Migração de Retorno e Escolha Ocupacional no Brasil Palavras-chave: Migração de retorno; Mercado de Trabalho; Brasil. Classificação no JEL: J24; J61; C35. Área de Interesse: 15. População, migração e desenvolvimento Autores: Hilton Martins de Brito Ramalho Doutor em Economia pela Universidade Federal da Pernambuco - UFPE Professor Adjunto do Departamento de Economia - UFPB/Campus I Endereço Postal: Curso de Mestrado em Economia, Centro de Ciências Sociais Aplicadas - UFPB, Cidade Universitária - Campus I, João Pessoa, PB. CEP: 58059-900. Fone: (83) 3216-7482/ (83) 8844-1020. [email protected] Raul da Mota Silveira Neto Doutor pela USP Departamento de Economia e PIMES-UFPE, pesquisador do CNPq. [email protected] Migração de Retorno e Escolha Ocupacional no Brasil Resumo: Este artigo analisa a inserção produtiva do migrante retornado nos diferentes segmentos do mercado de trabalho brasileiro, identificando quais atributos sócio-econômicos são determinantes para as chances de emprego nos setores formal e informal. Considerando os dados da PNAD de 2007 e um modelo de múltipla escolha ocupacional, foi possível verificar que a probabilidade de emprego do remigrante no setor formal é positivamente correlacionada com o grau de instrução, principalmente, quando se considera o ingresso no setor público. Os migrantes retornados do sexo feminino, de baixa escolaridade ou que não chefiam a família têm maiores chances de empregar-se nos setores informais da economia. A experiência de migração aumenta a probabilidade de o migrante retornado trabalhar como autônomo e/ou empregador sem contribuir para a previdência social.9999 Palavras - Chave: Migração de retorno; Mercado de trabalho; Brasil. Classificação no JEL: J24; J61; C35. Abstract: This paper analyzes the occupational choice of return migrants on segmented labor market in Brazil. Using data from PNAD 2007 and a model of occupational choice, it was find that employment probability of return migrant in formal sector is positively correlated with educational level, mostly if it take account the public sector. The return migrants of female sex, low education or non household-head have more chances to find job in informal sector. The migration experience, in turn, increase de propensity of return migrant is working as own account work or entrepreneurship without contribute to social security system. Key Words: Return migration; Labor Market; Brazil. JEL Classification: J24; J61; C35. 1. Introdução No contexto recente de redução das disparidades pessoais e regionais de renda no Brasil (SILVEIRA NETO e AZZONI, 2008), a migração de retorno tem se revelado como fenômeno relevante para dinâmica de mobilidade do trabalho no país. De fato, segundo os dados recentes da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios – PNAD de 2007, por exemplo, cerca de 371 mil pessoas volveram aos seus estados de origem entre 2003 e 2007, cifra equivalente a 11% do total das migrações interestaduais no país durante o mesmo período. Adicionalmente, considerando apenas o critério de naturalidade, informações desta mais recente PNAD permitem evidenciar que aproximadamente 5,4 milhões de brasileiros já registraram histórico de regresso ao seu estado de origem, quantidade referente a 19% do total de migrantes acumulados e a 3% da população do país. Com efeito, após os anos noventa, a migração de retorno registrou volume expressivo quando comparado às evidências históricas no país. Observando a dinâmica regional, Ribeiro (1997) ressaltou que a importância dos migrantes de retorno nos movimentos imigratórios para o Nordeste quase dobrou entre as décadas de 70 e 80. Em estudo mais detalhado e recente para o Brasil, Siqueira (2006) usa os dados do Censo Demográfico de 2000 e mostra que, entre 19952000, 41% do total de migrantes de retorno dirigiram-se para o Nordeste. Ao traçar o perfil do migrante de retorno brasileiro, a autora chega a evidências que favorecem a remigração às origens como o resultado de uma frustração nas expectativas de emprego e rendimentos na região de destino, caso oposto ao observado para outros países, onde as pessoas que regressam às suas localidades de naturalidade são, em geral, mais velhas. O fenômeno da remigração do trabalho no Brasil também assume outras facetas, visto que os estudos atuais indicam um aumento dos migrantes circulares (por etapas), fruto da provável instabilidade das condições de emprego na região de destino (CUNHA, 2002). Esse novo processo migratório pode caracterizar algumas dinâmicas diferenciadas, como fluxos migratórios com forte concentração regional, mas de alta mobilidade intra-regional. Nesse contexto, além da questão do desemprego, os movimentos de migratórios poderiam estar relacionados ao aumento 1 da renda das famílias mais pobres e dos programas governamentais de transferência de renda. Recentemente, por exemplo, Silveira Neto (2008) encontrou evidências de que o programa de transferência de renda Bolsa Família parece atuar afetando negativamente os fluxos internos de migração no Brasil, embora tal influência, de acordo com os resultados deste autor, pareça ser menos efetiva no caso da migração de retorno. Não obstante este conjunto relevante de evidências a respeito da migração de retorno no Brasil, um aspecto fundamental permanece inexplorado na literatura: a reinserção do migrante retornado no mercado de trabalho do seu estado de origem. A este respeito, na literatura internacional, alguns trabalhos procuraram explicar a tendência de os retornados aos seus países se encontrarem empregados como autônomos ou empreendedores. As principais argumentações teóricas para tal fenômeno estariam associadas (i) à importância da repatriação da renda/poupança oriunda do trabalho no país destino, fluxo que permitiria romper as restrições financeiras iniciais (ILAHI, 1999; MESNARD, 2004) e (ii) ao processo de acumulação de capital humano decorrente da experiência com a migração (DUSTMANN e KIRCHKAMP, 2002; PIRACHA e VANDEAN, 2009). Quando se considera a migração interna entre os estados brasileiros, muito pouco é conhecido, contudo, a respeito da inserção ocupacional dos migrantes de retorno no Brasil. Ou seja, em que medida a experiência da migração e o nível de instrução, por exemplo, afetam a alocação ocupacional do migrante retornado no mercado de trabalho? A referida lacuna ganha ainda mais ênfase ao se considerarem os impactos do aumento da informalidade no mercado de trabalho sobre a estrutura salarial e as condições de emprego ao longo das últimas décadas (BRAGA, 2006; SOUZA, 2006). Diante de tal panorama, esse trabalho procura evidências sobre o engajamento dos remigrantes nas atividades econômicas do seu estado de naturalidade. Mais especificamente, o objetivo é fazer uma análise da inserção produtiva do migrante retornado nos diferentes segmentos do mercado de trabalho, avaliando quais atributos sócio-econômicos (sexo, raça, experiência, experiência de emprego da região de destino, escolaridade, tempo de residência) são determinantes para as chances de emprego nos setores formal e informal da economia. Para tanto, incluindo essa introdução, o presente artigo está dividido em cinco partes. A segunda parte apresenta evidências recentes sobre a migração de retorno no Brasil. A terceira parte é reservada para a exposição dos aspectos teóricos e estratégia empírica. A quarta parte analisa os resultados econométricos. Por fim, a última parte é reservada a considerações finais. 