Agência Nacional de Vigilância Sanitária Diretoria Colegiada DEGRAVAÇÃO Reunião Aberta ao Público nº 09/2013 30 de julho de 2013 Degravação do voto do Diretor Dirceu Barbano com revisão do orador Sala de Reuniões da da Diretoria Colegiada da Anvisa Item 3.1.1 – ABIFUMO ... Dr. Dirceu: obrigado, Jaime. Nós temos um conjunto de empresas, instituições e alguns parlamentares que pediram para se manifestarem e, aí, eu tenho também solicitação para falar por último e solicitação para falar primeiro. Para facilitar, eu acho melhor nós avaliarmos a primeira solicitação que chegou até a mim da ABIFUMO, que pela ordem de solicitação de manifestação é a segunda a falar para que ela utilize a palavra como a última manifestação. Como eu não vou arbitrar isso de forma alguma, eu só vou verificar se alguém que vai se manifestar antes tem alguma restrição à solicitação da ABIFUMO. A única que já se manifestaria antes da ABIFUMO é a Souza Cruz. Então, se não há nenhuma restrição de nenhum outro solicitante ou da parte da Diretoria, entendo que FETAESC, o Deputado Estadual Adolfo Brito, o Vice-Prefeito Venâncio Soares e a Aliança de Controle ao Tabagismo não têm restrição ao fato da ABIFUMO usar a palavra por último. Há também as solicitações de alguns no sentido de utilizar a palavra primeiro por dificuldades de horário para ir embora, eu só não me recordo quem fez essa solicitação. Alguma restrição para que o Vice-Prefeito possa utilizar a palavra antes dos demais? Então é, Prefeito, o Senhor tem entre 4 ou 5 minutos. Nós recebemos ainda no decorrer da reunião duas manifestações que eu faço questão também de apresentar aqui publicamente, a primeira delas é a União Internacional Contra a Tuberculose e as Doenças Respiratórias, uma Instituição que tem como objetivo desenvolver a inovação em solução em saúde para os países de baixa e média renda, organização científica sediada na França com 10 mil membros e 145 assinantes em cinco países: “Tomamos conhecimento da reunião da Diretoria Colegiada que acontecerá na data de hoje será liberada o pedido de extensão de prazo e de adaptação previsto no caput do Art. 9º da Resolução 14 de 2012 por mais 8 meses, pedido esse da Associação Brasileira da Indústria do Fumo. Solicitamos que a Anvisa não aprove esse pedido de extensão de prazo, já que a publicação da resolução em questão envolveu um processo amplo de discussão prévio e mantem o prazo da entrada em vigor da medida como forma de proteger as crianças e jovens brasileiros da estimulação à iniciação ao tabagismo, pois os mesmos continuam sendo expostos à Página 1 de 5 Secretaria da Diretoria Colegiada – Secol/Anvisa Degravação feita por Pollyana de Sousa Ferreira Secretária Executiva – Secol, em 30 de julho de 2013 Revisão feita por Mariana Aquino Magalhães Técnico Administrativo – Secol, em 15 de agosto de 2013 Com revisão do Orador, em 26 de agosto de 2013 Agência Nacional de Vigilância Sanitária Diretoria Colegiada publicidade poderosa e enganosa da indústria do tabaco”. Recebemos também uma correspondência da direção da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca que nos encaminha um ofício e também uma nota técnica que, dentre outros temas, aborda a questão do estudo da Fundação Getúlio Vargas e as argumentações relacionadas à produção e comercialização e também é exportação de produto, onde solicita também à ANVISA que mantenha as exigências do texto original da RDC 14 de 2012. Feitas todas as considerações até agora, naturalmente todo mundo espera saber quais são as posições do Dirceu Barbano, do Ivo Bucaresky e do Renato Porto, salvo a coincidência de que a reunião já estava marcada e nós tivemos ontem a nomeação do Renato e hoje a do Ivo. Sinto-me bastante tranquilo em fazer algumas considerações