João Bosco de Castro Teixeira
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UM POUCO DOS MUITOS “ZÉS” E “CHICOS” de nossa cidade.
Apelidos são apelidos.
Eles podem dizer, entretanto, muitas e diversificadas coisas.
Serão carinhosos, até mesmo a despeito de sinalizarem alguma deficiência.
Serão descritivos, mesmo porque atrelados ao quefazer das pessoas.
Serão aumentativos ou diminutivos, conforme o que descrevem e como descrevem.
Apontarão a origem das pessoas, seus encargos de trabalhadores, ou até o seu não-fazer.
Históricos ou não, confundem-se com as pessoas e confundem as pessoas.
São apelidos. São das pessoas. E, muitas vezes, são as pessoas.
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Zé Abacate (in memoriam)
José Inês de Sousa era seu nome. Garçon, era muito conhecido, pois ajudava nas festas, nos jantares, por
todo lado. O apelido pegou quando ele trabalhava num bar, lá pelos lados do Senhor dos Montes,
chamado Sítio da Alegria. Chegou um freguês e pediu um vitamina mista. Ele fez uma vitamina de puro
abacate. O cliente não gostou dizendo que não era o que pediu O Sr. José , afirmando que era,
exatamente, a vitamina que fora pedida. Foi aquele disse-me-disse prá cá, disse-me-disse prá lá. Nessas
horas não falta quem se valha da situação. Foi o que aconteceu. É abacate, é mista, é abacate, foi abacate
que pediu, foi abacate que eu ouvi eu falei foi mista.... Pois o fato é que naquele instante nascia o apelido:
Zé do Abacate. O bar estava com bastante gente. E o apelido foi consagrado e acatado pela galera. Pegou
firme, sem esforço; no bairro e na cidade ficou super conhecido o garçon Zé Abacate. E foi até bom para
ele. Identificação fácil. Serviço à mão.
(Informação do filho, Rinaldo Garcia de Sousa)
Zé Apaixonado (in memoriam)
José Jacinto de Oliveira não é filho de São João del Rei. Veio de sua cidade natal, a antiga Japão de Oliveira,
agora Carmópolis de Minas. Veio de lá, e veio com seu apelido, tal a importância que ele teve em sua vida.
Ainda pequeno, era conhecido como Zé, filho do Ivo, isto é, o Zé do Ivo. Portanto, sempre foi conhecido
por um codinome. Mas, aos 14 anos de idade, conheceu uma mulata, muito bonita, que se chamava Maria
da Conceição. Apaixonou-se pela mulata de pernas bonitas, grossas e cambotas. Paixão de adolescente,
mas que se manifestava até em serenatas apaixonadas. E os colegas só observando como ele ficava
quando passava perto da casa da Maria Cambota. E, então, não perdiam a ocasião de gozar e brincar: ‘Eh!
Zé, apaixonado pelas cambotas da Maria, hein?’. E de tanto falar de paixão, foi fácil se referir ao Zé Filho
do Ivo, simplesmente dizendo ‘Zé Apaixonado’. Zé Apaixonado não namorou a Maria Cambota, mas sua
paixão ficou registrada no seu apelido, para o resto da vida.
(Informação da filha, Eny de Oliveira)
Zé Baiano
Este é o apelido de José Antenor Rodrigues. Nada de especial, a não ser que ‘baiano’ ele não era. Era, sim,
a expressão daquilo que o povo de São Miguel do Cajuru entendia por baiano: moreno, baixo, barba
cerrada e sempre carrancudo. Se ‘baiano’ é assim, não se sabe, ou sabe-se que é um pouco diferente. Mas
que o José Antenor emplacou este apelido, isso lá é certo: no seu bairro e lá nos antigo Arcângelo é assim
que é conhecido o funcionário da firma Agostini Filhos.
(Informação da esposa Maria Gorete da Silva Rodrigues)
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Zé Bedeu (in memoriam)
Para começar, na verdade não é Zé Bedeu. Senão, vejamos. O pai do José Dângelo Filho, o tal do Zé Bedeu,
era leitor assíduo da Bíblia. Ora, certa vez, encantou-se com a passagem em que se fala dos Filhos de
Zebedeu. Gostou tanto da história, ou do nome, que começou a chamar o filho de Zebedeu. Pois, o nome
do José Dângelo trocou. Virou, definitivamente, Zebedeu, que é um pouco diferente de Zé Bedeu. Como,
porém, a sonoridade é a mesma, ninguém nem percebeu que Zebedeu era apelido de um anterior José.
Ficou e assim foi conhecido; e até hoje, apesar de falecido há 14 anos, o povo só se refere a ele pelo
apelido, que de Zé, não tem nada.
(Informação da irmã, Maria José Dângelo Martins)
Zé Bigodá
José Henrique Benfenatti é que é o nome do Zé Bigodá, apelido de origem desconhecida. O que se sabe é
que, no começo era Zé Bigode, virando depois o Bigodá. Mais o que se sabe é que foi um amigo a dar-lhe
tal apelido, porque apelido dado por inimigo quase nunca pega. Outra coisa que se sabe é que a cigarrete
da lanchonete do Sr. José Henrique se chama cigarrete do Zé Bigodá. Apelido danado de esquisito mas que
dá nome a coisa muito boa (4).
(Informação do próprio)
Zé Bombeiro (in memoriam)
Nada de extraordinário no apelido do Sr. José Estêvão do Carmo. O apelido vem pelo ofício que exerceu
durante tanto tempo. Aos dezesseis anos já começara na profissão com seu tio Luís Donato Batista Lopes. E
nunca mais abandonou os trabalhos relativos, que exercia de tal forma que o nome se identificou com o
exercício da profissão. Zé Bombeiro, figura sob mil aspectos popular, dedicou parte notável de sua vida
também à Banda de Música Teodoro de Faria, onde tocava bumbo, mas era sempre o Zé Bombeiro: Zé
bombeiro que toca bumbo, Zé Bombeiro da Universidade, Zé Bombeiro que bebe todo dia a sua cachaça,
se possível misturada com pé de porco, joelho e outras coisas leves, como leve era seu ofício, porque
exercido com carinho. Gente boa, esse Zé Bombeiro.
(Informação do próprio, quando vivo)
Zé Bonecão (in memoriam)
O brasileiríssimo apelido era denominação do Sr. José Toussant, nada mais nada menos que um cidadão de
origem francesa. Figura interessante, humilde e, ainda assim, conhecido de todo mundo, trabalhou na casa
da família Hallak, na Vila Mariquinhas, onde, por característica da hospitalidade dos donos da casa, tomava
suas refeições com gosto, vez que era excelente garfo que sabia se alimentar. Apesar de andar pelas ruas
assobiando e balançando para os lados, semelhante ao boneco ‘joão-bobo’, seu apelido adveio do fato de,
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no carnaval, sair fantasiado com aqueles cabeções de bonecos enormes. Era figura querida, cuja lembrança
perdura, apesar de falecido há mais de quarenta anos.
