FACULDADE DE PARÁ DE MINAS - FAPAM Curso de Pedagogia Mariana Maria Fonseca Aleixo INFLUÊNCIA DA MÍDIA TELEVISIVA NA VIDA ESCOLAR DE CRIANÇAS DE 6 A 9 ANOS Pará de Minas 2013 Mariana Maria Fonseca Aleixo INFLUÊNCIA DA MÍDIA TELEVISIVA NA VIDA ESCOLAR DE CRIANÇAS DE 6 A 9 ANOS Monografia apresentada à Coordenação de Pedagogia da Faculdade de Pará de Minas como requisito parcial para a conclusão do curso de Pedagogia. Orientador: Flávio Marcus da Silva Pará de Minas 2013 Mariana Maria Fonseca Aleixo INFLUÊNCIA DA MÍDIA TELEVISIVA NA VIDA ESCOLAR DE CRIANÇAS DE 6 A 9 ANOS Monografia apresentada à Coordenação de Pedagogia da Faculdade de Pará de Minas como requisito parcial para a conclusão do curso de Pedagogia. Aprovada em _____/_____/______ ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ Pará de Minas 2013 Dedico esse trabalho a todos aqueles que de alguma forma me ajudaram a concretizar o mesmo, em especial a Ana Laura; minha mais bela razão de existir. Agradeço ao meu orientador que tanto me incentivou na realização deste trabalho. Aos colegas que me orientaram a todo instante No nosso circo maluco, você é de tudo até super-herói Você é a roda gigante, o anão elefante, o índio cowboy Venha não perca o seu tempo que até a idade se pode escolher Venha ser uma criança, girar nessa dança ser o que quiser. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 09 2. INFLUÊNCIA DA MÍDIA TELEVISIVA NO ENSINO-APRENDIZAGEM .............. 14 2.1 A intervenção da mídia televisiva na Aprendizagem........................................... 20 3. O FENÔMENO “CARROSSEL” E AS INTER-RELAÇÕES ENTRE PERSONAGENS E ALUNOS O FENÔMENO “CARROSSEL” E AS INTERRELAÇÕES ENTRE PERSONAGENS E ALUNOS ................................................. 23 3.1 As Famílias de Carrossel.....................................................................................27 3.2 Personagens sem Família....................................................................................38 3.3 Professores e Funcionários da Escola Mundial...................................................39 4. ESTUDO DE CASO .............................................................................................. 46 4. 1 Análise das respostas dos Professores entrevistados ....................................... 46 5. CONCLUSÕES ..................................................................................................... 56 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 58 RESUMO A proposta deste trabalho pretende apresentar algumas reflexões de como acontece a influência da novela Carrossel na vida escolar de crianças de 6 a 9 anos e quais os reflexos dessa novela dentro do ambiente escolar, visando verificar se as estórias apresentadas e as características dos personagens reforçam ou reproduzem valores e princípios atípicos nas crianças telespectadoras desse programa. Depois de realizada a pesquisa bibliográfica fez-se um estudo de caso que abordou a questão do ponto de vista social e psicológico. Buscou-se atingir os objetivos específicos de levantar o papel, a relevância e importância das características atribuídas a cada personagem como ação educativa positiva e, identificar a necessidade de promover a renovação das metodologias de ensino, usando a “onda” Carrossel como suporte. Contudo, há quem diga que a criança só aprende na escola, para outros, o aprendizado começa em casa, mas tudo isso é muito polêmico nos dias de hoje devido à mídia que nos coloca numa situação difícil porque se por um lado ela estimula o aprendizado, por outro degenera com seus programas autodestrutivos. Palavras Chaves: Mídia Televisiva, Novela Carrossel, Imitação, Motivação e Realidade. 9 1. INTRODUÇÃO Cada vez mais a televisão está fazendo parte da vida das crianças, principalmente de crianças em fase escolar. Sua influência sobre crianças e adolescentes tem sido motivo de diversas discussões nas últimas décadas. O presente trabalho surge da preocupação em auxiliar na compreensão da influência da mídia televisiva, no sentido de esclarecer os limites e possibilidades para o avanço das práticas pedagógicas na vida do educando e quais poderiam ser as contribuições dos personagens neste processo de ensino-aprendizagem. Este estudo tem como objetivo analisar a influência da novela Carrossel, que atualmente tem invadido o contexto escolar no cotidiano das crianças, pois a novela retrata uma rotina de crianças no 3° ano do ensino fundamental dentro da escola e em família. Percebe-se que muitas das ações e personalidades dos atores da novela são projetadas pelas crianças que assistem a essa novela nos espaços escolares que estudam. Sendo assim, o tema permite-nos colocar em evidência os diferentes tipos de personalidades infantis, mostrando as inter-relações de causa e efeito entre personagens e alunos. Parte-se da realidade de que o educando tem a necessidade de estar inserido em algum contexto, sendo o veículo televisivo muito presente na vida das crianças do século XXI, que é também um importante meio de formação de opinião. Tendo em vista o papel dessa mídia, cabe aos professores auxiliarem as crianças a assumirem uma postura crítica em relação ao que é mostrado na novela Carrossel, pois, como educadores eles podem criar condições no processo de ensinoaprendizagem de forma significativa utilizando o contexto e personagens dessa novela para ampliar a formação dos alunos, possibilitando-os desenvolver uma outra leitura do que o programa induz. Entende-se que a educação moderna não pode ignorar a televisão, uma vez que compete também à escola e à família avançarem em direção ao aprimoramento da questão em pauta, facilitando assim o aprendizado pelas novas gerações a respeito da utilização adequada da televisão. Como aponta Bucht e Feilittzen (2002): 10 Pesquisas detectaram muitas influências benéficas, muitas vezes provenientes de programas e outros conteúdos direcionados especificamente às crianças, como por exemplo, os que se referem à intensificação do aprendizado, das capacidades percepto-motoras, da competência social e da tolerância (BUCHT e FEILITTZEN, 2002 p. 81). Dessa forma, pode-se extrair de programas televisivos de interesse das crianças pontos importantes para se iniciar o processo de ensino-aprendizagem visando o desenvolvimento de forma mais interativa. O presente trabalho não tem a pretensão de fornecer respostas prontas e acabadas sobre o assunto; ao contrário, têm a intenção de despertar a curiosidade e a vontade de fazer dos programas exibidos pela televisão, um aliado na educação de crianças, ensinando-as a assistir televisão de forma crítica, e também fornecer subsídios para professores e pais utilizarem as informações que são transmitidas de maneira critica e educativa e não somente como algo para “passar o tempo”. Portanto, este trabalho pretende apresentar algumas reflexões de como acontece a influência da novela Carrossel na vida escolar de crianças de 6 a 9 anos e quais os reflexos dessa novela dentro do ambiente escolar. O objetivo é verificar se as estórias apresentadas e as características dos personagens reforçam ou reproduzem valores e princípios atípicos nas crianças telespectadoras desse programa. Sabemos que hoje mensagens audiovisuais apresentadas nos programas de televisão em geral exigem pouco esforço e envolvimento do receptor. No caso da novela Carrossel, suas narrativas usam uma linguagem concreta, plástica, de cenas curtas, com ritmo acelerado, multiplicando os pontos de vista, os cenários, as personagens e os sons, mexendo constantemente com a imaginação e delegando à afetividade o papel de mediação entre o sujeito e o mundo. São essas características que marcam substancialmente a diferença do audiovisual com a linguagem escrita, que desenvolve mais o rigor, a organização e a análise lógica. No mundo moderno, da mesma maneira que a família e a escola, a televisão também tem um papel muito importante no desenvolvimento da criança que, desde cedo tende à imitação, portanto imitam também o comportamento que vêem na televisão. Apesar de imitarem as ações positivas observadas na mídia, infelizmente também imitam os comportamentos agressivos e violentos. 11 Observando por esse prisma, é importante compreender também, que cada assunto abordado nas novelas tem um propósito e muitos temas, como os relacionados à raça, sexo, classes sociais, corrupção, aparecem “entre mesclados e funcionam como veículo das ideologias de dominação que justificam, legitimam, mascaram as desigualdades, a injustiça e a opressão” (KELLNER, 2001, p. 128). Seguindo essa linha de raciocínio, constata-se que por todas essas intencionalidades as novelas devem ser fenômenos de estudo obrigatório na sala de aula. A escola, sendo local privilegiado de trabalho com o conhecimento, tem grande responsabilidade na formação de cidadãos. Acredita-se que a escola possa ser o articulador da educação de qualidade, para isso, ser inovador, criativo, crítico, moderno e atual não é suficiente. Ela deve ultrapassar as barreiras do conhecimento comum e adequar-se ao momento perante a sociedade global. Atualmente, as telenovelas “são produções complexas que incorporam discursos sociais e políticos” (KELLNER, 2001, p. 13) e por esse motivo a escola não pode desconsiderar o potencial educativo das telenovelas, especialmente no que diz respeito aos temas polêmicos, pois, principalmente, esses temas são os mais impregnados de intencionalidades. Quando um assunto é abordado pela telenovela o educador precisa se questionar sobre o porquê daquele tema, relacionando-o com os acontecimentos reais da atualidade e propiciar aos alunos a mesma reflexão. Em muitas ocasiões temas são lançados para motivar ou pressionar a opinião pública, que por sua vez pressiona o poder público a tomar decisões. A escola, no cumprimento da sua função social, deverá desenvolver nas crianças que nela confiam a sua formação, competências e habilidades para prepará-las para agir conforme as exigências da contemporaneidade. Como não há como se distanciar desta realidade, todos os profissionais da educação precisam refletir sobre suas ações pedagógicas no que diz respeito a conhecer e reconhecer a importância do sujeito da aprendizagem, a entender o que pode facilitar ou impedir que se aprenda. O uso da televisão em sala de aula deve ser encarado como um projeto, de preferência coletivo, partilhado entre diversos profissionais de um estabelecimento escolar. O poder e a influência da televisão só podem ser revertidos em conhecimento escolar na medida em que o uso da televisão em sala de aula seja a 12 conseqüência de um conjunto de atividades e reflexões compartilhadas (NAPOLITANO, 2003, p.25). Para tanto, o