RELACIONANDO A FILOSOFIA A ELABORAÇÃO DO PROJETO
POLÍTICO-PEDAGÓGICO NOS CENTROS DE EDUCAÇÃO
INFANTIL
CARVALHO, Viviane Batista - UEL
[email protected]
Eixo Temático: Educação Infantil
Agência Financiadora: Não contou com financiamento
Resumo
Esta pesquisa teve como objetivo geral, analisar a relação entre a filosofia e a elaboração do
Projeto Político-Pedagógico dos Centros de Educação Infantil. Para chegarmos ao objetivo foi
necessário: explanar as características particulares da filosofia e do projeto políticopedagógico; relacionar a filosofia à construção deste; analisar os princípios filosóficos de
quatro Projetos Político-Pedagógicos em quatro Centros de Educação Infantil diferentes para
averiguar, na prática, (enquanto elaboração do documento) a relação existente entre a filosofia
e a preparação destes. Descreveram-se os dados encontrados e fez-se uma análise a luz da
filosofia. Concluiu-se que existe uma relação entre a filosofia e a elaboração do Projeto
Político-Pedagógico uma vez que estes apresentam aspectos filosóficos ao que se refere:
concepção de sociedade, de homem, de conhecimento e de formação humana. Também tratam
de questões com as quais a filosofia se preocupa, como: função da escola, papel do professor
e linha teórica a ser seguida pela escola. Observou-se uma tendência do pensamento
Materialista Histórico-Dialético nas concepções filosóficas aliado a uma forte presença do
empirismo enquanto forma de conhecimento. Foi verificada, a contribuição da filosofia
enquanto área do saber humano para delinear não só o pensamento do Centro de Educação
Infantil, como também para oferecer subsídios ao enfoque metodológico.
Palavras-chave: Educação Infantil. Filosofia. Projeto Político-Pedagógico.
Introdução
Existem pesquisas e autores que discutem a educação e o seu processo.
Especialmente nessa pesquisa procurou-se observar como se processa uma educação
específica, aquela encontrada nos Centros de Educação Infantil, sobretudo esse estudo se
refere à elaboração do Projeto Político-Pedagógico1 dos referidos Centros. A educação
1
A partir deste momento todas as vezes que o termo Projeto Político-Pedagógico for citado, este aparecerá com
a sigla P.P.P.
3523
infantil tem se tornado alvo de pesquisas que procuram compreender como ocorre a educação
de crianças pequenas (0 a 5 anos). Para Souza e Sebastiani (2002, p. 111) “a educação infantil
tem-se constituído alvo de intenções diversas [...] na produção acadêmica, por meio de
investigações sobre as crianças, sobre os espaços de educação destinados a elas e em estudos
feitos com a participação das próprias crianças”.
Levando-se em consideração que também abordaremos a questão da elaboração do
P.P.P. temos por obrigação explicitarmos a sua importância. Sabe-se que este dá sustentação à
atividade do professor, oferecendo condições para que eles coloquem em prática suas idéias e
formas de trabalho. O campo educacional está permeado pelas diversas áreas das ciências
humanas, e assim ao analisar os vários P.P.P. dos Centros de Educação Infantil facilmente
encontraremos faces da história, da sociologia, da psicologia, da pedagogia, e demais ciências
humanas, bem como também da filosofia.
Para fecharmos o enfoque desta pesquisa, abordaremos então a filosofia, área do saber
humano, que se relaciona com o campo educacional. Haydt, (1997, p. 23) diz que “Toda
teoria pedagógica tem seus fundamentos baseados num sistema filosófico. É a filosofia que,
expressando uma concepção de homem e de mundo, dá sentido à pedagogia, definindo seus
objetivos e determinando os métodos da ação educativa”.
Os P.P.P. das Instituições de Ensino geralmente seguem roteiros pré-definidos pelos
órgãos aos quais estão subordinados. Em geral estes roteiros definem para a composição do
P.P.P. três2 itens: Ato Conceitual, Situacional e Operacional que são assim definidos por
Veiga (2001, p. 23-25). No Ato Conceitual encontraremos os Pressupostos Filosóficos de
cada escola ou Princípios Filosóficos, os quais constituíram o objeto de estudo desta pesquisa.