(Informação de Acíbio Hallak)
Zé Bonitinho
É o próprio Sr. José de Paula quem conta a origem de seu apelido. É que ele, menino, gostava muito de
ficar assentado na porta de sua casa, na Rua General Osório. E apreciava o movimento. Pois ora que uma
moça, já com seus quinze anos, passava por lá todos os dias e mexia com o menino. Agarrava suas
bochechas e dizias: Oh! Menino bonitinho. Os colegas, que não perdem nada, gostavam daquilo e
passaram a chama-lo de Zé Bonitinho. O apelido pegou e o povo só o conhece assim. Continua lá na Tijuco.
É aposentado como taxista.
(Informação do próprio)
Zé Carequinha (in memoriam)
O Sr.José Natalino dos Santos é a encarnação do feitiço contra o feiticeiro. Comerciante no Bairro do
Tijuco, foi dono de um dos primeiros bares do bairro que vendia de tudo: verduras, frutas, torresmo,
famosa pinga chamada Tenente José, cabo para enxada, enfim, um pouco de tudo. Pessoa estimada e
popular, segundo sua filha Regina Célia, o DR. Tancredo Neves gostava da pinga do Sr. José e, de vez em
quando, costumava ir até ao bar tomar uma. Pois bem. Certa vez, um menino foi até ao bar para fazer
compras. Estava com a cabeça raspadinha, parecendo, segundo o relato, um coco da Bahia. O Sr. José logo
o chamou de ‘carequinha’. Era ‘carequinha’ para lá, ‘carequinha’ pra cá. Tanto o Sr. José o chamou de
‘carequinha’, que o apelido dado foi o apelido recebido: ‘carequinha’ passou a ser a identificação do Sr.
José. Daí pra frente o bar era o bar do ‘carequinha’. Até suas filhas passaram a ser as Filhas do Zé
Carequinha”. Se passou a vender mais no seu bar, não se sabe, mas que a popularidade cresceu, lá isso é
certo.
(Informação da filha, Regina)
Zé Congonha (in memoriam)
Foi em São Miguel do Cajuru, antigo Arcângelo, que nasceu o Sr. José Batista de Paiva. De lá mudou para
São João, Trabalhou, na Prefeitura, por algum tempo sem ser fichado, em vários locais, fazendo capinas,
limpezas, principalmente lá no antigo Patronato. Houve uma época em que a Prefeitura atrasava o
pagamento de seus servidores. O sr. José Batista não querendo fazer os chamados “ vales “, procurou um
outro meio de ganhar uns trocados, sem sair da Prefeitura, para aumentar ou mesmo socorrer o salário.
Saía, depois do serviço, à tardinha, para os campos, lá pelos lados do chamado “cala boca” a procurar
congonha. Quando chegava, com vários sacos cheios do vegetal, fazia os molhos e saia a vender nas ruas
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da cidade. Diz que percorria boa parte da cidade e vendia tudo. Dessa maneira nunca fez “vale” e buscou o
sustento da família. Daí foi apelidado por José Congonha. Figura conhecidíssima por toda a cidade,
principalmente pelos colegas da Prefeitura. Hoje é servidor aposentado e reside no bairro do Bonfim.
Segundo o entrevistado: “ Fazer vale leva o servidor para o brejo. É perigoso. No final do mês recebe só
papel e dinheiro nada. Disse, também que a pessoa querendo, há muitas maneiras de ganhar o sustento,
pode capinar uma horta, vender esterco na rua, fazer limpeza nas casas. Hoje infelizmente o pessoal quer
ganhar tudo de mão beijada, não quer suar o rosto”.
Segundo ainda o entrevistado, o Zé Congonha, a Congonha é um vegetal muito comum na região, nos
campos. É um chá verde que é usadíssimo principalmente pela população rural. Gripe, constipação, gazes...
o primeiro remédio rural é o chá de congonha. Segundo estudo do chá verde, concluiu que a congonha é
antioxidante e retarda o envelhecimento celular. Possui catequinas que ajudam a reduzir o risco de doenças
coronárias e infarto. Sr. José Congonha, na sua simplicidade e humildade, é de uma competência que
tangencia a iluminação” , disse o entrevistador.
(Informação do próprio, quando vivo)
Zé Corneteiro
Tem gente que não gosta do próprio apelido. Ou finge que não gosta. Basta pensar no Sr. José Vicente
Neto. Em criança ganhou uma corneta, no natal. Foi o fim. Começou a tocar corneta pra todo lado,
sobretudo no campo de futebol do Guarani. E como não ser chamado de Zé Corneteiro, pois era isso o que
ele fazia. Mas não gostava do apelido. Pior, aí é que o apelido pegou mesmo, pois a companheirada gosta é
disso. São cinquenta e cinco anos, a maioria dos quais carregando esse apelido que virou, nada mais nada
menos¸que o nome da oficina mecânica do Sr. José Vicente: ‘Oficina Corneta’. E dizer que não gostava do
apelido. Imagina só se gostasse! Mas ele não fica triste porque, afinal, sua família e alguns amigos sabem o
nome verdadeiro dele.
(Informação do próprio)
Zé Coruja
José Raimundo de Carvalho é o próprio Zé Coruja. Quando era pequeno, ele brincava com uma menina
que, segundo ele, parecia uma coruja. Carinhosamente a chamava pelo apelido de ‘corujinha’. Era
‘corujinha prá cá, corujinha prá lá’. E ela o chamava de Zé Coruja. Resultado: os companheiros passaram a
chamá-lo de Zé Coruja. Nome fácil. Identificação automática, ele ficou com o apelido e a menina não. Com
certeza ela tinha poucos amigos, porque amigos é que colocam apelidos. E o nosso Zé Coruja gosta do
apelido. Disse que o apelido dá sorte nas partidas de futebol. É servidor municipal há 29 anos. E para todos
é o Zé Coruja.