uso dessa ferramenta, como qualquer outra, requer planejamento, objetivos definidos e participação de todos. E será útil, inclusive, para a interação dos professores, que agora farão trabalho em conjunto, tendo oportunidade de dialogar com os colegas sobre suas percepções em relação ao desenvolvimento e comportamento dos alunos, bem como compartilhar suas práticas, experiências e descobertas. É imprescindível que o profissional da educação perceba como a exibição de programas voltados para a rotina de vidas reais têm conteúdos chamativos; como eles contribuem decisivamente para o sucesso ou fracasso de seus educandos em suas dificuldades e necessidades, buscando estabelecer entre educandos e programas, um canal de comunicação que vise dar a eles a condição de serem instruídos e bem formados como cidadãos. Tal percepção está implícita no comentário de Sampaio (2004) que utiliza conceitos da psicologia do desenvolvimento e teorias de Jean Piaget para nos alertar que a lógica e o raciocínio são absolutamente dispensáveis quando se quer comunicar algo de forma persuasiva aos indivíduos na idade infantil. Segundo o autor, o segredo é “investir na fantasia, na mágica, na aventura, no faz-de-conta, utilizando temas que versem sobre relações afetivas e familiares para vender produtos, marcas ou comportamentos” (SAMPAIO, 2004, p.121). Segundo Cádima (2007, p. 121), a criança está desprotegida das mensagens televisivas em função de um analfabetismo audiovisual natural. Não é senão a partir dos cinco anos que ela inicia o processo de distinção entre mensagens comerciais de outros gêneros de informação, mas só a partir dos 11 anos que essa diferenciação se completa. Até então ela não entende que a atração a que assiste foi interrompida, por exemplo, por um comercial. Fica achando que tudo faz parte do mesmo programa e que seu personagem ou apresentador preferido está mandando que ela compre alguma coisa. Ao inserir a mágica e a fantasia nos apelos publicitários, se estabelece uma forma de ludibriar a mente infantil mais jovem e um mecanismo de pressionar as crianças mais velhas. A partir do que a infância tem de mais próprio – a pureza e a imaginação – é possível criar conexões entre suas fantasias e o estabelecimento de hábitos de consumo que sejam do interesse das emissoras (SAMPAIO, 2004, p. 49). 13 Tendo em vista os conhecimentos a cerca do poder da mídia entre os nossos pequenos é que se justifica o estudo proposto. Com intuito de buscar reflexões que possam auxiliar os professores a conduzirem da melhor forma possível o que as crianças trazem para a escola do que vêem nas telinhas de TV tem-se como Objetivo Geral, identificar a influência da mídia televisiva, especificamente da novela Carrossel no contexto escolar. Constituem-se objetivos específicos do trabalho, • Levantar o papel, a relevância e importância das características atribuídas a cada personagem como ação educativa positiva; • Identificar a necessidade de promover a renovação das metodologias de ensino, usando a “onda” Carrossel como suporte; Contudo, há quem diga que a criança só aprende na escola, outros dizem que o aprendizado começa em casa, mas, tudo isso é muito polêmico nos dias de hoje devido à mídia que nos coloca numa situação difícil porque, se por um lado, ela estimula o aprendizado, por outro, degenera com seus programas autodestrutivos. Pais, escolas e especialistas, numa corrente contrária ao que se pretende nesta pesquisa, colocam que a mídia influencia e conduz o inocente telespectador infantil, que sem muita noção, acaba por imitar o que vê e ouve, trazendo problemas futuros, tanto na sua vida pessoal como na sociedade em que vivemos. 14 2. INFLUÊNCIA DA MÍDIA TELEVISIVA NO ENSINO-APRENDIZAGEM Em meio a tantas discussões sobre a influência que a televisão exerce sobre o ser humano e, principalmente, no quanto pode influenciar a criança, positivamente ou negativamente, uma coisa é certa: a televisão tem a capacidade de criar modelos de comportamento, difundir atitudes e transmitir valores. No caso específico da televisão, por meio das suas programações, comerciais e propagandas, são estabelecidos padrões de consumo, comportamentos, atitudes e valores que atuarão como modelos a serem seguidos, principalmente pelas crianças e adolescentes (MORIN, 2001). Assim, a TV conseguiu alterar o comportamento das pessoas de um modo geral, seja na vida pessoal, na família, na igreja, na vizinhança ou na sociedade como um todo. A essas alterações, transformações e influências chamam “socialização” e, fato é, que pouco paramos para analisar os estragos e avanços que podem trazer à criança em fase escolar. Morin conseguiu sintetizar sua preocupação quanto a isso: Lamento que o ensino, sobretudo nas séries menores, que gostam de TV, não lhes mostrem como funciona; como certos procedimentos de montagem, podem causar uma falsa impressão [...,] na realidade não é nada disso. Portanto, pode-se fabricar uma impressão da realidade com meios ilusórios. E acho que as crianças, os cidadãos, precisam de uma educação aprofundada para serem capazes de ter essa reflexão crítica. [...] (MORIN, 2001, p. 79). Paulo Freire (1983, p.42) declarou ser impossível “resistir à nova linguagem, à audiovisual”. Propôs a conciliação da escrita com a linguagem audiovisual num processo em que a escrita e a leitura associam-se dinamicamente à leitura do mundo. Ter domínio sobre as imagens que a TV nos manda e o que elas nos comunicam, o que elas “fazem” conosco, deve ser tarefa imprescindível, necessária, fundamental, nos currículos escolares, no cotidiano da vida de professores e alunos, de todos os níveis. A mídia televisiva, no geral, diz muito às crianças e as leva a consumir imagens, divertir-se, passar o tempo, informar-se – essas são práticas que devem direcionar pais e escolas a tirar o máximo possível em prol da criança. Neste capítulo, quer-se mostrar que trabalhar a mídia televisiva a favor do ensinoaprendizagem é uma tarefa eminentemente educativa e pedagógica. Segundo Pellegrini (2002, p. 67) a televisão é considerada um meio de educação informal e de formação ideológica. Bonecas são ídolos, novelas retratam 15 cenas da vida real e mostram os problemas familiares e sociais; há ainda as cenas que cultuam a violência inclusive nos desenhos. O autor ressalta que neste caos ainda há o que se mostrar e se extrair em benefício da criança. É bem possível mostrar-lhes onde estão embutidos os valores morais, éticos, sociais. Nem sempre desequilíbrios emocionais ocorrerão. Comportamentos problemáticos, medos e ansiedades, alterações emocionais negativas podem ser combatidos através de determinadas programações assistidas pelas crianças e não, necessariamente, o contrário. Rubens Alves (2006, p. 34) fala que a televisão conhece os caminhos dos seres humanos. Ela vai seduzindo nossas crianças com sonhos pequenos e freqüentemente grotescos, onde assombra-se a capacidade dos meios de comunicação para criar sonhos. A criança precisa sonhar com certeza, mas não podemos deixa-las viver só de sonhos e a televisão sabe que as pessoas, em especial, as crianças, são movidas pela beleza e não pela verdade. Para Torres (2007, p. 101), a televisão contribuiu para reforçar a democracia, pois fala em linguagem simples sobre assuntos variados. Segundo Relatório do Núcleo de Estudos Psicológicos – Unicamp, do ano de 1993, crianças de 6 a 10 anos encontram-se na fase que, em Psicanálise, é chamada de latência (período de reorganização e preparo para a puberdade) e, nesta fase, determinados programas estimulam a exposição precoce ao erotismo. Isso leva a criança a passar pela latência sem elaboração e organização. Entretanto, toda informação passada pela televisão atinge todos os cidadãos, fornecendo o discernimento sobre vários assuntos, e contribuindo para aumentar a participação na comunidade e, por que não, melhorar a participação das crianças nas aulas, em discussões e debates, em conversas na rodinha, em casa, sobre esses temas que a primeira vista parecem surtir apenas efeitos negativos à criança? A televisão pode contribuir para estreitar a diferença que existe entre o professor e o aluno deixando este mais próximo da escola e esta mais perto do aluno. Para integrá-la na educação é necessário transformar esse meio em objeto de estudo, ensinar os mecanismos técnicos e econômicos de seu funcionamento, oferecer orientação e recursos para análise crítica dos conteúdos, realizar uma abordagem do conteúdo televisionado partindo de todas as perspectivas: técnica, expressiva, ideológica, social, econômica, ética, cultural, etc. Incluir a televisão na sala de aula, em todas as áreas e níveis de ensino, não para aumentar o seu 16 consumo, mas para melhorar o processo de ensino-aprendizagem, como uma alternativa. Moran (2004, p. 87) afirma que "Os alunos se motivam muito mais, sem dúvida, com qualquer proposta de expressão audiovisual." Isso porque as crianças são facilmente influenciadas pela TV. Toda forma de comportamento vista por ela na TV, é copiada por elas, porque crianças imaginam muito. Vivem num mundo imaginário, de faz-de-conta, e por isso a TV é muito influenciável na infância. De acordo com o pensamento de Freire (1983, p. 36), a escola como um todo precisa conhecer a realidade do educando no sentido de compreender as diferenças culturais e as distâncias lingüísticas existentes na escola para que o educador possa planejar e executar suas ações, selecionar os objetivos educacionais, os métodos de ensino e a própria avaliação do processo ensino-aprendizagem. A realidade que o aluno conhece e vive não é somente aquela empiricamente apreendida; é também, a realidade sonhada, a das idéias, das crenças, das emoções, e das fantasias. A escola precisa repensar urgentemente a sua relação com os Meios de Comunicação, deixando de ignorá-los ou considerá-los inimigos. A escola também não pode pensar em imitá-los, porque nos Meios predomina a função lúdica, de entretenimento, não a de organização da compreensão do mundo e das atitudes (MORAN, 2004, p. 87). O docente, quando tenta conhecer a realidade do aluno, costuma dar mais importância aos aspectos empíricos desta realidade, desconhece as dimensões simbólicas da realidade, sem as quais é impossível ter acesso ao mundo do educando e uma visão sobre ele. Para Freire, a comunicação não é apenas fundamental nas relações humanas, mas a inter-relação de seus elementos básicos permite certa autonomia ao processo educativo (1983, p. 37). O esquema comunicativo básico na relação educador - educando deve ser uma relação social igualitária e dialogal, que produza conhecimento. Conforme LIMA (2006, p. 56), a televisão se apresenta como um meio onde o domínio do código escrito não é suficiente para a recepção básica das mensagens transmitidas. Com isso, muitos segmentos da sociedade, semi-analfabetos e até analfabetos, puderam ter acesso a conteúdos diversos que antes só seriam possíveis por meio da palavra escrita. Cabe aos educadores pensar como a televisão realiza a socialização de conteúdos variados (estéticos, informativos, científicos, de entretenimento, etc.) sem passar pela codificação da palavra escrita. 