ESTADO DE MINAS - TERÇA-FEIRA, 19 DE AGOSTO DE 2003
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POLÍTICA
❚ EM MINAS
PRESIDENTE DA REPÚBLICA ADMITE ALTERAÇÕES NO PROJETO DO GOVERNO, MAS AVISA QUE A REDUÇÃO DA CARGA DE IMPOSTOS PARA O SETOR
PRODUTIVO E EXPORTAÇÕES É PONTO “INTOCÁVEL”. MUDANÇAS NÃO RESOLVERÃO PROBLEMAS FINANCEIROS DE ESTADOS E MUNICÍPIOS, ADVERTIU
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Lula cede na reforma tributária
EXEMPLO
Em Pouso Alegre, citando o
exemplo do mineiro Aécio Neves, Lula pediu aos 27 governadores que permaneçam unidos,
com o objetivo de viabilizar o de-
Anderson Adauto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Aécio Neves, acompanhados por Nilmário Miranda, chegam ao canteiro de obras
senvolvimento do País. As preocupações com as eleições municipais e presidenciais têm de ficar em segundo plano. “Aécio
pode pertencer a qualquer partido. Aliás, temos de nos relacionar muito, sem nos preocuparmos com 2004 e 2006, porque
estamos sendo convocados a
pensar menos na gente e muito
mais na sociedade”, disse Lula.
Identificando-se como um
“peão” que chegou à Presidên-
cia da República, Lula afirmou
que só foi eleito porque o Brasil
chegou ao fim do túnel. “O País
chegou ao fundo de um poço
tão grande que o povo resolveu
colocar um peão”, afirmou o
presidente, que prometeu
“competência”. Lula pediu
apoio ao plano plurianual, que
será enviado ao Congresso.
Convocou governadores a serem “cúmplices” nas “coisas
boas” que pretende fazer.
AMABILIDADES
O governador Aécio Neves e o presidente Lula trocaram
amabilidades ontem, apesar das divergências sobre a reforma tributária. “Não é justa e não é correta a leitura que alguns segmentos costumam fazer da posição que os governadores de Estado estão defendendo na discussão da reforma
tributária. Estamos sendo parceiros e continuaremos a ser
até o final", disse Aécio. Ele afirmou ainda que não é de
"responsabilidade" de Lula, mas de "todos nós", a crise financeira dos estados e municípios. Lula fez agrados ao governador. Prometeu “dar um jeito” no metrô de Belo Horizonte, cujas obras, segundo ele, estão mais avançadas do
que as de Recife, Fortaleza e Salvador.
Embora tenha reiterado
apoio ao presidente Lula, o governador Aécio Neves (PSDB)
cobrou mudanças na proposta
de reforma tributária. Pediu
“uma Federação mais justa e
mais equilibrada”. Aécio defendeu a partilha da Contribuição
Provisória sobre Movimentação
Financeira (CPMF) e da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) entre
União, estados e municípios.
Afirmou que os governadores querem regras tributárias
que possibilitem o crescimento
e o desenvolvimento do País.
“Como conseqüência disso, o
País terá, no final, mais empregos e distribuição de renda
mais justa para todos os brasileiros”, discursou Aécio Neves.
“Somos o instrumento para, a
partir da reforma tributária,
construir uma equação mais
justa de distribuição de renda
e, sobretudo, de governabilidade”, completou.
Aécio Neves afirmou que o
espírito de parceria entre os
governadores e o presidente
Lula permitiu “avanços” na reforma da Previdência. Mesmo
destacando que a proposta
previdenciária não foi a que todos sonhavam, destacou que
ela “permitirá o equilíbrio
atuarial, fundamental para termos uma Previdência que se
perpetue no tempo”.
O governador reiterou que
diferenças partidárias e ideológicas não têm “a menor relevância” diante da discussão
das reformas e dos desafios colocados. “Acredito que caberá
a Vossa Excelência, com a
grandeza da formação de seu
caráter e na autoridade política e moral que construiu ao
longo da sua vida, conduzir
também esse processo para
que, no final, tenhamos uma
Federação mais justa e mais
equilibrada”, disse o governador a Lula.
Presidente condena governantes anteriores
acessos ficarão para 2004.
