Yin e yang Esta reportagem revela que a maioria das empresas ainda não definiu o papel da Internet em seus negócios. A rede pode tanto lhes trazer ameaças (ser yin, energia negativa segundo a filosofia chinesa) como representar uma oportunidade (yang) E-BUSINESS Com seu surpreendente crescimento, a Internet está obrigando as empresas do mundo inteiro a repensar seus modelos de negócio. Embora ela traga oportunidades inéditas, representa também ameaças; ainda que tenha a virtude de expandir mercados, abre o campo de jogo para novos e inúmeros concorrentes. Ninguém pode negar que o cyberspace transformará a maneira de fazer negócios, mas seu impacto dependerá da natureza de cada setor, como mostra esta reportagem de Jenny McCune, da revista Fast Company. Algumas empresas de alta tecnologia –como a Cisco Systems, apenas para citar uma– já colhem bilhões por meio da Internet. É claro que, para a grande maioria, ainda é difícil medir seus efeitos. Os observadores estimam que o modo de funcionamento das empresas se modificará com o tempo. As que descobrirem o que devem fazer na Internet e o que a Internet pode lhes trazer de benefício terão decifrado os segredos do cyberspace. 106 A influência da Internet nos negócios parece uma paródia da História de Duas Cidades, de Charles Dickens. Para cada oportunidade, há sempre um obstáculo. Expande os mercados, mas aumenta a concorrência. Facilita alguns processos de negócio, mas complica outros. “É claro que o impacto e o nível de mudança dependem do setor e do grau de ameaça ou de oportunidade representado pela Internet”, diz David Sanderson, vice-presidente da firma de consultoria Bain & Company, sediada em Los Angeles, que supervisiona as atividades de comércio eletrônico dessa empresa. “O certo é que a Internet terá um enorme impacto transformador em todos os negócios de todos os setores”, acrescenta. As estatísticas, mesmo que consideradas com reserva, demonstram que a Internet está realmente transformando algumas empresas. De acordo com o 1999 Internet Shopping Study (Estudo de Compras na Internet em 1999) realizado nos EUA pela Ernst & Young, os 115 entrevistados que oferecem seus produtos on-line esperavam que o total de sua receita de vendas pela rede aumentasse de 1% em 1999 para 9% em 2001. Essa previsão é confirmada pela Forrester Research, empresa de pesquisa da Internet, sediada em Cambridge, Massachusetts, que acredita que 56% das residências norte-americanas estarão on-line até 2003, contra 33% em 1998. Um aumento do número de moradias on-line se traduzirá em aumento de receita. Há previsões, por exemplo, de que o comércio eletrônico movimentará US$ 84 bilhões só na América Latina em 2003 somando os mercados de consumidores finais e business-tobusiness (a previsão é da StarMedia, veja reportagem na página 132). Talvez mais importante seja a constatação da eMarketer de que as vendas on-line entre empresas são maiores do que as vendas on-line para o consumidor. Os dados de 1998 nos EUA mostram que a comercialização de bens e serviços para consumidores pela Internet atingiu US$ 4,5 bilhões, enquanto as transações entre empresas chegaram a US$ 15,9 bilhões. Ainda assim, os aspectos yin e yang da Internet são válidos, seja a empresa uma gigante do comércio eletrônico ou uma fabricante de porte médio. Embora seja fácil perceber como a Internet afetou as empresas de grande evidência e alta tecnologia, como a <amazon.com>, HSM Management 19 março-abril 2000 Ilustrações Máximo Campos Leyba nele todas as informações necessárias e mantê-las atualizadas. Mencionamos nosso telefone. A página atrai as pessoas. Esse é o único impacto.” A Huntsman fabrica produtos químicos e polímeros que não podem ser vendidos on-line, porque exigem grande interação entre comprador e vendedor. Portanto, a Internet não influiu muito na forma de comercialização dos produtos. Seu site é estritamente informativo e não existe nenhum plano para desenvolver o comércio eletrônico, diz McKibbin. Além disso, cada linha de produto tem seu gerente, de modo que a Huntsman possui “centenas de gerentes de marketing” e é difícil saber se a Internet modificou o modo de operação de algum desses departamentos. “Mesmo tendo um site de comércio eletrônico, é difícil analisar como a Internet muda a forma de operar de uma empresa”, diz David Tilstone, diretor mundial de marketing global e vendas da Kennametal, a segunda maior produtora de enxertos de carboneto de cálcio e liga de carboneto de cálcio para corte de máquinas-ferramentas, sediada em Latrobe, Pensilvânia. Embora a empresa permita que seus clientes locais comprem on-line, Tilstone não acredita que a Internet tenha mudado a forma de operação interna da empresa. Os clientes têm, agora, mais informações e o processo de colocação de pedidos tornou-se mais fácil, mas isso é tudo. Evolução de relacionamentos isso se torna menos claro no caso