2. Migração de retorno no Brasil: fatos observados 2.1. As rotas regionais dos migrantes retornados A migração de retorno no Brasil vem apresentando padrão regional caracterizado pela importância das regiões Nordeste e Sudeste ao longo do tempo. Observado a distribuição dos migrantes retornados aos seus estados de origem em intervalos de tempo de retorno, é possível constatar a referida regularidade. Nesse sentido, a Figura 1, na próxima página, apresenta, para as duas últimas décadas, a evolução das participações das regiões Nordeste e Sudeste enquanto localidades de destino e de regresso dos migrantes, respectivamente. Tais indicadores foram obtidos considerando aqueles migrantes que volveram aos seus estados de naturalidade em períodos (fluxos) distintos e de curto prazo, isto é, os indivíduos que na data de pesquisa (PNAD) afirmaram residir nos seus estados de naturalidade, mas que há cinco anos se encontravam em 2 outra unidade da federação. Logo, por se tratarem de coortes separadas por período fixo de retorno, as participações calculadas não são afetadas pela presença de remigrantes acumulados1. Os dados revelam que o Sudeste é o principal destino dos migrantes retornados, ao passo que a região Nordeste, se apresenta como maior emissora dessas pessoas. Tal padrão é consistente com aquele verificado em vários estudos sobre migração inter-regional no Brasil, os quais reforçam que as migrações são direcionadas das regiões mais pobres para aquelas mais ricas, onde as oportunidades de emprego seriam maiores (YAP, 1976; NETTO JÚNIOR et al.,2003; SANTOS JÚNIOR et al., 2005; JUSTO, 2006; SANTOS e FERREIRA, 2007). Figura 1: Distribuição dos migrantes de retorno por coortes de data fixa – participação do Nordeste entre as regiões de destino e do Sudeste entre as regiões emissoras - % (19872007) Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNADs de 1992, 1997, 2002 e 2007. Nota: Resultados expandidos para a população. As participações das referidas regiões nos fluxos remigratórios foram crescentes ao longo da década de 90 e mantiveram-se elevadas no período mais recente. A região Sudeste, que no inicio do período em foco, atraiu cerca de 42% dos migrantes retornados no país, passou, no começo do novo milênio, a ser preferência de 53% desses indivíduos, fechando uma participação de 45% na coorte 2002-2007. Já a região Nordeste, teve representação de 34% no acolhimento dos retornados entre o período 1987-1992, taxa que alcançou 39% entre 1997-2002, permanecendo estável até 2002-2007. Assim, é possível perceber não apenas a importância das regiões em análise para a dinâmica da remigração às origens no Brasil, mas também que essas participações nos fluxos de retornados guardam correlação positiva entre si, além de registrarem crescimento expressivo durante o período 1997-2002, no qual o país registrou significativa redução das desigualdades de renda (SILVEIRA NETO e AZZONI, 2008). Considerando ainda o critério de identificação dos migrantes por data fixa, seria interessante identificar a participação dos migrantes de retorno nas migrações interestaduais. A Figura 2, a seguir, procura elucidar a indagação anterior, ao apresentar as participações das 1 Por remigrante acumulado entende-se aquele indivíduo que registrou histórico de retorno ao seu estado de origem independente da sua data de regresso. 3 migrações de retorno nas migrações interestaduais segundo as macrorregiões e por coortes de data fixa. De uma forma geral, constata-se a forte representação das regiões Nordeste e Sul durante as décadas mais recentes. No inicio dos anos 90, a região Sul registrou participações de 23% e 25% do fluxo de retornados nas migrações interestaduais, respectivamente para as coortes 19871992 e 1992-1997. Esses patamares superaram aqueles registrados pela região Nordeste, 21% entre 1987-1992 e 17% para o período 1992-1997. Todavia, a partir do novo milênio verifica-se uma reversão nas posições dessas duas regiões, ou seja, o Nordeste assume a maior importância na absorção dos migrantes de retorno dentro dos fluxos interestaduais, registrando uma taxa de participação de 17% na coorte 2002-2007, contra 15% da região Sul no mesmo intervalo de tempo. Figura 2: Participação dos migrantes de retorno nas migrações interestaduais segundo as macrorregiões e por coortes de data fixa - % (1987-2007) Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNADs de 1992, 1997, 2002 e 2007. Nota: Resultados expandidos para a população. As regiões Sudeste, Norte e Centro-Oeste tiveram participações médias em torno de 10%, no caso da primeira, e de 7% e 6% para a segunda e terceira seqüencialmente. Em termos dinâmicos, apesar de os dados da PNADs revelarem redução absoluta dos fluxos migratórios no período mais recente (2002-2007), fato que pode se relacionar com as reduções das desigualdades de renda entre as regiões, o Nordeste manteve uma tendência estável na taxa de entrada de retornados, ao contrário da região Sul, que desde a década de 90 apresentou maior tendência de queda nessa participação. Tais evidências reforçam a importância do Nordeste na emissão e absorção dos migrantes de retorno no Brasil e alertam para os potenciais rebatimentos desse influxo de remigrantes o mercado de trabalho. Cabe ressaltar que os dados analisados até o momento caracterizam apenas a dinâmica regional da migração de retorno de curto prazo, isto é, indivíduos que deixaram seus estados de origem e retornaram no prazo de até cinco anos. É bastante intuitivo que nesse caso a frustração em relação às oportunidades de emprego e de renda na unidade federativa de destino ou ainda características sazonais de emprego tenham exercido papel determinante no regresso dessas pessoas. Destarte, torna-se necessário também identificar e comparar as principais rotas regionais dos migrantes de retorno acumulados e migrantes retornados de médio prazo. Na primeira 4 tipificação, considera-se como migrante de retorno o indivíduo que na data de entrevista afirmou residir no estado de nascimento, porém já havia morado em outro estado em algum período de sua vida. Já no caso dos retornados de médio prazo, as informações das PNADs permitem identificar o individuo que na data de pesquisa mantinha domicílio na unidade federativa de naturalidade e que, durante os últimos 9 anos, já residiu em outro estado. Tomando os critérios acima mencionados as Tabelas 1 e 2, a seguir, reportam as rotas regionais dos migrantes de retorno no Brasil a partir dos dados mais recentes da PNAD de 2007. Na Tabela 1 são registrados os estoques de migrantes retornados acumulados (sem controle de tempo de regresso) segundo a macrorregião de residência anterior e por macrorregião de nascimento (residência na data de pesquisa). Tabela 1: Migrantes de retorno segundo a macrorregião de residência anterior e por macrorregião de naturalidade– migrantes acumulados - 2007 Anterior\Atual NO NE SE SUL CO TOTAL NO 111.942 188.842 85.615 48.852 64.226 499.477 43,3% 10,2% 4,3% 4,7% 21,7% 9,2% NE 43.924 535.262 216.513 26.661 15.140 837.500 17,0% 28,9% 10,8% 2,6% 5,1% 15,4% SE 41.767 918.689 1.004.654 363.284 95.547 2.423.941 16,2% 49,6% 50,2% 34,9% 32,2% 44,5% SUL 2.961 40.565 369.646 428.139 19.732 861.043 1,1% 2,2% 18,5% 41,1% 6,7% 15,8% CO 58.049 170.752 326.914 173.773 101.899 831.387 22,4% 9,2% 16,3% 16,7% 34,4% 15,3% TOTAL 258.643 1.854.110 2.003.342 1.040.709 296.544 5.453.348 100% 100% 100% 100% 100% 100% Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNAD de 2007. Nota: Resultados expandidos para a população. Os dados mostram que mais de 5 milhões de pessoas registraram histórico de retorno ao seu estado de origem, quantidade equivalente a 3% da população brasileira em 2007 e a 19% dos migrantes interestaduais por naturalidade. A região Sudeste foi a que acumulou o maior estoque de retornados (pouco mais de 2 milhões de pessoas), seguida pelo Nordeste (1,8 milhões) e Sul ( 1 milhão). Do total de migrantes que volveram ao Sudeste, metade procedeu da própria região, ao contrário da região Nordeste, onde se estima que metade dos retornados apresentou passagem pelo Sudeste. Com efeito, entre todas as regiões em foco, apenas no Nordeste a maior parcela dos regressos veio de fora da região. Para os retornados às regiões Sul e Centro-Oeste, o segundo principal destino foi o Sudeste. Apenas no caso da região Norte é que se observa o Sudeste como quarto destino dos remigrantes, perdendo preferência para os movimentos intra-regionais e interregionais - Centro-Oeste e Nordeste, respectivamente. A Tabela 2, a seguir, apresenta os estoques de migrantes retornados de médio prazo segundo a macrorregião de residência anterior e por macrorregião de naturalidade, ou seja, as pessoas que regressaram ao seu estado de origem entre 1997-2007. Constata-se que cerca de 1,7 milhões de indivíduos volveram às unidades federativas de origem nos últimos dez anos, número que representa 31% dos retornados acumulados. Em geral, os dados mostram regularidades com aqueles observados na tabela anterior, destacando a região Sudeste como principal pólo de atração dos migrantes de retorno oriundos do Nordeste (50%) e como segunda rota para os remigrantes naturais das regiões Sul (38%) e Centro-Oeste (22%). 