Mas o que vem são os Pressupostos Filosóficos? Podemos destacar que este se caracteriza
como uma denúncia a respeito do que a instituição de ensino define como sendo sua corrente
filosófica, seu pensamento, o começo teórico (princípio), o ponto de partida, a base de
fundamentação para a ação que a escola deseja desempenhar. É nos princípios filosóficos do
P.P.P. que a instituição de ensino coloca suas concepções sobre o homem, a sociedade, o
conhecimento e sobre a formação humana. Uma escola concebe a sociedade segundo a visão
de uma corrente filosófica/filósofo é a partir desta visão procura desempenhar a prática de
2
Existem várias definições feitas por muitos autores a respeito da composição do Projeto Político- Pedagógico,
mas basicamente este é dividido por quase todos eles em três itens que se completam. A divisão é feita somente
para auxiliar na construção do P.P.P. e de forma alguma serve para fragmentá-lo, geralmente o que muda de um
autor para o outro são somente as terminologias utilizadas por cada um. Neste trabalho utilizaremos as
terminologias utilizadas por Veiga (2001).
3524
suas ações.
Neste ponto encontramos a chave para nossa pesquisa, se é a educação um dos
grandes interesses da filosofia, se dentro do P.P.P. encontramos os princípios filosóficos de
cada escola, qual é então a relação existente entre a filosofia e a elaboração do Projeto
Político-Pedagógico dos Centros de Educação Infantil?
O objetivo principal dessa pesquisa é o de analisar de que forma a filosofia se encontra
presente nos P.P.P. dos Centros de Educação Infantil e a sua contribuição para a elaboração
deste. Para se chegar a tal resposta, alguns caminhos tiveram de ser percorridos.
Primeiramente procurou-se através de pesquisa bibliográfica a definição de filosofia e de
Projeto Político-Pedagógico, discutindo-se noções fundamentais de cada item. Depois de
concluída esta etapa, se tornou fundamental relacionar em que a filosofia se encontra presente
dentro dos Pressupostos Filosóficos dos P.P.P. Após descreveu-se os dados obtidos nos P.P.P.
de 4 (quatro) Centros de Educação Infantil pesquisados, sendo dois filantrópicos e 2
particulares localizados no Município de Londrina. Fez-se uma leitura dos dados encontrados
e averiguou-se na prática como estes se relacionam diretamente com a filosofia.
A Filosofia e a Elaboração do Projeto Político-Pedagógico.
Embora muitos se preocupem em dizer que filosofia em nada ajuda nas questões
educacionais, asseguraramos que Filosofia e Educação estão intimamente ligadas uma à outra.
Luckesi (1994, p. 31) diz que elas “estão presentes em todas as sociedades. Uma como
interpretação teórica das aspirações, desejos e anseios de um grupo humano, a outra como
instrumento de veiculação dessa interpretação”. A filosofia propicia a educação (e não só a
educação) um refletir crítico sobre os rumos que esta deverá tomar. Chaui (2000, p. 14-16) faz
uma diferenciação entre atitude filosófica e reflexão filosófica. Enquanto a atitude filosófica
realiza perguntas como: O que é? Como é? E por que é? A reflexão filosófica pergunta: Por
quê? O quê? E para quê?
Luckesi (1994, p. 32) refere-se à ação pedagógica e a reflexão filosófica:
O educando, quem é, o que deve ser, qual o seu papel no mundo, o educador, quem
é, qual o seu papel no mundo; a sociedade, o que é, o que pretende; qual deve ser a
finalidade da ação pedagógica. Estes são alguns problemas que emergem da ação
pedagógica dos povos para a reflexão filosófica, no sentido de que esta estabeleça
pressupostos para aquela.
