Introdução à Teoria das Finanças Públicas Rodrigo Alves Teixeira Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento Qual é a racionalidade para a atuação do governo na esfera econômica? • Existência de bens públicos • Monopólios naturais • Externalidades • Estabilização macroeconômica • Incentivo a e coordenação do desenvolvimento econômico Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento Os bens públicos são aqueles cujo consumo/uso é indivisível ou “não-rival”, ou seja, o seu consumo Existência de bens públicos por parte de um indivíduo ou de um grupo social não prejudica o consumo do mesmo bem pelos demais integrantes da sociedade. São exemplos de bens públicos os bens tangíveis – como as ruas, a iluminação pública – e bens intangíveis – como justiça, segurança pública e defesa nacional. Outra característica importante é o princípio da “não-exclusão”, já que todos os indivíduos, de todas as classes, se beneficiam destes bens. Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento • Os retornos crescentes de escala requerem a concentração da produção, dependendo do tamanho do mercado consumidor. Ex: pode ser mais eficiente a existência de apenas uma empresa de distribuição de energia elétrica servindo um mercado consumidor local (monopólio natural). Existência de monopólios naturais •No caso da ocorrência do monopólio natural, a intervenção do governo pode tomar duas formas possíveis. 1. Regulação: impedir preços abusivos e baixa quantidade produzida do produto ou serviço. 2. Assumir a produção, responsabilizando-se diretamente pela produção do bem ou serviço. Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento As externalidades São comuns os casos em que a ação de um indivíduo ou de uma empresa afeta direta ou indiretamente outros agentes do sistema econômico. As situações nas quais essas ações implicam benefícios a outros indivíduos ou firmas da economia são conhecidas como “externalidades positivas”. Por sua vez, uma “externalidade negativa” acontece quando a ação de uma empresa ou de um indivíduo é prejudicial aos demais indivíduos ou demais empresas. A intervenção do Estado se dá via • Produção direta ou concessão de subsídios; • Multas ou impostos; • Regulamentação. Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento Função alocativa: Diz respeito ao fornecimento de bens públicos. Os objetivos da política fiscal e as funções do governo Função distributiva: Ajustes na distribuição de renda que permitam que a distribuição prevalecente seja aquela considerada justa pela sociedade. Função estabilizadora: Uso do gasto público visando a um alto nível de emprego, à estabilidade dos preços e à obtenção de uma taxa apropriada de crescimento econômico. Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento A função alocativa Fornecimento de bens públicos: O governo deve determinar o tipo e a quantidade de bens públicos a serem ofertados e calcular o nível de contribuição de cada consumidor. Em outras palavras, a oferta de bens e serviços que não seriam oferecidos pelo setor privado se faz mediante a obtenção compulsória de recursos, via cobrança de impostos. Produção e fornecimento de bens “semipúblicos” ou “meritórios”: são bens ou serviços que, embora sejam excluíveis e, portanto, possam ser fornecidos pelo mercado, geram altos benefícios sociais e externalidades positivas. Ex: saúde, educação, assistência social. Também relacionam-se com a função distributiva, na medida em que estes serviços são fundamentais especialmente em países com forte concentração da renda e há indivíduos muito pobres que não teriam condições de pagar por eles. Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento A função distributiva • A distribuição de renda gerada pelo mercado pode não ser aquela considerada “justa” pela sociedade. O Estado pode alterar a distribuição de renda por meio de diversos instrumentos, como as transferências, os impostos e os subsídios. • As transferências monetárias possibilitam uma redistribuição direta da renda, tributando em maior medida os indivíduos pertencentes às camadas de renda mais alta e subsidiando os indivíduos de baixa renda. Pode ser feita pelo fornecimento de bens e serviços, como saúde, educação e construção de moradias populares. • Via tributação, o Estado pode impor alíquotas de impostos mais altas aos bens considerados de luxo ou supérfluos, para, em contrapartida, cobrar alíquotas mais baixas ou conceder subsídios aos bens que compõem a cesta básica. Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento TEORIA DA TRIBUTAÇÃO Para poder arcar com as funções anteriormente descritas, o governo precisa gerar recursos. A principal fonte de receita do setor público é a arrecadação de tributos: impostos, taxas e contribuições. Outras fontes de receitas são: • o endividamento público, via empréstimos e financiamentos ou emissão de títulos da dívida pública; • a emissão de moeda, que se for descontrolada pode gerar como contrapartida a elevação da inflação, forma de financiar o gasto público que é conhecida como imposto inflacionário. Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento TEORIA DA TRIBUTAÇÃO Tipos de tributos: 1. Impostos: seu recolhimento se dá de acordo com uma base de cálculo que pode ser a renda, o patrimônio ou as vendas de bens e serviços, e não está vinculada a qualquer contraprestação de serviços. 2. Taxas e tarifas: seu recolhimento se dá em contrapartida a algum serviço. Ex: pedágios, taxa para emissão de documentos, tarifas de transporte. 3. Contribuições: i.especiais: seu recolhimento está vinculado a algum destino, que pode ser um serviço ou grupo de pessoas. Ex: INSS, CPMF; ii) de melhoria: recolhida quando algum gasto público oferece melhoria ao contribuinte, como a construção de uma estação de metrô ou o asfaltamento de uma via. Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento TEORIA DA TRIBUTAÇÃO Qual a estrutura tributária ideal? Para responder a esta pergunta, deve-se levar em consideração: a) o conceito da eqüidade; b) o conceito da progressividade; c) o conceito da neutralidade e d) o conceito da simplicidade. Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento Os conceitos de eqüidade e de progressividade São exemplos do “princípio do benefício” o pagamento de entradas, tarifas ou taxas de utilização, assim como a aplicação de um tributo sobre combustíveis, cuja arrecadação seja direcionada para o financiamento da manutenção e/ou construção de rodovias (ou pedágio). Um outro exemplo são as contribuições para a previdência social. Cada contribuinte deve contribuir com uma parcela “justa” para cobrir os custos do governo, segundo o “princípio do benefício” e a “capacidade de pagamento” A contribuição com base na “capacidade de pagamento” pode ser aplicada com base na renda ou propriedade, com isenções e alíquotas progressivas definidas a partir das características individuais de cada contribuinte, enquanto que os tributos sobre o consumo não geram uma taxação progressiva, pelo fato de todos os indivíduos pagarem a mesma alíquota. Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento O conceito de neutralidade O objetivo da neutralidade é que o sistema tributário não provoque uma distorção da alocação de recursos, prejudicando, desta forma, a eficiência do sistema. O conceito de simplicidade Tem a ver com a facilidade da operacionalização da cobrança do tributo Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento Receita Efeito da nãoneutralidade dos impostos na arrecadação segundo a Curva de Laffer. A Curva de Laffer 0 Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento 100 Alíquotas (%) A Curva de Laffer A relação ambígua existente entre aumentos de alíquotas e aumentos de receita é expressa no que a literatura denomina “curva de Laffer”. Os princípios básicos dessa construção teórica são de que a) com uma alíquota tributária nula, a receita obviamente é nula e b) com uma alíquota de 100%, a receita também é nula, pois ninguém iria trabalhar para que o governo se apropriasse de toda a renda. Elevando a alíquota, a receita se eleva, porém há um ponto a partir do qual a receita começará a ser reduzida mesmo com aumentos da alíquota, devido à redução da base (produção) , aumento da informalidade, etc. Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento TIPOS DE IMPOSTOS SEGUNDO A BASE DE INCIDÊNCIA 1. SOBRE A RENDA: IRPF, IRPJ 2. SOBRE AS VENDAS DE BENS E SERVIÇOS: ICMS, IPI, Imposto de Importação, IOF 4. SOBRE A PROPRIEDADE: IPVA, IPTU, ITBI Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento O imposto de renda pessoa física O IRPF apresenta as vantagens de se basear em uma medida abrangente da capacidade de pagamento e de permitir uma adaptação às características pessoais do contribuinte. É o imposto pessoal por excelência e, sendo assim, é aquele que mais se adapta aos princípios da equidade e progressividade, à medida que permite, de fato, uma discriminação entre os contribuintes no que diz respeito à sua capacidade de pagamento. Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento Imposto sobre o patrimônio Pode ser cobrado regularmente em função do simples ato de posse dos ativos durante um determinado período, como no caso do imposto predial e territorial urbano (IPTU) ou do imposto sobre a propriedade de veículos automotores (IPVA). Alternativamente, a cobrança pode se dar no momento em que os ativos mudam de propriedade – como o impostos sobre a transmissão de propriedade de bens imóveis (ITBI) Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento Os impostos sobre as vendas de mercadorias e serviços são tributos indiretos, também conhecidos como impostos sobre consumo. Os impostos sobre as vendas Em termos de equidade e progressividade, o imposto sobre consumo não é o mais indicado, tendo em vista que, sendo uma forma de tributação indireta, não discrimina as contribuições de acordo com a capacidade de pagamento de cada indivíduo. Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento http://www.receita.fazenda.gov.br/Publico/estudotributarios/estatisticas/31IRPFnoBrasil.pdf, em 3.3.07 Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento BASE DE INCIDÊNCIA DOS IMPOSTOS Renda 60% Consumo 50% 40% 30% 20% 10% 0% BRASIL MÉXICO FRANÇA JAPÃO REINO UNIDO EUA Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento O papel do Estado e da política fiscal na estabilização macroeconômica e no desenvolvimento econômico. Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento Ao contrário do pensamento neoclássico, Keynes desenvolveu uma visão teórica segundo a qual o mercado não é auto-regulado e não conduz sempre ao equilíbrio ou ao ótimo social. O princípio da demanda efetiva O funcionamento do sistema de mercado conduz a crises, caracterizadas por elevado desemprego de mão-de-obra e capital, bem como redução da atividade econômica e da renda. Segundo Keynes, a origem das crises está na escassez da demanda efetiva, ou seja, das despesas ou gastos com consumo por parte das famílias e de investimentos por parte das empresas, que podem originar-se por expectativas ruins quanto ao futuro (incerteza). Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento Segundo Keynes, a solução mais eficaz para superar a crise seria a elevação da demanda pelo governo, via aumento dos gastos públicos, já que a racionalidade individual dos agentes do mercado faz com que eles tomem decisões que intensificam a crise (entesouramento). Papel do Gasto Público Efeito Multiplicador: o gasto público na compra de bens e serviços gera renda e emprego, e este aumento da renda por sua vez se converte em novo aumento dos gastos, via consumo das famílias, incentivando as empresas a voltarem a investir, elevando ainda mais a renda e assim por diante. Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento A teoria keynesiana, ao longo das décadas de 40 a 70, exerceu forte influência na política econômica em vários países do mundo, ocorrendo um forte aumento da participação do Estado na economia. Distribuição da renda e desenvolvim ento Econômico Os governos perceberam que o uso da política fiscal não servia apenas para a estabilização macroeconômica diante de uma crise, mas também para acelerar a taxa de crescimento econômico, especialmente nos países subdesenvolvidos. Dado o destaque para o papel da demanda no crescimento econômico, a teoria keynesiana também estabelece que a distribuição da renda pode acelerar o crescimento, na medida em que os mais pobres têm uma maior propensão a consumir, o que faz com que o efeito multiplicador dos gastos públicos seja maior quando cresce a renda dos mais pobres. Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento EXEMPLO RECENTE: AS POLÍTICAS DISTRIBUTIVAS E O GASTO SOCIAL COMO PROPULSORES DO CRESCIMENTO A partir de 2004/2005, houve um aumento na taxa de crescimento do PIB, da renda e do consumo, como resultado de uma estratégia de desenvolvimento econômico impulsionada pela combinação de políticas distributivas e gastos sociais (elevação do salário mínimo, programa Bolsa Família, entre outros) e investimento público em infraestrutura através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento EXEMPLO RECENTE 2: O PAPEL DO ESTADO NA ESTABILIZAÇÃO MACROECONÔMICA DURANTE A CRISE INTERNACIONAL A partir de 2008, o governo brasileiro teve um papel ativo para evitar que a crise mundial levasse à redução da renda e ao aumento do desemprego no Brasil com uso dos bancos públicos para elevar o crédito, elevando os investimentos em construção com o programa Minha Casa Minha Vida, reduzindo impostos para estimular o consumo (redução do IPI) e desonerar a produção (desoneração da folha), entre outras medidas. Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento fim Curso de Finanças Públicas, Planejamento e Orçamento