17 O educador compreendido não apenas como facilitador da aprendizagem é um mediador de saberes, praticando uma pedagogia ativa centrada no educando e que tem papel decisivo na construção da cidadania dos sujeitos. Atualmente, admite-se como alfabetizado o sujeito capaz de ler o mundo, a realidade e suas versões. O sujeito que não souber ler as mensagens da mídia de forma crítica e reflexiva pode ser considerado um “analfabeto”, por isso, compreender as atitudes e o contexto do educando é imprescindível ao educador. Moreira (2003, p.122) argumenta que antes de serem alfabetizadas pela escola, as crianças, sobretudo nos grandes centros, já foram alfabetizadas pelas marcas e pelos logos. Antes de aprenderem direito a falar, elas começam a ler o mundo por meio dos ícones do consumo. O papel social que a Televisão desenvolve, principalmente com as crianças no mundo contemporâneo, se torna evidente nesse processo em que os pais sem tempo livre adequado para cuidar e educar os seus filhos utilizam esse aparelho de representações de imagens para auxiliá-los na educação das suas crianças. Devido ao corre-corre diário, os pais, muitas vezes acabam deixando seus filhos em casa sozinhos e a televisão e o que há de interessante em meio a falta de opção de muitas crianças que, sendo obrigadas a permanecer sozinhas no espaço de suas casas, muitas vezes mínimos e sem muitas opções de lazer e interação, acabam se limitando ao consumo da programação da TV. Estudos feitos pela Unesco apontaram que o tempo que as crianças gastam assistindo a televisão é, pelo menos, 50% maior que o tempo dedicado a qualquer outra atividade do cotidiano, como fazer a lição de casa, ajudar à família, brincar, ficar com os amigos e ler. A programação transmitida pela TV acaba tornando-se um ponto de referência na organização da família, está sempre à disposição, sem exigir nada em troca, alimentando o imaginário infantil com todo tipo de fantasia. De acordo com Fischer (2008, p. 45), a criança gosta da TV porque ela fala a sua linguagem, uma comunicação entrecortada, dinâmica, não linear, em mosaico. A criança é capaz de pular rapidamente de um assunto para outro, do mesmo modo que a TV. Passamos de um acontecimento trágico para um programa de humor, de um comercial de brinquedos para uma mensagem de um partido político. Tudo isso é aprendizagem! Ainda, segundo Fischer (2008, p. 61), é visível que também o professor precisa aprender a ver televisão, a analisar a TV a partir daquilo que ele gosta de 18 ver, por que gosta, o que mais o prende na TV, o que a TV ensina, o que ele aprende com a TV [...]não existe alguém que é crítico diante daquilo que não conhece[...]. É evidente que o papel da escola não seria o de direcionar ou dissuadir, o educando a não assistir determinado conteúdo na Televisão, mas sim “aproveitar as situações apresentadas por esse veículo e que são tão conhecidas pelos educando como ponto de reflexão a respeito dos significados das suas varias narrativas” (RIBEIRO, 2011). Segundo o autor, O papel principal dos educadores (independente do nível que atua educação infantil, ensino fundamental, médio ou superior) diante da televisão, é o de ensinar os indivíduos a verem TV, possibilitando a estes, instrumentos de criticidade, programações de relevância, reflexões sobre o assistido na instituição e em casa (RIBEIRO, 2011, p. 19). O professor deve proporcionar ao aluno a mesma tranqüilidade ou emoção que a TV transmite, ele deve transformar a sala de aula num ambiente moderno, onde os alunos passem a se sentir em "casa", mas para isso ele deve observar o lado positivo e o lado negativo da mídia. Trabalhando os dois lados da mídia, ele mostrará às crianças que eles existem, e que as mídias são apenas opções de diversão, mas não as únicas. Ribeiro (2011, p. 53) diz que uma forma adequada de integrar a televisão à sala de aula, propõe que se deve educar com a televisão. Incorporá-la à sala de aula para otimizar o processo de ensino-aprendizagem. Transformar a televisão em material de apoio, que motive o aluno a pesquisar, a buscar mais. Leite (2009) compartilha do mesmo entendimento: A televisão pode ser um recurso pedagógico quando o educador propõe a discussão sobre o conteúdo programado. Assim o telespectador terá capacidade de fazer uma leitura crítica, decodificando mensagens, refletindo sobre elas e ainda construindo suas próprias conclusões. Questionar as imagens e diversas condutas dos personagens nos episódios e até mesmo se colocar no lugar deles é um meio de discernir o conteúdo do programa (LEITE, 2009, p. 36). De acordo com Soares (2009, p. 267) é por meio da “Educação para a Mídia” que se pode estabelecer políticas educativas que visam minimizar os efeitos da mídia sobre as crianças e adolescentes. O professor deve explorar a linguagem e a 19 leitura em sala de aula, realizar atividades dinâmicas, que estejam relacionadas a filmes, novelas, desenhos, que desafiem os alunos e que os ajudem a pensar. Libâneo (2010) reforça tal comentário: “[...] as mídias apresentam-se, pedagogicamente, sob três formas: como conteúdo escolar integrante das várias disciplinas do currículo, portanto, portadoras de informação, idéias, emoções, valores; como competências e atitudes profissionais; e como meios tecnológicos de comunicação humana (visuais, cênicos, verbais, sonoros, audiovisuais) dirigidos para ensinar a pensar, ensinar a aprender a aprender, implicando, portanto, efeitos didáticos como: desenvolvimento de pensamento autônomo, estratégias cognitivas, autonomia para organizar e dirigir seu próprio processo de aprendizagem, facilidade de análise e resolução de problemas, etc.” (LIBÂNEO, 2010, p. 70). Em meio à globalização, o papel da televisão educativa é de grande importância, pois o aluno tem mais facilidade em aprender através de recursos audiovisuais. Além disso, não importa o programa que é transmitido pela TV, importa se o público tem uma visão crítica e sabe separar o que é bom e o que é ruim, o que deve ser guardado e transmitido. A pessoa deve ler as mensagens subliminares, entender quais idéias são passadas e assim poder dominar a televisão e não ser dominado por ela. Segundo Fazenda (2010, p. 59), a mídia televisiva constitui-se num importante recurso na metodologia utilizada na mediação do processo ensinoaprendizagem; uma ferramenta útil no trabalho do professor, considerando-se que as realidades comunicacionais envolvem diversos outros meios de comunicação. O pior caminho para a escola, afirma Brito (2006, p. 37), é vetar o tema. Segundo a autora, "aquilo que é de interesse da criança precisa ter espaço dentro da escola”. Cabe ao professor transformar as experiências dos alunos "em boas práticas como o incentivo à leitura, a reflexão sobre temas abordados na trama”. A motivação para o diálogo provocada pela novela é positiva, mas é preciso diferenciar para a criança o que é a situação imaginária da novela e o que é a realidade dela. Na escola alvo desta pesquisa nota-se claramente a influência dos meios de comunicação e do marketing nas crianças, em relação a consumo e comportamento. Os alunos falam muito dos personagens e da história, adquirem álbuns e reproduzem cenas da novela no cotidiano, como o namoro, e diversos estereótipos como a professora boazinha, o menino-problema, etc -, criando rótulos. O fato de o elenco desses programas ser formado por crianças, geralmente de 8 a 11 anos, 20 potencializa sua influência sobre os pequenos, que se identificam facilmente com os personagens. Para Moran (2004, p. 99) tudo que passa na televisão é educativo e, cabe ao professor fazer as intervenções certas e proporcionar momentos de debate e reflexão. Segundo o autor a televisão pode ser usada em todas as disciplinas abordando a interdisciplinaridade, pois ela é ampla e não esgota suas possibilidades de uso em sala de aula. Na sala de aula o professor pode interagir com os alunos levando a própria novela Carrossel para dentro da sala de aula, passando cenas e até mesmo capítulos inteiros para, a seguir, debater com eles pontos que positivamente irão influenciar as crianças. A televisão é um espaço privilegiado, pois à medida que as informações são apresentadas na televisão, a comunicação televisiva se torna fundamental para o crescimento pessoal do sujeito, até porque as informações aparecem em ritmo muito acelerado e a escola não pode deixar de acompanhá-las (MORAN, 2004, p. 101). Ressalta Freire (1983, p. 45) a necessidade dos educadores criarem as possibilidades para a produção ou construção do conhecimento pelos discentes, num processo em que o professor e o aluno não se reduzem à condição de objeto um do outro. Afirma ainda que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção e que o conhecimento precisa ser vivido e testemunhado pelo agente pedagógico. Assim a televisão é um grande estímulo ao conhecimento e que desperta vontade de aprender mais levando o professor e o aluno a posicionar-se frente às necessidades da sociedade. 