3525
Vemos que a filosofia é parte integrante da educação, ela está presente nas discussões
e práticas educacionais. Quando perguntamos: A quem se destina a educação? Qual a
concepção de educação presente? O que ensinar? Como ensinar? De que forma ensinar?
Buscamos bases filosóficas para nos pautar e chegar às respostas que melhor qualificarão a
prática educacional. A filosofia oferece o suporte necessário para delinear a linha de
pensamento da escola, bem como as ações necessárias a prática pedagógica. Severino (1993,
p.10) diz que a filosofia desempenha uma tríplice tarefa
[...] uma tarefa axiológica e uma tarefa antropológica, uma vez que o processo
educacional, enquanto objeto da reflexão fil osófica, implica necessariamente uma
discussão sobre a natureza do conhecimento nele envolvido, uma discussão sobre a
valorização do agir humano nele posto em prática e uma discussão sobre a própria
condição da existência do homem
Mas em que momento ocorre à atitude e a reflexão filosófica na escola? Onde são
colocadas as respostas encontradas a partir desta atitude e reflexão? Em que local podemos
saber quais são os anseios, percepções, desejos, intenções, pensamentos e expectativas
encontrados por determinada escola? Em meados da década de 80 ocorreu uma preocupação
por parte das Universidades Brasileiras em organizar um currículo dos cursos superiores que
pudesse trazer uma totalidade de experiências. Segundo Santos (2004, p. 36-37):
Era preciso encontrar uma outra direção, um novo rumo, analisar a situação em que
os cursos se encontravam [...], para traçar novos caminhos, com base numa
concepção teórica definida. [...]. Era o começo de um projeto institucional [...]. Esse
projeto [...] deveria envolver três fontes distintas: a definição de um projeto [...],
concreto, frutos de interação entre filosofia e política institucional; a variedade de
perspectivas vivenciadas individual e coletivamente pelos seus segmentos dentro da
instituição, e a interação interna e externa existentes na própria instituição.
Percebe-se neste momento o surgimento no cenário brasileiro do Projeto PolíticoPedagógico e também que desde a sua origem este possui uma relação com a filosofia. Veiga
(1998 p. 23-26) delineia alguns caminhos ao se construir o Projeto Político-Pedagógico, sendo
os princípios norteadores os Filosóficos/Sociológicos, o epistemológico e o didáticometodológico.
3526
É natural que a educação esteja ligada a questões filosóficas, por conseguinte é
natural que a filosofia esteja presente na elaboração de um P.P.P., pois é este que trará
subsídios para o desenvolvimento do trabalho de todos os envolvidos com o trabalho a ser
realizado por toda a escola. Em documento intitulado “Roteiro para Elaboração da Proposta
Pedagógica – Educação Infantil” enviado a todos os Centros de Educação Infantis Municipais
e Filantrópicos da Cidade de Londrina pela Secretaria de Educação do Município encontramse os dizeres:
A construção da Proposta Pedagógica exige reflexão coletiva, um processo
permanente de mobilização, no intuito de atender as reais necessidades das crianças
e da sociedade. O que se faz? Para quem se faz? Quem faz? Onde se faz? Por que se
faz? Como se faz? E para dar respostas a estas perguntas buscar instrumentos de
fundamentação teórica e prática para iniciar a mobilização coletiva (LONDRINA,
2007, p. 1).
Observa-se nesta citação a estreita relação da filosofia nas perguntas lançadas, vemos
o pedido de uma reflexão acerca dos questionamentos, além de pedir que haja uma
fundamentação teórica e prática nas respostas encontradas. Sabe-se da importância do ato da
reflexão para a filosofia, quando existe uma reflexão ou buscam-se respostas aos diversos
questionamentos estamos filosofando. O documento acima citado pede que ao elaborar um
P.P.P. seja comentada, a concepção de criança e sociedade bem como que tipo de sociedade
visa-se com o trabalho pedagógico, para Souza e Sebastiani (2002, p. 118) “Entendemos que
quando se traz à tona a temática sobre propostas pedagógicas para a educação Infantil, faz-se
necessário identificar de que criança, de que infância, de que educação, de que instituição
estamos recorrendo [...]”.