das empresas comuns –ou seja, a maioria silenciosa de empresas não-especializadas que hoje em dia representa o pilar dos negócios. Efeito da rede Para muitas dessas empresas comuns, a Internet ainda não produziu resultados decisivos. Elas se sentem obrigadas a manter um site a fim de ter um endereço para colocar em seus cartões de visita, mas, na opinião dos gerentes –mesmo aqueles que administram os sites–, o impacto tem sido pequeno ou tão difuso que é difícil medir seus efeitos. “Nosso site na Internet não tem, necessariamente, impacto positivo ou negativo em nossa forma de operar”, diz Kelly McKibbin, membro do departamento de relações públicas da Huntsman, com sede em Salt Lake City, Utah, e responsável pelo site da empresa. “Simplesmente tentamos colocar Mas nem só de opositores à rede se compõe esse cenário. Muitas empresas acreditam que a Internet influenciou suas operações ou o fará em breve. Em uma empresa pouco conhecida, essa influência tende a ser mais sutil do que em uma empresa como a Cisco Systems, especialista em redes de computação que opera um dos maiores sites de comércio eletrônico da Internet. Os bilhões de receita da Cisco –gerados na rede– indicam claramente tal influência. HSM Management 19 março-abril 2000 ➙ 107 MOTIVOS PARA REJEITAR A INTERNET Percentuais verificados entre 42 varejistas e dez fabricantes que não estão vendendo e não têm planos de vender VAREJISTAS FABRICANTES Conflitos com lojas concretas ................................................................................. 67% Produto inadequado ....................................................................................................................... 53% Falta da tecnologia necessária .............................................................................. 67% Não querem arriscar os relacionamentos com o canal de distribuição ..... 38% Falta de distribuição ........................................................................................................... 50% Não acreditam que os consumidores comprarão on-line ........................................ 21% Não acreditam que vallha a pena ..................................................................... 33% Falta da tecnologia necessária .................................................................................................................... 15% Produto inadequado .......................................................................................................... 17% Falta de distribuição ................................................................................................................................................. 15% Não acreditam que os consumidores comprarão on-line ........ 17% Não acreditam que compense o investimento .......................................................................... 9% Impedimentos legais/regulamentares ............................................................ 9% Impedimentos legais/regulamentares ................................................................................................... 9% Outros ....................................................................................................................................................... 9% Outros .............................................................................................................................................................................................. 9% Fonte: 1999 Internet Shopping Study, da Ernst & Young. A Internet nos lembra cenas de gladiadores do filme Spartacus. Em vez de cristãos atirados aos leões, são as empresas que lutam entre si 108 Já na 84 Lumber, a maior empresa privada de varejo de materiais de construção dos Estados Unidos, com sede em Eighty Four, na Pensilvânia, essa influência é mais sutil. Embora não seja uma empresa de tecnologia, está pesquisando a Internet e tentando descobrir o que fazer com ela –e o que ela pode fazer pela empresa. Durante mais de 40 anos, as lojas da 84 Lumber atenderam pessoalmente seus clientes. Adeptos do “faça-você-mesmo” e empreiteiros de construção compram madeira e outros materiais de construção da empresa, cujo valor de mercado é de US$ 1,7 bilhão. Muitas vezes, esses clientes querem ver a mercadoria e fazer algumas perguntas antes de comprá-la. Sendo assim, a Internet influenciou porque deu às pessoas mais um meio de comunicação. “Ela nos aproximou de nossos clientes”, diz Nate Butler, diretor de marketing e operações pela Internet. Muitas vezes, o primeiro contato do cliente com a empresa pode ser um e-mail perguntando o endereço da loja ou se ela vende determinado produto. Um software especial é usado para localizar o cliente e enviar seu e-mail para a loja mais próxima. Entretanto, é impossível responder satisfatoriamente a todas as perguntas por e-mail, porque este não é um meio de comunicação