2.1 A intervenção da mídia televisiva na Aprendizagem Conforme LIMA, (2006, p. 132), em nossa sociedade a televisão se apresenta como um meio onde o domínio do código escrito não é suficiente para a recepção básica das mensagens transmitidas. Com isso, muitos segmentos da sociedade, semi-analfabetos e até analfabetos, puderam ter acesso a conteúdos diversos que antes só seriam possíveis por meio da palavra escrita. Cabe aos educadores pensar como a televisão realiza a socialização de conteúdos variados (estéticos, informativos, científicos, de entretenimento, etc.) sem passar pela codificação da palavra escrita. O educador compreendido não apenas como facilitador da 21 aprendizagem é um mediador de saberes, praticando uma pedagogia ativa centrada no educando e que tem papel decisivo na construção da cidadania dos sujeitos. Atualmente, admite-se como alfabetizado o sujeito capaz de ler o mundo, a realidade e suas versões. O sujeito que não souber ler as mensagens da mídia de forma crítica e reflexiva pode ser considerado um “analfabeto”, por isso, compreender as atitudes e o contexto do educando é imprescindível ao educador. Numa visão vigotskiana (1989, p. 56), a inclusão dos meios de comunicação na aprendizagem da criança, é uma realidade que promove efeitos sensíveis no desenvolvimento da identidade da criança em sua interação com o meio social. Isso amplia seu conhecimento de mundo e utilização da linguagem atingindo a fala socializada, acesso ao universo lúdico e capacidade de identificar diversas imagens e sons associando-as ao seu contexto natural. Freire (1983, p. 43) propõe conhecer a realidade do educando no sentido de compreender as diferenças culturais e as distâncias lingüísticas existentes na escola para que o educador possa planejar e executar o curso, selecionar os objetivos educacionais, os métodos de ensino e a própria avaliação do processo ensinoaprendizagem. A realidade que o aluno conhece e vive não é somente aquela empiricamente apreendida; é também, a realidade sonhada, a das idéias, das crenças, das emoções, e das fantasias. O docente quando tenta conhecer a realidade do aluno, costuma dar mais importância aos aspectos empíricos desta realidade, Desconhece as dimensões simbólicas da realidade, sem o qual é impossível ter acesso ao mundo do educando e visão sobre ele. Para o autor, a comunicação não é apenas fundamental nas relações humanas, mas a inter-relação de seus elementos básicos permite certa autonomia ao processo educativo. O esquema comunicativo básico na relação educador - educando deve ser uma relação social igualitária e dialogal, que produza conhecimento. De acordo com FAZENDA, (2001, p. 48), a mídia televisiva constitui-se num importante recurso na metodologia utilizada na mediação do processo ensinoaprendizagem; uma ferramenta útil no trabalho do professor, considerando-se que as realidades comunicacionais envolvem os diversos meios de comunicação (televisão, vídeo, computador, etc) e, vinculada aos professores, tornam-se meios tecnológicos de interação em sala de aula. 22 Segundo os PCNs (1998, p.142), a televisão oferece uma variedade de informações e em muita quantidade, utilizando basicamente imagens e sons, o que a faz não depender necessariamente da cultura letrada. Desempenha importante papel na sociedade como socializadora de informações, formas lingüísticas, modos de vida, opiniões, valores, crenças, que não pode ser desconsiderado pela instituição escolar. Conforme os PCNs (1998): É comum que crianças e jovens tenham acesso, pela televisão, a informações diversas — sobre meio ambiente, conflitos internacionais, sexo, drogas, saúde, diferenças culturais etc. — que muitas vezes são fragmentadas, descontextualizadas, imprecisas, tendenciosas e até discriminatórias. Os alunos, embora ainda não tenham condições de compreendê-las plenamente, atribuem significados ao que vêem. Na escola, é possível provocar situações que permitam atribuir outros significados a esses conhecimentos e a construção de outros saberes a partir deles, assim como desenvolver atitude crítica frente aos conteúdos veiculados. Daí entende-se a televisão como um meio de comunicação importantíssimo para o sucesso do ensino e aprendizagem. 23 3. O FENÔMENO “CARROSSEL” PERSONAGENS E ALUNOS. E AS INTER-RELAÇÕES ENTRE Assistir televisão é um dos passatempos mais importantes na vida de crianças e adolescentes. Praticamente em todos os lares, seja qual for o nível social, o televisor está presente substituindo muitas vezes a presença materna, a babá eletrônica acessível a todos. Não há discordâncias quanto ao fato de que a televisão pode entreter, informar e acompanhar as crianças, pode também exercer influências indesejáveis. A sociedade como um todo sofre forte influência midiática. As novelas agem como instrumento poderoso, na formação do modelo daquilo que deve ou não ser aceitável pela sociedade e, no Brasil, há um alcance desse tipo de programa como não há em nenhum outro. Durante o período da ditadura os autores já percebiam esse tipo de arma na luta contra o sistema, apresentando idéias e valores. Hoje, vemos de forma recorrente, a crítica à religião, preconceito, machismo, etc. O que de fato é muito válido, desde que não aconteça de forma distorcida (http://detantopensarescrevi.com.br). A maior estratégia de influência generalizada usada pelas novelas é a família. Em todas as histórias o que há de comum é que a família está sempre no centro das transformações. Estudos apontam que as novelas têm um papel importante em algumas transformações comportamentais ao longo dos anos, como por exemplo, o aumento do divórcio e a preferência por menos filhos, uma vez que esse tem sido um padrão nas famílias novelísticas. As novelas funcionam como meio de entretenimento para a população e por esse motivo é comum que alguns comportamentos sejam seguidos. Mas, para o público infantil essa influência é mais forte e pode comprometer a educação. Crianças estão formando seu caráter baseadas no que vêem, ouvem e no que são induzidos a pensar (http://detantopensarescrevi.com.br). A base familiar é imprescindível para a formação de um individuo e a televisão pode ajudar ou atrapalhar. Programas educativos oferecem estímulos positivos na educação da pessoa, mas as novelas podem interferir negativamente nessa formação. O desenvolvimento precoce pode prejudicar a criança tanto quanto um desenvolvimento tardio. A falta de limite ou a flexibilidade nas regras pode prejudicar o convívio social da criança. Nesse ponto as novelas podem ser prejudiciais na formação. Crianças têm por hábito repetir comportamentos e situações que estão acostumadas a presenciar (http://detantopensarescrevi.com.br). E nesse intuito de 24 reproduzir o que se vê a criança não consegue distinguir claramente o certo do errado e pode acabar por considerar normais atitudes que são inadequadas a sua etapa de desenvolvimento. Como as novelas podem interferir negativamente no padrão comportamental da criança a função dos pais é instruir ao comportamento correto e a ficção pode destorcer essa visão. A influência positiva ou negativa ocorre e isso é um fato. Mas o limite aceitável dessa intervenção é imposto pelos pais, os verdadeiros educadores. A família determina o que a criança pode ou não assistir e nessa escolha que começa ou termina a tal da influência midiática. O sucesso da novela infantil Carrossel, do SBT, é incontestável. O folhetim chega a quase 14 pontos no Ibope e fica em segundo lugar no horário em que é exibida. Segundo dados do Ibope, 49 entre cada 100 crianças na faixa etária entre 4 e 11 anos, que estão com a TV ligada, assistem ao programa. Na prática, isso significa que essa enorme audiência mirim está sujeita à influência de um conteúdo nem sempre adequado à sua idade, o que reacende a discussão sobre a presença da TV na vida das crianças (CARAS, 2012). A novela “Carrossel” foi originalmente produzida em 1989 pela Rede Televisa, no México. A primeira vez que a atração foi exibida pelo SBT foi entre os anos 91 e 92. Na época, atingiu altos índices no Ibope e entrou para a história ao ameaçar a hegemonia da TV Globo e seu até então imbatível “Jornal Nacional”. Após inúmeras reprises, vinte anos depois a emissora resolveu apostar mais uma vez na trama infantil, mas, desta vez, por meio de um remake totalmente produzido no Brasil. No ar desde maio de 2012, a versão atual não chega a repetir o feito de antigamente, mas, não faz feio e volta a ser uma dor de cabeça para as emissoras concorrentes. A base da trama da novelinha é a convivência entre alunos da 2ª série da Escola Mundial, entre suas muitas descobertas, divergências e problemas enfrentados. O ponto chave e que liga todos eles, é a professora Helena, uma espécie de mãe/amiga, que funciona como uma fada madrinha e de onde partem todos os conflitos, emoções e sentimentos. Claro que muita coisa que era inerente aos anos 90 teve que ser adaptada para hoje, fora o encaixe de outros temas importantes em nossa realidade, como a inclusão social, por exemplo. Na versão atual, vemos crianças mais descoladas, interagindo pela internet, utilizando modernos celulares e vídeo games, além de serem mais espertas e hiperativas, como realmente são os pequenos de agora. 25 Talvez um dos motivos do sucesso da novela seja a leveza com que, temas tão importantes e difíceis de serem digeridos pelas famílias são abordados, como é o caso do preconceito racial, as diferenças sociais, o divórcio, a obesidade infantil, a depressão, entre tantos outros. Realmente a novela presta um válido papel social, aproximando as crianças de seus pais, e instigando diálogos e questionamentos saudáveis e relevantes. As cenas entre os mais emblemáticos dos alunos, Cirilo e Maria Joaquina, emocionam até o mais duro dos corações, pois retratam como pode nascer o preconceito entre brancos e negros e quanto isso, até hoje, continua enraizado culturalmente. Assistir crianças se deparando com tema tão delicado, não tem como deixar de ser ainda mais impactante (CARAS, 2012). Talvez o que os pais possam realmente fazer é, apenas, (e isso já é muito) estar presente e supervisionar o que as crianças estão assistindo. Os pais devem ver a novela junto com os filhos para explicar alguma cena, caso percebam um incômodo na criança ou caso ela pergunte algo. Normalmente, a criança se manifesta de alguma forma, fazendo uma pergunta, ou várias, referentes a determinada situação. Muitos pais usam a TV como babá eletrônica para distrair os filhos enquanto executam outras tarefas, mas, segundo a psicóloga, isso não beneficia a criança. Alguns acabam até permitindo que seus filhos tenham acesso a outros programas de conteúdo impróprio para a idade das crianças, o que é ruim para o desenvolvimento cognitivo e de personalidade da criança, já que ela ainda não tem maturidade suficiente para ‘filtrar’ determinadas informações. Por conta dessa imaturidade, mesmo quando se trata de uma novela infantil, os pais devem interferir e acompanhar de perto a programação televisiva de seus filhos. É preciso estipular horários, criar regras e estimular o brincar para evitar ao máximo que a TV vire de vez a babá eletrônica das crianças. Existe sim bastante influência da novela no imaginário infantil - podendo gerar angústia, medo e ansiedade -, inclusive nos atores mirins que interpretam os personagens da novela Carrossel. Segundo Pellegrini, (2002, p. 100) existem dados importantes que deveremos considerar na observação constante daquilo que nossas crianças e adolescentes extraem das programações televisivas. Desde que a televisão é considerada um meio de educação informal e de formação ideológica; vê-se sua influência na 26 exploração de objetos do universo da criança, que facilmente transformam-se em ídolos infantis atingindo, primeiramente, as crianças e grande parte dos adolescentes para, por meio deles, conquistam o adulto. Logo, na qualidade de receptores, as