X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação - SEPesq
Centro Universitário Ritter dos Reis
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: O JARGÃO MILITAR NO COLÉGIO
MILITAR DE PORTO ALEGRE
Elisabeth Sumbercki Weiss
Especialista em Língua Inglesa Avançada
UniRitter - Laureate International Universities
[email protected]
Resumo: O objetivo deste trabalho é refletir como são inseridas as variedades
linguísticas dos alunos do Sistema Colégio Militar do Brasil. O Sistema Colégio Militar
do Brasil (SCMB) é formado por 12 Colégios Militares, situados nos estados de
Brasília, Mato Grosso do Sul, Paraná, Ceará, Minas Gerais, Amazonas, Rio Grande do
Sul, Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco. O SCMB oferece o ensino fundamental (do
6º ao 9º ano) e o ensino médio para mais de 15 mil alunos. As práticas didáticopedagógicas nos Colégios Militares são realizadas em consonância com a legislação
federal de educação e obedecem às leis e aos regulamentos em vigor no Exército, em
especial às normas e diretrizes do Departamento de Ensino e Cultura do Exército
Brasileiro, órgão gestor da linha de ensino do Exército. A variação linguística usada na
comunidade militar, bem como a tentativa de se estabelecê-la como a mais adequada a
ser utilizada na comunicação oral nos colégios militares, é o foco do Exército Brasileiro
na tentativa de inserir o aluno nesse novo ambiente. Para essa reflexão, o trabalho
apoia-se em concepções de identidade de Hall (2005) e os estudos de variação
linguística de Labov (1972).
Introdução
Estamos inseridos em uma sociedade dinâmica, a qual se transforma
com o passar do tempo e acaba transformando o modo pelo qual as pessoas
estabelecem seus relacionamentos interpessoais. Um bom exemplo de tais
mudanças é a linguagem dos internautas, muito usada pelos nossos alunos.
Em meio a tantas abreviações e neologismos, esse tipo de linguagem termina
por criar um universo específico, no qual somente os interlocutores são
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capazes de decifrar o vocabulário por eles utilizado. Nesse artigo abordarei o
neologismo militar usados nas escolas e organizações militares.
Este artigo tem por objetivo focalizar no processo inicial de exposição
dos alunos do 6º ano do Ensino Fundamental do Colégio Militar de Porto
Alegre a uma linguagem adotada pelo Sistema Colégio Militar (SCMB): a
linguagem militar. A motivação desse estudo foi a dificuldade dos alunos novos
com o uso dessa nova linguagem, e os meios utilizados pelos militares para a
aquisição dessa variação linguística pelo aluno. Como formulação do problema,
tem-se a seguinte questão: qual a necessidade de padronizar uma variedade
linguística nos colégios militares? Nessa reflexão mostrarei uma abordagem
feita pelos monitores do 6º ano durante a semana zero onde esses militares
valorizam a variação linguística como identidade dos alunos dos colégios
militares.
As concepções de identidade de Hall (2005) e os estudos de variação
linguística de Labov (1972) servirão de base teórica para o presente trabalho.
Num primeiro momento será apresentada a biografia do linguista americano
William Labov e também sua teoria de variação linguística. Depois é feita uma
breve explicação sobre o linguajar militar, o sistema colégio militar e após, uma
abordagem da “semana zero” e suas peculiaridades, iniciada antes do ano
letivo normal.
Variação Linguística
A variação linguística é um fenômeno que acontece com a língua e pode
ser compreendida através das variações históricas e regionais. Em nosso país,
por exemplo, o português como língua oficial sofre diversas alterações feitas
por seus falantes. Como não é um sistema fechado e imutável, a Língua
Portuguesa ganha diferentes nuances. O português que é falado no Nordeste
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do Brasil pode ser diferente do português falado no Sul do país. Claro que um
idioma nos une, mas as variações podem, segundo Labov (1972), ser
consideráveis e justificadas de acordo com a comunidade na qual se manifesta.
Partindo da premissa de que a mutabilidade e a variabilidade são
características básicas de qualquer língua natural, a sociolinguística tem como
principal objetivo a compreensão de como as mudanças se dão nos sistemas
linguísticos e de como essas mudanças podem ser relacionadas a processos
variáveis sincrônicos nos quais fatores linguísticos e sociais estão estritamente
interligados (LABOV, 1972).
