Vigor pode absorver todo o capital da Itambé
Dirigentes do setor só não consideram possibilidade viável em curto prazo.
A parceria entre os dois grupos deve potencializar as operações da Itambé
ANDRÉA ROCHA.
Os números divulgados na quinta-feira pelo presidente da Vigor Alimentos S.A,
Gilberto Xandó, confirmam a força financeira da empresa de lácteos e óleo da holding
J&F, que no dia 21 de fevereiro anunciou a compra de 50% dos ativos da mineira
Itambé Alimentos S/A por R$ 410 milhões. Com investimentos previstos para este ano
da ordem de R$ 69 milhões - o mesmo montante de 2012 - começa a ventilar no
mercado que será uma questão de tempo para a Vigor absorver totalmente o capital da
Itambé. Dirigentes do setor não descartam essa possibilidade, mas não a consideram
viável em curto prazo.
Segundo Xandó, no momento, a empresa não pretende fazer novas aquisições, pois há
muito trabalho a ser feito com a Itambé. A ideia, explicou, é agregar valor ao portfólio
da Vigor, que deixará de ter presença regional para ganhar mercado nacional. Com forte
atuação no Sul e Sudeste do país, especialmente em São Paulo, a Vigor espera aumentar
a sua participação em Minas e estados do Nordeste, onde a Itambé, pertencente à
Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais Ltda (CCPR), tem melhor
presença.
Justamente em virtude dessa possibilidade de sinergia e crescimento, com a aquisição
de 50% dos ativos da Itambé, que o diretor-executivo do Sindicato da indústria de
Laticínios de Minas Gerais (Silemg), Celso Moreira, não acredita muito na aquisição de
todo o capital da empresa mineira, pelo menos por enquanto. "Não seria coerente
considerando o momento atual e o passado recente", pontua.
Isto porque, segundo ele, no momento atual, há perspectiva de ganhos para ambas as
partes, considerando o papel da Itambé na captação e fomento à produção, e o da Vigor
nas áreas de industrialização e comercialização. "São complementares em produtos,
mercado e logística", sintetiza. Além disso, pontua, nos últimos anos, tempo em que a
cooperativa buscou investidores ou sócios, negócios não se realizaram porque os
cooperados perderiam o lugar de decisão".
Segundo informou na ocasião a companhia mineira, a parceria entre os dois grupos
potencializará as operações da Itambé, "que continuará sua trajetória de crescimento no
mercado nacional com uma estrutura de capital adequada, processos operacionais e
administrativos independentes, gestão totalmente profissionalizada e acionistas
experientes em toda a cadeia de produção de lácteos". Nessa perspectiva, caso a
operação seja aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade),
será nomeado um novo presidente.
Caso a aquisição total um dia se realize, considera Moreira, "seria o melhor negócio da
vida da Vigor, pois a Itambé é uma marca fantástica, muito bem posicionada nas
gôndolas do varejo. Eu lamentaria muito, pois é um patrimônio dos mineiros".
Atualmente, a companhia mantém relacionamento com 31 cooperativas, que agrupam
aproximadamente 8 mil produtores. Sediada em Belo Horizonte, tem dez centros de
distribuição e cinco fábricas que processam cerca de 3 milhões de litros/dia, sendo uma
em Goiás e as outras quatro em Minas, localizadas estrategicamente em grandes bacias
leiteiras.
Para o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Leite Brasil), Jorge
Rubez, "nada é impossível, mas, no momento, acho muito prematuro cogitar essa
possibilidade de aquisição total". Em sua avaliação a Vigor é uma empresa forte
financeiramente, do grupo J&F, o maior frigorífico do mundo. "Não faltará crédito para
a compra, mas a aquisição de 50% é um negócio muito recente", pondera.
No entanto, ele entende que "negócio é negócio". No momento, o que interessa agora
para os cooperados é ter lucratividade. Mais adiante, se houver interesse, pode ser que a
aquisição integral se realize. Em sua avaliação, o momento é de aguardar os resultados
da fusão. Mas, "no futuro", admite, pode ser que "acabem vendendo o resto". Inclusive
porque, segundo ele, "o sistema cooperativo precisa ser reciclado, com critérios
diferentes de administração". Entre as fontes de sua preocupação está o destino da
Cooperativa Paulista, que "não teve a mesma sorte da Itambé e acabou fechando as
portas no ano passado".
Já o presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg),
Ronaldo Scucato, prefere não se manifestar a respeito, considerando que não recebeu
qualquer comunicado oficial da CCPR quanto à compra de 50% dos ativos da Itambé.
"Evito todo e qualquer pronunciamento", ressaltou. Na ocasião do anúncio, o dirigente
comentou apenas que "em primeiro lugar, é importante que os produtores sejam
beneficiados e que a natureza da cooperativa se mantenha", considerando, no entanto,
"que se houver melhoria de gestão, será benéfico para a empresa, inclusive para se
alcançar o mercado externo".
Vigor - Fundada em 1917 como fábrica de leite condensado no interior de Minas
Gerais, a Vigor Alimentos S/A cresceu organicamente e também por meio de
aquisições. Entre elas, as empresas Leco e Refino de Óleos Brasil. Em 2008 seu
controle indireto passou ao grupo Bertin, depois incorporado pelo grupo JBS. Hoje a
Vigor é uma subsidiária integral do JBS. Suas ações passaram a ser negociadas de
forma independente na Bovespa em junho de 2012.
Fonte: Diário do Comércio
Download

Vigor pode absorver todo o capital da Itambé