crianças são alvos da absorção de programas que incompatíveis a essa clientela. A cultura moderna tem disseminado uma inversão de valores, com ênfase nos programas televisivos, como exemplo, novelas que fazem apologia aos desajustes familiares e sociais, com cenas que cultuam a violência, dos filmes para adultos aos desenhos infantis. Sem a conscientização e a adoção dos valores morais, éticos, sociais, acrescidas da ausência dos pais ou responsáveis, a criança, por falta de estrutura, acabará por atingir certo grau de depressão. Quando pensa estar certa, reproduzindo o que viu, será punida; quando pensa estar errada, será recompensada. Instauram-se, assim, os desajustes, provocando os desequilíbrios emocionais. A criança liga e desliga rapidamente seu cérebro, interessando-se por muitas coisas, sem conseguir manter-se nelas por muito tempo. Sua programação diária situa-se, na maioria dos casos, entre o “fazer a lição de casa” e o “ ver televisão”. Esse acúmulo de mensagens televisivas sem conteúdo, com ação rítmica, torna a criança dispersiva, com baixo poder de concentração, insegura. Ir mal na escola indica uma sobrecarga. Sem conseguir resolver seus problemas, a criança desenvolve a auto-agressividade como atitude compensadora na proporção adequada aos seus fracassos. A trama da novela envolve a rotina escolar, os acontecimentos familiares e a amizade/inimizades das crianças que fazem parte da mesma turma. A classe do terceiro ano é uma turma bem agitada e cheia de complicações, uma professora nova, Helena, chega para colocar ordem nos “santos diabinhos” como são chamadas as crianças por Firmino, zelador da escola. Helena uma professora meiga, preocupada com os alunos, perseguida pela diretora Olívia, sempre consegue solução para tudo. No desenrolar desta trama são abordados temas como preconceito, diferenças sociais, raciais que podem ser absorvidas pelas crianças de maneira positivas se estiverem assistido à novela com um adulto que o oriente quanto ao que é certo e errado, pois sem a intervenção provavelmente a criança tenderá a observar e a seguir o fato que mais o convém, e na maioria das vezes, é o comportamento de 27 vingança, racismo, orgulho, prepotência, indiferença entre outros, que as situações impõem sem que eles percebam. Os alunos apresentam problemas particulares Paulo, Kokimoto e Valéria são os pestinhas e sempre estão aprontando. Cirilo, filho de um carpinteiro, é o único negro da história apaixonado por Maria Joaquina uma menina rica e preconceituosa, filha de um médico. Carmem é uma bolsista que sofre com o desemprego do pai e já foi até discriminada pela diretora por não ter um sapato novo para ir à escola. Daniel tem sempre uma solução inteligente para tudo e está pronto a ajudar a todos. Davi é um menino judeu, bem tranqüilo, que “namora” Valéria, a sapeca. Laura é a gordinha sentimental da turma tudo para ela é “tão romântico” ou “tão atirromântico”. Jaime é um garoto gordinho com estima baixa, ele se acha burro e incapaz, adora comer e morre de medo do pai que sempre lhe trata as pancadas. Jorge é um aluno rico novato, sempre está metido em confusões pro suas mentiras e prepotência, se acha melhor que os ouros. Adriano, Alícia, Bibi e Marcelina completam a turma ajudando sempre que necessário sem destaques maiores. 3.1 As Famílias de Carrossel Todas as informações dos tópicos 3.1, 3.2 e 3.3 foram retirados do site TAVARES, Marcus. Carrossel. Matéria publicada em 21 de maio de 2012. Disponível em: http://www.revistapontocom.org.br/ultima-materia-4/carrossel. Acesso em: 12 de maio de 2013. 3.1.1 Família Medsen Maria Joaquina Medsen é uma criança arrogante que pensa que por ser filha de médico, rica e bonita é superior aos seus colegas. Racista e preconceituosa, não mede palavras para ofender seu colega, Cirilo, o qual despreza, também por gostar dela. Com o tempo, sofre isolamento e rejeição geral por parte dos colegas de classe. Com a repreensão dos pais e da professora Helena, Maria Joaquina muda de postura gradativamente. No quesito acadêmico, a professora Helena não tem do que se queixar. O caderno de Maria Joaquina é impecável e ela sempre cumpre com suas responsabilidades. Costuma delatar os colegas a fim de prejudicá-los, é orgulhosa e sempre os humilha quando tem oportunidade. Sonha em se tornar médica igual ao pai. Também sonha em ser estilista quando crescer. Sempre antenada na moda e se preocupa muito com o que veste. É influente e cria 28 tendências, como acessórios, luvas e broches para enriquecer o uniforme e se diferenciar dos outros alunos. Os pais se sentem impotentes quanto ao caráter da filha. Sempre que Maria Joaquina tem atitudes preconceituosas e depreciativas, eles a corrigem, mas muitas vezes em vão. A garota se aproveita da insegurança de Clara, sua mãe, para impor suas vontades. Miguel, pai de Maria Joaquina é humilde e teve uma infância pobre. Trabalhou, foi determinado e diligente para chegar onde chegou. Homem digno, correto e cheio de valores. Procura ser justo no pensar e no agir, respeita as diferenças entre pessoas. Por ter passado dificuldades durante a infância, ajuda os menos afortunados como pode. Tem um coração benevolente. Clínico geral renomado e muito requisitado. Tem todo o mérito na obtenção de seu grande patrimônio atual. Tudo que possui foi conquistado com sucesso na sua profissão. Sabe da responsabilidade que tem como médico e ajuda os necessitados de tratamento que cruzam o seu caminho. Preocupa-se com o caráter e a educação da filha e se entristece ao ver as atitudes preconceituosas e elitistas da menina. Clara, mãe de Maria Joaquina vem de uma família tradicional e nunca passou necessidade. É acostumada com o conforto da riqueza e não abre mão deles. Em função de sua insegurança, encontra problemas na hora de impor a firmeza que Maria Joaquina necessita. É dominada pela filha e não reage. 3.1.2 Família Rivera Cirilo Rivera é um garoto ingênuo e inocente que costuma cair nas peças que seus colegas lhe pregam. É doce e de boa índole. Está sempre disposto a ajudar os amigos. Não se conforma em ver injustiças, defende os oprimidos com unhas e dentes. Costuma colocar em oração a vida dos amigos em apuros. Por ser negro e de família simples, sofre preconceito por parte de Maria Joaquina, menina pela qual se apaixona. Não é excelente academicamente, mas é esforçado. Adora a professora Helena e tenta sempre obedecê-la. Quando diz alguma coisa e é mal interpretado, usa o jargão “mas eu só quis dizer” para se justificar. Em casa, Cirilo é um filho exemplar e amável. Respeita a autoridade do pai e da mãe. É compreensivo com a condição difícil dos pais e os ajuda como pode. Seu pai é marceneiro, um modelo de honestidade e esforço em quem se espelha. Sonha em ser médico quando crescer, por ser a mesma profissão do Dr. Miguel, pai de Maria Joaquina, e por sempre querer ajudar os outros. 29 José Rivera, pai de Cirilo é um homem trabalhador, de caráter sólido e constante. Tem orgulho de ser negro e da família que construiu com a mulher. É cristão, conduz sua vida pelos princípios bíblicos. Dono de uma integridade invejável. Apesar de não ser rico, procura ajudar da maneira que pode, com serviços, palavras de incentivo e orações. José é humilde procura ser justo no agir. Não é muito estudado, mas aprendeu lições valiosas com a vida. É proprietário de uma marcenaria, que não lhe dá grandes rendimentos, mas é dela que vem o sustento da casa. José madruga todos os dias e trabalha diligentemente. Um exemplo de marido e pai. Atencioso e carinhoso, José é presente em todas as áreas da vida do filho. Não só ensina a Cirilo os bons valores, mas coloca-os em prática e dá bom exemplo ao filho. Paula, mãe de Cirilo é conciliadora, calma, sóbria e singela, mas guerreira quando se trata de ir à frente de sua família. Cristã, Paula usa dos princípios bíblicos para nortear suas atitudes, assim como o marido. É muito meiga ao tratar com as pessoas. Tem orgulho de sua cor e raiz. Cuida de sua casa com esmero e dedicação e faz serviços de costura na própria casa. Mãe e mulher carinhosa, traz o equilíbrio a família. Submissa ao marido. Dá toda a atenção que Cirilo e José necessitam. 3.1.3 Família Ferreira Valéria Ferreira é uma menina sapeca, geralmente está metida em confusão ou bolando um plano mirabolante. Inteligente, é do tipo que tem resposta pronta para absolutamente tudo e uma piadinha sempre na ponta da língua. Muito simpática e falante, lidera o grupo com facilidade e se aproveita disso para ser mandona. Com o seu jeito todo descontraído e desembaraçado, Valéria tem o sonho de se tornar uma grande apresentadora de TV. Por causa de seu lado impulsivo, faz coisas das quais sempre se arrepende e tem de se desculpar no fim. Quando um simples pedido de desculpa não é suficiente e seus escorregões têm conseqüências graves, Valéria mostra o seu lado sensível. Está disposta a fazer o que for para ajudar sua família e seus amigos. O desempenho em sala de aula poderia ser melhor, não fossem suas gracinhas, atrevimento e a necessidade de chamar atenção. É muito esperta e tem raciocínio rápido. Gosta de trocar bilhetinhos com os colegas, principalmente Davi, seu namoradinho. Abusa da bondade e paciência da professora Helena. Valéria é alvo de algumas pegadinhas dos colegas porque se 30 assusta fácil. É muito dramática, sofre “desmaios” constantes em situações de estresse. Seus pais conhecem todos os seus artifícios e sabem exatamente como lidar com ela, mas Valéria é filha única e, muitas vezes, vence os pais pelo cansaço, o que a torna mimada. Quando quer alguma coisa, é difícil encontrar alguém que a faça mudar de idéia. Ricardo Ferreira, pai de Valéria é um homem descente e de caráter. Bom pai de família, Ricardo mantém um ótimo relacionamento com a esposa. Exige que Valéria respeite e obedeça a mãe. Tem um emprego que proporciona à sua família condições confortáveis de vida. É presente na vida familiar. Rosa, mãe de Valéria. É carinhosa, zelosa e generosa. Acompanha de perto a vida acadêmica da filha. Consciente dos problemas de comportamento de Valéria trabalha para corrigi-los, mas de vez em quando, dá umas escorregadelas. Rosa tem coração mole e acaba cedendo à insistência e charme da filha, mimando-a. Uma boa esposa, muito unida ao seu marido. 