No total, o governo federal
investirá R$ 240 milhões no
Ao oficializar, em Pouso Ale- projeto, até o final do ano que
gre, no Sul de Minas, a retoma- vem. Desse montante, R$ 110
da dos serviços de duplicação milhões serão aplicados até
da rodovia Fernão Dias, o pre- dezembro. Os recursos para
sidente Luiz Inácio Lula da Sil- este ano, de acordo com o miva criticou a existência de obras nistro, já estão assegurados.
inacabadas no País. “Vira e me- Ele garantiu que não há possixe, você tem, numa pequena ci- bilidade de a obra sofrer nova
dade, um hospital que não esta- interrupção.
va funcionando, mas o prefeito,
Anderson Adauto anunciou
o presidente da República ou o
que o Ministégovernador corio
dos
meçam a fazer
Tranportes
outro, apenas
publica hoje
com o objetivo
editais de liciO presidente Lula chegou a
de deixar a sua
para
Pouso Alegre com duas horas tação
marca.
Ende atraso. Tanto na visita ao contratação
quanto a clascanteiro de obras da BR-381 das empreise política penquanto na solenidade do Clu- teiras que resar pequeno –
cuperarão sebe Fernão Dias, foi muito
e age dessa
te mil quilôaplaudido pelos populares.
forma porque
metros de roDeu autógrafos, recebeu
não age com o
dovias fedecumprimentos e bilhetes. No
dinheiro do
rais em todo
final da visita a Pouso Alebolso –, o País
o País. Do togre, o presidente tirou fotovai ficando patal, 2,5 mil
grafias com admiradores,
ra trás”, disse
quilômetros
antes de embarcar no helio presidente.
estão em Micóptero da Força Aérea BraLula consinas.
sileira (FAB) que o levou padera prioridaLula explides de seu gocou que deverno a conclusão das obras morou a anunciar a retomada
nas rodovias Fernão Dias e das obras porque queria ter a
Régis Bitencourt, que liga Cu- certeza de que elas não seriam
ritiba a São Paulo. A duplica- interrompidas devido a probleção da Fernão Dias foi inicia- mas de caixa. “Não tem nada
da há dez anos. O término de- mais prejudicial a um estado, a
pende de um trecho de apenas uma cidade, que obras que co35 quilômetros, no Sul de Mi- meçam e nunca terminam”, exnas, cuja pista de rolamento plicou o presidente.
deve ser concluída até o final
Ele considera a duplicação
do ano, de acordo com o mi- da Fernão Dias uma obra imnistro dos Transportes, Ander- portante por duas razões báson Adauto. Obras-de-arte e sicas. A primeira é de nature-
MARCELO FREITAS
De Pouso Alegre
APLAUSOS
CYAN
MAGENTA
MARCELLO JR./ABR
RECOMEÇO
Canteiro de obras da Fernão Dias, onde Lula anunciou a retomada dos serviços de duplicação da rodovia
za econômica: o fortalecimento da economia de Minas e
São Paulo. A segunda é a segurança. O presidente lembrou que, quando jovem, sofreu acidente na Fernão Dias.
“A Brasília capotou. Sorte que
não vinha nenhum caminhão,
pois ela ficou com os quatro
pneuzinhos para cima”. O presidente citou também o recente acidente, no qual se feriu o
bispo dom Mauro Morelli, cujo
AMARELO
PRETO
carro chocou-se com a murada
de uma ponte em trecho nãosinalizado da obra. Para o governador Aécio Neves, a Fernão Dias é a mais importante
rodovia de integração entre o
Nordeste e o Sul do País.
METRÔ
Como outro exemplo da falta de planejamento na realização de obras por parte do governo federal, Lula apontou a
existência, no País, de quatro
metrôs inacabados, em Belo
Horizonte, Salvador, Recife e
Fortaleza. Disse que, em vez de
liberar recursos a conta-gotas
para que governadores continuem a colocar “mais um tijolo” na obra, os investimentos
devem se concentrar no término de, pelo menos, um deles
por vez. Lula assegurou que o
metrô de Belo Horizonte será
prioridade do governo federal.
BOM MOMENTO
Os especialistas em comunicação do governo consideram
ser este “um bom momento”
para o presidente começar a falar, pois, além da aprovação da
reforma, outros resultados positivos começaram a surgir. Logo, acredita o próprio presidente, novidades na área social poderão ser anunciadas. E o presidente continuará fazendo discursos nas cerimônias no Palácio do planalto e inaugurações
de obras país afora.