iniciais antes de abrir a discussão para manifestação dos demais presentes, que fazem parte da Diretoria Colegiada. A primeira questão que eu acho fundamental é que a RDC 14 acabou se tornando um marco na ação do Estado Brasileiro em relação ao controle do tabagismo. Talvez todas as discussões que têm ocorrido até agora, seja no ambiente acadêmico, ou mesmo no Congresso Nacional, não tenham conseguido atingir a profundidade do debate técnico que aparentemente se gerou aqui dentro da ANVISA com a edição e, agora, essas discussões subsequentes em relação à RDC 14. Eu acho importante, porque eu entendo que esse é um papel que a ANVISA tem de cumprir diante da sociedade. A edição da RDC e essas discussões propiciaram um aprofundamento que, com o apoio da área técnica, a capacidade que tem e com a disposição dos Diretores em de fato proporcionar um ambiente de tomada de decisão mais transparente e o mais sedimentado nas questões técnicas possível trouxeram à tona questões que, no meu entendimento de novo, com todo o cuidado e respeito a todos os participantes da discussão até então, no momento da discussão e da aprovação do texto original e mesmo no período de consulta pública, por mais amplo e aberto que ele tenha sido, ficaram na superficialidade, seja pela dificuldade muitas vezes de obter uma informação mais profunda, mas no meu entendimento, fundamentalmente, porque talvez as pessoas ligadas ao setor produtivo, principalmente, tenham desconsiderado a disposição da ANVISA em aprofundar tecnicamente cada uma das questões que foram colocadas. Recordo-me que o primeiro debate mais acalorado envolvia, quase em um clima de Atlético Mineiro e Olímpia, a questão do açúcar. Quando se propôs a vedação ao açúcar, e a primeira informação que nos chegou em várias reuniões que eu tive com várias pessoas e entidades que estão aqui, era que seria impossível fabricar cigarro, caso não fosse reposto o açúcar. E que, desta forma, nós estaríamos jogando no limbo e acabando com a possibilidade de sobrevivência de quem produz a folha do tabaco e fornece a folha do tabaco para as indústrias. E depois essa questão veio se aprofundando, aprofundando, aprofundando. Hoje, nós sabemos que a adição do açúcar não é essencial para o processo produtivo do cigarro, a própria ABIFUMO reconhece isso nos documentos que nos apresentou. Hoje, nós sabemos que a reposição do açúcar é possível de ser feita, a ANVISA acabou Página 2 de 5 Secretaria da Diretoria Colegiada – Secol/Anvisa Degravação feita por Pollyana de Sousa Ferreira Secretária Executiva – Secol, em 30 de julho de 2013 Revisão feita por Mariana Aquino Magalhães Técnico Administrativo – Secol, em 15 de agosto de 2013 Com revisão do Orador, em 26 de agosto de 2013 Agência Nacional de Vigilância Sanitária Diretoria Colegiada reconhecendo isso na aprovação da norma entendendo que a recomposição do teor do açúcar, daquilo que é perdido, seria possível, e nós avançamos, e hoje estamos discutindo uma outra coisa. Quais seriam as metodologias capazes de permitir que quem vai fabricar o cigarro e repor o açúcar saiba quais são as quantidades que têm ser repostas, o que, no meu entendimento, é uma questão técnica de fácil solução, desde que nós tenhamos de fato disposição a isso. O caminho mais fácil talvez seja fixar cinco, quatro e meio, e, porque não, quatro vírgula nove por cento? Mas, no meu entendimento, a discussão se qualificou. Hoje, o que nós estamos falando é reconhecendo que há uma perda e reconhecendo que é possível repor e, naturalmente, é possível também estabelecer metodologias que permitam calcular, talvez por lote de produção, talvez por N maneiras, as quantidades que precisem ser repostas em cada lote. A outra questão que eu acho que ficou também