3.1.4 Família Palillo Jaime Palillo é um garoto com o coração de ouro, mas sem muitos modos. Gordinho e bruto, Jaime costuma resolver seus conflitos com um empurrão aqui e um chute acolá. Quando é estúpido, não o faz por mal, uma vez que a criação que recebe em casa não lhe ensina maneiras mais civilizadas de resolver os problemas. Muito parecido com o pai no jeito e na aparência, entre outras coisas, puxou dele o machismo. Para Jaime nenhuma mulher presta, a não ser sua mãe e a professora Helena. Limpeza e organização não são seus pontos fortes, vive levando bronca por andar desleixado. Não é capaz de machucar ninguém seriamente. Seu lado bondoso sempre prevalece. Faz amizade com um mendigo que lhe ensina a tocar gaita, motivo de orgulho para seu pai e seus amigos. O menino vê a escola como sinônimo de pesadelo. Enfrenta sérias dificuldades pedagógicas, é repetente e sofre todo ano com a incerteza de saber se passará ou não para a série seguinte. Seu caderno é uma calamidade. É graças a paciência e a crença de Helena no potencial de Jaime que o ele não desiste. Se existe alguém de quem Jaime realmente tem medo, é de seu pai, o mecânico Rafael. Sempre que Jaime chega com o boletim ou com um bilhete da professora, Rafael perde a compostura e tem vontade de bater no filho, mas logo se compadece e faz tudo que pode para ajudá-lo. Em contrapartida, o menino é mimado por sua mãe que sempre lhe oferece algo de comer, na tentativa 31 de compensar as faltas. Jaime é um verdadeiro glutão, come muito e de tudo. Tem um irmão mais velho, adolescente, que se veste de maneira alternativa e usa penteados “moderninhos”. Jaime adora provocá-lo. Sonha em se tornar jogador de futebol. Mas tem um plano B, se tornar mecânico de carros, como seu pai. Seu pai, Rafael, não quer que Jaime seja sujo, sem educação, nem desleixado, mas também não dá o exemplo. Em certas situações é extremamente rígido, mas logo amolece. Preza pela união, faz questão que todos estejam à mesa para as refeições. Quanto a Eloísa, acha que sua função é cuidar da casa e da família. É machista, mas apaixonado pela mulher. Eloísa mãe de Jaime é feliz, bem humorada e pacificadora. É contente com a sua aparência, apesar de ser cheinha. Humilde, tem coração disposto e gosta de ajudar. Uma exímia cozinheira que agrada a todos com seus quitutes. Para ajudar e ficar mais perto de seu filho Jaime, trabalha na cantina da Escola Mundial. Luta contra o vício do cigarro adquirido na juventude. Fora da cantina, sua ocupação principal é cuidar da casa e da família. Dedica-se de coração. Como Jaime adora comer, Eloísa, na ignorância, incentiva sua glutonaria. Dá ao filho mais do que necessário para se alimentar bem. É advogada dos filhos diante de Rafael e intervém quando o marido exagera na brutalidade. Jonas é irmão de Jaime, Está sempre na moda dos jovens e gosta de ouvir música no último volume. Uma de suas bandas preferidas é o Restart. Veste roupas coloridas, camisetas estampadas e cabelo liso jogado para o lado. Não se dá bem com o irmão, Jaime, com quem briga constantemente. 3.1.5 Família Carrilho Carmem Carrilho é educada e respeita a todos, destaca-se em maturidade. Sua meiguice e doçura são cativantes. Apesar de vir de uma família extremamente pobre, está sempre impecável, com o cabelo arrumado e uniforme em ordem. Tem facilidade com trabalhos manuais como bordado e costura, um passatempo que em momentos de necessidade, ela usa para ajudar em casa. Míope, usa óculos grandes de lentes grossas, mas não tem o menor problema com isso. Seu sorriso encantador esconde certa tristeza. Meiga, frágil e doce no modo de falar e agir, se deixa afetar facilmente pelos problemas de sua casa, mais do que uma criança na sua idade deveria. É a aluna que toda professora sonha em ter. Estudiosa, se porta muito bem em sala de aula e cumpre seus deveres com excelência. Embora seja mais introvertida, tem um grupo de amigas na classe com o qual se dá muito bem. 32 Sempre que pode, ajuda os colegas com a matéria e os estudos. Sonha em se tornar professora quando crescer. Envergonha-se do mau relacionamento entre os pais e evita o quanto pode esse assunto entre as amigas. Apazigua as situações com sensatez e ajuda quem precisa. Em casa, é a filha mais velha, seu irmãozinho tem apenas três anos. Enfrenta com sua mãe uma situação muito difícil: o abandono do pai. Vai fazer de tudo para ver a mãe e o pai felizes novamente. Frederico, seu pai, é um homem bom e decente, mas de pouca sorte. Inseguro das decisões que toma na vida, é instável. Tende a ser depressivo, não encara bem as adversidades e se deixa fracassar facilmente. Auto-estima baixa. É trabalhador, mas tem dificuldade de se estabilizar em um emprego. Sente-se envergonhado por não conseguir dar condições dignas à esposa e filhos. A desonra, o desemprego e a falta de sucesso o afastam de sua família. Ricardo ama seus filhos e sofre ao saber que passam dificuldades por sua causa, então prefere fugir a encarar o desafio. Embarca em um relacionamento extraconjugal que o confunde mais ainda. Já Inês, sua mãe é uma mulher sofrida, seu físico expressa sua fraqueza e cansaço. Trabalhadora, não tem tempo para si, é desleixada com a aparência. Frágil emocionalmente, mulher triste, carente de afeto, introvertida e com baixa autoestima. Trabalha como costureira em uma grande fábrica têxtil. Madruga todo o dia e enfrenta uma batalha diária para levar comida aos seus filhos. Suas atividades se restringem a trabalhar e cuidar da casa, não tem vida social. Apesar das dificuldades da vida, tenta ser uma mãe amorosa e presente para Carmem e Dudu. Tem sempre uma palavra de esperança e consola a filha. Sem forças para lutar pelo relacionamento com Ricardo, acaba deixando-o partir. Solitária e abandonada pelo marido, não tem outra pessoa com quem desabafar senão a filha mais velha, Carmem. Seu outro filho, Eduardo (Dudu), mais novo de Carmem, é uma criança quieta e comportada. 3.1.6 Família Ayala Mario Ayala não desperdiça uma chance de destilar o ódio que lhe perturba. Mario perdeu a mãe e, desde então, não acredita mais em Deus. Como defesa, maltrata as pessoas e se mantém distante, com medo de se magoar. Não perdeu o carinho pelos animais, adora os bichos e com eles tem contato próximo. Após encontrar um cachorro com a pata quebrada, o adota para si. Rabito, batizado por 33 Mario, se torna seu melhor amigo e futuramente o mascote da Patrulha Salvadora. Ingressa na Escola Mundial, com o ano escolar já em andamento, após ser expulso de outras escolas por problemas comportamentais. Em seu primeiro dia de aula, seu comportamento é cruel e faz a professora Helena com toda a turma chorar. Mario distribui ofensas a todos e enfrenta qualquer um que imponha autoridade sobre ele. Repele os colegas que tentam se aproximar, menos Paulo, com quem se alia para fazer o mal. Com o passar do tempo, o amor que recebe de Helena e seus colegas de classe amolecem o coração de Mario, que se torna mais comportado e amigo de todos. Filho de Germano, um homem sem posses, que vive de viagens de caminhão para ganhar duramente a vida. Mora com o pai, a meia-irmã e a madrasta Natália. Deixado de lado em casa, nunca ganha presentes ou tem seu aniversário comemorado. Não sabe conviver em família e muito menos conhece o verdadeiro significado dessa palavra. Nas brigas com a madrasta Natália, sempre leva a culpa e é ameaçado de ser colocado em um internato. Daí vem a revolta de Mário. Germano dá duro para sustentar a casa. Trabalha com transporte de alimentos. Não lhe resta muito tempo livre para dar atenção à família. Após o falecimento de sua primeira esposa, casou-se com Natália, mas não encontrou a felicidade. Fica claro que só mantém o casamento por ter uma filha em comum com ela e por comodidade. Omisso, deixa-se dominar e manipular pela mulher encrenqueira e a defende diante de Mario, para evitar problemas. Ama o filho, mas não sabe lidar com a revolta que o dominou após a morte da mãe. Sua essência não é ruim, já suas escolhas são. Natália é a madrasta de Mario. Egoísta, amarga, ruim e desequilibrada, detesta o enteado e não faz questão de agradá-lo, odiosa ao tratar com ele. Chega ao ponto de esconder comida de Mario, com medo que falte para sua filha. Mente para manipular as situações, fazendo com que Mario sempre saia culpado durante as brigas. 3.1.7 Família Guerra Paulo Guerra é uma criança destemida, revoltada e sem limites, está sempre sacaneando um colega ou aprontando por aí. É fã dos estilingues, zarabatanas e outros brinquedos de atirar. O “garoto problema” da Escola Mundial. Dificilmente respeita uma autoridade. Advertências e suspensões não são eficazes para colocá- 34 lo na linha. Paulo sempre dá um jeito de se safar. Falsifica a assinatura da mãe, chantageia colegas, manipula as situações, faz qualquer negócio para não se sair mal. Temido pelos colegas, que preferem evitá-lo ou fazer o que ele manda para não criar problemas. Aproveita-se da personalidade influenciável de Kokimoto e o usa como seu capanga. É cínico, capaz de desmentir qualquer um que possa prejudicálo. Faz piadas depreciativas e maldosas sobre o físico dos colegas ou condições sociais desfavoráveis. Por diversas vezes, desconta a raiva de algo que lhe aflige, na irmã, um ano mais nova que ele. Seus alvos prediletos são Laura e Cirilo. Apesar do péssimo comportamento, quando quer, se dá bem na escola. Paulo é repetente por sua conduta reprovável e desinteresse pelos estudos, não por falta de capacidade. Helena exerce uma boa influência sobre Paulo, justamente porque não tenta dominá-lo com imposição ou ameaças, mas mostrando ao garoto seus erros, ensinando-o o que é correto e não deixando de ser firme quando necessário. Sua revolta vem de casa. Lilian e Roberto, já saturados e sem paciência para lidar com a personalidade forte de Paulo, o disciplinam na base do castigo, privação ou tapas. Seus pais não conseguem aceitar o fato de terem dois filhos tão diferentes. O comportamento do menino na escola é reflexo do tratamento que recebe dos pais. Paulo é muito apegado à mãe. Mas não recebe tanta atenção de seus pais quanto gostaria. Maior parte da atenção da casa é voltada para Marcelina, uma filha exemplar que não dá trabalho aos pais. Marcelina é a irmã mais nova de Paulo Guerra. Frágil, muito amorosa e sensível, defende os injustiçados sempre que sua coragem permite. Marcelina não é do tipo que tem personalidade forte, então é facilmente dominada pelo irmão. Medrosa, evita o perigo a qualquer custo, por isso, raramente está metida em confusão. Além da matemática, seu maior desafio na escola é ter que conviver na mesma classe com o irmão repetente. Tem grande simpatia e admiração pela professora Helena. Sempre quietinha na sala de aula, é o tipo de aluna que pode passar despercebida se o professor não se atentar. É a mais baixinha da classe e seus amigos vivem fazendo piadinhas a respeito disso. Vive brigando com o irmão. Algumas vezes por querer ficar no quarto dele, outras por saber algo comprometedor sobre o mesmo. Como caçula e menina, é protegida pela mãe. Dificilmente conta ao seu pai sobre as trapaças de Paulo, tem dó das punições que o irmão pode receber. Seu sonho é se tornar mãe e construir uma família feliz. 