Para Freire (2009), a autoridade e liberdade quando entram em desequilíbrio transformam-se se em: autoritarismo e licenciosidade, todavia, há necessidade de equilíbrio e respeito, para não transgredir os limites, isto é, “a autoridade docente docente democrática precisa encarnar em suas relações com a liberdade dos alunos” (FREIRE, 2009, p. 90). O professor deve ter uma autoridade segura em suas decisões, atuações e posições. Não necessitando de um discurso sobre si mesmo, sobre a sua existência, existência interrogando os alunos sobre sua suposta autoridade,, ou seja, se eles sabem com quem estão falando. O competente profissional promove segurança, assim como, leva a sério seus estudos, sua formação, e esforça-se se para aperfeiçoar-se, aperfeiçoar cada vez mais, em seu ofício. A generosidade produzirá “o clima de respeito que nasce de relações justas, humildes, generosas, em que a autoridade docente e as liberdades dos alunos assumem-se assumem se eticamente, autentica o caráter 38 Revista Eletrônica Intr@ciência formador do espaço pedagógico” (FREIRE, 2009, p. 92). A autonomia precisa ser construída tendo como fundamento a responsabilidade que se assume. Os conteúdos e a formação ética precisam ser ensinados juntos; e o “ensino ético dos conteúdos implica o testemunho ético do professor” (FREIRE, 2009, p. 95). O docente d não conseguirá ajudar o aluno, a vencer a sua ignorância se não superar a sua própria. O saber ensinado deve ser vivido de forma concreta com os seus alunos. O melhor discurso, conforme Freire (2009), é o exercício da prática, ou seja, a intimidade do dizer com o fazer: o seu testemunho ético. Para viver a eticidade é necessária a presença da liberdade. O educando precisa exercer a sua liberdade, embora, para ampliá-la ampliá la seja necessário assumir, eticamente, a responsabilidade de seus atos. Quanto ao ensino é necessário saber escutar, pois, é escutando que se aprende a falar com os alunos. “somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele, mesmo que, em certas condições, precise falar a ele” (FREIRE, 2009, p. 113). Se o docente discrimina ina certas posições sociais, culturais, econômicas, cor de pele, enfim, não conseguirá fazer a escuta, que por sua vez prejudicará o diálogo, a compreensão e o resultado será uma fala verticalizada em invés de horizontal. Na verticalização do discurso, há há indícios de: preconceitos, arrogância, falsa superioridade e outros, gerando conflitos. Os conflitos por sua vez geram: afrontas, ameaças, luta física, ou seja, desentendimentos, que agravam a relação ensinoensino aprendizagem. Isso não quer dizer que o professor professor deva se retrair diante do desrespeito do aluno, sem ao menos expressar o seu protesto. É necessário que o educando saiba, mesmo que haja diferenças de força física e de autoridade, a humildade do docente revelará sua covardia. “É necessário que ele saiba saiba que, se fisicamente pode golpear-me golpear e seus golpes me causam dor, não tem, contudo, a força suficiente, para dobrar-me dobrar me ao seu arbítrio” (FREIRE, 2009, p. 122). Saber escutar o aluno não é concordar, acomodar e assumir a sua leitura de mundo. Não é ser simpático, impático, somente, no entanto é com e não sobre o educando que juntos hão de superar a forma ingênua por outra mais crítica de entender a inteligência do mundo. Esse processo dá-se se na dialogicidade, mas não qualquer diálogo, pois conforme Freire (2005, p. 91) “não há diálogo, porém, se não há um profundo amor ao mundo e aos homens”. 39 Revista Eletrônica Intr@ciência Querer bem aos alunos é um objetivo a ser seguido, não ser obrigado a igualar o mesmo sentimento a todos, entretanto o fato é não ter medo de expressar a afetividade, ou seja, o professor pode ser sério em sua prática docente como ser paralelamente afetivo. A relação ensino-aprendizagem aprendizagem deve ser prazerosa, alegre, contudo, não sendo sinônimo de rigor, seriedade, amargura, formalidade pessoal e outros, mas humanista, a favor da formação ormação do homem, e não antihumanista. A experiência docente não pode ser desalmada, fria, sem emoções, sonhos e desejos, portanto, sua competência e os seus saberes, são instrumentos que podem promover a alegria que envolve o ensino e aprendizagem. Entretanto, Entretanto, o professor e o aluno têm necessidades semelhantes, por ser gente, e quando há consciência disso, por ambas as partes, promove-se se a autonomia fundamentada na ética, diminuindo os conflitos e aumentando as amizades. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARANHA, HA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1991. BLIKSTEIN, Izidoro. Técnicas de Comunicação Escrita. 13. ed. São Paulo: Ática, 1995. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 40. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2009. ________. Pedagogia da Esperança. 16. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2009. ________. Pedagogia do Oprimido. Oprimido. 49. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. HOFFMANN, Jussara. Pontos & Contrapontos: do pensar ao agir em avaliação. 10. ed. Porto Alegre, RS: Mediação, 2007. 40 Revista Eletrônica Intr@ciência MEDIAÇÃO DE CONFLITOS: o papel do ministério público face a indisciplina no contexto escolar. CALHAU, Lélio Braga13 O crescimento da atuação do Ministério Ministério Público em face de novas demandas sociais, que se apresentam cada vez mais na atuação diária de nossa Instituição, nos têm levado a navegar nos últimos anos em temas pouco afetos aos profissionais oriundos das faculdades de direito no Brasil. A “mediação diação de conflitos”, embora seja um assunto recorrente nos cursos de Psicologia (nas mais variadas abordagens), não é um tema que nos é ensinado e trabalhado, regra geral, nos cursos de Direito. Pelo contrário, nos últimos anos substituiu-se substituiu se a busca da conciliação pela ajuizamento em massa de ações sem que os profissionais envolvidos tenham buscado preliminarmente compor interesses em conflito. O profissional do Direito, que na atualidade sai da faculdade busca o conflito, o ajuizamento de uma ação, mesmo mesm que isso signifique perda de tempo, energia e custos maiores para o seu cliente. Ao ingressarem anos depois no Ministério Público, eles encontram um paradoxo, pois o ajuizamento em massa de ações (longe de resolver todos os casos) acaba por trazer mais desequilíbrio ao sistema judiciário e atrasa a solução efetiva de conflitos, que poderiam ter sido sanados com a busca do consenso entre o Ministério Público e os envolvidos. É certo que nem todas as áreas de atuação do Ministério Público admitem a “mediação iação de conflitos”, mas o campo escolar, em muitos casos, é uma das possibilidades onde o promotor de justiça pode com sua discricionariedade, dedicação e criatividade, contornar uma série de questões que, se levadas ao Poder Judiciário, não encontrarão uma u 13 Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Mestre em Direito do Estado pela Universidade Gama Filho (RJ). Mestrando em Gestão Integrada Integrada de Território pela UNIVALE (MG). Graduado em Psicologia pela UNIVALE.Autor do livros “Bullying: o que você precisa saber”, 3ª ed, RJ, Impetus, 2011 e “Diário de uma vítima de bullying”, 2011, RJ, Impetus, entre outros. Autor da cartilha “Vigilantes do bullying” do Ministério Público de Minas Gerais. Site: http://www.leliobragacalhau.com.br 41 Revista Eletrônica Intr@ciência resposta mais adequada para a comunidade escolar, como também, trarão confusão, desconforto e perplexidade à todos que giram em torno daquela escola.14 Primeiramente, se faz necessário, que se reconheça a escola como um território, onde os atores se relacionam de forma dinâmica entre si. Relações poder no plano pessoal, familiar e dos grupos influenciam e se deixam influenciar no campo escolar. O território ório escolar é influenciado, ainda, não somente pelas leis, como também pelas práticas educacionais (desconhecidas pela maioria dos profissionais do Direito) e por essas relações de poder. Problemas diversos interferem na educação escolar e a cultura é um deles. Maria Alice Nogueira e Cláudio M. Martins Nogueira (2009, p. 52), ao comentarem o pensamento de Pierre Bourdieu, afirmam: [...] a educação escolar, no caso de crianças oriundas de meios culturalmente favorecidos, seria uma espécie de continuação continua da educação familiar, enquanto para as outras crianças significaria algo estranho, distante, ou mesmo, ameaçador. Devemos, então, entender isso quando lidamos com a indisciplina, por exemplo. Indisciplina não é apenas um desrespeito objetivo à norma legal existente na escola, em especial, ao regimento escolar. Não basta o seu enquadramento objetivo, pois o problema da indisciplina possui raízes também nas identidades dos sujeitos, suas relações e as dinâmicas de poder (ostensivas ou não) existente no território escolar. Aceitemos, então, nesse contexto, a advertência de Claval (2001, p. 40): Por que os indivíduos e os grupos não vivem os lugares do mesmo modo, não os percebem da mesma maneira, não recortam o real segundo as mesmas perspectivas e em função dos mesmos critérios, não descobrem nele as mesmas vantagens e os mesmos riscos, não associam a ele os mesmos sonhos e as mesmas aspirações, não investem nele os mesmos sentimentos e a mesma afetividade? 14 Nos últimos anos têm crescido cada vez mais os casos de processos judiciais, onde são questionados atos praticados pelas direções de estabelecimentos escolares. Há uma preocupação por parte dos educadores com uma possível intervenção excessiva da Justiça no dia-a-dia dia das escolas, que e considerada por alguns, excessiva. 42 Revista Eletrônica Intr@ciência Avancemos, então, na compreensão que a indisciplina e a mediação são temas muito mais complexos do que as leis e normas que os regem. Cada aluno possui seu conjunto de expectativas sobre o ambiente escolar. E isso influenciará a forma como o aluno lidará com a dinâmica escolar. samos lidar com fatos complexos como mediação de conflitos, Para que possamos indisciplina, incivilidades, bullying15 etc., tão presentes no espaço escolar, devemos nos abrir para o pensamento interdisciplinar, permitindo que outros ramos do saber interajam com nossos conhecimentos, imentos, experiências pessoais, ideologias e interpretações. Confundimos no Direito, em algumas oportunidades, as sensações com percepções. Interpretamos fatos como se fossem “verdades absolutas”, ou até mesmo como “sensações”, o que nos afasta de uma ação ação verdadeiramente efetiva no campo escolar, um território com todas as complexidades que a escola possui e com a diversidade de seus atores, relações e dinâmicas de poder. Não abandonemos nossa Casa, o Direito, onde nossos corações residem, nossos anseios, os, decepções e esperanças nos movimentam, mas abramos as mentes, corações e possibilidades para a integração com outros ramos do saber, em especial, da Pedagogia, Psicologia, Serviço Social etc. Não defendo que criemos um novo saber, mas que o novo saber nos transforme em profissionais mais integrados ao contexto escolar. Assim, poderemos interagir de forma mais adequada com aqueles personagens e, por consequência, seremos mais eficazes em nossas ações no meio escolar aos promovermos a mediação de conflitoss como representantes do Ministério Público. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CLAVAL, Paul. O papel da nova geografia cultural na compreensão da ação humana in Matrizes da Geografia Cultural. Cultural. Organização de RESENDAHL, Zeny e CORRÊA, Roberto Lobato. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001. NOGUEIRA, Maria Alice; NOGUEIRA, Cláudio M. Martins. Bourdieu e a Educação. Educação Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2009. 15 Para melhores informações, sugiro a leitura de meus posicionamentos quanto ao tema no livro Bullying: o que você precisa saber, 3ª edição, RJ, Impetus, 2011. 43 Revista Eletrônica Intr@ciência UMA ANÁLISE SOBRE A PENA DE MORTE SOARES, Anderson Real16 NAPOLITANO JUNIOR, Domingos17 INTRODUÇÃO Tendo em vista o recente caso envolvendo a morte da menina Isabella Nardoni, de cinco anos de idade, que caiu do sexto andar de um prédio na região do Carandiru, na Zona Norte de São Paulo, e cujas investigações apontam o próprio pai, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá como supostos autores de delito tão bárbaro, e os escandalosos e imperdoáveis casos de pedofilia, que, a cada dia, parecem ser tornar mais e mais freqüentes, reacendeu-se, reacendeu uma vez mais e com todo o seu vigor, a discussão sobre a introdução da pena de morte em nosso ordenamento jurídico-penal. jurídico Contudo, é preciso advertir: tal como a caixa de pandora, a introdução da pena de morte em nossa sociedade iria libertar uma série de males, injustiças e mazelas maz sociais, que nunca poderiam ser colocados de volta em seu local de origem. Buscaremos, neste texto sucinto e despretensioso, demonstrar, através de argumentos filosóficos e jurídicos que a adoção da pena de morte constitui um grande disparate rate cujos resultados danosos iriam superar, e muito, aqueles provocados pela abertura da caixa helena. Não que estejamos a defender a impunidade de autores de crime tão atroz quanto aquele que envolveu a menina Isabella (seja lá quem for o culpado), contudo, cont conforme será abordado tratado ao final desse tema, postulamos a delinqüentes como aqueles (irrecuperáveis) a aplicação da pena de prisão perpétua, como forma de segregação preventiva, pois é muita ingenuidade imaginar que quem cometeu aquele delito possa p se recuperar e voltar a conviver em sociedade. Se bem que devemos admitir que mesmo a introdução da pena de prisão perpétua em nosso sistema jurídico, também, enfrentará dificuldades jurídicas, quase que 16 17 Advogado Criminalista, Professor Universitário, especialista em Direito Direito Penal e Processo Penal; Advogado Criminalista 44 Revista Eletrônica Intr@ciência insuperáveis, da mesma forma que a introdução da pena capital, conforme será demonstrado a partir de agora. 1 Pena de morte e Poder Constituinte A adoção da pena de morte esbarra em impedimentos jurídicos, que não poderão ser superados com facilidade. O primeiro destes obstáculos reside na dificuldade jurídica em introduzir a pena de morte em nosso ordenamento jurídico. Com efeito, de acordo com o art. 60, § 4 º, IV, da CF, “não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir os direitos e garantias individuais”. Ora, a vedação à pena de morte constitui um direito individual (CF, art. 5 º, XLVII), XLVII) logo, uma autêntica cláusula pétrea. Destarte, não poderá sequer ser objeto de deliberação a proposta de emenda constitucional que tivesse a finalidade de suprimir aquela vedação, vedaç ou seja, de trazer ao cenário jurídico brasileiro a pena capital. Já que existe uma limitação material tão explícita ao poder constituinte derivado de reforma que não pode, por meio de emendas, introduzir aquela pena em nosso sistema jurídico, o único modo de introduzi-la, introduzi la, em tese, seria através de uma nova atuação do poder constituinte originário, mediante a confecção de uma nova Carta Magna. Porém, é pacífico que a criação de uma nova Carta Magna constitui um processo da mais alta relevância jurídica, jurídica, econômica e social, na medida em que recria o próprio Estado, dando-lhe lhe uma nova feição, já que Constituição (no clássico conceito de CELSO BASTOS) nada mais é do que a particular maneira de ser do Estado18. Assim, somente mudanças sociais, políticas e econômicas econômicas muito profundas e significativas poderiam legitimar a reestruturação de um Estado e, portanto, justificar a criação de uma nova Carta Magna19. 18 Segundo Michel Temer: “Constituição significa ‘o corpo’, a ‘estrutura’ ‘estrutura’ de um ser que se convencionou denominar Estado. Por ser nela que podemos localizar as partes componentes do Estado, estamos autorizados a afirmar que somente pelo seu exame é que conheceremos o Estado” (TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. Constitucional. São Paulo: Malheiros. 16ª Ed. Pg. 15). 19 Tais afirmações têm como premissa a natureza jurídica do poder constituinte originário adotada pelos positivistas ou normativistas e que reputamos ser a mais correta. Com efeito, para p os positivistas ou normativistas, tivistas, o poder constituinte é tão-somente somente uma força ou energia social. Eles negam o caráter jurídico daquele poder. E quando e por que se manifesta essa força social? Essa força ou energia social – chamada poder constituinte originário – “só é exercitada exercitad em ocasiões excepcionais. Mutações constitucionais muito profundas marcadas por convulsões sociais, crises econômicas ou políticas muito graves, ou mesmo por ocasião da formação originária de um Estado, não são absorvíveis pela ordem jurídica vigente. vigente 45 Revista Eletrônica Intr@ciência Ora, a recriação do Estado brasileiro e das suas instituições deve se pautar em necessidades reais da nação ação e não em discursos demagógicos que vêem na introdução da pena capital e em outras medidas de cunho retributivo-repressivo retributivo repressivo (redução da menoridade penal, p.ex.) a panacéia para o problema da criminalidade. Daí a absoluta ilegitimidade em querer se recriar recriar o Estado brasileiro a partir da criação de uma nova Carta Magna, com o objetivo de se introduzir a pena de morte em nosso país, sob a justificativa de que determinados crimes (ou criminosos) somente podem ser eficazmente combatidos com a pena capital. 2 Direitos Humanos A despeito das dificuldades jurídicas, quase intransponíveis, há, ainda, alguns doutrinadores que discordam que a criação de uma nova Carta Magna pudesse ter legitimidade para introduzir a pena capital em nosso país. É o caso, p.ex., p.ex. de FÁBIO KONDER COMPARATO,, quando diz que “em “em matéria de direitos humanos, não se admitem regressões, por meio de revogação normativa, normativa ainda que efetuada por diplomas jurídicos de hierarquia superior àquele em que foram tais direitos anteriormente declarados declarados (g.n.). (g.n.) Assim, se, por exemplo, a pena de morte é abolida por norma constitucional, o advento de nova Constituição não poderia restabelecê-la” restabelecê 20. No mesmo sentido, a perfeita lição de MARCELO NOVELINO segundo a qual “a conquista desses direitos não pode ser objeto de um retrocesso. Os direitos humanos consistem em uma limitação metajurídica ao poder constituinte originário, atuando como critério de aferição da legitimidade do conteúdo constitucional” (CAMARGO, Marcelo Novelino. Direito constitucional para concursos. concursos. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 155). Ademais, cumpre lembrar que, em se tratando de direitos humanos (e a vedação à pena de morte se insere nesse contexto), os tratados internacionais que tenham por objeto Nesses momentos, a inexistência de uma Constituição (no caso de um Estado novo) ou a imprestabilidade das normas constitucionais vigentes para manter a situação sob a sua regulação faz eclodir ou emergir esse poder constituinte, que, do estado de virtualidade ade ou latência, passa a um momento de operacionalização, do qual surgirão as novas normas constitucionais.” (BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional, pg. 20, g.n.). No Brasil, p.ex., podemos apontar a Proclamação da Independência de 1822 com com o conseqüente surgimento do Estado brasileiro e a Constituição de 1824; a Proclamação da República de 1889 e a Constituição de 1891; a Revolução de 1930 e a Constituição de 1934; o golpe de 1937 e a Constituição de 1937; a redemocratização em 1945 e a Constituição Constituição de 1946; o golpe militar de 1964 e a Constituição de 1967 (ou, conforme alguns preferem a EC n. 01 de 1969) e, finalmente, a nova redemocratização em 1985 e a Constituição de 1988. 20 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. humanos. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 291. 46 Revista Eletrônica Intr@ciência a disciplina daqueles direitos poderão alcançar o mesmo grau de eficácia e rigidez das normas constitucionais, uma vez que, segundo o § 3º, do artigo 5º, da Constituição Federal (incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004): 2004) “Os Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Congres Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. constitucionais 3 Direito Internacional Público Sem querer se aprofundar muito nesse tema, cumpre apenas argüir que o Brasil, a partir da EC 45-04 04 passou a se submeter à jurisdição do Tribunal Penal Internacional (artigo 5º, § 4º). “O Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia (Holanda), julga crimes de guerra, crimes contra a humanidade, crimes de agressão e crimes de genocídio (tipificados em seu estatuto) cometidos a partir de 1º de julho de 2002 por pessoas dos países-membros países (dentre eles o Brasil) ou que tenham cometido crimes nos Estados participantes”21. Contudo, nada obstante a gravidade dos crimes que o Estatuto de Roma (o qual tipifica os crimes de competência do TPI) busca coibir, o mesmo não adotou a pena de morte como uma de suas penas (art. 77, I), sendo que sua reprimenda mais grave é a de prisão perpétua, o que reforça nosso ponto de vista da aplicação dessa reprimenda reprim apenas para casos excepcionalíssimos, como o caso que envolveu a menina Isabella Nardoni. Finalmente, um importante aspecto que revela a aversão de nossa Corte Suprema à pena de morte, diz respeito ao instituto da extradição, uma vez que o STF não concederá a extradição de estrangeiro aos países que adotem a pena de morte, salvo se os mesmos derem garantias de que não irão aplicá-la. aplicá Assim, “se para o ilícito for prevista a pena de morte ou prisão perpétua no país requerente, antes da extradição a sanção deve ser comutada por outra pena. Não se exige comutação na hipótese em que também o Brasil autorize a pena de morte”.22 21 CHIMENTI, Ricardo Cunha; CAPEZ, Fernando; ROSA, Márcio Fernando Elias Rosa e SANTOS, Marisa Ferreira dos. Curso de Direito Constitucional.. São Paulo: Saraiva, 2006, pg. 50. 22 in CHIMENTI, Ricardo Cunha; CAPEZ, Fernando; ROSA, Márcio Fernando Elias Rosa e SANTOS, Marisa Ferreira dos. Op. cit., pg. 161. Chancelando esses entendimentos, a jurisprudência da nossa Suprema Corte: "STF. Extradição n. 633 – República da China. Rel: Min. Celso de Mello. Ementa (...) Extradição. Pena de Morte e Compromisso de Comutação. O ordenamento positivo brasileiro, nas hipóteses em que se delineia a possibilidade de imposição do supplicium extremum, 47 Revista Eletrônica Intr@ciência Lembrando que, no o Brasil, “a pena capital somente poderá ser aplicada em tempo de guerra, que deverá ser declarada pelo Presidente Presidente da República, nos casos previstos em lei. O Código Penal Militar (C.P.M) admite a aplicação da pena de morte quando forem praticados determinados crimes, como a espionagem, a traição, entre outros. A pena de morte será aplicada na modalidade de fuzilamento, fuzilamento, devendo ser assegurado ao acusado a ampla defesa e o contraditório”.23 Estes são apenas alguns dos aspectos do Direito Internacional Público que, se não vinculam nosso Estado, devem, ao menos, servir como advertência aos nossos legisladores da erronia de se querer introduzir a pena capital em nosso país como resposta à criminalidade violenta que tem assolado nossa nação. 