5 Nesse contexto, a região Nordeste foi aquela que mais emitiu migrantes retornados durante o período em foco, isto é, cerca de 634 mil, seguida pelo Sudeste com 502 mil e Sul com 340 mil. Tabela 2: Migrantes de retorno segundo a macrorregião de residência anterior e por macrorregião de naturalidade – período de retorno (1997-2007) Anterior\Atual NO NE SE SUL CO TOTAL NO 51.514 65.429 25.301 13.626 24.573 180.443 42,8% 10,3% 5,0% 4,0% 22,5% 10,6% NE 19.123 164.794 57.179 12.460 5.541 259.097 15,9% 26,0% 11,4% 3,7% 5,1% 15,2% SE 16.904 317.395 285.498 129.672 23.787 773.256 14,0% 50,1% 56,8% 38,1% 21,8% 45,3% SUL 1.355 12.532 63.404 132.495 9.528 219.314 1,1% 2,0% 12,6% 38,9% 8,7% 12,9% CO 31.497 74.004 71.348 52.489 45.890 275.228 26,2% 11,7% 14,2% 15,4% 42,0% 16,1% TOTAL 120.393 634.154 502.730 340.742 109.319 1.707.338 100% 100% 100% 100% 100% 100% Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNAD de 2007. Notas: Apenas retornados com tempo de residência no estado menor ou igual a 9 anos. Resultados expandidos para a população. Ao se comparar as evidências apresentadas nas tabelas anteriores percebe-se que a principal rota inter-regional da migração de retorno no Brasil ocorre no sentido NE-SE-NE e que a importância da região Nordeste enquanto emissora de remigrantes tem aumentado no período recente, visto que possui o maior estoque de retornados de médio prazo. Outras rotas interregionais também aparecem em segundo plano: SUL-SE-SUL, NO-CO-NO e CO-SE-CO, porém cada uma representa menos da metade daquela observada entre as regiões Nordeste e Sudeste. Por outro lado, ao focar os migrantes de médio prazo também se verifica importantes rotas intraregionais, como no caso das regiões Sudeste, Norte, Centro-Oeste e Sul, respectivamente, com 57%, 43%, 42% e 39% dos seus estoques de retornados procedentes de suas próprias fronteiras geográficas. Esses padrões intra e inter-regionais ressaltam a necessidade de se avaliar os impactos da remigração no mercado de trabalho dos estados de naturalidade, ou seja, identificar como a experiência da migração e/ou acumulação de capital humano pode influenciar a alocação dos trabalhadores nos setores de atividades formal e informal. 2.2. Perfil e Características de Ocupação dos Migrantes de Retorno A migração de retorno pode prover aos trabalhadores a oportunidade de acumular experiências ou habilidades adquiridas durante suas atividades produtivas na região de destino. Evidentemente, esse diferencial torna-se mais provável quando o regresso às origens não foi motivado pelo insucesso na busca por emprego ou melhores rendimentos, mas por um planejamento ao longo do ciclo de vida. Siqueira (2006), usando dados do Censo Demográfico de 2000 mostra que a maior parte dos migrantes retornados no Brasil tem entre 30 e 39 anos, perfil diferente do observado para outros países, onde se verifica a presença de pessoas mais velhas nos fluxos remigratórios. Por outro lado, conforme já mencionado, a região Sudeste tem sido o destino da maior parte dos migrantes de retorno no país. Logo, por se tratar de uma região com forte concentração de pessoas, conhecimentos e atividades econômicas, a experiência da migração pode facilitar o engajamento em determinadas funções ocupacionais ou permitir o influxo de valores que viabilizem o trabalho autônomo (investimentos em pequenos e médios 6 negócios) no seu estado de origem (STARK et al., 1986; TAYLOR e MARTIN, 2002; DUSTMAN, 2003). De fato, pouco se sabe, para o caso brasileiro, sobre a re-integração dos migrantes retornados no mercado de trabalho, embora existam várias evidências na literatura internacional. Ilahi (1999), por exemplo, em estudo sobre a migração de retorno no Paquistão, mostra que a é alta a probabilidade de os retornados mais instruídos encontrarem emprego assalariado, comparado a ocupação autônoma. A principal argumentação levantada pelo autor é que o trabalho autônomo não exigiria habilidades específicas às ocupações assalariadas no mercado de trabalho, facilitando a inserção dos remigrantes com menor instrução na referida ocupação. Dustmann e Kirchkamp (2002) encontraram, para o caso da Turquia, forte correlação positiva entre escolaridade e propensão de o retornado encontrar-se empregado por conta-própria, sobretudo, como empregadores. Em estudo mais recente, Piracha e Vadean (2009) mostram que na Albania, os migrantes de retorno com baixa escolaridade têm maior probabilidade de trabalhar como autônomos, enquanto os mais escolarizados tenderiam a empregadores. Também revelam, através de uma analise contrafactual, que se os não-migrantes tivessem optado pela migração de retorno seriam mais predispostos ao empreendedorismo. Para traçar o perfil sócio-econômico (características pessoais e de ocupação) do migrante de retorno no Brasil, doravante, nas próximas tabelas, são feitas comparações entre os atributos dos não-migrantes e remigrantes. Foram considerados os migrantes retornados de médio prazo, provendo assim, evidências sobre as características dos trabalhadores que volveram aos seus estados no período mais recente 1997-2007. Já os não-migrantes são aqueles indivíduos que responderam nunca ter morado fora do seu estado de nascimento. A Tabela 3, a seguir, apresenta a distribuição dos não-migrantes e migrantes retornados segundo sexo, raça e residência setorial, assim como, as médias de anos de estudo, idade, horas de trabalho semanal (trabalho principal) e renda domiciliar per capita. Apenas foram inclusos os trabalhadores economicamente ativos na semana de referência. Por tratar-se de dados amostrais, também foram realizados testes de diferença entre proporções e entre médias dos dois grupos em destaque. Observando inicialmente a distribuição dos trabalhadores por sexo, percebe-se que entre os não-migrantes e remigrantes, a presença de homens é maior. Embora a tabela não considere as taxas de atividade, existem evidências sobre o aumento da participação feminina no mercado de trabalho brasileiro (SCORZAFAVE e MENEZES-FILHO, 2001; GUEDES e ALVES, 2004), e, portanto, a diferença entre homens e mulheres remigrantes pode refletir uma maior freqüência dos primeiros na tomada de decisão migratória2. Já em relação à raça declarada, não se constata diferença estatística entre não-migrantes e retornados, entretanto, é possível observar maior presença de trabalhadores não-brancos em cada grupo. A concentração de trabalhadores retornados no meio urbano é próxima a registrada para os não-migrantes, isto é, cerca de 87% desses indivíduos vive na zona urbana contra 13% no meio rural. Tal característica sugere que após a etapa inicial de migração, a maioria dos retornados procuraram novas oportunidades de emprego nas cidades, onde se verifica maior concentração de atividades econômicas e serviços, oferta de infra-estrutura e bens públicos em relação às áreas rurais. Nesse sentido é possível inferir que os rebatimentos da remigração podem ser mais intensos no mercado de trabalho das cidades brasileiras. 2 Como os dados em foco exprimem apenas a conjuntura do mercado de trabalho no ano de 2007, não é possível fazer uma comparação entre as taxas de participação das mulheres no tempo. 7 Tabela 3: Brasil - Perfil dos trabalhadores não-migrantes e migrantes retornados - 2007 sexo feminino masculino raça não-branco branco setor rural urbano não-migrantes % retornados % estatística z 45,4 54,6 43,7 56,3 -1,66* 53,1 46,9 54,3 45,7 1,14 13,4 86,6 12,8 87,2 -0,85 não-migrantes (média) retornados (média) estatística t anos de estudo 7,4 8,0 -6,52*** idade 38,4 34,8 12,66*** rendimento do trabalho principal (R$) 779,8 955,5 -5,74*** horas de trabalho 37,1 37,8 -1,94* renda domiciliar per capita (R$) 567,8 683,5 -6,11*** Fonte: Elaboração própria a partir dos dados das PNAD de 2007. Notas: Apenas indivíduos economicamente ativos na semana de referência. Migrantes retornados com tempo de residência no estado menor ou igual a 9 anos.*** Diferença estatisticamente significativa a 1%. ** Diferença estatisticamente significativa a 5%. * Diferença estatisticamente significativa a 10%. Conforme prediz a teoria do capital humano, a escolaridade é uma das variáveis mais importantes na análise da propensão a migrar (SCHULTZ, 1961; SJAASTAD, 1962; KOCHAR, 2004). Os dados da Tabela 3 mostram que a média de anos de estudo nos migrantes retornados é superior a verificada para os não-migrantes, sugerindo que o primeiro grupo poderia antecipar/prever melhor o fluxo de rendimentos provenientes da migração por etapas. A média de idade também apresenta forte diferença estatística para as duas categorias de trabalhadores em foco. Enquanto o não-migrante típico possui 38 anos de idade em média, o retornado registra 35 anos. Tal fato é consistente com os achados de Siqueira (2006), e revela que o migrante de retorno no Brasil volta ao seu estado de origem ainda na fase jovem/adulta, caracterizando uma possível instabilidade ou erro de previsão das condições de emprego e renda provenientes da etapa inicial de arbitragem. O rendimento médio do trabalho é maior para os retornados, registrando considerável diferença. No mesmo sentido, também se observa que os que os remigrantes tendem a trabalhar mais que os não-migrantes, embora o hiato entre as horas semanais trabalhadas não seja expressivo. A priori, essas desigualdades poderiam ser explicadas por distintas