35 Roberto, pai de Paulo e Marcelina é frio, severo, estúpido e pavio curto. Agride com palavras. Egoísta, dedica a maior parte de seu tempo ao trabalho, é um empresário ocupado. Ausente nos assuntos de casa. Impaciente, não tem disposição para lidar com o gênio difícil de Paulo. Exige muito dele e se frustra com o retorno insatisfatório que recebe, sem perceber que está pedindo mais que o filho pode dar. Não é sensível com as causas da rebeldia de Paulo. Seus esforços se concentram somente em punir o filho. Interage melhor com a filha mais nova, Marcelina. Afinal de contas, ela é uma garota tranquila que não exige o esforço do pai para ser disciplinada. Lílian, mãe de Paulo e Marcelina é carinhosa e preocupada com a formação dos filhos. Não se conforma com os problemas comportamentais de Paulo e com o quanto ele é diferente de Marcelina. Exausta, não consegue impor limites a ele. É facilmente enganada pelo filho. Quanto ao marido, não vai contra as punições que Roberto impõe a Paulo. É fraca e insegura. 3.1.8 Família Rabinovich Davi Rabinovich tem cabelos loiros cacheados e personalidade doce lhe dão um ar angelical. É judeu e muito sensível. Deixa-se levar por sua imaginação fértil e faz trapalhadas por pensar que coisas são o que na verdade não são. Dá o sangue para ajudar os necessitados. A sensibilidade e o fato de ser extremamente medroso fazem com que Davi seja visto como o chorão da classe. Não tem fibra para lidar com situações difíceis, conta muito com o apoio dos amigos. Simpatiza com a música e tem talento para tocar violino. A única coisa que o prejudica na escola, é seu romance com Valéria. Davi, mesmo sendo bom aluno, se mete em roubadas e toma para si a culpa do que não faz para encobrir a namoradinha. A vontade de ajudar os amigos é sempre maior do que o medo de se meter em enrascada. Seus pais seguem a tradição judaica, fato pelo qual Davi muito se orgulha. Tem grande apresso por todos da família, mas a relação com a avó é algo especial. Outra grande companheira dentro de sua casa é sua tartaruga, a qual batizou de Relâmpago. Sonha em crescer e se tornar arquiteto, mas Valéria prefere que ele seja engenheiro. Isaac Rabinovich, pai de Davi. Judeu tradicional está sempre com seu quipá, símbolo do temor a Deus. Segue os preceitos da religião semita, transmite-os a Davi 36 nas conversas e atitudes que toma. Homem de posses, dono de uma companhia de mudanças. Rebeca, mãe de Davi é o estereótipo da mulher judia, usa saia, e se veste com bom gosto. Apesar de ser rica, não é dadivosa, pelo contrário, é mão fechada. Uma mãe que se dedica ao filho, amorosa e atenciosa. Também transmite ao filho a tradição judaica. 3.1.9 Família Cavalieri Jorge Cavalieri é o menino mais rico da sala. Vizinho de Maria Joaquina. Prepotente e orgulhoso possui inteligência acima dos padrões de sua idade e é muito ardiloso. Exteriormente bonito, arranca suspiros das garotas por onde passa. Interiormente, não tem muitas virtudes, esse é o motivo pelo qual seu pai o matricula na Escola Mundial. Educação e etiqueta impecável, mas não sabe o que é o amor ao próximo e os bons sentimentos. Egoísta, Jorge é uma criança malvada. É obrigado por seu pai a entrar na Escola Mundial. Não se mistura com os colegas porque não pertence à mesma classe que eles. Arranca sorrisos e piscadelas de Maria Joaquina, sua única amiga na escola. Tem prazer em despertar o ciúme de Cirilo. Porta-se como adulto e vê os garotos de sua sala como bobos. De família nobre e tradicional. Seu pai trabalha com exportação e é dono de um patrimônio invejável. Exige muito de Jorge e por ser correspondido em suas expectativas, dá tudo o que o filho lhe pede, salvo raras exceções. Ele é mimado por sua mãe que sempre o defende e coopera para que o menino viva somente no mundo da riqueza. Em casa, faz aulas de piano, inglês, entre outras que complementam seus estudos. Alberto Cavalieri, pai de Jorge é um homem abastado, de família nobre. Determinado, orgulhoso e drástico em suas atitudes. Não tem problema em mostrar o poder e a fortuna que tem. É educado, culto e inteligente. Amigo de Miguel, pai de Maria Joaquina. Alberto é bem sucedido e respeitado em seus negócios. Como pai, mantém Jorge com rédeas curtas. Trata-o como adulto. Entende que criança é criança, mas acha que tudo tem limite. Impõe rotina severa para Jorge e faz questão de acompanhar o filho de perto. Coloca altos padrões de desempenho a Jorge e não aceita que ele não os corresponda. Não é sovina, deixa a família usufruir da riqueza. Alberto dá a Jorge tudo o que filho deseja materialmente, mas esquece do lado afetivo. Vai contra a vontade de Rosana e do próprio Jorge, matriculando-o na Escola Mundial, na tentativa de corrigir o caráter do filho. Rosana Cavalieri, mãe de 37 Jorge. Bonita, vaidosa e fútil. Sempre defende e mima o filho. Bate de frente com o marido quando o mesmo decide colocar o filho na Escola Mundial. Elitista, gosta de ostentar a fortuna da família. Acha um absurdo o fato de seu filho estudar com crianças mais pobres. 3.1.10 Família Zapata Daniel Zapata é um aluno exemplar. Incorruptível, não se deixa levar pelas más influências. O líder intelectual da turma, politicamente correto, induz os colegas a fazerem o que é apropriado. Íntegro, jamais compactua com injustiças ou circunstâncias que possam lesar alguém. Não consegue ver um amigo sofrendo, nem em apuros. Não poderia ser outro, se não Daniel, o fundador da “Patrulha Salvadora”. Composta por seus colegas de classe, é uma organização que tem, como missão, ajudar os que enfrentam dificuldades. Tem interesse por música e faz aulas de bateria. Talentoso e estudioso, seu boletim é repleto de notas dez. Em classe, sempre soma e enriquece as aulas com seus conhecimentos. Só se mete em confusões quando são para o bem de seus colegas ou quando julga ser algo justo pelo qual deve lutar. É, por conta própria, os olhos de Helena nos lugares da escola em que a professora não está. Quando presencia uma situação e sabe que a professora pode ajudar, leva para Helena o ocorrido, para que não haja injustiças. É admirado por quase todas as garotas da classe. Recebe dos pais segurança, atenção e direção. Vive em uma casa estável. O casamento de seus pais é sólido, dando a Daniel uma base igualmente consolidada. Pretende se tornar advogado ou embaixador quando crescer. Sr. Valentim Zapata é um pai justo e correto. É adepto da moral e dos bons costumes. Um homem magnânimo, não nega auxílio aos que precisam. Ocupa um cargo de liderança na empresa onde trabalha. Seu salário é alto. Condição financeira estável e abastada. Gosta de dar exemplo de boa conduta dentro de casa. Pai presente, compreensivo e zeloso. Sabe do grande potencial de Daniel e por isso exige dele excelência. Trata o filho de igual para igual, não o infantiliza. Por ser sistemático, impõe rotina dentro de casa. Acredita que o filho deve ter horários específicos para dormir, comer, estudar e brincar 38 3.2 Personagens sem família 3.2.1Laura Gianolli é gordinha e sentimental, é a romântica da classe. Está sempre beliscando um pedacinho de comida. Inocente, deixa-se levar pelas emoções. Adora as histórias de princesa e sonha com um príncipe encantado. Vive desabafando um suspiro: “Isso é tão romântico!” ou “Isso é tão antirromântico” ou “Isso é muito sentimental”. Laura é fã de poemas, escreve com facilidade e graça. Suas composições são sempre bem feitas e cheias de adorno. Não falta à escola por nada. Boa aluna emuito participativa nas aulas. Todo recreio, leva consigo um sanduíche, mas apesar de ser comilona, Laura não quer saber de alimentos saudáveis, prefere as guloseimas pouco nutritivas e passa longe de saladas e legumes. Iludida, volta e meia acredita que algum de seus colegas está apaixonado por ela. Não tem o hábito de se meter em confusão, mas se isso for preciso para ajudar uma de suas amigas, não hesita. Seus pais são muito apaixonados e extremamente carinhosos. A garota é gordinha porque sua mãe a enche de comida com medo que a filha fique subnutrida e adoeça. 3.2.2 Kokimoto Mishima é um japonês espevitado e baixinho. Sua marca registrada é uma faixa amarrada na cabeça, a tradicional Hachimaki. Do tipo “invocadinho”, não perde a oportunidade de sacanear alguém. Precoce em suas curiosidades. Kokimoto não precisa se esforçar para ir bem na escola. Tem raciocínio rápido e tira de letra os problemas matemáticos. Dificilmente é descoberto pela professora Helena em suas traquinagens. Facilmente influenciável, é usado de capanga por Paulo Guerra, que periodicamente o instiga a fazer parte de seus planos mirabolantes. Como colocar um sapo vivo no piano de professora Matilde. Não é capaz de cometer atrocidades e isso compromete sua sociedade com Paulo. Seus pais são japoneses conservadores. O que mais interessa Kokimoto a respeito de suas raízes, são os samurais, vive perguntando para o pai sobre os guerreiros. Sonha em ser samurai quando crescer. O pai é dono de uma tinturaria e apesar de trabalhar muito, é atencioso e amoroso com o filho. 3.2.3 Adriano Ramos é sonhador, criativo e apesar de disperso, não deixa de ser inteligente. Quando todo mundo menos espera, tem um insight genial. Não é estudioso, mas tira notas boas, o que é um mistério para os colegas, já que Adriano 39 vive caindo no sono durante as aulas. É fã de livros e histórias em quadrinhos e é viciado em videogame. Bondoso e cooperador, às vezes se mete em trapalhadas, sem querer. É introvertido e de poucas palavras. Prefere sentar no fundo da classe e sempre leva bronca da professora por estar dormindo ou desenhando durante a aula. Seus colegas mais próximos são Davi (os dois se identificam no quesito imaginação) e Jaime Palillo (quem o defende sempre, mas também o usa como saco de pancada). 3.2.4 Bibi Smith é uma estrangeira simpática. Tem um leve sotaque da língua norte americana e vive usando palavras em inglês para se expressar. Faz a política da boa vizinhança, mas não é muito fã de contato físico ou muita proximidade. Seus costumes não negam suas raízes, adora fast food e tecnologia. É materialista e gosta de luxo, já sonha em ganhar jóias. É ótima aluna. Enfrenta alguns problemas de ortografia por ter sido alfabetizada em inglês, mas tira as matérias de letra. É a mais próxima de Maria Joaquina. Sempre tranqüila, não costuma se meter nas confusões. Bibi é apaixonada por cinema e pelos astros de Hollywood. Seu maior sonho é se tornar uma atriz famosa quando crescer. 