Acrescentamos que não são somente conceitos históricos que aparecem, a filosofia
aparecerá arraigada com o P.P.P., quando se procura delinear de qual criança estamos falando,
a sociedade em que se vive e a sociedade que se deseja, cria-se aí, uma relação com a
filosofia, segundo Chaui (2000, p.16) uma das definições de filosofia3 seria a de “conjunto de
idéias, valores e práticas pelos quais uma sociedade apreende e compreende o mundo e a si
mesma”.
3
Marilena Chaui (2000) faz referência a quatro definições gerais do que seria a filosofia, a primeira seria a visão
de mundo, a segunda a sabedoria de vida, a terceira o esforço racional para conceber o Universo como uma
totalidade ordenada e dotada de sentido e a quarta a fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das
práticas. (p. 16-17)
3527
Os C.E.I.s ao construírem seu P.P.P. mesclam dois projetos: Um projeto político que
tem sua origem na própria sociedade e um projeto pessoal que tem sua origem naqueles que
estão envolvidos com a educação dentro destes Centros. Segundo Severino (1993, p. 13) “A
escola se dá como o lugar do entrecruzamento do projeto político da sociedade com os
projetos pessoais e existenciais de educandos e educadores”.
Muitos autores discorrem a favor do P.P.P. como um documento que proporciona um
repensar crítico a favor de uma mudança que leve educadores e educandos a uma autonomia
de pensamento capaz de promover uma sociedade mais justa. Sobre buscar a realidade e a
partir dela obter medidas de intervenção e mudança Chaui (2000, p. 17) destaca que “Além de
análise, reflexão e crítica, a filosofia é a busca do fundamento e do sentido da realidade em
suas múltiplas formas indagando o que são, qual sua permanência e qual a necessidade interna
que as transforma em outras”.
Outro ponto a salientar na elaboração de um P.P.P. e sua relação com a filosofia é que
este não apresenta somente a realidade vivida (ato situacional), as concepções de criança e
sociedade presente e aquilo que se almeja alcançar (ato conceitual), um P.P.P. faz referência
ao Por que fazer? E, como fazer? (ato operacional).
O P.P.P. está diretamente ligado ao trabalho pedagógico realizado na escola ou Centro
de Educação Infantil, está relacionado ao que se pratica em sala, às atividades que são
desenvolvidas com as crianças e às questões administrativas. Sobre o porquê fazer? Veiga
(2001, p. 56) diz que ao elaborar-se um P.P.P. “[...] devemos ter claro o que se quer fazer e
por que vamos fazê-lo”.
Ruiz (2003, p. 60) destaca que a filosofia contribui em dois
aspectos: o instrumental e o crítico, “[...] Entende-se por instrumental o embasamento teórico
que a filosofia pode oportunizar para a resolução de problemas práticos. [...] o crítico deve
despertar o constante questionamento sobre a prática”.
É importante salientar que as atividades pedagógicas, as ferramentas (recursos)
utilizadas na concretização dos objetivos, a forma como será atingido os desejos e anseios
explicitado no P.P.P., necessitam ser embasados em concepções filosóficas, pois caso
contrário corre-se o risco de serem simplesmente adequados ao senso comum dos
profissionais presentes em uma determinada instituição educacional. Toda atividade
pedagógica, todo recurso utilizado, toda história contada, cada música cantada, tudo deve ser
feita à luz de uma reflexão, e novamente voltamos às perguntas, por que fazer determinada
atividade? Porque contar esta história? O que implica cantar esta música e não aquela? Eis a
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filosofia presente contribuindo. Segundo Gandin (2002, p. 14-15) “São igualmente
necessárias ferramentas para transformar idéias em prática. [...]. Para um determinado fazer,
há ferramentas mais adequadas do que outras. Mas é preciso que estejam subordinadas às
idéias”.