dotações de habilidades não-observadas em favor do grupo de retornados, em alguns casos, habilidades adquiridas com a experiência inicial de migração (BORJAS, 1987; BORJAS e BRATSBERG, 1989; DUSTMANN e KIRCHKAMP, 2002). A renda domiciliar per capita dos não-migrantes é estatisticamente inferior a observada para os retornados, evidência que sugere melhores condições de vida para as famílias que possuem trabalhadores com alguma experiência de remigração. Essa diferença permite especular uma possível influência positiva do envio de rendimentos por parte do migrante, quando de suas atividades na região de destino, na abertura de pequenos e médios negócios, ou ainda, por outro 8 lado, um melhor suporte familiar ao retorno dos trabalhadores (efeito atrativo das redes sociais) (STARK et al., 1986; YAMAUCHI e TANABE, 2003)3. A Tabela 4, a seguir, registra atividade econômica, emprego e ocupação dos nãomigrantes e migrantes de retorno por sexo. Com o intuito de verificar possíveis particularidades entre os grupos, foram realizados testes de diferenças de proporções por sexo. Com respeito à condição de atividade econômica, os dados mostram que entre os trabalhadores homens as taxas de inatividade são bem inferiores àquelas observadas para as mulheres, não obstante à experiência de remigração. Comparando os retornados com os nãomigrantes, percebe-se que, tanto entre as mulheres, como entre os homens, a taxa de atividade é maior para o primeiro grupo. Isso indica que o regresso às origens não coincide com o retiro das tarefas laborais, ao contrário, visto que o migrante volve ainda na fase adulta, essa decisão pode ter sido motivada pelo desemprego ou instabilidade na região de destino. Tabela 4: Brasil – Características de atividade, emprego e ocupação dos trabalhadores nãomigrantes e migrantes de retorno por sexo – 2007- % Condição não-migrante feminino masculino retornado feminino masculino estatística z feminino masculino Atividade Economicamente não-ativo 50,2 29,5 42,5 24,7 -6,49*** -4,38*** Economicamente ativo 49,8 70,5 57,5 75,3 Emprego Desempregado 10,0 5,5 13,0 5,1 3,25*** -0,57 Empregado 90,0 94,5 87,0 94,9 Ocupação Empregado com carteira 25,9 39,0 23,7 39,8 1,52 -0,57 Funcionário público ou militar 9,2 5,4 5,3 5,5 3,97*** -0,21 Empregado sem carteira 12,4 18,8 16,6 19,5 -3,77*** -0,58 Doméstico com carteira 5,6 0,4 4,0 0,5 1,99* -0,27 Doméstico sem carteira 13,9 0,6 14,4 0,6 -0,40 -0,15 Conta-própria 18,5 26,0 23,6 25,3 -3,89*** 0,55 Empregador 2,2 4,9 2,4 4,6 -0,29 0,57 Produção/Próprio consumo 5,8 2,2 4,7 1,6 1,45 1,55 Construção/Próprio uso 0,1 0,2 0,2 0,3 -1,06 -0,79 Não-remunerado 6,4 2,6 5,1 2,5 1,61 0,18 Total 100 100 100 100 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados das PNAD de 2007. Notas: Apenas indivíduos economicamente ativos na semana de referência. Migrantes retornados com tempo de residência no estado menor ou igual a 9 anos.*** Diferença estatisticamente significativa a 1%. ** Diferença estatisticamente significativa a 5%. * Diferença estatisticamente significativa a 10%. Observando as condições de emprego para os trabalhadores economicamente ativos, notase que o desemprego é, em geral, menor entre os homens. As mulheres retornadas têm maior dificuldade de encontrar que os homens remigrantes, e quando comparadas as mulheres nãomigrantes, também se verifica essa mesma característica. Uma provável explicação para esse fato pode ser em razão da migração familiar, na qual as mulheres acompanham seus cônjuges enquanto agregadas, e quando restritas exclusivamente às atividades domésticas, não 3 Uma melhor explanação sobre essa questão poderia ser feita avaliando a estrutura de ocupação dos familiares nos domicílios dos retornados, todavia, foge ao escopo do presente trabalho. 9 aproveitariam as oportunidades de experiência na região de destino, dificultando sua inserção no mercado de trabalho após o regresso (MINCER, 1978). Em relação à posição ocupada no trabalho, a distribuição dos homens nas categorias consideradas apresenta algumas diferenças quando comparada à observada para as mulheres, independente da condição de não-migrante/retornado. Nesse aspecto destacam-se a forte predominância dos homens nos trabalhos remunerados com carteira assinada e das mulheres no emprego doméstico, sobretudo, naqueles sem carteira assinada. Ao se comparar os não-migrantes com os retornados, é possível verificar que as mulheres retornadas têm maior propensão ao trabalho por conta-própria ou sem carteira assinada que aquelas não-migrantes. Já entre os homens, não se constatam diferenças estatisticamente válidas, embora também se observe importância dos empregos por conta-própria ou sem carteira assinada. A ocupação de empregador é mais comum entre os homens, e no caso dos remigrantes, menos de 5% dos ocupados eram empregadores, categoria que quando comparada ao trabalho por conta-própria, gera maior impacto na economia local devido ao seu efeito multiplicador sobre os postos de trabalho. 3. Migração de Retorno e Escolha ocupacional: Estratégia Empírica O modelo empírico a seguir procura identificar os determinantes da escolha ocupacional dos remigrantes no mercado de trabalho. Para tanto, baseia-se no instrumental e na estratégia de estimação desenvolvidos por Lee (1983) e aplicados em diversos estudos empíricos sobre oferta de trabalho (BANERJEE, 1987; MENG, 2001; PIRACHA e VADEAN, 2009). Considerando um mercado de trabalho segmentado em setores, a decisão de ofertar trabalho será condicionada pelo confronto multilateral das potenciais utilidades obtidas pelo migrante no conjunto de oportunidades disponíveis. Destarte, o remigrante alocará seu trabalho no setor se, e somente se, este oferecer o maior benefício líquido em relação aos demais, ou seja, , com a variável binária assumindo o valor: e caso contrário. Assumindo que o termo de erro da função de utilidade anterior segue uma distribuição de valor extremo, Maddala (1983) mostra que a probabilidade de o migrante retornado ser absorvido pelo setor pode ser estimada a partir de um logit multinomial: (1) Onde: é um vetor de parâmetros; é um vetor de características pessoais que influenciam a procura por trabalho. O logit multinomial requer uma normalização arbitrária para uma categoria de referência, pois precisa fornecer parâmetros com apenas equações. Nesse sentido, a interpretação deve ser feita tomando-se uma das categorias de escolha como referência (GREENE, 2002, p.721). Um problema bastante comum ao se utilizar amostras de trabalhadores migrantes e nãomigrantes refere-se ao viés de seleção da amostra. A dificuldade pode ocorrer se algum grupo de indivíduos é distribuído de forma não-aleatória, isto é, devido à presença de características produtivas não-observadas como: maior motivação, agressividade, menor aversão ao risco etc, geralmente atribuídas aos migrantes (CHISWICK, 1999). Borjas (1987), por exemplo, mostra 10 que a seletividade do fluxo migratório depende do grau de dispersão relativa das rendas entre as regiões de origem e destino, enquanto a intensidade e sentido das migrações seguem os diferenciais de rendimento médio oferecidos aos trabalhadores em cada localidade. Borjas e Bratsberg (1996), por sua vez, expandem o modelo do primeiro autor permitindo a opção pela migração de retorno, seja em um ambiente de informação perfeita ou imperfeita. Os autores mostram diferentes possibilidades de auto-seleção entre os remigrantes dependo da migração inicial. Caso o fluxo de migrantes seja positivamente selecionado, os retornados fazem parte dos menos habilidosos dentro do grupo de partida, isto é, são negativamente selecionados. Por outro lado, se os migrantes iniciais forem negativamente selecionados, os migrantes de retorno seriam aqueles relativamente mais habilidosos. Conforme ressaltam Piracha e Vadean (2009), na presença de viés de seleção, a equação (1) precisaria ser estimada separadamente para cada categoria de trabalhadores, pois os efeitos dos atributos individuais sobre as probabilidades de emprego seriam diferentes para migrantes e não-migrantes, caso contrário, os estimadores seriam tendenciosos. Para testar a hipótese de seletividade entre os trabalhadores idosos, segue-se a estratégia proposta por Gourieroux et al. (1987). O método consiste em duas etapas. Primeiro, estima-se a equação de seleção por probit univariado: (2) Onde: é uma variável binária que assume o valor 1 se o trabalhador é migrante de retorno e 0 caso seja não-migrante; é um vetor de variáveis exógenas que influenciam a decisão de remigração; é um vetor de parâmetros e um termo estocástico. A partir da estimativa da equação (2) é possível computar os chamados resíduos generalizados ou conhecidas taxas inversas de Mill: (3) Onde: é a predição linear de (3); é a função de densidade normal padrão e a função normal de densidade acumulada. Na segunda etapa, e a variável binária são introduzidas como regressores adicionais na equação (3), que, por sua vez, deve ser estimada para toda amostra de trabalhadores. Caso o coeficiente associado à variável (5) seja estatisticamente significativo, fica constatada a presença de viés de seleção na amostra (PIRACHA e VADEAN, 2009). Em caso de estimativas separadas para cada categoria, o efeito da experiência de migração sobre as probabilidade de ocupação pode ser calculado a partir de um exercício contrafactual. No caso dos migrantes de retorno, esse efeito é dado pela diferença entre a probabilidade de escolha da ocupação e a mesma probabilidade caso o trabalhador não houvesse migrado. Formalmente: (4) Onde: o primeiro termo da equação (4) fornece a probabilidade factual e o segundo a probabilidade contrafactual. Esta última probabilidade pode ser obtida imputando os coeficientes obtidos com a estimação de (1) para uma amostra de não-migrantes sobre as características observadas para os retornados . 