REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
INSTITUCIONAL
DIREÇÃO DA MANTENEDORA
Diretoria Gestão 2013 - 2015
Presidente: Ernani Carlos Boeck
Vice-presidente: Ronaldo Fredolino Wendland
Secretária: Dalva Lenz de Souza
Vice-secretária: Telci Krause
Tesoureiro: Hordi Núbio Felten
Vice-tesoureiro: Flávio Huber
Conselho Fiscal:
Waldemar Blum
Nelson de Oliveira
Mario Tesche
Ivo Novotny
Arnaldo Schmitt
Conselho Deliberativo:
Marisa Sandra Allenbrandt
Lori Cecatto
Kedy Lopez
Diretor geral: Flávio Magedanz
Vice-diretor Faculdade Três de Maio: Sandro Ergang
Vice-diretora Administrativa: Quedi Sônia Schmidt
Vice-diretora Educação Básica e Ensino Médio:
Marilei Assini
Vice-diretora Educação Infantil: Dagma Heinkel
Conselho Editorial: Ms Adalberto Lovato; Ms
Alexandre Chapoval Neto; Dra Cinei Teresinha Riffel;
Ms Douglas Faoro; Ms Fauzi de Moraes Shubeita; Ms
Gilberto Souto Caramão; Ms Jorge Antonio Rambo; Ms
Lilian Winter; Ms Márcia Stein; Ms Marcos Caraffa; Ms
Natália Isaia; Ms Rita de Cássia Maciazeki; Ms Sandro
Ergang; Ms Valsenio Gaelzer, Ms Vera Beatriz Pinto
Zimmermann Weber; Ms Vera Lúcia Lorenzet Benedetti.
Comissão Científica Interna (avaliadores - sistema
blinded rewiew): Ms Adalberto Lovato; Ms Alexandre
Chapoval Neto; Dra Cinei Teresinha Riffel; Ms Cláudia
Viegas; Ms Evandir Bueno Barasuol; Ms Fauzi
Schubeita; Ms Gilberto Caramão; Ms Helmuth
Grossmann Júnior; Ms Jeane Borges; Ms Lilian Winter;
Ms Luis Carlos Zucatto; Ms Márcia Stein; Ms Marcos
Caraffa; Ms Natália Isaia; Ms Paulo Pereira; Ms Rita de
Cássia Maciazeki; Ms Sandro Ergang; Mda Vanessa
Marin; Ms Vera Lúcia Benedetti; Ms Vera Pinto
Zimermann Weber; Drdo Fauzi Schubeita;
Drdo Luis Carlos Zucatto.
Comissão Científica Externa (avaliadores – sistema
blinded rewiew): Dra Cristiane Koehler – SENAC (RS);
Drdo Cristiano Henrique da Veiga – UFSM (RS); Dr João
Bosco Sobral – UFSC (SC): Dr João Leonardo Pires –
EMBRAPA (RS); Dr Jorge Luis da Cunha - UFSM (RS);
Dr José Antonio Martinelli – UFRGS (RS); Dr Luciano
Bedin da Costa - UFRGS (RS); Dra Márcia Soares
Chaves – EMBRAPA (RS); Dr Mário Luis Santos
Evangelista - UFSM (RS); Dra Marlene Gomes Terra –
UFSM (RS); Dr Miguel Vicente Sellitto - UNISINOS (RS);
Ms Rafael Marcelo Soder – UFFS (SC); Dr Roque da
Costa Güllich- UFFS (RS); Dr Sedinei Nardelli Beber –
PUC (RS); Dra Soraia Napoleão Freitas - UFSM (RS);
Drdo Valmir Heckler – FURG (RS); Ms Vera Lúcia
Fortunato Fortes – UPF (RS); Drdo Rafael Marcelo
Soder.
Capa e Diagramação: Assessoria de Comunicação SETREM
Revisão: Carla Matzembacher
Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 - ISSN 1678-1252
Revista SETREM: Revista de Ensino e Pesquisa/
Sociedade Educacional Três de Maio
Três de Maio: SETREM. Publicação Semestral
EDITORIAL
90 ANOS DE HISTÓRIA
Ao apresentar mais um exemplar da
REVISTA SETREM, reafirmamos o nosso
compromisso de traduzir as diferentes áreas
de atuação da Sociedade Educacional Três
de Maio. Nos propomos a veicular a
produção acadêmica de pesquisadores em
diversas áreas de forma a ampliar as
discussões sobre os temas em questão.
Esta revista busca ser um elo do meio
acadêmico, empresarial e demais
instituições, buscando e levando conceitos,
interpretações, inovações e desafios. Desta
forma, contribuindo na produção,
desenvolvimento e socialização do
conhecimento.
Nesta edição, a Revista SETREM, se
fortalece como um espaço de socialização do
conhecimento produzido por pesquisadores
das variadas áreas do conhecimento,
permitindo que as novas descobertas
cheguem de forma rápida e acessível a toda
a comunidade.
Contamos com 15 artigos científicos,
no qual o leitor, poderá perceber alguns
frutos do trabalho conjunto entre professores
e acadêmicos. Essa colaboração certamente
permite o crescimento e amadurecimento
intelectual de ambos.
Esperamos que este número possa
despertar, ainda mais, a curiosidade, a busca
por integração entre docentes, estudantes,
empresas e instituições, através do dialogo e
a integração entre o ensino, a pesquisa e a
extensão.
É com imensa satisfação que
apresentamos a REVISTA SETREM n° 21,
agradecendo a todos os que contribuíram
com seus artigos e deixando o convite para
todos aqueles que quiserem utilizar esse
instrumento para divulgação de suas
pesquisas e discussões.
Prof Msc. Sandro Ergang
Vice-Diretor de Ensino Superior
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
SUMÁRIO
A PESQUISA DE TENDÊNCIAS
COMO SUPORTE PARA O DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS DE MODA..................05
Vanessa Marin
Ana Paula Hettwer
Maressa Giovana Martinelli
Sociedade Educacional Três de Maio
ESTUDO DO PLANEJAMENTO DA CAPACIDADE PRODUTIVA A LONGO
PRAZO EM UMA INDÚSTRIA GRÁFICA..............................................................................16
Daiane Patrícia Scheid
Loana Wollmann Taborda
Sérgio Luiz Jahn
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM
Universidade Federal de Santa Maria – UFSM
APLICAÇÃO DAS MELHORES PRÁTICAS DO ITIL PARA PROCESSO
DE GESTÃO DE FORNECEDORES EM UMA COOPERATIVA DO AGRONEGÓCIO........28
Denise da Luz Siqueira
Diego da Rosa
Vera Lúcia Lorenset Benedetti
Sociedade Educacional Três de Maio
ANÁLISE E APLICAÇÃO DO SCRUM COM O NÍVEL G DO MPS.BR
EM PROJETOS SMALL BUSINESS DE EMPRESA DE TI..................................................43
Bruna Weber,
Sidnei da Silva Viana
Cristiano Schwening,
Renato Rockenbach
Sociedade Edicacional Três de Maio
EDUCANDO PELOS DIREITOS HUMANOS: UMA QUESTÃO DE CIDADANIA................54
Jociele Chaves
Silvia Natália de Mello
Marina Zucatto
Sociedade Educacional Três de Maio
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
A IMPORTÂNCIA DO USO DOS LABORATÓRIOS DE INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO:
A VISÃO DE ALUNOS DE SÉRIES INICIAIS E DE PROFESSORES..................................62
Deise Aline Müller
Fabíola Ramiro Schmieder
Taís Laura Cardoso Sott
Gustavo Griebler
Sociedade Educacional Três de Maio
EDUCAÇÃO INFANTIL E O ENSINO DE CIÊNCIAS: DO COTIDIANO DA CRIANÇA AO
ENSINO APRENDIZAGEM NO AMBIENTE ESCOLAR.......................................................69
Deise Graciéli Tresel
Juliana Santos Farsem
Tatiana Dallavechia
Vera Beatriz Pinto Zimmermann Weber
Sociedade Educacional Três de Maio
CARTOGRAFIA DE UM ENCONTRO COM O TERRITÓRIO
EXISTENCIAL DA CEGUEIRA..............................................................................................80
Ana Paula Benatti
Luciano Bedin da Costa
Sociedade Educacional Três de Maio
FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO NUM CASO DE ABUSO SEXUAL INFANTOJUVENIL: AVALIANDO O PROCESSO DE RESILIÊNCIA..................................................89
Taísa Mariluz Rommel
Jeane Lessinger Borges
Sociedade Educacional Três de Maio
PSICODINÂMICA DO TRABALHO: FATORES QUE INFLUENCIAM
NO PRAZER E NO SOFRIMENTO DE TRABALHADORAS DE UM
COMÉRCIO VAREJISTA .....................................................................................................105
Katiani Pieczaki Pertile
Lilian Ester Winter
Sociedade Educacional Três de Maio
OCORRÊNCIA DE EVENTOS ADVERSOS E IATROGENIAS EM
UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA ADULTA....................................................................119
Jacinta Spies
Sávio Erni Schulz
Sociedade Educacional Três de Maio
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: ÍNDICE DE MATERNIDADE
PRECOCE NOS MUNICÍPIOS PERTENCENTES À 14ª COORDENADORIA
REGIONAL DE SAÚDE........................................................................................................127
Graciele Getania Barcellos Farias
Vera Beatriz Pinto Zimerann Weber
Beatriz de Carvalho Cavalheiro
Sociedade Educacional Três de Maio
SUCESSOS E INSUCESSOS DO ALEITAMENTO MATERNO...........................................136
Karoline Bazanella
Beatriz de Carvalho Cavalheiro
Sociedade Educacional Três de Maio
O PERFIL DOS ACIDENTES DE TRABALHO EM AGRICULTORES
DE UM MUNICÍPIO DO NOROESTE GAÚCHO..................................................................144
Fabiana Balsan
Mirian Herath Rascovetzki
Sociedade Educacional Três de Maio
NÍVEL DE SATIFAÇÃO DOS ENFERMEIROS COM SEU TRABALHO.............................154
Simoni Sandra Colombo
Jacinta Spies
Fauzi Shubeita
Sociedade Educacional Três de Maio
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
A PESQUISA DE TENDÊNCIAS
COMO SUPORTE PARA O DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS DE MODA
Vanessa Marin 1
Ana Paula Hettwer2
Maressa Giovana Martinelli3
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM 4
RESUMO
ABSTRACT
Este artigo se propõe a apresentar as
pesquisas desenvolvidas e os resultados
obtidos com o Projeto de Pesquisa vinculado
ao NUMO (Núcleo de Pesquisa de Tecnologia
em Design de Moda), durante o período de
outubro de 2011 a outubro de 2012, da
Faculdade Três de Maio – SETREM. Este
trabalho procurou levantar a importância da
pesquisa de tendências no desenvolvimento
de novos produtos de moda, detectando as
principais carências nas empresas de
confecção da região noroeste do Estado.
Inicialmente, procurou-se delimitar a
problemática de estudo, que seria a ausência
de gestão de projetos em design de moda e
de pesquisa de tendências nas indústrias de
confecção, acompanhada das principais
hipóteses para a questão (falta de
profissionais qualificados, cultura de design,
investimentos ou mesmo de conhecimento
sobre as metodologias específicas da moda).
Apresentaram-se, em seguida, alguns
caminhos metodológicos possíveis de serem
percorridos para alcançar os objetivos da
pesquisa, através de pesquisa bibliográfica e
pesquisa de campo. Posteriormente, foram
discutidos alguns conceitos que permeiam as
metodologias e a gestão de projetos em
design de moda, ressaltando a pesquisa de
tendências, o trabalho de coolhunting e o
processo de difusão da cultura visual, para
um maior entendimento da questão. Na parte
final do trabalho, apresentam-se os
resultados obtidos com a pesquisa de campo,
identificando os pontos de maior carência das
empresas, acompanhados de soluções e
alternativas que podem ser adotadas pelas
mesmas com relação à inovação e métodos
de gestão de projetos para o setor da moda.
This article intends to present the researches
carried out and the results obtained with the
Research Project linked to NUMO
(Technology Research Nucleus in Fashion
Design), during the period from October 2011
to October 2012, From Três de Maio College –
SETREM. This work intended to raise the
importance of research trend in the
development of new fashion products,
detecting the major deficiencies in
manufacturing companies in the Northwest
regions of the stat., First, it was tried to define
the study problem that would be the lack of
project management in fashion design and
trend research in the clothing industries,
accompanied by the main hypotheses for the
issue (lack of qualified professionals, design
culture, investments or even knowledge of the
specific fashion methodologies). Then, some
possible methodological ways were
introduced to be traversed to achieve the
research objectives, through a literature
review and field research. Later some
concepts that permeate the methodologies
and managements in fashion design were
discussed, highlighting the trend research, the
work of coolhunting and diffusion process of
visual culture to a greater understanding of the
issue. At the end of the work, the results
obtained from the field research were
presented, identifying the points of greatest
needs of the companies, along with solutions
and alternatives that can be adopted by them
in relation to innovation and project
management methods to the fashion industry.
Keywords: Research. Fashion Trend.
Innovation.
Palavras-chave: Pesquisa. Tendência de
Moda. Inovação.
1
Bacharel em Desenho e Plástica (UFSM), Especialista em Design para Estamparia (UFSM),
Especialista em Criatividade em Produtos e Negócios de Moda (UCS), docente do Curso Superior de
Tecnologia em Design de Moda da SETREM , email: [email protected]
2
Acadêmica do Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda da SETREM , email:
[email protected]
3
Acadêmica do Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda da SETREM , email:
[email protected]
4
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM, Av. Santa Rosa, 2504, Três de Maio – RS, email:
[email protected]
5
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
demonstrar o papel das tendências de moda
no desenvolvimento da cultura que permeia a
criação (desenho/projeto/design) de novos
produtos, para a posterior produção nas
indústrias de confecção. O terceiro e último
passo abrangeu a pesquisa de campo, que foi
realizada pelas acadêmicas que participam
deste trabalho, apontando as principais
deficiências das empresas visitadas,
culminando com a apresentação de possíveis
saídas para a falta de pesquisa em design nas
referidas empresas.
1. INTRODUÇÃO
Criar produtos adequados ao mercado
da moda que expressem contemporaneidade
no design, através da pesquisa das
transformações da sociedade e dos
movimentos internacionais da moda, é
imprescindível ao designer. Este profissional
deve analisar as necessidades e desejos que
possam estar inconscientes no mercado e
saber adaptá-los aos seus projetos de
maneira criativa, objetivando enriquecer e
abastecer o mercado da moda.
As tendências em cores, formas,
materiais e mesmo de comportamento são
determinantes no sucesso ou fracasso de
uma coleção. Seguir uma tendência não deve
ser confundido com copiar uma tendência. O
designer deve explorar e personalizar as
informações disponíveis, criando produtos
que agreguem valor e tragam rendimentos à
empresa, criando um diferencial competitivo e
gerando inovação.
2. MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA
Para a realização desta pesquisa,
seguiram-se os seguintes passos
metodológicos:
- pesquisa bibliográfica (livros,
revistas) e virtual (blogs, sites) sobre o
assunto em questão;
- levantamento de dados junto a
diversas empresas de confecção da região
noroeste do Estado do Rio Grande do Sul;
- análise dos dados levantados;
- estruturação de uma proposta e/ou
conclusões que apontem saídas para as
dificuldades encontradas ao final desta
pesquisa.
Entender como se formam tendências
na moda, de onde surgem e como se
multiplicam, além de entender os principais
canais de divulgação midiática da cultura
visual, bem como saber selecionar as
informações e adaptá-las a uma coleção de
moda, são competências a serem
desenvolvidas nas empresas de confecção
de moda.
A abordagem desta pesquisa foi qualiquantitativa, pois apresentou suposições e
interpretações subjetivas dos resultados, bem
como apontou resultados em números.
A problemática encontrada, com
relação ao desenvolvimento de produtos de
moda nas empresas da região, é a falta de
pesquisa original e criativa, muitas vezes por
falta de formação e informação das empresas
e seus funcionários, atestando que muito
campo de trabalho e pesquisa pode ser
desenvolvido neste setor.
A pesquisa objetivou seguir os
procedimentos abaixo citados:
- pesquisa bibliográfica: através da
consulta de obras escritas por outros autores
a respeito do assunto a ser pesquisado;
- pesquisa de campo: através da coleta
de dados em que eles efetivamente ocorrem
de forma sistematizada, organizada;
- pesquisa-ação: através da
participação destas pesquisadoras no
processo de soluções do problema em
questão.
Para o desenvolvimento deste
trabalho, aqui apresentado sob a forma de
artigo, seguiram-se três passos
fundamentais: o primeiro foi a definição do
caminho metodológico que pretendia ser
percorrido, através da apresentação do tema
de pesquisa, sua problemática, as principais
hipóteses encontradas para a questão, bem
como os objetivos que pretendiam ser
alcançados, a justificativa e a metodologia
necessária para o andamento do projeto. O
segundo passo foi o aprofundamento do
assunto central da pesquisa, ou seja,
As técnicas que foram utilizadas nesta
pesquisa são:
- observação: exame dos fatos em
questão, através de visitas a diversas
empresas de confecção, bem como dos
fenômenos culturais contemporâneos que
afetam a dinâmica da moda;
- entrevista: contato direto com
6
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Com base nessas pesquisas e análises de
especialistas em marketing de moda, os birôs
apresentam novas tendências, trazendo
maior segurança às empresas de confecção
no desenvolvimento de seu portfólio de
produtos. Assim relembra Rech (2000):
profissionais envolvidos nos diversos
segmentos da moda (empresários,
costureiras, pesquisadores de moda,
designers);
- pesquisa de mercado: obtenção de
informações a respeito do mercado de moda,
suas metodologias de planejamento e
desenvolvimento de novos produtos e dados
que comprovem sua eficácia.
Bureaux de Style são cadernos de
tendências que proporcionam
diretrizes básicas que refletem os
anseios do mercado. As tendências
servem de inspiração e de
visualização para a criatividade,
abrem as portas da imaginação; e são
ilustradas pelos temas (ou
inspirações, ambiências, atmosferas
ou influências como são diversamente
denominadas) que representam
imagens, a partir das quais se inicia o
processo de edição das novas
propostas de moda que se tornarão a
realidade de determinada estação
(RECH, 2000, p. 36)
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Este item pretende apresentar as
principais definições teóricas sobre o assunto
levantado na problemática desta pesquisa: o
que é tendência de moda, como ela surge e
se propaga e como as empresas de moda
utilizam as pesquisas de tendências para o
desenvolvimento de seu portfólio de
produtos.
3.1 Definições gerais de tendência de
moda
Alguns birôs são considerados mais
“influentes”; portanto, têm maiores chances
de fazer valer suas apostas. Ao final de uma
temporada de desfiles nas principais capitais
da moda (Paris, Milão, Nova Iorque, Tóquio,
Londres), ficam claras quais tendências foram
confirmadas pelos estilistas em suas coleções
desfiladas.
Tendências de moda são propostas
sobre cores, tecidos, temas e formas
(silhuetas), apresentadas pelas indústrias
têxtil e química a cada estação, sendo
acompanhadas pelas mídias de moda
(revistas, jornais, sites, blogs, etc). Essas
tendências são as bases para o
desenvolvimento de novos produtos de
moda, pois refletem o desejo de consumo da
população.
Nem tudo o que os birôs de estilo
apresentam é seguido pelos estilistas ou
pelas empresas. Muitos preferem apostar em
propostas próprias, sendo conhecidos como
lançadores de tendências. Entretanto,
somente grandes marcas podem correr este
risco, pois já possuem um público-alvo
estabelecido e não correm risco de rejeição de
consumo.
A i n d ú s tr i a q u ím i c a ( d e fi o s e
pigmentos) precisa definir com, pelo menos,
dois anos de antecedência suas propostas,
pois estão no topo da cadeia têxtil, sendo
seguida pela indústria de confecção e
designers, que definem suas propostas um
ano antes de os produtos estarem em voga.
Assim, quando uma nova estação do ano se
inicia, os produtos de vestuário já se
encontram plenamente produzidos,
precisando somente ser distribuídos ao
varejo. A pesquisa deve estar sempre em
estágio mais avançado que a produção, pois
os produtos que entram no mercado
consumidor devem trazer novidades para o
estímulo de consumo.
A moda de rua, desde meados da
década de 1950, vem apresentando, também,
suas próprias ideias de moda, sendo
considerada também uma grande lançadora
de tendências. A cultura jovem urbana é
conhecida como um nicho de consumidores
inovadores, particularmente receptivos ao
novo e às propostas de moda de vanguarda.
Exemplo disso são as tribos urbanas, como os
punks, os hippies, os grunges, os clubbers e
tantas outras, que usam a moda como
sinalização de estilos de grupos de
identificação. “As pessoas mais jovens já
adaptadas a culturas de consumo atual
possuem um alto grau de curiosidade, de
gosto pelo novo e estão predispostas a
Para “adivinhar” as propensões da
moda no futuro próximo, foram criados birôs,
que são empresas que colhem informações
no mercado, na sociedade, na economia e na
cultura do mundo e de regiões específicas.
7
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
experimentar o diferente, em nome da
experiência” (Picoli, 2009, p.4). Assim, a
moda de rua é considerada um forte vetor de
força de criação de novas tendências,
disputando atenção dos pesquisadores e
designers.
“copiar” o que outra empresa está lançando,
“entrar no barco” de propostas de grandes
marcas de moda.
Este sistema de adaptação (cópia), de
venda e de renovação em espaços de tempo
muito curtos é conhecido como fast-fashion,
em analogia ao fast-food, ou seja, moda de
consumo rápido, massificado e de pouca ou
nenhuma identidade. O fast-fashion, que
atende ao anseio de consumo, gerou grandes
redes de varejo como C&A, Renner,
Riachuelo, Marisa, Hering. Outro exemplo,
que também é considerada campeã de moda
rápida, é a rede Zara, que mantém na Espanha
um departamento de criação com 200 pessoas
encarregadas de reagir rapidamente diante de
qualquer novidade.
Na década de 1990, surgem as
misturas com estilos históricos através do
aparecimento dos brechós e da consciência
ecológica, tornando possível a reutilização de
roupas em conformidade com as propostas
sustentáveis para o planeta. Jovens
consumidores com pouco poder aquisitivo
passaram a comprar roupas de várias épocas
e usá-las de forma ousada e criativa. Desse
modo, uma grande diversidade tomou conta
da cena, tornando a moda cada dia mais
múltipla.
O novo século está se caracterizando
pela individualização. O desenvolvimento da
informática permitiu a produção
personalizada, o design foi desmassificado.
Cada pessoa, hoje, pode interferir em suas
roupas, rasgando, aplicando, transformando
peças sem identidade em looks únicos: é a
era da customização. Assim, o novo milênio
está imerso nessa situação contraditória: a
customização, embora seja também mais
uma moda, é a subversão total do que se
entende por tendência.
A previsão de tendências é uma grande
indústria que influencia diversos setores,
especialmente os ligados ao design. Deter as
informações requer ampla capacidade de
pesquisa e interpretação de sinais, fazendo
com que o acesso a essa rede se torne restrito
a quem puder arcar com os altos custos
dessas informações, conforme cita
Seivewright (2009, p.62) “As empresas
investem grandes quantias de seus
orçamentos para obter esse tipo de visão
sobre o mercado e sobre qual deve ser o foco
de suas ideias”.
Nas sociedades contemporâneas, as
novas tendências nascem nos gestos
isolados de alguns pequenos grupos
e em tudo o que se vê e se faz e que
pode assumir múltiplas formas
diferenciadas e/ou inovadoras. À
medida que se consolidam e
evoluem, aumentam a sua influência
no mercado consumidor. Para que
uma tendência se torne moda, ela
precisa ser escolhida entre várias
outras propostas e adotada (PICOLI,
2009, p.6)
Como muitas pequenas confecções
ainda não criaram a cultura de design em suas
organizações, torna-se uma saída sugerida
“inconscientemente” seguir o que outra
empresa já está desenvolvendo. Nesse
sentido, Caldas (2006, p.18) afirma com
veemência: “Ora, como erigir um polo de moda
autônomo e de importância internacional
enquanto insistimos em importar
tendências?”.
Quanto mais complexa se tornam as
culturas e sociedades, mais instável se torna o
mercado de moda, que fica aberto às mais
diversas possibilidades. Portanto, planejar e
prever são ações imprescindíveis no
desenvolvimento do design de moda. Como
afirma Picoli (2009, p.9): “O propósito
fundamental de entender as motivações,
costumes, tendências e modas que emergem
ou se difundem no mercado é o de obter a
informação necessária para o
desenvolvimento e melhoramento de serviços
Em um momento no qual a moda está
sujeita às mais diferentes influências, seja de
grandes empresas, seja da moda de rua,
surgem muitas incertezas: que caminhos
seguir, que pesquisas devem ter mais
enfoque, em quais tendências apostar? Sem
dúvida alguma não se trata de uma tarefa fácil
para as confecções, especialmente as
pequenas e microempresas que, na sua
maioria, não possuem um departamento
específico de pesquisa e desenvolvimento de
produtos. A saída mais rápida e fácil tem sido
8
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
e produtos”.
uma análise profunda do mercado,
dos padrões de compra dos
consumidores, e facilita tomadas de
decisões de compra na fase de
desenvolvimento e lançamento de
novos produtos. (PICOLI, 2009, p.7).
3.2 Coolhunting
O coolhunting é a atividade focada em
localizar as tendências, principalmente entre
as culturas jovens. O coolhunter é o
profissional que deve desenvolver métodos
de pesquisa que vão ao encontro da
descoberta de novas atitudes, movimentos,
desejos e todo tipo de alterações
significativas no mercado da moda e da
cultura de rua em geral, utilizando
ferramentas próprias da psicologia e da
antropologia na pesquisa e interpretação de
tendências (Picoli, 2009).
Esta terminologia em inglês, portanto,
tem sido utilizada para caracterizar um novo
profissional de moda, o pesquisador de
tendências, amplamente requisitado e
procurado através das novas mídias digitais.
“A principal diferença entre o coolhunting e as
outras ferramentas de pesquisa de
tendências é que esta nova metodologia
requer um processo contínuo e não cíclico”
(Picoli, 2009, p.9).
Para captar de maneira mais eficaz as
novas tendências de consumo e
comportamento, o coolhunter precisa
encontrar perfis inovadores, geralmente no
chamado público de vanguarda, que é
considerado, na moda, o mais rico em
informações. Para tanto, é essencial que o
pesquisador tenha um olhar sensível e
curioso para este campo.
3.3 A difusão da cultura visual
O processo de difusão de novas ideias
requer um amplo caminho de comunicação,
para que sejam compartilhadas, consumidas
e/ou usufruídas pela população. No universo
da moda, o fluxograma de consumo se dá a
partir do lançamento de alguma tendência
(inovação ou tendência de consumo),
seguindo-se pelo consentimento de um
amplo espectro de consumidores, pela cópia,
sua massificação e consequente desgaste,
conforme figura 3
Espalhados pelo mundo, os
coolhunters têm a função de
descobrir movimentos culturais e
estéticos que poderão influenciar a
moda, a publicidade e o design. O seu
trabalho é o de caminhar pelas ruas,
relacionar-se com diversas pessoas e
viajar por diferentes cidades na
tentativa de detectar, registar e
sistematizar elementos que poderão
tornar-se moda. Analisam o contexto
comportamental de uma sociedade,
buscando novos conceitos. Estão à
procura do cool, isto é, atitudes e
desejos com potencial de
desenvolvimento (PICOLI, 2009,
p.7).
O coolhunter tem o desafio de criar
uma conexão emocional que as marcas
necessitam, descobrindo os anseios dos
diversos tipos de consumidores a fim de
garantirem o consumo dos produtos, em uma
nova proposta de pesquisa de mercado,
tradicionalmente realizada pelos
departamentos de marketing.
Fonte: MARIN, HETTWER, MARTINELLI, 2012.
FIGURA 3: Ciclo rápido da moda.
O coolhunting possui diversas
aplicações no mundo dos negócios,
em particular em duas áreas: a
observação de mercados e o
desenvolvimento de inovações. (...)
Isto é benéfico para a estratégia de
mercado da empresa, pois permite
Dentro desta lógica, de acordo com
Jones (2005), a difusão das tendências pode
ter origem, basicamente, em duas fontes
distintas: uma de origem popular, oriunda das
manifestações da cultura de rua, chamado
“efeito borbulha”, outra de origem no
9
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
- determinar parâmetros a serem
seguidos no desenvolvimento de uma
coleção de produtos, chamado de mix de
produtos, dimensionando a coleção;
- definir um tema ou uma inspiração
artístico-conceitual que englobará as
tendências, a cartela de cores e os tecidos,
criando um estilo visual para a coleção de
moda ou o produto em si;
- criar modelagens para as peças,
seguidas de mostruário com peças-piloto;
- elaborar fichas técnicas para todas as
peças da coleção, especificando todos os
d e t a l h e s t é c n i c o s p a r a a
produção/confecção.
mercado de luxo, chamado “efeito
desaguamento”.
O “efeito desaguamento” surge no topo
da pirâmide, ou seja, em um meio social
restrito e de luxo, geralmente composto por
marcas de alta-costura, artistas de cinema e
estrelas pop. A partir da cultura visual
amplamente emitida por esse pequeno grupo,
a tendência percorre um caminho até a base
da pirâmide, atingindo a grande massa da
população, em um movimento de cima para
baixo, ou seja, de poucos emitentes para
muitos receptores.
O “efeito borbulha”, ao contrário, surge
da moda de rua, culturas alternativas de
vanguarda e manifestações populares, que
acabam sendo percebidos pela mídia como
grande oportunidade de mercado no
desenvolvimento de novos produtos de moda,
chegando a serem explorados pelas grandes
marcas, como aconteceu com a tendência
grunge, punk, as novelas, etc.
De modo geral, é esse o caminho
percorrido pela indústria de confecção no
desenvolvimento de novos produtos. É
importante destacar que essas etapas
ocorrem concomitantemente umas às outras,
em um processo contínuo, ou seja, não é
necessário que uma etapa tenha terminado
para que outra comece. Aliás, muito antes de
uma coleção de moda estar produzida outra já
está sendo pesquisada, principalmente na
identificação de novas tendências.
3.4 A pesquisa de tendências no
planejamento de produtos de moda: etapa
primordial
Caso a pesquisa de tendências seja
falha, todo o processo de desenvolvimento de
produtos estará comprometido, pois ele terá
seu resultado medido através do sucesso de
suas vendas.
Toda criação ou desenvolvimento de
produtos requer um planejamento, para que
se evitem erros e gastos desnecessários,
gerando a inovação e estimulando o consumo.
No universo do design de moda, algumas
etapas devem ser levadas em consideração,
de acordo com Treptow (2007):
- conhecer a capacidade produtiva da
empresa, seu potencial financeiro,
maquinários, colaboradores;
- seguir um calendário de vendas, seja
pela estação do ano (primavera/verão,
outono/inverno), pelas datas comemorativas
(natal, dia das mães), pelas grandes semanas
de moda (São Paulo Fashion Week, Fashion
Rio) ou pelas datas determinadas pelos
varejistas;
- analisar os produtos e/ou coleções
desenvolvidos anteriormente, identificando
sucesso ou fracasso de consumo;
- pesquisar produtos e serviços
oferecidos pela concorrência;
- conhecer as principais inovações
tecnológicas e têxteis;
- pesquisar as tendências de consumo;
- traçar o perfil do consumidor (públicoalvo/target) através de pesquisa de
comportamento;
4. RESULTADOS DA PESQUISA
O desenvolvimento da pesquisa se
iniciou com a criação do Projeto de Pesquisa,
seguido por um maior aprofundamento
teórico acerca do estudo em questão,
compreendendo como se dá a difusão das
tendências de moda e sua importância no
planejamento e desenvolvimento de produtos
para as indústrias de confecção. A pesquisa
de campo foi a etapa seguinte. Percorrendo
algumas empresas de confecção da região
noroeste, nas cidades de Santa Rosa, Santo
Cristo e Três Passos, foi aplicado um
questionário a partir de sete itens, são eles:
1- Dados da empresa
Nome da empresa:
CNPJ:
Endereço / Cidade / Telefone:
Segmento de atuação:
Público-alvo / Clientes / Forma de venda:
Tempo de atuação no mercado:
10
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
2- Quanto aos funcionários
Número de funcionários (especificando as
funções):
Existe algum funcionário que desempenha
mais de uma função?
Existe um funcionário específico para
realizar pesquisa e criação?
Qual a escolaridade dos funcionários?
Existe algum funcionário com formação na
área de moda?
a participar, e poucos responderam
objetivamente as perguntas.
Notou-se, também, que muitas
respostas fornecidas estavam equivocadas,
comprovando a falta de formação em design
de moda em questões básicas como, por
exemplo, uma empresa afirmar que não
possui estamparia, sendo que o bordado é
seu principal diferencial.
3- Quanto à produção
Volume mensal:
Descrição geral do processo de fabricação:
Quais são as principais matérias-primas
utilizadas? De onde são adquiridas?
Funcionários envolvidos diretamente na
produção:
Existe algum processo terceirizado?
Possui estamparia?
4.1 Análise da pesquisa de campo
A partir do questionamento levantado
pela pesquisa de campo, apontam-se
algumas questões, que foram divididas em
subitens para melhor compreensão.
4.1.1 Com relação ao histórico das empresas
Foram visitadas empresas do
segmento de uniformes, trajes para
casamento, moda festa, moda plus size (para
tamanhos especiais), moda casual e
jeanswear. As empresas atuam no mercado,
em média, há 20 anos. Seus clientes também
são variados: vão do público masculino ao
feminino e infantil. Duas empresas possuem
público-alvo bem definido, três empresas
atendem por pedidos de outras empresas e
lojas multimarcas, e duas empresas não
trabalham com público-alvo, atendendo aos
consumidores em geral (uma empresa
atende a pedidos de peças sob medida e
para venda através de sacoleiras).
4- Quanto ao espaço físico e equipamentos
Descrição geral (parque fabril, escritórios,
salas, se estão todos no mesmo local ou
separadas em setores e prédios diferentes).
5- Quanto ao processo de pesquisa e criação
Como a empresa cria novas coleções ou
artigos (como é o processo criativo)?
Possui espaço físico, equipamentos e
funcionários que trabalhem com criação?
Existe algum processo terceirizado?
A empresa realiza pesquisas em moda?
Assina alguma revista, site ou jornal para
pesquisas de tendências?
Realizam viagens a feiras do setor?
Investem em marketing?
4.1.2 Com relação aos seus funcionários
6- Projeções futuras
A empresa realiza planejamento
estratégico?
Quais são as metas futuras?
Quais são as perspectivas para a empresa
na área de criação?
As empresas também são variadas
quanto ao número de funcionários: variam de
2 a 90. A quase totalidade destes se encontra
nos setores produtivos das empresas, ou
seja, no corte, na modelagem, na costura e
nos acabamentos. Somente uma empresa
afirmou que seus funcionários não
desempenham mais de uma função no
trabalho. Quatro empresas possuem um
funcionário específico para realizar pesquisa
e criação em moda, mas não em tempo
integral. A escolaridade dos funcionários
também é muito variada: alguns possuem
somente Ensino Fundamental, alguns
estudaram até o Ensino Médio, poucos
fazem ou fizeram Ensino Superior, e somente
três empresas afirmaram possuir
funcionários com ou em formação superior
na área da moda.
7- Questionamento final
Como a empresa vê o processo de criação
em moda?
Acha importante ter um profissional que
trabalhe exclusivamente com isso?
Que valor deste profissional tem/teria na
empresa?
Procurou-se aplicar a pesquisa em
diferentes empresas de confecção para se
ter um panorama abrangente da situação.
Foram visitadas somente sete empresas,
visto que houve pouca sensibilização de
algumas nas respostas fornecidas para a
pesquisa. Muitos empresários se recusaram
11
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
4.1.3 Com relação à sua produção fabril
Nenhuma das empresas pesquisadas
possui espaço físico próprio para pesquisa e
criação em moda. Algumas trabalham todas
as etapas em um mesmo local; outras, são
divididas em setores, sendo: escritório/parte
administrativa, salas com mesas de risco,
corte e modelagem e salas de máquinas.
O volume mensal de produção foi
exposto por cinco empresas. Uma delas
afirmou ter uma produção pequena, porém
diferenciada nos acabamentos em bordados,
girando em torno de 800 a 1.000 peças. A
empresa que afirmou trabalhar sem públicoalvo definido e com produção sob medida
produz até 150 peças mensalmente. As
empresas que trabalham no ramo de
uniformes produzem de 3000 a 8000 peças.
A empresa de jeanswear produz 10.000
peças. Somente duas empresas afirmaram
terceirizar algum processo (bordado e
serigrafia).
4.1.5 Com relação ao processo de pesquisa
e criação
A maioria das empresas afirmou
realizar pesquisa de tendências para
desenvolver seus produtos. Algumas através
de sites pagos (ex.: Portal UseFashion);
outras, através das próprias fábricas de
tecidos, porém a maioria através de cópias
diretas da Internet, revistas ou televisão.
Somente três empresas possuem algum
funcionário que trabalha com esta etapa e
somente uma a terceiriza. Cinco empresas
afirmaram que realizam pesquisas em moda
e quase todas assinam algum tipo de revista
da área. Quatro empresas realizam viagens
a feiras e eventos do setor, e três não, da
mesma forma que investem em marketing.
Com relação ao processo de
fabricação, seguem as descrições
oferecidas:
Empresa 2: faz pesquisa de tendências / cria
o mostruário / faz as vendas por encomenda /
produz por lotes.
Empresa 3: possui um processo demorado,
com muitos detalhes.
Empresa 4: seu processo é sob medida e em
blocos de produção, no qual a proprietária
desenvolve algum modelo que ela gosta e viu
em revistas ou televisão. É modelado por ela
e são costuradas algumas peças que são
vendidas na empresa e por sacoleiras na
cidade de Santa Rosa.
4.1.6 Com relação às suas projeções futuras
Ao serem questionadas se realizam
planejamento estratégico, algumas
empresas simplesmente afirmaram
positivamente, mas houve uma resposta
negativa: “Não realizamos planejamento
estratégico pelo fato de já estarmos há muito
tempo no mercado e nos sentirmos bem
estruturados, não temos o que melhorar, pois
mal conseguimos vencer o serviço que
temos hoje”.
Empresa 5: os pedidos são enviados para a
empresa muitas vezes a partir de email, ou
solicitados pela vendedora externa que é
vinculada à empresa. No primeiro momento
eles recebem o pedido, dão a sua ideia,
passam o orçamento aos clientes e
aguardam a sua contraproposta ou
fechamento do negócio.
Na questão sobre metas futuras, três
empresas não responderam, uma diz não
possuir metas e quatro afirmaram que
desejam “manter e adicionar novos clientes”,
“se aperfeiçoar cada vez mais”, “fidelizar a
marca com um produto cada vez mais
adequado ao público-alvo”, e “aumentar a
empresa e se tornar uma facção para alguma
rede de lojas que tenha uma demanda de
consumo bastante significativa na qual
entraria com a parte da produção das peças e
da modelagem das mesmas”.
Empresa 6: os pedidos são encaminhados
até a empresa, eles dão sugestões, caso for
solicitado, é desenvolvida a modelagem e
parte-se para a produção.
Com relação às principais matériasprimas utilizadas, da mesma forma, variam
de malhas, jeans, tecidos planos, rendas e
pedrarias, a maioria oriundas de São Paulo,
do nordeste ou Porto Alegre.
Outro questionamento feito foi com
relação às perspectivas da empresa na área
de criação, sendo que uma empresa não
respondeu; outras duas dizem não possuir
4.1.4 Com relação ao seu espaço físico e
equipamentos
12
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
segmento da moda, cuja principal
característica é a mutação rápida de seus
produtos, tem sido visto como uma atividade
de copiar peças já existentes no mercado,
sem atribuição de valores, seja dos próprios
produtos desenvolvidos, seja dos
profissionais que atuam neste segmento. A
pesquisa de tendências tem sido vista assim
como uma forma de copiar, de observar
peças já prontas em revistas baratas, sites da
Internet populares e novelas televisivas.
Nesse caso, se copia o que já está no
mercado, e não aquilo que poderá se tornar
potencial de vendas no futuro. Desta forma, o
tempo de vida de um produto que já está na
linha final de consumo torna-se ainda menor,
gerando peças encalhadas ou sem atrativos.
perspectivas nisto (uma delas por ser do
segmento de uniformes e seguir um estilo
padrão que não segue tendências), e as
demais afirmaram “seguir sempre
atualizado”, “aumentar os profissionais e
qualificar sempre mais os que já estão no
processo” e “desenvolver coleções focando
no mercado”.
4.1.7 Questionamentos finais
Como questionamentos finais, foi
indagado às empresas:
Como é visto o processo de criação em
moda?
Duas empresas não responderam; outras
duas do segmento de uniformes não dão
importância para o design (a não ser pela
melhoria dos materiais). Uma respondeu que
o processo todo não passa de uma grande
cópia; uma disse que é um processo vital,
porém de pouca inovação no Brasil, e uma
afirmou ser algo indispensável.
A pouca sensibilização e a recusa das
empresas em responder à pesquisa
demonstra a falta de interesse em melhorar
seus processos de pesquisa e produção,
comprovando o baixo nível de formação em
moda encontrado nesses locais. O tempo
relativamente longo de atuação no setor e a
produção considerada satisfatória também
os faz pensar que estão seguros no mercado.
É importante ter um profissional que trabalhe
exclusivamente com isso?
Duas empresas não responderam, três
responderam afirmativamente, uma diz que a
realidade na qual a empresa se encontra
deveria ser outra, e outra empresa não
considera importante no seu segmento
(uniformes) a não ser na parte da estamparia.
Outra questão preocupante é a falta
de um público-alvo definido. As empresas
produzem sem saber ao certo quem irá
consumir seus produtos, sem conhecer os
hábitos de compra de seus clientes. A médio
e longo prazo, isso pode gerar falta de
fidelização à marca, ou substituição por outra
com a qual há uma maior identificação.
Qual o valor deste profissional para a
empresa?
Duas empresas não responderam, quatro
delas afirmaram: “é de muita importância”, “o
mesmo valor dos demais que assumem cada
setor da empresa, a industrialização é um
processo contínuo e depende-se um do outro,
porém a criação é o que dará o sucesso da
venda”, “principal, peça-chave, criação e
modelagem devem andar juntos, só criar não
basta”, “o diferencial, pois teria certeza do que
estaria realizando”. Uma empresa
respondeu negativamente: “No momento
valor insignificante, mesmo estando lá seu
papel seria costurar, cortar e não realizar a
criação”.
O processo de pedidos feitos nestas
empresas se mostrou bastante informal, feito
através de contatos/conversas em que se
procura adaptar algum modelo já visto nas
mídias sociais, sem inovar, sem entrar em
contato com designers capacitados. A
pesquisa de tendências, que não é realizada
continuamente, transforma-se numa rápida
adaptação de produtos que já existem no
mercado.
Da mesma forma desorganizada é o
próprio processo de produção, que não
possui um fluxograma definido, sem
sequenciamento ou controle de qualidade.
Em muitas empresas, o chão de fábrica
disputa lugar de trabalho com o desenho de
moda, a modelagem, a administração, etc.
5 . A P O N TA M E N T O S F I N A I S E
SUGESTÕES
A partir da coleta das informações
feitas na pesquisa de campo, chegou-se a um
panorama preocupante e desestimulador no
que se refere à pesquisa e inovação. O
A maioria das empresas também
demonstrou falta de interesse em investir em
13
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Como procurou se demonstrar na
revisão bibliográfica, a tendência de moda é o
que faz girar e movimentar esse setor. Ela é a
grande responsável pelas inovações
observadas na cultura e no modo de
consumo da atualidade, apontando inúmeros
caminhos a serem seguidos em termos de
desenvolvimento de produtos.
marketing, pois consideram que estão
sólidas no mercado e não sofrerão
concorrência. Também não possuem muitas
metas futuras nem pensam em realizar
planejamento estratégico, correndo o risco
de ficarem obsoletas no mercado da moda,
que é altamente competitivo. Preferem que
as mudanças os obriguem a mudar de
atitude, sem terem preocupação em manter
a pesquisa aliada à inovação para se
anteciparem no mercado.
Estimular a pesquisa de tendências de
moda, assim, é fundamental e beneficia os
projetos de design com autoria, criatividade e
conquista do mercado consumidor. Desta
forma, essa pesquisa acaba se tornando um
processo interno de antecipação
permanente, no qual as empresas podem
enfrentar a crescente pressão concorrencial
no mercado e gerar o desenvolvimento e o
fortalecimento deste importante mercado.
A solução para as pequenas
empresas, já apontada no problema da
pesquisa inicial, é a estruturação de
pequenos escritórios de pesquisa, nos quais
se possa estimular a criação de pequenos
departamentos de design, criando o hábito e
o estímulo de se projetar artigos de autoria
própria, evitando a cópia maciça de produtos
já existentes no mercado. Isso geraria,
também, uma maior conscientização de que
o papel do designer de moda é fundamental
no processo de desenvolvimento de
produtos, passando a ser mais valorizado,
sanando outra grande dificuldade
encontrada neste setor: a ideia de que o
designer deve fazer “de tudo um pouco”:
trabalhar em modelagem, desenhar, cortar,
costurar, fazer planilhas de pedidos, etc. Se
esta estruturação interna de departamentos
de design não estiver ao alcance, a procura
por serviços mais especializados se torna
uma alternativa, embora mais cara. O que
não pode deixar de existir é essa
conscientização de que a pesquisa é a
primeira etapa na criação de novos produtos,
e ela deve ser contínua e de qualidade.
REFERÊNCIAS:
BARBARÁ, Saulo; FREITAS, Sidney. Design
– Gestão, Métodos, Projetos, Processos.
Rio de Janeiro: Ed. Ciência Moderna LTDA,
2007.
BAXTER, Mike. Projeto de produto: guia
prático para o design de novos produtos.
São Paulo: Blucher, 2011.
CALDAS, Dario. Observatório de sinais:
teoria e prática da pesquisa de
tendências. Rio de Janeiro: Editora Senac
Rio, 2006.
DISITZER, Márcia; VIEIRA, Silvia. A moda
como ela é: bastidores, criação e
profissionalização. Rio de Janeiro: Senac
Nacional, 2006.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
DOMÍNGUEZ RIEZU, Marta. Coolhunters:
caçadores de tendências na moda. São
Paulo: Editora Senac São Paulo, 2011.
A realização deste Projeto de
Pesquisa demonstrou a importância de se
buscar a inovação no desenvolvimento de
produtos de moda nas empresas de
confecção, através da pesquisa de
tendências e da estruturação de uma gestão
de design eficaz. O panorama apresentado
na pesquisa de campo já era conhecido e
comprovou que muito precisa ser feito pelos
designers de moda para qualificarem este
setor. A região noroeste do Estado possui um
grande polo têxtil, porém pouco
desenvolvido em termos de pesquisa e
design, persistindo o hábito de copiar.
FEGHALI, Marta Kasznar; DWYER, Daniela.
As engrenagens da moda. Rio de Janeiro:
Ed. Senac Rio, 2004.
FISCHER, Anette. Fundamentos de design
de moda: construção de vestuário. Porto
Alegre: Bookman, 2010.
GOMES, Luis Vidal Negreiros. Criatividade:
projeto < desenho > produto. Santa Maria:
sCHDs, 2004.
14
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
GÜLLICH, Roque Ismael da Costa;
LOVATO, Adalberto; EVANGELISTA, Mário
Luiz Santos. Metodologia da pesquisa:
normas para apresentação de trabalhos:
Redação, formatação e editoração. Três
de Maio: Ed.SETREM, 2007.
JONES, Sue Jenkyn. Fashion Design –
manual do estilista. São Paulo: Cosac &
Naify, 2005.
MEADOWS, Toby. Como montar e
gerenciar uma marca de moda. Porto
Alegre: Bookman, 2010.
MORACE, Francesco. Consumo autoral:
as gerações como empresas criativas.
São Paulo: Estação das Letras e Cores,
2012.
PICOLI, Julia Isoppo. Coolhunting:
pesquisador e suas metodologias.
http://www.enmoda.com.br/site/_arquivos_artigos/1
74711_Coolhunting.pdf
Acesso em 25.set.2012
RECH, Sandra Regina. Moda: por um fio
de qualidade. Florianópolis: Udesc, 2000.
RENFREW, Elinor; RENFREW, Colin.
Desenvolvendo uma coleção. Porto
Alegre: Bookman, 2010.
SEIVEWRIGHT, Simon. Fundamentos de
design de moda: pesquisa e design. Porto
Alegre: Bookman, 2009.
S O R G E R , R i c h a r d ; U D A L E , J e n n y.
Fundamentos de design de moda. Porto
Alegre: Bookman, 2009.
TREPTOW, Doris. Inventando Moda:
planejamento de coleção. Brusque:
D.Treptow, 2007.
UDALE, Jenny. Fundamentos de design
de moda: tecidos e moda. Porto Alegre:
Bookman, 2009.
15
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
ESTUDO DO PLANEJAMENTO DA CAPACIDADE PRODUTIVA
A LONGO PRAZO EM UMA INDÚSTRIA GRÁFICA
Daiane Patrícia Scheid¹
Loana Wollmann Taborda²
Sérgio Luiz Jahn3
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM4
Universidade Federal de Santa Maria – UFSM5
RESUMO
ABSTRACT
O objetivo deste trabalho é analisar a
capacidade produtiva de longo prazo de uma
indústria gráfica, localizada na região
Noroeste do estado do Rio Grande do Sul. O
período em análise é de agosto a outubro de
2012. A capacidade de produção é o fator
físico limitante do processo produtivo. Neste
sentido, este estudo visa responder à
seguinte questão: Qual é o planejamento da
capacidade de longo prazo na Gráfica Buricá
que diminua o número de horas extras? A
metodologia adotada neste estudo, quanto a
sua abordagem, classifica-se como o
indutivo, inicia com uma visão em pontos
mais específicos, partindo para uma visão
mais ampla, indo das constatações mais
particulares às leis e às teorias. Foi realizado
um levantamento dos dados na empresa e
utilizado o processo de planejamento S&OP,
para o planejamento da capacidade de longo
prazo RRP. Os resultados demonstraram que
a taxa de eficiência da gráfica é de 52%.
Porém, por se tratar de uma indústria gráfica,
em que os tempos de set up são elevados,
essa taxa não é considerada baixa, mas pode
ser melhorada, possibilitando que novos
estudos sejam desenvolvidos nesta área.
The objective of this study is to analyze the
long-term productive capacity of a printing
industry, located in the northwestern part of
the state of Rio Grande do Sul The review
period is from August to October 2012.
Production capacity is the limiting physical
factor of the production process. Thus, this
study aims to answer the following question:
What is the capacity planning of long-term
Graphic Buricá to decrease the number of
overtime? The methodology adopted in this
study, as its approach, ranks as the inductive,
starts with a vision in more specific points,
leaving to a broader, more specific findings of
going to the laws and theories. A survey of the
data used in the company and the process of
S&OP planning, capacity planning for the
long term RRP was carried out. The results
demonstrated that the efficiency rate of the
graphics is 52%. However, because it is a
graphics industry, where the set up times are
high, this rate is considered low, but can be
improved allowing new studies could be
developed in this area.
Keywords: Productive capacity. Overtime.
Long-term planning.
Palavras-chaves: Capacidade produtiva.
Horas extras. Planejamento de longo prazo.
¹ Bacharelanda em Engenharia de Produção (SETREM)[email protected]
² Mestranda em Engenharia de Produção (UFSM). [email protected]
³ Doutor em Engenharia Química, Professor (UFSM). [email protected]
4
Sociedade Educacional Três de Maio – Av. Santa Rosa, 2504, Três de Maio – RS.
[email protected]
5
Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Faixa de Camobi, Km 9 – Campus Universitário,
Santa Maria – RS – 97.105-900
16
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
visão em pontos mais específicos, partindo
para uma visão mais ampla, indo das
constatações mais particulares às leis e às
teorias. A pesquisa foi estruturada de forma
exploratória, por meio de observação,
levantamento de dados e análise. Para a
realização deste estudo foram coletados
tempos de máquina durante o período de dez
dias, para o cálculo da capacidade.
1 INTRODUÇÃO
A eficiência do sistema produtivo
depende da forma de como se planeja,
programa-se e controla-se a produção. E a
busca por essa eficiência se torna constante
nas empresas a fim de possuir um sistema
flexível de produção para atender às
necessidades dos clientes e manter-se no
mercado competitivo.
No referencial teórico foi possível a
revisão e o aprofundamento da literatura
sobre assuntos compatíveis com o
planejamento e controle da produção,
planejamento de capacidade e planejamento
de vendas e operações, em inglês, sales and
operations planning - S&OP .
O planejamento e controle da
produção procura apresentar possibilidades
para adequação da capacidade de uma
atividade com sua demanda (SLACK et al,
1996).
A capacidade de produção é o fator
físico limitante do processo produtivo. E esse
fator é relevante para o planejamento
estratégico da produção, pois pode ser
incrementada ou reduzida, desde que
planejada a tempo, pela adição de recursos
financeiros.
No terceiro capítulo são apresentados
e discutidos os resultados da pesquisa
realizada, seguidas pela lista com as
referências bibliográficas utilizadas.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
A exata definição dos recursos e dos
processos, passando pela capacidade, está
diretamente relacionada com as decisões
estratégicas da empresa (LIMA; NAVARRO,
2006 apud WACKER & LUMMUS, 2002).
Assim, o S&OP ou Planejamento de Vendas
e Operações passa a ser uma ferramenta
para a implementação e o desdobramento do
planejamento estratégico, promovendo
debate e antecipando as necessidades e
restrições da empresa, criando, a partir daí,
soluções sincronizadas com os requisitos da
demanda e da oferta (LIMA; NAVARRO,
2006 apud WALLACE, 1999).
2.1 PLANEJAMENTO E CONTROLE DA
CAPACIDADE
Segundo Slack et al. (2009), obtendo o
equilíbrio adequado entre capacidade e
demanda, a empresa satisfará seus clientes
de forma eficaz tanto em custo como em
tempo. A essência do planejamento e controle
da capacidade é conciliar o nível da demanda
com o suprimento da capacidade.
É a tarefa de determinar a capacidade
efetiva da empresa, para que ela possa
atender a sua demanda.
Neste sentido, este estudo visa
responder à seguinte questão: Qual é o
planejamento da capacidade de longo prazo
na Gráfica Buricá que diminua o número de
horas extras?
As decisões tomadas por gerentes de
produção no planejamento de suas
políticas de capacidade afetarão
diversos aspectos do desempenho:
Para responder ao problema de
pesquisa, este estudo tem como objetivo
analisar a capacidade produtiva de longo
prazo de uma indústria gráfica.
Adicionalmente a este objetivo, também se
deseja verificar a necessidade e o
planejamento de horas extras, para
atendimento da demanda do mercado
consumidor.
Os custos serão afetados pelo
equilíbrio entre capacidade e demanda.
Níveis de capacidade Excedente à
demanda podem significar
subutilização de capacidade e,
portanto, alto custo unitário.
As receitas também serão afetadas pelo
equilíbrio entre capacidade e demanda,
mas de forma oposta. Níveis de
capacidade iguais ou superiores à
demanda em qualquer momento
assegurarão que toda a demanda seja
atendida e não haja perda de receitas.
Referente à metodologia, esta
pesquisa, quanto a sua abordagem,
classifica-se como o indutivo, inicia com uma
17
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
(2009), são sequências de decisões em
relação ao planejamento e controle da
capacidade tomadas pelos gerentes e estão
ilustradas na figura 1. Antes de ser tomada
qualquer decisão deve-se ter uma idéia
quantitativa da demanda e da capacidade
produtiva.
O capital de giro será afetado se uma
operação decidir produzir estoque de
bens acabados antecipando-se à
demanda. Isso pode permitir atender à
demanda, mas a organização deve
financiar o estoque até que seja
vendido.
A qualidade dos bens ou serviços pode
ser afetada por um planejamento de
capacidade, por meio da contratação
de pessoal temporário, por exemplo. O
pessoal novo e a interrupção do
trabalho rotineiro da operação
aumentam a probabilidade de
ocorrência de erros.
A primeira etapa consiste em medir os
níveis agregados de demanda e a
capacidade para o período de planejamento.
A segunda etapa será identificar as
políticas alternativas de capacidade que
podem ser adotadas em resposta as
flutuações da demanda. (SLACK et al. 2009).
A velocidade de resposta à demanda
do cliente pode ser melhorada, seja
pelo aumento dos estoques
(permitindo que os clientes sejam
atendidos diretamente pelo estoque
em vez de terem que esperar a
fabricação dos itens), seja pela
provisão deliberada de capacidade
excedente, evitando-se filas.
A confiabilidade do fornecimento
também será afetada pelo nível de
proximidade entre os níveis de
demanda e da capacidade máxima da
operação: a confiabilidade do
fornecimento de serviços e produtos
será menor, quanto mais próxima da
capacidade total estiver a demanda,
pois a operação conseguirá lidar
menos com possíveis interrupções.
Figura 1: Etapas do planejamento e controle
de capacidade.
A flexibilidade, especialmente a de
volume, será melhorada por
capacidade excedente. Se a demanda
e a capacidade estiverem em
equilíbrio, a operação não será capaz
de responder a quaisquer aumentos
inesperados de demanda. (SLACK et
al. 2009).
Fonte: Slack et al, (2009)
E a terceira etapa será de escolher a
política de capacidade mais adequada para
cada demanda.
Para Corrêa et al (2006),
planejamento da capacidade é uma atividade
necessária para ter aproveitamento total da
disponibilidade da empresa. A insuficiência
de capacidade atrasa os prazos de entrega e
diminui a qualidade, a frustração dos
colaboradores por estarem sempre
pressionados e não conseguirem cumprir os
prazos e ao aumento de estoques no
decorrer do processo. Por outro lado, o
excesso de capacidade representa aumento
de custos.
2.1.2 Medição da capacidade
Para se ter políticas adequadas em
relação à produção e à demanda é
necessário que a capacidade seja medida.
O problema principal com a medição da
capacidade é a complexidade da maioria
dos processos produtivos. Somente
quando a produção é altamente
padronizada e repetitiva é fácil definir a
capacidade sem ambiguidade. (SLACK
et al. 2009).
A capacidade de projeto, ou
capacidade real nem sempre é atingida em
uma empresa, segundo Slack et al.(2009),
isso acontece porque as máquinas não
podem funcionar continuamente, elas
necessitam de um tempo determinado de
2.1.1 Etapas de planejamento e controle
da capacidade
As etapas, conforme Slack et al.
18
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
ajustes, limpeza, etc. Isso também pode
ocorrer porque produtos diferenciados têm
necessidades diferentes, a máquina
precisará ser parada para ajustes
necessários ao outro produto.
Porém, as linhas de produção não
podem funcionar continuamente em sua
velocidade máxima. Slack et al (1997), afirma
que produtos diferentes terão tempos de
processamento diferentes, de forma que se
torna necessário parar a linha produtiva para
ajustar as máquinas. Será necessário
também que seja feita a manutenção
preventiva e corretiva, falta de produção, ou
produtos, na linha, entre outros, são
problemas que diminuem a capacidade
produtiva da empresa. A capacidade real que
resta depois de deduzidas as perdas é
chamada de capacidade efetiva. Porém,
terão outras causas de redução da
capacidade, tais como retrabalhos,
problemas na qualidade, quebra de
máquinas, ausência de funcionários, entre
outros, que irão diminuir ainda mais a
capacidade produtiva da empresa. O volume
real de produção da empresa será menor do
que a capacidade efetiva.
Será necessário também fazer
manutenções nas máquinas, o que ocupará
tempo e reduzirá o tempo produtivo. A
capacidade que resta depois de subtraídas
todas estas perdas é chamada de
capacidade efetiva da operação.
Existem ainda outras perdas como
problemas de qualidade, quebra de
máquinas, ausência ou atraso de
funcionários que irão reduzir ainda mais a
capacidade produtiva.
A eficácia de uma máquina, para Slack
et al (2009), pode ser medida baseando-se
em três aspectos: tempo que o equipamento
está disponível para operar; qualidade do
produto ou serviço que produz; velocidade da
máquina.
As proporções de volume de produção
realmente conseguido por uma operação
para a capacidade do projeto e para a
capacidade efetiva são respectivamente
chamadas de utilização e eficiência da
planta. (SLACK et al 1997).
A eficácia de um equipamento é
calculada multiplicando-se a taxa de
velocidade pela taxa de qualidade
multiplicada pela taxa de disponibilidade do
equipamento.
Segundo Slack et al (2009), a redução
na capacidade disponível de uma máquina é
causada por trocas, set-ups e por quebra de
peças. Alguma parte da capacidade é perdida
por perda de velocidade quando o
equipamento fica ocioso e quando a máquina
funciona com capacidade abaixo da
disponível. E ainda um pouco da capacidade
produtiva da máquina é perdida por perdas e
falta de qualidade.
Utilização =
Volume de produção real
Capacidade do projeto
Figura 3: Cálculo da Utilização da produção.
Fonte: Slack et al, (1997)
Eficiência =
Volume de produção real
Capacidade efetiva
Figura 4: Cálculo da eficiência da produção.
Fonte: Slack et al, (1997)
2.1.3 Capacidade de projeto e
Capacidade Efetiva
2.2 ESTRUTURA HIERÁRQUICA DO
PLANEJAMENTO DE CAPACIDADE
A capacidade teórica de uma operação
nem sempre pode ser atingida na prática.
(SLACK et al, 1997).
O planejamento da capacidade é feito
em níveis, de acordo com o horizonte de
planejamento desejado. (CORRÊA et al
2011).
Para Slack et al (1997), o produto da
velocidade máxima das máquinas pelo tempo
de operação da planta da empresa fornecem
a capacidade teórica do projeto.
P a r a C o r r ê a e t a l ( 2 0 11 ) , o
planejamento, no nível de S&OP, é de longo
prazo e é chamado de RRP, (resource
requirements planning). O planejamento de
médio prazo, no nível do planejamentomestre da produção é chamado de RCCP
(rough cut capacity planning) e tem por
Capacidade teórica do Velocidade máxima das maquinas
projeto =
Tempo de operação da planta
Figura 2: Calculo da capacidade teórica do
projeto.
Fonte: Slack et al, (1997)
19
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
para se adequar ao processo. Corrêa et al
(2011), cita que o horizonte de planejamento
pode ser de meses ou anos, dependendo dos
prazos de mobilização e obtenção dos
recursos necessários.
principal objetivo garantir que o MPS seja
viável em termos de capacidade. O
planejamento de curto prazo, no nível MRP,
denomina-se de CRP (capacity requirements
planning), e é feito com base no plano de
materiais, levando em conta questões como:
o que, quanto e quando produzir. Pode ser
substituído pelo planejamento feito com
sistemas de programação da produção com
capacidade finita. A figura 5 mostra a
estrutura hierárquica do planejamento da
capacidade.
Para Corrêa et al (2011), o cálculo da
capacidade é informação básica, a
quantidade de horas necessárias para cada
família de produtos, em cada setor da
produção. Como o tempo de cada item é
diferente é necessário atribuir um valor único
para a família de produtos, fazendo uma
média ponderada.
É importante notar, conforme Corrêa
et al (2011), que, como os dados variam cada
mês, o resultado não será muito preciso.
Com base no plano de vendas e
operações do S&OP, pode ser calculada a
necessidade de recursos em cada um dos
setores da produção, para cada uma das
famílias de produtos. Corrêa et al (2011),
afirma que, calculada a capacidade
necessária, é preciso compará-la com a
capacidade efetivamente disponível. A taxa
de eficiência deve cobrir dois aspectos.
Geralmente é impossível utilizar toda
a capacidade efetiva disponível, devido a
problemas decorrentes de quebras de
máquinas, falta de energia, ausência de
funcionários, problemas de programação e
movimentação, atrasos de entrega,
manutenção preventiva, entre outros.
Segundo Corrêa et al (2011), parte destes
problemas são considerados inevitáveis,
porém outra parte destes problemas podem
ser evitados, com uso da boa gestão, como
demonstrado na figura 6.
Figura 5: S&OP no processo de
Planejamento Global.
Fonte: Corrêa et al, (2006)
No curtíssimo prazo, no prazo de
alguns dias, também é necessário
administrar a produção, a capacidade e a
utilização dos recursos. Conforme Corrêa et
al (2011), este planejamento é importante
porque leva em conta acontecimentos de
última hora, tais como quebra de máquinas,
falta de material, ausência de funcionários,
entre outros.
2.2.1 Planejamento de capacidade de
longo prazo - RRP
Segundo Corrêa et al (2011), o
planejamento a longo prazo tem por objetivos
principais antecipar as necessidades de
capacidade que precisam de um prazo mais
longo para obtenção, e embasar as decisões
de quanto produzir de cada família de
produtos.
Figura 6: Capacidade efetivamente
disponível para o processo.
É importante para o S&OP que o
cálculo de capacidade seja simples e rápido,
Fonte: Corrêa et al, (2006)
20
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
demandas futuras. O plano de demanda,
depois de atualizado, é comunicado à
manufatura, que por sua vez elabora o plano
de produção, analisando as necessidades de
capacidade e de materiais críticos. As
dificuldades de atender à demanda são
trabalhadas em um processo concluído em
uma reunião formal. O resultado final é um
plano atualizado de operações que deverão
atender à demanda. Este plano deve então
ser desagregado para dar origem ao plano
mestre de produção. A figura 7 ilustra o
processo esquematizado do S&OP.
Para Corrêa et al (2011), outro aspecto
que deve ser corrigido pela taxa de eficiência
é a imprecisão do cálculo da capacidade,
pois os tempos foram obtidos através de
médias; portanto, os cálculos não serão
precisos.
Na visão de Corrêa et al (2011),
quando a necessidade excede a capacidade
algumas medidas alternativas podem ser
tomas, são elas:
- a alteração do plano de produção,
trabalhando com estoques nos meses em
que sobra capacidade;
- ampliação da capacidade, fazendo uso de
horas extras, turnos adicionais, contratação
de funcionários, aquisição de equipamentos,
entre outros;
- ampliação da capacidade, com melhor
gestão, reduzindo os problemas de natureza
evitável;
- subcontratação de serviços terceirizados;
- não atendimento do plano de vendas, tanto
com perda efetiva de vendas ou acúmulo de
pedidos em atraso.
Não existe receita única para todas as
situações e, caso a caso, a empresa precisa
avaliar os custos e riscos de cada alternativa,
buscando a mais adequada para o momento
específico. (CORRÊA et al 2011).
Figura 7: Etapas do processo S&OP.
Fonte: Corrêa et al, (2006)
Contanto, para a execução do
projeto, é necessário, como afirma Corrêa et
al (2006), que ele seja separado em ciclos.
Quanto mais rápido o ciclo de planejamento
mais ágil será a resposta da empresa em
relação às mudanças na demanda do
mercado. Entretanto, é necessário que se
tenha um tempo para que todas as etapas do
processo sejam executadas corretamente,
pois é delas que depende a qualidade dos
resultados.
2.3 PROCESSO DO S&OP - SALES &
OPERATIONS PLANNING
O processo do S&OP, na visão de
Corrêa et al (2006), consiste em cinco etapas,
são elas: levantamento de dados históricos
que apresentam a relação de vendas da
empresa, bem como seu estado atual de
produção, estoque e desempenho passado;
planejamento de demanda, inclui a
elaboração do plano de vendas e a gestão
das previsões; planejamento de materiais e
capacidade, reunião preliminar, na qual são
envolvidos todos os setores da empresa para
análise dos planos e identificação de
problemas e alternativas; e, finalmente, a
reunião executiva, na qual os planos são
validados junto à direção da empresa.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A empresa gráfica na qual o estudo foi
realizado tem no quadro funcional da
empresa dez pessoas, das quais, duas são
responsáveis pela montagem das artes, uma
secretária, três pela operação das máquinas,
dois pelo acabamento, um administrador e
um vendedor.
Segundo Corrêa et al (2006), vendas e
marketing comparam a demanda real
passada ao plano de vendas, verificando o
potencial do mercado e projetando
Como recursos materiais a empresa
dispõe de quatro microcomputadores, uma
21
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
impressora do tipo laser e três a jato de tinta,
uma impressora offset (adast), uma
impressora tipográfica (multilite), e uma
máquina de corte e vinco (cato), uma
guilhotina, uma picotadeira e uma gravadora
de chapa. Os equipamentos disponíveis
atendem às necessidades produtivas da
empresa.
Para a produção, a empresa trabalha
com quatro tipos de papel, são eles: o sulfite
nas gramaturas 56 a 180 gramas, o couchê
nas gramaturas 90 a 250 gramas, a cartolina
nas gramaturas 120 a 180 gramas e o papel
adesivo, além de fazer também serviço
apenas de arte, nos quais as impressões são
terceirizadas, tais como montagem de
carimbos, tapetes, lonas e banners, etc.
A gráfica oferece serviço de
impressões e serviço de montagem de arte.
Nos anos de 2010 a 2012 o serviço de
impressões liderou com 96,6%, conforme
mostrado na figura 8, e o serviço de
montagem da arte representou 3,4% do total
dos serviços prestados.
Com a análise dos dados, concluiu-se
que em relação ao número de impressões, o
papel sulfite foi o mais utilizado na produção
dos anos de 2010, 2011 e 2012, conforme
mostra na figura 10.
Figura 8: Tipos de serviço prestados pela
gráfica nos anos de 2010, 2011 e 2012
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
Na figura 9 é apresentado, conforme
dados da empresa, os tipos de impressões
mais vendidos dos anos de 2010 a 2012,
sendo: rótulos de queijos e salames, cautelas
de rifas, notas fiscais, controles de
mercadorias, adesivos, vale bebidas,
etiquetas de cucas, pães, bolos e bolachas,
blocos de pedidos, tagues de colares e
brincos e receituários, para postos de saúde,
hospitais e clínicas particulares.
Figura 10: Impressões por tipo de papel.
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
Nota-se, na figura 10, que o papel
sulfite destaca-se com 5.676.731 de
impressões, seguindo do papel adesivo com
1.221.933 de impressões, após 586.854 de
impressões realizadas em papel couchê e,
por fim, 415.010 impressões em cartolina.
Na figura 11 percebe-se que a
utilização de papel sulfite, apesar de ser o
mais utilizado na gráfica, apresentou um
declínio em número de impressões. Já a
produção de impressões em papel adesivo
apresentou um aumento do ano de 2010 para
2011. O mesmo acontece com a utilização de
cartolina. O uso de papel couchê apresentouse constante ao longo dos três anos.
Figura 9: Principais produtos de 2010, 2011 e
2012.
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
22
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Para o estudo da capacidade
produtiva da empresa, a etapa inicial foi
levantar a quantidade de horas trabalhadas
por máquina por semana. Foi observado que
os colaboradores trabalham 44 horas por
semana, não incluindo os períodos de horas
extras.
Os tempos foram cronometrados em
dias diferentes da semana, alguns com maior
demanda de serviço, outros com menor
demanda de serviço. Os dados
correspondem a um período de dez dias. A
figura 13 mostra em média quanto tempo
cada máquina trabalhou, esteve sendo
preparada e esteve ociosa no período de um
dia de trabalho.
Figura 12: Média de horas extras por
máquina/mês.
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
Para saber se estas horas extras são
realmente necessárias, precisa se saber a
capacidade produtiva da gráfica.
Média de tempo
de SETUP da
máquina (horas)
02:44
03:33
01:50
Média de tempo
ocioso (horas)
TOTAL (horas)
ADAST
MULTILITH
CATO
Média de tempo
trabalhado por
dia (horas)
03:04
03:01
03:18
03:00
02:14
03:40
08:48
08:48
08:48
TOTAL
09:23
08:07
08:54
26:24
Máquina
Figura 13: Médias dos tempos das máquinas.
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
A figura 14 apresenta o percentual em que cada uma das três máquinas analisadas
esteve trabalhando e esteve ociosa.
Máquina
Tempo
disponível por
dia de trabalho
(h)
Média de tempo Média de tempo Média de tempo
trabalhado por
de SET UP da
ocioso (%)
TOTAL
dia (%)
máquina (%)
(%)
ADAST
08:48
35
31
34
100
MULTILITH
08:48
34
40
26
100
CATO
08:48
37
21
42
100
Figura 14: Análise do percentual dos tempos de cada máquina.
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
gráfica.
Pode-se perceber, através da figura
14, que todas as máquinas têm percentuais
muito altos de set up, recebendo destaque a
máquina Multilith com 40%. Considera-se,
também, que o tempo trabalhado e o tempo
de set up são tempos produtivos e o tempo
ocioso é ineficiência.
A figura 15 mostra, no período de uma
semana, com a análise dos dados coletados
na empresa, os tempos de set up, os tempos
de ausência de funcionários e de
funcionários com desvio de função e o tempo
de produção somado, das três máquinas.
Para facilitar o desenvolvimento dos
cálculos, os dados foram classificados em
planejados e não planejados.
Com bases nestes dados, pode-se
fazer o cálculo, tanto da capacidade efetiva,
do volume real de produção, da utilização e
da eficiência do processo produtivo da
23
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Absenteísmo
08:49 h
Não Planejada
Ajustes de Qualidade, Mudança de produtos
40:45 h
Planejada
Funcionário em outra função
34:21 h
Não Planejada
Volume de Produção de dez dias
47:52 h
Figura 15: Soma dos tempos das três máquinas.
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
Como a gráfica trabalha 44 horas semanais e foram três máquinas estudadas, sua
capacidade de projeto é de 132 horas semanais, conforme mostrado na figura 16.
Capacidade do projeto
132:00 h
Capacidade Efetiva
91:15 h
Volume de Produção Real
48:05 h
Utilização
36 %
Eficiência
52 %
Figura 16: Capacidade do projeto, Capacidade Efetiva, Volume Real de Produção,
Utilização e Eficiência da indústria gráfica.
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
Para o cálculo da capacidade efetiva,
subtraiu-se da capacidade do projeto, as
paradas de produção planejadas, conforme
Slack et all (1997). Portanto, a capacidade
efetiva da gráfica é de 91:15 horas semanais,
como mostra a figura 17.
Utilização = 47:52 = 0,36
132:00 0000000
Figura 19: Utilização da capacidade da
gráfica.
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
Capacidade efetiva = 132:00 - 40:45 = 91:15
Para calcular a eficiência do processo,
dividiu-se o volume de produção real
encontrado pela capacidade efetiva da
empresa anteriormente calculada, como
mostra a figura 20.
Figura 17: Capacidade efetiva da gráfica.
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
Já o volume de produção real foi
calculado subtraindo da capacidade do
projeto, todos os tempos em que as
máquinas estiveram paradas. Conforme
demonstrado na figura 18.
Eficiência =
48:05 = 0,52
91:15 000000
Figura 20: Eficiência do processo.
Volume de produção real = 132:00 – 40:45 – 08:49 – 34:21 = 48:05
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
Figura 18: Volume real de produção da
gráfica.
Como pode ser observado através
dos cálculos, que a indústria gráfica
apresenta utilização e eficiência da produção
muito baixas, isso significa que a empresa
usa apenas 52% de sua capacidade total.
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
A figura 19 apresenta o cálculo de
utilização da capacidade da gráfica, no qual o
volume de produção real foi dividido pela
capacidade do projeto.
A figura 21 apresenta, conforme
24
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
máquina é capaz de imprimir por hora, por
dia, por semana, por mês e por ano.
dados fornecidos pela empresa, as
quantidades médias de impressões que cada
MÁQUINA
IMPRESSÕES
POR HORA
IMPRESSÕES
POR DIA
IMPRESSÕES
POR SEMANA
IMPRESSÕES
POR MÊS
IMPRESSÕE
S POR ANO
ADAST
3.000
26.400
132.000
580.800
6.388.800
MULTILITH
2.000
17.600
88.000
387.200
4.259.200
CATO
2.500
22.000
110.000
484.000
5.324.000
Figura 21: Número de impressões de cada máquina.
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
nos anos de 2010 a 2012, apresentados na
figura 11. Essa comparação é visualizada na
figura 24.
Considerando que a soma das
impressões por ano, das três máquinas, da
figura 21, seja a capacidade produtiva com
100% de eficiência, comparou-se com a
soma das impressões por tipos de papéis
realizados nos anos de 2010 a 2012,
apresentados na figura 11. Essa comparação
é visualizada na figura 22.
Figura 24: Capacidade produtiva
considerando 52% de eficiência.
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
Figura 22: Capacidade produtiva
considerando 100% de eficiência.
Nota-se, na figura 24, que mesmo com
eficiência de apenas 52%, seu volume de
produção ainda é muito baixo. A
representatividade em taxa de utilização da
capacidade é de 35%, 35% e 25% para os
anos de 2010, 2011 e 2012, respectivamente.
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
Porém, como o cálculo realizado
apontou que a gráfica possui apenas 52% de
eficiência, multiplicou-se a soma das
impressões por ano, das três máquinas da
figura 21, pela eficiência, para encontrar o
total de impressões possíveis de produzir.
Conforme pode ser visualizado na figura 23,
abaixo.
A figura 25 compara a capacidade
produtiva ociosa em relação ao número de
impressões.
Eficiência Impressões
100%
15.972.000
52%
8.305.440
Figura 23: Impressões conforme eficiência
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
Após a mensuração da quantidade de
impressões de acordo com 52% de
eficiência, comparou-se com a soma das
impressões por tipos de papéis produzidos
Figura 25: Capacidade ociosa em relação ao
número de impressões.
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
25
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Pode ser observado na figura 25 que a
capacidade ociosa é bastante alta, mesmo
com eficiência de apenas 52%.
três últimos anos, está em torno dos 65%,
como pode ser visto na figura 26.
Com base nos dados do volume de
produção e do faturamento anual, mostrados
anteriormente, pode-se dimensionar o
faturamento da empresa se utilizasse a
capacidade disponível atualmente. A figura
27 demonstra qual seria o faturamento da
empresa utilizando sua eficiência atual.
A figura 26 apresenta o percentual
produtivo ocioso da empresa, em relação a
eficiência real de 52%.
Figura 26: Percentual de capacidade
produtiva ociosa.
Figura 27: Estimativa de faturamento com
utilização de 52% de eficiência.
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
A capacidade ociosa da gráfica, nos
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
Se a empresa utilizasse a capacidade disponível de 52%, seu faturamento anual seria
duas vezes maior que o faturamento atual.
Com estes dados analisados, pode-se calcular o plano de vendas e operações do S&OP.
O plano de S&OP, conforme mostrado na figura 28, é o planejamento de longo prazo da
empresa e foi elaborado com base nas médias das produções mensais de cada um dos três
anos.
Vendas
Estoque
Produção
Jan.
284849
0
284849
Fev.
324723
0
324723
Plano de vendas e operações S&OP da empresa
Mar.
Abr.
Mai.
Jun.
Jul.
Ago.
Set.
347813 205750 323258 198332 292756 369397 165421
0
0
0
0
0
0
0
347813 205750 323258 198332 292756 369397 165421
Out.
167727
0
167727
Nov.
190732
0
190732
Dez.
140538
0
140538
Figura 28: Plano de vendas e operações da empresa.
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
Conforme demonstrado no Plano de vendas e operações, a produção será a mesma que
a demanda, já que os produtos são sob encomenda e não é possível que se tenha estoque.
Para analisar se as horas extras são necessárias, devemos fazer o cálculo de
capacidade de longo prazo para os produtos da empresa, conforme demonstrado na figura 29.
Percentual de utilização da capacidade da empresa
% de
utilização
Jan.
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
42%
48%
51%
30%
47%
29%
43%
54%
24%
25%
28%
21%
Figura 29: Percentual de utilização da capacidade da empresa.
Fonte: Scheid; Taborda, (2012)
Pode ser observado na figura 29, que a utilização da capacidade da empresa está
abaixo da disponível, utilizando em média 36% de sua capacidade. Portanto, não se faz
necessário o ajuste do planejamento de S&OP e nem o uso de horas extras.
26
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
CONCLUSÃO
LIMA, R.; NAVARRO, J. Planejamento de
Vendas e Operações (S&OP): um estudo
de caso em uma empresa da indústria de
telecomunicações. XXVI ENEGEP 2006.
D i s p o n í v e l
e m
http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGE
P2006_TR530354_7746.pdf Acesso em 4 de
outubro de 2012.
O estudo teve como intuito contribuir
com o processo de planejamento da
capacidade a longo prazo da Gráfica Buricá,
apresentando o estudo de sua capacidade e
análise do planejamento de vendas e
operações S&OP.
Os resultados demonstraram que as
horas extras não são necessárias para o
atendimento da demanda.
MARTINS, Petrônio G.; LAUGENI, Fernando
Piero. Administração da Produção. 2. Ed.
Editora Saraiva, 2005.
A taxa de eficiência da gráfica é de
52%. Porém, por se tratar de uma indústria
gráfica, em que os tempos de set up são
elevados, essa taxa não é considerada baixa,
mas pode ser melhorada possibilitando que
novos estudos sejam desenvolvidos nesta
área.
_____. Administração da Produção.
Editora Atlas. São Paulo, 1996.
REFERÊNCIAS
_____. Administração da Produção.
Editora Atlas. São Paulo, 2009.
SLACK, Nigel et al. Administração da
Produção. Edição Compacta. Editora Atlas.
São Paulo, 1999.
ANDRADE, M. M.; Introdução à metodologia
do trabalho científico: elaboração de trabalho
na Graduação. Editora Atlas. 2 ed. São Paulo,
1995.
ZUCATTO, Luís Carlos. Análise Comparativa
entre Abordagens da Inovação Disruptiva e a
Estratégia do Oceano Azul. Revista
SETREM, Três de Maio: p. 10-20, Editora
SETREM, 2008.
BALZ, Carine Linéia. Análise da Aplicação do
Planejamento e Controle da Produção (PCP)
em uma empresa de gestão por projetos.
Três de Maio, 2008.
CORRÊA, Henrique L. et al. Planejamento,
Programação e Controle da Produção.
Editora Atlas. São Paulo, 2006.
_____. Planejamento, Programação e
Controle da Produção: MRP II/ERP:
conceitos, uso e implantação: base para SAP,
Oracle Applications e outros softwares
integrados de gestão. 5 ed. 5 reimp. São
Paulo: Atlas, 2011.
DAVIS, Mark M.; AQUILANO, Nicholas J.;
CHASE, Richard B. Fundamentos da
Administração da Produção. 3. Ed. Editora
Bookman, 2001.
GÜLLICH, R. I. C. EVANGELISTA, M. L. S.
LOVATO, A. Metodologia da Pesquisa –
Normas para apresentação de trabalhos:
Redação, Formatação e Editoração. Três de
Maio. Editora SETREM, 2005.
L A K AT O S , E . V. ; M A R C O N I , M . A .
Metodologia do Trabalho Científico. 4 ed.
Editora Atlas. São Paulo, 1992.
27
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
APLICAÇÃO DAS MELHORES PRÁTICAS DO ITIL PARA PROCESSO DE
GESTÃO DE FORNECEDORES EM UMA COOPERATIVA DO AGRONEGÓCIO
Denise da Luz Siqueira1
Diego da Rosa2
Ms. Vera Lúcia Lorenset Benedetti 3
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM 4
RESUMO
ABSTRACT
Considerando o atual contexto de
terceirização dos recursos de tecnologia da
informação nas organizações, a adoção de
processos para gestão de fornecedores
passou a ser uma alternativa para solucionar
problemas de indisponibilidade dos serviços
providos por terceiros. Desta forma, o
presente estudo propõe realizar o
levantamento e mapeamento dos processos
atuais no que se refere à gestão de
fornecedores, na assessoria de TI de uma
Cooperativa Agropecuária. O estudo também
propõe a reorganização dos processos para o
gerenciamento de fornecedores, utilizando
como base as melhores práticas do ITIL. A
ITIL é uma biblioteca de boas práticas para o
gerenciamento de serviços de TI, utilizada
amplamente pelas organizações para
gerenciamento de serviços e organização de
processos da TI. Durante o desenvolvimento
do estudo modelaram-se os processos
necessários para a gestão de fornecedores,
focando na aquisição e seleção, sendo
também elaborados diversos modelos de
documentos necessários para dar aporte aos
processos. Assim, o processo de
gerenciamento de fornecedores visa
assegurar que estes e seus serviços sejam
gerenciados de forma a suportar as metas
dos serviços de TI e nível de serviço exigido
pelo negócio. Como resultado do estudo,
tem-se a modelagem e documentação dos
processos, os modelos dos documentos e a
elaboração do plano de projeto para a
implantação dos processos na Cooperativa,
os quais irão garantir maior qualidade dos
serviços contratados, bem como o
alinhamento deste com os objetivos de
negócio da empresa.
Considering the current context of outsourcing
of information technology resources in
organizations, the adoption process for
supplier management has become an
alternative to solve problems of unavailability
of services provided by third parties. Thus, the
present study proposes to conduct the survey
and mapping of current processes in relation
to the management of suppliers, in an IT
consultancy Agriculture Cooperative. ITIL is a
library of best practices for managing IT
services, used widely by organizations to
service management and organization of IT
processes. During the development of the
study the processes required to manage
suppliers were modeled, focusing on the
acquisition and selection, also being
developed various models of documents
necessary to give input to the process. Thus,
the management process is to ensure that
these providers and their services are
managed in order to support the goals of IT
services and level of service required by the
business. As a result of the study, it has been
the modeling and documentation of
processes, templates of documents, and
preparing the project plan for the
implementation of the processes in the
Cooperative, which will ensure higher quality
of contracted services, as well as the
alignment with this business goals of the
company.
Keywords: Agricultural cooperative. ITIL.
Suppliers, IT services.
Palavras-chave: Cooperativa agropecuária.
ITIL. Gestão de fornecedores.
1
Especialista em Governança e Melhores Práticas em TI pela Faculdade Três de Maio – SETREM, email: [email protected]
2
Especialista em Governança e Melhores Práticas em TI pela Faculdade Três de Maio – SETREM, email: [email protected]
3
Professor(a) Orientador(a) da Monografia – Curso Pós-graduação Governança e Melhores Práticas
em TI da Faculdade Três de Maio - SETREM, e-mail: [email protected]
4
Sociedade Educacional Três de Maio – Av. Santa Rosa, 2504, Três de Maio – RS.
[email protected]
28
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
2 MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA
A metodologia, de acordo com Marconi
e Lakatos (2006), é a definição de métodos, ou
“caminhos pelos quais se chega a um
determinado resultado, selecionando técnicas
e avaliando alternativas científicas”
(HEGENBERG, 1976 apud MARCONI e
LAKATOS, 2006, p. 44). Portanto, a
metodologia da pesquisa estuda os métodos
de abordagem, os procedimentos e as
técnicas a serem utilizadas para o
desenvolvimento de uma pesquisa científica.
Para Marconi e Lakatos (2007), os
métodos de abordagem tratam do caminho a
ser percorrido desde a formulação do
problema, até a comprovação das hipóteses,
ou seja, raciocínio e procedimentos que
norteiam o desenvolvimento das etapas da
pesquisa. Para o desenvolvimento da
presente pesquisa utilizou-se a abordagem
dedutiva, definida por Mattar (2008) como um
processo de raciocínio, que se constitui do
encadeamento de duas ou mais premissas
que geram uma conclusão. Ainda, para
Marconi e Lakatos (2007), o método dedutivo
parte da compreensão de um todo para
alcançar um objetivo específico; sendo assim,
o presente estudo parte da confirmação das
premissas iniciais para dar respostas ao
problema de pesquisa.
De acordo com Marconi e Lakatos
(2006) os procedimentos dizem respeito às
etapas de investigação, explicando
fenômenos menos abstratos. Para o presente
estudo foram utilizados os seguintes
procedimentos: estudo de caso e pesquisa
descritiva.
O estudo de caso tem por objetivo obter
um conhecimento profundo e exaustivo de
uma realidade delimitada, de acordo com
Güillich, Lovato e Evangelista (2007). Para o
presente estudo, utilizou-se o estudo de caso
para conhecer detalhadamente os processos
de gestão de fornecedores em uma
Cooperativa do Agronegócio. O procedimento
de pesquisa descritiva, segundo Marconi e
Lakatos (2006), é utilizado para descrever
características de uma determinada
população, fenômeno ou relação entre
variáveis. No presente estudo, a pesquisa
descritiva foi utilizada para descrição e
elaboração dos processos conforme os
objetivos inicialmente propostos.
Para Marconi e Lakatos (2007) as
1 INTRODUÇÃO
A partir da década de 90, com os
avanços tecnológicos e o surgimento da
Internet, romperam-se as fronteiras do
ambiente coorporativo. As informações
passaram a ser compartilhadas interligando
diretamente, fornecedores e clientes. De
acordo com Turban (2010), as organizações
passaram a buscar os recursos de Tecnologia
da Informação (TI), visando suportar os seus
objetivos de negócio. Com isto, estes
recursos passaram a ser providos na
modalidade de serviço. Na contramão deste
crescimento, pesquisas realizadas com
executivos pela Bridge Consulting em 2011,
indicam que a qualidade dos serviços
entregues pela área de TI estão abaixo das
expectativas estratégicas de negócio das
empresas.
Assim, a adoção de processos de
gestão de fornecedores e acordos de níveis
de serviço pela TI passam a ser vistos como
uma alternativa para solucionar problemas de
indisponibilidade dos serviços providos
internamente e/ou por terceiros. As boas
práticas de Governança e Gestão de TI
apresentam diretrizes para que as
organizações implementem em seus
departamentos de TI estes processos de
gestão. Diante deste contexto, o ITIL
apresenta-se como padrão para o
Gerenciamento de Serviços de TI, o qual tem
como objetivo, prover recomendações para o
planejamento, implementação,
gerenciamento, controle e melhoria dos
processos e serviços de TI. Porém, este
gerenciamento eficiente não significa ser
complexo, com uma infinidade de parâmetros
a serem acompanhados. Para se ter um
gerenciamento eficiente é necessário que o
processo seja simples e os parâmetros sejam
de pleno conhecimento por todos os
envolvidos, evitando, assim, conflitos
contratuais entre usuários e provedores de
serviços.
Desta forma, o presente estudo propõe
realizar o levantamento e mapeamento dos
processos atuais no que se refere à gestão de
fornecedores na assessoria de TI de uma
Cooperativa Agropecuária como, também,
propõe a reorganização e/ou criação de
novos processos para o controle de
fornecedores.
29
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
técnicas são um conjunto de processos
utilizados para alcançar os propósitos da
pesquisa, ou seja, representa a parte prática
de coleta dos dados para a pesquisa. Desta
forma, para o desenvolvimento do presente
estudo foram utilizadas as seguintes técnicas:
observação e revisão bibliográfica. A
observação consiste na utilização de sentidos
para a observação de aspectos da realidade,
utilizando-se para levantar a situação atual
dos processos de gestão de fornecedores, no
presente estudo. A revisão bibliográfica se
refere à consulta de livros, de artigos, de
periódicos e de outros, para elaboração do
embasamento teórico do trabalho.
usuários remotos. Assim, para Magalhães e
Pinheiro (2007), a importância da TI para a
execução das estratégias de negócio faz com
que ela seja vista como uma parte da
organização, tendo suas estratégias
interligadas com o negócio da organização,
de forma que tudo o que for feito em termos
de TI possa ser demonstrado na forma de
obtenção de valor para a organização.
Desta forma, a utilização da TI pelas
organizações independe do seu porte ou
ramo de negócio e torna-se dia a dia não só
mais um fator estratégico, mas sim, um fator
de sobrevivência em um mercado cada vez
mais competitivo. Por isso as empresas cada
vez mais estão buscando as funcionalidades
da tecnologia da informação para suportar os
seus objetivos de negócio. Assim, no modelo
atual, a TI é fornecida para as organizações
na forma de serviços de TI.
3.1.1 Serviços de TI
Freitas (2010) diz que serviços são
compostos de uma solicitação, um conjunto
de atividades a serem realizadas e de um
resultado ou entrega para o solicitante do
serviço. Já Crown (2007) define serviços de
TI como “um serviço provido para um ou mais
clientes por um provedor”. Sendo este
baseado no uso da tecnologia da Informação
e oferece apoio aos processos de negócio
dos clientes. Um serviço de TI é composto
pela combinação de pessoas, processos e
tecnologias que devem ser definidas por
meio de um acordo de nível de serviço.
As organizações dependem dos
serviços de TI e esperam que estes não
apenas os auxiliem como também
apresentem novas opções para implementar
os seus objetivos. Além disso, as
expectativas elevadas dos clientes dos
serviços de TI tendem a mudar
significativamente com o tempo e exigem
revisões constantes. Os provedores de
serviços de TI não podem mais apenas
concentrar-se nas questões tecnológicas e
na sua organização interna, devem
considerar a qualidade dos serviços e se
concentrar na relação com os clientes, cita
Freitas (2010). Para tanto, passam a adotar
práticas de Governança de TI, visando fazer
o gerenciamento dos serviços, as quais
fornecem recomendações práticas para
atender aos requisitos de qualidade dos
serviços.
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 As Organizações e a Tecnologia da
Informação
Mansur (2007) define a Tecnologia da
Informação como um conjunto de sistemas,
software e equipamentos de computadores,
hardware, incluindo a rede de comunicação
interna ou externa da organização que pode
ou não se utilizar da transmissão de dados.
Sendo que eventualmente esta rede pode
estar ligada aos fornecedores.
Segundo Turban (2010), durante
algum tempo a tecnologia da informação foi
considerada apenas como um item de
suporte e automatização de tarefas e que não
geravam retorno para o negócio. Aos poucos,
as aplicações começaram a crescer e agregar
valor aos processos organizacionais. Assim,
ao passo em que estas transformações
aconteceram, a TI passou a assumir um papel
mais importante dentro das organizações,
como fator de crescimento e de agregação de
valor ao negócio. Assim, frente a um cenário
cada vez mais competitivo, a informação
ganha valor nas estratégias das
organizações, pois estas necessitam de
diferenciais que as auxiliem a conquistar
mercado, ganhar vantagem e agregar valor.
Isto pode ser obtido através de serviços de TI
eficientes.
Segundo Freitas (2010), a partir da
década de 90, com o avanço das tecnologias
e surgimento da Internet, as informações
passaram a ser compartilhadas rompendo as
fronteiras do ambiente da empresa,
interligando fornecedores e clientes,
permitindo o acesso aos sistemas por
30
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
3.2 Information Technology
Infrastructure Library - ITIL
Com a alta competitividade dos
mercados e as constantes mudanças, é
necessário que as empresas estejam
preparadas, que tenham flexibilidade e
agilidade para reagir rapidamente frente às
mudanças, falhas e imprevistos que podem
surgir, assim como estar preparada para se
antecipar a eles. O desafio de gerenciar a TI,
que há muito era apenas de interesse da
comunidade de TI, recentemente tornou-se
preocupação da alta direção das
organizações. O alinhamento estratégico da
TI com o negócio agora está realçado, bem
como as abordagens relacionadas ao
gerenciamento dos serviços de TI.
Segundo Magalhães e Pinheiro
(2007), as questões relacionadas ao
gerenciamento dos serviços de TI, que
buscam esse alinhamento dinâmico da TI
com o negócio, receberam um reforço
substancial com o estabelecimento do ITIL,
um conjunto das melhores práticas para o
gerenciamento da TI.
O ITIL - Information Technology
Infrastructure Library, é uma biblioteca de
melhores práticas para a gestão de TI, criada
no final da década de 80 pela CCTA – Central
Computer and Telecomunications Agency do
governo britânico, atual OGC – Office for
Government Commerce. Como uma forma
que o governo encontrou para disciplinar e
permitir a comparação entre os que se
candidatavam à prestação de serviços de TI
para o mesmo, objetivando manter o mínimo
de padronização nos atendimentos em
termos de processo, desempenho, qualidade
e custo.
Segundo Magalhães e Pinheiro (2007)
e Freitas (2010), a ITIL é um conjunto de
melhores práticas para o gerenciamento de
serviços de TI e fornece orientações para a
área de TI baseando-se em um ambiente de
qualidade, visando à melhoria contínua,
envolvendo pessoas, processos e
tecnologias, ou seja, ele oferece diretrizes
para fazer a gestão, diz o que fazer, mas não
como fazer. Tem como foco principal, a
operação e a gestão da infraestrutura de
tecnologia nas organizações, incluindo todos
os aspectos que são importantes para o
fornecimento dos serviços de TI.
infraestrutura de TI. O ITIL descreve
os processos que são necessários
para dar suporte à utilização e ao
gerenciamento da infraestrutura de TI.
Outro princípio fundamental do ITIL é
o fornecimento de qualidade de
serviço aos clientes de TI com custos
justificáveis, isto é, relacionar os
custos dos serviços de tecnologia e
como estes trazem valor estratégico
ao negócio (FREITAS, 2010, p. 16).
Para OGC (2007), o ITIL descreve a
base para a organização dos processos da
área de TI, visando uma orientação para a
gestão da TI, sendo que as diversas práticas
reunidas no ITIL descrevem os objetivos,
atividades gerais e os pré-requisitos
esperados para os resultados dos diversos
processos.
A ITIL não define os processos a
serem implementados na área de TI,
mas sim, demonstra as melhores
práticas que podem ser utilizadas para
esta definição. Tais práticas, por sua
vez, podem ser adotadas de modo que
melhor puder atender às
necessidades de cada organização
(MAGALHÂES, PINHEIRO, 2007,
p.65).
Segundo Magalhães e Pinheiro (2007)
o ITIL, tem seus processos e atividades
executadas pelas diferentes funções da área
de TI. O modelo de referência dos processos
do ITIL em sua versão 3, estão dispostos em
três áreas: a de projeto de serviço, a de
transição de serviço e a de operação de
serviço, bem como uma função principal.
Assim, para o contexto de
desenvolvimento do presente trabalho dentro
das melhores práticas do ITIL, serão
abordados os processos de gestão de
fornecedores, o qual propõe diretrizes para
que as organizações adaptem a sua
realidade e aplique no seu processo para
fazer a gestão de seus fornecedores.
3.2.1 Gerenciamento de Fornecedores
Freitas (2010) define fornecedores
dentro do contexto da TI como um provedor
de serviços externos, responsável por
fornecer os serviços de apoio que sejam
necessários para a entrega dos serviços ou
os serviços completos. Pelo fato de cada vez
mais as empresas estão optando por
terceirizar serviços de TI que suportam o
negócio. Desta forma, o ciclo de desenho de
serviço prevê um processo de gerenciamento
de fornecedores para garantir que as
atividades entregues pelos fornecedores
O princípio básico do ITIL e o objeto
de seu gerenciamento: é a
31
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Na gestão tradicional as atividades são
classificadas por departamentos, conforme as
funções das pessoas. Baldam (2007), afirma
que a visão por processo procura entender “o
que precisa ser feito e como fazê-lo”, e nela as
tarefas não são definidas exclusivamente em
função dos departamentos da organização.
Assim, analisar um processo é examinar cada
parte da organização, visando conhecer seus
objetivos, funções, atividades, fluxo de
informações e relação com os demais
processos existentes.
Segundo Freitas (2010), existem várias
formas de desenho e modelagem de
processos que podem ser utilizadas. Ao
padrão de desenho e modelagem é atribuído
o nome de padrão de notação de processos.
Atualmente a notação mais utilizada é o
BPMN. A notação, o sistema de desenho e
publicação de processos e o formato de
documentação são fatores fundamentais para
um gerenciamento de processos efetivo, mas
o mais importante é que os processos existam
e sejam seguidos por todos os envolvidos.
O BPM (Business Process
Management), de acordo com Baldam (2007),
é uma metodologia para o desenho e melhoria
de processos, que trabalha fortemente o
aperfeiçoamento dos processos
empresariais. Trata-se do alinhamento dos
objetivos estratégicos da organização,
projetando e implementando arquiteturas de
processos, estabelecendo sistemas de
medidas dos processos que alinham com os
objetivos da organização, e educar e
organizar os administradores para que
p o s s a m a d m i n i s t r a r e fe t i v a m e n t e o s
processos.
Entende-se, desta forma, que a
abordagem conceitual dos temas
anteriormente discutidos representa a base
para o entendimento e formulação do estudo
que se propõe a realizar. Sendo assim, na
próxima seção serão aplicados os conceitos
aqui descritos de acordo com as
necessidades da organização, a Cooperativa
Agropecuária.
atendam às expectativas do negócio e
agregue valor requerido aos serviços, cita
Magalhães e Pinheiro (2007).
Segundo as definições de Freitas
(2010) e Magalhães e Pinheiro (2007) o
processo de gerenciamento de fornecedores
tem como objetivo gerenciar os contratos dos
fornecedores e os serviços entregues por
eles, visando suportar e garantir que as
metas em relação à qualidade e o valor
esperado pelo negócio em dos serviços
entregues sejam cumpridas.
Para tanto, é necessário que seja
definido um Banco de Dados de Contratos, o
qual é um repositório central onde ficam os
cadastros dos fornecedores bem como os
contratos relacionados. Desta forma, cada
fornecedor tem um tratamento diferenciado
conforme sua importância para o negócio da
organização. Neste processo também é
definido o papel de Gerente de Fornecedor, o
qual será responsável por todas as tarefas
descritas, catalogando, mantendo,
avaliando, comunicando e negociando os
contratos com fornecedores. Isto posto, os
fornecedores devem ser vistos como
parceiros para agregar valor ao negócio. Os
serviços entregues necessitam estar sempre
alinhados ao negócio da empresa e estarem
de acordo com os SLA's definidos nos
contratos.
3.3 Processos
Harrington (1993) define processo
como qualquer atividade que recebe uma
entrada, agrega um valor e gera uma saída
para um cliente interno ou externo. Os
processos fazem o uso de recursos
organizacionais para gerar resultados. Eles
podem ser classificados como empresariais
ou produtivos. Um processo é produtivo
quando há um contato direto com o produto
ou serviço que será oferecido ao cliente. Por
outro lado, um processo é considerado
empresarial quando, além de contemplar as
etapas do processo produtivo, também
existem etapas de apoio a estas atividades.
Para Freitas (2010), um processo é um
conjunto de atividades que são realizadas
para atingir um resultado desejável. Os
resultados dos processos são denominados
“produtos” ou “entregáveis”. Dentro de um
processo são relacionadas sequências de
atividades que devem ser realizadas para
gerar os entregáveis do processo.
4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
4.1 Levantamento da Situação Atual
O departamento de TI dentro da
Cooperativa é de responsabilidade da
assessoria de TI, ligada diretamente à
diretoria, e tem como finalidade atuar
32
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
estrategicamente, dando apoio às iniciativas
da diretoria. Funcionalmente a TI está
organizada com Analistas, Técnicos e
terceirização parcial. As equipes internas
trabalham com suporte inicial aos usuários e
com os serviços providos internamente.
Atividades complexas e técnicas são
desempenhadas por equipes especializadas
através de contratos de prestação de serviço.
As atividades são desenvolvidas por três
equipes principais, as quais estão
organizadas para as operações de TI da
cooperativa: Infraestrutura e
Telecomunicações, Sistemas de Informação
e Gestão e Prospecção.
Atualmente, a Cooperativa não dispõe
de um catálogo de serviços formalizado,
sabe-se através dos profissionais de
Te c n o l o g i a d a I n f o r m a ç ã o q u a i s o s
fornecedores e os serviços prestados por
estes. Os serviços atualmente prestados são
relacionados em uma planilha eletrônica que
informa uma descrição em âmbito geral e
também o fornecedor responsável, bem
como seu contato para suporte e negociação.
Complementado o catálogo de serviços, o
departamento organizou em forma de
hierarquia (em forma de organograma) um
conjunto de serviços imprescindíveis para a
operação da TI, os quais são necessários
para atender as necessidades da
Cooperativa. Esta hierarquia classifica os
serviços de acordo com a sua finalidade ou
objetivo; sendo assim, classificados em dois
pilares, Infraestrutura e Sistemas.
Os serviços de infraestrutura são
aqueles necessários para suportar a
operação dos sistemas de informação.
Consistem em recursos tecnológicos
relacionados a hardware e a redes. Os
serviços de infraestrutura se classificam em:
Infraestrutura Básica, Telecomunicações
Wireless, Equipamentos e Software,
Telecomunicações e Segurança, Aplicações
e Banco de Dados. Já os serviços de
Sistemas de Informações compõem os
serviços de software necessários para
realizar a integração dos processos
empresariais, através de sistemas de ERP e
Business Intelligence. Neste âmbito
destacam-se os sistemas: contábil,
financeiro e fiscal, frente de caixa, gestão de
pessoas e módulo para gestão do
recebimento agrícola.
Neste aspecto, é importante ressaltar
que os serviços de sistemas de informação
motivam a necessidade de serviços de
infraestrutura, os quais devem ser planejados
e prestados visando a correta e eficaz
operação dos sistemas de informação. A
forma como o departamento organiza os
serviços possui inúmeras limitações, que
para os objetivos podem tornar a prestação
de serviços ineficaz. Neste aspecto, pode-se
destacar:
- O escopo dos serviços não está
definido, há apenas uma listagem
organizada através de relacionamento
por dependência funcional.
- Não está elencado o responsável por
projetar o serviço, bem como o
responsável pela prestação.
- Não há uma especificação da
importância destes serviços em
relação às estratégias e processos de
negócios da cooperativa, sendo que
este aspecto não é frisado pela ITIL,
mas é de importância para que a
organização possa atingir seus
objetivos e negócios.
Os usuários enxergam a TI como uma
caixa preta, ou seja, um departamento que
provê serviços de informática e sistemas
informatizados, mas não conseguem definir
claramente a totalização dos serviços
prestados. Esta abordagem oferece diversos
riscos operacionais, pois geralmente o
usuário não tem certeza dos custos que
envolvem determinado serviço, bem como a
contribuição destes serviços para o resultado
final dos processos e estratégias de negócio,
ou seja, a comparação custo-benefício
destes. A divulgação dos serviços esclarece
ao usuário quais os recursos que estão
disponíveis para utilização, bem como seu
acordo de nível de serviço, o que garante ao
usuário o tempo de resposta a incidentes,
bem como os recursos regulamentares
aplicados em caso de atraso.
A seguir, descrevem-se os processos
em seu estado atual na Cooperativa, o As Is,
conforme é denominado pelo BPM (Business
Process Management), onde são descritos
os processos de requisição de serviço e
aquisição (fornecedores).
4.1.2 Requisição de Serviços (Central de
Serviços)
A TI provê vários serviços aos seus
usuários; para tanto, é necessário oferecer
33
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
serviços de TI a especialidade. Sendo assim,
contratam-se serviços que dependem de
profissionais com conhecimento muito
específico e dinâmico, que exige
profissionais altamente capacitados,
treinados ou com certificação.
Cabe salientar que o processo de
contratação e gestão se encontra em um
estágio, definido como imaturo. De acordo
com as bibliografias, um processo imaturo é
aquele que não possui os papéis claramente
identificados e as etapas muitas vezes estão
sobrepostas e pouco descritas. Sendo
assim, muitos profissionais desconhecem o
processo de contratação, executando o
mesmo de maneira incorreta e deixando-se
etapas essenciais de fora durante a
execução, ocasionando problemas de
contrato ou inviabilizando a contratação
posteriormente.
De acordo com os profissionais da
Cooperativa, o processo de seleção e
contratação de fornecedores atualmente é
baseado em orçamento de itens de acordo a
experiência do profissional responsável,
aprovação pela gestão de TI, contratação
dos itens mais viáveis ou padronizados e
pagamento do serviço pelo departamento
financeiro após a entrega do mesmo.
Destaca-se que o processo atual não possui
declaração de trabalho, bem como a RFP,
permitindo que o profissional responsável
pela contratação elabore o escopo de acordo
com sua experiência. Esta liberdade de
escolha pode causar inúmeros problemas
contratuais devido à falta de padronização.
O processo inicia com a solicitação de
orçamentos junto a fornecedores potenciais
e compilação dos orçamentos recebidos.
Estes orçamentos são submetidos à
avaliação pela gestão da assessoria de TI,
que dará seu parecer. O parecer geralmente
é focado em custos; no entanto, em alguns
casos é optado de acordo com o padrão e
produtos e serviços em uso pela
Cooperativa. Para compra de produtos é
realizado o pedido, caso o parecer da gestão
de TI seja favorável. A partir desta, aguardase a entrega dos itens no endereço
especificado. Para contratação de serviços,
bem como para compra de produtos, é
realizado um parecer técnico no ato da
entrega do produto ou durante a prestação
do serviço. Após o parecer técnico é
comunicado o setor financeiro para proceder
com o pagamento junto ao fornecedor.
uma central de serviços, que possibilite os
usuários realizarem a adesão de serviços
existentes, solicitar novos serviços e solicitar
suporte a incidentes e problemas
relacionados aos serviços contratados. Para
os serviços internos, o atendimento é feito
através de contato telefônico, e-mail ou por
ferramenta de comunicação instantânea
interna, onde é feita a solicitação e a
identificação dos problemas passados pelos
colaboradores. Depois é efetuada abertura
da Requisição, ou seja, um chamado no
Sistema Gerenciador de Serviços – SAGE
GS.
O SAGE GS é um aplicativo para
Gestão e Requisição de Serviços, utilizado
para todo e qualquer serviço dentro da
Cooperativa, não sendo um sistema de Help
Desk específico para a TI. A TI utiliza o
sistema para a abertura de requisições e
Ordens de Serviço, nele os técnicos e
analistas abrem as requisições de serviço e
chamados de problemas que são relatados
pelos usuários.
O momento do contato para o
atendimento já é direcionado para um técnico
específico, sendo estes da área de sistemas
ou da área de infraestrutura. Em casos em
que a requisição depende de um serviço
externo de um terceiro ou fornecedor, o
técnico faz a abertura do chamado junto a
estes e aguardar a solução do problema,
quando da necessidade de contratação ou
compra, deve-se fazer uma cotação, esta
deve passar pela aprovação do gerente da
área para que se possa concluir a requisição.
Depois do atendimento do técnico e da
resolução do problema, é efetuada a baixa da
ordem de serviço mediante comentário da
solução, discriminando os custos caso se
houver deslocamento, troca de uma peça ou
de equipamento, ou custos de terceiros.
4.1.3 Contratação e Gestão de
Fornecedores
Em uma organização que depende da
TI para o desempenho de seus processos de
negócios, é primordial constituir um conjunto
de serviços essenciais. No entanto, em um
cenário de mercado naturalmente
competitivo, é notório que organizações
mantenham o foco em seu core business e
enfatizem a contratação de fornecedores
(terceirização) para prestação de serviços
complementares como a TI. A Cooperativa
tem em sua política de contratação de
34
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
surgem da execução de suas funções nas
operações do dia-a-dia. Tem por objetivo
garantir o atendimento das requisições de
serviço, originadas pelos usuários. As
requisições de serviços podem ser registros
de incidentes ou solicitação de novos
serviços (demandas dos usuários, ou
mesmo do negócio da empresa). Partindo da
requisição do usuário, procura-se, através
de etapas detalhadas, solucionar problemas
reportados pelos usuários ou atender as
novas demandas.
A Figura 2 apresenta graficamente o
novo processo de requisição de serviços.
Sendo este organizado em 3 níveis de
suporte conforme propõem as boas práticas
do ITIL, também foram levados em conta
procedimentos e regras que visam adequar o
processo às políticas da organização, como
foi proposto inicialmente no projeto.
Nos itens apresentados, foram
descritos os diversos aspectos das
configurações atuais dos serviços de TI da
Cooperativa. Os próximos itens
apresentarão as melhorias aplicáveis ao
processo atual visando seu aprimoramento.
4.2 Melhorias Propostas
Diante do cenário encontrado na
Cooperativa, ao fazer o levantamento dos
processos atuais, propôs-se melhorias, as
quais serão apresentadas nos itens a seguir.
4.2.1 Requisição de Serviços (Central de
Serviços)
O processo de requisição de serviços
é responsável por permitir aos usuários
realizarem requisições de serviços, que são
demandados pelas necessidades de negócio
da empresa, ou mesmo necessidades que
Figura 1: Processo de requisição de serviços
35
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
escolha destes fornecedores.
O processo de gestão de fornecedores
foi modelado seguindo as orientações do
ITIL, no que tange as questões relacionadas
à gestão de fornecedores, conforme pode ser
visto na Figura 3, a qual apresenta
graficamente o processo de gestão de
fornecedores. Pelo fato de a Cooperativa não
possuir um sistema para a gestão de
fornecedores, inicialmente sugere-se a
criação de uma estrutura de guarda de
documentos, a qual é apresentada no plano
para implantação dos processos.
4.2.2 Processo de Gestão de Fornecedores
O processo de Gestão de
Fornecedores tem o objetivo de fazer a
gestão dos fornecedores, desde a
manutenção das políticas de seleção,
manutenção da base de dados, realização da
seleção, até a avaliação de desempenho de
fornecedores contratados. Através do
processo busca-se ter controle sobre os
fornecedores com os quais a empresa possui
contratos de serviços, estabelecendo
também um processo mais formal para a
Figura 2: Processo de Gestão de Fornecedores
A partir do processo de Gestão de Fornecedores, tem origem o processo de aquisição, o
qual tem por objetivo a compra de produtos ou a contratação de serviços, visando atender às
demandas e necessidades dos usuários, bem como da empresa no que se refere a
equipamentos ou serviços de TI. Sendo assim através das demandas e solicitações
apresentadas pelos usuários, procura-se executar o processo visando fazer a aquisição de
serviços ou equipamentos para suprir estas demandas apresentadas.
O Quadro 1 apresenta os documentos gerados pelo processo de aquisição, sendo este a
Avaliação da Entrega, o qual tem por objetivo verificar as conformidades dos serviços
entregues.
Nome:
Avaliação da
Entrega
Objetivos:
Atividades Vinculadas:
O objetivo deste documento é avaliar as entregas dos Avaliação do Produto ou
produtos ou serviços contratados, visando qualificá - Serviço
los e verificar as conformidades dos mesmos.
Quadro 1: Documentos do processo de aquisição.
A Figura 4 apresenta o processo de aquisição, o qual tem início no usuário e é dele que
surgem as necessidades de um novo serviço; diante disto, a TI é responsável por analisar esta
necessidade e verificar se é necessário realizar uma aquisição ou se esta necessidade pode ser
atendida internamente.
Figura : Processo de aquisição
36
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Dentro do processo de Aquisição,
quando houver a necessidade de
contratação ou compra, inicia-se o subprocesso de Seleção de Fornecedores,
conforme pode ser visto na Figura 5, a qual
apresenta graficamente o processo de
Aquisição. Após a conclusão do processo de
seleção de fornecedores, antes de seguir o
fluxo normal do processo de aquisição,
resultado do sub-processo de seleção de
fornecedores deve passar pela aprovação
da gerência. Após esta aprovação, faz-se a
comunicação do resultado do processo aos
fornecedores. Neste ponto são originados
dois novos sub-processos: quando a seleção
for para aquisição de equipamentos tem-se o
sub-processo de Compra de Equipamentos;
e quando se tratar de serviços tem-se o subprocesso de Contratação de Serviços.
O sub-processo de Seleção de
Fornecedores faz parte do processo de
Aquisição e tem por objetivo a seleção de
fornecedores para contratação de serviços
ou compra de produtos, através de critérios
de seleção previamente estabelecidos nas
políticas de seleção e contratação.
Utilizando-se do escopo das necessidades
apresentadas pelos usuários, no presente
processo é elaborada através dos templates,
u m a D e c l a r a ç ã o d e Tr a b a l h o e / o u
Especificação Técnica de Equipamentos no
caso de compra destes e de uma RFP, ou
seja, uma requisição de proposta para
apresentar ao mercado, visando contratar
serviços ou adquirir equipamentos de forma a
suprir as demandas e necessidades
apresentadas por estes usuários.
Após a organização e receber as
propostas apresentadas pelos fornecedores,
realiza-se a seleção dos mesmos através de
uma planilha onde são estabelecidos critérios
de seleção, os quais seguem as
especificações e procedimentos
estabelecidos nas políticas de seleção e
contratação de fornecedores apresentados.
O processo de seleção de fornecedores está
representado graficamente na Figura 5,
sendo que este processo foi modelado
seguindo as etapas e referências
estabelecidas pelas boas práticas do ITIL,
bem como feitas adaptações nos
documentos e no próprio processo para que
este esteja de acordo com as políticas da
organização.
Figura 4: Processo de seleção de fornecedores
No Quadro 2 é apresentada um lista da documentação que é gerada pelo processo de
seleção. Neste quadro é apresentado o nome do documento gerado, o objetivo deste
documento e as atividades as quais este documento está vinculado.
37
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Nome:
Declaração
de trabalho
Objetivos:
O objetivo deste documento é proporcionar a gerência de
TI, as necessidades que levam a aquisição do serviço
descrito e sua aplicação na organização, bem como sua
ligação com a estratégia desta.
Especificação O objetivo deste documento é prover informações e
Técnica
especificações técnicas e equipamentos a serem
adquiridos.
RFP
O objetivo des te documento é prover informações e
requisitos para que as empresas fornecedoras apresentem
propostas com informações e preços, de serviços que a
Cooperativa tem a pretensão de contratar.
Planilha
O objetivo deste do cumento é oferecer informações que
Critérios de
auxiliem o responsável pela avaliação a realizar a
seleção
classificação e seleção dos fornecedores
Atividades Vinculadas:
Elaboração da decla ração
de trabalho ou
especificação técnica
Elaboração da declaração
de trabalho ou
especificação técnica
Elaboração da RFP
Seleção de fornecedores
Quadro 1: Tabela de documento do processo de seleção de fornecedores
e cronograma para implantação dos
processos na Cooperativa, sendo este
composto dos passos, atividades,
procedimentos e cronograma necessários
para a implantação dos processos.
4.3 Plano de Implantação do Novo
Processo de Gestão de Fornecedores
Qualquer mudança em processos
empresariais exige esforço e planejamento
para que seja possível atingir o sucesso. De
acordo com Baldam (2007), colocar em
execução a otimização de processos
empresariais exige a aplicação de
treinamento e a atribuição de
responsabilidades, pois os colaboradores
precisam compreender o novo processo e
assimilar as mudanças, o que se apresenta
como um grande desafio. O presente item
visa explanar as atividades necessárias para
implantar os processos nos quais se propôs
melhorias, a gestão de fornecedores e
definição de SLA para serviços internos.
Inicialmente, necessita-se o alinhamento das
atividades nos processos de requisição de
serviços e publicação de um catálogo de
serviços, pois, o sucesso da gestão de
fornecedores necessita do correto
funcionamento destes itens. A seguir,
encontram-se as etapas necessárias para a
implantação do processo atual:
a) Publicação do catálogo de serviços
de TI.
b) Adequação do processo de
requisição de serviços, objetivando a
integração com o novo processo de
gestão de fornecedores, bem como
com a formulação de SLA.
c) Implantação do novo processo de
As questões relacionadas à
Contratação de Serviços e Compra de
Equipamentos foram desmembrados em
dois sub-processo no processo de aquisição,
visando tratar as particularidades de cada
um dos casos. O sub-processo de
contratação de serviço tem por objetivo
contratar serviços para atender às
necessidades no que se refere aos serviços
de TI pelas áreas de negócio da organização.
Sendo assim, utilizando-se do escopo das
necessidades dos usuários e a aprovação da
gerência, o presente processo efetiva o
contrato.
O sub-processo de contratação de
serviços tem início com o contato para
contratação, negociação dos acordos de
níveis de serviço, elaboração, avaliação e
aprovação do contrato, posteriormente
passando a execução do serviço e
acompanhamento da mesma. Já o subprocesso de compra de equipamentos tem
por objetivo efetivar a compra de
equipamentos de acordo com as demandas
apresentadas e com a especificação de
equipamentos. Sendo assim, utilizando-se
do escopo da necessidade apresentada
pelos usuários, o presente processo visa à
efetivação da compra de equipamentos para
suprir as demandas apresentadas. Inicia
com a realização do pedido, negociação das
condições de pagamento, após ocorre o
recebimento dos equipamentos e então no
recebimento é feita uma vistoria para
verificar se o que foi pedido é o que foi
entregue.
Após a modelagem, diagramação e
documentação dos processos e elaboração
dos templates, passa-se a apresentar o plano
38
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
gestão de fornecedores.
d) Formulação de SLA das atividades
fornecidas internamente (fornecedor
interno).
4.3.1 Preparação do ambiente
Inicialmente, necessita-se da definição
de uma estrutura de guarda de documentos, a
qual irá utilizar o servidor de arquivos da
organização. Conforme exposto na
apresentação dos processos, muitos
documentos são gerados e recebidos durante
a execução do novo processo. Estes
documentos precisam ser acondicionados
para uso posterior, em outras etapas do
processo e para finalidades de auditoria.
Portanto, sugere-se a seguinte estrutura para
acondicionar os documentos gerados e
recebidos pelo processo. Cada instância do
processo deverá gerar um diretório, contendo
o TÍTULO do serviço a ser adquirido.
Somente o gestor de TI e o analista de
contratos deverão ter acesso a este diretório,
por questões de segurança.
Figura 5: Estrutura de guarda de documentos
prospectos. Quanto à infraestrutura de
aplicações (software), para a execução de
fluxos de trabalho e processos empresariais,
o mercado oferece sistemas específicos para
esta finalidade, no qual existem alternativas
pagas e alternativas gratuitas. No entanto, o
escopo deste estudo não contempla a
avaliação e implantação de ferramenta
permitindo que a empresa faça sua escolha
posteriormente.
4.3.2 Papéis e Responsabilidades do
processo de gestão de fornecedores
Conforme as recomendações
sugeridas pelas bibliografias utilizadas neste
estudo, na transição de processos
empresariais é imprescindível a definição
das novas responsabilidades e dos papéis.
Responsabilidades são as atividades que
precisam ser realizadas, enquanto que o
papel é o grupo ou profissional que irá
desempenhar cada atividade. No Quadro 7
podem ser observadas as responsabilidades
que o novo processo exige, bem como os
papéis relacionados a elas. Neste ponto,
pode-se observar que o analista de contratos
pode ser um profissional da área de gestão
que tenha conhecimento de TI.
Item 1 – Descrição do Serviço:
armazenará os documentos de declaração
de trabalho e especificação dos
equipamentos recebidos da área técnica
(Analistas de Técnicos em TI) conforme as
necessidades do usuário.
Item 2 – RFP: armazenará as versões
da Solicitação de Proposta.
Item 3 – Propostas: acondiciona as
propostas comerciais e seus anexos
recebidos de fornecedores e prospectos.
Item 4 – Contrato: armazena os
contratos, versões e anexos do contrato
firmado com o fornecedor selecionado.
Item 5 – Avaliação: armazena a
planilha de avaliação do fornecedor que é
realizada temporariamente, conforme as
necessidades do serviço.
No que tange à infraestrutura do
processo, também se necessita que o
analista de contratos disponha de uma sala
de reuniões com equipamentos audiovisuais
para a realização de reuniões e áudio
conferências com fornecedores e
39
Jurídico
A
A
A
A/R
A/R
A/R
A/R
A/R
A
A/R
A/R
A/R
C/I
C/I
C/I
C/I
I
A/R
A/R
A/R
A/R
C
C/I
C/I
-
-
C/I
I
C/I
R
I
I
I
C
I
C/I
I
I
I
A/R
-
R
A/R
A/R
-
Analista ou
Técnico de
TI
Financeiro
Responsabilidades
Avaliar necessidade de compra ou contratação
Elaborar Declaração de Trabalho
Elaborar especificação de equipamentos
Elaborar requisição de compra
Selecionar fornecedores pra envio de RFP e proceder com o envio
Receber propostas e orçamentos
Qualificar e classificar fornecedores
Selecionar fornecedor
Aprovar seleção
Negociar SLA
Realizar Pedido
Avaliar contrato
Revisar contrato
Aprovar contrato
Avaliar entrega de produtos e serviços
Valida entrega de produtos e serviços
Realiza pagamento
Cadastra fornecedor na base de dados
Manter políticas de seleção de fornecedores
Seleção de potenciais fornecedores
Gestão de desempenho de fornecedores
Gerente de
TI
Papéis
Analista de
Contratos
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
R
R
R
R
C/I
I
I
I
C/I
I
A/R
A/R
I
C/I
I
C/I
C/R
Quadro 1: Papéis e responsabilidades.
dando autorizações; I – quem será
informado durante o processo.
4.3.3 Cronograma de atividades para
implantação dos processos
Para que os novos processos possam
entrar em operação, é necessária a
realização de um projeto específico que
contemple atividades de transição. O
cronograma proposto neste estudo é uma
recomendação baseada nas bibliografias
estudadas e que contempla as principais
atividades. O cronograma pode ser
observado no Quadro 8 e suas atividades
são auto-explicativas.
O q u a d r o d e p a p é i s e
responsabilidades foi elaborado baseado na
Matriz de Responsabilidades também
chamado de RACI (Responsible,
Accountable, Consult and Inform). Na matriz,
as pessoas ou papéis diferentes são
representadas em colunas da primeira linha e
as entregas ou atividades nas linhas da
primeira coluna. A sigla RACI significa: R –
responsável pela execução da tarefa; A –
quem possui propriedade sobre as
atividades, é quem responde pelos seus
resultados; C – quem será consultado
durante o processo, fornecendo conselhos ou
Cronograma de Implantação
Atividades
Criar estrutura de guarda de documentos
Criar estrutura de guarda dos templates
Adequação do processo de requisição de
serviço
Criar base de dados de fornecedores
Atribuição dos papéis
Data:
Novembro de 2012
Novembro de 2012
Janeiro e Fevereiro de
2012
Fevereiro de 2012
Março de 2013
Delegação das responsabilidades
Abril de 2013
Realizar treinamento do processo de aquisição
e seleção
Implantar atividades do processo de aquisição
e seleção
Acompanhar atividades implantadas
Realizar treinamento do processo de gestão de
fornecedores
Implantar atividades do processo de gestão de
fornecedores
Acompanhar atividades implantadas
Fazer avaliação dos processos implantados
para verificar melhorias a serem feitas
Maio de 2013
Analista de Contratos
Gerente de TI e Analista de
Processos
Gerente de TI e Analista de
Processos
Analista de Processos
Maio e Junho de 2013
Analista de Processos
Maio e Junho de 2013
Julho de 2013
Analista de Processos
Analista de Processos
Julho e Agosto de 2013
Analista de Processos
Julho e Agosto de 2013
Setembro e Outubro de
2013
Analista de Processos
Analista de Processos e
Analistas e Técnicos de TI
Quadro 1: Cronograma de implantação
40
Analistas e Técnicos de TI
Analistas e Técnicos de TI
Analista de Processos
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
buscar uma resposta a este, estabeleceramse objetivos que realizados levaram à
resposta do problema proposto. Inicialmente,
foram direcionados esforços para realizar o
estudo e levantamento do processo atual de
fornecedores na Assessoria de TI da
Cooperativa. Através do levantamento da
situação atual, realizou-se um estudo das
melhores práticas do ITIL, e então se
baseando nestas, foram remodelados e
propostas melhorias nos processos para
gestão de fornecedores. Durante a
elaboração dos processos, estes foram
submetidos à aprovação do gestor de TI da
Cooperativa visando verificar se estes
estavam de acordo com as políticas da
empresa. Ao final da elaboração dos
processos estes foram documentados.
Ao finalizar o desenvolvimento do
estudo foi elaborado um plano para a
implantação da proposta elaborada, sendo
organizado um cronograma, bem como os
passos para a implantação e os papéis e
responsabilidades de cada uma das partes
envolvidas nos diferentes processos.
Sugere-se como proposta futura para
o presente estudo, que seja realizada a
implantação e o acompanhamento dos
processos modelados. E, neste sentido, que
também se faça o uso de um aplicativo ou
software próprio para esta finalidade,
proporcionado a efetiva melhoria nos
processos da cooperativa. Ao meio
acadêmico propõe-se a continuidade do
estudo apresentado, realizando o
levantamento de demandas da Assessoria de
TI no que se refere a outros processos de
gerenciamento dos serviços de TI. Ao
encerrar, é necessário lembrar que a
Tecnologia da Informação, na forma como
está inserida, é essencial para o atendimento
dos objetivos de negócios das organizações,
através de seus serviços e que o
aperfeiçoamento de seus processos é um
desafio atual que deve ser encarado pelos
gestores de TI continuamente.
4.3.4 Plano de custos
O plano de custos trata
principalmente do custo e dos recursos
necessários para terminar as atividades do
cronograma. No entanto, o gerenciamento
de custos do projeto também deve
considerar o efeito das decisões do projeto
sobre o custo de utilização, manutenção e
suporte do produto, serviço ou resultado do
projeto. Os custos de implantação dos novos
processos se baseiam nas atividades
propostas no cronograma do processo de
implantação, uma vez que a infraestrutura
necessária para a execução do processo já
existe na organização. Portanto, os
principais custos do projeto serão as horas
técnicas de treinamento e acompanhamento
do novo processo.
4.3.5 Avaliação do processo
Conforme a recomendação das
literaturas pesquisadas e em conformidade
com o BPM, todo o processo otimizado, após
entrar em operação, necessita ser
monitorado e avaliado para que seja
otimizado. Isto é o que se denomina melhoria
contínua. Portanto, recomenda-se que os
novos processos após sua implantação
sejam monitorados e avaliados pela
empresa, com a finalidade de avaliar se os
mesmos estão de acordo com as
necessidades da organização e promover as
otimizações necessárias.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No contexto atual, as organizações
necessitam de serviços de TI para
desempenhar suas atividades de negócio.
Neste sentido, elas devem estar aptas a
dimensionar seus serviços e selecionar
fornecedores que atendam suas demandas.
Sendo assim, a melhoria dos processos vem
como uma maneira de estar atendendo a
este objetivo.
Visando a melhoria dos processos
que envolvem a seleção de fornecedores e
estabelecimento de acordos de níveis de
serviço, realizou-se o presente estudo. O
mesmo está em conformidade com as
melhores práticas de gestão de TI elencadas
pela ITIL, por se tratar de uma biblioteca
amplamente aceita no contexto corporativo.
Sendo assim, diante do problema
levantado pelo presente estudo visando
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BALDAM, Roquemar de Lima; et al.
Gerenciamento de processos de negócios
BPM - Business Process Management. São
Paulo, SP: Érica, 2007.
BRIDGE CONSULTING. Estratégia de TI:
Como atingir o alinhamento com o negócio
41
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
informação para gestão: transformando os
negócios na economia digital. Porto Alegre,
RS: Bookman, 2010.
através do posicionamento estratégico da TI,
( 2 0 11 ) .
D i s p o n í v e l
e m
<http://www.bridgeconsulting.com.br/servico
s/planejamento-estrategico-deti/itemlist/tag/bridge.html?start=30>.
Acessado em: 16 de Maio de 2012.
SIQUEIRA, Denise da Luz; ROSA, Diego;
B E N E D E T T I , Ve r a L ú c i a L o r e n s e t .
Aplicação das melhores práticas do ITIL
para processos de gerenciamento de
fornecedores e SLA. Monografia Pósgraduação Governança e Melhores Práticas
em TI. SETREM: 2012.
CROWN. ITIL v3 glossário de termos,
definições e acrônimos, 2007. Disponível
e m : < h t t p : / / w w w. b e s t - m a n a g e m e n t practice.com/gempdf/ITIL_Glossary_V3_1_
24.pdf>. Acessado em: Abril de 2012.
FERNANDES, Aguinaldo A.; ABREU,
Vladimir F. de. Implantando a governança
de TI: da estratégia à gestão dos processos e
serviços. Rio de Janeiro: Brasport, 2008
FREITAS, Marcos André dos Santos.
Fundamentos do gerenciamento de
serviços de TI. Rio de Janeiro: Brasport,
2010.
GÜLLICH, Roque Ismael da Costa; LOVATO,
Adalberto; EVANGELISTA, Mário Luis dos
Santos. Metodologia da pesquisa. Normas
para apresentação de trabalhos: redação,
formatação e editoração. 2. ed. Três de Maio:
Editora SETREM, 2007.
HARRINGTON, James. Aperfeiçoando
processos empresariais São Paulo:
Makron Books, 1993.
MAGALHÃES, Ivan Luizio; PINHEIRO,
Walfrido Brito. Gerenciamento de serviços
de TI na prática: uma abordagem com
base na ITIL. São Paulo: Novatec, 2007.
MANSUR, Ricardo. Governança de TI:
metodologia, frameworks e melhores
práticas. Rio de Janeiro: Brasport, 2007.
MARCONI, Mariana de A.; LAKATOS, Eva
Maria. Fundamentos de metodologia
científica. São Paulo: Atlas, 2007
_____. Metodologia científica. São Paulo:
Atlas, 2006
_____. Técnicas de pesquisa. São Paulo:
Atlas, 2006.
OGC. The Official Introduction to the ITIL
service lifecycle. Norwich: Editora TSO,
2007.
TURBAN, Efraim; et al. Tecnologia da
42
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
ANÁLISE E APLICAÇÃO DO
SCRUM COM O NÍVEL G DO MPS.BR EM PROJETOS
SMALL BUSINESS DE EMPRESA DE TI
Bruna Weber,
Sidnei da Silva Viana1
Cristiano Schwening,
Renato Rockenbach2
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM3
RESUMO
Este artigo apresenta a análise e o processo
seguido para a adequação do SCRUM na
fase de desenvolvimento de software de
projetos de implantação de sistema ERP.
Dessa forma, foram utilizados conceitos
gerenciais deste framework para o
desenvolvimento de escopo de projeto
aplicado a um contexto específico. Ainda será
feito o mapeamento das práticas do SCRUM
com o modelo de maturidade MPS.BR, nível
G, para verificar as inconsistências que
existem entre eles e o que pode ser feito para
que o SCRUM atenda 100% este nível de
maturidade. Com isso, o intuito é demonstrar
se há a possibilidade de uma empresa
software house, padronizando seus
processos de desenvolvimento adotando
uma metodologia ágil, consiga atingir a
maturidade nos processos do MPS.BR, com
qualidade, agilidade na entrega, no feedback
e integração constante com o cliente,
valorização da flexibilidade nas mudanças de
requisitos, e, também, proporcionando à
equipe novos conceitos e o compromisso no
atendimento dos prazos de entrega
estipulados por ela própria.
Palavras-Chave:Qualidade. MPS.BR.
SCRUM.
ABSTRACT
This article presents the analysis and the
procedure followed for the adequacy of the
SCRUM software development phase of
projects to implement the ERP system. Thus,
management concepts of the framework for
the development of project scope applied to a
specific context were used. Although the
mapping with the practice of Scrum MPS.BR
maturity model, Level G will be done, to check
inconsistencies that exist between them and
what can be done to meet the SCRUM 100%
this level of maturity. Thus, the aim is to
demonstrate that there is the possibility of a
software house company, standardizing their
development process by adopting an agile
methodology, able to reach maturity in
MPS.BR processes, quality, quick delivery,
the constant feedback and integration with the
client, valuing flexibility in changing
requirements, and also giving the team new
concepts and commitment in meeting the
deadlines set by itself.
Keywords: Quality. MPS.BR. SCRUM.
1
Acadêmicos do Curso Bacharelado em Sistemas de Informação – SETREM.
Professores Orientadores – SETREM.
3
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM, Av. Santa Rosa, 2504, Três de M aio – RS, e-mail:
[email protected].
2
43
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
1. INTRODUÇÃO
O crescente uso de software
personalizado facilita as tarefas dos clientes,
agilizando e trazendo um retorno financeiro
e da mesma forma mantém um negócio
competitivo no mercado. Gerenciar
empresas pode não ser uma tarefa tão
simples assim; por isso o desenvolvimento
de softwares que automatizam os processos
de controle de produtos, trazendo com isso
um gerenciamento do mercado de boa
qualidade. Este artigo demonstra a
aplicação do SCRUM alinhado ao nível G do
MPS.BR, buscando atender às boas
práticas da metodologia ágil necessária para
a excelência no gerenciamento de
processos, buscando um nível de
produtividade, agilidade e confiabilidade
entre o cliente e fornecedores do sistema. O
grande desafio é aplicar SCRUM em um
sistema ERP já consolidado e que já possui
processos gerenciais de implantação. Desta
forma, este relatório demonstra uma
aplicação usando o SCRUM alinhado ao
nível G do MPS.BR, buscando um nível de
produtividade e agilidade para criar um laço
de confiabilidade entre cliente e fornecedora
do sistema. O maior desafio desta análise é
aplicar o SCRUM em um processo de
implantação de sistema ERP já consolidado
em projetos para empresas Small Business,
especificamente na fase de
desenvolvimento de software. Buscando
com isto alavancar a produtividade da
equipe, com maior qualidade e com retorno
positivo para o cliente.
humanos e definições de cronograma de
entrega.
- É possível aplicar o SCRUM
alinhado com o MR-MPS nível G, nos novos
projetos de implementação com novas
funcionalidades do sistema ERP.
O objetivo geral é analisar e estudar
a aplicação do SCRUM alinhado com os
resultados esperados do nível G do MRMPS, na implementação personalizada do
sistema ERP Tecnicon.
Este trabalho trata-se de uma
pesquisa de abordagem qualitativa e
indutiva, que expressa, através da
subjetividade, os resultados da pesquisa,
induzindo a equipe a partir para planos
maiores conforme o cumprimento dos
requisitos de cada etapa. O procedimento
utilizado é a pesquisa descritiva, que
segundo Güllich et al.(2007), têm como
características a observação dos fatos, os
registros, as análises, a classificação e a
interpretação dos mesmos, sem a
interferência do pesquisador sobre eles. Ou
seja, neste trabalho foi aplicado o SCRUM e
MPS.BR e, posteriormente, os resultados
serão obtidos com a sua utilização.
3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 Engenharia de Software
O conceito de Engenharia é a arte de
aplicar conhecimentos científicos empíricos
e certas habilidades específicas para a
criação de estruturas, dispositivos e
processos que se utilizam para converter
recursos naturais em formas adequadas ao
atendimento das necessidades humanas
(PRESSMANN, 2006).
2. ASPECTOS METODOLÓGICOS
O tema do presente artigo trata da
Análise e estudo e aplicação do framework
SCRUM com os processos do nível G do
MPS-BR, em novos projetos de
implementação em Empresa de TI.
Como problema, cita-se: a empresa
pode adotar procedimentos de SCRUM
baseado no processo nível G do MPS.BR,
para atender as demandas de forma mais
rápida?
Como hipóteses, foram levantadas
as seguintes.
- É possível visualizar as vantagens
e desvantagens de gerenciar demandas de
requisitos utilizando SCRUM para melhorar
o planejamento, direcionando recursos
“Engenharia de software é a criação e
a utilização de sólidos princípios de
engenharia a fim de obter softwares
econômicos que sejam confiáveis e
que trabalham eficientemente em
máquinas reais” (PRESSMAN, p.27,
2006).
3.3 Processo de Software
Um processo de software é um
conjunto de atividades e resultados
associados que produz um produto de
software. Dentre estas atividades estão
envolvidas a organização lógica de diversas
atividades técnicas e gerenciais reunindo
agentes, métodos, ferramentas, artefatos e
restrições que possibilitam disciplinar,
sistematizar e organizar o desenvolvimento e
manutenção de produtos de software
(CORDEIRO, 2012).
44
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
3.5 Métodos Ágeis
Os Métodos Ágeis de
Desenvolvimento de Software surgiram
como uma reação aos métodos clássicos de
desenvolvimento e do reconhecimento da
necessidade premente de se criar uma
alternativa a estes “processos pesados”,
caracterizados pelo foco excessivo na
criação de uma documentação completa
(DIAS, 2010).
Fonte: Lima (2011).
3.6 SCRUM
Figura 02: Interseção dos papéis no SCRUM.
3.8 Product Backlog
São listas de atividades descrevendo
os requisitos que o projeto irá ter durante o
desenvolvimento, a fim de atingir as
necessidades do Dono do Produto-Product
Backlog. A lista pode sofrer várias alterações,
pois no início a lista é bruta e com artefatos
ainda não muito detalhados, e conforme as
priorizações no desenvolvimento do projeto
serão alteradas muitas vezes para atingir o
objetivo de acordo com a visão do Dono do
Produto – Product Owner (SCHWABER,
2004).
3.10 Sprint
Um Sprint é uma unidade de
desenvolvimento em SCRUM, deve durar
entre uma a quatro semanas, trata-se de um
esforço, que possui um determinado tempo.
Cada Sprint é planejada onde são
identificadas as tarefas e um objetivo é
definido, seguida por uma reunião de
retrospectiva, em que é avaliado o Sprint para
dar seguimento aos próximos Sprints.
3.11 Qualidade no processo de Software
A qualidade é o grau no qual um
conjunto de características inerentes satisfaz
aos requisitos. Dessa forma é possível dizer
que quando os requisitos de um sistema
estiverem todos atendidos de forma
completa, então este sistema atinge seu grau
de qualidade desejada (ABNT NBR ISO 9000,
2005).
3.12 MPS.BR
O modelo MPS estabelece um
modelo de processos de software, um
processo e um método de avaliação de
processos. Esta estrutura fornece
sustentação e garante que o modelo MPS
esteja sendo empregado de forma coerente
com as suas definições. O modelo MPS
estabelece também um modelo de negócio
Ken Schwaber (2009), afirma em seu
Guia, que o SCRUM não é um processo ou
técnica para desenvolvimento de produtos,
mas sim um framework que possibilita a
empregabilidade de diversos processos e
técnicas. O seu papel é fazer transparecer a
eficácia relativa das práticas de
desenvolvimento, possibilitando a quem a
estiver utilizando, melhorar essas práticas.
Fonte: Pressmann (2006)
Figura 01: Visão dos processos de SCRUM.
3.7 Papéis na equipe de trabalho
Equipes Scrum são auto-organizadas
e multidisciplinares. Estas equipes escolhem
a melhor forma de desenvolver seus
trabalhos ao invés de serem comandadas
por outros de fora da equipe. Equipes
multidisciplinares possuem todas as
competências necessárias para
desenvolverem seus trabalhos sem
dependerem de outros que não fazem parte
da Equipe Scrum. O modelo da Equipe
Scrum é desenvolvido para aperfeiçoar a
flexibilidade, criatividade e produtividade
(LIMA, 2011).
45
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
para apoiar a sua adoção pelas empresas
brasileiras desenvolvedoras de software
(SOFTEX, 2011).
3.13 MPS.BR nível G – Parcialmente
Gerenciado
Este nível é composto pelos
processos de Gerência de Projetos e
Gerência de Requisitos. O propósito da
Gerência de Projetos é estabelecer e manter
planos que definem as atividades, os
recursos e as responsabilidades do projeto,
bem como prover informações sobre o
andamento do projeto que permitam a
realização de correções quando houver
desvios significativos no desempenho do
projeto.
O outro propósito deste nível de
maturidade é o gerenciamento dos requisitos
do produto e dos componentes do produto do
projeto e a identificação de inconsistências
entre os requisitos, planos do projeto e
produtos do trabalho do projeto (SOFTEX,
2011).
Neste tópico estão descritas as etapas
e procedimentos utilizados para a análise dos
processos utilizados pela empresa Tecnicon,
e também os resultados obtidos com a
aplicação do SCRUM, alinhado ao MPS.BR
no processo de implantação e
personalização do sistema ERP para os
novos clientes.
4.1 Processo Atual de Implantação
A empresa Tecnicon possui hoje um
processo homologado de implantação dos
novos projetos do ERP. Diante de frequentes
solicitações de personalização de processos,
ou até de aderência de novas
funcionalidades, a empresa sentiu a
necessidade de criar um processo padrão
para atender somente aos novos clientes,
conforme Figura 03.
Fonte: Antunes, Viana.
4.2 Análise e elaboração do novo
processo de desenvolvimento de
software
Após a análise do processo atual dos
projetos Small Business, foi elaborado um
novo escopo com o propósito de padronizar e
Figura 03: Processo atual de implantação
do sistema ERP para novos clientes.
46
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
processo.
Para organizar e gerenciar o projeto,
foi utilizada a metodologia de Macro
Processo, dividindo o projeto em três
grandes fases: Pré-Game, Game e PósGame, baseado no ciclo de vida de projeto
interativo e incremental, preparando o
ambiente do projeto para a aplicação das
Sprints do framework SCRUM na fase de
Game.
organizar melhor os projetos desta categoria
de clientes, visando maior controle das
solicitações, rapidez no atendimento,
alcance de maior qualidade na entrega do
produto, e ainda aumentando a agilidade no
processo como um todo. Em seguida, será
descrito o novo escopo de projeto
SmallBusiness, e detalhada a fase do
processo de desenvolvimento, em que foi
aplicado o framework SCRUM e as seus
artefatos utilizados para o apoio no
Fonte: Antunes, Viana (2012).
trata de um repositório de solicitações do
sistema atual de suporte, das histórias que
estão aguardando desenvolvimento, por
parte da equipe de Personalização. Este
repositório hoje não está sendo utilizado.
Como a empresa trabalha com
diversos projetos ao mesmo tempo, e não é
possível parar um projeto para atender o
outro, todas as solicitações de
personalização são atendidas de acordo com
o fluxo de trabalho. Desse modo, o Product
Backlog é geral, não contendo somente as
solicitações de apenas um projeto, mas de
todos os projetos em andamento. O fluxo de
solicitações de personalização está mais
bem detalhado na figura 05.
Figura 04: Ciclo de vida do projeto: Macro
Processo.
4.2.1 Definição do Product Backlog
O Product Backlog é o principal
componente para se “fazer” o SCRUM. Nele
são listadas as estórias, ou seja, aquilo que
deve ser feito, na linguagem do cliente,
priorizado pelos Product Owner do projeto.
Foi criado um documento em Excel em que
foram depositadas todas as solicitações dos
processos levantados do projeto.
Posteriormente, será colocado como
sugestão futura, utilizar como Product
Backlog, o Analisar Personalização, que se
Fonte: Antunes, Viana (2012).
Figura 05: Processo Macro Small Business.
47
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Dessa forma, o Backlog foi montado
com todas as solicitações de todos os
projetos em andamento, e priorizado de
acordo com o GUT e a Data de Necessidade
de cada uma.
Para priorizar o Product Backlog, foi
utilizado o método demonstrado no esquema
abaixo.
Data da necessidade é o item de
priorização que vem após a Matriz GUT,
conforme o esquema a seguir. Avaliando
apenas estes dois parâmetros, é feito o
método de priorização, o qual é utilizado
pelos Product Owner para priorizar o Product
Backlog nas solicitações de personalização.
Fonte: Antunes, Viana (2012).
Figura 06: Método de Priorização do Product Backlog.
4.2.1 Definição e Planejamento do Sprint
A reunião de planejamento da Sprint
foi coordenada pelo SCRUM Master. Nesta
reunião foram utilizadas as práticas do
SCRUM. A primeira delas é o Sprint Planning
1, que trata da seleção das histórias
selecionadas para a Sprint atual, e o Sprint
Planning 2, nos quais estas histórias são
abertas e analisadas uma a uma. A imagem
07 demonstra quais são as tarefas e
objetivos de cada reunião de planejamento
da Sprint.
Fonte: Antunes, Viana (2012), adaptado de KNIBERG (2007).
Figura 07: Planejamento da Sprint.
48
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Ainda na reunião de planejamento, foi utilizada a prática do cálculo da velocidade da
equipe. Pois as histórias são incluídas na Sprint de acordo com esta velocidade. O cálculo é a
quantidade de pontos ou tempo que a equipe consegue fazer em uma Sprint. A tabela a seguir
mostra a fórmula utilizada para calcular a velocidade da equipe atual, e o cálculo da equipe ideal
(oito pessoas).
Time
Total(h/d)
Fernando
08:45
Gustavo
08:45
Total
17:30:00
Prod(%)
80%
80%
Dias Sprint
6
6
Fator de Foco Sprint
42
42
84 horas
Ideal(h)/Sprint
52:30:00
52:30:00
105 horas
Fonte: Antunes, Viana (2012).
Quadro 01: Quadro de Tarefas da Sprint
.
4.2.1 Fase Game
Esta fase tem por objetivo pôr em prática as Sprints planejadas na fase anterior. Esta
fase é interativa, sendo realizada em ciclos, com time-box pré-estabelecido de seis dias,
conforme foi acertado em reunião de planejamento. Esta fase é composta das seguintes
etapas: Desenvolvimento, reanálise, caso haja a necessidade de determinada solicitação ser
reanalisada, testes e homologação. Ao final, resulta em um pacote de incrementos, cada um de
seu projeto, que está sendo executado na Sprint. Os incrementos serão tratados como cada
resposta das solicitações atendidas da Sprint. O esquema abaixo demonstra a fase Game do
projeto de implantação Small Business.
Fonte: Antunes, Viana (2012).
Figura 08: Fase Game: Aplicação do SCRUM.
49
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Após isso, é feita uma reunião com o
cliente a fim de revisar os marcos do projeto e
encerrá-lo com o cliente. Caso o cliente não
aceite a finalização, é feita nova revisão.
Caso o cliente aceite, é feito o encerramento
com o cliente e interno no WFM Tecnicon.
Este processo não foi modificado, somente
houve modificações no Game do projeto.
Abaixo uma imagem da fase Pós-Game.
4.2.2 Pós Game e Monitoramento
Esta é a fase de fechamento do
projeto executado. Nesta fase serão feitas a
entrega do produto final, colocando-o em
funcionamento, parametrizações
necessárias para alinhar os processos, e a
aplicação dos treinamentos necessários aos
clientes. O consultor também acompanha as
primeiras atividades no ERP para sanar as
últimas dúvidas antes de finalizar o projeto.
Fonte: Antunes, Viana (2012).
Figura 09: Pós Game do projeto.
O monitoramento de todas as fases do projeto tem por objetivo garantir que o projeto
tenha um bom andamento. Para isso, as reuniões de planejamento e revisão serão aonde irão
se coletar semanalmente as informações de andamento real da equipe, horas trabalhadas,
novos artefatos. Ainda informações de previsão e realização serão levantadas com o auxílio dos
artefatos e reuniões e repassadas ao SCRUM Master PO e clientes. Abaixo se encontra o novo
processo elaborado para a fase de desenvolvimento dos projetos Small Business.
50
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Fonte: Antunes, Viana (2012).
Figura 10: Escopo completo do novo projeto Small Business.
Cada processo do MPS.BR nível G,
(Gerenciamento de Projetos e
Gerenciamento de Requisitos) possui suas
práticas previamente definidas, o que leva as
organizações ao final da implantação deste
nível, ser capaz de gerenciar parcialmente
seus projetos de desenvolvimento de
software. Para verificar se as práticas do
SCRUM atendem os resultados esperados
do MPS.BR nível G e com o intuito de criar
uma classificação definida para ambas as
práticas utilizou-se o Quadro 02:
Em seguida, é realizado o
mapeamento entre as práticas do SCRUM
com os processos do nível G do MPS.BR.
Este mapeamento foi necessário para
analisar as práticas propostas pelo SCRUM,
se elas atendem aos resultados esperados
pelo MPS.BR nível G (gerenciamento de
projetos e gerenciamento de requisitos).
4.3 Mapeamentos das práticas do
MPS.BR nível G com o framework
SCRUM
CLASSIFICAÇÃO
QUANTIDADE
GRP
GRE
A – Atendido
PA – Parcialmente Atendido
NA – Não Atendido
17
4
7
2
2
1
TOTAL
28
5
Fonte: Antunes, Viana (2012).
Quadro 02: Classificação do Mapeamento.
51
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Parcialmente Atendidas e as Não atendidas.
Para ter uma visualização mais
detalhada e comparativa, formata-se a
seguinte sequência de gráficos com suas
classificações, conforme Quadro 12,
utilizando a quantidade dos processos do
MPS.BR nível G, os quais alinhados ao
SCRUM, demonstrou o grau de alinhamento
a seguir:
Fonte: Antunes, Viana (2012).
Figura 13: Percentual de Classificação dos
Processos GRE e GPR.
Para os resultados dos processos
do MPS.BR nível G, (GPR-Gerenciamento
de Projetos e GRE-Gerenciamento de
Requisitos), concluem-se que o alinhamento
ao SCRUM é satisfatório, pois atingem um
percentual de 57,58% de práticas Atendidas,
18,18% de Parcialmente Atendidas e
24,24% de Não Atendidas. Assim, o número
de GAPs para o SCRUM é menor que o
resultado esperado.
Fonte: Antunes, Viana (2012).
Figura 11: Classificação do Processo de
Gerenciamento de Projetos – (GPR).
No resultado do processo de
Gerenciamento de Projetos – (GPR), nota-se
que a maioria das práticas do MPS.BR
alinhados ao SCRUM foram atendidos em
sua totalidade e os demais “Parcialmente
Atendem” e “Não Atendem” os processos do
MPS.BR, que serão detalhadas e
denominadas como “GAP”.
5. CONCLUSÃO
O intuito deste estudo foi incorporar o
SCRUM como método ágil na fase de
desenvolvimento de software de projetos
Small Business, para agilizar e qualificar
este departamento. Mas, durante o período
de análise do processo atual, foram
encontradas inconsistências que
impossibilitariam a aplicação do SCRUM
nesta fase. Se fosse aplicado no cenário
atual, sem modificações no restante do
processo do projeto, o SCRUM acabaria
atrasando mais o projeto todo, e não traria o
resultado esperado pela empresa e também
pelos objetivos deste estudo.
Fonte: Antunes, Viana (2012).
Analisando e desenhando o novo
processo de desenvolvimento de software
que utilize SCRUM, foi possível observar
que existem vantagens e desvantagens.
Como vantagens, pode-se citar a
possibilidade de alteração de prioridades no
andamento da Sprint. É um processo ágil e
flexível, o que torna mais fácil a reação às
mudanças que ocorrem durante algum dos
Figura 12: Classificação do Processo de
Gerenciamento de Requisitos – (GRE).
No resultado do processo de
Gerenciamento de Requisitos – (GRE), nas
práticas do MPS.BR alinhados ao SCRUM, o
número de GAPs é maior que a quantidade
práticas Atendidas. Levando em
c o n s i d e r a ç ã o a s K PA s q u e f o r a m
52
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
PRESSMAN, Roger. trad. PENTEADO,
Rosangela. Engenharia de Software. 6ª Ed.
Editora Mc Graw Hill. São Paulo. 2006.
projetos; existência de papéis bem definidos
na equipe, na qual todos sabem o que
precisam fazer. Comunicação eficiente entre
os membros da equipe, os detalhes tratados
pessoalmente são melhor e mais
rapidamente resolvidos do que por meio de
muita documentação.
SCHWABER, Ken. Agile Project
Management with SCRUM. 1ª Ed.
Washington: Microsoft Press, 2004.
SOFTEX. MPS.BR – Melhoria de Processo
de Software Brasileiro. Guia Geral.
Atualizado em Agosto de 2011. Disponível em
http://www.softex.br/mpsbr/_guias/guias/MP
S.BR_Guia_Geral_2011.pdf. Acessado em
01 de Dezembro de 2011.
Pode-se afirmar ao final deste estudo,
que o conhecimento obtido durante toda a
fase de análise e elaboração do novo
processo foi de grande valia para a
experiência. Poder conhecer como é na
prática a aplicação de uma metodologia nova
em uma empresa de TI, fornecedora de um
ERP já consolidado, com processos
definidos, mudar para um novo processo, no
andamento de um projeto. Com certeza irá
auxiliar muito em experiências futuras para
planejamento de novos projetos.
ANTUNES, Bruna W.; VIANA, Sidnei da
Silva.; SCHWENING, Cristiano;
ROCKENBACH, Renato. ANÁLISE E
APLICAÇÃO DO SCRUM COM O NIVEL G
DO MPS.BR EM PROJETOS SMALL
BUSINESS DE EMPRESA DE TI. Trabalho
Final de Curso Bacharelado em SI - SETREM.
Três de Maio, 2012.
REFERÊNCIAS
ABNT – Associação Brasileira de Normas
Técnicas. Sistemas de Gestão de
Qualidade. Disponível em:
http://pt.scribd.com/doc/52238836/NBR-ISO9000-2005. Acessado em 29 de Fevereiro de
2012.
CORDEIRO, Edson dos Santos. Introdução
a Processos de Software.
D i s p o n í v e l
e m :
http://www.cordeiro.pro.br/aulas/engenharia/pro
cessoDeSoftware/Processo.pdf.
Acessado em 20 de Janeiro de 2012.
DIAS, Marisa V. B. Metodologias Ágeis:
Métodos ágeis de desenvolvimento de
software. Revista Engenharia de Software
Magazine. Ano I. 20.ed. 2010. Dev Media.
2010.
LIMA, Ester. Interseções dos papéis no
S C R U M . D i s p o n í v e l e m :
http://blog.scrumhalf.com.br/2011/08/interse
coes-dos-papeis-no-scrum. Acessado em 22
de fevereiro de 2012.
O'BRIEN, James A e MARAKAS, George M.
Administração de Sistemas de Informação
– Introdução.Trad. Edgar Junior et al. Ed.
McGraw Hill. 13ª ed. São Paulo, 2007.
SOMMERVILLE, Ian, Engenharia de
Software, editora, São Paulo – SP, 2006.
53
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
EDUCANDO PELOS DIREITOS HUMANOS:
UMA QUESTÃO DE CIDADANIA.
Jociele Chaves1
Silvia Natália de Mello2
Marina Zucatto3
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM 4
RESUMO
Propiciar aos alunos e alunas o
desenvolvimento do pensar e o
conhecimento sobre os direitos humanos
proporcionando vivências no contexto
escolar para que possam perceber assim, a
necessidade de defender estes direitos
buscando uma convivência voltada para a
construção de um mundo onde sejam sujeitos
partícipes deste processo. Essa
intencionalidade instigou a realização do
projeto de pesquisa no componente Estágio
Supervisionado II – 1º ao 5º ano, do curso de
Pedagogia. A pesquisa foi de abordagem
qualitativa, contou com o procedimento de
pesquisa-ação, iniciando com um período de
observação do campo de atuação na
Intervenção Pedagógica, além de conhecer e
analisar documentos da escola. Esta
pesquisa foi realizada em uma Escola
Estadual de Educação Básica com a turma do
5º ano, localizada no município de Santo
Cristo, região Noroeste do estado do Rio
Grande do Sul. Alguns dos teóricos que
embasaram esta escrita são: CANDAU
(2010), LAROSSA (2001) e BRASIL (2010).
Trabalhar na perspectiva dos Direitos
Humanos foi muito interessante, pois foi
possível compreender que a prática docente
pode auxiliar no processo de entendimento
de alunas e alunos, quanto ao seu papel
como sujeitos responsáveis pelo processo de
construção e transformação do contexto em
que estão inseridos. Percebendo assim a
importância do papel dos educadores na
formação de cidadãos e cidadãs atuantes na
sociedade.
Palavras-chave: Ensino Fundamental de
Nove Anos. Direitos Humanos. Prática
Pedagógica
.
ABSTRACT
Providing students (boys and girls) the
thinking and knowledge development about
human rights by providing experiences in the
school so they can understand well the need
to defend these rights seeking coexistence
toward building a world where participants
undergo this process. This intentionality
instigated the completion of the research
project component called Supervised
Internship II - 1st to 5th grade, of Pedagogy
Course. The research was of qualitative
approach and had the procedure action
research, starting with an observation period
of the field in Pedagogical Intervention,
besides knowing and analyzing documents
from the school. This research was
conducted in a State School of Basic
Education with the 5th grade class, located in
the city of Santo Cristo, northwestern region
of the state of Rio Grande do Sul. Some
theorists that supported theoretically this
writing are: CANDAU (2010), LAROSSA
(2001) and BRASIL (2010). Working from the
perspective of Human Rights was very
interesting because it was possible to
understand that the teacher can assist in the
understanding of students, regarding their
role as responsible ones for the construction
and transformation of the context in which
they are inserted. Thus realizing the
importance of the role of educators in forming
active citizens in society.
Keywords: Nine years Elementary School.
Human Rights. Pedagogical Practice.
1
Acadêmica do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia – SETREM, e -mail: [email protected]
Mestre em Educação. Professora da Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM, e -mail:
[email protected]
3
Mestre de Educação em Ciências. Professora da So ciedade Educacional Três de Maio – SETREM,
e-mail: [email protected]
4
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM, Avenida Santa Rosa, 2504, Três de Maio – RS, email: [email protected]
2
54
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
ambiente escolar que se oportuniza a
compreensão pela realidade e o
compromisso por sua construção.
No decorrer de minha escrita trarei
alguns autores para embasá-la citando Vera
Maria Candau (2010), Jorge Larrosa (2001)
e Paulo Freire (2007). Contarei também com
a seguinte legislação: Diretrizes Nacionais
para a Educação em Direitos Humanos
(2012) e as Diretrizes do Ensino
Fundamental de Nove Anos (2010).
INTRODUÇÃO
Este artigo tem a intenção de
compartilhar algumas vivências da pesquisa
realizada no componente Estágio
Supervisionado II – 1º ao 5º ano, do curso de
Pedagogia, buscando relacionar a prática
desenvolvida com o 5º ano em uma Escola
Estadual do município de Santo Cristo, a
fundamentos teóricos. Em meu Projeto de
pesquisa intitulado “Construindo
aprendizagens refletindo sobre os Direitos
Humanos”, tive como objetivo instigar os
alunos e alunas a desenvolver o pensar e o
conhecimento sobre os direitos humanos
buscando proporcionar vivências no contexto
escolar para que os compreendam. Para que
percebessem, assim, a necessidade de
defender estes direitos buscando uma
convivência voltada para a construção de um
mundo em que pudessem se sentir sujeitos
partícipes deste processo. Dentro do tema
escolhido enfoquei os seguintes conteúdos:
alimentação, saúde e saneamento básico.
O projeto de pesquisa foi de
abordagem qualitativa, contando com 8
horas de observação no ambiente escolar,
em que, além de estar em contato com a
turma e conversar com a professora titular,
analisei também o Projeto Político
Pedagógico, o Regimento e os Planos de
Trabalho da escola, para, a partir disso,
elaborar o projeto e, posteriormente os
planos de aula. Teve como procedimento a
pesquisa-ação compreendendo 40 horas de
intervenção pedagógica.
Durante as observações procurei
manter um olhar de pesquisadora, buscando
perceber em que poderia contribuir na vida
dos alunos e alunas através da prática
pedagógica que iria desenvolver. Portanto,
após estar conhecendo a realidade da turma,
constatei que havia uma necessidade de
realizar um trabalho voltado para o sujeito
como partícipe do processo de construção do
mundo, enfatizando o contexto escolar como
um ambiente de relações coletivas, no qual
precisam construir relações baseadas no
diálogo e no olhar para si e para o outro.
Desta forma, optei pelos direitos
humanos, uma questão fundamental para ser
trabalhada nas nossas escolas. Acredito que
por meio de meu trabalho foi possível
proporcionar vivências, debates e pesquisas,
instigando os alunos a pensarem sobre o
exercício de sua cidadania. Uma vez que é no
O QUE SIGNIFICA EDUCAR PELOS
DIREITOS HUMANOS?
Educar pelos direitos humanos
s i g n i f i c a
s e n s i b i l i z a r
alunos e alunas. Sensibilizá-los quanto ao
contexto em que estão inseridos, as
diferenças existentes nele, ao seu papel
enquanto cidadão frente às dificuldades
encontradas. Portanto,
[...] temos de buscar, no meio de
tensões, contradições e conflitos,
caminhos de afirmação de uma
cultura dos Direitos Humanos, que
penetre todas as práticas sociais e
seja capaz de favorecer processos de
democratização, de articular a
afirmação dos direitos fundamentais
de cada pessoa e grupo sóciocultural, de modo especial os direitos
sociais e econômicos, com o
reconhecimento dos direitos à
diferença (CANDAU, 2010, p. 399).
Educar pensando nessa perspectiva
é uma maneira de lutar pela democracia,
assim temos a possibilidade de formar
sujeitos que, além de conscientes de seu
papel na sociedade, busquem pela mudança
e sejam ativos no processo de
transformação. Sabe-se que a educação em
direitos humanos já vem sendo pensada,
porém é necessário que se pense em uma
forma de concretizá-la. Sendo assim, é
preciso que se inicie este processo de
sensibilização desde o início da vida escolar
das crianças; assim, com toda certeza
teremos uma sociedade mais justa e
democrática.
Acredito que oportunizar a vivência
sobre os direitos humanos pode ser um
modo de sensibilizar nossos alunos para a
mudança e para a transformação; segundo
as diretrizes, a educação em direitos
humanos centra-se na formação para a vida
e para a convivência, de forma que estes
direitos estejam presentes cotidianamente
55
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
nas ações dos sujeitos. Conforme apresenta
a Resolução nº 1 de 30 de Maio de 2012, que
estabelece Diretrizes Nacionais para a
Educação em Direitos Humanos, e traz em
seu artigo 3º:
como estava, o grupo também iria deixar de
ser um grupo, assim como aconteceria com
a teia. Portanto, desde o primeiro contato
com a turma, tentei levá-los à reflexão
primeiramente sobre as relações dentro do
ambiente escolar, para, depois partir para o
contexto social.
Tr a b a l h a r n a p e r s p e c t i v a d a
educação em direitos humanos promove
uma reflexão sobre um determinado
contexto com o objetivo de provocar
mudanças pelas quais todos sejam
beneficiados. Desta forma, ao mesmo tempo
em que estão tendo contato com o
conhecimento com o intuito de uma boa
formação, também estão repensando o
contexto no qual estão inseridos e no qual
poderão interferir de forma positiva partindo
do que aprenderam.
A Educação em Direitos Humanos, com
a finalidade de promover a educação
para a mudança e a transformação
social, fundamenta-se nos seguintes
princípios: I - dignidade humana; II igualdade de direitos; III reconhecimento e valorização das
diferenças e das diversidades; IV laicidade do Estado; V - democracia na
educação; VI - transversalidade,
vivência e globalidade; e VII sustentabilidade socioambiental
(BRASIL, 2012, p.1).
Tendo o conhecimento dos objetivos
da educação em direitos humanos, na
prática que desenvolvi busquei proporcionar
aos alunos e alunas momentos em que
pudessem estar em contato com a realidade
em que vivem, refletindo sobre várias
situações em que os cidadãos têm o acesso
aos direitos humanos e outras em que estes
não usufruem dos mesmos. Além de pensar
no contexto social, foi preciso partir de uma
reflexão do contexto escolar, da sala de aula,
de suas relações uns com os outros.
Partindo de dinâmicas que tinham o
objetivo de cooperação e união, os alunos e
alunas conseguiram fazer a relação com
suas atitudes em sala de aula, percebendo
assim em que poderiam melhorar e de que
forma cobrariam estas mudanças uns dos
outros. Esta turma se mostrou bastante
madura e capaz de produzir mudanças para
melhorar o convívio e a relações mantidas.
Nas situações vivenciadas, posso
destacar a dinâmica que realizei no primeiro
dia de aula, a “Dinâmica da Teia”. É realizada
com um novelo de lã, em que cada um que
se apresenta lança o novelo para um colega.
A proposta inicial foi com o objetivo de que
pudéssemos nos conhecer e também pensar
em como este grupo vinha se relacionando.
Depois que todos haviam se apresentado e
falado um pouco de si, questionei-os sobre o
que aconteceria se um deles soltasse o fio?
Logo responderam, a teia iria se
desmanchar. Em seguida, relacionei a
resposta com o grupo, levando-os a refletir
sobre suas ações, se estas tinham como
base o respeito, a união e a amizade. Num
primeiro instante se calaram, mas depois
citaram algumas de suas atitudes que não
estavam sendo corretas, e que da forma
ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE
ANOS: O CURRÍCULO E A AÇÃO
DOCENTE
O sistema de ensino brasileiro passou
por várias mudanças em sua organização
com o objetivo de melhorar sua qualidade.
Dentre estas mudanças, podemos enfatizar
a ampliação do Ensino Fundamental de oito
para nove anos em 2006 com a Lei nº
11.274, com a intenção de que as escolas
repensassem a forma de ensino, bem como
o seu currículo, com o objetivo de atender
também às exigências cada vez maiores da
sociedade contemporânea. Portanto, a
turma escolhida para realizar a prática foi o
5º ano do Ensino Fundamental de nove
anos, que já faz parte desta nova forma de
organização do ensino.
Falar em organização de ensino
significa falar das infâncias que permeiam as
práticas, do currículo como forma de pensar
a prática, e a ação docente como uma
maneira de formar sujeitos críticos e
capazes de promover mudanças. Acredito
que ter o conhecimento sobre as várias
infâncias existentes é extremamente
necessário, já que a ação docente é o
resultado também das concepções que nós,
educadores, temos.
Temos em nossas salas a presença
de várias infâncias, foi o que pude perceber
em minha prática. Crianças vindas de
diversos contextos, de situações, estrutura
familiar e econômica diferentes, além de
experiências e oportunidades totalmente
56
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
diversas. Ao estar no papel de educadora me
coloquei a pensar sobre as infâncias que
tinha na minha turma. Constatei que muito se
descobre se temos um olhar mais sensível
para estes sujeitos, muito do que eles
produzem traz algum significado do que
vivem e sentem, e, partindo deste olhar,
temos a oportunidade de conhecer e
trabalhar com cada uma das infâncias. Mas
para construir este olhar para este contexto
diversificado, muitas vezes é necessário
desconstruir algumas de nossas concepções
sobre estes sujeitos infantis e abrir-se para
aprender sobre o que antes se julgava saber
tudo. Larossa (2001) fala que devemos abrir
um espaço para receber estas infâncias e nos
colocar a disposição para ouvi-la:
As Diretrizes nos falam ainda sobre a
importância de integrar ao currículo temas
atuais, bastante discutidos e presentes no
dia a dia dos alunos e alunas. Em razão de
esta ser uma forma de compreender o que
se passa fora do contexto escolar e, partindo
disso, ter a possibilidade de buscar por uma
sociedade democrática.
Na perspectiva de construção de
uma sociedade mais democrática e
solidária, novas demandas
provenientes de movimentos sociais
e de compromissos internacionais
firmados pelo país, passam,
portanto, a ser contempladas entre
os elementos que integram o
currículo, como as referentes à
promoção dos direitos humanos
(BRASIL, 2010, p. 15).
[...] a infância nunca é o que sabemos (é o
outro dos nossos saberes), mas, por
outro lado, é portadora de uma verdade a
qual devemos nos colocar à disposição
de escutar; nunca é aquilo apreendido
pelo nosso poder (é o outro que não pode
ser submetido), mas ao mesmo tempo
requer nossa iniciativa; nunca está no
lugar que a ela reservamos (é o outro que
não pode ser abarcado), mas devemos
abrir um lugar para recebê-la
(LARROSA, 2001, p. 186).
Deste ponto de vista, é na escola que
acontece a interação dos conhecimentos
reconhecidos pelas disciplinas e aqueles
provenientes da cultura, relação
fundamental para que alunos e alunas
possam se questionar e rever sua forma de
pensar e de agir nos diversos ambientes em
que estão inseridos (BRASIL, 2010).
Precisa-se também ter consciência
de que o currículo é elaborado pelos
membros que compõem a escola. Estes
sujeitos pensam e escolhem o que julgam
ser mais significativo ensinar; porém, sabese que muitos dos conhecimentos
escolhidos precisam passar pelo processo
de recontextualização, apresentado nas
Diretrizes Nacionais para o Ensino
Fundamental de nove anos (2010), que seria
o local em que o conhecimento deve ser
adaptado ao contexto vivenciado: “[...] se diz
que os conhecimentos produzidos nos
diversos componentes curriculares, para
adentrarem a escola são recontextualizados
de acordo com a lógica que preside as
instituições escolares” (BRASIL, 2010,
p.11).
Desta forma, toda e qualquer
organização de ensino precisa levar em
conta aspectos como o currículo e a forma
como irá acontecer a ação docente, pois se
trabalha com sujeitos que futuramente
estarão no convívio social e serão o
resultado do que lhes foi ensinado no
ambiente escolar. E se todo o sistema não
for bem pensado e elaborado, teremos
cidadãos que não saberão respeitar,
reconhecer seus direitos e buscar por uma
sociedade mais democrática e igualitária.
Sendo assim, o ensino precisa de uma
base para que aconteça de forma coerente
nas escolas, e esta base seria um currículo
bem elaborado, em que se articulassem os
conhecimentos científicos com o contexto
encontrado em cada ambiente escolar. Além
disso, é fundamental que se pense durante a
construção desse documento, na formação
dos alunos e alunas como sujeitos, cidadãos
que futuramente estarão atuando na
sociedade e que precisam saber utilizar o que
aprenderam na escola dentro deste contexto
diversificado, buscando assumir seu papel e
suas responsabilidades em relação a si e aos
demais cidadãos. Portanto, a escola tem
papel essencial na formação de seus alunos e
alunas, pois é nela que se tem a possibilidade
de se ensinar a conviver, a compreender e a
respeitar o espaço social.
[...] a escola é, por excelência, o lugar
em que é possível ensinar e cultivar as
regras do espaço público que
conduzem ao convívio democrático
com as diferenças, orientado pelo
respeito mútuo e pelo diálogo. É nesse
espaço que os alunos têm condições
de exercitar a crítica e de aprender a
assumir responsabilidades em relação
ao que é de todos (BRASIL, 2010, p.
12).
57
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
em que vivem. Pois como nos diz Freire
(2007), a educação é uma maneira de intervir
no contexto em que estão inseridos: “Outro
saber de que não posso duvidar um
momento sequer na minha prática educativocrítica é o de que, como experiência
especificamente humana, a educação é uma
forma de intervenção no mundo” (FREIRE,
2007, p. 98).
Esta leitura foi pensada para ser
realizada no projetor, mas isto não foi
possível, então os alunos e alunas se
organizaram de forma que todos pudessem
acompanhar a leitura em meu notebook.
Neste momento, pensei que a turma não iria
se concentrar, prestar atenção e interagir
com a leitura conforme eu havia planejado.
Porém, tudo aconteceu ao contrário, ficaram
encantados com os desenhos trazidos na
Cartilha e também com as informações. Aos
poucos, iam trazendo situações particulares
e perguntas sobre o que o texto informava.
Fiquei realmente encantada com aquela
situação, vê-los na sala com as luzes
apagadas, todos bem juntinhos e tão
concentrados.
Outro aspecto que se destacou dentre
o tema proposto, foi a organização de grupos
para a realização das diversas atividades
planejadas. A turma buscou variar sempre os
integrantes dos grupos da forma como eu
h a v i a e x p l i c a d o a e l e s . To d o s t ê m
capacidade de aprender, porém uns
precisam de um pouco mais de ajuda do que
outros. Por isso é essencial que tenham
momentos em que possam contar com a
ajuda do outro no processo de aprender.
Fontana nos falava da importância da
relação com o outro: “É na sua relação com o
outro que a criança vai se apropriando das
significações socialmente construídas”
(FONTANA, 1997, p. 61).
Este processo de significações foi
acontecendo pouco a pouco durante a
realização das diversas atividades, já que a
grande maioria delas foi pensada para
grupos, duplas ou trios. Dentro disso, é
importante destacar a construção das
maquetes sobre a rede de tratamento da
água. Esta iniciou com a proposta de um
passeio até a Corsan para que a turma
tivesse a oportunidade de conhecer e tirar as
dúvidas com alguém especializado no
assunto. Porém este passeio não pôde ser
realizado devido a motivos particulares, a
minha professora titular não esteve na escola
PENSANDO NA PRÁTICA EM SALA DE
AULA
Durante a prática pedagógica
desenvolvida planejei momentos de
aprendizagens em que tivessem a
oportunidade de expor opiniões, debater e
refletir sobre questões pertinentes ao tema
escolhido. Os alunos e alunas se mostraram
sempre muito interessados e se
empenhavam na realização das atividades
propostas.
Ter a oportunidade de estar com esta
turma me levou a pensar em algumas
questões, como por exemplo, sobre a
responsabilidade e a autonomia. São coisas
simples, mas que por muitas vezes não
conseguimos desenvolver com nossos
alunos e alunas.
Uma vez que percebi estas questões,
tentei realizar situações em que elas
estivessem presentes, tanto de forma oral,
como gestual ou escrita. Uma destas
situações é o reconhecimento de suas
ações, pois cada vez que acontecia alguma
coisa que estivesse fora dos combinados,
nós conversávamos. Nestes momentos
constatei um certo amadurecimento no
grupo, em razão de cada aluno ou aluna
responder por seus atos, de forma que
explicava o que havia feito, o por que e se
isto condizia com nossas regras ou não.
Realizando esta reflexão, afirma-se uma
preocupação não só com o conhecimento,
mas também quanto à formação enquanto
sujeitos para a convivência em sociedade,
assim como as Diretrizes do Ensino
Fundamental de nove anos (2010), nos
trazem: “O acesso ao conhecimento escolar
tem, portanto, dupla função: desenvolver
habilidades intelectuais e criar atitudes e
comportamentos necessários para a vida em
sociedade” (BRASIL, 2010, p. 11).
Oportunizei a esta turma atividades
em que realizaram reflexões sobre o
contexto, repensando, assim, atitudes e
situações vivenciadas. Com a leitura da
Cartilha dos Direitos Humanos de Ziraldo,
pude perceber a relação crítica que
conseguem fazer daquilo que vivem no
cotidiano e de como isto deveria ser. Durante
esta leitura, busquei questioná-los sobre a
importância de conhecermos os nossos
direitos e deveres, reconhecendo assim o
papel de cada um na construção do mundo
58
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
durante a segunda semana do estágio, então
não fui autorizada a sair da escola. Como eu
já imaginava que isso iria acontecer,
reformulei o meu planejamento e quem
explicou os processos de tratamento da água
e respondeu às perguntas dos alunos e
alunas, fui eu mesma. Levei slides com
imagens dos processos e um texto
informativo para auxiliar na compreensão do
funcionamento da rede de tratamento de
água.
Neste mesmo dia falei da construção
das maquetes que iríamos fazer e
organizamos os grupos para que pudessem
fazer os combinados quanto aos materiais
que utilizariam e de que forma iriam construíla. Estavam muito ansiosos para que este dia
chegasse, pois ainda não tinham produzido
nada deste tipo na escola, e, quando ele
chegou, era só alegria. Os grupos se
organizaram muito bem e foram bem criativos
em suas maquetes. Como naquela semana
tínhamos algumas programações na escola,
iniciamos a produção na terça-feira e
terminamos na quinta-feira, dia marcado para
a exposição.
A exposição foi maravilhosa,
novamente precisou de organização nos
grupos, em razão de que iriam dar uma
explicação sobre o trabalho desenvolvido.
Conforme terminavam as produções, iam
lendo e pesquisando nos materiais que
tinham sobre as redes de tratamento. Depois
das turmas visitarem a nossa sala para
apreciar o trabalho realizado, questionei-os
se tinham gostado de produzir, como foram as
produções e se gostaram de mostrar seus
trabalhos para as outras turmas. Fiquei
encantada com as respostas, pois relataram
que foi muito legal produzir em sala de aula e
se tivessem alguma dúvida teriam para quem
perguntar. Além disso, uma aluna disse “Sou
meio envergonhada, mas foi muito bom
explicar o trabalho para os visitantes”.
Esta fala me levou a acreditar que essa
vergonha se deve ao fato de não ter
oportunidade para expressar-se e perder este
medo desde o início da vida escolar. Percebese, assim, o quanto é necessário propiciar
momentos como este, nos quais alunos e
alunas socializam o que aprenderam de uma
forma diferente, que não seja a tradicional
avaliação.
Este medo expressado pelos meus
alunos e alunas é necessário. É o mesmo
medo que por muitas vezes me tira do chão e
me preocupa quando penso em atividades
que saem daquela rotina e que provoquem
uma bagunça organizada. Porém, é com este
novo que causa medo que aprendemos e
possibilitamos a aprendizagem; portanto, ele
é um sentimento necessário que busca por
despertar uma certa agonia e ansiedade, e,
como consequência disso, nos
desacomodamos. Assim como diz Madalena
Freire:
O novo é o momento. E o novo dá
muito medo, muita ansiedade, muita
agonia, muito mal-estar, arrepio! Ele
dá medo porque aprendemos, e
aprender é lidar com o novo, em
choque permanente com o velho, com
o que já se conhece. Esse novo me
questiona, me balança, me tira do
chão. Começo a ficar perdida e a
achar que não vou dar conta
(FREIRE, 2001, p. 60).
E pensando no quanto é essencial que
se busque proporcionar um trabalho
diversificado e novo, acredito ser importante
citar outro momento muito especial das
nossas aulas. Antes de iniciar o andamento
das atividades fazíamos o momento do “Bom
dia”, no qual propus que déssemos um aperto
de mão ou um abraço nos colegas. Quando
este era esquecido por mim, os alunos e
alunas lembravam e solicitavam o Bom dia.
Percebi que era um momento no qual todos
interagiam, pois se deslocavam de um lado
para o outro da sala para abraçar ou dar um
aperto de mão nos colegas. Desta forma,
estavam conhecendo e se aproximando dos
colegas dia a dia e assim reconstruindo
relações.
A oportunidade de estar com esta
turma me levou a pensar muito no papel do
professor quanto à formação de seus alunos
e alunas. Desde os primeiros contatos com a
turma pude perceber um envolvimento da
parte da professora titular, quanto à formação
de seus alunos e alunas como cidadãos. Isto
me levou a pensar que, se a maioria dos
educadores que estão atuando em salas de
aula tivesse essa preocupação, teríamos
além de cidadãos que conhecem os seus
direitos, aqueles que se preocupam com a
realidade e lutam por mudanças. Porém, nem
sempre os professores estão preparados
para trabalhar dentro desta perspectiva e,
então, passa a ser necessário pesquisar e
buscar por auxílio para que esta prática tente
articular o conhecimento científico com o
contexto e as situações atuais vivenciadas.
59
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
O ato de refletir sobre esse processo
de intervenção pedagógica me leva a
perceber cada aula como um momento
único que deve ser planejado com
significado para todos os sujeitos envolvidos
nela. Desta forma, cada grupo é único, cada
situação de aprendizagem é única, cada dia
é único, não se repete. E é o educador quem
pode fazer desta aula um momento único e
significativo para seus alunos e alunas.
Freire (2001) nos fala que:
veio para reafirmar que o professor nunca
sabe tudo e que não é um mero transmissor
de conteúdos, que ele precisa estar em
constante busca e reformulação de
conceitos, já que o contexto nos desafia e, a
todo o momento, é preciso se colocar no
papel de aprendiz, pois os conhecimentos
nunca se esgotam e, assim, o professor
pesquisador estará em constante formação.
Assim como apresenta as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino
Fundamental de 9 (nove) anos:
[...] toda aula é nova e única. Toda aula é
única por se tratar de um grupo
específico, reunido em determinado dia,
com determinada proposta. A
responsabilidade é grande, porque o
que é único não volta, só se tem naquele
momento, não se repete (FREIRE, 2001,
p.59).
Novos desafios se colocam também
para a função docente diante do
aumento das informações nas
sociedades contemporâneas e da
mudança da sua natureza. Mesmo
quando experiente, o professor
muitas vezes terá que se colocar na
situação de aprendiz e buscar junto
com os alunos as respostas para as
questões suscitadas. Seu papel de
orientador da pesquisa e da
aprendizagem sobreleva, assim, o de
mero transmissor de conteúdos
(BRASIL, 2010, p. 10).
Após o período de intervenção
pedagógica, é possível partir das produções
da turma e perceber o quanto eles se
sensibilizam com o trabalho dentro da
perspectiva dos direitos humanos. Portanto,
é possível trabalhar desta forma, mas é
necessário pesquisar para compreender a
intencionalidade do mesmo e então poder
pensar a prática docente baseada neste
processo de sensibilização buscando
realizar um trabalho interdisciplinar.
Além disso, os estágios
proporcionados durante o curso de formação,
assim como este, me levam a pensar no
quanto é importante refletir sobre o fazer
docente. Este momento é essencial para a
formação de professores, pois possibilita
analisar a proposta que foi desenvolvida e
perceber se ela realmente teve algum
significado tanto para os alunos e para as
alunas quanto ao próprio docente.
Ao ter a oportunidade de pesquisar
sobre os Direitos Humanos, constatei que é
um tema contemporâneo e que tem
necessidade de ser trabalhado nas escolas.
Optar por esta perspectiva é uma maneira de
sensibilizar alunos e alunas quanto ao papel
que possuem dentro do espaço social,
percebendo a responsabilidade que têm
quanto ao processo de construção e
transformação deste espaço.
REFLEXÕES ACERCA DA PRÁTICA
DOCENTE
Mais uma etapa de minha formação
chega ao final e tenho a sensação de que
toda a preocupação e as noites mal
dormidas valeram a pena. Desde o início fui
desafiada e aceitei o desafio de trabalhar
com o tema dos direitos humanos. Tema
este que não tinha muito conhecimento e
que precisei buscar leituras para
compreendê-lo melhor. Outro desafio que
este estágio proporcionou foi quanto à turma
escolhida, na qual o nível dos
conhecimentos são mais aprofundados e
também senti a necessidade, em muitos
momentos, de pesquisar para entender
alguns conceitos. E como Paulo Freire já
falava: “Não há ensino sem pesquisa e
pesquisa sem ensino” (FREIRE, 2007, p.
29). Portanto, a docência está intimamente
ligada à constante busca, pois, com o passar
do tempo, os conhecimentos mudam e se
faz necessário pesquisar para compreender
este novo que vem a nos desafiar.
Portanto, a realização desta prática
REFERÊNCIAS
BRASIL. Diretrizes Nacionais do Ensino
Fundamental de 9 anos. Distrito Federal:
CNE/CEB, 2010.
BRASIL. Parecer que estabelece Diretrizes
Nacionais para a Educação em Direitos
Humanos. Distrito Federal: CNE/CP, 2012.
CANDAU, Vera Maria. A Configuração de
uma Educação em Direitos Humanos. In
60
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
GODOY, Rosa Maria et al. Educação em
Direitos Humanos: fundamentos teóricometodológicos. Brasília: SEDH, 2010.
GÜLLICH, Roque Ismael da Costa; LOVATO,
Adalberto; EVANGELISTA, Mário dos
Santos. Metodologia da Pesquisa: normas
para apresentação de trabalhos: redação,
formatação e editoração. Três de Maio: Ed.
SETREM, 2007.
FONTANA, Roseli. Psicologia e Trabalho
Pedagógico. São Paulo. Atual, 1997.
FREIRE, Madalena. A Bofetada da Vida. In.
Esther Pillar Grossi (org.). Ensinar uma
provocação. Editora Vozes – Porto Alegre,
2001.
_____ Pedagogia da autonomia: saberes
necessários à prática educativa. 35ª
edição. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
LARROSA, Jorge. Pedagogia Profana.
Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
61
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
A IMPORTÂNCIA DO USO DOS LABORATÓRIOS DE INFORMÁTICA
NA EDUCAÇÃO: A VISÃO DE ALUNOS DE SÉRIES INICIAIS E DE
PROFESSORES
Deise Aline Müller 1
Fabíola Ramiro Schmieder1
Taís Laura Cardoso Sott 1
Gustavo Griebler2
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM 3
RESUMO
ABSTRACT
Esta pesquisa tem como objetivo perceber
como está ocorrendo a utilização de
Laboratórios de Informática nas escolas, se
este uso ocorre ou não de forma correta e
apropriada, buscando demonstrar a
importância da utilização destas tecnologias
na educação. Estando a tecnologia presente
na vida cotidiana da maioria das pessoas e da
sociedade em geral, percebe-se a
necessidade de incluir o uso dos
computadores e da Internet no processo da
aprendizagem dos alunos dentro dos
ambientes escolares. A Informática se tornou,
portanto, uma ferramenta rica e importante
dentro do processo da educação, e, para
comprovar teoricamente esta afirmação,
buscaram-se algumas ideias e concepções
de autores e pensadores do assunto como
José Armando Valente, Léa da Cruz
Fagundes, José Manuel Moran e Pierre Lévy.
Durante a pesquisa foi elaborado um
questionário, que aplicado com professores e
alunos, visa perceber em quais condições
ocorre o uso dos Laboratórios de Informática
nas escolas. É necessário proporcionar ao
aluno aulas prazerosas, instigantes, criativas
e inovadoras, possibilitando a oportunidade
para que ele aprenda com prazer e consiga
desenvolver suas habilidades e aptidões.
This research aims to realize how the use of
computer labs in schools is happening, if such
use occurs or not correctly and appropriately,
trying to demonstrate the importance of using
these technologies in education. With this
technology in everyday life for most people
and society in general it perceives the need to
include the use of computers and the Internet
in the learning process of students within the
school environment. The Computing has
become, therefore, a rich and important tool in
the process of education, and to prove this
assertion theoretically some ideas and
concepts of authors and thinkers on the
subject as José Armando Valente, Léa da
Cruz Fagundes, José Manuel Moran and
Pierre Lévy were researched. During the
research a questionnaire was designed,
which applied to teachers and students aims
to understand under what conditions is the use
of computer labs in schools. It is necessary to
provide students with enjoyable, exciting,
creative and innovative classes enabling the
opportunity for him to learn with pleasure and
that can develop his skills and abilities.
Keywords: Computer lab. Computer Science
in Education. School.
Palavras-chave: Laboratório de Informática.
Informática na Educação. Escola.
1
Acadêmicas do 2º semestre do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia.
Professor da Faculdade Três de Maio. Mestre em Educação nas Ciências.
3
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM, Av. Santa Rosa, 2 .405; Três de Maio – RS.
2
62
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
depende muito do aspecto pedagógico a ser
considerado: ou usa-se essa ferramenta para
promover o ensino ou como uma maneira do
próprio aluno construir o seu conhecimento.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Atualmente, a era digital, englobando
as várias formas de comunicação e obtenção
de informações, juntamente com a
modernização dos recursos tecnológicos,
está transformando os ambientes escolares,
gerando uma necessidade das escolas se
adequarem a essa revolução tecnológica.
Sob esta perspectiva, será realizada uma
pesquisa sobre o uso das salas de
Informática nas escolas, buscando entender
como ocorre a apropriação destes recursos
dentro destes espaços.
Para Valente, ao usar a tecnologia
como ferramenta para promover o ensino, o
computador pode facilmente ocupar o lugar
do professor no ensino-aprendizagem dos
alunos, pois o computador tem a capacidade
de reter maiores informações, sem esquecer
nenhum detalhe, para transmitir ao aluno e o
professor, por sua vez, sendo um ser
humano, estando propenso a passar por
problemas de ordem pessoal ou profissional
que desestabilizem suas emoções, tem a
desvantagem de com isso gerar
consequências no processo de transmissão
de informações aos educandos.
Nesta pesquisa será utilizado um
questionário que será aplicado com alunos e
professores provenientes de diferentes
espaços sociais, buscando demonstrar as
diferenças que ocorrem de um lugar para o
outro quanto à acessibilidade a esses
recursos tecnológicos.
Desta maneira, segundo Valente, a
melhor maneira de usufruir dos benefícios do
uso do computador e da Internet nas escolas
é proporcionar ao aluno a possibilidade de
construir o seu próprio conhecimento ou
facilitar o entendimento dos conteúdos
trabalhados em sala de aula.
Ainda sob uma perspectiva de
analisar a importância dada ao uso do
computador pelas Séries Iniciais e por
professores com Ensino Superior, visa-se
realizar uma pesquisa que buscará
responder a esta análise, de forma a
relacionar a importância do uso dos recursos
tecnológicos dentro destas duas esferas tão
distintas.
Com um mercado de trabalho cada
vez mais inovador, crítico e seletivo, as
escolas devem preparar seus alunos da
melhor maneira possível, fazendo uso
apropriado dos recursos tecnológicos
existentes. Com a inserção do computador
na educação, tem-se vivenciado uma
revolução nas teorias do processo de ensinoaprendizagem utilizadas até hoje,
percebendo-se a necessidade de modificar
a s f o r m a s d e e n s i n a r, b u s c a n d o
corresponder satisfatoriamente às
exigências pedagógicas atuais. Neste trecho
de uma obra de José Armando Valente
(1993), esta ideia está sintetizada.
2. METODOLOGIA
Este trabalho será realizado sob uma
abordagem quali-quantitativa, pois serão
considerados referenciais teóricos sobre o
assunto a partir da concepção de alguns
autores, analisando-se também os
resultados numéricos obtidos a partir da
aplicação de um questionário.
Os métodos utilizados serão o
bibliográfico, pois serão analisadas obras de
alguns autores sobre o assunto; estatístico,
sendo considerados os resultados
numéricos obtidos através do questionário; e
por último o método comparativo, uma vez
que será feita uma comparação quanto aos
níveis de acessibilidade das salas de
Informática em diferentes ambientes
escolares e com diferentes grupos de
aprendizado.
O processo que coloca o computador e
sua tecnologia a serviço da educação.
Portanto, todos os aspectos e as
variáveis neste método deverão estar
subordinados à consideração de que a
Informática Educativa é de natureza
pedagógica, buscando assim melhorias
das metodologias de ensinoaprendizagem de forma a levar o aluno
a aprender, e o professor a orientar e
auxiliar esta aprendizagem, tornando-o
apto a discernir sobre a realidade e nela
atuar (VALENTE, apud SOUZA, 2010,
p. 10-11).
3. ASPECTOS TEÓRICOS DA
INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO
Desta maneira, a Informática
Educativa deve fazer parte do ensinoaprendizagem de todos os conteúdos
Segundo José Armando Valente
(2012), o uso do computador nas escolas
63
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
curriculares em todos os níveis e
modalidades da educação. Dentro do ensino
das escolas, deve-se usar o computador
como uma ferramenta que auxilie o aluno em
seu processo de aquisição de conhecimento
e também que seja usado pelo professor
como um facilitador na transmissão de
conteúdos e informações educativas aos
alunos.
vive, tornando-o capaz de realizar
transformações na sociedade.
Na mesma obra, ainda, Valente (1997)
fala que o uso do computador nas escolas
iniciou na década de 1950, sendo realizadas
aprendizagens de acordo com os modelos da
época. Após, com o surgimento das primeiras
redes de computadores, surge a Internet, no
início de 1990. A Internet é usada para
possibilitar a troca de informações, lazer,
interatividade e comunicação entre o mundo
globalizado, podendo ser usada tanto para
um simples bate-papo quanto para formação
de professores em cursos de graduação, por
exemplo.
Segundo Valente (1997), a história da
Informática na Educação no Brasil data de
mais de vinte anos. Iniciou por volta dos
anos 1980, sendo vista como forma de
promover o avanço científico e tecnológico
da sociedade pelos órgãos governamentais.
Segundo Valente, citado por Souza
(2010), a implantação do Programa da
Informática na Educação do Brasil inicia-se
com o Primeiro e o Segundo Seminário
Nacional de Informática em Educação,
realizado respectivamente na Universidade
de Brasília, em 1981, e na Universidade
Federal da Bahia, em 1982. Durante estes
seminários originou-se o Projeto Educação
e Comunicação (EDUCOM), com o objetivo
de realizar estudos e experiências em
Informática na Educação, e com uma
sistemática de trabalho diferente de
qualquer outro programa educacional
promovido pelo Ministério da Educação
(MEC).
Primeiramente as TICs (Tecnologias
de Informação e Comunicação) inseriram-se
no âmbito escolar para ocupar-se da
demanda administrativa. Porém, com o
passar do tempo, foram introduzidas nas
salas de aulas para facilitar o processo de
ensino e aprendizagem.
Segundo o mesmo autor, citado por
Souza (2010), o Projeto Educação e
Comunicação (EDUCOM) teve um papel
fundamental no processo de inserção das
novas tecnologias nas escolas brasileiras,
através do desenvolvimento de pesquisas,
da formação de recursos humanos, além da
produção de artigos, teses, dissertações e
softwares educacionais.
Segundo Valente (2003), a existência
do projeto denominado Projeto UCA (Um
Computador por Aluno) poderia facilitar o
processo do uso da Informática nas salas de
aula, pois, sendo cada aluno portador de um
computador, este teria maior contato com
esta tecnologia, vindo a facilitar o bom
andamento das aulas nas salas de
Informática. Valente também comenta que
geralmente o professor é que tem maior
domínio sobre os assuntos que serão
trabalhados durante as aulas de Informática,
limitando desta forma a aquisição de
conhecimentos por parte do aluno. Tendo o
aluno um maior contato com o computador,
através deste projeto, ocorrerá uma troca de
saberes e conhecimentos entre professor e
aluno.
Segundo Valente (1997), a partir da
segunda metade da década de 1970 e
principalmente nos anos 1990, surgiram as
Novas Tecnologias de Informação e
Comunicação (NTICs), que se
caracterizavam por tornar mais rápido e
menos palpável o conteúdo da educação,
por meio da digitalização e da comunicação
em redes para a captação, transmissão e
distribuição das informações. Considera-se
que com essas novas tecnologias houve a
possibilidade do surgimento da “sociedade
da informação”. As NTICs qualificam o
trabalho do professor, garantindo o acesso
do educando ao mundo globalizado em que
Valente continua comentando da
importância do professor recriar a sua prática
dentro da sala de aula, visando valorizar os
conhecimentos trazidos pelos alunos, que
possuem acesso a informações em tempo
real, podendo assim haver uma maior
interação entre professor e aluno e também
uma aula diferente, inovadora, criativa e
instigante. O professor deve estar preparado
para além de trabalhar a sua disciplina com o
uso da Informática realizar projetos e
pesquisas envolvendo diversas disciplinas,
para obter um trabalho interdisciplinar dentro
das escolas, fazendo um uso destas
tecnologias como forma de enriquecer o
64
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
currículo e as práticas docentes.
Através desta citação, percebe-se a
importância do ato de educar como um
processo em que o aluno constrói sua
identidade, sua personalidade, vínculos
pessoais e desta maneira busca situar-se no
mundo em que vive, tendo consciência de
que suas ações cotidianas produzem
transformações nesse ambiente em que
convive com os outros. Dentro deste
paradigma, entra a função primordial do
educador de fazer com que esse aluno se
torne um sujeito crítico, responsável e
agente de sua própria história, levando-o a
entender que deve usar os recursos
tecnológicos como uma forma de enriquecer
sua aprendizagem e suas relações sociais.
O professor, e todas as pessoas em geral,
dentro do mundo globalizado em que vivem
que passa por transformações a cada dia,
devem estar preparados para saber
trabalhar com essas tecnologias, vencendo
suas limitações e reaprendendo a conhecer,
a se comunicar, a ensinar e aprender,
interagindo consigo mesmo, com um grupo
ou com a sociedade como um todo.
Em entrevista concedida à revista
Escola, Léa da Cruz Fagundes (2012)
comenta sobre a importância de haver uma
troca e ajuda mútua entre professor e aluno
no processo de aprendizagem, em uma
busca por um uso construtivo e satisfatório
dos recursos tecnológicos. Para que isso
aconteça realmente, o professor deve se
deixar levar pela curiosidade, pelo prazer de
inventar e de explorar as novidades, da
mesma forma que este mundo digital encanta
as crianças, também deverá incutir no
professor essa vontade de se apropriar
dessas tecnologias para revolucionar a sala
de aula e suas práticas docentes diárias.
Segundo Fagundes, na mesma
entrevista, quando questionada sobre qual a
atitude do professor em relação ao aluno que
tenha maior conhecimento em Informática do
que ele próprio, a mesma afirma que o
professor não deve temer que este aluno
utilize o conhecimento adquirido para
desrespeitá-lo; pelo contrário, o aluno
sesentirá privilegiado de poder compartilhar
o que sabe com seu educador. A relação
educativa não deve basear-se na hierarquia,
mas sim na reciprocidade e ajuda mútua
entre professor e aluno.
Segundo Pierre Lévy, em entrevista
concedida ao Programa Roda Viva (2001),
certas tecnologias como o computador, por
exemplo, podem ser utilizadas por qualquer
pessoa, independentemente de condição
social, em espaços públicos que realizam
projetos sociais levando a informação para
as comunidades carentes. E isso
proporciona o alcance de uma sociedade
mais justa e digna com o passar dos anos.
Neste trecho da entrevista confirma-se essa
visão defendida pelo pensador:
Ainda segundo Fagundes, o aluno
deve ser instigado a ter uma relação com a
Informática que o leve a conectar-se com o
mundo além da sala de aula, podendo trocar
ideias, informações e conhecimentos com
pessoas das mais variadas faixas etárias,
níveis sociais, etnias, raças e provenientes
de diversos lugares.
Até pessoas que não podem ter um
computador em casa ou se conectar
com a Internet poderão ter acesso ao
ciberespaço através de um
computador providenciado, por
exemplo, por um organismo
comunitário, ou em um bairro, que
possa ser usado por muitos. Poderia
ser usado para o correio eletrônico,
para a busca de informações sobre a
Rede e tudo mais. Portanto, acho que
mesmo pessoas que não podem ter
seu próprio computador poderão
também ter acesso. E, aos poucos, as
coisas vão melhorar. Acho que
precisamos imaginar um futuro
melhor e os melhores usos possíveis
das novas tecnologias para que esses
usos se concretizem. Se nos
concentrarmos apenas nas
dificuldades, obstáculos,
desigualdades e a denúncia de tudo
isso, infelizmente, não teremos
Segundo José Manuel Moran (2000):
Educar é colaborar para que professores
e alunos - nas escolas e organizações transformem suas vidas em processos
permanentes de aprendizagem. É ajudar
os alunos na construção da sua
identidade, do seu caminho pessoal e
profissional - do seu projeto de vida, no
desenvolvimento das habilidades de
compreensão, emoção e comunicação
que lhes permitam encontrar seus
espaços pessoais, sociais e profissionais
e tornarem-se cidadãos realizados e
produtivos. Na sociedade da informação
todos estamos reaprendendo a
conhecer, a comunicar-nos, a ensinar e a
aprender; a integrar o humano e o
tecnológico; a integrar o individual, o
grupal e o social (MORAN, 2000, p. 137).
65
REVISTA SETREM - Ano XI
X nº
nº20
21 JUL/DEZ
JAN/DEZ 2012
2013 ISSN
ISSN 1678-1252
1678/1252
preparado nossa mente para usar
esses instrumentos da melhor forma
possível.
4. QUESTIONÁRIO DESENVOLVIDO E OS
RESULTADOS OBTIDOS
Esta pesquisa sobre o uso das salas
de Informática nas escolas, baseando-se
nas diferenças vivenciadas com alunos de
Séries Iniciais e com professores que têm
formação em Nível Superior e atuam em
escolas de ensino público ou privado, teve
como instrumento de mediação um
questionário desenvolvido com pessoas
dessas duas esferas distintas.
Pierre Lévy, durante a entrevista, fala
sobre a importância da alfabetização para se
compreender e interagir dentro do mundo
digital, com outras pessoas, afirmando que
saber ler e escrever é o primeiro passo para
que se saiba utilizar a Internet e outras
tecnologias que poderão surgir com o tempo.
Esta afirmação é vista no trecho que segue:
“O verdadeiro problema é a alfabetização. E,
no futuro, a tendência será ler e escrever na
Internet, esta grande rede de comunicação,
ou o que irá substituí-la” (p. 4).
O questionário com alunos de Séries
Iniciais foi desenvolvido em uma escola de
Ensino Fundamental na cidade de Boa Vista
do Buricá, com vinte alunos de 3º e 4º anos.
No questionário foram abordadas três
perguntas em relação ao uso das salas de
Informática nas escolas. Será feita uma
análise quantitativa em relação às respostas
obtidas em cada questionamento.
Enfim, a Informática é uma aliada
muito importante no processo da
aprendizagem humana, seja em qualquer
faixa etária. O mais relevante nesse aspecto
é ter consciência que cada vez mais as
tecnologias entrarão em nossas vidas e que
é necessário estar preparado para lidar com
elas. Com o passar dos anos, as pessoas
passarão a agir conforme uma inteligência e
uma cooperação coletiva, no sentido da
detenção do poder sobre o conhecimento e a
comunicação. Esta ideia é expressa por
Lévy, durante um trecho da entrevista:
Pergunta um: Qual a sua opinião referente
ao uso dos laboratórios de Informática?
( ) Ótimo, pois aprendemos cada dia
mais a usar o computador.
( ) Gosto, mas nem tanto, pois já
estou acostumado a usar o computador.
Nesta pergunta as respostas foram
unânimes, todos os alunos marcaram a
primeira opção.
E, no fundo, os grupos humanos, no
futuro, vão se organizar sob a forma
de inteligência coletiva e, cada vez
menos, sob um padrão formal e
hierárquico. Construiremos a
sociedade com o aprendizado
cooperativo muito mais que com as
relações de poder ou a exploração
mútua. E o faremos porque essa
forma de organização irá nos
proporcionar mais poder e felicidade
[...] Significa que uma única pessoa
nunca poderá deter o conhecimento
absoluto. E somos obrigados a
exercer nossa liberdade sabendo que,
como pessoas, não detemos esse
conhecimento. É a condição humana,
só isso (p. 7 e 16).
Pergunta dois: Utiliza a
Internet/computador para que fins?
( ) Pesquisa, elaboração de
trabalhos.
( ) Jogos, músicas, comunicação.
Nesta pergunta sete alunos ficaram
com a primeira opção; treze alunos ficaram
com a segunda.
Pergunta três: Possui computador/Internet
em casa?
Dentro da humildade humana, devese compreender que o conhecimento jamais
pertencerá a uma única pessoa e que as
mudanças nas relações sociais, que estão
ocorrendo devido à implantação de novas
tecnologias a cada dia que passa, dentro da
sociedade, não devem impedir que se
cultivem relações verdadeiras e com
qualidade, fora dos espaços virtuais.
( ) Sim, os dois.
( ) Nenhum.
( ) Computador.
Nesta pergunta um aluno marcou a
primeira opção; dezessete marcaram a
segunda e dois marcaram a última opção.
No questionário desenvolvido com
dez professores, foram elaborados
questionamentos referentes ao uso dos
5
66
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
laboratórios de Informática nas escolas onde
atuam esses profissionais. Esses
professores foram escolhidos
aleatoriamente, sendo eles atuantes da rede
pública e privada de ensino.
Quinta pergunta: Os alunos fazem uso
indevido da Internet?
Primeira pergunta: Sua escola possui
laboratório de Informática?
Neste questionamento, seis
professores marcaram a primeira opção e
quatro marcaram a segunda.
( ) Sim.
( ) Não.
( ) Sim.
( ) Não.
Em relação aos resultados
alcançados com o questionário desenvolvido
com alunos de Séries Iniciais, conclui-se
que, entre os alunos questionados, todos
veem na Informática uma oportunidade
maior de aprendizagem, porém a maioria
prefere utilizar a Internet para se divertir, com
jogos, atividades lúdicas e comunicação com
pessoas de diferentes lugares e contextos,
em vez de usar essa ferramenta para a
elaboração de trabalhos e pesquisas
escolares. Ainda, entre os alunos
questionados, a maioria não possui
computador nem Internet em casa,
mostrando que o local de maior
acessibilidade a essas tecnologias ainda
continua sendo nas escolas.
Nesta pergunta, a resposta foi
unânime entre os professores questionados,
a escola de atuação de cada um deles possui
sala de Informática, ou seja, todos ficaram
com a primeira opção de resposta.
Segunda pergunta: O laboratório de
Informática de sua escola é utilizado para
ampliar os conhecimentos em sala de aula?
( ) Sim.
( ) Não.
Nesta pergunta, oito professores
marcaram a primeira opção, enquanto dois
marcaram a segunda.
O questionário desenvolvido com os
professores mostrou que atualmente a
maioria das escolas já possuem laboratórios
de Informática à disposição dos alunos, e
que estes espaços são utilizados para
facilitar a aquisição de conhecimentos por
parte destes.
Terceira pergunta: Em sua escola ocorre
algum problema que dificulta o uso do
laboratório de Informática?
( ) Sim, por parte dos alunos, quando
realizam pesquisas que não correspondem
aos conteúdos trabalhados em sala de aula.
( ) Sim, devido ao ambiente
inadequado e tecnologias ultrapassadas do
laboratório de Informática da escola.
( ) Não.
Os principais problemas que
dificultam o uso adequado e satisfatório dos
laboratórios de Informática relacionam-se
com atitudes erradas de alunos que usam a
Informática para pesquisas não escolares e
com ambientes inadequados, que possuem
tecnologias ultrapassadas sendo usadas
para a realização de aulas nesses espaços,
não correspondendo às expectativas tanto
dos alunos quanto dos professores, de
usufruir de ambientes e tecnologias
apropriadas para um ensino mais
qualificado.
Neste questionamento, três
professores marcaram a primeira opção, dois
marcaram a segunda e cinco marcaram a
última.
Quarta pergunta: Qual a faixa etária que, em
sua opinião, deve ser a mais adequada para
o aluno começar a usar o laboratório de
Informática?
Outra constatação verificada foi a de
que a maioria dos professores questionados
pensa que quanto mais cedo os alunos
tiverem acesso às tecnologias, com mais
rapidez ocorrerá sua inserção dentro desta
nova modalidade de ensino, que exige por
parte do aluno um esforço para estar
conectado com este mundo digital, que está
se descortinando mais e mais a cada dia.
( ) 6 a 10 anos.
( ) 11 a 16 anos.
( ) 17 anos em diante.
Nesta pergunta, oito professores
marcaram a primeira opção e dois, a
segunda.
67
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Os dois questionários visaram
esclarecer as visões de alunos de Séries
Iniciais e de professores graduados em Nível
Superior quanto à modernização do ensino, o
uso dos laboratórios de Informática nas
escolas, as facilidades encontradas e
também as dificuldades apresentadas para o
uso adequado dessas tecnologias para o
sucesso da educação.
D i s p o n í v e l
e m :
<http://revistaescola.abril.com.br/politicaspublicas/planejamento-efinanciamento/podemos-vencer-exclusaodigital-425469.shtml>. Acesso em: 14 ago.
2012.
LÉVY, Pierre. Entrevista com Pierre Lévy Programa RODA VIVA - TV Cultura.
D i s p o n í v e l
e m :
<http://www.escolanet.com.br/levy/entrevista
.html>. Acesso em: 09 out. 2012.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a realização deste trabalho,
conclui-se que o uso de salas de Informática
tem grande importância na aprendizagem
dos alunos e por isso devem ser utilizadas
dentro do processo da educação. Hoje o
acesso à informação é fácil, o que possibilita
durante as aulas que o aluno traga
conhecimento para o professor em tempo
real, através da utilização da Internet, pois é
de grande importância essa troca e ajuda
mútua entre aluno e professor. Nas Séries
Iniciais a Informática favorece o raciocínio
lógico, trabalha a questão motora e auxilia na
assimilação de conteúdos com maior
facilidade, pois mostra o conteúdo de uma
forma mais lúdica e consegue envolver teoria
com prática através de jogos e atividades.
_____. Entrevista com Pierre Lévy P r o g r a m a R O D A V I VA . D i s p o n í v e l
em:<http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/
47/entrevistados/pierre_levy_2001.htm>.
Acesso em: 09 out. 2012.
LOVATO, Adalberto; EVANGELISTA, Mário
Luiz Santos; GULLICH, Roque Ismael da
Costa. Metodologia da Pesquisa - Normas
para Apresentação de Trabalhos: Redação,
Formatação e Editoração. 2.ed. Três de Maio:
Ed. SETREM, 2007.
MORAN, José Manuel. Ensino e
aprendizagem inovadores com
tecnologias. Disponível em:
<http://www.eca.usp.br/moran/inov.htm>.
Acesso em: 09 out. 2012.
Apesar das inúmeras dificuldades
encontradas, como o uso indevido da Internet
por parte dos alunos e ambientes precários
para serem usados como laboratórios de
Informática, as escolas devem estabelecer a
Informática como parte integrante do
C u r r í c u l o E s c o l a r. C o m a s n o v a s
transformações que ocorrem a cada dia que
passa, os alunos devem ser preparados
desde cedo para esse novo mundo que está
sendo descoberto através da Tecnologia da
Informação e da Comunicação.
SOUZA, Daiany Ferrão Pires de.
Laboratório de Informática: ferramenta de
aprendizagem nos anos iniciais.
D i s p o n í v e l
e m :
<http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/358
15>. Acesso em: 12 ago. 2012.
VALENTE, José Armando. O uso inteligente
do computador na educação. Disponível
e
m
:
<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaa
dia/diadia/arquivos/File/conteudo/artigos
teses/EDUCACAO_E_TECNOLOGIA/USO
INTELIGENTE.PDF>. Acesso em: 14 ago.
2012.
A Informática, quando bem
trabalhada, se torna uma grande aliada
dentro do processo da aprendizagem
escolar. O aluno deve ter a consciência de
que essa ferramenta deve ser usada como
um facilitador para a aquisição do
conhecimento, porém, mediado pela escola,
esse conhecimento deve ser explorado e
construído por ele próprio, através de suas
vivências e experiências pessoais.
_____. Entrevista com José Armando
Valente: Cultura Digital e escola. Disponível
e
m
http://linguagemtecdigital.blogspot.com.br/2
011/05/entrevista-com-jose-armandovalente.html. Acesso em: 12 out. 2012.
REFERÊNCIAS
FAGUNDES, Léa da Cruz. Entrevista com
Léa Fagundes sobre a inclusão digital.
68
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
EDUCAÇÃO INFANTIL E O ENSINO DE CIÊNCIAS: DO COTIDIANO DA
CRIANÇA AO ENSINO APRENDIZAGEM NO AMBIENTE ESCOLAR
Deise Graciéli Tresel 1
Juliana Santos Farsem2
Tatiana Dallavechia 3
Vera Beatriz Pinto Zimmermann Weber 4
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM5
ABSTRACT
The study was conducted in Methodological
Foundations of Natural Science Education
Curricular Component, taking into account the
importance of working relevant issues arising
from children's day to day in natural science
that address educational purposes enabling
them in context building concepts subjective
from these livings made possible in class.
HARLAN (2002), BRAZIL - LDB (1996),
Goldschmied and Jackson (2006), Kramer
(1992), Krasilchik (1987 and 2004), Kuhlmann
(1998), Moraes (1992), WAJSKOP (1995) were
some of the theoretical studied in this writing.
The research is from qualitative approach,
exploratory and descriptive as procedure,
action research and the data collection was
used to interview with kindergarten teachers
about their expectations and methodologies in
the teaching of natural science, and it was
developed in Public and Private Schools from
the northwest region of the state of Rio Grande
do Sul and was concluded through research
that the most common issues in the daily lives of
children, their experiences are the most worked
in the school environment, by some of the
interviewees, in other of them, choice of topic is
being worked on, perhaps because often they
do not have full control over issues related to the
natural sciences, and therefore prefer to
produce classes from themes more easily
addressed and exemplified by them in class.
The study was very interesting and relevant,
enabled to reflect on the teaching of science
and how the classes are produced for early
childhood education and how children interact
from their everyday experiences.
Keywords: Kindergarten. Science Teaching.
Learning.
RESUMO
O estudo foi realizado no Componente
Curricular Fundamentos Metodológicos do
Ensino de Ciências Naturais, levando em
consideração a importância de trabalhar
temáticas pertinentes e oriundas do dia a dia
das crianças, em ciências naturais, que
abordam intenções educativas possibilitandoas em seu contexto a construção de conceitos
subjetivos a partir dessas vivências
possibilitadas em aula. HARLAN (2002),
BRASIL – LDB (1996), GOLDSCHMIED e
JACKSON (2006), KRAMER (1992),
KRASILCHIK (1987 e 2004), KUHLMANN
(1998), MORAES (1992), WAJSKOP (1995)
foram alguns dos teóricos que embasaram esta
escrita. A pesquisa é de cunho qualitativo,
exploratório descritivo e como procedimento, a
pesquisa ação e para a coleta dos dados foi
utilizado a entrevista com as professoras da
educação infantil acerca das suas metodologias
e expectativas no ensino das ciências naturais.
Foi desenvolvida em escolas da rede Pública e
Privada da região noroeste do estado do Rio
Grande do Sul. Concluiu-se com a pesquisa que
os temas mais presentes no cotidiano das
crianças e suas vivências, são os mais
trabalhados no ambiente escolar. Por algumas
das entrevistadas, por outras delas, a escolha
do tema a ser trabalhado seja, talvez pelo fato
de muitas vezes, não terem o pleno domínio
sobre temas relacionados com as ciências
naturais e, portanto, preferirem produzir as
aulas a partir dos temas mais fáceis de serem
abordados e exemplificados por elas. O estudo
foi relevante e muito interessante e possibilitou
refletir sobre o ensino de ciências e como as
aulas são produzidas para a educação infantil e
como as crianças interagem a partir de suas
vivências cotidianas.
Palavras-chave: Educação Infantil. Ensino de
ciências. Aprendizagem.
1
Acadêmica do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, SETREM, ([email protected])
Acadêmica do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, SETREM, ([email protected])
3
Acadêmica do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, SETREM, ([email protected])
4
Licenciada em Ciências Físicas e Biológicas e Biologia (IEDB); Psicopedagoga (URI); Mestre em Educação nas Ciências
(UNIJUÍ); Membro do grupo de pesquisa CNPq: Educação em Saúde Coletiva (SETREM); Rua Guilherme Tesche, nº 553
Emílio Tesch e – 98910-000 – Três de Maio – RS/BR; e-mail: [email protected]
5
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM, Av. Santa Rosa, 2504, Três de Maio – RS, email: [email protected]
2
69
–
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente artigo resulta de uma série
de questionamentos e dúvidas que surgiram
no decorrer das aulas no componente
curricular de Fundamentos Metodológicos
do Ensino das Ciências Naturais. Na reflexão
constante acerca deste tema é que surgiu a
questão que norteou este estudo, como as
professoras nas escolas de Educação
Infantil vêm trabalhando o componente de
Ciências Naturais? Instigadas na produção
do conhecimento é que fomos a campo
realizar a pesquisa dentro do contexto
escolar da Educação Infantil de escolas
públicas e privadas.
A pesquisa foi realizada por meio de
entrevistas, explorando na fala das
educadoras, quais as metodologias usadas,
temas trabalhados, como avaliam e se
consideram importante o trabalho das
Ciências no cotidiano das crianças da
educação infantil. Neste espaço/tempo é
muito importante definir o que a criança pode
aprender e o que deve ser o foco da ação da
professora, compartilhando incertezas e
conhecimentos adquiridos na prática.
Podemos afirmar que a realização
desta pesquisa foi muito significativa para a
aprendizagem, bem como compreensão dos
teóricos estudados no decorrer da
caminhada acadêmica que vêm ao encontro
da realidade encontrada no contexto escolar.
No decorrer deste artigo fomos enfatizando o
ensino e aprendizagem das Ciências
Naturais no espaço/tempo da Educação
Infantil.
não aos do sistema educacional,
levou a ausência desse tema nas
pesquisas educacionais e nos cursos
de pedagogia. Quando, na década de
1970, as creches e pré-escolas
iniciaram seu processo mais recente
de expansão, a crítica à educação
compensatória trouxe à tona o seu
caráter assistencialista,
discriminatório. As concepções
educacionais vigentes nessas
instituições se mostravam
explicitamente preconceituosas, o
que acabou por cristalizar a ideia de
que, em sua origem, no passado,
aquelas instituições teriam sido
pensadas como lugar de guarda, de
assistência, e não de educação
(KUHLMANN JR., 1998, p. 166).
A visão da infância pelos adultos
naquela época também era um ponto
fundamental para a concepção
assistencialista das creches, a criança era
vista como um ser imaturo, não acabado, que
não pensava que não precisava de
educação, somente de cuidado. Kramer
(1992) destaca esta concepção de infância:
A ideia de infância, não existiu sempre,
e nem da mesma maneira, ao
contrário, ela aparece com a
sociedade capitalista, urbanoindustrial, na medida em que mudam
a inserção e o papel social da criança
na comunidade. Se na sociedade
feudal, a criança exercia um papel
produtivo direto ('de adulto') assim que
ultrapassava o período de alta
mortalidade infantil, na sociedade
burguesa ela passa a ser alguém que
precisa ser cuidada (KRAMER, 1992,
p. 19).
DO ASSISTENCIALISMO À EDUCAÇÃO
A história do assistencialismo na
infância é de longa data, vários fatos
históricos foram acontecendo para que isso
viesse à tona. Fatos como o trabalho
feminino e as transformações das famílias,
que, segundo Kuhlmann Jr. (1998), a maior
parte das creches tiveram a sua expansão a
partir do século XIX, que eram de cunho
assistencialista, porque pessoas de baixa
renda precisavam trabalhar para obter o
sustento e, para isso, precisariam deixar
seus filhos em algum lugar. Essa história foi
motivo de muitas pesquisas e debate entre
pensadores e pesquisadores, Kuhlmann Jr.
(1998) nos mostra isso:
Nesta perspectiva é que a creche foi
fundada, tendo o caráter assistencialista,
sendo considerada uma instituição que
prestava assistência social às famílias de
baixa renda. Tinha a função de proteção,
amparo e guarda dessas crianças, que eram
filhas de mães trabalhadoras em tempo
integral. Acolhiam as crianças para afastá-las
da rua, do trabalho e contribuíam para a
diminuição da taxa de mortalidade infantil.
Mas ao mesmo tempo, para Kuhlmann (1998)
isso acabava se tornando uma educação
assistencialista, pois ela foi pensada no
sentido de uma prática intencional, no interior
de instituições que foram feitas para esse fim.
Segundo Kuhlmann Jr. (1998) é a
partir de 1990 que a função de guarda já
A vinculação das creches aos órgãos
governamentais de serviço social e
70
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
que trabalham na Educação Infantil precisam
conhecer a criança com quem estão
trabalhando, entendendo a criança como um
ser social e histórico. Essa educação, que é a
primeira etapa da educação básica,
possibilita uma vivência social um pouco
d i f e r e n c i a d a d o g r u p o f a m i l i a r,
desempenhando assim papel importante no
desenvolvimento da mesma.
Têm-se vários fatores que permitem a
compreensão da atual realidade em que
estão inseridas as instituições de Educação
Infantil que atendem as crianças de 0 a 3
anos. Com isso, a Educação Infantil está se
construindo no decorrer da história e toda a
sua expansão ocorreu de forma rápida nos
últimos anos, a partir da década de 80. Desta
forma, a sociedade começou a se
conscientizar da importância da Educação
Infantil, nas experiências que as crianças de
0 a 3 anos vão vivenciando a cada dia.
A Educação Infantil é o lugar em que a
criança vai desenvolver vários aspectos do
seu ser, o psicológico, o físico, o social, entre
muitas outras habilidades importantes para o
seu desenvolvimento. Mas para que isso
aconteça à escola que comporta essa
primeira etapa da educação básica, precisa
estar preparada para receber crianças dessa
faixa etária. O ambiente precisa estar de
acordo com o que a criança necessita para
que se sinta bem. Desta forma, a criança
precisa se sentir bem e feliz no espaço tempo
em que permanecerá enquanto os seus pais
estão trabalhando.
Nessa perspectiva, o adulto que
trabalha na Educação Infantil tem um papel
importante na vida da criança que frequenta a
escola. E é com esse adulto que ela ficará a
maior parte do dia. Esse pensamento vai ao
encontro com o que GOLDSCHMIED;
JACKSON (2006) fala:
estava sendo constituída como educativa,
pois, ao tirar a criança da rua, podia-se
dentro dessas instituições cultivarem a
inteligência das crianças. A educação
começava a se introduzir nesses ambientes
em que o assistencialismo predominava.
Começava-se, assim, também a pensar e
reconhecer a Educação Infantil.
Durante muitos anos as instituições
infantis, tanto brasileiras como estrangeiras,
tinham o espaço organizado em função da
assistência, alimentação e higiene da
criança. Segundo Wajskop (1995) a década
de 80 passou por um momento de ampliação
do debate a respeito das funções das
instituições infantis para a sociedade
moderna, que teve início com movimentos
populares dos anos 70. Vê-se, assim, que a
partir desse período, essas instituições
passaram a ser pensadas e revistas como
lugar de educação e também de cuidados
coletivos das crianças que as frequentam.
Passa-se assim do primeiro momento
da educação assistencialista para a
Educação Infantil, reconhecida pela Lei
Brasileira, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional – LDB de 1996. De
acordo com o documento a Educação Infantil
passa a ser considerada:
[...] primeira etapa da educação
básica, tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança
até seis anos de idade, em seus
aspectos físico, psicológico,
intelectual e social, complementando
a ação da família e da comunidade
[...] (BRASIL, 1996, p. 25-26).
Essa mudança foi significativa para a
educação. O que antes era considerado
como somente cuidado à criança, agora
passa a ser a primeira etapa da educação
básica, trazendo, dessa forma, a educação
de forma mais específica para dentro das
escolas de Educação Infantil. Assim também
começa a se pensar em desenvolver na
criança o seu físico, o psicológico e também
o intelectual, percebendo que isso faz parte
do desenvolvimento da mesma, trazendo
assim para dentro da escola a família e a
comunidade em geral.
A Educação Infantil é um lugar em que
a criança aperfeiçoa seu desenvolvimento,
tanto físico como psicológico. A criança
estabelece interações com o meio e
estabelece relações com pessoas. Pessoas
Os adultos têm um papel muito
importante na modelagem do
comportamento das crianças, mas
eles podem escolher entre fazê-lo
de forma autoritária ou cooperativa,
por meio de ordens ou negociação.
Existem grandes evidências de que
a segunda forma é de longe mais
eficaz, além de levar a menos
conflitos e angústia. [...] Isso não
apresenta apenas uma questão de
convivência, mas, sim, do direito
das crianças de serem respeitadas
como indivíduos, de serem
escutadas e levadas a sério, de
forma que, ao ficarem mais velhas,
71
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
ocidental após a Segunda Guerra Mundial.
Com ela vieram a industrialização, o
desenvolvimento tecnológico e científico
que provocaram choques no currículo
escolar, pelo motivo de terem em vista o
crescimento do país (KRASILCHIK, 1987).
O ensino de ciências nesse período
não tinha função de formar especialistas,
sendo que a carga horária era de três horas
semanais, isso na terceira e quarta séries do
curso ginasial. Já a física, química e história
natural somente apareciam no currículo do
curso colegial. Muitas propostas também
vinham do Manifesto dos Pioneiros da
Escola Nova. Porém as aulas de ciências
eram realizadas como são em algumas
instituições de ensino, teóricas,
memorísticas, estimulando a passividade.
Desta forma, a maioria das atividades tinha
como principal objetivo a transmissão de
informações, isso de uma forma mais
eficiente. E as aulas práticas se resumiam
no aprender fazendo. Os professores de
matérias como Ciências eram médicos,
engenheiros, farmacêuticos e também
bacharéis, pois eram raros os professores
licenciados que se dedicavam ao magistério
(KRASILCHIK, 1987).
Vários fatos que vinham ocorrendo
no mundo, como por exemplo, o
desenvolvimento industrial que
desencadeou a Guerra Fria, também
influenciou no ensino de Ciências em muitas
escolas. Segundo Krasilchik (1987), por
volta dos anos sessenta ocorreram
transformações no currículo do ensino de
Ciências, o motivo foi as transformações
políticas e sociais que sucederam naquela
época. Desta forma, KRASILCHIK, 1987:
elas possam tomar mais
responsabilidades para si no
sentido de exercer seus próprios
direitos (GOLDSCHMIED;
JACKSON, 2006, p. 24).
Essa modelagem se refere ao
processo de aprendizagem que este adulto
possibilitará à criança. Ele se torna uma
referência para a criança, pois a convivência
entre eles se dá todos os dias. A partir desses
princípios criados pelo adulto em sala de
aula, a criança construirá seu conceito sobre
o mundo, para mais tarde exercer seu papel
de cidadão na sociedade. E, para que isso
aconteça, é importante que a professora da
Educação Infantil esteja preparada para
exercer esse papel para poder fazer um bom
trabalho durante a sua atuação.
O período em que a criança frequenta
a Educação Infantil é o período de transição
em que ela precisa de alguém para lhe
cuidar, ao mesmo tempo precisa começar a
ter o autocuidado. Esse é um momento em
que ela cresce muito rápido em todos os
aspectos de sua vida e quem trabalha com as
crianças precisa estar consciente dessas
mudanças e ser qualificado para a prática
pedagógica para atuação nesta faixa etária.
Nesse ambiente escolar, ela precisa, ao
mesmo tempo, cuidado, proteção, educação
e limites, para se tornar um cidadão e exercer
assim, quando adulto, o seu papel na
sociedade. Papel este que muitas vezes
requer que ela tenha um pouco de
conhecimento sobre as ciências como um
todo, pois segundo Krasilchik; Marandino
(2004) a ciência é uma produção humana, e
por este fato faz parte de uma cultura mais
ampla, no qual as crianças estão inseridas.
[...] nesse período, os grandes
projetos passaram a incorporar mais
um objetivo - permitir a vivência do
método científico como necessário à
formação do cidadão, não se
restringindo mais apenas à
preparação do futuro cientista. Esta
nova postura marca uma diferença
fundamental em relação a etapas
anteriores. Começasse, assim, a se
pensar na democratização do ensino
destinado ao homem comum, que
tinha que conviver com o produto da
Ciência e da Tecnologia e do qual se
requeria conhecimento, não apenas
como especialista, mas também
como futuro político, profissional
liberal, operário, cidadão enfim
(KRASILCHIK, 1987, p. 09-10).
O ENSINO DE CIÊNCIAS DE 1950 – 2012
Vivemos em um mundo no qual a
ciência e as tecnologias nos rodeiam em
qualquer lugar, sem percebermos muitas
vezes que estamos frente a esse paradoxo.
Por este fato, é de grande importância
termos conhecimento de como o ensino da
ciência surgiu, analisando as
transformações pela qual a mesma passou
no decorrer dos anos passados até os dias
atuais. A partir da década de 1950 é que o
ensino das ciências começa a ter
importância perante a sociedade, pois
começou a refletir situações do mundo
72
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Esses novos projetos fazem o ensino
de Ciências sofrer alterações, pois acaba
acoplando a ele a investigação científica, ou
seja, a pesquisa, fazendo com que as aulas
não fossem mais somente feitas por
observação de fatos que aconteciam e a
manipulação de equipamentos e objetos.
Tudo isso faz com que o aluno participe mais
da aula, na qual vai trazer suas opiniões, irá
identificar problemas, com os quais muitas
vezes convive e não sabe resolver.
Na década de 1960, na nossa terra, o
Brasil se encontrava em um período de
liberação política e de euforia; já no quadro
educacional, após longo período de
discussão, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação foi promulgada, na qual a Lei Nº
4.024, de 21 de dezembro de 1961, entra em
vigor, alterando algumas propostas; dentre
elas, o currículo de Ciências, ampliando seu
desígnio. Foi incluída a disciplina de Iniciação
à Ciência desde a primeira série do curso
ginasial e a carga horária de disciplinas como
Física, Química e Biologia aumentou. Desta
forma, foram sendo traduzidos materiais
estrangeiros, e, com isto, teve o Projeto
Iniciação à Ciência, feito para atender essa
nova legislação, fazendo o aluno se tornar
um pesquisador, para assim poder participar
da descoberta (KRASILCHIK, 1987).
A década de setenta já se encontra
ainda mais dentro da revolução industrial,
pois com esse desenvolvimento desenfreado
têm-se decorrentes agressões ao meio
ambiente, as quais eclodem também
consequências no ensino de Ciências.
Segundo Krasilchik (1987), agrega-se mais
um grande objetivo a este ensino, que é o de
fazer com que os alunos comecem a discutir
também as implicações sociais do
desenvolvimento científico. Concomitante a
isto, surge também a nova ênfase dos
projetos curriculares, objetivando descobrir
os valores e o reconhecimento de que a
ciência não era neutra. Nesta perspectiva, a
crise social determinou a preparação de
projetos de cunho específico para minorias,
como os alunos carentes e também de
diferentes etnias. Com a expansão dos
sistemas educativos, tem-se o dilema da
qualidade versus quantidade, ou seja, novos
fins para a educação. A escola secundária
não prepara mais futuros cientistas ou
profissionais liberais, mas sim trabalhadores,
que são peças essenciais para responder as
demandas do desenvolvimento.
O inicio da década de oitenta continua
dentro da crise econômica, crise esta que vai
passando por altos e baixos, trazendo
consequências para a educação. Os
diplomas de ensino médio ou até o de
superior já não garantiam mais um emprego.
A escola abriu suas portas para muitos
estudantes, para uma boa parte da
população. Desta forma, ocorreu a
massificação da educação, que
consequentemente levou a uma queda da
O conhecimento e as informações
são a base necessária para ampliar
questões controversas que incluem
conflitos de interpretação e decisões,
dependentes de valores pessoais e
sociais. Preparar o cidadão para
pensar sobre questões que permitem
várias respostas – muitas vezes
conflitantes – demanda que ele seja
alfabetizado em ciências
(KRASILCHIK; MARANDINO, 2004,
p. 34).
Portanto, via-se a necessidade de
formar um cidadão que pensasse e que não
apenas conseguisse manusear os materiais,
mas que requeresse o envolvimento para
poder resolver problemas a partir do que lhe
propusesse o professor.
Para a realização desses trabalhos
iniciais, foram sendo formados grupos
temporários de cientistas e professores
secundários, que eram sediados por
Universidades ou Institutos de Pesquisas,
que preparavam um conjunto de materiais,
visando, desta forma, à melhoria do ensino
das tradicionais disciplinas científica que
eram: matemática, física, química e biologia.
Porém, como eram matérias amplas, era
necessária a formação de grupos
heterogêneos, pois tudo demandava
competências bem diversificadas. Essas
equipes que formavam os primeiros projetos
curriculares logo inferiram que os textos e os
materiais deveriam ser permanentemente
revistos; desta forma, precisariam também
de um grupo que executasse esse trabalho. A
partir disso os organizadores dos projetos
curriculares começaram a diversificar suas
atividades e metodologias, utilizando
recursos audiovisuais, materiais
complementares e trabalhando em
processos de implementação, sendo que se
acreditava que apenas a qualidade do
material seria suficiente para garantir a
aplicação bem-sucedida (KRASILCHIK,
1987).
73
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
transformações ambientais, intervindo na
utilização dos recursos naturais e como a
tecnologia media essa relação.
Durante os últimos séculos o homem
foi considerado o centro do universo e
acreditou que a natureza estava a sua
disposição, apropriando-se dos seus
processos alterando ciclos e redefinindo
espaços. Hoje, quando se depara com
problemas ambientais que bota em risco a
vida do universo, do mundo, inclusive do ser
humano, as Ciências Naturais podem
cooperar para a reconstrução da relação
homem/natureza. Também é importante
destacar, dentro desta concepção, o estudo
do ser humano e sua herança biológica, o
corpo como um todo, que interatua com o
meio. (BRASIL, 1997)
Na reflexão constante acerca destas
questões e outras ainda que permeiam esta
discussão é que surge a necessidade de
pensar como as professoras nas escolas de
Educação Infantil vêm preparando estas
crianças que já nasceram nesta era
tecnológica. Qual a importância de tratar
estas questões desde cedo e assegurar que
possam ir construindo seus conceitos e seu
posicionamento frente aos temas atuais?
Pois bem, o primeiro passo é desenvolver um
olhar voltado para as crianças como sujeitos
que pensam. Nessa perspectiva, foi imensa
a contribuição de Piaget quanto ao
desenvolvimento da educação das crianças
ao defender que elas pensam de maneira
distinta em relação às crianças mais velhas e
os adultos, cujo pensamento é mais concreto
e menos lógico (...) o Construtivismo propõe
que deve haver experiências a partir das
quais se constrói o conhecimento. (HARLAN,
2002).
Os trabalhos de Lev Vygotsky (1962)
acrescentaram às teorias piagetianas a visão
de que as crianças são auxiliadas e
influenciadas na construção de seus
conhecimentos pelas pessoas que a cercam
(HARLAN, 2002). Uma grande maioria de
pais e professoras sem experiência e
conhecimento imagina a mente das crianças
pequenas como uma fonte vazia a ser
preenchida. Na percepção do ensino de
Ciências na Educação Infantil, é essencial o
papel da professora em:
qualidade de ensino. Alguns temas se
tornam constantes para propostas de
melhorias para o ensino de Ciências, como
por exemplo, as relações entre a indústria e
agricultura, a ciência e a tecnologia que está
cada vez mais presente na sociedade.
Outros assuntos também continuaram
merecendo atenção dos professores, dentre
as quais a educação ambiental e a educação
para a saúde. Desta forma, o ensino das
Ciências continua a ser objeto de
preocupação a elementos ligados à
educação. Assim o CAPES (Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior) criou em 1983 um projeto que
objetivava a melhoria do ensino de Ciências
(KRASILCHIK, 1987).
A partir desse momento na história da
educação, no que tange ao ensino de
Ciências, têm-se aulas muitas vezes
tradicionais no qual somente é transmitido o
conhecimento ao aluno, não deixando que
este o produza da sua forma, a partir do seu
entendimento. A tecnologia vem crescendo
muito e a sua utilização dentro das escolas é
um grande demanda. Porém, ainda
persistem professores somente fazendo uso
dos livros didáticos, esquecendo que por
Ciência se entende tudo o que está ao nosso
entorno, fazendo com que o aluno muitas
vezes fique preso a uma sala de aula, não o
fazendo enxergar o que há lá fora, ciência
pura, para realizar uma aula marcante e
significativa.
Portanto, é importante que os
professores estudem e pesquisem novas
metodologias e que se permita outro olhar
sobre as aulas de ciências, para assim
possibilitar que a criança goste cada vez
mais das mesmas, trazendo para a aula
coisas práticas, e que também possam sair
da sala para produzir aulas, fazendo, desta
forma, um aprendizado significativo.
POR QUE ENSINAR CIÊNCIAS
Na sociedade atual, século XXI, as
mudanças nas mais diversas áreas do
conhecimento se encontram em constante
evolução com as quais as pessoas precisam
conviver e aprender a lidar com as diferentes
tecnologias. Nesta perspectiva é impossível
pensar na formação do cidadão crítico
esquivando-se do mundo globalizado em
que vive. É aqui que a Ciência aparece como
um meio de responder às várias
auxiliar as crianças a organizarem
suas ideias, proporcionando a elas
acesso a palavras comuns
relacionadas ao assunto e ampliando
74
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
seu raciocínio, constitui o papel das
pessoas que sabem um pouco mais,
como é o caso dos professores.
Embora muitos professores sintam-se
desconfortáveis quanto a sua
compreensão de conceitos científicos,
muitos destes conceitos são passíveis
de uma descoberta conjunta pelo
professor e pelas crianças. Trabalhar
com materiais reais, reforçar os
conceitos de várias e diferentes
maneiras, com meios também
diversos, e estar aberto a surpresas,
tudo isso contribui para o
desenvolvimento de conceitos com a
participação de todos (HARLAN 2002,
P. 35).
experiências devem ser de tal
espécie que promovam uma
participação alegre e curiosa das
crianças, possibilitando-lhes o
prazer de fazerem descobertas pelo
próprio esforço. Assim o ensino de
Ciências estará integrando o
mundo, pensamento e linguagem,
possibilitando às crianças uma
leitura de mundo mais consciente e
ampla (MORAES, 1995 p. 14).
Aprender em um contexto interativo,
misturando saberes e produzindo
conhecimento, ultrapassar os limites das
disciplinas integrando-as de acordo com os
modos de produção que demanda a
realidade do contexto, ultrapassar o senso
comum e buscar mais perguntas e respostas
com colegas, com profissionais, nas fontes,
na herança cultural. É partindo disso que o
caminho começa a ser perseguido. O que
importa é aprender a aprender para construir
conhecimentos sistematizados que devem
fazer parte do percurso e não ser o seu fim
(GERALDI, 2010).
Imersos nestas visões, a relação
professor/estudante influencia diretamente
na aprendizagem da criança. É importante
que a professora considere o que a criança
traz, leve em conta os seus
questionamentos e hipóteses, sem perder
de vista o conhecimento científico que
pretende produzir com eles/ensinar. Tendo
presente que os estudantes já pensaram
sobre o tema ou algo relacionado. Essa
interação passa a ser uma tarefa muito mais
dinâmica e significativa para quem aprende
e ensina. Sim, envolve mais trabalho e
comprometimento, mas os resultados
alcançados superam expectativas, em que
um trabalho docente coletivo é a maneira de
se chegar ao sucesso (OLIVEIRA, 1997).
Qualquer professora que se preocupe
com a constituição do outro, oferecendo
atenção, vontade e conhecimento, pode
realizar um trabalho interdisciplinar em aula,
principalmente no ensino das Ciências,
conforme Revista Nova Escola Edição 219,
Janeiro/Fevereiro 2009:
a tendência atual da disciplina é fazer
com que o aluno observe, pesquise
em diversas fontes, questione e
registre para aprender, onde muitos
são os temas ligados ao cotidiano dos
educandos. Por quê? Essa é uma das
perguntas que as crianças fazem com
frequência. Elas têm curiosidade em
saber a origem das coisas e as causas
dos fenômenos da natureza e em
descobrir aquilo que lhes parece
diferente, intrigante, e instigante. A
disciplina de Ciências, quando bem
trabalhada na escola, ajuda os alunos
encontrar respostas para muitas
questões e faz com que eles estejam
em permanente exercício de
raciocínio (NOVA ESCOLA, 2009).
O importante ao introduzir questões
científicas é ligá-las a exemplos e métodos
simples de fácil entendimento e que instigue
o interesse no assunto. Sempre oferecendo
apoio quando há empenho em conhecer
mais. Também é interessante adaptar
experiências para as crianças menores e
com necessidades especiais, a inclusão
representa um desafio para as professoras
que necessitam refletir e buscar alternativas
que os possibilite trabalhar dentro desta
perspectiva e, ao perceberem que os
saberes que cada sujeito traz são diferentes,
favorece as trocas e a aprendizagem.
Hoje e cada vez mais no futuro a
ciência e os resultados de suas
aplicações tecnológicas estão
permeando nossa vida, interferindo
no processo social, seja em
aspectos positivos, seja com
negativos. De seu lado, o homem
comum, o homem de pouca ou
nenhuma escolaridade embora faça
uso e conviva com alguns destes
“produtos” tem pouca chance de
refletir sobre eles, colocando-se
numa posição de mero expectador. À
margem de um conhecimento para
ele inatingível (DELIZOICO;
ANGOTTI 1990, p. 96).
(...) o ensino de Ciências (...) deve
conservar o espírito lúdico das
crianças, o que pode ser conseguido
através de proposição de atividades
desafiadoras e inteligentes. As
A Ciência hoje passou a fazer parte
75
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
do dia a dia do ser humano, ela tem entrada
livre às casas por meio da televisão, rádio,
jornal, revistas, Internet etc., meios de
comunicação que fazem parte de uma era
tecnológica, ligada ao desenvolvimento de
várias gerações. A Internet pode nos
conectar a diversos lugares do planeta. O
lixo é uma questão preocupante em todo o
mundo, poluição, desmatamento,
desenvolvimento e aumento dos meios de
transporte, água, fenômenos naturais e
muitos mais são temas universais.
Fenômeno que pouco tempo atrás não se
discutia com tanta preocupação. Esta
situação pode ganhar um novo olhar com a
formação de cidadãos conscientes,
esclarecidos e responsáveis, profissionais
capazes de formar opinião própria e lutar
pela mesma. E quanto mais cedo se
começa, melhor. É isso que defendemos
enquanto pesquisadoras, na busca pela
experiência e conhecimento.
escolar. Experiências que fazem o aluno
questionar sobre o que está acontecendo
com a natureza e com o mundo. Desta
forma, a instituição escolar precisa valorizar
esse conhecimento que a criança traz para
a sala de aula, para que após uma
conversação sobre o assunto ela consiga
se questionar sobre o que sabia antes e o
que aprendeu depois da conversa, para
assim produzir o seu conhecimento.
Muitos assuntos relacionados com a
ciência deixam as crianças curiosas como,
por exemplo, o ar que elas respiram, pois
quase sempre ouvem que sem ele, não
sobreviveriam. Porém, não basta apenas a
crianças ter curiosidade sobre, é preciso
também que a professora seja mediadora,
para que essa questão possa ser explicada.
Em relação a esse assunto, ao entrevistar
uma professora da Educação Infantil, foi
questionado se a mesma trabalhava esse
tema de maneira ampla e quais as
metodologias que utilizava. Relatou que
trabalhava; também disse que procurava
trabalhar na perspectiva de perceber o ar,
sentir o vento, exercitar a respiração através
de exercícios de inspirar, expirar, sentir o ar
entrando dentro de nós. Também na
questão da importância do ar para a nossa
vida, a questão da poluição, a partir de
conversas e imagens... Ela disse que
trabalhava mais na perspectiva de sentir e
perceber a existência do ar, mas não como
uma substância que ocupa lugar, que tem
peso, que exerce pressão. Deste modo,
percebe-se que a professora trabalha a
ciência de maneira diversificada, instigando
seus alunos a conhecer elementos novos,
trazendo experiências para dentro da sala
de aula, trabalhando na perspectiva da
interação e da mediação, possibilitando que
os estudantes produzam o seu
entendimento sobre as ciências da
natureza. Sendo assim possibilitada a
produção do conhecimento nas Ciências na
Educação Infantil. Para MORAES, 1992
EDUCAÇÃO INFANTIL E O ENSINO DAS
CIÊNCIAS: DO COTIDIANO A
APRENDIZAGEM
A criança que está na Educação
Infantil, como qualquer outra, é muito curiosa
e sente a necessidade de conhecer o mundo
que a rodeia e o professor se torna uma das
peças chave para que isso aconteça. Desta
forma o ensino de ciências na Educação
Infantil precisa promover o conhecimento de
mundo necessário para o estudante. Porém,
é de suma importância que o professor
trabalhe assuntos científicos com atividades
lúdicas, instigando os estudantes a querer
aprender sempre mais. Desta forma, a
criança aprende
[...] pela exploração que
gradativamente vai aumentando seu
autoconhecimento e, por extensão,
seu conhecimento do mundo. A
c r i a n ç a a p r e n d e r a p e n s a r,
estabelece generalizações em seu
pensamento, construindo assim
conceitos a partir da manipulação
com os objetos. Os conceitos nada
mais são do que as palavras com as
quais a criança lê o mundo
(MORAES, 1992, p. 9).
O ensino de Ciências não exige
equipamentos sofisticados nem
requer que o professor conheça as
respostas de todas as questões que
propõe aos alunos. Exige, entretanto,
disposição pra aprender com estes
(MORAES, 1992, p. 13).
Para que aconteça o processo de
ensinar e de aprender é importante que
professora leve em consideração o
conhecimento do aluno, que não é neutro,
pois este já traz consigo uma bagagem, com
experiências vivenciadas fora do ambiente
Outro assunto, que é trabalhado na
76
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
árvores e flores? Você colhia buquês
de flores? A partir de interesses e
experiências desse tipo, você
passou a conhecer mais sobre as
plantas do que imagina. Você pode
trabalhar com o interesse nato das
crianças pequenas pelas coisas que
crescem (HARLAN; RIVKIN, 2002,
p. 69).
Educação Infantil, no que tange ao ensino de
Ciências é a luz, a qual não precisa ser
trabalhada com todas as suas
especificidades, mas sim trazer uma noção
para as crianças sobre o tema e também
explicar algumas curiosidades que surgem
no decorrer das vivências, tanto no ambiente
escolar como no social. Na entrevista
realizada com outra professora sobre o
ensino da luz, relata que trabalha
enfatizando a questão da importância da luz
para os seres vivos e também a questão do
dia e da noite. Realiza explicações com
experiências práticas como, leva as crianças
para fora da sala, para que entendam o que é
o dia, e o que é noite, fechando as cortinas e
desligando as luzes. A professora comentou
que fala sobre a diferença entre a noite e o
dia em relação ao Japão, já que lá é dia
quando aqui é noite. Quanto ao
entendimento das crianças, ela disse que
percebe em desenhos quando expressam o
que faz durante o dia e à noite. Além disso,
mencionou que trabalha com as cores das
luzes por meio de óculos que, de acordo com
a luz, muda as cores. Percebe-se assim que
é nessa perspectiva que ela trabalha com
seus alunos, não trazendo tudo o que é
específico, mas não deixa de trabalhar sobre
o tema.
O tema plantas é um assunto amplo
do qual o professor pode fazer aulas muito
interessantes e significativas, fazendo a
criança criar um interesse maior do que está
aprendendo. Uma das melhores maneiras
de trabalhar as plantas na Educação Infantil
é através de ensaios, deixando a criança
livre para pôr em prática as experiências
vivenciadas. A partir disso conseguem
entender a utilidade das plantas e sua
importância para o ambiente em que
vivemos e as contribuições para os seres
humanos.
Na entrevista realizada com outra
professora sobre o assunto plantas, ela nos
relata que trabalha a Ciência em sua sala de
aula, e também retrata a importância da
mesma ser trabalhada. Segundo ela, é
importante porque “ciências é vida, tudo ao
nosso redor é ciências (as plantas, os
animais, alimentação, corpo, saúde, etc.),
bem como é possível fazer bastante relação
com o dia-a-dia.”
Já na questão plantas, ela diz que
trabalha com bastante ênfase e: “A temática
planta é trabalhada com bastante ênfase,
explorando-se a germinação de uma planta,
as partes da planta, a relação da
interferência do ser humano sobre o meio
ambiente”. Percebe-se, assim, como
determinados assuntos que estão mais
interligados com o cotidiano das crianças,
são trabalhados com mais ostentação do
que os outros conteúdos, que de certa
forma, são mais complexos e requerem mais
estudo para serem trazidos para a sala de
aula.
Esse fato se vivencia em muitos
momentos como no caso da entrevista
realizada com as professoras nos anos
iniciais e Educação Infantil, sobre o assunto
máquinas simples. As duas professoras
relatam que esse assunto é muito complexo
para ser trabalhado com essas idades; por
isso, esse assunto dificilmente entra na
produção das aulas. Assunto esse que
requer um pouco mais de envolvimento por
parte da professora, o qual necessita um
Promover a construção do
conhecimento pela criança significa,
principalmente, envolvê-la na
observação e descrição daquilo que a
cerca e em experiências em que a
própria criança possa participar das
decisões sobre o que investigar e
como fazê-lo (MORAES, 1992, p. 10).
Durante discussões nas aulas de
Ciências, no componente curricular
Fundamentos Metodológicos do Ensino de
Ciências da Natureza na Faculdade,
descobrimos, através das discussões
possibilitadas em aula, que todas nós,
estudantes, tivemos a aula de ciências da
famosa experiência da germinação do grão
de feijão, da qual todas haviam participado.
Esse sempre foi um elemento para a
iniciação do assunto plantas, tanto na
Educação Infantil como no Ensino
Fundamental.
Você se lembra de quando fazia
desenhos e criava figuras de flores e
o gramado era apenas uma lista
verde? Como a maioria das crianças,
você tinha interesse em campos,
77
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
pouco de estudo a mais, que ao mesmo
tempo, não é impossível, um bicho de sete
cabeças, quando é entendido. Alguns
materiais como gangorras, são
equipamentos com os quais as máquinas
simples podem ser introduzidas, e fica a
pergunta, qual a criança que não gosta de
brincar com uma gangorra? Portanto, é
preciso ver o que está ao seu redor para
assim poder perceber as ciências e,
consequentemente, seus conteúdos que
podem ser trabalhados a partir do cotidiano
da criança. Desta forma, Moraes (1992), nos
traz a seguinte reflexão sobre o ensino das
Ciências.
possibilidades... Para MORAES, 1992, p. 13:
O ensino das Ciências volta-se
basicamente para a construção de
conceitos e princípios pela própria
criança. A manifestação destes
conceitos dá-se através da fala.
Assim, na medida em que o ensino
de Ciências possibilitar a ampliação
da linguagem da criança, também
estará possibilitando a percepção de
uma realidade mais ampla. Auxiliar
na construção de novos conceitos é,
portanto, criar condições de
participar num mundo maior
(MORAES, 1992, p. 13).
Desta forma, percebe-se a
importância de trabalhar o ensino de
Ciências da natureza desde a Educação
Infantil, pois é desde ali, que a criança
começará a produzir conceitos sobre o seu
cotidiano. Pode ser a partir do ensino das
Ciências que ela comece a compreender
muitos aspectos relacionados ao ambiente
em que vive e também do mundo que a
cerca.
Pelo fato do ensino das Ciências ser
importante desde a Educação Infantil, é de
suma importância também, que as
professoras destes alunos estejam
preparadas para trabalhar temáticas
relacionadas com as interfaces que Ciências
da Natureza possibilita. De maneira alguma
é necessário que a professora seja
licenciada em Ciências Físicas e Biológicas
para produzir aulas na Educação Infantil. É
interessante que se busque no cotidiano das
crianças as temáticas para produzir com elas
as aulas. Não sendo aí necessário omitir
assuntos, pelo fato de não conhecê-los,
fazendo uso somente de temas que sejam
de seu conhecimento. As crianças se
encarregam de questionar e interagir uns
com os outros na medida em forem
questionadas e desafiadas ao conhecimento
valorizando o que trazem em suas bagagens
individuais. É importante e necessário que o
professor esteja atualizado com leituras e
temáticas do dia a dia das crianças, para que
a mediação seja possível, não sendo daí
necessário ir atrás de novos mecanismos.
Portanto, com a realização da
pesquisa percebeu-se que os temas que
estão mais presentes no cotidiano das
crianças, suas vivências, são os mais
trabalhados no ambiente escolar. Por outro
lado, outras entrevistadas disseram que a
não escolha de determinados temas, seja
Em síntese, o ensino de Ciências nas
séries iniciais deve procurar conservar
o espírito lúdico das crianças, o que
pode ser conseguido através da
proposição de atividades desafiadoras
e inteligentes. As experiências devem
ser de tal espécie que promovam uma
participação alegre e curiosa das
crianças, possibilitando-lhes o prazer
de fazerem descobertas pelo próprio
esforço. Assim, o ensino de Ciências
estará integrando mundo, pensamento
e linguagem, possibilitando às crianças
uma leitura de mundo mais consciente
e ampla, ao mesmo tempo em que
auxilia numa efetiva alfabetização dos
alunos (MORAES, 1992, p. 14).
Esse ensino das Ciências também
pode se dar na Educação Infantil que, com
atividades lúdicas, o ensino de Ciências pode
ser integrado na aula ou até mesmo nas
próprias brincadeiras das crianças, pois, é a
partir do ensino das Ciências que a criança
compreenderá o mundo em que vive. Do
mesmo modo, esse ensino de Ciências na
Educação Infantil pode realizar atividades de
integração, na qual, a partir de situações de
aprendizagem direcionadas às Ciências, é
possível relacioná-las com outras áreas de
conhecimento, fazendo com que essas
aprendizagens sejam produzidas em alguns
momentos como situações de aprendizagens
interdisciplinares.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sem a intenção de concluir, mas com o
firme propósito de continuar buscando
elementos para que essa reflexão possa vir
enriquecer as aulas de Ciências da Natureza
na Educação Infantil e no Ensino
Fundamental é que nos propusemos deixar
alguns indícios de que esse estudo apresenta
78
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
talvez pelo fato de muitas vezes não terem o
domínio sobre eles. Entretanto, alguns dos
temas relacionados com as Ciências
Naturais que são trabalhados em aula e que
as professoras preferem, ao produzi-las, são
aqueles mais fáceis de serem abordados e
exemplificados por elas nas aulas, ou ainda
temas que elas trabalhavam em suas aulas
de ciências quando foram estudantes.
DELIZOICOY, Demétrio; ANGOTTI, José
André Peres. Metodologia do Ensino de
Ciências. São Paulo: Cortez, 1990.
GERALDI, João Wanderlei. A aula como
acontecimento. São Carlos: Pedro & João
Editores, 2010.
HARLAN, Jean D; RIVKIN, Mary S. Ciência
em Educação Infantil: uma abordagem
integrada. Trad. Regina Garcez. 7 ed. Porto
Alegre: Artmed, 2002.
REFERÊNCIAS
MORAES, Roque. Ciências para as séries
iniciais e alfabetização. Porto Alegre: Sagra
DC Luzzato, 1995.
BRASIL, LDB: Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. Brasília: Câmara dos
deputados, Coordenação Edições Câmara,
1996.
OLIVEIRA, Daisy de. Ciências nas salas de
aula. Porto Alegre: Mediação, 1997
GOLDSCHMIED, Elinor, JACKSON, Sonia.
Educação de 0 a 3 anos: o atendimento em
creche. Porto Alegre: Artmed, 2006.
http://revistaescola.abril.com.br/ciencias/funda
mentos/curiosidade-pesquisador425977.shtml?page=all acesso em 27/08/12
Publicado em NOVA ESCOLA Edição 219,
GÜLLICH, Roque Ismael da Costa;
LOVATO, Adalberto. EVANGELISTA, Mário
dos Santos. Metodologia da pesquisa:
normas para apresentação de trabalhos:
redação, formatação e editoração. Três de
Maio: Ed. SETREM, 2007.
Janeiro/Fevereiro 2009. Título original:
Curiosidade de pesquisador
KRAMER, Sônia. A política do pré-escolar
no Brasil: a arte do disfarce. São Paulo:
Cortêz, 1992.
KRASILCHIK, Myriam. O professor e o
currículo das ciências. São Paulo: Editora
Universidade de São Paulo, 1987.
KRASILCHIK, Myriam; MARANDINO,
Martha. Ensino das Ciências e Cidadania.
São Paulo: Moderna, 2004.
KUHLMANN JR, Moysés. Infância e
educação infantil: uma abordagem
histórica. Porto Alegre: Mediação, 1998.
MORAES, Roque. Ciências para séries
iniciais e alfabetização. Porto Alegre:
Sagra: DC Luzzatto, 1992.
WAJSKOP, G. O brincar na pré-escola. São
Paulo: Cortêz, 1995.
BRASIL. Secretaria de Educação
Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais: Ciências Naturais: Brasília,
MEC/SEF, 1997.
79
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
CARTOGRAFIA DE UM ENCONTRO COM
O TERRITÓRIO EXISTENCIAL DA CEGUEIRA
Ana Paula Benatti¹,
Luciano Bedin da Costa²
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM 3
ABSTRACT
This study has as its purpose to describe an
experience of Psychology trainee with a
visual disability group of Três de Maio,
Northwest region of Rio Grande do Sul,
Brazil. The period of trainee lasted half a year,
and in this period it was possible to follow this
group and propose activities that work the
accessibility, self-steam and autonomy of the
people with visual disability. The instruments
used as the Daily Board, in which the
affectations were registered, and the
Vibrating Body of the researcher with his field.
This study was produced from Cartographic
Method of Search-intervention, proposed by
Deleuze and Guattari. The experience points
to a change of position of the people with
visual disability, and affectations were and
ruptures were generated in the hard and
crystallized line in which the blindness
constitutes itself.
Keywords: Cartography. Blindness.Citydevice.
RESUMO
Este estudo tem por objetivo descrever uma
experiência de estágio de Psicologia junto a
um grupo de deficientes visuais do município
de Três de Maio, região Noroeste do Estado
do Rio Grande do Sul, Brasil. O período de
estágio durou um ano e meio, sendo que
nesse período foi possível acompanhar este
grupo e propor atividades que trabalhassem a
acessibilidade, autoestima e autonomia dos
sujeitos com deficiência visual. Os
instrumentos utilizados foram o Diário de
Bordo, em que foram registradas as
afetações e o Corpo Vibrátil do pesquisador
com seu campo. Este estudo foi produzido a
partir do Método Cartográfico de Pesquisaintervenção, proposto por Deleuze e Guattari.
A experiência aponta para uma mudança de
posição dos sujeitos com deficiência visual,
sendo que foram geradas afetações e
rupturas na linha dura e cristalizada em que a
cegueira se constitui.
Palavras-chave: Cartografia. Cegueira.
Cidade-dispositivo.
¹ Discente do Curso de Psicologia da Faculdade Três de Maio – SETREM. Email:
[email protected].
² Psicólogo, graduado pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS); Mestre em
Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Doutor em Educação pela
mesma Universidade (2010). Atualmente é docente do Curso de Psicologia da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul – UFRGS. Email: [email protected]
3
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM, Av. Santa Rosa, 2504, Três de Maio - RS
e -mail: [email protected]);
80
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
INTRODUÇÃO, COMEÇO OU
SIMPLESMENTE PONTO DE PARTIDA
grupo se deu por meio de micro-movimentos
e micro-oscilações do sensível. E neste
“sensível” ocorre-nos o autor Antoine de
Saint-Exupéry (2009, p. 70) que diz: “só se vê
bem com o coração. O essencial é invisível
aos olhos”; tratando-se da experiência com
este grupo, nos arriscaríamos a dizer: micromovimentos do sensível, que só se 'veem'
bem com o coração, pois aos olhos eles
SEMPRE escapam.
“As coisas. Que tristes são as coisas,
consideradas sem ênfase”.
(Carlos Drummond de Andrade).
Esta produção tem por objetivo
descrever uma experiência de estágio de
Psicologia junto a uma Estratégia de Saúde
da Família (ESF) do município de Três de
Maio, região Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul, Brasil. Essas atividades
compõem o Estágio Básico em Saúde
Coletiva da Faculdade Três de Maio –
SETREM, as quais tiveram como foco um
grupo de Deficientes Visuais. O período de
estágio compreendeu três momentos, cada
um com duração de seis meses: a
familiarização com o local/serviço/grupo; a
escuta da demanda e elaboração de um
plano/projeto de intervenção, o qual
chamamos de INTER+AÇÃO; e a realização
do projeto de intervenção/inter+ação.
Quando dizemos que o trabalho
desenvolvido com este grupo de Deficientes
Visuais foi de “inter+ação” estamos nos
referindo à forma como percebemos este
percurso de estágio. Não consideramos este
campo de estágio como um mero
“fornecedor de dados” os quais iríamos
“coletar”. Não nos revestimos da ciência
pura, neutra e positivista. O Método
Cartográfico de pesquisaintervenção/inter+ação possibilitou-nos o
contato direto com o campo/local/grupo
através de instrumentos próprios, como por
exemplo, nosso corpo vibrátil (Rolnik, 2006)
que nos permitiu “sentir” este grupo.
Procuramos, através do fazer psi,
proporcionar trocas entre nós; entre nosso
eu e o grupo, entre o grupo e nosso eu, num
movimento de estarmos o tempo todo nos
“outrando”. E entre uma aprendizagem e
outra, nos descobrimos como sujeitos de
vontade, de desejo; dispostos a gerar um
movimento, uma oscilação, um rumor, nem
que fosse mínimo, mas uma micro-oscilação
que desestruturasse para novamente
estruturar. Um micro-movimento que
começasse intrínseco (dentro de nós,
enquanto estagiária e orientador) e que
contagiasse um grupo, uma comunidade,
uma localidade. Portanto, o fazer psi neste
ASSOCIAÇÃO DE DEFICIENTES VISUAIS
– ASDEVI: UMA BREVE APRESENTAÇÃO
A Associação de Deficientes Visuais –
ASDEVI, de Três de Maio, RS – Brasil é uma
instituição filantrópica que existe há mais de
um ano, sendo que desde agosto de 2010
possui registro oficial. Este grupo é composto
por sujeitos com deficiência visual e/ou baixa
visão, sendo na sua maioria do sexo
masculino, com faixa etária variando entre 20
e 70 anos e, também, por colaboradores
voluntários que participam das atividades e
contribuem para com o grupo.
Como esta associação surgiu através
da ESF, sob a coordenação, na época, da
então enfermeira do local, o grupo contou e
ainda conta com a participação de diversos
profissionais, tais como: agentes
comunitários de saúde, assistentes sociais,
técnicas em enfermagem, educador físico,
além de estagiárias de Enfermagem e
Psicologia da Faculdade SETREM, que têm
passado por este grupo através de seus
estágios curriculares.
Os encontros são semanais, mais
precisamente nas terças-feiras, o dia todo, e
nas sextas-feiras, no turno da manhã. Na
terça-feira é dia oficial de encontro do grupo,
sendo que as assembleias, que acontecem
mensalmente, são realizadas sempre nesta
data, na parte da manhã.
Algo que percebemos desde o
primeiro momento de estágio foi a
necessidade de trabalhar a autoestima e
autonomia desses sujeitos. Portanto, todas
as atividades foram voltadas para essas
questões. Realizamos atividades simples,
que trabalhavam a coordenação motora fina,
principalmente, o que os ajuda na realização
das atividades domésticas e cotidianas como
manusear objetos sensíveis e ter a
percepção de certas texturas, tendo, assim, a
noção de superfície dos objetos. E, durante
81
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
este percurso de estágio, percebemos um
grande avanço do grupo quanto a essas
questões. Quando iniciamos o estágio,
tínhamos nesse grupo um sério problema
saúde relacionada ao alcoolismo, atrelado
intimamente com a questão da autoestima
debilitada e da falta de autonomia. Com os
nossos encontros e com o suporte de
profissionais competentes que
acompanharam e ainda acompanham este
grupo, a questão do alcoolismo foi superada.
É visível a mudança de posição que o grupo
como um todo assumiu; hoje, eles se
mostram mais autônomos para decidirem e
fazerem escolhas, o que se reflete também
na vida particular/individual de cada um.
A mudança realmente é
macroscópica; de uma posição de
submissão à cegueira para a
certeza/confiança de serem sujeitos com
potencial. Sujeitos capazes de se
desafiarem, de ousarem, de tentarem
estratégias, meios de realizar atividades que
os desacomodam, como as que eu propus,
sem medo de errar, de não conseguir, de
fracassar. Não era assim, logo que iniciamos
neste grupo; o que é natural, pois as
primeiras movimentações assustam,
desacomodam e incomodam.
estabelecida do “quanti” ou “quali”, mas não
sem ordem; que permite experimentar o
ambiente, o local ao qual o cartógrafo está
inserido. Nesse sentido, a autora nos aponta
que o cartógrafo é alguém atento aos desejos
dos sujeitos; alguém com um corpo vibrátil,
com o “coração na mão” (Costa, & Redin,
2007, p. 87). O coração enquanto órgão de
profundidade e na mão porque esta simboliza
a ação; o coração trazido para a
superficialidade para se enredar pelos
territórios do devir.
Segundo Rolnik (2006), o que move o
cartógrafo é a sua capacidade de ser tátil,
vibrátil, sensível aos territórios existenciais
dos sujeitos. E, por isso, para o cartógrafo
não é necessário nada além de um manual
de bolso (diário de bordo) que, segundo a
autora é “um critério, um princípio, uma regra
e um breve roteiro de preocupações” (Rolnik,
2006, p. 67); e estas preocupações estão
sempre em processo de formação e
experimentação pelo cartógrafo. Mas uma
coisa é certa e não muda: o princípio do
cartógrafo. Segundo Rolnik (2006), Kastrup,
& Escóssia (2010), não há outra forma de
fazer cartografia senão abandonando todo e
qualquer princípio moral e preconceituoso,
que produz estereótipos e que já está préestabelecido. Para cartografar é preciso um
princípio extramoral. E se a moral não está
em jogo, o que sobressai é a ética do
cartógrafo, que é aquela que respeita o
movimento de expansão da vida, com seus
ínfimos desejos e com suas micro-políticas
desejantes.
Esta foi a preocupação com o grupo
ASDEVI: não ir com conceitos préestabelecidos, que dizem de uma lei moral,
mas “sentir” o local e as pessoas,
possibilitando “ouvi-las”, captando os
rumores mais discretos dos seus desejos;
cartografando esses sujeitos e as suas
relações.
O Método Cartográfico e os encontros
com os Territórios Existenciais
O estágio foi desenvolvido a partir do
método cartográfico de pesquisaintervenção, o que proporcionou um encontro
prazeroso entre os pesquisadores e o grupo
de deficientes visuais. Mas, afinal, o que é
Cartografia? A Cartografia é um método
científico de pesquisa formulado pelos
filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix
Guattari, com o lançamento do livro “Mil
Platôs: capitalismo e esquizofrenia – vol. 01”
(1980). O conceito foi inicialmente tirado da
Geografia, sendo transposto para a Filosofia,
como forma de pensar a realidade através de
outro prisma além do positivista (pesquisas
qualitativas e quantitativas), sendo que a
principal característica desse método é a
inserção do cartógrafo no meio/local. Não há
como fazer cartografia sem estar inserido em
um local e em relação com o mesmo.
Em seu texto “O Cartógrafo”, e com
linguagem suave, Rolnik (2006) nos diz que a
cartografia é encontro, é atenção, é liberdade
norteadora, sem aquela metodologia pré-
O processo de cartografa+ação
Para cartografar o Estágio Básico, os
“instrumentos” utilizados foram o diário de
bordo, para registrar as experiências,
questionamentos, observações, sentimentos
que nos atravessaram no grupo de
deficientes visuais – ASDEVI. E, além deste,
outro “instrumento” utilizado foi o corpo
vibrátil, caracterizado por Rolnik (2006) como
sendo um corpo capaz de sentir cada micro82
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
movimento, cada micro-oscilação do local e
dos sujeitos que estão juntos, em grupo. O
corpo vibrátil possibilitou o contato com os
sujeitos com deficiência visual, bem como
com os demais envolvidos do grupo, o que
permitiu o desenvolvimento da produção de
dados.
Quando dizemos “produção de
dados” estamos nos referindo a Rolnik
(2006), Kastrup & Escóssia (2010), que
abordam a importância de compreendermos
que o cartógrafo é alguém que por si só já
modifica o meio/local e, ao mesmo tempo, é
modificado constantemente por esse
mesmo meio/local; e dizer isso significa
dizer que o cartógrafo NÃO COLETA
DADOS, ele os PRODUZ nessa infinita inter
e intra-relação: entre pesquisador e o outro,
entre o outro e o pesquisador; entre
pesquisador consigo mesmo, entre o outro
consigo mesmo e entre todos, por fim,
formando uma unimultiplicidade.
fomos até o local/grupo com um roteiro préestabelecido das atividades que
desenvolveríamos com eles. Não. Fomos
com algumas ideias, mas o mais importante
era poder ouvir esses sujeitos e saber o que
eles gostariam de trabalhar, o que faria
sentido/afetaria o grupo e o que não
causasse impressão. Se assim não fosse,
ficaríamos numa dialética infindável, e isso é
muito chato, pois não agrega nada ao sujeito.
Então, a proposta de trabalho com este
grupo foi de ir até o local e “sentir” o que esse
grupo demandaria e, a partir disso, elaborar
as atividades a serem trabalhadas. E foi o
que fizemos, pois o mais importante não era
a iniciativa/criatividade, mas o respaldo e a
vontade do grupo em assumir o seu
desejo/demanda: a sua posição de sujeitos
desejantes.
Conforme a organização do Estágio
Básico, que é composto por três momentos
distintos, a cada final de semestre há um
afastamento do estagiário do local. Como os
três momentos foram desenvolvidos no
mesmo local, puderam-se perceber os
avanços que se produziam. Esses avanços
não partiam somente de nós, aliás, tivemos
muito cuidado para não confundir nossa
demanda com demanda do grupo, pois
afinal, todos os movimentos deveriam ser em
prol do grupo.
O primeiro momento de Estágio foi
utilizado para fazermos o que o próprio nome
já diz: FAMILIARIZAÇÃO. Dessa forma,
deixamo-nos envolver com este grupo, com
a participação em almoços e em outras
atividades para formar vínculo e constituir
nosso espaço com eles, o que surtiu efeito
imediatamente. Não havendo esse vínculo
seria impossível trabalharmos.
No segundo momento iniciamos as
tentativas para trabalhar a autoestima e
autonomia, já que sentia o grupo sedento por
produzir alguns movimentos, porém estavam
acuados e inseguros. Talvez este tenha sido
o momento de maior cautela para com o
limite deles. Como tudo era novo e diferente,
um horizonte a ser explorado além das
paredes de suas casas, o único ao qual eles
estavam acostumados, causava certo
receio, o que é muito natural. Então, com
passos lentos, sempre respeitando os
sujeitos que a nós se apresentavam, fui
propondo algumas reflexões a partir de
leituras de poemas, textos, músicas,
A Apropriação de Estrangeiros
Para fazer um diálogo entre os dados
produzidos juntamente com o grupo de
Deficientes Visuais – ASDEVI, fizemos uso
de estrangeiros – assim nomeados por
Rolnik (2006). Estes são poetas, um diretor
de cinema, alguns cientistas, escritores,
enfim; estes são os “outros” devorados,
como nos aponta Rolnik (2006). Esses
estrangeiros foram misturando-se ao
conteúdo da escrita cartográfica para darlhe maior suavidade e profundidade, a ponto
de traduzir literalmente os sentimentos que
nos afetaram enquanto estivemos em
processo de Estágio Básico no grupo
ASDEVI.
Estes estrangeiros aparecem sempre
entre aspas (“ ”) e, como forma de citações,
sob ênfase, como no caso do sublinhado, o
que lhes diferem do restante do texto.
Fizemos uso dos estrangeiros como forma
de englobar o outro e o outro dentro do outro,
como nos fala Rolnik (2006); num processo
de estar se “outrando” e isso justifica o uso
do temo unimultiplicidade: o uno dentro do
múltiplo; o singular “devorado” pelo plural.
DELINEANDO INTENSIDADES – UM
RELATO DO PERCURSO DE ESTÁGIO
O percurso de estágio com o grupo de
deficientes visuais foi uma construção. Não
83
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Ao nosso entender, esses trabalhos
realizados permitiram “desenferrujar” o
corpo vivo e pulsante do grupo, a mente
voraz que se encontrava ociosa, as mãos
esbeltas que estavam espalmadas. Segundo
Pozzana (2010, p.77) “as práticas que lidam
com o homem, deficiente visual ou não, é
com o corpo vivo, o mundo que o engendra e
é por ele engendrado, que importa trabalhar”
(citado em Moraes, & Kastrup, 2010). Dessa
forma, as atividades que realizamos vieram
de encontro ao que esta autora aborda: a
importância de trabalhar em conexão com o
mundo que rodeia o sujeito e que o constitui.
Esta autora ainda relata que “trabalhar
com o movimento e a expressão dos afetos
em curso é uma aposta na ampliação do
território existencial de cada um na medida
em que perceber, agir e criar se dão juntos,
em planos que se tocam” (Pozzana, 2010, p.
77, citado em Moraes, & Kastrup, 2010).
Sempre trabalhávamos essa questão do
afeto em nossas atividades, através de
discussões no início e no final do
trabalho/atividade. Sem esse momento de
reflexão e expressão de sentimentos,
lembranças e afetos, as atividades não
teriam sentido, uma vez que o mais
importante não era a técnica usada para
realizar o trabalho, mas sim o que esse
trabalho mobilizava no sujeito, e quais as
afetações que estavam surgindo no
momento.
Portanto, mais importante do que
elaborar uma “proposta de intervenção” para
finalizar o Estágio Básico, no momento, foi a
minha relação com este grupo de deficientes
visuais, que nos permitiu fazer, já no final do
primeiro momento de estágio, pequenas
intervenções. E, quanto às “pequenas
intervenções”, quando vistas
microscopicamente, são muito mais do que
simples intervenções, são INTER+AÇÕES
que se deram num espaço entre, citando
Deleuze (1998, p. 25): “entre as outras
coisas”.
atividades de pintura com tinta Gauche e,
finalmente, a experiência de “texturear” a
argila, o trabalho com o Crepon e a pintura de
casquinhas de Páscoa para a confecção de
“ninhos” (cestinhas de Páscoa produzidas
pelos deficientes visuais e distribuídas a eles
no almoço de confraternização).
“Textureando” a argila:
As mãos recriando o mundo.
A proposta de INTER+AÇÃO
Em seu filme intitulado “Só Dez por
Cento é Mentira – A Desbiografia Oficial de
Manoel de Barros”, dirigido por Pedro Cezar
(2009), o poeta nos diz: “O olho vê, a
lembrança revê, e a imaginação transvê”
(Manoel de Barros). Essa assertiva do poeta
de alguma forma desconstrói o conceito de
“Coelhinho da Páscoa que trazes pra mim:
Um ovo, dois ovos, três ovos assim”.
84
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
grupo acerca da experiência de transitar pela
cidade.
Este trabalho teve como objetivo
trazer o deficiente visual à rua, para que ele
possa transitar pela cidade, descobrindo os
espaços, incluindo-se enquanto sujeito que
também compõe a cidade; para ter acesso ao
mundo, que é, muitas vezes, excludente por
ser quase completamente visual. Segundo
relato de Francisco Varela (citado em
Moraes, & Kastrup, 2010, p. 15), “80% das
informações acerca do mundo externo nos
chegam através da visão”. Entretanto, a
sociedade e os espaços públicos devem
saber acolher essas diferenças sem excluir
os sujeitos, sem impossibilitá-los de acessar
os locais por uma dificuldade orgânica, como
é o caso da deficiência visual. A cidade é um
espaço de todos. Sendo assim, a proposta foi
de colocar este grupo em movimento; ao
encontro da cidade.
visão, pois o ver é apenas um dos sentidos,
ou seja, UMA forma de capturar o mundo e
não a ÚNICA. Portanto, ver e olhar são
conceitos dicotômicos. Segundo Tiburi
(2010), ver é da ordem do físico/orgânico; já
o olhar envolve muito mais do que fisiologia e
percepção, mas também temporalidade,
contemplação e sensação. Foi partindo
dessa relação entre ver e olhar que
elaboramos um Cronograma de
Intensidades como proposta de
INTER+AÇÃO com o grupo de deficientes
visuais.
Nesse processo de inter+ação com
os territórios existenciais dos sujeitos que
frequentam a Associação de Deficientes
Visuais – ASDEVI, buscamos, nos espaços
da cidade, um dispositivo para trabalhar a
expansão da vida; um dispositivo
impulsionador de desejos e devires. A cidade
vista como um meio de buscar a inclusão e a
acessibilidade da pessoa com deficiência
visual. E, com isso, trabalha-se também a
questão da autonomia e autoestima,
questão central do fazer “psi” neste espaço.
Foto: Ocupando os espaços da cidade
Caminhada promovida pelo grupo
ASDEVI em parceria com profissionais da
Clínica de Reabilitação de Giruá.
Então, elaboramos um cronograma
de intensidades para conduzir o nosso
trabalho. Porém, tratava-se apenas de um
plano, pois se sabe que em cartografia não
trabalhamos com certezas absolutas e nem
com propostas inalteráveis. Não; em
cartografia trabalhamos com propostas, com
esboços, mas nunca com um resultado final
prévio. Dessa forma, a proposta foi
apresentada ao grupo, e o que quer que eles
quisessem mudar seria alterado. Portanto, o
cronograma de intensidades constituiu-se
em 10 encontros; um encontro-preparação
para a saída/passeio e o outro em que
iríamos até o local definido. Sendo assim,
seriam visitados cinco (05) locais/espaços.
Foto: www.portaltresdemaio.com
Três de Maio, cidade-dispositivo.
Mas como cartografar a cidade?
Segundo Torossian (2008), “cartografar o
dispositivo da cidade implica em me
relacionar também com o conceito de
acontecimentalização” (p.5); a autora ainda
cita Foucault (2003) para definir o termo
acontecimentalização como uma “ruptura
absolutamente evidente” (citado em
Torossian, 2008, p.5). A cartografia da cidade
foi produzida a partir de saídas e passeios,
explorando os seus espaços, encontrando
pessoas, visitando lugares até então
desconhecidos, experimentando novas
s e n s a ç õ e s
e
conversando/dialogando/refletindo em
85
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
tiverem interesse. Mas, para isso, eles farão
outro plano, que poderá fracassar ou não;
mas que não dependerá de nós, cartógrafos.
Dependerá única e exclusivamente do
desejo deles enquanto grupo e do
improvável que acomete todo e qualquer
plano.
Consideramos importante poder falar
sobre o quanto essas saídas/passeios pela
cidade mobilizaram os sujeitos. Não só pelo
fato de estarem conhecendo um local “novo”,
mas também pela iniciativa de se “arriscar” a
tentar o novo/desconhecido. No Minizoológico eles puderam tocar em alguns
animais, como no Pônei, que muitos deles
não conheciam. Um dos integrantes do
grupo, ao fazer esta experiência, diz para
mim: “Um cavalo piquininho. E tem bastante
cabelo! Que fofinho!” (referindo-se às crinas
do animal). E os outros que estavam ao redor
riram, e também quiseram passar a mão no
“bicho”.
Cada som, cheiro, sensação era
percebida por todos, pois assim que sentiam
algo, eles falavam a respeito, e os
responsáveis pelo Mini-zoológico
pontuavam sobre o que se tratava. Um
deficiente visual que ia caminhando apoiado
em nosso braço vira-se e diz: “Tem cheiro de
mato.”, e inspira o ar. Estávamos prestes a
adentrar em um local cheio de árvores e
plantas rasteiras: um bosque. Então
dissemos a ele que sim, que estávamos
entrando em um bosque e que o seu nariz
estava muito bom, pois percebeu o cheiro.
Ele riu e eu também, pois eu não havia
percebido cheiro algum, mas ele sim!
O toque foi um grande aliado nesse
processo de inter+ação, uma vez que
possibilitou o contato com texturas
diferentes, o que permitiu que o deficiente
visual apreendesse o ambiente ao seu redor.
No passeio ao museu um pensamento se fez
presente, um preceito epistemológico,
talvez: “como eles vão saber o que tem lá, se
em museu é proibido tocar nos objetos?”.
Estávamos angustiados e pensando em
como iríamos “narrar” a eles o que
víamos/enxergávamos e o que eles
poderiam imaginar a partir do nosso relato.
Porém, quando chegamos ao local, a moça
responsável museu disse-me que eles
poderiam tocar nos objetos, “pois, de que
outra forma eles poderiam “ver” o que havia
ali?”. E assim, fomos experienciando o
momento. Eles iam tocando os objetos e
O Fracasso como Estratégia de Pesquisa
Conforme Cage, “é próprio do plano
que o plano fracasse” (citado em Deleuze &
Guattari, 1997, p. 51). Dessa mesma forma,
o nosso plano também fracassou.
Fracassou porque sofreu modificações
involuntárias, tais como: tempo chuvoso,
que impossibilitou nossas saídas/passeios;
tempo cronológico “estreito”, o que resultou
em apenas quatro (04) lugares visitados ao
todo e não cinco (05), como constavam no
“plano”; escolha de outros lugares ao longo
do “plano”, enquanto percorríamos a cidade.
Nesse sentido, o “plano” fracassa por ser
transpassado pelo imprevisível/improvável;
mas nós não tínhamos como prever nada
disso e, por esta razão, o plano não foi um
fracasso. Ele se realizou da mesma
maneira, apenas com pequenas alterações
produzidas pelo imprevisível/improvável.
Para explicar melhor o fracasso do plano, os
autores Deleuze e Guattari (1997, p. 51)
ainda abordam o fato de que o fracasso é
causado “Justamente porque não há
organização, desenvolvimento ou formação,
mas transmutação não voluntária”.
O fracassar do plano, por sua vez,
tem a ver com o próprio método de pesquisa
proposto pela cartografia. Segundo Passos,
Kastrup & Escóssia (2010. p. 10-11) “a
cartografia propõe uma reversão
metodológica: transformar o metá-hódos em
hódos-metá. Essa reversão consiste numa
aposta na experimentação do pensamento –
um método não para ser aplicado, mas para
ser experimentado e assumido como
atitude”. Portanto, o nosso trabalho foi
realizado como experimentação, não como
imposição de algo que não poderia sofrer
alterações, uma vez que estas provêm
sempre do local/grupo. Dessa forma, o plano
é sempre um plano que fracassa, na medida
em que não passa de uma simples proposta
passível de mudanças; por outro lado, o
plano jamais fracassa por justamente ser um
plano que está aberto ao novo/diferente, a
sofrer alterações.
Nosso Cronograma de Intensidades
cartografou a cidade a partir dos seguintes
locais/espaços: 1) Praça da Igreja Matriz; 2)
Mini-zoológico Mundo Mágico; 3) Museu
Municipal; 4) Lar dos Idosos. Entretanto, ao
finalizar o Estágio Básico, deixei em aberto a
proposta de o próprio grupo de deficientes
visuais se organizar e passar/encontrar mais
alguns espaços da cidade, os quais eles
86
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
descobrindo o mundo e a história que havia
neles e perguntavam a data de cada um; nós
íamos acompanhando e lendo as etiquetas
com o nome do objeto, a data e o doador. A
moça também nos acompanhou e fez o
mesmo sempre que alguém solicitava.
Tocar e sentir estavam intimamente
ligados. A cidade ofereceu as texturas, os
cheiros, os sons e nós (grupo + estagiária)
nos “contaminamos” com os espaços da
cidade-dispositivo. Misturamo-nos ao sol
escaldante das tardes de passeio, aos
cheiros dos locais, ao barulho da cidade em
plena efervescência, aos roncos dos
motores de carros apressados, ao asfalto
sólido, aos arbustos inconvenientes que
encontramos pelo caminho, aos cantos dos
pássaros das árvores da praça, às pessoas
que transitavam, ao motorista do ônibus que
nos levou aos locais mais distantes. Enfim,
nos “outramos” na cidade; e, no final, não
sabíamos quem era a cidade, quem era o
grupo: éramos cidade-grupo.
objetivos/metas; um sujeito que tem suas
preferências, seu estilo próprio, seu gosto
particular e único e que é capaz de criar e se
recriar sempre.
Portanto, considero o nosso fazer
(nosso e do grupo ASDEVI) muito intenso.
Trabalhávamos sempre na perspectiva de
poder ver o sujeito acima de qualquer
deficiência: o sujeito não em sua essência
(porque esta é uma linha muito dura), mas o
sujeito em sua efervescência, em tudo o que
ele é capaz de produzir e de se afetar. O
sujeito como alguém com um corpo vibrátil e
um desejo pulsante (devir).
Ademais, a ideia de utilizar a cidade
como dispositivo para trabalhar a autonomia
e acessibilidade do sujeito com deficiência
visual foi mobilizadora; produziu afetações e
rupturas na linha dura e cristalizada em que a
cegueira se constitui. Além disso, as
saídas/passeios sempre resultavam em
muita discussão e reflexão, sendo que cada
sujeito podia trazer suas impressões,
lembranças, afetações que o momento
propiciou. Porém, mais importante que poder
falar sobre (ordem macroscópica) foi
promover vazão/passagem a essas
produções (ordem microscópica).
CONSIDERAÇÕES FINAIS,
ENCERRAMENTO OU SIMPLES
RECOMEÇO?
O momento de Estágio Básico em
Saúde Coletiva nos proporcionou a
experiência de conhecer um grupo de
deficientes visuais e participar de seus
encontros/reuniões, firmando um vínculo
que possibilitou/viabilizou o nosso trabalho.
Todas as mudanças e alterações de trajetória
encontradas pelo percurso de estágio
inspiraram-nos às mais variadas
experiências do sensível, de um corpo
vibrátil que “descobria” um grupo e se autodescobria através da reinvenção do fazer psi.
Dessa forma, nossa cartografia se fez sob o
tom de um aprendizado mútuo, como troca,
pois tanto nós (estagiária e orientador)
quanto o grupo de deficientes visuais fomos
afetados pelos encontros, trabalhos e
saídas/passeios afim de cartografar a
cidade.
Com isso, percebe-se também a
mudança de posição que esses sujeitos
assumiram perante a sua dificuldade de
visão, que deixou de ser vista como ponto
central de suas vidas, passando a ser
percebida/encarada como uma parte,
porque, além desta, há um sujeito com
vontade de potência: com desejos, sonhos,
REFERÊNCIAS
DE ANDRADE, Carlos. Drummond. 19021987. A Flor e A Náusea (pp. 36-37). In
Antologia Poética. (66ª ed.) Rio de Janeiro:
Record, 2010.
DA COSTA, Luciano Bedin; REDIN, Mayra.
Martins. (2007). Clínica e Klínica: a
Psicologia e suas outras maneiras de habitar
o espaço. Revista SETREM, 6(10), 86-90.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil
Platôs – Capitalismo e Esquizofrenia. Vol.
04. São Paulo: Editora 34, 1997(a).
_____. Mil Platôs: capitalismo e
esquizofrenia. Vol. 05. São Paulo: Editora 34,
1997(b).
D E L E U Z E , G i l l e s ; PA R N E T, C l a i r e .
Diálogos. São Paulo: Escuta, 1998.
MORAES, Marcia; KASTRUP, Virgínia.
Introdução. In M. Moraes, & V. Kastrup (Eds),
Exercícios de Ver e Não Ver: arte e
pesquisa com pessoas com deficiência
visual. (pp. 13-24). Rio de Janeiro: Nau,
2010.
87
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
PASSOS, Eduardo; KASTRUP; Virgínia;
ESCÓSSIA, Liliana. Apresentação. In E.
Passos, V. Kastrup, & L. Escóssia (Eds).
Pistas do Método da Cartografia:
pesquisa-intervenção e produção de
subjetividade. (pp. 7-16). Porto Alegre:
Sulina, 2010.
POZZANA, Laura. Oficina de Movimento e
Expressão com deficientes visuais: uma
aprendizagem coletiva. In M. Moraes, & V.
Kastrup (Eds), Exercícios de Ver e Não Ver:
arte e pesquisa com pessoas com deficiência
visual. (pp. 76-95). Rio de Janeiro: Nau,
2010.
ROLNIK, Sueli. Cartografia Sentimental:
transformações contemporâneas do desejo.
Porto Alegre: Sulina/UFRGS, 2006.
DE SAINT-EXUPÉRY, Antoine. O Pequeno
Príncipe (48ª Ed). Rio de Janeiro: Agir, 2009.
TOROSSIAN, Karina. Djambolakdjian.
Cidade dispositivo: paradoxos juvenis!.
Artigo de Conclusão de Curso NãoPublicada, Curso de Especialização em
Psicologia Social e Institucional,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), Porto Alegre/RS, 2008.
IMAGEM: Portal Três de Maio. Título:
Vereador quer que prefeitura de Três de Maio
adote uma política de proteção do patrimônio
histórico. Data: agosto de 2006. Disponível
em portaltresdemaio.com. Retirado em 25
d e n o v e m b r o d e 2 0 11 d o
http://www.portaltresdemaio.com.
FILME: Cezar, P. (Diretor). Só Dez por Cento
é Mentira – A Desbiografia Oficial de Manoel
de Barros, 2009.
88
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO NUM CASO
DE ABUSO SEXUAL INFANTO-JUVENIL: AVALIANDO O
PROCESSO DE RESILIÊNCIA
Taísa Mariluz Rommel 1
Jeane Lessinger Borges2
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM 3
RESUMO
Este estudo investigou o processo de
resiliência a partir de um caso de uma
adolescente que foi exposta à violência
intrafamiliar em sua infância. Trata-se de uma
pesquisa qualitativa, através de um estudo de
caso único, na qual foi realizada uma
entrevista individual semiestruturada e a
construção de uma narrativa de vida. Os
resultados foram analisados através da
Análise de Conteúdo. Foram construídas três
categorias: “Revelação do segredo”; “Fatores
de risco”; e “Fatores de proteção”. Os
resultados revelaram a importância do apoio
e do amparo da família no momento da
revelação, uma vez que sentimentos de
culpa, medo e insegurança permeiam este
processo. Embora o abuso sexual possa ser
compreendido como um evento estressor
traumático na infância e na adolescência,
buscou-se avaliar os fatores de proteção
(familiar, escolar, comunitário e individual)
que pudessem estar associados à superação
desta violência. Os resultados indicaram que
autoestima, visão positiva de si e de futuro se
constituíram como fatores de proteção
individuais associados a um processo de
resiliência. Por fim, aponta-se a necessidade
de uma rede de proteção articulada, a qual
possa dar também suporte às adolescentes
vítimas de abuso sexual e suas famílias, bem
como que esta possa atuar também na
prevenção da violência e na garantia dos
direitos.
Palavras-chave: Adolescência. Abuso
sexual. Fatores de risco. Fatores de proteção
e resiliência.
ABSTRACT
This study investigated the process of
resilience from the study case of a teenager
who suffered interfamilial violence in
childhood. It is a qualitative research, through
unique study case, in which a semi structured
individual interview was performed and the
building of a life narrative. The results were
analyzed through Content Analysis. Three
categories were built: "Revelation of the
secret," "Risk Factors" and "Protective
factors". Thus, these results have revealed
the importance of support and of the family
assistance at the moment of revelation, since
feelings of guilt, fear and insecurity permeate
this process. Although the sexual abuse can
be understood as a traumatic stressor event
during childhood and adolescence, to
evaluate the protective factors (family, school,
community and individual) that could be
associated with the overcoming of this
violence was searched for. The results
indicated that self-esteem, self positive view
and of the future established themselves as
individual protective factors associated with a
process of resilience. Finally, it is pointed out
the need of an articulated safety net, which
can also give support to the adolescent
victims of sexual abuse and their families, as
well as that it may also act in violence
preventing and in the guarantee of the rights.
Keywords: Adolescence. Sexual abuse. Risk
factors. Protective factors and resilience.
1
Acadêmica do Curso de Psicologia/SETREM
Mestre em Psicologia (UFRGS), Docente do Curso de Psicologia/SETREM
3 Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM, Av. Santa Rosa, 2504, Três de Maio – RS,
e-mail:[email protected]
2
89
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Considerando estes aspectos, esta
pesquisa buscou a identificar e conhecer a
história de vida de uma adolescente vítima
de violência, buscando impulsionar novas
pesquisas sobre resiliência na adolescência.
Para tanto, os pressupostos teóricos que
fundamentam esta pesquisa são: Psicologia
Positiva, Resiliência, Adolescência e
Violência.
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho está focado nas
concepções referentes à etapa do
desenvolvimento conhecida como
adolescência, sendo esta fundamental para
a formação da identidade adulta e pela
independência do sujeito (PAPALIA & OLDS,
2000). Alguns autores mencionam que a
grande maioria dos adolescentes a
vivenciam de forma saudável, embora
alguns a vivenciam pela presença de
eventos estressores negativos (ASSIS,
PESCE & AVANCI, 2006).
A exposição à violência é
compreendida como um fator de risco para o
desenvolvimento de um(a) adolescente.
Estudos têm dado maior ênfase no impacto
da violência no desenvolvimento destes
adolescentes (AMAZARRAY & KOLLER,
1998; BORGES & DELL'AGLIO, 2008). De
acordo com De Antoni e Koller (2000), o
ingresso na adolescência, devido às
transformações emocionais e cognitivas,
permite que o(a) adolescente tenha mais
recursos para enfrentar as adversidades
enfrentadas. Desta forma, tornam-se
necessárias novas pesquisas que
investiguem as estratégias de superação por
parte de adolescentes vítimas de violência.
No entanto, poucos estudos têm
abordado a capacidade de superação dos
eventos de violência no desenvolvimento do
indivíduo, em prol de um processo de
resiliência (ASSIS et al., 2006; SANTOS &
DELL'AGLIO, 2006). Para Poletto e Koller
(2006), os estudos sobre a resiliência dizem
respeito às histórias de pessoas que lidam no
seu cotidiano com inúmeras vivências de
adversidades, mas que contam com a
proteção e os recursos internos e de seu
contexto de desenvolvimento na direção de
uma trajetória de vida saudável.
Desta forma, o foco do presente
estudo foi compreender a presença do
processo de resiliência a partir do estudo de
caso de uma adolescente vítima de abuso
sexual intrafamiliar. Buscou-se avaliar a
presença dos fatores de proteção presentes
no contexto de desenvolvimento desta
adolescente. Os fatores de proteção são
aqueles que, diante de uma trajetória de vida
de risco, modificam o rumo da vida do sujeito
em desenvolvimento para um final mais
adaptativo (POLETTO & KOLLER, 2006).
2. MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA
O enfoque metodológico será de
ordem qualitativa. Como estratégia
metodológica, será utilizada “Histórias de
Vida”, a partir do viés proposto por Josso
(2004) e Souza (2006). Em consoante com
os autores, será priorizado o uso das
narrativas do sujeito acerca de sua própria
vida, situando-o em direção aos seus
próprios projetos de vida. O sujeito, ao contar
sua história, projeta suas questões e
desejos, reelaborando temas e dificuldades
vividas no passado. De acordo com Josso
(2004), nos adolescentes as experiências
formadoras são as aprendizagens que
articulam: saber-fazer e funcionamentos,
funcionalidade e significação, técnicas e
valores num espaço-tempo que oferece a
cada um a oportunidade de uma presença
para si e para a situação, por meio da
mobilização de uma pluralidade de registros.
Observando a narração biográfica, vê-se
outro meio para observar um aspecto central
das situações educativas, pois ela permite
uma interrogação das representações do
saber-fazer e dos referenciais que servem
para descrever e compreender a si mesmo
no seu ambiente natural.
O processo de formação, nas
dialéticas e nos conteúdos que caracterizam
uma trajetória de vida, conforme Josso
(2004), é progressivamente explicitado a
partir de questionamentos, de hipóteses, de
constatações de recorrências nos
comportamentos, nas atitudes ou nas
valorizações e na maneira de cada um gerir
sua própria vida. Dessa forma, começa a
aparecer um autorretrato: fragmentos de
uma busca de si e da sua projeção,
colocando em cena um sujeito que, ainda
que não se reconheça sempre como tal, age
sobre situações, reage a outras, ou ainda,
deixa-se levar por algumas circunstâncias.
Foi proposto para o participante
desenvolver uma escrita sobre a sua história
90
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
forte com os alunos. As orientadoras
pedagógicas atuam na escola a mais de 15
anos. Desta forma, acredita-se que estas
têm um conhecimento da realidade dos
estudantes podendo julgar melhor quais
adolescentes poderiam estar participando da
pesquisa. Foram informados os critérios de
inclusão às orientadoras pedagógicas, as
quais indicaram alguns nomes de
adolescentes. A aluna pesquisadora
convidou estes adolescentes para uma
conversa inicial, explicando os objetivos da
pesquisa e do caráter voluntário na
participação da mesma. Os adolescentes
que concordaram em participar da pesquisa
levaram para casa um bilhete convidando os
pais para comparecerem na escola em data
previamente agendada.
de vida, oferecendo uma folha pautada e um
lápis. O dispositivo para o início da escrita da
narrativa será: “Era uma vez um
adolescente...”. Após a primeira escrita,
pediu-se que a adolescente lesse em voz alta
seu texto. A pesquisadora fez comentários a
fim de que a adolescente se apropriasse do
seu texto, instigando-a a acrescentar algo
mais em sua escrita. Assim, foram-se
acrescentando outras frases na produção da
continuidade da narrativa. Além disso, foi
realizada uma entrevista semiestruturada, a
qual foi gravada e, posteriormente, transcrita.
Os dados desta entrevista foram avaliados a
partir dos pressupostos da Análise de
Conteúdo (BARDIN, 1997).
Trata-se de um Estudo de Caso, no
qual participou uma adolescente, com 13
anos, matriculada em uma escola pública de
tempo integral, localizada na periferia de um
município do interior do Rio Grande do Sul. A
amostra foi intencional, sendo que a equipe
pedagógica da escola indicou a participante.
Critérios de inclusão: 1) ser
adolescente e concordar em participar da
pesquisa; 2) ter vivenciado algum tipo de
violência na adolescência ou na trajetória de
vida, sendo que o último episódio foi superior
a um mês da entrevista; 3) ter concordância
dos pais ou responsáveis legais para
participar da pesquisa.
Critérios de exclusão: 1) o
adolescente não ter vivenciado algum tipo de
violência na adolescência ou na trajetória de
vida; 2) a violência sofrida ter ocorrido num
período inferior a um mês da entrevista; 3)
não ter a concordância dos pais ou
responsáveis para participar da pesquisa; 4)
no momento da entrevista o adolescente
estar sob o efeito de alguma substância
psicotrópica ou estar fragilizado pela
exposição à violência.
A escola foi escolhida para a pesquisa
por ser o local em que a pesquisadora
realizou estágio curricular em Psicologia
durante um ano e seis meses, entrevistando
e acompanhando casos de alunos em
situação de vulnerabilidade psicossocial e
encaminhando-os para atendimento na rede
de proteção, quando necessário.
Após o aceite da direção da escola, foi
solicitada à equipe pedagógica a indicação
de um menino e de uma menina para serem
entrevistados. A equipe pedagógica da
escola tem demonstrado um vínculo afetivo
Foram convidados um menino e uma
menina adolescentes. No dia em que os pais
destes adolescentes foram reunidos na
escola para a exposição dos objetivos do
projeto, apenas a mãe da aluna compareceu.
Desta forma, a amostra da pesquisa e seu
delineamento foram reavaliados, adotandose Estudo de Caso único. Para esta mãe,
fora esclarecido que a participação da sua
filha era voluntária na pesquisa. A mãe da
a d o l e s c e n t e a s s i n o u o Te r m o d e
Consentimento Livre e Esclarecido
concordando que sua filha participasse do
estudo. Com o TCLE assinado, foi agendada
e realizada a coleta de dados.
Após rapport inicial com a
participante, a pesquisadora realizou uma
entrevista semiestruturada individual, a qual
foi gravada e transcrita, abordando dados
biodemográficos, concepção de
adolescência, a exposição à situações de
violência e sobre os fatores de proteção
(individuais, familiares e comunitários).
Buscou-se adotar uma postura ética no
manejo da entrevista, buscando não ser
abusiva. Ao final da pesquisa a adolescente
foi encaminhada para acompanhamento
psicológico no Serviço de Clínica-Escola de
Psicologia da SETREM, após uma conversa
com ela e com sua mãe. Esta pesquisa foi
aprovada pelo Comitê de Ética da UNIJUÍ e
atende as diretrizes da Resolução 196 do
Conselho Nacional de Saúde, referente à
pesquisa com seres humanos (BRASIL,
1996).
91
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
angustiado, injustiçado, incompreendido por
pais e professores, acarretando muitas
vezes problemas de relacionamento com as
pessoas mais próximas do seu convívio
social.
Segundo Ozella (2002), a concepção
vigente na Psicologia sobre adolescência
está fortemente ligada a estereótipos e
estigmas, desde que a identificação como
uma etapa esteja marcada por tormentos e
conturbações vinculadas à emergência da
sexualidade. Essa concepção foi reforçada
por algumas abordagens psicanalistas que a
caracterizaram como uma etapa de
confusões, estresse e luto, também
causados pelos impulsos sexuais que
emergem nessa fase do desenvolvimento.
No entanto, Peres e Rosenburg (1998)
criticam um olhar patológico ou de crise
associado à adolescência, pois
compreendem que esta é uma visão
adultecêntrica desta etapa do
desenvolvimento.
No Brasil, o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA, BRASIL,1990)
estabelece a faixa etária entre 12 aos 18
anos como sendo adolescência. Além disso,
os adolescentes são protegidos pela
Proteção Integral desta Lei, que os considera
cidadão em etapa peculiar do
desenvolvimento. Embora protegidos
legalmente, são vítimas de violência, a qual
se constitui um fator de risco para o
desenvolvimento.
Segundo Bicudo (1994), conforme a
legislação vigente, crianças e adolescentes
são Sujeitos de Direitos. A Constituição
Federal e o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) são muito claros quando
colocam a população infanto-juvenil como
credora de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, referindo-se à
necessidade de proteção integral para
assegurar-lhes o pleno desenvolvimento.
Deixa explícito, também, de quem é o dever
de assegurar, com absoluta prioridade a
efetivar esses direitos fundamentais:
Família, Sociedade e Estado. No entanto,
estudos têm apontado que adolescentes se
encontram expostos a situações de
violência, que revela que nem sempre esses
direitos são respeitados. Por exemplo,
Poletto, Koller e Dell'Aglio (2009), ao
investigarem eventos estressores em
crianças e adolescentes de Porto Alegre,
encontraram que 57% sofrem castigos e
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A adolescência é vista como uma fase
do desenvolvimento humano que marca a
transição entre a infância e a idade adulta,
entre 12 e 20 anos (PAPALIA & OLDS, 2000).
Caracteriza-se por grandes e interligadas
mudanças físicas, cognitivas e
psicossociais. Pode-se dividi-la em dois
processos: a puberdade e a adolescência
propriamente dita. A puberdade é o processo
biológico que leva à maturidade orgânica e à
habilidade de reprodução/sexual (PAPALIA &
OLDS, 2000), a qual é descrita pelo rápido
crescimento em altura e peso; mudanças nas
proporções e formas do corpo; associadas
às alterações hormonais. A maturação dos
caracteres sexuais primários e secundários
encontra-se no auge. A puberdade, então,
diz de todas as transformações fisiológicas
ligadas à maturação sexual, que explicam a
entrada progressiva da infância à
adolescência. Já a adolescência
propriamente dita se refere à capacidade de
independência psicológica dos pais e da
construção de sua autonomia e identidade
adulta, ou seja, envolve os aspectos
emocionais, morais e sociais desta etapa.
As mudanças de papel na
adolescência são um processo universal.
Acontecem independentemente da raça, da
cultura, da época ou do grupo social em que
se encontre o adolescente (PRATTA &
SANTOS, 2007). Existe um consenso geral
de que o termo adolescência se refere muito
mais ao processo psicossocial e se constitui
num período durante o qual se busca uma
construção da personalidade adulta, no
sentido de uma identidade própria e da
inserção no meio social adulto (PERES &
ROSENBURG, 1998). Pode-se dizer, então,
que este período se constitui como uma
etapa de desenvolvimento, no qual o
indivíduo transita de um estado de intensa
dependência para uma condição de
autonomia pessoal (PRATTA & SANTOS,
2007). Tais autores anunciam ainda que a
adolescência inicia na biologia e termina na
cultura, sendo que o término da adolescência
estaria associado a um razoável grau de
independência psicológica dos pais.
Nesta etapa do desenvolvimento, o
indivíduo passa por momentos de
desequilíbrios e instabilidades extremas,
sentindo-se muitas vezes inseguro, confuso,
92
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
violência intrafamiliar é a violência que
acontece dentro das relações familiares,
praticada por um membro da família e que
acarretam em danos físicos, sexuais e
psicológicos. Nesse sentido,
punições físicos, 18,3% já foram tocados
sexualmente contra vontade e 18,9%
passaram por alguma situação de assalto. A
prevalência de abuso sexual na
adolescência foi de 2,3% num estudo
realizado com 1.193 adolescentes da cidade
de Porto Alegre (POLANCZYK et al., 2003).
Em outro estudo realizado em uma região
metropolitana de Porto Alegre, que
contabilizou 1754 registros de violência
contra crianças e adolescentes, apontou que
os meninos foram vítimas das seguintes
categorias de maus tratos: abuso físico
(53,2%), abuso psicológico (50,9%), abuso
sexual (20,6%) e negligência (49,5%). Já as
meninas, respectivamente, foram vítimas
em 46,8%, 49,1%, 79,4% e 50,5%. Esses
dados revelam que os meninos sofrem mais
de abuso físico e as meninas de abuso
sexual (KRISTENSEN, OLIVEIRA &
FLORES,1999).
Segundo a Cartilha do Ministério da
Saúde (BRASIL, 2008) para as situações de
violência contra o adolescente, intitulada de
“O Impacto da Violência na Saúde das
Crianças e Adolescentes”, foram
observadas que entre as principais causas
de óbitos na adolescência está a exposição
às violências (52,0%), aos acidentes de
trânsito (25,9%) e as causa por afogamento
(9,0%). Além disso, esta cartilha revela que a
prevalência de mortalidade na faixa etária de
15 a 19 anos, no Brasil, no ano de 2006,
refere-se a 58,7% a óbitos relacionados à
violência. Além disto, os dados coletados no
período de 2006 e 2007 pelo sistema de
Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA)
indicaram 2370 registros de violência contra
os adolescentes, sendo que destes 56% se
referem à violência sexual. Além disto, em
78% dos casos de violência sexual se refere
às adolescentes mulheres e nos quais 58%
ao abuso sexual intrafamiliar (BRASIL,
2008).
A violência é um fenômeno
multicausal, considerada um sério problema
de saúde pública (GOMES, DESLANDES,
VEIGA, BHERING & SANTOS, 2002). Pode
ser definida como atos que envolvem dano
físico, sexual e emocional à vítima e tendem
a serem cometidos, geralmente, por um
adulto emocionalmente próximo à criança,
que deveria, a princípio, ser responsável
pela sua segurança e bem-estar psicológico
(DE ANTONI & KOLLER, 2002). Segundo o
Ministério da Saúde (BRASIL, 2001),
“A violência intrafamiliar é toda ação
ou omissão que prejudique o beme s t a r, a i n t e g r i d a d e f í s i c a ,
psicológica ou a liberdade e o direito
ao pleno desenvolvimento de outro
membro da família. Pode ser
cometida dentro ou fora de casa por
algum membro da família, incluindo
pessoas que passam a assumir a
função parental, ainda que sem
laços de consanguinidade, e em
relação de poder à outra” (BRASIL,
MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001,
p.15).
Para Azevedo e Guerra (1995 p.16), o
conceito de violência doméstica é:
“A violência doméstica envolve ato ou
omissão praticado por pais, parentes
ou responsáveis contra crianças e/ou
adolescentes, implicando tanto uma
transgressão do poder e dever de
proteção, quanto numa negação do
direito que crianças e adolescentes
têm de ser tratados como sujeitos de
direitos e pessoas em condição
peculiar de desenvolvimento”.
A maioria dos casos de maus-tratos
ocorre no ambiente familiar e grande parte
destes permanece em segredo (RICAS,
D O N O S O & G R E S TA , 2 0 0 6 ) . S ã o
reconhecidos como violência doméstica
contra criança e adolescente o abuso físico,
sexual, psicológica e negligência. A violência
psicológica se refere quando as pessoas
humilham, demonstram falta de interesse,
fazem muitas críticas, colocam sentimento
de culpa, desencorajam, ignoram
sentimentos ou cobram excessivamente o
adolescente; isto faz com que elas se
desvalorizem e se sintam vulneráveis e
pouco capazes de superar os problemas. A
violência física é a forma mais comum e mais
fácil de diagnosticar, frequentemente
associada à punição e à disciplina, envolve
lesões (equimoses e hematomas) nas
regiões periorbitárias, tronco, nádegas e
coxas. Incluem ainda lesões de queimaduras
de 2º e 3º grau, agressões com cintos, fivelas,
cordas correntes, dedos e dentes,
93
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
traumatismos e fraturas múltiplas (PIRES,
1999). A negligência envolve falha dos pais
ou responsáveis na assistência e nos
provimentos das necessidades básicas dos
filhos. Tais falhas podem levar a um déficit de
crescimento, evasão escolar, desnutrição,
higiene precária e omissão de tratamento
médico. O abandono é a forma mais
avançada de negligência (PIRES, 1999). O
abuso sexual pode ser definido como uma
forma de violência, a qual envolve poder,
coação e/ou sedução (ARAÚJO, 2002),
sendo que podem ocorrer atos com contato
sexual sem penetração (toques, carícias e
masturbação), ou com penetração sexual
(vaginal, anal e oral), ou sem contato sexual
(voyeurismo e exibicionismo) (DE ANTONI &
KOLLER, 2000).
Segundo Dell'Aglio, Moura e Santos
(2011), o abuso sexual contra crianças e
adolescentes é perpetrado por indivíduos
que estão numa etapa de desenvolvimento e
maturidade acima ao do indivíduo que
sofreu a agressão. A violência sexual pode
ser caracterizada tanto em nível
heterossexual ou homossexual e é aplicada
a vítima por meio de coação ou indução de
seu desejo (ARAÚJO, 2002; DELL'AGLIO et
al., 2011). Para Dell'Aglio et al. (2011),
geralmente o abusador que perpreta o abuso
sexual não se utiliza de força física, mas se
utiliza da coação e do vínculo afetivo de
proximidade com a vítima ,a qual, por se
encontrar a um estágio de desenvolvimento
inferior ao abusador, não tem condições de
concordar ou não com a situação abusiva. O
abuso sexual pode então ser avaliado como
um problema de saúde pública, por sua
elevada ocorrência e por suas repercussões
cognitivas e psicossociais que causam nas
vítimas e no contexto familiar (DELL'AGLIO
et al., 2011).
Kendall-Tackett, Willims e Finkelhor
(1993, apud AMAZARRAY & KOLLER, 1998)
apontam que as consequências do abuso
sexual podem ter características peculiares
conforme a faixa etária da vítima. Para estes
autores, os sintomas mais comuns
apresentados para crianças pré-escolares (0
a 6 anos) incluem ansiedade, pesadelos,
transtorno de estresse pós-traumático
(TEPT) e comportamento sexual
inapropriado. Em crianças em idade escolar
(7 a 12 anos), medo, distúrbios neuróticos,
agressão, pesadelos, problemas escolares,
hiperatividade e comportamento regressivo
seriam esperados. Nos adolescentes,
depressão, isolamento, comportamento
suicida, autoagressão, queixas somáticas,
atos ilegais, fugas, abuso de substâncias e
comportamentos sexuais inadequados se
constituem como sintomas frequentes.
Sintomas como pesadelos, depressão,
retraimento, distúrbios neuróticos, agressão
e comportamento regressivo são comuns
das três faixas etárias do desenvolvimento.
Segundo Borges e Dell'Aglio (2008), vítimas
de abuso sexual infantil (ASI) podem
também apresentar dificuldade de
concentração, medo, choro frequente,
pesadelos, comportamento sexualizado e
enurese. Desta forma, a experiência de
abuso sexual na infância produz efeitos e
deixa marcas em longo prazo na vida do
indivíduo.
O desenvolvimento deste estudo se
baseou na ocorrência destas categorias de
violência contra adolescentes.
Compreende-se que a exposição à violência
é um dos fatores de risco no
desenvolvimento saudável do indivíduo.
Nesse sentido, a investigação de fatores de
proteção que possam se fazer presentes,
individuais e nos contextos do
desenvolvimento do(a) adolescente, podem
minimizar o impacto negativo das sequelas
da violência e, ao fortalecê-los, pode-se
promover um processo de resiliência.
A Psicologia Positiva é uma subárea
da Psicologia que engloba o estudo dos
aspectos saudáveis do viver. Estuda as
emoções positivas, os traços positivos do
caráter, os relacionamentos positivos e as
instituições positivas. Uma característica
central da Psicologia Positiva é investigar e
realizar intervenções voltadas aos aspectos
saudáveis do indivíduo (MUNHOZ, 2010).
Esta teoria faz uma crítica aos estudos
tradicionais da Psicologia dentro de um
enfoque patológico ou dos distúrbios. Esta
vertente procura quebrar os vínculos que
prendem o pensamento humano a uma
concepção negativista sobre a existência do
homem. Inspirada pela psicologia
humanista, ela tem como foco a natureza
positiva das experiências e vivências do
indivíduo. A diferença é que a ênfase recai
agora sobre a esfera da saúde, visando
promover qualidade de vida (SANTANA,
2008).
A Psicologia Positiva pretende
94
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
contribuir com o desenvolvimento e o
“funcionamento” saudável das pessoas,
grupos e instituições, preocupando-se em
fortalecer competências ao invés de corrigir
deficiências. Seligman (2003, apud YUNES,
2006) identifica três importantes pilares para
a Psicologia Positiva: 1) experiência
subjetiva; 2) características individuais –
forças pessoais e virtudes; 3) instituições e
comunidades. A Psicologia Positiva está em
pleno processo de solidificação dentro da
ciência psicológica, o qual permite uma
reavaliação das potencialidades e virtudes
humanas através do estudo das condições e
processos que contribuem para o
desenvolvimento saudável dos indivíduos,
grupos e instituições. Somente nas últimas
décadas “essa preocupação tem se
fortalecido e as propostas científicas visam
investigar os aspectos saudáveis dos
indivíduos, ao invés de simplesmente
apontar suas limitações ou deficiências”
(YUNES, 2006, p.71).
Em Psicologia, o estudo do
fenômeno da resiliência é relativamente
recente. Vem sendo pesquisado há cerca de
trinta anos, mas apenas nos últimos cinco
anos os encontros internacionais têm
trazido este construto para discussão
(YUNES, 2006). Para Grunspun (2008,
apud DALVAN, BECKER & BRAUN, 2010),
resiliência é a capacidade humana de se
recuperar ou ser imune psicologicamente
quando se é submetido à violência de outros
seres humanos ou de catástrofes da
natureza. Embora a exposição a estes
eventos estressores possa estar associada
a um maior risco para o desenvolvimento de
transtornos psicológicos; entretanto, alguns
indivíduos se tornam resilientes. A
resiliência torna-se, pois, consequência dos
processos da interação dos fatores de risco
e proteção presentes no contexto individual,
familiar e comunitário.
Segundo Rutter (1987, apud
POLETTO, 2007), compreende-se
resiliência não como uma característica ou
traço individual, mas processos
psicológicos que devem ser
cuidadosamente examinados. Resiliência
não é, no entanto, uma característica fixa ou
um produto, mas pode ser desencadeado e
desaparecer em determinados momentos
da vida, bem como estar presente em
algumas áreas e ausente em outras. Nesse
sentido, resiliência é entendida não
somente como uma característica da
pessoa, uma capacidade inata, herdada por
alguns “privilegiados”, mas a partir da
interação dinâmica existente entre as
características individuais e a complexidade
do contexto ecológico. A definição de
resiliência como a capacidade humana de
superar adversidades, resultante da
interação permanente e do jogo de forças
entre os fatores de risco e de proteção,
possibilita o estabelecimento de sua
semelhança com a definição de saúde.
Deste modo, a resiliência não pode
ser pensada como um atributo que nasce
com o sujeito, nem que ele adquire durante
seu desenvolvimento. É um processo
interativo entre a pessoa e seu meio,
considerado como uma variação individual
em resposta ao risco, sendo que os mesmos
fatores causadores de estresse podem ser
experenciados de formas diferentes por
pessoas diferentes, não sendo a resiliência
um atributo fixo do indivíduo (YUNES, 2006).
A resiliência é a habilidade pessoal de
se adaptar e superar com sucesso os
desafios e situações estressantes. É a
superação das adversidades de forma
saudável e construtiva. O termo resiliência é
oriundo da Física; trata-se da capacidade
dos materiais de resistirem aos choques e
pressões sem alterar suas qualidades. Mais
recentemente, o termo foi incorporado pelas
ciências humanas e expressa a capacidade
de um ser humano de superar os traumas e
adversidades durante a sua formação
enquanto sujeito (MUNHOZ, 2010).
De acordo com Assis et al. (2006), os
adolescentes com maior potencial de
resiliência se sentem bem e protegidos na
escola, são mais participativos e se
relacionam melhor com colegas e
professores. Os menos resilientes mostram
maior indiferença e sentimento de injustiça e
discriminação em relação à escola e aos
professores. Quando os professores e
funcionários são competentes e capazes de
incentivar o adolescente a superar suas
dificuldades de forma afetiva, a escola pode
se tornar um espaço protetor para seus
alunos. De igual forma, quando a
comunidade oferece serviços públicos de
qualidade, segurança e habitação, ela
também oferece proteção às suas crianças e
adolescentes.
O enfoque do potencial de resiliência
95
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
é fundamental na promoção da saúde e da
qualidade de vida, especialmente nos
períodos de grande vulnerabilidade que
acontece na adolescência. Reforçar a
capacidade de enfrentamento aos
obstáculos e às situações negativas
vivenciadas significa promover os fatores de
proteção e não apenas combater os de risco.
Conforme Assis et al. (2006), as
características individuais do adolescente
são importantes para a formação da
capacidade de resiliência de cada um. O
ambiente em que se vive também influencia
na capacidade de resiliência do indivíduo,
isso significa que todos nós podemos nos
transformar ao longo de nossas vidas, dentro
de nossos limites e possibilidades. Por isso,
ter a autoestima elevada é fundamental para
promover a capacidade de superação dos
problemas. Os adolescentes que possuem
uma elevada autoestima são mais
resilientes, têm melhores relacionamentos
na família e na escola, são muito mais
participativos em sala de aula.
O processo de resiliência englobaria a
interação entre aspectos individuais, do
contexto social e da presença de fatores de
risco e de proteção (YUNES, 2003; YUNES
& SZYMANSKI, 2001). Os fatores de
proteção se referem a influências que
modificam, alteram ou melhoram a resposta
dos indivíduos a ambientes hostis que
predispõem a consequências mal
adaptativas (MASTEN & GARMEZY, 1985).
De acordo com estes autores, os fatores de
proteção podem ser divididos em:
1. fatores de proteção individuais:
autonomia, autoestima e orientação social
positiva;
2. fatores de proteção da família: coesão
familiar e ausência de conflitos,
possibilitando suporte emocional;
3. fatores de proteção da comunidade: que
encorajem e reforcem a capacidade do
adolescente para lidar com as circunstâncias
da vida.
Os mecanismos de proteção que o
indivíduo dispõe internamente ou que capta
do meio em que vive são cruciais para
estimular o potencial de resiliência ao longo
da vida. Conforme Garcia (2001, apud
JUNQUEIRA & DESLANDES, 2003), os
mecanismos de proteção são compostos por
recursos familiares e sociais disponíveis às
crianças e adolescentes, bem como por suas
próprias forças e características internas
para lidar com as inevitáveis adversidades na
vida, tais como: ter um grupo de amigos e se
sentir pertencente a ele, ter um bom vínculo
com a escola, fazer parte de uma família
afetivamente estável e com bom
relacionamento. Isso significa dispor de
modelos sociais que promovam
aprendizagem construtiva nas diversas
situações, auxiliando o jovem a desenvolver
capacidade de adaptação, segurança,
autonomia e criatividade através da
ressignificação das adversidades.
Diante dos fatores potencialmente
geradores de desequilíbrio para cada
indivíduo, os mecanismos de proteção são
tomados como o ponto chave que é
necessário para o restabelecimento do
equilíbrio perdido e demonstração de
competência, apesar da adversidade. Assim,
os fatores de proteção aliados à capacidade
de resiliência presentes nas histórias de vida
e de formação dos adolescentes, são vistos
como necessários para, desta forma, melhor
compreender esses sujeitos.
Outro conceito a ser investigado é o de
vulnerabilidade. Esta é definida como uma
predisposição individual para o
desenvolvimento de psicopatologias ou de
comportamentos ineficazes em situações de
crise (PESCE et al., 2004). A vulnerabilidade
pode colocar um adolescente em maior risco
do que outro. A vulnerabilidade se refere às
suscetibilidades de indivíduos ou populações
a um agravo, envolvendo tanto as condições
individuais quanto as culturais e sociais em
que ocorrem (DAGMAR et al., sem ano, apud
FERNANDES, 2010).
Os fatores de risco, por sua vez, são
condições adversas que estão associadas à
alta probabilidade para o desenvolvimento de
o indivíduo apresentar problemas físicos,
sociais ou emocionais (MASTEN &
GARMEZY, 1985). Hutz e Koller (1997)
argumentam que uma criança ou um
adolescente se encontra em risco quando
seu desenvolvimento não ocorre de acordo
com o esperado para sua faixa etária
conforme os parâmetros de sua cultura. Será
que todos adolescentes que se desenvolvem
em situação de risco apresentam
problemas?
Tal questionamento é relevante
quando se trabalha com adolescente em
situação de risco, diferenciando do
96
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
esta, por sua vez, conta à mãe. A adolescente
e a mãe realizaram denúncia na Delegacia de
Polícia Civil e no Conselho Tutelar. A mãe
acreditou no relato da filha e solicitou a
separação do companheiro. Recentemente,
houve audiência no Fórum referente à
notificação do caso à Justiça. A adolescente
teve atendimento psicológico numa unidade
de saúde do município, logo após a
revelação. No entanto, neste momento não
se encontra mais em atendimento, embora
haja questões a serem ainda trabalhadas.
Os resultados serão apresentados a
seguir, buscando-se responder às duas
questões norteadoras. A primeira questão
norteadora é:
- Quais experiências de violência que
adolescentes vivenciam em sua trajetória de
vida?
Para responder a esta questão, foram
agrupadas as verbalizações da adolescente
referente ao abuso sexual sofrido e à
narrativa de vida.
adolescente o estigma de que ser pobre,
morar na periferia, ser negro se constituiria
em adolescentes violentos. Há uma
diferença entre adolescente de risco
(associado ao preconceito social ao
adolescente da periferia) da compreensão
de ser um adolescente em situação de risco.
Os riscos são os variáveis presentes no
contexto do seu desenvolvimento que
podem em algum momento interferir no
desenvolvimento pleno deste adolescente.
Apesar de a resiliência funcionar com
um fator protetivo, isto não indica que o
adolescente tenha necessariamente
superado as adversidades, mas sim que,
apesar destas, ele continuaria a desenvolver
uma trajetória positiva e resignificaria suas
experiências traumáticas (JUNQUEIRA &
DESLANDES, 2003). Desta forma, esta
pesquisa buscou avaliar a presença de
fatores de proteção presentes na vida de
uma adolescente vítima de abuso sexual.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A seguir será descrito o Estudo de
Caso realizado com a adolescente Morgana
(nome fictício, a fim de preservar a identidade
da participante). Posteriormente, serão
apresentados os resultados da entrevista e a
construção da narrativa de vida, os quais
foram agrupados em três categorias. 1)
“Revelação do segredo”. 2) “Fatores de
risco”. 3) “Fatores de proteção”.
Categoria “Revelação do segredo”
Esta categoria engloba as
verbalizações referentes à situação do abuso
sexual sofrido pela adolescente, a qual foi
associada à figura do padrastro, à ausência
da figura materna, à proibição de Morgana ir
para a escola por parte do padrasto, à
manipulação do ambiente doméstico por
parte do abusar para conseguir ficar a sós
com a enteada e à presença de ameaças.
Ainda foram agrupadas as falas referentes à
revelação do abuso sexual à família.
Morgana verbalizou que as situações
de abuso aconteciam no contexto doméstico,
em geral, nos momentos em que a mãe
estava trabalhando ou quando levava as
irmãs no hospital. Ela fala: “Quando eu era
pequena e minha mãe morava com meu
padrasto, e daí eles tiveram duas filhas
pequenas, e daí quando minha mãe ia
trabalhar ou quando ela tinha que ir pra algum
lugar, quando minhas irmãs ficavam doentes,
eu ficava em casa com meu padrasto e ele
abusava de mim”. Morgana ainda trouxe o
seguinte relato: “Quando a minha mãe...
Quando minhas irmãs tavam doentes e
minha mãe ia para o hospital. Ou às vez
quando minha mãe ia trabalhar, antes de eu ir
para a escola ele sempre dizia que era pra
mim ficar em casa e daí ele não me deixava ir
pra escola”.
Caso Morgana:
Morgana é uma adolescente de 13
anos, estudante da 7ª série do Ensino
Fundamental de uma escola pública da
periferia de uma cidade do interior do Rio
Grande do Sul. Ela mora com a mãe e mais
três irmãos destes, dois se referem a filhas
da mãe e do padrasto e o outro é irmão
biológico de Morgana, filho da mãe e do pai
biológico. Há ainda uma quarta irmã
biológica de Morgana, a qual não vive na
mesma residência nem nesta cidade. Esta
irmã mora na capital do estado, para a qual
revelou o segredo. A adolescente sofreu
abuso sexual intrafamiliar, sendo que a
exposição a essa violência ocorreu quando
Morgana tinha entre sete a oito anos. O
padrasto foi caracterizado como o autor da
violência. A adolescente inicialmente revela o
abuso sexual para a sua irmã mais velha, e
97
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
sentia bastante medo”. “De bater,
ameaçava de matar minha mãe”.
Nos casos de abuso sexual
intrafamiliar há uma dinâmica particular de
funcionamento do abusador, da vítima e da
f a m í l i a ( D E L L ' A G L I O e t a l . , 2 0 11 ) .
Sentimentos de culpa, vergonha e medo
permeiam este contexto (SERAFIN et al.,
2011), além do silêncio e do segredo
(ARAÚJO, 2002). Para SERAFIN et al.
(2011), as vivências de medo e desamparo
repercutem negativamente nos recursos
internos da vítima no enfrentamento das
consequências do abuso sexual.
A partir do momento da revelação,
muitas alterações podem acontecer no
contexto familiar, bem como gerar uma crise
familiar e sentimentos de culpa, medo e
vergonha por parte da vítima (DELL'AGLIO
et al., 2011). Conforme Imber-Black (1994), a
intimidação é um dos fatores presentes no
segredo do abuso sexual, sendo que não
raramente nos casos de abusos
A adolescente comentou que os
episódios sofridos também estavam
associados à manipulação do contexto
doméstico, ou seja, o padrasto criava várias
situações para ficar a sós com ela. Por
exemplo: “Às vezes ficava minha irmã e o
irmão dele, morava junto, só que ele era
deficiente, e o meu padrasto trancava ele no
quarto” e “Sempre... era assim, ele sempre
dava alguma coisa e daí ela saía ou dava
dinheiro pra ela ir no mercado”.
Desta forma, estes resultados
corroboram com estudos anteriores que
indicam que o contexto intrafamiliar é
frequentemente de risco para o abuso sexual
contra a criança e ao adolescente, bem como
que a figura do padrasto é um fator de risco
para sua ocorrência (DE ANTONI &
KOLLER, 2002; DELL'AGLIO et al., 2011;
HABIGZANG, 2010). Nesse sentido, os
casos de abuso sexual contra adolescentes
estão fortemente associados ao contexto
familiar por pessoas afetivamente próximas
à vítima (HABIGZANG, 2010).
Além disso, foi observada a presença
do “ritual de entrada do abuso”, o qual é
caracterizado por Furniss (1993, apud
FAIMAN 2003, p. 29), como:
“o segredo é levado ainda mais para
dentro do indivíduo, que
psicologicamente começa a não
saber o que sabe. O segredo tornase negado, reprimido e se transforma
em segredo até mesmo para a
própria pessoa” (p.32).
“o espaço de tempo completo entre o
exato início do ritual de entrada e o
exato final do ritual de saída marca o
período de tempo do abuso sexual.
Depois do abuso, a pessoa que o
cometeu e a criança cortam fora de
sua realidade mutuamente
reconhecida, o período de tempo e a
experiência entre os rituais de entrada
e saída, como se aquilo nunca tivesse
existido”.
Por fim, a adolescente trouxe em sua
fala que o processo de revelação do abuso
aconteceu no final do ano de 2009, na festa
de Natal. Ela procura a irmã mais velha que
vinha passar as festas em família. A irmã
conta para a mãe da adolescente e a mãe
acreditam no relato das filhas e decidem
registrar ocorrência. As falas a seguir
exemplificam o processo de revelação: “Prá
minha irmã, a mais velha”. “...Foi no Natal,
ela foi passear e o meu padrasto não estava
presente e... daí eu tomei coragem e contei”.
“Ela contou pra minha mã, e disse pra minha
mãe levar na delegacia”.
O apoio recebido por parte da irmã de
Morgana, bem como da mãe ter acreditado
no seu relato, demonstram a importância do
afeto e da credibilidade no relato dos fatos,
bem como que estes contribuíram para o
término do ciclo de violência. Segundo
Borges e Dell'Aglio (2008), as vítimas de
violência encontram diversas formas para
revelar as situações de abuso sexual e é
comum a escolha de uma pessoa de
confiança e por quem nutrem afeto e carinho.
Um fator de grande relevância na hora da
Assim, pode-se afirmar que o
padrasto, ao criar o cenário para ficar a sós
com a menina, construía um ritual de
entrada, no qual Morgana assimilava que um
novo episódio iria ocorrer. Além disso, a irmã
mais nova recebia balas ou dinheiro para sair
de casa. Observa-se ainda que o padrasto a
impedia de ir à escola.
Outro dado que emergiu na fala da
adolescente se refere à presença de uma
dificuldade inicial em reconhecer que os
carinhos recibos se configuravam como uma
violência e a presença de ameaças
associadas ao abuso sexual. Morgana
trouxe a seguinte fala: “Eu pensava no que
ele me dizia. Ele dizia que era bom e que não
tinha nada de errado, só que ele dizia que
não era pra mim contar pra minha mãe e eu
98
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Desta forma, a presença de conflito
conjugal, incluindo ameaças, pode se
constituir um fator de risco no contexto
familiar. Observa-se então que a violência
doméstica perpassava também a relação
conjugal, não se restringindo ao abuso
sexual. Segundo Habigzang et al. (2011), não
é raro encontrar, nas famílias incestuosas,
ações que caracterizam negligência,
violência física e psicológica, ou seja,
múltiplas violências.
As dificuldades encontradas com
relação à convivência entre irmãs, meioirmãs, estas fruto da relação mãe/padrasto,
Morgana esclarece: “Eu tenho duas irmãs
que são só filhas dele”. Quanto a isso, a
adolescente diz: “É meio ruim. Tipo, por
causa que, volta e meia elas falam no pai
delas. Daí eu volto a lembrar das coisas. Eu
me sinto mal”. “Quando não recebe atenção,
quando tu faz uma coisa e eles ficam brabos”.
Embora o afastamento real do padrasto seja
considerado a medida protetiva adequada, a
sua presença invisível nos relatos das irmãs
ainda lhe trazem lembranças traumáticas, o
que é comum entre as vítimas de abuso
sexual (BORGES & DELL'AGLIO, 2008).
Outro dado observado se refere à
culpabilização por parte das irmãs sobre o
abuso sofrido. Morgana trouxe na sua fala:
“Todos dizem que era eu que me oferecia pra
ele”. A partir desta fala de Morgana, observase desqualificação das irmãs frente ao relato
da adolescente e de seu sofrimento que não
fica visível aos outros membros desta família.
revelação é o fato da pessoa “escolhida”
acreditar no relato da criança ou adolescente
e tomar as atitudes necessárias para
proteção da vítima, assim como fazer uma
denúncia formal aos órgãos competentes
como delegacia, conselho tutelar ou
promotoria.
Habigzang, Ramos e Koller (2011)
mostram que as meninas vítimas de abuso
sexual revelaram o abuso sofrido aos pais
em 42,5% dos casos e a outro familiar em
12,5% dos casos. As pesquisadoras
apontam também que a denúncia
geralmente é feita por alguém da família. O
estudo mostrou ainda que a atitude de
confiança da família no relato da vítima e a
denúncia podem se constituir fatores de
proteção.
De acordo com Santos & Dell'Áglio
(2009), as reações da mães frente o abuso
sexual de suas filhas se classificam em
reações positivas ou ambivalentes.
Verificou-se também a importância da mãe
acreditar e de agir na proteção das filhas.
Porém, segundo as autoras, o fato da mãe
acreditar no relato de abuso sexual da filha,
não quer dizer que ela vá denunciar o
abusador. O fato da mãe não realizar a
denúncia está ligada a questões do medo de
sofrer ameaças, medo de perder a guarda
dos filhos ou vergonha do que a família e
sociedade pensem dela enquanto mãe. Para
denunciar a mãe precisa ter uma postura
segura quanto ao seu ideal de família e de
sua própria vida. Assim, no caso de Morgana,
foi possível verificar que a mãe, ao tomar
conhecimento do fato, acredita no relato da
filha, realiza a denúncia nos órgãos
competentes e se afasta do companheiro
abusador. Ou seja, a mãe de Morgana
apresenta uma reação materna positiva.
Categoria “Fatores de proteção”
Esta categoria busca responder à
segunda questão norteadora desta pesquisa:
Quais são os fatores de proteção individuais,
familiares ou comunitários que possam vir a
contribuir para um processo de resiliência nos
adolescentes vítimas de violência?
Engloba os relatos de Morgana sobre
a percepção de si mesma, do apoio da família
e do grupo de pares na sua vida. Conforme
Morgana fala em sua entrevista, que a união,
relacionamento positivo e atenção são
características positivas da sua família. Ela
diz então: “Quando ganha atenção deles”. “A
união. Bom isso ajuda, ajuda nós muitas vez
no relacionamento em casa”. Estudos
apontam que a coesão, o diálogo, o afeto e a
possibilidade do suporte emocional dos
membros da família se constituem como
Categoria “Fatores de risco”
Esta categoria engloba todas as
situações que a adolescente Morgana relata
em entrevista, como sendo “algo ruim” e “que
não gosta” em ocasiões das relações
familiares. Ela diz como sendo algo que não
é bom em família: “Muitas brigas”. “Meus
irmãos comigo. Bastante isso”. Em relação
com a convivência com seu padrasto, a
adolescente fala dos conflitos que ocorriam
entre sua mãe e ele. Morgana fala: “Porque
ele volta e meia ameaçava ela, não por essas
coisas, mas por outras coisas também”.
99
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
vínculo com a escola, fazer parte de uma
família afetivamente estável e com bom
relacionamento (GARCIA, 2001, apud
JUNQUEIRA & DESLANDES, 2003).
fatores de proteção, os quais podem
favorecer a resiliência familiar (MASTEN &
GARMEZY, 1985; YUNES, 2006). Desta
forma, as relações afetivas familiares de
Morgana podem ser entendidas como um
fator protetor.
Morgana também incluiu a escola
como um espaço de grande importância na
sua vida, pois é o contexto em que tem
relações de amizade e do desenvolvimento
de suas capacidades. Para ela, a escola
“Ajuda a ter bastante amizade, ajuda a
pensar no que eu vou falar, nos atos...” e
“Estudar, estudamos pra prova juntos
também, com os meus amigos”. Ainda em
relação ao espaço escolar, este foi visto
como local para combinações com o grupo
de pares das atividades no turno inverso da
escola: “A gente planeja de brinca, a gente
faz piquenique, a gente sai para treinar, a
gente faz junto”.
Morgana, em seus relatos, aponta
aspectos do seu bem-estar e de sua
autoestima, os quais podem ser
compreendidos como fatores de proteção
individuais. Ela diz: “Bem melhor. Bem
recuperada. Me superei”. “Bastante
inteligente e tenho bastante amigos”. Gosta
de praticar esportes, né? “É, sou bem
participativa”. Este resultado pode ser
compreendido através da perspectiva dos
fatores de proteção individuais citados por
Masten e Garmezy (1985).
Em relação aos fatores comunitários,
Morgana diz que “Eu vou começar hoje a
fazer o Pelotão Mirim”, o qual se caracteriza
um projeto social desenvolvido pela Brigada
Militar, com crianças e adolescentes no turno
inverso da escola. Acredita-se que a inclusão
dela neste programa possa ser protetivo.
Além disso, pode-se citar que o
encaminhamento para atendimento
psicológico por parte do Conselho Tutelar
como um fator de proteção.
Os resultados encontrados revelam a
presença de mecanismos de proteção
individuais, familiares e comunitários. Estes
podem incluir recursos familiares e sociais
disponíveis às crianças e adolescentes
vítimas de violência, bem como por suas
próprias forças e características internas
para lidar com as inevitáveis adversidades
na vida, tais como: ter um grupo de amigos e
se sentir pertencente a ele, ter um bom
No entanto, ressalta-se que a
resiliência não deve ser confundida como um
atributo pessoal, mas sim um processo. Para
ser um processo, torna-se necessária
interação entre a pessoa e seu meio, através
da dinâmica risco-proteção, não sendo a
resiliência um atributo fixo do indivíduo
(YUNES, 2006).
Ao finalizar a entrevista, Morgana
trouxe a seguinte fala: “Que tem tentar
procurar ajuda, não esconder de ninguém.
Quanto mais tempo você esconder é pior
sempre. Eu fiz um erro. Eu não contei pra
minha mãe”. Aqui ela está se referindo a uma
mensagem que ela deixa para as demais
crianças e adolescentes que possam
também passar pela mesma situação que
viveu. Como a criança e o adolescente irão
revelar e não manter o segredo se não há
apoio? Os vínculos de confiança
apresentados à criança ou adolescente são
de fundamental importância para a revelação
do segredo ou até mesmo na superação do
impacto do abuso sexual no momento de
pós-revelação. Em seu relato, Morgana
deixa transparecer a importância da
compreensão e do apoio e afeto recebidos
pela irmã e mãe.
Ao finalizar este trabalho, pode-se
perceber que o contexto intrafamiliar pode se
tornar abusivo quando ocorre um caso de
abuso sexual; que as crianças podem pelo
medo e pelas ameaças ficarem acuadas,
paralisadas, frente à situação abusiva; que a
revelação ocorre tardiamente, muitas vezes
pela insegurança e ansiedade de como
“falar” e “para quem falar” sobre o abuso;
pela presença de fatores de risco no contexto
familiar que vão além do ASI; mas também
pela presença de fatores de proteção. Focase neste últimos a fim de potencializar uma
retomada da vida após o abuso sofrido,
compreendendo que Morgana tem “todo um
futuro a sua frente”. Foi possível verificar a
presença de fatores de proteção individuais,
familiares e sociais no caso de Morgana, os
quais podem estar contribuindo para que ela
possa visualizar expectativas positivas de
futuro e de suas competências.
100
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
da união no contexto familiar, apoio de grupo
de pares e de fatores de proteção individuais,
incluindo elevada autoestima. Além disso, foi
observada a presença de encaminhamentos
do caso de Morgana junto à rede de proteção,
sendo que estes podem ser compreendidos
como fatores de proteção comunitários.
Pode-se, então, pensar num processo
de resiliência no caso de Morgana? Partindo
do pressuposto de que a resiliência é um
processo, pode-se pensar que Morgana é
uma adolescente resiliente, uma vez que ela
apresenta um bom desempenho escolar,
além de se destacar e ser premiada num
concurso das escolas do município por
apresentar uma elevada autoestima e por
trazer no seu relato uma visão de superação
das adversidades.
Ao se considerar a perspectiva de
Seligman (2003, apud YUNES, 2006), podese apontar que Morgana trouxe em seu relato
uma avaliação subjetiva da experiência da
violência como sendo algo negativo em sua
vida, com repercussões em vários contextos
de sua vida. Segundo ela: “Eu contei tudo pra
eles e daí... eles disseram que tinha que
esperar. Aí eu fui perdendo nos estudos, fui
ficando mais fraca, eu brigava bastante com
minhas irmãs, aí eu tive que ir morar para
Porto Alegre”. Além disso, no que se refere às
características individuais (forças pessoais e
virtudes) pode-se indicar a superação na fala
d a a d o l e s c e n t e : “ B e m m e l h o r. B e m
recuperada. Me superei”. Ainda diz: “que eu
vou superar todos os obstáculos e que eu vou
vencer na vida” e “que tentam vencer na vida,
tentar esquecer e seguir em frente”. Por fim,
no que se refere aos fatores de proteção
oriundos das instituições e da comunidade,
observou-se como proteção os amigos, o
apoio dos professores da escola e o
atendimento recebido nos órgão da rede de
proteção. Desta forma, é fundamental que a
rede de apoio social e afetiva seja próxima e
ativa no amparo às vítimas de abuso sexual
na infância, pois esta oferece suporte para as
estratégias de enfrentamento, ou seja, que a
adolescente possa retomar seu
desenvolvimento de forma saudável após a
exposição à violência, tendo uma percepção
positiva de si, de que está sendo amparada
afetivamente e que possa planejar planos
futuros.
Desta forma, esta pesquisa contribui na
produção de um conhecimento científico
voltado para os aspectos saudáveis de
5. CONCLUSÃO
Esse estudo investigou a presença de
fatores de proteção que podem contribuir
para um processo de resiliência no caso de
uma adolescente vítima de abuso sexual.
Para tanto, foi realizado um estudo de caso.
Os resultados indicaram que Morgana vem
vivenciando um processo de superação da
situação de abuso sofrido ainda em sua
infância, quando tinha entre sete a oito anos.
A violência identificada se caracterizou como
o abuso sexual intrafamiliar.
A partir do estudo de caso, buscou-se
responder às duas questões norteadoras
desta pesquisa: “Quais experiências de
violência que a adolescente vivenciou em
sua trajetória de vida?” e “Quais são os
fatores de proteção individuais, familiares ou
comunitários que possam contribuir para um
processo de resiliência?” Em relação à
primeira questão, os resultados indicaram
que a trajetória de vida de Morgana foi
associada à experiência do abuso sexual,
bem como pelos conflitos conjugais, uma
vez que a adolescente trouxe em seu relato
tanto a violência sofrida quanto que “a mãe
tem medo dele”. A exposição à violência
pode ser um fator de risco para o
desenvolvimento infanto-juvenil. No entanto,
ressalta-se a necessidade de uma visão
ampla deste risco, superando uma
perspectiva causa-efeito direta. Da mesma
forma, é de suma importância um olhar que
ultrapasse o estigma de “ser uma
adolescente em situação de risco”. Ou seja,
não é o adolescente o risco, mas sim é um
adolescente que está em situação de risco,
por ter em sua trajetória de vida eventos
estressores no contexto familiar, como é o
caso de Morgana.
Tais resultados ainda confirmam o perfil
dos casos de abuso sexual na infância,
sendo que em sua maioria se refere às
meninas, na faixa etária entre 5 a 10 anos, no
qual o autor da violência é alguém
afetivamente próximo à vítima (HABIGZANG
et al., 2005). Estas autoras ainda afirmam
que o principal contexto em que ocorre a
violência é a própria casa da vítima, quando
esta se encontra sozinha com o agressor,
bem como que a dinâmica familiar é
caracterizada pela presença de outros tipos
de violência.
Em relação à segunda questão, os
resultados encontrados apontam a presença
101
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
vítimas de violência. De acordo com Maia e
Williams (2005), as pesquisas na área da
Psicologia do Desenvolvimento necessitam
incluir os fatores de proteção com a mesma
ênfase dada aos fatores de risco,
direcionando assim uma maior compreensão
da dinâmica risco/proteção na promoção da
resiliência. A resiliência pode ser
considerada como o resultado final de
processos de proteção que não eliminam os
riscos experimentados, mas encoraja o
indivíduo a lidar efetivamente com a situação
e a sair fortalecido da mesma.
Ao se estudar caso de abuso sexual na
infância e adolescência é pertinente a
compreensão de que, para que haja
resiliência, é necessária a junção de vários
fatores de proteção presentes no
desenvolvimento da criança e do
adolescente. Ou seja, parte-se do
pressuposto de que a resiliência não é um
atributo individual isolado, mas sim
associada à presença de fatores de proteção
na família, na escola e no contexto
comunitário, que se constituem como
recursos para a superação das situações de
risco. De acordo com Poletto e Koller (2006),
os estudos sobre resiliência permitem uma
maior compreensão de quais os fatores que
minimizam os efeitos decorrentes das
situações de risco, “porque rompe com a
noção de que o indivíduo se encontra preso a
um ciclo sem saída” (p. 40).
Entre os fatores comunitários está a
rede de proteção a crianças e aos
adolescentes vítimas de abuso sexual. Esta
rede necessita oferecer uma articulação
multiprofissional e intersetorial no
atendimento às vitimas, incluindo o
atendimento às famílias e à comunidade. No
Brasil, em termos de políticas públicas,
destaca-se o Plano Nacional de
Enfrentamento da Violência Sexual Infantojuvenil, o qual estabelece um conjunto de
diretrizes que possibilitam a ação técnica,
política e financeira para lidar com o
problema da violência. Este plano constituiu
também uma metodologia de articulação de
políticas e intervenção de redes.
Desta forma, o trabalho do psicólogo
junto a esta rede de enfrentamento da
violência sexual inclui o serviço de
atendimento psicoterapêutico, a articulação
dos serviços de rede de proteção facilitando
a comunicação entre estes e ações de
prevenção dos casos de violência sexual.
Além disso, o trabalho do psicólogo buscará
garantir a defesa dos direitos da criança e
adolescente previstos em Lei. A garantia de
proteção é algo a ser manejado por toda a
rede. A rede, incluindo família, escola,
conselho tutelar, promotoria e juizado da
infância e juventude, serviços de
acompanhamento social e de saúde
somente será efetiva quando garantir a
segurança e apoio emocional à vítima de
abuso sexual sendo ela criança ou
adolescente (HABIGZANG et al., 2011).
Ao finalizar essa pesquisa, destaco
novamente a verbalização de Morgana,
quando diz: “que eu vou superar todos os
obstáculos e que eu vou vencer na vida”,
assim revela a surpreendente capacidade
do ser humano em se superar apesar das
adversidades, “nunca estamos acabados,
estamos sempre em construção”. E esta
construção também é necessária durante a
adolescência, na qual o adolescente busca
se identificar com vários modelos no
processo de construção de sua identidade.
REFERÊNCIAS
AMAZARRAY, M. R.; KOLLER, S. H. Alguns
aspectos observados no desenvolvimento
de crianças vítimas de abuso sexual.
Psicologia Reflexão e
Crítica, 11(3):
1998.
ARAÚJO, M. F. Violência e abuso sexual na
família. Psicologia em Estudo, 7(2): 3-11,
2002.
ASSIS, S. G.; PESCE, R. P. & AVANCI, J. Q.
– Resiliência: enfatizando a proteção dos
adolescentes. – Porto Alegre, RS. Artmed,
2006.
AZEVEDO, M. A. & GUERRA, V. N. A. –
Violência Doméstica contra Crianças e
Adolescentes. – Um Cenário em
(Des)Construção. Unicef – Brasil, 1995.
BICUDO, H. Violência: o Brasil cruel e
sem maquiagem. – São Paulo, SP. Editora
Moderna, 1994.
BARDIN, L. A análise de conteúdo. São
Paulo: Martins Fontes,1977.
BORGES, J. L. & DELLAGLIO, D. D. Abuso
sexual infantil: indicadores de risco e
consequências no desenvolvimento de
crianças. Interamerican Journal of
102
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
FERNANDES, B. C. Resiliência e a
abordagem à saúde de criança e
adolescentes. Disponível em:
Psychology, 42(3), 528-536, 2008.
BRASIL. Impacto da Violência na Saúde
das Crianças e Adolescentes. – Brasília:
Ministério da Saúde – DF. 2008.
http://www.artigonal.com/saudeartigos/resiliencia-e-abordagem-a-saude-decriancas-e-adolescentes-1986982.hml
_____ Plano Nacional de Enfrentamento
da Violência Sexual Infanto-Jovenil. – 3ª
Edição. Brasília: SEDH/DCA, 2002.
Retirado em 23 de abril de 2011.
GOMES, R.; DESLANDES, S. F.; VEIGA, M.
M.; BHERING, C. & SANTOS, J. F. C. Por que
as crianças são maltratadas? Explicações
para a prática de maus-tratos infantis na
literatura. Cadernos de Saúde Pública,
vol.18, n.1, p.707-714, 2002.
_____Violência Intrafamiliar – Orientações
para a Prática em Serviço. Brasília:
Ministério da Saúde, 2001.
____Diretrizes e normas
regulamentadoras de pesquisas
envolvendo os seres humanos, Conselho
Nacional de Saúde, Resolução 196 de 10
de outubro de 1996. Brasília: Ministério da
Saúde, 1996.
HABIGZANG, L. F.; RAMOS, M. S. &
KOLLER, S. H. A Revelação de Abuso
Sexual: As Medidas Adotadas pela Rede de
Apoio. Psicologia: Teoria e Pesquisa,
27(4): 467-473, 2011.
_____Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei 8.069 de 13 de agosto de
1990). Brasília, DF: Presidência da
República, 1990.
HABIGZANG L. F. Avaliação de impacto e
processo de um modelo de grupoterapia
cognitivo-comportamental para meninas
vítimas de abuso sexual. Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de
Psicologia. Curso de Pós- Graduação em
Psicologia. Porto Alegre, RS. Mar 2010.
BORGES, J. L. & DELL'ÁGLIO, D. D. Abuso
Sexual Infantil: Indicadores de Risco e
Consequências no Desenvolvimento de
Crianças. Revista Interamericana de
Psicologia, 42(3), 528-536, 2008.
HABIGZANG, L. F.; KOLLER, S. H.;
AZEVEDO, G. A. & MACHADO, P. X. Abuso
sexual infantil e dinâmica familiar: aspectos
observados em processos jurídicos.
Psicologia: Teoria e Pesquisa,21(3): 341348, 2005.
DALVAN, J. S.; BECKER, A. P. S.; BRAUN,
K. Fatores de risco no desenvolvimento de
crianças e a resiliência: um estudo teórico.
Revista de Psicologia da IMED, 2(1):.349357, 2010.
HUTZ, C. S. & KOLLER, S. H. Questões
sobre o desenvolvimento de crianças de rua.
Estudos em Psicologia, 2(1):175-197,
1997.
DE ANTONI, C. & KOLLER, S. H. A visão de
família entre as adolescentes que sofreram
v i o l ê n c i a i n t r a f a m i l i a r. E s t u d o s d e
Psicologia, 5(2): 347-381, 2000.
IMBER-BLACK, E. Segredos na família e na
terapia familiar: uma visão geral. In IMBERBLACK, E ( Ed.), Segredos na Família e
na Terapia Familiar (pp. 15-39). Porto
Alegre, Artes Médicas, 1994.
DE ANTONI, C., & KOLLER, S. H.. Violência
doméstica e comunitária. In: M. L. J.
CONTINI, S. H. KOLLER & M. N. S.
BARROS (Eds.), Adolescência &
Psicologia. Concepções, Prátricas e
Reflexões Críticas (pp. 85-91). Brasília:
Conselho Federal de Psicologia, 2002.
JOSSO, M. C. Experiências de vida e
formação. São Paulo, SP: Editora Cortez,
2004.
DELL'AGLIO, D. D.; MOURA, A. & SANTOS,
S. S. Atendimento a mães de vítimas de
abuso sexual e abusadores: considerações
teóricas e práticas. Psicologia Clínica,
23(2): 53-73, 2011.
JUNQUEIRA, M. F. P. S. & DESLANDES, S.
F. Resiliência e maus-tratos à criança.
Cadernos de Saúde Pública,19(1): 227235, 2003.
KRISTENSEN, C. H.; OLIVEIRA, M. S.;
FLORES, R. Z. Violência contra crianças e
adolescentes na grande Porto Alegre. Parte
b: Pode piorar? In AMENCAR (Org),
Violência doméstica (pp. 104-117). São
FAIMAN C. J. S. Considerações sobre o
abuso sexual incestuoso: efeitos e
possibilidades de intervenção. Saúde, Ética
& Justiça, 8(1-2):24-34, 2003.
103
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
POLLETO, M.; KOLLER, S. H. Contextos
ecológicos: promotores de resiliência,
fatores de risco e proteção. Estudos de
Psicologia, 25(3): 405-416, 2008.
Leopoldo: Amencar, 1999.
MAIA, J. M. D. & WILLIAMS, L. C. A. Fatores
de risco e proteção ao desenvolvimento
infantil: uma revisão da área. Temas em
Psicologia, 13(2): 91-103, 2005.
_____ Resiliência: uma Perspectiva
Conceitual e Histórica. In. DELL'ÁGLIO, D.
D.; KOLLER, S. H.; YUNES, M. A. M.,
Resiliência e Psicologia Positiva:
Interfaces do Risco à Proteção (pp. 1944). São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.
MASTEN, A., & GARMEZY, N. Risk,
vulnerability, and protective factors in
developmental psychopathology. In B. Lahey
e A. E. Kazdin (Orgs.), Advances in clinical
child psychology (pp.1-53). New York:
Plenum Press, 1985.
PRATTA, E. M. M. & SANTOS, M. A. Família
e adolescência: a influência do contexto
familiar no desenvolvimento psicológico dos
seus membros. Psicologia em
Estudo,12(2): 247-256, 2007.
MUNHOZ, F. Resiliência e Psicologia
P o s i t i v a . D i s p o n í v e l e m
http://www.psicologiapositivabr.com/resiliencia.h
tml, 2010, retirado em 15 de fevereiro de
RICAS, J.; DONOSO, M. T. V. & GRESTA, M.
L. M. A violência na infância como uma
questão cultural. Texto Contexto em
Enfermagem, 15(1): 151-154, 2006.
2012.
PA PA L I A , D . E . & O L D S , S . W. –
Desenvolvimento humano. – 7ª Edição.
Porto Alegre – RS. Artmed 2000.
SANTANA, A. L. InfoEscola: Psicologia.
Psicologia Positiva. Disponível em
http://www.infoescola.com/psicologia/ps
icologia-positiva/, 2008. Retirado em 15 de
fevereiro de 2012.
P E R E S , F. & R O S E N B U R G , C . P.
Desvelando a concepção de
adolescência/adolescente presente no
discurso da saúde pública. Saúde e
Sociedade,7(1): 53-86, 1998.
SANTOS, L. L. & DELL'ÁGLIO, D. D. A
Constituição de Moradas nas Ruas como
Processos de Resiliência em Adolescentes.
In. DELL'ÁGLIO, D. D.; KOLLER, S. H.;
YUNES, M. A. M., Resiliência e Psicologia
Positiva: Interfaces do Risco à Proteção
(pp.203-232). São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2006.
PESCE, R. P.; ASSIS, S. G.; SANTOS, N. &
OLIVEIRA, R. V. C. Risco e Proteção: Em
Busca de Um Equilíbrio Promotor de
Resiliência. Psicologia: Teoria e Pesquisa,
20(2): 135-143, 2004.
PIRES, J. M. A. Violência na infância:
aspectos clínicos. In AMENCAR (Org.),
Violência doméstica (pp. 61-69). São
Leopoldo: Amencar, 1999.
SANTOS, S. S. & DELL'ÁGLIO, D. D.
Relação do Abuso Sexual Infantil: Reações
Maternas. Psicologia: Teoria e Pesquisa.,
25(1): 85-92, 2009.
POLANCZYK, G. V., ZAVASCHI, M. L.,
BENETTI, S., ZENKER, R., &
GAMMERMAN, P. W. Violência sexual e sua
prevalência em adolescentes de Porto
Alegre, Brasil. Revista de Saúde
Pública,3(1):.8-14, 2003.
SOUZA, E. C. Autobiografias, histórias de
vida e formação: pesquisa e ensino. Porto
Alegre: EDIPUCRS, 2006.
YUNES, M. A. M. Psicologia positiva e
resiliência: o foco no indivíduo e na família.
Psicologia em Estudo,8(1): 75-84, 2003.
POLLETO, M. Contextos ecológicos de
promoção de resiliência para crianças e
adolescentes em situação de
vulnerabilidade. Dissertação de Mestrado.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul –
UFRGS. Porto Alegre – RS. Maio, 2007.
_____ Psicologia Positiva e Resiliência:
Foco no Indivíduo e na Família. In
DELL'AGLIO D. D.; KOLLER S. H. & YUNES
M. A. M. (Eds.), Psicologia Positiva:
Interfaces do Risco à Proteção (pp.45-68).
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.
POLETTO, M.; KOLLER, S. H. &
DELL'AGLIO,D. D.. Eventos estressores em
crianças e adolescentes em situação de
vulnerabilidade social de Porto Alegre.
Ciência & Saúde Coletiva,14(2): 455-466,
2009.
YUNES, M. A. M., & SZYMANSKI, H.
Resiliência: noção, conceitos afins e
considerações críticas. In J. Tavares (Ed.),
Resiliência e educação (pp.13-42). São
104
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
PSICODINÂMICA DO TRABALHO: FATORES QUE INFLUENCIAM
NO PRAZER E NO SOFRIMENTO DE TRABALHADORAS DE
UM COMÉRCIO VAREJISTA
Katiani Pieczaki Pertile1
Lilian Ester Winter2
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM 3
RESUMO
Este estudo teve como objetivo investigar os
fatores que interferem no prazer e no
sofrimento no trabalho mediante a
Psicodinâmica do Trabalho. Participaram do
estudo 14 vendedoras do sexo feminino de uma
empresa do comércio varejista da cidade de
Três de Maio/RS. A pesquisa parte de uma
abordagem quantiqualitativa, na qual foram
aplicadas escalas de Clima Organizacional e de
P r a z e r e S o f r i m e n t o n o Tr a b a l h o e
posteriormente entrevistas semiestruturadas
baseadas no resultado obtido da análise das
escalas. A análise dos dados foi realizada
através de análise estatística e análise de
conteúdo (BARDIN, 1977). Os resultados
revelam que as participantes apresentam
sofrimento moderado em relação ao seu
trabalho, assinalando o sofrimento em relação
ao tipo de reconhecimento existente na
organização; a desvalorização em relação às
opiniões e ideias, a falta de autonomia, como
também o controle e a pressão exercidos no
dia-a-dia do trabalho. A pesquisa também
aponta a questão relacional entre colegas, com
o gestor e com clientes de forma antagônica,
ora proporcionando prazer, ora sofrimento. Em
relação ao prazer no trabalho, a pesquisa
revela o orgulho que as vendedoras têm de seu
trabalho e da empresa. Ressalta-se a
necessidade de ações para promoção de
saúde destas colaboradoras buscando a
abertura de espaços de fala, o desenvolvimento
de uma relação com chefias em que a confiança
prepondere criando espaço para autonomia
das trabalhadoras, bem como no
desenvolvimento de uma cultura de
reconhecimento pautada no esforço e no
comprometimento.
ABSTRACT
This study has as its main purpose to
investigate the factors that intervene in pleasure
and in pain at work by Psychodynamics Work.
There were 14 female sellers that participated of
this study and they are from a retail company in
Três de Maio/RS. The research proceeds from
quantiqualitative approach in which scales of
Organizational Climate and Pleasure and Pain
in Labor were applied and later semi structured
interviews based on the result obtained from the
analysis of the scales. Data analysis was
performed using Statistical Analysis and
Content Analysis (BARDIN, 1977). The results
show that the participants present moderate
pain related to work, pointing out the pain
related to the type of recognition in the
organization; the devaluation in relation to the
opinions and ideas, lack of autonomy but also
the pressure and control performed in day-today work. The research also points to the
relational question among colleagues, with
manager and clients in opposite form,
sometimes providing pleasure, sometimes
pain. In relation to pleasure at work, the
research reveals the pride that the sellers have
of their work and of the company. It emphasizes
the need of actions to promote health of these
sellers looking for open spaces of speaking, the
development of a relationship with managers in
which trust preponderates creating space for
the workers autonomy, as well as in developing
a culture of recognition base in effort and
commitment.
Keywords: Pleasure. Pain. Work.
Palavras-chave: Prazer. Sofrimento. Trabalho.
1
Acadêmica do Curso de Psicol ogia da Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM, e -mail:
[email protected]
2
Psicóloga, Mestre em Desenvolvimento. Coordenadora do curso de Psicologiae professora da
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM, e-mail: [email protected]
3
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM, Av. Santa Rosa, 2504, Três de Maio – RS, email:
[email protected]
105
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
qual os indivíduos estejam submetidos
(MERLO, 2002). Seu foco se baseia no
“sofrimento psíquico e as estratégias de
enfrentamento utilizadas pelos
trabalhadores para a superação do
sofrimento e transformação dele mesmo em
fonte de prazer” (PIRES; MACÊDO, 2011,
p.255).
1. INTRODUÇÃO
Resgatando a história, observa-se que
o trabalho passou por diversas mudanças.
Uma das mais significativas e marcantes
ocorreu no século XVIII com a Revolução
Industrial. A partir deste momento, as
máquinas passaram a influenciar
potencialmente a vida humana. Neste
período os sujeitos não precisavam entender
ou pensar, somente prestar o serviço
solicitado. As tarefas a serem executadas
pelos indivíduos eram pré-definidas nos
mínimos detalhes; desta forma, garantia-se a
máxima produtividade possível, porém os
conhecimentos dos trabalhadores eram
simplesmente ignorados (MERLO, 2000).
Essa forma de organização do
trabalho é desestruturante e produtora de
sofrimento psíquico, uma vez que as
atividades são totalmente rígidas e
burocráticas. Porém, não é somente em
trabalhos rotinizados, atividades burocráticas
e rígidas que o sofrimento ocorre. Ele surge
também em espaços laborais em que o
reconhecimento não acontece, que a
possibilidade de falar sobre o trabalho é
precário, cuja cooperação e a oportunidade
do uso de aprendizagens em experiências
passadas não ocorrem. Desta forma, podese afirmar que o prazer no trabalho pode ser
caracterizado por uma harmonia entre os
desejos do trabalhador e os aspectos do
trabalho, como também pode ser resultante
da transformação do sofrimento, ou seja,
através da utilização de recursos
psicológicos, o trabalhador transforma o
sofrimento em prazer (DEJOURS, 1992).
O presente estudo teve como objetivo
investigar os fatores que interferem no prazer
e sofrimento no trabalho de vendedoras de
um comércio varejista do município de Três
de Maio - RS, por meio da Psicodinâmica do
Trabalho.
A Psicodinâmica do Trabalho é uma
abordagem científica, desenvolvida por
Christophe Dejours, médico francês, com
formação em psicanálise. A psicodinâmica do
trabalho busca o que no trabalho é fonte de
prazer e nocividade e que podem estar
vinculadas à organização do trabalho,
visando à coletividade do trabalho, ou seja,
após diagnosticar o sofrimento psíquico em
situações de trabalho, não busca atos
terapêuticos individuais, mas intervenções
voltadas para a organização do trabalho à
2. REFERENCIAL TEÓRICO
TRABALHO PRESCRITO E REAL
A Psicodinâmica do Trabalho
referencia os conceitos ergonômicos de
trabalho prescrito e de trabalho real. A noção
de trabalho prescrito, sob a forma de tarefa,
toma corpo e se desenvolve com a chegada
do taylorismo. Neste período, buscava-se
prever tempos, regras e movimentos,
determinando modos operatórios. Já o
trabalho real é aquilo sobre a qual a técnica
fracassa, não decorre do conhecimento, mas
daquilo que está para além, sob a forma de
experiência, no sentido de experiência de
vida. É aquilo que deve ser ajustado,
rearranjado, imaginado, inventado,
acrescentado para levar em conta o real do
trabalho (DEJOURS, 2005). Sendo assim,
em situações imprevistas, o trabalhador
buscará uma melhor produção de
procedimentos do que a organização impõe
desde que os gestores reconheçam a lacuna
existente entre o prescrito e o real
(DEJOURS, 1999; MENDES, 2007).
PRAZER E RECONHECIMENTO NO
TRABALHO
O prazer no trabalho se caracteriza
por uma harmonia entre os desejos do
trabalhador e os aspectos do trabalho, como
também pode ser resultante da
transformação do sofrimento, ou seja,
através da utilização de recursos
psicológicos, o trabalhador transforma o
sofrimento em prazer (DEJOURS, 1999).
Para que o sujeito vivencie situações
de prazer, faz-se necessário um jogo de
negociações entre ele mesmo e a realidade.
A liberdade de escolha, a criação, a inovação
e as novas formas de executar tarefas, bem
como a interação com os outros faz com que
o trabalho ocupe um lugar de prazer para
esse sujeito. Neste sentido, Mendes (2011)
pondera que prazer e reconhecimento são
conceitos fundamentais para o entendimento
do sofrimento no trabalho, uma vez que
106
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
operam como condição para a
ressignificação desse sofrer. O trabalho deve
produzir entusiasmo e para que isso
aconteça, torna-se necessário o
reconhecimento, elemento constituinte para
o prazer no trabalho.
A percepção do reconhecimento se
manifesta por meio de representações que
os trabalhadores constroem sobre o contexto
de trabalho. Estas se caracterizam,
principalmente, por sentimentos de justiça,
valorização, admiração, pertencimento e
envolvimento (Brun & Dugas, 2002 citado em
Ferreira, 2011). Dejours (2005, p.55-56)
pondera que “o reconhecimento é a forma
específica da retribuição moral-simbólica
dada ao ego, como compensação por sua
contribuição à eficácia da organização do
trabalho, isto é, pelo engajamento de sua
subjetividade e inteligência”.
O reconhecimento no trabalho tem
c o m o
c a r a c t e r í s t i c a
a
multidimensionalidade, e este, de acordo
com Brun & Dugas (2002) citado por Ferreira
(2011), pode se apresentar em quatro
formas: reconhecimento existencial,
reconhecimento dos resultados do trabalho,
reconhecimento da prática de trabalho e
reconhecimento do investimento pessoal no
trabalho.
O “reconhecimento existencial” se
caracteriza pelo sentimento vivenciado pelo
trabalhador de verdadeiramente existir no
ambiente de trabalho; quando percebe que
tem liberdade para expressar suas ideias,
sendo ouvido quando tem algo a dizer;
quando é informado sobre os objetivos e
estratégias da organização, sendo
consultado de mudanças a serem
introduzidas no ambiente de trabalho; como
também quando possui liberdade de
execução de certas tarefas. O
“reconhecimento dos resultados do trabalho”
é caracterizado pela manifestação de
gratidão dos gestores em relação ao
desempenho do trabalhador ou do coletivo
para o alcance de metas e objetivos
estabelecidos. Pode produzir riscos e efeitos
negativos, como sentimentos de inveja,
injustiça e competição desenfreada. O
“reconhecimento da prática do trabalho” é
baseado na maneira pela qual o trabalhador
executa a tarefa (competência, qualidade
profissional e inovação). Já o
“reconhecimento do investimento pessoal no
trabalho” está baseado no esforço
empreendido pelo indivíduo na execução de
uma tarefa, ou seja, foca-se no processo e
não nos resultados, reconhecendo o grau de
implicação e de envolvimento do indivíduo na
realização da tarefa (Brun & Dugas, 2002
apud Ferreira, 2011).
Os autores afirmam também que o
ideal consiste em implementar as quatro
formas de reconhecimento, ou seja, tornar o
reconhecimento um realidade significa:
respeitar a singularidade de cada sujeito,
considerar os produtos por eles gerados, sua
competência e criatividade, como também o
empenho para a realização das tarefas.
Porém, sabe-se que quando a organização
do trabalho é rígida e não oferece espaços
para o trabalhador manifestar a sua
subjetividade, este passa a vivenciar
sentimentos de sofrimento. Nesta
perspectiva, torna-se pertinente entender o
que é o sofrimento, como ele se manifesta,
quais são os tipos de sofrimento, como
também quais são as formas de
enfrentamento utilizadas pelos
trabalhadores para transformar o sofrimento
em prazer.
SOFRIMENTO NO TRABALHO
A Psicodinâmica do Trabalho
conceitua o sofrimento como uma vivência
subjetiva intermediária entre doença mental
descompensada e o conforto psíquico. O
sofrimento implica em um estado de luta do
sujeito contra a doença mental; desta forma,
o sofrimento deixa de ser representado como
algo negativo, significando também
criatividade, uma maneira que o trabalhador
encontra de criar formas defensivas para
lidar com as opressões da organização do
trabalho (DEJOURS, 1992).
No que se refere às cargas psíquicas,
o prazer do trabalhador resulta da “descarga
de energia psíquica que a tarefa autoriza o
que corresponde a uma diminuição da carga
psíquica do trabalho” (Dejours, 1994, p. 24).
Já o sofrimento do trabalhador surge quando
o trabalho se opõe à livre atividade. Nesta
perspectiva, o autor complementa que se o
trabalho permite a diminuição da carga
psíquica ele é equilibrante; no entanto, se ele
aumenta a carga psíquica ele é fatigante,
acarretando acúmulo de energia psíquica,
tornando-se fonte de desprazer, a qual
poderá evoluir para uma patologia. Sendo
assim, quanto maior a pressão vivenciada
107
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
pelo trabalhador e a falta de liberdade para
encaminhar as energias pulsionais, maior
será sua carga psíquica, sua angústia e seu
sofrimento.
Sofrimento Criativo e Sofrimento Patogênico
Dejours (1994) aponta que existem
dois tipos de sofrimento, o criativo e o
patogênico. O sofrimento criativo é baseado
na transformação, em que o sofrimento é
transformado em criatividade, funcionando
como mediador para a saúde. Já o
sofrimento patogênico opera como mediador
da desestabilização e da fragilização da
saúde, emergindo quando todas as
possibilidades de ajustamento dos desejos
do trabalhador em relação à organização do
trabalho foram utilizadas.
Portanto, quando o trabalhador é
impossibilitado de modificar criativamente o
sofrimento, este se transforma em
patológico manifestando-se pela linguagem
da dor (ABRAHÃO; SZNELWAR, 2011).
Porém, para manter a saúde psíquica e
suportar o sofrimento no trabalho, as
pessoas constroem estratégias, que no
entendimento de Dejours (1994), seriam
formas que os trabalhadores encontram
para modificarem ou transformarem suas
percepções acerca da realidade que os faz
sofrer e, consequentemente, minimizam
suas percepções acerca das fontes de
sofrimento.
Estratégias defensivas
O conflito entre organização do
trabalho e funcionamento psíquico pode ser
reconhecido como fonte de sofrimento, mas
para enfrentá-lo os trabalhadores se utilizam
de estratégias defensivas. Essas defesas
levam à transformação/modificação da
percepção que os trabalhadores possuem
da realidade que os faz sofrer. Por não
conseguirem vencer a rigidez de
determinadas pressões, os indivíduos
buscam através das estratégias defensivas
minimizarem suas percepções acerca
dessas pressões, fontes de sofrimento
psíquico, esse processo é estritamente
mental, pois geralmente não modifica a
realidade de pressão patogênica imposta
pela organização do trabalho (DEJOURS,
1994).
As estratégias defensivas podem
ser individuais e coletivas. As individuais são
quando o mecanismo de defesa está
interiorizado, ou seja, existe
independentemente dos outros, enquanto
que as estratégias defensivas coletivas só
existem a partir do consenso do grupo, em
que o objetivo é criarem, juntos, estratégias
para lutarem contra constrangimentos e
sofrimentos no trabalho real. Neste sentido,
Dejours (1994) relata que as estratégias
defensivas contribuem para a coesão grupal,
como também para a cooperação no
cumprimento dos objetivos da organização.
Mobilização Subjetiva
Outra estratégia para enfrentar o
sofrimento é a mobilização subjetiva, a qual
se define como os recursos psicológicos de
cada trabalhador sobre o trabalho, não
sendo algo prescrito (Dejours, 1994).
Diferencia-se das estratégias individuais e
coletivas de defesa, uma vez que implica a
ressignificação do sofrimento e não sua
negação ou minimização. Neste caso, o
trabalhador não se aliena, mas procura dar
um novo sentido ao seu sofrimento
passando, por exemplo, a utilizar a sua
experiência prática, que consiste em imprimir
um pouco de si na execução de suas
atividades, transgredindo aquilo que foi
prescrito pela organização. Esta situação se
torna gratificante para o trabalhador,
principalmente quando há reconhecimento
da chefia e dos colegas em relação ao
trabalho novo, diferente, proporcionando-lhe
identidade, satisfação e, consequentemente,
saúde.
Dejours (1994) enfatiza três
elementos para a mobilização subjetiva: a
inteligência prática, a cooperação enquanto
condições para o coletivo de trabalho, bem
como a abertura para espaço de fala,
conceitos estes que serão definidos na
sequência.
a) Inteligência Prática
A inteligência prática, primeiramente
denominada como inteligência astuciosa,
tem raiz no corpo, na percepção e na intuição
dos trabalhadores. Foi identificada pelos
gregos com o nome de metis, que é
etimologicamente o núcleo do termo métier,
ou seja, trata-se de uma inteligência
engajada nas atividades técnicas,
mobilizada frente a situações inéditas de
forma inventiva e criativa (DEJOURS, 2005).
Possui como premissa a quebra das
normas e regras, introduzindo
inevitavelmente uma falta de prescrição, ou
108
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
empresa, espaço este que é denominado
Espaço de Fala (DEJOURS, 2011).
c) Espaço de fala
Dejours (2005) aponta que é
necessário existir um espaço aberto e as
opiniões dos trabalhadores podem ser
formuladas livremente e publicamente
mesmo que contraditórias, para que, desta
forma, as pessoas envolvidas façam parte das
tomadas de decisões em relação a questões
que interessam o grupo, o departamento e a
empresa. Neste sentido, Chanlat (2011)
complementa que dar a palavra ao
trabalhador é permitir-lhe manifestar as
vivências da prática do trabalho, espaço este
fundamental para o funcionando da
organização. Falar sobre o trabalho, através
das opiniões, crenças e valores de cada
indivíduo é reduzir a distância entre o prescrito
e o real do trabalho, porém o gestor deve
desconstruir a ideia de que possui a verdade e
o conhecimento perfeito para que desta forma
consiga ouvir a opinião dos trabalhadores.
seja, um quebra-galho. Quebra-galho é um
termo utilizado para denominar as infrações
cometidas no exercício do trabalho cotidiano
para alcançar o máximo dos objetivos das
tarefas fixadas pela organização do trabalho.
Utilizar a inteligência prática é agir frente a
situações imprevistas, é nesta lacuna que o
colaborador consegue trazer para o dia-a-dia
do trabalho sua forma de ser e fazer, uma vez
que o trabalho prescrito é impossível de ser
seguido rigidamente no real do trabalho. A
inteligência prática opera como produtora de
prazer no trabalho, pois através dela o
colaborador poderá sentir-se um verdadeiro
ator social, capaz de influenciar o seu
ambiente, através do seu potencial de ação
(DEJOURS, 2005).
b) Cooperação
A cooperação se caracteriza como “a
vontade das pessoas de trabalharem juntas e
de superarem coletivamente as contradições
que surgem da própria natureza ou da
essência da organização do trabalho”
(Dejours, 2011, p.80). Porém, ela não pode
ser determinada a priori, pois escapa à total
“procedimentalização”, ou seja, não é
prescrita, pois a cooperação é a liberdade dos
indivíduos e a formação de uma vontade
coletiva. A ideia de cooperação é baseada na
construção conjunta para produção de algo,
ou seja, através do trabalho coletivo buscamse desempenhos melhores do que as
produções individuais. Essa cooperação
pressupõe então a valorização e o
reconhecimento pelo esforço que cada um
teve na realização do trabalho, fortalecendo a
identidade psicológica e social do sujeito
(Mendes, 2007).
A cooperação exige relações de
confiança entre os indivíduos, confiança entre
colegas, subordinados e chefes. Ela é
condição para a cooperação no coletivo, pois
atua como elemento indispensável na relação
entre pessoas, em que cada uma conhece os
princípios éticos que organizam a conduta do
outro. A confiança não é um sentimento, mas
sim uma construção de acordos, normas,
regras que enquadram a maneira como se
executa a tarefa. Para o estabelecimento da
cooperação, é necessário haver a discussão
das competências dentro de um registro ético
e de comunicação, esse espaço decorre de
uma conquista dos trabalhadores e passa
pela formulação de uma consciência de
classe, mas também pode ser facilitado pela
3. MÉTODO
Sujeitos da Pesquisa
A amostragem neste estudo foi
composta por 14 funcionárias que trabalham
no setor de vendas de uma empresa da área
do comércio, situada na cidade de Três de
Maio, Estado do Rio Grande do Sul – Brasil.
As participantes são todas do sexo feminino,
em que 80% possuem Ensino Médio
Completo e 20% estão cursando Ensino
Superior. As idades das participantes variam
entre 18 e 49 anos. Destas, 36% possuem
idade entre 18 e 25 anos e 64% possuem
idade superior a 25 anos. O tempo de serviço
mínimo é de (2 meses) e o máximo é de (9
anos e 4 meses).
Abordagem e Procedimentos
No que se refere à abordagem da
pesquisa, esta é quantitativa e qualitativa. No
entendimento de Güllich et al (2007), as
pesquisas se classificam quanto aos objetivos
e quanto aos procedimentos. Em relação aos
objetivos, a pesquisa foi do tipo exploratória e
descritiva. Quanto aos procedimentos, foi
realizada uma pesquisa bibliográfica, de
campo e de estudo de caso. Esta pesquisa foi
um estudo de caso singular, pois a ideia era o
aprofundamento dos fatores que influenciam
no prazer e no sofrimento das vendedoras de
um estabelecimento comercial.
109
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
gratificação e liberdade e os indicadores de
sofrimento são insegurança e desgaste.
Coletas de dados
Em relação às técnicas da pesquisa,
esta foi baseada em aplicação de escalas
(coletivamente) e posteriormente entrevistas
semiestruturadas (individualmente)
baseadas no resultado obtido da análise das
escalas. Foram utilizadas duas escalas.
1) Escala de Clima Organizacional
de Martins (2008): teve como foco a
“compreensão do modo como o contexto do
trabalho afeta o comportamento e atitudes
das pessoas neste ambiente, sua qualidade
de vida e o desempenho da organização”
(Martins, 2008, p. 29). Ela investiga os
seguintes fatores:
· Apoio da chefia e da organização:
suporte afetivo, estrutural e operacional no
dia-a-dia do trabalho.
·R e c o m p e n s a : f o r m a s d e
recompensa utilizadas para premiar a
qualidade, produtividade, o esforço e o
desempenho do trabalhador.
· Conforto físico: ambiente físico,
segurança e conforto.
· Controle/pressão: controle e
pressão exercidos sobre o comportamento e
desempenho dos colaboradores
· Coesão entre colegas: união,
vínculos e colaboração entre os colegas de
trabalho.
2) Escala de Indicadores de Prazer e
Sofrimento no Trabalho, validada por
Mendes (1999) e revalidada por Pereira em
(2003), teve como objetivo avaliar o prazer e
o sofrimento no trabalho, investigando os
seguintes fatores:
·Gratificação: sentimento de
satisfação, realização, orgulho e
identificação com um trabalho que atende as
aspirações profissionais.
· Insegurança: receio em perder o
emprego por não atender as expectativas da
empresa.
· Desgaste: estresse, sobrecarga,
tensão emocional, cansaço, ansiedade,
desânimo e frustração.
· Liberdade: sentimento de estar
livre para pensar, organizar e falar sobre o
trabalho.
Os indicadores de prazer, de acordo
com Pereira (2003), são os fatores de
Os dados obtidos através das
escalas serviram como base para a
formulação das entrevistas, em que o
objetivo era investigar os resultados mais
significativos, propiciando um espaço de
escuta para as questões subjetivas de cada
colaboradora. Estas entrevistas foram
registradas por meio de gravação e
transcritas na íntegra para ter acesso a todo
conteúdo dito, garantindo maior
fidedignidade na análise dos dados.
Questões Éticas
As pesquisas envolvendo seres
humanos devem atender às exigências
éticas e científicas fundamentais,
respeitando a integridade ética do sujeito.
Desta forma, fez-se necessária a utilização
do Termo de Concordância da Organização TCO e do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido – TCLE, em que o objetivo foi
respeitar a autonomia e a dignidade dos
sujeitos. Sendo assim, comprometeu-se a
manter o sigilo dos dados coletados de
acordo com a resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde, que estabelece e aprova
as diretrizes e normas envolvendo
pesquisas com seres humanos.
Critério de Análise dos Dados
A análise dos dados referentes à
aplicação das escalas de Clima
Organizacional e Prazer e Sofrimento no
Trabalho foram tabuladas através de análise
estatística. Já na pesquisa qualitativa,
referente às entrevistas, as verbalizações
das participantes foram analisadas através
da Análise de Conteúdo (Bardin, 1977). As
falas dos sujeitos da pesquisa serão
apresentadas através de siglas, v1 para
representar a vendedora um, v2 para a
vendedora dois, assim sucessivamente até a
v14. Foi adotado o critério semântico para a
identificação de categorias temáticas a partir
das narrativas das trabalhadoras. As
categorias e temas abordados neste estudo
foram: organização do trabalho: dia-a-dia do
trabalho, controle e pressão, metas;
relações no trabalho: relacionamento com
chefia, colegas e clientes e prazer e
sofrimento: reconhecimento, espaço de fala,
autonomia e inteligência prática.
110
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Análise Quantitativa
Escala de Clima Organizacional
A escala de Clima Organizacional apresentou os seguintes resultados:
Gráfico 1: Escala de Clima Organizacional
Após tabulação e análise da escala
de Clima Organizacional, pode-se observar
que nenhum dos fatores (coesão entre
colegas, conforto físico, recompensas, apoio
da chefia e da organização) obteve média
maior 4, uma vez que acima deste índice
tende a indicar bom clima. Observa-se que
os fatores “apoio da chefia e da organização”
e “recompensas” obtiveram as menores
pontuações, porém ainda não caracteriza um
clima ruim, pois a média deveria estar abaixo
de 2,9.
Como o fator controle/pressão é
analisado de forma inversa, pode-se ver que
a pesquisa aponta que este se encontra em
grau bastante elevado, pontuando 3,86, pois,
para indicar bom clima, o valor deveria estar
abaixo de 2,9. Sendo assim, este resultado
revela que o controle e a pressão exercidos
sobre as colaboradoras é expressivo.
Escala de Prazer e Sofrimento no
Trabalho
A escala de Prazer e Sofrimento no
Tr a b a l h o a p r e s e n t o u o s s e g u i n t e s
resultados:
111
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Gráfico 2: Escala de Prazer e Sofrimento no Trabalho
Após tabulação e a análise da escala
de Prazer e Sofrimento no Trabalho, pode-se
verificar que para haver prazer no trabalho os
resultados dos fatores desgaste e
insegurança deveriam estar com prevalência
baixa e os de gratificação e liberdade
deveriam estar altos, porém isto não ocorre,
mostrando um índice elevado nos fatores
desgaste (3,08) e insegurança (2,93),
apontando para predominância de
sofrimento moderado nas colaboradoras da
empresa em estudo, uma vez que estes
fatores analisam estresse, sobrecarga,
tensão emocional, cansaço, ansiedade,
desânimo e frustração, como também receio
em perder o emprego por não atender as
expectativas da empresa.
No que se refere ao fator liberdade,
este pontua 2,84, índice que aponta para
pouco sentimento de estar livre para pensar,
organizar e falar sobre o trabalho, uma vez
que este se origina no reconhecimento das
chefias e da organização. Já o fator
gratificação, apresenta a pontuação de 3,70,
a maior média em relação aos outros fatores
avaliados, mostrando que há sentimento de
satisfação, realização, orgulho e identificação
com o trabalho, uma vez que ele possui
relação com as aspirações profissionais.
Análise Qualitativa
Na análise e discussão dos dados
qualitativos da pesquisa serão apresentadas
as categorias semânticas construídas a partir
das verbalizações das participantes e tais
resultados serão discutidos teoricamente.
Categoria “Organização do Trabalho”
A Psicodinâmica do Trabalho está
presente em todas as organizações e
instituições em que o trabalho produtivo
ocorre, o mesmo acontece com a empresa
foco de estudo, que atua no ramo do
comércio varejista. Um dos aspectos
importantes a serem considerados é a
organização do trabalho, esta categoria
aborda diversas questões, tais como: dia-adia do trabalho, controle e pressão, como
também metas impostas pela organização.
Com relação ao dia-a-dia no trabalho,
112
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
as participantes afirmam que este é baseado
nas vendas, as quais influenciam um bom
dia ou um dia ruim, acarretando
competitividade entre o grupo, uma vez que
a meta é individual, demonstrando que a
organização do trabalho dessa empresa não
beneficia a cooperação que ocorre mediante
de um trabalho coletivo, já que é por meio do
trabalho individualizado que existe o
reconhecimento e a recompensa
(DEJOURS, 2011). Como diz v4: “o objetivo
é venda(...)Às vezes tu fica até preocupada
olhando pra ver se tem outras pessoas
vendendo. Se tem gente que não
vendeu(...)tu está mais tranquila, mas se tu
tá vendo que tem gurias que tão vendendo tu
também quer vender né?”.
Frente à afirmativa acima, observase o quanto a organização do trabalho,
vinculada às metas propostas pela
organização, interfere na saúde do
trabalhador, pois o trabalho atualmente vem
acompanhado não somente de controle
externo, o qual aponta na escala de clima
organizacional como um indicador relevante,
mas a própria vendedora interioriza essa
regra e cobrança do alcance das metas.
Neste sentido, a v1 relata: “tem a meta, tem
que alcançar aquilo, porque a gente
depende disso para receber, então tem dias
que a gente fica bem preocupada(...)tem que
chegar o final do dia e ter números, valores”
(v1).
Esse controle interno causa em
algumas colaboradoras desconforto,
apontando o quanto essa forma de
reconhecimento, através do resultado, pode
implicar na redução da qualidade de vida e
no desgaste psíquico do trabalhador,
causando inclusive sofrimento (DEJOURS,
1992, 1994, 1999, 2005), neste sentido, v4
afirma:“eu preferiria ganhar menos e não
precisar trabalhar com metas(...)Aqui não é
um trabalho forçado, cansativo, mas é a
cabeça, tu força muito, a meta fica na
cabeça(...) tu tem que vender”.
Porém, esse controle e pressão não
ocorrem apenas internamente pelas
colaboradoras, mas também pelo gestor da
empresa, em que as entrevistadas afirmam
serem vigiadas constantemente, causando
muito desconforto e insegurança no trabalho
realizado, como diz v5: “A gente é vigiada
toda hora(...)se eu to atendendo(...)e vejo
que estou sendo vigiada, parece que tudo
que eu to fazendo tá errado, eu fico sem
jeito”. Sentir-se vigiada cria efeitos nas
atitudes e comportamentos das
trabalhadoras; neste sentido, a participante
v12 fala: “O chefe fica olhando, analisando o
que tu ta fazendo, parece que
julgando(...)me deixa bem ruim mesmo”
(v12).
O vigiar das atividades das
vendedoras causa mal-estar e desconforto,
pois as trabalhadoras associam essa atitude
do gestor como algo que vai gerar críticas e
punições, porém, é necessário conhecer que
o trabalho prescrito é impossível de ser
seguido no real do trabalho, ou seja, não há
como seguir as regras impostas pela
organização integralmente. Desta forma, o
medo da incompetência, de não estar à
altura ou de se mostrar incapaz causa
sofrimento nas trabalhadoras (DEJOURS,
1999). Neste sentido, a colaborada v4 diz:
“Eu fico torcendo e pensando que ele saia
dali, porque às vezes a pessoa não quer, não
gosta e aí ele vai vir direto em mim pedir o
que aconteceu. Ainda mais se for uma
família, ele sempre fala que não admite que
uma família saia sem nada” (v4).
Na narrativa acima, em que a
colaboradora aponta a não aceitação da
chefia em relação a uma venda não
concluída, compreende-se que não é
permitida a lacuna entre o trabalho prescrito
e o real e, desta forma, a vendedora não está
autorizada a usar de sua inteligência prática.
A trabalhadora permanece no lugar de quem
está com uma prática equivocada de seu
trabalho, sendo necessário se readaptar ao
que é imposto pela organização, causando
angústia, desconforto e medo da
incompetência frente a essa condição
(DEJOURS, 1999).
É importante ressaltar que uma
gestão distante da realidade propicia uma
cisão entre o trabalho prescrito e o real, ou
seja, conhecer a realidade do trabalho das
vendedoras é fundamental para oportunizar
uma abertura de fala sobre aspectos que
interferem no trabalho, ocasionando
movimentos e novos formatos para a
organização do trabalho. Se o gestor tem
apenas o conhecimento abstrato, o mesmo
terá dificuldade de compreender o que
ocorre, não conseguindo escutar as
trabalhadoras (CHANLAT, 2011).
Categoria “Relações no Trabalho”
O trabalho não se limita apenas em
113
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
atividades individuais, mas sim existe um
arsenal de relações entre o indivíduo e
aqueles com quem e para quem ele trabalha
(GERNET; DEJOURS, 2011). Neste sentido,
a categoria “relações do trabalho” trará a
reflexão no que se refere ao relacionamento
interpessoal com chefia, com colegas e com
clientes, uma vez que é um dos fatores
importantes para o reconhecimento e
satisfação no trabalho.
A análise das falas das participantes
revela que o relacionamento com a chefia é
distante e superficial, em que não há diálogo,
mostrando autoridade e poder da chefia em
relação às trabalhadoras. A funcionária v3
aponta que “É uma relação só de patrão e
funcionária”, v12 complementa: “Depende
muito do humor que ele chega na loja. Às
vezes ele chega e cumprimenta(...) Tem dias
que chega e nem dá bom dia, só te olha com
cara torta(...) Aí você já se sente acuada,
meio que se esquivando. Não tem nem
aquela tranquilidade pra atender a pessoa
com alegria como sempre atende (v12)”.
Para as colaboradoras se sentirem
membros da organização, estas devem
verdadeiramente existir neste local e, para
isso, há necessidade de serem
reconhecidas enquanto sujeito (DEJOURS,
2011). Sem diálogo a chefia não conhece as
características e singularidades de cada
vendedora, podendo muitas vezes
compreender ações e posições de forma
equivocada. Neste viés, a colaboradora v11
pondera: “eu duvido que ele conheça todo
mundo como é(...) Porque tu não tem
convivência pra saber como essa pessoa
pensa. Ele pensa como quiser da gente, pela
imagem que ele enxerga. Quem sabe ele tá
pensando uma coisa e tu é uma pessoa bem
diferente”.
Em contrapartida, o acolhimento do
gestor frente à solicitação para uma
conversa individual é diferenciada, uma vez
que as funcionárias afirmam que em sua sala
o gestor se mostra compreensivo e aberto,
como diz v1 “Aqui em cima ele trata a gente
bem melhor, às vezes lá embaixo ele passa e
nem cumprimenta a gente, nem bom dia,
nem boa tarde. E aqui em cima, ele é bem
diferente, bem compreensivo”. A participante
v9 complementa: “Se tu precisa vir conversar
com ele sobre uma coisa séria, ele tá
disposto, ele nunca se negou a escutar” (v9).
Diante disso, compreende-se que ao mesmo
tempo em que o gestor possui uma postura
rígida e autoritária no ambiente de trabalho,
ele também é flexível e aberto para entender
as questões individuais/pessoais das
colaboradoras quando solicitado, tendo
disposição em ajudá-las. Frente a essa
questão, observa-se que o comportamento
do gestor, ora acolhedor e ora distante e
impessoal, cria nas vendedoras vários
questionamentos e fantasias em relação a
sua postura, ocasionando ora sofrimento e
angústia, ora prazer e satisfação.
Outro fator fundamental dentro das
organizações é a relação entre colegas, uma
vez que esta é imprescindível para a
realização do trabalho coletivo e da
cooperação. Há uma convivência amigável
entre as colaboradoras, porém mencionam a
rivalidade e a concorrência, uma vez que
trabalham e recebem a partir de metas
individuais, como pode ser observado na
seguinte frase “A princípio a gente se dá bem,
mas até que ponto que a gente pode confiar
uma na outra, a gente não sabe, porque é
uma disputa, uma quer vender mais que a
outra (v1)”. V10 complementa “Tem aquela
história das comissões, isso gera sempre um
ciumezinho, ciúmes das que vendem mais e
tal”. Frente a este contexto, ressalta-se que
existe concorrência e competição entre as
funcionárias, causando muitas vezes ciúmes
entre as mesmas, influenciando
consideravelmente o trabalho em equipe, no
qual as colaboradas agem mais
individualmente do que coletivamente.
Diante disso, ao serem questionadas
se existe trabalho em equipe, as participantes
afirmam que este é deficitário, não havendo a
colaboração de todas, mencionado na
seguinte afirmativa: “Existe trabalho em
equipe, mas não é da parte de todas, umas tu
tem que pedir ajuda, outras tu nem precisa
pedir e elas vêm e te ajudam, e tem outras
que nem pedindo elas não vêm. É uma
equipe entre aspas” (v8). Ou seja, algumas
se focalizam nas vendas, como diz v2
“(...)umas só pensam em vender, na hora de
ajudar elas saem de fininho”. A partir destas
falas percebe-se que o trabalho coletivo vem
sofrendo fragilizações, pois a organização do
trabalho como está posta não privilegia a
cooperação, uma vez que as novas
configurações do capitalismo têm gerado
relações pautadas na competitividade, no
individualismo e na concorrência (HORST et
al, 2011). Estas características estão
presentes na organização em estudo, uma
114
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
objetivos da organização são o foco
principal, deixando de lado muitas vezes a
singularidade do sujeito (reconhecimento
existencial), a forma de execução
(reconhecimento da prática do trabalho) e o
envolvimento do indivíduo na realização da
tarefa (reconhecimento do investimento
pessoal no trabalho) (BRUN; DUGAS, 2002
citado em FERREIRA, 2011).
O reconhecimento no trabalho se
baseia não somente nas atividades
desempenhadas, mas também na
valorização das opiniões e ideias de cada
trabalhadora. Para isto, torna-se necessário
o espaço de fala, pois é através dele que as
pessoas podem fazer parte das tomadas de
decisões em relação a questões que
interessam ao grupo de trabalho e à
organização. Neste sentido, as funcionárias
afirmam que há este espaço, porém não
falam, pois há o medo e receio já que suas
opiniões geralmente não são levadas em
consideração e a última palavra é do gestor.
Como pode ser observado na seguinte
afirmativa: “É nas reuniões que a gente faz 2
vezes por mês. Até existe, ele abre um
espaço, mas todo mundo fica com meio
medo e ninguém fala” (v1), a funcionária v4
complementa “...parece que a gente não é
valorizada, que a nossa opinião não vale,
não conta”.
Desta forma, pode-se considerar
que formalmente existe um espaço de fala,
porém, o que não existe é um espaço de
escuta e de acolhimento das demandas das
trabalhadoras. Assim, esse lugar da fala
perde o sentido e abre-se uma lacuna entre a
linguagem e a possibilidade do acolhimento
por meio da escuta, fragilizando essa equipe
de trabalho que sem suporte não consegue
ressignificar seu sofrimento e seu trabalho. É
na abertura do espaço de fala que as
trabalhadoras se autorizam a repensar o seu
trabalho e a criar novas formas de realizá-lo
(CHANLAT, 2011; DEJOURS, 1994).
Quando o trabalhador está sofrendo,
este se utiliza de estratégias defensivas
como forma de enfrentamento deste sofrer.
Estas podem ser individuais ou coletivas
(DEJOURS, 1994). Ao perceberem que não
são escutadas pela chefia, as funcionárias se
utilizam de uma estratégia defensiva que é o
silêncio, para que não sejam criticadas e não
se frustrem com a não valorização de suas
ideias. Essa estratégia pode ser observada
na fala da v12: “às vezes a gente expõe e é
vez que o alcance das metas individuais se
sobressai à busca do trabalho coletivo, fator
indispensável para as vivências de prazer no
trabalho.
No que se refere ao relacionamento
com clientes, as participantes afirmam que é
de suma importância, pois permite a abertura
para novas relações interpessoais, como
pode ser observado na fala da v9 “Tu faz
muita amizade, conhece pessoas novas
todos os dias”. Porém, uma vendedora
afirma que estas relações nem sempre são
harmoniosas, já que muitas pessoas
possuem comportamento hostil,
demonstrando certa arrogância. Neste
sentido, a trabalhadora v5 afirma: “lidar com
pessoas não é muito fácil, tem vezes que a
gente pega uma pessoa gentil, legal, que
mesmo que não se agrada com a mercadoria
ela trata a gente bem, mas tem outras que
acham que a culpa é da gente de não tá
dando certo” (v5). Desta forma, as evidências
apontam que ao mesmo tempo em que o
relacionamento com os clientes proporciona
prazer, através da amizade e do vínculo,
também surge o sofrimento em relação a
alguns clientes, os quais são desrespeitosos
e ríspidos, fazendo com que as
trabalhadoras ora sintam prazer, ora sintam
sofrimento.
Categoria “Prazer e sofrimento”
A categoria “prazer e sofrimento”
aborda os temas centrais da Psicodinâmica
do Trabalho, dentre eles: espaço de fala,
cooperação, inteligência prática e
autonomia.
Frente ao questionamento sobre
reconhecimento e valorização, a maioria das
participantes afirma que não se sentem
valorizadas, uma vez que observam que este
reconhecimento está atrelado a vendas e
metas atingidas, como a seguinte frase da v1
pontua: “A pessoa é, pra ele... o que ela
vende”. Desta forma, muitas se mostram
insatisfeitas ao perceberem que não são
valorizadas integralmente por tudo que
realizam e por sua dedicação e empenho,
mas sim pelos resultados financeiros; neste
sentido, v2 afirma “A gente poderia ser
valorizado por tudo que a gente faz”. Frente
a esse contexto, observa-se que o
reconhecimento nesta empresa está
atrelado ao reconhecimento dos resultados
do trabalho, sendo que as metas e os
115
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
se que os indicadores vão ao encontro da
análise qualitativa, uma vez que se
apresentou nas narrativas das participantes
uma insatisfação em relação ao “controle e
pressão” exercidos, pois são cobradas
constantemente para a obtenção de metas e
são controladas através de vigilância,
corroborando com o alto índice neste fator,
que pontuou 3,86.
Os fatores “apoio da chefia e da
organização” e “recompensas” pontuaram
3,39 e 3,32, respectivamente, legitimando a
insatisfação das funcionárias no que se
refere ao suporte da chefia no desempenho
das atividades diárias e com as recompensas
usadas pela empresa para premiar a
qualidade, a produtividade, o esforço e o
desempenho das trabalhadoras, sendo que
estas afirmam que não são valorizadas pela
chefia por tudo que realizam, mas somente
no resultado final, ou seja, no alcance das
metas.
O fator “coesão entre colegas”
pontuou 3,67, índice que aponta para
insatisfação das funcionárias em relação à
união, vínculos e colaboração entre as
colegas de trabalho, corroborando com as
falas das funcionárias, em que as mesmas
acreditam não haver trabalho em equipe,
como também a cooperação é deficitária,
pois se focalizam nas atividades individuais e
na obtenção das metas oriundas da
organização do trabalho.
Já na escala de Prazer e Sofrimento
no Trabalho, observou-se que o fator
“Liberdade” obteve média de 2,84, o que vem
ao encontro das afirmativas das funcionárias
no que se refere à falta de autonomia e
liberdade para decidir/agir frente a situações
imprevistas, como também à vigilância
acentuada exercida sobre as mesmas. Como
são vigiadas constantemente, sentem-se
inseguras, uma vez que acreditam não
estarem realizando as atividades de forma
adequada, indicada na pontuação de 2,93 no
fator “insegurança”. No entanto, o fator
“gratificação” obteve a maior média, 3,70, o
que demonstra satisfação, realização,
orgulho e identificação com o trabalho
realizado.
O fator “desgaste” que avalia
estresse, sobrecarga, tensão emocional,
cansaço, ansiedade, desânimo e frustração,
obteve pontuação 3,08, apontando
prevalência moderada de sofrimento,
criticada. Como eles têm a última palavra (...)
a maioria resolve ficar quieta, não falar
nada(...) se gente fala, igual não é ouvido,
você não leva crédito, aí a maioria fica
quieto, só escutando e pronto”.
A partir da narrativa, esta estratégia
acontece de forma coletiva, uma vez que a
maioria reage desta maneira frente ao medo
e à frustração de não serem ouvidas. Em
contrapartida, as trabalhadoras se utilizam
de espaços informais de fala para trazerem
suas angústias e sentimentos em relação ao
trabalho, ou seja, quando não estão
vendendo, apesar de serem vigiadas,
conseguem falar entre si, buscando através
da fala a produção de saúde. Neste sentido,
a participante v9 assevera: “a gente
conversa entre colegas, coloca pra fora o
que aconteceu”. Falar informalmente sobre o
real do trabalho é compartilhar de
sentimentos semelhantes do dia-a-dia e
através desta fala elaborar os sentimentos
de sofrimento.
Outro fator importante é agir com
autonomia frente a situações imprevistas,
utilizando-se de sua inteligência prática para
tomada de decisões (DEJOURS, 2005).
Neste sentido, as trabalhadoras foram
questionadas se possuem autonomia na
resolução de problemas imprevistos, mas a
grande maioria respondeu que não, como
pode ser observado na seguinte afirmação
“Tudo tem que pedir, porque uma hora você
acha que está certo assim, mas não está”
(v5). Outra participante diz gostar deste
sistema, pois assim não há o perigo de errar
e, consequentemente, receber uma crítica;
ela diz “A gente sempre mostra pra chefia,
mas isso é bom pra gente, porque depois tu
vai fazer uma coisa errada e vai ser pior”
(v11). Neste sentido, pode-se perceber a
impossibilidade do uso da inteligência
prática, uma vez que as trabalhadoras não
podem acionar sua inventividade e suas
experiências passadas para a solução de
situações imprevistas, as mesmas remetemse sempre a algum superior hierárquico,
deixando de lado o seu potencial de
criatividade e engenhosidade (DEJOURS,
2011).
Correlações entre a pesquisa quantitativa
e a qualitativa
Fazendo um resgate dos resultados
da escala de Clima Organizacional, observa116
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
podendo estar relacionado com a pressão
exercida para a obtenção das metas,
vigilância, não reconhecimento, falta de
escuta e a não utilização da inteligência
prática.
Diante da análise e discussão dos
dados mencionados acima, é possível
afirmar que ao mesmo tempo em que o
prazer e o sofrimento são opostos, eles
também caminham juntos, ou seja, existem
questões da organização do trabalho que
podem encaminhar o trabalhador em alguns
momentos ao prazer, em outros ao
sofrimento.
pesquisadores, como também para gestores
que buscam compreender a dinâmica do
prazer e sofrimento no trabalho. E que, a
partir deste estudo, possam visar o bemestar dos sujeitos e promover melhores
condições de trabalho. O psicólogo pode
auxiliar de forma significativa quanto à
temática saúde do trabalhador, agindo como
facilitador, abrindo espaços de escuta dos
trabalhadores, no qual é permitido falar,
escutar, refletir, confrontar opiniões, debater,
para que assim possa haver a reconstrução
das bases do conviver, do reconhecimento e
da cooperação no trabalho.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo teve como
objetivo analisar os fatores que interferem no
prazer e no sofrimento no trabalho de
vendedoras de uma empresa do comércio
varejista. Os resultados apontam para a
presença de sofrimento moderado no
trabalho (análise quantitativa), que se
comprova nas falas das participantes, uma
vez que este sofrimento se apresenta
através da falta de reconhecimento e
autonomia, no controle e pressão exercidos
sobre as funcionárias, na impossibilidade da
utilização da inteligência prática e na
deficiência do trabalho coletivo. Em
contrapartida, a pesquisa também aponta
aspectos associados ao prazer, que está
relacionado com o orgulho que as
vendedoras têm de seu trabalho e da
empresa, nas relações existentes entre
colegas, uma vez que é através delas que as
trabalhadoras conseguem falar sobre o diaa-dia do trabalho, como também o prazer
relacionado com o reconhecimento da
comunidade e dos clientes perante o
trabalho desenvolvido.
Ressalta-se a necessidade de ações
para promoção de saúde destas
colaboradoras, buscando a abertura de
espaços de fala em que as mesmas possam
ser ouvidas e valorizadas, bem como a
possibilidade de buscar uma relação com os
gestores em que a confiança prepondere,
diminuindo o controle e criando espaço para
autonomia das trabalhadoras referente às
suas atividades, bem como o
reconhecimento por meio de outras formas
além daquela já existente.
Espera-se que os resultados desta
pesquisa possam ser de utilidade para outros
REFERÊNCIAS
ABRAHÃO, Júlia I; SZNELWAR, Laerte I.
Entre a tarefa e a atividade, a dor do
trabalhar. In: Mendes, Ana M (org.).
Trabalho & Saúde: o sujeito entre
emancipação e servidão. Curitiba: Juruá
Editora, 2011.
BARDIN, L. A análise de conteúdo. São
Paulo: Martins Fontes, 1977.
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho
Nacional de Saúde. Resolução 196/96
sobre pesquisa com seres humanos.
D i s p o n í v e l
e m :
<
www.conselho.saude.gov.br>. Acesso em
24 de maio de 2011.
CHANLAT, Jean F. O desafio social da
gestão: a contribuição das ciências sociais.
In: BENDASSOLLI, Pedro F; SOBOLL, Lis A.
Clínicas do trabalho. São Paulo: Atlas,
2011.
DEJOURS, Christophe. A loucura do
trabalho, estudo de psicopatologia do
trabalho. 5ºed. Ampliada. São Paulo: Cortez
Oboré, 1992.
DEJOURS, Christophe; ABDOUCHELI,
Elisabeth; JAYET, Christian. Psicodinâmica
do Trabalho: contribuições da Escola
Dejouriana à Análise da Relação Prazer,
Sofrimento e Trabalho. São Paulo: Atlas,
1994.
DEJOURS, Christophe. A banalização da
injustiça social. Tradução de Luiz Alberto
Monjardim. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 1999.
DEJOURS, Christophe. O fator humano.
Tradução Maria Irene Stocco Betiol, Maria
117
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
José Tonelli. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 5ºed, 2005.
nepage&q&f=false>. Acesso em 01 de maio
de 2011.
DEJOURS, Christophe. Da psicopatologia
à Psicodinâmica do Trabalho. (Org)
LANCMAN, Selma; SZNELWAR, Laerte Idal.
Rio de Janeiro: Fiocruz, 3º ed., 2011.
MENDES, Ana M. Prazer, reconhecimento e
transformação do sofrimento no trabalho. In:
MENDES, Ana M (org.) Trabalho & Saúde: o
sujeito entre emancipação e servidão.
Curitiba: Juruá Editora, 2011.
FERREIRA, Mário César. “Chegar feliz e sair
feliz do trabalho”: Aportes do
reconhecimento no trabalho para uma
ergonomia aplicada à qualidade de vida no
trabalho. In: MENDES, Ana M (org.)
Trabalho & Saúde: o sujeito entre
emancipação e servidão. Curitiba: Juruá
Editora, 2011.
MENDES, A. M., MORRONE F. C., WATRIN,
B., VIEIRA G., SANTOS, M. & BRAUER S.
Escala de indicadores de prazer e
sofrimento no trabalho (EIPST):
Construção e validação. In: Sociedade
Brasileira de Psicologia (Org), XXX Reunião
Anual de Psicologia (p.223). Brasília: SBP,
2000.
GERNET, Isabelle; DEJOURS, Christophe.
Avaliação do trabalho e reconhecimento. In:
BENDASSOLLI, Pedro F; SOBOLL, Lis A.
Clínicas do trabalho. São Paulo: Atlas,
2011.
MERLO, Álvaro R. C. Psicodinâmica do
trabalho. In: Maria da Graça Jacques
Wanderley Codo (orgs.). Saúde mental &
trabalho. Petrópolis: Vozes, 2002.
GÜLLICH, Roque I. da C.; LOVATO,
Adalberto; EVANGELISTA, Mário dos S.
Metodologia da Pesquisa: normas para
apresentação de trabalhos: redação,
formatação e editoração. Três de Maio: Ed.
SETREM, 2007.
PIRES, Roseli V; MACÊDO, Katia B. O
minimizar do sofrimento de artistas de teatro.
In: ZANELLI, José C; SILVA, Narbal; TOLFO,
Suzana da R. (org.) Processos
psicossociais nas organizações e no
trabalho. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2011.
HORST, Ana Carolina; CAVALLET, Luiza
Helena R; PIMENTA, Susana de Oliveira;
SOBOLL, Lis Andréa P. Os vínculos Frágeis
no Capitalismo Flexível e o Sequestro da
Subjetividade. In: FERRAZ, Deise L da S;
OLTRAMARI, Andrea P, PONCHIROLLI,
Osmar. Gestão de Pessoas e Relações de
Trabalho. São Paulo: Atlas, 2011.
M A R T I N S , M a r i a d o C . F. C l i m a
Organizacional. SIQUEIRA, Mirlene M. M.
(Org.) Medidas do comportamento
organizacional: ferramentas de diagnóstico
e de gestão. Porto Alegre: Artmed, 2008.
MENDES, Ana M. Trabalho, ação dos
trabalhadores e patologias sociais. In:
MENDES, Ana M. Psicodinâmica do
Trabalho: teoria, métodos e pesquisas. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 2007. Disponível
e m :
<
http://books.google.com.br/books?id=TPDu
2MlCz0MC&pg=PA51&dq=mobiliza%C3%A
7%C3%A3o+subjetiva+intelig%C3%AAncia
+pr%C3%A1tica+coopera%C3%A7%C3%A
3
o
&
h
l
=
p
t
BR&ei=r_LTTdPFOo7UgQeI6MEu&sa=X&o
i=book_result&ct=book-previewlink&resnum=1&ved=0CDEQuwUwAA#v=o
118
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
OCORRÊNCIA DE EVENTOS ADVERSOS E IATROGENIAS
EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA ADULTA
Jacinta Spies1
Sávio Erni Schulz2
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM 3
ABSTRACT
The present research has as main focus to
understand the adverse events and iatrogenic
events that may occur in an Adult Intensive Therapy
Unit (AITU). Mistakes happen, once to make
mistakes is part of the human nature. However,
failures in the service of health compromise the
patient, affect the image of the professionals
involved and of the Institution. This is a study with
qualitative approach, of exploratory and descriptive
type, carried out in a hospital Institution of medium
size, located in the Northwest Region of the State of
Rio Grande do Sul. It took place in this research,
thirteen professionals of Nursing, being these ones,
ten Nurses and three Technicians of Nursing, of both
sexes that have worked in AITU for, at least, one year
in the Institution researched. The method used to
collect the data was through a questionnaire,
containing closed and open questions about the
subject. The information collected was analyzed
using the method of analysis of content, proposed by
Gomes (2007). With this information, the material in
five thematic nucleus described inside the research
was classified. It was evidenced that among the
professionals of Nursing researched, the culture of
the occurrence of situations involving mistakes and
failures in the assistance of Nursing are generally
attributed to the lack of knowledge or the mistaken
conduct of the professional. One also points out that
to recognize the main causes of iatrogenic events
that may occur in this environment is a challenge that
is emergent for everyone. In the end of this research
one presents, as proposal, an instrument of
spontaneous notification, in which the professionals
of Nursing could register iatrogenic situations that
may occur in their daily practice, regardless of the
area of actuation. Measure quite welcome which
could contribute to minimize the culture of
punishment of the mistakes of the professionals,
having also the objective of identify more reliable
data, review the processes of work and, at last, to
prevent and minimize the occurrence of iatrogenic
events in Nursing in this environment, ensuring this
way, the excellence turned to the assistance in
health.
Key-words: Nursing. Iatrogenic events. Unit of
Intensive Therapy.
RESUMO
A presente pesquisa tem como foco principal
compreender os eventos adversos e iatrogenias
que podem ocorrer em uma Unidade de Terapia
Intensiva Adulta (UTIA). Erros acontecem, pois
errar faz parte da natureza humana. Porém, falhas
em um serviço de saúde comprometem o paciente,
afetam a imagem dos profissionais envolvidos e da
Instituição. Trata-se de um estudo com abordagem
qualitativa, do tipo exploratória e descritiva,
desenvolvida em uma Instituição hospitalar de
médio porte, situada na Região Noroeste do Estado
do Rio Grande do Sul. Participaram desta pesquisa
treze profissionais de Enfermagem, sendo destes,
dez Enfermeiros e três Técnicos de Enfermagem,
de ambos os sexos, que atuam em UTIA há pelo
menos um ano na Instituição pesquisada. O método
utilizado para coletar os dados foi através de um
questionário, contendo questões fechadas e
abertas acerca do tema. As informações coletadas
foram analisadas, utilizando o método de análise de
conteúdo, proposto por Gomes (2007). De posse
destas informações, classificou-se o material em
cinco núcleos temáticos, descritos no interior da
pesquisa. Evidenciou-se que entre os profissionais
de Enfermagem pesquisados, a cultura da
ocorrência de situações envolvendo erros e falhas
na assistência de Enfermagem são geralmente
atribuídas à falta de conhecimento ou a conduta
equivocada do profissional. Destaca-se, também,
que reconhecer as principais causas de iatrogenias
que possam ocorrer neste ambiente é um desafio
que se faz emergente a todos. No final desta
pesquisa apresenta-se, como proposta, um
instrumento de notificação espontânea, no qual os
profissionais de Enfermagem poderão registrar
situações iatrogênicas que possam ocorrer na sua
prática cotidiana, independente de sua área de
atuação. Medida bem vista, que poderá contribuir
para minimizar a cultura de punição dos erros dos
profissionais, tendo também o objetivo de identificar
dados mais fidedignos, rever os processos de
trabalho e, por fim, prevenir e minimizar a
ocorrência de iatrogenias de Enfermagem neste
ambiente, zelando assim, pela excelência voltada à
assistência em saúde.
Palavras-Chave: Enfermagem. Iatrogenias.
Unidade de Terapia Intensiva.
1
Bacharel e Licenciada em Enfermagem; Professora do Curso Bacharelado em Enfermagem
(SETREM); Enfermeira Especialista; Santa Rosa – RS/BR; e-mail: [email protected].
2
Acadêmico do Curso Bacharelado em Enfermagem (SETREM); Santa Rosa
– RS/BR; e -mail:
[email protected].
3
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM, Av. Santa Rosa, 2504, Três de Maio – RS, email:
[email protected]
119
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
profissionais de Enfermagem poderão
registrar espontaneamente situações
iatrogênicas que possam ocorrer na sua
prática cotidiana.
Esta proposta tem como objetivo
identificar fatores que contribuem para a
ocorrência de eventos adversos, rever os
processos de trabalho e, por fim, minimizar e
se possível prevenir a ocorrência de
iatrogenias de Enfermagem neste ambiente.
1 INTRODUÇÃO
Enfermagem é uma ciência e ao
mesmo tempo uma arte que fundamenta
suas ações na prevenção das doenças, no
cuidado, no alívio do sofrimento humano e
na recuperação da saúde dos indivíduos
enfermos. Por isso, Enfermeiros, Técnicos e
Auxiliares de Enfermagem têm enorme
influência na promoção da segurança do
paciente.
Sendo assim, os trabalhos
desenvolvidos na assistência de
Enfermagem são desempenhados por
pessoas e o processo de cognição humana
não é perfeito, pois a possibilidade de
cometer erros é uma característica imutável
nos seres humanos (PEDREIRA; HARADA,
2009).
O termo utilizado para determinar
erros nas práticas de assistência à saúde é
denominado de evento adverso, porém,
iatrogenia vem a ser a consequência deste
erro. Segundo Knobel (2006a), as Unidades
de Terapia Intensiva exigem todo o
conhecimento do profissional de saúde,
ecobrando dos mesmos dinamismo,
competências, qualidade e precisão, sem
perder o foco da assistência ao paciente
hospitalizado.
Cabe ressaltar que, mesmo em um
ambiente que proporciona e induz a
excelência em qualidade, é possível que
ocorram atos iatrogênicos por parte de
membros da equipe. Após algumas leituras
sobre esta temática, aliada à prática
profissional do autor desta pesquisa, surgiu
o total interesse em realizar uma pesquisa
com profissionais de Enfermagem que
atuam em uma UTIA. O local proposto é uma
Instituição Hospitalar de médio porte,
situada na Região Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul (RS).
O referido trabalho está constituído
em capítulos. O primeiro aborda os aspectos
metodológicos; já o segundo capítulo dispõe
de conceitos que deram suporte ao estudo,
constituindo-se da revisão bibliográfica
sobre o tema.
No terceiro capítulo está descrita a
análise dos dados coletados, sua
interpretação e a apresentação dos
resultados da pesquisa. O quarto capítulo
apresenta como proposta um instrumento de
notificação espontânea, no qual os
2 MATERIAIS E MÉTODOS
A referida pesquisa é um estudo do
tipo qualitativo, de cunho descritivo e
exploratório. Conforme Polit; Beck; Hungler
(2004). Os resultados da pesquisa qualitativa
são tipicamente baseados nas experiências
da vida real de pessoas, com conhecimento
do fenômeno em primeira mão (p.30).
Para Polit; Beck; Hungler (2004), os
estudos descritivos são os que possuem
como principal objetivo o retrato preciso das
características dos indivíduos. Neste
contexto, Gil (2008), complementa que a
pesquisa exploratória constitui a primeira
etapa de uma investigação, tendo como
objetivo proporcionar visão geral.
A coleta de dados foi realizada em um
hospital de médio porte, situado na Região
Noroeste do Estado RS, empregando
aproximadamente 509 colaboradores e
composta por 150 leitos.
Anteriormente à coleta dos dados
foram realizados dois testes piloto, não
incluídos, e a coleta dos dados seria através
de uma entrevista gravada; porém, os
entrevistados demonstraram-se resistentes e
criteriosos mesmo sendo esclarecidos sobre
preceitos éticos, descrito no Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido
(APÊNDICE B).
Diante deste fato, os dados foram
coletados através de um questionário
(APÊNDICE C), organizado com questões
abertas e fechadas, que foi respondido sem a
presença do pesquisador. Conforme o
cronograma estabelecido, o período da
coleta de dados se deu nos meses de
Outubro e Novembro de 2011.
Para preservar a identidade dos
sujeitos pesquisados, estes foram
identificados pelas letras “E e T”, significando
as categorias profissionais de Enfermeiro e
Técnico em Enfermagem, seguido de um
120
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
numeral de acordo com a sequência da
entrega dos questionários.
Ainda antes da coleta dos dados foi
encaminhado ao Diretor Geral da respectiva
Instituição um ofício (APÊNDICE A),
solicitando autorização para coletar as
informações. Cabe também salientar que
este estudo foi submetido ao departamento
jurídico da Instituição pesquisada, obtendo o
seu parecer favorável.
Para analisar e interpretar as
informações coletadas foi utilizado o método
de análise de conteúdo, proposto por Gomes
(2007). No momento em que as informações
começaram a ser coletadas, procurou-se
aprofundar o conhecimento técnico e
científico referente ao tema, por meio de
leituras em artigos, livros e revistas
científicas, com o intuito de melhor avaliar,
discutir e relacionar o contexto.
Os sujeitos pesquisados foram
profissionais de Enfermagem, com nível de
ensino técnico e superior, isto é, Enfermeiros
e Técnicos de Enfermagem, independente
de idade e sexo, que atuam na assistência
direta a pacientes internados em UTIA, tendo
como fator de inclusão, estar atuando, no
mínimo há um ano nesta unidade
especificamente.
quinze anos. Já para os Técnicos em
Enfermagem o tempo de formação ficou entre
quatro e nove anos. Quanto ao tempo de
atuação na Instituição, este também
apresentou resultado similar ao citado
anteriormente.
Referente à experiência em UTIA
pode-se afirmar que a grande maioria dos
Enfermeiros, assim como os Técnicos de
Enfermagem atua cerca de quatro anos na
unidade pesquisada. Também foi observado
que, ao serem convidados a participarem da
pesquisa, os Enfermeiros manifestaram
interesse em participar, porém, a maioria dos
Técnicos de Enfermagem demonstrou-se
criteriosa, com sentimento de receio quanto
ao responder às questões em forma de
entrevista, sendo necessária a mudança do
método de coleta de dados da forma de
entrevista, para questionário, porém mesmo
após esta decisão ser tomada, o receio em
responder às questões se manteve.
Iatrogenias significa qualquer
alteração patológica do quadro clínico
provocada, ou seja, um estado anormal
produzido no paciente pelo profissional de
saúde através da execução de um
procedimento equivocado (Knobel, 2006b).
Na presente pesquisa ficou evidente
que os pesquisados possuem conhecimento
sobre o termo, confirmado quando assim
verbalizam: “Considero qualquer ato
incorreto, de origem humana,
desencadeada ao paciente” (E nº 03, 2011).
“São erros ou falhas de procedimentos, da
qual resultam em consequências
prejudiciais ao paciente” (E nº 07, 2011).
A ocorrência de uma situação
iatrogênica é geralmente desencadeada pela
conduta inapropriada tomada pelo
profissional. Essa afirmação vem de encontro
com o que foi relatado pelo E nº 1, quando cita
que iatrogenia “É sempre um erro,
geralmente causado por estes três
fatores: negligência, imprudência ou
imperícia do profissional de Enfermagem”
(E nº 01, 2011).
Para Knobel (2006b), a existência de
uma série de insalubridade nas atividades
cotidianas expõe os profissionais de saúde e
os torna propícios a executar erros.
Afirmação esta que vem ao encontro da fala
do entrevistado E nº 1 “Um dos fatores é a
demanda de trabalho excessiva, o fato de
3 ANÁLISE E DISCUSSÃO E
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
O movimento mundial em busca da
qualidade nos serviços de saúde não é fato
novo. Proporcionar acesso equitativo e
seguro nos serviços de saúde a todos, com
custos reduzidos, é tema prioritário nesta
área e um grande desafio à sociedade.
Participaram da pesquisa treze
profissionais de Enfermagem, sendo destes,
dez Enfermeiros e três Técnicos de
Enfermagem, de ambos os sexos, que
atuam em UTIA, há pelo menos um ano na
Instituição pesquisada. Levou-se ainda em
consideração as idades, o tempo de
formação, atuação na Instituição pesquisada
e de experiência em UTIA.
Analisando as características
individuais dos pesquisados pode-se afirmar
que a maioria é do sexo feminino,
enquadrando-se na faixa etária dos trinta aos
quarenta anos. Em relação ao tempo de
formação desses profissionais, constatou-se
que para os Enfermeiros varia entre quatro e
121
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
ter muitas atividades, uma equipe
reduzida para o desempenho de algumas
atividades pode levar ao stress no
ambiente de trabalho e isso é um
condicionante a levar a pessoa a erros”
(E nº 1, 2011).
Complementa os entrevistados:
“Para mim um fator que pode
desencadear um evento adverso é falhas
no elo de comunicação entre os
profissionais” (E nº 03, 2011). “[...] a
pessoa não foi devidamente capacitada
para tal tarefa e já tem que assumir
atividades e funções que ela não está
bem habilitada” (E nº 1, 2011).
Quando indagados sobre
ocorrências iatrogênicas vivenciadas em
sua prática profissional, os entrevistados
responderam que sim, sendo que as
mesmas não serão mencionadas em
cumprimento dos princípios éticos,
conforme preconizam as normas e diretrizes
da Resolução nº 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde – CNS/MS
(BRASIL,1996).
Inúmeras consequências ao
paciente, tais como surgimento de
patologias oportunistas, sequelas e maior
tempo de internação, relato evidenciado nas
falas: “As consequências são danos
prejudiciais aos pacientes, o retardo do
tratamento que se submete a maior
tempo de internação” (T nº 01, 2011).
“Piora do quadro clínico do paciente,
com o surgimento de patologias
oportunistas, debilitando ainda mais o
mesmo” (E nº 02, 2011). “A principal
consequência é o óbito ou sequelas
irreversíveis” (E nº 06, 2011).
A família do paciente, o profissional
de Enfermagem e a Instituição também são
afetados pela ocorrência da falha na
assistência, o que vem ao encontro da fala:
“Os familiares são as primeiras pessoas
afetadas, pois eles confiam no trabalho
da Enfermagem, para eles os
procedimentos ocorrem de forma
correta” (T nº 02, 2011). “Um erro na
assistência implica em complicações
legais à Instituição e para o profissional”
(E nº 1, 2011). “As situações adversas que
ocorrem com o paciente afetam também
o patrimônio hospitalar, resultante das
perdas financeiras por ações judiciais
decorrentes de processos” (E nº 04,
2011).
No enfoque Cível, poderá ser
exigida da instituição como empregador o
dever de indenizar a paciente ou seu
representante legal, pois o profissional de
Enfermagem é empregado da instituição
e não liberal prestador de serviços (LIMA,
2003, p. 49) . De acordo com a Lei nº 7498,
de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre a
regulamentação do exercício da
Enfermagem e dá outras providências,
Auxiliares e Técnicos só podem trabalhar
com a supervisão de um Enfermeiro
(BRASIL, 1986).
Lima (2003) esclarece que o
Enfermeiro não poderá se eximir da sua
responsabilidade em razão de que compete
ao mesmo a supervisão da equipe de
Enfermagem. Afirmação não observada nos
relatos da maioria dos entrevistados,
principalmente dos Enfermeiros, o que deixa
dúvidas sobre se os mesmos têm
conhecimento destas implicações legais.
Quando ocorre um evento adverso
é realizado um registro, afirmação que vem
ao encontro das falas: “Quando ocorre
alguma iatrogenia, esta é trabalhada em
encontros de educação continuada
frente à falha ocorrida” (E nº 07, 2011).
“São registrados em um livro que
chamamos de caderno de
intercorrências do setor” (T nº 3, 2011).
Por outro lado, observou-se
algumas contradições entre os
entrevistados a cerca dos registros de
eventos adversos, consideração levada em
conta diante do relato do E nº 01 que diz
“Iatrogenias diárias e pequenas, sem
repercussão, quando são identificadas,
geralmente são conversadas, discutidas,
chamado o colaborador e orientado [...],
danos menores são apenas resolvidos
internamente” (E nº 01, 2011).
Enfermeiros receberam
treinamento e foram capacitados para atuar
em UTIA: “Minha capacitação foi bastante
intensa, tive um acompanhamento direto
do profissional Enfermeiro anos atrás na
UTIA. Nunca fiquei sozinha, sempre pude
ser acompanhada diretamente pelo
Enfermeiro responsável [...]” (E nº
01,2011). Técnicos de Enfermagem tiveram
que se adaptar às condições impostas pela
exigência do setor, relato que condiz com a
fala: “Quando eu entrei na UTI [...]
122
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
rotinas pré-estabelecidas em uma UTI.
Porém, as condutas impostas nestes
protocolos não podem tumultuar o processo
de trabalho.
Pode se mencionar que a ocorrência
de eventos adversos trata-se de um
problema de saúde pública e cabe aos
profissionais da área da saúde, em especial
aos profissionais de Enfermagem, privilegiar
ações que enfrentem os problemas que
emergem de sua atividade profissional.
Para o pesquisador se faz
importante e necessário a identificação dos
fatores existentes, bem como a
compreensão da ocorrência de erros, pois
assim será possível desenvolver um saber
que elabore formas de prevenção. Neste
intuito, o formulário de notificação
espontânea de eventos adversos foi
elaborado. Compreende-se que o mesmo
poderá fornecer subsídios para promover
ações preventivas e, sem dúvida, contribuir
para uma mudança de cultura não punitiva
nas instituições.
Considera-se que os resultados
desta pesquisa possam servir como reflexão
acerca da assistência de Enfermagem
realizada nas instituições de saúde, na
formação de novos profissionais, como
forma de buscar mais conhecimento em
relação ao assunto, bem como servir de
informação, com o intuito de construir uma
cultura de segurança do paciente.
Então, pode-se afirmar que, além do
conhecimento adquirido sobre o tema, as
hipóteses elencadas no início da pesquisa
também foram confirmadas, bem como os
objetivos alcançados. Sendo que ao término
deste trabalho compreende-se que o mesmo
não pode ser considerado como concluído e
sim, como um instrumento que impulsione o
interesse dos profissionais de saúde a
buscarem ações que promovam a
segurança do paciente, bem como construir
nas instituições de saúde uma cultura de não
punição, condição esta que contribuirá para
um ambiente mais favorável à revisão dos
processos de trabalho, bem como para
promover a excelência dos serviços
prestados.
c h e g u e i e c o m e c e i a t r a b a l h a r,
assumindo pacientes igual aos outros
colegas que trabalhavam há anos na UTI
[...]. Sempre surgiam dúvidas e
questionamentos que eram ensinados na
hora” (T nº 2, 2011).
Quanto à existência de protocolos e
rotinas implantadas na UTIA, pode ser
observado que os entrevistados
manifestam-se de forma positiva: “Com
certeza, porque quando existe um
manual de normas e rotinas em um setor
se desenvolve um trabalho de qualidade
e as possíveis iatrogenias venham a
diminuir” (E nº 03,2011).
Percebe-se também preocupação
com a melhoria da qualidade respeitando as
condições individuais do paciente: “Os
protocolos não podem servir para
engessar o trabalho, porque aí você está
esquecendo que há individualidades e
que não se tratam todas as situações
iguais”. (E nº 01,2011).
Algumas soluções podem ser
definidas como qualquer projeto ou
intervenção que impeça ou atenue danos
decorrentes dos processos de cuidados à
saúde. Por isso, desenvolver ferramentas
para constituir uma assistência segura
depende de mudanças na cultura dos
processos de trabalho adotados nas
instituições tendo como objetivo a
construção de um modelo institucional
voltado para uma cultura de segurança do
paciente.
4 REFLEXÕES CONCLUSIVAS
Ao serem convidados a participar da
pesquisa, os Enfermeiros manifestaram
interesse. Por outro lado, a maioria dos
Técnicos de Enfermagem demonstrou-se
bastante criteriosa. Salienta-se que tal
situação não interferiu com o andamento e
resultado desta pesquisa.
Ao comentar que errou, sentimentos
de culpa, incompetência e medo quanto ao
critério de empregabilidade são colocados à
prova, fator que sobrepõe a presença de
uma cultura de punição entre os mesmos.
Para os entrevistados, a educação
continuada e permanente favorece a
prevenção de eventos adversos, da mesma
forma como a existência de protocolos e
REFERÊNCIAS
ANDRADE, J. S; et al. A comunicação entre
enfermeiros na passagem de plantão. In:
123
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
em: 15 de novembro de 2011 ás 23h e 01 min.
PEREIRA, M. L. G.; HARADA, M. J. C. S. S.
Enfermagem dia a dia: Segurança do
Paciente. São Caetano do Sul – SP, Ed.
Yendis, 2009.
BATIMARCHI, G. Caso de sucesso. . Revista
Fornecedores Hospitalares. Ano 19. ed.
187. Maio. São Paulo – SP. Ed. Log & Print
Gráfica e logística S.A. 2011.
CANINEU, R; et al. Iatrogenia em Medicina
Intensiva. Rev. bras. ter. intensiva [online].
2006, vol.18, n.1, pp. 95-98. ISSN 0103-507X.
D i s p o n í v e l
e m
http://www.scielo.br/pdf/rbti/v18n1/a15v18n1.
pdf. Acessado em: 08 de março de 2011 às
22h10min.
BARRETO, M. N. C; KURAMOTO, J. B.
Bioética e o erro humano. In: PEDREIRA, M.
L. G.; HARADA, M. J. C. S. S. O erro humano
e segurança do paciente. São Paulo – SP,
Ed. Atheneu, 2006.
CAPUCHO, H. C. Envolvimento das equipes
em segurança. Revista Fornecedores
Hospitalares. Ano 19. ed. 187. Maio. São
Paulo – SP. Ed. Log & Print Gráfica e logística
S.A. 2011.
BURNIER, J. R. Cursos de Enfermagem de
má qualidade ameaçam vidas de pacientes.
Fantástico. Sua Revista Eletrônica. Rede
Globo de Televisão. 2011. Disponível em:
HTTP://fantastico.globo.com/Jornalismo/FA
N T / 0 , , M U L 1 6 7 3 3 111 5 6 0 5 , 0 0 . h t m l .
Acessado em: 29 de setembro de 2011 às
18h 09min.
CARELLO. C. Conhecimento e capacitação
na prevenção do erro em Enfermagem.
Enfermagem Gaúcha em Revista. Conselho
Regional de Enfermagem do Rio Grande do
Sul – COREN-RS. Ano II. 6ª ed.
Janeiro/fevereiro/março. Ed. Gráfica Palloti.
Porto Alegre – RS. 2011.
CARRARA, D. Comunicação e segurança do
paciente. In: PEDREIRA, M. L. G.; HARADA,
M. J. C. S. S. Enfermagem dia a dia:
Segurança do Paciente. São Caetano do Sul –
SP, Ed. Yendis, 2009.
BOCK, A. M; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M.
de L. T. Psicologias: Uma introdução ao
estudo de psicologia. 13ª ed. Reformulada e
ampliada, Ed. Saraiva, São Paulo – SP,
2001.
CARRARA, D; SALLES, C. L. S. Cuidado
limpo, cuidado seguro. In: PEDREIRA, M. L.
G.; HARADA, M. J. C. S. S. Enfermagem dia
a dia: Segurança do Paciente. São Caetano
do Sul – SP, Ed. Yendis, 2009.
BRASIL. Conselho Federal de Enfermagem.
Lei nº 7498, de 25 de junho de 1986.
Dispõe sobre a regulamentação do
exercício da Enfermagem e dá outras
providências. Brasília: Diário Oficial da
União; 1986.
CHANES, D. C.; KUSAHARA, D. M.
Sistematização da assistência de
enfermagem. In: PEDREIRA, M. L. G.;
HARADA, M. J. C. S. S. Enfermagem dia a
dia: Segurança do Paciente. São Caetano do
Sul – SP, Ed. Yendis, 2009.
BRASIL. Conselho Federal de Enfermagem.
Resolução nº 311, de 8 de fevereiro de 2007.
Aprova a Resolução do Código de Ética
dos Profissionais de Enfermagem. Rio de
Janeiro: COFEN; 2007.
COLTRI, M. V. A responsabilidade nas mãos
do profissional e do hospital. Revista
Hospitais Brasil. Nº 48. ed. Março/Abril. São
Paulo – SP. Ed. RHB. 2011.
BRASIL. Conselho Federal de Enfermagem.
Dados estatísticos. 2007. Disponível em
http://www.portalcofen.gov.br//2007/.
Acessado em: 28 de abril de 2011 às 08h 20
min.
FILHO, E. B. Responsabilidade civil dos
profissionais da saúde sob o olhar do direito.
In: FELDMAN, L. B. Gestão de Riscos e
Segurança Hospitalar. Prevenção de danos
ao paciente, notificação, auditoria de risco,
aplicabilidade de ferramentas,
monitoramento. São Paulo – SP. Ed. Martinari.
2008.
BRASIL. .Ministério da Saúde, Conselho
Nacional de Ética em pesquisa. Normas para
pesquisa envolvendo seres humanos
Resolução Nº 196/96. Brasília:1996, p. 24.
BRITO, G. Injeção de equívocos. Jornal
Folha Universal. Junho. São Paulo – SP.
2011.
FIGUEIREDO, N. M. A; SILVA, C. L. R; SILVA,
R. C. CTI: Atuação, Intervenção e Cuidados de
Enfermagem. São Caetano do Sul – SP. Ed.
Yendis Editora. 2006.
CBA. Consórcio Brasileiro de Acreditação.
2011. Disponível em:
http://www.cbacred.org.br/site/.
Acessado
124
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Enfermagem dia a dia: Segurança do
Paciente. São Caetano do Sul – SP, Ed.
Yendis, 2009.
FELDMAN, L. B. Gestão de Riscos e
Segurança Hospitalar. Prevenção de danos
ao paciente, notificação, auditoria de risco,
aplicabilidade de ferramentas,
monitoramento. São Paulo – SP. Ed.
Martinari. 2008.
KURCGANT, P. et al. Administração em
Enfermagem. São Paulo: E.P.U., 1991.
MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E.M.
Técnicas de Pesquisa. 7. ed. São Paulo:
Atlas, 2008.
FERNANDES, D. J. M; et al. Cuidados de
Enfermagem e ocorrências iatrogênicas
na UTI. 2009. Disponivél em
http://www.webartigos.com/articles/16952/1/
CUIDADOS-DE-ENFERMAGEM-EOCORRENCIAS-IATROGENICAS-NAUTI/pagina1.html. Acessado em 12 de junho
de 2011 às 20h 30 min.
MCSWAIN, N. E.; F., Scott; SALOMONE, J.
P. Prehospital trauma life support. 7ª
reimpressão, 5º ed. Rio de Janeiro – RJ, Ed.
Elsevier, 2004.
NEPOMUCENO, L. M. R; KURCGANT, P. Uso
de indicadores de qualidade para
fundamentar programa de capacitação de
profissionais de enfermagem. Revista de
Escola de Enfermagem da USP. São Paulo,
vol. 42, nº. 4, pp. 665-672, 2008. Disponível
e
m
:
HTTP://www.scielo.br/pdf/reeusp/v42n4/v42
n4a07.pdf. Acessado em 12 de julho de 2011
às 20h30min.
FERREIRA, A. B. H. Dicionário da Língua
Portuguesa. 7ª ed. Curitiba. Ed. Possitivo,
2008.
GIL, A. C. Como elaborar projeto de
pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2008.
GOMES, R. A análise de dados em
pesquisa qualitativa. In.: MINAYO, M. C. S.
Pesquisa Social: teoria, método e
criatividade. Petrópolis: Vozes, 2007.
NERI, M.C. COFEN. In : BURNIER, J. R.
Cursos de Enfermagem de má qualidade
ameaçam vidas de pacientes. Fantástico.
Sua Revista Eletrônica. Rede Globo de
Te l e v i s ã o . 2 0 1 1 . D i s p o n í v e l e m :
HTTP://fantastico.globo.com/Jornalismo/FAN
T/0,,MUL167331115605,00.html. Acessado
em: 29 de setembro de 2011 às 18h 09min.
GUGLIELME, M. A. apud BRITO, G. Injeção
de equívocos. Jornal Folha Universal.
Junho. São Paulo – SP. 2011.
G Ü L L I C H , R . I . C ; L O VAT O , A . ;
EVANGELISTA, M. S. Metodologia da
Pesquisa: normas para apresentação de
trabalhos: redação, formatação e editoração.
Três de Maio: Ed. SETREM, 2007.
MINAYO, M. C. S; et. al. O desafio do
conhecimento: pesquisa qualitativa em
saúde. 8 ed. São Paulo: Hucitec, 2004.
HARADA, M. J. C. S. Segurança do paciente
– classificações e definições. In: PEDREIRA,
M. L. G.; HARADA, M. J. C. S. S.
Enfermagem dia a dia: Segurança do
Paciente. São Caetano do Sul – SP, Ed.
Yendis, 2009.
MINAYO, M. C. S; et al. Pesquisa Social:
teoria, método e criatividade. 25 ed.
Petrópolis: Vozes, 2003.
NOGUEIRA, L.CL. Gerenciamento pela
qualidade total na saúde. Belo Horizonte –
MG. EDG. 1996.
LEOPARDI, M.T; Teorias em Enfermagem:
Instrumento para a prática. Ed. Papa Livros,
Florianópolis – SC, 1999.
ONA. Organização Nacional de Acreditação.
2011. Disponível em:
LIMA, G. B; Implicações Ético – legais no
exercício da Enfermagem. 2ª ed. Ed.
Modrian. Rio de Janeiro – RJ, 2003.
https://www.ona.org.br/Pagina/20/Conhecaa-ONA. Acessado em: 15 de novembro de
2011 às 20h e 57min.
KNOBEL, E. Condutas no paciente grave.
3ª ed. Ed. Atheneu, São Paulo – SP, 2006a.
PACHOLEGG, A. In: REZENHA, R. Doutores
da Agonia. Revista Super Interessante. ed.
225. Ed. Abril. Rio de Janeiro – RJ. 2006.
K N O B E L , E . Te r a p i a i n t e n s i v a :
enfermagem. São Paulo: Editora Atheneu,
2006b.
PADILHA, K.G. ocorrências iatrogênicas na
uti e o enfoque de qualidade. Revista LatinoAmericana de Enfermagem [online]. 2001,
vol.9, n.5, pp. 91-96. ISSN 0104-1169.
D i s p o n í v e l
e m :
KUSAHARA, D. M.; CHANES, D. C.
Segurança na medicação. In: PEDREIRA,
M. L. G.; HARADA, M. J. C. S. S.
125
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v9n5/7804.pdf.
Acessado em: 10 de março de 2011 às
18h30min.
TAVARES, F. M. Reflexões a cerca
da iatrogenia e educação médica. Revista
Brasileira de Educação Médica. Faculdade
de Medicina de Caratinga, Minas Gerais –
MG. Universidade do Estado do Rio de
Janeiro – RJ. 2007.
PEDREIRA, M. L. G.; HARADA, M. J. C. S. S.
Enfermagem dia a dia: Segurança do
Paciente. São Caetano do Sul – SP, Ed.
Yendis, 2009.
TELOKEN, M. O papel do médico na
Acreditação. Revista do Hospital Moinhos de
Vento. Hospital Moinhos de Vento. Porto
Alegre – RS. ed. nº 152. Ed. Informare, 2011.
PIVA, M. G. Erros na Enfermagem – A
perigosa associação entre formação
deficiente e sobrecarga de trabalho.
Enfermagem Gaúcha em Revista.
Conselho Regional de Enfermagem do Rio
Grande do Sul – COREN-RS. Ano II. 6ª ed.
Janeiro/fevereiro/março. Ed. Gráfica Palloti.
Porto Alegre – RS. 2011a.
THOMAS, C.L. Dicionário médico
enciclopédico Taber. São Paulo: Ed.
Manoleed, 2000.
TORRES, R.M.; CASTRO, C.G.S.O.
Gerenciamento de eventos adversos
relacionados a medicamentos em hospitais.
Revista eletrônica de administração
hospitalar. Rio de Janeiro – RJ. Janeiro/
março. 2007. Disponível em:
http://www.farmaciahospitalar.com/geral/arq
uivos/Efeitos%20Adversos%20a%20Medic
amentos%20em%20Hospitais.pdf.
Acessado em: 11 de setembro de 2011 ás
17h44 min.
PIVA, M. G. A força da Enfermagem –
Instituições representativas têm diferentes
atribuições. Enfermagem Gaúcha em
Revista. Conselho Regional de Enfermagem
do Rio Grande do Sul – COREN- RS. Ano II. 7ª
ed. Abril/Maio/Junho. Ed. Costoli Soluções
Gráficas. Porto Alegre – RS. 2011b.
POLIT, D; BECK, C. T.; HUNGLER, B. P.
Fundamentos de Pesquisa em
Enfermagem. 5. ed. Porto Alegre: Artmed,
2004.
TOZETTO, R. In: BRITO, G. Injeção de
equívocos. Jornal Folha Universal. Junho.
São Paulo – SP. 2011.
PORTO, R. In: BRITO, G. Injeção de
equívocos. Jornal Folha Universal. Junho.
São Paulo – SP. 2011.
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa
em ciências sociais: a pesquisa qualitativa
em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
RICHARDSON, R. J; et al. Pesquisa Social.
Métodos e Técnicas. 3ª ed. Revisada e
ampliada. 11 reimpr. São Paulo – SP. Ed.
Altas. 2010.
VICENT, C. Segurança do paciente.
Orientações para evitar eventos adversos.
Edição traduzida para o português. Ed.
Yendis Editora. São Caetano do Sul – SP.
2010.
REZENDE, R. Doutores da Agonia. Revista
Super Interessante. ed. 225. Ed. Abril. Rio
de Janeiro – RJ. 2006.
WA C H T E R , R . M . A s e g u r a n ç a d o
paciente. Edição traduzida para o
português. Ed. Artmed, Porto Alegre – RS.
2010).
ROSSI, F.R; SILVA, M. A. D.Fundamentos
para processos gerenciais na prática do
cuidado. Revista da Escola de Enfermagem
da USP. São Paulo, vol. 39, nº 4, pp. 460-488,
2 0 0 5 .
D i s p o n í v e l
e m :
HTTP://www.scielo.br/pdf/reeusp/v39n4/12.p
df. Acessado em: 13 de julho de 2011 às
18h03min.
WHO (World Health Organization). World
Alliance for Pacient Safety. Guideline Safe
Surgery. First Edition, 2008. Disponível em:
HTTP://www.who.int/pacientsafety/safesurg
ery/knowledge_base/SSSL_Borchure_finalj
un08.pdf. Acessado em: 18 de outubro de
2011 às 23:11
SALLES, C. L. S. Erro humano e exercício
ético profissional da Enfermagem. In:
PEDREIRA, M. L. G.; HARADA, M. J. C. S. S.
Enfermagem dia a dia: Segurança do
Paciente. São Caetano do Sul – SP, Ed.
Yendis, 2009.
SAMPIERI, R. H.; COLLADO, C. F.; LUCIO, P.
B. Metodologia de pesquisa. 3 ed. São
Paulo: Editora Mc Graw Hill, 2006.
126
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: ÍNDICE DE MATERNIDADE
PRECOCE NOS MUNICÍPIOS PERTENCENTES Á
14ª COORDENADORIA REGIONAL DE SAÚDE
Graciele Getania Barcellos Farias ¹
Vera Beatriz Pinto Zimerann Weber²
Beatriz de Carvalho Cavalheiro³
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM 4
RESUMO
ABSTRACT
A adolescência se caracteriza por ser um período
com características próprias. Nesta fase ocorrem
mudanças intelectuais, afetivas e em nível social,
corporais e atividade hormonal intensa, levando
os jovens à capacidade reprodutiva. O estudo tem
como objetivo investigar o índice de maternidade
na adolescência nos municípios pertencentes à
14º Coordenadoria Regional de Saúde e fatores
associados. Justifica-se no sentido da Educação
em Saúde como prática pertinente de prevenção.
É uma pesquisa de abordagem quantitativa do
tipo exploratória descritiva, de caráter
documental, com base nos registros de nascidos
vivos dos municípios da região em estudo, com
um olhar retroativo ao ano de 2006 até dezembro
de 2010. Para a análise de dados, utilizou-se do
Microsoft Excel. Diante da problemática, pode-se
evidenciar que o maior número de nascimentos
está na faixa etária dos 15 aos 19 anos de idade,
com jovens de escolaridade correspondente a 8 e
11 anos estudados, na maioria solteira. Em
relação ao período gestacional, a maioria delas
teve o parto a termo e realizou o pré- natal
adequado, o tipo de gravidez prevalente foi a
única e o parto a cesariana. A maioria dos
nascidos foi do sexo masculino, e de cor/raça
branca, com peso variando entre 3,00 e 3,99 Kg.
Em relação às más formações, os Recém
Nascidos na sua maioria não as apresentavam. A
partir do estudo realizado vê-se a necessidade do
trabalho do profissional Enfermeiro frente uma
temática de grande relevância, possibilitou
conhecimento acerca da adolescência, a
gestação e suas peculiaridades nesta fase do
ciclo vital.
Palavras-chave: Educação em Enfermagem.
Saúde do adolescente. Gravidez na
adolescência.
Adolescence is characterized by a period with its
own characteristics. At this stage intellectual,
affective and social changes happen, and in social
level physical and intense hormonal activity,
leading young people to reproductive capacity.
The study has as its main purpose to investigate
the rate of teenage pregnancy in the cities
belonging to 14 Regional Health Coordination and
associated factors. It is justified in the sense of the
Health Education as the practice pertaining to
prevention. It is a quantitative research approach
from exploratory descriptive type and,
documentary character, based on records of live
births of cities in the region under study, with a look
back to the year 2006 until December 2010. For
data analysis Microsoft Excel was used. Faced
with the problem, one can show that the largest
number of births in the age ranging from 15 to 19,
with young people from education corresponding
to 8 and 11 years studied, mostly single. In relation
to gestational age most of them had delivered at
term and carried out the adequate prenatal care,
the prevalent type of pregnancy and childbirth was
the only CS. Most were born male, and color /
white, weighing between 3.00 and 3.99 Kg.
Regarding to malformations in the newborns they
were not the majority. From the study it can be
seen that the need for the work of professional
nurses is an issue of great relevance, possible
knowledge about adolescence, pregnancy and its
peculiarities in this life cycle stage.
Keywords: Nursing education. Adolescent
health,Teen pregnancy
¹Acadêmica de Enfermagem do 8º semestre. [email protected]
² Docente da Facu ldade Três de Maio. Professora Orientadora Licenciada em Ciências Físicas e Biológicas
e Biologia (IEDB); Psicopedagoga (URI); Mestre em Educação nas Ciências (UNIJUÍ); Membro dos
grupos de pesquisa CNPq: Educação em Saúde Coletiva (SETREM); Rua Guilherme Tesche, nº 553
– Emílio Tesche – 98910-000 – Três de Maio – RS/BR; e-mail: [email protected]
³Enfermeira, Mestre em Enfermagem, Docente da Faculdade Três de Maio. Professora co
orientadora. [email protected]
4
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM, Av. Santa Rosa, 2504, Três de Maio – RS, email:
[email protected]
127
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa surgiu a partir
da proposta de trabalho do Componente
Curricular Projeto e Pesquisa em
Enfermagem do Curso de Bacharelado em
Enfermagem da Sociedade Educacional Três
de Maio (SETREM), que teve como objetivo
investigar o índice de maternidade na
adolescência e o perfil dos mesmos nos
municípios pertencentes à 14º
Coordenadoria Regional de Saúde (CRS).
Foi uma pesquisa de caráter documental,
com base nos registros dos nascidos vivos
dos municípios pertencentes à 14º CRS.
A adolescência se caracteriza por ser
um período de transição entre a infância e a
fase adulta, sendo uma etapa muito
importante no desenvolvimento, com
características muito próprias, que leva
esses sujeitos a se tornarem adultos.
Ocorrem mudanças significativas no
desenvolvimento intelectual, afetivo e
modificações em nível social, referentes a
grupos de amigos, forma de vestir, falar, agir,
que muitas vezes são influenciados pelo
grupo no qual estão inseridos.
A puberdade se caracteriza pelo
desenvolvimento dos caracteres sexuais
secundários referentes ao surgimento de
pelos nas axilas e genitália de meninos e
meninas, a telarca é o desenvolvimento das
mamas nas meninas, levando elas a, muitas
vezes, sentirem-se envergonhadas, não
trocam de roupa na frente de outras pessoas.
Nesta fase também pode ocorrer a menarca,
ou seja, a primeira menstruação. Outra
mudança que também acontece é o aumento
dos testículos nos meninos (FERRIANI;
SANTOS, 2001). Depois das confusões
afetivas da primeira etapa da adolescência, o
relacionamento afetivo/amoroso pode se
tornar mais evidente, com maior aceitação
das transformações físicas, em que a menina
tende a usar roupas que expõem mais seu
corpo, sendo que é neste período que se
consolida também a identidade sexual
(TAQUETTE, 2011).
Dentre os direitos dos adolescentes
estão o da liberdade e privacidade sexual,
igualdade social, escolhas reprodutivas livres
e responsáveis, tendo o direito de decidir o
número de filhos e o espaçamento entre os
nascimentos, direito de tomar decisões
referentes à reprodução sem sofrer qualquer
discriminação ou violência, com assistência
de um pré-natal de qualidade (RAMOS,
2001).
A gravidez na adolescência é
considerada, na maioria das vezes, como um
problema de ordem pública, pois este
acontecimento em uma época de formação
do caráter do indivíduo pode trazer inúmeras
consequências e riscos para as adolescentes
como, por exemplo, o abandono pelo
parceiro e até mesmo da família, perda do
vínculo de amigos ou grupo a qual está
inserido, interrupção das atividades
escolares e riscos materno-fetais (BRASIL,
2006).
Quando a gravidez acontece de
forma inesperada pode acarretar inúmeros
transtornos, principalmente familiares e
escolares, pois nem sempre se está
preparado para aceitar e lidar com um Recém
Nascido (RN) e, a partir disso, acontecem
mudanças nas condições de vida da jovem
(MOTTA et al. 2004).
Para Levandowsqui; Piccini; Lopes
(2008), a gravidez na adolescência, muitas
vezes, está associada a condições
financeiras precárias pré-existentes, fazendo
da maternidade precoce um agravo dessas
referidas condições e uma forma de
perpetuar tal situação, pois geralmente
ocorre a evasão escolar, aumentando ainda
mais a dificuldade de inserção no mercado de
trabalho posteriormente.
Os mesmos autores apontam
estudos que relatam o fato de que muitas
adolescentes não realizam o pré-natal
adequado. Na maioria das vezes ocorre uma
procura tardia para a realização do mesmo,
sendo que tal fato está associado ao
sentimento de negação da gravidez,
desconhecimento e falta de orientação,
tornando-se assim vulneráveis a possíveis
complicações na gestação e também para o
RN.
A gravidez na adolescência vem
sendo colocada de inúmeras formas, muitos
sugerem que é indesejada, não planejada,
ocorre por falta de informação e também vem
sendo associada às classes com
desvantagens socioeconômicas, mas ela
pode acontecer dentro de qualquer contexto
sócio-cultural e econômico.
Ao perceber o elevado índice de
gestantes adolescentes nas comunidades
nas quais foram realizados os estágios dos
128
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
componentes curriculares do curso de
Bacharelado em Enfermagem, e também
observar os esforços realizados pelo poder
público em oferecer orientações a esta
parte da população, através da instituição
de políticas, uma inquietação surgiu: com
t a n t a s e s t r a t é g i a s p a r a
orientação/educação dos jovens por que a
gravidez na adolescência continua sendo
uma realidade? Ao pensar nisto, tomou-se a
iniciativa de pesquisar o real índice de
gestações entre adolescentes na área de
abrangência da 14ª Coordenadoria
Regional de Saúde, por entender também
que faz parte das atribuições do ser
enfermeiro a educação em saúde.
O Enfermeiro exerce papel
importante no processo de trabalho em
saúde, prestando atendimento educativo
em grupos e também atentando às
necessidades individuais, e também realiza
consultas de Enfermagem com o objetivo de
participar de forma ativa na vida das
pessoas e na promoção da saúde das
mesmas.
Saúde que trata das pesquisas com seres
humanos e também os preceitos da Bioética
quanto à não-maleficência, à beneficência, à
autonomia e à justiça.
Para ser realizado este estudo foi
solicitada à 14ª CRS, Secretaria Municipal
de Saúde de Três de Maio e aos hospitais
cujos registros de nascidos vivos não são
armazenados no banco de dados da
primeira, autorização para coleta de dados.
Depois da autorização dessas instituições,
este projeto foi enviado ao comitê de ética
em pesquisa de uma universidade regional
e, após a análise, sugestões e aprovação da
mesma os dados foram coletados para a
posterior análise e discussão.
2. O ADOLESCER E AS
POSSIBILIDADES NA SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA
À medida que a sociedade vem se
desenvolvendo, em meio a revoluções
tecnológicas, um crescimento exacerbado
de novas possibilidades eletrônicas aos
olhos dos adolescentes, fazendo com que
estas inúmeras transformações e
possibilidades que a mídia vem colocando,
venham intervir no processo biológico,
chamado adolescência. Este que é um
processo natural do desenvolvimento do
indivíduo acaba se tornando na maioria das
vezes como um problema a ser enfrentado
pelo adolescente e sua família.
A adolescência é a forma pela qual
os adultos veem os adolescentes e como os
próprios adolescentes se contemplam,
chegando hoje em um tempo em que se
alimenta uma espécie de culto desse tempo
de vida (CALLIGARIS, 2000).
1 METODOLOGIA
A pesquisa seguiu uma abordagem
quantitativa do tipo exploratória e descritiva.
O trabalho teve caráter documental à
medida que se debruça sobre os registros
de nascidos vivos dos municípios da região
em estudo.
No tocante ao empírico, as
informações de campo foram coletadas a
partir da análise dos registros de Nascidos
Vivos dos Municípios pertencentes à 14ª
CRS. A pesquisa teve um olhar retroativo ao
ano de 2006 até dezembro de 2010,
perfazendo um período de cinco anos de
investigação. Para a coleta de dados
estruturou-se um formulário com dados da
ficha de registro de nascido vivo. Também
para a coleta das informações utilizou-se
dos dados de Estatística Vitais disponíveis
no DATASUS.
A análise de dados se fez a partir da
natureza descritiva, sintetizando os dados
coletados. As médias e porcentagens foram
dadas pela estatística descritiva. Neste
estudo foi utilizado o Microsoft Excel.
Quanto aos aspectos éticos, esta
pesquisa seguiu as proposições da
resolução 196/96 do Conselho Nacional de
2.1 ADOLESCÊNCIA E SEXUALIDADE
Para a Organização Mundial da
Saúde (OMS) (1995) adolescente é todo
indivíduo que estiver entre a faixa etária
entre 10 e 19 anos de idade. Já Oliveira
(2002) considera adolescente todo o sujeito
entre 12 e 18 anos de idade, e que possuem
todos os direitos essenciais à pessoa
humana, sendo estes que lhes tragam
condições dignas para seu
desenvolvimento, físico, mental, moral,
espiritual e social.
No período da adolescência ocorre
129
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
O abandono escolar é consequência
da gravidez na adolescência, seja ele
relacionado ao sentimento de vergonha, pela
falta de interesse pelas atividades escolares,
até mesmo por desejo do companheiro.
Relacionado a tal fator fica a taxa de
desemprego e pobreza prejudicada em
função do baixo nível de escolaridade
(LEVANDOWSKI; PICCINI; LOPES, 2008).
a transição entre a infância e a fase adulta,
além de rápidas transformações, tanto físicas
quanto fisiológicas, psicológicas e sociais.
No sexo feminino são mudanças físicas
características deste período: crescimento
acelerado, alargamento dos quadris, maior
deposição de gordura, aparecimento de
pelos pubianos (pubarca) e axilares, telarca,
menarca e início dos ciclos ovulatórios, com a
consequente capacidade reprodutiva.
Podem ser citadas como mudanças
psicossociais: conflitos com o início das
atividades sexuais, incertezas, ansiedade,
inseguranças, isolamento, transtornos de
afetos, com o devido amadurecimento
firmação da autoimagem e autoestima e
questionamentos sobre regras e valores.
Também ocorre a preocupação quanto à
formação de grupos de iguais (OLIVEIRA,
2002).
Sintetizando: a adolescência é uma
etapa fundamental para o desenvolvimento
do ser humano, caracteriza-se como uma
fase de inúmeras descobertas e constantes
transformações psicológicas e estruturais,
com o surgimento de novas formas físicas e
estéticas, transformação do funcionamento
orgânico, sobretudo no sentido sexual e
reprodutivo. Também fase de construção de
novas relações intersubjetivas,
manifestações de novos sentimentos, modo
de pensar e agir/comportar-se, que refletem
novas identidades e inserções no mundo
interno e externo à família, ou, por assim
dizer, no mundo adulto (MANDÚ, 2001).
2.3 MATERNIDADE E PATERNIDADE NA
ADOLESCÊNCIA, UMA QUESTÃO DE
GÊNERO
A desigualdade de gênero faz com
que ocorram classificações dos direitos e
deveres de homens e mulheres relacionados
à maternidade e à paternidade, colocando de
forma extrema a responsabilidade da mulher
pela reprodução, cuidado e educação dos
filhos, e quanto ao homem fica o sustento
financeiro e o comando da família (MANDÚ,
2001).
A mesma sociedade que recrimina a
gravidez na adolescência e a coloca como
problema de saúde pública, as acolhe e
apoia através de programas de apoio,
tornando a gravidez indesejada em uma
etapa tranquila da vida, desde que esta
tenha um acompanhamento adequado no
pré- natal. Toda adolescente grávida tem
atendimento garantido pelo SUS, tanto no
pré-natal, como no parto e no pós- parto.
Sendo que toda adolescente gestante que
estuda, tem durante a gravidez e na
amamentação o direito de reposição de
provas e justificativa para as faltas, segundo
a Lei Federal 6202/75 (BRASIL, 2011).
2.2 GRAVIDEZ/MATERNIDADE NA
ADOLESCÊNCIA
A Enfermagem é fundamental no
trabalho com a saúde e tem
responsabilidades no atendimento aos
adolescentes e jovens, fazendo com que haja
maior entendimento deste momento da vida
dos adolescentes trabalhando com
familiares, pai, mãe, para que se possa lidar
com a prevenção dos agravos relacionados à
adolescência, no compromisso da promoção
da saúde (MANDÚ, 2001).
O trabalho em saúde deve atentar às
necessidades individuais de cada
adolescente de forma organizada propondo
soluções para os problemas de forma criativa
e responsável nas ações em saúde,
respeitando sempre os direitos a eles
reservados (RAMOS, 2001).
3. ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES DE
CAMPO
Este capítulo objetiva apresentar a
análise dos dados coletados, referentes aos
objetivos da pesquisa, relacionando-os com
dados de literaturas disponíveis. Os
resultados foram obtidos a partir da análise
dos Registros de Nascidos Vivos dos
municípios pertencentes à 14ª CRS Santa
Rosa e dados existentes no Sistema de
Informação sobre Nascido Vivo.
3.1 DADOS REFERENTES ÀS MÃES
ADOLESCENTES
A gestação é um período muito
130
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
natal sendo que começam a ser mais
intensas a partir do segundo trimestre
quando começam as manifestações dos
movimentos do feto evidenciando assim a
sua verdadeira existência (PICCININI et al,
2004).
complexo, com diversas mudanças e repleta
de sentimentos intensos, de expectativas que
refletem na ligação da mãe com o bebê, que
vai se construindo durante todo o período pré3.1.1 Nascimentos por faixa etária
entre 10 e 19 anos, e os partos de
adolescentes entre 10 e 14 anos
representam 1%. O número de partos em
mulheres na faixa etária dos 10 aos 19 anos
em 2007 foi 594.205, em 2008 487.173 e até
outubro de 2009 408.400 partos (BRASIL,
2011).
A parir dos dados referenciados
acima, pode-se perceber que a região
noroeste do RS está conforme o pesquisado
no restante do país, ou seja, evidencia-se a
tendência de redução do número de gravidez
na adolescência. Essa diminuição pode estar
se dando devido às inúmeras campanhas de
conscientização, incentivo e acesso ao uso
de preservativo, bem como de outros
métodos de planejamento familiar que
abarquem esta faixa etária, além do
crescimento da participação da mulher no
mercado de trabalho, oferecendo outras
oportunidades que vão além da maternidade.
Figura 1: Nascidos por faixa etária
Analisando o gráfico, pode-se
perceber que o maior número de
nascimentos está na faixa etária
compreendida entre os 15 e 19 anos. No ano
de 2006 houve 17 casos entre os 10 e 14
anos e 342 entre os 15 e 19. Em 2007
aconteceram 12 nascimentos na faixa de 10
aos 14 e 306 dos 15 aos 19. Já em 2008, o
número de nascimentos esteve em 10 na
faixa dos 10 aos 14 e 340 dos 15 aos 19. O
ano de 2009 trouxe os números de 13 entre
os 10 aos 14 e 334 dos 15 aos 19.
Finalmente, em 2010 nasceram 9 crianças de
mães que se encontravam entre 10 e 14 e
288 dos 15 aos 19 anos, evidenciando uma
queda na natalidade entre adolescentes.
Em 2007 ocorreram 2.795.207
nascimentos no país, dos quais 594.205
(21,3%) foram de mães com idade variando
3.1.2 Grau de Escolaridade das parturientes Adolescentes
Figura 3: Grau de escolaridade por faixa etária/instrução da mãe.
131
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
O índice alto de parto cesário deve ser
visto de forma positiva quando são realizados
e significam a garantia de cuidados
obstétricos essenciais no sentido de reduzir a
morbimortalidade materna e perinatal, ou
seja, somente quando existem fatores que
contra indicam a evolução natural do parto,
justificando a realização de intervenção
médica, mas este não é o quadro
apresentado na região de estudo, e percebese o elevado índice de intervenções, muitas
vezes, desnecessárias. A cesariana é uma
forma eficiente no sentido de evitar a
morbimortalidade materno/peri/neonatal,
mas deve ser realizada sob rígidos critérios,
humanizando assim a assistência obstétrica
e respeitando o espaço de protagonismo
central a gestante.
Hoje são vistas e estudadas
estratégias que se destinam à humanização
da assistência obstétrica, com a devida
redução das taxas de cesariana
desnecessárias e a volta ao protagonismo
natural das mulheres, respeitando-se
opiniões e culturas a favor ou mesmo
contrárias, pois o que precisa ser realmente
levado em consideração é o melhor para a
mulher e seu bebê naquele específico
momento.
A maioria, 87%, das gestantes
realizam de sete a mais consultas durante o
período gestacional correspondendo ao seu
controle pré-natal, 13% de 4 a 6 consultas,
2% de 1 a 3 consultas e apenas 1% delas não
realizam nenhuma consulta.
O período pré-natal inicia com a
fertilização do óvulo e tem seu término no
início do trabalho de parto, sendo que neste
período ocorrem inúmeras mudanças na
mulher (anatômicas, fisiológicas e
bioquímicas), por isso tem-se a necessidade
de acompanhar e assegurar uma gestação
favorável tanto para a mãe quanto para o
bebê (MELSON et al., 2002). O Ministério da
Saúde indica que o ideal de consultas neste
período, em caso de baixo risco ou risco
habitual, são de seis.
Vê-se a necessidade deste controle
tanto para a mãe quanto para o recém
nascido, com orientações neste período que
é tão especial para as mulheres, pois assim
atua-se na promoção da saúde de forma
qualificada e humanizada, sendo que muito
se trabalha para a conscientização das mães
para este acompanhamento necessário e
fundamental.
Observando o gráfico, pode-se
visualizar que o maior índice de nascimentos
ocorre na faixa etária dos 15 aos 19, o que
corresponde a variação entre 8 a 11 de anos
estudados. Em segundo lugar varia entre 4 a
7 anos estudados, seguindo-se de 12 e mais
e depois de 1 a 3 anos. Na faixa etária dos 10
aos 14 anos, tem-se a maior
representatividade do grau de escolaridade,
ou seja, com 4 a 7 anos de estudos firmados.
Para Osório (2002) apud Alegranzzi;
Weber (2007), a escola proporciona
ensinamentos que não cabem só à escola, a
família também favorece essa educação. Ele
ainda refere que a família educa e a escola
ensina, então, cabe à família oferecer a pauta
ética para a vida em sociedade e a escola
auxiliar na educação.
A maior parte das adolescentes é
solteira, um percentual de 79%. 15% são
casadas e 5% vive em união consensual.
Ainda, pode-se dizer que 1% da
representatividade é dado ignorado, ou seja,
não foi encontrada a devida especificação na
DN.
No que se refere à duração da
gestação tem em média 280 dias ou 40
semanas ou, ainda, 9 meses do calendário,
contando do primeiro dia do último período
menstrual normal. A gestação pode ser
dividida em três partes iguais ou trimestres, e
cada um deles gira em torno de 13 semanas
ou 3 meses (NETTINA, 2007). A partir dos
dados coletados, percebe-se que 92% das
gestações nas adolescentes, nos últimos
cinco anos, têm duração de 37 a 41 semanas,
sendo esta uma representatividade positiva
para os Recém Nascidos, frutos de
gestações a termo.
A maioria, ou seja, 98% das
adolescentes tiveram gravidez única.
Somente 2% representaram gestações
duplas.
Gestação Múltipla é aquela que ocorre
na presenção de dois ou mais fetos, e se
realciona a maior idade materna, com a raça
negra, multiparidade, história familiar,
técnicas de indução da ovulação ou
fertilização assistida (BRASIL, 2006). Este
tipo de gravidez representa um maior risco,
tanto para mulher quanto para o feto.
A maioria das gestantes adolescentes
foi submetida ao parto cesárea, perfazendo
um total de 55% dos partos realizados. Os
demais 45% correspondem ao parto normal.
132
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
dos RNs de mães adolescentes está entre
3000 a 3999 kg correspondendo à 63% dos
nascidos, 24% de 2500 a 2999 kg, 6% de
1500 a 2499, 5% de 4000 a mais kg, 1% de
500g a 999g e 1% de 1000 a 1499kg.
Os AIG são aqueles que se
encontram na curva de referência, situados
entre os percentis 10 e 90, os PIG estão
abaixo do percentil 10 (abaixo de dois
desvios padrão) e os GIG acima do percentil
90 (NADER; PEREIRA, 2004). Alguns
estudos referem que RNs PIG (Pequenos
para a Idade Gestacional) e GIG (Grandes
para a Idade Gestacional) são mais
suscetíveis a alguns problemas como, por
exemplo, sofrimento respiratório, icterícia e
descontrole metabólico.
As anomalias congênitas, a
frequência e quais os tipos destes que podem
ocorrer, sendo que fica evidenciado no
mesmo que na maioria dos nascimentos
estão livres de más formações congênitas, e
que a representatividade das que ocorrem é
bem pequena. Na presente pesquisa foram
encontradas anomalias do aparelho
osteomuscular, testículo não decido
(criptorquídea), fenda labial e fenda palatina,
sendo que é importante avaliar a
confiabilidade das notificações desta
categoria, pois mesmo existindo espaço para
escrever detalhadamente o tipo de anomalia,
estudos apontam que existem lacunas no
preenchimento deste campo de informação
(LUQUETTI; KOIFMAN, 2010), pois muitas
anomalias não são visíveis, muito menos nos
primeiros dias de vida onde a DN é
preenchida.
O local no qual ocorrem os partos
das gestantes adolescentes, pode-se
observar que a maioria são realizados em
ambiente hospitalar. Tempos atrás a maioria
dos partos eram realizados por parteiras que
ao longo da vida adquiriam conhecimento e
prática para prestar assistência à mulher no
período gestacional e ao recém-nascido.
Com o surgimento da obstetrícia moderna e
em nome da redução da mortalidade materna
e infantil o parto é institucionalizado.
Perfazendo uma estimativa a partir
da análise geral dos dados coletados na
pesquisa, tem-se que a gravidez na
adolescência tem seus níveis reduzidos nos
últimos anos, atribuem-se às campanhas e
políticas públicas voltadas aos adolescentes,
mas também evidencia- se a partir de leituras
feitas para fundamentar a pesquisa que a
3.2 DADOS RELACIONADOS AO RECÉM
NASCIDO
Estima-se que a idade ideal para
gestar esteja entre 20 e 30 anos, pois autores
referenciam que a saúde da criança se
relaciona com a idade materna e a época do
nascimento; assim, considera- se que a
gravidez na adolescência pode gerar maiores
riscos para os bebês, pois os mesmos podem
nascer prematuramente, ter baixo peso e
apresentar maiores índices para mortalidade
perinatal, sendo ainda que este evento na
vida dos jovens faz com que eles busquem a
construção de uma nova identidade, a de
mães e pais (CARVALHO; 2004).
A representação do sexo de maior
incidência entre os Recém Nascidos de mães
adolescentes nos últimos anos, pode-se
visualizar que 52% são do sexo masculino e
48% do feminino. Popularmente, costuma-se
dizer que nascem mais meninos do que
meninas, porém eles são mais frágeis, tendo
maior índice de morbimortalidade no período
neonatal e em todas as demais fases da vida,
mas não se conseguiu encontrar um artigo
científico que se referisse especificamente a
este fato.
Quanto à raça/cor dos RNs, sendo que
89% são considerados de cor/raça branca, e
8% pardos e 3% preta. A região de estudo
desta pesquisa é predominantemente de
colonização alemã e estima-se, portanto, que
este fato é o causador da maioria dos RN ser
de raça/cor branca.
Os Apgars de maior prevalência
apontado no 1º e no 5º minuto de vida, podese perceber que a maioria dos RNs se
apresenta na escala de classificação notas
que variam de 8 a 10.
A vitalidade do Recém Nascido é
avaliada pelo Boletim de Apgar, no primeiro e
no quinto minuto de vida. Os parâmetros são:
frequência cardíaca, esforço respiratório,
tônus muscular, irritabilidade reflexa e cor,
sendo que estes são classificados com um
escore variando de zero a dois. Com relação
aos valores se estabelecem os seguintes
critérios, se o somatório for maior que sete
considera-se o RN em boas condições, o
valor entre quatro e seis pode ser
considerada leve depressão da vitalidade e
se a soma for inferior a quatro indica que o RN
está severamente deprimido (BARROS,
2006).
A maior representatividade do peso
133
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
mesma se dá em classes socioculturais mais
baixas, em que apesar do enfrentamento das
mudanças relacionadas à mesma ainda se
tornam vulneráveis as adversidade que a
gravidez pode causar, sendo que a gravidez
não pode ser vista sob o mesmo olhar para
todas as adolescentes, pois em alguns casos
a gestação é vista de forma positiva.
ser desempenhado pelos enfermeiros
enquanto educadores em saúde.
Através do desenvolvimento da
pesquisa pode-se perceber que o maior
número de nascimentos de crianças, filhas
de adolescentes, está na faixa etária
compreendida entre os 15 e 19 anos de
idade. Também se apresentou o período
escolar das adolescentes, sendo que a
maioria delas possuía um grau de
escolaridade correspondente a 8 e 11 anos
de estudo, em que a gravidez pode ser vista
de forma negativa, pois pode atrapalhar o
desenvolvimento escolar e acabar estando
associado ao fato de a maioria delas serem
solteiras e, portanto, terem de assumir as
responsabilidades com a criança sozinhas.
Em relação ao período gestacional, a
maioria delas tem o parto a termo, ou seja, o
que corresponde ao número de semanas
desejadas. A maioria das gestantes teve
gravidez única e o parto de maior incidência
foi a cesariana, esta considerado um ato
cirúrgico.
Quanto aos dados com o RN: pode-se
concluir que estes, em sua maioria, são do
sexo masculino, de cor/raça branca, fato que
se acredita estar ligado à colonização alemã
da região estudada. Quanto ao peso, os RNs,
na sua maioria, apresentaram um peso
considerado adequado, variando entre 3000
a 3999 Kg. Em relação à presença de
malformações congênitas, a maioria dos RNs
não apresentava, mas as que apareceram
foram as anomalias do aparelho
osteomuscular, criptorquídea e fenda labial e
palatina.
Frente à problemática apresentada,
vê-se a necessidade do trabalho do
profissional Enfermeiro, pois esta é uma
relevante temática. Os enfermeiros devem
atuar em educação em saúde de forma a
conscientizar os jovens e também trabalhar a
família destes, a escola que os acolhe, de
forma a proporcionar conhecimento, atuando
de forma preventiva e assim reduzindo ainda
mais estes índices, fazendo da adolescência
um período positivo e não ocorrendo a
inserção na vida adulta de forma forçada.Por
fim, o estudo possibilitou conhecimento
acerca da adolescência e suas
peculiaridades, das diferentes formas como é
encarado este período de transformação de
um ser criança para o enfrentamento das
adversidades da vida adulta. A partir do
CONCLUSÃO
Conclui-se que a resposta à
inquietação que levou à proposta deste
estudo, bem como o objetivo delimitado por
esse trabalho foram atendidos. A
metodologia utilizada, uma pesquisa
documental com abordagem quantitativa,
revelou-se adequada para o alcance da
proposição.
A tr a v é s d a l e i tu r a d o s a r ti g o s
pesquisados, pode-se observar que existe
uma preocupação científica em relação à
gestação na adolescência, mas apesar de
serem identificados conteúdos relacionados
à temática, também se percebeu que estas
discussões versam mais sobre a
gestação/maternidade sob o ângulo
negativo, como um entrave social à vida
desses jovens e um perigo constante para as
crianças geradas nestas condições. Também
raramente são identificados aspectos
relacionados ao gênero, pois as pesquisas
giram em torno do ser feminino/maternidade.
Sobre as limitações desta pesquisa,
é possível apontar a pouca informação ou a
falta de clareza encontrada em algumas DNs.
Esse fato dificultou a coleta de dados e, por
isso, muitas vezes, suscitou dúvidas quanto à
amostra e ao tipo de análise. A metodologia é
um aspecto importante de um trabalho de
pesquisa, pois delineia o caminho percorrido
e, portanto, deve ser tratado com cuidado.
Outra limitação diz respeito ao fato que nem
todas as DNs estavam lançadas no sistema
de informação, dificultando o acesso as
mesmas e, portanto, foi preciso ir
pessoalmente a algumas instituições, o que
demandou maior tempo na coleta.
Muitas são as políticas públicas
voltadas à saúde do adolescente, no sentido
de promoção da saúde e dentro desta
perspectiva a sexualidade precisa ser
contemplada, com o objetivo de prevenir a
gravidez não planejada e/ou desejada, que
pode intervir na vida e no futuro desses
jovens. Aqui se destaca o importante papel a
134
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
sexualidade e reprodução. In.: BRASIL.
Adolescer: compreender, atuar, acolher:
Projeto Acolher/Associação Brasileira de
Enfermagem. Brasília: ABEN, 2001.
MELSON, K. A. et al. Enfermagem materno –
infantil: planos de cuidados. 3ªed. Rio de
Janeiro: Reichmann & Affonso, 2002.
M O T TA , M . e t a l . Vi v ê n c i a s d a m ã e
adolescente e sua família. Rev. Saúde Pública
[online]. Maringa, v. 26, no.1, p.249-256,2004.
D i s p o n í v e l
e m :
http://www.scielo.br/pdf/rsp/v37n1/13540.p
df.Acesso em: 15/04/2011.
NADER, S. S.; PEREIRA, D. N. Atenção
integral ao recém-nascido: guia de
supervisão de saúde. Porto Alegre: Artmed,
2004.
OLIVEIRA, S. D. DE. Estatuto da Criança e do
Adolescente. 4 ed., Rio de Janeiro: DP&A,
2002.
OLIVEIRA, T. C. de; CARVALHO, L. P.; SILVA,
M. A. da. O enfermeiro na atenção à saúde
sexual e reprodutiva dos adolescentes. Rev.
bras. enferm. [online]. 2008, vol.61, n.3, pp.
306-311. ISSN 0034-7167. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/reben/v61n3/a05v6
1n3.pdf. Acesso em: 04/09/2011.
OMS. Organización Mundial de La salud.
Salud de los jovenes- un reto y una
esperanza. Genebra. OMS, 2005.
PICCININI, C. A. et al. Expectativas e
sentimentos de pais em relação ao bebê
durante a gestação. Estud. psicol.
(Campinas) [online]. 2009, vol.26, n.3, pp. 373382. ISSN 0103-166X. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v26n3/v26n
3a10.pdf. Acesso em: 02/11/2011.
R A M O S , F. R . S . B a s e s p a r a u m a
ressignificação do Trabalho de Enfermagem
junto ao Adolescente. In.: BRASIL. Adolescer:
c o m p r e e n d e r, a t u a r, a c o l h e r : P r o j e t o
Acolher/Associação Brasileira de
Enfermagem. Brasília: ABEN, 2001. 302p.
TA Q U E T E , S . R . S e x u a l i d a d e n a
Adolescência. A Saúde de Adolescentes e
Jovens. Ministério da Saúde. Disponível em:
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/
multimedia/adolescente/principal.htm.
Acesso em: 28/04/11.
estudo vê-se a necessidade da persistência
no que tange à conscientização do serviço de
saúde, no sentido de programar atividades
de conscientização da gravidez na
adolescência, suas formas de prevenção e a
vulnerabilidade a que ela está associada.
REFERÊNCIAS
ALVES, P. B. BRASIL, K. T. FARUDA, C. C.
Fatores de risco e proteção: considerações
sobre gênero. Adolescência e juventude: risco
e proteção na realidade brasileira. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 2009.
ALEGRANZZI; J. WEBER, V. B. P. Z. Gravidez
na Adolescência e a Evasão Escolar
Percepções e Dificuldades. Trabalho de
Conclusão de Curso. Sociedade Educacional
Três de Maio. Faculdade Três de Maio. Curso
de Bacharelado de Enfermagem. Três de Maio
2007.
BARROS, S. M. O. de. Enfermagem no ciclo
gravídico – puerperal. Barueri, SP: Manole,
2006.
________.Ministério da Saúde. Pré - natal e
Puerpério: atenção qualificada e humanizada
– Manual Técnico/Secretaria de Atenção à
Saúde, Departamento de Ações Programáticas
e Estratégicas – Brasília. 3ª edição 2006.
_________. Ministério da Saúde. Portal da
Saúde [online]. 2011. Disponível em:
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/are
a.cfm?id_area=24. Acesso em:04/09/2011
Brasil. Portal da Saúde - Adolescentes
[ o n l i n e ] . 2 0 11 . D i s p o n í v e l e m :
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visu
alizar_texto.cfm?idtxt=21379. Acesso em:
02/11/2011.
CALLIGARIS, C. A adolescência. – São
Paulo: Publifolha, 2000.
C A R VA L H O , G . M . E n f e r m a g e m e m
Obstetrícia. 3 ed. Editora: E.P.U. São Paulo,
2004.
FERRIANI, M. G. C.; SANTOS, G. V. B.
Adolescência, Puberdade e Nutrição. In.:
BRASIL. Adolescer: compreender, atuar,
acolher: Projeto Acolher/Associação Brasileira
de Enfermagem. Brasília: ABEN, 2001.
LEVANDOWSKI, D. C.; PICCININI, C. A. and
LOPES, R. de C. S. Maternidade adolescente.
Estudos de Psicologia. 2008, vol.25, n.2, pp.
251-263. ISSN 0103-166X. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v25n2/a10v
25n2.pdf. Acesso em: 16 de março de 2011.
MANDÚ, E. N. T. Adolescência: saúde,
135
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
SUCESSOS E INSUCESSOS DO ALEITAMENTO MATERNO
Karoline Bazanella ¹
Beatriz de Carvalho Cavalheiro 2
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM 3
RESUMO
O aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de
idade é preconizado pela OMS, pois esta é a forma
mais saudável de alimentação durante este período.
Sabe-se que muitos são os motivos que levam ao
insucesso desta prática e, consequentemente, ao
desmame precoce. Por isso, este estudo teve como
objetivo identificar o sucesso ou insucesso da
amamentação exclusiva até o sexto mês de vida da
criança, tendo como sujeitos da pesquisa, cinco
lactantes pertencentes a uma unidade de Estratégia
de Saúde da Família em um município de pequeno
porte da Região Noroeste do Estado do Rio Grande
do Sul. Esta pesquisa tem natureza qualitativa, do
tipo exploratória e descritiva. A coleta de dados se
deu através da observação indireta, com auxílio de
um diário de bordo e uma entrevista semiestruturada com perguntas abertas e fechadas, a
qual foi gravada, transcrita e analisada por
categorias temáticas, respeitando os preceitos éticos
da Resolução nº196/96. Foi possível concluir que o
aleitamento materno depende de fatores que se
relacionam à mãe, como a sua atitude frente à
amamentação, e outros, se referem à criança e ao
entorno familiar. As influências culturais, as
respostas aos diferentes problemas do cotidiano, os
serviços e profissionais de saúde também
influenciam neste processo. A técnica de
amamentação necessita de apoio adequado e
contínuo. Inúmeras maneiras de promover, estimular
e apoiar o aleitamento materno vem sendo
experimentadas, mas muito ainda precisa ser feito,
pois apesar de o leite materno e suas vantagens
serem reconhecidas, o emprego da amamentação
não ocorre de forma adequada e se revela em um
problema de saúde pública. Foi possível verificar
com esta pesquisa que questões relacionadas à
formação do vínculo nos primeiros dias de vida do
bebê, o apoio recebido durante a gravidez, parto,
puerpério e durante todo o tempo em que o
aleitamento se faça presente, bem como o manejo
adequado e as orientações recebidas sobre as suas
vantagens são fatores preponderantes, relacionados
ao sucesso desta prática tão importante para o bemestar presente e futuro das crianças e de suas mães,
bem como para a comunidade e para os serviços de
saúde de modo geral. Também é importante a
presença da enfermeira, consciente e capacitada,
preocupada com a efetivação de um aleitamento
materno positivo e de sucesso.
Palavras-Chave: Aleitamento materno. Apoio.
Lactante. Vínculo.
ABSTRACT
Exclusive breastfeeding until sixth months of age is
recommended by OMS, because this is the healthier
feed form during this period. It is known that there
are many reasons which induce to failure of this
practice and, consequently, to early weaning. So
this survey had as its main purpose to identify the
success or failure of exclusive breastfeeding until
sixth months of child age, having as research
subjects five lactating belonging to a ESF center in a
small city of northwest region of RS State. This
research is of qualitative, exploratory and
descriptive approach. Data collection was through
indirect observation with the aid of a logbook and a
semi-structured interview with open and closed
questions, which was recorded, transcribed and
analyzed for themes, respecting the ethical
guidelines of resolution 196/96. It was possible to
conclude that breastfeeding depends on factors that
are related to the mother, as her attitude towards
breastfeeding, and others refer to the child and
family environment. Cultural influences, the
responses to the various problems of daily life,
services and health professionals also influence this
process. Breastfeeding technique requires
adequate and continued support. A lot of ways to
promote encourage and support breastfeeding has
been tried, but much remains to be done, because
although breast milk and its benefits are recognized,
the use of breastfeeding doesn't occur properly and
is revealed in a public health problem. It was verified
in this research issues related to bond formation in
the first days following birth, the support received
during pregnancy, childbirth, postpartum and during
the entire time that breastfeeding is made present,
and the proper management and guidance received
on its benefits are important factors related to the
success of this practice so important to the welfare
of present and future children and their mothers, and
to the community and health services generally. It is
also important the presence of the nurse, aware and
empowered, concerned with the effectiveness of a
positive and successful breastfeeding.
Keywords: Breastfeeding. Support. Lactating.
Bond.
¹Acadêmica do Curso Bacharelado em Enfermagem da Sociedade Educacional de Três de Maio –
SETREM. E-mail: [email protected]
2
Enfermeira, Mestre em Enfermagem, Professora do Bacharelado em Enfermagem da SETREM, e mail: [email protected]
3
SETREM Sociedade Educacional Três de Maio, Av. Avaí, 370 Três de Maio - RS, E -mail:
[email protected]
136
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
insucesso do aleitamento materno exclusivo
como é preconizado pela Organização
Mundial da Saúde (OMS). Foram respeitados
os preceitos éticos da Resolução 196/96 do
Coselho Regional de Saúde.
1. INTRODUÇÃO
Todos os seres são constituídos a partir
de processos culturais que lhe colocam no
mundo dos significados. Pode-se dizer que
fora de sistemas culturais não existem grupos
humanos. Com isso, são construídas
diferentes formas de vida, variando entre
lugares, povos e períodos históricos. Frente a
essa diversidade de organização do mundo,
passam a existir modos de vida e culturas
hegemônicos. Assim, existe também a
criação de mitos e conceitos quanto a tipos de
organizações culturais, inclusive, significados
das mais diversas formas, o ato de
amamentar.
3. UNIVERSO DA AMAMENTAÇÃO
A amamentação sempre é um tema
relevante no contexto de saúde voltado a
mulheres e seus filhos. O aleitamento
materno está ligado a determinantes sociais,
épocas, ideias, valores, costumes e
manifestações de cultura. Além disso, sabese ainda da existência de outros fatores que
influenciam este processo, podendo ser de
ordem fisiológica, física, psicológica ou
emocional.
Embora existam fatores interrelacionados que afetam o sucesso do
aleitamento materno, pode-se destacar a
falta de informações sobre o tema. A
presença de forças que podem desestimular
a amamentação, como palpites, interferência
de estranhos, problemas relacionados com a
mama, medos, ansiedades, preocupações
também estão relacionados nesse caso.
De modo geral, a cultura influencia na
vida das pessoas, no comportamento, nas
crenças, nas emoções, na estrutura familiar e
nas atitudes frente a doenças. Na cultura
aprende-se a distinguir, definir e entender
certas funções como, por exemplo, no
período do puerpério torna-se indispensável
o apoio da família, seja ele por parte das
avós, companheiro, tias, irmãos ou amigos.
Com isso, os profissionais da saúde
necessitam construir um cotidiano de
cuidados junto às mulheres e seus familiares
para promoção e proteção do aleitamento
materno, o qual proporcionará um melhor
entendimento das práticas populares que
interferem no sucesso ou insucesso da
amamentação exclusiva. É preciso
integração no cotidiano familiar para
observar vivências e ressignificar novos
conceitos e cuidados sobre amamentação.
O profissional de saúde tem condições
de modificar e melhorar o apoio e a proteção
à lactante tem condições de remover muitos
obstáculos. É importante que ele se sinta
responsável pelos casos de insucesso de
amamentação sob sua orientação e busque a
razão de cada insucesso, refletindo sobre o
que poderia ter sido feito a mais e melhor
[...] todos os recursos utilizados pelas
famílias, pessoas leigas e por
terapeutas populares, onde a
apreensão do saber se constrói no
cotidiano e se transmite de geração a
geração, e cujo fazer não está ligado a
serviços formais de saúde (CAMPOS,
2008, p.2).
Dentre as várias atuações do
enfermeiro está o incentivo e o manejo
adequado do aleitamento materno, o que
torna imprescindível uma assistência
humanizada e individualizada, que observe
não só o lado infantil, mas também o materno,
dentro de suas singularidades.
Dessa forma, pretendeu-se avaliar os
fatores culturais que influenciam o
aleitamento materno. Período que se
caracteriza por momentos de alegria, mas
também de insegurança, medo, conflitos,
ansiedades. Essa fase pode ser muito mais
tranquila se a mãe aceitar o puerpério como
um período de adaptação em que necessita
de apoio, ajuda e certos cuidados de seus
familiares.
2. METODOLOGIA
A pesquisa foi de abordagem
qualitativa, do tipo exploratório descritiva
desenvolvida com lactantes, durante Visitas
Domiciliares (VDs) indicadas pelos Agentes
Comunitários de Saúde (ACS) de uma
unidade da Estratégia de Saúde da Família
(ESF) de um município da Região Noroeste
do Estado Rio Grande do Sul (RS). Foi feita
uma observação indireta do dia-a-dia dessas
famílias, com o auxílio de um diário de bordo e
também de uma entrevista semiestruturada
com perguntas abertas e fechadas com o
objetivo de identificar o sucesso ou o
137
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
foi constituída por lactantes que foram
identificadas como L1, L2, assim
sucessivamente, cujos bebês tinham idades
variadas de 0 a 6 meses, período considerado
ideal pela OMS para que seja mantido o
aleitamento materno de forma exclusiva,
tendo em vista suas inúmeras vantagens
tanto para a mãe quanto para o bebê.
Entenda-se por exclusivo o aleitamento
materno único, livre de qualquer tipo de
complemento.
(LANA, 2001).
Lana (2001) cita que, “se o profissional
de saúde for capaz de mostrar a mãe
relutante em amamentar, como fazê-lo
poderia ajudá-la a resolver seus próprios
problemas, a mãe evidentemente se
interessaria mais por amamentar” (p.137). Os
profissionais devem estabelecer laços com a
mãe para que ela crie vínculo com seu filho
pensando no bem estar dele, tornando um
laço afetuoso forte entre ambos, é preciso
que o profissional de saúde fale que
amamentar com prazer faz com que a criança
se torne mais inteligente, possibilita o
sucesso nas escolas e assim, futuramente,
além de ser mais equilibrada
psicologicamente.
Os profissionais de saúde aprendem ao
longo de sua trajetória a identificar e resolver
problemas. Mas, para poderem ajudar a
resolver os problemas, não basta informar às
pessoas, é também necessário ajudar a
procurar as causas das dificuldades e sugerir
formas de resolvê-las. Aconselhar não
significa dizer como se deve fazer ou não,
mas propor atuações respeitando a pessoa
nas suas crenças, convicções, pensamentos.
Aconselhar significa trabalhar com as
pessoas, compreendendo como se sentem, e
ajudando-as a decidir o que fazer (BUENO;
TERUYA, 2004).
Os enfermeiros podem estabelecer
alguns itens a serem trabalhados durante a
amamentação, dentre eles estabelecerem
uma relação de confiança e respeito e a partir
disso mostrar interesse e disponibilidade para
que ela se sinta confortável ao trocar
informações. Agir como um verdadeiro
apoiador e aconselhador.
LACTANTE
IDADE
Nº DE
GESTAÇÃO
E
EC
ESC
AO
RENDA
HIA
Costureira
1 Salário
Sim
Massagista
/ Costureira
1 Salário
Sim
Do Lar
2salários
Sim
Doméstica
2salários
Sim
Doméstica /
Do Lar
2salários
Sim
2
L1
34
I
C
2º
2
L2
26
II*
C
2º
L3
20
I
C
2º
2
2
L4
31
I
C
2º
2
L5
28
II
C
1º
Figura 02: Quadro referente ao perfil das
entrevistadas.
Legenda: L: Lactante. EC: Estado Civil. ESC:
Escolaridade. AO: Atividade Ocupacional.
HIA: História Individual da Amamentação.
* Aborto.
Referente ao perfil das entrevistadas,
pode-se perceber que eram lactantes na faixa
etária de 20 a 34 anos de idade. Em relação
ao número gestacional, a maioria das
entrevistadas eram primíparas, sendo todas
casadas. No que diz respeito à renda familiar,
percebeu-se que esta variava de um a dois
salários mínimos. As profissões foram
variadas, mas todas possuíam Ensino
Fundamental ou Médio completo, exceto
uma.
O fato de as mães terem uma situação
estável e contarem com o apoio de seu
companheiro parece exercer influência
positiva no aleitamento materno, mas frisa-se
a importância de aumentar a informação dos
pais sobre as vantagens do aleitamento
materno para que estes possam manejar
melhor a situação do casal. Quanto à
influência da paridade materna na decisão do
tipo de aleitamento, este é fator discutível. As
primíparas costumam introduzir alimentos
complementares mais precocemente, já as
multíparas relacionam o modo como seus
filhos anteriores foram amamentados
(FALEIROS; TREZZA; CARANDINA, 2006).
4. DESVELANDO A REALIDADE
Para análise e discussão dos dados,
foram formadas categorias de análise
proposta por Minayo (2007), a fim de
confirmar ou não o pressuposto da pesquisa.
Na sequência do trabalho o autor conhecerá
os resultados alcançados, sendo
apresentados em formas de tabela e
citações, facilitando, assim, o entendimento.
4.1 DEMONSTRANDO O PERFIL DAS
ENTREVISTADAS
No que tange as entrevistas à amostra
138
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
A história individual da amamentação
revela que todas as lactantes foram
amamentadas por suas mães, o que de certa
maneira contribui de forma positiva e prévia
no estímulo quanto ao desejo de amamentar.
Carvalho; Tamez, (2005) contribuem
afirmando que a mulher que alimenta seu filho
está revivendo inconscientemente sua
própria amamentação. Se esta foi feliz,
gozará em repetir a mesma experiência
satisfatória com seu próprio filho.
de observação indireta pôde perceber o
sentimento de orgulho, felicidade, cuidado,
carinho, troca de olhares, risos, conversas e
alguma confiança. As mães demonstravam
formação de vínculo com seus filhos. Um
recorte do diário de bordo da pesquisadora
demonstra claramente o citado acima:
“durante a mamada era visível o
vínculo entre mãe e filho, o semblante de
satisfação com o ato de amamentar. Não é
de charme que ela falou em mãe coruja e
seus olhos brilhavam. O sentimento é
notável, e não vem de hoje, segundo ela,
existe apoio e influência da família. Não
podemos acreditar em tudo o que a
pediatra fala!”.
Segundo Lana (2001), uma mãe que
amamenta pode não falar facilmente sobre os
seus sentimentos, especialmente se ela é
tímida ou se está com alguém que ela não
conhece bem. Portanto, cabe ao profissional
de saúde ter habilidade de entender os
sentimentos que existem, ajudando caso
necessário, ouvindo-a fazendo-a sentir-se
segura naquele momento.
O vínculo garante o desenvolvimento, o
cuidado, e, portanto, o bem estar da criança,
mas este sentimento é influenciado pela
relação da mulher com seu entorno social e
sua história pessoal. A mulher que teve uma
boa infância, que foi amada e cuidada por
seus pais poderá mais facilmente criar
vínculos com seus próprios filhos, mas a
formação deste ainda estará sugestionada
pela aceitação da gravidez, pelo
desenvolvimento do trabalho de parto e parto
e pela aceitação e apoio recebido no pósparto.
4.2. FORMANDO CATEGORIAS DO CAMPO
EMPÍRICO DA PESQUISADORA
Pode-se abstrair por similaridade do
conteúdo abordado e tendo suporte o
referencial teórico as seguintes categorias:
vínculo entre mãe e filho, apoio recebido,
manejo da amamentação e vantagens do
aleitamento materno.
4.2.1 Vínculo entre mãe/filho
Sobre o vínculo entre mãe e filho
percebeu-se, durante as visitas domiciliares,
a importância da amamentação como
fortalecedor dos vínculos. Lana (2001),
afirma que vínculo afetivo mãe-filho é uma
ligação emocional, forte e duradoura.
Portanto, vínculo é um processo que deve
começar o mais breve possível e que quando
bem estabelecido forma uma poderosa união,
levando as mães a fazerem qualquer
sacrifício por seus filhos.
“Sinto-me bem, tenho orgulho de dar
o alimento ao meu filho, passar segurança,
da maior vínculo, um contato que não sei
explicar; é uma sensação boa” (L1, 2010).
“Como mãe sinto um sentimento
maravilhoso, uma satisfação, da alegria
em vê-la mamando, me sinto feliz,
importante” (L2, 2010).
“Fico muito feliz em amamentar meu
filho, sinto amor, carinho, ternura, porque
o bebê também é carinhoso comigo,
quando beijo ele, ele da risada, conversa
brinca é esperto e atento” (L3, 2010).
“Sinto-me importante, é tão bom
quando ela mama a gente troca carinho,
amor, ficamos juntinhas, e eu a protejo no
meu colo e com meu leite por isso que
falam que mãe é mãe”(L5, 2010).
A pesquisadora através do processo
4.2.2 Apoio recebido
Amamentar é uma prática natural, faz
parte da fisiologia feminina, mas precisa ser
aprendida. Algumas mulheres têm mais sorte
do que outras e conseguem amamentar sem
problemas, mas muitas precisam de apoio
para continuar, principalmente se trabalham
fora de casa ou ainda se a criança chora muito
(KING, 2001).
Foi notória durante a observação
indireta que as lactantes estimam ao apoio
familiar, bem como a influência de conselhos
que recebem durante a amamentação. Um
recorte do diário de bordo pode demonstrar
isso, “a mãe durante a conversa fala que tem
139
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
sem nenhum problema. Além de desejar
ter leite suficiente para dar enquanto ele
precisar” (L5, 2010).
apoio familiar, e que recebeu muitos
conselhos durante a gravidez e depois, como
de tomar bastante chá doce para dar leite”.
As influências recebidas, como podem
ser percebidas acima, também podem influir
de forma negativa no processo de
aleitamento materno. L1 confidenciou a
pesquisadora “que deu chá de ameixa para
o nenê por ele estar ressequido” e também
em outra visita “que está oferecendo
mamão em jejum para ajudar [...] a ter mais
facilidade de evacuar” (Diário de Bordo,
2010).
A pesquisadora, durante as visitas
diárias, não evidenciou a presença constante
da família, mas sim de algumas visitas de
amigas ou familiares. Em uma residência
pôde-se observar a presença constante da
sogra, pois ambas residem no mesmo local.
Giugliani (2005) refere que as avós
costumam ter grande influência nas decisões
relacionadas ao aleitamento materno, o que
pode ser um problema, pois muitas tiveram
seus filhos em época que o aleitamento
materno exclusivo não era valorizado.
Embora a amamentação seja
fortemente influenciada pelo meio em que se
vive, o profissional da saúde deve respeitar as
diferenças culturais e as decisões da família,
pois no mundo em que vivemos nos
deparamos com diversos tipos de crendices
que contribuem ou não para o sucesso da
amamentação exclusiva.
O apoio recebido também influenciará
os desejos e as expectativas maternas.
Quando entrevistadas, demonstraram
conhecimento da importância da
amamentação como uma forma saudável de
alimentação de seus filhos, e, portanto, o
desejo de mantê-la de forma duradoura. O
que pode ser visualizado nas falas a- baixo:
Ainda é grande o desconhecimento de
vários aspectos do aleitamento materno,
incluindo o significado da amamentação e o
seu valor. É sabido que o conhecimento não
garante mudança de atitude, mas ele com
certeza é um passo importante no processo
de mudança do comportamento. Embora a
amamentação seja um processo
biologicamente determinado, ela é
socialmente influenciada e, portanto, ela
deve ser aprendida e apoiada (GIUGLIANE,
2005).
4.2.3 Manejo da amamentação
Referente às condições de manejo, as
lactantes mostravam-se seguras e
confiantes quanto à amamentação de seus
filhos. Porém nem todas desempenham
cuidados minuciosos na hora da
amamentação, estabelecendo assim uma
barreira para o sucesso do aleitamento
materno exclusivo até o 6 mês de vida da
criança.
Foi possível perceber que a maioria das
mães procurava sentar-se confortavelmente
no sofá, e colocar o bebê no colo próximo ao
seu corpo, olhando nos olhos um do outro,
ficando assim por cerca de 15 minutos. Os
bebês maiores mexiam as pernas,
mamavam, brincavam, prestavam atenção e
voltavam a brincar e a mamar. Através do
exposto no referencial teórico e do
observado, foi possível evidenciar que as
mães seguravam corretamente seus bebês,
aproximando-os de seus corpos e de suas
mamas.
Durante as visitas domiciliares existe
uma grande oportunidade para instruir e
educar a lactante. Isso é benéfico tanto para
mãe quanto para o bebê, pois sem o apoio e
suporte durante a amamentação as mães
podem apresentar algumas dificuldades e
desistir. O profissional da saúde pode ajudar
a mãe a ter êxito no processo de
amamentação fornecendo soluções para as
dificuldades, contribuindo para uma
amamentação correta e duradoura
(CARVALHO; TAMEZ, 2005).
“sim, estou amamentando e quero
amamentar até quando terminar meu leite.
Porque sei que é importante e melhor para
ele” (L1, 2010).
“ é a pr im e ir a v e z que e s t ou
amamentando e quero amamentar até
onde ela (bebê) quiser, decidir e eu tiver
leite para oferecer” (L2, 2010).
“desejo que ela cresça saudável
assim como o outro, feliz sem doença para
que depois possa brincar correr, estudar
140
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
A duração das mamadas deve ser
regulada pela necessidade do bebê.
Nenhum valor de tempo arbitrário deve ser
estabelecido. As diferentes composições do
leite durante a mesma mamada são fatores
importantes para que não se estabeleçam
limites de tempo para cada mamada
(CARVALHO; TAMEZ, 2005).
Durante o período de aleitamento
materno são comuns algumas dificuldades,
principalmente no início. Pôde-se perceber
algumas dificuldades através dos recortes
abaixo:
“o momento mais difícil foi no
início, eu não tinha bico e ele não queria
mamar” (L3, 2010).
“difícil foi no começo porque tinha
medo de não conseguir” (L4, 2010).
“os primeiros dias ela não queria
mamar, mas eu não desisti sabia que era
assim mesmo, até que ela mamou e
continua até hoje” (L5, 2010).
Outros problemas comuns que podem
surgir no decorrer da amamentação são a
fissura mamilar e o ingurgitamento mamário,
mais raramente, a mastite. A fissura mamilar
ou rachadura (como é conhecida
popularmente), é causada pela má pega do
bebê, muitas vezes aliada ao uso de óleos ou
pomadas nos mamilos. Uma orientação
correta e observação sistemática da
mamada por profissional treinado irá
solucionar o problema.
No Brasil, os poucos estudos que
avaliam a técnica de amamentação já
detectaram vários problemas deixando clara
a necessidade de ações que objetivem a
melhoria desta, para que as mães venham a
amamentar por mais tempo e com mais
conforto (GIUGLIANI, 2005).
verificar que as mães possuem informações
sobre a importância e as vantagens do
aleitamento materno.
“Sei que é importante e melhor
para ele” (L1, 2010).
“Pra ela é importante porque é
saudável, forte, deixa a pele e o cabelo
mais bonito e corado, ela não tem dor é
tranquila, calma” (L2, 2010).
“É importante para saúde do bebê,
pro bem dele” (L4, 2010).
O leite materno é o alimento adequado
para o perfeito desenvolvimento nutricional e
imunológico das crianças. Quimicamente o
leite humano possui água, proteína, energia,
lipídios, carboidratos, alem de vários
minerais e vitaminas. No sentido do poder
imunológico, o leite materno contém
imunoglobulinas e vários outros
componentes solúveis e celulares que
podem prevenir doenças infecciosas agudas
na infância, além das crônicas não
transmissíveis na vida adulta (CARVALHO;
TAMEZ, 2005).
Além de proteção e nutrição, o leite
materno também confere praticidade e
economia, como pode ser visualizado no
recorte da fala de L5 (2010):
“é bom para as duas, é saudável,
prático tá sempre na mesma temperatura
é só sentar e dar de mamar. Também não
causa doença tão fácil no nenê, porque a
protege”.
Amamentar representa menos trabalho
para a mãe, pois ela conta com o alimento de
seu filho sempre à mão e também de uma
maneira prática, pois não precisa aquecer e
nem levantar de madrugada para prepará-lo,
tornando também o aleitamento uma
comodidade.
4.2.4 Vantagens do aleitamento materno.
O aleitamento materno é sabidamente
cheio de vantagens para mãe e para criança.
Isso vem sendo divulgado,
sistematicamente, pela mídia e por vários
trabalhos científicos. Os serviços de saúde
têm a responsabilidade de repassar essas
informações, criando multiplicadores que
irão contribuir de forma efetiva para o
sucesso da amamentação.
Durante a entrevista foi possível
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O aleitamento materno depende de
fatores que influem positiva ou
negativamente em seu sucesso. Alguns
fatores se relacionam à mãe, como, por
exemplo, as características de sua
personalidade e sua atitude frente à
amamentação, outros ainda se referem à
criança e ao ambiente em que se encontram,
como as condições do parto e do puerpério,
havendo também fatores externos como o
141
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
trabalho materno e as suas condições de vida.
São possíveis causas da não efetivação
do aleitamento materno e,
consequentemente, do desmame precoce, as
ligadas ao ambiente, à personalidade
materna, as suas emoções, à relação como
marido e à família, às influências culturais, e a
resposta aos diferentes problemas do
cotidiano. Também podem estar relacionadas
aos serviços e profissionais de saúde que
precisam estar melhor capacitados e,
principalmente, o fato de que enfatizam mais
o aspecto biológico em detrimento de
questões subjetividades das mulheres.
A opção por iniciar a amamentação é
bem comum para a maioria das mães;
contudo, nem sempre esta sensibilização
inicial é suficiente. A técnica de amamentação
necessita de apoio adequado e contínuo, e se
esse suporte não está disponível nos serviços
de saúde. A partir disso, inicia-se um processo
de sofrimento materno, tanto no aspecto físico
quanto psicológico, que aliado ao discurso do
leite fraco ou insuficiente realizado pelas
pessoas que convivem com a mulher, acelera
a introdução precoce de outros alimentos,
culminando com o desmame.
Inúmeras maneiras de promover,
estimular e apoiar o aleitamento materno vêm
sendo experimentadas em todo o mundo,
com algumas estratégias básicas como o
acompanhamento pré-natal, alojamento
conjunto, propagandas, capacitações e
formação de grupos.
Muito ainda precisa ser feito, pois apesar
de o leite materno e suas vantagens serem
reconhecidas, o emprego da amamentação
parece não ocorrer de forma adequada e esta
dificuldade se revela em um problema de
saúde pública, pois é crescente o número de
mães que optam por outros tipos de alimento.
Além das condições culturais, os fatores
sociais psíquicos e biológicos, resultam em
um processo acumulativo de informações que
transmitidos entre gerações influenciam
diretamente o processo da amamentação.
As hipóteses levantadas no início deste
trabalho foram parcialmente comprovadas,
pois não foi possível observar práticas
populares relacionadas à amamentação
durante as visitas e também nas entrevistas.
Também não foi possível comprovar que
classe social, condição financeira e de
trabalho possam interferir no processo de
aleitamento materno.
Entende-se que os objetivos foram
alcançados, com exceção da identificação e
análise de atravessamento de práticas laicas
e populares, visto que durante todo o tempo
de coleta estas não foram observadas ou
relatadas pelas mães, mas durante conversas
informais, as quais esta pesquisadora reporta
em seu diário de bordo, duas mães revelaram
oferecer frutas ou chás para o seu bebê, pois
os mesmos apresentavam cólicas ou
dificuldade para evacuar.
Foi possível verificar com esta pesquisa,
que questões relacionadas à formação do
vínculo nos primeiros dias de vida do bebê, o
apoio recebido durante a gravidez, o parto, o
puerpério e durante todo o tempo em que o
aleitamento materno se faça presente, bem
como o manejo adequado e as orientações
recebidas sobre as vantagens do aleitamento
materno são fatores preponderantes,
relacionados ao sucesso desta prática tão
importante para o bem-estar presente e futuro
das crianças e de suas mães, bem como para
a comunidade e para os serviços de saúde de
modo geral.
Salienta-se a importância de redes de
apoio e movimentos sociais no sentido de
promoção do aleitamento materno, como uma
tática possível e efetiva de conscientização
popular. Também importante é a presença da
enfermeira, consciente e capacitada,
preocupada com a efetivação de um
aleitamento materno positivo e de sucesso.
Para que o aleitamento materno seja
uma prática de sucesso, é preciso, cada vez
mais, discussões e capacitações em torno do
tema, pois este nunca se esgota e todos os
esforços para sua melhor efetivação são
validos e necessários. A Enfermagem precisa
estar engajada nesta proposta.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução do
Conselho Nacional de Saúde nº196/96.
Brasília: MS, 1996.
BRASIL. Ministério da Saúde. Cartilha
Política Nacional de Alimentação e
Nutrição, Brasília, 2003.
BUENO, M. B. et al. Riscos associados ao
processo de desmame entre crianças
nascidas em hospital universitário de São
Paulo, entre 1998 e 1999: estudo de coorte
prospectivo do primeiro ano de vida.
142
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Cadernos de Saúde Pública. Vol. 19, n. 5,
2003. p. 1
MALDONADO, M. T.; DIEKSTEIN, J.;
NAHOUM, J. C. Nós estamos grávidos. 10.
ed, São Paulo: Saraiva, 1997.
B U E N O , L . G . S . ; T E R U YA , K . M .
Aconselhamento em amamentação e sua
prática. Jornal de Pediatria. Vol. 80, n. 5,
Santos, 2004. p.126-130.
MINAYO, M. C. S.; DESLANDES, S. F.;
GOMES, R. Pesquisa Social: Teoria,
Métodos e Criatividade. 22. ed. Rio de
Janeiro: Vozes, 2003.
C A R VA L H O , M . R . ; TA M E Z , R . N .
Amamentação: Bases Científicas. 2. ed. –
Rio de Janeiro: Guanabara, 2005.
M I N AY O , M . C . S . D e s a f i o d o
conhecimento: pesquisa qualitativa em
saúde, 8. ed. Rio de Janeiro: Hucitec, 2007.
CAMPOS, N. V. Enfermagem no aleitamento
materno x crendices populares,
Departamento de enfermagem. FIO/FEMM,
2008.
MONTICELLI, M. Nascimento como um rito
de passagem. São Paulo: Robe, 1997.
Gil, A. C. Como Elaborar Projetos de
Pesquisa. 4. ed. São Paulo: ATLAS, 2002.
PESSINI, L.; BERTACHINI, L. Humanização
e Cuidados Paliativos. 2. ed, São Paulo:
Loyola, 2004.
GIUGLIANI, E. Amamentação exclusiva. In:
C A R VA L H O , M . R . ; TA M E Z , R .
Amamentação, bases cientificas. 2 ed. Rio
de Janeiro: Guanabara koogan, 2005. p. 1525.
POLIT, D. F.; BECK, C. T.; HUNGLER, B. P.
Fundamentos de pesquisa em
Enfermagem. 5. ed. Porto Alegre: Artemed,
2004.
RÉA, N. F.; BERQUÓ, E. S. Impact of the
Brasilian national brast-feeding programme
on mothrs in greather São Paulo. Bull World
Health Organ. Vol.68, n.3, 1990. p. 365- 371.
EVANGELISTA, M. S. GÜLLICH, R. I. C.;
LOVATO, A.; Metodologia da Pesquisa:
normas para apresentação de trabalhos:
redação, formatação e editoração. 1 ed. Três
de Maio: SETREM, 2005.
RICHARDSON, R. J. Pesquisa Social:
métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo:
Atlas, 1999.
FA L E I R O S , F. T. ; T R E Z Z A , E . M . ;
CARANDINA, L. Aleitamento materno:
fatores de influencia na sua decisão e
duração. Revista de nutrição. Vol. 19, n. 5,
Campinas, 2006. p. 623-630.
TEIXEIRA, M. A.; NITSCHKE R. G. Modelo
de cuidar em enfermagem junto às mulheresavós e sua família no cotidiano do processo
d e a m a m e n t a ç ã o . Te x t o C o n t e x t o
Enfermagem. Vol. 17, n. 1. Florianópolis,
2008. p. 183-191.
FROTA, M. et al. O reflexo da orientação na
prática do aleitamento materno. Cogitare
enfermagem. Vol. 13, n. 3, 2008. p. 403-409.
HELMAN, C. G. Cultura, Saúde e Doença, 4.
Ed, Porto Alegre: Artmed, 2003.
UCHIMURA, N. et al. Estudo dos fatores de
risco para desmame precoce. Acta
Scientiarum. Vol. 23, n. 3, Maringá, 2001. p.
713-718.
KING, F. S.; Como ajudar as mães a
amamentar. 4. Ed, Brasília: Ministério da
Saúde, 2001.
VINHA, V. H. P. O Livro da Amamentação.
1. ed. São Paulo/Campinas: Mercado de
letras, 2007.
KLAUS, M. H.; KENNEL, J. H. Pais/bebê: a
formação do apego. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1992.
LANA, A. P. B. O Livro de Estimulo à
Amamentação: uma visão biológica,
fisiológica e psicológica comportamental da
amamentação, 1.ed. São Paulo: Atheneu,
2001.
LIMA, L.R. Proposta de instrumento para
coleta de dados de enfermagem em uma
Unidade de Terapia Intensiva fundamentado
em horta. Revista. Eletr. Enfermagem.
Acesso em 22/03/2010, 15:30hs.
143
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
O PERFIL DOS ACIDENTES DE TRABALHO EM AGRICULTORES DE UM
MUNICÍPIO DO NOROESTE GAÚCHO
Fabiana Balsan ¹
Mirian Herath Rascovetzki ²
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM ³
RESUMO
ABSTRACT
O século XX se caracterizou por um intenso
processo de mudanças tecnológicas e
organizacionais. A agricultura passou de um
meio de subsistência a uma atividade orientada
para a produção comercial. As políticas atuais
situam o trabalhador rural como parte
integrante da vigilância em saúde, com
registros e investigação; logo, esta pesquisa
objetiva identificar o perfil dos acidentes de
trabalho com agricultores em um município do
Noroeste Gaúcho. O critério de inclusão, deste
trabalho, foi agricultores vítimas de acidentes
no período de junho de 2006 a junho de 2011.
Este é um estudo de abordagem quantitativa do
tipo documental. A coleta foi através dos
Relatórios Individuais de Notificações de
Agravos (RINA), lançados no Sistema de
Informação da Saúde do Trabalhador (SIST),
compondo uma amostra de 126 trabalhadores.
A análise foi realizada através do Epi Info.
Foram respeitados os parâmetros da
Resolução 196/96. Os trabalhadores
pesquisados se encontravam entre 50 e 60
anos, com Ensino Fundamental incompleto e
maioria do sexo masculino. Quanto ao
diagnóstico, o mais prevalente foi os ferimentos
de mão e de punho. As ferramentas manuais
sem motor foram as maiores causadoras dos
acidentes, seguidas pelas circunstâncias
relativas ao trabalho e as agressões sofridas
por pesticidas e agrotóxicos. A Estratégia de
Saúde da Família (ESF), foi o local de
atendimento preferencial e o ano de maior
ocorrência foi o de 2007. O estudo realizado
teve sua importância no mundo acadêmico e
para a Secretaria Municipal de Saúde do
município estudado.
The XX century was characterized by an
intense process of technological and
organizational changes. Agriculture has
become from a livelihood to an activity-oriented
to the commercial production. Current policies
place the rural worker as an integral part of
health watchfulness, with records and
investigation; thus this research aims to identify
the profile of accidents at work with farmers in a
city in the Northwest Gaucho. The criterion for
inclusion in this study were farmers victims of
accidents in the period of June 2006 to June
2011. This study is a quantitative approach of
documental type. Data were collected through
the Individual Reports Notification of Diseases
(RINA), launched in the Information System of
Occupational Health (SIST), composing a
sample of 126 workers. The analysis was
performed using Epi Info. The parameters of
Resolution 196/96 have been respected. The
workers surveyed were between 50 and 60
years, with Elementary School and most of
them were male. As to diagnosis, the most
prevalent injuries were on hand and wrist. The
non-powered tools were the major causes of
accidents, followed by work-related
circumstances and the attacks on pesticides
and chemicals. The Family Health Strategy
(FHS), was the preferred place of care and the
year of most frequent actions was 2007. The
study had its importance in the academic world
and the Municipal Health Department from the
municipality, it will be a source of information for
future research.