Ao elaborarmos um P.P.P. para a educação infantil, antes de tudo é necessário que a
prática educacional seja pensada e refletida, “para a existência de qualquer resultado, não
basta uma idéia: Junto com ela é necessário um processo lúcido para torná-la realidade”
(GANDIN, 2002 p. 22). Diante do processo lúcido, não é qualquer pessoa que norteará a
construção do P.P.P., nem é qualquer base teórica que alicerçará este documento, são
necessárias pessoas que de alguma forma se preocuparam em pensar, refletir, cruzar
informações e pesquisar sobre a educação, é necessário uma base teórica que tenha sido
pensada, refletida e pesquisada a partir daquilo que é mais importante para o desenvolvimento
integral das crianças, no nosso caso específico aquelas que compõem a educação infantil.
No que diz respeito à Educação Infantil, Batista e Zamberlan (2005, p. 71-72) em
“Subsídios a uma Proposta Político-Pedagógica e Organização Curricular na Pré-escola”
enfatizam:
Todo trabalho deverá centrar-se na criança [...] proporcionando, desta forma, a
oportunidade de se tornar um cidadão crítico e participativo. Assim a criança é
levada a interpretar, criar significados, construir seus próprios instrumentos para a
resolução dos problemas e estar preparada para perceber estes mesmos problemas.
Essas condições visam que ela possa interferir e participar da sociedade em que
vive, consciente da sua participação como sujeito da história.
Observe que o pedido é que se leve à criança a interpretar, criar significados, construir
instrumentos para a resolução de problemas e estar preparada a perceber estes problemas, para
que seja participativa na sociedade, não qualquer participação, mas uma participação
consciente. Desta forma, mesmo que apareça de forma escondida, mesmo que não seja
utilizada a palavra filosofia, se um P.P.P. procurar atender ao pedido acima especificado, a
filosofia se fará presente, pois quanto a sua utilidade a filosofia não nos deixa guiar pela
submissão às idéias; busca compreender a significação do mundo, da cultura, da história;
tenta conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política; dá a cada
um de nós e à nossa sociedade os meios para sermos conscientes tanto de nós próprios quanto
do nosso papel na nossa sociedade. (CHAUI, 2000 p. 18).
3529
Assim como Luckesi (1994 p. 31-33) há de se perceber que as relações entre P.P.P.,
filosofia e Educação são quase que “naturais”, pois a educação trabalha com as novas
gerações, a filosofia é a reflexão sobre o que é e como devem ser desenvolvidos estes jovens
na sociedade e o P.P.P. é o documento produzido a partir da reflexão coletiva, alicerçado na
filosofia, que fornecerá a instituição educacional os subsídios necessários à prática
pedagógica “Assim não há como se ter uma proposta pedagógica sem pressuposições (no
sentido de fundamentos) e proposições filosóficas, desde que tudo o mais depende desse
direcionamento”.
Aspectos da Filosofia e Questões Filosóficas Encontradas nos Projetos PolíticosPedagógicos de Quatro Centros de Educação Infantil do Município de Londrina
Já discutimos como a filosofia pode colaborar para a elaboração do P.P.P.
Centros de Educação Infantil, porém fez-se necessário buscar dentro de alguns P.P.P. que
estão em vigor, os aspectos filosóficos presentes, uma vez que isto oferecia maiores subsídios
à pesquisa aqui apresentada. A análise de tais documentos com o intuito de encontrar aspectos
filosóficos, não se mostrou uma tarefa fácil, uma vez que estes muitas vezes não se
encontravam de forma clara, embora constassem de forma implícita nos escritos dos
documentos. A semelhança encontrada entre os P.P.P. foi constatada, o que é natural por se
tratar de Centros que trabalham com a mesma faixa etária.
Ao procurarmos os aspectos da filosofia presentes nos documentos analisados foi
possível detectar alguns pontos:4Concepção de sociedade, concepção de homem, concepção
de criança, aspectos sobre a formação humana que se pretende, como é tratada a questão do
conhecimento, espaço para o desenvolvimento da atitude e da reflexão filosófica e concepção
de Educação. Também foi possível verificar algumas questões de cunho filosófico como: Qual
a função do centro de educação infantil? Qual o papel do professor de educação infantil?Qual a
linha teórica para o trabalho no Centro de Educação Infantil?