11 Por fim, no caso dos não-migrantes o efeito da experiência de migração sobre as probabilidades de ocupação é dado por: (5) Onde: a primeira parcela de (5) estima a probabilidade factual (probabilidade de ocupação dado que o trabalhador não migrou) e a segunda a probabilidade contrafactual, ou seja, a probabilidade de ocupação no setor caso o trabalhador tivesse migrado e retornado. Assim, a probabilidade contrafactual é obtida imputando o vetor de coeficientes obtidos com a regressão de (1) na amostra de retornados ( sobre as características observadas dos não-migrantes . 3.1. Base de Dados e Tratamentos Os dados utilizados na análise empírica são oriundos da PNAD de 2007, tratando-se da pesquisa mais recente por amostra de domicílios feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados das PNADs permitem identificar o migrante de retorno de acordo com vários critérios (CUNHA, 2002). Todavia, a classificação do retornado adotada nesse estudo segue o cruzamento das informações sobre o estado de residência, estado de naturalidade, experiência de migração interestadual e tempo de residência. Portanto, caracterizou-se como migrante de médio prazo o indivíduo que na data da entrevista afirmou residir no seu estado de nascimento, porém, nos últimos nove anos manteve residência permanente em outra unidade federativa. Já o não-migrante foi identificado como o individuo que na data de entrevista relatou que jamais havia mantido residência fora do seu estado de naturalidade. Cabe ressaltar que essa metodologia mostrou-se mais atrativa que por duas razões: (i) a identificação do migrante retornado de curto prazo - indivíduo que morava no seu estado de naturalidade, mas que há cinco anos da data de pesquisa estava fora do mesmo - embora permitisse o controle do tempo de residência, poderia fornecer resultados tendenciosos, visto que o período entre a migração e o retorno seria muito curto, inviabilizando um possível efeito da experiência de arbitragem nas escolhas de ocupação; (ii) a utilização do conceito de migrante de retorno acumulado – individuo que na data de pesquisa residia no seu estado de origem e já registrou residência fora desse estado em algum período de sua vida – forneceria uma amostra maior, contudo, não permitiria uma análise de mobilidade inter-setorial após o regresso, dada a ausência de controle sobre o tempo de residência. Após separar a amostra entre não-migrantes e migrantes retornados de médio prazo que possuíam ocupação na semana de referência, empregou-se outro recorte a partir da faixa etária. Em todas as regressões foram considerados apenas aqueles trabalhadores com idade entre 18 e 70 anos e, no caso dos remigrantes, descontando o tempo de residência no estado, aqueles que na data de migração se encontravam nessa mesma faixa. O corte de idade é um procedimento comum na literatura e busca excluir da amostra aquelas pessoas que não teriam condições de arbitrar, isto é, os chamados migrantes agregados (FIESS e VERNER, 2003; SANTOS JÚNIOR et al., 2005). Feita essas restrições, totalizou-se uma amostra de 46.726 trabalhadores, sendo 44.722 não-migrantes e 1.954 migrantes retornados de médio prazo. Seguindo a metodologia adotada em outros estudos sobre migração e escolha ocupacional (BANERJEE, 1983, MENG, 2001), tornou-se possível construir a variável de resposta do modelo de múltipla escolha setorial – equação (1). Tal variável indica o setor de ocupação do indivíduo e foi agrupada em quatro categorias: (i) trabalhadores empregados no setor formal-privado, (ii) ocupados no setor informal-assalariado, (iii) empregados no setor informal-autônomo e (iv) 12 trabalhadores do setor formal-público. A seguir discutem-se os critérios usados para o agrupamento dos trabalhadores em cada um dos segmentos anteriores. A classificação do setor informal foi dividida em dois grupos: (a) setor informal assalariado (INFAS) - composto por empregados sem carteira de trabalho assinada que não contribuíam para a previdência social, trabalhadores não-remunerados e (b) setor informal autônomo (INFAE) - formado pelos ocupados por conta-própria ou empregadores que não contribuíam para a previdência social, assim como, aqueles que se achavam trabalhando para o próprio consumo ou uso4. Duas hipóteses são assumidas nesse agrupamento: (i) a inserção desses trabalhadores no setor informal pode requerer habilidades específicas a depender do tipo de ocupação. No caso do trabalho por conta-própria, por exemplo, o alto nível de instrução parece não ser determinante, porém, outras habilidades podem ser demandadas e (ii) a não-contribuição para a previdência social é uma característica peculiar do trabalho informal. Também foi possível separar o setor formal em duas categorias: (a) setor formal privado (FPRIV) e setor formal público (FPUB). No primeiro setor situam-se os empregados com carteira assinada, empregadores, trabalhadores sem carteira e trabalhadores por contra-própria que contribuíam para previdência social. Por sua vez, no setor público foram inseridos os servidores públicos e militares. A subdivisão do setor formal entre privado e público tornou-se relevante porque, embora ambos os setores assegurem garantias trabalhistas, o último permite estabilidade no emprego, característica que pode exigir qualificação diferenciada. Quanto ao processo de identificação do modelo empírico, esta foi feita a partir de restrições por exclusão de variáveis (GOBILLON e LEBLANC, 2003; COULON e PIRACHA, 2005). Destarte, algumas variáveis que afetam os custos da migração não aparecem na equação de escolha ocupacional (1), embora estejam presentes na equação de seleção (2). Este é o caso das variáveis: (a) número de migrantes no domicílio e (b) número de trabalhadores no domicílio, usadas aqui como instrumentos para separar os custos associados à remigração dos custos relacionados à procura por emprego no mercado segmentado (PIRACHA e VADEAN, 2009). As demais variáveis tratam de atributos pessoais como: sexo, raça, idade, anos de estudo, filiação sindical, tamanho da família, chefia familiar, presença de filho menor de 14 anos, estado conjugal e variáveis binárias de localização setorial e regional. As Tabelas A.1 e A.2, em apêndice, fornecem maiores informações sobre as variáveis utilizadas nos modelos. Na primeira tabela, encontram-se as descrições e definições de cada variável, enquanto na segunda tabela, as estatísticas descritivas da amostra. Ressalte-se que a escolha dessas variáveis é consistente com as observadas em diversos estudos empíricos sobre tema (FIESS e VERNER, 2003; SANTOS JÚNIOR, et al., 2005; COULON e PIRACHA, 2005; SIQUEIRA, 2006; PIRACHA e VADEAN, 2009). 4. Migração de Retorno e Escolha Ocupacional: Resultados Empíricos A Tabela 5, a seguir, registra os efeitos marginais sobre a probabilidade de migração de retorno, obtidos a partir da estimação da equação de seleção (2). Conforme pode ser observado, a maior parte dos coeficientes de efeito marginal apresentou significância estatística. Os resultados mostram que um ano a mais de idade aumenta a probabilidade de o trabalhador ser migrante de retorno em 0,4%. A escolaridade dos trabalhadores parece não apresentar impacto relevante na propensão à remigração, dado o baixo efeito marginal obtido. Já filiação sindical diminui em cerca de 0,6% a probabilidade de migração de retorno. 4 Quanto à inclusão de alguns empregadores no setor informal, Saboia e Saboia (2004) afirmam que os empregadores que não contribuem para a previdência se comportam como se fossem trabalhadores autônomos. 13 Por outro lado, as variáveis de posição e interação familiar também se revelaram importantes na determinação da migração de retorno. Note-se que os indivíduos responsáveis pela família (chefes) têm sua probabilidade de remigração aumentada em 0,7%, comparado aos não-chefes. As evidências também indicam que os trabalhadores com grande número de familiares no domicílio têm probabilidade de migração reduzida em 0,5%, enquanto a presença filho menor de 14 anos eleva em 0,9% a mesma probabilidade. Quanto à localização espacial dos trabalhadores, os resultados indicam que manter residência em área metropolitana tende a reduzir a propensão de ser retornado em torno de 1,6%, ao passo que, residir na região Nordeste ou Sul, comparado ao Sudeste (categoria omitida), eleva a probabilidade de remigração em 2,5% e 1,1%, respectivamente. Tabela 5: Probit – equação de seleção – efeito marginal sobre a probabilidade de remigração efeito marginal desvio-padrão estatística z p-valor sexo 0,0036 0,0019 1,9400 0,0520 idade 0,0044*** 0,0005 8,8800 0,0000 Idade.quadrado -0,0001*** 0,0000 -9,1000 0,0000 raça 0,0015 0,0018 0,8400 0,4010 anos.estudo 0,0009*** 0,0002 4,6800 0,0000 sindicato -0,0056** 0,0019 -2,9400 0,0030 família.tamanho -0,0050*** 0,0007 -7,1300 0,0000 chefe 0,0074*** 0,0019 3,8400 0,0000 casado 0,0015 0,0020 0,7800 0,4330 filho.14 0,0094*** 0,0021 4,5200 0,0000 migrantes.família 0,0369*** 0,0013 29,2200 0,0000 trabalhadores.família -0,0072*** 0,0009 -7,9500 0,0000 urbana -0,0017 0,0025 -0,6900 0,4890 metrópole -0,0158*** 0,0016 -9,7300 0,0000 NO -0,0018 0,0030 -0,6100 0,5440 NE 0,0249*** 0,0027 9,2700 0,0000 SUL 0,0113*** 0,0027 4,1400 0,0000 CO 0,0012 0,0033 0,3600 0,7180 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da PNAD de 2007. Notas: Desvios-padrão robustos à heterocedasticidade entre parênteses. *** Estatisticamente significativo a 0,1%. ** Estatisticamente significativo a 1%. * Estatisticamente significativo a 5%. Por último, é importante destacar a significância estatística e os sinais das variáveis instrumentais usadas na identificação do modelo. Percebe-se que a presença de um indivíduo a mais na família que possua histórico de migração, aumenta em 3,7% a probabilidade de o trabalhador tornar-se um migrante retornado. Já a presença de um trabalhador a mais na família, reduz a referida probabilidade em cerca de 0,7%. Essas evidências chamam atenção para a importância das redes sociais na decisão de remigração, assim como, para um possível processo de decisão migratória no contexto intra-domiciliar (STARK 1982; STARK e BLOOM, 1985; STARK e LUCAS, 1988). Na Tabela 6, a seguir, são apresentados os resultados para o teste de viés de seleção na amostra. Mais especificamente, foram elaborados testes de Wald para os parâmetros associados às taxas inversas de Mill (resíduos generalizados) no modelo multinomial (1), variáveis de controle que foram obtidas a partir da estimação da equação de seleção (2) em primeiro estágio5. 5 A Tabela A.3 em apêndice apresenta os resultados completos das estimações utilizadas no teste. 14 Considerando os trabalhadores do setor formal privado como categoria de referência no modelo de escolha ocupacional, as evidências apontam que na maioria das equações do modelo a estatística Qui-Quadrado não registrou significância estatística, embora tenha se revelado diferente de zero na equação de comparação entre trabalhadores do setor público e formal privado. Essa última constatação parece não ser desprezível, uma vez que repetido o teste para o conjunto das equações, a estatística calculada revelou-se significante. Portanto, os resultados informam a respeito de uma possível auto-seleção dos remigrantes em atributos produtivos nãoobservados, os quais podem atuar diretamente na inserção de alguns desses trabalhadores no setor público. Tabela 6: Teste para viés de seleção na amostra Logit Multinomial (referência) Estatística Graus de liberdade P-valor Informal assalariado (Formal privado) Informal autônomo (Formal privado) 2,47 1 0,1159 0,66 1 0,4162 Formal Público (Formal privado) ) 8,43** 1 0,0037 Todas 13,78** 3 0,0032 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da PNAD de 2007. Nota: ** Estatisticamente significativo a 1%. Tendo em vista as evidências anteriores, tornou-se conveniente estimar o modelo de escolha ocupacional (1) para diferentes amostras: (i) para uma amostra conjunta de não-migrantes e retornados – cujos parâmetros seriam não-tendenciosos na ausência de viés de seleção e; (ii) para amostras separadas por condição de migração – estratégia consistente com a presença de auto-seleção (PIRACHA e VADEAN, 2009). A Tabela 7, a seguir, mostra as conhecidas taxas relativas de risco (TRR) no modelo logit multinomial, isto é, coeficientes de efeito marginal sobre as chances relativas de ocupação dos trabalhadores, os quais fornecem informações importantes para avaliação dos resultados. As TRRs foram calculadas a partir da estimação do modelo de escolha ocupacional (1) na amostra completa de trabalhadores não-migrantes e migrantes retornados. Todas as equações estimadas têm por categoria de referência os trabalhadores empregados no setor formal privado. Cabe ressaltar que, para essa primeira estimativa da equação (1), foi importante adicionar uma variável dummy de migração, a qual assume o valor 1 caso o trabalho seja migrante de retorno e 0 caso seja não-migrante. Tal estratégia mostrou-se relevante para tentar captar um possível efeito da experiência de migração nas chances relativas de ocupação entre os setores, supondo distribuição aleatória dos trabalhadores na amostra. Portanto, os resultados que se seguem devem ser observados com cautela, haja vista as já reportadas evidências de viés de seleção na amostra. Na primeira coluna da tabela em destaque se compara a probabilidade de o trabalhador se encontrar empregado no setor informal-assalariado (INFAS) em relação à probabilidade de o mesmo atuar no setor formal-privado (FPRIV). Já na segunda e terceira colunas, há o mesmo tipo de análise, porém, confrontando os trabalhadores do setor informal-autônomo (INFAE) e do setor formal-público (FPUB), respectivamente, com os trabalhadores do setor FPRIV. Os resultados revelam que, a despeito do setor considerado, o fato de ser homem reduz as chances de o trabalhador estar ocupado nos setores informal-assalariado, informal-autônomo ou setor público, relativamente ao setor formal-privado. Com efeito, esses resultados são consistentes com as evidências já observadas acerca da maior participação dos homens nãomigrantes/remigrantes nos empregos com carteira assinada (ver Tabela 4). 15 Também é possível verificar que um ano a mais de idade ou experiência, diminui a chance relativa dos trabalhadores começarem empregados no setor INFAS e INFAE em aproximadamente 12,1% e 4,5%, e, por outro lado, aumenta a chance relativa de ocupação no setor FPUB em 15,3%6. No tocante à escolaridade, percebe-se que a maior instrução favorece a inserção dos trabalhadores nos setores formais. No mesmo sentido, a filiação sindical também aumenta mais a probabilidade de emprego nos setores formais comparado à entrada nos setores informais. Tabela 7: Logit multinomial - Efeito marginal sobre as chances relativas de ocupação INFAS x FPRIV INFAE x FPRIV FPUB x FPRIV sexo 0,4692*** 0,7574*** 0,5647*** (0,0137) (0,0227) (0,0267) idade 0,8792*** 0,9535*** 1,1526*** (0,0061) (0,0065) (0,0149) idade.quadrado 1,0015*** 1,0010*** 0,9990*** (0,0001) (0,0001) (0,0002) raça 0,8807*** 10,059 0,9031* (0,0258) (0,0286) (0,0410) anos.estudo 0,8651*** 0,8992*** 1,2684*** (0,0032) (0,0030) (0,0085) sindicato 0,1766*** 0,2739*** 1,6466*** (0,0082) (0,0099) (0,0694) família.tamanho 1,0448*** 1,0290** 1,0357* (0,0101) (0,0099) (0,0175) chefe 0,6996*** 0,9184** 0,9675 (0,0220) (0,0285) (0,0473) casado 0,7290*** 1,1863*** 10,049 (0,0227) (0,0378) (0,0494) filho.14 1,0955** 1,0736* 10,115 (0,0358) (0,0340) (0,0496) migrante.retorno 12,626 1,4091* 0,9888 (0,1831) (0,1920) (0,2290) tempo.residência 0,9796 0,9987 0,9363 (0,0255) (0,0236) (0,0392) urbana 0,3827*** 0,3540*** 0,9906 (0,0165) (0,0146) (0,0928) metrópole 0,8067*** 0,8536*** 0,5219*** (0,0231) (0,0240) (0,0227) NO 2,1928*** 2,9048*** 3,0048*** (0,1050) (0,1368) (0,2159) NE 1,9491*** 2,3682*** 1,8492*** (0,0692) (0,0825) (0,1012) SUL 10,150 0,9274 0,9607 (0,0401) (0,0363) (0,0557) CO 1,2680*** 1,4754*** 1,5961*** (0,0708) (0,0812) (0,1273) 6 Formalmente, a taxa relativa de risco é dada por: . Portanto, a TRR mede a mudança relativa nas probabilidades de absorção setorial, no caso, tendo por referência a probabilidade de entrada/permanência no setor k. 16 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da PNAD de 2007. Notas: Desvios-padrão robustos à heterocedasticidade entre parênteses. *** Estatisticamente significativo a 0,1%. ** Estatisticamente significativo a 1%. * Estatisticamente significativo a 5%. O trabalhador branco tem menor chance de emprego nos setores INFAS e FPUB em relação ao setor FPRIV. Já o aumento no número de familiares ou a presença de filho menor de 14 anos desfavorece a inserção dos trabalhadores nesse último setor. O chefe de família, por exemplo, possui maior chance de emprego no setor formal privado, fato oposto ao trabalhador que vive com cônjuge, o qual tem sua chance relativa de ocupação no setor INFAE elevada em 18,6%. A residência em área urbana ou metropolitana aumenta a propensão dos trabalhadores conseguirem emprego no setor formal-privado, enquanto, manter residência nas regiões Norte, Nordeste ou Centro-Oeste favorece o emprego nos demais setores, sobretudo, nas duas primeiras regiões. O efeito da experiência de migração apenas mostrou significância estatística para a absorção do retornado no setor informal autônomo, no qual se observa que o remigrantes tem sua chance relativa de emprego nesse setor elevada em 40,9%. Essa evidência, a priori, é consistente com as encontradas em outros estudos na literatura internacional, os quais verificam maior propensão dos migrantes de retorno se engajar em trabalhos autônomos quando do seu regresso ao país de origem (ILAHI, 1999; PIRACHA e VADEAN, 2009). Por outro lado, o tempo de residência do migrante após seu regresso parece não afetar sua mobilidade entre os setores, evidência diferenciada em relação às predições dos modelos de migração rural-urbana (HARRIS e TODARO, 1970; COLE e SANDERS, 1985). Com o intuito de produzir evidências robustas à presença de viés de seleção, o modelo de escolha ocupacional (1) foi re-estimado para amostras separadas de não-migrantes e migrantes de retorno. A Tabela 8, a seguir, apresenta as taxas relativas de risco para não-migrantes e remigrantes tomando por referência o setor formal-privado. Em geral, os resultados guardam regularidades com aqueles observados na tabela anterior, contudo, algumas diferenças devem ser destacadas. No caso dos retornados, a maior experiência (idade) parece atuar diretamente na propensão de emprego no setor INFAE, aumentando a chance relativa em 8,8%. Se por um lado, quando se considera os setores informais a escolaridade elevada favorece o emprego no setor formal-privado, por outro, no confronto de absorção entre os setores público e formal-privado, os trabalhadores mais educados têm maior probabilidade de emprego no primeiro setor, sobretudo, os retornados. Enquanto um ano a mais de estudo aumenta a chance relativa de emprego do não-migrante típico no setor FPUB em 26,5%, para o migrante de retorno esse incremento é estimado em 43,3%. Tal evidência é consistente com a presença de atributos produtivos não-observados e favoráveis a parte dos remigrantes, assim como, revela que o ingresso dos retornados nos setores informais exige menor grau de instrução. Outros atributos se mostraram importantes para alocação dos migrantes de retorno nos segmentos do mercado de trabalho. Nesse sentido, pode-se destacar que os retornados homens, sindicalizados ou chefes de família apresentam menor chance de emprego nos setores informais quando comparado ao setor formal-privado. Já no caso da residência setorial e regional, o regresso à zona urbana diminui as chances relativas de emprego nos setores informais, enquanto, o retorno às regiões Norte ou Nordeste favorece o emprego nesses últimos setores7. 7 No presente caso também se verifica um aumento na chance relativa de emprego no setor FPUB para os retornados às regiões em foco, entretanto, conforme já mostrado esse efeito guarda correlação com o elevado grau de instrução ou com atributos não-observados. 17 Tabela 8: Logit multinomial - Efeito marginal sobre as chances relativas de ocupação por condição de migração e setores não-migrantes migrantes de retorno sexo idade idade.quadrado raça anos. estudo sindicato família.tamanho chefe casado filho.14 tempo.residência urbana metrópole NO NE SUL CO INFAS x FPRIV INFAE x FPRIV FPUB x FPRIV INFAS x FPRIV INFAE x FPRIV FPUB x FPRIV 0,4691*** (0,0140) 0,8759*** (0,0061) 1,0016*** (0,0001) 0,8854*** (0,0265) 0,8643*** (0,0033) 0,1777*** (0,0084) 1,0468*** (0,0104) 0,7075*** (0,0227) 0,7286*** (0,0232) 1,0898** (0,0363) - 0,7653*** (0,0235) 0,9497*** (0,0066) 1,0011*** (0,0001) 10,051 (0,0293) 0,8989*** (0,0031) 0,2747*** (0,0101) 1,0302** (0,0102) 0,9294* (0,0295) 1,2032*** (0,0393) 1,0676* (0,0346) - 0,5559*** (0,0269) 1,1553*** (0,0152) 0,9990*** (0,0002) 0,8986* (0,0415) 1,2651*** (0,0086) 1,6669*** (0,0715) 1,0397* (0,0178) 0,9632 (0,0480) 10,140 (0,0509) 10,092 (0,0505) - 0,3813*** (0,0169) 0,8084*** (0,0236) 2,2062*** (0,1074) 1,9631*** (0,0711) 10,143 (0,0409) 1,2659*** (0,0725) 0,3503*** (0,0148) 0,8600*** (0,0247) 2,8868*** (0,1387) 2,3798*** (0,0848) 0,9200* (0,0368) 1,4666*** (0,0831) 0,9744 (0,0921) 0,5196*** (0,0230) 3,0007*** (0,2195) 1,8100*** (0,1009) 0,9534 (0,0562) 1,6043*** (0,1303) 0,4630*** (0,0681) 10,300 (0,0473) 0,9996 (0,0006) 0,7847 (0,1116) 0,8754*** (0,0158) 0,1492*** (0,0397) 0,9740 (0,0513) 0,5418*** (0,0832) 0,7541 (0,1164) 12,374 (0,2099) 0,9660 (0,0256) 0,4186*** (0,0826) 0,7792 (0,1167) 1,7949* (0,4803) 1,6291** (0,2944) 0,9953 (0,2035) 12,454 (0,3197) 0,5890*** (0,0842) 1,0881* (0,0409) 0,9996 (0,0004) 10,300 (0,1349) 0,8965*** (0,0138) 0,2609*** (0,0491) 0,9714 (0,0486) 0,7069* (0,1033) 0,9444 (0,1407) 12,116 (0,1853) 0,9868 (0,0237) 0,4355*** (0,0819) 0,7323* (0,1023) 3,1942*** (0,7599) 2,1318*** (0,3619) 10,638 (0,2049) 15,672 (0,3795) 10,427 (0,2577) 11,075 (0,1136) 0,9990 (0,0013) 0,9775 (0,2551) 1,4333*** (0,0573) 12,402 (0,2859) 0,9631 (0,1122) 11,162 (0,3022) 0,6837 (0,1795) 12,302 (0,3364) 0,9588 (0,0421) 38,404 (40,624) 0,5852* (0,1385) 3,3464** -13,658 3,0986*** (0,9791) 12,054 (0,4012) 13,643 (0,6195) Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da PNAD de 2007. Notas: Desvios-padrão robustos à heterocedasticidade entre parênteses. *** Estatisticamente significativo a 0,1%. ** Estatisticamente significativo a 1%. * Estatisticamente significativo a 5%. Considerando os resultados estimados no modelo anterior, utilizaram-se as equações (4) e (5) para computar por diferença factual e contrafactual os potenciais efeitos da experiência de migração nas probabilidades de ocupação por setores. Esses resultados são registrados na Tabela 9 abaixo. Na primeira coluna encontram-se as médias das probabilidades de emprego preditas para migrantes e não-migrantes (factual). Já na segunda coluna são apresentados os valores médios das probabilidades de emprego contrafactuais, isto é, para os não-migrantes a probabilidade média de emprego por setor caso tivessem remigrado às origens, e para os 18 retornados, probabilidade média de emprego por setor caso não tivessem migrado. Por fim, a terceira coluna mostra a variação absoluta na probabilidade de emprego decorrente da experiência de migração, e a quarta coluna, a variação percentual8. Os resultados indicam que a experiência de migração e retorno impacta diretamente na alocação dos trabalhadores no setor informal-autônomo, ou seja, as possíveis habilidades e experiência adquiridas na região de destino facilitariam o ingresso dessas pessoas no setor informal, embora ocupados por conta-própria ou enquanto empregadores. Com efeito, caso o não-migrante tivesse migrado para fora do seu estado e posteriormente retornado, sua probabilidade de emprego no setor em destaque seria aumentada em 24%. Observando por outra ótica, percebe-se que caso o retornado não tivesse migrado sua probabilidade de ocupação no setor INFAE seria reduzida em 20%. Tais evidências são consistentes com aquelas observadas na Tabela 7 e com as encontradas por Ilahi (1999) e Piracha e Vadean (2009), respectivamente, para a migração de retorno no Paquistão e Albania. Tabela 9: Impacto da migração de retorno na probabilidade de ocupação por setores não-migrantes FPRIV INFAS INFAE FPUB FPRIV INFAS INFAE FPUB (1) Probabilidade predita (2) Probabilidade contrafactual Diferença: (2)-(1) Variação % 0,4142 0,2536 0,2671 0,0651 0,3739 0,2530 0,3312 0,0417 -0,0402** -0,0005* 0,0641** -0,0234** -9,73 -0,24 24,00 -35,94 (1) Probabilidade predita migrantes retornados (2) Probabilidade contrafactual Variação % 0,4024 0,2324 0,3134 0,0518 0,4327 0,2393 0,2503 0,0776 Diferença: (2)-(1) 0,0303** (2) – (1) 0,0069** -0,0631** 0,0258** 7,53 2,97 -20,13 49,81 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da PNAD de 2007. Nota: ** Estatisticamente significativo a 1%. * Estatisticamente significativo a 5%. Para os demais setores, o potencial efeito da migração atua no sentido de diminuir a probabilidade média de emprego, sobretudo, nos setores formal-público e formal-privado. Assim, as evidências parecem sugerir que o retornado típico ter acesso ao setor formal, seria preciso dedicar um maior tempo a sua qualificação, seja antes de sua saída do estado, ou durante sua estadia no estado de destino. Por fim, na Figura 3 a seguir, são apresentadas as probabilidades médias de ocupação segundo os setores e por tempo de residência do retornado no seu estado de nascimento. Essas probabilidades são as médias daquelas preditas a partir do modelo de escolha ocupacional (1) sob a amostra dos remigrantes. Como pode ser constatado, as evidências sugerem baixa mobilidade inter-setorial dos retornados. Observa-se que só após 6 anos do regresso, parte dos migrantes de retorno tendem a deixar o setor informal assalariado para engajar-se no setor informal-autônomo. Nos setores formais não se verifica tendências de mudanças nas probabilidades de emprego com o passar do tempo de moradia. Logo, os resultados apontam um papel importante do setor informal na reinserção dos migrantes no mercado de trabalho. 