A sociolinguística de Labov procura estabelecer as fronteiras entre os
diferentes falantes de uma língua. O pesquisador verifica se os falantes
apresentam diferenças nos seus modos de falar de acordo com o lugar em que
estão (variação diatópica), com a situação de fala ou registro (variação
diafásica) ou de acordo com o nível socioeconômico do falante (variação
diastrática).
O linguajar militar
Os processos de mudanças que ocorrem na comunidade de fala,
segundo Labov (1971), são primordiais na Sociolinguística. Comunidade de
fala para o modelo teórico-metodológico não é entendida como um grupo de
pessoas que falam exatamente da mesma maneira, mas que compartilham
traços linguísticos que distinguem seu grupo de outros; comunicam
relativamente mais entre si do que com os outros e, principalmente
compartilham normas e atitudes diante do uso da linguagem. (LABOV, 1972).
Nesse neologismo podemos citar a linguagem usada pelas Forças Armadas no
Brasil, onde os traços linguísticos usados na Marinha, Exército e Aeronáutica
são exatamente o mesmo em qualquer região do país.
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Na relação abaixo estão alguns termos e jargões militares mais usados
pelos militares nos quartéis e OMs (organizações militares) do país segundo o
site oficial do Exército Brasileiro.
Acochambrar = relaxar, vagabundear
Bizonho = inexperiente, burro
Bizu = dica
Ir na rota = seguir destino
Carcaça = porte físico
Embuste = gabar-se
Escamotear = fugir de responsabilidades
Laranjeira = quem vive dentro do quartel, quem mora no quartel
Mocorongo = não sabe dar palpites, bizonho
Mulambo = mal feito, mal vestido
Paisano = civil, que não é militar
Peruar = (verbo) pedir, ver se consegue algum favor
Safo = militar bom no que faz, experiente
Torar = dormir
Ultima forma = esqueça o que eu disse
Zaralho = bagunça
Zero um = primeiro colocado, melhor da turma
Ler o celotex = verificar avisos no quadro mural.
Pegar uma Vermelha = estar de serviço sábado ou domingo, ou nos feriados
Pegar uma Preta = estar de serviço qualquer dia da semana, de segunda à
sexta
Cobertura = boina, quepe ou capacete
Catanho = lanche em um saco plástico constituído de um pão, mariola e uma
laranja ou banana
Bivaque = acampar sem barracas, somente com a capa de chuva.
Gandola = blusa de tecido mais grosso que se usa por cima da camisa
camuflada
Dar golpe = burlar um regulamento
Voador = aquele militar que está sempre sumindo pelo quartel pra não
receber missão
Desunido = aquele que não se preocupa com o bem da tropa e sim com o
próprio bem
Acochambrão = militar que sempre arranja alguma desculpa pra não
trabalhar ou que sempre descansa na hora de ralar
Aloprar = tocar o horror
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Rolha = missão fácil
Rancho = refeitório
Suco de Amarelo/de Vermelho = suco servido no rancho
Suco de Gandola = suco servido no rancho
Picafumo = mais moderno, recém-formado.
Alvorada = usada no sentido de começar o dia, ou horário em que os
militares levantam da cama. Toque de Alvorada.
Dar o Pronto = após terminar uma missão, reportar ao superior que a missão
foi cumprida.
Em alguns lugares essas relações de expressões são colocadas em
celotex1 situados nos corredores da escola, mas são pouco notados pelos
alunos.
Sistema Colégio Militar do Brasil
O Sistema Colégio Militar do Brasil (SCMB) é formado por 12 Colégios
Militares, que oferecem o ensino fundamental (do 6º ao 9º ano) e o ensino
médio. Fazem parte do SCMB os seguintes colégios: Colégio Militar de
Brasília, Colégio Militar de Campo Grande, Colégio Militar de Curitiba, Colégio
Militar de Fortaleza, Colégio Militar de Juiz de Fora, Colégio Militar de Manaus,
Colégio Militar de Porto Alegre, Colégio Militar de Salvador, Colégio Militar de
Santa Maria, Colégio Militar de Belo Horizonte, Colégio Militar de Rio de
Janeiro e Colégio Militar de Recife.
Esses estabelecimentos de ensino propiciam educação de alta qualidade
a aproximadamente 15 mil jovens. As práticas didático-pedagógicas nos
Colégios Militares subordinam-se às normas e às prescrições do Sistema de
Ensino do Exército e, ao mesmo tempo, obedecem à Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDBEN), principal referência que estabelece os
princípios e as finalidades da educação no País.