Na entrevista de ontem à
Rádio Nacional, Lula voltou a
falar, otimista, da aprovação
da reforma da Previdência e da
certeza de que a reforma tributária estará totalmente concluída até o fim do ano. “Precisamos começar o ano de 2004
pensando em outras coisas.
Temos de dedicar muito tempo
à reforma agrária. Temos de
fazer a reforma da legislação
trabalhista, a reforma da estrutura sindical brasileira e temos de começar a discutir a
retomada do crescimento da
economia, porque é isso que
interessa”, disse o presidente.
Ele voltou a pedir paciência
e compreensão à população.
“A única coisa que eu peço é
compreensão”, apelou o presidente. “Não dá para fazer tudo
de uma vez: não dá na família
da gente, não dá na cidade da
gente e, muito menos, no Brasil, porque é muito problema”.
Repetiu também que não vai
fazer reforma agrária na marra: “É possível fazer uma reforma agrária tranqüila a pacífica. A reforma agrária é muito
importante para nós, mas ela
não pode ser feita como era até
então, jogando os trabalhadores pobres no meio do mato e
deixando por conta de Deus.”
AMARELO
JORGE GONTIJO
PÉ NA ESTRADA
BRASÍLIA – Por orientação
dos estrategistas em comunicação do Palácio do Planalto,
o maior comunicador do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, voltou a dar
entrevistas e ocupar espaços
disponíveis na mídia. Tudo isso no embalo da primeira
grande vitória do governo, a
aprovação da reforma da Previdência pela Câmara. O presidente quer prestar contas e
também pedir compreensão e
paciência. Mas a equipe tem
uma preocupação: tudo será
feito com o cuidado de evitar
improvisos e superexposição
desnecessária.
Depois de escolher a revista Veja e o programa Fantástico, da Rede Globo, para dar
as primeiras entrevistas exclusivas, o presidente e seus assessores optaram por um veículo oficial de grande alcance
nacional. Nova entrevista de
Lula foi a atração principal da
programação de ontem de manhã da Rádio Nacional, emissora do sistema Radiobrás que
chega às mais distantes localidades do País em ondas médias, curtas e FM.
Faz parte da estratégia de
comunicação do governo levar
o presidente ao interior do
País, por meio do rádio, enquanto não houver uma decisão sobre a estréia de um programa na emissora oficial que
Lula deverá ter, a exemplo de
seus antecessores.
A “reaparição” do presidente começou na quinta-feira,
quando foi convocada cadeia
de rádio e televisão. Por dez
minutos na telinha e nas ondas
de rádio, Lula falou da importância da reforma da Previdência, fez um balanço otimista da
economia em seus sete meses
de governo e aproveitou para
dar um recado para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), atualmente uma de suas principais
preocupações.
MAGENTA
A reforma tributária poderá
sofrer mudanças, admitiu ontem, em Pouso Alegre, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele procurou co-responsabilizar
os governadores, que têm criticado a proposta original do Palácio do Planalto, pelas possíveis alterações. “O Congresso
Nacional é uma casa de negociação. Se não fosse assim, seria autoritarismo. Nós queremos que mexam (na reforma
tributária)”, disse Lula, ressalvando que o projeto que contará com seu apoio será o mesmo
acertado com os governadores.
“Se houver mudanças, elas
ocorrerão da mesma maneira
como aconteceu na reforma da
Previdência. Com negociação
no Congresso”, disse ele.
Lula considera que os governadores têm direito de brigar e
defender os interesses de seus
estados, mas estabeleceu pontos “intocáveis”, como a diminuição da carga tributária para
o setor produtivo e as exportações. De manhã, ao participar
de solenidade em Jacareí (SP),
o presidente já mandara recado
direto. Afirmou que a reforma
tributária não tem objetivo de
resolver problemas fiscais do
poder público, mas desonerar
os setores produtivos.
“Os governadores sabem que
a gente não pode resolver o problema econômico dos estados,
dos municípios ou mesmo do governo federal via política tributária”, afirmou, durante inauguração do projeto de ampliação
da fábrica da Votorantim Celulose e Papel, da qual participou o
governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB). “Todos esses problemas serão resolvidos na medida em que a economia volte a
crescer, que o governo volte a arrecadar e que essa arrecadação
seja por conta do desenvolvimento. E não por conta da carga fiscal, como habitualmente se
faz no País”, avisou.
CYAN
De Pouso Alegre
PRETO
Estratégia
é ocupar
os espaços
CARLOS BARROSO
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