8 Também foi efetuado um teste de diferença entre as médias amostrais das probabilidades factuais e contrafactuais. 19 Figura 3: Probabilidades de ocupação dos migrantes retornados segundo os setores e por tempo de residência Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da PNAD de 2007. 5. Considerações finais Este artigo teve por objetivo analisar a inserção produtiva do migrante retornado nos diferentes segmentos do mercado de trabalho, identificando quais atributos sócio-econômicos são determinantes para as chances de emprego nos setores formal e informal da economia brasileira. Primeiro, foi verificado que a região Nordeste é a principal fornecedora de migrantes de retorno para a região Sudeste. Esta última, por seu turno, revelou-se como principal destino das rotas inter-regionais desse tipo de migrante no país. Em especial, a rota NE-SE-NE tem sido historicamente a mais relevante para a os retornados, padrão que vem apresentando regularidade na década atual, segundo os dados da PNAD de 2007. Ao se comparar as principais características sócio-econômicas (sexo, raça, idade, escolaridade, renda e ocupação) dos trabalhadores não-migrantes e retornados entre 1997-2007 foi possível identificar diferenças importantes. O migrante de retorno típico é homem, não-branco e vive na zona urbana, entretanto, é em média mais instruído e melhor remunerado que o nãomigrante. Os retornados de médio prazo registram idade de média de 35 anos, ou seja, 3 anos abaixo da verificada para o grupo dos não-migrantes. Tal característica reforça aquelas encontradas por Siqueira (2006), no sentido de que a motivação do regresso deve ocorrer pela frustração de expectativas em relação às oportunidades de emprego e rendimentos na unidade federativa de destino. Em relação à posição na ocupação do trabalho principal, foi apurado que a maior parte dos migrantes de retorno no Brasil trabalha como autônomo ou sem carteira de trabalho assinada, seguido pela ocupação com carteira assinada. Também foram verificadas diferenças de emprego/ocupação entre os retornados por gênero e entre as mulheres por condição de migração. Em geral, as mulheres remigrantes têm maior dificuldade de encontrar trabalho que os homens, sobretudo, aquelas ocupações com carteira assinada. Entre as mulheres, as retornadas encontram melhor acesso aos empregos sem carteira ou por conta-própria, relativamente aqueles que nunca migraram. 20 Após considerar uma possível distribuição não-aleatória dos remigrantes na amostra, os achados empíricos permitiram observar os migrantes retornados do sexo feminino, de baixa escolaridade ou que não chefiam a família tem maiores chances de empregar-se nos setores informais da economia. Por outro lado, a probabilidade de emprego do remigrante no setor formal é positivamente correlacionada com o grau de instrução, principalmente, quando se considera o ingresso no setor público. As diferenças regionais também são importantes, uma vez que os remigrantes residentes em zonas urbanas têm maior propensão ao emprego formal, enquanto os naturais das regiões Norte ou Nordeste tendem às ocupações autônomas e informais. Não obstante, ainda foi possível constatar que a experiência de migração aumenta a probabilidade de o migrante retornado trabalhar como autônomo e/ou empregador no setor informal, evidência consistente com a maioria dos achados na literatura internacional. Nesse aspecto, o tempo de residência após o regresso não mostrou influência considerável sobre a mobilidade inter-setorial dos retornados, sobretudo, na saída do setor informal para o formal. Diante das evidências produzidas, a recomendação derivada é que as políticas públicas devem atuar na promoção do acesso ao emprego e à qualificação, sem desconsiderar a importância do setor informal na absorção dos remigrantes, particularmente, na região Nordeste, principal matriz dos migrantes de retorno no Brasil. A experiência da migração pode prover aos trabalhadores novas habilidades e conhecimentos que despertem vocações para pequenos e médios negócios, cujos impactos positivos, ainda que no âmbito informal ou como rota de fuga à pobreza, não devem ser desprezados. Por fim, fica a sugestão para que os estudos futuros contemplem melhor os determinantes da remigração e dos diferenciais de salários sob um horizonte de tempo maior, assim como, os possíveis impactos da migração de retorno na distribuição de renda e pobreza. Referências bibliográficas BANERJEE, B. The Role of the Informal Sector in the Migration Process: A Test of Probabilistic Migration Models and Labour Market Segmentation for India. Oxford Economic Papers, v. 35, n. 3, p. 399-422, 1983. BORJAS, G. Self-selection and the earnings of immigrants. American Economic Review, v.77, n.4, p.531-553,1987. BORJAS, G; BRATSBERG, B. Who leaves? The outmigration of the foreign-born. 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Apêndice Tabela A.1: Descrição das variáveis utilizadas nas regressões Atributos Pessoais sexo raça idade idade.quadrado anos.estudo sindicato Definição Variável binária: 1- masculino; 0-feminino* Variável binária: 1- branco; 0-não-branco * Idade em anos Idade ao quadrado Anos de estudo Variável binária: 1- filiado a sindicato; 0-caso contrário * 23 Família chefe casado família.tamanho filho.14 migrantes.família trabalhadores.família Migração migrante.retorno tempo.residência Residência urbana há 5 anos metrópole NO NE SUL CO SE* Variável binária: 1- responsável pela família; 0-caso contrário * Variável binária: 1- vive com cônjuge; 0-caso contrário * Tamanho da família (número de pessoas ) Variável binária: 1- possui filho menor de 14 anos; 0-caso contrário * Número de migrantes inter-estaduais por naturalidade na domicílio Número de trabalhadores no domicílio Variável binária: 1- migrante retornado de médio prazo; 0-não-migrante inter-estadual* Tempo de residência em anos – apenas para migrantes retornados Variável binária: 1- reside na zona urbana; 0 – reside na zona rural * Variável binária: 1- reside em área metropolitana; 0 – caso contrário * Variável binária: 1- reside na região Norte; 0 – caso contrário Variável binária: 1- reside na região Nordeste; 0 – caso contrário Variável binária: 1- reside na região Sul; 0 – caso contrário Variável binária: 1- reside na região Centro-Oeste; 0 – caso contrário Variável binária: 1- reside na região Sudeste; 0 – caso contrário Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados da PNAD de 2007. Nota: * Categoria de referência/controle. Tabela A.2: Estatísticas descritivas das variáveis utilizadas nas regressões variável sexo raça idade idade.quadrado anos.estudo sindicato família.tamanho chefe casado filho.14 migrantes.família trabalhadores.família tempo.residência urbana metrópole NO NE SUL CO observações média desvio-padrão mínimo máximo 46.726 46.726 46.726 46.726 46.726 46.726 46.726 46.726 46.726 46.726 46.726 46.726 46.726 46.726 46.726 46.726 46.726 46.726 46.726 0,5557 0,4751 39,0373 1.676,8420 7,5305 0,1821 3,5267 0,5436 0,6779 0,4365 0,1833 2,1082 0,2129 0,8674 0,4146 0,1092 0,3170 0,2267 0,0720 0,4969 0,4994 12,3667 1.024,7530 4,4155 0,3860 1,5067 0,4981 0,4673 0,4960 0,5063 1,0787 1,1449 0,3391 0,4927 0,3119 0,4653 0,4187 0,2584 0 0 18 324 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 75 5.625 15 1 13 1 1 1 9 9 9 1 1 1 1 1 1 Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados da PNAD de 2007. 24