1
Celotex = quadro de avisos.
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Os Colégios Militares realizam anualmente um concurso público de
admissão para o preenchimento de vagas do 6º ano do Ensino Fundamental e
do 1º ano do Ensino Médio. Para ingressar no SCM, o candidato realizará um
exame intelectual de matemática (prova objetiva) e, se aprovado, um exame
intelectual de Língua Portuguesa (prova objetiva e redação). Se classificado
dentro do número de vagas oferecidas, será convocado para revisão médica.
Outra maneira de ingresso no SCM é por amparo. Especificado em
regulamento, destina-se a atender os dependentes de militares, que sofrem os
reflexos das obrigações profissionais dos pais em razão das peculiaridades da
carreira, as transferências. Com isso cada colégio possui a mesma grade
curricular, possibilitando assim um ensino único entre as escolas, e facilitando
em caso de troca de colégio, em qualquer época do ano.
O Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) foi criado pelo Decreto nº
9.397, de 28 de fevereiro de 1912. Seu aniversário é comemorado em 22 de
março, data em que houve a primeira aula.
Semana Zero
A movimentação do militar ou transferência é o ato administrativo que se
realiza para atender à necessidade do serviço e tem por finalidade principal
assegurar a presença, nas Organizações Militares (OM), do efetivo necessário
à sua eficiência operacional e administrativa. Estando sujeito a ser transferido
em decorrência dos deveres e das obrigações, o militar pode servir em
qualquer parte do país ou no exterior, e geralmente, leva junto sua família.
Logo, os filhos podem estudar no Colégio Militar da região transferida.
Visando atender ao ensino assistencial para os dependentes de militares
do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, o SCMB tenta padronizar a
linguagem militar. A problemática nesse artigo não está relacionada com os
filhos de militares, que acabam se familiarizando com essa linguagem desde
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pequenos, e sim com os filhos de civis que, na maioria das vezes, nunca
usaram ou tiveram conhecimento dessa variação lexical.
Porém, qual a necessidade de padronizar uma variedade linguística nos
Colégios Militares? Com a mesma grade curricular, o SCMB possibilita um
ensino único entre as escolas, e facilita a adaptação do aluno quando chega
num novo Colégio Militar.
Entretanto, para os alunos que são filhos de civis, conhecidos como
concursados, essa adaptação é mais demorada e penosa, tendo em vista a
grande diferença da linguagem militar encontrada na nova escola.
Mudar de escola não é simples, pois não envolve apenas a troca de
endereço
ou
de
professores.
Mudar
implica
no
enfrentamento
do
desconhecido, no temor de não conseguir dar conta das exigências dessa nova
escola, no receio de ser rejeitado pelos colegas e de não conseguir fazer
justiça ao esforço dos pais, que sonhavam com seu filho vestindo a farda do
Colégio Militar.
A aluna Luiza, do 6º ano do corrente ano letivo, relatou, durante um
almoço no rancho do colégio a pressão que ela sofreu dos pais e da família
para que fosse aprovada no concurso.
Eu estudava muito no cursinho preparatório, e quando chegava em
casa minha mãe falava que eu tinha que passar. Nos finais de
semana a família toda já falava em mim de farda. Eu gostava, mas
ficava com medo de não passar e deixar minha mãe braba comigo.
Depois na semana zero eu chorava, porque não entendia nada o que
a sargento falava. Eu pedia pra Carla me ajudar com os nomes. Ela é
2
filha de um sargento, já sabe essas coisas né. (Luiza, 11 anos).
Esse relato atesta a dificuldade encontrada com o contato, com o
linguajar militar pelos alunos concursados. Para a Diretoria de Ensino
Preparatório e Assistencial (DEPA), a identidade é uma construção que se faz
2
Os nomes dos alunos foram alterados com a finalidade de proteger suas identidades.
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com atributos culturais, pois ela se caracteriza pelo conjunto de elementos
culturais adquiridos pelo indivíduo através da herança cultural. A identidade
confere diferenças aos grupos humanos. Ela se evidencia em termos da
consciência da diferença e do contraste do outro. Com isso, uma das nossas
missões como professores e monitores é inserir esse aluno novo em uma nova
realidade e fazer com que esse ele possa se integrar ao novo grupo de colegas
inseridos nessa linguagem militar.