Todas as questões ou aspectos acima citados constituem-se filosóficos, uma vez que
fazem parte de uma reflexão acerca de questões fundamentais analisadas pela filosofia. Estas
4
Estes aspectos foram listados a partir do que foi encontrado nos P.P.P. São aspectos com os quais a filosofia
trata ou se preocupa. Alguns aspectos foram encontrados em todas as propostas analisadas, porém outros foram
vistos em apenas algumas. Os P.P.P. trazem estes aspectos sob os títulos: Princípios Didáticos Filosóficos do
Centro de Educação Infantil, Princípios Filosóficos da Instituição, Concepção de Sociedade, Homem e Criança.
Também encontramos no Enfoque Metodológico alguns pontos acima citados.
3530
questões buscam compreender a realidade educacional, ajudam a desvendar, amenizar ou
mesmo superar muitos problemas presentes na área educacional. Estes aspectos também se
constituem filosóficos, uma vez que fazem parte de campos com os quais a filosofia se
preocupa e investiga.
Concepção de Sociedade, Homem e Criança
Dentro dos P.P.P. podem-se perceber dois momentos distintos ao que se refere à
concepção de sociedade, primeiramente os C.E.I.s explicam a sociedade atual em que
vivemos e logo após fazem menção a uma sociedade que se pretende alcançar. A concepção
atual presente se refere a uma sociedade capitalista marcada pelo consumo sem limites, pela
manipulação dos meios de comunicação e pela desigualdade social. Pela leitura percebe-se
que a sociedade almejada é aquela em que se possa valorizar o ser humano por aquilo que este
é, e não por aquilo que este possui, muitos C.E.I.s citaram a questão da cidadania como sendo
uma meta a ser alcançada, porém poucos explicaram o que vem a ser esta cidadania, que se
sabe, constitui o respeito aos direitos e deveres de cada membro integrante de uma sociedade,
apenas um C.E.I.s destacou os valores cristãos como algo a ser buscado na sociedade que se
pretende.
Todos os C.E.I.s. parecem concordar entre si que o homem é um ser social, pois
participa do mundo em sociedade (uns com os outros) e um ser histórico uma vez que tanto
produz história como faz parte dela, é o homem responsável pela transformação que ocorre
tanto no ambiente natural como no ambiente social.É ele quem concebe os valores a serem
seguidos, que pela busca da satisfação de suas necessidades cria e recria, trabalha, produz
conhecimentos e avança cada vez mais nos vários setores da sociedade.
Foi citado em todos os P.P.P. que a criança também e um sujeito histórico e social,
pois está inserida na sociedade e faz parte dela, alguns C.E.I.s caracterizaram a criança como
um ser em formação que possui características próprias, que interage e marca o ambiente ao
qual têm contato. Ela possui experiências e vivências que a levam a possuir uma série de
conhecimentos. Também tratam a criança como um ser único, completo e indivisível. Ao
analisarmos tais concepções podemos perceber, ainda que não tão explícitas traços do
pensamento Materialista histórico-dialético, uma vez que o homem constitui um ser social e
histórico que busca a satisfação de suas necessidades e através disso produz conhecimentos,
3531
se relaciona com o outro, trabalha e constrói a sociedade. Nesta perspectiva a realidade
(natural e social) evolui por contradição e se constitui num processo histórico.
Sobre Educação e Formação Humana
Cem por cento dos C.E.I.s concordam em estabelecer uma formação voltada
para a cidadania, ou seja, pretendem que as crianças ao crescerem possam ser capazes de
buscar os seus direitos e de cumprir com os seus deveres, algumas citam a questão de formar
pessoas conscientes que buscam uma sociedade igualitária para todos, com pouca ou
nenhuma desigualdade, pessoas com voz ativa e participação social.
Apenas um Centro
fez menção a formação para o trabalho, espera que além de cidadãos conscientes, os seus
alunos futuramente possam ser qualificados ao mercado de trabalho e desta forma “útil a
sociedade”.
Dentro do que se define por educação pode-se salientar a questão de propiciar o acesso
ao conhecimento historicamente acumulado e produzido pela sociedade, proporcionar
situações orientadas que promovam o desenvolvimento da criança em todos os seus aspectos
(físico, cognitivo, psíquico e social). O cuidar aparece sendo uma atenção especial às
necessidades das crianças, sejam estas físicas, psicológicas ou sociais. Sobre a educação
parece haver traços da Concepção Crítica de Educação. A educação defendida por estes
C.E.I.s pretende a formação de pessoas capazes de possuir um senso crítico, de respeitar o
direito do outro e de lutar pelos seus direitos, contribuindo assim para a transformação da
sociedade, ou seja, Concepção de Educação enquanto transformação.
Sobre o Conhecimento
Para os C.E.I.s o conhecimento sistematizado e produzido ao longo da história
deve ser trabalhado com a criança de forma integrada, não deve ser fragmentado. Serão
verificadas todas as formas de conhecimento respeitando sempre a capacidade das crianças de
entendê-los, sejam eles de caráter cultural, social, científico, etc. Parece importante salientar
que a criança possui conhecimentos específicos e que através do trabalho de atividades
orientadas com estes conhecimentos, esta é capaz de produzir novos conceitos e reformular
aqueles já existentes. O acesso ao conhecimento segundo um C.E.I pode proporcionar uma
vida mais justa e feliz a todos. Todas as formas de conhecimento devem ser trabalhadas,
3532
nenhum deve ser mais valorizado do que o outro, a relação da experiência para a aquisição do
conhecimento parece ter grande importância, levando a observar traços do empirismo.
Espaço Aberto para a Atitude e a Reflexão Filosófica
Embora não seja dito categoricamente com as palavras: atitude e Reflexão Filosófica,
supõe-se pelos dizeres dos P.P.P. dos C.E.I.s que existe um espaço aberto para desenvolver
nas crianças e em todos os envolvidos com a educação dentro dos respectivos centros uma
atitude filosófica acompanhada de uma Reflexão Filosófica, visto que todos destacaram a
importância do diálogo, da reflexão, da discussão, da capacidade de resolver problemas, do
desenvolvimento da criticidade, da curiosidade, da pesquisa e da investigação como forma de
construir saberes.
Finalidades do Centro de Educação Infantil, Papel do Professor e Linha Teórica da Escola
Em relação às Finalidades dos C.E.I.s, estes aparecem como um espaço de formação
humana, possuem basicamente a função de Educar e Cuidar,
proporcionando o
desenvolvimento integral da criança nos seus aspectos físicos, emocionais, sociais e
intelectuais, devem promover o acesso ao conhecimento sistematizado, a cultura, devem
estimular a interação da criança com o meio físico e social, ajudar esta a conhecer a si mesma
e a possuir uma boa relação com o outro.Também foi destacada a finalidade de se apoiar às
famílias no que se refere à educação de seus filhos. A questão de proteção à criança também é
cogitada.
O professor aparece como um mediador entre o conhecimento e a criança, é ele que
planejará atividades ou situações que ajudarão no desenvolvimento desta. Todos os centros
concordam que o professor não é aquele que repassa os conteúdos, mas o que junto com o seu
educando constrói o conhecimento. Dentro das atribuições do professor está a seleção de
conteúdos, atividades e recursos para atividades desafiadoras que estimulem a criança
integralmente. O professor exerce papel fundamental no caráter transformador e democrático
da Educação. Também aparece como um pesquisador, ele deve avaliar e questionar a sua
prática constantemente a fim de melhorá-la.
Embora apenas um C.E.I. tenha citado a linha teórica que segue, percebemos que a
linha teórica seguida por todos os C.E.I.s pesquisados foi a Sócio-Interacionista, sendo que
3533
algumas destacaram o contrutivismo como parte integrante do pensamento da escola
juntamente com o Sócio-Interacionismo. Nesta linha supõe-se que o aluno traz consigo
vivências e experiências que constituem o seu conhecimento, o Centro de Educação Infantil
deve então partir de tais conhecimentos para introduzir novos conceitos ou ajudar a
reformular os já existentes, o Sócio-Interacionismo vê o sujeito a partir do seu contexto social
e histórico. O que podemos perceber é uma linha do pensamento filosófico voltado para a
tendência dialética de Hegel e Karl Marx, ligada a questão histórica e social dos indivíduos, a
questão da luta e da transformação da sociedade. Também se observa traços do Empirismo
uma vez que as experiências vividas e adquiridas configuram papel importante para a
construção do conhecimento.
Considerações Finais
A partir das discussões realizadas nesta pesquisa, dos dados coletados nos Centros de
Educação Infantil, foi possível fazer uma relação entre a filosofia e a elaboração do P.P.P. nos
Centros de Educação Infantil, uma vez que foram encontrados aspectos e questões de cunho
filosófico na elaboração do P.P.P.
Porém é dever salientar que as Tendências ou Concepções Filosóficas encontradas
nos documentos analisados levam a percepção de que, embora todos estes aspectos e questões
sejam ligados a filosofia, não se pode afirmar que haja uma reflexão profunda a despeito dos
escritos, uma vez que se percebe um forte amálgama em relação às Concepções Filosóficas na
construção dos Projetos Político-Pedagógicos, não existe um elemento clarificador que diga,
tal concepção filosófica é a seguida por esta instituição por que seguimos determinada linha
de pensamento, existem apenas elementos escritos que levam a supor que o Centro de
Educação Infantil possui característica de determinada concepção. Conceitos encontrados em
todos os P.P.P. como cidadania, indivíduo atuante na sociedade, ser crítico, Sujeito histórico e
Social tem se tornado chavões usados por todas as escolas, sem o devido cuidado de se fazer
uma reflexão mais detalhada a respeito do assunto, no que a filosofia contribuiria
imensamente para tais discussões.
Quanto a Concepção Filosófica encontrada nos Centros de Educação Infantil existe
uma forte Tendência ao Materialismo Histórico Dialético, embora apenas um Centro diga isto
com clareza, todos os outros demonstram pelo que se escreve ter nesta Concepção a sua linha
3534
de atuação. Em relação ao conhecimento percebem-se fortes traços do empirismo que leva em
consideração as experiências vividas como requisito para a obtenção de conhecimento.
Quanto à contribuição da filosofia para a elaboração do P.P.P. dos Centros de
Educação Infantil, pode-se salientar que esta terá papel importante a desempenhar uma vez
que pode contribuir para: Oferecer subsídios teóricos e práticos ao delinear a linha de
pensamento da escola, esclarecer conceitos utilizados a luz de uma reflexão mais profunda e
não a luz do senso comum, promover o aperfeiçoamento do pensamento tanto de cunho
individual quanto social, permitir uma discussão a respeito da função do Centro de Educação
Infantil e papel a ser desempenhado pelo professor de Educação Infantil, conhecer a realidade
instaurada e os problemas educacionais, e a partir deste conhecimento, procurar um plano de
ação que privilegie a melhoria da qualidade da educação e da sociedade como um todo.
Já ouvi algumas pessoas que atuam na área educacional dizer que a filosofia em nada
contribui para o setor, que deveriam ser suprimidas as aulas de filosofia do curso de formação
de professores ou dos profissionais que atuam nesta área, porém gostaria de dizer que não
consigo imaginar a Educação formal acontecendo sem ter uma base forte que a sustente, uma
Educação que se preze e que busca uma formação humana com dignidade a todos, não pode
de maneira nenhuma fugir da filosofia, pois é esta usada em benefício tanto da educação
como dos seres humanos.
REFERÊNCIAS
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relacionando a filosofia a elaboração do projeto político