interativo. Embora a Internet tenha fortalecido seu relacionamento com os clientes, a 84 Lumber teve de ser extremamente cuidadosa quando decidiu operar on-line. “Muitos de nossos clientes não têm acesso à última palavra em tecnologia e, portanto, embora pudéssemos criar um site mais interativo, não o fizemos porque não queremos excluí-los”, diz Butler. “Apenas 40% de nossos clientes têm computador, e isso foi levado em conta quando planejamos o que fazer na Internet.” À caça de barganhas Embora a Internet tenha permitido que empresas como a 84 Lumber se aproximassem de seus clientes, em alguns casos fez enfraquecer o vínculo com eles. Mais do que fidelidade, é o preço que agora rege o relacionamento entre comprador e vendedor. De acordo com o especialista Gary Hamel, presidente da Strategos, empresa de consultoria de Menlo Park, Califórnia, o modelo da Internet limita drasticamente, ou até elimina, o conceito de preço fixo. Equipados com ferramentas de busca e sites de comparação de preços, como o CompareNet, os consumidores têm maior autono- HSM Management 19 março-abril 2000 FATORES DE SUCESSO PARA A VENDA ON-LINE Fatores mais importantes numa escala de 1 a 3 1 – sem importância 2 – mais ou menos importante 3 – muito importante Varejistas Fabricantes Ter um site bem desenhado e fácil de navegar .............................. 2,97 ................ 2,94 Ter uma marca própria ..................................................................... 2,81 ................ 2,52 Vender produtos de marcas bem conhecidas ................................. 2,50 ................ 2,39 Estar associado a ferramentas de pesquisa, portais ou comunidades da Internet adequados ............................ 2,48 ................ 2,61 Fazer publicidade/promoção agressiva do site ............................... 2,45 ................ 2,42 Seguir rapidamente as tendências .................................................. 2,35 ................ 2,10 Ter uma forte liderança executiva ................................................... 2,29 ................ 2,03 Oferecer preços on-line mais competitivos ..................................... 2,10 ................ 1,77 Ter iniciativas pioneiras .................................................................... 1,87 ................ 2,26 Fonte: 1999 Internet Shopping Study, da Ernst & Young. 110 mia. Para eles, agora é fácil pesquisar preços e fazer uma análise que antigamente só estava ao alcance de grandes empresas e órgãos do governo. Para as vendas entre empresas, a Internet criou um novo fórum de comércio com os sites on-line, nos quais as empresas podem comprar e comercializar commodities, como o aço. Graças à Internet, o processo de tomada de preços para esse tipo de transação tornou-se muito mais fácil. Na arena do consumidor, entretanto, a Internet nos lembra as lutas de gladiadores que vimos no filme Spartacus. Em vez de cristãos sendo atirados aos leões, são as empresas que lutam o tempo todo para oferecer o menor preço. Em função disso, guerras de preços na Internet são constantes e, às vezes, mais acirradas do que no comércio varejista. Na verdade, a Internet lança o conceito de que o consumidor não precisa nem comprar o equipamento. Um exemplo disso é o site <Free-PC.com>, que oferece um PC e acesso gratuito à Internet, por dois anos, a quem responder a um questionário detalhado sobre seus interesses e hábitos de compra. É claro que isso tem um preço: é preciso ler anúncios de empresas especializadas ao navegar pela rede. Mesmo assim, os participantes estão recebendo um computador sem ter de desembolsar um tostão. Serviços como correio eletrônico, pagos por muitos usuários da Internet, também podem ser obtidos gratuitamente. A consequência disso é que os preços tendem a cair, e os produtos e serviços pelos quais os consumidores antigamente aceitavam pagar agora já não parecem valer a pena. É um problema e tanto, principalmente para as empresas revendedoras de serviço. Compradores que gostam de pechinchas gastam a sola dos sapatos nas lojas e esgotam a paciência dos vendedores para obter informações sobre os produtos. Todavia, uma vez decidida a compra, eles entram na Internet, onde podem obter o mesmo produto por preço menor. Talvez um dia os varejistas tenham de começar a cobrar pela assessoria técnica para continuar no mercado. A morte do intermediário A Internet também está mudando o modo de os fabricantes se relacionarem com os consumidores. Antes da Internet, os fabricantes dependiam dos intermediários –lojas de varejo, agentes de venda e distribuidores– para vender ao grande público. Agora, os fornecedores estão descobrindo que podem eliminar o intermediário e negociar diretamente com os consumidores. Às vezes, a empresa nem se interessa pela venda direta aos clientes. A Compaq Computer, por exemplo, não teve muita opção. A fabricante de microcomputadores de