4 A seletividade da pena de morte Não podemos olvidar, outrossim, de advertência do próprio IBCCRIM, que em fevereiro de 1993, publicou um manifesto no qual ficou consignado que “a pena de morte para os crimes dos pobres - enquanto ficam impunes as violências que em grande medida os geram - traduz uma iníqua, profundamente injusta e distorcida visão da realidade. É na verdade, e, uma forma de se eliminar os que, marginalizados por um sistema que concentra riquezas e difunde miséria, nasceram na desgraça do abandono”24. 5 A irreversibilidade da pena de morte Ora, nada obstante nossa Constituição determinar que “o Estado indenizará indeni o condenado por erro judiciário” (CF, 5º, LXXV), de que adianta para um acusado inocente, que foi condenado erroneamente à pena capital, ver seus herdeiros ressarcidos por um erro fatal do qual aquele foi vítima? E mesmo para esses não haverá indenização indeniza que seja capaz de apagar a nódoa causada pela morte injusta, ilegal, provocada pelo Estado. Como apagar impede a entrega do extraditando ao Estado requerente, requerente, a menos que este, previamente, assuma o compromisso formal de comutar, em pena privativa de liberdade, a pena de morte, ressalvadas, quanto a esta, as situações em que a lei brasileira fundada na Constituição Federal (art. 5º, XLVII, a) - permitir a sua ua aplicação, caso em que se tornará dispensável a exigência de comutação (...). O fato de o estrangeiro ostentar a condição jurídica de extraditando não basta para reduzi-lo reduzi a um estado de submissão incompatível com a essencial dignidade que lhe é inerente inerente como pessoa humana e que lhe confere a titularidade de direitos fundamentais inalienáveis...” (in Informativo do STF, n. 223, de 2 a 13 de Abril de 2001, p. 4). 23 in ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues; MACEROU, Eliane Ferreira. Pena de morte ou prisão perpétua - uma solução justa? Disponível na internet:http://www.ibccrim.org.br, 26.02.2002. 24 Manifesto contra a pena de morte. morte Boletim IBCCRIM. São Paulo, n.1, p. 1, fev. 1993. 48 Revista Eletrônica Intr@ciência tal erro? Impossível. Ademais, a sociedade perderia ainda mais a confiança no Estado, que de defensor das liberdades públicas, passaria a algoz que, de vez em quando, erra, mas nem sempre. Para qualquer outra reprimenda, inclusive a pena de prisão perpétua, verificando-se verificando o erro Judiciário, ainda é possível remediar o mal, colocando, imediatamente, o condenado em liberdade, o que é impossível de se conceber na aplicação da reprimenda extrema. E não se diga que o erro judiciário não existe. Embora seja raros em casos como esses, não é impossível concebê-lo. concebê lo. Basta apenas lembrarmos do paradigmático caso dos Irmãos Naves que, condenados pela morte de um colega de trabalho, foram, tempos depois, inocentados, uma vez que a suposta vítima apareceu viva. Se tal caso já causa certa repugnância, imagine-se imagine se a situação se os irmãos tivessem sido executados. Se bem que, no caso, um dos irmãos Naves chegou a morrer m na prisão antes que a vítima aparecesse viva, explicando a situação.25 6 Conclusão A importância do presente texto se revela no seu escopo preventivo, no sentido de alertar nossos legisladores para que não se deixem embriagar pelo discurso midiático mid e sensacionalista de um Direito Penal Simbólico (onde a o recrudescimento e a severidade do Direito Penal se apresenta como panacéia para todos os males sociais) e, desse modo, acabem por introduzir em nosso ordenamento jurídico-penal jurídico uma pena tão desprovida d de eficácia quanto de dignidade, como o é a pena de morte. morte O fundamental é que haja uma certeza na aplicação da pena. É cediço que o Direito Penal é o ramo mais severo de nosso ordenamento jurídico, posto que o mesmo, através de suas penas privativas privativas de liberdade, atingem um dos bens jurídicos mais importantes do homem: a sua própria liberdade de ir e vir. 25 “Os únicos fatos conhecidos eram a briga recente e o desaparecimento da pessoa, mas ligando ligando as duas coisas os irmãos Naves foram acusados de assassinato, agravando com a ocultação do cadáver. Imediatamente presos, confessaram na prisão a autoria do crime e foram condenados, porém alguns anos depois, quando um deles irmãos Naves já havia morrido mo na prisão e o outro continuava preso, a suposta vítima reapareceu, viva e disposta a esclarecer a história. Não tinha havido assassinato algum e os dois irmãos eram inocentes. Depois da briga, temendo sofrer alguma violência, o trabalhador que havia brigado com os Naves decidiu mudar-se se para um lugar bem distante. Como era solteiro e pobre carregou nas costas tudo o que possuía e foi para longe sem dar notícia a ninguém. Acusados do assassinato e tendo sido violentamente espancados na prisão os irmãos Naves confessaram a autoria de um crime que jamais haviam cometido. E assim foram condenados” (FILHO, Francisco das C. Lima. Pena de morte: atentado contra o direito à vida, in http://www.direitonet.com.br, http://www.direitonet.com.br 30/01/2007). 49 Revista Eletrônica Intr@ciência Contudo, de nada adianta tornar mais poderosa essa ‘arma’ do Direito Penal, comutando-aa em pena de morte (e atingindo, pois, o bem jurídico jurídico mais importante que é a vida) para os casos mais graves e bárbaros. O importante é a certeza que deve ser incutida no espírito dos potenciais delinqüentes de que serão, caso venham a delinqüir, punidos pelo Direito Penal. De que adianta aumentar o poder de fogo de um mau atirador, por exemplo. Tanto faz, para aquele que não sabe atirar, dar-lhe dar lhe um revólver 38 ou um rifle AR15. Muito mais eficaz será um atirador experiente que, com um único tiro, pode causar a resposta que se espera. a, em suma, a pesada espada do Direito Penal, se a mesma não estiver De nada adianta, devidamente afiada. E para afiá-la, la, urge uma reforma na polícia civil, pois é nela que tudo tem início, aparelhando e remunerando melhor seus agentes e, sobretudo, uma profunda reforma na execução penal, não, contudo, na legislação, mas na estrutura e nas instituições destinadas a garantir a execução das penas, sendo que muitas, hoje, podem ser consideradas vergonhosas. Por fim, para sepultar de vez a infeliz idéia de se querer introduzir introdu a pena de morte em nosso sistema jurídico, fiquemos com as sábias palavras do saudoso MIGUEL REALE, que, contrário àquela pena, argumentava “não sou favorável à pena de morte, porque a morte é 26 inexplicável. Não sei como se pode transformar a morte em pena”. p REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. Constitucional. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. CAMARGO, Marcelo Novelino. Direito constitucional para concursos. concursos Rio de Janeiro: Forense, 2007. CHIMENTI, Ricardo Cunha; CAPEZ, Fernando; ROSA, Márcio Fernando Elias Rosa e SANTOS, Marisa Ferreira dos. Curso de Direito Constitucional. Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2006. 26 in Jornal do Advogado, OABSP. N. 305. Abril de 2006, p. 11. 50 Revista Eletrônica Intr@ciência COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. humanos São Paulo: Saraiva, 2001. FILHO, Francisco das C. Lima. Pena de morte: atentado contra o direito à vida. Disponível em: < http://www.direitonet.com.br>. http://www.direitonet.com.br ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues; MACEROU, Eliane Ferreira. Pena de morte ou prisão perpétua - uma solução justa? justa Disponível em: <http://www.ibccrim.org.br>. TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. Constitucional. 16. ed. São Paulo: Malheiros. 51 Revista Eletrônica Intr@ciência CENTRO DE DADOS (DATACENTERS) GARCIA, Denis INTRODUÇÃO Os centros de dados têm suas raízes nas enormes salas de informática do século XX da indústria de computação. Os primeiros computadores eram complexos de operar e manter, e exigiram um ambiente especial para o seu funcionamento. Esse ambiente era composto de muitos cabos para conectar conectar todos os componentes, e métodos para acomodá-los los e organizá-los, organizá los, tais como um padrão de bastidores para montar o equipamento e pisos elevados. Além disso, um único computador de grande porte (mainframe) necessitava de uma grande quantidade de energia, principalmente para sua refrigeração para evitar o superaquecimento. A segurança era um fator importante já que os computadores eram caros, e muitas vezes eram usadas para fins militares. Regras e diretrizes foram criadas para serem incorporadas nos projetos para controlar o acesso à sala de computador. Durante a explosão da indústria de microcomputadores, e especialmente durante a década de 1980, os mesmos começaram a ser implantado em todos os lugares, em muitos casos, com pouco ou nenhum cuidado sobre sobre os requisitos operacionais. No entanto, como o crescimento da tecnologia da informação (TI), as operações cresceram em complexidade, as empresas tomaram ciência da necessidade de controlar os seus recursos de TI. Com o advento da tecnologia cliente-servidor, cliente rvidor, na década de 1990, os microcomputadores (agora chamados de “servidores”) passam a conviver nas salas dos grandes computadores antigos. A diminuição dos preços dos equipamentos, juntamente com novos padrões de rede de cabeamento estruturado, e o número número crescente dos servidores tornou possível a estruturação desses equipamentos em um design hierárquico em salas específicas dentro da empresa, denominadas de centro de dados ou data centes. Esse tipo de solução ganhou reconhecimento e se tornou popular. 52 Revista Eletrônica Intr@ciência Com o surgimento do conceito de computação em nuvem (Cloud (Cloud Computing ) as organizações, tanto particulares, como governamentais estão levando os centros de dados para um grau mais elevado de preocupações, tais como, segurança, disponibilidade, impacto ambiental iental e adesão a padrões. Grupos de profissionais, como a Associação da Indústria de Telecomunicações (TIA), especificam os requisitos de projeto de um data center padrão. Definem também métricas operacionais para garantia da disponibilidade de dados centralizados centralizados que permitem avaliar o impacto no negócio de uma ruptura do atendimento operacional. Essas soluções ainda se encontram em desenvolvimento, partindo do que está sendo praticado no mercado. A operação e também o design ambiental mais amigável tem te se tornado um foco nas soluções de centro de dados. Os centros de dados é uma solução tipicamente cara, tanto para se construir, como para manter. 1 Requisitos e Classificação dos Data Centers O uso da TI em uma organização é um dos aspectos cruciais da maioria das operações das organizacionais. Uma das principais preocupações é a continuidade dos negócios. As empresas dependem de seus sistemas de informação para executar suas operações do dia-adia dia. Atualmente, se os serviços de tecnologia passam a indisponíveis, indisponíveis, as operações das empresas são prejudicadas ou tornam-se tornam se completamente inoperantes, portanto é necessário proporcionar uma infraestrutura segura para as operações de TI, de modo a minimizar qualquer risco deste tipo. A segurança da informação também é uma preocupação, e por esta razão, um centro de dados tem para oferecer um ambiente seguro, que minimiza as chances de uma violação de segurança. Um Data Center deve, portanto manter padrões elevados para assegurar a integridade e funcionalidade de seu ambiente. Isto é realizado através, por exemplo, a redundância de interfaces de rede, CPUs, servidores, fontes de alimentação interna para com manter o perfeito erfeito funcionamento do sistema em caso de falhas de componentes ou 53 Revista Eletrônica Intr@ciência sobrecargas do sistema, incluindo-se incluindo também a geração de energia e comunicação de emergência de backup. O Instituto Uptime, dos Estados Unidos é uma organização fundada em 1993 com foco em m promover o aumento da confiabilidade e da disponibilidade de Data Centers, uma de suas principais contribuições foi a criação da classificação deste ambientes em camadas (TIERS)) que originou a norma TIA-942. TIA A norma ANSI/EIA/TIA 942 indica os requisitos desde a construção até a pronta ativação do Data Center. Esta norma é baseada em um conjunto de outras normas e é a principal norma existente para qualquer projeto de Data Center. De acordo com os itens a seguir: • TIA 568 – Cabeamento; • TIA 569 - Encaminhamentos Encaminham e Espaço; • TIA 606 – Administração; • TIA 607 – Aterramento; • ASHRAE - Refrigeração HVAC; • IEEE 1100 - ITE Aterramento. Mostrado na figura abaixo: Figura 1- Normas para Data Centers Fonte: FURUKAWA 54 Revista Eletrônica Intr@ciência A Topologia Básica de um DATACENTER, segundo a norma, é a mostrada abaixo: Figura 2 - Topologia de um Data Center Fonte: FURUKAWA Onde: • Entrance Room (ER) – Sala de Entrada. Espaço de interconexão entre cabeamento estruturado do DATACENTER e o cabeamento vindo das operadoras de telecomunicações. • Main Distribution Area (MDA) – Área de Distribuição Principal, onde se encontra a conexão central al do DATACENTER e de onde se distribui o cabeamento estruturado. • Horizontal Distribution Area (HDA) – Área de Distribuição Horizontal, utilizada para conexão com área de equipamentos. Inclui o cross conect horizontal e equipamentos intermediários. • Zone Distribution stribution Area (ZDA) – Área de Distribuição por Zona, ponto de interconexão opcional do cabeamento horizontal. Prove flexibilidade para o DATACENTER. Fica entre o HDA e o EDA. • Equipment Distribution Area (EDA) – Área para equipamentos terminais (servidores, (servidore storage (armazenamento), unidades de fita) e equipamentos de rede. 55 Revista Eletrônica Intr@ciência A norma (ANSI/EIA/TIA 942) define a classificação dos DATA CENTERS em quatro níveis independentes considerando a Arquitetura, Telecomunicações, Aspectos Elétricos e Mecânicos. TIER 1 – Básico: neste modelo não existe redundância nas rotas físicas e lógicas. Prevê uma distribuição de energia elétrica para atender a carga elétrica sem redundância. A falha elétrica pode causar interrupção parcial ou total das operações. Pontos de Falha: Falta Falta de energia da concessionária no DATA CENTER ou na Central de Operadora de Telecomunicações. Falha de equipamentos da Operadora. Falha nos roteadores ou switches quando não redundantes. Qualquer catástrofe nos caminhos de interligação ou nas áreas ER, MDA, MD HDA, ZDA e EDA. Tempo de indisponibilidade: 28.8 h/ano. TIER 2 – Componentes Redundantes: Os equipamentos de telecomunicações do DATACENTER e também os equipamentos de telecomunicações da operadora assim como os dispositivos da LAN-SAN (Local Area Network Netwo – Storage Area Network) devem ter módulos redundantes. O cabeamento do backbone principal LAN e SAN das áreas de distribuição horizontal para os switches do backbone (espinha dorsal) deve ter cabo de cobre ou fibras redundantes. No Tier 2 deve-se deve ter duas uas caixas de acesso de telecomunicações e dois caminhos de entrada até o ER. Devem-se se prover módulos NO-BREAKS NO BREAKS redundantes para N+1. É necessário um sistema de gerador elétrico para suprir toda a carga. Não é necessário redundância na entrada do serviço de distribuição de energia. Os sistemas de ar condicionado devem ser projetados para operação contínua 24 x 7 e incorporam redundância N+1. Pontos de Falha: Falhas nos sistemas de ar-condicionado ar condicionado ou de energia podem ocasionar falhas em todos os outros componentes comp do DATACENTER. Tempo de indisponibilidade: 22 h/ano. TIER 3 – Sistema Auto Sustentado: Deve ser atendido por no mínimo duas operadoras de telecomunicações com cabos distintos. Devem-se Devem se ter duas salas de entrada (ER) com no mínimo 20 metros de separação. Estas salas não podem compartilhar equipamentos de telecomunicações telecomunic e devem estar em zonas de proteção contra incêndios, sistemas de energia e ar-condicionado ar 56 Revista Eletrônica Intr@ciência distintos. Devem-se se prover caminhos redundantes entre as salas de entrada (ER), as salas MDA e as salas HDA. Nestas conexões devem-se devem ter fibras ou pares de fios ios redundantes. Devem-se Devem ter uma solução de redundância para os elementos ativos considerados críticos como o storage (armazenamento). Deve-se se prover pelo menos uma redundância elétrica N+1. Pontos de Falha: Qualquer catástrofe no MDA ou HDA irá interromper interromp os serviços. Tempo de Indisponibilidade: Indisponibilidade 1.6 h/ano. TIER 4 – Sem Tolerância a Falhas: Todo o cabling (cabeamento) deve ser redundante, além de protegido por caminhos fechados. Os dispositivos ativos devem ser redundantes e devem ter alimentação de energia energ redundante. O sistema deve prover comutação automática para os dispositivos de backup. Recomenda-se se uma MDA secundária desde que em zonas de proteção contra incêndio separado alimentado por caminho separado. Não é necessário um caminho duplo até o EDA. EDA Deve-se se prover disponibilidade elétrica 2(N+1). O prédio deve ter pelo menos duas alimentações de energia de empresas públicas a partir de diferentes subestações. O sistema de HVAC deve incluir múltiplas unidades de ar condicionado com a capacidade de resfriamento esfriamento combinada para manter a temperatura e a umidade relativa de áreas críticas nas condições projetadas. Pontos de falha: Se a MDA primária falhar se não houver MDA secundária. Se a HDA primária falhar se não houver HDA secundária. Tempo de indisponibilidade: nibilidade: 0.4 h/ano. Estes dados que darão as especificações principais e os requisitos mínimos para infraestrutura de Data Centers e salas de computador, incluindo dados únicos inquilinos corporativos e centros multi-tenant multi (inquilinos múltiplos), Internet, net, centros de dados de hospedagem. A topologia proposta neste documento se destina a ser aplicável a qualquer Data Center de tamanho. A Caminho Da Nuvem – Cloud Computing Começaremos uma era que tudo indica nos levará às nuvens. 57 Revista Eletrônica Intr@ciência Cada vez fica mais difícil difícil ouvir a palavra backup, pois nossos arquivos, atualmente caminham para sair do computador pessoal e se colocar nos sistemas localizados na nuvem (VERAS, 2010). Um simples sistema como o DROPBOX, da Sony Ericsson, que nos garante a colocação de arquivos, s, fotos e músicas em arquivos virtualizados, colocados em Data Centers. Logo após, seguido pelos softwares semelhantes, tais como SkyDrive da Microsoft ou o GoogleDrive do Google Group, (CHONG, 2011). Com a criação do conceito nuvem, se criaram as nuvens públicas e privadas. Nuvem é uma palavra que está hoje no vocabulário da TI das maiores empresas do mundo. Mas questões como segurança e disponibilidade fazem com que as companhias adotem uma dose extra de cautela. Tanto que o conceito ganhou uma variação: existem as nuvens públicas e as nuvens privadas (private ( cloud). No primeiro caso, estão grandes provedores de serviços, tais como a Amazon com o EC2(Elastic Elastic Computing Cloud), Cloud Google (Google Apps) ou a Microsoft (Windows Azure) cujos equipamentos, infraestrutura ou aplicações são compartilhados por milhares de clientes em todo o mundo, por intermédio da Internet. Já a nuvem privada é a que fica dentro do ambiente protegido (firewall) da empresa e tem o acesso restrito, geralmente aos seus funcionários e parceiros de negócio. Neste caso as corporações se utilizam da metodologia BYOD (Bring Your Own Device), (LINUX MAGAZINE, 2012). Os funcionários acessam determinados recursos da empresa através de seus equipamentos pessoais (notebooks, smartphones, etc.). Recursos estes que estão na nuvem privada da empresa. Preocupação Com a Segurança Com toda esta modernidade e tipos de serviços disponíveis na Internet, há a grande preocupação da segurança das informações. Por um lado a metodologia traz a liberdade de utilização dos recursos fora da corporação, por outro lado a BYOD gera altos riscos para a corporação, sendo o maior ma deles a segurança, que se tornam uma grande dor de cabeça aos líderes de TI. 58 Revista Eletrônica Intr@ciência E outra preocupação é a de uma sobrecarga na nuvem, OwnCloud (Nuvem Privada) além da escassez dos endereços na internet (endereços IP), (RESTFUL MAGAZINE, 2011). CONCLUSÃO Estes serviços de CLOUD COMPUTING, DATA CENTERS, etc. são na linguagem popular uma faca de dois gumes, onde se traz grandes oportunidades e acesso e segurança, mas se com o mau uso esta tecnologia se volta contra nós mesmos, consumo de energia, lixo computacional. Como diziam as pessoas mais velhas, “SABENDO USAR NÃO VAI FALTAR”. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHONG, F. Software como service: service: Uma perspectiva corporative, MIROSOFT PRESS, 2010. CLOUD COMPUTING:: Business with Security,Governance ans Assurance Perspectives. ISACA, Paper, 2009. Disponível em: <http://aws.amazon.com http://aws.amazon.com> Information Storage and Management Magazine, EMC Education Services, 2009. SaaS, Data Architecture. An Oracle White Paper, 2008. Tier Classification Define Site Infrastructure Perfomance, Uptime Institue, 2010. VERAS, Manoel, CLOUD COMPUTING, Nova Arquitetura da TI, 3. ed. 2012. 59 Revista Eletrônica Intr@ciência A EDUCAÇÃO COMO PRESSUPOSTO DE UMA FORMAÇÃO PROFISSIONAL ADEQUADA À SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: as alternativas alternativas para superar a crise do desemprego estrutural GALINDO, Cleusy Araújo 27 MELLO, Daniel 28 SOUZA, Jozilda Lima de 29 FEITOSA NETO, Inácio José 30 RESUMO: O objetivo desse artigo é apresentar algumas propostas que resultarão na ampliação dos direitos sociais para toda classe que vive ou pretende viver de um trabalho e de uma renda, compatíveis com a dignidade humana, diminuindo-se, diminuindo se, por consequência, o desemprego rego estrutural. Resta evidente que o ponto de partida é a conexão da educação com políticas públicas voltadas para a valorização do trabalho como pressuposto básico da dignidade humana, associando-se associando se a esse alicerce, o empreendedorismo, as empresas de economia nomia social ou solidária e a economia da cultura. Breve relato acerca da grande desigualdade social nas Universidades brasileiras onde grupos são historicamente excluídos do acesso ao ensino superior, delineando a Universidade como um espaço restrito àqueles àque com maior poder aquisitivo. Palavras-chave: Direitos sociais. Dignidade humana e Desemprego estrutural. Educação. Políticas públicas. ABSTRACT: The objective of this paper is to present some proposals that will result in the expansion of social rights hts for the entire class that lives or intends to live for a job and an income, consistent with human dignity, decreasing therefore structural unemployment. It is evident that the starting point is the connection of education with public policies for valuing valui work as a basic premise of human dignity, associating with this foundation, entrepreneurship, social economy enterprises or solidary economy and culture. Brief statement about the great social inequality in Brazilian universities where groups are historically ically excluded from access to higher education, outlining the University as a space restricted to those with higher purchasing power. Keywords: Social rights. Human dignity and structural unemployment. Education. Public Policies. 27 Especialista em Direito Judiciário e Magistratura do Trabalho na Esmatra6, Especialista em Direito Previdenciário pela Esmatra6 e Doutoranda em Direito do Trabalho pela Universidade de Buenos Aires. 28 Especialista ialista em Recursos Humanos, Especialista em Direito Civil e Processo Civil, Especialista em Gestão Empresarial, Empresarial Mestre em Economia, Doutor em Administração e Doutorando em Direito Constitucional. 29 Especialista em Direito e Processo do Trabalho e Doutoranda em Direito do Trabalho pela Universidade de Buenos Aires. 30 Especialista em Direito do Trabalho pela Esmatra6a. Esmatra6a. Região,, Especialista em Docência do Ensino Superior, Especialista em Gestão Organizacional Associativismo Cooperativismo, Especialista em Direito do Trabalho pela Maurício de Nassau, Mestre em Educação e Doutorando em Direito do Trabalho pela Universidade de Buenos Aires. 60 Revista Eletrônica Intr@ciência INTRODUÇÃO A teoria econômica vem disponibilizando uma vasta bibliografia, com o objetivo de apresentar as evidências empíricas e analíticas que demonstram, de modo irrefutável, a crise do emprego na Sociedade Pós-industrial. Pós Vemos acontecer em todos os continentes, sobretudo, desde a crise de 2008 – 2010, um crescente aprofundamento dos níveis de desemprego de mão-de-obra mão em todo o mundo. Na Europa, na Ásia, e nas Américas, os níveis de desemprego aumentam. A intervenção dos governos junto às empresas privadas fortemente fortemente afetadas pela crise não pôs fim à redução drástica do consumo das famílias, tendo por consequência uma redução no nível de produção e de emprego. Nas obras “Desigualdade e Diferença na Universidade: gênero, etnia e grupos sociais populares” (SOUZA, 2006) e “Universidade e Desigualdade – brancos e negros no ensino superior” (QUEIROZ, 2004), os autores fazem um relato das desigualdades brasileiras nas Universidades e a sua influência na vida da população carente. Estes grupos tradicionalmente excluídos da educação básica e por consequência da Universidade, que se configura como um espaço restrito a grupos de maior pode aquisitivo. A educação se situa como meio para superação dessas desigualdades sociais e raciais. Historicamente, é esse o perfil da evolução evolução e da transfiguração da população economicamente ativa: até o começo do século XX, a massa de trabalhadores encontrava-se encontrava no campo; a partir da década de vinte, daquele mesmo século, a maioria desses trabalhadores migrou, na chamada Era Fordista, para o setor industrial. A partir da década de 1970 do mesmo século, esses dois universos migraram para o chamado Setor Serviços. O surgimento avassalador da Revolução Tecnológica - robótica, telemática, máquinas inteligentes e as tecnologias da informação e da d comunicação – é outro fator que afetou todos eles e não há qualquer previsão de que outro segmento da economia formal possa absorver a multidão de excluídos, antes chamada Exército de Reserva da mão de obra. Esta é a razão pela qual a teoria econômica coloca coloca em discussão uma passagem, ao mesmo tempo revolucionária e cruel: a passagem do desemprego conjuntural para o desemprego estrutural, ou seja, existe um desemprego causado não pela desnecessidade de produção, senão pela produção feita por máquinas em detrimento d da mão-de--obra humana. O que 61 Revista Eletrônica Intr@ciência acaba por reduzir os custos das empresas e torna-as torna as mais competitivas no mercado, tanto interno quanto externo. Com o objetivo de ampliar a democratização no segmento profissional é importante reconhecer uma série de variáveis que dificultam o acesso e permanência do profissional no mercado de trabalho, um deles é a questão da formação educacional. O processo de seleção no interior do sistema de ensino público público traduz a desigualdade e revela a eliminação de estudantes de determinado segmento socioeconômico socio conômico da sociedade, num processo que Bourdieu e Passeron (1973) denominaram mortalidade escolar. Esse processo atinge com particular intensidade estudantes com características referente à classe, a raça e o gênero. Segundo Delcele31 no campo educacional, a condição racial do estudante, como outras categorias de exclusão, ira determinar seu destino escolar. Para mulatos e pretos, esse destino se constrói paulatinamente, desde os momentos mais remotos da escolarização, em geral nas escolas publicas, de baixa qualificação, que os fará chegar às portas da Universidade numa condição de enormes desvantagem, para competir com estudantes de outros seguimentos raciais, com uma história escolar bastante diferenciada. dif Nesta perspectiva, dá-se se no sistema educacional um processo perverso de inclusão cuja finalidade e excluir de forma branda, contínua, cont nua, invisível, despercebida e, por isso mesmo, eficiente. A preparação do profissional, partindo desse sistema educacional precário e desigual, evidencia-se se que brancos e não brancos participam desigualmente de uma formação superior e, por conseguinte, obtêm posições profissionais paralelamente desiguais. Sob a ótica de classe social, Delcele32 arremata que a tendência a que os filhos permaneçam no espaço ocupacional dos pais, quando esses em profissões tradicionais e valorizadas socialmente, se confirma quando se toma para exame o prestigio da carreira em que esta o estudante. Dos estudantes que declararam ter sido influenciados pelo pai ou mãe, quase se seis em dez estão em carreira de alto prestigio. A educação é um dos meios para alcançar a cidadania e a reversão das desigualdades sociais, e agora passa a ser um dos principiais temas para discussão entre a sociedade civil e o estado por meio das ações ações afirmativas. Um dos mecanismos de ação afirmativa são as 31 QUEIROZ, Delcele Mascarenhas. Universidade e desigualdade, brancos e negros no ensino superior. Liber livros. Brasília, p.15; 32 Idem, Ibidem, p. 107. 62 Revista Eletrônica Intr@ciência cotas para negros e índios na Universidade, tal mecanismo já foi experimentado em diversos países que convivem coma racismo e os resultados foram positivos33. As políticas em torno das ações afirmativas afirma fundamentam-se se na necessidade de reparar a histórica situação de desvantagem a que estão submetidos determinados grupos sociais, como negros, pobres e homossexuais, entre outros, particula particularmente nas áreas da educação e do mercado de trabalho. Tais diferenças ferenças e desigualdades são apontadas no seio da Universidade que em muitas vezes estão dentro dos próprios cursos, onde o despreparo para lidar com as diferenças existentes no ensino superior em nosso país é alarmantemente gritante. Por conseguinte, não apenas o acesso como também a manutenção do aluno de baixa renda na universitária é obstaculado evidenciando as diferenças e desigualdades em várias dimensões sociais. Diante do quadro atual, considerando que o acesso ao meio acadêmico se mostra dificultoso, o, a população de classe média e popular está pressionando o corpo universitário, fazendo com que sejam tomadas medidas apenas paliativas as quais não resolvem de todo o problema. Logo, com o intuito de tratarmos dessa temática de diferenças e desigualdad desigualdades34 iremos mergulhar um pouco na história. Não muito longe observamos que a manutenção da classe dominante no poder fez com que houvesse a necessidade de surgimento da Universidade. Com a chegada da Família Real ao Brasil em 1808, foram fundadas as Universidades cuja vinculação inicial era com a Coroa Portuguesa. Ressalve-se Ressalve se que apenas a aristocracia local brasileira era quem dispunha do direito de frequentar a Universidade na Europa. O modelo econômico brasileiro da época tinha caráter agrário-exportador agrário exportador que utilizava a não de obra braçal sem a necessidade de maior conhecimento intelectual. Atente-se Atente que a 33 BAIA, Deylane Corrêa Pantoja et et al. A Universidade publica reproduzindo as desigualdades sociais: um panorama da UFPA. Desigualdade e diferença na Universidade: gênero, etnia e grupos sociais populares. (organizadores Jailson de souza e Silva e outros) Coleção grandes temas do conexões saberes, p. 21. 34 Thomas McCarthy, em “Filosofia Política e Injustiça Racial”, esclarece: “En vista de esta tradición alternativa — alternativa no sólo al marxismo sino también al liberalismo— liberalismo éstas no fueron ideologías en el sentido de meros epifenómenos de processos sociales subyacentes: fueron construcciones sociales que eran hechos sociales reales com efectos reales en el ordenamiento de las relaciones sociales. Esta es la opinión expresada, por ejemplo, por Omi y Winant cuando afirman que la modernidadd vio el surgimento de “formaciones raciales” tanto a niveles nacionales como globales.3 Los sistemas de categorización racial se centraron alrededor de que los tipos de cuerpos visibles tenían una trascendencia no sólo sól expresiva sino también constitutiva en la sociedad y la política modernas. No sólo justificaron las prácticas preexistentes de dominación racial, entraron en ellas y las formaron. Las imágenes estereotípicas de capacidad e incapacidad raciales no sólo reflejaban la realidad institucional, ellas ellas fueron esenciales para su misma inteligibilidade y normatividad. Argumentos similares a las diferencias raciales “naturales” fueron tan inherentes a la política de inmigración estadounidense en los siglos sig XIX y XX, a la formación de la clase trabajadora trabajadora y el movimiento obrero estadounidenses, a “Jim Crow” y el “iguales pero separados”, a la eugenesia y los campos de exterminio.” 63 Revista Eletrônica Intr@ciência proclamação da República em 1889 não mudou o perfil do ensino superior brasileiro brasilei o qual se manteve estático sem nenhuma lei regulamentadora do ensino superior. Apenas foram observadas reformas no ensino fundamental e médio. Por volta dos anos 1960 ocorreu à crise institucional e vários questionamentos acerca da autonomia universitária ria e sua estrutura organizacional foram levantados, tendo seu agravamento no período de 1664 a 1968. Em 1968, em pleno Regime Militar o movimento estudantil mostrou-se se atuante e pressionou o governo por mudanças estruturais significativas na realidade universitária. versitária. Contudo, até o ano de 1990 não ocorreu qualquer reforma legal, mas as estruturas de ensino tiveram mudanças relevantes podendo ser citadas as reformulações curriculares e eliminação de licenciaturas curtas dos cursos de ciências humanas. As mobilizações ilizações foram também influentes no que se refere ä eleição do corpo dirigente da Universidade, como reitores, diretores, chefes de departamentos por toda a comunidade universitária. Nos dias atuais o Brasil passa por reformas em especial na esfera educacional, educa onde se faz presente a Universidade. Importante mencionar o programa PETPET Programa de Educação Tutorial, alternativa para o estudante de baixa renda, aquele que tem origem popular e enfrenta dificuldades em concluir o curso superior por não dispor de condições econômicas necessárias para arcar com o custo da Universidade. Nessa esteira de requisitos para uma melhor estruturação da Universidade no Brasil, faz-se se necessário criar mecanismos que efetivamente garantam a permanência do aluno na Universidade dade eliminando as diferenças e desigualdade seculares, conquistando espaços verdadeiramente democráticos. É nesse campo que a sociedade civil se incorpora na luta por uma Universidade melhor, eficaz fonte de acesso à cidadania. Devendo ser edificada num modelo odelo que atenda a todos aceitando as diferenças e minimizando as desigualdades que por vezes se farão presentes. Cabendo ao Estado fazer valer as reivindicações da sociedade civil organizada. Frise-se se que democratizar o acesso e permanência do estudante oriundo o de camadas sociais populares na Universidade é uma forma de combate ao quadro antidemocrático, levando-se se em conta também as questões de gênero e etnia, tornando a discussão delicada e frágil em torno das desigualdades no ensino superior. O sistema de cotas adotado por várias Universidades brasileiras tenta amenizar as distorções causadas pela desigualdade que permeia o ensino superior brasileiro. Saliente-se Saliente 64 Revista Eletrônica Intr@ciência que o foco não deve ser apenas na esfera universitária, caberá ao Estado olhar com bons olhoss para o ensino médio e fundamental com o intuito de proporcionar o ingresso ao sistema universitário não eternizando a sombra das diferenças socioeconômicas atuais. Embasado em várias pesquisas e evidências empíricas, afirma o sociólogo Ricardo Antunes35: [...] o mundo do trabalho sofreu, como resultados das transformações e metamorfoses em curso nas últimas décadas, um processo de desproletarização do trabalho industrial, fabril, que se traduz, de um lado, na diminuição da classe operária tradicional e, do do outro, numa significativa subproletarização do trabalho, decorrente das formas diversas de trabalho precário, parcial, terceirizado, subcontratado, vinculado à economia informal, ao setor serviços, etc. Verificou-se Verificou se uma heterogenização, complexificação e fragmentação do trabalho (2006, ANTUNES, p. 209-211). 209 Sintetizando o entendimento de Ricardo Antunes ocorre uma verdadeira desproletarização da classe que vive do trabalho e uma subproletarização do trabalho que convivem, ambas, com o desemprego estrutural, que se caracteriza como um fenômeno que atinge países e continentes, inclusive, os mais desenvolvidos industrialmente. Mesmo o Brasil que, atualmente, vem batendo todos os recordes de emprego formal, f não conseguiu alcançar, nesse setor, a metade da população economicamente ativa. Mas quando se fala em desemprego estrutural se está revelando a crise do emprego formal, a sua desproletarização. Aí, voltando às expressões grafadas por Ricardo Antunes, Antunes, lançamos aqui a seguinte pergunta: diante da heterogenização, da complexificação que atingiram a classe que vive do trabalho; diante da desproletarização, da subproletarização e do desemprego estrutural, o que fazer para dignificar o trabalho humano que que se estabelece, na maioria da população economicamente ativa e que se instaura à margem do mercado formal, ou melhor, do trabalho subordinado, para utilizar uma expressão recepcionada pelo Direito do Trabalho? Após consultar uma bibliografia atualizada e multidisciplinar, algumas propostas resultarão na ampliação dos direitos sociais para toda classe que vive ou pretende viver de um trabalho e de uma renda, compatíveis com a dignidade humana. Não se trata de especificamente do trabalho subordinado, uma vez que já possui leis sociais protetoras para a tal modalidade, não impedido que tais legislações devam ser preservadas e, até, 35 ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho. Ensaios sobre a afirmação e a negação do trabalho. Perdizes, SP: Bomtempo, 2006. 65 Revista Eletrônica Intr@ciência ampliadas. Mas, diz respeito ao trabalho e rendas que possam estar em sincronia com uma perspectiva ontológica, ou seja, para apreender apreender o ser da própria existência humana. Deve-se se assinalar que a educação, conectada com políticas públicas voltadas para a valorização do trabalho como pressuposto básico da dignidade humana, constitui o ponto de partida para se adotar as alternativas alternativas a seguir tratadas. Sem uma educação de qualidade e políticas públicas voltadas para incrementar e construir alternativas que possam redefinir os sentidos do trabalho, sobretudo aquele excluído do setor formal – subordinado – não será possível eliminar a subproletarização e a precarização vigentes. A versão unilateral e politicamente defendida é, portanto, equivocada. O discurso político se resume em proclamar o desenvolvimento como fator de geração de emprego e renda, quando se sabe que o desenvolvimento, na Sociedade Pós-industrial, Pós industrial, se dá prioritariamente através da inserção das novas tecnologias e não da força do trabalho. Outro aspecto relevante a ser enfrentado diz respeito a um questionamento que deve ser posto em debate, antes também das propostas que que adiante apresentaremos. É que não se trata de defender apenas uma dessas alternativas que serão apontadas, mas, todas elas, para que não se crie uma visão ilusória ou superficial do problema e apresente propostas que não seriam capazes de redefinir a questão questão do trabalho humano em nosso país. A seguir serão descritas algumas propostas imprescindíveis. 1 Empreendedorismo Algumas revistas de economia e de teoria organizacional – que, aliás, enchem as prateleiras das livrarias - têm apresentado o Empreendorismo Empreendorismo como se fosse a panacéia, a única solução possível para solucionar a questão do desemprego estrutural. Daí a palavra de ordem: seja um empreendedor! Seja um EU S/A, seja um VOCÊ S/A! Mas, essas mesmas revistas especializadas registram um índice superior superior a setenta por cento de fracassos, nessa modalidade empreendedora. Muito embora alguns teóricos teimem em jogar a culpa na falta de “profissionalismo” dos que se aventuram nessa empreitada, o fato é que, além de nem todos os trabalhadores estarem, de fato, fato, preparados para seguirem as diretrizes do 66 Revista Eletrônica Intr@ciência empreendedorismo, muitos são “motivados”, “incentivados”, sem que tenham eles o perfil exigido para esse tipo de negócio. Por isso, não adiante tentar “tapar o sol com a peneira.” Uma ideologia assim, sedimentada, ada, não poderia chegar a um bom termo. Por isso, reafirmamos o nosso posicionamento: o empreendedorismo não resolverá a marginalização daqueles que foram afetados pelo desemprego estrutural. Não sejamos hipócritas. Deve ser ele incentivado e estimulado, sim, im, mas, dentro de um contexto mais abrangente, ou seja, como uma das alternativas de trabalho e rendas, em meio a uma vasta possibilidade de ocupação, que não se coaduna com o emprego tradicional, hoje, minoria em todo o planeta, conforme apontam as evidências ncias empíricas e analíticas produzidas por estatísticas básicas, publicadas por respeitadas instituições públicas e privadas e as análises formuladas por cientistas sociais de todos os matizes. 2 Empregabilidade Vivemos, hoje, o paradigma do século XXI, XXI, qual seja uma sociedade intensiva em conhecimento e que traz consigo algumas contradição a citar: quanto mais intensiva em conhecimento é a sociedade, maior será o desemprego; sendo que essa contradição apenas será superada pela intensificação da educação educação com cidadania e capacidade de manipular o conhecimento nos mais diversos níveis possíveis. Os trabalhadores, em sua ampla maioria perambulam pelas diversas regiões metropolitanas do país não encontram postos de trabalho face a sua má ou pouca formação profissional p e técnica. As desigualdades brasileiras, no que diz respeito à renda das pessoas são gritantes, sobretudo o mais por ser um fator extremamente sensível ao nível educacional das pessoas. É dizer, quanto maior é o nível de instrução, maior e a renda renda relativa, sendo o oposto totalmente verdadeiro, também. Chega-se Chega se ao absurdo de não poder estimular o ensino superior, sem antes resolver o ensino fundamental, em função das disparidades salariais entre o Primeiro e o Terceiro Graus, pois na base da pirâmide pirâmide da educação – Primeiro Grau – a oferta de emprego é menor do que a demanda, comprimindo os salários para baixo, enquanto no nível superior a oferta é maior que a demanda, elevando os salários. 67 Revista Eletrônica Intr@ciência O aprofundamento do ensino fundamental é importante para diminuir a disparidade de renda, porque, vistas as estatísticas, ainda no Brasil percebe-se percebe se que apesar das outras formas de ascensão social, quanto mais educação se tem, mais possibilidade de empregabilidade existe. “(...) A melhor forma de empregabilidade empregabilidade é saber pensar, para melhor agir e intervir” (DEMO, 1997, p. 11). O Brasil está em franco desenvolvimento, e isso é um fato. Neste contexto, importante observar-se se como a educação influencia a empregabilidade e provoca as mudanças sociais. Outrora se via um modelo que não valorizava a competência – independente de quão bom você fosse, na medida em que, prevaleciam outros fatores que não a capacidade e o conhecimento, até porque as função exigiam repetição, força e pouco pensar. Desta forma, não era um diferencial diferencial o saber e sim o fazer o era. Agora, vemos que a meritocracia vem conquistando espaço, especialmente pela complexificação das relações e do trabalho. Neste novo contexto a capacidade de pensar e de criar, assumem um papel fundamental nas relações de trabalho, sendo um elemento muito requerido pela corporação que exploram o potencial de seus recursos humanos para conquistar mercado por meio de ideias inovadoras e com o conhecimento. Com todas as mudanças que vem acontecendo ac em nossas sociedades – econômicas, culturais e sociais -,, devemos pensar o futuro questionando ideias tradicionais que envolvem a educação e a empregabilidade. O sinal mais tangível dessa proposta vem do reconhecimento, segundo o qual, o trabalho subordinado não é mais a categoria central da sociabilidade. Mas é preciso ter o cuidado para afastar as tendências negativas, que tentam “legitimar” o trabalho precário ou desconstitucionalizar os direitos sociais historicamente assegurados. A doutrina trabalhista não explica bem o que seja parasubordinação, talvez porque, seja, ela mesma, uma expressão dúbia, vaga e desprovida de sentido. Pelo menos quando se propõe a estabelecer um avanço nas relações de trabalho, quando propõe certo grau de proteção àss modalidades de trabalho não convencionais e que não se encaixam no modelo tradicional – a relação de emprego. 