Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 Comitê Editorial Diretor Prof. Ismael Cury Vice-diretor Prof. Antônio Carlos do Nascimento Coordenação de Administração e Planejamento Fhariz Gibran Cury Rodrigo Muniz do Nascimento Coordenação de Graduação Profª Natividade Dias G. Cury Conselho Editorial Prof. Ms. Romulo Giacome de Oliveira Fernandes (Editor chefe) Mestre em Letras - UNESP/SP Professor das Faculdades Integradas de Cacoal – UNESC Prof. Bernardo Schmidt Penna Mestre em Direito – Universidade Vale do Rio Verde Professor das Faculdades Integradas de Cacoal – UNESC Prof. Abraão Roberto Fonseca Mestre em Psicologia – UFPA/PA Professor das Faculdades Integradas de Cacoal – UNESC Prof. Tiago Balieiro Cetrulo Mestre em Ciências da Engenharia Ambiental – USP/SP Professor das Faculdades Integradas de Cacoal – UNESC Profª Natália Sanchez Molina Mestre em Ciências da Engenharia Ambiental – USP/SP Professora das Faculdades Integradas de Cacoal – UNESC Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 2 Sumário O público e o privado numa acepção intersemiótica. Antônio Carlos da Silva Costa de Souza; As redes sociais e a cultura organizacional nas empresas e seus elementos. Ibiraci G. R. S. Carvalho; Carbon Footprint: Levantamento das publicações entre 1992 e 2011. Tiago Balieiro Cetrulo, Natália Sanchez Molina, Karem Franciely Dutra; O ensino de língua portuguesa no ensino médio: reflexões sobre alternativas metodológicas. Elisandro Félix de Lima, Rômulo Giácome de Oliveira Fernandes; Ansiedade e seus subprodutos à luz da abordagem Analítico-Comportamental em um caso psicoterapêutico. Leila Gracieli da Silva, Abraão Roberto-Fonseca; Psicologia da aprendizagem: avaliação dos estilos de aprendizagem dos acadêmicos de Engenharia Ambiental de uma faculdade privada do interior do estado de Rondônia. Laís Fernanda Tenório Lins, Leila Gracieli da Silva, Marília Fabiano de Sousa, Marivone F. Assis Rodrigues, Vanessa de Araújo Martins, Abraão Roberto-Fonseca, Ricardo Alexandre Aneas Botta; Atuação da fisioterapia respirátoria no tratamento do paciente portador de paracoccidioidomicose pulmonar: relato de um caso. Monica Borchart Nicolau, Sergio Crupinski Junior. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 3 O público e o privado numa acepção intersemiótica Antônio Carlos da Silva Costa de Souza O autor é Licenciado em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caetité – Campus VI da Universidade do Estado da Bahia (UNEB-1994); é especialista em Metodologia e Didática do Ensino Superior e em Língua Portuguesa pelas Faculdades Integradas de Cacoal – UNESC; é mestre em Educação pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS-2007) RESUMO O presente artigo tem como finalidade estabelecer um paralelo entre o público e o privado, procurando elucidar os possíveis sentidos intrínsecos dessas palavras empregadas dentro de um dado contexto, além de traçar sucintamente um paralelo histórico de tal dicotomia e sua relação com os sistemas educacionais ao longo dos tempos. PALAVRAS-CHAVE: público; privado; intersemiótica; educação. Private and public in a intersemiotic conception ABSTRACT The present article has as purpose to establish a parallel between the public and the private one, trying to elucidate the possible intrinsic meanings of the words employed in a giving context, besides raising a historical parallel of such dichotomy and its relation with the educational systems along the times. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 4 KEY WORDS: public; private; intersemiotic; education. Considerações iniciais sobre o público e o privado O uso sem considerar a diversidade de sentidos dos termos público e privado pode gerar certos entraves lingüísticos e, de modo bastante evidente, segundo Pinheiro (2001) ensejar manipulação ideológica, fato que faz pesquisadores de todas as épocas (Platão, Habermas, Gadotti) procurarem estabelecer verdadeiros tratados a fim de explicar tais relações. No presente ensaio, procuraremos elucidar as possíveis significações dos termos público e privado; tecer relações históricas sobre o assunto; verificar as possíveis divergências e convergências discursivas existentes entre eles a depender do contexto em que são empregados, além de relacioná-los às esferas educacionais e suas concepções de público e de privado. Conforme já mencionamos, os termos público e privado podem ser entendidos de várias maneiras. O público suplanta o privado em número de significações, haja vista a sua natureza plural do ponto de vista semiótico. De modo bastante genérico, podemos classificar o público como: ü Estatal – neste caso, o Estado responsabiliza-se pelas atribuições comunitárias que só ele pode propiciar ao cidadão com o intuito de reduzir desigualdades e ofertar condições de igualdade. ü Não-estatal – trata-se do bem público que visa à lucratividade. ü Serviço – Deve ser entendido como todo o serviço prestado à população. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 5 Conforme Pinheiro (2001), público tem diversos sinônimos e está, geralmente, relacionado a tudo que se pode entender como social ou relativo ao social. Do ponto de vista semiótico, as relações de público e de privado têm limites dentro dos sistemas significativos, pois dependem de um modo de enunciação específico. Com o intuito de clarear tais relações sinonímicas de público – baseado em Pinheiro (2001) – abaixo, destacaremos nove dos mais freqüentes símiles de público. (01) O que se passa fora do âmbito da família. (02) O que é relativo ou destinado ao povo. (03) Aquilo que pertence ao Estado. (04) O que é do uso de todos. (05) Aquilo que é aberto a qualquer pessoa. (06) Aquilo que é conhecido de todos. (07) O conjunto de pessoas que executam uma coisa em comum. (08) O público de um determinado evento em particular. (09) O povo em geral. Para Pinheiro (2001, p. 256), “ao contrário dessa amplitude de sentidos, o termo privado é mais restrito e assume o significado de negação em relação ao primeiro. A acepção original da palavra privado é a de privação, quer dizer desprovido, carente de alguma coisa.” Ao analisarmos o público e o privado permeados de interesses ideológicos, percebemos o complexo emaranhado de entendimentos que envolvem as discussões a esse respeito. O público pode ser privado e o privado pode ser público. Nesse caso, as palavras público e privado deixam de exercer a função única de signos especificadores e ganham máxima representação semiótica, passando, num instante, de signos opostos – antônimos – a signos convergentes – sinônimos – e é por isso que tais relações vêm merecendo destaque no rol dos assuntos mais debatidos pelos neo-intelectuais. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 6 Nem sempre a esfera pública pode ser entendida como totalmente pública. É possível que haja lugares públicos que não sejam destinados à visitação do povo, assim como pode haver lugares privados que, necessariamente, são destinados ao público. Sobre estes assuntos Habermas (1984, p. 14), discorre: Chamamos de público certos eventos quando eles em contraposição às sociedades fechadas, são acessíveis a qualquer um – assim como falamos de locais públicos ou de casas públicas. Mas já falar de prédios públicos não significa apenas que todos têm acesso a eles; eles nem sempre precisam estar liberados à freqüentação pública; eles simplesmente abrigam instituições do Estado e, como tais, são públicos. Como vimos, anteriormente, não é uma tarefa fácil estabelecer uma identidade para as palavras público e privado. Quando as analisamos como representações de entidades, de categorias, de ações vazias de sentido ideológico, percebemos nitidamente uma e a outra, a exemplo das empresas públicas que se contrapõe àquelas que são privadas. O público e o privado, no nosso entendimento, são signos que transcendem a mera compreensão, convergem-se com os mais diversos interesses ideológicos e se tornam, igualmente, ideológicos. Para Bakhtin (2002, p. 15): “Todo signo é ideológico; a ideologia é um reflexo das estruturas sociais, toda modificação da ideologia encadeia uma modificação da língua”. Esta questão da mudança da língua a cada modificação da ideologia, explica-nos, de certo modo, as mudanças de significado sofridas pelas palavras público e privado ao longo dos tempos. Em face do exposto e respeitando todas as representações semióticas das palavras público e privado, definimos o público como toda a manifestação que surge do povo, que se destina ao povo ou ainda o próprio povo. Como privado entendemos toda a manifestação que concorre para a individualidade ou para a privação em relação ao bem comum. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 7 O público e o privado numa perspectiva histórica Na primeira parte deste trabalho, refletimos sobre os possíveis significados e estabelecemos alguns conceitos para o público e o privado. Doravante, preocupar-nos-emos em dissertar apresentando algumas noções históricas do público e do privado considerando, naturalmente, as peculiaridades de cada uma das épocas. Na Idade Antiga, a idéia de público e de privado era definida de modo a considerar o espaço a polis (público) e o espaço da casa (privado). Segundo Platão (1999, p. 116): O primeiro lugar é do Estado e constitui (de melhores leis, inclusive) no qual se pode observar o mais meticulosamente possível em relação a sua totalidade o velho dito segundo o qual “amigos tem todas as coisas realmente em comum”. Quando a essa condição – existindo ela em alguma parte atualmente ou algum dia no futuro – em que há uma comunidade de esposas, filhos e de todas as coisas, se por todos os meios tudo o que se tem como privativo foi em todo lugar erradicado, se chegarmos na medida do possível a tornar comum, de uma forma ou de outra, mesmo o que por natureza é particular, como os olhos, os ouvidos e as mãos, como se todos parecessem ver, ouvir e agir em comum [...]. O que se pode perceber com o que afirma Platão é que na Idade Antiga já se possuía uma idéia definida do público separado nitidamente do privado. Ao afirmar que amigos deveriam partilhar das coisas, Platão assegura que tudo, na comunidade, deve ser partilhado, deve, portanto, constituir bem público e pertencer a todos igualmente. Conforme Chauí (2002, p. 307), ao escrever sobre a organização do Estado, Platão, referindose à classe econômica, sugere que: Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 8 Como essa classe é muito apegada aos bens materiais, convém que ela os tenha, pois do contrário lutará para consegui-los e trará desordem à Cidade. O magistrado deve fixar por lei que a classe econômica tenha o direito à propriedade privada (com limites) e a constituir uma família. Em lugar de tentar inutilmente extirpar o egoísmo e os apetites dessa classe, o governante deve apenas moderá-los por meio das leis para o bem da Cidade. Se de um lado, Platão prevê que o homem pode conviver num ambiente em que todas as coisas são comuns – o comunismo platônico – de outro, acautela-se em relação às aparentes divergências ideológicas que se exteriorizam no caráter materialista de determinados membros daquela sociedade. Segundo Pinheiro (2001. p. 256), “Na Idade Média a esfera pública desaparece como um setor próprio separado de uma esfera privada.” Prevalecem, de um lado, as instituições feudais, absolutamente privadas e, de outro, a igreja que possuía sob sua égide instituições igualmente privadas, a exemplo das escolas. Na sociedade moderna, a relação entre o público e o privado ganhou uma dimensão diferente daquelas apresentadas na Idade Antiga e na Idade Média. Naquela o público diferenciava-se claramente do privado e nessa o público desapareceu em favor do privado que reinou absoluto por aproximadamente mil anos. Na Idade Moderna, o público e o privado podem ser interpretados de diferentes maneiras. O público pode se apresentar como público ou como privado, enquanto que o privado, de igual modo, pode também se manifestar como privado ou como público. Lógico que isso depende de uma série de circunstâncias discursivas e ideológicas. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 9 As discussões em torno do público e o privado são muitas e devem surgir muito mais a partir desse início de século, principalmente, porque se verifica que tais relações estão intimamente ligadas a outros segmentos da sociedade, a exemplo do social, do econômico, do moral, do ético dentre outros. Falando do público e do privado – divergências e convergências – Bobbio apud Pinheiro (2001, p. 258) afirma que: “Na sociedade contemporânea há uma tendência de interpretação dessas esferas, podendo mesmo ocorrer processos paralelos de privatização do público e publicização do privado.” Assim sendo, essas afirmações últimas merecem destaque neste estudo, haja vista que a nossa linha de pensamento converge-se com tais afirmações quando alinhamos o público e o privado numa escala de análise semiótica de seus significados convergentes e divergentes. O público e o privado: convergências e divergências Como vimos anteriormente, essas discussões acerca do público e o do privado vêm de longas datas. A diversidade de considerações sobre o público e o privado ultrapassa todas as barreiras. Encontramos discussões nos campos da Psicologia, da Política, da Filosofia, do Direito, da Sociologia, das Letras e da Educação. Sendo os dois últimos os que mais nos interessam no presente estudo. Enquanto o público e o privado estavam restritos à condição de espaços físicos ou parcialmente físicos poderiam ser vistos de modo bastante simples; mas, a partir da relação que passaram a ter com a natureza humana, a complexidade de ambos tornou-se inevitável. Segundo Santos (2001, p. 93), [...] pode-se afirmar que historicamente o homem transita por espaços cujas normas ditam seus comportamentos. Pertencer a esses espaços implica ser ou possuir algo específico, significa se diferenciar ou identificar-se; além disso, sempre numa perspectiva dialética, estar num espaço delimitado orienta o indivíduo para ações Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 10 típicas ou esperadas deste ambiente, conduz para uma modalidade de representação, um jeito de se lançar, de fazer leituras do mundo. O espaço público ou privado está para o indivíduo assim como o indivíduo deve estar para as relações que estabelece com o público ou com o privado. Conforme vimos no início, a palavra público possui vários significados, os quais só aparecem quando a palavra é um signo contextualizado. E, nesse caso, ele passa, segundo Bakhtin (2002), a ser um signo ideológico. As noções de público e de privado são tão amplas que para Souza (1997), elas podem ser “definidas como planos de enunciação: diferentes modos de produção de enunciados que tornam possível o ato de referência a si.” Ou seja, o público e o privado, como todas as relações tangíveis, nunca se repetem da mesma maneira, já que podem gerar funções enunciativas que mudam de acordo com as condições contextuais em que são empregadas. Ao falar dos diversos significados de público, Habermas (1984) afirma que essa palavra, de acordo com o seu emprego, desenvolve algo de natureza representativa. A depender do contexto ou da situação em que o termo for empregado, poderá representar coisas distintas, a exemplo do que vimos nas proposições no início deste artigo: em (01) ele representa algo que ocorre fora do âmbito da família e em (03), representa algo que pertence ao Estado: uma empresa, um ministério, uma escola entre outros. O público e o privado, como já vimos anteriormente, podem se convergir ou mesmo conviverem paradoxalmente juntos em dados momentos, se tomarmos como exemplo de público a Base de Alcântara no Maranhão, podemos dizer que ela é realmente pública visto que sua natureza física é constituída como segmento público, é administrada pelas esferas públicas, gasta dinheiro público, mas, se olharmos por outro ângulo, podemos também afirmar que a Base de Alcântara é privada, uma vez que não é aberta ao público e não há, em tese, efetiva participação pública nas tomadas de decisão em relação aos projetos que lá são desenvolvidos. Ainda sobre a mesma ótica, tomemos, agora, uma escola de natureza privada, ou seja, uma instituição particular. Ela é privada Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 11 porque não pertence ao governo, é administrada com o uso de capital privado, mas é de interesse público, portanto, é igualmente pública. Nos exemplos acima, aparece o primeiro indício de convergência e divergência entre o público e o privado. Se de um lado, eles convergem, visto que o público é público e o privado é privado enquanto considerados como instituições físicas – tangíveis – de outro, divergem, porque o público deixa de ser público e o privado deixa de ser privado considerando as suas naturezas e finalidade – intangíveis. Para melhor compreensão, a partir deste ponto, dividiremos o emprego do público e do privado, ou seja, seus símiles em dois grandes grupos: do primeiro grupo deverão fazer parte todas as significações pertinentes ao campo das coisas físicas, concretas – tangíveis – do segundo grupo, farão parte os símiles subjetivos e/ou de caráter sensorial – intangíveis. A tangibilidade do público e do privado deverá ser encontrada nas coisas de representação física – órgãos, entidades, empresas, lugares de modo geral, máquinas e equipamentos. Já a intagibilidade pode ser encontrada nas questões referentes aos sentimentos e aos estados psíquicos e morais do homem. Pensando assim, podemos dizer que, nas escolas, é possível encontra os dois fenômenos nomeados acima. A tangibilidade está para o prédio, assim coma a intangibilidade está para a educação, para a aprendizagem e para as relações afetivas desencadeadas entre as pessoas envolvidas no processo educacional. Uma outra questão inquietante é saber quem é o sujeito do público e do privado. Como sujeito do público, afirma-se que seja o próprio público ou seus representantes. Neste caso, aqueles que exercem cargos públicos, principalmente os de representação, podem ser denominados de sujeitos públicos icônicos. O mesmo não ocorre com o privado, pois conhecer a natureza de seu sujeito é mergulhar nas suas significações mais intrínsecas e particulares, fato que as tornaria públicas e, por conseqüência, anularia a natureza privada de seu sujeito. Em síntese, o sujeito do privado, enquanto privado, deve ser sempre privado para continuar existindo. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 12 O sujeito nem sempre pode ser determinado livremente, ou percebido como pretendem as análises mecânicas e tradicionais. Ele é, geralmente, é determinado a partir da relação que exerce com o seu objeto. Para determinar o sujeito do público e do privado, deve-se conhecer a enunciação de uma e de outra palavra considerando dentre outros fatores, a memória discursiva, o contexto, e as significações pretendidas pelo enunciador. Para retomar as divergências e convergências das palavras público e privado, precisamos rever antigas lições que tratam especialmente do sentido. A essa altura, já sabemos que, nem tudo o que é público, deve ser considerado como tal e, que, nem tudo que é privado deve, deste modo, ser julgado. O sentido de um signo existe em si mesmo e só pode ser determinado quando se é possível considerar as condições em que ele foi gerado. Sobre esse assunto, Hjelmslev (1975, p. 50) afirma que: Considerado isoladamente, signo algum tem significação. Toda significação de signo nasce de um contexto, quer entendamos por isso um contexto de situação ou um contexto explícito, [...]. É necessário, assim abster-se de acreditar que um substantivo está mais carregado de sentido do que uma preposição, ou que uma palavra está mais carregada de significação do que um sufixo de derivação ou uma terminação flexional. Por fim, queremos registrar que o sentido de público e de privado não pode constituir algo pronto e acabado, ou mesmo resultado de uma convenção lingüística. É necessário considerar a natureza evolutiva e as relações que tais signos exercem com o contexto em que são empregados. Deve-se, além do mais, considerar a diversidade de sentidos produzida sob o calor das ideologias impregnadas de conteúdos histórico-sociais. O público e o privado a luz da educação Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 13 A partir daqui, trataremos das relações exercidas pelo público e pelo privado na educação ao longo de todos os tempos. Na comunidade primitiva, segundo Ponce (1981, p. 26), “para os que nada tinham, cabia o saber do vulgo; para os afortunados, o saber da iniciação”. Esse tipo de prática educacional configura, naturalmente, um exemplo de educação privada, se consideramos que somente os afortunados tinham acesso ao saber da iniciação. Mas, ao julgarmos que se tratava de uma educação voltada para a iniciação de uma parcela do povo, ainda que os afortunados, faculta-nos entendê-la também como pública. Na Idade Antiga – Sociedade Escravista – A educação era privada, porque era procedente de particulares. Mesmo sendo privada, ela tendia para um fim público, uma vez que se preocupava com a formação dos futuros governanantes. Sobre esse assunto Ponce (1981, p. 50) discorreu: A liberdade de ensino não implicava, portanto, a liberdade de doutrina. O professor não moldava os seus discípulos de acordo com suas próprias concepções; devia formar neles os futuros governantes e inculcar neles, pela mesma razão, o amor à pátria, às instituições e aos deuses. Na Idade Antiga, tomando como exemplo o que acontecia na Grécia, o ensino público e privado era uma realidade muito mais definida que na Idade Primitiva. Devemos salientar, portanto, que a educação continuava não sendo para todos. Havia uma pequena parcela de abastados que freqüentavam as escolas em detrimento da maioria dos “esfarrapados” que se mantinham na ignorância. Sobre este assunto Manacorda (2004, p. 97) disserta com muita precisão como podemos ver a seguir: Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 14 [...] a escola de gramática e de retórica era, a final, a escola das classes privilegiadas. Juvenal confirma que a eloqüência era algo raro entre esfarrapados (rara in tenui fecundia panno – VII, 45). Exatamente por causa desta sua característica de ser uma escola das classes dominantes, ela tornou-se de interesse público e conseguiu o apoio direto do poder público, que primeiramente faz concessões particulares, em seguida provê os salários dos mestres e, enfim, assume também a fundação de escolas. [...] Como pudemos ver, está nas palavras de Manacorda (2004), a idéia clara do ensino público na antiguidade; pois a partir do momento em que o Estado assume o salário dos mestres e a fundação das escolas, nasce a idéia embrionária do que se vê nos dias de hoje – a escola pública. Ainda conforme Manacorda (2004, p. 97), o ensino privado também se fez presente na Idade Antiga, como se pode vislumbrar a seguir: Como exemplo de evergetismo privado pode-se lembrar o caso de Plínio, o jovem que promete a Como, sua cidade natal, uma contribuição para pagar os mestres de gramática. Tendo encontrado em Como o pai da criança, obrigado a enviar seu filho a Milão para estudar. Muito mais poderia ser estudado sobre a educação na Idade Antiga; todavia, o nosso objetivo primeiro é demonstrar de modo sucinto a presença do público e do privado como modelos educacionais em todas as épocas. A educação na Idade Média esteve voltada aos interesses restritos da Igreja. Segundo Ponce (1981, p. 88), ela “em poucos séculos, passou a controlar quase toda a economia feudal”. Ainda para Ponce (1981) os monastérios, além da economia, controlavam os indivíduos e, de certo modo, Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 15 instituíram as primeiras escolas medievais em duas categorias: a primeira destinada a instrução dos futuros monges e a segunda destinada a instrução da plebe com o intuito de torná-la manipulável. Como podemos ver, na Idade Média, a educação era privada, porque não era de responsabilidade do Estado, mas, de certo modo, pública porque se destinava ao povo. No caso específico da Idade Moderna, conforme Pinheiro (2001), as esferas do público e do privado se confundem ou ainda podem dar lugar a uma outra esfera de natureza não pública nem privada. Para Manacorda (2004, p. 317), John Dewey – um dos maiores pensadores de todos os tempos – em suas afirmações pedagógicas teceu vários apelos para que: Toda a educação seja socializada: a tríplice unidade moral da escola pode enunciarse: fim social, força social, interesse social... A escola é antes de tudo uma instituição social... vida social simplificada. A educação é o momento fundamental do progresso e da ação social. A escola é o instrumento essencial e mais eficaz de progresso e de reforma social... O professor é empenhado não somente na formação dos indivíduos, mas na formação da justa vida social. É lógico que isso não configura regra geral para toda a educação em todos os espaços e em todos os momentos da Idade Moderna, mas é visível um certo interesse na questão social dela. Ao ler autores como Aníbal Ponce, Mário Manacorda e Gilberto Alves, podemos ver que a questão mais debatida em relação à educação moderna é a sua função social e não o seu caráter público e/ou privado, respeitando, naturalmente, as divergências de setores como veremos adiante ao dissertarmos sobre a educação nacional. Historicamente, no Brasil, a educação, a priori, tinha um caráter privado-público, ou seja, a educação jesuítica era privada, mas destinava-se aos colonos e aos índios, portanto ao povo. Com o Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 16 passar dos séculos e por garantia dos diversos textos constitucionais, a educação passou a ser definida de caráter público e de caráter privado. No Brasil, conforme Pinheiro (2001, p. 258): [...] o conflito público-privado é antigo e remonta aos primórdios dos anos de 1930. Este conflito irá se manifestar através de uma disputa entre a escola pública e a escola privada pela hegemonia no campo do ensino. Na Assembléia Nacional Constituinte (ANC), esse conflito monopolizou as discussões no âmbito do ensino. Cada grupo tinha uma compreensão própria do problema em função de interesses e propostas concretas. Por último, queremos deixar evidente que falar das esferas pública e privada, principalmente, no que diz respeito à educação ao longo de todos os tempos, necessitaria de um estudo bastante contumaz. Em nenhum momento pretendemos, contudo, elucidar todas as questões quando nos propusemos a discorrer sobre o público e o privado a luz da educação. Com o intuito de evitar interpretações equivocadas a respeito das terminologias público e privado e sobre os conceitos educacionais, propendemos-nos tão somente às descrições mais genéricas a respeito do assunto aqui colocado em discussão e suas relações diacrônicas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Não poderíamos encerrar as discussões sobre o público e o privado sem deixar evidentes as conclusões a que chegamos a respeito o assunto. O público e o privado constituem uma dicotomia de natureza humana. O homem pode se apresentar trajado se sua natureza pública – ser social – ou mostrar-se usando as vestes de sua natureza privada – ser intimista. Com isso, queremos dizer que o público e o privado nada mais são que atitudes da ação humana, ou seja, são representações da linguagem e não das referências humanas. O homem age conforme sua natureza e em consonância Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 17 com as suas conveniências. O público e o privado são provenientes da natureza psico-semiológica do homem, portanto, adaptam-se, quase sempre, às conveniências humanas. O que é público numa determinada situação, pode ser privado em outra. É possível até mesmo a convivência das duas posturas numa só, quando nos referimos ao público-privado, ou ao privadopúblico. O certo é que encontrar um significado para o público e para o privado é tanto mais difícil quanto lhes atribuir uma definição ou um conceito absoluto. Devemos, pois conviver com tais divergências e convergências do público e do privado, respeitando-lhes os sentidos atribuídos à luz de um determinado contexto. Assim sendo, com este estudo, não se esgotaram as analogias entre o público e o privado; contudo é possível dizer que este foi o início de um significativo passo rumo ao conhecimento da natureza semiológica do público e do privado como estados e ações do homem. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 18 REFERÊNCIAS ALVES, Gilberto Luiz. A produção da escola pública contemporânea. Campinas, SP: Autores Associados, 2001. BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 9. ed. São Paulo: HUCITEC, 2002. CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. HABERMAS, Jungen. Mudança estrutural da esfera pública. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984. HJELMSLEV, Louis. Prolegômenos a uma teoria da linguagem. São Paulo: Perspectiva, 1975. MANACORDA, Mário Alighiero. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. 11. ed. São Paulo: Cortez, 2004. PINHEIRO, Maria Francisca. O público e o privado na educação: um conflito fora de moda? In FÁVERO, Osmar. Educação nas constituintes brasileiras. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2001. PLATÃO. As leis, incluindo epinomis. Traduzido por Edson Bini. Bauru: Edipro, 1999. PONCE, Aníbal. Educação e luta de classes. 20. ed. São Paulo: Cortez, 2003. SOUZA, Pedro. Confidências da carne: o público e o privado na enunciação da sexualidade. Campinas, SP: UNICAMP, 1997. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 19 As redes sociais e a cultura organizacional nas empresas e seus elementos Ibiraci Gomes R. S. Carvalho Graduada em Sistemas de Informação pela Universidade Luterana do Brasil – ULBRA. Especialista em Administração de Sistemas de Informação pela Universidade Federal de Lavras – UFLA. RESUMO Juntamente com a tecnologia, novos produtos e serviços estão surgindo. Inovações são aceitas pelos consumidores de uma forma quase instantânea. Apesar da aparente tranquilidade com relação à aceitação da inserção de novos produtos no mercado, diversas organizações empresariais apresentam-se receosas a introduzir e/ou utilizar-se de determinados produtos e serviços. Tal desconforto, por diversas vezes, está relacionado ao processo de mudança ao qual a empresa bem como seus membros transporá. A cultura organizacional sofrerá mutações. Assim, o presente artigo tem por objetivo apresentar, uma reflexão teórica a respeito das redes sociais, bem como da cultura organizacional nas empresas e seus elementos. PALAVRAS-CHAVE: Cultura organizacional, elementos da cultura, redes sociais. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 20 INTRODUÇÃO É notória e indiscutível a velocidade que a tecnologia se desenvolve e, juntamente com a mesma, surge uma nova forma de mercado e, cada vez mais exigente com relação à disponibilização para utilização de tais tecnologias ao consumidor. Os recursos oriundos da Internet são um dos mais requeridos visto que a mesma possibilita a interligação de pessoas ao redor de todo o mundo e, desta forma, este mercado está em expansão, constituindo-se não apenas desafios bem como de oportunidades para as empresas e para os consumidores uma forma simples e cômoda de conhecer e adquirir produtos, serviços, entretenimento, dentre outros. Acompanhando a vida real, na qual os seres humanos tendem a viver em grupos, no mundo virtual foram criadas as chamadas redes sociais, permitindo o compartilhamento de informações pessoais e profissionais entre indivíduos e organizações. Para a manutenção e crescimento das organizações empresariais, com o advento desta nova modalidade de relacionamento, torna-se necessário a inserção neste novo contexto. Com isso, sua cultura organizacional passa por mudanças, bem como, os membros de tal organização transpõem pelo mesmo processo. A facilidade de acesso a rede mundial de computares, aliada a facilidade de se buscar informações dos mais variados tipos, unida aos atrativos (multimídia, hipermídia, popularidade, encontrar/conhecer pessoas com o mesmo perfil, comodidade mediante os benefícios buscados, etc), inclusive pela utilidade de comunicação on-line (tempo real) a um relativo baixo custo em comparação com os meios convencionais promovem as pessoas que se interessem a associar aos mais diversificados tipos de redes sociais. O presente estudo tem por objetivo apresentar, por meio de revisão bibliográfica, a cultura organizacional Pettigrew (1979); Estol e Ferreira (2006); Schein, (2001); Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 21 Hofstede (1991); Saraiva (20002); Freitas (1991) e seus elementos Deal e Kenned (1982); Ferro (1991); Davel, Vasconcelos (1995); Fleury (1987); Tavares (1993); Johann e Vanti (2000); Raupp e Beuren (2003), os conceitos a respeito de redes sociais D´Avlia e Regis (2000); Marteleto, 2004; Moschetta (2010) bem como a mudança cultural advinda do avanço tecnológico ao qual a organização necessita se adequar para crescer ou ainda permanecer ativa no mercado. Sequencialmente serão apresentadas as considerações finais referentes ao assunto proposto. 2. CULTURA ORGANIZACIONAL Em se tratando do termo cultura há uma diversidade de definições, seja na forma de atuar em grupos ou na sociedade, seja como conjuntos de conhecimentos ou como significados compartilhados, desde a década de 50 tal questão já era debatida, os antropólogos Kroeber e Kluckholm identificaram aproximadamente 160 definições, conforme explicita Freitas (2007). A tipologia proposta por (Pettigrew, 1979 apud (ESTOL; FERREIRA, 2006, p.574) menciona que: O termo cultura foi introduzido na discussão acadêmica das organizações por Pettigrew (1979), sob o rótulo de cultura organizacional ou corporativa, tendo despertado interesse de pesquisadores e profissionais da área empresarial, que passaram assim a desenvolver esforços destinados à compreensão da real importância desse fenômeno para as organizações. A cultura organizacional, na visão de Schein (2001) apud Fleury (1987), é vista como um modelo de pressupostos básicos aos quais foram inventados, descobertos ou Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 22 ainda desenvolvidos por um determinado grupo, no processo de aprendizagem, com o intuito de se trabalhar dificuldades adaptativas tanto a nível externo quanto relacionada a integração interna, ao qual funcionou de uma forma satisfatória e, desta forma, passou-se a ensinar aos demais membros da organização como sendo uma configuração verdadeira de se perceber, pensar, bem como de sentir em consonância a tais problemas. Hofstede (1991) apud Saraiva (2002) compartilha da mesma interpretação de Schein (2001) quando descreve que a cultura de uma organização pode ser vista como um universo cultural que se forma por meio de pressupostos, crenças bem como valores comuns pelos membros de uma organização, derivando-se de um ambiente social específico. Pode-se notar ainda, na percepção de Freitas (1991), que tanto os fundadores quanto os líderes influenciam a cultura de uma organização, lembrando que os momentos críticos e o mercado são fatores favorecedores à influência de uma cultura organizacional. Nesse entendimento, Schein (1984) apud Fleury (1987) discute que a cultura de uma organização manifesta-se em três diferentes níveis, caracterizados respectivamente como artefatos visíveis, valores e pressupostos. No nível dos artefatos visíveis, a sua constituição é realizada por meio de aspectos visíveis da organização, como layout, vestimenta, tecnologia empregada, bem como os documentos utilizados. Neste nível, apesar da facilidade de obtenção dos elementos culturais, há uma difícil interpretação, pois a lógica subjacente em geral não é explicitada, dificultando a compreensão. No segundo nível estão os valores, ou seja, a justificativa utilizada para explicar os atos dos membros de uma organização. Opostamente ao nível apresentado anteriormente, este nível é de difícil visualização e, sendo desta forma, faz-se necessária Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 23 a realização de entrevistas com determinados membros da organização, permitindo a inferência de tais elementos. Os pressupostos, fixados no terceiro nível, determinam a forma que os membros de uma organização percebem, pensam e sentem a organização. À medida que os valores comuns ao grupo passam a conduzir o comportamento e este se apresenta de forma adequada a solucionar problemas, o valor passa a ser um pressuposto inconsciente, fazendo muitas vezes, com que os próprios membros não tenham certeza a respeito de sua posse. 2.1 ELEMENTOS DA CULTURA ORGANIZACIONAL A cultura organizacional, na visão de Freitas (2007) é formada por uma série de elementos aos quais proporcionam mudanças comportamentais na organização. Tais elementos podem fornecer aos membros da organização, noção de como se deve proceder, do que é visto como importante e válido. Freitas (2007) relata ainda que o comportamento seja adotado não apenas pelos antigos membros, como também pelos novatos. Dentre os elementos da cultura organizacional tem-se: valores, crenças e pressupostos, ritos, rituais e cerimônia, sagas e heróis, estórias, tabus, bem como as normas. Com o intuito de gerar um maior esclarecimento a respeito do assunto, abordarse-á cada item de forma discriminada. Dentro de uma organização Deal e Kenned (1982) apud Freitas (2007) analisa os valores como sendo um item de fundamental importância aos quais definem o sucesso em termos concretos para os empregados bem como estabelecem os padrões a serem alcançados. Os autores (DEAL; KENNED, 1982) descrevem ainda que os valores exercem importante papel, uma vez que de certa forma noticia ao mundo exterior o que se deve esperar da companhia. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 24 No entendimento de Freitas (2007, p. 17): Os valores são geralmente definidos para resistir ao teste do tempo e incorporar as mudanças que ocorrem no contexto, portanto não é incomum que inovações e excelências estejam sempre presentes, pois elas incorporam a flexibilidade e podem sempre ser reajustadas sem se alterar a mensagem oficial. Os valores costumam ser reforçados por outros elementos culturais como estórias, rituais, cerimônias, normas e etc. Em se tratando de cultura organizacional, Freitas (2007) afirma que crenças e pressupostos vêm sendo utilizados como sinônimos e que uma verdade não é questionada nem ao menos discutida, pois deve aparecer de forma natural. Assim é de fundamental importância que todos os membros de uma organização, incluindo o alto escalão, sigam tais crenças e pressupostos como forma de reforçar o que vêm sendo anunciado. Ferro, (1991) enfatiza os pressupostos como a essência da cultura, uma vez que estes são formados pelos valores "testados por um grupo e percebidos como válidos para a situação, sendo capazes de resolver os problemas de adaptação externa e integração interna" Schein (1984) apud Freitas (2007) destaca que os pressupostos, no quesito cultura organizacional, é sempre um processo em formação, uma vez que a aprendizagem não é estática e está em constante crescimento. Os ritos, rituais e cerimônias são elementos presentes nas empresas, com maior ou menor expressão, assim, uma forma de ver a cultura organizacional de um modo mais concreto é por meio destes elementos (FREITAS, 2007). O autor destaca ainda que estes podem preencher várias funções, como apresentar a forma como os indivíduos Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 25 devem se comportar, apresentam a maneira como os procedimentos são executados, liberam tensões e ansiedades, tem o papel de dramatizar os valores básicos e de exibir experiências as quais poderão ser lembradas com mais facilidade ou como exemplos. Diversos são os tipos de rituais existentes em uma organização e, dependendo da importância da ocasião, os ritos e rituais podem ser cobertos de charme. Freitas (2007) apresenta alguns dos ritos e rituais existentes: • Ritual de passagem, é dito quando um indivíduo passa a fazer parte do grupo; • Rituais de esforço e reconhecimento são aqueles que os resultados considerados positivos são premiados. Neste caso, deve-se atentar para que este ritual não se transforme em ridicularização dos membros de uma organização; • Comemorações de datas importantes são conhecidas como rituais de integração; • Os rituais de redução de conflitos expostos ou latentes são considerados quando negociações ou reuniões para decidir novos horizontes existirem; • Rituais de renovação são tidos como os projetos ou a própria empresa; • Rituais de degradação, talvez um dos mais polêmicos, pois os mesmos têm por finalidade a retirada parcial ou total do poder. Ditas como narrativas heróicas de uma organização, a saga gera o despertar bem como a admiração dos membros da organização (FREITAS, 2007). Os heróis são apresentados, normalmente, devido aos mitos organizacionais, onde os heróis apresentam sua coragem, firmeza e senso de dever (DAVEL; VASCONSELOS, 1995). É tido ainda que os heróis despertam confiança não apenas por sua magnitude as também pelas realizações apresentadas (JOHAN; VANTI, 2000). Raupp e Beuren (2003) descrevem que os heróis personificam as culturas e valores. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 26 Apesar do dito anteriormente, Freitas (2007) informa que sagas e heróis não estão na moda devido as organizações mudarem constantemente executivos e/ou dirigentes principais, ou seja, a rotatividade alcançou altos patamares da organização. Na visão de Freitas (2007) há celebrações com relação aos que alcançaram metas, aos que desenvolveram projetos mirabolantes, aos intitulados melhores vendedores ou prestadores de serviços, ou seja, os heróis do momento, os heróis circunstanciais. As estórias são vistas como acontecimentos reais e que, de certo modo, informam a respeito da organização, fazendo com que o comportamento já existente seja reforçado e ainda acentua o modo como tal comportamento está de acordo com o ambiente. A estórias explicitam valores e formas de agir, que em todos os escritos bibliográficos dos grandes líderes as estórias estão presente (FREITAS, 2007). Seguindo a mesma linha de pensamento Fleury (1987) analisa que os acontecimentos históricos da organização nascem as estórias na qual conta a respeito dos atos de coragem, fazendo assim a construção dos heróis que personificam os valores e fornecem modelos de comportamento para os demais. Todavia, “caso a organização não valorize a experiência, as estórias tendem a construir uma memória obsoleta, [...] dificultando inclusive processos rápidos de mudança”, (FREITAS, 2011, p. 24). Os tabus estão em contraposição ao elemento valor dentro de uma organização, uma vez que este é exaltado e ratificado pelo grupo, o primeiro normalmente é negado ou escondido (FREITAS, 2007). A visão de Tavares (1993) não se opõe a de Freitas, pois aquele afirma que os dois elementos, valores e tabus, possuem o mesmo intuito, que é de orientação com relação ao comportamento do grupo, porém de forma antagônica, ou seja, enquanto os valores devem ser explicitados, os tabus escondidos ou silenciados. Além disso, Freitas 27 Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 (2007), afirma que as organizações seriam muito bem recompensadas caso considerassem que os erros “possuem teor didático” e, ao não seguir esta linha de pensamento, os tabus normalmente não fazem parte da história das empresas. Freitas (2011) afirma que normas dizem respeito aos procedimentos ou comportamentos considerados padrão, desta feita, toda organização possui a sua norma, de forma direta ou indireta. Freitas (2007, p. 29) afirma ainda que: Toda cultura tem maneiras de fazer as coisas que influenciam os membros dessa coletividade. São o comportamento esperado, aceito ou apoiado pelo grupo, esteja ele explícito formalmente ou não. A norma é o comportamento sancionado pelo grupo e repassado pelos outros elementos culturais. 3. REDES SOCIAIS Na visão de (D´Avlia, Regis...) a atividade humana faz com que as pessoas interajam entre si, variando em frequência, duração e sentido. Ressalta ainda que tanto as pessoas quanto os grupos que conseguem resultados mais eficazes são aqueles aos quais estão conectados de uma melhor forma. As redes sociais, tidas como novas tendências, podem ser compreendidas, Garton, Haythornthwaite e Wellman (1997) apud Tomaél et al (2007) como “um grupo de pessoas (ou organizações ou outras entidades sociais) conectadas por um conjunto de relacionamentos sociais e motivadas pela amizade, relações de trabalho ou troca de informação”. Para Marteleto (2004): [...] as interações ou redes de relacionamentos, motivam o capital social, um relacionamento afinado que soma Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 28 conhecimentos, informações e emoções que podem e devem ser utilizados por todos que compõem a rede. A construção dessas redes e a consequente aquisição de capital social estão condicionadas a fatores culturais, políticos e sociais. De acordo com a leitura de Moschetta (2010), “as redes sociais potencializam a agregação de ações entre os participantes do meio on-line”. Para Moschetta (2010), os sites contendo as redes sociais passam a ser um depósito de informações e interatividade virtual. Compartilham-se não apenas dados e informações, mas também autoridade e popularidade, como forma de “conexão ao espaço público”. 4. MUDANÇAS CULTURAIS DA ORGANIZAÇÃO As chamadas novas formas de comunicação, utilizadas por meio da intervenção digital, necessitam que haja a formatação dos meios tradicionais, pois com a velocidade de difusão das informações, através dos novos meios, verifica-se uma pluralidade de novos dados informativos que circulam nos grupos sociais (MOSHETTA, 2010). Na percepção de Rauup e Beuren (2003) apesar das notórias e significativas modificações ocorridas no meio tecnológico bem como a aceitação por parte dos indivíduos externos à organização, por exemplo, as redes sociais, algumas empresas apresentam dificuldade e/ou oposição à nova tendência. Ainda que possa haver uma resistência quanto à mudança, é inegável as substanciais alterações ocorridas na atmosfera interna das organizações. Ainda Rauup e Beuren (2003) aduzem que “o próprio ambiente externo, representado pelas exigências do mercado consumidor e pelas ações da concorrência, transformou-se, impondo novas necessidades, crescentes e Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 29 complexas, para as empresas”, mediante esta explanação, pode-se notar que as empresas estão em contínua mudança, o que reflete também no processo interno. Com o intuito de uma melhor compreensão do leitor, será apresentada a definição de mudança, porém, diante da diversidade de definições que acerca o termo, apresentar-se-á a definição sob a ótica de Judson (1980) uma vez que o mesmo a define no ambiente organizacional. Assim, o autor define como “qualquer alteração iniciada pela administração na situação ou no ambiente de trabalho de um indivíduo”. Múltiplos estudos a respeito das mudanças organizacionais dão ênfase nas atitudes percebidas pelos indivíduos frente às mudanças Neiva e Brito (2008). As crenças a respeito de uma mudança, pode se formar a partir do momento que os indivíduos tomam conhecimento a respeito da mesma (LINES, 2005 apud NEIVA; BRITO, 2008). Neiva e Brito (2008) asseguram de que as crenças formadas a partir da informação da mudança reverenciam a forma com que a mudança afetará as características do trabalho do indivíduo bem como se os objetivos a serem alcançados interferirão nos valores do mesmo. Alguns sentimentos como frustração, medo ou entusiasmos, afloram mediante a crença formada com relação à mudança, influenciando emoções, comportamentos bem como o processamento de informações ligadas à situação (LINES, 2005 apud NEIVA; BRITO, 2008). Raupp e Beuren (2003) discorrem que: A mudança organizacional se depara com barreiras dificultadoras, principalmente devido à influência de convicções culturais de indivíduos, o que efetivamente os impede promover e participar de debates. A mudança organizacional é possível, Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 30 mas tem que ser buscada de maneira evolutiva, por líderes locais, que sejam politicamente capazes de fazerem isso acontecer. Judson (1980) destaca ainda que “a resistência a mudança pode ser caracterizada por diferentes atitudes, em uma escala contínua, que vai da aceitação até a resistência ativa, passando pela indiferença e pela resistência passiva”. Evidenciando a questão do despertar para as novas atividades, Nadler e Tushman (2000) destacam que “a capacidade da organização de compreender o ambiente e fazer alterações estratégicas necessárias no momento certo do ciclo de mudanças determina sua força competitiva”. Damanpour (1991) apud Neiva e Brito (2008) aponta que os gerentes tem papel fundamental na aceitação e participação dos funcionários e, consequentemente, no sucesso da implantação da mudança. Porém, o fracasso, no processo de mudança, em diversos casos é atribuído às oposições dos indivíduos com relação a mesma. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após as diversas definições apresentadas a respeito de cultura organizacional, (Pettigrew (1979); Estol e Ferreira (2006); Schein, (2001); Hofstede (1991); Saraiva (20002); Freitas (1991) pode-se notar que todas as organizações de forma implícita ou explícita, possuem uma cultura organizacional agregada em si. Os autores apresentados, (Pettigrew (1979); Estol e Ferreira (2006); Schein, (2001); Hofstede (1991); Saraiva (20002); Freitas (1991) compartilham de pensamentos similares com relação a formação da cultura organizacional, ou seja, analisam pressupostos, ritos, rituais e cerimônia, sagas e heróis, estórias, tabus e normas. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 31 Outro pondo fundamental analisado é o fato de os elementos componentes da cultura organizacional proporcionar mudanças comportamentais na mesma e, que tal comportamento relativo à cultura da organização deve ser seguido por todos, sejam membros antigos, novos, de baixo ou alto escalão. Perante o acelerado desenvolvimento tecnológico, novas tendências surgem a todo o momento e, ainda diante da aspiração do consumidor em usá-las, algumas empresas apresentam dificuldade e/ou oposição à nova tendência. Mesmo aquelas empresas interessadas em satisfazer sua a clientela, encontram barreiras na mudança cultural da organização, ou seja, a resistência a mudança, seja por parte da empresa ou por parte dos funcionários, torna-se um grande obstáculo, uma vez que a resistência pode ser desde resistência com aceitação até resistência passiva. De tal modo, para que as organizações empresariais não apenas se mantenham vivas, mas também ganhem espaço no mercado, faz-se necessário que tais organizações acompanhem o desenvolvimento tecnológico. As organizações empresariais que não se atualizarem estarão fadadas ao fracasso. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 32 REFERÊNCIAS ESTOL, Kátia Maria Felipe and FERREIRA, Maria Cristina. O processo sucessório e a cultura organizacional em uma empresa familiar brasileira. Rev. adm. contemp. [online]. 2006, vol.10, n.4, pp. 93-110. ISSN 1415-6555. FERRO, José Roberto. Decifrando culturas organizacionais. São Paulo: 1991. 37I p. Tese (Doutorado em Administração de Empresas). Fundação Getúlio Vargas, 1991. FLEURY, M. T. L. Estórias, mitos, heróis - cultura organizacional e relações do Trabalho. Revista de Administração de Empresas. Rio de Janeiro. V. 27, n. 4, p. 7-18, out/dez. 1987. FREITAS, M. E. 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O levantamento mostra que nenhuma publicação foi encontrada na base de dados brasileira e 153 publicações foram realizadas na base internacional. Dessas 153, 80,4% foram publicadas nos últimos 3 anos, 44% estão concentradas em apenas 4 periódicos e 32% produzidas pelos EUA. PALAVRAS-CHAVE: Pegada ecológica; indicadores de sustentabilidade; Gases de Efeito Estufa. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 35 INTRODUÇÃO Com o crescimento econômico, o estoque de recursos naturais vem sendo muito afetado e se tornando cada vez menor ou insuficiente para manter uma estabilidade ecológica em longo prazo. A melhor forma de minimizar esse impacto é mudar o paradigma do crescimento para o desenvolvimento sustentável, porém um dos grandes receios para essa mudança é a falta de mecanismos de mensurar esse desenvolvimento. Com o fortalecimento do ideal do desenvolvimento sustentável na década de 1980 e sua consolidação em forma de políticas públicas na década de 1990, ferramentas foram sendo desenvolvidas para medir o desenvolvimento sustentável, destacando-se o ecological footprint, o dashboard of sustainability e o barometer of sustainability. O método do ecological footprint também está sendo proposto como ferramental para avaliação das emissões de gases de efeito estufa (GEEs) na atmosfera, denominada carbon footprint. Porém, a não adoção dessa metodologia para cálculo de emissão de GEEs está ligada a falta de interesse político, mas também à fragilidade metodológica dessa ferramenta. Portanto, subtende-se que a fragilidade metodológica deverá ser sanada por pesquisas acadêmicas e publicações de seus resultados. Nesse sentido, o presente artigo faz um levantamento das publicações existentes sobre o carbon footprint, assim como uma categorização dessas publicações. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 36 SUSTENTABILIDADE E INDICADORES O atual modelo de desenvolvimento econômico e o crescimento urbano desordenado e sem planejamento prévio tem sido responsável pela progressiva degradação do meio ambiente e consequente deterioração da qualidade de vida da população, acarretando uma crise ambiental em nível global. Os ecossistemas não são mais capazes de sustentar o consumo de materiais e o atual andamento das atividades econômicas (DIAS, 2002; VAN BELLEN, 2005). Diante da necessidade de manter o crescimento econômico e, concomitante a isso, assegurar a não degradação do meio ambiente, o desenvolvimento sustentável representa a solução para o agravamento da problemática ambiental, sendo o elemento fundamental para a relação benéfica entre desenvolvimento e natureza (MATIAS; PINHEIRO, 2008), pois engloba questões sociais, econômicas e ambientais como componentes distintos entre si, porém indissociáveis. Quinze anos após a Conferência de Estocolmo, a primeira tentativa de se conceituar o desenvolvimento sustentável foi feita no Relatório Brundtland, publicado em 1987, resultante de um estudo realizado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente das Nações Unidas, no qual definiu o desenvolvimento sustentável como sendo aquele que satisfaz as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações em satisfazer suas necessidades (DIAS, 2002). Entretanto, as discussões sobre o desenvolvimento sustentável mostram que, além de existir diferentes concepções a cerca da relação desenvolvimento-natureza tanto por parte dos tomadores de decisão quanto da sociedade, há divergências em relação ao seu conceito (DIAS, 2002; VAN BELLEN, 2005; MATIAS; PINHEIRO, 2008). Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 37 Embora tenha ocorrido um crescimento da consciência por parte da sociedade em relação à degradação ambiental decorrente do processo de desenvolvimento (VAN BELLEN, 2005), para muitas pessoas, a natureza ainda é vista apenas como um recurso, uma vez que a ideia de escassez desses recursos coloca em risco o desenvolvimento econômico, não havendo, para elas, relação alguma entre a degradação ambiental e as características sensíveis do meio ambiente, excluindo, ainda, a ideia de que o homem também faz parte da natureza. Aliado a isso, a ideia de que o objetivo do desenvolvimento sustentável é o de somente garantir o desenvolvimento econômico, põe em evidência o caráter antropocêntrico desse tipo de concepção (MATIAS; PINHEIRO, 2008). Apesar das divergências conceituais, é consenso que a inserção da dimensão ambiental às políticas econômicas e sociais é essencial para se alcançar a sustentabilidade. Para tanto, deve ser realizado o constante monitoramento das condições ambientais e os processos de formulação e implantação de políticas devem ter o suporte de indicadores de sustentabilidade (MOUSINHO, 2001). Além disso, o próprio desenvolvimento precisa ser avaliado através de ferramentas que possibilitem determinar o seu grau de sustentabilidade (VAN BELLEN, 2005). Segundo Deponti et al. (2002), indicadores são instrumentos que permitem mostrar a realidade de um dado sistema e devem ter validade, objetividade e consistência. Além disso, dentre outras características, precisam ter coerência e ser sensíveis a mudanças no tempo e no sistema; ser de fácil entendimento; contribuir para que haja a participação da população local no processo de mensuração; ser baseados em informações facilmente disponíveis; permitir a relação com outros indicadores. Indicadores de sustentabilidade são, portanto, ferramentas que procuram avaliar o grau da sustentabilidade do sistema e o Método da Pegada Ecológica é um dos Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 38 mais utilizados pelos especialistas (VAN BELLEN, 2005), pois estabelece, de forma quantitativa, os resultados das atividades humanas em determinado sistema, bem como os custos em termos de apropriação de áreas naturais (DIAS, 2002). O MÉTODO DA PEGADA ECOLÓGICA A pegada ecológica é um dos sistemas de indicadores mais utilizados para medir e comunicar o desenvolvimento sustentável (VAN BELLEN, 2005). O lançamento do livro Our Ecological Footprint, de Wackernagel e Rees (1996) contribuiu para a divulgação desse método e para o inicio de diversas pesquisas nessa área. A pegada ecológica foi definida por esses autores como a área de território ecologicamente produtivo (cultivos, pastos, florestas ou ecossistemas aquáticos) necessária para produzir os recursos e assimilar os resíduos gerados por uma população com determinado nível de vida, de maneira indefinida (WACKERNAGEL; REES, 1996). Sua metodologia contabiliza os fluxos, matéria e energia que entram e saem de um determinado sistema econômico e converte esses fluxos em área correspondente de terra ou água existente na natureza para sustentar esse sistema. Nesse sentido, o método consiste em estabelecer a área necessária para manter uma determinada população ou sistema econômico, fornecendo energia e recursos naturais e capacidade de absorção dos resíduos do sistema (VAN BELLEN, 2005). O método está, por conseguinte, baseado no conceito de capacidade de carga de um determinado sistema, ou seja, corresponde à máxima população que pode ser sustentada por determinado ambiente. O método considera que, diferentemente dos demais seres vivos, o consumo humano não é determinado apenas biologicamente. Assim, além do metabolismo biológico, é fundamental considerar o metabolismo industrial e cultural. Nesse sentido, Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 39 o método inverte o conceito de capacidade de carga: em lugar de tentar definir a população para uma determina da área geográfica em função da pressão no sistema, busca calcular a área requerida por uma população de um determinado sistema para que se mantenha indefinidamente. PRESSUPOSTOS E LIMITAÇÕES DO MÉTODO A atividade humana é bastante complexa e, muitas vezes, o homem apresenta uma visão economicista da natureza, caracterizando-a como um bem a ser utilizado pelo homem ou um meio de produção de riquezas (MATIAS; PINHEIRO, 2008), havendo apropriação dos recursos renováveis e não renováveis, emissão de resíduos, contaminação de solos e recursos hídricos, entre outros. O conceito da pegada ecológica está baseado na ideia de que uma quantidade de terra, ou categoria de ecossistema, é exigida para absorver os resíduos e prover o consumo de cada item de material ou energia. Dessa forma, para a aplicação do método, devem-se considerar os principais itens de consumo, como água, energia elétrica, combustíveis fósseis, alimentos, dentre outros (DIAS, 2002). Entretanto, a tentativa de incluir todos os itens de consumo e resíduos e todas as funções dos ecossistemas no cálculo da pegada ecológica pode tornar esse método bastante complexo por ser necessária a utilização de dados de difícil levantamento devido à falta de informações disponíveis. Além disso, o método não integra a questão social e econômica, visando somente os aspectos ecológicos. Desta forma, os autores utilizam uma abordagem simplificada do mundo real. Alguns exemplos disso são: a) o cálculo pressupõe que a agroindústria utiliza métodos sustentáveis. b) considera-se sempre o uso das melhores tecnologias e de alta taxa de produtividade, que, em ambos os casos, não correspondem necessariamente à realidade Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 40 (VAN BELLEN, 2005). Para os autores, apesar das limitações, a virtude do método reside em sua simplicidade, que permite sua compreensão e aplicação. PROCEDIMENTO DO CÁLCULO O método utiliza uma taxonomia simples da produtividade ecológica envolvendo oito tipos de terreno ou ecossistemas. Assume que todos os tipos de energia, o consumo de material e a descarga de resíduos demandam capacidade de produção e/ou absorção de um área finita de terra ou água. O procedimento do cálculo baseia-se, portanto, na ideia de que para cada um dos itens de matéria ou energia consumida pela sociedade existe certa área de terra, em um ou mias ecossistemas, que é necessária para fornecer o fluxo desses recursos e absorver seus dejetos. Pode-se estimar, assim, a área total requerida para suportar determinado tipo de consumo. Considerando a impossibilidade de estimar a demanda de área produtiva para provisão, manutenção e disposição de milhares de bens de consumo, os cálculos se restringem às categorias mais importantes e a alguns itens individuais (VAN BELLEN, 2005). O procedimento do cálculo da pegada envolve as seguintes etapas: a) calcular a média anual de consumo de itens particulares (habitação, alimentação, transporte, bens de consumo e serviços), dividindo o consumo total pelo tamanho da população; b) estimar a área apropriada (per capita) para produção de cada um dos principais itens de consumo, dividindo-se o consumo anual (kg/pessoa) pela produtividade média anual (kg/ha). c) calcular a área da pegada ecológica por pessoa, somando-se as áreas de ecossistema apropriadas por item de consumo de bens ou serviços. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 41 d) a área da pegada ecológica total apropriada é obtida por meio da área média apropriada multiplicada pela numero de pessoas de uma determinada população. A maioria das estimativas para a pegada ecológica baseia-se em médias de consumo nacionais e em terras mundiais. Os trabalhos mais recentes de pegada ecológica normalmente usam cinco categorias de territórios/áreas: a) território de biodiversidade, território construído, território de energia, território terrestre bioprodutivo e área marítima bioprodutiva (Van Bellen, 2005, p. 108). Essas categorias de território fornecem uma variedade de bens e serviços, receita ou capital natural, que serve de suporte às atividades humanas, como a provisão de energia, espaço das cidades e absorção do lixo e preservação da biodiversidade. O CARBON FOOTPRINT O Ecological Footprint é um importante instrumento para avaliar se os impactos antrópicos no meio natural correspondem à capacidade de suporte da natureza e mostra se seus impactos no ambiente global são sustentáveis em longo prazo, possibilitando comparar indivíduos, cidades e nações (CIDIN; SILVA, 2004). Enquanto o Ecological footprint é usado para medir o impacto ambiental abrangendo todas as atividades do indivíduo, o Carbon Footprint é específico em medir apenas a quantidade de dióxido de carbono que determinada atividade emite. É o “Peso de Carbono” calculado em quilogramas ou toneladas por pessoa ou atividade (HAMMOND, 2007). A queima de combustíveis fósseis é uma das atividades que mais emite dióxido de carbono, tanto nos sistemas produtivos das indústrias quanto na utilização como energia para transportes, sendo que essa emissão de CO2 na atmosfera oferece grande Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 42 risco à sociedade, pois é um dos principais contribuintes para o aquecimento global (GRUB; ELLIS, 2007). Num ciclo de vida, consideram-se os materiais, fabricação, transporte, uso e descarte em cada estágio de desenvolvimento de determinado produto. Ao longo do ciclo de vida de um processo ou produto é emitida certa quantidade de CO2, que pode ser quantificada no fim do ciclo por meio do carbon footprint. Assim como as emissões acumuladas ao longo da vida, incluindo indivíduos, populações, governos, empresas, organizações, processos, etc (WIEDMANN; MINX, 2008). O carbon footprint é um importante indicador para comparar diferentes tipos de biocombustíveis. Além disso, vem promovendo discussões sobre os impactos ambientais e ajudando a conscientizar a população sobre a importância de diminuir as emissões de CO2 (WIEDMANN; MINX, 2008). O Carbon footprinting ganhou uma enorme popularidade nos últimos anos, principalmente no Reino Unido, o interessante é que esta popularidade tem sido impulsionada por pesquisas promovidas pelos órgãos não-governamentais (ONGs), empresas, e várias iniciativas privadas. Isto resultou em muitas definições e sugestões da forma como pegada de carbono deve ser calculada (WEIDEMA; THRANE, 2008). MÉTODO Para o levantamento das publicações sobre o carbon footprint escolheram-se duas bases de dados, uma brasileira (Scientific Electronic Library Online - SciELO) e outra internacional (Science Direct). Essas bases de dados foram escolhidas por serem consideradas as que contemplam o maior número de periódicos em seu nível de abrangência. O período de pesquisa selecionado (1992 a 2011) foi devido ao Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 43 surgimento da ferramenta ecological footprint em 1992 e ao período de coleta dos dados (2011). A pesquisa foi realizada através da seleção de palavras-chave e parâmetros de busca. Para a base de dados SciELO as palavras-chave foram: pegada, carbono, pegada and carbono; os parâmetros de busca foram, método: por palavra; onde: Brasil; pesquisar em: todos os periódicos. Para a base de dados da Science Direct as palavraschave utilizadas foram: carbon and footprint, footprints ou footprinting; os parâmetros de busca foram: search in: Abstract, Title e Keywords; Include: All Journals; Subject: Environmental Science; Date Range: 1992 to 2011. Para os artigos que foram encontrados para mais de uma palavra-chave somente um foi contabilizado. Em posse dos artigos selecionados realizou-se uma categorização: Categoria I: período da publicação, ano; Categoria II: país de origem da publicação; Categoria III: institutos de pesquisa que publicaram sobre o assunto; Categoria IV: autores que publicaram sobre o assunto; Categoria V: periódicos que publicaram sobre o assunto. RESULTADOS Base de dados SciELO Para a base de dados SciELO nenhuma publicação foi encontrada nos 939 periódicos indexados para as palavras-chave e parâmetros da pesquisa. Isso demonstra que no Brasil o carbon footprint ainda é um tema praticamente não estudado pelos pesquisadores e grupos de pesquisa. Devido à busca nessa base de dados não apresentar nem um artigo não foi possível realizar uma análise em categorias. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 44 Base de dados Science Direct Somente para o assunto Environmental Science a base de dados Science Direct apresenta mais de 150 periódicos e 359.526 artigos publicados, sendo que dentro deles foram encontradas somente 153 publicações para as palavras-chave e parâmetros de busca utilizados. Esses 153 artigos foram categorizados e as analises para cada categoria são descritas a seguir: Categoria I: Período da publicação O levantamento das publicações sobre carbon footprint encontradas na base de dados Science Direct demonstrou um aumento na produção de artigos científicos que discutem a ferramenta ao longo dos anos. Importante salientar que as primeiras publicações sobre o tema, encontradas datam do ano de 1993, menos de um ano após a apresentação da ferramenta pelo autor Rees, em outubro de 1992 no artigo “Ecological footprints and appropriated carrying capacity: what urban economics leaves out”, publicado na revista Environment and Urbanization. Assim, pode-se observar que, logo que foi proposto, o ecological footprint, a comunidade científica já se apropriou do conhecimento para aplicá-lo à emissão de carbono na atmosfera, entretanto, a média das publicações entre o ano de 1993 a 2005, foi muito baixa, não chegando a duas por ano. Nos anos seguintes, em 2006 e 2007, houve uma ínfima melhora, chegando a quatro publicações anuais e em 2008, esse número chegou a onze. Em 2009, o número de artigo sobre carbon footprint publicado na base de dados pesquisada foi mais que o dobro do ano anterior e no ano de 2010, o triplo. Foram vinte e quatro publicações no ano de 2009, seguidas de trinta e seis, no ano de 2010, Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 45 somando 39,2% do total de publicações sobre a ferramenta, encontradas na Science Direct. Os dados referentes ao ano de 2011 representam a parcela de artigos que haviam sido publicados até a conclusão do presente trabalho, o que implica em um provável aumento desse número até o final do ano. Nesse sentido, é importante destacar o aumento significativo no número de publicações nos três últimos anos, visto que em 2011 foram sessenta e três artigos publicados. Se comparados, nos anos de 2009 a 2011 foram encontrados 80,4% do total de publicações na base de dados Science Direct, enquanto de 1992 a 2008, os artigos científicos sobre carbon footprint não chegaram a 20%, como pode ser observado no gráfico 1. Gráfico 1. Quantidade de revistas publicadas entre o ano de 1993-2011 Fonte: Science Direct Categoria II: País de origem da publicação Com relação ao país de origem das publicações, os Estados Unidos destacaram-se com o maior número de artigos científicos sobre carbon footprint levantados na base de dados Science Direct, totalizando quarenta e nove publicações. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 46 Isso equivale a 32% do total, seguido do Reino Unido, com quase 18% do total de publicações. Países como a Áustria, China, Canadá, Holanda, Itália, Espanha publicaram entre sete e nove artigos. Já a Finlândia, Alemanha e a Irlanda publicaram de quatro a cinco artigos científicos. O Brasil publicou um único artigo na base de dados Science Direct intitulado “Emergy Net Primary Production (ENPP) as basis for calculation of Ecological Footprint”. O artigo foi publicado no periódico Ecological Indicators, no ano de 2010, pelos autores Siche, Agostinho e Ortega (2010) da Universidade Estadual de Campinas. Os países de origem das publicações e suas respectivas quantidades podem ser observadas no gráfico 2. Gráfico 2: Publicação por países Fonte: Science Direct Categoria III: Institutos de pesquisa que publicaram sobre o assunto Além da análise dos países de origem, foram levantadas as instituições de pesquisa e os autores de cada uma das 153 publicações consideradas no presente Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 47 trabalho. Devido à participação dos institutos de pesquisa ser inexpressiva, com relação à quantidade de publicações, os dados não foram representados graficamente. Categoria IV: Autores que publicaram sobre o assunto Dentre todos os autores analisados, apenas dois estavam presentes em mais de um artigo científico. Enquanto Eric Johnson foi autor de cinco artigos, dois deles publicados no periódico Energy Policy e três no Environmental Impact Assessment Review, a autora Maria Teresa Moreira publicou dois artigos: um no periódico Environmental Science & Policy e o outro no periódico Science of The Total Environment. Categoria V: Periódicos que publicaram sobre o assunto Com relação aos periódicos que apresentaram o maior número de artigos científicos sobre Carbon Footprint quatro destacaram-se, totalizando 44% do total de publicações da base de dados Science Direct. O periódico que apresentou o maior número de publicações foi Journal of Cleaner Production com vinte e um artigos científicos, seguido do periódico Energy Policy, com dezessete e do Remote Sensing of Environment com dezesseis publicações. Por fim, o periódico Ecological Economics apresentou quatorze artigos sobre carbon footprint, o que representa 9% do total de publicações sobre a ferramenta, como pode ser observado no gráfico 3. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 48 Gráfico 3: Revistas com mais publicações sobre carbon footprint. Fonte: Science Direct. CONCLUSÃO O presente artigo levantou as publicações sobre carbon footprint encontradas nas bases de dados SciELO e Science Direct, no ano de 1992 a 2011. Com os dados levantados foi possível concluir que ainda há pouca produção sobre o tema, uma vez que não houve nenhum artigo publicado nos 939 periódicos da base de dados SciELO e apenas 153 dentre as 359.526 publicações da base de dados Science Direct. Quando analisado o histórico das publicações, observa-se um aumento recente, ou melhor, demorou cerca de quinze anos após a primeira publicação sobre carbon footprint para haver um número mais significativo de artigos publicados em periódicos sobre o tema, de forma que os três últimos anos somaram 80,4% de toda a publicação. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 49 Com relação aos países de origem das publicações, os Estados Unidos apresentaram-se com 32% de toda a publicação, entretanto nenhum instituto de pesquisa obteve destaque, assim como os autores. Já quando analisados os periódicos, houve uma concentração de número de publicações significativa, na qual 44% deles foram publicados em somente quatro revistas científicas. Conclui-se, portanto, que para a ferramenta carbon footprint venha a ter uma maior robustez e, assim, uma maior aceitação pelos tomadores de decisão no processo de controle do aquecimento global, é necessário que mais pesquisas sejam desenvolvidas pela comunidade acadêmica internacional. Salienta-se ainda, que os institutos brasileiros devem investir no desenvolvimento nesse tipo de pesquisa, uma vez que o Brasil é um dos maiores interessados no desenvolvimento de métricas de emissão de carbono equivalente. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 50 REFERÊNCIAS CIDIN, R.C.P.J.; SILVA, R.S. Pegada Ecológica: instrumento de avaliação dos impactos antrópicos do meio natural. Estudos Geográficos, v. 2, n.1, p. 43-52, 2004. DEPONTI, C. M.; ECKERT C.; AZAMBUJA, J. L. B. Estratégia para construção de indicadores para avaliação da sustentabilidade e monitoramento de sistemas. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável. Porto Alegre, v.3, n.4, p. 4452, out/dez, 2002. DIAS, G. F. Pegada ecológica e sustentabilidade humana. São Paulo: Gaia, 2002. GRUBB AND ELLIS. Meeting the Carbon Challenge: The Role of Commercial Real Estate Owners, Users & Managers, Chicago. 2007. HAMMOND, G. Time to give due weight to the 'carbon footprint' issue. Nature, 445(7125): 256. 2007. MATIAS, H. J. D.; PINHEIRO, J. Q. Desenvolvimento sustentável: um discurso sobre a relação entre desenvolvimento e natureza. Psicol. Soc. Porto Alegre, v.20, n.1. p.134-143. 2008. MOUSINHO, P. Indicadores de desenvolvimento sustentável: modelos internacionais e especificidades do Brasil. Rio de Janeiro, 2001. 314 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - IBICT/UFRJ/ECO. VAN BELLEN, H. M. Indicadores de sustentabilidade: Uma análise comparativa. Rio de Janeiro: FGV, 2005. WACKERNAGEL, M. ; REES, W. Our ecological footprint. The new catalyst bioregional series. Gabriola Island, B. C.: New Society Publishers, 1996. WEIDEMA, P.; THRANE, M.; CHRISTENSEN, P.; SCHMIDT, J. Carbon Footprint A Catalyst for Life Cycle Assessment? Journal of Industrial Ecology. V. 12, p. 1-4, Febr. 2008. WIEDMANN, T. AND MINX, J. A Definition of 'Carbon Footprint'. In: C. C. Pertsova, Ecological Economics Research Trends. Chapter 1, pp. 1-11, Nova Science Publishers, Hauppauge NY, USA. 2008. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 51 O ensino de língua portuguesa no ensino médio: reflexões sobre alternativas metodológicas Elisandro Félix de Lima1 Rômulo Giácome de Oliveira Fernandes2 1 Graduado em Letras/ Inglês e respectivas literaturas e especialista em Gramática Normativa da Língua Portuguesa pelas Faculdades Integradas de Cacoal - UNESC. 2 Licenciado em Letras pela Universidade Federal de Rondônia - UNIR, Campus de Vilhena e Mestre em Teoria Literária pela UNESP/SP. RESUMO: O presente artigo trata-se de uma reflexão sobre alternativas metodológicas para o ensino de língua portuguesa aos alunos do ensino médio. Resultado de pesquisa bibliográfica que objetiva refletir sobre as alternativas metodológicas, que podem ser contributivas para o ensino de língua portuguesa no ensino médio. Para o desenvolvimento da pesquisa adotou-se o método dedutivo, de caráter descritivoanalítico, uma vez que, buscou-se analisar teorias que abordam a temática e assim, construir nosso parecer sobre essas possíveis metodologias a serem utilizadas nas aulas de língua portuguesa, neste século. Concluiu-se que não existe uma metodologia que garanta, no geral, o sucesso para o ensino-aprendizagem, uma vez que, as salas de aula são constituídas de alunos com suas particularidades. PALAVRAS-CHAVE: Língua Portuguesa; Ensino médio; Alternativas metodológicas. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 52 INTRODUÇÃO No atual contexto escolar, torna-se necessário repensar sobre as alternativas metodológicas para o ensino básico. A escola não tem sido a mesma da década passada, o modo de pensar e agir sofreram alterações, isso porque novas mídias foram introduzidas à sociedade, e, um novo comportamento também surgiu. Com a origem das novas mídias, surgiram novas culturas, diferentes códigos linguísticos, e novos gêneros textuais, que alteraram o modo de se conduzir a leitura e a escrita. Diante disso, a escola deve propor outras propostas de ensino em todas as áreas do conhecimento. Não mais importante que outras áreas, a língua portuguesa deve receber atenção em relação às metodologias de ensino, uma vez fora da escola os alunos mantém bastante contato com os novos códigos na era das mídias tecnológicas. O ensino de língua portuguesa no ensino médio não pode estar centrado exclusivamente na aquisição de conteúdos e conceitos como foi feito nas décadas anteriores. Mas sim, deve se atentar para a formação do cidadão crítico, com conhecimentos humanísticos, científicos e específicos, que viabilizem a continuidade dos estudos e ingresso no mercado de trabalho. Assim, a proposta deste artigo fora refletir sobre as alternativas metodológicas para o ensino de língua portuguesa no atual contexto escolar do ensino médio. Especificamente, pretendeu-se estudar o ponto de vista de teóricos que abordam o assunto, além de expor alguns modelos sugeridos pelos mesmos. Por fim, analisou-se a aplicação dos modelos metodológicos e o que as teorias sobre o assunto pode contribuir para uma mudança significativa e eficiente do ensino de língua portuguesa ao ensino médio. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 53 Contudo, pretendeu-se responder se há uma alternativa metodológica que seja eficiente para conduzir o ensino de língua portuguesa ao ensino médio da educação básica, no atual contexto escolar, uma vez que as diversas mídias têm imperado sobre o sujeito-aluno. Nesta proposta, a pesquisa torna-se relevante pela importância da temática, uma vez que pode servir como fonte de referência para a sociedade acadêmica dos cursos de licenciatura, especificamente do curso de letras, assim como, para o aperfeiçoamento de professores e aqueles que se interessam por práticas pedagógicas e ensino de língua portuguesa. A metodologia adotada foi a de pesquisa bibliográfica, com o método dedutivo, de caráter descritivo-analítico. A escolha desse método se justifica nas palavras de Xavier (2010, p. 37) “pelo método dedutivo o pesquisador inicia a pesquisa guiando-se por uma teoria sobre o funcionamento e características de um determinado fenômeno natural ou humano”. A princípio, após a escolha do tema, foi feita a seleção do material a ser estudado e estipulado um cronograma para as leituras, anotações e redação do texto. Para melhor compreensão, a pesquisa foi dividida em três capítulos. O primeiro para explorar a importância do tema. O segundo para descrever sobre algumas alternativas metodológicas, propostas por teóricos que há muito tempo tem buscado refletir e dialogar com professores do ensino fundamental e médio, a respeito do ensino e a pesquisa em sala de aula, especificamente, sobre o ensino de línguas e literatura. No terceiro capítulo, tecemos uma análise das discussões teóricas estudadas, não com o intuito de apontar quais devem ser as metodologias eficientes e as que devem ser desprezadas, mas sim, com a intenção de refletir sobre as diversas metodologias de ensino da língua portuguesa existentes. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 54 Por fim, as considerações finais são informações sobre o resultado da pesquisa, apresentando um parecer das teorias pesquisadas e alternativas metodológicas, abordadas pelos autores estudados. REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO SÉCULO XXI Neste primeiro capítulo faremos uma reflexão sobre o ensino de língua portuguesa no século XXI, a saber, que, este novo século nos trouxe novas tecnologias e mídias e com isso muitos de nossos comportamentos foram alterados. Assim, é possível dizer que o sujeito-aluno deste século não percebe o mundo da mesma forma que alunos de décadas anteriores. O aluno deste século, não a maioria, tem acesso a diversas mídias virtuais, lida com uma imensidão de signos do que com a própria coisa. Como afirma Riolfi et al. (2008, p. 6) “em nossa onipotência, parece-nos que a tecnologia nos permite ultrapassar as barreiras do corpo [...] preferimos a imagem ao objeto, a cópia ao original, o simulacro ao real”. Diante desse pressuposto, a reflexão deste capítulo será em torno da seguinte problemática. Como fazer o jovem se interessar pelas sutilezas da língua portuguesa? A pretensão aqui não é conceituar uma maneira eficiente, como espécie de receita, para solucionar todos os problemas das salas de aulas, especificamente, as aulas de língua portuguesa. Também, não pretende-se estabelecer como metodologia infalível, que sirva como antídoto para exterminar todos os problemas proporcionadores do desinteresse dos alunos pelas aulas de língua portuguesa. Cabe, então, somente uma reflexão que Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 55 possa, na medida do possível, apenas acrescentar uma dialética sobre as dificuldades enfrentadas por professores e alunos, nessa relação ensino-aprendizagem. Segundo os Pcns (1997) faz-se necessário uma proposta educacional que tenha em vista a qualidade da formação oferecida a todos os estudantes. Uma educação significativa, que faça o aluno perceber sua realidade e que as teorias estejam aliadas as práticas. O aluno precisa saber que o conhecimento adquirido em sala de aula terá utilidade em sua vida social, política, econômica e cultural, além de, essa educação, garantir habilidades e competências para uma formação crítica e autônoma, para viver em sociedade com dignidade e responsabilidade. Assim, o papel do professor, não exclusivamente, o de língua portuguesa, é crucial, como complementa ainda os Pcns (1997), cabe ao professor apresentar os conteúdos e atividades de aprendizagens de forma que os alunos compreendam o porquê e o para que aprendem. Ainda, as aulas devem ser motivadoras, para que os alunos desenvolvam expectativas positivas em relação à aprendizagem. Segundo a LDB 9394/96, a educação básica tem por finalidade “desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”. (LDB 9394/96, p. 32). No caso, da progressão do trabalho, tem como principal foco o aluno do ensino médio, uma vez que entre os fins específicos, a preparação básica para o trabalho deve ser primordial ao aluno egresso desse ciclo educacional. Sobre o currículo do ensino médio, que estabelece as diretrizes para atingir positivamente os objetivos da educação no ensino médio a professora, Lucia Helena Lodi, doutora em educação, descreve que: O currículo do ensino médio deve destacar a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 56 como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania. (LODI, 2004, p. 7). Para se valer dos direcionamentos desse currículo, o professor, no atual contexto, deve abandonar o ensino descontextualizado e compartimentalizado, baseado em apenas acúmulo de informações, e partir para um ensino significativo e contextualizado, visando à interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade dos conteúdos, para que incentive o raciocínio e a capacidade do aluno em aprender. Com a reforma curricular e a organização do ensino médio, no que tange sobre as áreas de conhecimento: linguagens, códigos e suas tecnologias, fica estabelecido que: A linguagem é considerada como a capacidade humana de articular significados coletivos em sistemas arbitrários de representação, que são compartilhados e que variam de acordo com as necessidades e experiências da vida em sociedade. (PCNEM, 2000, p. 19). Nas aulas de língua portuguesa o professor deve fazer com que o aluno perceba que a linguagem se faz presente em suas práticas sociais e na história da humanidade. Ainda, deve envolver o aluno para o reconhecimento da linguagem como formas verbais, icônicas, corporais, sonoras, formais dentro outras, e que perceba essas linguagens como estrutura semelhante ao léxico e regras significativas. As aulas de língua portuguesa devem preparar o aluno para a produção de linguagem e o reconhecimento dos diversos gêneros textuais, assim como, torná-los competentes para a leitura e produção desses diversos gêneros de sua realidade. ALTERNATIVAS METODOLÓGICAS DE ENSINO: UMA REFLEXÃO TEÓRICA Segundo Caetano (2004, p. 10). “é possível facilitar na hora de ensinar”. Porém, “o termo facilitação deve assumir o significado lingüístico-pedagógico”. A metodologia atribuída por Caetano, a facilitação da aprendizagem, deve ser uma ação Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 57 realizada em co-parceria professor-aluno e tem por objetivo reunir esforços para remover obstáculos e oportunizar que o aluno aprenda pela percepção. O aluno precisa perceber as coisas e as sociedades do mundo, para, a partir daí, reinventar a sua realidade. Especificamente, Caetano (2004) explica como deve funcionar na prática a metodologia da facilitação da aprendizagem, isto é, ações em co-parceria – professoralunos, quanto: Ao planejamento que deve ser elaborado de forma cuidadosa, construído em grupo a fim de que o aluno possa externar suas expectativas, dificuldades, interesses, sendo consciente das especificidades da disciplina, sendo que os conteúdos devem ser sempre flexíveis para ser ajustado quando necessário. Os conteúdos devem ser priorizados, sendo estabelecido um pacto entre professor e aluno com a finalidade de gerar novas tecnologias. As estratégias de ensino devem ser analisadas, perpassando por ações individuais, grupais e coletivas semelhantes a problematização enfrentadas no cotidiano. (CAETANO, 2004, p. 19). Na sala de aula, o professor deve fazer abertura para o diálogo. Na sala de aula deve haver “possibilidades de questionamentos, de respeito mútuo entre alunos e professor, de trabalho descontraído e espírito democrático. (MASETTO, 1992 apud CAETANO, 2004, p. 19). A avaliação da aprendizagem deve ser qualitativa, uma busca contínua de resultados. “A avaliação deve ser uma atividade conjunta entre professor e aluno, com responsabilidades mútuas, tendo sempre como meta a aprendizagem”. (QUELUZ, 1996 apud CAETANO, 2004, p. 20). Caetano (2004) conclui que, o essencial é estar aberto para o novo, para o inusitado, para o inesperado, e aceitar o novo como um desafio. Segundo os autores Schirmer e Costa (2004) o professor vem sendo observado em seu fazer pedagógico. Há o professor tradicional, considerado o detentor do saber e espera do aluno a memorização. Há também o professor democrático, aquele que Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 58 facilita o processo de ensino e aprendizagem, que propicia ao aluno a descoberta do seu próprio fazer. E ainda, existe um terceiro, aquele que ensina por projetos de trabalho, este absorve os aspectos da globalização e da significatividade. Assim, faz com que o aluno busque sua própria autonomia. A intenção da metodologia proposta pelos autores Schirmer e Costa (2004) é a de associar o trabalho pedagógico do professor à realidade sociocultural contemporâneo. Isso exige do professor, conhecimento teórico da disciplina e da sistemática do ensino por projetos de trabalho e uma observação e análise para a tomada de decisão sobre a implantação da ação. Os autores Schirmer e Costa (2004) não aconselham a organização do conhecimento por matérias de ensino isoladamente. Acreditam sim, na metodologia da adoção dos projetos de trabalhos: Sentido significativo da aprendizagem, que considera o conhecimento prévio do aluno; Atitude favorável para o conhecimento, por parte dos alunos, em conexão com os interesses do trabalho do professor; Estrutura lógica e seqüencial dos conteúdos, por parte dos docentes, como ponto de partida para facilitar a compreensão do aluno; Funcionalidade do objeto da aprendizagem, sendo fundamental a relação com os procedimentos que exigem tal princípio; Atribuição de valor à memorização compreensiva, que poderá alavancar novas aprendizagens; Avaliação como subsidiária do processo, com vistas a antecipar decisões, estabelecer relações ou inferir novos problemas. (SCHIRMER; COSTA, 2004, p. 29). Segundo Schirmer e Costa (2004) trabalhar com a metodologia de projetos de trabalho com a língua portuguesa é favorecer a criação de estratégia de organização dos conhecimentos linguísticos no que tange a maneira pela qual a informação será buscada e tratada e a forma como o aluno construirá o seu próprio conhecimento. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 59 Dessa forma, para esse tipo de trabalho é necessário estratégias de organização do conhecimento, isto é, requer por parte do professor e aluno a observância de uma estrutura científica, elaborada em forma de projeto. Assim, definem os autores: Tomada de decisão sobre a escolha da temática a ser trabalhada; Delimitação dessa temática; Estabelecimento de objetivos; Busca das informações necessárias para a revisão bibliográfica; Definição de um problema e conseqüentemente formulação do mesmo; Elaboração do referencial teórico, com base nas fontes de informação; Organização de uma metodologia para a realização do projeto; e, Avaliação. (SCHIRMER; COSTA, 2004, p. 29). Os autores Schirmer e Costa (2004) consideram o ensino por projetos de trabalho uma atividade de contexto comunicativo com o ensino-aprendizagem, onde, supostamente, pode haver a conexão entre a cultura experimental e a cultura acadêmica. O que de certa forma, pode ser bem aproveitada com alunos do ensino médio, uma vez que poderão ingressar na academia universitária já com um prévio conhecimento do que é a proposta do ensino superior: produzir e disseminar conhecimento. Os autores ainda sugerem que a forma de avaliação também siga um redesenho como forma de análise do processo a ser percorrido durante o desenvolvimento dos projetos de trabalho. Segundo Costa citado por Cadore: No final do ensino médio, o aluno deverá aprender a agarrar rapidamente o tema do texto, reconhecer indicadores importantes para a sua compreensão, variar a velocidade de leitura em função dos objetivos da tarefa, aprender a saltar excertos e saber recuperá-los sempre que necessário, controlar predições e antecipações, assegurar da boa compreensão da mensagem. (COSTA, 1996, p. 70 apud CADORE, 2004, p. 39). A sala de aula sempre foi o cenário para alunos e professores realizarem o ato de ensinar e aprender, e o que se sabe, é que muitos pensam que a leitura deve ser praticada somente neste tipo de cenário: a escola. O que muitos não sabem é que a prática de leitura está presente ao nosso dia a dia e essa não se restringe só a leitura Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 60 verbal, e sim, também, ao não verbal (códigos de trânsitos, ícones, símbolos, desenhos, gravuras etc). Ainda, há os que acham que o ensino de leitura está restrito as aulas de língua portuguesa e literatura. O que é um grande engano. A proposta do autor Cadore (2004) é fazer uma reflexão das metodologias do uso de textos em sala de aula. Para ele, a leitura é uma atividade básica e indispensável para motivar, fundamentar, exemplificar, fixar e concluir. A leitura deve ser sempre incentivada durante as aulas de língua portuguesa, através de textos bem escolhidos. Cadore (2004) dá a dica de trabalhar com diferentes tipos de textos: verbais, não verbais, literários e textos não literários. É possível perceber pelo trabalho de Cadore que, é preciso dialogar com aos alunos sobre a função de cada texto a ser trabalhado em sala de aula, explanar sobre o gênero textual, informar para que serve determinado texto e quando deve ser utilizado tal tipologia, uma vez que a função do texto pode ser estética ou utilitária. Para Fiorin (1990 apud CADORE, 2004, p. 42) “o texto literário tem uma função estética e de que o texto não-literário tem uma função utilitária”. Mesmo sendo o texto de uma função estética, ele possui um tema, e esse tema pode ser expresso em um texto com função utilitária. Como exemplo, Cadore (2004, p. 42-43) exemplifica em dois textos que seguem abaixo: Texto 1 Recordo ainda... Recordo ainda... E nada mais importa... Aqueles dias de uma luz tão mansa Que me deixavam, sempre de lembranças, Algum brinquedo novo à minha porta... Mas veio o vento da desesperança Soprando cinzas pela noite morta! E eu pendurei na galharia torta Todos os meus brinquedos de criança... Estrada afora após segui...Mas ai, Embora idade e senso eu aparente, Não vos iluda o velho que aqui vai: Eu quero meus brinquedos novamente! Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 61 Sou um pobre menino... acreditai... Que envelheceu, um dia, de repente!... (QUINTANA, Mário. Poesias. Porto Alegre: Globo, 1962, p. 7-8). Texto 2 Infância Infância [do lat. Infantia] [...] 4. Psicol. Período de vida que vai do nascimento à adolescência, extremamente dinâmico e rico, no qual o crescimento se faz, concomitantemente, em todos os domínios, e que, segundo os caracteres anatômicos, fisiológicos e psíquicos, se divide em três estágios: primeiro infância, de zero a três anos; segunda infância, de três a ste anos; e terceira infância, de sete anos até a puberdade. (FERREIRA, Aurélio B. de Holanda. Novo Dicionário da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p. 942). Ambos os textos tratam do mesmo tema, porém as diferenças são estabelecidas entre o plano de conteúdo e o plano da expressão. O primeiro texto tende a ser mais expressivo, utiliza-se da subjetividade, da estética, dos versos com rimas, da emoção nostálgica, enquanto o segundo texto é objetivo, informativo, construído numa linguagem comum de sentido denotativo. Toda essa proposta do autor Cadore (2004) é fazer com que as aulas de língua portuguesa e literatura sejam sempre motivadoras em relação às práticas de leitura. A missão do professor é fundamental quanto ao esclarecimento ao aluno-leitor, preenchendo as lacunas e desvendando o que se oculta nas entrelinhas dos textos, e assim, estabelecer uma relação com o texto em sala de aula e outros textos. Cadore (2004) fecha sua publicação dizendo que ao concluir o ensino médio, o aluno deverá ter passado por toda a imensa gama de textos: humorísticos, de aventura, românticos, realistas, históricos, folclóricos, literários, informativos, publicitários, populares, de gírias, etc. Cabe ao professor de língua portuguesa demonstrar competência técnica e pedagógica, para promover aos alunos do ensino médio habilidades e competências para lidarem com os diversos tipos de textos. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 62 Contudo, só com uma metodologia de ensino e de avaliação eficaz é que os professores poderão fazer com que os alunos ao final do ensino médio dominem dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna, com conhecimento das formas contemporâneas de linguagem, além de, prepará-los para o trabalho e possibilitá-los prosseguir nos estudos. COMENTÁRIOS SOBRE ALTERNATIVAS METODOLÓGICAS PARA O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO MÉDIO A forma de ensinar e aprender na escola mudou muito nos últimos anos. Nas aulas de língua portuguesa, o ensino de regras gramaticais não tem sido bem aceito por muitos alunos, e ainda, tem sido um desafio para o professor convencer esses alunos das práticas de leituras, principalmente, dos longos textos clássicos. O aluno do século XXI tem se acostumado aos hipertextos, uma vez que, alguns, são menores e objetivos. As mídias virtuais, no caso dos noticiários on line, têm procurado cada vez mais compactar as informações como forma de atrair os leitores. Assim, com mensagens curtas, mas objetivas, os leitores podem em pouco tempo ter acesso a diversas informações. Os leitores da sala de aula atual são, também, os leitores dos hipertextos das mídias virtuais. Diante do exposto, não cabe mais ao professor conduzir o ensino de língua portuguesa da mesma maneira que em décadas anteriores. Aos alunos do ensino médio devem-se propor metodologias alternativas que contemplem um ensino eficaz de língua portuguesa, isto é, diferentes maneiras de se ensinar leitura, produção e compreensão dos textos. Mas, que metodologias poderão ser essas? Essa pesquisa buscou no capítulo anterior, propostas metodológicas de autores que tratam do assunto. Porém, toda a pesquisa é uma pequena amostra do que pode ser Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 63 feito nas salas de aulas, principalmente, nas aulas de língua portuguesa do ensino médio, que é o último ciclo da educação básica. O aluno do ensino médio precisa aprender a ser curioso, precisa gostar de aprender, realizar coisas, trocar ideias sobre diversos assuntos e não se intimidar ao dar opiniões. Ainda, precisa gostar de ler, criar, falar, rir, criticar, debater, participar, argumentar e escrever. Afinal, o ensino médio é a preparação para o mercado de trabalho e a promoção para ingresso na academia universitária. Assim, para contemplar tudo isso, acredita-se na observação do professor em sala de aula e a partir de uma avaliação diagnóstica criar possibilidades ou alternativas metodológicas que contribua para uma aprendizagem significativa dentro da realidade do aluno. A proposta da metodologia da facilitação da aprendizagem é vista como uma saída para ensinar qualquer disciplina na escola, principalmente, a língua portuguesa, porque deve preparar o aluno para ler, escrever e compreender bem diversos textos. O aluno adquirindo bem a habilidade e competência de escrever e de ler é sinal que compreenderá também as regras gramaticais da língua. Porém, para que o aluno possa adquirir uma boa competência e compreensão dos conteúdos na sala de aula, precisa de um grande apoio do professor, isto é, a facilitação para uma aprendizagem. Mas, como facilitar e o que é facilitar? O autor Caetano (2004) chama a atenção para que o termo facilitação não seja interpretado de maneira inadequada ou superficialmente, mas sim, que seja interpretado como uma ação realizada pelo professor em reunir esforços para remover obstáculos, romper barreiras e fazer o aprendiz perceber, por meio da observação, a intra e interdependência entre as coisas e as sociedades do mundo, para a partir daí, poder reinventar a realidade. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 64 Na prática, no caso de uma atividade com interpretação do texto, o professor deverá ensinar o aluno como deverá ler o texto, como o aluno deverá buscar referentes para aquela produção, mostrar a intertextualidade, ensinar como encontrar a temática do texto, a problemática, fazê-lo perceber a intencionalidade discursiva das entrelinhas. A partir das dicas dadas pelo professor e com aplicação de exercícios semelhantes, com objetivos bem estabelecidos, é possível que o aluno possa compreender e aprender mais facilmente pela metodologia da facilitação. No caso da proposta dos autores Schirmer e Costa (2004), é o professor de língua portuguesa utilizar a metodologia do ensino por projetos de trabalho, uma vez que, na visão deles, seria uma alternativa metodológica que faz o aluno compreender as relações entre a teoria e a prática. Ainda, para os autores o desenvolvimento do ensino de língua portuguesa por projetos de trabalho favorecem a criação de estratégias de organização dos conhecimentos linguísticos no que tange à: maneira pela qual a informação será buscada e tratada; e, forma como o aluno construirá o seu próprio conhecimento. Um trabalho dessa forma, pouco se vê utilizando no ensino médio, essa prática de atividades é bem mais trabalhada no ensino superior. Porém, é uma proposta excelente, uma vez que promove ao aluno uma autonomia e emancipação sobre determinados conteúdos e situações de estudos. Numa atividade como essa o aluno poderá aprender a tomar decisões, assim como, aprenderá a fazer a delimitação da temática, estabelecer objetivos e o principal em um tipo de trabalho como esse, irá aprender a definir um problema. O que se percebe é que pouco se ensina os alunos a criarem problemáticas ou indagações, quando estão no ensino básico. Assim, quando chegam ao ensino superior encontram muitas Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 65 dificuldades principalmente em elaboração de projetos, que é algo exigido nas academias universitárias. Essa metodologia de ensino levará o aluno ao planejamento das ações por meio da criação de um cronograma. Também, levará o aluno à busca de informação em referenciais bibliográficos e a criação de uma metodologia para desenvolvimento do projeto. Cadore (2004) dá a dica de trabalhar com diferentes tipos de textos: verbais, não verbais, literários e textos não literários. É possível perceber pelo trabalho de Cadore que, é preciso dialogar com aos alunos sobre a função de cada texto a ser trabalhado em sala de aula, explanar sobre o gênero textual, informar para que serve determinado texto e quando deve ser utilizado tal tipologia, uma vez que a função do texto pode ser estética ou utilitária. O sujeito-aluno deste século está inserido em uma malha textual diversificada. O aluno tem contato com uma infinidade de gênero textual, presentes nas mídias tecnológicas contemporâneas, isso faz com que esse aluno não perceba a sala de aula como os alunos de décadas anteriores. Diante disso, o professor terá que trabalhar com textos da realidade de seu alunado, envolvendo-se nessa realidade, para: conhecer as músicas, os filmes, os textos, os programas de TV, os sites e as redes sociais de seus alunos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Atingir positivamente os objetivos, conforme estabelece os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio - PCNEM, ainda é um grande desafio para os professores em todas as disciplinas escolares. A falta de motivação dos alunos, aliada a dos profissionais da educação e dos governantes, pode ser uma das causas do fracasso Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 66 nas salas de aulas. Sabe-se que sempre a educação teve seus problemas, mas, neste século, não em todos os lugares, há diversas políticas públicas educacionais e educadores que buscam a melhoria no setor educacional, inclusive, pesquisas sobre alternativas metodológicas têm surgidas como contribuição para a melhoria da qualidade do ensino-aprendizagem. O desenvolvimento deste artigo pretendeu ser mais uma contribuição teórica para o ensino de língua portuguesa no ensino médio da educação básica, onde dialeticamente, apresentamos três alternativas metodológicas, que não venha ser teorias absolutas, eficazes e capazes de solucionar todos os problemas nas aulas de língua portuguesa, porém, uma tentativa reflexiva sobre o que pode ser e como pode ser utilizada algumas metodologias em sala de aula. Uma das conclusões é que não existe uma metodologia de ensino totalmente eficiente, que possa contribuir no geral a todas as aulas, uma vez que, não existe sala de aula homogênea, isto é, cada aluno tem sua particularidade, sua maneira de aprender, por isso, uma metodologia de ensino pode contribuir positivamente numa sala e em outra não. Porém, das três alternativas apresentadas neste artigo, acreditamos ser possível utilizar todas nas aulas de língua portuguesa no ensino médio. Com a metodologia da facilitação da aprendizagem o professor poderá intervir estrategicamente e abrir caminho para uma aprendizagem significativa, reunindo esforços para remover possíveis obstáculos e oportunizar que o aluno aprenda pela percepção, isto é, perceba as dicas e modelos apresentados pelo professor para então, aprender a fazer. A metodologia do ensino de língua portuguesa por projetos de trabalho é uma ótima opção para trabalhar com os alunos do ensino médio, uma vez que, prepara e antecipa-os para pesquisas científicas. Essa metodologia de ensino ajuda o aluno a Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 67 perceber a aprendizagem de forma significativa. O aluno aprende a tomar decisões, delimitar a temática da pesquisa, estabelecer objetivos, criar problemáticas, buscar informações em fontes seguras, organizar metodologias, além de aprender a avaliar o seu próprio conhecimento. A terceira alternativa metodológica, acreditamos, também, ser contributiva nas aulas de língua portuguesa no ensino médio, uma que os alunos neste ciclo possuem uma visão de mundo diferente daquela percebida por alunos do ensino fundamental. Os jovens, no dia a dia, são inseridos em um mundo de informações das mais variadas possíveis. A leitura passa a ser exigida a todo o momento, não somente a leitura verbal, mas também, a leitura não verbal. As mídias pulsam informações a todo o momento, e os jovens precisam aprender a lidar com todas essas informações. Diante disso, usar a metodologia de diversos textos em sala de aula pode ser significativo desde que o professor mantenha o diálogo com os alunos sobre a importância da leitura, da escrita, do texto verbal e do não verbal. O aluno precisa aprender a compreender diversos tipos de textos, e para isso, trabalhar em sala de aula com textos que sejam da realidade do aluno é uma contribuição positiva para que o aluno compreenda a importância e a função de cada texto em sua realidade diária. Ao encerrar a pesquisa, temos plena consciência de que há muito que se teorizar sobre alternativas metodológicas para o ensino de língua portuguesa no ensino médio. Assim, nos limitamos a aprofundar sobre a temática, mas acreditamos que esta pesquisa possa ser o início de um estudo sobre outras metodologias para o ensino de língua portuguesa. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 68 REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs. Brasília: MEC/SEF, 1997. CADORE, Luiz Agostinho. O uso de textos em sala de aula. In: Ensino de Línguas e Literatura: alternativas metodológicas. Canoas: Ulbra, 2004. CAETANO. Santa Inês Pavinato. Facilitação da aprendizagem: uma alternativa metodológica. In: Ensino de Língua e Literatura: alternativas metodológicas. Canoas: Ulbra, 2004. LDB. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei n. 9394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: Senado Federal, 2008. LODI, Lucia Helena. Subsídios para uma reflexão sobre o Ensino Médio. Brasília/SEB, 2004. PCNEM. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio: bases legais e linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: Mec/SEF, 2000. RIOLFI, Claudia et al. Ensino de Língua Portuguesa. São Paulo: Cengage Learning, 2008. SCHIRMER, Marlene; COSTA, Tania Maria Steigleder. O redesenho do ensino de língua portuguesa por projetos de trabalho. In: Ensino de Línguas e Literatura: alternativas metodológicas. Canoas: Ulbra, 2004. XAVIER, Antônio Carlos. Como fazer e apresentar trabalhos científicos em eventos acadêmicos. Recife: Rêspel, 2010. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 69 Ansiedade e seus subprodutos à luz da abordagem AnalíticoComportamental em um caso psicoterapêutico Leila Gracieli da Silva1 Abraão Roberto-Fonseca2 1 1 Psicóloga graduada pela UNESC- Faculdades Integradas de Cacoal –RO. Metre em Psicologia: Teoria e Pesquisa do Comportamento – UFPA- PA. Professor de Psicologia das Faculdades Integradas de Cacoal - RO RESUMO O conceito de ansiedade é de complexa definição porque é utilizado de forma imprecisa e acaba por ocasionar divergências conceituais e metodológicas. A mensuração científica do referido conceito indica um estado que envolva: excitação biológica ou manifestações autonômicas e musculares, redução na eficiência comportamental, respostas de fuga ou esquiva e verbalizações de estados internos desagradáveis. Tendo em vista que a ansiedade não é a causa dos comportamentos e sim um conjunto de comportamentos emitidos sob o controle de determinadas contingências, destaca-se neste trabalho como um subproduto da ansiedade o Transtorno Erétil Masculino. Trata o presente trabalho do estudo de caso de um cliente atendido em uma Clínica-Escola na cidade de Cacoal-RO, com o objetivo de traçar um estudo de caso cuja demanda era ansiedade e suas subdivisões à luz da análise do comportamento. O procedimento incluiu a escuta terapêutica, o uso, inicial, de audiência não-punitiva, aplicação da técnica de relaxamento progressivo de Jacobson, role-playing, feedback e fala intervencional. Os resultados mostraram que a disfunção erétil estava sobre o controle de contingências sócio-verbais. Com a diminuição das verbalizações referentes às contingências reforçadoras dos comportamentos ansiosos o cliente passou a emitir relatos de autoconhecimento e busca por novas fontes de reforçamento primário. PALAVRAS-CHAVE: Terapia analítico-comportamental; Ansiedade; Transtorno erétil masculino. ABSTRACT Anxiety seems to be a phenomenon determined by a variety of events in behavioral history, regard on that the concept is used in a vague and ultimately result in methodological and conceptual differences. The scientific measurement of this concept indicates a conjunction of responses that involves muscles and autonomic manifestations, decrease in efficiency of repertoire, behavioral responses of escape or avoidance, and verbalizations of unpleasant internal conditions. In this work will be analyzed the relation between the concept of anxiety as a product of Male Erectile disorder. A client-case study served in a Psychotherapeutic Faculty School in of CacoalRO city, aiming to draw a case study whose demand was classified as anxiety and their subdivisions in the light of the Radical Behaviorism. The procedure included therapeutic listening, the use of non-punitive audience, and submission of Jacobson's progressive relaxation technique, role-playing, feedback and interventional speech. The results showed that erectile dysfunction was about controlling verbal social contingencies. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 70 KEY WORKS: Analytical-behavioral therapy; Anxiety; Male erectile disorder. Clientes vêm para a terapia, frequentemente almejando livrar-se de sentimentos descritos como sendo “dolorosos”, por exemplo, ansiedade, depressão, medo, solidão etc (KOHLENBERG, 1987 apud BRANDÃO, 1999). Alguns desses comportamentos representam subprodutos do controle aversivo exercido pela comunidade social em que o indivíduo se encontra inserido (MOREIRA, 2007). Segundo a abordagem analítico-comportamental tais sentimentos, assim como no caso dos “pensamentos” e “cognições”, são intitulados de comportamentos privados. Tais comportamentos são acessíveis apenas a um indivíduo, dentro da pele de cada organismo (SKINNER, 2003), em síntese, comportamentos privados são estímulos e respostas acessíveis apenas ao indivíduo que age (MEYER, PRETE, ZAMIGNANI, BANACO, NENO e TOURINHO, 2010). Os repertórios privados não possuem propriedades especiais, podem ser descritos verbalmente e analisados como as demais categorias comportamentais (BORBA e TOURINHO, 2009). A relação existente entre um estímulo e sua resposta é denominada comportamento (SKINNER apud SÉRIO, MICHELETTO e ANDERY, 2007). A aquisição e a manutenção de qualquer repertório comportamental dá-se em função de contingências reforçadoras (BRITO, 2004). Investigar a função da emissão do comportamento e analisar as variáveis que o controlam/mantém é tarefa do terapeuta analítico comportamental (FIGUEIRÊDO, 2005). A análise funcional é um método empírico e gerativo (VANDENBERGHE, 2004), de modo que analisar funcionalmente um dado comportamento implica em descrever quais variáveis estão controlando-o, bem como quais contingências o mantêm, ou seja, a função do comportamento estar sendo emitido e mantido (SKINNER, 2003). Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 71 O comportamento é uma disciplina cientifica passível de mensuração e difícil de ser submetido a uma análise mais criteriosa por ser extremamente complexo, com isso os cientistas tem um dispêndio energético grande no estudo de técnicas na tentativa de solucionar os problemas referentes ao comportamento (SKINNER, 2003). Em sessão terapêutica os comportamentos são mutuamente influenciados e as intervenções do terapeuta podem assumir múltiplas funções (COLOMBINI e PERGHER, 2009). Ireno (2007) argumenta que algumas habilidades do terapeuta podem colaborar para a melhora do cliente, dentre as quais destaca-se o estabelecimento de uma relação positiva com o cliente, também denominado de aliança terapêutica. A referida habilidade pode ser desenvolvida por intermédio da audiência nãopunitiva, permitindo ao cliente falar sobre assuntos considerados “difíceis” e que foram possivelmente punidos ao longo da história comportamental do mesmo (COLOMBINI e PERGHER, 2009). Segundo Ireno (2007) ter capacidade de tranqüilizar, oferecer apoio, punir, extinguir comportamentos disfuncionais e encorajar o cliente no enfrentamento de situações problemáticas são habilidades de cunho importante no processo terapêutico, que contribuirão na modificação do comportamento identificado como problema. O terapeuta analítico-comportamental ao prestar serviços deve possuir embasamento teórico pertinente, dominar os conceitos propostos pela abordagem, ter consciência de que cada cliente/indivíduo é único, dotado de um repertório de comportamentos exclusivos (MEYER et al., 2010). As indagações feitas pelo terapeuta ocasionam a descrição dos comportamentos e pensamentos presentes no repertório do cliente, possibilitando relacioná-los com o ambiente em que ele está inserido (SKINNER, 1969 apud GUILHARDI, 2001). Deste modo, o atendimento terapêutico é um espaço que propicia o autoconhecimento, em que Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 72 a função do terapeuta é auxiliar o cliente, questionando, sugerindo, enfim, criando contingências para que o cliente aprenda a discriminar seus próprios comportamentos, a função destes e os reforçadores que os mantêm (GUILHARDI, 2001). Partindo da perspectiva behaviorista radical as variáveis que determinam o comportamento, seja ele público ou privado, encontram-se no ambiente em que o organismo está inserido (SKINNER, 2003). O ambiente cria situações para que haja a emissão destas respostas e não se restringe apenas ao local onde as coisas ocorrem, englobando todo o histórico comportamental do sujeito, fornecendo ocasião para o seu responder, acarretando conseqüências que poderão ser reforçadas ou punidas (SÉRIO, MICHELETTO e ANDERY, 2007). Ainda de acordo com as autoras supracitadas, todo comportamento é produto de contingências em três níveis: a história da espécie (filogenética), a história do indivíduo (ontogenética) e a história da cultura em que o organismo se encontra inserido. Banaco (1994) explica que todos os comportamentos são adaptativos dentro das contingências que os mantêm. Portanto, se um determinado comportamento é emitido é porque ele possui uma função, mesmo no caso dos comportamentos ansiosos. O conceito de ansiedade é de complexa definição porque é utilizado de forma imprecisa acarretando divergências conceituais e metodológicas (COELHO e TOURINHO, 2008). O termo faz referência a eventos bastante diversos, tanto no que diz respeito aos estados internos, quanto aos processos comportamentais que produziram tais estados. Todavia, o constructo vem sendo definido como um estado emocional desagradável, acompanhando de desconforto somático (ZAMIGNANI e BANACO, 2005). Dentro da abordagem analítico-comportamental as divergências acerca da ansiedade podem estar relacionadas à complexidade do assunto, haja vista que envolve Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 73 inúmeras variáveis e cada estudioso enfatiza aspectos diferenciados. Sendo assim, os autores supracitados sugerem uma divisão do conceito em duas vertentes, uma que aborda os operantes não verbais e outra com foco nos operantes verbais (COELHO e TOURINHO, 2008). Na primeira vertente de estudos enfatizam-se contingencias que incluem um estímulo pré-aversivo, um estímulo aversivo e uma resposta ansiosa (emocional) eliciada pelo pré- aversivo. Já na segunda vertente o foco está na linguagem como fonte de controle de respostas de ansiedade e relações indiretas entre estímulos públicos e privados. Respostas verbais, descritivas de ansiedade, são eliciadas por ações respondentes (o funcionamento biológico do organismo), sendo que, estas ações em conjunto com as ações operantes (ações manifestas) compõem o comportamento ansioso (LUDIN, 1977 apud MOREIRA, 2007). O comportamento verbal é definido como sendo o comportamento emitido por um falante, que teve essa resposta eliciada por um antecedente específico e que ocasionou uma conseqüência (CATANIA, 1999). Não há diferença do comportamento verbal para os demais comportamentos, haja vista que seguem o mesmo princípio dos repertórios operantes, ou seja, são capazes de ocasionar alterações ambientais. As conseqüências do comportamento verbal são mediadas por um ouvinte treinado pela comunidade sócio-verbal e a importância deste comportamento é o efeito do mesmo sobre o comportamento do ouvinte (BARROS, 2003). O comportamento verbal divide-se em duas categorias funcionais, a primeira é formada pelos seguintes comportamentos: mando, tato, intraverbal, ecóico, textual e transcritivo; a segunda engloba as comportamentos autoclíticos, que possuem função operante (BARROS, 2003). Catania (1999) explica que a função do comportamento verbal é a instrução, haja vista que seres humanos aprendem com outros seres humanos. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 74 O comportamento verbal permite a emissão de resposta discriminada para estímulos especiais, intitulados como “regras” (MATOS, 2001). Regras ou instruções, no sentido aqui apresentado, podem ser compreendidas como sendo estímulos que descrevem contingências (HAYES, 1987 apud JONAS, 2004; MATOS, 2001). Jonas (2004) e Zettle (1990) destacam que seres humanos, na condição de filogeneticamente verbais, são suscetíveis a regras e sua função é adaptativa. Isto significa dizer que o comportamento dos seres humanos pode ser controlado por estas contingências especiais. Regras são eficazes, se instalam rapidamente no repertório do indivíduo e permitem a aquisição de comportamentos complexos (MONTELES, PARACAMPO e ALBUQUERQUE, 2005). A comunidade sócio-verbal modela tanto o comportamento não-verbal quanto o verbal, desde a aquisição e manutenção até o seguimento de regras (JONAS, 2004; FIGUEIRÊDO, 2005). Dentre os comportamentos governados por regras explicita-se: seguir conselhos, instruções, ordens, leis, dicas, roteiros, ou qualquer operante verbal que especifique uma contingência (JONAS, 2004). As descrições verbais que o cliente faz, seguindo regras do terapeuta, tentem a controlar seus comportamentos (pensamento-ação), produzindo auto-observação e ocasionando autoconhecimento (GUILHARDI, 2001). O referido autor destaca que em terapia, quando o cliente passa a seguir suas próprias contingências verbais diz-se que ele está sob controle de auto-regras e possivelmente mais bem preparado para lidar com o mundo. Regras serão intituladas de auto-regras quando são produtos do comportamento verbal da “própria pessoa” (ZETLE, 1990 apud GUILHARDI, 2001). O senso comum, o que inclui os clientes que vem à terapia, descreve verbalmente o estado de ansiedade por meio de sensações físicas, tais como “frio na Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 75 barriga”, “coração apertado”, “nó na garganta”, “suor nas mãos” e sensação de estar paralisado (ZAMIGNANI e BANACO, 2005). A mensuração científica do referido conceito indica um estado que envolva: excitação biológica ou manifestações autonômicas e musculares (taquicardia, respostas galvânicas da pele, sensação de sufocamento, sudorese e tremores nas mãos); redução na eficiência comportamental (decréscimo em habilidades sociais, dificuldades de concentração); respostas de fuga ou esquiva (o que sugere a busca por controle de eventos futuros) e relatos verbais de estados internos desagradáveis (angústia, insegurança, mal-estar indefinido, apreensão, etc.) (ZAMIGNANI e BANACO, 2005). De acordo com a teoria analítico-comportamental a ansiedade é uma resposta a estímulos ambientais instalada no repertório do organismo sob o controle de contingências aversivas experienciadas anteriormente (MOREIRA, 2007). A ansiedade é um subproduto emocional do controle aversivo que acompanha comportamentos de fuga ou esquiva, podendo variar de intensidade, envolvendo respostas fisiológicas e modificações a nível operante (SKINNER, 2003). A ansiedade não é a causa dos comportamentos e sim um conjunto de comportamentos emitidos sob o controle de determinadas contingências (SKINNER, 1969). Subprodutos são relativos a quatro aspectos envolvidos na relação organismoambiente: a topografia da resposta; a situação na qual ocorre a resposta; a manutenção da resposta; e a quem a relação organismo-ambiente atende especificamente (ANDERY e SÉRIO, 2007). A ansiedade seria uma resposta emocional resultante da apresentação de um estímulo (pré-aversivo) que antecede um estímulo aversivo e que repercute na emissão dos comportamentos operantes, passíveis de observação pública. Expor o organismo a estimulações pré-aversivas, passíveis ou não de controle, produz uma condição Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 76 fisiológica particular, que acontece em conjunto com uma mudança na topografia de resposta do indivíduo (COÊLHO, 2006). O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV, 2002) descreve os sintomas que classificam os transtornos ansiosos, a saber: taquicardia, falta de ar, sensação de desmaio, apreensão, medo do ridículo, perda de interesse e de motivação, esquiva das situações habituais da vida e procura de companhia. O referido manual classifica os transtornos de ansiedade das seguintes formas: 1) Ataque de pânico; 2) Transtorno do Pânico; 3) Agorafobia; 4) Transtorno do Pânico com agorafobia; 5) Fobia específica; 6) Fobia social; 7) Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC); 8) Transtorno de estresse pós-traumático; 9) Transtorno de estresse agudo; 10) Transtorno de ansiedade generalizada; 11) Transtornos de ansiedade devido a uma condição médica geral; 12) Transtornos de ansiedade induzido por substâncias, e, 13) Transtornos de ansiedade sem outra especificação. Destaca-se como subprodutos da ansiedade o transtorno erétil masculino, que é associado com a emissão de comportamentos públicos ansiosos frente à possível obtenção de reforçadores primários (sexo), incluindo o medo do fracasso e uma significativa redução do prazer e da excitação sexual. O referido transtorno possui como característica essencial a incapacidade persistente ou recorrente de obter ou manter uma ereção adequada até a conclusão da atividade sexual, a perturbação acarreta acentuado sofrimento e dificuldades interpessoais (DSM- IV, 2002). O transtorno erétil masculino possui diferentes cursos, sendo que seu início pode variar de indivíduos que nunca experienciaram uma ereção (crônico), para os casos adquiridos e casos situacionais. Este último depende do tipo de parceira (o), da intensidade ou da qualidade do relacionamento e podem ser episódicos e/ou recorrentes. Fatores socioeconômicos tais como, baixa renda e baixo nível de escolaridade, Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 77 desemprego, estado civil solteiro têm sido associados à presença de disfunção sexual (ABDO, OLIVEIRA, SCANAVINO e MARTINS, 2006). O presente trabalho apresentada oito sessões de terapia de um cliente atendido em uma Clínica-Escola da cidade de Cacoal-RO, objetivando traçar um estudo de caso cuja demanda era ansiedade e suas subdivisões à luz da análise do comportamento. O cliente foi atendido por uma estagiária do último ano do curso de Psicologia (chamada daqui em diante de “terapeuta”). As sessões eram gravadas, transcritas e posteriormente a terapeuta confeccionava um relatório e discutia o caso com o supervisor, mestre em análise do comportamento, em conjunto com um grupo de 9 acadêmicos. MÉTODO Cliente O cliente é homem (aqui denominado de D.), brasileiro, 34 anos, separado a quatro anos de um casamento de 12 anos, escolaridade Ensino Fundamental Incompleto. Mora sozinho, trabalha como pedreiro e carpinteiro na zona rural e visita os 4 filhos, que moram com sua mãe, nos finais de semana. D. autorizou a presente publicação por meio de um Consentimento Livre e Esclarecido assinado e entregue à terapeuta, de acordo com os critérios estabelecidos pela Faculdade. D. não havia realizado nenhum atendimento psicológico anteriormente. A queixa verbalizada no início da terapia foi descrita como: indicação médica decorrente do quadro de disfunção erétil há quatro anos, desde sua separação. O cliente destacou ainda dificuldade nos relacionamentos interpessoais. Local Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 78 As sessão foram realizadas em uma Clínica-Escola. As salas utilizadas foram: a sala 4, 5 e 6. Em todas havia uma mesa, duas cadeiras e um ar-condicionado. Procedimento Este trabalho constou de oito sessões de 50 minutos realizadas por intermédio de escuta terapêutica, audiência não-punitiva inicial, feedback, role-playing, fala intervencional e aplicação da técnica de relaxamento progressivo de Jacobson, na ordem descrita a seguir. Triagem Objetivo: Caracterizar o cliente e elencar a demanda principal. Instrumentos: Escuta terapêutica e audiência não-punitiva. Primeira sessão Objetivo: Identificar a freqüência de reforços primários (sexo) e investigar se o cliente se masturba. Instrumentos utilizados: Escuta terapêutica. Segunda sessão Objetivo da Sessão: Investigar a freqüência com que o cliente se masturba, o contexto em que o comportamento é emitido e identificar o repertório privado que elicia o comportamento. Instrumentos utilizados: Escuta terapêutica e feedback. Terceira sessão Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 79 Objetivo da Sessão: Identificar os sintomas ansiosos de acordo com o DSM-IV e possíveis comorbidades de disfunção sexual; classificar a origem e a magnitude da emissão de respostas ansiosas. Instrumentos utilizados: Escuta terapêutica. Quarta sessão Objetivo da Sessão: Aplicar a técnica de relaxamento progressivo de Jacobson e observar em qual grupo muscular o cliente tem maior dificuldade para tencionar e relaxar. Instrumentos utilizados: Técnica de relaxamento progressivo (Jacobson), escuta terapêutica e feedback. Quinta sessão Objetivo da Sessão: Investigar demanda de repertório de ansiedade e propor situação de conversa com alguém do sexo oposto. Instrumentos utilizados: Escuta terapêutica e fala intervencional. Sexta sessão Objetivo da Sessão: Investigar topografia comportamental durante role-playing e pensamentos concomitantes; questionar acerca da tarefa prescrita na sessão anterior Instrumentos utilizados: Escuta terapêutica, fala intervencional e role-playing. Sétima sessão Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 80 Objetivo da Sessão: Realizar análise funcional dos repertórios privados que ocasionam ansiedade no cliente e investigar o cumprimento da tarefa proposta. Instrumentos utilizados: Escuta terapêutica e fala intervencional. Oitava sessão Objetivo da Sessão: Investigar o que o cliente tateia como “normal” no tocante a obtenção de reforços primários (sexo). Instrumentos utilizados: Escuta terapêutica e fala intervencional. RESULTADOS Os relatos foram separados por categoria, utilizando a análise das verbalizações do cliente acerca dos “Comportamentos-queixa”, que incluiu verbalizações acerca de aspectos problemáticos do comportamento elencado como queixa, sintomas fisiológicos, emocionais e comportamentais e “Variáveis relacionadas”, que inclui relatos de condições ambientais, situações onde os sintomas ocorreram, pessoas presentes, aspectos sócio-econômicos e outras condições ambientais provavelmente relacionadas com o desenvolvimento e manutenção dos comportamentos-queixa. Como mostrarão as sessões resumidas abaixo: Sessão de Triagem Nesta sessão a escuta terapêutica e a audiência não-punitiva foram utilizadas como procedimento para obter informações acerca da condição comportamental que fez com que o cliente procurasse atendimento psicológico. D. pontuou sua queixa e verbalizou: “tenho dificuldades para me relacionar, depois do casamento me fechei e eu quero mudar isso, ninguém pode viver assim. Eu virei um ‘chuchu’. Quem vai querer Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 81 ficar com um ‘chuchu’? Procurei o médico e ele pediu uns exames e disse pra eu procurar atendimento psicológico” (sic). D. verbalizou acerca da separação, dos filhos e do seu ciclo social “reduzido” (sic). Nesta sessão o cliente emitiu duas verbalizações com relação a possíveis pretendentes, fala encaixada na categoria comportamentoqueixa. Primeira Sessão Foram solicitados ao cliente informações sobre o comportamento-alvo, descrição de respostas, condições em que ocorriam e o a descrição dos seus relacionamentos anteriores, na seqüência ocorrida, enfatizando as relações sexuais. D. verbalizou que até os 6 primeiros anos do casamento não teve problemas sexuais: “era normal, a gente tinha relação sexual 2 vezes, 3 vezes por noite, mas no passar do tempo sei lá, parece que o amor foi acabando, né, foi perdendo o valor. Aí então começou ‘faia’, aí eu não conseguia nada” (sic). Pontuou que o casamento terminou por causa da traição da esposa: “depois veio a traição da esposa... aí que desgraçou minha vida todinha... porque eu fiquei com medo assim, de eu entrar em depressão, né. Mais aí eu comecei a ficar com medo de mulher, certo. Via a mulher... assim, eu via como uma decepção na minha vida” (sic). O cliente relatou ter iniciado dois namoros após sua separação. No primeiro D. disse que só conseguiu ter relações sexuais com a namorada porque ela era muito “espontânea e tomava a iniciativa” (sic) e que terminaram porque “algumas atitudes dela, algumas iniciativas que ela tomava, ela corria atrás dos objetivos dela, se ela saísse ela num falava nada comigo, então assim num dava, porque eu queria uma pessoa que me amasse e desse atenção total” (sic). Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 82 Depois desse namoro o cliente iniciou outro relacionamento no qual tentou manter relações sexuais, mas não conseguiu e terminou após 15 dias de namoro, “porque eu queria assim, ter um contínuo com ela, né, não só uma relação, mas sim um relacionamento, mas ela num quis!” (sic). D. relatou que teve uma relação com a ex-namorada e destacou que já havia conversado com ela acerca de como ele se sentia mal diante dos momentos de impotência. Segundo o cliente, desta vez foi natural porque foi de surpresa (sic). Fora essa relação, a última ereção de D. foi há aproximadamente 6 meses.O cliente destacou que não ficava excitado durante os contatos no namoro, nem mesmo quando via uma mulher muito bonita ou quando assistia um filme com cenas de sexo (sic). O cliente verbalizou a vontade e a necessidade de encontrar alguém, mas a dificuldade de se aproximar, ‘chegar’ na pessoa é problema (sic), D. relatou não saber conversar, para ele é difícil iniciar conversas com possíveis namoradas e até mesmo com pessoas adultas, ainda que sem intenção alguma. D. relatou que tem medo de encontrar alguém que não se dê bem com os filhos ou vice-versa, ou que goste dos filhos, mas que ele num goste da pessoa ou ainda que ele goste mais dessa pessoa do que dos filhos. Nesta sessão o cliente emitiu quatro verbalizações acerca de futuras pretendentes (categoria “comportamento-queixa); três verbalizações acerca da dificuldade de encontrar alguém que não se dê bem com seus filhos ou vice-versa e quatro verbalizações referentes à expectativa social para que ele arrume uma namorada/esposa (categoria variáveis relacionadas ao comportamentoqueixa). Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 83 Segunda Sessão Com os dados obtidos na sessão anterior a terapeuta buscou investigar a freqüência, o ambiente e os estímulos antecedentes frente ao comportamento de masturbar-se. D. relatou que se masturba até duas vezes por semana, quando não está trabalhando muito, e que esse comportamento ocorre geralmente durante o banho, dura pouco tempo e é eliciado pelo ‘pensar’ na ex-namorada (sic). O cliente relatou ainda que sente dificuldades em agir rapidamente, “minha mente é lenta... então, eu começo a pensar e fico pensando, pensando pra depois ter uma reação, até mesmo pra trabalhar” (sic). O cliente pontuou que a dificuldade em conversar com outras pessoas é mantida pela vergonha de levar uma “patata” e os outros ficarem rindo (sic), como já aconteceu uma vez durante um trabalho. Segundo o cliente após o ocorrido ele passou mal, travou e não conseguiu fazer nada. D. prefere esquivar-se de situações parecidas com a descrita e verbalizou que antes do casamento e da situação acima descrita ele não tinha dificuldades para conversar. Nesta sessão o cliente emitiu uma verbalização referente à expectativa social para que ele arrume uma namorada/esposa, classificada como variáveis relacionadas ao comportamento-queixa. Terceira Sessão A terapeuta solicitou ao cliente que descrevesse o incidente em que seu patrão havia lhe chamado a atenção, relatado na sessão anterior, objetivando coletar informações para analisar as contingências. D. relatou que ocorreu logo após a separação e que o problema não foi o patrão chamar sua atenção e sim o fazer na frente dos demais colegas de trabalho, “quem tem vergonha não envergonha o outro” (sic). A terapeuta solicitou que o cliente descrevesse como se sentiu fisiologicamente nesse Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 84 episódio, “assim, eu fiquei com vontade de responder e não consegui, não saiu nada. Parece que eu vou explodir dentro de mim, mas eu engulo. Falta me dar um infarto... eu suo, vou suando, suando dos pés a cabeça de nervosismo, falta suar sangue. O coração acelera, as mãos treme” (sic). A TS pediu ao cliente que elencasse as situações em que ele apresentava os sintomas descritos. O cliente respondeu situações de possível emissão de reforçadores primários (sexo), episódios em que alguém lhe chama a atenção ou brigam com ele, quando recebe notícias súbitas de casos de doença na família e em situações de paquera. D. ressaltou que não consegue manter relações sexuais quando a parceira faz algum comentário acerca do tamanho do seu pênis, “a mulher olhar pra mim e dizer assim “pô seu pênis é pequeno’ aí cabo, perde o encanto, fico com vergonha... e a mente fica em branco” e os sintomas ansiosos aparecem (sic). O cliente relatou que acredita ter o pênis pequeno e que tem medo das pessoas ficarem comentando e por isso deixa de se envolver com mulheres. Nesta sessão o cliente emitiu duas verbalizações acerca da dificuldade de encontrar alguém que não se dê bem com seus filhos ou vice-versa e uma verbalização referente à expectativa social para que ele arrume uma namorada/esposa, ambas as falas foram inseridas na categoria variáveis relacionadas ao comportamentoqueixa. Quarta Sessão Nesta sessão foi realizada a aplicação da técnica de relaxamento progressivo de Jacobson. Esta técnica consiste em contrair e relaxar grupos musculares progressivamente, promovendo um estado de ausência de tensão nos principais músculos envolvidos na ansiedade. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 85 Quinta Sessão Na referida sessão o cliente relatou, novamente, acerca do medo de se relacionar com alguém que não se dê bem com seus filhos ou não goste deles, “mas o pobrema é que eu vivo para os meus filhos e dividir o amor dessa pessoa com os meus filhos é complicado, vai que ela num gosta deles” (sic). Acerca dos comportamentos ansiosos o cliente disse que nesta semana não discriminou nenhuma resposta de ansiedade, exceto quando telefonou para a ex. Segundo ele, até que ela atenda a chamada ele emite respostas de ansiedade (taquicardia, tremor nas mãos, etc.). O cliente ao longo do atendimento relatou acerca da ex-namorada e verbalizou que tem intenção de chamar ela para conversar sério sobre eles (sic). D. descreveu para a terapeuta como conheceu a ex-namorada e relatou que a aproximação deles intermediada por um amigo. Nesta sessão foi proposto ao cliente que tentasse se aproximar de alguém do sexo oposto e iniciasse um diálogo. Ainda nesta sessão o cliente emitiu uma verbalização referente à expectativa social para que ele arrume uma namorada/esposa, identificada como variáveis relacionadas ao comportamento-queixa e um relato acerca da dificuldade de encontrar alguém que não se dê bem com seus filhos ou vice-versa. Sexta Sessão D. relatou o não cumprimento da tarefa alegando não ter saído de casa devido à chuva em excesso. O cliente verbalizou que na semana passada também não teve oportunidade de sair porque foi em um churrasco da família, “apenas com a família” (sic). A terapeuta pediu que ele tentasse novamente realizar a tarefa. Em seguida foi Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 86 proposto ao cliente um role-playing do telefonema com a namorada, relatado na sessão anterior. Durante a simulação o cliente verbalizou o seguinte pensamento: “porque ela não quer me atender?” (sic). A terapeuta explicou ao cliente que pensamentos são eventos privados e não são capazes de alterar o comportamento das demais pessoas, a menos que se tornem públicos. “Ela nem tá me vendo, né” (sic). A fala do cliente foi consequenciada pela terapeuta. O cliente contou para a terapeuta que entrou em contato com a ex-namorada e que “jogou a dele pra cima dela... eu dei uma indireta nela... Falei assim com ela: eu to sozinho, você também tá, o que cê acha de nóis topa por ai?” (sic). D. não foi consequenciado pela ex-namorada, mas verbalizou que não ficou triste com isso, “Antes eu agia assim... com ansiedade e aflição... medo de levar um fora. Agora, graças a Deus deu uma melhorada, foi cabando aos poucos” (sic). Nesta sessão o cliente emitiu uma verbalização acerca de futuras pretendentes (categoria comportamento-queixa); duas verbalizações acerca da dificuldade de encontrar alguém que não se dê bem com seus filhos ou vice-versa e uma verbalização referente à expectativa social para que ele arrume uma namorada/esposa (categoria variáveis relacionadas ao comportamento-queixa). Sétima Sessão Nesta sessão D. afirmou que não teve como concluir sua tarefa. Inicialmente alegou que não teve como sair por causa da internação da filha e posteriormente verbalizou que estava sem dinheiro: “Sinceramente, pra eu sair sem dinheiro eu não vou não. De mão abanando num saio.” (sic). Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 87 Todavia, o cliente foi capaz de iniciar e manter diálogos com as mulheres que estavam no hospital onde sua filha ficou internada sem a emissão de comportamentos ansiosos, mas pontuou que tem medo de conversar com os médicos e enfermeiras, “dá medo conversar com esse pessoal estudado” (sic). O cliente, em resposta a terapeuta, relatou que sua queixa inicial era: “ser muito tímido e achava eu muito feio. E achava que eu não sabia conversar” (sic). Em seguida a terapeuta relembrou-lhe a queixa inicial e D. pontuou: “Sobre isso aí eu melhorei... eu sinto vontade agora, entendeu. Sinto vontade, tenho vontade de ficar com alguém e meu corpo funciona normal e minha mente também. Mas antes tudo que eu ia fazer eu achava que num ia conseguir...” (sic). No tocante ao treino para discriminar pensamentos que eliciam comportamentos ansiosos o cliente relatou: “sobre isso aí eu tô bom já rapaz. Foi uma veizinha só que você me falou sobre o comportamento de pensar... que você que tem que falar porque o outro não tá vendo o que você tá pensando” (sic). A terapeuta pediu um exemplo e o cliente verbalizou: “antes de conversar com as mães na enfermaria eu pensei assim... se elas iam dar atenção pra mim, mas aí eu cheguei perto dela e perguntei o que a menininha dela tinha e começamos a conversar, sem malícia, só amizade e foi muito legal” (sic). Nesta sessão o cliente emitiu uma verbalização acerca de futuras pretendentes (categoria comportamento-queixa); uma verbalização acerca da dificuldade de encontrar alguém que não se dê bem com seus filhos ou vice-versa e duas verbalizações referentes à expectativa social para que ele arrume uma namorada/esposa (categoria variáveis relacionadas ao comportamento-queixa). Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 88 Oitava Sessão O objetivo da presente sessão foi investigar o que o cliente tateia como normal no se refere às respostas fisiológicas de reforçadores primários (sexo). D. argumentou que: “quando você sente vontade seu corpo reage rapidamente e antes não eu sentia vontade, mas o corpo num respondia” (sic) e que “não precisa ficar pensando muito tempo mais não”. D. verbalizou que não apresenta dificuldades para se masturbar, nem para manter ereções e que isso é o que ele considera como normal (sic). O cliente relatou também acerca da melhora que ocorrera em seu repertório desde o início da terapia, verbalizou o medo que tinha de se aproximar de mulheres devido o sofrimento oriundo do seu casamento: “porque antes eu tinha medo até de uma mulher chegar pra mim pra conversar... e eu ficava pensando porque isso acontecia comigo, aí me dava mais nervoso ainda” (sic). Quanto à ansiedade exacerbada experienciada frente à possibilidade de contato com qualquer mulher: “a partir disso eu peguei medo de mulher... pra mim que todas iam fazer igual ela (ex-mulher)... eram iguais a ela. Mas agora não, agora eu sei que tem muita mulher diferente dela, que já sofreu também e sabe como é ruim” (sic). A terapeuta consequenciou a resposta discriminada pelo cliente. Em seguida, D. pontuou acerca do treino para realizar a análise funcional dos comportamentos privados: “isso sim, eu acho que isso aí eu num perco mais. Porque assim... eu aprendi que tem preocupações que é sem futuro, né. Meu medo é só de levar um fora, mas se eu num tentar nunca vou conseguir também... então, bola pra frente, eu tenho é que perguntar porque num sei o que a mulher tá pensando... se ela vai me dar um fora ou se ela vai querer ficar comigo, né (riso)” (sic). Nesta sessão o cliente emitiu uma verbalização acerca de futuras pretendentes (categoria comportamento-alvo); uma verbalização acerca da dificuldade de encontrar Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 89 alguém que não se dê bem com seus filhos ou vice-versa e nenhuma fala referente à expectativa social para que ele arrume uma namorada/esposa (categoria variáveis relacionadas ao comportamento-queixa). 4,5 4 Comportamento-‐Alvo 3,5 Filhos-‐ Variável relacional. 