(Informação do próprio)
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Zé Cotinho (in memoriam)
Figura popular, comerciante, proprietário de uma venda de secos e molhados. Humilde, simples e de
extrema bondade, era figura caridosa, pai da pobreza lá em São Sebastião da Vitória. Isso tudo para falar
do Sr. José Eduardo de Paiva que, falecido há mais de trinta anos continua se lembrando Zé Cotinho. É
que, quando criança, gostava muito de biscoitos, principalmente aqueles doces, recheados. Não cansava
de gritar dentro de casa: ‘eu quero biscoito, eu quero biscoito’. Por isso, seus irmãos passaram a chama-lo
Zé Biscoitinho que, por força de lei do menor esforço, acabando virando Zé Cotinho, que foi o que de fato
valeu. Em São Sebastião da Vitória, a galera antiga toda conheceu o Zé Cotinho que, pelo visto, nada tinha
de ‘coitadinho’.
(Informação da filha mais velha, Maria do Carmo A.P. Martins)
Zé da Bia (in memoriam)
A culpa ou o mérito do Sr. José Batista da Silva ter o apelido de Zé da Bia, é obra do Geraldo Lavadeira que
trabalhava no açougue do Sr. Edgar Rios, conhecido como Degas. O caso é o seguinte. O Sr. José Batista
tinha um bar no Tijuco, na Rua General Osório . O falecido Geraldo Ladeira, que gostava de ‘uma’, ia lá
todo dia tomar um pinga. Não só ia, como gostava de falar pra todo mundo ouvir: Vou lá no bar do Zé da
Bia tomar uma. Mas que diacho era esse de ‘bia’? É que a pinga ficava num jarro de ¸que todo mundo
conhece, e que se chama ‘bilha’ . Mas o Geraldo Lavadeira, de propósito ou não, falava ‘bia’ ao invés de
‘bilha’. Pois de tanto o Geraldo Lavadeira ir lá, para a sua pinga, de tanto falar no bar do Zé da’ Bia’, não é
que o Sr. José Batista passou a ser conhecido como Zé da Bia? E o nome dele passou para o bar: Bar do Zé
da Bia, por culpa e graça do Geraldo Lavadeira. Bem ou mal, o nome ficou consagrado e consagrou
também o bar que, até hoje, tem enorme freguezia, na mão do filho do Sr. José Batista. Sem dúvida, é dos
bares mais conhecidos de São João, até pela qualidade do tira-gosto. Não se sabe é se a ‘bia’ está lá até
hoje. Mas, que é um apelido bom, isso ninguém tem dúvida, mesmo sem saber a história do apelido.
(Informação do filho)
Zé da Carne (in memoriam)
Zé da Carne era o Sr. José Domingos Assunção. Goleiro do Taio, time independente muito popular na
cidade, formado por aquela turma que jogava futebol só para merecer depois a amada cerveja, chefe da
bateria da escola de samba Falem de Mim, descarregador de bagagem na estação rodoviária, nada disso
foi tão importante para o Sr. José Assunção a ponto de lhe merecer um apelido, com o qual se tornou tão
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conhecido. O apelido veio pelo fato de, diariamente, passar no açougue e comprar uma carne para levar
para casa, juntamente com uma porção de pão de sal sob a forma de bisnaga. A filha Heloísa é quem diz
que o pai não comia sem carne, e, por conseguinte, todo dia devia apanhá-la no açougue. E ao ser
avistado, o pessoal já dizia: Lá vem o Zé da Carne. Pronto. Melhor identificação não havia, nem houve,
nemcom a figura de goleiro, de baterista ou fosse lá do que fosse. Zé da Carne falou sempre mais alto,
assim como continua falando, muitos anos após sua morte.
(Informação da filha, Heloisa Lúcia da Assunção)
Zé da Pomba
Como sempre, tudo começou com os colegas, nas brincadeiras de criança. O apelido do Sr. José Luiz
Cândido nasceu durante as ‘peladas’ de futebol, na beira do córrego do Lenheiro, lá no Tijuco. José Luiz
gostava muito de mexer com aquelas pombas caseiras. Tinha mesmo muita história com elas: tratava delas
e gostava de ficar no meio delas. Certo dia, um colega, por brincadeira tirou uma das pombas de sua
coleção. José Luiz ficou fera e o caso virou briga... Eu quero a minha pomba, eu quero a minha pomba...E
seu colega não querendo entregar, não querendo, até que a coisa virou uma confusão. Os demais colegas
ficaram presenciando a cena e não ouviam outra coisa que a minha pomba, a minha pomba... Ora, não
deu outra: Zé da Pomba. Daquela cena para o resto da vida da meninada, a coisa ficou fácil. Imagine-se os
colegas contando o caso na hora da pelada. Foi lá que o apelido pegou fácil e até hoje o José Luiz só é
conhecido no bairro do Tijuco como Zé da Pomba. Ele é pedreiro profissional e, quando procurado, seja lá
por quem for, é procurado pelo apelido: Onde mora o Zé da Pomba? Popular e conhecido, o Zé é
facilmente encontrado.
(Informação do próprio)
Zé das Pernas
Aqui, mais uma vez, funcionou não só o espírito de observação dos colegas de rua, como aquele caráter
burlesco, jocoso, que costuma presidir a relações de companheirismo, pelas ruas escolas de pequenas
cidades. Zé da Pernas é nome do Sr. José Tarcísio Ventura. Acontece que, segundo o próprio, quando
pequeno tinha as pernas bem compridas, parecendo mesmo desproporcional ao corpo. Segundo os
colegas, as pernas subiam mais ou menos até o estômago. Quanta imaginação para se falar apenas de um
pequena desproporção. Mas o cidadão é gente boa, conhecidíssimo na cidade. Servidor Público, motorista
exemplar sob todos os pontos de vista, serviu muito aos vários reitores da UFSJ. Quando, de certa feita, foi
devidamente apresentado a um reitor de universidade dos EE.UU, o professor não duvidou em chamá-lo
de Mister Legs.
(Informação do próprio)
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Zé do Cercadinho
Há apelidos que surgem até pelo lugar onde as pessoas trabalham. O Sr. José Vicente da Silva é um desses
casos interessantes. Funcionário público federal, por 40 anos trabalhou no posto do serviço de
meteorologia localizado no Bonfim. Os aparelhos ficavam protegidos por uma cerca dura retangular baixa,
um verdadeiro cercadinho. Tempão trabalhando ali dava muito bem para identificar o Sr. José com seu
local de trabalho. Não deu outra: Zé do Cercadinho. Além do mais, jogou futebol pelo Athletic e pelo
Minas, bombeiro nas horas vagas e música da Banda de Música Santa Cecília. Aos 94 anos continua sendo
o Zé do Cercadinho, sem tristeza alguma, pois fazia seu serviço com alegria e responsabilidade. Hoje não
dava mais para ter este apelido, porque ‘cercadinho’ não segura nada. Mas eram outros tempos, aqueles
de respeito pelo patrimônio público.
(Informação do filho do Cercadinho)
Zé Doido (in memoriam)
Há apelidos cuja origem tem mil fontes. Doido, é apelido genérico, muitas vezes endereçado às mais
diversas pessoas. Nosso José Acácio Alves recolheu tal alcunha, em várias manifestações. No futebol, sua
maneira determinada de jogar, a obsessão pelo gol, suas entradas solantes nas divididas, o chute forte e
nem sempre determinado, já lhe cativaram o nome de Zé Doido. As noitadas festivas, cheias de pequenas
desordens, também o fizeram ‘doido’. E quem sabe que outras manifestações aconteceram a ponto de
indicar para ele tal apelido. O fato é que, doido ou não, Zé Doido virou reconhecimento geral lá pelo Tijuco
(Informações do filho, Cássio Murilo Alves)
Zé Dona
Há apelido que vem de longe. Vem de família. E nem sempre nasceu com a pessoa que leva o apelido. José
Batista de Carvalho, é neto do Sr. João Batista de Carvalho, que era casado com Dona Stefânia. Pois o Sr.
João Batista respondia pelo apelido de ‘Dona”. E era conhecido como João da Dona. Aí está a razão: o
apelido passou para as gerações seguintes e foi se encarnar no José Batista, que tinha outros quatorze
irmãos. Nosso José virou simplesmente Zé Dona, como é conhecido por toda parte.
(Informação do próprio)
Zé do Lolô
O pai tem apelido, e o filho o carrega. Assim aconteceu com o Sr. José Miranda. Seu pai, pedreiro,
eletricista, bombeiro, mexia com tudo que, nas casas, costuma dar problemas seguidos. Mas, com isso, era
muito conhecido. E apesar de seu verdadeiro nome ser Flordurval Miranda, era tratado por todos como
Lolô. Se tal era o pai, o filho José passou a ser conhecido como Zé do Lolô, por sinal que¸ com muito
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orgulho. Pessoa prestativa e amiga dos amigos, Zé do Lolô, aposentado, após trabalhar por dez anos na
Prefeitura, ter trabalhado no comércio também, para não ficar parado, mexe na arte de gesso, juntamente
com seu filho Wellington, que, por enquanto, não pegou o apelido do pai.
(Informações do próprio)
Zé do Padre
Apelido curioso que poderia insinuar maldades, nada tem de tudo isso. |é do Padre é o apelido do Dr. José
Leôncio Coelho. Morador da Rua Santo Antônio¸36, hoje número 224, pois parece que a Rua cresceu¸
habitava linda casa colonial ao lado da capela Santo Antônio, onde hoje ainda se invoca solenemente o
santo protetor. Morava ali, pois que era a casa da família, cujo titular seu pai, Antônio Leôncio de Coelho,
acolhia também o tio Monsenhor Gustavo Ernesto Coelho, vigário forâneo de São João del Rei. Por causa
da presença do tio sacerdote, a José Leôncio deram o nome de Zé do Padre Gustavo, e que, pela adorável
simplificação das coisas, se tornou simplesmente Zé do Padre. Nosso conterrâneo foi cirurgião-dentista e,
posteriormente, funcionário da Secretaria Estadual da Fazenda, adquirindo, por mérito, o cargo máximo, à
época, de Primeiro Coletor Estadual. Casado com Da. Juracy de Almeida Coelho, a conhecida Da. Cecy, Zé
do Padre deixou nove filhos, muitos netos e bisnetos. A casa, que já não pertence à família, até hoje é a
casa do Zé do Padre.
(Informações do filho, Rafael de Almeida Coelho)
Zé do Pedro
Só por ser filho do Sr. Pedro, lá ficou ele com apelido de Zé do Pedro, em substituição a seu verdadeiro
nome de José Guimarães da Silva. Morador do Guarda-Mor, gosta da identificação com o pai.
(Informação do próprio)
Zé Dundum (in memoriam)
Natural do Distrito de Rio das Mortes, o Sr. José Helvécio de Carvalho, morava em São João. Ainda lá, na
terra onde o congado e os ternos de reis continuam bastante vivos, o menino saía acompanhando essas
manifestações populares, ao som dos tambores, das caixas, dos reco-recos, que ele insistia em reger,
abanando as mãos e encantado com o ‘dumdumdum’ dos instrumentos. Não teve dúvida: virou o Zé
Dundum. Adulto, continuava carregando o apelido da infância, por onde quer que fosse, com ou sem
banda e fanfarra.
(Informação do próprio)
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Zé Galinha
Apesar de este apelido sugerir tanta coisa, o Sr. José Maurício Lara o carrega por motivos profissionais.
Seu pai trabalhava no setor de aves, tinha uma frangolândia: vendia frango abatido por toda a cidade de
São João del Rei. E lá ia o José Maurício Lara, de bicicleta, fazendo as entregas de frango e outras aves. E a
gente sabe: quem vê frango, vê galinha. Mesmo quando, mais tarde, fazia a entrega de Kombi, o anúncio
era dado daquele jeito: lá vem o Zé da Galinha. Daí para virar Zé Galinha, foi só um pulo. O fato é que ficou
conhecido assim e é pessoa popular. Aliás, se não fosse, o apelido era xingatório.
(Informação do próprio)
Zé Grande
Ás vezes o apelido cai como luva, descrevendo aspectos particulares da pessoa. Mas, também, pode
reduzir-se a um só aspecto de tal pessoa. Parece ser o que acontece com o Sr. José do Patrocínio de
Oliveira. O apelido lhe cai bem, devido à estatura pouco encontradiça em nossos meios comuns, fora do
vôlei e do basquete: um metro e noventa e três centímetros. Mas, se o apelido descreve sua altura, fala
pouco do jeito educado e recolhido que possuía: falava pouco, ou não, porque sempre na hora certa; mas
a voz era mansa e suave. Funcionário do IBGE e, posteriormente da Justiça do Trabalho, era cidadão
habilidoso e espirituoso. E falar, até hoje, em Zé Grande, irmão do Afonso da Tipografia, é falar de figura
conhecida e cujo prazer consistia em servir aos outros.
(Informação do irmão, Afonso Maria de Oliveira)
Zé Guela
Muitos apelidos nascem de uma má pronúncia das palavras, de incorreções de linguagem. Este Zé Guela,
que na verdade nem é José, mas é Antônio de Pádua Reis, é um desses casos típicos. De família numerosa
gostava de usar roupas de cor grená. Seu falecido pai, certamente sem maldade, ao invés de dizer ‘grená’,
dizia ‘guela’. O pobre do Antônio de Pádua não conseguiu escapar da gozeira, nem em sua casa, com sua
família, e quem era Antônio virou Zé Guela, pro resto da vida, como ainda hoje é conhecido lá no bairro de
Matosinhos.
(Informação do próprio)
Zé Labareda
Até padre põe apelidos nos outros. É lógico, apelido inofensivo, mas apelido. É o caso do Sr. José Eduardo
Pereira. Foi lá por volta de l946, no Oratório São Caetano, mantido, à época, pelos Padres Salesianos e,
sabiamente conduzido pelo Padre Questor Avelino de Barros, que fez um extraordinário trabalho no
bairro, que lhe é muito agradecido. O José Eduardo era um típico oratoriano: alegre como os padres
gostavam que os meninos fossem e não ficava parado no pátio de recreação: praticava todos os esportes,
principalmente o futebol. Como era entusiasmado e corria pra todo lado, ao final dos jogos estava mais
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vermelho que um pimentão. Não dava outra. O Padre Questor, que inicialmente passou a chama-lo de
‘foguinho’, depois emplacou nele o nome de “labareda” que pegou mais que fogo morro acima. O apelido
continua até hoje, quando o Sr. José, comerciante em Matosinhos, já não é criança e daqueles tempos
guarda boas fotos do time do São Caetano e o apelido ‘que não tem jeito de acabar, mas eu também não
ligo”.
(Informação do próprio)
Zé Manteiga
Faz sessenta anos que o Sr. José Teodoro pegou o apelido de Zé Manteiga, e assim é conhecido no bairro
de Matosinhos até hoje. Não só; quando assina algum documento sem tanto importância, assina Zé
Manteiga, pois assim é que é conhecido. Mas o que foi que fez José Teodoro virar Zé Manteiga? Quando
moço, tinha a pele tão oleosa que brilhava no sol. Ora, há um tipo de formiga de cor preta que brilha
também ao sol. Por isso, inicialmente os colegas o apelidaram de ‘ formiga manteiga’. Mas, rapidamente,
virou Zé Manteiga, dado que seu nome era José. É pessoa muito popular que só responde pelo apelido.
(Informação do próprio)
Zé Menino
O apelido do Sr. Lourival Gonçalves de Andrade tem pouco que ver, seja com seu nome, que nada tem de
José, seja com suas atividades em São João del Rei, que exigiam que ele fosse muito mais que um menino.
Na verdade, além de comerciante de Posto de Gasolina, de dono da primeira rádio FM da região e da AM
Emboabas, foi nada mais nada menos que Prefeito Municipal, mesmo sendo somente Zé Menino. Mas,
então? O Sr. Lourival tinha vários irmãos, todos tratados pelos amigos como ‘menino’. Ora, quando nosso
Zé Menino chega na praça de automóveis para ser taxista já recebeu o nome, que o consagrou, Zé Menino.
Para a população de São João del Rei ele nunca teve outro nome. Nem quando prefeito, mesmo sem ter
sido menino na prefeitura.
(Informação da esposa, Maria José R. de Andrade)
Zé Meu
O Sr. José Luís Silveira, Zé Meu, é mais uma vítima ou uma ocorrência, dos companheiros de alegrias, feitas
nos bares ou nas campos desportivos. O pai, Sr. José Luís, trouxe de uma de suas viagens, um pandeiro
para seu filho José. Os colegas, brincando ou não, querendo ou não demonstrar habilidade rítmica,
pegavam aqui e ali o pandeiro, fazendo tremenda zoeira, pois é o que acontece com quem não sabe a arte
de tocar o pandeiro Só que José Luís, em defesa do instrumento do primo , escondia o pandeiro e dizia: no
pandeiro do Zé Meu, ninguém mais vai por mão. Os colegas gostaram da fidelidade do primo e gostaram
mais ainda da maneira como se referia ao primo: Zé Meu. Pegou. Pegou e não largou. Zé Meu, até hoje, é o
apelido de José Luis Silveira, que nem lutou para a aquisição dele.
(Informação do próprio)
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Zé Mole
O Sr. José Gonçalves de Oliveira é aposentado na categoria de ‘caminhoneiro de transporte’ no eixo RioSão Paulo. Antes disso, trabalhou no transporte coletivo, em São João del Rei, nos antigos ônibus de
propriedade do Sr. José Narcizo, ônibus chamados de ‘caxangá’. Motorista de alto espírito profissional,
cuidadoso, seguro, tranquilo, trabalhava com muita atenção nos coletivos da cidade. Mas o povão, que não
conseguia ver essas qualidades no motorista, só sabia dele uma coisa: era calmo, muito calmo. E então,
quando o ônibus do Sr. José apontava na esquina, o povo, os usuários começavam a falar: lá vem o ônibus
do Zé Mole, lá vem o Zé Mole. Tudo definido, o apelido pegou e não largou mais o Zé Mole, que continuou
a trabalhar preocupado em executar bem as tarefas profissionais, evitando qualquer acidente inclusive.
Mas era calmo. Era mole. Virou Zé Mole. Membro atuante da Banda de Música Santa Cecília, da Prefeitura,
lá parece que, sendo bom profissional, segue bem o ritmo ditado pelo maestro.
(Informação do próprio)
Zé Patativa (in memoriam)
Ilustre cidadão são-joanense, motorista de praça na cidade por cinquenta anos, era líder dos taxistas,
sempre em defesa da profissão e dos colegas. Atuou muito na política partidária. Era homem de subir nos
palanques para defender com ardor seu partido e os candidatos. Conhecia tanto as coisas da política e dos
políticos que se diz que era conselheiro político do Dr. Tancredo. Se Conselheiro não se sabe; que o Dr.
Tancredo o ouvia, isso todo mundo sabia. Mas pouca gente em São João sabe quem foi José Dângelo
Alves. E todo mundo conheceu o Patativa. É que, quando criança e segundo sua irmã Conceição Dângelo, o
menino gostava de pegar passarinho, principalmente os ‘patativa’. Pegava e vendia para ajudar no
orçamento da mãe, que era viúva. Mais tarde, já moço, gostava muito também da arte de caçar e voltava
sempre com muitos pássaros, a que dedicava um grande cuidado. A vontade que a gente tem é de cantar
para ele: “Acorda, Patativa, e vem cantar”, pois era figura popular, prestativa, reverenciada por todos e
por toda a região.
(Informação da irmã, Maria da Conceição Dângelo Alves)
Zé Pau de Cebo (in memoriam)
É fácil descobrir porque o Sr. José Augusto de Resende levou o apelido de Zé Pau de Cebo. Natural de
Conceição da Barra, o menino não perdia uma competição de subida no pau de cebo. Entrava ano, saía
ano, queimavam o Judas ou não, o pau de cebo estava armado e o José Augusto, magrelo e esperto, não
perdia para ninguém. Esse fato valeu-lhe o nome de Zé Pau de Cebo, que afinal é um apelido-troféu.