A semana zero é uma semana atípica no CMPA. Ela começa, como o
próprio nome diz, uma semana antes do ano letivo normal, e é direcionada
apenas para os alunos novos, sejam concursados ou filhos de militar
transferidos. Essa adaptação é feita apenas no turno da manhã.
Já no primeiro dia os alunos se apresentam de calça jeans e camiseta
branca, padronizando o efetivo e já demonstrando o uso do uniforme, já que os
alunos concursados só poderão usar a farda um mês depois. Os alunos são
divididos em grupos de 12, e em cada pelotão (sinônimo de grupo) há um
monitor. Esse monitor é um sargento ou uma sargento que tem por missão o
primeiro contato com a postura, linguagem e disciplina militar. Em cinco dias
esses monitores terão que demonstrar e treinar a ordem unida com os alunos,
treinar apresentação de turma, como fazer e para quem prestar a continência,
etc. Os alunos terão ainda que decorar a canção do colégio e o hino nacional,
reconhecer os militares pelo uniforme, aprender a hierarquia militar, fazer um
tour pelo colégio, ter uma breve noção de patriotismo, aprender a hastear a
bandeira entre outras atividades. Essa demanda de novas atividades
adicionada pelo nervosismo do primeiro dia de aula faz com que vários alunos
tenham que enfrentar uma angústia, relatada no consultório médico do colégio.
Essas angústias são típicas desse momento de recomeço, mas que podem e
devem ser apaziguadas.
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Ao mesmo tempo em que os alunos sentem vontade de frequentar a
nova escola, têm curiosidade sobre os professores e sobre as avaliações, além
do interesse de se integrar ao grupo de colegas. Os sentimentos são muito
ambivalentes. A principal reclamação é com o linguajar militar, já que, segundo
os alunos novos, é “impossível de gravar na memória todas as palavras”.
Na sociolinguística de Labov (1972, 1994, 2001), o contexto social é
anterior à fala, aos enunciados; é global e duradouro e, como conjunto de
condições sociais e históricas, funciona como sistema de referência explicativo
dos usos individuais da linguagem. Assim sendo, coletividades como classes
sociais, comunidades, redes sociais, bem como características coletivas dos
agentes (sexo, idade, profissão, escolaridade) são unidades de análise
relevantes. Há uma afirmação a esse respeito, quando os autores citados
resumem o problema do encaixamento para uma teoria da variação e mudança
linguística:
Na explicação da mudança linguística é possível alegar que os
fatores sociais pesam sobre o sistema linguístico como um todo [...]
Assim, a tarefa do linguista não é tanto demonstrar a motivação social
de uma mudança quanto determinar o grau de correlação social que
existe e mostrar como ela pesa sobre o sistema linguístico abstrato.
(WEINREICH, LABOV e HERZOG, 1968 [2006], p.123)
Segundo a teoria laboviana, apesar de o indivíduo ser tradicionalmente
visto como ponto de articulação entre dados linguísticos e categorias sociais,
Labov (1972) reconhece que, para explicar certos fenômenos da mudança,
torna-se necessário não apenas identificar o sujeito, mas conhecê-lo, conhecer
sua história, suas redes de relações, etc. E esse conhecimento do sujeito é
feito no primeiro dia da semana zero. Usando uma dinâmica lúdica os
monitores fazem a apresentação dos alunos e cada um escolhe o seu “nome
de guerra”, o nome que irá ser reconhecido pelos próximos 7 anos, durante sua
passagem pelo CMPA, sua nova identidade, agora militar.
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Sobre o indivíduo no processo de mudança linguística, Labov (1972)
localiza a importância do papel da identidade/identificação de um certo grupo.
Labov (1972), em suas pesquisas sobre variação na ilha de Martha’s Vineyard,
salientou que o intuito dos nativos de marcarem suas identidades, frente à
invasão turística, intensificou certos usos linguísticos; já nos estudos de
variação na Philadelphia (2001), Labov buscou identificar os líderes da
mudança linguística em certa comunidade.
Sobre as variações linguísticas nos indivíduos, segundo Labov (2003),
essas seriam condicionadas pelos seguintes fatores: (a) as relações entre os
interlocutores, particularmente as relações de poder e solidariedade entre eles;
(b) o contexto social mais amplo – escola, trabalho, vizinhança; e (c) o tópico.