superficial, e eu chamei várias vezes a atenção de várias pessoas que conversaram comigo: Parlamentares e Representantes de vários segmentos é que os outros aditivos só apareceram e se tornaram importantes na discussão depois que nós nos dispusemos a rever a decisão em relação ao açúcar. Nunca, e em nenhum momento durante a consulta pública, o Agenor tem toda razão quando diz isso, o assunto outros aditivos foi discutido com a Diretoria Colegiada da ANVISA. Hoje, nós já estamos discutindo como é que se classificam, quais são, reconhecendo que é difícil estabelecer a relação entre o sabor e o odor do cigarro, e qual é especificamente o aditivo em alguns casos, mas reconhecendo também que há aditivos, se há um conjunto de marcas no mercado calcadas nesta questão da presença dos aditivos. Nós também já alcançamos a maturidade de reconhecer que isso não tem impacto nenhum na produção do tabaco pelas 250 mil ou 300 mil famílias que produzem tabaco no Brasil. Nós amadurecemos nesta discussão, o grau de profundidade com que se discute hoje a questão dos aditivos no cigarro não tem nenhuma relação com aquilo que se discutia inicialmente, a não ser a relação e, aí, o Diretor Jaime tem razão, quando se chamou a atenção de qual era a abrangência e qual era o foco e qual era o tamanho da medida regulatória que se pretendia tomar em relação aos aditivos, mas eu também concordo que ainda há questões em relação a aditivos que nós não conseguimos resolver, acho que uma delas é essa questão. Como lidaremos com substâncias que já ocorrem no cigarro, como é que nós vamos saber depois quando o produto estiver no mercado nós colocaremos lá no aparelho de HPLC, cromatografia gasosa e etc. se aquilo está lá porque já estava mesmo ou aquilo esta lá porque foi adicionado pela indústria. Então, nós temos uma questão ainda em aberto. A outra questão que eu acho que também é relevante em relação à presença dos aditivos, e nesse amadurecimento que nós alcançamos, é o fato de que surge uma luz que ainda não ficou amarela, ela já não é mais branca, o cigarro natural. O cigarro como ele é pode ser talvez mais interessante do que o cigarro como ele não é. Nós precisamos pensar se, independentemente do marketing ou não, de fato esse cigarro como ele é não se torna algo, por algum motivo, mais atrativo do que um Página 3 de 5 Secretaria da Diretoria Colegiada – Secol/Anvisa Degravação feita por Pollyana de Sousa Ferreira Secretária Executiva – Secol, em 30 de julho de 2013 Revisão feita por Mariana Aquino Magalhães Técnico Administrativo – Secol, em 15 de agosto de 2013 Com revisão do Orador, em 26 de agosto de 2013 Agência Nacional de Vigilância Sanitária Diretoria Colegiada cigarro como ele não é. Então, esse é outro ponto que ainda não fica totalmente claro. Outra questão que eu acho que está relacionada aos aditivos e que me chama a atenção e faz a Diretoria Colegiada refletir sobre isso é o fato de que muitas e muitas marcas, eu fui responsável ao longo desse tempo por assinar as resoluções que publicam os cadastros de cigarros e de produtos fumígenos, foram registradas na ANVISA cumprindo a Resolução 14 de 2012. E aí fica uma dúvida: eles estão cumprindo mesmo? Então, vem abaixo a tese de que é impossível fazer o cigarro cumprindo a RDC 14. Mas, de fato, como eu não fumo, eu nunca vou servir de base para saber se o cigarro ficou menos ruim ou mais ruim com a aplicação da RDC 14. Claro que eu aprendi ao longo desse tempo algo que me incomoda muito, e eu falo isso sem nenhum temor e sem nenhuma dificuldade. Quando a gente vê o pessoal da indústria do tabaco dizendo que o prazo de registro que era de 45 dias, passou para 90, eu tenho dor no coração de ser Presidente de uma Agência Reguladora que aprova cigarro em 45 