Mudou-se para São João del Rei e o apelido veio junto. Lá em Matosinhos tem Pau de Cebo o ano inteiro.
(Informação da esposa, Vanda Maria de Sousa Resende)
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Zé Pão de Queijo
São-joanense da gema, nasceu e foi criado neste cidade, no bairro de Bonfim, região do arraial das
cabeças. O José Aparecido da Silveira levou o apelido pelo que fazia: vendia pão de queijo pelas várias
regiões da cidade. E vendia com gosto, o que se deduz pelo jeito como caminhava pelas ruas, gritano
alegre e feliz: “Olha o pão de queijo”. Tanta alegria e felicidade só podia virar nome para o cidadão. E foi
assim mesmo. Depois de algum tempo fazendo o seu comerciozinho, ficou conhecido e respeitado como
Zé Pão de Queijo.
(Informação do próprio)
Zé Pesão
A qualidade física costuma ser um dos fatores mais comuns para determinar o apelido das pessoas, pois o
povão adora declarar o que está nos outros, esquecendo-se, muitas vezes, das próprias qualidades.
Ninguém sabia, mas o José Soares de pronto se manifestou. Mecânico conceituado de autos, na região do
barro, Rua Coronel Tamarindo, o José Soares queria muito era jogar futebol, lá no time do Minas. Era seu
sonho. Foi ao campo, em dia de treinamento, apresentou-se aos dirigentes e revelou para eles seu sonho,
a grande motivação de que estava tomado. Com gente motivado é o que um técnico mais quer contar,
além das habilidades esportivas que o cidadão precisa apresentar. Disse-lhe, pois, o técnico que gostaria
de vê-lo pelo menos numa demonstração, que fosse ao campo e principiasse a brincar com a bola. Sr. José,
meio tímido, disse que não havia levado apetrecho algum. O dirigente disse-lhe que havia por ali muitos
pares de chuteira, que apanhasse um e fosse para o campo. O Sr. José entusiasmado, foi ao vestiário onde
se encontravam vários jogadores. Começou a experimentar as chuteiras. Pegava uma, não servia Pegava
outra, não servia. Todas muito pequenas. A galera não perdoou: que pesão, hein! Vai ter pé lá na China! É
pé pra ninguém botar defeito. Pesão mesmo. Se o Sr. José achou a chuteira que lhe servisse ou não, se fez
uma demonstração de suas habilidades ao técnico ou não, também não se sabe. Sabe-se é que ganhou de
imediato o apelido de Zé Pesão, que mantém até hoje, sem tristeza, sem preconceito. É popular, é
conhecido e é mecânico, função em que o tamanho do pé não influencia.
(Informação do próprio)
Zé Pica Fumo
Assim aconteceu com o Sr. José Wander Guimarães da Silva. Menino como qualquer outro saudável, tinha
sua turma do barulho. Essa turma adorava jogar pelada com bolas feitas de meia ou pano, brincar de ,
pique, de garrafão e outros jogos divertidos, ali no largo do Rosário, e em cujas escadarias também ficavam
a apreciar o movimento e observar a particularidade das pessoas que passavam e dos acontecimentos. Um
belo dia, o Sr. José passava em frente á casa de Dona Marieta e Dona Davina, hoje solar dos Neves, quando
seu colega de farras, o Raimundo Coco Fundo, filho do saudoso João Onofre gritou para ele: Oh! Pica
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Fumo! Oh! Pica Fumo!. Não bastou mais nada, pois do lado do Raimundo Coco Fundo estavam o Mamão, o
João Boca Larga, o Tajoca, o Pinto e outros tantos apelidos da turma do próprio Pica Fumo, que aqui a ser
chamado como até hoje o é. Nem quando foi vereador na Câmara Municipal de São João deixou o apelido.
Aliás, o apelido e a turma de companheiros certamente ajudaram muito na sua eleição.
(Informação do próprio)
Zé Ranca Toco
Quem conhece o Zé Ranca Toco e sabe que foi expedicionário de linha de frente na guerra, pensa que o
apelido lhe venha daí. Não. O Sr. José Theophilo de Aquino (assim mesmo, com th e ph de pharmácia)
recebe o apelido pelo fato de, sendo de família muito simples, morador do Morro da Forca, que fica no
Bonfim, vestia terninhos de brim chamado ‘brim ranca toco’, que era riscado e de cor cinza e de preço
acessível. O apelido lhe veio pelos caminhos da simplicidade, mas sua popularidade se deve ao fato de,
além de ser detentor da medalhe de sangue, ser conhecido e respeitado pela dignidade. José Theophilo é
Zé Ranca Toco.
(Informação do próprio)
Zé Rola
O Sr. José Batista da Costa tinha vontade de abrir uma casa comercial em São João del Rei, no bairro de
Matosinhos. Estando com o rádio ligado, ouviu a propaganda de uma casa comercial em Belo Horizonte
que se intitulava Rolla Bessa. Ora, ele gostou do nome e resolveu chamar assim o seu empreendimento
comercial. Mas queria que Rola fosse escrito com dois eles: Rolla. Não pegou. O que pegou foi o nome da
loja que passou a ser também o nome dele: Zé Rola, que pouca gente sabe que se chama José Batista da
Costa.
(Informação do próprio)
Zé Til (in memoriam)
Ninguém sabe como o apelido de ‘TIL’ surgiu, porque o apelido não era do Sr. José Antônio Sobrinho, mas
de seu pai. Coisas que acontecem: filho de peixe é peixinho. Mas o fato é que, morador do Rio das Mortes,
lá estava um cidadão, conhecido pelo nome de Zé Cambito, que adorava botar apelido nos outros. E assim
colocou no pai de José Antônio o apelido de Til. José Antônio, que trabalhou uns 50 anos como protético
prático, carregou consigo a herança que o pai lhe deixara, se além de outras, não se sabe. Mas o nome
ficou sagrado, inclusive porque a vereança de São João del Rei, para onde o Zé Til mudou, dedicou-lhe o
nome de uma rua, no bairro de Matosinhos. Só que o nome dado à rua é o nome de batismo.
(Informação do filho, Geraldo José da Silva)
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Zézinho Tratorista
Este é o nome de José Marques Filho. De Capelinha, distrito de São Tiago, é cidadão cuja folha de serviços
prestados a São João é grande. Por dois mandatos, vereador. Na Secretaria de Obras e Transporte, outros
dois mandatos como Diretor do Departamento de ruas e estradas. Mas o que lhe grangeou estima foi a
maneira como exerceu tais funções. Conheceu como a palma da mão, o município de São João , seus
distritos e povoados. Não fora a maneira como trabalhou a vida toda, sua vida não teria a identificação que
teve com a cidade. Não é preciso dizer que tudo começou no manejo de tratores, o que lhe valeu, ainda
nos vários misteres, o apelido de Zézinho Tratorista. O diminutivo fala de seu caráter amigo.
(Informação do próprio)
Chico Bagunça
Francisco Adolfo Guimarães é o nome de Chico Bagunça. Funcionário da CEMIG, trabalhava em Itutinga
como tratorista da Morrison Kundeen do Brasil. Morava numa pequena pensão. Correto com todas as suas
obrigações, mantinha o pagamento da moradia absolutamente em dia. Certa feita, seu senhorio resolveu
entender que Chico não havia pago e fez-lhe a cobrança, humilhando-o na frente dos companheiros. Chico
não gostou nem da cobrança, nem do jeito como foi cobrado. Pediu aos que estavam no recinto que
saíssem, pois iria passar o trator, que manejava com maestria, por cima da pensão e jogar tudo no chão. E,
sem pensar muito, fez o que prometeu: tudo foi para o chão. Foi despedido da firma. E a companheirada
não perdeu tempo: Chico, você bagunçou tudo, fez uma lambança, uma bagunça. Dali para frente, nada
melhor que se referir ao colega como o Chico Bagunça. Mas, o chefe geral soube e entendeu que Chico
tinha razão, pelo menos com relação ao pagamento. Exímio funcionário que era, para quem não havia nem
hora nem dia ruim, respeitado por todos, foi readmitido. A firma pagou os prejuízos que Chico causara
(tratava-se de uma pensão de madeira para peão). Tudo acertado, sim, mas o apelido ficou e acompanhou
Chico por todo lado, já como funcionário do Banco do Brasil, como piloto de avião, ex-paraquedista do
Exército. Dono de uma oficina mecânica, parece que também em bagunça, Chico faz de tudo para se
divertir, para prestar pequenos serviços, para atender aos amigos, e levar a vida em felicidade e correção.
(Informação do próprio)
Chico Bené
Nada de especial no apelido do Sr. Francisco Batista do Nascimento Neto. O que havia com ele era apenas
o direito de assinar seu nome no‘ponto’ do trabalho, do jeito que ele queria. E queria era assinar Chico
Bené. Escolheu a assinatura que virou apelido. Foram quarenta e oito anos e oito meses trabalhando como
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servidor municipal. Foi chefe do Departamento de Obras, o que lhe valeu conhecer todos os quatro cantos
da cidade e dos distritos e povoados. Em compensação todos os habitantes também conheceram o Chico
Bené, cujo nome verdadeiro ninguém sabia. Mas, se a gente pensa no tempo que ele ganhou abreviando
seu nome, dá para entender porque escolheu apelido tão pequeno, que do nome original só manteve o
natural Chico.
(Informação do próprio)
Chico Bezerra
Morador na represa da Água Limpa, o pai do Sr. Francisco de Freitas Guimarães, era o administrador das
águas, como funcionário da Prefeitura. E o filho Chico Bezerra rebanho, tratava dele, salitrava, curava e
fazia tudo que era preciso e que seu gosto pela coisa lhe aconselhava. Era seu prazer. E, como não podia
deixar de ser, à maneira de vida, ao gosto de vida, foi se juntar o apelido: Chico Bezerra. Apelido fácil,
descritivo, sem gerador de dúvida. A família mudou-se para São João del Rei. Chico também virou
funcionário da Prefeitura. E já até aposentou. Mas como Chico Bezerra sempre, sem confusão, sem briga.
(Informação do próprio)
Chico Borracheiro (in memoriam)
Apelido descritivo do Sr. Francisco Moreira de Carvalho. De fato, com sua loja localizada na Praça Raul
Soares, toda vida dedicou-se ao ramo de vendas, consertos, recauchutagens, reformas de pneus. Um tipo
popular, muito conhecido, em São João e na região, gostava e se dedicava, com coragem, à política
partidária, não receando defender seus candidatos. Amigo dos grandes políticos de sua época, foi ele
quem transportou o então Presidente João Goulart, em visita à cidade, no seu carro ‘Mercury’, cadillac 58.
Apelido bom, porque verdadeiro e vendedor de imagem e serviço.
(Informação do filho Francisco)
Chico Bravo (in memoriam)
Este era o apelido do Sr. Francisco Rodrigues de Resende. Apelido certo, descritivo pelo menos em parte,
porque a par da braveza ou franqueza, a par de ser sistemático ou correto, era figura impecável nos seus
hábitos e costumes. Dono de propriedade na cidade de Coroas, quando vinha a São João em seu cavalo,
trazia consigo, no bornal, a matula feita de rosquinha, torradinha, biscoito de fubá e uma garrafa de café.
Era sentar na Ponte da Cadeia e saborear suas quitandas que oferecia aos passantes, mormente amigos ou
conhecidos. Em sua cidade, era atuante nas festas religiosas para as quais ia de carro de bois, que
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transportava colchão, lenha, quitanda e tudo mais de que a família precisava para as festas. Ele, chapéu na
cabeça, terno de brim, botina. Figuraça sem complexo, sem receios. Mas, na opinião do povo, bravo. Chico
Bravo.
(Informação da filha, Maria Julieta de Resende Coelho)
Chico da Muleta (in memoriam)
Há apelidos que viram nomes. Todos sabem disso. Mas não sei se algum apelido aparece na sepultura de
alguém, em substituição ao nome real. Pois não é o que acontece com o Sr. Francisco Andrade de
Resende? Na verdade, na sepultura aparece o nome completo, mas identificado pelo apelido Chiquinho da
Muleta, caso contrário ninguém saberia de quem se trata. E a razão do apelido é simples: desde pequeno,
lá na fazenda dos pais, no distrito do Onça, hoje Emboabas, Chiquinho passou a usar muletas. Acometido
por osteomielite, os recursos médicos inexistentes, ficou ele deficiente das pernas. Nada disso o impediu,
já morando em São João del Rei, de se tornar celebrado alfaiate, com sua oficina sempre cheia de amigos e
bons clientes. Além do mais, exprimiu seu entusiasmo pela vida tornando-se um dos fundadores do time
de futebol do consagrado Taio. Não jogava, mas fazia jogar. Coisa importante numa comunidade.
(Informação da irmã, Maria Stella Andrade)
Chico Explosão
“Lá vai ele, pegou o primeiro, pegou o segundo, safou-se do goleiro e é gol, gol, gol....”O José Francisco de
Castro, porque era esse o seu nome, foi jogador de futebol, quando tinha seus vinte anos. Era do
Siderúrgica. Pois foi numa disputa, entre seu time e o São Caetano, que o apelido lhe surgiu, por boca do
cronista ‘Kids”, “o mestre” que, entusiasmado com os três gols do Chico na partida, não duvidou em
chamá-lo de ‘explosão’, Chico explosão. Época de futebol sem televisão, com o radinho de pilha a todo
volume, ninguém mais esqueceu do dia memorável em que Chico “explodiu” com três tentos. Até hoje,
sem jogar, sem marcar, é Chico Explosão, para todo mundo. Merecidamente, dizem os amigos.
Desconfiadamente, seus adversários.
(Informação do próprio)
Chico Pescoço
O caminhoneiro, que transportava lenha para as indústrias, fábricas e padarias de São João del Rei,
Francisco Paulino da Cruz, não era o dono do apelido Chico Pescoço, mas é conhecidíssimo nos bairros de
Matosinhos, Vila Santa Teresinha e Pio XII e até em vários distritos, só pelo apelido de Chico Pescoço. Na
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verdade, porém, Chico Pescoço era seu Pai, o sr. Jovelino Paulino da Cruz, que, falecido, deixou para um
dos filhos o descritivo apelido, que, prata da casa, virou até troféu. Não se sabe bem qual a origem do
apelido. Pode-se imaginar? É claro que sim. No entanto, não convém porque a possibilidade de erro é
muito grande, pois se todo mundo sabe o que é pescoço, não se sabe a quanta coisa este nome serve. É
melhor ficar com a lembrança boa de um cidadão trabalhador que, como qualquer outro, tinha pescoço.
(Informação do filho, Márcio Batista Cruz)
Chico Pinga
Não é preciso dizer. Ele mesmo diz que gosta da pinga. Gosta da danada. Da maldita. Todo dia é dia. Toma
seu gole todo dia. E se beber precisa de motivo, o Sr. Francisco Lara Neto diz que bebe para esquecer.
Esquecer de que? Perguntam a ele. E ele: já esqueci. Servidor público há mais de vinte anos, alegre,
conhecidíssimo, já foicandidato a vereador. Deveria ter muitos projetos na cabeça. Mas, se bebesse
esquecia. E esquecia por que motivo bebia. Mas também é pedir demais o motivo para tomar uma.
(Informação do próprio)
Chico Pulga
Pulgas não param no mesmo lugar. Pulam de cá, pulam de lá. Estão sempre a pular. O irmão do Sr.
Francisco de Sales Torga, Toniquinho, não duvidou em botar o apelido de Chico Pulga no seu irmão,
porque, a exemplo das pulgas, o endiabrado não parava de pular de cá para lá. Apelido de família,
descritivo da vida levada da breca que o menino magricela vivia, o apelido cresceu junto com o menino
que se tornou adulto, cidadão respeitado em sua atividade profissional de técnico em contabilidade.
Conhecidíssimo, não pula mais, não porque não saiba, mas porque já pulou demais, feito pulga.
(Informação do próprio)
Chico Seleiro (in memoriam)
Quem constrói e conserta selas para animais, trabalha com couro para tantas outras utilidades, vive disso e
com isso, tendo até mesmo casa comercial especialidade no ramo, só pode ser seleiro. Era o caso do Sr.
Francisco Teixeira, isto é, Chico Seleiro porque assim é que era conhecido. Já seu pai era seleiro. E o filho,
admirador do pai, não podia ser senão seleito. Chico Seleiro e está acabado. Só para a família o nome
verdadeiro valia. Para os outros, era melhor e mais fácil descrever o que o Chico fazia.
(Informação do filho)
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Chico Triste (in memoriam)
Há apelidos que não se justificam. Veja só. Francisco Miguel Arcanjo: conhecido por todo mundo, figura
popular, gostava de se apresentar nos bailes e nas festas. Trabalhador, correto nos negócios, puxava lenha,
madeira, carvão aqui para a cidade e para as firmas industriais também da redondeza. Por que, então,
Chico Triste? Será que quando trabalhava a cara aparecia coberta de carvão e aí dava impressão de
tristeza? Ou era porque não gostava de mostrar que adorava um rabo de saia? Mas não se sabe se isso lhe
dava tristeza. Que tristeza triste seria. Não se sabe. Só se sabe que, apesar da vida feliz que levava, era,
para todo mundo, o Chico Triste.
(Informação do filho, Geraldo Dimas Arcanjo)
Chico Turco
Todo Francisco é Chico. Não foi diferente com o Sr. Francisco Guimarães Mattar, mesmo sendo
descendente de sírios. E porque tal, Chico Turco. Sem erro. Muito conhecido e popular na cidade, era
também destemido, e não gostava de levar desaforo para casa. Foi dos primeiros moradores do Rio Acima,
lá para os lados do Bonfim. Por isso mesmo, o lugar que habitava era descrito pelos moradores como ‘lá na
chácara do Chico Turco’, nome que parece durar até hoje, pelo menos em parte. Morreu aos 99 anos. Mas,
antes disso, politiqueiro valente, que se pronunciava nos comícios e se orgulhava de ser amigo de
Tancredo, Juscelino e até Getúlio Vargas. A prova disso são as fotos que tirou junto com esses grandes e
que a família, orgulhosa, conserva.
(Informação do neto, Francisco Mattar)
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Todos esses são apelidos descritos pelas próprias pessoas alcunhadas, ou por parentes das pessoas, que se
prontificaram a contar a origem do apelido. Por conseguinte, não há aqui intenção alguma de denegrir ou
ofender quem quer que seja. Aliás, não há aqui apelido algum ofensivo. Todos são, de alguma forma,
descritivos. Todos se tornaram o próprio nome das pessoas. Sem complexo. Sem ofensa. Isso foi possível
graças ao empenho do Prof. Braga em entrevistar todos quantos ele pode alcançar.
Os Chicos e os Zés são muito mais numerosos. Assim como outras tantas pessoas possuidoras de apelidos.
Com este trabalho, entretanto, quisemos apenas estimular outras pessoas a tentar realizar tarefa
semelhante, na certeza de que, por este meio, pode-se conhecer melhor a vida interna de nossa cidade. E
conhecer para melhor apreciá-la, pois, no cômico, rola também muita vida.
João Bosco de Castro Teixeira
No carnaval de 2012, em São João del-Rei.
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