68 Revista Eletrônica Intr@ciência 3 Os Modelos De Economia Solidária Ou As Empresas De Economia Social Ou Solidária Há, porém, dentre as variáveis teóricas acima apresentadas, apresentadas, uma que vem ocupando um papel de destaque na literatura nacional e estrangeira, que propõem e vêm experimentando outras experiências de relações econômicas e de trabalho, e que se diferenciam radicalmente do modelo tradicional de produção de bens e de serviços. s Os modelos de Economia Solidária são os que mais aproximam as proposições acadêmicas às experiências concretas, no sentido de redefinir o perfil e as práticas dos trabalhadores afetados pelo desemprego estrutural e pela economia informal. Não é por po acaso que várias Universidades brasileiras e instituições públicas e privadas vêm estimulando as chamadas Incubadoras de Economia Social ou Solidária. Essas empresas têm como objetivo central a satisfação dos interesses básicos dos seus membros, para que eles desfrutem de condições dignas de vida. Volta-se, Volta se, prioritariamente, para a solidariedade e para eficácia, para equilibrar a responsabilidade, a participação e a solidariedade humanas, na busca de rentabilidade e eficiência. Por último, propugna a participação democrática, tanto no que concerne à gestão como na distribuição dos excedentes, e rechaça a organização autoritária. O maior êxito desses empreendimentos - que se inserem no contexto da economia em geral, mas rejeitam a forma produtiva tradicional tradicion – vem das cooperativas. A ética social do cooperativismo tem uma função educadora, provocadora de uma postura humana para as relações de trabalho, mas não é excludente de alternativas, pois com elas convivem. É preciso deixar claro que elas não têm uma uma visão paternalista ou beneficente, para reforçar o seu lado empresarial. Não é por acaso que, na Espanha e em outros países europeus, o cooperativismo tem a mesma força organizativa e representativa, no contexto da economia em geral, comparável a qualquer qualquer outro setor produtivo tradicional. Acontece que a maioria das experiências vivenciadas pela economia solidária e até mesmo as propostas teóricas que a envolve, volta-se volta se para o resgate dos excluídos do setor formal. Não é por acaso que, por exemplo, no cooperativismo, co verificam-se se estudos e práticas voltadas para determinados setores, como: educação, saúde, trabalho rural, trabalho na construção civil e tantas outras atividades que se articulam com o mercado tradicional de trabalho. O complemento dessas experiências periências vem exatamente a partir do que se indicará na próxima secção. 69 Revista Eletrônica Intr@ciência 4 Economia Da Cultura Ao lado das economias sociais e, considerada por muitos, parte dela, a economia da cultura surge como alternativa ao desgastado modo de produção clássico. Esta Est nova forma de produzir vem sendo forjada a partir dos novos paradigmas de produção, para os quais a capacidade criativa e o trabalho livre são primordiais. Trata-se Trata se de um processo global, abrangendo complexas cadeias produtivas, envolvendo diversas instituições. insti Basicamente, compreende desde criar, gerir, distribuir dados afetos a conhecimento e memória. Aqui, o modo de produção, consumo e distribuição de riqueza concentramconcentram-se no conhecimento, crenças, arte, morais, leis, costumes, os quais fazem parte da construção dos hábitos sociais. Esta é a razão pela qual se deve realçar o papel da cultura de uma sociedade suas influências sobre o pensamento econômico e ético, na medida em que impõe valores por intermédio dos quais é possível tantas atividades, como os comportamentos devem obter maior suporte e destaque. Economia da Cultura deve, pois, ser entendida, não só como o estudo e organização da produção de bens culturais e seus efeitos multiplicadores, mais também o estudo da formação de valor individual e social, contribuindo para a construção de hábitos de consumo, valores culturais, de identidade e outros. No Brasil, foi promulgada a Lei Federal de Incentivo à Cultura, Lei nº 8.313 de 23 de dezembro de 1991, mais conhecida por Lei Rouanet que institui politicas públicas para a cultural nacional, como o PRONAC - Programa Nacional de Apoio à Cultura, tendo como base a promoção, proteção e valorização das expressões culturais nacionais. Em um país em que a arte e a cultura são os fundamentos da sua memória histórica, devem ser elas também um dos fundamentos do seu processo econômico e social, sobretudo, para possibilitar a todos os que vivem ou pretendem viver produzindo arte e cultura – erudita ou popular; proteger e dignificar o trabalho daqueles ueles que não querem ou não tem vocação para o exercício do trabalho mecânica, repetitivo ou a serviço das economias tradicionais. A 26a Sessão, a Conferência-Geral Conferência Geral da Unesco, realizada em 1991, adotou uma medida, em que solicitava ao diretor-geral, diretor em cooperação operação com o secretário-geral secretário das Nações Unidas, “estabelecer uma Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento 70 Revista Eletrônica Intr@ciência independente, composta por homens e mulheres eminentes de todas as regiões do mundo”.36 Pretendia reunir personalidades eminentes de todas as regiões r do planeta, versadas em diversas disciplinas, com o objetivo de preparar um Relatório Mundial sobre Cultura e Desenvolvimento e apresentar propostas para a ação urgente e de longo prazo, “a fim de responder às necessidades culturais no contexto do desenvolvimento” desenvolvimento” 37 . Para ele: O nosso propósito é mostrar a todos como a cultura forja todo nosso pensamento, nossa imaginação e nosso comportamento. Ela é, ao mesmo tempo, o veículo da transmissão do comportamento social, uma fonte dinâmica de transformação, transformação, de criatividade, de liberdade e do despertar de oportunidades de inovação. Para grupos, tanto quando para sociedade, cultura representa energia, inspiração, conhecimento e consciência da diversidade. Se a diversidade cultural está “atrás de nós, ao nosso nos redor e à nossa frente”, como afirma Claude Lévi-Strauss, Lévi Strauss, devemos aprender como fazê la conduzir não ao conflito de culturas, mas à coexistência frutífera e à fazê-la harmonia intercultural .38 A construção da paz e a consolidação de valores democráticos aparecem na base do conjunto indivisível de objetivos. Por isso, “não é possível conceber a separação entre direitos políticos e econômicos e os direitos sociais e culturais.” 39 . O relatório destaca de a criatividade e reforça a autonomia e a capacitação como elementos fundamentais, para articular três áreas distintas e inter-relacionadas: inter relacionadas: a da expressão artística, a da tecnologia e a da política e da governabilidade. Se todas elas são potencialmente potencialmen criativas, rejeita a ênfase exagerada no raciocínio tecnocrático e ressalta os perigos que as transformações dos mercados da arte e da indústria possam acarretar, a partir de uma nefasta uniformização. Quando trata da Criatividade, Capacitação e Autonomia, Autonom admite que os governos devem: Promover interação e coordenação entre criatividade e outros domínios políticos como a educação, o trabalho, o planejamento urbano e as estratégias de desenvolvimento industrial ou econômico, para benefício de todos, incluindo inc as minorias e os imigrantes. 40 36 CUÉLLAR, Javier Pérez (org). Nossa Diversidade Criadora. Relatório da Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento. Campinas:, SP; Papirus, Brasília: Unesco, 1997. CUÉLLER, Javier Pérez, Prefácio, p. 9. 37 Idem, Ibidem, p. 10. rg). Nossa Diversidade Criadora. Relatório da Comissão Mundial de Cultura e 38 CUÉLLAR, Javier Pérez (org). Desenvolvimento. Campinas:, SP; Papirus, Brasília: Unesco, 1997. CUÉLLER, Javier Pérez, Prefácio, p. 16. 39Idem, Ibidem, p.16. 40 Idem, Ibidem, p.105. 71 Revista Eletrônica Intr@ciência Quanto à noção de capacitação e autonomia, afirma: A capacitação e a autonomia incluem o poder de expressão de toda a riqueza contida na identidade cultural em evolução (...). Essa evolução é o resultado das capacidades capacidades manifestas adquiridas por um povo na luta pela realização de seus próprios desejos e de suas próprias aspirações. A ideia de capacitação e autonomia se manifesta em todos os níveis de interação social. Ela é encontrada quando se concede a palavra aos que não têm direitos, ou o acesso aos instrumentos e materiais aos pobres e marginalizados, para possam construir seus próprios destinos.41 A arte e a cultura aparecem como um dos pressupostos fundamentais para a erradicação da pobreza. Os pobres devem ter a capacidade de mudar a percepção que têm de si mesmos, ir além da assistência material e incluir a cultural e despertar a sua capacidade de luta e de resistência. Sem esses pressupostos, toda a sociedade e toda política estarão também empobrecidas. Para Para a consolidação de um governo democrático, dois elementos são essenciais: a) a natureza das instituições do Estado, a sensibilidade, a responsabilidade e a transparência dos agentes públicos; b) a natureza da sociedade civil e sua capacidade de exercer controle ontrole sobre o aparato estatal. CONCLUSÕES Depois de tudo que foi exposto, resta-nos resta nos afirmar que as políticas econômicas e sociais devem ser propostas e instituídas ao lado dos projetos políticos voltados para a educação. O desenvolvimento econômico e educacional, correndo em harmonia, como propõe a UNESCO, a fim de que as possibilidades de trabalho e renda excluídos do setor formal sejam recepcionados por políticas públicas de formação, de exploração das potencialidades humanas, em todas as suas esferas. esfer Lamentavelmente, o ultraliberalismo42 global não pensa assim. Pensa no desenvolvimento a qualquer custo, mesmo que ele espalhe miséria por todo o planeta; que 41 CUÉLLAR, Javier Pérez (org). Nossa Diversidade Criadora. Relatório da Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento. Campinas:, SP; Papirus, Brasília: Unesco, 1997. CUÉLLER, Javier Pérez, Prefácio, p.124 42 Para Marcelo Neves, em seu artigo “Justiça e diferença em uma sociedade global global e complexa”: “En vista de esta tradición alternativa —alternativa alternativa no sólo al marxismo sino tambiénal liberalismo— liberalismo éstas no fueron ideologías en el sentido de meros epifenómenos de processos sociales subyacentes: fueron construcciones sociales que eran hechos hechos sociales reales com efectos reales en el ordenamiento de las relaciones sociales. Esta es la opinión expresada,por ejemplo, por Omi y Winant cuando 72 Revista Eletrônica Intr@ciência provoque uma destruição da natureza e do meio ambiente; pensa em tornar trabalhadores escravoss de um novo tempo. Assim, a Universidade pública brasileira precisa refletir, no seu interior, a diversidade étnico-racial étnico racial da população. Essa diversidade precisa estar contemplada nos mais diferentes cursos e não somente em algumas áreas. Ela precisa estar esta nos cursos diurnos e não somente nos noturnos. Para isso, temos que criar condições para que Jovens negros e pobres entrem e permaneçam com sucesso dentro da Universidade43. O ingresso ao ensino superior público p blico e um fator indicador de uma melhor qualificação do candidato ao mercado me de trabalho, mas não e o único. nico. A disseminação das faculdades particulares revela também que a formação no ensino superior não e o único critério para formação de um bom profissional. Apenas por meio de uma educação de qualidade é possível capacitar a juventude para os desafios apresentados por uma sociedade tão complexa e multifacetada, e para que eles possam fazer as suas escolhas, em termo de trabalho. Mas, tendo sempre em mente que, qualquer que seja a sua escolha – desde as ciências exatas, as ciências naturais, as ciências sociais ou do espírito, ao trabalho voltado para livre criação - não se pode pensar em um desenvolvimento econômico que não tenha como pressuposto a arte e a cultura. Mas, essa educação de qualidade, qualida que reúne desenvolvimento econômico e desenvolvimento educacional, depende de políticas públicas que tenham esses elementos, como pressuposto de suas práticas cotidianas. Destaca-se se também no discurso da empregabilidade a visão determinista da relação entre Educação e empregabilidade, bem como a clara responsabilização do indivíduo pelo sucesso na obtenção e manutenção de um emprego. Ao Estado, caberia a execução de políticas para dotar a força de trabalho de habilidades e competências, mas ao indivíduo indivídu é transferida a responsabilidade pelo seu devir profissional. Estas dizem respeito, por exemplo, às novas competências que deveriam ser desenvolvidas. Dizem, também respeito à construção de um novo indivíduo, de outro perfil profissional. Argumentam que o mercado precisa de uma força de trabalho que saiba afirman que la modernidad vio el surgimientode “formaciones raciales” tanto a niveles nacionales como globales.3 g Los sistemas de categorización racial se centraron alrededor de que los tipos de cuerpos visibles tenían una trascendencia no sólo sól expresiva sino también constitutiva en la sociedad y la política modernas. No sólo justificaron las prácticas preexistentes preex de dominación racial, entraron en ellas y las formaron. Las imágenes estereotípicas de capacidad e incapacidad raciales no sólo reflejaban la realidad institucional, ellas fueron esenciales para su misma inteligibilidade y normatividad. Argumentos similares a las diferencias raciales “naturales” fueron tan inherentes a la política de inmigración estadounidense en los siglos sig XIX y XX, a la formación de la clase trabajadora y el movimiento obrero estadounidenses, a “Jim Crow” y el “iguales pero separados”, a la eugenesia sia y los campos de exterminio.” 43 Silva, C. Da. Geração XXI: O inicio das ações afirmativas em educação para jovens e negros/as. In: Gomes, N.L. e Martins, A.A. (orgs.). .). Afirmando direitos: acesso e permanência de jovens negros na Universidade. Belo Horizonte: Autentica, 2004. (pp. 119/133). 73 Revista Eletrônica Intr@ciência aprender e empreender, absolutamente flexível, que saiba se antecipar ao futuro e agregar valor a si mesma de modo à torna-se torna se uma mercadoria atrativa ao futuro empregador e vir a se realizar como valor de troca. Por fim, um desabafo: um país que nasceu da confluência confluência de três etnias - o índio, o negro e o branco europeu -;; que foi capaz de construir uma identidade artística e cultural tão exuberante e referencial para o mundo, como pode desprezar essa memória história, esse patrimônio, quando procura estabelecer um marco marco de desenvolvimento econômico? Talvez porque a economia liberal se institui e se estabelece através de abstrações, da lógica matemática. Deseja, enfim, projetar as necessidades das pessoas, a partir da soma dos interesses individuais. O problema é que, como dizem aqueles que pertencem à teoria social, crítica de todos os matizes, existe algo que se chama sociedade, que se alimenta da cultura, da arte e da educação, sem as quais não é possível projetar um desenvolvimento econômico que privilegie, em primeiro prim lugar, o gênero humano. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho. Ensaios sobre a afirmação e a negação do trabalho. trabalho Perdizes, SP: Bomtempo, 2006. CUÉLLAR, J. P. (Org.). Nossa Diversidade Criadora. Relatório da Comissão Mundial Mundi de Cultura e Desenvolvimento. Desenvolvimento. Campinas; SP; Papirus, Brasília: Unesco, 1997. CUÉLLER, Javier Pérez, Prefácio. DEMO, P. Combate à pobreza. pobreza Campinas: Autores Associados, 1997. QUEIROZ, D. M. Universidade e desigualdade – brancos e negros no ensino superior. supe Brasília: Liber Livro, 2004. GOETHE, J. M. Poemas. Coimbra: Centelha, 1986. JHERING, R. A Luta pelo Direito. Rio: Forense, 1968. SILVA, C. Da. Geração XXI: O inicio das ações afirmativas em educação para jovens e negros/as. Em: Gomes, N.L. e Martins, Martins, A.A. (orgs.). Afirmando direitos: acesso e permanência de jovens negros na Universidade. Belo Horizonte: Autentica, 2004. SILVA, J. S. (Org.). Desigualdade e diferença na Universidade: gênero, etnia e grupos sociais populares. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006. 2 74 Revista Eletrônica Intr@ciência A TEORIA DA JUSTICA DE JOHN RAWLS E A PROBLEMÁTICA ARGUMENTATIVA E PRINCIPIOLÓGICA ENTRE A IGUALDADE DE OPORTUNIDADES E A DISTRIBUIÇÃO DE RIQUEZAS GALINDO, Cleusy Araújo44 RESUMO: O tema central do trabalho de pesquisa é analisar a Teoria da Justiça de Rawls como equidade, realçando o princípio da diferença e sua forma distributiva de riquezas. Será abordada a problemática argumentativa e principiológica entre os dois princípios. Terá passagem na flexão dos preceitos de justiça distributiva como como virtude ética. Será feita alusão às críticas de Robert Nozick à Jonh Rawls. Palavras – Chave: 1- Justiça como equidade; 2 –Virtude e ética; 3 – Críticas à Rowls. ABSTRACT: The central theme of the research is to examine Rawls's Theory of Justice as equity, highlighting the principle difference and its distributive form of wealth. wealth It will be seen the principled argument between the two principles above mentioned. mentioned There will pass on bending the precepts of distributive justice as a virtue ethics. It willll be made allusion to criticism of John Rawls to Robert Nozick. Words - Key: 1 - Justice as fairness; fairness 2-Virtue and ethics; 3 - Criticism of Rowls. Rowls INTRODUÇÃO O tema em estudo trata da Teoria da Justiça desenvolvida pelo americano John Rawls onde traz a problemática argumentativa e principiológica entre a igualdade de oportunidades e a distribuição de riquezas. Faremos uma retrospectiva para buscar a essência da Teoria de Rawls quando da sua criação. Importante mencionar que a Teoria da Justiça Justiça de John Rawls foi publicada em 1971, considerada como sendo uma das mais importantes realizações da filosofia política do século XX, no mundo ocidental, indo na contra mão do utilitarismo clássico. Gerando, dessa 44 Especialista em Direito Judiciário e Magistratura do Trabalho e Pós-Graduada Pós Graduada em Direito Previdenciário. 75 Revista Eletrônica Intr@ciência forma grandes críticas tanto dos libertarianos, libertarianos, como dos igualitaristas, como também dos comunitaristas. Será dado um realce em um dos pontos que a teoria da justiça de Rawls suscitou tantas discussões conflitantes, pois tentou conciliar direitos iguais para uma sociedade desigual. A Teoria da Justiça tem a equidade como parte do pressuposto ético motivacional, defendendo a tese de igualdade e liberdade de compromissos assumidos quando membro de uma comunidade moral. Por mais paradoxal que se possa parecer, a obtenção de uma justiça única se mostra stra deveras conflitante se considerarmos que algo bom para um pode gerar um desconforto e até mesmo uma injustiça ao outro. A indagação primeira que fulminou na teoria da justiça foi basicamente acerca de quais princípios de justiça iriam nortear uma cooperação cooperação social única, onde as cargas e benefícios poderiam ser distribuídos equitativamente. Ele procura construir um conceito de justo partindo da premissa do uso da razão e da vontade das pessoas. Percebe-se se que a teoria de Rawls não procura um bem visível, vi supostamente existente na esfera dos homens, mas sim uma definição harmônica do que seria o justo partindo da premissa do uso da razão e da vontade das pessoas. Numa visão holística acerca do modelo de justiça que Rawls programou, observa-se observa uma equidade idade com origem nos primórdios e consubstanciou-se consubstanciou se na contemporaneidade influenciando sobremaneira na forma postulação do modelo rowlsiano. Entendia Rawls que as instituições tinham por fim último minimizar as discrepâncias sociais. O conceito de justiça se antecipa às instituições e para sua real concretização os atores sociais deveriam fazer parte de uma única célula na qual não haveria qualquer intenção de se ter vantagens dirigidas a nenhum dos entes que a compunham, de forma que os valores seriam genéricos genéricos com seu centro gravitacional no bem-estar estar social. Assim, se teria o estado de igualdade configurado entre todos daquela esfera social. Como a escolha da teoria do contratou marcou-se marcou se o ponta pé inicial? Assim, Rawls, caminhando em sentido contrário ao ao utilitarismo, propõe uma ideia alternativa de justiça cuja inspiração foi buscar em Locke, Rousseau, Kant e Stuart Mills. Ele busca sanar os conflitos pela distribuição de bens sociais entre as pessoas, sob a ótica de que a sociedade é um sistema equitativo ivo de cooperação, pois mesmo tendo cada um indivíduo seus interesses pessoais conforme suas próprias concepções, se colocam em debate na busca por um ideal 76 Revista Eletrônica Intr@ciência maior do que seria o justo termo de cooperação norteadora de um convívio social pleno com a distribuição buição dos benefícios auferidos, chegando eles próprios ao conceito de princípio de justiça que serão escolhidos e aplicados. Assim, que para o atingimento desse conceito de justiça seja universal, faz-se faz necessário que a sociedade seja regulada por uma concepção concepção política de justiça que promova os justos termos de cooperação entre seus membros, sem vislumbrar vantagens pessoais individuais. O pensamento norteador deve ser no sentido do igual para todos e que eles aceitem aquele modelo de justiça por eles delineado delineado sem que ocorram distinções arbitrárias que leve a uma ruptura desse equilíbrio consensual entre eles. Ademais, a sociedade se caracteriza de forma bem ordenada, onde todos sabem seus limites e incorporaram o mesmo senso de justiça que rege todas as ações sem qualquer nuance que desvirtue esse conceito construído conjuntamente acerca da justiça como equidade. Garante que não ocorram práticas destoantes entre as pessoas na atribuição de direitos e deveres básicos na sociedade assegurando também regras regr que propiciem o equilíbrio estável entre reivindicações de interesses concorrentes das vantagens da vida social e na distribuição de renda e riqueza. Dessa forma se delineia a condição de equidade entre as pessoas no cenário de justiça social rawlsiana. JUSTIÇA COMO EQUIDADE Reação contra a teoria do utilitarismo clássico, tendo em vista que era muito sistemática e abrangente e que, portanto, necessitava de reformulações. É perceptível a influencia de razão prática de Kant junto a um valor de autonomia pessoal. Menciona o Professor fessor Eduardo Barbarosch que: Em A Theory of Justice se notava La clara influencia de la razón kantiana junto al valor de autonomia personal. Estos supuestos sugerían que su teoria dependia de uma concepción comprehensiva e la moral y, por ende, teñida de metafísica 45 45 BARBAROSCH, Eduardo. Teoria eoria de La Justicia y La Metaética Contemporánea. Contemporánea. Buenos Aires: La Ley, 2011, pg. 7. 77 Revista Eletrônica Intr@ciência Já o utilitarismo firmou seu alicerce na ética normativa concebido como um critério geral de moralidade a ser implantado tanto por ações individuais quanto por decisões políticas, na esfera social como na judicial. Teve sua origem nas obras dos filósofos e economistas ingleses Jeremy Bentham e John Stuart Mill, onde defendiam que uma ação era qualificada como moralmente correta promovesse a felicidade e condenável se fosse ao caminho inverso e produzisse a infelicidade. Nessa linha, tanto o agente da ação como os que sofressem sua influencia eram considerados como partes integrantes da doutrina utilitarista, diferindo das teorias éticas na qual é relevante o motivo do agente em agir em favor do bem ou do mal, pois no utilitarismo nada obsta que uma ação positiva positiva gere uma má motivação no indivíduo. Na ótica do utilitarista o ideal é se obtiver máxima felicidade para um universo maior de pessoas, guiando assim os passos do legislador que deveria empenhar-se empenhar em obter a felicidade máxima para sociedade, dando origem origem a uma identidade de interesses entre o indivíduo e seu grupo e aplicar sansões àqueles praticam atos que prejudiquem o bem estar de seu próximo. Em síntese, o utilitarismo é uma teoria consequencialista e teológica, pois defende que a felicidade é o resultado das ações praticadas pela sociedade como um todo. Contudo, Rawls diverge dessa teoria tendo em vista focar-se focar apenas no valor instrumental da igualdade, não mensurando valores intrínsecos, ou seja, a igualdade será tida como benéfica se produzir maior felicidade. Ao contrário do que prega o utilitarismo, Rawls investe no racionalismo, na liberdade de escolha do indivíduo acerca dos seus direitos e deveres. Os indivíduos componentes daquela célula social iriam definir padrões sem ter a consciência de onde eles próprios estariam localizados nessa nova estrutura societária. Observa-se se a tentativa de conciliação entre a equidade social, eficácia econômica e liberdade política, defendendo prioritariamente a justiça sobre o bem estar. É a chamada justiça ça com equidade, onde todos se favorecem dos benefícios da cooperação social. Essa forma de se contrapor ao utilitarismo trouxe como ideia alternativa o contratualismo inspirado na tradição liberal de Locke, Rousseau, Kant e Stuart Mills. Nessa forma de visualizar a sociedade, Rawls imagina que todos estariam na posição original, envoltos no véu da ignorância, sem saberem ao certo qual a classe a que fazem 78 Revista Eletrônica Intr@ciência parte, mais precisamente qual seria o seu status social, desconhecendo seus dotes pessoais e a partir ir dessa desvinculação com valores matérias a escolha por princípios de justiça seriam desprovidos de qualquer interesse ao favorecimento dentre eles. Para que isso ocorra à sociedade deve está regulada com uma concepção de justiça a fim de promover os justos stos limites de cooperação entre seus membros. Ele, Rawls, “em todo o seu aspecto político e moral, procura desenvolver uma alternativa ao utilitarismo – a doutrina de que se deve agir de um modo que preveja o maior benefício para a maioria das pessoas – pois considera o utilitarismo como uma ameaça aos direitos individuais e se alinha aos pensamentos que veem a sociedade em termos de um contrato social”.46 A justiça cujo caráter particular não se conceitua como sendo metafísico ou ontológico e sim numa visão visão política, fruto de acordo das diferenças sociais, culturais, religiosas e econômicas subordinandos à sociedade democrática. Esse conceito particular de justiça não deve suplantar os anseios de justiça na esfera da sociedade em caráter generalíssimo, legitimados pela Carta Magna Estatal. Rawls tenta solucionar o problema da distribuição dos benefícios por meio da cooperação social, desenvolvendo princípios de justiça aplicados à estrutura básica da célula social que todos aceitem de forma equitativa, garantindo g o favorecimento de todos. A Liberdade Igual e Diferença Rawls parte do geral onde todos os bens sociais primários, quais sejam: liberdade, oportunidade, riqueza, rendimento e as bases sociais de autoestima, todos devem ser distribuídos igualmente, nte, ressaltando apenas a impossibilidade de distribuição equânime quando houver a necessidade de distribuir desigualmente um desses bens ou todos, para aqueles que sejam menos favorecidos. O que se revela como ponto marcante é o fato de se tratar as pessoas pess como iguais não significa dizer que foram removidas todas as desigualdades entre elas. Contudo, quando da ocorrência de distribuição de bens observa-se observa ocorrências de conflitos, pois teremos que escolher um dos bens em detrimento de outros. Por esse motivo mo 46 RAWLS, John. Uma teoria da Justiça. Justiça Universidade de Brasília, 1981, p. 40. 79 Revista Eletrônica Intr@ciência Rawls divide sua concepção geral em três princípios: a liberdade igual, diferença e oportunidade justa. Rawls caracterizar o princípio da liberdade igual que garante igual sistema de liberdade e direitos o mais amplo possível, sendo a liberdade igual a todos os indivíduos e depois anuncia o princípio da diferença que assegura que as eventuais desigualdades econômicas na distribuição de renda e riqueza somente são aceitas caso beneficiem especialmente os mesmos favorecidos, em ambos, nenhuma vantagem pode po existir moralmente se isto não beneficia aquele em maior desvantagem.47 desvantagem. Em suma, o princípio da liberdade igual visa basicamente a um leque de liberdade básica do indivíduo, agente ativo como cidadão participante de um estado de direito, possa atuar em m condições iguais de liberdade com aquele que interage com ele no seu convívio social sem que haja qualquer diferença de liberdade entre eles. Assinala Luiz Augusto Rabelo Júnior reportando-se reportando se a Freeman que: Rawls considera essas liberdades básicas porquanto moralmente mais significantes e imprescindíveis para os indivíduos. Em primeiro lugar, elas são necessárias para a consideração e escolha de seus vários interesses. Em segundo lugar, são também necessárias para que os indivíduos possam ter um senso de justiça que se manifesta quando da busca ativa de seu próprio bem em relação à sociedade. 48 Para o segundo princípio Rawls observa uma dicotomia de interpretação entre a perspectiva capitalista e a ótica comunista. comunista. Tomando a primeira como decorrência da desigualdade generalizada de riquezas decorrente da capacidade de cada um e/ou das contingências de seu nascimento e por outro lado a divisão igualitária de bens. A eficácia econômica e organizacional, sob uma ótica ótica crítica, se mostra ineficaz mesmo com a divisão igualitária dos bens primários e da autoridade. Revelando também comprometimentos graves na sociedade quando se aplica a liberalismo. Logo, procura um equilíbrio no qual as desigualdades socioeconômicas sejam se assumidas pelos mais favorecidos em favor dos menos favorecidos, raciocínio diverso do que se observa no capitalismo, caracterizando o princípio da diferença. 47 RAWLS, John. Uma teoria da Justiça. Universidade de Brasília, 1981, p. 67. 48 WWW.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leituras&artig juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leituras&artig..., ..., acesso em 15/06/2012. 80 Revista Eletrônica Intr@ciência O Princípio da Diferença O princípio da diferença se caracteriza pela aplicação da distribuição de renda e riqueza e ao escopo das organizações que fazem uso de diferenças de autoridade e de responsabilidade. Neste caso a sociedade deve promover a distribuição igual de riqueza, exceto se a existência de desigualdades econômicas e sociais gerarem o maior benefício para os menos favorecidos, como menciona Faustino Vaz.49 Alega Rawls que: [...] os princípios da justiça, em particular o princípio da diferença, aplicamaplicam se aos princípios públicos que regem as desigualdades econômicas e sociais. Eles servem para ajustar o sistema dos títulos (no sentido jurídico) e dos ganhos e para equilibrar as normas e preceitos familiares que esse sistema utiliza na vida cotidiana. O princípio de diferença vale, por exemplo, para a taxação da propriedade e da renda, para a política econômica e fiscal. 50 Segundo Rawls, tanto o princípio da liberdade igual como o da diferença objetiva resguardar o valor do indivíduo protegendo as suas liberdades básicas, consolidado suas melhorias sociais. Para tanto, faz-se faz se necessário uma prevalência do primeiro princípio sobre o que o sucede. Assim, as violações das liberdades iguais protegidas pelo primeiro princípio não podem ser justificadas nem compensadas por maiores vantagens sociais. É partindo dessa premissa que se verifica uma garantia que o utilitarismo não promete. O doutor Barbarosch ressalta e questiona: Rawls acepta el critério de la justa igualdad de oportunidades pues admire que este principio tendrá la función de asegurar que el sistema de cooperación sea sea de justicia puramente procesal. Parece justificarse entonces, que si todos parten de um mismo punto de partida em situaciones equivalentes, el resultado de la distribuición final será justo. No será necesario ningún retoque? Éste será el limite más allá del cual no se justifica ninguna redistribuición? 51 49 WWW.criticanarede.com/pol_justic.HTML WW.criticanarede.com/pol_justic.HTML , ACESSO EM 04/06/2012. 50 RAWLS, John.. O liberalismo político. político 2ª. Ed. São Paulo: Editora Ática, 2000, p. 34. 51 BARBAROSCH, Eduardo. Teoria de La Justicia y La Metaética Contemporánea. Contemporánea Buenos Aires: La Ley, 2011, pg. 73. 81 Revista Eletrônica Intr@ciência Nesse sentido de cooperação é que se verifica uma visão de Rawls acerca de um sistema de sociedade onde sustenta: Una sociedad es una asociación, más o menos autosuficiente, de personas que reconocem ciertas ciertas reglas de conducta como obligatorias en sus relaciones y en su mayoría actúan de acuerdo com ellas. Estas reglas diseñan un sistema de cooperación y aún cuando la sociedad es una empresa cooperativa para obtener ventajan mutuas, se carateriza típicamnete tanto por un conflicto como por una identidad de interesses, típicamnete hay una idenitdad puesto que la cooperación hace posible una vida mejor para todos, que si cada uno viviera de sus propios esfuerzos. Hay un conflicto de intereses puesto que lãs personas no no son indiferentes respecto a cómo há de distribuirse lós mayores benefícios producidos por La colaboración, ya que com el objto de perseguir sus fines cada una de elljas prefiere una participación mayor que una menor..52 Nesse contexto o Doutor Barbarosh verifica-se se que para Nozick nenhuma redistribuição se justifica e que a redistribuição, se assim pudesse ser nominada, segundo o autor ilustra, é apenas o que dá subsídios ao Estado ultramínimo e Estado mínimo. Como que se chega ao Estado ultramínimo partindo partindo de um ponto de vista moral, que são o resultado de acordos voluntários e o efeito da mão invisível, ao passo que o Estado mínimo é o resultado de um acordo celebrado de forma “deliberada”. Complementa dizendo que na justa igualdade de oportunidade para par o liberalismo, desenvolvidos por Nozick está configurada a violação de direitos, pois piora a situação dos mais favorecidos pela oportunidade ou melhora da situação dos menos favorecidos. O próprio Nozick assinala que a desigualdade de oportunidade pode ser considerada injusta, mas nada pode fazer se toda correção viola direitos. Contudo, continua Barbarosh e diz que Rawls adverte que a justa igualdade de oportunidade como critério mínimo igualitário não lograria êxito se não tivesse estreita relação com o princípio da diferença. 53 CONCLUSÕES A teoria de John Rawls é considerada revolucionária dada o seu caráter inovador, reorientando o pensamento filosófico americano da época focado num igualitarismo teórico 52 53 BARBAROSCH, Eduardo. Teoria de La Justicia y La Metaética Contemporánea. Contemporánea. Buenos Aires: La Ley, 2011, pg. 65. Op. cit., p. 74. 82 Revista Eletrônica Intr@ciência deixando de ser de oportunidades para ser de resultado. Foi na verdade uma resposta ao utilitarismo reinante da época. Fundada dentro de um marco de pluralidade, própria das democracias liberais modernas. Rawls tinha seu sentido voltado para a universalidade da justiça, ou seja, uma teoria política da justiça repercutindo em sociedades democráticas altamente industrializadas. O conceito de justiça tem seu eixo numa discussão ético histórico e social, onde é defendia os dois pressupostos básicos para o estabelecimento de uma sociedade com parâmetros de justiça mais aceitáveis dando igualdade de oportunidade a todos em plena condição de equidade, com distribuição dos benefícios aos mais necessitados, dando um significado a justiça e equidade cujo primado era amparar e corrigir as desigualdades sociais. sociais É importante mencionar que a obra de Rawls mesmo sendo um divisor de águas continua sofrendo críticas ferrenhas por várias correntes de filósofos, dentre eles Robert Nozick, liberal libertário, até Susan Möller Okin, uma feminista moderada. Todos buscam busca um reconhecimento de Rawls para uma necessária reformulação da sua Teoria da Justiça Original. Isso sinaliza que a produção teórica se renova tornando o diálogo enriquecedor a cada dia, para o atingimento de uma explicação mais clara do que se sucede com a justiça. Por fim é salutar mencionar que o foco da Teoria de Rawls é a necessidade e premênciaa de uma justiça justa de fato, coadunada e alinhada com os clamores daqueles que mais precisam dela os mais desfavorecidos, esquecidos pela letra da lei que desconsidera ou fecha os olhos às minorias. Em suma, a Teoria de Rawls busca alcançar por meio da justiça uma sociedade justa e igualitária, donde a noção de justa igualdade de oportunidade foi recepcionada pela maioria das concepções liberais da justiça, a exceção dos que corroboram com o entendimento de Nozick e entendem que os direitos provenientes do estado natural são absolutos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBAROSCH, Eduardo. Teoria de La Justicia y La Metaética Contemporánea. Contemporánea Buenos Aires: La Ley, 2011. 83 Revista Eletrônica Intr@ciência RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça. Justiça São Paulo: Martins Fontes, 1997. _________________Universidade rsidade de Brasília, 1981. RAWLS, John. O liberalismo político. político. 2ª. Ed. São Paulo: Editora Ática, 2000. Disponível em: juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leituras&artig juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leituras&artig...>, <WWW.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leituras&artig acesso em 15/06/2012. Disponível em: <WWW.criticanarede.com/pol_justic.HTML WWW.criticanarede.com/pol_justic.HTML> Acesso em: 4/06/2012. 84 A ALMOFADA DE PENAS: um conto, duas histórias MARTINS NETO, Irando Alves54 RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar o enredo do conto A almofada de penas (1907), de Horácio Quiroga, na tentativa de apresentar uma possibilidade de leitura que vá além dos níveis gramatical e semântico, levando em conta, sobretudo, o nível pragmático. Para tanto, contamos com referenciais teóricos acerca da narrativa e do conto, os quais sustentarão a interpretação formulada. Palavras-chave: Narrativa, conto, nível pragmático. ABSTRACT: This paper aims to analyze the plot of the short story The feather pillow (1907), by Horacio Quiroga, in the endeavor to present a possibility of reading which goes beyond the grammatical and semantic levels, taking into account mainly the pragmatic level. For this purpose, we resort to theories about narrative and short stories, which will support the interpretation made. Keywords: Narrative, short story, pragmatic level. APRESENTAÇÃO Quando falamos em leitura, precisamos entender a amplitude de seu conceito nos dias atuais. Se por muito tempo ler foi considerado traduzir grafemas em fonemas, hoje podemos dizer que o processo de leitura abrange a linguagem como um todo, não se limitando à língua escrita. Desse modo, lemos placas, quadros, expressões faciais, olhares, gestos etc. Importa dizer que, neste trabalho, ao mencionarmos leitura, estaremos nos referindo especificamente ao texto escrito. Mesmo quando se trata de palavras, o ato de ler vai além da decodificação de signos linguísticos, pois a construção de significado de um texto depende da atuação de seu leitor, 54 Graduado em Letras pela Fapepe. Mestrando em Educação pela Unesp. Professor de Língua Inglesa do Centro de Estudos Britânicos de Presidente Prudente. Revista Eletrônica Intr@ciência que precisa compreender os conteúdos sistêmicos (decodificação e organização sintática), semântico e pragmático. Em outros termos, ler significa compreender o outro e o mundo por meio de um processo de interação entre leitor e seu interlocutor. No que diz respeito ao texto literário, uma leitura superficial, que desconsidera desconsidera o contexto de produção, resulta na não-compreensão compreensão de o que está implícito. Por essa razão, o objetivo deste artigo é analisar o enredo do conto “A almofada de penas”, de Horácio Quiroga, a fim de apresentar uma possibilidade de leitura que vá além dos dos níveis gramatical e semântico. 1 Um Pouco Sobre Quiroga Horácio Silvestre Quiroga Forteza nasceu em Salto, Uruguai, em 31 de dezembro de 1879 e faleceu em Buenos Aires, Argentina, no dia 31 de dezembro de 1937. O escritor teve uma vida um tanto quanto trágica: seu pai morreu quando ele tinha quatro anos; seu padrasto, sua esposa e seus três filhos filhos cometeram suicídio; e seu melhor amigo foi por ele morto pelo disparo de um tiro acidental. Aos 59 anos, Quiroga cometeu suicídio após ser diagnosticado com câncer. Escreveu histórias que, geralmente em ambientes selvagens, utilizam o sobrenatural e o bizarro para mostrar a luta do homem pela sobrevivência. Também retratou doenças mentais e estados alucinatórios. Na mesma linha de Edgar Allan Poe, seus contos tratam de eventos fantásticos e macabros, sempre relacionados ao terror, doença e outros sofrimentos sofri do ser humano. Um dos seus principais contos talvez seja A galinha degolada, degolada parte de sua obra Contos de amor, de loucura e de morte. morte 2 Um Conto, Duas Histórias Contar histórias é algo presente no dia-a-dia dia dia de todos. Seja em casa ou no trabalho, na rua ou num bar, não importa onde estejamos, sempre ouvimos ou contamos histórias, sobre diferentes assuntos: morte de um conhecido, um acidente de trânsito, amor, raiva. Mas em que consiste contar histórias? Em geral, quando contamos uma história, estamos estamos relatando um acontecimento que presenciamos ou que fomos ditos. Ou seja: trata-se trata se de um ponto de vista, uma leitura, de 86 Revista Eletrônica Intr@ciência um fato (geralmente verdadeiro). Tal ocorrência sucede com alguém (ou algo), em algum tempo e espaço. Similarmente é o conto literário: literário: existe um evento, que acontece com alguém ou algo, em algum lugar e tempo. A diferença está em quem conta e no modo de contar. Na literatura, o acontecimento é vivenciado por um narrador, isto é, uma pessoa inventada pelo escritor. Por essa razão, o conto conto sempre é ficção, independentemente de sua proximidade ou afastamento do real. Não se trata de relatar algo fielmente, mas de inventar um modo de se representar algo. Nas palavras de Gotlib (2000, p. 13) “esta voz que fala ou que escreve só se afirma enquanto contista quando existe um resultado de ordem estética, ou seja: quando consegue construir um conto que ressalte os seus próprios valores enquanto conto, nesta que já é, a esta altura, a arte do conto, conto, do conto literário”, acrescentando ainda que é por po isso que “nem todo contador de histórias é um contista.” No entanto, o fato de uma história ser contada por um narrador, quer dizer, ser ficção, não a caracteriza um conto. São vários os gêneros literários do tipo narrativo: romance, novela, fábula, parábola, parábola, poema em prosa. Eles diferem, essencialmente, por suas extensões. Segundo Gotlib (2000), a grande diferença entre romance e conto é que o primeiro geralmente exige intervalos de leitura, enquanto o último é geralmente lido em uma assentada. Gancho (2000, 000, p. 08) define conto como “uma narrativa mais curta, que tem como característica central condensar conflito, tempo, espaço e reduzir o número de personagens. De acordo com Gotlib (200, p. 15) “o conto conserva características destas duas formas: a economia omia do estilo e a situação e a proposição temática resumidas”. Para a autora, “o que se faz o conto – seja ele de acontecimento ou de atmosfera, de moral ou de terror – é o modo pelo qual a história é contada. E que torna cada elemento seu importante no papel apel que desempenha neste modo de o conto ser.” (GOTLIB; 2000, p. 17) Na teoria de Edgar Allan Poe (apud Gotlib, 2000) acerca do conto, o autor defende uma unidade de efeito presente nesse gênero literário. Para ele, há um momento de tensão, um estado de excitação, xcitação, que prende o leitor no texto. Poe também aponta a importância de um conto não ser muito longo, para que aquele que lê não se desligue da unidade de efeito. Como lembra Gotlib (2000, p. 35), “trata-se “trata se de conseguir, com o mínimo de meios, o máximo de efeitos. E tudo que não estiver diretamente relacionado com o efeito, para conquistar o interesse do leitor, deve ser suprido.” 87 Revista Eletrônica Intr@ciência No que diz respeito ao conto de Horácio Quiroga, Piglia (2000, p. 88-89) 88 postula que o conto clássico (Poe, Quiroga) narra em primeiro plano a história 1 (o relato do jogo) e constrói em segredo a história 2 (o relato do suicídio). A arte do contista consiste em saber cifrar a história 2 nos interstícios da história 1. Um relato visível esconde um relato secreto, narrado de um u modo elíptico e fragmentário. Segundo o autor supracitado, “o efeito de surpresa se produz quando o final da história secreta aparece na superfície” (PIGLIA; 2000, p. 89), acrescentando ainda que cada uma das duas histórias é contada de modo distinto. Trabalhar com duas histórias quer dizer trabalhar com dois sistemas diferentes de causalidade. Os mesmos acontecimentos entram simultaneamente em duas lógicas narrativas antagônicas. Os elementos essenciais essencia de um conto têm dupla função e são empregados de maneira diferente em cada uma das duas histórias. Os pontos de interseção são o fundamento da construção. (PIGLIA, 2000, p. 89) Em suma, o conto se caracteriza como um texto curto, que pode ser lido em uma u assentada, sendo ele uma narrativa ficcional. Nada está num conto por acaso; todos os elementos estão diretamente ligados com a história (ou as histórias, no caso dos contos de Quiroga). 3. A Almofada de Penas: Uma Possibilidade de Leitura O conto A almofada de penas, penas, de Quiroga, conta a história de uma jovem recémrecém casada que morre tragicamente depois de ter todo o sangue sugado por um parasita encontrado em seu travesseiro. A partir de uma leitura pragmática, no entanto, notamos que o que leva Alice a óbito não é puramente o bizarro fato de um bicho dentro de sua almofada ter extraído todo seu sangue. Para chegar a tal conclusão, devemos considerar o ataque de gripe que a personagem teve, e levar em conta ainda que tal ataque ocorre quando a personagem m percebe que suas “criancices de noiva” estão se perdendo e congelando por conta do “temperamento duro do marido”: Nesse estranho ninho de amor, Alicia passou todo o outono. Porém tinha terminado por abaixar um véu sobre os seus antigos sonhos, e ainda vivia v 88 Revista Eletrônica Intr@ciência dormida na casa hostil, sem querer pensar em nada até o marido chegar. Não é incomum que emagrecesse. Teve um ligeiro ataque de gripe que se arrastou insidiosamente dias e mais dias. Percebemos também que Alicia sofre com o casamento, muito embora ela el e o marido se amem. Isso porque a jovem, quando solteira, imaginava o casamento como um ninho de felicidade e amor trocados. Logo após a cerimônia, já em sua lua-de-mel, lua percebeu que essa idealização cultural não era válida, uma vez que não era correspondida correspon pelo marido: Sua lua-de-mel lua mel foi um longo estremecimento. Loura, angelical e tímida, o temperamento duro do marido gelou suas sonhadas criancices de noiva. Ela o amava muito, no entanto, às vezes, sentia um ligeiro estremecimento, quando voltando à noite noite juntos pela rua, olhava furtivamente para a alta estatura de Jordão, mudo havia mais de uma hora. Ele, por sua vez, a amava profundamente, sem demonstrá-lo./Sem demonstrá lo./Sem dúvida ela teria desejado menos severidade nesse rígido céu de amor, mais expansiva e incauta incau ternura; mas a impassível expressão do seu marido a reprimia sempre. Tudo isso fez com que Alicia desanimasse e desacreditasse de sua ideologia acerca do matrimônio. Assim sendo, a protagonista acaba por “abaixar um véu sobre os seus antigos sonhos”, o que a leva à agonia. Com tudo isso, percebemos a insensibilidade e falta de percepção do marido. Insensibilidade por conta de sua severidade para com a noiva. Falta de percepção já que não notou o prejuízo que estava causando a sua esposa, que adoecia e morria morria ao seu lado, sendo que o diagnóstico era a demonstração de seu amor por ela. Maior prova de que Alicia necessitava do carinho do marido é o momento quando ele a acaricia: De repente Jordão, com profunda ternura, passou a mão pela sua cabeça, e Alicia em seguida se quebrou em soluços, e o abraçou. Chorou Alicia demoradamente seu discreto pavor, redobrando o choro diante da menor tentativa de carícia. Depois, os soluços foram-se foram se acalmando, e ainda ficou um longo tempo escondido no seu ombro, quietinha, sem pronunciar pr uma palavra. É crucial atentarmos que o conto, embora uma história de amor, tem muitas características de horror. De início, é possível que percebamos isso, pois as sonhadas 89 Revista Eletrônica Intr@ciência criancices de noiva da protagonista se perdem ao se deparar com um temperamento tempe severo e distante do marido, o que revela desde então uma história trágica: “sua lua-de-mel lua foi um longo estremecimento. Loura, angelical e tímida, o temperamento duro do marido gelou suas sonhadas criancices de noiva”. Podemos notar ainda que o signo signo “estremecimento” aparece no texto três vezes, todas elas no início do conto, o que mais uma vez nos remete a ideia de tragédia. Essa noção de medo também pode ser notada na descrição da casa onde o casal residia, mas nosso foco é no enredo e não no espaço/ambiente. paço/ambiente. Explicado o enredo, cabe agora apresentar as partes que o compõem: a exposição, a complicação, o clímax e o desfecho. A exposição, apresentação das personagens e situação do leitor na história a ser contada, ocorre, em grande parte, no início início do texto, quando o narrador mostra o tempo inicial da narrativa e descreve, ainda que pouco, as personagens do conto: “sua lua-de-mel lua foi um longo estremecimento. Loura, angelical e tímida, o temperamento duro do marido gelou suas sonhadas criancices de noiva”. É claro que a apresentação das personagens, bem como os outros elementos da narrativa, acontece no decorrer de todo o texto. Um bom exemplo disso é o fato de o nome da personagem principal, Alicia, só ser apresentado no quinto parágrafo. Isso faz com c que o leitor fique instigado e embarque na história contada, esquecendo do mundo fora do texto. A complicação, por ser o momento do texto a qual se desenvolve o conflito, ocorre quando Alicia fica doente. É importante lembrar que junto com a doença da protagonista p está a decepção dela para com o matrimônio. Em outras palavras, queremos dizer que o conflito da história, embora possa não parecer em leitura superficial, está ligado a essa desilusão. Tanto que é esse o motivo do emagrecimento e do ataque de gripe da protagonista: Nesse estranho ninho de amor, Alicia passou todo o outono. Porém tinha terminado por abaixar um véu sobre os seus antigos sonhos, e ainda vivia dormida na casa hostil, sem querer pensar em nada até o marido chegar. Não é incomum que emagrecesse. Teve um ligeiro ligeiro ataque de gripe que se arrastou insidiosamente dias e mais dias. Alicia não melhorava nunca. O clímax acontece após a morte de Alice, momento em que a empregada percebe algo estranho na almofada. Isso porque o leitor, curioso, após a morte da personagem, perso 90 Revista Eletrônica Intr@ciência provavelmente questiona a ausência do travesseiro de penas. Dizemos isso pelo fato de a protagonista já ter morrido e a almofada, que é título da história, ter sido citada somente uma vez e de modo que parecesse desimportante. Contudo, o narrador cita ci tal objeto logo após a morte de Alicia, momento em que é observado com estranheza pela empregada. É justamente essa estranheza que indica que a causa da morte de Alicia está ligada à almofada e será em breve descoberta: “Alicia morreu, por fim. A empregada, empregada, que entrou depois para desfazer a cama, já vazia, olhou um momento com estranheza para a almofada”. Se o clímax é a possível descoberta da morte de Alicia, o desfecho, a solução dos conflitos, ocorre com o desvendamento detalhado da morte da protagonista: protagoni Noite após noite, a partir do dia em que Alicia tinha ficado doente, ele tinha aplicado sigilosamente sua boca – sua tomba, melhor dizendo – às têmporas da mulher, chupando-lhe chupando lhe o sangue. A mordida era quase imperceptível. A remoção diária da almofada tinha impedido sem dúvida ser desenvolvimento, mas assim que a jovem não conseguiu mais se mexer, a sucção foi vertiginosa. Em apenas cinco dias e cinco noites, tinha esvaziado Alicia. Dizer que o desfecho acontece no penúltimo parágrafo não significa que qu esse é o fim do conto. Trata-se, se, na verdade, do encerramento da primeira história, isto é, os problemas enfrentados por uma jovem recém-casada recém em seu matrimônio.. O narrador enfatiza a decepção da protagonista, motivo que a levou à doença e, consequentemente, consequenteme à morte. A segunda história, por sua vez, trata da descoberta do motivo do óbito de Alicia, como tudo aconteceu. Há, no entanto, indícios da história 2 na história 1. Um bom exemplo disso é o próprio título (A almofada de penas). Sabemos que até a morte morte da protagonista, a almofada só é citada uma vez e ainda de modo “irrelevante”, mas é fato que ela deve aparecer com mais efeito. A almofada é o ponto de interseção entre as duas histórias, ou seja, é elemento que liga o relato do jogo e do suicídio. Outro Outro exemplo dessas dicas é o fato de a doença de Alicia não avançar durante todo o dia, mas à noite: Durante o dia, sua doença não avançava, mas de manhã ela adormecia lívida, quase em síncope. Parecia que unicamente à noite a sua vida se fosse em novas asas asas de sangue. Tinha sempre ao acordar a sensação de sentir se derrubada na cama com um milhão de quilos por cima. A partir do sentir-se terceiro dia esse desmoronamento não a abandonou mais. Apenas podia 91 Revista Eletrônica Intr@ciência mexer a cabeça. Não deixou que pegassem na sua cama, nem sequer sequ que arrumassem a almofada. Seus terrores crepusculares avançaram na forma de monstros que se arrastavam até sua cama e subiam com dificuldade pela colcha. Alicia não piorar durante o dia é explicado na segunda história quando o narrador informa o leitorr que o animal aplicava sigilosamente sua boca em Alicia noite após noite. Também nesse trecho, podemos inferir a noção de suicídio apresentada por Piglia (2000). Dizemos isso pelo fato de a mulher não deixar que “pegassem na sua cama, nem sequer que arrumassem assem a almofada”; almofada essa responsável pela sua morte. Já sabemos que a recém-casada casada estava sofrendo muito com a decepção. Sabemos também que o marido só começou a demonstrar seu afeto e preocupação por ela depois que Alicia adoeceu. Talvez seja esse o motivo de ela preferir se entregar à doença. Para finalizar a análise do enredo, vejamos o último parágrafo do conto: “esses parasitos das aves, diminutos no seu meio habitual, chegam a adquirir proporções enormes em certas condições. O sangue humano parece parece ser para eles particularmente favorável, e não é raro encontrá-los los nas almofadas de penas”. Observamos que esse último momento do texto não faz parte da história de Alicia. Na verdade, o trecho é um comentário do narrador acerca da história que ele acabou acabou de contar, como se fosse uma reflexão. Para entender bem esse último parágrafo, é necessário que o leitor mergulhe no texto. Isso porque a ave citada é mera figura e serve para representar a temática tratada no texto. Mas que temática seria essa? Uma possibilidade de leitura é que esses parasitos representem a depressão. Afirmamos isso com segurança pelo fato de ser esse o estado de Alicia, o que a levou a óbito. Também podemos inferir os temas amor e desatenção.. O amor que o marido e a esposa sentiam um pelo outro, mesmo que o homem não conseguisse expressá-lo. expressá E a falta de atenção que o marido teve em relação à carência de sua esposa. Como explicamos anteriormente, o conto analisado mostra indícios de tragédia desde o seu início. Percebemos já no princípio princípio da leitura que Alicia viria a óbito. Nessa perspectiva, podemos afirmar que esse acontecimento não foi surpreendente. Além disso, notamos que a piora de saúde da protagonista acontece rapidamente, o que leva o leitor a inferir que ela falecerá. É por esses motivos que podemos assegurar que a doença e a morte da mulher não são a unidade de efeito do conto. A unidade de efeito, então, é o mistério 92 Revista Eletrônica Intr@ciência sobre a almofada de penas, já que esse é o momento do texto que causa mais tensão e curiosidade no leitor. CONSIDERAÇÕES FINAIS Vimos, no decorrer do trabalho, uma concepção acerca de conto, bem como algumas características intrínsecas a esse gênero. Apontamos que o conto é uma narrativa curta e que nada nele é por acaso, ou seja, todos os elementos estão intimamente intimamente ligados à história. Apresentamos, ainda, que os contos têm uma unidade de efeito, uma tensão, que prende o leitor na história. Por se tratar de textos curtos, essa tensão (curiosidade, medo, aflição) estende-se se por toda a narrativa. No que diz respeito peito aos contos de Quiroga, vimos que tratam de narrativas com duas histórias, sendo os eventos conectados por um elemento que faz parte dos dois acontecimentos. Se a história 1 é o relato do jogo, a 2 é o relato do suicídio. Foi dito também que há indícios os da segunda história na primeira e que o efeito de surpresa se produz quando o final da história secreta aparece na superfície. A conclusão que tiramos, a partir da teoria exposta e da análise do conto, é que para que o leitor compreenda o conto literário literári estudado – assim como todo e qualquer texto – é preciso que leve em conta o que está implícito, ou seja, é necessário que faça inferências para que possa compreender o tema que as figuras do escrito representam. Uma leitura que considera apenas os níveis gramaticais e semânticos não torna possível uma relação do ficcional com o real. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas.. 9. ed. São Paulo: Ática, 2000. GOTLIB, Nádia Battella. Teoria do conto. conto São Paulo: Ática, 2000. PIGLIA, Ricardo. Formas breves. breves. São Paulo: Campanhia das Letras, 2000. QUIROGA, Horácio. A almofada de penas.. Disponível <http://www.releituras.com/hquiroga_menu.asp http://www.releituras.com/hquiroga_menu.asp>. >. Acesso em 07 nov. 2012. em: 93 Revista Eletrônica Intr@ciência II. POESIA PROFESSORA ASSIS, Nadir H.C55 Sinto um belo luzir Na paz e na alegria, Do teu nome a transmitir Uma nova simpatia Tu, que bem sabes somar, Soma a ti, minha amizade. Não te esqueças de ensinar, O dom que tens para amar. Tu, que sabes dividir, Divide comigo o saber. Espero que no porvir, Os números te tragam prazer. Tu, que ensinas subtração, Subtrai do pensamento, Qualquer preocupação E todo e qualquer lamento. Se vês olhares que agridem, Hás de saber transformar, Pois anjos, contigo dividem, O santo dever de ensinar. Conserva no teu olhar, Esta alegria sincera De quem a paz veio dar. Certamente a Nova Era, Há de ser de muita paz! 55 A Candeia. Santos. Espaço do Autor: 2004 94 VOTOS ASSIS, Nadir H.C56. Que os sinos dobrem com harmonia! Que a vida lhe seja mais feliz! Que o futuro lhe sorria! Que o amor se faça presente! Que as amizades sejam constantes! Que a vida lhe seja mais bela! Que seus sonhos se realizem! Que a realidade não lhe seja cruel! Que a família permaneça unida! Que a saúde caminhe ao seu lado! Que seus olhos brilhem a cada emoção! Que o aroma das flores dos Jardins de Deus, Perfume os corações de todos os seus! Que a sua vida, lhe seja próspera, nós auguramos! Tudo de bom, nós lhe desejamos! 56 A Candeia. Santos. Espaço do Autor: 2004 Revista Eletrônica Intr@ciência III. REFLEXÃO ACADÊMICA ASSASSINATO DE MULHERES Olavo Câmara Escuta bela filha do amor, as instruções da prudência e permite que os preceitos do amor e da verdade penetrem profundamente em seu coração. A partir daí os encantos da tua mente te farão brilhar e haverá elegância as tuas formas. Uma verdadeira mãe se torna uma mansão de bondade. Ela preside a casa, toma conta da família e aponta os caminhos para o bem. O que é uma mulher para a sociedade? Acaso não é aquela que gera a vida em seu ventre e se apresenta como como uma Santa disposta a educar os filhos! Há homens que além de doentes e psicopatas se tornam assassinos de mulheres, de esposas e de namoradas. A violência vem aumentando a cada momento. Parece que a implantação da Lei Maria da Penha fez aumentar os assassinatos. assassinatos. Caras mulheres! Antes de se casarem, “juntar os trapos” ou mesmo partir para uma união estável, conheça profundamente o seu parceiro e não se envolva em uma relação “precoce”. Há homens que se parecem mais com animais irracionais. Para conquistar uma mulher, o cidadão se apresenta e demonstra lealdade, bondade e gentilezas durante o namoro, mas após realizar o seu intento, se torna cruel, frio e violento. É bom lembrar o que diziam os mais experientes: “para se conhecer bem uma pessoa é preciso comer er dois sacos de sal juntos”. Não tenha medo mulher, denuncie os violentos, fuja de casa e busque abrigo seja onde for. E quanto a vós autoridades, façam projetos e criem condições e abrigos para ocultar e defender mulheres ameaçadas pelos parceiros que acreditavam reditavam que lhe trariam felicidade e um belo lar. Em última análise, se o caso, reaja e esteja pronta para praticar legítima defesa, defendendo a sua vida e a dos seus filhos. A partir daí se prepare para uma nova vida e não se entregue a qualquer um. As As mais jovens e adolescentes não devem marcar encontro com qualquer um que navega pela Internet e redes sociais. Cuidado com os relacionamentos precoces. Mesmo conhecendo as pessoas seja precavida, pois, em uma fração de segundo poderá revelar a sua verdadeira verdadeira personalidade e cometer as maiores barbaridades. Aos homens covardes e assassinos, deixamos registrado um lembrete: “Há no globo terrestre 96 Revista Eletrônica Intr@ciência sete bilhões de habitantes, dos quais, mais da metade são mulheres. É possível encontrar mulheres de todos os tipos, pos, belas e os melhores corpos. Mas, você “idiota” se apaixonou e “grudou” naquela que não mais o deseja e faz todos os tipos de ameaças. Ao não conseguir se impor acaba por assassiná-la. assassiná la. Ora, “saibas que no planeta há milhões de mulheres mais bonitas e melhores elhores do que a sua”. Mas, a frieza, ignorância e covardia acabam por tirar a vida da mãe dos seus filhos. Estes assassinos merecem uma penitenciária como lar, convivendo com o submundo do crime e até poderá servir sexualmente aos colegas de presídios. Ignorância norância e covardia assustam os nossos dias. Às mulheres devem saber que há milhões de homens no planeta esperando uma oportunidade para conhecê-las. conhecê 97 TODA A NUDEZ DO PODER Olavo Câmara Como será possível doutrinar, pressionar e obter dados sobre a administração do Estado e dos poderes da nação? Acesso à informação é preceito básico para a transparência. A sociedade civil deve fiscalizar, buscar informações e se aliar aos grupos que poderão modificar a cultura e a maneira de se fazer política, As entidades, organizações não governamentais, sociedades, grupos de homens livres e de bons costumes, estes sim, poderão influenciar e fazer modificar os péssimos costumes, os maus exemplos e a roubalheira. Quanto mais cidadãos de bem se envolverem, os senhores do poder se sentirão ameaçados e fornecerão os dados solicitados. Caso neguem, caberá impetrar mandados de segurança para se obter, por exemplo, itens de como foram aplicadas as receitas tributárias e se está havendo desperdício de recursos públicos. Os Municípios, os Estados e a União ficarão nus se houver pressões dos cidadãos conscientes. Para se obter informações bastará protocolar, formalmente, um requerimento junto à Câmara de Vereadores, em qualquer secretaria do Município ou diretamente no Gabinete do Prefeito. O que se pretende servirá para instruir processos, fazer denúncias, críticas ou, ao contrário, fazer elogios devido ao trato honesto com as finanças públicas. Quem do povo fiscaliza ou está disposto a exercer este papel cidadão ou colaborar para que não haja desperdícios, combater a manipulação do erário e exigir a prestação de contas? É preciso que segmentos honestos mergulhem na transparência da administração, obtenham dados e passem a fazer as denúncias sobre os estragos que os administradores e políticos fazem contra o povo, pela malversação do dinheiro público. A maioria alienada vive na superficialidade. As fraquezas do ensino médio e superior não despertam interesses pelas questões do Estado e de uma vida elevada para projetar a nação no contexto internacional. Quanto mais informações forem obtidas dos poderosos, acumuladas e utilizadas para o combate das “malandragens políticas”, mais o poder estará nu. Acuados e amedrontados, aprenderão, com o passar dos tempos, a respeitar o dinheiro público que é sagrado. Os recursos arrecadados devem ser empregados com sabedoria e respeito para atender as necessidades dos cidadãos. Para educar o povo é necessário educar também os detentores do poder. É possível? Sim! Mais o povo brasileiro tem que deixar de ser oportunista, Revista Eletrônica Intr@ciência aventureiro e manipulador. Aqueles do povo que são oportunistas e os políticos que somente visam lucros estão, neste momento, de mãos dadas, negociando os interesses pessoais. soais. Por que será que a saúde pública no Brasil é caótica em quase todos os Estados? Devido à falta de politização, fiscalização, pressão popular e denúncias reais. 99 NO CAMINHO DA CIVILIZAÇÃO SILVA, Geraldo Rodrigues da57 Ontem, quando cumprindo parte da rotina, entrei numa padaria da minha rua para comprar suprimentos do lanche noturno, como de praxe, pedi um café capuccino e comecei a tomar, enquanto a atendente providenciava o pedido. Já havia cumprimentado os presentes, cerca de doze, posicionados entre balcão e mesas, reconhecendo alguns habituais frequentadores. Então, percebi que um deles vinha na minha direção. Não sabia seu nome, mas ignorá-lo seria difícil, pois além de sempre estar ali, ostentava uma crescida e desgrenhada barba, como também cultivava avantajada barriga. Puxando meu braço, sapecou: - professor, que absurdo! A poupança não rende mais nada, o que o senhor acha? De princípio fiquei meio assustado. Apesar de ir àquela padaria quase que diariamente, e de algumas vezes até me demorar mais um pouco batendo papo com os presentes, não tinha ideia de como aquele senhor sabia do meu ofício. Só faltava ele saber que a minha especialidade era Mercado Financeiro e que lecionava disciplinas relacionadas ao assunto. Pelo visto, sabia. Olhei ao redor e notei que todos os presentes estavam me fitando, na expectativa de ouvirem algo que lhes agradasse, ou quem sabe, explicações lógicas para o fato. Certo de que não podia fugir da raia, tomei mais um gole de café e comecei a imaginar como poderia explicar todo o contexto, de uma forma rápida e em linguagem acessível àquela gente. Tomei coragem e respondi: - pois é, mesmo assim, todo mês os depósitos na poupança são maiores que os do mês anterior, evidenciando um crescimento real. Se as pessoas continuam preferindo a poupança, mesmo com rendimentos tão pequenos, é porque são genuinamente poupadoras e não estão dispostas a correr riscos, buscando investimentos com retornos teoricamente maiores. Mas é preciso saber por que isso está acontecendo. Em primeiro lugar, é indispensável entender que quando um negócio tem um risco considerável, você só entra nele se for para obter ganho muito superior àqueles de menor 57 Professor Mestre em Educação. Revista Eletrônica Intr@ciência risco. Definimos que os títulos emitidos pelo governo (federal) são considerados aplicações sem risco, se constituindo em investimentos seguros, o que desperta grande atratividade, tanto para os investidores domésticos, como também para os estrangeiros. A taxa SELIC (taxa básica de remuneração dos títulos públicos federais) fe está prevista em 7,25% a.a., o que ainda é considerada altíssima, se comparada ao praticado nos países de primeiro mundo. Nossos títulos atraem investidores de todas as partes da terra, vez que agora temos estabilidade política e econômica, superávit superávit primário, superávit na balança de pagamentos, endividamento controlado e reservas internacionais em torno de US$ 377 milhões, evidenciando solidez e afastando qualquer possibilidade de calote. Países que também apresentam riscos baixos remuneram seus títulos títulos com taxas muito inferiores às do Brasil, como por exemplo, os Estados Unidos pagam no máximo 0,25% a.a., Alemanha paga 0,35% a.a., Inglaterra remunera a 0,50% a.a. Ora, se as aplicações nos títulos desses países são seguras, para qual deles migram naturalmente naturalmente os recursos? Com certeza para aquele que paga mais, no caso, o Brasil. Esta é a razão do constante ingresso de divisas em investimentos produtivos e especulativos, contribuindo para o superávit da balança de pagamentos e a formação de reservas em e volume tão alto. Se o Brasil está captando recursos além de suas expectativas, por que manter taxas primárias tão elevadas? Por isso, em cada uma das reuniões do COPOM, (realizadas a cada 45 dias aproximadamente) a partir de agosto/2011, ocorreu redução da taxa Selic, saindo de 12,5% a.a. naquele mês para 7,25% a.a. em outubro/2012, totalizando uma redução acumulada de 42%. Os bancos captam recursos dos poupadores e repassam para os investidores/consumidores, como forma de indução da economia, tendo como parâmetro de remuneração a taxa Selic. Considerando que sobre os rendimentos da poupança não incide Imposto de Renda, os depósitos regidos pela regra antiga estão sendo remunerados mais que as outras aplicações, o que, se mantido, resultaria na migração dos recursos de outras modalidades de investimentos para a poupança. Se não houvesse a mudança da regra o efeito seria desastroso, pois faltaria dinheiro para os diversos segmentos da economia, visto que os recursos da poupança são destinados para a habitação habita e agricultura. A nova regra vale apenas para os depósitos efetuados a partir de 04/05/2012, mantendo a composição da taxa política (Taxa Referencial = TR) mais 70% da taxa Selic, enquanto estiver abaixo de 8,5% a.a. Se a taxa Selic voltar a crescer e ultrapassar 8,5 % a.a., 101 Revista Eletrônica Intr@ciência voltará a viger a regra antiga para todos os depósitos, isto é TR + 0,5% a cada aniversário. Para o mês de outubro a TR está fixada em “zero”, ficando a remuneração dos depósitos realizados sob a nova regra com rendimentos de apenas 70% de 7,25%, o que representa 0, 4134% para as poupanças que aniversariam neste mês. Acontece que sobre os rendimentos das aplicações noutras modalidades incide Imposto de Renda, cuja alíquota varia de acordo com o volume. Vamos estimar que o imposto de renda seja de 25%. Então, se a remuneração for da taxa Selic (7,25% a.a.), deduzidos do IR (25%), fica líquido 5,44% a.a, o que significa 0,4424% a.m., portanto superior à dos depósitos realizados pela nova regra, consequentemente mantendo a atratividade. Pela regra antiga todos os depósitos da poupança estariam rendendo no mínimo 0,50% a.m., logo, maior que os 0,4424% de outras aplicações. Isso faria com que houvesse uma maior procura pela poupança faltando dinheiro para a economia. Nesse momento percebi que estava me comportando tal qual um professor, tendo a reduzida e atenta plateia como alunos. Fiz uma pausa, tomei um gole do café que já estava frio, e perguntei: - vocês me entenderam? Falei vocês, porque não mais me dirigia somente para o gordinho inconformado, conformado, mas para todos os presentes que já estavam de pé, formando um pequeno ajuntamento ao meu redor. Alguns assentiram com a cabeça, outros simplesmente continuaram me olhando fixamente. Acho que o gordinho barbado não entendeu nada, pois naquele curto curto espaço de tempo consumiu duas garrafas de cerveja e se apresentava bem mais calmo. Porém, um senhor trajando terno escuro, com jeitão de advogado, encostado no balcão, interveio: - e a população o que ganha com isso? Olhei mais atentamente e percebi que ue o mesmo não era mais jovem, devia estar com mais ou menos 40 anos. Foi o mote que precisava para tentar uma explicação mais convincente. Então falei: - você se lembra de que no final da década de 90, só tínhamos no Brasil quatro montadoras de automóveis (Ford, Chevrolet, Fiat e Volkswagen). Elas eram as maiores empregadoras, ditavam os preços e decidiam os tipos de carros que devíamos comprar. A população mal empregada não tinha condições de comprar carros, até porque os financiamentos estavam fora de alcance al da maioria, em função dos prazos e das taxas de juros. Além disso, grande parte não tinha certeza da empregabilidade. O índice de desemprego rondava os 20%. Ademais, a altíssima inflação corroia o poder de compra da população, reduzindo também o consumo cons de outros bens. 102 Revista Eletrônica Intr@ciência Hoje, com a inflação controlada e o país gozando de credibilidade, fez com que muitas empresas aqui se instalassem ou investissem no aumento da produção, resultando na elevação da oferta de emprego e da renda. Renda gera consumo, que gera g produção, que gera emprego, que gera renda. É um círculo virtuoso. O atual índice de desemprego está em 5,3%, muito menor que o de vários países do primeiro mundo. As baixas taxas de juros contribuem para o investimento produtivo, pois as empresas podem dem captar com a certeza de que os lucros cobrem as despesas financeiras. As pessoas podem adquirir bens duráveis à prestação, pois possuem capacidade de pagamento. Em suma, é uma lição de progresso digna do mundo civilizado, que, a propósito, está nos copiando. Naquele momento, o Sr. Vítor, dono da padaria, que, debruçado sobre o balcão, ouvia atentamente, retrucou: - isso é verdade. Não tem mais desempregado. É uma dificuldade encontrar alguém para trabalhar para a gente. Até minhas filhas estão me ajudando ndo aqui, porque não consigo empregados em número suficiente. Mesmo que sua afirmação estivesse carregada de exageros, tive de concordar com ele, explicando que o equilíbrio econômico é muito difícil de ser administrado. O avanço num sentido pode comprometer comprometer o outro lado. Consumo exagerado gera inflação. Demanda maior que oferta gera desabastecimento. Sorvendo o último gole de café, concluí expressando minha opinião: - doravante o governo terá que fazer ajustes finos e pontuais nalguns setores, procurando o equilíbrio e evitando o início de uma escalada de difícil controle e previsão. Por fim, pedi desculpas por ter que sair, me comprometendo de estar disponível para outros bate-papos. papos. Naquele momento acho que já não pairava dúvidas de que era professor. Assim, ssim, ouvi um sonoro e uníssono “valeu professor!”, vindo de todos os cantos do salão. Paguei minha conta e saí. Já na calçada ouvi um grito “viva os juros baixos” proferido com voz meio entrecortada, característica de quem estava alterado pelo álcool. Olhei O para trás e notei que o autor da frase era o gordinho barbado, que erguia um copo e me acenava. Retribuí o aceno e fui para casa com a sensação gostosa de ter falado sobre economia sem usar termos técnicos do “economês”. Espero que tenham entendido. Palavras-chave:: poupança, juros, títulos públicos, Selic. 103 Revista Eletrônica Intr@ciência REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS www.bcb.gov.br www.ibge.gov.br www.receita.fazenda.gov.br .fazenda.gov.br 104 Revista Eletrônica Intr@ciência SENSO CRÍTICO BIANCHI, Patrícia Há cerca de uma década, um professor indicou um livro chamado “Senso Crítico: do dia-a-dia dia às ciências humanas”, de David William Carraher. Carraher. O livro trata da argumentação, das funções da linguagem, da leitura nas entrelinhas e, sobretudo da desmistificação do discurso. Há cerca de uma semana, proferi palestra num evento, onde os discursos me levaram à década de 90, especificamente à leitura de d Carraher. Discursos eivados de valores que se misturavam às questões tecno-argumentativas, tecno valores que cumprem certas finalidades, que só poderiam ser “percebidas” pelo senso crítico que temos, ou deveríamos ter. Este pode ser definido como a “capacidade “capacidad de analisar e discutir problemas inteligente e racionalmente, sem aceitar, de forma automática, suas próprias opiniões ou opiniões alheias.” Naquele evento, presenciei, perplexa, uma “autoridade” discursando e, naturalmente, invertendo conceitos, distorcendo distorcendo teorias perante um público pacificado, e até mesmo encantado, já que o locutor se referia a várias autoridades, cargos importantes, tudo isso emoldurado por bem cuidados cabelos grisalhos que, nesse caso, lhe conferia um plus de credibilidade. Foi nesse esse cenário que ouvi, entre outras, que - em razão da existência do ciclo hidrológico - a água era recurso infinito e ilimitado; e ainda que um dano ecológico local (de grande porte, como a construção de uma grande usina) seria compensado por ganhos globais, ocultando-se, se, aqui, todas as inter-relações inter relações e prejuízos que os danos ecológicos (muitos de caráter global em razão da sua extensão) podem causar ao ser humano e demais seres que dependem do equilíbrio ecológico para ter qualidade de vida. A própria natureza atureza humana nos faz aceitar idéias por razões emocionais e pessoais, por questões de valores, conveniência ou preferência, muito mais do que por razões racionais. Nesse contexto, falácias são utilizadas como “truques de argumentação” que impedem a análise se clara, e obscurecem as questões reais que merecem atenção. Fatos são 105 Revista Eletrônica Intr@ciência distorcidos, e as formas como as ideias são apresentadas podem sugestionar a aceitação do expectador. Há, ainda, o apelo emocional, além do, muitíssimo comum, apelo à autoridade, em que se aceita como verdadeira uma idéia porque uma autoridade ou especialista renomado a defende. Tudo isso para se garantir uma decisão de acordo com os interesses do locutor. O pensador crítico normalmente questiona as informações a fim de averiguar se elas são dignas de confiança; o que a fonte está tentando conseguir; e o que ela significa em termos pragmáticos. Na prática, as pessoas inibem seu pensamento crítico para não parecerem “do contra”. Ao contrário, dever-se-ia dever ia incentivar a curiosidade, a interpretação int do que se apresenta, em várias perspectivas, para se garantir a detecção do “não dito” na comunicação científica ou diária. Nossas posições ou escolhas são valoradas. Contudo, no discurso, deve-se deve priorizar a informação fundamentada. O fato das idéias estarem ligadas a motivos não impossibilita o uso do senso crítico. O próprio exercício da cidadania pressupõe o mínimo desse senso. Este valoriza a coerência, a clareza de pensamento, a reflexão, e uma compreensão melhor da realidade social, sem o que a ação responsável é fadada ao fracasso. Nem mesmo o acúmulo de informações pode nos salvar das armadilhas de um belo ou envolvente discurso. Na língua germânica, o termo humorístico Fachidiot (idiota bem informado) ridiculariza os especialistas (Fachmann) (Fachmann) que, apesar de possuírem muitas informações, apresentam uma total falta de perspectiva ou conhecimento mais amplo. Seja no âmbito acadêmico ou no dia-a-dia dia dia de pessoas comuns, incentivar o senso crítico em dada sociedade é elevar o seu nível de desenvolvimento, desenvolvimento, é possibilitar menos enganos, menos falácias, proporcionando uma visão mais clara da realidade. É o que merecemos e não devemos mais adiar. 106 Revista Eletrônica Intr@ciência O MULTICULTURALISMO E OS DIREITOS DE COTAS NA EDUCAÇÃO. SANTOS, Gustavo Abrahão Abrah Dos58 A diversidade cultural entre os discentes nas escolas brasileiras é repleta de características sócio econômicas, aos quais levam a esta reflexão referente ao multiculturalismo e os direitos de cotas na educação, ora previsto na Lei Federal nº n 12.711 de 29 de agosto de 2012, regulamentada no Decreto nº 7.824 de 11 de outubro de 2012, e que possui regras específicas estabelecidas na Portaria nº 18 do Ministério da Educação – MEC, fixadas também em 11 de outubro de 2012. Elucida-se se que o nosso país por conter um extenso território, apresenta diferenças climáticas, econômicas, sociais e culturais as suas regiões, sendo registradas tais diferenças em pesquisas pelo Instituto Brasileiro de Geografia Econômica - IBGE. Neste compasso, a diversidade cultural existe nos diferentes níveis de escolaridade, religião, passando pela culinária e pratos típicos, bem como vestimentas e festas regionais, chegando as inúmeras etnias e faixas de renda per capita familiar que compõe a população brasileira. A problemática que a sociedade passa nos dias atuais, deve-se deve ao contexto da globalização ao qual por um lado afirma uma sociedade de exclusão, e por outro lado movimentos pela igualdade. É nessa luta pelo bem comum da sociedade que educadores as tomam como desafio, para construir métodos que proporcionem oportunidade para a compreensão e aceitação da diversidade cultural, e nas diferentes realidades sociais, onde de forma parceira com a comunidade possam junto superar o conflito que paira entorno da escola. O fazer construir e o repensar o espaço sociocultural que está ao redor é um meio para que o educador enfatize na escola uma reflexão crítica sobre a realidade em que a mesma se encontra. 58 Advogado, professor universitário, pós graduado em Direito Empresarial e pós graduando em Ética, Cidadania e Valores. 107 Revista Eletrônica Intr@ciência Nesse sentido, quando a escola reconhece que as diferenças culturais cultur existem, e aborda temas para repensar a cidadania em sala de aula, faz nascer a reflexão do direito de igualdade entre as mais diversas etnias, bem como passa a existir um ensejo de várias comunidades em diminuir a desvantagens, desigualdades, a discriminação discriminação social de gênero, raça, opção sexual e de origem regional e econômica. Verifica-se se que é a escola ao tomar a diversidade e a singularidade como objeto de estudo e conscientização na busca da aceitação do “diferente”, a mesma estará assumindo uma ação de multiculturalismo. Neste diapasão, dentro da diversidade cultural brasileira temos corrente literária de doutrinadores na educação que se convencionou a chamar de multicultural, as várias características sociais e os problemas de governabilidade, apresentados apresentados na sociedade em diferentes comunidades culturais que convivem e tentam construir uma vida em comum. No multiculturalismo existe uma crítica à exclusão social e política diante dos privilégios de algumas hierarquias existentes na nossa sociedade. sociedade. Dessa forma, necessário se torna pelo Estado brasileiro, a realização de estratégias e políticas adotadas para governar ou administrar problemas de diversidade e multiplicidade gerados pelas sociedades multiculturais. Evidentemente que na educação o multiculturalismo multiculturalismo está presente e faz pensar uma sociedade mais justa e igual, pois são nas salas de aulas que estão jovens de inúmeras comunidades com diversas culturas e etnias, que almejam um lugar no mercado de trabalho, e para tanto, necessitam de formação formação técnica ou superior, mas não possuem condições sociais e econômicas de continuar a estudar em escolas privadas de ensino técnico e superior. Nessa perspectiva, o governo brasileiro absorveu a inclusão do multiculturalismo na educação pública, e materializou materializou mais um direito fundamental de igualdade entre os cidadãos presente em nossa Carta Magna de 1988, ora a Lei Federal nº 12.711 de 29 de agosto de 2012, regulamentada no Decreto nº 7.824 de 11 de outubro de 2012, e que possui regras específicas estabelecidas estabelecidas na Portaria nº 18 do Ministério da Educação – MEC, editada na mesma data do Decreto, denominada Lei de Cotas da Educação. Em que pese os inúmeros diplomas legais de direitos difusos e coletivos brasileiros que proclamam os direitos fundamentais e sociais, ociais, esta é a grande novidade da legislação social brasileira em 2012. 108 Revista Eletrônica Intr@ciência Deve se ressaltar na legislação de cotas na educação acima declinada, que o direito se aplica as instituições federais de educação superior e de nível técnico vinculada ao Ministério da Educação, que ora reservarão, em cada concurso seletivo para ingresso nos cursos de graduação ou de nível técnico federal, por curso e turno, no mínimo 50% (cinquenta por cento) de suas vagas para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio, dio, e respectivamente, o ensino fundamental em escolas públicas. Para ter este direito a cotas na educação no ensino superior e médio técnico federal, os estudantes de escolas públicas no ensino médio e respectivamente, no ensino fundamental, devem se autodeclarar au pretos, pardos e indígenas em proporção no mínimo igual à de pretos, pardos e indígenas na população da unidade da Federação onde está instalada a instituição, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).. E ainda, é necessário que os estudantes sejam oriundos de famílias com renda igual ou inferior a 1,5 salário mínimo (um salário-mínimo salário mínimo e meio) per capita. Dentro das regras da legislação de cotas na educação temos algo fundamental e que elimina os estudantes condicionados a legislação de cotas na educação, ora a questão das condições para concorrer às vagas reservadas de egresso de escola pública. O artigo 5º da Portaria 18 do Ministério da educação condiciona que, tão somente, poderão concorrer às vagas reservadas para os cursos de graduação, os estudantes que: a) tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas, em cursos regulares ou no âmbito da modalidade de Educação de Jovens e Adultos; ou b) tenham obtido certificado de conclusão conclusã com base no resultado do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos - ENCCEJA ou de exames de certificação de competência ou de avaliação de jovens e adultos realizados pelos sistemas estaduais es de ensino. Já quanto aos estudantes para as vagas reservadas aos cursos técnicos de nível médio, podem concorrer os estudantes que: a) tenham cursado integralmente o ensino fundamental em escolas públicas, em cursos regulares ou no âmbito da modalidade modali de Educação de Jovens e Adultos; ou b) tenham obtido certificado de conclusão com base no resultado do ENCCEJA ou de exames de certificação de competência ou de avaliação de jovens e adultos realizados pelos sistemas estaduais de ensino. Outra condição ão importante de egresso nas cotas do ensino superior e técnico federal, utilizada quanto ao preenchimento de vagas reservadas as cotas de estudantes oriundos de escolas públicas é a renda per capita familiar igual ou inferior a 1,5 salário mínimo (um 109 Revista Eletrônica Intr@ciência salário-mínimo e meio) per capita, capita ora disposta no artigo 7º da Portaria 18 do Ministério da Educação, quanto a forma de apuração da renda familiar bruta mensal per capita. A apuração ocorre da seguinte forma: primeiramente, calcula-se calcula se a soma dos rendimentos brutos rutos auferidos por todas as pessoas da família a que pertence o estudante, levando-se levando em conta, no mínimo, os três meses anteriores à data de inscrição do estudante no concurso seletivo da instituição federal de ensino; posteriormente, calcula-se calcula se a média mensal dos rendimentos brutos apurados e divide-se divide se o valor apurado após a aplicação do cálculo da média mensal dos rendimentos brutos apurados pelo número de pessoas da família do estudante. Observa-se se que no cálculo da soma dos rendimentos brutos auferidos aufer por todas as pessoas da família a que pertence o estudante, serão computados os rendimentos de qualquer natureza percebidos pelas pessoas da família, a título regular ou eventual, inclusive aqueles provenientes de locação ou de arrendamento de bens móveis móveis e imóveis, excluídos os valores percebidos a título de auxílios para alimentação e transporte, diárias e reembolsos de despesas, adiantamentos e antecipações, estornos e compensações referentes a períodos anteriores, indenizações decorrentes de contratos contra de seguros, indenizações por danos materiais e morais por força de decisão judicial, bem como excluídos estão os rendimentos percebidos do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, do Programa Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano, do Programa Pro Bolsa Família e os programas remanescentes nele unificados, do Programa Nacional de Inclusão do Jovem Pró-Jovem, Jovem, do Auxílio Emergencial Financeiro e outros programas de transferência de renda destinados à população atingida por desastres, residente em Municípios em estado de calamidade pública ou situação de emergência, e do) demais programas de transferência condicionada de renda implementados por Estados, Distrito Federal ou Municípios. A seriedade desta legislação federal de cotas na educação é tamanha para igualar os direitos dos estudantes de escolas públicas e os demais estudantes, que a apuração e a comprovação da renda familiar bruta mensal per capita tomarão por base as informações prestadas e os documentos fornecidos pelo estudante, em procedimento procedimento de avaliação sociais e econômicas a ser disciplinado em edital próprio de cada instituição federal de ensino, bem como a prestação de informação falsa pelo estudante, apurada posteriormente à matrícula,, em procedimento que lhe assegure o contraditório e a ampla defesa, ensejará o 110 Revista Eletrônica Intr@ciência cancelamento de sua matrícula na instituição federal de ensino, sem prejuízo das sanções penais eventualmente cabíveis. Quanto ao preenchimento das vagas reservadas, a Portaria nº 18 do Ministério da Educação – MEC inovou quanto ao preenchimento dos 50% (cinquenta por cento) das cotas reservadas a estudantes egressos de escolas públicas, ao permitir que estudantes advindos de escolas públicas e com renda familiar superior a renda renda per capita de 1,5 salário mínimo (um salário mínimo e meio) ficassem na frente dos demais estudantes de escola privada quanto a ordem de preenchimento das vagas destinadas a cota dos egressos da escola pública, fato que levou os demais estudantes das escolas escolas privadas a protestarem recentemente nas ruas, avenidas e praças de nosso país. È neste sentido que preceitua o artigo 14 da Portaria nº 18 do MEC, sendo as vagas preenchidas segundo a ordem de classificação, de acordo com as notas obtidas pelos estudantes estuda dentro de cada um dos seguintes grupos de inscritos: primeiro os estudantes egressos de escola pública, com renda familiar bruta igual ou inferior a 1,5 (um vírgula cinco) salário-mínimo salário mínimo per capita: a) que se autodeclararam pretos, pardos e indígenas; b) que não se autodeclararam pretos, pardos e indígenas; E depois, os estudantes egressos de escolas públicas, com renda familiar bruta superior a 1,5 (um vírgula cinco) salário mínimo per capita: a) que se autodeclararam pretos, pardos e indígenas; b) quee não se autodeclararam pretos, pardos e indígenas. E por último, os demais estudantes em havendo vagas destinadas aos 50% das cotas reservadas para a sócio etnia dos estudantes de escolas públicas. Concluindo, particularmente, acredito que a legislação de cotas na educação é justa, pois se a cota é 50% (cinquenta por cento) para estudantes ingressos de escolas públicas, as regras de etnia e de renda per capita familiar são utilizadas como critérios de ordem na classificação do percentual dos 50% (cinquenta por cento) da cota destinada a estudantes de escola pública, fato é que não sendo por motivos de etnia ou sócio econômicos, temos o direito de igualdade de acesso ao ensino público federal para os estudantes de escolas públicas e os demais estudantes, fazendo fazendo valer a questão social e o multiculturalismo existente na nossa sociedade. Fonte: Lei Federal nº 12.711 de 29 de agosto de 2012. Decreto nº 7.824 de 11 de outubro de 2012 Portaria nº 18 do Ministério da Educação – MEC, de 11 de outubro de 2012. 111 Revista Eletrônica Intr@ciência IV. NORMAS O EMPREGO DAS ASPAS: texto acadêmico SCHENDER, Klim Wertz59 Segundo Bechara (2006), quando as aspas abranger toda a sentença, expressão, frase ou período, os sinais de pontuação serão abarcadas por elas. Por exemplo: “Os fatos são verdadeiros.” Ao encerrar parte de uma proposição e coincidir a pausa com o final da sentença ou expressão, os sinais de pontuação serão colocados após as aspas. Por exemplo: Para Piere (1976), a estratégia “é algo indispensável para qualquer profissional”. profissi Simplificando: se a frase começar e terminar em aspas, a pontuação deverá ficar dentro das aspas. Se a frase não começa, mas termina com aspas, a pontuação pontuaçã deverá ficar fora das aspas. Quando a sentença é formada por uma única citação, o ponto final fica dentro das aspas. Exemplos: 1 - “O professor precisa aprender a pesquisar.” (DEMO, 1998, p.182). (ABNT) 2 - É crença geral que “só sobrevive no novo mercado de trabalho que mais lhe define o desafio da educação permanente” permane (SANCHES NETO, 2000, p. 2). Quando a citação faz parte de uma sentença, o ponto final fica fora das aspas, portanto, depois dos parênteses. Na ABNT/NBR 10520 (2002) todas as citações (AUTOR, ano, página) vêm acompanhadas no final de ponto final. Não confundir (Ano, página) com o autor do lado de fora dos parênteses, com o autor dentro dos parênteses. Segundo o tópico 5.3 da NBR 10520 (2002), as citações diretas com mais de três linhas deverão ser destacadas SEM ASPAS. Exemplo: As citações são os elementos retirados dos documentos pesquisados durante a leitura de documentação e que se revelam úteis para corroborar as ideias desenvolvidas pelo pelo autor no decorrer do seu raciocínio. Tais citação são transcritas a partir das fichas de documentação, podendo ser transcrições literais ou então apenas alguma síntese do trecho que se quer citar. (SEVERINO, 207, p. 174). 59 Mestre em Educação e professor da FAGU – Faculdade do Guarujá 112 Revista Eletrônica Intr@ciência EMPREGO DAS INICIAIS MAIÚSCULAS E MINÚSCULAS: texto acadêmico SCHENDER, Klim Wertz60 Conforme Bechara (2006), deve-se deve se empregar a letra inicial maiúscula no começo de uma citação direta. Exemplo: Piere (1976, p. 15) descreve: “Estudar é importante”. Numa enumeração ou enunciação, conforme Almeida (2005), depois, antes ou na ausência do verbo da oração, a palavra após deve ser iniciada com letra minúscula: a) enumeração: “Através do do esforço poderá alcançar três coisas: riqueza, estabilidade e conhecimento” b) enunciação (declaração): “Riqueza, estabilidade e conhecimento: através do esforço poderá alcançá-las”. las”. c) antes de uma explanação (explicação) ou reflexão (conclusão): “Não “ digas nada ao tolo: perderias o teu tempo”. d) Complementação: “O professor preocupa-se preocupa se com uma coisa: o futuro dos alunos.” Concluindo: Nos casos de uma enumeração, enunciação, explanação ou reflexão deve-se se utilizar, após os dois pontos, letra minúscula. De acordo com Martins e Zilberknop (2010) para saber se é um caso de explicação substitua os dois-pontos pontos por um “porque”, se for uma complementação substitua por “qual?” e se for uma conclusão substitua por um “logo”. Conforme Cegalla (2005, p. 39), “palavras, depois de dois-pontos, dois pontos, não se tratando de citação direta” deverá ser escrita em letra minúscula. Caso a citação seja direta, direta, deverá transcrever de acordo com o texto. Na ABNT/NBR 10520 (2002), quando a citação direta for iniciada pela supressão “[...]”, a palavra após vem em minúsculo. Pois, o texto não foi escrito na íntegra e sim uma parte dele. Ao escolher parte do texto da obra do autor consultado, e nela houver no início letra maiúscula, transcreverá maiúscula, se for uma parte que iniciar com letra minúscula, deverá ser escrita com inicial minúscula, acompanhada antes da supressão “[...]”. Exemplo: Inicial maiúscula: úscula: “O trabalho científico pode ainda assumir a forma de ensaio.” (SEVERINO, 2007, p. 206). Inicial minúscula: Há maior liberdade por parte do autor no ensaio “[...] no sentido de defender determinada posição sem que tenha de se apoiar no rigoroso e objetivo aparato de documentação empírica e bibliográfica [...]” (SEVERINO, 2007, p. 206). Citações com mais de quatro linhas deverá seguir o mesmo método. 60 Mestre em Educação e professor da FAGU – Faculdade do Guarujá 113 Revista Eletrônica Intr@ciência COLCHETES [ ] / PARÊNTESES ( ): texto acadêmico SCHENDER, Klim Wertz61 É utilizada nas citações ções os colchetes ao invés dos parênteses, conforme a ABNT/NBR 10520 (2002). No tópico 5.4, as supressões, comentários, acréscimos e interpolações devem ser representados pelos colchetes. No caso das supressões, os colchetes deverão abranger as reticências: [...]. Exemplo: “[...] o ensaio não dispensa o rigor lógico e a coerência de argumentação [...]” (SEVERINO, 2007, p. 207). Não é utilizado parênteses: “(...) o ensaio não dispensa o rigor lógico e a coerência de argumentação (...)” (SEVERINO, 2007, p. 207). Conforme Martins e Zilberkonp (2010, p. 360) “Os colchetes [ ] são uma espécie de parênteses de uso mais limitado, bastante utilizados em trabalhos científicos”. científicos (grifo meu) De acordo com a ABNT/NBR 10520 (2002), quando os dados obtidos obti forem por informação verbal, a inscrição “informação verbal” deverá vir entre parênteses “( )”, e sua referência mencionada em nota de rodapé. Exemplo: No texto acadêmico: As questões sociais devem ser priorizadas num discurso político (informação verbal)62. 61 62 Mestre em Educação e professor da FAGU – Faculdade do Guarujá Notícia fornecida por Eduardo Ciles no Congresso de Ações Sociais, em São Paulo, em outubro de 1999. 114 Revista Eletrônica Intr@ciência GRAFIA DE ESTRANGEIRISMOS: texto acadêmico SCHENDER, Klim Wertz63 Conforme Martins e Zilberknop (2010), os estrangeirismos podem ser escritos de duas maneiras: idioma original ou aportuguesado. Quando for or aportuguesado seguirá as normas da Língua Portuguesa. Os vocábulos estrangeiros deverão estar em destaque no texto: itálico. Exemplos de estrangeirismos: a) latinismos: alter ego, a posteriori, a priori, déficit, habitat, quorum, sine qua non, sui generis etc. e mail, feedback, impeachment, marketing, outdoor, performance, b) anglicismos: bestseller, e-mail, slogan, software etc. Exemplos de palavras aportuguesadas: álibi, blecaute, leiaute, recorde, estresse etc. 63 Mestre em Educação e professor da FAGU – Faculdade do Guarujá 115 Revista Eletrônica Intr@ciência MESTRE E MESTRA: texto acadêmico SCHENDER, Klim Wertz64 No Brasil, aquele que cursa o mestrado recebe o título de mestre. Este profissional está voltado para a área do ensino e da pesquisa, portanto, são usados os dois títulos: Professor Mestre. Conforme me a PUCRS o título mestre deve ser abreviado das seguintes formas: a) mestre: Me e Me. (gênero masculino) b) mestra: Ma e Ma. (gênero feminino) Da mesma forma, pois, no Brasil conforme a Academia Brasileira de Letras, “Ms.” é abreviação de manuscrito.. O título MASTER OF SCIENCE (M.S.; Msc. ou MSc.), é título de mestre dado pelas universidades americanas, portanto, usadas no inglês. De acordo com Universidade de Passo Fundo - Faculdade de Direito - Coordenadoria de Monografia Jurídica, utilizar as abreviações abr americanas, no Brasil, seria o mesmo que usar “PhD.” para qualquer um que fizer doutorado, e não, “Dr.”. A maioria das abreviações devem terminar em uma consoante, embora, segundo o Dicionário de Abreviaturas da prefeitura de São Paulo, para diferenciar difer por sexo, há necessidade que a palavra abreviada, termine em vogal. Exemplo: Dr. e Dra. Conforme Associação Brasileira de Letras a abreviação o título “mestre” deverá ser abreviado das seguintes formas: a) mestre: M.e ou M.e b) mestra: M.a ou M.a O emprego supracitado para mestre, até o momento é muito pouco utilizado. Há outros que defendem a ideia: professor Mestre (prof. Me.) e professora Mestre (profa. Me.); variando somente em gênero “professor” e inalterado o título “Mestre”. Assim, como ocorre na titulação para “Doutor”, em que no masculino fica “prof. Dr.” e no feminino “Profa. Dra.”. Considera-se Considera se que as abreviações Me. e Ma, neste momento, seriam as mais aceitáveis, portanto, sendo empregadas da seguinte maneira: Prof. Me. (masculino) e Profa. Ma. (feminino). 64 Mestre em Educação e professor da FAGU – Faculdade do Guarujá 116 Revista Eletrônica Intr@ciência V. RESENHA GESSER, Audrei. LIBRAS? que língua é essa?: Crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda.. São Paulo: Parábola, 2009. Audrei Gesser:: É mestra em letras e inglês pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É doutorada em linguística aplicada na área de educação bilíngue pela UNICAMP. Foi pesquisadora visitante na Gallaudet University, Estados Unidos, em 2004, com bolsa concedida pela CAPES. O livro aborda alguns aspectos sobre a língua de sinais que, como afirma a autora, não é visto como língua por muitos. O objetivo é criar através do texto caminhos para reflexão, da relação entre surdos e ouvintes. O livro é dividido em três três capítulos, e seus subtítulos em forma de perguntas proporcionando uma visão mais específica sobre a língua de sinais. Inicia-se se com o questionamento sobre a universalidade da língua de sinais, ressaltando a visão que se tem sobre a Libras, como sendo ancorada ancorada na idéia de um “código” simplificado apreendido e transmitido aos surdos de forma geral, conduzindo a concluir que todos os surdos falam a mesma língua em qualquer parte do mundo. O texto também destaca a crença sobre a artificialidade da língua de sinais, ignorando sua gênese natural. A Libras, como língua, possui gramática própria, semelhante às línguas orais, embora a exploração seja realizada através dos gestos. Há três parâmetros constituintes na língua de sinais: configuração da mão, ponto de articulação articulação ou locação e movimento (CM, PA ou L e M). A mesma configuração da mão em espaços diferentes representará palavras e conceitos distintos. A língua de sinais não é pantomima, datilologia, isto é, representações mímicas da realidade, o que tornaria muito difícil certos termos. Essa visão da língua de sinais como mímica, tem a ver com a forma que os ouvintes veem os surdos, tratando-os tratando de forma exclusiva e pejorativa. É preciso entender que os surdos têm sua própria língua e que se comunicam como qualquer lquer outro ser humano ouvinte, expressando até conceitos abstratos. Embora, a língua de sinais tenha sinais icônicos, não pode ser exclusivamente assim classificada como ícone. A caracterização da comunicação dos surdos é visuoespacial, e a dos ouvintes oral-auditiva. auditiva. Os surdos, em sua história, foram privados de utilizarem sua língua natural por muito tempo, demonstrando a difícil relação com a sociedade ouvinte. As 117 Revista Eletrônica Intr@ciência escolas forçavam o uso da língua oral e leitura labial, eram castigados, tendo até as mãos mão amarradas para que não se comunicassem através dos sinais. Os surdos tiveram que recorrer a asilos e escolas internas para receberem educação já que a perseguição e a exclusão eram explícitas. No Brasil a história não foi diferente, a língua de sinais era era vista como um “código secreto”, eram usadas às escondidas, pois era proibida. A língua de sinais, diferente das línguas minoritárias não acabou e não acabará, pois é a forma natural dos surdos comunicarem-se, se, a perseguição não a aboliu, pelo contrário, fez com que se integrassem cada vez mais e houvesse a troca e o aperfeiçoamento desta. Para humanizar-se, humanizar de Aristóteles a Descartes, acreditava-se acreditava se que o domínio da fala era o critério consensual, portanto, como os surdos não possuem a oralidade, logo, eram eram definidos como seres selvagens. Muitos acreditavam que a sinalização entre os surdos era uma espécie de “código secreto”, por não compreenderem os sinais. A língua de sinais possui as características de uma língua e não se restringe ao alfabeto manual. Cada Cada país possui o seu alfabeto, configurando com especificidade de sua própria cultura. Existe também o alfabeto manual para surdo-cegos, cegos, onde se utilizam as duas mãos para soletrar as palavras, sendo que é necessário tatear a mão do interlocutor. Cada língua língua de sinais tem suas influências e raízes históricas a partir de línguas específicas. Embora os sinais americanos tenham raízes nos sinais franceses, a ASL também sofreu influências dos sinais dos índios locais, formando a ASL moderna. Entretanto, é importante importante dizer que a coabitação da maioria das línguas de sinais com as línguas orais faz com que haja empréstimos, alternância e trocas linguísticas, mas isso não quer dizer que as línguas de sinais tenham as suas origens ou raízes históricas nas línguas orais. ais. Em 1855, um surdo francês chamado Ernest Huet chegou ao Brasil com o apoio do Imperador dom Pedro II, para criar a primeira escola para surdos brasileiros, e o fato se deu no mês de setembro em 1857. Hoje, esta escola é conhecida como: Instituto Nacional nal de Educação de Surdo (INES), localizada no Rio de Janeiro, e no mesmo endereço até os dias atuais. Por questões culturais, no Brasil não há unidade plena da Libras. De acordo, com Parâmetros Curriculares Nacionais, a língua portuguesa é “uma unidade que qu se constitui de muitas variedades’’, então, dizer que todos os brasileiros falam o mesmo português é uma inverdade, na mesma proporção em que é falso afirmar que todos os surdos usam a mesma língua de sinais. Afirmar essa unidade é negar a variedades das línguas, quando de fato nenhuma língua é uniforme, homogênea, a variação pode ocorrer nos níveis fonológico (pronúncia), morfológico (palavras) e sintático (sentenças) e estão 118 Revista Eletrônica Intr@ciência ligadas aos fatores sociais de idade, gênero, raça, educação e situação geográfica. geográf A língua de sinais não é uma língua ágrafa, embora, exista nos Estados Unidos um sistema de escrita para promover a alfabetização, conhecido como SignWriting.. O Brasil é principiante neste método e encontra-se se em fase de experimentação, pois há um processo processo de padronização da grafia da Libras. A comunidade dos surdos não aceita os termos: deficiente auditivo e surdosurdo mudo. Quanto ao “deficiente auditivo” é um termo médico, isto é, clínico. O termo surdosurdo mudo é incorreto, pois a maioria, não tem problemas com o aparelho fonador, podendo ser oralizados, ainda que a língua materna seja a Libras. Esses termos carregam na historicidade dos surdos preconceitos, que os fizeram sofrer muito. Então, o termo aceito pela comunidade dos surdos, simplesmente é surdo. No passado, achava-se achava que a surdez era acompanhada por algum tipo de déficit de inteligência. Com a inclusão dos surdos no processo educativo compreendeu-se compreendeu se que eles em sua maioria não tinham a possibilidade de desenvolver a inteligência em virtude dos poucos poucos estímulos que recebiam e que isso era devido à dificuldade de comunicação entre surdos e ouvintes. Com o desenvolvimento das diversas línguas de sinais e o trabalho de ensino das línguas orais permitiram aos surdos os meios de desenvolvimento de sua inteligência. inteligência. Quando eles discutem sua surdez, usam termos profundamente relacionados com sua língua, seu passado e sua comunidade. Infelizmente, o povo surdo ainda é tratado com preconceitos, mas esse paradigma precisa ser quebrado, pois, os surdos tem os mesmos mesmos direitos, os mesmos sentimentos, os mesmos receios, os mesmos sonhos, como qualquer outro ser humano. O intérprete tem tido uma importância valiosa nas interações entre surdos e ouvintes. A necessidade de intérprete em espaços institucionais em que as pessoas não falam a sua língua, já é um direito reconhecido pela Lei nº 10.436, aprovada em 24 de Abril de 2002. Os surdos tem um uma percepção de barulho diferente dos ouvintes, pois, ouvem com os olhos, portanto, o barulho que reconhecem é o ruído visual, ual, quando vários surdos conversam ao mesmo tempo. E quanto à música, percebem através da vibração, e ao observar outros dançarem, distinguindo os diferentes ritmos. O surdo não precisa ser oralizado para integrar-se integrar à sociedade dos ouvintes, pois, conforme me Gesser (2009), a oralização seria uma ação que negaria a língua dos surdos. Muitos foram discriminados e sofreram por não aceitarem a política e a ideologia dos ouvintes. O surdo possui identidade e cultura própria. É crença que o surdo não fala porque não ouve, pois se assim desejar poderá produzir uma fala inteligível, isto é, se o seu aparato vocal estiver intacto. Outra questão que se desdobra é a da crença de que o surdo 119 Revista Eletrônica Intr@ciência tem dificuldade de escrever porque não sabe falar. Ainda que o surdo não vocalizasse vocali uma palavra da língua oral ele poderia, sim, escrever bem o seu idioma como qualquer outra pessoa, pois tanto os ouvintes como os surdos, através da instrução formal, poderão desenvolver a escrita, que para ambos, requer grandes esforços cognitivos. Existem vários mitos absurdos falando que o surdo não aprende porque tem mais dificuldades do que os que ouvem. Não se trata de dificuldade intelectual e sim de oportunidade de acesso a uma escola que reconheça às diferenças linguísticas que promova acesso a língua padrão, que no caso dos surdos tenha professores proficientes na língua de sinais, e que permitam a alfabetização na língua, primeira, natural dos surdos. A libras não impede ou atrapalha na aprendizagem da língua oral. A falta de interesse na língua língua oral e escrita é relacionada às punições, e as exaustivas atividades, que desmotivavam o surdo no processo de aprendizagem. Segundo Gesser (2009), ainda há uma ideia que permeia a sociedade, que o surdo precisa aprender a língua portuguesa como prioridade, prioridade, para a sua sobrevivência no meio social em que está inserido, ou seja, no grupo majoritário: ouvintes. Tanto a língua como a escrita devem ser primeiramente, promovidas na língua de sinais. A autora afirma que na realidade o surdo não “sobreviverá” “sobreviverá” nesta sociedade se não aprender a sua língua, a língua de sinais. Assim como um brasileiro aprende a sua língua de origem, o português, para depois aprender outras línguas, assim também os surdos têm o direito de aprender primeiramente a sua língua: libras. li Não desprezando a língua portuguesa, que no caso dos surdos seria a segunda língua, tornando-os tornando os seres bilíngües. A autora pontua que o professor ouvinte precisa saber libras para poder ensinar, obtendo resultados significativos na aprendizagem do aluno luno surdo. Nem todos os surdos fazem a leitura labial. Depende muito de cada indivíduo, em alguns casos precisa-se precisa se de um treinamento fono-articulatório. fono Muitos ouvintes quando percebem que o surdo não consegue ler lábios tentam se comunicar de forma exagerada xagerada e desengonçada. É essencial que toda pessoa que interage constantemente com surdos não fique tentando adivinhar o que eles falam, mas aprendam a língua de sinais, porque é indispensável para se ter uma comunicação mais clara com os surdos. Quanto à surdez, pais surdos poderão gerar filhos ouvintes, entretanto, pais ouvintes poderão ter filhos surdos. De acordo com Gesser (2009), a surdez pode ter causa congênita: toxoplasmose, vírus, herpes, rubéola, bactéria, sífilis e outras. Alguns casos são hereditários 120 Revista Eletrônica Intr@ciência e outras causas, como: má formação do sistema auditivo, medicamentos durante a gestação, neurofibromatoses, hiperbilirrubinemia etc. A surdez pode ser de leve e agravar-se agravar se para surdez profunda. Varia do leve ao profundo e os graus são calculados calculados em decibéis. O indivíduo pode ou não estabelecer contato com a língua de sinais e a cultura surda, dependendo exclusivamente dele para ter ou não essa conexão. Os aparelhos auditivos auxiliam os surdos, transmitindo somente ruídos, todavia não restabelece tabelece a audição. Há surdos que fazem o implante coclear, porém, não encontram satisfação expressiva. Não permitir o acesso a uma língua prejudica o desenvolvimento cognitivo-linguístico cognitivo do surdo, entretanto em contato com as Libras é possível adquirir e construir o conhecimento. Segundo a autora, a atualidade é positiva, pois houve avanços quanto aos direitos dos surdos, todavia a luta continua, principalmente para aproximar a teoria da prática. Concluindo, Gesser (2009) cita os direitos linguísticos, propostos por Gomes de Matos, dos surdos, como: direito à igualdade linguística, direito à aquisição da linguagem, direito de aprendizagem da língua materna, direito ao uso da língua materna, direito a fazer opções linguísticas, direito à preservação, à defesa defesa da língua materna, direito ao enriquecimento e à valorização da língua materna, direito à aquisição/aprendizagem de uma segunda língua, direito à compreensão e à produção plenas, direito de receber tratamento especializado para distúrbios da comunicação, comunicação, direito linguístico da criança surda, direito linguístico dos pais de crianças surdas, direito linguístico do surdo aprendiz da língua oral, direito do professor surdo e de surdos, direito linguístico do surdo como indivíduo bilíngüe, direito linguístico ico do surdo como conferencista e direito linguístico do surdo de comunicarcomunicar se com outros surdos. SCHENDER, Klim Wertz65 BENINCASA, Anaís De Sousa SANTOS, Beatriz Cardoso SANTOS, Bete Rafa Farias dos SANTOS, Carla Regina Pereira Felisbino SILVA, Deuzanete Deuzan Virginio de Souza 65 Mestre em Educação e Professor da d FAGU – Faculdade do Guarujá 121 Revista Eletrônica Intr@ciência SOUSA, Dimas Silva de SILVA, Fernanda Luíza da SANTOS, Gleice Conceição LIMA, Maria Solange de Jesus CARDOZO, Natalie França NASCIMENTO, Prisicila Reis do AQUEU, Talita de Souza SILVA, Vanessa Ribeiro da Estudantes do 6º Semestre estre de Licenciatura de Pedagogia Faculdade do Guarujá - Uniesp, 2012. 122