Houston, Texas, viu-se forçada a iniciar vendas diretas aos consumidores pela Internet quando algumas empresas concorrentes (Dell Computer, Gateway e IBM) começaram a fazê-lo com bastante sucesso. Só que, ao permitir a venda de seus micros na Internet, a empresa ficou em apuros com seus distribuidores não-virtuais e foi forçada a suspender as vendas online enquanto procura uma solução que agrade a gregos e troianos. Infelizmente para a Compaq, seu negócio foi alicerçado na distribuição indireta e os revendedores de micros não acharam a menor graça quando a empresa iniciou suas vendas na Net. Já a Dell e a Gateway começaram suas atividades vendendo por telefone, de modo que a transição para a Muitas vezes a Internet cria parcerias inusitadas, que surgem porque a rede elimina todos os limites e fronteiras geográficas. Tamanhos não importam HSM Management 19 março-abril 2000 Internet não causou grandes problemas. A Compaq acabou tendo de fazer o mesmo para não ficar para trás, mas sua opção pela Internet estava fadada a criar problemas com seus revendedores. Alguns especialistas acreditam que agora a batalha das vendas aos consumidores ocorrerá em torno da distribuição. “Os atritos com os canais de distribuição são o grande problema atual”, diz Cynthia Hollen, presidente e co-fundadora da Knowledge Strategies, empresa de consultoria de Nova York de estratégias para Internet. Muitas companhias ainda não encontraram uma solução satisfatória para esse conflito. De acordo com o 1999 Internet Shopping Study, 67% dos varejistas entrevistados evitam fazer vendas pela rede porque, se o fizessem, criariam problemas com suas lojas concretas. Outros, ao lançar seus sites de comércio eletrônico, convertem-se em seus próprios concorrentes. “A Internet é o lugar ideal para compra e venda de ações”, diz Barry Parr, diretor do programa de pesquisa de estratégias de Internet e comércio eletrônico da International Data. “Corretoras da Bolsa como a Charles Schwab, por exemplo, estão instalando filiais on-line para competir com outras corretoras que operam on-line, mas com isso reduzem as vendas de seus corretores de carne e osso”, acrescenta Parr. Encontro de interesses Assim como a Internet reduziu o uso de canais de vendas indiretas para consumidores, também mudou a maneira de as empresas Equipados com ferramentas de busca e sites de comparação, os consumidores têm maior autonomia e podem fazer pesquisa de preços negociarem entre si. “No âmbito empresa–empresa, um dos maiores impactos da Internet está na forma como os fornecedores trabalham com os compradores”, diz Sanderson, da Bain & Company. As redes de comércio on-line permitem a compradores e vendedores formar grupos e trocar mercadorias e serviços, nas mais diversas áreas. Em um número cada vez maior de setores, sites como os da Paper Exchange, da Chemdex e da MetalSite permitem que compradores e vendedores negociem on-line. Um recém-chegado a esse campo é o e-STEEL –<www.e-steel.com>–, site que entrou no ar em 1999. De acordo com Chris Hanan, diretor de desenvolvimento de negócios, o e-STEEL simplifica o processo de compra de aço, que em geral é demorado e caro. Em vez de passar horas falando ao telefone ou trocando fax, os compradores simplesmente listam suas necessidades. A seguir, os fornecedores atendem as especificações ou pedem mais esclarecimentos. Esse tipo de negociação independe do fuso horário e permite que os compradores obtenham o preço mais baixo. A inscrição no e-STEEL é gratuita, porque é cobrada uma taxa para cada transação concluída com sucesso. Surge, porém, uma pergunta: quantas zonas comerciais pode ter um setor? O mesmo problema que esses intercâmbios estão tentando resolver –ter de concluir cada transação individualmente– poderá surgir de novo. O e-STEEL, por exemplo, concorre com o MetalSite. Um fabricante de aço pode colocar sua mercadoria à venda e receber consultas nos dois sites ou deve concentrar-se em um só? E se aparecerem outros sites concorrentes? Provavelmente os negociantes do setor de aço descobrirão que os benefícios das negociações on-line são menores se tiverem de participar de diferentes intercâmbios para que todos os possíveis fornecedores tenham acesso ao pedido de cotação. Sem dúvida alguma, no futuro, as forças de marketing terminarão promovendo a consolidação de uma HSM Management 19 março-abril 2000 ➙ 111 única zona de comércio por setor, o que faz mais sentido. Parceiros inusitados 112 Muitas vezes a Internet cria parcerias inusitadas, que surgem porque a rede elimina todos os limites e fronteiras geográficas. É relativamente fácil duas empresas estabelecerem uma parceria, independentemente de sua localização, usando a Internet para se comunicar. E não importa quem é maior ou menor –afinal, não é simples descobrir o tamanho de uma empresa por seu site. Outra vantagem: a comunicação entre as empresas é muito mais fácil. Ao visitar o site de uma empresa, o administrador pode ter uma idéia de parceria e enviar um e-mail. Começar uma parceria dessa forma exige um investimento menor e, ao mesmo tempo, poderá gerar grandes benefícios. Em resultado dessas parcerias, as empresas estão mudando a maneira de comercializar seus produtos. Embora a Internet seja um mercado para o grande público –ou seja, milhões de pessoas têm acesso a ela–, o marketing mais objetivo torna-se realidade. Por exemplo, a Internet aumenta as possibilidades de marketing de rede, inicialmente realizado por empresas de vendas porta-a-porta, como a Tupperware e a Amway, que usam distribuidores independentes para vender produtos a amigos e familiares. Outro cenário possível: uma empresa poderia usar a Internet para vender diretamente aos funcionários da Anheuser-Busch, contando, para tanto, com sua ajuda. Com permissão da Anheuser-Busch, a empresa poderia colocar seus artigos na intranet exclusiva dos empregados, estes poderiam obter descontos para grupos e a Anheuser-Busch receberia alguma forma de remuneração, como, por exemplo, uma porcentagem das vendas brutas a título de “comissão” por permitir a venda. Na categoria de parceiros inusitados, “a Internet está transformando alguns concorrentes em ‘coleguinhas’”, diz Joe Weiss, professor de administração do Bentley College, de Waltham, Massachusetts. Por exemplo, um comerciante de vinhos do CentroOeste vende vinhos on-line e usa uma rede de lojas de bebidas alcoólicas para colocar seus pedidos. Ainda que essas lojas sejam, de certa forma, concorrentes, na Internet elas colaboram entre si. “Não há nenhuma dúvida de que a Internet aumenta a concorrência, mas ela também expande mercados”, diz Weiss. “As empresas têm, agora, um lago maior para pescar.” Negócios com base na Internet A maioria das empresas deve adaptar seus modelos de negócio à Internet. A American Greetings, fabricante de cartões para ocasiões POR QUE OS CONSUMIDORES COMPRAM ON-LINE? Economia/preços mais baixos ....................... 75% Mais conveniente/menos deslocamento ............................................................. 50% Mais opções/variedades .................................... 48% Mais divertido do que a compra convencional ............................................................... 29% Fonte: 1999 Internet Shopping Study, da Ernst & Young. especiais, de Cleveland, Ohio, vende seus cartões por unidade em lojas convencionais. Porém, segundo Bill Van Cleave, diretor de marketing da divisão de marketing eletrônico, a venda individual de cartões não funcionou na Internet. Os consumidores não queriam correr o risco de informar o número de seu cartão de crédito para comprar um cartão eletrônico de US$ 1,90. Portanto, a American Greetings repensou seu negócio e ofereceu aos clientes um serviço de assinaturas, em vez de limitar-se a vender o artigo. Os clientes pagam US$ 19,95 para ter acesso a um número ilimitado de cartões eletrônicos por seis meses. “Esse novo modelo de negócio triplicou as vendas da empresa”, diz Van Cleave. Fazer negócios na Internet também significa rever constantemente o que e como vender. Para manter e aumentar o número de inscritos, a American Greetings ampliou a oferta de cartões. Isso é fácil, porque ela não precisa manter estoque de cartões eletrônicos, como seria necessário para cartões e envelopes de papel. A pesquisa de mercado da empresa demonstrou também que os consumidores gostam de mandar cartões eletrônicos para se comunicar com os amigos e de ter uma gama variada de opções. Assim, diz Van Cleave, cartões para datas praticamente desconhecidas, como o Dia Nacional do Abraço, são uma grande fonte de receita para a American Greetings –mas somente on-line. A Internet está fazendo com que empresas como a American Greetings comecem a se fazer uma pergunta básica: em que negócio estamos? Porque a American Greetings já não está apenas no negócio de cartões eletrônicos, argumenta Van Cleave. Depois de tornar-se especialista na criação de cartões eletrônicos e dos anúncios necessários para promovê-los na Internet, a empresa ingressou no mercado de animação na rede e planeja agora vender seus serviços a empresas que utilizam promoções on-line, incluindo os anúncios do tipo banner. Cenário eletrônico Embora a Internet não tenha reinventado todos os negócios, seu impacto é sentido nas grandes empresas, estejam ou não ligadas à tecnologia. “Eu não creio que os varejistas desapareçam por causa da Internet, mas também não podemos subestimar seu impacto”, resume Van Cleave. “A Internet representa outro meio de compra e está mudando a maneira como as empresas operam.” A compreensão desse fato promoverá a união das “duas cidades” –a real e a virtual– em um único município, para benefício de todas as empresas, inclusive as pouco conhecidas. ◆ HSM Management 19 março-abril 2000 © Fast Company