3 ExpectaFva social-‐Variável relacional 2,5 2 1,5 1 0,5 0 Sessão1 Sessão2 Sessão3 Sessão4 Sessão5 Sessão6 Sessão7 Sessão8 Figura 1. Frequência das verbalizações do cliente acerca dos comportamentos-alvo e variáveis relacionadas (filhos e expectativa social). As verbalizações do cliente referentes ao comportamento-alvo aparecem em maiores escores no início dos atendimentos psicológicos, com o decorrer das sessões diminuem significativamente de freqüência. A variável relacional “filhos”em nenhuma sessão foi verbalizadas com freqüência igual ou superior ao comportamento-alvo, mas apareceu com freqüência média nas sessões 1,3 e 6. A variável relacional “expectativa social” apareceu com escores semelhantes ao comportamento-alvo na primeira sessão seguida de uma diminuição e destaque na sessão 7. DISCUSSÃO No caso de D. é possível observar que o quadro de ansiedade – aqui descrito enquanto um conjunto de repertórios delimitados topograficamente - está sob o controle de múltiplas variáveis no histórico de desenvolvimento de repertório adequados e inadequados: a separação: a cobrança dos indivíduos identificados como fonte de Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 90 reforço social para que D. arrume uma namorada/esposa e o “medo” que o cliente tem de que essa pretendente não se dê bem com seus filhos ou vice-versa. Esses comportamentos representam subprodutos do controle aversivo exercido pela comunidade social em que o indivíduo se encontra inserido (MOREIRA, 2007). Ainda segundo o referido autor e à luz da teoria analítico-comportamental, a ansiedade é uma resposta a estímulos ambientais instalada no repertório do organismo sob o controle de contingências aversivas delineadas pelo histórico do indivíduo. Tal constructo é tema recorrente na literatura clínica para o atendimento do comportamento descrito como “desajustado” (SANDLER e DAVIDSON, 1973 apud MOREIRA, 2007). A vivência da traição pela ex-esposa foi identificada como aversiva, e concomitantemente foi instalado um quadro de disfunção sexual situacional oriundo do repertório de ansiedade frente obtenção de possíveis reforços primários (sexo), mesmo antes da separação, como foi verbalizado na primeira sessão: “parece que o amor foi acabando, né, foi perdendo o valor. Aí então começou faiá... aí eu não conseguia fazer nada” (sic). O uso de audiência não-punitiva no início da terapia é fundamental para o engajamento do cliente no processo – estabelecimento do rapport, isto porque este procedimento auxilia o cliente a falar sobre eventos que foram punidos por outras fontes de reforço social ao longo da história de vida do mesmo e construção do “aliança terapêutica” entre a díade terapeuta-cliente (COLOMBINI e PERGHER, 2009). Observa-se que o quadro de disfunção erétil masculina situacional do cliente em questão estava sob controle de contingências sociais aversivas passadas e auto-regras, como a fala pontuada na primeira sessão: “Eu virei um chuchu” (sic), “depois que veio a Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 91 traição da esposa aí que desgraçou minha vida todinha... aí eu comecei a ficar com medo de mulher... eu via como uma decepção na minha vida.” (sic). Foi possível observar que o cliente percebe o pênis como pequeno e que este comportamento está sob o controle de contingências sócio-verbais (verbalizações de amigos e de mulheres, fontes de reforço primário - sexo) e possivelmente estava mantendo os comportamentos ansiosos frente a situações que antecediam a obtenção de reforçadores primários (sexo), como evidenciado no seguinte relato: “a mulher olhar pra mim e dizer assim ‘pô seu pênis é pequeno’ aí cabo, perde o encanto, fico com vergonha... e a mente fica em branco e os sintomas ansiosos aparecem (sic).” O transtorno erétil masculino é associado com a emissão de comportamentos públicos de ansiedade (sudorese, tremores nas mãos, etc) frente à possível obtenção de reforçadores primários (sexo), incluindo verbalizações referentes ao medo do fracasso na relação e uma significativa redução do prazer e da excitação sexual (DSM-IV, 2002). Este fato foi observado no relato do cliente, quando destacou que “já havia conversado com a ex-namorada acerca de como ele se sentia mal diante dos momentos de impotência” (sic). Coelho e Tourinho (2008) argumentam que comportamentos ansiosos estão relacionados a inúmeras variáveis e deste modo, cada estudioso enfatiza aspectos diferenciados. Tomando como ponto de partida a corrente científica com foco nos operantes verbais destaca-se que, em terapia, as mudanças nos comportamentos verbais têm conseqüência para as demais categorias comportamentais (MOREIRA, 2007). Guilhardi (2001) explicita que as descrições verbais feitas pelo cliente, seguindo regras do terapeuta, tentem a controlar seus comportamentos (pensamento-ação), produzindo auto-observação e ocasionando autoconhecimento. O autoconhecimento faz Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 92 com que o cliente passe a seguir auto-regras e possivelmente esteja mais bem preparado para lidar com o mundo. Moreira (2007) destaca que a meta central da terapia analítico-comportamento é treinar o cliente para que ser capaz de emitir resposta discriminada de autoconhecimento, o que compreende a descrição do seu próprio comportamento e das variáveis das quais ele é função. O treino realizado para emitir resposta discriminada dos comportamentos privados que eliciavam ansiedade em conjunto com os demais procedimentos utilizados em sessão contribuíram para modelar o autoconhecimento do cliente, haja vista que as preocupações com pretendentes futuras, com a expectativa social para que ele arrumasse uma pretendente e que ela tivesse um bom relacionamento com os filhos diminuíram de freqüência no decorrer dos atendimentos. Destaca-se que o cliente ainda está em terapia para aprender a emitir resposta discriminada de outras variáveis presentes em seu repertório comportamental. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 93 REFERÊNCIAS ARBO, C.H.N., OLIVEIRA, V.M.Jr., SCANAVINO, M.T., MARTINS, F.G. Disfunção erétil – resultados do estudo da vida sexual do brasileiro. Rev. Assoc Med Bras V.52 (6) 2006, pág. 424-429. ALBULQUERQUE, N.M.A., PARACAMPO, C.C.P., ALBUQUERQUE, L.C. Análise do papel das variáveis sociais e de conseqüências programadas no seguimento de instruções. Psicologia reflexão e crítica, 2004, vol 17(1), pp. 31-42. ANDERY, M.A., MICHELETTO, N., SÉRIO, T.M. Modo causal de seleção por conseqüências e a explicação do comportamento. Laboratório de psicologia experimental. Programa de estudos pós-graduados em psicologia experimental: análise do comportamento. 2007. ANDERY, M.A., MICHELETTO, N., SÉRIO, T.M. Definição de comportamento. Laboratório de psicologia experimental. Programa de estudos pós-graduados em psicologia experimental: análise do comportamento. 2007. BRANDÃO, M.Z.S. 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Assis Rodrigues1 Vanessa de Araújo Martins1 Abraão Roberto-Fonseca2 Ricardo Alexandre Aneas Botta3 1 Acadêmicas do 9º período do curso de Psicologia da UNESC- Faculdades Integradas de Cacoal-RO. 2 Mestre em Psicologia: Teoria e Pesquisa do Comportamento pela Universidade Federal do Pará – PA. Professor das Faculdades Integradas de Cacoal – RO. 3 Psicólogo, mestre em educação especial pela Universidade Federal de São Carlos -SP, coordenador do curso de Psicologia da UNESC- Faculdades Integradas de Cacoal-RO. RESUMO O presente trabalho teve como objeto de estudo a avaliação dos estilos de aprendizagem da turma 1ºB do curso de Engenharia Ambiental de uma Faculdade particular do interior de Rondônia, a partir da literatura científica e de dados obtidos em campo, coletados em 40 sujeitos, que tinham em média 20 anos de idade, através do Inventário ILS (Index on Learning –Styles) de Felder e Soloman, composto por 44 questões, com duas alternativas, divididas em 11 categorias para cada dimensão investigada: ativos/reflexivos; sensoriais/intuitivos; visuais/verbais; sequenciais/globais.O escopo do trabalho foi identificar e analisar os estilos de aprendizagem dos discentes da turma, bem como a sua dinâmica com os diferentes aspectos de ensino. Os resultados apontaram um predomínio nos estilos ativo, sensitivo, visual e sequencial destacando uma grande diferença entre seus opostos. Defende-se, finalmente, a relevância científica da realização de estudos que investiguem os estilos de aprendizagem dos alunos para que os mesmos possam contribuir através de sugestões de melhorias, tanto para docentes quanto para os discentes, acerca das formas de melhor assimilação do conteúdo e também da necessidade de compreender todos os estilos para uma formação mais significativa. PALAVRAS-CHAVE: Acadêmicos; Engenharia Ambiental; Estilos de aprendizagem. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 96 Learning psychology: learning-styles of environmental engineering students in a private faculty of Rondônia State ABSTRACT The current study had as study goal the evaluation of the style of learning of the class B of the 1st course in Environmental Engineering from a private in the interior of Rondônia, from the scientific literature and field data collected in 40 subjects, who had average 20 years old, through the inventory Felder and Soloman ILS (Index on Learning Styles), composed of 44 questions with two alternatives, divided into 11 categories for each dimension investigated: active/reflective; sensory/ intuitive; visual/verbal; sequential/global. The scope of study was identify and analyze the learning styles of students in class, as well as its dynamics with the different aspects of teaching. The results showed a predominance in styles active, sensory, visual and sequential highlighting a big difference between their opposites. It is argued, finally, the scientific relevance of studies to investigated the learning styles of students so that they can contribute through suggestions for improvements, both for teachers and the for students, about ways to better assimilation of the content and also the need to understand all styles for a more meaningful training. KEY-WORDS: Academic; Environmental Engineering; Learning styles. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 97 O Ministério da Educação (1999) estabelece diretrizes curriculares para os cursos de Engenharia, enfatizando que os alunos ingressos nestes cursos devem adquirir habilidades e competências matemáticas, científicas e tecnológicas, tanto à engenharia como a comunicação oral, escrita e gráfica eficientes. Partindo deste pressuposto e considerando os elevados índices de evasão e repetência nos cursos de engenharia, estudiosos vêm tentando desenvolver experiências para minimizar as dificuldades apresentadas por discentes e docentes dos cursos da área de exatas (CURY, 2000). Um estudo realizado por Correia e Cheng (2001) na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo-SP, com docentes e discentes dos cursos de engenharia. teve como objetivo identificar os Estilos de Aprendizagem observáveis nos professores e discutir os resultados e suas implicações no processo de ensino aprendizagem em relação aos resultados nos estudos com discentes dos cursos de engenharia, na tentativa de contribuir com a adequação e direcionamento do plano estratégico-metodológico para abranger os conteúdos ministrados nas aulas, contribuindo para uma melhor formação dos profissionais de engenharia. Segundo Cury (2000), para que o discente compreenda o emprego das ferramentas utilizadas em sala de aula faz-se necessário que o mesmo assimile o conteúdo e tenha sua curiosidade aguçada, acarretando em uma aprendizagem significativa. Diante destes fatos, a referida autora propõe os seguintes questionamentos: “Quais são as especificidades do processo de aprendizagem, especialmente de disciplinas matemáticas?”. Considerando a gama de respostas para esta pergunta, Cury (2000) ainda destaca a importância de conhecer os estilos de aprendizagem dos alunos, assim como Benfatti, Franco e Bustamante (2005) ressaltam a necessidade de entendermos como funcionam os processos de aprendizagem. De acordo com Cury (2000) os processos de aprendizagem são influenciados por fatores físicos, ambientais, culturais, afetivos e sócio-econômicos. Em concordância com a autora supracitada Cerqueira (2006) afirma que a aprendizagem ocorre quando há ligação entre informação, conhecimento e saber. Quando o indivíduo recebe informações transmitidas por outros, são capazes de incorporar esse novo conhecimento às suas estruturas mentais já Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 98 formadas. Desta forma, constrói-se o saber a partir de experiências e vivências do dia-a-dia. Haja vista que as primeiras aprendizagens ocorrem no seio das relações familiares, e mais tarde estendem-se para o contexto escolar. Há algumas variáveis externas que atravessam o processo em sala de aula, tais como: o papel do professor, interação entre o saber e o conhecer, assim como entre alunos e professores, vínculos afetivos, cognitivos e sociais, estilos de aprendizagem e escuta sensível (CERQUEIRA, 2006). Estudiosos do assunto postulam diferentes teorias que contribuem para o processo de aprendizagem e exercitam a idéia que há necessidade de uma visão individualizada, atribuindo o desenvolvimento cognitivo a um modo particular de aprender (CAVELLUCCI, 2003). Ainda que definições de estilos, habilidades e estratégias apresentem-se com terminologias e instrumentos distintos para cada autor, é possível observar fatores comuns em suas abordagens, como em Katherine Cook Briggs e Isabel Briggs Mayers, que confeccionaram um instrumento para identificar o ‘tipo psicológico’, o MBTI (Myers-Briggs Type Indicator1) baseado na tipologia de Carl Jung que definiu ‘Sensação e Intuição’ como percepção das coisas, e ‘Pensamento e Sentimento’ para julgamento de fatos. Tais abordagens são muito utilizadas no que ele cita como mundo exterior (mundo das pessoas, coisas e experiências) denominado ‘Extroversão’ e o mundo interior (das reflexões) chamado de ‘Introversão’. Nessa qualidade, este instrumento advém da explicação de quatro dimensões, que quanto juntas definem diferentes tipos Pensamento/Sentimento psicológicos: e Extroversão/Introversão; Julgamento/Percepção. Atualmente Sensação/Intuição; é usado para autodesenvolvimento e exploração de carreiras, aconselhamentos, trabalhos organizacionais, treinamentos, dentre outros. (MYERS apud CAVELLUCCI, 2003) Riding e Stephen (apud CAVELLUCI, 1998) definem o ‘estilo pessoal’ e seus aspectos: o estilo cognitivo (modo como a pessoa pensa) e as estratégias de aprendizagem (processos que o aprendiz utiliza para responder as demandas de ensino) como uma abordagem individual. Estilos de aprendizagem, segundo Felder e Silverman (1988) podem ser definidos como os diferentes modos de executar o processo de recepção e processamento da informação. Os Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 99 estilos de aprendizagem referem-se à maneira pela qual o aluno apropria-se das informações, bem como a forma de processá-las e gerar novos aprendizados. Sendo assim, seres humanos aprendem de maneira diferente, ou seja, possuem diferentes estilos de aprendizagem, sendo que a eficácia em uma determinada atividade depende, muitas vezes, da habilidade em mesclar diferentes estilos (CURY, 2000). Benfatti, Franco e Bustamante (2005) concordam com a referida autora e pontua que os estilos de aprendizagem fazem referência à individualidade de cada um no processo de aprender. Individualidade que refere-se as preferências que sugerem estratégias que facilitam o aprendizado. Felder-Silvermam apud Cury (2000) desenvolveram um instrumento que classifica os estilos de aprendizagem em cinco categorias, a saber: ativos/reflexivos; sensoriais/intuitivos; visuais/verbais; indutivos/ dedutivos; seqüenciais/globais. Indivíduos com o estilo ativo aprender praticando, interagindo, testando. Já os reflexivos tendem a refletir sobre o conteúdo de maneira a processar a informação antes de testá-la. Os sensoriais buscam interpretar as informações recebidas através dos sentidos, são concretos e preferem observar os fatos. Enquanto que os intuitivos fazem uso da reflexão e da imaginação, fixam-se nas teorias e nos conceitos para assimilar o conteúdo. Pessoas com estilo visual aprendem melhor observando, visualizando imagens, tabelas ou gráficos, em contrapartida pessoas com estilos verbais tendem a reter com maior facilidade apenas ouvindo as explicações do professor (CURY, 2000). Os indutivos preferem compreender algo a partir dos resultados já os dedutivos não se convencem com qualquer explicação e optam por entender a razão do problema, para que assim possa deduzir o desfecho do mesmo. A informação pode ser processada gradualmente em indivíduos seqüenciais, por etapas ou de maneira global, onde o sujeito compreende o todo, por “insights” do conteúdo e frequentemente apresenta dificuldade para explicar o percurso que fez para chegar a conclusão de compreensão das informações (CURY, 2000). No estudo realizado por Correia e Cheng (2001) com alunos ingressantes do curso de Engenharia objetivando investigar os estilos de aprendizagem concluíram que os discentes Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 apresentaram equilíbrio entre os estilos Ativo/Reflexivo, Sensorial/Intuitivo 100 e Sequencial/Global, porém houve grande discrepância entre o Visual/Verbal, onde o primeiro obteve maiores índices de favoritismo. Assim, de acordo com Cerqueira (2006), conhecer os estilos de aprendizagem e elaborar propostas deveria ser um dispositivo integrado às instituições de ensino, com o objetivo de intervir sobre as didáticas e conteúdos escolares. O professor deve reconhecer que em sua sala de aula existem diferentes estilos de aprendizagem, inclusive o seu, e esse reconhecimento deveria impulsioná-lo a construir novos saberes que aprimorem sua prática pedagógica. Como afirma Cavellucci (2003), esse reconhecimento é importante para que haja uma revisão em algumas teorias de educação, que em sua maioria elaboram métodos igualitários para todos. Não se afirma que tais teorias são errôneas, porém compreender cada indivíduo quanto a sua singularidade na aprendizagem, vem a contribuir para um melhor processo de ensino e educação. O presente estudo teve como objetivos verificar e analisar os estilos de aprendizagem dos discentes do primeiro período do curso de Engenharia Ambiental de uma instituição privada de ensino, fundamentado no Modelo de Felder e Silverman (1988). Fez-se necessário o estabelecimento de uma problemática dos estilos de aprendizagem no contexto de ensino do curso de engenharia, fundamentando-o em uma revisão de teorias e modelos de ensinoaprendizagem, para, em seguida, descrever o perfil predominante de aprendizagem dos alunos com devolutivas individuais contendo dicas de estudos e orientações para desenvolver os estilos que o avaliado não possuía. Além de fornecer uma devolutiva geral para o coordenador do curso contendo sugestões de metodologias para promover uma equilibração entre os binários ativo/reflexivo, sensorial/intuitivo, visual/verbal e seqüencial/global. METODOLOGIA Participantes Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 101 Participaram da amostra 40 acadêmicos do 1º período do Curso de Engenharia Ambiental, de ambos os sexos, sem pré-determinação da faixa etária. Local A coleta foi realizada nas dependências da instituição privada, na sala do 1º período do curso de Engenharia Ambiental. Materiais e Instrumentos Utilizou-se o Inventário ILS (Index on Learning –Styles) de Felder e Soloman (1991), composto por 44 questões, com duas alternativas, divididas em 11 categorias para cada dimensão investigada. Procedimento de coleta de dados O início do procedimento da coleta deu-se com os devidos esclarecimentos aos alunos acerca da finalidade da pesquisa, que teve como objetivo analisar os estilos de aprendizagem dos participantes mediante o inventário ILS que é composto por 44 questões, com duas opções de escolha, sendo que apenas uma deveria ser escolhida. Em seguida, explanou-se sobre o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido visto que, este documento rege as normas da pesquisa com seres humanos, explica pontos importantes acerca do tema pesquisado, assim como seus objetivos e autoriza os pesquisadores a fazerem uso dos dados coletados. O procedimento teve duração aproximada de 20 minutos. 102 Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 RESULTADOS E DISCUSSÃO Figura 1. Distribuição dos Estilos de Aprendizagem do 1º período de Engenharia Ambiental. 85% 80% 70% 62% 38% 30% 20% AFvo Reflexivo SensiFvo 15% IntuiFvo Visual Verbal Sequencial Global Por meio da representação gráfica acima, percebe-se que na forma como a turma processa as informações há uma predominância do estilo ativo, com 80% sobre o estilo reflexivo, com 20%. De acordo com a percepção das informações, a turma obteve um maior índice no estilo sensitivo, com 85%. No modo como a maioria dos alunos capta as informações prevalece o estilo visual com 70% contra 30% do estilo verbal. Na dimensão referente à organização das informações, o binário apresenta maior predomínio no estilo seqüencial, o qual obteve resultado de 62% contra 38% do global. Observa-se ainda que de uma maneira geral, o grupo apresentou maior domínio nos estilos ativo, sensitivo, visual e seqüencial destacando uma grande diferença entre seus opostos. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 103 Cury (2000) utilizou o teste ILS para mensurar os resultados de uma pesquisa que investigava os estilos de aprendizagem de discentes que estavam cursando graduação na área de exatas, e concluiu que os sujeitos pesquisados são, preferencialmente, ativos, sensoriais, visuais e seqüenciais. Este resultado assemelha-se aos resultados do presente estudo, visto que, no geral, os sujeitos apresentaram maiores escores nos mesmos estilos. Estudos que realizaram levantamento semelhante a ocorrido neste trabalho na área de exatas apontaram como estratégia, para uma maior assimilação do conteúdo, a realização de tarefas em dupla ou grupo, aulas expositivas e dialogadas, com uso de gráficos e tabelas, quando possível, e a ilustração dos conceitos através de exemplos simples de outras áreas semelhantes, como por exemplo, física, química, economia (CURY, 2000). Em uma pesquisa realizada em alunos ingressantes do curso de Engenharia de 2001 (CORREIA e CHENG, 2001) concluíram que os sujeitos pesquisados apresentaram equilíbrio entre os estilos Ativo/Reflexivo, Sensorial/Intuitivo e Sequencial/Global, porém houveram discrepâncias significativas entre os estilos Visual e Verbal, sendo que o primeiro obteve maiores índices de favoritismo, resultados estes que corroboram com os achados deste presente trabalho. Como afirma Correia e Cheng (2001), os resultados do ILS apontam preferências individuais e pode-se desenhar o perfil de preferências de um grupo de estudantes, sabendo que esse perfil evidencia possíveis comportamentos já adaptados e outros estilos pouco desenvolvidos. Partindo deste pressuposto é importante diversificar as atividades desenvolvidas em sala de aula visando, além de atingir todos os estilos, desenvolver os demais, isto porque eles (discentes) necessitarão de todas as formas de pensar e resolver problemas em suas futuras profissões (FELDER, 2000 apud CURY, 2000). Tais fatores enfatizam a relevância do presente estudo e a necessidade da criação de estratégias que facilitem o aprendizado dos discentes, acarretando, posteriormente, profissionais competentes em suas áreas de atuação. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 104 Cavellucci (2003) aponta para o fato de que cada aprendiz é único na forma como recebe a informação, tal fator ressalta a importância de se combinar diferentes dinâmicas de trabalho em sala de aula colaborando para que haja um melhor desenvolvimento dos estilos de aprendizagem dos alunos. Apesar de a informação ser armazenada de forma única, este processo dá-se em um contexto social, disto posto, Vygotsky e Luria (apud PINHEIRO, 2005) enfatizam que nos processos mentais e as relações entre desenvolvimento e aprendizagem partem de pressupostos socioculturais, haja vista que a mente se organiza em sociedade. Correia e Cheng (2001) apontam a necessidade de mudanças e melhorias expressivas não só ensino direcionado ao curso de engenharia, mas sim no ensino em si, para que não só a educação se torne eficiente, como também o controle da qualidade da mesma. Essas mudanças são necessárias para que os Engenheiros Ambientais, foco da referente pesquisa, tornem-se aptos a desenvolver trabalhos em equipes multidisciplinares, exigência cada vez mais freqüente no mundo globalizado, pois o discente precisa conhecer suas preferências de aprendizagem para que possa dominar o desenvolvimento de estratégias que o auxiliem a lidar com as mais diferentes situações de aprendizagem tanto na faculdade/escola como na vida (CAVELLUCCI, 2003). CONSIDERAÇÕES FINAIS De posse dos resultados obtidos nesta pesquisa, observa-se a prevalência do estilo ativo e sugere-se a inclusão de aulas que favoreçam discussões grupais ou em duplas, em que os discentes tenham oportunidade de colocar o conteúdo em prática, bem como, treinar o uso de habilidades reflexivas utilizando de intervalos de tempo para reflexões teóricas antes de iniciarem as discussões. O ideal é alternar as explanações verbais com pausas para discussão e reflexão, utilizando materiais que enfatizem tanto problemas práticos como teóricos. No tocante aos alunos que obtiveram destaque no estilo sensorial é indicado abordar nas aulas fatos e dados reais, procurando solucioná-los por métodos tradicionais, evitando surpresas. Desenvolver este estilo na população pesquisada é fundamental, visto que, estar atento aos Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 105 detalhes e procedimentos experimentais são fatores inerentes à profissão do engenheiro ambiental. Considerando que o estilo intuitivo está vinculado ao desenvolvimento da criatividade e habilidades teóricas, faz-se pertinente desenvolvê-lo através da aplicação de atividades que agucem a imaginação e a curiosidade do aluno. Os resultados apontaram ainda que a maioria dos acadêmicos retém melhor a informação através do estilo visual, pois, os alunos recordam-se com mais facilidade daquilo que vêem e têm maior proveito quando as aulas são ministradas através de figuras, diagramas, fluxogramas, esquemas, vídeos, gráficos ou demonstrações práticas. Entretanto, é importante que os alunos desenvolvam habilidades visuais e verbais, visto que as informações costumam vir de ambas as formas. Em relação à organização das informações, percebe-se que houve predomínio do estilo seqüencial, visto que, neste estilo os alunos aprendem em uma progressão lógica e ordenada, de forma linear, indo das partes para o todo à medida que o conteúdo é apresentado. Os alunos que dominam este estilo são favorecidos pelo curso De Engenharia, pois, têm uma visão maior dos detalhes e são melhores em análises. Finalmente, sugere-se que os conteúdos sejam ministrados de forma seqüencial, as atividades devem ser cobradas de forma acumulativa, objetivando desenvolver o estilo global. No que se refere aos alunos que já possuem o estilo global seria interessante iniciar as aulas explanando o assunto de uma forma mais abrangente e rememorando os objetivos da disciplina. De posse destas informações, ressalta-se a necessidade de investigar os estilos de aprendizagem dos discentes para, posteriormente, colaborar com o aprendizado destes fomentando o desenvolvimento dos estilos de maneira equilibrada e eficaz, moldando profissionais competentes e hábeis em suas atuações profissionais e multidisciplinares. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 106 REFERÊNCIAS BENFATTI, E.F.S.S.; FRANCO, L.R.H.R e BUSTAMENTE, D.B. (2005). Ajustando as dinâmicas individuais e de grupo aos estilos de aprendizagem para um ambiente virtual. 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Esta é uma patologia obstrutiva e restritiva (mista) com comprometimento de vários órgãos e sistemas, originando lesões secundárias nas mucosas, nos linfonodos, na pele e nas adrenais, sendo sua primeira manifestação clínica na mucosa oral. Este trabalho teve como objetivo demonstrar a eficiência das técnicas fisioterapêuticas respiratórias na Paracoccidioidomicose. Para tanto, foi realizado um estudo comparativo da evolução do quadro do paciente através da espirometria. O paciente foi submetido a quatro exames espirométricos. O tratamento adotado enfocou a melhora do recuo elástico, da expansão pulmonar e do condicionamento físico. O paciente apresentou melhora do quadro espirométrico, da capacidade de exercício, qualidade de vida e controle das crises respiratórias. PALAVRAS-CHAVE: Paracoccidioidomicose; espirometria; fisioterapia respiratória. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 109 INTRODUÇÃO A Paracoccidioidomicose (PMC), também conhecida como Blastomicose Brasileira, Blastomicose Sul Americana ou Moléstia de Lutz, foi observada pela primeira vez no Brasil em 1908, por Adolpho Lutz, a quem chamou a atenção às lesões encontradas na boca dos pacientes (BISINELLI et al. 2001). Para MELHADO et al. (2002), é uma micose sistêmica com caráter endêmico presente em vários países da América do Sul como Brasil, Venezuela, e Guatemala, esta infecção é causada pelo agente Paracoccidioides Brasiliensis, o qual no Brasil se encontra em certas áreas de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul, seu habitat não parece ser o homem nem os animais que o circulam, mas sim o solo das regiões endêmicas. Segundo FILHO (2000), as condições favoráveis ao crescimento do agente são: temperatura entre 17-24ºC, pluviometria entre 900 e 1.800 mm por ano, clima quente e moderadamente úmido, vegetações florestais abundantes, altitude entre 47 e 1.300 metros, rios abundantes, solos ácidos e estação com invernos curtos e verões chuvosos. É uma patologia predominantemente do sexo masculino, comumente em indivíduos ligados à atividade agrícola, na proporção de dez homens para uma mulher, entre a terceira e a quinta década de vida, quase sempre fumantes e/ou etilistas crônicos, de condições higiênicas, nutricionais e sócio-econômicas precárias, sendo que a baixa imunidade favorece o avanço da doença. Esta envolve primariamente os pulmões pela inalação, podendo posteriormente disseminar-se para vários órgãos e sistemas, Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 110 originando lesões secundárias que ocorrem freqüentemente nas mucosas, nos linfonodos, na pele e nas adrenais (BISINELLI et al. 2001). Conforme FILHO (2000), o homem parece ser o único hospedeiro afetado pelo Paracoccidioides Brasilensis no início dos estudos sobre a doença, admitiu-se que estas formas infectantes seriam levadas à mucosa da boca, orofaringe ou anal por determinados hábitos da população rural, tais como palitar os dentes com gravetos, mascar folhas e fazer o toalete anal em folhas. Os fungos penetrariam diretamente nos tecidos ou através de soluções de continuidade persistente no tegumento. Posteriormente observou-se que a infecção ocorre por inalação, com localização primária pulmonar. Este atinge facilmente os alvéolos pulmonares dos animais de experimentação, onde rapidamente se transformam em leveduras e estabelecem lesões. Esses dados parecem ter esclarecido passos importantes da história natural da doença, confirmando a via inalatória como a mais provável e freqüente forma de contaminação do homem pelo fungo. Para estabelecer e multiplicar nos tecidos humanos, o fungo tem que se adaptar a temperaturas de 37º, assumindo a forma de leveduriforme. Ainda não se conhece todos os mecanismos envolvidos nessa transformação. Recentemente, descobriu-se que o Paracoccidioides Brasiliensis apresenta receptores para estrógenos e que os hormônios femininos são capazes de inibir in vitro a transformação de fase micelial e dos conídios para a fase de leveduriforme; este mecanismo seria, então, uma das explicações para a conhecida resistência das mulheres à micose. 111 Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 Tabela1- História natural do desenvolvimento do agente Paracoccidioides Brasiliensis. PARACOCCIDIOIDES BRASILIESIS Inalação (comum) Invasão direta (rara) PARACOCCIDIOIDOMICOSE Evolução INFECCÇÃO Involução Cicatrizes estéreis Com fungos Desequilíbrio na relação parasita-‐hospedeiro Reativação endógena Reinfecção exógena PARACOCCIDIOIDOMICOSE DOENÇA Aguda ou subaguda remissão cicatrizes evolução unifocal estéreis seqüelas com fungos crônica multifocal recaídas Fonte: Filho, 2000. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 112 As lesões da mucosa oral, faringe e laringe são muito comuns e resultam da disseminação hematogênica, a partir do foco primário pulmonar. Na boca, nota-se estomatite moriforme descrita por Aguiar Pupo, também denominada pápulo-erosiva. Trata-se de estomatite de evolução lenta, exulcerada, com fundo de aspecto de finas granulações vermelhas e múltiplas. Às vezes podem apresentar-se também sob a forma de ulceração mais profunda. Predominam nas regiões labiais da mucosa oral, gengivais, língua e palato, sobrevindo além dores, sangramento, mobilidade dos dentes (BISINELLI, et al. 2001) Figura 1 Fonte: BISNELLI, et al., 2001. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 113 Figura 2 Fonte: BISNELLI, et al. 2001. Os pacientes podem apresentar sintomatologia compatível com a tuberculose, gripe, pneumonia ou carcinoma, sendo elas a febre, dispnéia, tosse, perda de peso e hemoptise (ALTERTHUM, et al. 1999). As lesões histológicas e as alterações pulmonares detectadas nos estudos são geralmente intersticiais e/ou alveolares, o exame radiológico do tórax pode revelar aspectos diferentes segundo os estágios da doença. Figura 3 Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 114 Fonte: FILHO, 2000. Foto 4 Fonte: FILHO, 2000. Assim pode-se encontrar a forma miliar ou micronodular, caracterizada pela heterogeneidade de dimensão das lesões. A confluência e o crescimento dos focos levam aos aparecimentos de nódulos (padrão nodular). O comprometimento alveolar Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 115 determina focos de condensação de aspectos broncopneumônicos, em geral bilaterais e simétricos, predominando nas regiões peri-hilares, freqüentemente comparados às asas de borboleta (padrão pneumônico ou peri-hilar). O padrão cavitário, mais comum nos campos médios pulmonares, caracteriza-se por lesões císticas pequenas, irregulares e confluentes. Com a evolução do processo surgem estrias e faixas densas de fibrose que se dirigem dos hilos para a periferia dos campos pulmonares, geralmente acompanhadas de enfisema pulmonar. A forma radiológica e morfológica clássica de envolvimento pulmonar caracteriza-se por expansão nas regiões hilares e do mediastino e por alterações pulmonares bilaterais que se irradiam do hilo para a periferia. Os ápices e as bases tendem a estarem preservados, eventualmente mostrando enfisema (FILHO, 2000). A Blastomicose pulmonar pode ser diagnosticada através de: - Exames laboratoriais, que são técnicas sorológicas disponíveis sendo que a imunodifusão em gel de ágar realizada com antígeno padronizado da fase leveduriforme do fungo reúne características de sensibilidade e especificidade acima de 90%, sendo método de baixo custo e fácil realização. (5) - Biopsia, retirada de tecidos vivos para exames microscópios (MICHAELIS, 1998). - Espirometria, uma técnica de medidas de entrada e saída de ar dos pulmões, isto é, tratamento usando valores pulmonares numéricos (interpretação volumétrica ou fluxométrica). Entre as anormalidades possíveis de serem identificadas por meio da espirometria, enquadram-se os distúrbios respiratórios obstrutivos e distúrbios respiratórios restritivos ou a combinação de ambos, o distúrbios respiratórios mistos. No distúrbio respiratório obstrutivo, ocorrem reduções nos valores dinâmicos (no fluxo respiratório), já no distúrbio respiratório restritivo ocorrem Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 116 reduções dos valores estáticos (volumes e capacidades), em compensação no misto ocorrem alterações estáticas e dinâmicas, sendo assim, em uma patologia que apresenta distúrbio respiratório misto, ocorrem as seguintes alterações: diminuição do volume corrente, diminuição do volume de reserva inspiratória, diminuição do volume de reserva expiratória, aumento do volume residual, diminuição da capacidade inspiratória, diminuição da capacidade residual funcional, diminuição da capacidade vital, diminuição da capacidade pulmonar total, diminuição da capacidade vital forçada, diminuição do volume expiratório forçado no primeiro segundo, diminuição do fluxo expiratório forçado a 25%, diminuição do fluxo expiratório forçado a 50%, diminuição do fluxo expiratório forçado a 75%, diminuição do peak-flow e diminuição do índice de Tiffeneau. (COSTA, 1999). Sendo a fisioterapia atuante em várias especialidades da saúde, visando melhorar a qualidade de vida, portanto, esta pesquisa tem o objetivo demonstrar a eficiência da fisioterapia respiratória em uma patologia rara, como a blastomicose, fazendo um estudo comparativo da evolução do quadro do paciente através da espirometria. Relato de um caso Paciente de 46 anos, do sexo masculino, caminhoneiro, natural de Toledo-PR, com diagnóstico de Blastomicose Sul Americana, em tratamento no ambulatório de Fisioterapia Cardiorespiratória da Universidade Paranaense de Toledo (UNIPAR). A contaminação ocorreu há dezessete anos ao colocar na cavidade oral uma planta Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 117 gramínea, após quatro a cinco dias começaram a surgir feridas purulentas disseminadas na cavidade oral. Procurou auxílio médico e foi encaminhado para Curitiba-Pr, onde realizou biópsia da mucosa oral, constatando contaminação pelo agente Paracoccidioides Brasiliensis. O tratamento medicamentoso foi realizado com sulfa por dois anos, onde o organismo criou intolerância a vários componentes (anestesias, antibióticos, analgésicos, hipoclorito de sódio, poeira, pólen, derivados de leite...), sendo que alguns desses componentes desencadeiam desde dispnéia a choques anafiláticos. Tabagista durante vinte e cinco anos, permanecendo tabagista após o diagnóstico, parou de usar tabaco somente há oito anos. Sua queixa principal é a dispnéia. Dia 20/03/03 foi realizada a avaliação inicial que foi constituída de: anamnese, antecedentes pessoais, antecedentes familiares, inspeção, ausculta pulmonar, palpação, percussão, mobilidade da caixa torácica, prova de função muscular (diafragma, intercostais e abdominais) e prova de função pulmonar. A prova de função pulmonar foi obtida pelo aparelho_Pony spirometer grafic (da Cosmed). A freqüência do tratamento ambulatorial foi de três sessões de fisioterapia por semana com duração de uma hora. Detalhamento do tratamento O paciente foi submetido a um protocolo de tratamento com os seguintes objetivos: promover a higiêne brônquica, melhorar a expansão pulmonar, melhorar o recuo elástico, aumento da resistência da musculatura respiratória e melhora do condicionamento físico. O paciente foi orientado quanto à respiração diafragmática e expiração com os lábios semi-cerrados. Paciente realizou exercícios em vários Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 118 decúbitos: dorsal, lateral e sentado mantendo a musculatura acessória relaxada, realizando respiração tranqüila sem esforço. Após algumas sessões o tratamento exigiu mais força, coordenação e equilíbrio. A ausculta pulmonar foi realizada antes e após a fisioterapia. Quando presentes ruídos adventícios o paciente era submetido a inaloterapia com soro fisiológico e manobras de higiene brônquica. Caso o paciente apresentasse qualquer sinal de fadiga muscular, como: dispnéia, uso da musculatura acessória, o protocolo era interrompido imediatamente, o paciente era submetido a exercícios de relaxamento. No início do tratamento o paciente apresentava dispnéia aos médios esforços, fadiga, não utilizava musculatura acessória, na percussão observava-se macicez em bases e timpanismo em demais áreas, na ausculta percebeu-se diminuição do murmúrio vesicular e estertores grossos generalizados. Possuía leve limitação da caixa torácica superior e limitação da amplitude de movimento do tronco. Foram realizadas as seguintes técnicas: Inaloterapia é um método que utiliza a transformação da solução líquida, em vapor.(CARVALHO, 2001), foi utilizada com meta de umidificar as vias aéreas, quando estas não estão funcionando adequadamente ou apresentando secreções espessas aderidas. A tapotagem consiste em percutir com as mãos em conchas ou em ventosas (dedos abduzidos) as regiões torácicas relacionadas com as áreas pulmonares em que haja secreções, com o objetivo de desgarrar secreção pulmonar viscosa, permitindo seu deslocamento pela árvore brônquica e facilitando com isso, sua eliminação. A vibração manual é realizada com as mãos espalmadas, acopladas e com certa pressão no tórax do paciente e consiste em movimentos rítmicos, rápidos e com intensidade suficiente para causar a vibração em nível bronquial, esta, no entanto tem a finalidade de conduzir as Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 119 secreções. (COSTA, 1999). MORGADO(2001), associa as técnicas de tapotagem, vibração, entre outras com a drenagem postural que tem sua fundamentação no princípio físico da ação da gravidade. A posição e o grau de inclinação irão variar de acordo com a área do pulmão a ser drenada, com o intuito de acelerar o deslocamento da secreção até as vias aéreas proximais. Outra técnica descrita pela mesma, é a da expiração forçada que tem o objetivo na mobilidade das secreções, consiste em um ou dois huffing ou expiração forçada, seguido de um período de relaxamento e respiração diafragmática controlada. Costa (1999), descreve a tosse como uma ação reflexa de defesa do organismo, por meio da qual é possível expulsar as secreções acumuladas e as substâncias estranhas da árvore brônquica, já a pressão expiratória manual teve como finalidade principal “desinsuflar o tórax e os pulmões”, e melhorar a mobilidade da caixa torácica, foi realizada com as mãos abertas, dedos abduzidos ao máximo, punho e cotovelos fixos e a pressão exercida é quase toda proveniente dos ombros, esta pressão deve ser continua, devendo, ser realizada uma leve vibração para maior relaxamento do tórax do paciente, no final da expiração. A resistência manual inspiratória consiste em fazer uma pressão manual na inspiração a fim de aumentar a resistência do músculo diafragma. No entanto, a estimulação costal é dada pelo acompanhamento das mãos no gradil costal na fase expiratória, em seguida retira-se bruscamente as mãos na metade ou no segundo terço da fase inspiratória, essa manobra permite a expansão máxima possível do gradil costal, maior flexibilidade das articulações costovertebrais, e maior mobilidade nas cartilagens condroesternais.(COSTA, 1999). AZEREDO(2002), relata o freno labial como uma manobra que permite a manutenção da integridade dos condutos aéreos, evitando o colapso precoce que ocorre por influência da pressão intratorácica sobre as paredes brônquicas. Foi utilizado o flutter que é um dispositivo manual semelhante a um cachimbo, que no seu interior Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 120 possui uma esfera metálica com a finalidade de vibrar durante a passagem do ar expirado. Esta vibração faz com que os pulmões também vibrem, facilitando assim a eliminação do muco. Concomitantemente gera uma pressão positiva expiratória que retarda o ponto de igual pressão mantendo vias aéreas abertas por mais tempo.(SANTOS, 2002). Também foram utilizados o Respiron e o Voldyne que são incentivadores respiratórios de carga pressórica alinear que oferecem uma resistência desconhecida ou variável durante todo o movimento respiratório, pois não há conhecimento prévio da pressão a ser exercida pelo paciente, embora alguns desses equipamentos forneçam escala de fluxo ou de volume. A reeducação funcional respiratória foi realizada por meio de exercícios físicos de caráter terapêutico que muitas vezes são também denominadas cinesioterapia respiratória, que pode envolver o tronco e membros, sempre associados à respiração, dando ênfase ao padrão de respiração diafragmático. (COSTA, 1999). Foi realozado o terino do condicionamento que dá ao paciente condições de sair do sedentarismo para uma melhor condição de produtividade, se possível reintegrando-se novamente à família, à sociedade e ao trabalho, seja ele qual for. O plano de condicionamento básico na esteira ergométrica incluiu: Monitorização contínua da freqüência cardíaca, saturação de oxigênio, freqüência respiratória e índice de percepção de Borg. Entretanto, a carga era dada pela velocidade da esteira e tempo inicial de cinco minutos até atingir dez minutos.(AZEREDO, 2002). Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 121 Resultado. O paciente apresentou na sua primeira espirometria (20/03/2003), padrão obstrutivo grau 3 ou grave e restritivo dentro dos parâmetros da normalidade, como mostra a gráfico 1. Gráfico 1: Valores espirométricos e das pressões respiratórias durante o tratamento (março a setembro 2003) 100 80 60 CVF 40 VEF1 20 0 1º expirometria Após 2 meses Após 4 meses Após 6 meses Do previsto 1º espirometria Após 2 meses Após 4 meses Após 6 meses (20-03-03) CVF 84% 68% 75% 84% VEF1 33% 22% 23% 33% No decorrer do tratamento, o paciente evoluiu para um quadro secretivo verificado na ausculta e percussão pulmonar. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 122 Após 2 meses, paciente foi submetido à outra espirometria onde observou-se um decréscimo da CVF (capacidade vital forcada), e também do VEF1 (volume expiratório forçado no primeiro segundo). Após 4 meses em relação a primeira espirometria, realizou-se novamente sendo observado um aumento de 7% da CVF 1% do VEF1. Após 6 meses, notou-se que a CVF retornou aos padrões de normalidade e o VEF1 permaneceu de acordo com sua primeira espirometria (padrão obstrutivo grau 3). DISCUSSÃO A Blastomicose Sul Americana é uma micose sistêmica caracterizada por lesões na mucosa oral. (BISSINELLI et al. 2001), causada pelo agente Paracoccidioides Brasiliensis onde seu habitat natural é o solo das regiões endêmicas (MELHADO et al. 2002), o homen parece ser o único hospedeiro afetado, no inicio do estudo admitiu-se que o fungo penetraria diretamente nos tecidos, mas posteriormente observou-se que a infecção atinge os alvéolos pulmonares onde se transformam rapidamente em leveduras e estabelecem as lesões (FILHO, 2000), essas lesões resultam da disseminação hematogenica, a partir do foco primário pulmonar, constatou-se (BISINELLI, et al, 2001). Como descrito por (FILHO, 2000) na evolução da Blastomicose surgem estrias Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 123 e faixas densas de fibrose dos hilos para a periferia dos campos pulmonares e os ápices e bases tendem a estarem preservados, eventualmente apresentando enfisema. A espirometria pode ser classificada em grave ou grau III, quando o resultado for menor que 40%, moderado ou grau II, quando estiver entre 41-59% e leve ou grau I quando o resultado é de 60%, acima de 85% é conciderado dentro dos padroens da normalidade. (OSTA, 1999), na primeira do paciente estudado espirometria verificou-se 33% do VEF1, sendo classificado com grau III ou grave e 84% da CVF considerado dentro da normalidade pela mesma classificação acima descrita. Após dois meses foi realizada um segunda espirometria, paciente apresentou quadro secretivo confirmado pela ausculta e percussão, esse quadro provavelmente se deu pela mudança do clima, pois estava iniciando o inverno e o frio é a época onde há maior incidências de infecções respiratórias (MARTINEZ 2000), constatou-se um decréscimo na CVF para 68% (grau I) e a VEF1 22% (grau III). A partir da terceira espirometria começou a ter um acréscimo da CVF, foi de 75% e posteriormente para 85%, o VEF1 passou de 23% para 33%. As alterações espirométricas relacionadas no caso estudado, certificou-se que houve melhora no decorrer do tratamento. A literatura relata que os teste de função pulmonar não mudam depois da fisioterapia (BARTOLOME, 1995), no nosso caso o paciente apresentava CVF grau I ou leve, o que pode justificar sua melhora em relação ao VEF1 que se encontra no grau III ou grave. A técnica de expiração forçada foi associada a drenagem postural promovendo um aumento na expectoração em um menor período de tempo que a fisioterapia convencional e um aumento significativo no CVF, VEF1, Peak flow inspiratório e FEF Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 124 50% após o tratamento. (MORGADO, 2001), o paciente estudado, no entanto só obteve melhora na CVF, mantendo estável os valores restantes. No estudo de WEBBER et al (1986) verificou-se a associação de drenagem postural associada com a técnica de expiração forcada, permitiu um aumento significativo dos valores espirometricos, na paracoccidioidomicoseo paciente relatado não obteve melhora na VEF1, mas verificou-se melhora considerável na CVF. O tratamento fisioterapêutico proporcionou muitos benefícios ao paciente, visto que após alguns meses de fisioterapia o paciente apresentou-se com a CVF dentro dos padrões de normais e a VEF1 estável, melhorou a capacidade de realizar suas AVD’S, além de melhorar a qualidade de vida. Revista Científica da UNESC – Ano 9 – nº 12 – Outubro 2011 125 REFERÊNCIAS BISINELLI, J.C. et al. Manifestações estomatológicas da paracoccidioidomicose, Rev. Bras. Otorrinolaringol., 67(5): 250-253, 2001. FILHO G. B. Bogliolo patologia, 6º edição, Editora Guanabara Koogan, 2000. ALTERTHUM, F. et al. Microbiologia, Editora Athenas,1999. AZEREDO, C.A.C. 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