Keywords: Occupational Health. Nursin.,
Agriculture.
Palavras-chave: Saúde do Trabalhador.
Enfermagem. Agricultura.
1Acadêmica
de Bacharelado em Enfermagem Sociedade Educacional Três de Maio
SETREM.
2
Professora Orientadora Msda Mirian Herath Rascovetzki.
3 SETREM
Sociedade Educacional Três de Maio, Av. Avaí, 370 Três de Maio - RS, E -mail:
[email protected]
144
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa se refere ao
Tr a b a l h o d e C o n c l u s ã o d e C u r s o
desenvolvido pela acadêmica do 8º semestre
do Curso de Bacharelado em Enfermagem da
Sociedade Educacional Três de Maio –
SETREM, que possibilitou conhecer os
acidentes dos trabalhadores rurais.
Durante o percurso acadêmico e o
convívio da autora com os trabalhadores
rurais desde o nascimento, pode-se perceber
a realidade dos acidentes que acontecem no
meio rural, suas repercussões e sequelas que
habitam a família por longos anos. Assim
surge a necessidade da pesquisa para
fundamentar e buscar entendimento desta
complexa intercorrência no trabalhador rural,
numa cidade de pequeno porte no Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul (RS).
A pesquisa tem como finalidade
conhecer os fatores e os problemas que
afetam trabalhadores rurais, em que será
investigado qual o perfil dos acidentes de
trabalho que mais ocorrem com eles.
De acordo com o último senso do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), o Rio grande do Sul possuía no ano
de 2010 uma população de 10.695.532
milhões de habitantes, com uma taxa de
urbanização de 85.1%. A população rural
correspondia em números de 14.9%, essa
população representa 27% Produto Interno
Bruto (PIB) do Estado (IBGE, 2010).
O município pesquisado possuía no
ano de 2010 uma população de 23.726 mil
habitantes desses 18.962 mil habitantes
fazem parte da população urbana do
município e 4.764 habitantes fazem parte da
população rural (IBGE, 2010).
De acordo com a história do município,
o mesmo tem sua economia mantida pela
agricultura familiar, mas sofreu nos últimos
anos o êxodo rural de forma intensa criando
verdadeiros bolsões de pobreza na periferia
da cidade. Isso trouxe consequências sérias
para o convívio de uma cidade do interior.
As políticas atuais situam o trabalhador
rural como parte integrante da saúde do
trabalhador, ou melhor, dentro da vigilância
em saúde, com seus registros e investigação
quanto aos acidentes rurais, acidentes estes
veiculados a uma instituição de saúde, sem
contar as subnotificações.
O sistema único de saúde vê a
vigilância em saúde como um bloco único,
mas na realidade é um serviço setorizado e
burocrático, criando obstáculos para o
desenvolvimento do trabalho.
Uma das principais consequências da
modernização da agricultura brasileira
foi a substituição do trabalho manual
pelo trabalho mecanizado. A
introdução de instrumentos e insumos
modernos nas tarefas agrícolas
ampliou os tipos de acidentes de
trabalho a que estão sujeitos os
trabalhadores rurais. Se antes os
acidentes de trabalho no meio rural
estavam restritos basicamente a
quedas, ferimentos com ferramentas
c o m e n x a d a , f a c ã o e
envenenamentos causados por
animais peçonhentos, a manipulação
de agrotóxicos e a utilização intensa
de máquinas agrícolas ampliou
consideravelmente os riscos a que
estão sujeitos os trabalhadores rurais
em seu trabalho diário (RODRIGUES;
DA SILVA, 1986 apud SCHLOSSER et
al., 2002, p.977).
Escrever a pesquisa se destina à
avaliação dos registros quanto aos acidentes
rurais, notificados em instituição de saúde. A
pesquisa sendo de caráter quantitativa, não
deixa de mencionar o universo subjetivo que
se encontra este trabalhador.
Segundo o artigo 131 do decreto nº
2.172, de 05 de março de 1997, acidente de
trabalho no meio rural é o que ocorre na
realização do trabalho rural, a serviço do
empregador, provocando lesão corporal,
perturbação funcional ou doença que cause a
morte ou redução permanente ou temporária
da capacidade para o trabalho. De uma
maneira geral, conforme expõem Schlosser
et al., (2002, p. 978), com base em
informações retiradas de Zócchio (1971), e
UNESP (1994):
o acidente de trabalho no meio rural
pode ser considerado como sendo todo
o acontecimento que não esteja
programado e que interrompa, por
pouco ou muito tempo, a realização de
um serviço, provocando a perda de
tempo, danos materiais e/ou lesão
corporal. Neste sentido, o acidente é
considerado grave quando resulta no
afastamento do trabalho rural de sua
atividade produtiva por um período
igual ou superior a 15 dias
(SCHLOSSER et al., 2002, p. 978).
O tema abordado na pesquisa tem
uma relevância muito grande pela importância 145
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
dessa classe trabalhadora para o
desenvolvimento do Estado e os riscos que os
mesmos estão expostos constantemente,
bem como a escassez de estudos sobre a
temática, é que se procurou realizar uma
revisão bibliográfica sobre o perfil dos
acidentes de trabalho que acometem a
população rural.
economia na atividade agrícola.
A pesquisa documental se vale de
materiais que não receberam ainda um
tratamento analítico ou que ainda podem ser
elaborados de acordo com os objetivos da
pesquisa (GIL, 2008).
Há o desejo de que essa pesquisa
documental sirva de subsídio para que o
município do referente estudo consiga
agregar as informações para a diminuição
dos acidentes rurais.
As informações que foram geradas a
partir deste trabalho podem transgredir o
mundo acadêmico para a saúde coletiva da
população estudada, evidenciando os fatos,
para que o público alvo se mobilize na
conscientização da importância da
prevenção e proteção.
A partir da coleta de dados foi possível
fundamentar com autores o panorama e os
agravantes que apareceram. A leitura dos
resultados obtidos não se restringe a uma
leitura técnica, as autoras procuram
elementos que identifique o mundo da
subjetividade destes acidentes.
A pesquisa foi desenvolvida dentro dos
parâmetros da resolução Nº 196 de 10 de
outubro de 1996 do Conselho Nacional de
Saúde que dispõe sobre a pesquisa que
envolve seres humanos (BRASIL, 1996).
Foi elaborado e encaminhado um
pedido à instituição em que a pesquisa foi
desenvolvida para solicitar a autorização
para coleta de dados (APÊNDICE A). O nome
da instituição foi preservado e esta não terá
custo nenhum com a pesquisa. Foram
preservados os princípios da beneficência e
não maleficência da autonomia e da justiça, e
o termo garante que as informações obtidas
irão preservar a identidade do
paciente/usuário constante nos documentos
analisados em anonimato, garantido assim a
privacidade da identidade dos indivíduos
envolvidos no trabalho.
O projeto foi encaminhado ao Comitê
de Ética de uma Universidade Regional, onde
sofreu avaliação com pedido de reformulação
ou aprovação. Após ser aprovado, foram
coletados os dados do estudo.
2 METODOLOGIA
A pesquisa se faz essencial ao trabalho
da Enfermagem, para tanto, Polit; Beck;
Hungler (2004), afirmam que a mesma é
essencial na assistência da clientela, sendo
de grande importância para que os (as)
enfermeiros (as) compreendam as inúmeras
dimensões que envolvem sua profissão, pois
são os resultados da pesquisa em
Enfermagem que fundamentam as decisões,
ações e interações com os clientes.
O projeto de pesquisa seguiu uma
abordagem quantitativa, do tipo documental,
que foi realizada no segundo semestre de
2011. Todos os dados foram coletados com
base na análise do RINA, (ANEXO A). A partir
destes documentos foi elaborado um roteiro
no Epi Info (APÊNDICE B), para o
lançamento das informações que foram
possíveis de serem levantadas com base nos
referidos documentos. Este formulário do Epi
Info seguiu os registros da RINA na sua
versão digital para que os dados fossem
lançados e analisados.
Os dados que foram coletados
corresponderam aos acidentes ocorridos com
trabalhadores rurais de um município de
pequeno porte que pertence à 14ª
Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), do
RS, no período de junho de 2006 a junho de
2011. Foi registrado o número de casos de
acidentes e também traçado o perfil dos
mesmos.
Para Richardson (1999), p.70:
o método quantitativo, caracteriza-se
pelo emprego da quantificação tanto
nas modalidades de coleta de
informações, quanto no tratamento
delas por meio de técnicas
estatísticas, desde a mais simples
como percentual, média, desvio padrão, às mais complexas, como
coeficiente de correlação, análise de
regressão.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
Historicamente, ainda há uma grande
A referente pesquisa se identificou com
o município em estudo, pois o mesmo advém
da agricultura familiar e mantém sua
146
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
dificuldade de atuar e abordar a questão de
saúde com a questão de Saúde e Trabalho.
Este entendimento de que o trabalho pode
ser causa de sofrimento e necessita de um
sistema organizado para intervir nesta
relação enfatizando-se a necessidade de
revisão dos processos e ambientes numa
abordagem multi profissional.
Segundo Hennington apud Meneguel
(2008), este campo tem esbarrado em
divergências políticas, legais e burocráticas,
pois além do agravo ao trabalhador, esquecese da articulação com as questões
ambientais. Muitas vezes a vítima percorre
vários setores do governo de forma isolada,
pontual e excludente. Os trâmites do
Ministério da Previdência Social quanto pelo
Ministério do Trabalho e Emprego, são
burocratizados e muitos não efetivos no olhar
do trabalhador. Para o Sistema Único de
Saúde (SUS), recai a assistência médica,
ambulatorial e hospitalar, numa indefinição e
duplicidade de atribuições (p.128).
A vigilância em saúde deve entender
que o atendimento do acidente de trabalho
leva a conhecer e identificar os fatores
determinantes do acidente, de doenças ou
agravos à saúde, finalizando este circuito
com controle e prevenção dos fatores, além
da promoção e recuperação, servindo para o
planejamento, organização e processos de
trabalho.
existe limite de idade para o trabalho pelo fato
dos acidentes acontecerem com as pessoas
de mais de 50 anos ou mais de 60 anos.
Acredita-se que esses acidentes estejam
relacionados à diminuição da capacidade
física, à diminuição dos reflexos e à
diminuição da capacidade cognitiva.
Os motivos que levam esses
trabalhadores a um tempo de atuação de
longos anos ocorrem pelos fatos de ordem
econômica e sociais associados à falta de
mão-de-obra que ocorre devido ao êxodo
rural para os meios urbanos, a ligação à terra
que trabalharam e o desejo de não deixar cair
os braços enquanto os possam utilizar
(AZEVEDO, 2007).
Um outro motivo para a profissão ser
exercida por pessoas de mais idade é pela
precariedade da profissão, falta de
reconhecimento e desvalorização dos
produtos, isso faz com que os jovens
procurem novas oportunidades de trabalho
nas cidades, deixando de lado essa profissão
tão digna e importante para nossa região.
Registra-se também 1 caso de
acidente com criança e 3 casos com
adolescentes, fato presente na região
demonstrando acidentes graves com
conotações permanentes. As autoras do
trabalho questionam se esses acidentes
migram para uma notificação de violência e
não de acidente de trabalho, pois são
crianças/ adolescentes que requer comando
e supervisão numa atividade de risco.
Frente às circunstâncias depara-se
com duas realidades, por um lado a lei com
suas determinações e outro a família com a
necessidade de que alguém os ajude no
trabalho e na renda familiar. Benéfico seria
que a criança ocupasse seu tempo em casa
com atividade lúdica e recreativa
sedimentando as relações de afeto com os
membros da família.
4.2 Raça dos trabalhadores rurais
Dos 126 trabalhadores, um agricultor,
ou seja, 1,26% teve seu registro como raça
negra e os demais compondo raça branca,
perfazendo um total de 98,74%. Salienta-se
que há pouco tempo nos registros de
investigação inclui-se o registro para pardo,
amarela e indígena.
O grande número de agricultores da
raça branca acontece pelo fato de que o RS é
um estado de grande diversidade cultural,
4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÕES DOS
RESULTADOS
Neste contexto são analisados e
apresentados os dados da pesquisa que
foram obtidos através das RINAS/SIST de
todos os agricultores de um determinado
município da Região Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul, que sofrerão algum
acidente de trabalho em um período de tempo
delimitado entre junho de 2006 a junho de
2011, compondo uma amostra de 126 casos
de acidentes de trabalho com agricultores.
4.1 Idade dos trabalhadores rurais
Evidencia-se que os agricultores que
mais sofrem acidentes de trabalho
correspondem aos que têm acima de 50
anos, perfazendo um total de 38% e em
segundo lugar a figura demonstra que os
acidentes acontecem aos agricultores de 41 a
50 anos, num total de 31%.
Percebe-se que na agricultura não
147
REVISTA SETREM - Ano XI nº V ISSN 1678-1252
negando-lhe o ato supremo de exercer sua
cidadania.
mas comparado com os outros estados
brasileiros predominam os descendentes da
raça alemã e italiana, fato este histórico do
nosso estado.
Segundo o Fritzen et al., (s.a), de
acordo com a história, os primeiros
imigrantes do RS chegaram a partir de 1824,
em São Leopoldo/RS, e mais tarde, se
deslocaram para as chamadas “Colônias
Novas”, como era chamada a região
noroeste do estado. Em torno de 1918
chegaram a essas terras os primeiros
colonos alemães, italianos, posteriormente
russos e poloneses, que encontraram uma
vegetação de mata fechada na qual
empregaram o sistema de derrubada queimada para começar o cultivo (p.6).
4.3 Sexo dos trabalhadores rurais
O sexo que mais sofre acidente de
trabalho foi o masculino com 78% dos casos,
sendo que o feminino foi de somente 22%.
Um dos motivos para que isso aconteça é
pela divisão do trabalho entre homens e
mulheres.
A divisão do trabalho entre mulheres e
homens vem sendo discutido há muito
tempo; a explicação para isso se dá a partir
do papel das mulheres na reprodução
biológica. Essa divisão se carrega de
significados e de práticas que muda
conforme a sociedade e o seu momento
histórico, e pelo fato de que o homem tem o
papel de provedor e de responsável pelo
ganho familiar (CARLOTO, 2002 apud
MARTINS, 2007).
Dentro desta realidade evidenciada
explica-se o fato de que o trabalho árduo
requer maior força física, logo, é executado
por trabalhadores do sexo masculino.
4.4 Grau de instrução dos trabalhadores
Em relação à escolaridade, os dados
obtidos apontam que a maioria dos
trabalhadores investigados, 67% possui
apenas o Ensino Fundamental incompleto, e
20% Ensino Fundamental completo.
Percebe-se, ainda, poucos agricultores com
Ensino Médio, ou seja, são pessoas que não
apresentam também qualificação técnica e
outra observação muito importante é que se
dentro desse universo 2% dos agricultores
que são analfabetos, ou seja, isto fere os
direitos da criança em frequentar a escola
que hoje é obrigatório até os 14 anos,
A não qualificação ocorre pelo fato de
que não existia a cobrança do estudo para
esses agricultores, já que o trabalho exercido
ocorria conforme o modelo dos pais e
também pelo difícil acesso que esses
trabalhadores tiveram para frequentar uma
escola na sua infância, soma-se a isto a
possibilidade de estudo somente para os
filhos homens, ficava a mulher nas atividades
domésticas e rurais; não raro as próprias
eram responsáveis pelo cuidado dos irmãos
menores.
Segundo Reisdörfer (s.a), no meio
rural, com frequência, as condições e as
possibilidades de acesso à escola eram, no
geral, mais difíceis que no meio urbano. Os
poucos prédios escolares, as grandes
distâncias e a participação das crianças nas
atividades agrícolas eram empecilhos
concretos à frequência normal à escola
(p.20).
Mas hoje essa realidade mudou muito
proporcionando o estudo tanto para os filhos
e filhas, incentivados pelos pais e permitindo
os planos de cursar o Ensino Superior,
concretizando muitas vezes o sonho dos
próprios genitores, mudando esta realidade
antes muito difícil e triste em nossa
sociedade.
4.5 Tempo de atuação na profissão
Conforme os dados, 25% dos
trabalhadores possuem um tempo de
atuação na agricultura entre 31 até 40 anos
de profissão. Explica-se que os anos
trabalhados são acima de 30, já que o mesmo
se aposenta por idade, não contemplando os
anos trabalhados.
Com os novos processos de trabalho e
com as novas tecnologias utilizadas nas
lavouras, faz com que isso se torne fonte de
acidente para esses trabalhadores de mais
idade, principalmente porque os seus
hábitos, enraizados por longos anos de
trabalho, fazem-nos baixar a vigilância,
ficando, assim, mais sujeitos aos novos
perigos (AZEVEDO, 2007).
Percebe-se que esses trabalhadores
têm vários anos de experiência pela
familiaridade com o trabalho desde a tenra
idade, mas isso não os torna imunes para os
acidentes de trabalho.
148
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
acolhimento deste cidadão associado à
resolutividade desses serviços (RAMOS;
LIMA, 2003, apud BERTOLDO;
FRASSETTO, 2010).
4.6 Ano do atendimento do trabalhador
acidentado
Na busca de dados percebe-se que os
anos de 2006 e 2011 ficaram com os dados
contabilizados de junho a dezembro e janeiro
a junho, respectivamente. A notificação de
2007 registra 60% dos casos em relação aos
outros anos que remete à dúvida da
subnotificação para os anos seguintes, assim
como o engajamento passageiro de registro
do serviço de saúde.
4.9 Diagnóstico principal
A figura 12 mostra os diagnósticos que
os agricultores acidentados receberam.
Diagnóstico principal
Ferimento do punho e da mão
Ferimentos do tornozelo e do pé
Traumatismo superficial do punho e da mão
Ferimento de perna
Efeito tóxico causado por agrotóxicos
Agravos relacionados com o trabalho
Dor lombar ou Lumbago Não Especificada
Ferimento da cabeça (couro cabeludo, pálpebras, nariz, orelha, boca)
Fratura de costela(s), esterno e coluna torácica
Traumatismo superficial do tornozelo e do pé
Amputação traumática ao nível do punho e da mão
Efeito tóxico de contato com animal venenoso
Fratura do antebraço
Traumatismo superficial do abdome, do dorso, pelve e de tórax
A notificação dos acidentes do
trabalho é uma exigência legal e é
através dela que são fornecidos
todos os dados relativos ao acidente
como o número, distribuição e suas
características da ocorrência e das
vítimas sendo esses resultados
indispensáveis para as estáticas e
para indicação, aplicação e controle
de medidas prevencionistas. Porém,
a sub notificação destes acidentes
pode ocorrer, constituindo fator
limitante tanto do ponto de vista
prevencionista quanto do ponto de
vista jurídico (NAPOLEÃO et al.,
2000 p.119).
20
14
12
10
9
6
4
4
4
4
3
3
3
3
Figura 1: Diagnóstico principal.
Conforme a figura acima, destacam-se
os ferimentos de punho e da mão que no total
de 126 acidentes 20 foram contabilizados.
As mãos são consideradas um dos
principais instrumentos de trabalho do ser
humano; portanto, quando esses
trabalhadores sofrem algum acidente e as
perdem ou ficam com alguma sequela isso
significa, além de um grande trauma
psicológico e físico, a interrupção da força
profissional. Apesar de toda sua importância
no desenvolvimento de várias atividades, as
mãos estão entres as partes do corpo que
mais sofrem acidentes (DIÁRIO DO
NOROESTE, 2009).
As repercussões desses acidentes
quanto à possibilidade do sujeito sentir-se
“inútil” nos seus afazeres mais primários até
os movimentos mais sofisticados certamente
enumera uma lista de inconvenientes,
atestados, procedimentos terapêuticos
realizados e fisioterapia ao longo prazo. Além
dos danos físicos ao trabalhador e a sua
família, gera também danos financeiros aos
cofres públicos.
Outros diagnósticos importantes a
serem citados são ferimentos do tornozelo e
do pé com 14 casos, ferimentos de perna com
10 casos e efeito tóxico causado por
agrotóxicos com 9 casos, mostrando a
vulnerabilidade desses trabalhadores.
Os ferimentos que também limitam
4.7 Tipo de atendimento
O atendimento mais prestado foi o
ambulatorial, com 98, 74% dos casos e 1,
26%, referindo-se ao atendimento de
emergência.
Justificam-se esses dados, pois os
atendimentos ambulatoriais foram
notificados num raciocínio lógico de
subnotificação para os acidentes graves, isso
quer dizer que as ESF procedem a
notificação. Isso representa falha no envio
das informações e falta de estratégias do
serviço de notificação para busca desses
dados.
4.8 Serviço de atendimento procurado
pelos trabalhadores
Segundo dados da pesquisa, 92% da
população acidentada receberam o
atendimento de saúde na ESF e o restante,
8%, recebeu atendimento do hospital; isso
certamente ocorreu porque o acesso desses
trabalhadores foi mais fácil nos ESF.
Há certa relação entre o acesso
geográfico e acolhimento, pois o serviço de
saúde ESF é próximo à residência do usuário
garantindo o acesso, atendimento e o
149
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
interpretações.
Não se evidencia registro para
óbitos; este está contemplado na RINA. Fato
este benéfico para a saúde do trabalhador
rural do município em estudo.
4.12 Agente causador do agravo
A figura 14 apresenta os agentes
causadores dos acidentes de trabalho com
os agricultores, seguindo uma ordem
decrescente, ou seja, do maior agente
causador para o menor agente causador dos
acidentes de trabalho.
esses profissionais em suas atividades são
os ferimentos de perna, tornozelo e pé,
vitimando este trabalhador com horas de
inatividade, considerando que a agricultura
exige um trabalho de verificação de lavouras,
as manobras com os animais, além de
inúmeras atividades que requer a
locomoção.
Alia-se aos demais diagnósticos a
exposição aos agrotóxicos normalmente sem
o uso correto de EPIs e marcados por uma
produção agrícola que caracteriza o estado
do RS, contribuindo para a exposição aos
produtos que muitas vezes terão efeitos a
longo prazo, quando esses trabalhadores
que não são mais jovens e deparam-se com
as doenças ocupacionais.
A agricultura vem se desenvolvendo
econmicamente e tecnologicamente pelo
ganho na produtividade agrícola, mas não no
que diz respeito à saúde dos trabalhadores
dessa área; este problema ainda está longe
de ser resolvido.
4.10 Local de ocorrência
Todos os 126 acidentes de trabalho
aconteceram no local de trabalho; resultado
óbvio, pois a pesquisa se deu a partir do SIST
com o preenchimento de uma RINA
caracterizando acidente de trabalho.
Confirma-se a expectativa das autoras, pois
o local de trabalho compreende a residência,
lavouras e lazer. Questionam-se os
determinantes para que o agricultor que
trabalha no local em que vive e vive no local
em que trabalha.
Ainda há poucas atividades em que o
local de trabalho seja também o local de
residência dos profissionais, mas isso ocorre
muito com os agricultores e suas famílias,
pois estes estão em contato com um local de
trabalho perigoso e exposto a vários riscos de
acidentes de trabalho (AZEVEDO, 2007).
4.11 Desfecho dos casos
É comum nas fichas de investigação
ter o encerramento do caso, pois facilita na
acumulação destes dados para fins
estatísticos, presencia-se que os
fechamentos dos casos acontecem no
atendimento ambulatorial com 72%;
entendendo-se que são pequenos acidentes.
Nos registros sobre “outros”, tem-se
um total de 13% entendendo-se que não
contemplam os registros que possuem na
RINA, ficando abertos para outras
Agentes Causadores dos agravos
Contato com ferramentas manuais SEM MOTOR
Circunstância relativa às condições de trabalho
Agressão sofrida por pesticidas ou agrotóxicos
Contato com máquinas agrícolas
Queda no mesmo nível por escorregão, tropeção ou passos em falso
Penetração de corpo estranho no ou através de olho ou orifício natural
Animais domésticos
Impacto causado por objeto lançado, projetado ou em queda
Contato com ferramentas manuais COM MOTOR
Contato com animais peçonhentos
Excesso de exercícios e movimentos repetitivos
Exposição a tipo não especificado de fumos, fogo ou chamas
Acidente de transporte
Apertado, colhido, comprimido ou esmagado dentro de ou entre objetos
Contato com espinhos de plantas ou com folhas aguçadas
TOTAL
19
16
13
13
13
11
9
9
6
4
4
4
2
2
1
126
Figura 2: Agentes causadores dos agravos
dos acidentes com agricultores.
Conforme a tabela acima, os
trabalhadores rurais estão expostos a
inúmeros agentes causadores de acidentes;
alguns ocorreram com mais frequência que
outros, deixando esses trabalhadores muitas
vezes com sequelas graves.
Apesar de toda a mecanização
ocorrida nas lavouras, os agricultores
continuam se vitimando com ferramentas
manuais sem motor totalizando 19 casos
num total de 126 acidentes. Isso se refere
com o uso de facão, foice, enxada e
machado.
As lesões com ferramentas manuais
sem motor ocorrem pela alta exposição dos
trabalhadores com esses equipamentos e
também em virtude da não mecanização em
alguns setores da produção agrícola como
plantação de fumo, hortaliças, corte de pasto
para o gado (FEHLBERG et al., 2001).
Em relação às circunstâncias relativas
ao trabalho foram 16 casos para um total de
126 agricultores; isso remete aos riscos
ergonômicos que ocorrem pelo esforço
físico, posições inadequadas e horas
ininterruptas de trabalho.
150
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
que 94% dos trabalhadores acidentados
eram autônomos, ou seja, trabalhadores da
agricultura familiar e 6 % desses eram
empregados.
Isso certamente ocorre pelo fato de
que o que predomina na região são as
pequenas propriedades agrícolas, sendo que
todo o trabalho é exercido pelos membros da
família.
A agricultura familiar é aquela
constituída por famílias de agricultores que
com o seu próprio trabalho produzem
alimentos para seu sustento e de seus
familiares. É característica importante na
agricultura familiar o próprio trabalho da
família que é responsável pela geração de
valor, diferente da agricultura patronal, na
qual a relação típica de exploração de
trabalho alheio de empregados ou
trabalhadores assalariados (ANDRIOLI,
2009).
A identificação do empregador é o ser
autônomo, ou seja, o dono da terra, prática
exercida desde o momento da colonização
com pequenos pedaços de terra sendo
gerenciado por famílias vinculadas; isto se
constitui nos dias de hoje como uma herança,
com características próprias da cidade e da
região trazendo atividades de agroindústria,
do artesanato e da feira do produtor.
O contato com agrotóxicos totalizaram
13 casos de um total de 126 acidentes. Os
estudos comprovam a incidência de doenças
relacionadas com exposições ambientais. O
ser humano se encontra rodeado por
substâncias químicas; destes, cita-se os
pesticidas e os aditivos alimentares. Embora
não haja pesquisa com todas essas
substâncias; sabe-se que grande parte dela
produz efeito tóxico.
Já os acidentes causados por
máquinas agrícolas totalizaram 13 casos de
126 acidentes que possivelmente ocorreram
em virtude das longas jornadas de trabalho,
descuido, falta de treinamento, o não uso de
EPIs e também pela utilização de máquinas
antigas fabricadas sem a preocupação com
os acidentes de trabalho. Estes acidentes
têm repercussões graves devido a ocorrer
com máquinas pesadas, causando danos
quanto à mutilação e reparo.
Os acidentes por causas externas têm
sido há muito tempo um desafio para a saúde
pública e as autoridades, pois as ações e as
políticas de saúde têm se mostrado
insuficientes para a promoção, para a
prevenção e para a vigilância. Outro desafio
muito grande é a existência de informações
confiáveis para a determinação das
prioridades frente aos acidentes (FILHO;
JORGE, 2007).
4.13 Hora do acidente/ O acidente
ocorreu após quantas horas de trabalho.
A hora do acidente esperava-se que
fosse uma informação primordial para esta
pesquisa, porém na coleta de dados que foi
realizada através do SIST não foi possível
obter essa informação, pois a hora do
acidente de trabalho não está contemplada
no SIST. Cabe ressaltar que na RINA a
informação está contemplada, ficando a
desejar esta informação para o surgimento de
políticas públicas.
Também não foi possível saber o
número de horas que esses agricultores
estavam trabalhando, pois é sabido que os
mesmos não têm horário fixo e trabalham
várias horas por dia ficando assim
vulneráveis aos acidentes de trabalho. Tornase importante saber a hora do acidente e o
número de horas trabalhadas, pois a fadiga é
fator de risco para os acidentes.
4.14 Identificação do empregador
Conforme a figura, pode-se evidenciar
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os acidentes de trabalho com
agricultores são um assunto de importante
avaliação devido aos riscos ocupacionais
que os trabalhadores do meio rural estão
expostos. O estudo evidenciou lacunas que
devem ser melhoradas em termos de saúde
coletiva; isto é, o campo da saúde deve fazer
parte do trabalho dos agricultores, torna-se
importante também agilizar aos fluxos quanto
as notificações, para que tudo que for
registrado, tenha uma ação de melhoria
frente aos agravos. Os órgãos competentes
devem fazer parte dessa dinâmica, não se
pode considerá-los apenas como órgãos que
emitem laudos.
Os acidentes ocorridos no município
da pesquisa tomam uma magnitude que
necessita receber uma atenção maior das
autoridades responsáveis, para
reconhecimento de quem são as pessoas
mais vulneráveis e as razões para a
ocorrência dos acidentes. A prática
151
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
preventiva, associada ao conhecimento
desse campo teórico, poderá assim prevenir
novos episódios de acidentes.
É muito importante ainda ressaltar e
alertar os agricultores dos riscos de
acidentes que estão expostos no seu dia-adia de trabalho, propondo assim medidas
para redução destes riscos, conscientizando
os trabalhadores nas medidas de segurança
que devem ser tomadas por todos. A criação
de programas de prevenção que foquem o
uso de EPIs, o manuseio de máquinas,
instrumentos e treinamentos para a redução
desses danos.
Contudo, o papel dos profissionais
da área da saúde e principalmente o trabalho
da enfermagem é fundamental nas práticas
sociais através da prevenção e das
orientações a esses trabalhadores; sendo
assim possível amenizar alguns efeitos
agravantes que possam ocorrer. As ações
corretas diante de algumas circunstâncias
ajudam como um instrumento para prevenir
no adoecimento da população. Mas ainda é
necessário que a enfermagem construa um
trabalho social que vá além do papel técnico
e prático, para ajudar esses trabalhadores a
desempenhar suas atividades de forma
correta e sem riscos a sua saúde.
0183/25025/000751083.pdf?sequence=1
Acesso em: 13 de outubro de 2011.
DIÁRIO DO NOROETE. Acidentes e
traumas de mão. Publicado em 13 de
setembro de 2009. Disponível em:
C:\Users\User\Desktop\Acidentes e traumas
das mãos - Viva - Diário do Nordeste.mht
Acesso em: 8 de novembro de 2011.
FILHO, M. M; JORGE, M. H. P de M.
Características da morbidade por causas
externas em serviço de urgência. Revista
brasileira de epidemiologia. [online]. 2007,
vol.10, n.4, pp. 579-591. ISSN 1415-790X.
D i s p o n í v e l
e m :
http://www.scielosp.org/pdf/rbepid/v10n4
/15.pdf Acesso em: 20 de novembro de 2011.
FEHLBERG, M. F; SANTOS, I. S; TOMASI,
E. Acidente de trabalho na zona rural de
Pelotas Rio Grande do Sul, Brasil: um
estudo transversal de base populacional.
Centro de Controle de Zoonoses, Faculdade
de Veterinária da Universidade Federal de
Pelotas. Pelotas. Cad.
Saúde Pública,
Rio de Janeiro, Nov-dez, 2001. Disponível
e
m
:
http://www.scielo.br/pdf/csp/v17n6/6963.pdf
Acesso em: 11 de junho de 2011.
F R I T Z E N , A . M ; H E R B E RT Z , M . H ;
SANTOS, V. Evolução e Diferenciação dos
Sistemas Agrários no Distrito de
Barrinha, Município de Três de Maio – RS .
Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
[ s . a ] .
D i s p o n í v e l
e m :
http://www6.ufrgs.br/cursopgdr/trabalho
sacademicos/novos/tresmaio2.pdf
Acesso em: 25 de outubro de 2011.
GIL, A. C. Como elaborar um projeto de
pesquisa. 4ª Ed. São Paulo: Atlas S.A. 2008.
IBGE. Censo demográfico 2010:
Características gerais da população.
Resultados da amostra. Disponível em
http://www.ibge.gov.br Acesso em: 26 de
março de 2011.
MARTINS, D. R. Acidente de trabalho
com perfurocortantes envolvendo a
equipe de limpeza hospitalar em um
pronto socorro. Monografia do curso de
Pós graduação Lato Sensu Especialização
em Saúde do Trabalhador do Centro
Universitário Feevale. Novo Hamburgo, 2007
D i s p o n í v e l
e m :
http://ged.feevale.br/bibvirtual/Monografi
a/MonografiaDanieliMartins.pdf Acesso
REFERÊNCIAS
ANDRIOLI, A. I. Tecnologia e agricultura
familiar: uma relação de educação. Editora
UNIJUI, Ijuí- RS, 2009.
AZEVEDO, J. A. Segurança no trabalho para
quem vive no campo. Revista Segurança
177, 2007. Disponível em:
http://www.revistaseguranca.com/index.
php?option=com_content&task=view&id
=102&Itemid=78 Acesso em: 25 de outubro
de 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução
do Conselho Nacional da Saúde nº 196.
Brasília: MS, 1996. Disponível em:
http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/res
o_96.htm Acesso em: 20 março 2011.
BERTOLDO, L. FRASSETTO, P. M.
Estudo exploratório da demanda
estratégia saúde da família Jardim
Cascata, Porto Alegre – RS. Universidade
do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2010.
Disponível em:
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/1
152
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
em: 06 de outubro de 2011.
MENEGHEL, S. N. Epidemiologia:
exercícios e anotações . 2º ed Porto alegre:
Secretaria do Estado da Saúde do Rio
Grande do Sul/ Escola de Saúde Publica,
2008.
MINAYO, M. C. S et al. Pesquisa Social:
teoria, método e criatividade. 22 ª ed.
Petrópolis: Editora Vozes, 2003.
NAPOLEÃO, A. A et al. Causas de sub
notificação de acidentes do trabalho
entre trabalhadores de enfermagem.
Rev. Latino-Am. Enfermagem [online].
2000, vol.8, n.3, pp. 119-120. ISSN 01041169.Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v8n3/12409.
pdf Acesso em: 31 de outubro de 2011.
POLIT, D; BECK, C. T; HUNGLER, B. P.
Fundamentos de Pesquisa em
Enfermagem. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed,
2004.
REISDÖRFER, A. F. O engenheiro das
Brisoletas. Conselho em revista I n º 33,
[s.a]. Disponível em: http://www.crears.org.br/crea/pags/revista/33/CR33_me
moria.pdf Acesso em: 22 de outubro de
2011.
RICHARDSON, R. J. Pesquisa SocialMétodos e Técnicas. 3 ª ed. São Paulo:
Atlas S.A,1999.
RIO GRANDE DO SUL. Boletim
Epidemiológico. Centro estadual de
vigilância em saúde. Porto Alegre, 2009, vol.
11, n. 1. Disponível e
m
:
http://www.saude.rs.gov.br/dados/12826685
30388BE_V12-N1-INTERNET.pdf Acesso
em: 20 de maio de 2011.
SCHLOSSER, J. F et al. Caracterização
dos acidentes com tratores agrícolas.
Ciência Rural [online]. 2002, vol.32, n.6, pp.
977-981. ISSN 0103-8478.http: Disponível
e
m
:
www.scielo.br/pdf/cr/v32n6/12742.pdf
Acesso em: 15 março de 2011.
153
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
NÍVEL DE SATIFAÇÃO DOS ENFERMEIROS COM SEU TRABALHO
Simoni Sandra Colombo1
Jacinta Spies2
Fauzi Shubeita3
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM 4
RESUMO
A presente pesquisa se constitui de um
estudo descritivo exploratório, de caráter
comparativo e de abordagem quantitativa,
realizado em um município da Região
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul,
com vistas a identificar o nível de satisfação
profissional dos Enfermeiros nas diferentes
áreas de atuação. Para coletar as
informações necessárias, foram utilizados
dois questionários; o primeiro para
caracterização sociodemográfica dos
participantes e o outro para o Índice de
Satisfação Profissional (ISP), traduzido por
Margarete Lino (1999) para a língua
portuguesa e adaptado para os sujeitos do
estudo, o qual mensura os seis
componentes: Autonomia, Interação, Status
Profissional, Requisitos do Trabalho, Normas
Organizacionais e Remuneração. Os
resultados foram organizados a partir do
software Epi info, analisados através da
estatística descritiva e fundamentados com
bibliografia disponível sobre a temática. A
população constituiu-se de 69 Enfermeiros,
sendo 82,61% do sexo feminino. Os dados
apontam ainda que a real satisfação
profissional dos Enfermeiros esteja ligada à
possibilidade de tomada de decisão e de
liberdade de escolha, e inversamente
relacionada a não valorização no trabalho.
Reafirma-se o enfoque para a necessidade
de organização da categoria, desenvolvendo
senso de valorização e luta por melhores
condições no desempenho das atividades.
Palavras-chave: Enfermeiro. Motivação.
Satisfação no trabalho.
ABSTRACT
The present research is about a
descriptive exploratory study, which
presents a comparative character and a
quantitative approach. The study was
accomplished in a city located in the
northwest region of Rio Grande do Sul
State, aiming at identifying the
professional satisfaction level of nurses
on their different performance fields. In
order to collect the necessary
information, two questionnaires were
used; the first one was used to identify
socio-demographic characteristics of the
participants and the other one to identify
the Professional Satisfaction Level (ISP),
translated by Margarete Lino (1999) to
Portuguese and adapted for the study
subjects, which measures the six
components: Autonomy, Interaction,
Professional Status, Job Requirements,
Organizational Norms and Payment. The
results were organized based on the
software Epi info, organized through
descriptive statistics and grounded with
the available bibliography about the
thematic. The population was constituted
by 69 Nurses, 82,61% female. Data also
show that Nurses' real professional
satisfaction is linked to the possibility of
decision making and to the freedom of
choice, and inversely related to the nonappreciation at work. It is possible to
reaffirm the focus to the necessity of the
category organization, developing
appreciation sense and struggling for
better conditions on activities
development.
Keywords: Nurse, Motivation, Job
Satisfaction.
1
Enfermeira Graduada pela Faculdade Três de Maio – SETREM e Assistencial no Serviço de
Emergência, da Sociedade Hospital de Caridade Santa Rosa; Pós-graduanda em Enfermagem do
Trabalho e Urgência, Emergência e Trauma, Celer Faculdades –FACISA – Santa Rosa - RS;
[email protected].
2
Enfermeira Especialista em Administração Hospitalar e Gerenciamento de Serviços de Enfermagem,
Gerente do Serviço de Enfermagem da Sociedade Hospital de Caridade Santa Rosa, docente da
Sociedade Educacional Três de Maio; [email protected].
3
Mestre em Ciên cia da Computação, Docente do curso de Bacharelado em Enfermagem da
Sociedade Educacional Três de Maio, RS; [email protected].
4
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM, Avenida Santa Rosa, 2504, Três de Maio – RS.
[email protected].
154
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
1. INTRODUÇÃO
Falar em satisfação no trabalho em
um mundo globalizado pode ser resumido
basicamente em qualidade de vida. Como
ser humano, o homem é considerado um
fator primordial para o crescimento e sucesso
das organizações. Porém, para que isso
aconteça é necessário que ele esteja
satisfeito com o trabalho.
Busca-se, cada vez mais, grande
produtividade, associada a um baixo custo
de produção, no menor tempo possível, com
o intuito de obter produtos altamente
competitivos no cenário do mercado
capitalista. Diante disso, observa-se o
aumento dos ritmos e cargas de trabalho em
detrimento da satisfação dos trabalhadores
em executar tarefas, o que pode repercurtir
na sua qualidade de vida, interferindo no
processo saúde/doença (SILVA, 2008).
A motivação tem sido considerada
como um fator primordial para o trabalho.
Autores como Batista et al. (2005), têm
mostrado que
estatística (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004).
O local estabelecido para realização
deste estudo foi um município da região
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul,
pertencente à área de abrangência da 14ª
Coordenadoria Regional de Saúde – CRS,
sendo as unidades de investigação,
instituições do município, que apresentam
Enfermeiros em seu quadro funcional, sendo
eles: hospitais de natureza filantrópica,
clínicas particulares e Rede Pública de
Saúde nas diferentes esferas de governo.
A população alvo da pesquisa foram
todos os Enfermeiros que estavam
trabalhando no momento da coleta de dados,
de ambos os sexos, independente do tempo
de atuação e atuantes nos diferentes campos
de trabalho. Foi considerada indicativa de
concordância de participação voluntária a
devolução dos questionários preenchidos à
pesquisadora e excluídos do estudo os
Enfermeiros afastados das atividades, por
motivo de férias, afastamentos prolongados e
licenças.
Para a coleta de dados foram
utilizados dois questionários: um,
sociodemográfico, que forneceu subsídios
para a caracterização da população em
estudo, e o outro diz respeito ao Índice de
Satisfação do Profissional, (ISP) criado por
Paula L. Stamps (1997) e traduzido para a
língua portuguesa por Margarete Lino (1999).
O segundo questionário foi parcialmente
modificado e adaptado para a população
local deste estudo, com autorização prévia da
autora.
O projeto de pesquisa foi submetido ao
Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), da
Universidade Regional Integrada do Alto
Uruguai e das Missões – URI Campus Santo
Ângelo, do qual se obteve parecer favorável
do CAAE (Certificado da Apresentação para
Apreciação Ética) sob n° 0078-4/PPH/10. A
coleta de dados foi realizada no mês de
outubro de 2010, nos três turnos. Para ir a
campo foram adotados alguns
procedimentos. Anteriormente à coleta de
dados foram realizados três testes-piloto com
o objetivo de testar o instrumento de
pesquisa, verificar possíveis dificuldades dos
pesquisados no preenchimento do ISP, bem
como, buscar maior familiarização e
apreensão das questões a serem
investigadas.
desde a antiguidade, existe uma
preocupação com as razões pelas
quais as pessoas agem ou pelas
quais decidem o que fazer. Fatores
que impulsionam as pessoas a
fazerem algo, estão relacionados a
uma hierarquia de necessidades
como exercer um cargo, ter
reconhecimento e progresso
profissional (p.86).
Nesse sentido, a satisfação é um
processo que resulta da complexa e
dinâmica interação das condições gerais de
vida, das relações de trabalho e do controle
que os trabalhadores possuem sobre suas
condições de vida. Assim, o grau de
satisfação e motivação de uma pessoa é uma
questão que pode afetar a harmonia e a
estabilidade psicológica dentro do local de
trabalho em que está inserido.
2. MÉTODOS E TÉCNICAS DA PESQUISA
Para o melhor desenvolvimento da
pesquisa, e com o intuito de obter resultados
satisfatórios sobre o tema 'Satisfação
Profissional', optou-se por uma abordagem
quantitativa, do tipo descritivo exploratória. A
abordagem quantitativa permite a coleta
sistemática de informação numérica,
mediante condições de muito controle,
analisando estas informações através de
155
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
Para análise das respostas referentes
aos dados sociodemográficos e o ISP desta
pesquisa utilizou-se a análise estatística
descritiva. Anteriormente, os resultados
foram codificados e digitados em planilha
eletrônica, sob a forma de um banco de
dados, efetuados no Epi-info®, versão
3.2.2 Windows. O referido trabalho está
embasado nas normas e diretrizes da
resolução nº 196/96, do Conselho Nacional
da Saúde CNS/MS que trata de pesquisa
envolvendo seres humanos, garantindo aos
participantes o sigilo de suas respostas e o
anonimato (BRASIL, 1996), preservando
assim, a privacidade e a identificação dos
indivíduos-alvo da pesquisa.
comunidade, desenvolvendo atividades de
promoção, prevenção de doenças,
recuperação e reabilitação da saúde, e não
como uma profissão previamente
reconhecida (OLIVEIRA, 2005).
3.2 Qualidade de vida no trabalho
O estudo das relações entre qualidade
de vida e satisfação profissional é um campo
amplo de pesquisa e notoriamente complexo,
incorporando aspectos distintos que incluem
a magnitude das relações, a direção de
causalidade e os fatores mediadores.
A profissão de enfermagem
comumente é submetida a diversos
fatores que afetam a qualidade de
vida. Tal influência pode ter origem em
fatores intrínsecos, à natureza de sua
atividade laborial, mas também nas
condições de trabalho gerados pela
organização o que pode influenciar
outros aspectos individuais da vida
pessoal do profissional, podendo,
portanto, comprometer a motivação
(PIZOLLI, 2005, p.4).
3 . A S AT I S FA Ç Ã O N O T R A B A L H O :
APROXIMAÇÃO COM A TEMÁTICA
Sob o ponto de vista de que a vida
humana é organizada na sociedade a partir
do trabalho, entende-se que ele pode ter
significados ambíguos para o trabalhador.
Segundo Silva (2008), “o trabalho por um lado
pode significar sacrifício, castigo, sofrimento
e insatisfação; por outro, libertação,
realização, prazer e satisfação” (p. 25).
A satisfação é um processo dinâmico
que pode ter influência, tanto da organização
do trabalho, quanto da vida social, ou seja, o
trabalhador não chega ao seu local de
trabalho como uma máquina nova; ele possui
uma história, o que o torna um indivíduo com
características únicas e pessoais
(DEJOURS, 2007 apud SILVA, 2008).
3.1 O trabalho e a Enfermagem
O trabalho é uma atividade muito
antiga e inerente ao ser humano. Ele nem
sempre foi uma atividade remunerada, e, por
muito tempo, foi utilizado como uma forma de
castigo. Entre outras situações, quando
remunerado, tratava-se de um valor irrisório,
para atender apenas às necessidades de
sobrevivência. A Enfermagem por sua vez,
surgiu como profissão a partir de Florence
Nightingale na segunda metade do século
XIX. Florence considerava que a Enfermeira
deveria ser delicada, recatada, religiosa e
devotada.
Assim, a Enfermagem se constitui
como uma das profissões da área da saúde
cuja essência é vista ainda pela
especificidade do cuidado ao ser humano
individualmente, na família ou na
Estudos entre profissionais de
Enfermagem apontam a importância da
mensuração da satisfação profissional
associada à satisfação no trabalho com a
melhor qualidade de vida. Schmidt; Dantas
(2008) identificam neste caso menor índice
de estresse relacionado ao trabalho, bem
como a menor prevalência de sintomas da
síndrome de Burnout.
3.3 Prazer e sofrimento no trabalho
O trabalho algumas vezes pode ser
considerado como uma fonte de sofrimento e
não traz satisfações, alegrias ou prazer. O
sentido habitual de prazer está associado à
descarga gerada por uma situação de
aumento de tensão do sistema. O prazer vem
como situação ideal a ser conquistada como
um estado de plenitude.
Para Martins, (1999) apud Lino,
(2004), a busca pelo prazer no trabalho é
interpretada como “um instrumento de
crescimento e serve de ligação entre a
consciência e o mundo material”, podendo
ser considerado (o prazer no trabalho) como
“um estado de satisfação total ou quase total,
particular em cada indivíduo” (p.9).
Por fim, a imagem do trabalhador é
construída por ele próprio e desfazer a
relação dor-desprazer-trabalho passa a ser
um desafio a ser enfrentado por todos.
156
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
3.4 Criando um ambiente motivador
Levando-se em conta que os
profissionais passam muitas horas dentro do
ambiente de trabalho, Gil, (2000) apud
Pizzoli, (2005) fundamenta que se “este
local puder ser agradável, as pessoas vão se
sentir mais motivadas e, consequentemente,
mais envolvidas com os objetivos da
empresa” (p.3). Para tanto, esse
envolvimento é importante não só para a
produção, mas, principalmente, para a
qualidade do trabalho e do aprimoramento
profissional.
Dessa forma, aumentar o grau de
autonomia, segundo Santos-Filho; Barros
(2009), bem como ampliar o grau de abertura
nos processos de criação dentro do processo
do trabalho em saúde, permite transitar da
dor ao prazer do trabalho sem que ocorra a
banalização do sofrimento e a idealização do
saber.
3.5 O estresse e o trabalho da
Enfermagem
Pode se perceber que o estresse
também está ligado fundamentalmente a
questões psicológicas. Dependendo da
predisposição orgânica do indivíduo, o
estresse pode causar desde transtornos
psicológicos como a falta de vontade de fazer
as coisas, ansiedade, até as manifestações
mentais como tentativa de suicídio.
De acordo com Carvalho; Serafim
(2002), os conflitos diários no trabalho
também podem levar os funcionários da
empresa ao estresse, pois o principal motivo
desse estado pode estar no corpo do
empregado. O estresse envolve, além dos
aspectos de desgaste emocional e físico, o
ritmo de vida no mundo contemporâneo.
qualidade e produtividade.
Para abordar os resultados desta
pesquisa e discuti-los, optou-se por dividir a
apresentação em etapas. Inicialmente, para
compreender quem são os Enfermeiros
pesquisados deste estudo, foi necessário
caracterizá-los com relação ao local de
atuação, sexo, faixa etária, situação conjugal,
entre outros aspectos que dizem respeito aos
dados sociodemográficos, um dos objetos
do estudo.
Em seguida se trouxe à tona a Parte A
do Índice de Satisfação Profissional, que
contém as comparações “pareadas” entre os
seis componentes da satisfação no trabalho
que são: autonomia, interação, status
profissional, requisitos no trabalho, normas
organizacionais e remuneração, resultando
na importância atribuída pelo profissional a
cada um desses componentes.
A Parte B, segunda parte do ISP,
corresponde aos dados da escala de atitudes
na qual se identificou a importância percebida
pelo profissional em relação ao seu trabalho
(satisfação atual).
E, por último, será demonstrado o real
nível de satisfação profissional, calculado
através do escore do componente ajustado
(Parte A X Parte B).
4.1 Caracterização sociodemográfica dos
pesquisados
Identificada uma população de 75
profissionais atuantes no município,
participaram efetivamente da pesquisa 69
Enfermeiros das diferentes áreas de atuação,
conforme mostra o gráfico.
Figura 1: Gráfico da distribuição da
população estudada, de acordo com a área
de atuação (n=68), 2010.
4 IDENTIFICANDO E ANALISANDO A
SATISFAÇÃO PROFISSIONAL
A satisfação no trabalho é um tema de
especial importância na Enfermagem, sendo
esta uma profissão que lida
permanentemente com situações
estressantes, o modo pelo qual responde em
seu cotidiano à doença, ao sofrimento e
principalmente à morte de pessoas,
influencia de forma marcante no
desenvolvimento e desempenho de seu
trabalho. Desta forma, a satisfação no
trabalho passa então a ser considerada uma
ferramenta indispensável na busca da
Analisando o gráfico explicitado,
evidencia-se que a maioria dos profissionais
atua na área hospitalar (40%). Estudos
indicam que esse resultado pode estar
157
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
E tendo como propósito garantir um
melhor entendimento e visualização dos
resultados, seguem os dados
sociodemográficos na tabela 1.
relacionado a fatores culturais enraizados na
população durante muitas décadas, que
identificam a profissão como uma função
essencialmente hospitalar. A ancoragem
dessas representações vem basicamente de
contatos e vivências com familiares
hospitalizados, na administração de
medicações e da relação médico-Enfermeiro
(KEMMER; SILVA, 2007).
Na visão da autora deste estudo, a
diversidade de qualificações e a
complexidade dos processos de trabalho
podem ser consideradas um polo atrativo na
organização hospitalar. Tal resultado
também pode ser evidenciado em razão da
grande demanda de usuários nesta área e
sua complexidade, necessitando mais
profissionais na assistência, o que
desencadeia uma elevada oferta de trabalho.
Na sequência, o setor primário
absorve 20% dos profissionais em estudo.
Respaldado em diversos estudos, o
Enfermeiro da Saúde Pública/PSF atua com
mais autonomia, conferindo uma maior
independência no desempenho profissional
(ARAÚJO; OLIVEIRA, 2009). O mesmo autor
complementa que
Tabela 1 - Dados sociodemográficos dos Enfermeiros (n= 69), 2010.
DADOS SOCIODEMOGRAFICOS
SEXO
masculino
feminino
FAIXA ETÁRIA
de 20 a 30 anos
de 31 a 40 anos
de 41 a 50 anos
mais de 50
ESTADO CIVIL
Solteiro
casado/companheiro
separado/divorciado
POSSUI FILHOS
Sim
Não
TEMPO DE SERVIÇO NA INSTITUÇAO
de 0 a 5 anos
de 6 a 10 anos
de 11 a 15 anos
acima de 15 anos
POSSUI OUTRO EMPREGO
Sim
Não
SE SIM, EM QUAL ÁREA
Hospital
atenção primária
ensino
saúde
Outros
RENDA LÍQUIDA MENSAL APROXIMADA
de 3 a 5 salários mínimos
de 6 a 10 salários mínimos
acima de 10 salários mínimos
FORMACAO COMPLEMENTAR
Especialização completa ou incompleta
mestrado completo ou incompleto
Nenhuma
Total
ligada à progressiva credibilidade do
profissional, a ação do Enfermeiro no
ESF, contribui o despertar dos
profissionais na luta por mais
conquistas para a categoria, bem
como aprofundar conhecimentos na
busca do respaldo da prática
profissional (ARAÚJO; OLIVEIRA,
2009).
N
%
12
57
17,39
82,61
23
24
18
4
33,33
34,78
26,09
5,80
21
38
10
30,43
55,07
14,50
42
27
60,87
39,13
33
21
5
10
47,83
30,43
7,25
14,49
26
43
37,68
62,32
2
3
14
4
3
7,67
11,54
53,85
15,38
11,55
40
25
4
57,97
36,23
5,80
56
12
1
69
81,16
17,39
1,45
100
O estudo identificou uma presença
majoritária de mulheres na Enfermagem.
Avançando nas reflexões, a Enfermagem e
as Enfermeiras não são mulheres na sua
maioria por acaso. A percentagem expressiva
dessas profissionais é fato histórico de
domínio público: a Enfermagem é uma
profissão predominantemente feminina
(LINO, 1999).
Ao refletir sobre o assunto da divisão
sexual do trabalho na sociedade, considerase um princípio organizador da produção
capitalista. Esta constatação pode assumir
alguns pressupostos conceituais na área da
Enfermagem. Mesmo que a profissão de
Enfermagem ainda é constituída por um
grande contingente de mulheres, o aumento
de homens na Enfermagem é gradual e
estável.
Existem áreas da Enfermagem que,
tradicionalmente, concentram ou deveriam
concentrar maior número de mão-de-obra
masculina. Destacam-se a assistência
psiquiátrica, a ortopedia, o cuidado intensivo,
como o prestado pelo SAMU, os serviços
Neste sentido, constata-se que a
busca por parte dos Enfermeiros nesta área
pode estar relacionada à estabilidade no
emprego e à jornada de trabalho diferenciada
do ambiente hospitalar.
Por fim, os demais grupos
apresentados, compostos por profissionais
da Instituição de Ensino, Órgãos
Fiscalizadores, Suporte Avançado Móvel de
Urgência e o grupo que incluem as clínicas,
empresas, etc., apresentam
respectivamente, 12%, 10%, 9% e 9% de
profissionais atuantes. Conquanto a atuação
do Enfermeiro ainda se concentre na área
curativa, tem-se observado particularmente
um aumento significativo atuando na área de
prevenção, saúde da família, cuidado
domiciliar, atuação em consultórios de
Enfermagem, clínica, empresas privadas e
na comunidade.
158
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
apud Silva (2008), aponta a relação positiva
entre tais elos, expondo que, no momento em
que o indivíduo tem a possibilidade de
escolha em relação ao local de atuação, ele
vivência situações agradáveis,
desenvolvendo mecanismos que facilitam
superar dificuldades advindas do seu
trabalho.
No que se refere aos motivos
alegados pelos profissionais por estarem
atuando cada qual em sua área, verifica-se
que apenas dois participantes (2,90%) não
optaram por este campo de trabalho,
afirmando estarem desenvolvendo suas
atividades por falta de oportunidade em outro
local. Em contrapartida, vinte profissionais
relataram terem passado em concurso
público, identificando, também, a livre opção
de escolha. Para tanto, 97,10% dos
entrevistados estão atuando na área que
escolheram.
Por fim, todos os profissionais
pesquisados dizem estar satisfeitos com a
área de trabalho em que atuam. Esta
satisfação condiz com a opção de escolha.
Acredita-se que, no momento em que se tem
oportunidade em optar por um ambiente de
trabalho, o profissional se sente influenciado
positivamente a realizar suas tarefas de
forma produtiva e com satisfação.
4.2 Análise estatística do nível de
satisfação profissional
A análise estatística do ISP se
apresenta em três momentos.
Primeiramente será demonstrado o
Coeficiente de Ponderação da Escala, ou
seja, serão apresentados e discutidos os
dados referentes à Parte A do ISP,
identificando a importância atribuída pelos
participantes em relação a cada componente
da Satisfação Profissional. A seguir, o Escore
Médio e Total dos componentes da escala,
dados referentes à Parte B (Escala de
Atitudes), que avaliou a satisfação percebida
por esses profissionais em relação ao seu
trabalho atual. E, por fim, o Escore do
Componente Ajustado (Parte A x Parte B),
demonstrando e discutindo o real nível de
satisfação profissional.
4.3 Importância atribuída aos
componentes do ISP
Para visualizar melhor as áreas de
atuação, estas foram identificadas pela letra
G, seguida de ordem numérica crescente da
radiológicos, entre outros.
A faixa etária que predominou aponta
para um grupo de jovens adultos, perfazendo
68,11% da população com idade de 20 a 40
anos. Lino (2004), considera como sendo
profissionais com parâmetros suficientes de
avaliação da sua profissão. Esses achados
condizem com os encontrados nas pesquisas
de Campos (2005) e Schmidt (2004). Os
dados referentes ao estado civil e a prole
identificaram neste estudo profissionais
casadas e com filhos. Dados também
encontrados nos trabalhos de Cura;
Rodrigues (1999), Schmidt (2004), Campos
(2005), Rosa; Carlotto (2005) e Silva (2008).
Tanto sob o ponto de vista da saúde do
trabalhador, quanto da satisfação no
trabalho, o tempo de atuação representa uma
variável importante. A pesquisa de Cura;
Rodrigues (1999), realizado em um hospital
geral verificou esta relação e os resultados
identificaram que, quanto mais elevado o
tempo de serviço, maior era a satisfação
destes profissionais.
No presente estudo, a maioria dos
profissionais possui menos de cinco anos de
serviço, podendo-se dizer que ainda estão
em processo de adaptação no que se refere
ao trabalho.
Outro dado importante representa o
percentual de profissionais que possui um
único emprego (62,32%). Mesmo assim,
considera-se expressivo o número de
profissionais que exerce dupla jornada de
trabalho (37,68%), a maioria atuante na área
hospitalar e na docência. Esses dados são
semelhantes aos achados de Lino (2004) e
Schmidt (2004), em que, respectivamente,
36,9% e 27% dos profissionais possuíam
contrato em outra instituição.
A necessidade de ter múltiplos
vínculos empregatícios está diretamente
associada aos baixos salários e aspirações a
um determinado padrão de vida, também
evidenciado por Schmidt; Dantas (2006), ao
constatar que, em virtude dos baixos salários,
a maioria dos trabalhadores é obrigada a
optar por mais de um emprego, levando-os a
permanecer no ambiente dos serviços de
saúde a maior parte do tempo de suas vidas.
A opção do trabalhador quanto à área
de atuação foi considerada um aspecto
relevante quanto à satisfação no trabalho.
Nesse entendimento, Dal Bem et al. (2004)
159
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
representados na Figura 3.
seguinte forma: área hospitalar (G1);
SALVAR/SAMU (G2); instituição de ensino
(G3); órgãos fiscalizadores (G4); clínicas,
empresas, etc. (G5) e a atenção primária
(G6).
Os resultados obtidos por meio desta
análise identificam o Coeficiente de
Ponderação, valor que faz parte do cálculo
do real nível de satisfação profissional.
Frente aos valores encontrados, foi possível
classificar a importância atribuída pelos
Enfermeiros a cada um dos componentes do
ISP, conforme mostra a Figura 2.
Figura 2: Representação da importância
atribuída aos componentes do ISP, 2010.
Figura 3: Representação da satisfação
percebida dos componentes do ISP, 2010.
STATUS
PROFISSIONAL
Maior
satisfação
REMUNERAÇÃO (G1,G2,G3,G4,G6)
REQUISITO DO TRABALH
O (G5)
Menor
satisfação
A partir do escore médio por
componente foi possível identificar a
percepção quanto à sua satisfação no
trabalho. O status profissional foi o
componente que os entrevistados dos
diferentes grupos perceberam como maior
influência na sua satisfação profissional.
Ponto relevante pelo fato de que este
componente foi classificado como o de
menor importância atribuída pelos
pesquisados. Dados encontrados nas
pesquisas de Lino (1999), Campos (2005) e
Silva (2008), identificaram que os
Enfermeiros estão mais satisfeitos com os
aspectos intrínsecos do trabalho como
reconhecimento, realização e autonomia.
Em contrapartida, um desequilíbrio
em relação à importância atribuída e à
satisfação percebida em relação ao
componente remuneração é um achado
expressivo, porém não surpreendente em
relação à situação econômica do país.
Este componente foi classificado em
quase todas as áreas de atuação em último
lugar quanto à percepção da satisfação
profissional. Em evidência os profissionais
das clínicas e empresas percebem que o
componente requisitos do trabalho
apresenta mínima influência quanto à
satisfação profissional. Os demais domínios,
como a autonomia, a interação, os requisitos
do trabalho e as normas organizacionais
ocuparam lugares alternados nas diferentes
áreas de atuação.
4.5 Nível real de satisfação profissional
O verdadeiro nível de satisfação no
trabalho é uma média ponderada entre o
quanto de importância os profissionais
atribuíram aos componentes e o quanto se
perceberam satisfeitos em relação a eles,
apoiando a premissa de que o fenômeno
satisfação é multivariado e influenciado por
diversos fatores (LINO, 1999).
AUTONOMIA
(G1,G2,G3,G4,G6)
INTERAÇÃO(G3,G5)
Maior
satisfação
STATUS
PROFISSIONAL
Menor
satisfação
Verifica-se que em quase todas as
áreas de atuação o componente considerado
mais importante pelos participantes, na sua
satisfação profissional, foi a autonomia.
Esse achado é semelhante aos estudos de
Lino (1999), Lino (2004), Campos (2005) e
Silva (2008). A partir desses dados supõe-se
que o Enfermeiro que tem oportunidades de
exteriorizar suas opiniões, atuando de forma
efetiva no processo de tomada de decisão,
tem retorno do seu trabalho, o que pode
contribuir para a sua satisfação pessoal e
profissional (SILVA, 2008, p. 86).
Inversamente, o componente status
profissional, destacou-se como aquele ao
qual foi atribuída menor importância, dado
similar encontrado no estudo de Campos
(2005) e Silva (2008). Discorrendo acerca
deste componente, Araújo; Oliveira (2009),
identificam sua necessidade para que o
Enfermeiro se sinta importante no seu
processo de trabalho, no qual evidencia
esforços para seu aperfeiçoamento e melhor
atuação, tendo em vista a obtenção de
reconhecimento e valorização.
4.4 Satisfação profissional percebida
Ao se comparar a ordem hierárquica
dos componentes quanto aos níveis de
importância e satisfação, percebe-se que
existem congruências e estas têm impacto
sobre o nível de satisfação dito real,
160
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
status profissional, o menos importante. Em
relação ao nível atual de satisfação
profissional entre os pesquisados,
identificou-se que percebem estar mais
satisfeitos com o status profissional,
seguidos pela autonomia e interação, bem
como percebiam a remuneração como o
componente que menos influenciava na
satisfação.
Já o nível real de satisfação
profissional, mediado pela importância
atribuída aos componentes e pelo nível atual
de satisfação percebido, verificou-se que os
entrevistados estão mais satisfeitos com a
autonomia e menos satisfeitos com o status
profissional. Os resultados mostraram as
diferentes dimensões que compõem a
satisfação profissional e em que níveis se
encontravam a dos Enfermeiros nas
diferentes áreas de atuação.
O resultado do ISP indicou em ordem
decrescente de satisfação nas diferentes
áreas, os seguintes resultados: G5 com
13,66 de ISP; G6 com 12,73; G2 com 12,35;
G1 com 10,95; G4 com 10,74 e G3 com
10.69. Frente a isso, e considerando que a
variação do ISP é de 0,9 a 37,1, pode-se
presumir que os pesquisados deste estudo
estão pouco satisfeitos profissionalmente.
Para tanto, os dados encontrados em
pesquisas brasileiras anteriores, indicam
que a satisfação tem aumentado
gradativamente ao longo dos anos.
Os dados apontam ainda que a real
satisfação profissional dos Enfermeiros
esteja diretamente ligada à possibilidade de
tomada de decisão e de liberdade de
escolha, e inversamente relacionada à não
valorização no trabalho. Reafirma-se, no
entanto, o enfoque para a necessidade de
organização da categoria, a fim de
desenvolver o senso de valorização e luta
por melhores condições para o desempenho
das atividades cotidianas, mostrando que o
trabalho do Enfermeiro é importante,
necessário, clamando por reconhecimento e
remuneração digna.
Neste sentido, ao se constatar que
muitos são os fatores de insatisfação no
trabalho que se relacionam a tais
dimensões, estas podem,
consequentemente, afetar a prestação de
serviços e a qualidade do cuidado oferecido,
já que afeta diretamente o cuidador. É
necessário para tanto, a busca de
A relação comparativa dos gráficos
nas diferentes áreas de atuação aponta para
um resultado congruente. Em análise, foi
possível identificar que os Enfermeiros em
sua totalidade apresentavam maior nível real
de satisfação profissional com a autonomia
frente à tomada de decisão no
desenvolvimento de suas ações. Contudo, os
profissionais do Grupo 5 (empresas, clínicas,
presídio e hemocentro), apontaram estarem
realmente mais satisfeitos profissionalmente
com o componente, interação. Esta
classificação confere os resultados no que se
refere à importância atribuída (Parte A), em
que o componente julgado ser o mais
importante frente à satisfação no trabalho,
condiz com o qual realmente estão mais
satisfeitos.
A autonomia, no entanto, não foi o
principal componente com o qual os
profissionais percebiam maior influência na
satisfação profissional. Foi percebido o grupo
estar mais satisfeito no trabalho com o status
profissional, porém, foi o componente
atribuído por eles que menos influenciava
nesta satisfação. Estes dados indicam que os
menores níveis reais de satisfação
profissional estão atrelados ao domínio
status profissional, pelo não reconhecimento
da profissão e não valorização frente ao
trabalho realizado, evidenciados no quadro
da Figura 13.
O fraco desempenho do componente
requisitos do trabalho foi destaque nos
profissionais da área hospitalar. Este foi
apresentado como sendo o de menor nível
real da satisfação profissional, fato este que
pode ser justificado em razão da lacuna no
que se refere ao dimensionamento do tempo
e das atividades diárias.
Por fim, os dados relativos aos
componentes com os quais os pesquisados
se sentiram, intermediariamente, mais ou
menos satisfeitos, variam de acordo com as
áreas de atuação frente às atividades
desempenhadas, às normas da organização
e ao rendimento mensal.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No que diz respeito ao nível de
importância atribuída aos componentes da
satisfação profissional, verificou-se que a
maioria dos Enfermeiros considera a
autonomia o domínio mais importante, e o
161
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
[online]. V. 7, n 4, p. 21-28, Ribeirão Preto:
out/1999. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/rlae/v7n4/13485.pdf
Acessado em: 20 de março de 2010.
KEMMER, L. F.; SILVA, M. J. P. da. Como
escolher o que não se conhece? Um
estudo da imagem do enfermeiro por
alunos do ensino médio. Acta paulista de
enfermagem. [online]. 2007, vol.20, n.2, pp.
125-130. ISSN 0103-2100. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ape/v20n2/a03v20n
2.pdf . Acessado em 14 de setembro de 2010.
LINO, M. M. Satisfação profissional entre
Enfermeiros de UTI: Adaptação
transcultural do INDEX of Work Satisfaction
(IWS). 1999. 221 p. Dissertação (Mestrado) –
Escola de Enfermagem, [online],
Universidade de São Paulo, São Paulo:
1 9 9 9 .
D i s p o n í v e l
e m :
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/7/
7138/tde-12112004-163915/. Acessado em
6 de abril de 2010.
LINO, M. M. Qualidade de vida e satisfação
profissional de Enfermeiras de unidade
d e t e r a p i a i n t e n s i v a . 2 2 3 p . Te s e
(Doutorado) – Escola de Enfermagem,
Universidade de São Paulo, São Paulo:
2 0 0 4 .
D i s p o n í v e l
e m :
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/7/
7139/tde-17112004-151221/. Acessado em
6 de abril de 2010.
OLIVEIRA, M. M. de. Alterações
psicofisiológicas dos trabalhadores de
enfermagem no serviço noturno.
Dissertação (Mestrado) [online], –
UFRJ/Escola de Enfermagem Anna Nery/
Programa de pós-graduação em
Enfermagem, 2005. Disponível em:
http://teses.ufrj.br/EEAN_M/MarciaMoreiraD
eOliveira.pdf. Acessado em 25 de abril de
2010.
PIZZOLI, L, M. L. Qualidade de vida no
trabalho: um estudo de caso das Enfermeiras
do hospital de Heliópolis. Ciência e Saúde
Coletiva. [online], V10, n4. ISSN 1413-8123,
dez/.2005. Disponível em:
http://www.scielosp.org/pdf/csc/v10n4/a28v
10n4.pdf. Acessado em 23 de março de
2010.POLIT, D; BECK, C. T.;
H U N G L E R , B . P. F u n d a m e n t o s d e
Pesquisa em Enfermagem. 5. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2004.
RICHARDSON, R. J. Pesquisa social,
métodos e técnicas. 3 ed. Atlas. São Paulo,
1999.
intervenções pontuais de forma preventiva.
Ressalta-se que o trabalho pode ser
prazeroso, necessitando de políticas
administrativas voltadas para a satisfação
profissional e acima de tudo, da valorização
do profissional e seu envolvimento nos
processos decisórios da organização.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, M. F. S. de; OLIVEIRA, F. M. C. de.
A atuação do Enfermeiro na equipe de saúde
da família e a satisfação profissional. CAOS Revista Eletrônica de Ciências Sociais, n
14, ISSN 1517-6916, p.03-14, set/2009.
D i s p o n í v e l
e m :
www.cchla.ufpb.br/.../DOSSIE%20SAÚDE_
TEXTO%20I_ATUAÇÃO%20DO%20ENFE
RMEIRO.pdf. Acessado em: 20 de março de
2010.
BATISTA, A. A. V. et al. Fatores de
motivação e insatisfação no trabalho do
Enfermeiro. Revista da Escola de
Enfermagem da USP (online), março/2005,
vol. 39, n. 1, pp. 85-91, ISSN 0080-6234 São
P a u l o . D i s p o n í v e l e m :
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S008062342005000100011&script=sci_arttext .
Acessado em 21 de março de 2010.
BRASIL Resolução Nº 196 de 10 de outubro
de 1996: diretrizes e normas
regulamentadoras de pesquisa em seres
humanos. Brasília (DF): MS; 1996.
D i s p o n í v e l
e m :
http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/res
o_96.htm. Acessado em 20 de março de
2010.
CAMPOS, R. M. Satisfação da equipe de
Enfermagem do atendimento móvel de
urgência (SAMU) no ambiente de trabalho.
Dissertação (mestrado). p. 193. Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Natal: 2005.
D i s p o n í v e l
e m :
http://bdtd.bczm.ufrn.br/tedesimplificado/tde
_arquivos/5/TDE-2006-09-21T054206Z296/Publico/RenataMC.pdf Acessado em: 13
de abril de 2010.
CARVALHO, A.V. de; SERAFIM, O. C. G.
Administração de recursos humanos. Vol.
2. São Paulo: Editora Pioneira Thomson
Learning, 2002.
CURA, M. L. A; RODRIGUES, R. A. F.
Satisfação profissional do Enfermeiro.
Revista-Latino Americana de Enfermagem.
162
REVISTA SETREM - Ano XI nº 21 JUL/DEZ 2012 ISSN 1678-1252
ROSA, C. da; CARLOTTO, M. S. Síndrome
de Burnout e satisfação no trabalho em
profissionais de uma instituição hospitalar.
Revista SBPH, [online], vol.8, n.2, p.1-15,
dez. 2005. Disponível em: http://pepsic.bvspsi.org.br/pdf/rsbph/v8n2/v8n2a02.pdf.
Acessado em 25 de março de 2010.
SANTOS-FILHO, S. B; BARROS, M. E. B
de. Saúde do trabalhador: muito prazer!
protagonismo dos trabalhadores na gestão
do trabalho em saúde. Ijuí: Editora Unijuí,
2009.
SCHMIDT D.R.C. Qualidade de vida e
qualidade de vida no trabalho de
profissionais de enfermagem atuantes
em unidades de bloco cirúrgico
[dissertação]. p.185, Universidade de São
Paulo. Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem, Ribeirão Preto: 2004.
D i s p o n í v e l
e m :
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/
22/22132/tde-23062005084422/.Acessado
em: 21 de março de 2010.
SCHMIDT D.R. C; DANTAS, R.A.S.
Qualidade de vida no trabalho: avaliação da
produção cientifica na enfermagem
brasileira. [artigo]. Acta paul. enferm.
[Online]. 2008, vol.21, n.2, pp. 330-337.
ISSN 0103-2100. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ape/v21n2/pt_a16
v21n2.pdf. Acessado em 21 de março de
2010.
SILVA, R. M. Satisfação profissional dos
enfermeiros de um hospital universitário
no trabalho noturno. Dissertação
(mestrado) - Universidade Federal de Santa
Maria. Programa de Pós Graduação em
Enfermagem. Santa Maria. 2008.
D
i
s
p
o
n
í
v
e
l
em:http://www.ufsm.br/ppgenf/dissertacoe
s2008/Rosangela_Marion_SILVA.pdf.
Acessado em: 05 de abril de 2010.
163
Download

psicodinâmica do trabalho