As atitudes implícitas ou explícitas e as palavras do monitor podem
inferir intensamente na concepção do “eu” de cada aluno, como também
podem influenciar todos os membros que compõem a sala de aula a terem a
mesma percepção. Por isso foi feita a semana zero, que nada mais é que um
cuidado especial com esses alunos novos e suas angústias. Uma boa ajuda
seria um manual específico dessa nova linguagem aos alunos e pais, ou um
capítulo explicando esse corpus dentro do manual existente, já que esse
indivíduo irá reproduzir em casa a nova linguagem até o final de sua estada no
Colégio Militar. O SCMB possui o manual do aluno, onde constam os tipos de
uniforme, canções militares, modelos de corte de cabelo para os meninos e os
tipos de penteados aceitos para as meninas.
Como ex-aluna do CMPA, nunca vivi esse problema com o linguajar
militar. Sendo filha de militar essa linguagem sempre foi natural desde muito
cedo. Por diversas vezes eu e meu irmão ajudamos nossos colegas no colégio,
mas só agora dei a devida importância às dificuldades que nossos colgas
encontravam quando nos pediam ajuda. Durante cinco anos como professora
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do Colégio Militar de Porto Alegre, pude vivenciar junto com meus alunos essa
dificuldade linguística. A ideia de ajudar os alunos me fez pensar num manual
com expressões miliares, a fim de ser inserido no manual do aluno, se
aprovado pelo comando do Colégio Militar. Esse manual poderia ser
disponibilizado aos pais no ato de matrícula, assim como é feito com o manual
do aluno. O primeiro passo seria a formulação do corpus, focados na
linguagem que usamos regularmente, já que o linguajar militar é muito vasto.
A ideia seria divulgar esse material aos 12 colégios do sistema, pois
durante o ano o número de transferências de nossos alunos é grande, e com
isso o processo de “não pertencimento do aluno” em relação à linguagem
ficaria mais brando.
Considerações finais
Enfrentar os medos e fazer novas amizades são atitudes presentes na
rotina de muitos estudantes que precisam encarar a mudança de colégio. O
contexto escolar pode contribuir, de modo significativo, na busca constante
pela identidade dos alunos. A educação está intrinsicamente relacionada à
identidade de quem aprende, pois só se dispõe a construir e obter um
aprendizado alguém que se dispõe a construir a sua identidade. A identidade
do homem só é formada quando ele se envolve em seu meio social, se
realmente se insere no mundo da linguagem, da interlocução.
Uma pesquisa feita pelo Comando do Exército em 2012 mostrou que
apenas 72% dos militares que servem em quartel de tropa ou QG (Quartel
General) disseram que tem que explicar algumas palavras por não serem
compreendidos aos “civis”, familiares ou pessoas conhecidas. Porém, não se
sabe nada estatisticamente sobre os militares que servem em colégios
militares, mas tendo em vista que a linguagem usada é a mesma, esse número
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poderia ser semelhante se fossemos entrevistados. Tentar homogeneizar entre
os alunos uma variante como única nas relações de comunicação, seja em sala
de aula, seja no convívio da caserna, só irá facilitar o entendimento inicial entre
esses alunos novos e seus professores e monitores, evitando assim a tão
temida angústia dos calouros.
Referências
LABOV, William (1972). Sociolinguistic Patterns. Philadelphia: University of
Pennsylvania Press. [Padrões Sociolinguísticos. Trad.: Marcos Bagno; Marta
Scherre e Caroline Cardoso. São Paulo: Parábola, 2008].
_____. 2003. Some sociolinguistic principles. In: C. B. PAULSTON & G. R.
TUCKER (eds.). Sociolinguistics: the essencial readings. Oxford: Blackwell.
OLIVEIRA, Ivone Martins. Preconceito e autoconceito: Identidade e interação
na sala de aula. 6 ed. Campinas/SP: Papirus, 1994.
EXÉRCITO
BRASILEIRO.
Disponível
em:
<http://www.eb.mil.br/web/ingresso/colegios-militares> Acesso em 17, jun 2014.
MARRA,
Daniel.
ORIGEM
E
DESENVOLVIMENTO
DAS
IDÉIAS
LINGÜÍSTICAS DE
WILLIAM
LABOV.
Disponível
em:
http://imago.letras.ufg.br/uploads/156/original_Disserta____o_Daniel_Marra.pdf
WEINRIECH, Uriel; LABOV, William; HERZOG, Marvin I. Fundamentos
empíricos para uma teoria da mudança linguística. São Paulo: Parábola
Editorial, 1968[2006].
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