Ano VIII • nº 167 1º de agosto de 2009 R$ 5,90 empoucaspalavras Rafael Wainberg O chef aposentado chinês Chu vive numa grande casa em Taipei com suas três filhas: Jia-Jen, Jia-Chien e Jia-Ning. É em torno do jantar de domingo que ele e as moças costumam conversar sobre trabalho, amores e questões familiares. O nome do filme, dirigido em 1995 por Ang Lee, é Comer, beber, viver. Foi essa singela temática que nos inspirou a fazer a matéria de capa desta edição. Sugerimos à repórter Ana Cristina Vilela que fosse buscar em Brasília alguns pais gourmets, aqueles personagens apaixonados por gastronomia e, mais do que isso, apaixonados por seus filhos. A ponto de juntarem num mesmo pote – ou seria na mesma cozinha? – as duas paixões. A forma que escolhemos para homenagear os pais brasilienses, neste Dia dos Pais, foi contar as experiências culunárias caseiras do publicitário Charles Marar, do arquiteto Álvaro Abreu e do fotógrafo Juan Pratginestós. O primeiro aprendeu com a mãe jordaniana que a simplicidade é a chave de tudo na gastronomia. Com a companhia de um bom vinho e uma música de fundo, ele desenvolve suas habilidades, não sem ter que ouvir os devidos palpites dos filhos Charles e Isadora. O segundo, como bom mineiro, tem até tempero próprio para agradar as filhas com aquela comidinha mineira típica, uai. E o terceiro, espanhol natural da Catalunha, diz que em seu país a vocação pelas panelas já vem do berço (leia a partir da página 24). Se seu pai não é do tipo que gosta de lhe preparar pratos especiais, não tem problema. Nesta mesma edição você encontrará inúmeras sugestões de restaurantes onde comemorar com ele o 9 de agosto. Começando pelos 50 participantes do festival internacional Restaurant Week (página 4), passando pelo recém-inaugurado Café Ayala (página 6), pelo Fatto, o mais novo empreendimento do chef Dudu Camargo (Picadinho, página 8), e completando com as 30 opções do Roteiro Gastronômico (página 14). Boa leitura e até a próxima quinzena. 4 águanaboca O filé com mostarda Dijon à l'ancienne e musseline de mandioca, do Parrilla Madrid, é um dos pratos em promoção, até 9 de agosto, no festival Restaurant Week. 8 10 12 14 17 20 24 28 30 34 picadinho garfadas&goles pão&vinho roteirogastronômico palavradochef dia&noite diadospais queespetáculo luzcâmeraação caianagandaia Maria Teresa Fernandes Editora ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda | SHS, Ed. Brasil 21, Bloco E, Sala 1208 – Tel: 3964.0207 Fax: 3964.0207 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Redação [email protected] | Editora Maria Teresa Fernandes | Produção Célia Regina | Capa Carlos Roberto Ferreira sobre foto de Ana Cristina Vilela | Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Reportagem Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Beth Almeida, Catarina Seligman, Diego Recena, Eduardo Oliveira, Heitor Menezes, Lúcia Leão, Luis Turiba, Luiz Recena, Quentin Geenen de Saint Maur, Reynaldo Domingos Ferreira, Ricardo Pedreira, Sérgio Moriconi, Silio Boccanera, Súsan Faria e Vicente Sá | Fotografia Eduardo Oliveira, Rodrigo Oliveira e Sérgio Amaral | Diretor Comercial Jaime Recena (9666.1690) | Contato Comercial Giselma Nascimento (9985.5881) | Administrativo/Financeiro Daniel Viana | Assinaturas (3964.0207) | Impressão Gráfica Coronário. 3 águanaboca Rafael Wainberg Parrilla Madrid: bife ancho com molho de pimenta e vinho Divulgação Bier Fass: cordeiro ao molho ferrugem, hortelã com purê rosado e arroz de brocólis Festival de sabores Por Ana Cristina Vilela U ma entrada, um bom vinho, prato principal, horas de conversa, sobremesa, mais algumas boas histórias, licor, café. Sejam entre amigos ou em família, sejam profissionais ou românticos, longos jantares e almoços são uma preferência dos brasilienses. Aqui está um pedaço do mundo, e todo o Brasil. Há comida para os gostos mais variados: japonesa aos montes, francesa, mexicana, espanhola, portuguesa, chinesa, árabe, italiana, baiana, paraense, gaúcha, mineira, goiana, de fusion... A lista é infindável. Afinal, Brasília vem mesmo se tornando uma capital gastronômica, tanto que está recebendo, até 9 de agosto, sua primeira edição do festival Restaurant Week. Sim, há uma certa disputa entre capitais brasileiras para serem os principais polos gastronômicos do país. Na liderança, claro, está São Paulo, sem nenhuma 4 contestação. Por isso, foi a primeira a receber o evento, em 2007. Depois foi a vez do Rio de Janeiro e, em seguida, de Recife. Este ano, a disputa amigável ficou entre Belo Horizonte, indiscutivelmente a capital brasileira dos botecos, e Brasília, incrustada no coração do país, desconhecida de muitos, vista como a capital dos políticos, do poder e de tudo de bom e de ruim que vem juntamente com essas definições. Por trás dessa máscara, entretanto, está a Brasília de todos os sabores. Ganhou Brasília, entre outras razões porque “houve interesse da cidade”, explica Emerson Silveira, criador do Restaurant Week Brasil. “A receptividade em Brasília foi muito melhor do que eu esperava, tanto que ouvi vários ‘por que demorou tanto’?”, conta, esperando surpresas por aqui, pois há anos não vem à capital do país. “Já me avisaram que vou me surpreender, e não tenho dúvida disso”, considera. Ao todo, participam cerca de 50 res- taurantes. O grande desafio dos chefs é preparar cardápios diferenciados, com entrada, prato principal e sobremesa a um preço fixo, igual em todas as casas: no almoço, R$ 27 mais R$ 1; no jantar, R$ 39 mais R$ 1. O valor adicional de R$ 1 cobrado em cada prato será destinado à Fundação Nosso Lar, que cuida de crianças e adolescentes carentes de Brasília. Em São Paulo, após quatro edições, a Fundação Ação Criança já recebeu R$ 150 mil. Para atrair o público, além do bom preço, os restaurantes preparam cardápios atrativos. O Parrilla Madrid, por exemplo, aposta numa salada de folhas verdes, morango, manga e mel, de entrada, bife ancho com molho de pimenta e vinho, como prato principal, e bolo de rolo com doce de leite e sorvete de creme na sobremesa, para o almoço. No jantar, salada de folhas verdes com shitake, gorgonzola e crispes de pancetta, seguido de filé com mostarda Dijon à l’ancienne e musseline de man- Divulgação El Paso Texas: camarones a la mexicana Divulgação Fortunata: polpetone de mignon com pappardelle Maratona gastronômica a preço fixo, até o dia 9, em meia centena de restaurantes da cidade dioca – além, claro, da sobremesa. Para Gil Guimarães, proprietário da casa e também do Baco Napolitano, outro participante da maratona gastronômica, a expectativa para o Restaurant Week é das melhores: “Está sendo muito bom e ainda vai melhorar. Vai fazer mais pessoas saírem de casa para confraternizar. Afinal, agosto não é um mês muito bom, pois muitos estão de volta de viagens, têm que comprar material escolar e o dinheiro fica curto”. A opinião é compartilhada pelo chef do L’affair, Marcelo Piucco: “Temos recebido muitos pedidos de reservas, principalmente para o primeiro domingo”. Para ele, o evento é uma possibilidade de as pessoas que normalmente não vão ao restaurante conhecer o cardápio e, assim, voltarem em outro momento. Cada casa exercita sua criatividade como pode. O El Paso Texas vai oferecer pratos originários de regiões mexicanas como Puebla e San Miguel de Allende. Já o El Paso Latino aproveitou o aniversário da independência do Peru (28 de julho) para fazer pratos típicos daquele país. Enquanto isso, o Formidable, bistrô francês do Terraço Shopping, inspirou-se no ano da França no Brasil para preparar pratos originariamente franceses. Além disso, a casa oferece, como cortesia, uma taça de vinho francês. Foi em 1992, em Nova York, que o Restaurant Week nasceu. Na época, Emerson Silveira vivia por lá e seu chefe foi o idealizador e realizador do projeto. O obje tivo do festival, segundo ele, é o de aumentar o movimento nos restaurantes nas baixas temporadas. O conceito é simples, como explica: “Promoção em grupo aglomera mais poder de mídia e mais divulgação. Um restaurante só pode não ser notícia, mas 50 certamente serão”. O festival cresceu e ganhou o mundo. Há dois anos, já eram mais de cem cida- des dos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Holanda, Austrália, Brasil, Portugal, Espanha e México. No Brasil, as próximas cidades serão Maceió e Curitiba. Salvador e Belo Horizonte também estão na fila, mas ainda sob análise. Para Emerson, a explicação para o sucesso vai além da possibilidade de se comer pratos preparados por grandes chefs a preços acessíveis. “Existe em São Paulo, por exemplo, um grande tititi em torno do Restaurant Week. Os amigos se falam o tempo todo para decidir onde irão almoçar. Assim, cria-se uma rede social, um motivo a mais para confraternizar em torno de uma boa mesa e, de quebra, economizar e conhecer novos restaurantes”. Restaurant Week Até 9/8, em aproximadamente 50 restaurantes da cidade (relação completa em www.restaurantweek.com.br). Almoço, R$ 27 mais R$ 1; jantar, R$ 39 mais R$ 1 (couvert não incluído). 