dias e remédios para tratar câncer em um ano e meio, dois anos. Eu tenho dor no coração é de saber que nós não conseguimos dividir esse bolo de maneira mais justa e fazer com que as coisas cheguem pelo menos no mesmo prazo no mercado. Mas, de qualquer maneira, existem sim produtos registrados hoje na ANVISA, e não apenas por pequenas empresas, por grandes empresas também, que cumprem a RDC 14. Então, têm três questões sobre aditivos que ainda me preocupam. A primeira: como tratar produtos que ocorrem naturalmente no cigarro; a segunda: como é que nós vamos trabalhar para frente essa perspectiva de como é que ficou o cigarro, mais ruim ou menos ruim; e a terceira: como é que a gente faz com o mercado em que uma parte, de um lado diz: nós conseguimos cumprir a regra, e, de um outro lado, amedronta os produtores agrícolas e seus representantes, os Parlamentares, dizendo: olhe, se perdurar a norma da ANVISA, todo mundo vai ter de fechar a propriedade, porque vocês não vão ter o que fazer. Esse debate para mim ainda está inconcluso. Acho que nós temos de esclarecer muita coisa ainda em relação a isso, Deputado, inclusive porque é importante que todo mundo saiba, grande parte da produção de tabaco no Brasil é exportada e não vai ser atingida por essa norma. E a outra questão, apesar de todas as medidas que estão sendo tomadas, a produção de folha de tabaco no Brasil para exportação de 2010 para 2011 cresceu quase 170 mil toneladas. O Brasil perdeu o segundo posto porque a Índia nos passou. Mas esta norma não pode ser colocada perante as autoridades do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, os Sindicatos dos Representantes dos trabalhadores agrícolas, e, ainda, os outros Estados que produzem produtos derivados do tabaco, como sendo a responsável pelas dificuldades que muitas vezes vão ser enfrentadas pelas mudanças no cenário econômico mundial, pela entrada massiva da produção de tabaco na China e na Índia. Nós precisamos ter cuidado, e eu ouvi ontem atentamente uma figura que se tornou muito popular no Brasil essa semana, quando perguntaram ao Papa Francisco o que ele achava da juventude ter ido à rua para se manifestar, e o Papa disse o Página 4 de 5 Secretaria da Diretoria Colegiada – Secol/Anvisa Degravação feita por Pollyana de Sousa Ferreira Secretária Executiva – Secol, em 30 de julho de 2013 Revisão feita por Mariana Aquino Magalhães Técnico Administrativo – Secol, em 15 de agosto de 2013 Com revisão do Orador, em 26 de agosto de 2013 Agência Nacional de Vigilância Sanitária Diretoria Colegiada seguinte: que ele não quer viver em um mundo onde a juventude seja pacata e não proteste. Mas ele tem muito medo de que a juventude seja usada, de alguma forma, para interesses que não são aqueles de toda a juventude. Então, eu clamo também para que nós tenhamos o cuidado de não colocarmos as decisões da ANVISA que se referem à saúde pública e são muito cuidadosas como vilãs e capazes de gerar uma destruição de um segmento econômico que vem se desenvolvendo e continua se desenvolvendo e crescendo ainda no país. Por fim, eu, antes de abrir a discussão, acho e queria aqui louvar e agradecer, enquanto Diretor da ANVISA, ao Agenor, ao Jaime, e à GGTAB também, que é o alimentador das respostas e buscar fornecer as informações, pelo profundo trabalho e pelo profundo estudo que os dois fizeram para que os demais Diretores pudessem ter elementos para buscarem sedimentar suas posições. Há questões que o Agenor coloca que eu concordo, há questões que o Diretor Jaime coloca e eu concordo também, mas eu vou tomar aqui a liberdade de abrir primeiro a discussão, ouvir ainda a manifestação dos demais Diretores antes de externar a minha posição. 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