3.2.5 Alicia Gusman é espoleta e moleca, gosta de esportes radicais e brincadeiras de menino. Vai para todos os lugares, até mesmo para a escola, de skate. Veste-se de forma descontraída e sem muitas combinações Diferente do resto das meninas, não é de muitas frescuras, pega em insetos, bichos e coisas gosmentas sem nojo. Apesar de tudo, não deixa de ser feminina. Inteligente, mas pouco estudiosa ou cuidadosa, uma aluna mediana. Quieta e bastante observadora, só fala o necessário na hora certa. Alicia não tem certeza do que quer ser quando crescer, mas também não pensa muito nisso. Seu único interesse agora é aproveitar o tempo que tem para brincar e se divertir. 3.3 Professores e Funcionários da Escola Mundial 3.3.1Matilde leciona música aos alunos da Escola Mundial. É adepta dos padrões de ensino tradicionais e age de maneira similar a diretora Olívia. Impõe disciplina aos alunos com ameaças que não pode cumprir, o que a faz perder a credibilidade diante das crianças. O fato de ser exagerada e escandalosa a torna motivo de chacota. É uma das vítimas favoritas das peripécias de Paulo e Mario, que adoram 40 vê-la dando chilique. Firmino sabe bem como acalmar Matilde no meio de um colapso nervoso. O chazinho preparado por ele acalma os ânimos de Matilde em um piscar de olhos. 3.3.2 Graça é a encarregada da limpeza da escola. Destrambelhada e confusa. Fala o que pensa, não tem papas na língua e só se arrepende quando a besteira já está feita. Adora cantar alto enquanto faz seus serviços, o que perturba os alunos em sala de aula. Sua marca registrada é um espanador que leva consigo para todo lado. É preguiçosa e procrastina até quando pode. Volta e meia, ela precisa de um empurrãozinho para cumprir suas tarefas corretamente. É muito amiga de Firmino. Os dois juntos seguram os rojões da explosiva diretora Olívia. Cria amizade com os alunos do colégio que a acham muito engraçada. Por ser ingênua, Graça acaba se tornando alvo de algumas pegadinhas por parte das crianças, mas sempre as leva com espírito esportivo. 3.3.3 Marcos Morales: Rico e bondoso empresário, é patrono da Escola Mundial e amigo de Dr. Miguel. De origem muito pobre, prosperou e enriqueceu. Inteligente, talentoso para os negócios e com a sorte ao seu favor, construiu um império. Perdeu a mulher e o filho em um acidente de carro. Sofreu, mas não se amargurou, seguiu sua vida com a missão de fazer o bem ao próximo. 3.3.4 Jurandir de Souza: É o mecânico auxiliar de Rafael na oficina. Não tem muita experiência na área e por isso vive fazendo trapalhadas. Só conseguiu o emprego por ser amigo de Rafael, que por sua vez, necessitava urgentemente de ajuda e ficou com o primeiro interessado pela vaga. Desajeitado, toma alguns choques e banhos de óleo. Apesar disso, está sempre disposto a ajudar de forma bem humorada, o que segura o seu emprego. Sua paciência e ingenuidade são outras características que lhe aproximam de Jaime e Rafael. Rafael perde a paciência com o auxiliar, que muitas vezes confunde cores de cabos e carros. O patrão acha que o problema é o mesmo que o do filho, burrice. Mas, para a surpresa deles, descobrem que a verdadeira causa das confusões de Jurandir se dá em função de seu daltonismo. 3.3.5 Cristina Fernandes é a mãe da professora Helena. Mulher de caráter e muito 41 correta. É certeira e objetiva no falar, mas sabe ser doce quando necessário. Equilíbrio e moderação também fazem parte de suas virtudes. Resumindo, Cristina é Helena com mais vivência e maturidade. É viúva do pai de Helena e sempre foi dona de casa. Mora com a filha e é sustentada por ela. Mantém um ótimo relacionamento com Helena. Dá bons conselhos e todo o suporte que a filha precisa. 3.3.6 Professora Helena Professora jovem, linda e meiga que leciona ao terceiro ano da Escola Mundial. Para Helena, o ensino caminha lado a lado com o amor. Conquista a confiança e a amizade dos alunos rapidamente. As crianças respondem a ela com entusiasmo, afinal se identificam com a personalidade extrovertida e engraçada da professora. Ela encara os desafios com bom humor e contagia seus alunos com otimismo, alegria e valores. Helena entra na escola e logo confronta os padrões rígidos da diretora Olívia. Não é adepta da filosofia que prega os professores: detentores do saber. Pelo contrário, acredita que as crianças têm muito a lhe ensinar. É moderna e antenada nas novas tendências da educação. Quebra as regras tradicionais e engessadas do ensino, de como as coisas devem ser feitas. Em sala, Helena incentiva seus alunos a pensar, sonhar e imaginar ao invés de só decorarem o conteúdo. É capaz de se fantasiar para descontrair e fazer seus alunos compreenderem melhor uma matéria. Seu desafio está em saber equilibrar sua essência alegre, descolada e afetuosa com a autoridade e rigidez que lhe são exigidas. Por conta da sua imaturidade profissional, Helena chega a se questionar se vale mesmo a pena manter a proximidade e o carinho com os alunos ou se o correto é a disciplina severa. Os resultados positivos na vida das crianças lhe mostram o melhor caminho. Com todos esses atributos, Helena se torna um referencial para seus alunos. Segundo Maccoby e Jacklin (apud PAPALIA, 2000), muitas crianças tendem a imitar o que tem em seu ambiente. Os autores denominaram tais fatores de “imitação seletiva” onde se percebe a suscetibilidade influência da criança em seguir ordens de determinado meio de comunicação, no caso a televisão. A criança tem uma tendência a incorporar o que assiste na televisão e não consegue diferenciar, o real do imaginário. 42 A necessidade da criança de imitar, de se identificar e de se tornar igual aos outros é muito forte. E, cada vez mais, ela está exposta á mídia e aos meios de comunicação. O quadro se agrava com a fragilidade do posicionamento dos pais, que não assumem o lugar da autoridade. A criança hoje brinca pouco e isso é grave, pois ela poderia aprender muito com o brincar, que é uma forma de representar papéis da própria sociedade (LANNA, 2007, p. 2). A televisão, ao pretender reproduzir o universo real em sua complexidade, constrói um simulacro do mundo em que o individuo acaba se encontrando, assumindo as imagens produzidas como se fossem sua vida real. E estas imagens penetram a realidade, transformando-a, dando-lhe forma (BELLONI, 2001, p.57). Percebe-se que a mídia televisiva, assume um papel importante para a criança e o adolescente. Dessa forma cabe também a escola o papel de não somente utilizar os recursos da televisão, mas também discutir o conteúdo veiculado pela mídia televisiva em sala de aula. “Para o bem o para o mal as mídias, estão presentes em nossas vidas de forma cada vez mais precoce e cada vez mais forte” (SETTON, 2010). Em qualquer idade, crianças usam suas capacidades de observação, imitação e imaginação. De acordo com a idade da criança, elas irão gradativamente, conhecendo e analisando situações conflitantes que ajudam, de alguma forma, a entender e assimilar os papéis sociais que fazem parte de nossa cultura (o que é ser pai, mãe, filho, professor, médico). Através desta imitação representativa a criança vai também aprendendo a lidar com regras e normas sociais. A partir dos 06 anos começam a desenvolver a capacidade de interação e aprendem a lidar com o limite Assim, regras são fundamentais a partir daí.. Segundo Vygotsky (1989), nesse processo, ampliam gradualmente sua capacidade de visualizar a riqueza do mundo externamente real, e, no plano simbólico procuram entender o mundo dos adultos, a atividade do homem e suas relações sociais e de trabalho. Deste modo, elas desenvolvem a linguagem e a narrativa e nesse processo vãs adquirindo uma melhor compreensão de si próprias e do outro, pela contraposição com coisas e pessoas que fazem parte de seu meio, e, que são, portanto, culturalmente definidas também. Para Vygotsky (1989), ao reproduzir o comportamento social do adulto, a criança está combinando situações reais com elementos de sua ação fantasiosa. Esta fantasia surge da necessidade da criança, como já escrito, em reproduzir o 43 cotidiano da vida do adulto da qual ela ainda não pode participar ativamente. Porém, essa reprodução necessita de conhecimentos prévios da realidade exterior, deste modo, quanto mais rica for a experiência humana, maior será o material disponível para as imaginações que irão se materializar em seus jogos. A construção do real parte então do social (da interação com outros), quando a criança imita um personagem e é orientada por ele. Vygotsky (1989) coloca que o comportamento das crianças em situações do dia a dia é, em relação aos seus fundamentos, o contrário daquele apresentado nas situações que assistem na novela. Programas televisivos, em especial o gosto pela novela Carrossel criam a zona de desenvolvimento proximal da criança que nela se comporta além do comportamento habitual para sua idade, o que vem criar uma estrutura básica para as mudanças da necessidade e da consciência, originando um novo tipo de atitude em relação ao real. Os personagens que a criança gosta ou não gosta aparecem tanto a ação na esfera imaginativa numa situação de faz-de-conta, como a criação das intenções voluntárias e as formações dos planos da vida real, constituindo-se assim, no mais alto nível do desenvolvimento pré-escolar (VYGOTSKY, 1989, p.117). Vygotsky (1989) enfatiza que fantasia e realidade se realimentam e possibilitam que a criança - assim como os adultos - estabeleça conceitos e relações; insira-se enquanto sujeito social que é. Ele sinaliza que, ao assistir a novela, como exemplo, a criança, não está só fantasiando, mas fazendo uma ordenação do real; tendo a possibilidade de ressignificar suas diversas experiências cotidianas. Não podemos nos esquecer de que para ele, a imitação, o faz-de-conta, permite a reconstrução interna daquilo que é observado externamente e, portanto, através da imitação são capazes de realizar ações que ultrapassam o limite de suas capacidades. Pois, se através da imitação (no sentido atribuído por Vygotsky, um instrumento de reconstrução), a criança aprende, nada mais positivo que a escola promova situações que possibilitem a imitação, a observação e a reprodução de modelos. A interação social entre as crianças e os personagens da novela Carrossel (lembrando que nesta pesquisa, trata-se de crianças de 6 a 9 anos como público alvo) pode ser explicada também pelos estudos de Piaget. Segundo o autor, em torno dos 7 ou 8 anos, emerge a conservação dos sentimentos e dos valores. As 44 crianças tornam-se aptas a coordenar os seus pensamentos afetivos de um evento para outro. Com o passar do tempo, o que é preservado ou conservado são alguns aspectos dos sentimentos do passado. O passado pode ser transformado em uma parte raciocínio presente através da capacidade de reverter e de conservar. