BRASIL – ERA VARGAS I Agonia da República Velha Vimos que, em 1929, o mundo foi abalado pela crise do capitalismo. A principal causa da crise foi a superprodução da indústria norte-americana, que cresceu mais que as necessidades de seu mercado interno e mais que o poder de compra do mercado internacional. Sem poder vender, os Estados Unidos também deixaram de comprar. Isso afetou gravemente a economia dos países que dependiam de exportações para os norte-americanos. Foi o caso do Brasil, que deixou de vender milhões de sacas de café. Em consequência, o preço do café despencou. Em 1929, a produção de café atingiu 21 milhões de sacas, das quais foram exportadas somente 14 milhões. Numa tentativa desesperada de segurar os preços, milhares de sacas foram queimadas, em vão. Foi impossível conter a crise na cafeicultura, que provocou um desastre econômico, abalando as estruturas da República Velha. Desestruturação da República velha O enfraquecimento econômico da oligarquia cafeeira contribuiu para desestruturar a organização do poder da República Velha. Além dos problemas econômicos, surgiu ainda a ruptura do acordo político entre as lideranças de Minas Gerais e São Paulo. Não houve entendimento para indicar o candidato presidencial à sucessão de Washington Luís. Nas eleições de 1930, a oligarquia paulista apoiava o candidato Júlio Prestes, do Partido Republicano Paulista (PRP), enquanto os políticos mineiros, apoiavam Antônio Carlos Ribeiro de Andrade, governador de Minas Gerais, do Partido Republicano Mineiro (PRM). O rompimento do acordo entre paulistas e mineiros (política do café com leite), isto é, o desentendimento entre PRP e PRM, agitou o país. A oposição às oligarquias tradicionais aproveitou o momento para conquistar espaço político e formar alianças. Nesse clima nasceu a Aliança Liberal, unindo lideranças políticas do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais e da Paraíba. Essa aliança lançou o nome do governador gaúcho Getúlio Vargas para presidente da República e do governador paraibano João Pessoa para vice-presidente. Os candidatos da Aliança Liberal passaram a ter o apoio de gente de todo tipo. Gente renovadora que queria acabar com o velho esquema político da República Velha, e gente oportunista que queria apenas conservar o poder em suas mãos. Era o caso do governador de Minas Gerais, Antônio Carlos, que passou a apoiar a Aliança Liberal, depois de ter rompido com São Paulo. De qualquer modo, a Aliança Liberal apresentava um programa de reformas com alguns avanços, que tinha grande aceitação junto às classes médias e aos militares ligados ao Tenentismo. Seus pontos principais eram: instituição do voto secreto (para acabar com o coronelismo e as fraudes); criação de leis trabalhistas; incentivo à produção industrial. REVOLUÇÃO DE 1930 Apurados os resultados da eleição presidencial de 1930, o paulista Júlio Prestes, do PRP, tinha sido vitorioso, derrotando o candidato da Aliança Liberal, Getúlio Vargas. Os líderes gaúchos, mineiros e paraibanos recusavam-se a aceitar o resultado das eleições. Diziam que a vitória de Júlio Prestes não passava de uma fraude. Na verdade, é difícil saber qual dos dois lados utilizou mais violência e fraude para ganhar as eleições. A única certeza é de que a oligarquia paulista foi mais eficiente nos métodos empregados. O clima de revolta aumentava no país. Nesse momento, o governador mineiro Antônio Carlos pronunciou a célebre frase que entrou para a história: Façamos a revolução, antes que o povo a faça. Essa frase mostra que as elites da Aliança Liberal tinham consciência de que era preciso assumir o comando das transformações, antes que outros grupos sociais o fizessem, levando o povo a promover mudanças mais profundas no país. A revolta contra as velhas estruturas ganhou força quando João Pessoa, governador da Paraíba, foi assassinado por motivos pessoais e políticos, em 25 de julho. A morte de João Pessoa foi a causa imediata para unir a oposição contra o governo. Em 3 de outubro, a luta armada estourou no Rio Grande do Sul, espalhando-se por Minas Gerais, Paraíba e Pernambuco. O objetivo final era impedir Júlio Prestes de tomar posse da Presidência como sucessor de Washington Luís. Reconhecendo o avanço da guerra civil, os militares do Rio de Janeiro, liderados pelos generais Mena Barreto e Tasso Fragoso, depuseram o presidente Washington Luís, no dia 24 de outubro, a poucas semanas do fim de seu mandato. O poder foi entregue a Getúlio Vargas, chefe político da Revolução de 1930. Terminava a República Velha. Período getulista A vitória da Revolução de 1930 deu início a uma nova etapa da nossa história, que se estendeu até 1945. Essa etapa foi marcada pela liderança política de Getúlio Vargas, sendo, por isso, conhecida como Era Vargas ou período getulista. Durante esses quinze anos, o Brasil sofreu grandes transformações: a sociedade urbana cresceu em relação à sociedade agrária; a indústria ampliou seu espaço na economia nacional; a burguesia empresarial das cidades aumentou seu poder sobre as tradicionais oligarquias agrárias; a classe média e o operariado cresceram e conquistaram espaços na vida política do país. O período getulista pode ser dividido em três grandes fases: governo provisório (1930-1934). governo constitucional (1934-1937). governo ditatorial (1937-1945).