5 águanaboca “Alma” platina Paixão pelo tango inspirou decoração do Ayala Café Por Lúcia Leão Fotos Rodrigo Oliveira E tudo a média luz. É o óbvio, quando se trata de tango: de dia, os vidros fumê filtram a intensa claridade de Brasília e a área ajardinada lá de fora assume a mesma tonalidade sépia dos imensos painéis fotográficos que, Carlos Gardel à frente, reverenciam os grandes músicos e bailarinos tangueros. À noite, a iluminação indireta faz o mesmo papel. Menos óbvio, no entanto, é o tango virar tema de um restaurante. Não de uma casa noturna. Ou de uma casa não “apenas” noturna, mas que abre as portas diariamente aos primeiros raios de sol, serve café da manhã, almoço, lanches e jantar e acolhe até o último dos notívagos para um drink muitas vezes solitário ao som de violino e bandoneon. Assim é o Ayala Café, o mais novo empreendimento de Julio Ayala, concebido, com projeto da arquite6 ta Denise Zuba, para ser a “alma” do Sonesta Hotel Brasília. Certa vez, a cantora argentina Mercedes Sosa explicou a uma jornalista, que foi entrevistá-la em seu apartamento em Buenos Aires, porque as paredes eram tão vazias, os móveis tão claros e a decoração tão impessoal. Ela disse mais ou menos assim: “É que eu viajo muito, vivo muito em hotéis e não quero sentir saudades de casa”. Em trilha inversa ao conceito padrão das grandes redes hoteleiras, o uruguaio assumido brasileiro Julio Ayala resolveu romper com a impessoalidade e imprimir personalidade ao serviço de alimentação do Sonesta. Seja na declarada paixão pelo tango, que ambienta o Café, seja nas pitadas de regionalismo do cardápio de culinária clássica internacional, seja no aroma caseiro do café da manhã e de pelo menos um prato especial para o serviço de quarto. “A gente chama de ‘saudade de casa’. Pode ser um arroz com feijão, bife, ovo e batata frita, um ensopadinho de legumes, uma carne guisada... aquele tipo de comida que a gente só come em casa e que quem viaja muito morre de saudades. É o prato mais pedido no serviço de quarto”, conta Ayala, que levou para o Sonesta muitos e profícuos anos de experiência com serviço de alimentação em hotéis como o Copacabana Palace, no Rio, e o Bonaparte e o Comfort, em Brasília. Apesar de já ter comandado cozinhas do nível do Via Vecchia, que fez história em Brasília na década de 1980, Julio Ayala recusa com veemência o título de chef, do qual não se considera à altura. Do cardápio básico enxuto – são 26 pratos, da entrada à sobremesa, incluindo três tipos de sanduíches – ele assume a autoria de apenas um item, batizado, aliás, de “peixe meu” – um salmão grelhado em redução de laranja e condimentos. Mas admite que o “peixe de papel” tem mais presença – o robalo chega à mesa envolto em papel manteiga, acom- panhado de legumes, ervas de campanha e azeite de nirá – é que o “nordeste italiano” é mais exótico –, fettuttine ao molho de abóbora, charque e gorgonzola. Nada impede que o Café sirva refeições em bufês, se um grupo assim preferir, ou que Julio vá para a beira do fogão com Adriano, seu primeiro cozinheiro, preparar um prato fora do cardápio para um convidado ou um cliente especial. “Eu sou um atrevido, que trabalha com uma equipe de 25 excepcionais atrevidos que gostam, respeitam e se empenham no que fazem”, define Ayala. Apontando para seus próprios pés, entrelaçados com os da mulher Inês num dos painéis fotográficos que decoram o salão, ele explica porque o tango: é precisão e paixão. É óbvio! Ayala Café Sonesta Hotel Brasilia - SHN – Quadra 5 (3424.2547). Diariamente das 12 às 15h e das 19 às 23h (café da manhã: de 2ª a 6ª feira, das 6h30 às 10h; sábados e domingos, das 7h às 10h30). AN rodhouse grill 7 Novos Subways A rede de lanchonetes inaugurou mais duas lojas em Brasília, na quadra 100 do Sudoeste e no posto BR da UnB. E há previsão para os próximos meses de outras duas, no Guará e em Águas Claras. Sebastião Andrade Divulgação picadinho Antecipando o McDia Já está marcada a data do McDia Feliz 2009: 29 de agosto. Mas não é preciso esperar até lá para ajudar as crianças com câncer. Já estão à venda na sede da Abrace os tíquetes antecipados, a R$ 8, que podem ser trocados por sanduíches Big Mac no dia do evento. Drinks com Sagatiba A happy-hour do C’est si Bon, de 2ª a 6ª feira, das 16 às 19h, conta com um festival de coquetéis preparados com a cachaça Sagatiba. O primeiro drink custa R$ 14; o segundo, R$ 12; o terceiro, R$ 10; e o quarto, R$ 8. São quatro sabores à escolha do freguês. A Caipirinha Tropical é feita com kiwi, morango, maracujá e limão; o Passion drink, com maracujá, rodelas de limão e folhas de manjericão; o El Sienna, com uma dose de cointreau, suco de limão e filetes de casca de laranja e limão; e o Sagapepper com champagne e pimenta. Divulgação Vive la France Escondederia (?) O Vercelli (410 Sul), cujo carro-chefe é o rodízio de massas e galetos, reforçou seu cardápio com pratos de grelhados montados ao gosto do cliente. Badejo, salmão, filé, picanha e peito de frango podem ser combinados com guarnições e saladas ao gosto do cliente. Outra novidade: a casa também entrou na moda dos cartões de fidelidade. Após o décimo rodízio de pizzas marcado no cartão, o cliente tem direito a mais um. Desconto de inauguração Segmentação é isso aí. Brasília, quem diria, já tem até um restaurante especializado em... escondidinhos. Com o sugestivo nome de Escondederia, oferece aos clientes onze opções de recheios da tradicional iguaria nordestina, todas preparadas na hora. Fica no Sudoeste, na CLSW 101, Bloco A, subsolo (3344.1763). Para comemorar o Ano da França, o Toujours Bistrot reforçou o cardápio com três novas receitas: duas salgadas (talharim com presunto e champignons, a R$ 28, e camarões grelhados com tagigliatelle ao molho soubise e mostarde, a R$ 54) e uma doce (profiteroles, ou seja, carolinas com sorvete de baunilha e calda de chocolate, a R$ 14). Gustavo Fröner 8 Grelhados no Vercelli Aberta no último dia 14, a cervejaria Garota Carioca (Setor Comercial Norte, próximo ao Liberty Mall) já lançou uma atraente promoção: 50% de desconto no bufê de frios, grelhados, sushis e temakis, mas só até as 20 horas. A partir da segunda quinzena de agosto a casa abrirá também para almoço. Dudu mediterrâneo Já está a pleno vapor o mais novo empreendimento do chef Dudu Camargo. O restaurante Fatto, na QI 9 do Lago Sul, segue uma proposta de cozinha mediterrânea, usando e abusando de azeite, ervas, peixes, caças e legumes. Dudu terá a seu lado o chef Rodrigo Almeida, que acompanhará a cozinha no dia-a-dia. O espaço projetado pela arquiteta Karla Amaral (onde até há pouco tempo funcionou o DOC Lounge Grill) é dividido em três ambientes. O mais descontraído é a varanda, com capacidade para 80 pessoas, onde serão servidos finger foods. Na área interna pode ser reservado um espaço para grupos de até 20 pessoas que precisem de privacidade, inclusive para reuniões de trabalho e apresentações – o lugar dispõe de retroprojetor e som ambiente. Além das opções do cardápio, bufês especiais serão servidos nos almoços de fins de semana. Sábado é dia da feijoada de frutos do mar e domingo tem o festival de paellas. 9 Arembepe ficou chique e tem boa comida Luiz Recena garfadas&goles [email protected] 10 Quem tem mais de 50 anos sabe da existência de Arembepe. Era uma pequena praia, perto o suficiente de uma Salvador antiga, o que permitia a fugitivos e aventureiros de todos os tipos chegar até lá. E longe o suficiente dessa mesma e antiga Salvador, capaz de impedir e desestimular policiais, milicos e outros repressores da época a chegar até lá. Mas foi quando o movimento hippie mundial ganhou força que a pequena praia cresceu, ganhou notoriedade e fama. A mais famosa “aldeia hippie” do Brasil instalou-se por ali. Toneladas da erva (maldita ou bendita?) foram queimadas no espaço entre a areia e o mar. Nuvens de fumaça embalaram sonhos coloridos dos ácidos psicodélicos. Foram bebidos hectolitros de bebidas várias. Artesãos, bichosgrilos, ripongas, doidos em geral estavam ali, no meio dos pescadores, que primeiro não sabiam de nada, mas depois entraram na onda. Rolam histórias muitas sobre esse período. O Woodstock tupiniquim tinha nome e endereço: Arembepe. A gringa Janis Joplin, a branca mais preta da música dos Estados Unidos, esteve na praia, no auge da fama. Deitou e rolou. Beijou na boca muita gente e ainda há quem se lembre disso. Hoje, da comunidade doida e antiga sobra pouca coisa, vestígios e algumas sombras saudosas. A praia virou cidade. Tem até um bom, excelente restaurante. A energia positiva da paz e do amor plantou sementes de esperança e bom astral na areia da praia, nas brumas da espuma e nas águas do mar. E o mar abriu: “Mar Aberto”. Guardem esse nome. Paisagem, praia e fome Silêncio em torno à mesa Uma pequena praça cuidada e limpa. Uma igrejinha antiga, branca e despojada faz a esquina de uma fileira de casas baixas, interrompida, aqui e ali, por sobrados de cores vivas. Há um largo, igualmente comedido, a compor com a igreja o pequeno cenário, onde a primeira e bela vista do mar encanta quem chega. Mas quem chega tem fome, e o horário clássico do almoço já passou. O negócio, então, é correr para o Mar Aberto, situado no meio dessa fileira de casas. Passa-se um corredor decorado com artesanato, um primeiro ambiente de mesas e, finalmente, chega-se a um segundo ambiente de mesas, um varandão. E a nova vista da praia surpreende e encanta. “Chocante!” para os de certa geração. “Sinistra!” para os bem mais jovens. E é isso mesmo. Baixa um velho poema de Bilac e faz-se o silêncio. Saciar a sede e matar a fome assim o exige. Mais esta última, pois a primeira ainda permite um comentário entre um trago e outro. Atacamos a salada com o respeito e alegria devidos. Dividida com parcimônia, pois entrada era. E das cinco pessoas que compunham o grupo, duas comem tipo passarinho, mui pouco. Ao segundo prato, pois, já que, sob inspiração de Jones, o Indiana, continuamos “em busca da moqueca perdida”. Se não a encontramos, chegamos perto, bem perto. Acompanhada de farofa, arroz e pirão, ela chegou, fumegante, em tigela de barro. Os passarinhos mantiveram seu ritmo e o trio restante deitou e rolou. Muitas garfadas, goles idem Tudo isso teve como pano de fundo uma baía de águas tranquilas, emoldurada por arrecifes que recebiam e quebravam até as ondas mais fortes, que nesse dia apareceram. Quatro cervejas, duas caipirinhas, águas e refris, mais a gorjeta, R$ 132. Se fossem cinco mais vorazes, o preço subiria uns 30%. Porque a vista não pode ser cobrada. A ideia, o cardápio, o conjunto da obra são do belga Thierry e do baiano João Sá. Ambiente simples e aconchegante. Comida nota dez, nativa sem ser agressiva; fina e elegante. Do grupo bem humorado e eficiente de garçons, tocounos o Anselmo. Irrepreensível no atendimento e nas respostas às perguntas curiosas. É fácil chegar. Estrada ótima, com pedágio. Uma hora e pouco do centro de Salvador; menos de meia hora do aeroporto ou das praias dessa região. A simpatia baiana, ainda um grande, enorme diferencial desta terra descoberta por Cabral, anima um pequeno batalhão de garçons e a seca e acalorada goela recebe seus primeiros mimos: ela, a loura, suada, gelada, aquela que salva beduínos no deserto, chega junto, às vezes até antes do cardápio. Saúde! Caipirinhas, caipiroscas, sucos de frutas, refrigerantes e até água complementam esse primeiro momento. À table!, comandam os gauleses. Aos garfos!, respondemos, em coro. Para começar, uma salada de camarão com batatas. Depois, uma moqueca de camarão. Também de camarão? Também, porque a fase do crustáceo está maravilhosa. Há de peixe, de lagosta ou mista. Há peixe frito e de outras maneiras. A moldura vem do mar 11 Esse tal de Angheben é mesmo porreta Já não é a primeira vez, e certamente não será ALEXANDRE DOS SANTOS FRANCO pão&vinho paoevinho @alo.com.br 12 o número 3 venceu por unanimidade, em especial a última, que o leitor me vê a rasgar elogios ao pela elegância frente a seus concorrentes, que mais Angheben, em minha opinião, cada vez mais o aproximava de um clássico Borgonha. Quem diria reforçada, o melhor produtor de vinhos brasileiros. (além de mim, é claro)? Um vinho nacional, o Desta feita, o comentário se deve a uma degustação às cegas da minha casta preferida, a inebriante e sempre sensual Pinot Noir. Movido mais pela mi- Angheben Pinot Noir 2008. Seus oponentes batidos? Aí é que vem o melhor. O segundo colocado foi o quarto exemplar, o Lu- nha preferência pela castas e os vinhos maravilhosos ca Pinot Noir 2007, argentino de respeito pontuado que produz do que por qualquer novidade de mer- com 93 pontos por ninguém menos que Robert cado, chamei alguns amigos, cujas opiniões vínicas Parker (bem ao estilo dele, um vinho um tanto bom- respeito, para uma degustação em minha casa. bástico para a casta) e preço de compensação duvi- Lá se apresentaram, com muito gosto, meus dosa (na casa dos R$ 90). Em terceiro ficou o segun- grandes amigos Luiz Almeida, Canaan Tanus e Laér- do exemplar, um Diamond Pinot Noir 2007, da Aus- cio Monteiro Dias. Todos curiosos por saber o tema trália, concorrente mais do que digno, com boa rela- da degustação, não chegaram a se surpreender, por ção qualidade x preço, na faixa dos R$ 60. Finalmen- bem conhecerem minhas preferências, com a ideia te, fechando a pista, sendo importante lembrar que do “Pinot Noir do Novo Mundo”. Foi uma degusta- apesar disso foi um bom vinho apresentado, pas- ção às cegas, acompanhada apenas de pão e água, mem: minha “surpresinha”, um Faveley Mâcon no momento da avaliação, de modo a garantir a pu- 2004, Borgonha original (não posso deixar de reza do paladar, sempre sujeito a embotamentos comentar que na minha avaliação ele aparecia causados pelos petiscos. em segundo lugar), com preço na faixa dos R$ 90. Os vinhos foram servidos em decanters, não por qualquer real necessidade, já que se tratava de vinhos novos e de uma casta leve, distante, em geral, Qual a faixa de preço do Angheben? Eu não disse? R$ 36,25. É sem dúvida gratificante e emocionante, diria da ocorrência da “borra”, e sim pela velocidade na mesmo espantoso, poder degustar às cegas vinhos oxigenação dos exemplares e principalmente pela de ótima procedência e qualidade e ver um brasileiro ausência das garrafas, que poderiam denunciar ori- vencer até um Borgonha de boa estirpe. gem e produtores, maculando, assim, os resultados. Que nossos espumantes já são páreo para seus O exemplar número 1 apresentou-se com corpo concorrentes em todo o mundo todos nós estamos um tanto leve demais, ainda que com aromas típicos cansados de saber, mas um vinho tinto, de uma das a morangos; o número 2, já mais encorpado, foi castas mais difíceis de se lidar em qualquer parte do bem avaliado, apresentando aromas a frutas verme- mundo, como é o caso da Pinot Noir, sem apelar lhas; o número 3, por sua vez, mostrou-se elegante, para “parkerizações” ou “rolandizações”, e ainda com aromas típicos de morango e cereja, corpo ave- por cima a preço de produto nacional (algo quase ludado e retrogosto consistente, ainda que leve; já o impossível de achar no Brasil no item “vinhos de exemplar número 4 apresentou-se com grande volu- qualidade”), é, sem dúvida, uma me de boca, algo terroso, mas um tanto pesado pa- vitória inesperada. ra um Pinot Noir. Comentários proferidos, pontos concedidos e somados, avaliações encerradas, deu-se a classificação: E é por isso que eu digo: parabéns mais uma vez para esse porreta do Angheben. 13 MÚSICA AO VIVO roteirogastronômico ESPAÇO VIP ACESSO PARA DEFICIENTES ÁREA EXTERNA DELIVERY FRALDÁRIO MANOBRISTA BANHEIRO PARA DEFICIENTE Armazém do Ferreira Restaurante inspirado no Rio de Janeiro dos anos 40. O buffet, com cerca de 20 tipos de frios, sanduíches e rodadas de empadas e quibes, com a performance do garçom Tampinha, são boas opções para os frequentadores. 206 Sul (3443.4841), Liberty Mall e Brasília Shopping cc: todos Em plena W3 Sul, o Bar Brasília tem decoração caprichada, com móveis e objetos da primeira metade do século XX. Destaques para os pasteizinhos. Sugestão de gourmet: Cordeiro ensopado com ingredientes especiais, que realçam seu sabor. Em ambiente aconchegante, com decoração pontuada por arte e história, pode-se tomar um cafezinho ou um chope para acompanhar o pastel de bacalhau, o sanduíche de mortadela ou o autêntico Bauru. No almoço, cardápio paulistano. 405 Sul (3443.0299) CC: todos brasileiros contemporâneos 509 Sul (3244.7999) CC: todos Cachaçaria Empório da Cachaça Bar do Mercado buffet de festa Cardápio variado, sabor e qualidade. Buffet no almoço é o carro-chefe, com mais de 10 pratos quentes, diversos tipos de saladas e várias opções de sobremesa, a R$ 39,90 ( 2ª a 6ª) e R$ 44,90 (sáb, dom e feriados) por pessoa. Recém inaugurada a versão bar da cachaçaria temática de Brasília. Decoração colonial, cachaças artesanais, chopp, petiscos exclusivos e o famoso prato da casa, o arroz de senzala, são opções para quem valoriza a gastronomia brasileira. No Happy Hour, Chopp Brahma a R$2,50 e caipirinha com Sagatiba a R$ 4,00. 506 Sul Bloco A (3443.4323) CC: Todos QI 21 do Lago Sul (3366.3531) 412 Sul (3345.3531) creperias É um dos mais renomados buffets de festa da cidade, com mais de dez anos de experiência. Além dos salgados e doces finos oferecidos no buffet, destaque para o Risoto de Foie-Gras, o Carré de Cordeiro ao Molho de Alecrim e o Filé ao Molho de Tâmaras. Praliné O cardápio é bastante variado, com tortas doces e salgadas, bolos, pães, géleias, caldos quentes, quiches, tarteletes, chás, café e sucos de frutas naturais por R$ 12,90 de 2ª a 6ª e chá da tarde por R$ 20,50 às 3ªs (bufê por pessoa). 205 Sul bl A lj 3 (3443.7490) CC: V Café Antiquário À beira do lago, diante da vista mais bela de Brasília, a casa atrai todos que desejam unir ambiente agradável, boa cozinha e música. Almoçar um rico grelhado e tomar café ao fim da tarde são apenas algumas das ecléticas delícias do restaurante. O piano sofistica o ambiente de 18h às 20h30 todos os dias. As noites são de jazz e blues ao vivo. Pontão do Lago Sul (3248.7755) CC: Todos C’est si bon Sweet Cake 14 Camarão 206 Bar Brasília confeitarias BARes 202 Norte (3327.8342) CC: Todos buffet de restaurante CARTÕES DE CRÉDITO: CC / VISA: V / MASTERCARD: M / AMERICAN EXPRESS: A / DINERS: D / REDECARD: R Inspirado nas tradicionais panquecas de dulce de leche da Argentina que o chef Sérgio Quintiliano criou o crepe Astor Piazzolla, batizando-o com o nome do maior compositor contemporâneo argentino de tangos. Após o sucesso de vendas durante o Festival Sabor Brasília 2008, o Crepe Piazzolla foi incorporado ao cardápio por R$ 15,70. 408 Sul (3244.6353) CC: V, M e D BSB Grill Trattoria 101 304 Norte (3326.0976) 413 Sul (3346.0036) CC: A, V 101 Sudoeste (3344.8866) CC: V, M e D. GRELHADOS Villa Borghese O charme da decoração e a iluminação à luz de velas dão o clima romântico. Aberto diariamente para almoço e jantar. Sugestão: Tagliatelle Del Mare (Tagliatelle em saboroso molho de azeite extra virgem, tomate, alho, manjericão e camarões grandes), por R$ 45,00. ITALIANOS Cardápio com produtos italianos autênticos e tradicionais. Massas, filés, peixes e risotos, carpaccio. Tudo preparado na hora. Execelente carta de vinhos com 90 rótulos, entre nacionais e importados. Ambiente charmoso e varanda completam o ambiente. Manobrista na 6ª, sáb. e dom. Desde 1998 oferece as melhores e os mais diversos cortes nobres de carne: Bife Ancho, Bife de tira, Prime Ribe, Picanha, além de peixe na brasa, esfirras, quibes e outras especialidades árabes. Adega climatizada e espaço reservado completam os ambientes das casas. 201 Sul (3226.5650) CC: Todos Roadhouse Grill Criado nos EUA, foi eleito por três anos consecutivos o preferido da família americana. Com mais de 100 lojas, seus generosos pratos foram criados, pesquisados e inspirados nas raízes da América. Conheça tais delícias: ribs, steaks, pasta, hambúrgueres. Brasília Golfe Center - SCES Trecho 2 (3323.5961) CC: Todos www.restauranteoliver.com.br 209 Sul (3443.5050) CC: Todos naturais Saboroso e diversificado buffet, com produtos orgânicos e carnes exóticas. No domingo, pratos especiais, como o bacalhau de natas e o arroz de pequi. Horário: de segunda à sexta, das 11:30 às 15h e sábados, domingos e feriados, das 12 às 16h. SCS trecho 2 (3226.9880) CC: Todos Haná ITALIANOS San Marino O Rodízio de massas e galetos está com preços especiais: de domingo a quarta por R$ 15,80 e de quinta a sábado por R$ 17,80. No almoço, Buffet com saladas, pratos executivos e grelhados Oca da Tribo Bufê de sushis, sashimis e pratos quentes. Almoço (R$ 36): 2ª a 6ª de 12h às 15h / sábado e domingo, de 12h30 às 16h. Jantar (R$ 42): domingo a 5ª, de 19h à 0h / 6ª e sábado, de 19h à 1h. De 2ª à 4ª, cada bufê vale 1 sorvete com calda de chocolate. Funciona também à la carte. 408 Sul (3244.9999) CC: Todos 15 ORIENTAIS Oliver Próximo ao Eixo Monumental, apresenta espetacular vista para um tranquilo campo de golfe, sem prédios ao redor. O ambiente composto por piso de pedras vindas de Pirenópolis e móveis de Tiradentes (MG) conferem ainda mais rusticidade ao restaurante. Elaboradas pelo gourmet Carlos Guerra, as receitas internacionais têm base na culinária mediterrânea. INTERNACIONAIS .Clubes Sul Tr. 2 ao lado do S Pier 21 (3321.8535) Terraço Shopping (3034.8535) MÚSICA AO VIVO roteirogastronômico ESPAÇO VIP ACESSO PARA DEFICIENTES ÁREA EXTERNA DELIVERY FRALDÁRIO MANOBRISTA BANHEIRO PARA DEFICIENTE Nippon Baco Tradicional e inovador. Sushis e sashimis ganham toques inusitados. Exemplo disso é o sushi de atum picado, temperado com gengibre e cebolinha envolto em fina camada de salmão. As novidades são fruto de muita pesquisa do proprietário Jun Ito. Premiada por todas as revistas. Massas originais da Itália, vinhos e ambiente. No cardápio, pizzas tradicionais e exóticas. Novidades são uma constante. Opção de rodízio em dias especiais – na 309 Norte, toda 3ª e domingo, e na 408 Sul, às 2as. 403 Sul (3224.0430 / 3323.5213) CC: Todos 309 Norte (3274.8600), 408 Sul (3244.2292) CC: Todos Baco Delivery (3223.0323) PIZZARIAS ORIENTAIS CARTÕES DE CRÉDITO: CC / VISA: V / MASTERCARD: M / AMERICAN EXPRESS: A / DINERS: D / REDECARD: R Gordeixo Ambiente agradável, comida boa e área de lazer para as crianças fazem o sucesso da casa desde 1987. No almoço, além das pizzas, o buffet de massas preparadas na hora, onde o cliente escolhe os molhos e os ingredientes para compor seu prato. Belini Feitiço Mineiro A casa premiada é um misto de padaria, delikatessen, confeitaria e restaurante. O restaurante serve risotos, massas e carnes. Destaque para o café gourmet, único torrado na própria loja, para as pizzas especiais e os buffets servidos na varanda. A culinária de raiz das Minas Gerais e uma programação cultural que inclui músicos de renome nacional e eventos literários. Diariamente, buffet com oito a nove tipos de carnes. Destaque para a leitoa e o pernil à pururuca, servidos às 6as e domingos. 113 Sul (3345.0777) Regionais Padaria 306 Norte (3273.8525) CC: V, M e D 306 Norte (3272.3032) CC: Todos CC: Todos Peixe na Rede 405 Sul (3242.1938) 309 Norte (3340.6937) CC: Todos Restaurante Badejo A tradicional moqueca capixaba leva o tempero mineiro no Restaurante Badejo, com 19 anos de história em Belo Horizonte e 15 em São Paulo. Agora é a vez de Brasília conhecer o autêntico sabor da cozinha capixaba. SCES - Trecho 4 - Lote 1B Academia de Tênis Setor de Clubes Sul (3316.6866) CC: V e M 16 Saborella SORVETERIAS Peixes e frutos do mar A vedete do cardápio é a tilápia, servida de 30 maneiras. O frescor é garantido pela criteriosa criação em cativeiro na fazenda exclusiva do restaurante, a 100 Km de Bsb. Há também pratos de camarão e bacalhau. Sorvetes com sabores regionais e tecnologia italina são a especialidade da casa. Os mais pedidos: tapioca, cupuaçu, açaí e frutas vermelhas. Na varanda, pode-se apreciar café bem tirado e fresquinho, acompanhado de tapiocas quentinhas. 112 Norte (3340.4894) e Casa Park (Praça Central) CC: Todos Sorbê Sorveteria genuinamente artesanal, com receitas que utilizam frutos nativos do cerrado. São mais de 150 sabores. Os sabores tradicionais, cremosos, como as variedades de chocolate, dentre outros, contêm leite e creme de leite em suas fórmulas. Já os sorvetes de frutas (com algumas exceções, como abacate, pequi, araticum e outros) são produzidos com água. 405 Norte (3447.4158), 103 Sudoeste (3967.6727) e 210 Sul (3244- 3164) Evolução descentralizada Celso Nucci, na revista Veja e no Guia Quatro mia (ABAGA) nasceu em São Paulo em Rodas, e Giovani de Bourbon des Deux-Siciles, 1995. Foi fundada por quatro euro- na única revista especializada em gastronomia peus e um argentino que queriam dar visibilida- do país, a Gourmet, à época dirigida por Luís de à gastronomia e a seus porta-bandeiras, os Carta, editor da Vogue. chefs, no Brasil. É uma entidade séria, sem fins Nos anos 80, o Hotel Maksoud inaugurou comerciais, dedicada a congregar os profissio- um conceito inovador de arquitetura e serviços, nais com a troca de experiências vividas e co- oferecendo uma variedade de cozinhas do nhecimentos na área, difundir e valorizar a alta mundo: um restaurante francês, La Cuisine gastronomia brasileira no país e marcar sua du Soleil, um nórdico, Vikings, e um japonês. presença no mundo. Na época, os chefs franceses começavam a tra- Sua pauta de atuação é ampla: promover balhar em restaurantes estabelecidos no Rio de eventos, como palestras, workshops e feiras, Janeiro e logo perceberam que São Paulo ofere- com ênfase na troca de saberes e costumes cia uma clientela empreendedora, à procura de próprios a cada cultura regional e na valoriza- lazer cotidiano, como os prazeres da boa mesa. ção da qualidade dos produtos alimentícios; Houve então uma migração dos chefs, que co- estimular uma política educacional focada na locou São Paulo na posição de capital brasileira formação técnica e na cultura geral dos estu- da gastronomia. dantes, para dar a eles uma base sólida e uma O fidalgo Jorge Monti de Valsassina, dono padronização dos conhecimentos das técnicas e chef do restaurante Refugio del Viejo Conde, de preparos, de linguagem culinária, consciên- assumiu a presidência da ABAGA em 1999, car- cia social e responsabilidade sanitária; e facilitar regou o piano nas costas e partiu para a revita- a atualização dos profissionais mediante aulas lização e o desenvolvimento da instituição até e intercâmbio entre chefs do Brasil e do resto julho deste ano. O fruto da sua ação é visível. do mundo. Um dos seus grandes méritos foi o de ter No inicio, a entidade desbravou um merca- conseguido reconhecer a associação pela The do ainda adormecido e bem menos consciente World Association of Chefs Societies (WACS), da importância da arte da gastronomia na cul- fundada em 1928 na Universidade da Sorbon- tura brasileira. A culinária se resumia a receitas ne, em Paris. Hoje, a ABAGA é a representante e dicas, fazia parte de matérias para revistas oficial da WACS na América do Sul. femininas e para a TV, como o programa diário da ilustre Ofélia Anunciato. Verdadeiros pioneiros, os membros da O novo presidente, João Leme, vencedor do Global Chefs Brasil 2007, está iniciando seu mandato com foco na descentralização, associação e muitos outros chefs entraram para agregar a diversidade brasileira na asso- num corpo-a-corpo para conquistar o merca- ciação com a nomeação de diretores para do e dar destaque à profissão com apoio da as diversas regiões do país. Em Brasília está mídia e dos críticos de gastronomia: Saul sendo criado um grupo de conselheiros para Galvão e Paulo Cotrim, no Jornal da Tarde, Sílvio Lancelotti, na Folha de S. Paulo, debater o rumo da gastronomia na Região Quentin Geenen de Saint Maur palavradochef @alo.com.br palavradochef A Associação Brasileira da Alta Gastrono- Centro-Oeste. 17 Divulgação dia&noite backyardigans Guilherme Bergamin Eles estiveram na cidade, pela primeira vez, em outubro passado. O sucesso foi tanto que Pablo, Tyrone, Austin, Tasha e Uniqua resolveram voltar, para a alegria de quem ainda não completou dez anos e até de quem passou dessa idade há muito tempo. O quinteto colorido – um pinguim, um alce, um canguru, um hipopótamo e um ser indefinido cor de violeta – atende pelo nome de Backyardigans e nasceu em forma de desenho animado em cartaz há cinco anos na televisão a cabo. No espetáculo atual, Fuga da aldeia mágica, Tyrone é o entregador de jornais que terá de percorrer uma nova vizinhança, sem saber que ela é habitada por seres fantásticos. Uma série de mal entendidos fará com que o alce queira fugir apavorado dali. É quando as crianças presentes ao espetáculo poderão interagir com o personagem e ajudá-lo a sair da encrenca. O cenário, como sempre, é o quintal (backyard, em inglês), local encantado onde as aventuras viram dança e música de todos os gêneros, do hip-hop à bossa-nova. Dias 8 e 9 no Centro de Convenções, com ingressos entre R$ 40 e R$160, à venda no Brasília Shopping. Informações: 3964.0207. zecabaleiro Uma retrospectiva de sua carreira, incluindo a releitura de sucessos como Salão de beleza, Quase nada e Babylon. Eis o formato do show que o menestrel maranhense fará no Centro de Convenções no dia 1º de agosto. Além de seu violão, Zeca Baleiro terá a companhia de Tuco Marcondes (guitarras, violões e vocais), Fernando Nunes (baixo), Pedro Cunha (teclados e acordeom) e Kuki Stolarski (bateria e percussão). No repertório não faltarão também as músicas do CD mais recente – O coração do homem-bomba –, como Você não liga pra Mim, Você é má e Ela falou malandro. Ingressos entre R$ 20 e R$ 50. Informações: 3364.0000. 20 Divulgação primeiroato E por falar em Zeca Baleiro, é dele a trilha sonora do espetáculo Geraldas e Avencas, produzido pelo Grupo de Dança 1º Ato, que vem a Brasília pela primeira vez nos dias 14, 15 e 16. O convite ao compositor foi feito pela coreógrafa da companhia mineira, Suely Machado, que partiu do conceito de que “o homem, à procura da perfeição, acaba construindo a deformação”. Ela buscou inspiração nas obras do artista plástico Francis Bacon, do fotógrafo Sebastião Salgado e chamou Zeca Baleiro para compor a trilha sonora. As músicas – algumas instrumentais e outras com letras ora divertidas ora cruéis – contribuem para reforçar a ideia de que as vaidades humanas acabam sempre se sobrepondo aos valores. Sete bailarinos e duas pianistas dão forma ao espetáculo a ser apresentado na Sala Villa-Lobos. Sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h. Ingressos: R$ 15 e R$ 30. Divulgação vivadulcina Além de ter sido a grande atriz que serviu de exemplo para talentos do porte de Fernanda Montenegro e Marília Pêra, Dulcina de Morais passou para a história também como a idealizadora da Fundação Nacional de Teatro e criadora do primeiro curso superior de artes cênicas, aqui em Brasília. Para comemorar o centenário de nascimento da atriz, está em cartaz na Caixa Cultural a exposição Eternamente Dulcina – uma vida dedicada ao teatro. Com curadoria do designer Nando Cosac, a mostra já passou pelo Rio de Janeiro e fica até dia 30 em Brasília, onde Dulcina morou nos últimos 24 anos de vida. Lá estão fotos da carreira da artista, fotos pessoais e muitas peças dos figurinos de seus personagens memoráveis: Cleópatra (de Bernard Shaw), Sadie Thompson (de John Colton e Clemence Randolph) e Madame Vidal (de Louis Verneuil). Diariamente, das 9 às 21h, com entrada franca. Divulgação cinema Bruno Castaing O que têm em comum os filmes brasileiros Rio 40 graus, de Nelson Pereira dos Santos, Navalha na carne, de Braz Chediak, e A hora e a vez de Augusto Matraga, de Roberto Santos? É que os três tiveram como diretor de fotografia um mestre chamado Hélio Silva, “o homem que pintava com a luz”, na definição do cineasta Orlando Senna. De 4 a 23 de agosto, o CCBB exibe uma mostra de 27 filmes que tiveram a fotografia de Hélio Silva, em homenagem a esse nome referência no cinema brasileiro. Falecido em 2004, trabalhou em mais de 70 longas e cem documentários. De acordo com Eduardo Ades, curador da mostra, “Hélio Silva é o principal marco na virada da fotografia do cinema brasileiro, quando a estética fotográfica deixa de ser assimilada dos padrões estrangeiros e passa a buscar um tratamento que traduzisse uma luz local, por um viés mais realista”. Ingressos: R$ 2 e R$ 4. Informações: www.bb.com.br/cultura. pianoemdosedupla Carlos Terrana “Posso assegurar que o duo GisBranco faz um trabalho original de fino gosto, pela clareza, pureza e sentimento ao tocar com leveza as 176 notas dos dois pianos”. A frase, do músico Toninho Horta, atesta bem a qualidade do trabalho das pianistas cariocas Bianca Gismonti e Cláudia Castelo Branco, que se apresentam dia 13, às 20h30, na creperia C’est si bon (408 Sul). A primeira, filha do músico Egberto Gismonti, estuda piano desde os dez anos e atua como compositora e pianista ao lado da atriz Leandra Leal, na peça Impressões do meu quarto, de sua autoria com Leandra. A segunda começou a estudar o instrumento com cinco anos, já foi dublê de pianista em novelas da Rede Globo e. integra o grupo Ofelex, voltado para a composição e interpretação de música eletroacústica. Couvert artístico a R$ 8. Informações: 3244.6353. tecelagemartesanal Galhos de plantas e tecidos tingidos com corantes naturais são a matéria-prima da artista plástica Fabíola de Abreu, que apresenta seu trabalho no Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul) até dia 16. Na mostra Fabulosa – corantes naturais estão peças nascidas de pesquisas realizadas ao longo de 13 anos na Itália e no Peru. Fios, batiks, tricôs, crochês e tecelagem artesanal elaborados com corantes naturais são a marca do trabalho de Fabíola, publicitária por formação que atualmente trabalho no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Entrada franca. 21 dia&noite designfrancês bonecosàstoneladas outrasbossas Divulgação Quatro carretas e seis caminhões estão trazendo para o Centro-Oeste 60 toneladas de equipamentos utilizados por grupos de bonecos vindos do Brasil e do exterior. Vem aí a 7ª edição do SESI Bonecos, um festival que percorre cinco capitais da região e estará em Brasília de 5 a 9 de agosto. Entre as estrelas internacionais estão companhias da Itália, China, Argentina, Espanha e Estados Unidos. Deste último vêm as marionetes sem fio de Phillip Huber, o artista que deu vida aos bonecos do filme Quero ser John Malkovich, de Spike Jonze. De 5 a 7, às 20h, na Sala Villa-Lobos, e nos dias 8 e 9, na área externa do Museu da República. Entrada franca. Depois de curtas férias, está de volta o projeto que toma conta do Café Cultural nas happy-hours de quinta e sexta-feira. Situado na Caixa Cultural, o café abre espaço para homenagens a grandes nomes da MPB sem cobrança de couvert artístico. Pra começar a nova temporada foram convidados a cantora Renata Jambeiro e o violonista Gill Lopes. Eles vão apresentar, dias 8 e 9, uma homenagem a Roberto Carlos, que acaba de completar 50 anos de carreira. Nas semanas seguintes Cayê Milfont e José Cabrera vão relembrar Taiguara (dias 16 e 17) e Rogério Midlej e Fernando Fontana comandam tributo a Emílio Santiago. Nos dias 27 e 28 será a vez de Alberto Viegas e Roberto Lopes conduzirem homenagem a Nelson Gonçalves. A direção musical do projeto Outras bossas é de Jaime Ernest Dias. luzdapaz As esculturas de Darlan Rosa já ganharam o mundo. Chegaram a El Salvador, Estados Unidos, França, Jordânia e, agora, à Palestina. Em julho o artista candango esteve em Ramallah, capital da Autoridade Palestina, para inaugurar a obra Humanidades, uma esfera em aço inox com um metro e meio de diâmetro, agora instalada no Jardim das Nações. É mais uma etapa conquistada do projeto Luz da paz, que o artista começou no ano 2000. A ideia nasceu a partir dos comentários que Darlan recebe de seu público, segundo os quais a contemplação de suas obras traz a sensação de paz. Em setembro, o artista inaugura outra esfera, desta vez em Toronto, Canadá. Parabéns, então, ao nosso artista da paz! 22 Divulgação Divulgação Durante muito tempo, a cidade francesa de Saint-Étienne teve sua economia alavancada pela indústria, sobretudo a siderúrgica. A partir da segunda metade do século XX, a produção entrou em declínio e a cidade do Vale do Rio Rhône teve que encontrar uma nova vocação. Uma das saídas para resolver o problema foi direcionar a economia para a área tecnológica. A fórmula deu tão certo que em pouco tempo a cidade já passou a ser uma referência mundial do design contemporâneo. Quem quiser conhecer mais esse talento francês tem até dia 24 para visitar a exposição Saint-Étienne, Cidade do Design, em cartaz no CCBB. A mostra faz parte da programação do Ano da França no Brasil e seguirá depois para o Rio, Curitiba e São Paulo. De terça a domingo, das 9 às 21h, com entrada franca. diadospais De pais para filhos Texto e fotos Ana Cristina Vilela D ia dos Pais. Cercado pelos filhos, o pai espera o almoço ficar pronto ou então seguem juntos para um bom restaurante, certo? Errado. O pai está cercado pelos filhos, sim, e também por panelas, temperos e demais apetrechos de culinária. São os pais gourmets que, de tão apaixonados por gastronomia, terminam na cozinha até no seu dia. E existem muitos deles por aí. No filme Comer, beber, viver, o pai usa a gastronomia para se aproximar das filhas cheias de problemas. No mundo real, a cozinha também é espaço de aproximação, de afinidades, de conversas e trocas. A Roteiro convidou alguns pais apaixonados por culinária (desses que têm avental, vários tipos de facas, panelas, temperos, uma cozinha toda paramentada ou bem ao estilo caseiro, simples, numa versão de cozinha em que o principal ingrediente é “o amor”) para cozinhar para seus filhos e contar suas experiências. Em cada cozinha, um fator comum. Pais e filhos reunidos na mais tradicional forma de confraternização: estar à mesa e “comer, beber, viver”. Tudo começa na cozinha, entre experimentos, trocas de ideias, uma boa taça de vinho ou aquela velha cachaça mineira. Uma pitada a mais de sal, um “pai, mais pimenta!”, dicas, sugestões e trocas de receitas fazem parte do cardápio. Na casa do publicitário Charles Marar não é diferente. A filha Isadora seguiu o caminho da nutrição e é mais uma encantada por aromas, sabores e misturas. O filho Charles também gosta do ofício e dá opinião em tudo, além de elogiar e elogiar o prato preparado pelo pai. Os irmãos experimen- Paixão pela culinária pode fazer da cozinha um espaço de convívio e confraternização familiar tam, cheiram, olham e não desgrudam um segundo do fogão, enchendo a cozinha do pai de graça e de brincadeiras. Charles (pai) nasceu em Bauru, São Paulo, mas está em Brasília há 35 anos. Começou a cozinhar aos 18, “por sobrevivência”. Morava em São Paulo com amigos e sua especialidade era arroz com ovo. Lá pelos 25 anos, decidiu dizer que sabia cozinhar. Pediram-lhe que fizesse, então, um quibe cru, que Charles não sabia fazer. Hoje, entre os pratos preparados por ele, é o preferido de Isadora. Filho de mãe jordaniana, Charles acredita que o dom da gastronomia vem do lado materno. “O que mais aprendi com ela foi a simplicidade, usar o mínimo possível”, ensina. Pelo jeito, os talentos de dona Najla impregnaram a família inteira: “Todos os irmãos gostam de cozinhar”, diz. O que mais o atrai na cozinha é “agradar a 23 pessoa que vai comer”. E em que área melhor se defende? “Primeiro, a gastronomia italiana e depois a árabe”, afirma. Além do vinho e da música, é primordial para Charles uma cozinha sempre limpa. Quanto aos apetrechos, tem panelas de níquel, de cobre e estanho, de ferro, de barro, algumas da sofisticada marca Le Creuset, e uma gaveta lotada com todos aqueles itens que sequer sabe para que servem ou que são usados uma única vez. Mas, nesse campo, prefere não opinar, pois se lembra de que a mãe há anos e anos usa a mesma frigideira wok, já velha, sem teflon, e “faz coisas maravilhosas”. “Acredito mesmo que os principais itens na cozinha são, como diz o Álvaro Abreu, amor e tesão”, sentencia. À moda mineira Pois é. Para o arquiteto Álvaro Abreu, outro que ama panelas, o essencial na cozinha é “amor”. Ele não tem grandes marcas, nem panelas variadas, mas prepara pratos mineiros com toda autenticidade. No encontro com as filhas, fez costela de porco com canjiquinha, bem à moda mineira – afinal, nasceu em Pará de Minas, de onde veio para Brasília 36 anos atrás. Os finais de semana são reservados para as três filhas, Mariana, Júlia e Carolina e para os netos Lucas, Robetro e Ana Cristina, quando passam o dia juntos entre uma dosezinha e outra de pinga e panelas de galinhada, a preferida da turma, ou arroz com linguiça, rabada, canjiquinha... E Álvaro suspira fundo pelo filho que está há cerca de três anos em São Paulo. “Ele faz falta...” Quando lhe perguntam o que não pode faltar na cozinha, ele nem pensa: “coração”. E é com o coração que ele cozinha e prepara o tempero preferido das filhas, uma vinha d’alhos com sal, alho, cebola, salsinha e cebolinha, que agora vai ganhar o mercado com o nome Zabröy. “Quando acaba o meu tempero, venho buscar mais”, conta a filha Mariana. Além da vinha, entram páprica e pimenta-do-reino nos pratos preparados por Álvaro, não muito mais que isso. Na horta de casa tem cheiro verde, ora-pro-nóbis e taioba, típicos de sua região. E entre almoços e almoços, histórias acontecem. Um dia, depois de boas doses de cachaça em família, a comida ficou assim... um pouco salgada. Mas as filhas o defendem: “Aconteceu raras vezes”. Mariana, Júlia e Caroli- na também são cobaias dos pratos servidos no Bar Brasília, do qual Álvaro é um dos donos. Pessoas unidas ao redor da mesa, sejam os filhos, sejam amigos, essa é a grande atração da gastronomia, para Álvaro. “Se a gente não cativa só pela amizade, cativa pelo estômago”, brinca. No Dia dos Pais, não tem jeito. Ele sempre vai parar em seu lugar de direito: a cozinha. “Não adianta, já tentamos, mas ele não deixa a gente cozinhar”, contam as filhas. Por sua vez, Álvaro decreta: “São elas que escolhem o que fazer, mas sou eu que faço”. O segredo na cozinha de Álvaro, além do amor e das boas companhias, é refogar bem a comida, umas das tradicionais características de todo chef caseiro vindo lá das Minas Gerais. “Além de refogar bem, deve-se lembrar que fogo alto não faz comida rápida. A costelinha, por exemplo, a gente deve demorar mais para refogar do que propriamente para cozinhar”, aconselha. Chegado a um bom prato à base de carne, o arquiteto chama a atenção para a importância de uma carne fresca e dá a dica do açougue Agricarne, na QI 13 do Lago Sul: “É tudo fresquinho, pois tem grande saída”. Álvaro Abreu prepara delícias da cozinha mineira para as três filhas e a neta Ana Cristina. É assim quase todos os fins de semana 24 Juan Pratginestós em ação: primeiro preparando e depois servindo à filha Núria o filé que criou em sua homenagem À moda catalã Se a cozinha de Álvaro é minimalista, o mesmo não se pode dizer da do fotógrafo Juan Pratginestós. Catalão nascido em Barcelona, prefere não dizer quantos anos tem de Brasil – “foram tantas idas e vindas” – e afirma que na Espanha cozinhar é de berço. “O espanhol é culturalmente do bom comer. Na Catalunha existem diversas construções, nichos gastronômicos.” Tanto o pai quanto a mãe cozinhavam “muito bem”, mas com certas diferenças. “Minha mãe não gostava muito, ficava só uns 30 minutos dentro da cozinha, mas meu pai passava lá o dia inteiro”, lembra. O que mais aprendeu com os dois foi o improviso, que é, para ele, o segredo de um bom chef. Ele gosta tanto do ofício que, agora morando em Pirenópolis, vai ter seu próprio restaurante, o Montserrat, cujo cardápio terá um pouco da cozinha mediterrânea. O prazer de cozinhar para a filha Núria e para os amigos é tanto que ele costuma dar ao prato o nome da pessoa para quem a iguaria foi especialmente preparada. Um dos exemplos é o Filé da Núria, totalmente aprovado pela filha: “Adoro!”, elogia, mas também reclama. Afinal, agora que o pai está em Pirenópolis, anda sentindo falta dos jantares preparados por ele. Sim, movido a paixão pela arte da gastronomia, Juan tem suas preferências. Carrega sempre seu estojo de facas, pois está “cansado de pegar facas sem corte”, sua tábua de corte, “porque geralmente as tábuas são pequenas”, e sua mala de temperos, com pimenta-do-reino e moinho, harissa, da Tunísia, uma mistura de pimentas e especiarias, vários sais, como o Sal Preto do Himalaia, o Fleur de Sel de Guérande, Sal de Portugal, Maldon e o recém-descoberto Sal de Mossoró, além de Vinagre de Jerez e azeites vários. Cada um a seu jeito, todos têm em comum o amor, tanto pela gastronomia quanto pelos filhos. Juntos na cozinha, pais e filhos unem-se ainda mais e dão um tempero, ou vários, à relação. Afinal, cozinhar é magia. E nada melhor do que unir tudo numa grande panela, mexer bem e servir com um toque todo especial: o da confraternização. Filé da Núria Filé alto, salpimentado e selado em fogo alto. Na frigideira, coloca-se muita cebola roxa cortada à juliene com um pouco de azeite e tomilho fresco. Quando a cebola estiver murcha, porém ao dente, joga-se um cálice de vinho jerez e creme de leite fresco. Apura-se até a cebola ficar ao ponto e, então, coloca-se novamente o filé. Servir com batatas salteadas com sálvia fresca. 25 Para: Meu pai gourmet Máquina de café Nespresso Le Cube R$ 1.550 na Tool Box (CasaPark) e na Belini (113 Sul) Máquina de café Kitchen Aid R$ 3.900 na All Kitchens (211 Sul) Panela Le Creuset R$ 982 na Tool Box Balde de gelo Oxo R$ 299 na Tool Box Fotos: Divulgação Kit Caipirinha Saveiro R$ 99,90 na All Kitchens Tulipas para cerveja H. Martin (6 unidades) R$ 60 (menores) e R$ 80 (maiores) na All Kitchens Abridor de vinho Screwpull R$ 118 na Tool Box Resfriador instantâneo de vinho R$ 220 na Belini Conjunto de facas Supreme R$ 499,65 na Kaza Chique (406 Norte) 26 Cesta Pai Gourmet A partir de R$ 300 no Mercado Municipal (509 Sul) 26 Divulgação queespetáculo Dupla homenagem Série Santoro 90 anos começa com tributo ao maestro Sílvio Barbato U m dos projetos que Sílvio Barbato preparava para este segundo semestre de 2009 seria uma homenagem a seu grande mestre Cláudio Santoro, um dos maiores nomes da música erudita brasileira. Por uma triste ironia do destino, na abertura da série Santoro 90 anos, 27 na noite desta quarta-feira, 29, no Centro Cultural Banco do Brasil, a homenagem ao mestre foi estendida ao discípulo. Passageiro do fatídico vôo 447 da Air France, Barbato seria o regente de todos os concertos da série, da qual foi também um dos idealizadores. Substituído no primeiro recital – Canções de amor – pelo maestro e pianista Joaquim França, ele foi homenageado com a execução de duas peças – Xaxado e Prelúdio – que compôs para um balé. Ao todo, cinco concertos serão realizados até 25 de novembro (veja programação) pela Camerata do Brasil, formada apenas por músicos brasilienses. O programa contempla uma variedade de estilos que não deixa dúvidas a respeito da versatilidade do maestro e compositor: ao longo dos seus 70 anos de vida, ele compôs vasta obra musical – bailados, aberturas, concertos para orquestra, piano, orquestra de câmara e violino, danças, solos para piano, canções, coros e música eletroacústica. Filho de um militar napolitano que imigrou para o Brasil no começo do Século XX, Cláudio Santoro nasceu em Manaus, em 23 de novembro de 1919. Ao completar dez anos, ganhou um violino do tio e começou a receber suas primeiras lições de música. Em 1938, aos 19 anos, iniciou sua carreira como compositor, assinando uma sonata para violino e piano e algumas peças para piano. Sua carreira internacional deslanchou alguns anos depois, em 1947, com uma viagem a Paris. Passou a reger orquestra na década de 50, destacando-se principalmente na Rússia e na Alemanha. De volta ao Brasil, em 1978, assumiu a chefia do Departamento de Música da UnB. Fundou e dirigiu, até 1989, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília. Aqui escreveu suas sinfonias de número 9 e 10, a ópera Alma, a partir do texto de Oswald de Andrade, e o Réquiem para JK, homenagem ao fundador da cidade, em 1986. Santoro sofreu um infarto e morreu em 27 de março de 1989, aos 70 anos, durante o ensaio geral de um concerto em homenagem ao bicentenário da Revolução Francesa, no palco da Sala Villa-Lobos. E passou a emprestar seu nome ao Teatro Nacional em setembro do mesmo ano, por meio de um decreto do Senado Federal. Série Santoro 90 anos Próximos concertos: 27/8 – Clássicos Santoro. Regência: Osvaldo Calarusso. 23/9 – Música e política. Regência: Emílio de Cesar. 28/10 – Música sinfônica. Regência: Leandro Carvalho. 25/11 – Música eletrônica. Regência: André Cardoso 27 Fernando Lemos Mês de dança no CCBB Movimento D traz à cidade três das melhores companhias de ballet contemporâneo do país Meu prazer, coreografia de Márcia Milhazes “S e alguém criou o universo e o homem, esse alguém tinha muito senso de humor”, disse Stephen Haw king. Essas e outras ponderações do físico inglês, mescladas com trilha sonora de sucessos de Ray Conniff, dão o tom da coreografia que Vera Bicalho e Henrique Rodovalho criaram para o ballet Quasar no espetáculo Céu da boca. É ele que abre, dia 7, o Movimento D, série de apresentações de três companhias de dança contemporânea: além do Quasar, Andréa Maciel e Márcia Milhazes. O espetáculo inédito do grupo Quasar estabelece um instigante diálogo entre a boca e o céu, para tratar, por meio do movimento, de tudo que se refere ao homem e suas dúvidas diante do universo. Numa abordagem bem humorada, marca registrada da companhia goiana, a coreografia desdobra as possibilidades de se tratar o assunto a partir de questões íntimas e mínimas até questões universais. Fundada em 1988 por Vera e Henrique, a companhia vem construindo uma trajetória que 28 mistura a qualidade artística ao engajamento em ações que democratizem o acesso à dança. Na segunda semana de agosto, a carioca Andréa Maciel apresenta o espetáculo Movimento 3, que explora as possibilidades da multidisciplinaridade das artes em fusão de linguagens que o grupo domina muito bem. O mais recente trabalho da companhia, Gravidade zero, trata da possibilidade de se voar com a mobilização dos sentidos e da vontade. “A consciência e aceitação do estado permanente de movimento das coisas permite-nos sentir a sensação de elevação”, explica Andréa. O espetáculo reúne performances de dança contemporânea, vídeoarte e música ao vivo. Para fechar a série, a também carioca Márcia Milhazes Companhia de Dança apresenta o espetáculo Meu prazer, que tem na cenografia assinada por Beatriz Milhazes um dos pontos fortes. Nele, quatro pessoas se encontram no mesmo campo físico. “Faz-se a trança de um corpo oculto que, através da contemplação de uns e de uma alucinada percepção de outros, vão se vestindo e despindo nas suas diferenças, como um discurso do comportamento”, conceitua Márcia. Além das sessões para o público, haverá duas oficinas gratuitas, uma com Andréa Maciel e outra com Érica Beatriz, bailarina e ensaiadora da Quasar. Serão 20 vagas por oficina, em que os participantes poderão refletir sobre os diferentes processos criativos de dois importantes e premiados coreógrafos brasileiros. No dia 20, às 20h, haverá sessão gratuita de Meu prazer para alunos e professores da rede pública de ensino do DF. Depois, Márcia Milhazes conduzirá um bate-papo sobre a temática e o processo criativo do espetáculo, numa ação que visa estimular o público jovem à aproximação, apreciação e reflexão estética. Movimento D De 7 a 23/8, no CCBB. De 7 a 9 , Quasar; de 14 a 16, Andréa Maciel; de 21 a 23, Márcia Milhazes. Sextas e sábados, às 21h; domingos, às 20h. Ingressos a R$ 15 e R$ 7,50. Mais informações: 3310.7087. 28 Magnum Photos, Inc. luzcâmeraação Woodstock revisitado Warner lança caixa de DVDs restaurados e remasterizados em comemoração aos 40 anos do festival que se transformou em símbolo da contracultura dos anos 60 Por Sérgio Moriconi D epois do maio de 1968, a indústria do entretenimento se mobiliza agora para comemorar os 40 anos de outro marco dos efervescentes anos 60, o festival de Woodstock. Além da caixa Woodstock, 3 dias de paz, amor e música (versão ampliada do diretor Michael Wadleigh para o anterior Woodstock – onde tudo começou), já está à venda no Brasil o livro Woodstock, de Pete Fornatale, e vem aí, em setembro, o filme Taking Woodstock, que o diretor Ang Lee apresentou no último Festival de Cannes, em maio. O documentário de Wadleigh e a distância histórica talvez sejam um nosso aliado hoje para separar o joio do trigo. Afinal de contas, o megaevento, com toda a sua mitologia a respeito da cultura hippie, da liberação sexual, dos sonhos comunitários, de uma perspectiva de vida não materialista, ajudou a modificar o mundo, e a nós como indivíduos, ou foi apenas fogo de palha? Mitologia à parte, o Woodstock impressiona agora como impressionou seus organizadores à época de sua realização. Ao contrário do que muitos pensam, o festival foi um enorme empreendimento comercial levado adiante por dois homens de negócio, Joel Rosenman e John Roberts, associados a dois outros indivíduos de reputação duvidosa, Artie Kornfeld e Michael Lang. Os quatro achavam que o evento, concebido para 35 mil pessoas, seria uma ótima oportunidade para fazer di29 nheiro, utilizando-se espertamente da bandeira do “paz e amor”. Mas os 35 mil viraram 500 mil, transformando o sonho dourado dos organizadores em pesadelo. Durante os dias 15, 16 e 17 de agosto, ainda que apenas três pessoas tenham morrido por overdose e uma centena tenha se ferido levemente (cifra insignificante, considerando a magnitude do público), problemas técnicos de todo tipo produziram um prejuízo de mais de dois milhões de dólares. Chuvas e engarrafamentos babilônicos faziam intuir que Woodstock fechava um círculo – era o fim da linha do chamado “verão de amor”, cujo marco inicial costuma ser imputado ao Festival de Monterey, acontecido dois anos antes, entre 16 e 18 de junho de 1967. Certa vez, Paul MacCartney definiu com muita acuidade o curto período (1965-1967) em que o rock foi de fato a ponta de lança de um processo de liberação de costumes em todos os níveis, fossem eles sexuais, de práticas anti-burguesas, de valores morais não conservadores etc. Ao se referir ao momento de separação dos Beatles como o mais sombrio de sua vida, Paul disse ter ouvido por essa época, pela primeira vez, 1968, o termo heavy (pesado) para definir o ambiente e a música jovem que se fazia em boa parte do planeta naquele momento. Antes disso, tudo parecia leve e luminoso. As drogas de fato eram portas para a percepção de uma outra realidade. Elas faziam vislumbrar o enterro de um mundo velho, o mundo dos pais e avós dos jovens de então, o mundo que havia iniciado duas trágicas guerras naquele que se supunha ser o continente da razão e das luzes. Socialismo utópico Para muitos que acreditavam no sonho comunitário de Woodstock, o modelo hippie de socialismo utópico tinha raízes profundas. A vida em comunidades autônomas não foi uma invenção dos 60. Longe, muito longe disso. Elas vinham sendo colocadas em prática desde a Idade Média! Nos Estados Unidos, agrupamentos religiosos, como os Mórmons e os Quakers, e mesmo comunidades políticas e utópicas foram tolerados durante todo o século XIX e início do século XX, ainda que fossem todas libertárias e de esquer30 da. A primeira do gênero, New Harmony, havia sido fundada em 1825 por Robert Owen, pai do socialismo inglês. Por toda a Europa, no mesmo período, surgiram grupos semelhantes. Inspirados no herói de Walden, livro escrito por Henry David Thoreau em 1854, antecipando a ecologia, o abolicionismo e a resistência pacifista, fonte das idéias de Gandhi e Martin Luther King, surgiram dezenas de comunidades portando nomes evocativos. Utopia, Golden Life, Spring Hill, Içaria Speranza foram algumas delas. Walden era antes de tudo um manifesto poético contra a civilização industrial, pregava um retorno à natureza e a uma vida simples. A obra foi uma referência primordial para os hippies, cuja primeira comunidade viria à luz apenas em janeiro de 1966, assim como para uma das últimas experiências comunitárias dos EUA, a Ferrer Colony, que abrigou em seu seio o futuro símbolo do folk de contestação, também um dos ícones de Woodstock – a cantora e compositora Joan Baez. A utopia alternativa embalou da mesma forma Bob Dylan. Atormentado pelos constrangimentos da indústria, refugia-se com a família na região de Woodstock e vê seu sonho se transformar em pesadelo quando o festival transforma o local em lugar de peregrinação de doidões de toda espécie. Para quem souber ver, o filme de Wadleigh, co-editado por Martin Scorsese, pode dar uma visão não mistificadora desse momento único e contraditório da cultura pop ocidental. Ou seria da contracultura? A resposta, como muitos diriam, varia. O melhor a fazer é ver e ouvir o legado de grupos e artistas que fizeram história. Alguns deixaram seus nomes intrinsecamente ligados ao festival, casos de Richie Havens, Melanie, Country Joe & The Fish, Joe Cocker, Arlo Guthrie, Joan Baez, Janis Joplin e Jimi Hendrix. Outros, como Grateful Dead, The Who, Jefferson Airplane e Santana, descolaram um pouco mais suas imagens de Woodstock, fazendo carreiras com diferentes graus de sucesso. Tanto uns quanto outros experimentaram o declínio da utopia alternativa, transformaram-se em mercadoria, mas de algum modo deixando a semente para aqueles que algum dia vão querer recolher os frutos da insatisfação e da desobediência ao estabelecido. Woodstock – 3 dias de paz, amor e música Caixa da Warner Home Vídeo com quatro DVDs – R$ 79,90 (à venda exclusivamente nas livrarias Saraiva e saraiva.com.br) Woodstock Peter Fornatale Editora Agir, 320 páginas R$ 39,90 na Livraria da Travessa www.travessa.com.br Taking Woodstock EUA/2009, 110 min. Direção: Ang Lee. Roteiro: James Schamus, Elliot Tiber e Tom Monte. Com Liev Schreiber, Emile Hirsch, Jeffrey Dean Morgan, Paul Dano, Dan Fogler, Eugene Levy, Kelli Garner, Demetri Martin, Imelda Staunton, Daniel Eric Gold, Mamie Gummer, Michael Zegen, Katherine Waterston, Kevin Sussman e Skylar Astin Estréia no Brasil: 18 de setembro. Divulgação luzcâmeraação Trágico mistério Atuações memoráveis de Kristin Scott Thomas e Elza Zyberstein são a grande credencial de Há tanto tempo que te amo Por Reynaldo Domingos Ferreira O estreante diretor Philippe Claudel exagera no tom de dramaticidade e de mistério para conduzir a narrativa da reintegração de uma ex-presidiária, condenada por homicídio, à sua vida familiar. Autor também do roteiro, Claudel – detentor de dois prêmios Goncourt como escritor – demonstra insegurança principalmente em relação à forma pela qual aborda a questão. Reveladora, nesse sentido, é a sequência em que Léa (Elza Zyberstein), professora de literatura, discute sem serenidade com seus alunos o método de exposição adotado por Dostoiévski para contar a história de Raskolnikov em Crime e castigo. Para respeitar o título e a temática, a narrativa deveria ser – mas não é – subjetiva, isto é, sob a ótica de Léa, que convida a irmã, Juliette Fontaine (Kristin Scott Thomas), presa na Inglaterra há 15 anos, a ir morar com ela em Nancy, cidade universitária onde vivem cidadãos de várias nacionalidades. No trajeto do aeroporto até sua casa, Léa revela a Juliette que após a morte do pai delas se mudara para Nancy a fim de fazer o doutorado, e lá conhecera Luc (Serge Hazanavicius), com quem se casara e adotara duas crianças vietnamitas, P´itit Lys (Lyse Ségur) e Eme- lia (Lyle Rose). Já instalada na casa da irmã, que a deixara para ir lecionar, Juliette descobre, ao acaso, um outro conviva, Papy Paul (JeanClaude Arnaud), pai de Luc, de origem polonesa, que não falava desde que sofrera um AVC. Outras personagens vão surgindo e, aos poucos, desaparecendo de forma aleatória, como o homem do bar (Pascal Demolon), o professor Michel (Laurent Grévill), colega de Léa, o capitão Fauré (Frédéric Pierrot), um solitário policial que sonha em desvendar os mistérios sobre a nascente do Rio Orinoco, e a mãe das duas (Claire Johnston), sofredora do Mal de Alzheimer, que se encontra numa casa de saúde. Para retardar o desvendamento do segredo que Juliette esconde sobre seu passado criminoso, Claudel é pródigo em redundâncias ou em digressões típicas de melodramas. É o caso da cena de uma reunião familiar campestre em que Claudel expõe, apoiado na bela fotografia de Jérôme Alméras, sua admiração pelo estilo do cineasta Eric Rohmer, que nada tem a ver com o dele. É nessa parte que, instigada por Gérard (Olivier Cruvier), o anfitrião, Juliette se vê forçada a dizer, ante a ansiedade da irmã, a verdade sobre seu passado, que, entretanto, cai no descrédito de todos, exceto no de Michel. O mérito da direção de Claudel reside sem dúvida na maneira com que sabe compor planos para dar destaque às soberbas interpretações de Elza Zyberstein e de Kristin Scott Thomas. A primeira exprime, com finíssima sensibilidade, o amor, a admiração que Léa sente, desde criança, pela irmã. Muitas coisas se passaram, entre as duas, que precisavam ser por ela consideradas. Juliette fora quem lhe ensinara, por exemplo, a cantar e a tocar piano. Se toda a família, mormente o pai, condenou o ato de Juliette, Léa, ao contrário, sem saber os motivos que a levaram a cometer o crime, nunca deixou de amá-la. Kristin Scott Thomas cria desta feita personagem de máscara rígida, que manifesta, pelas olheiras profundas, além de fadiga, uma secreta tristeza. Era como se ela tivesse de sustentar a todo o tempo que, apesar da ruína da sua vida, deveria permanecer de pé. Em termos de composição, Kristin também explora muito o recurso das pausas psicológicas, e é notável ainda o uso que faz da inflexão de voz em várias cenas. Há tanto tempo que te amo (Il y a longtemps que je t´aime) França/Alemanha/2008, Roteiro e direção: Philippe Claudel. Com Kristin Scott Thomas, Elza Zyberstein, Serge Hazanavicius, JeanClaude Arnaud, Laurent Grévill, Frédéric Pierrot, Olivier Cruvier, Pascal Demolon, Lyse Ségur, Lyle Rose e Claire Johnston. 31 Herói bandido Um thriller envolvente, de forte intensidade dramática, ambientado durante a grande depressão dos anos 30 I nimigos Públicos, de Michael Mann, trata da incansável ação empreendida pelo agente policial Melvin Purvis, do FBI, a fim de capturar John Dillinger, tido então como o maior assaltante de bancos dos EUA. O roteiro, escrito por Ronan Bennett em colaboração com Michael Mann e Ann Biderman, estabelece curioso paralelo entre a personalidade do perseguidor e a do perseguido. Eles têm em comum, além do alto sentido de profissionalismo, pelo menos duas características: a de querer cultivar constantemente a opinião pública e a de tratar bem seus homens de confiança. Dillinger (Johnny Depp) criou aura de defensor das vítimas da depressão ao assaltar bancos e desafiar o governo, uma vez que nenhum tipo de prisão conseguia detê-lo. Seu charme – tinha apurado bom gosto na maneira de se trajar – e suas audaciosas fugas dos presídios de segurança máxima conquistam as massas, como o fez Jesse James no passado. Por sua vez, Purvis (Christian Bale) conseguiu se promover diante da opinião pública e de J. Edgard Hoover (Billy Grudup), o então jovem diretor do FBI, comandando a perseguição a Pretty Boy Floyd, marginal morto por ele num pomar de maçãs, em Ohio. Após considerar Dillinger o inimigo público número 1 dos EUA, Hoover decide colocar Purvis no seu encalço. No intervalo de vários assaltos a bancos, Dillinger conhece Billie Frechette (Marion Cotillard), por quem se apaixona. Mas não a ponto de deixar de frequentar outras amigas, como a cafetina Anna Sage (Branka Katic), que o trai, dando indicação a Purvis sobre o local onde ele poderia ser encontrado na fatídica, para ele, noite de 22 de julho de 1934. 32 Como já o fizera em Miami vice, Mann consegue extrair belo efeito das imagens captadas por Dante Spinotti em vídeo digital de alta definição. A reconstituição de época é outro elemento que contribui para a perfeição de inúmeras sequências, como as que ocorrem, ao final, no interior e nas adjacências do cinema Biograph, em Chicago, Illinois. E, como aconteceu em Colateral, Mann soube explorar de forma magnífica a seleção de músicas da época e principalmente o belo tema composto especialmente para a película por Elliot Galdenthal. O elenco, liderado por Johnny Depp, Christian Bale e Marion Cotillard, é excepcional. Depp – que substitui Leonardo DiCaprio, primeiro interessado no papel de Dillinger – compõe bem o homem, o janota, o dândi, o amante, enfim, o mito, melhor do que o bandido meticuloso, frio e sagaz. Na sequência em que os agentes do FBI cercam a hospedaria Little Bohemia, numa pequena localidade do Wisconsin, onde se encontram Dillinger e sua gangue, o ator mostra um bom momento reflexivo, deitado na mesma cama em que sua personagem se deitara em 1934. Christian Bale faz questão de destacar, em sua estupenda atuação, a integridade moral do agente Melvin Purvis. É notável como o ator, detalhista ao extremo, consegue aprofundar na personagem a certeza de que tem um dever profissional a ser cumprido, embora se posicione muitas vezes em sentido contrário ao que lhe é imposto pelo rígido esquema, comandado por Hoover, a que é submetido. Marion Cotillard, a premiada intérprete de Piaf – um hino ao amor, de Olivier Dahan, reaparece agora, de rosto limpo, bonito, lembrando a linha de Natalie Wood, numa atuação discreta, mas de muita força dramática. Billy Grudup, como J. Edgard Hoo- ver, retrata, com correção, a figura histórica do visionário criador do FBI. E há entre os coadjuvantes – comparsas de Dillinger e agentes policiais sob o comando de Purvis – vários atores internacionais, como Stephen Graham (John “Red” Hamilton), Stephen Dorff (Homer Van Meter), Stephen Lang (Charles Winstead) e principalmente David Wenham (Harry “Pete” Pierpont), que se destacou em Austrália, de Baz Luhrmann. Inimigos públicos (Public enemies) EUA/2009, 140 min. Direção: Michael Mann. Roteiro: Ronan Bennett, Michael Mann e Ann Biderman, com base no livro Public enemies: America´s greatest crime wave and the birth of the FBI – 1933-34, de Bryan Burrough. Com Johnny Depp, Christian Bale, Marion Cotillard, Billy Grudup, David Wenham, Stephen Dorff, Stephen Lang, Branka Katic, Stephen Graham e Channing Tatum. Divulgação Por Reynaldo Domingos Ferreira caianagandaia Diversão à moda carioca U ma coisa que não se pode negar é que o povo carioca sabe se divertir, seja passando a manhã na praia, a tarde no Maracanã, a noite num dos milhares de botecos da cidade ou a madrugada na muvuca da Lapa ou do Baixo Gávea. Se não tem como trazer o mar para a árida Brasília, as fotos das belezas naturais da capital fluminense dão pelo menos um gostinho. Se não dá para trazer o Maracanã, as TVs transmitindo os jogos da rodada dão conta do recado. E para a noite ser boa como a carioca, um bom começo é o chope gelado, boa música, mesas de sinuca e, é claro, casa cheia. Assim a recém-inaugurada cervejaria Garota Carioca chega a Brasília, com o objetivo de trazer à cidade um pedaço do Rio de Janeiro. Brasília é a terceira capital em que a Garota Carioca abre as portas. Salvador e Curitiba já desfrutam da casa e em breve Belo Horizonte entra na lista. “Uma filial em Águas Claras também faz parte dos planos, mas só deve se concretizar ano que vem”, revela Marcus Ruas, um dos sócios. Para abrigar a primeira filial candanga, o lugar escolhido foi uma amplo galpão de dois andares em frente ao Liberty Mall, que abriga 140 mesas e tem capacidade para 400 pessoas sentadas, sem aperto. Como companhia para o chope Brahma e as caipiroskas de diversas frutas, a casa oferece um bufê bem variado, com frios, grelhados, pizzas, sushis, sashimis e temakis, a R$ 49,50 o quilo. Na happyhour, das 17 às 20h, o preço cai pela metade. Como a idéia é que a diversão corra noite adentro, a partir da meia-noite a casa oferece também um bufê de massas (R$ 16,90). A decoração, assinada pelo arquiteto Antônio Márcio, tenta captar o clima dos tradicionais bares do Rio. Na parte externa, grandes painéis homenageiam ícones como Zé Carioca, Chico Buarque, Jorge Ben Jor, Tom Jobim e Zico. Na parte de dentro, fotos mostram os mais famosos cartões postais da Cidade Maravilhosa. A programação musical também tem sotaque carioca, com uma banda diferente de terça a domingo tocando sambalanço, samba-rock, MPB, Bossa Nova, jazz e sucessos contemporâneos. Para avaliar o bar, nada melhor do que alguém qualificado: uma garota carioca. A jornalista Helga Artiaga veio passar as férias na casa do pai e aproveitou para conhecer o novo bar. “Gostei do ambiente, das fotos do Rio, da música. A varanda lembra muito os bares da zona sul do Rio. Para eu me sentir na minha cidade, só faltou mesmo a vista pro mar”, brinca. Garota carioca SCN Quadra 3 – Bloco C (3326.1840). Diariamente, das 17h até o último cliente. A partir da segunda quinzena de agosto a casa passará a abrir também para almoço. Após as 20h30, passa a ser cobrada entrada: R$ 8 (mulheres) e R$10 (homens). Fotos: Divulgação Por Eduardo Oliveira 33 Divulgação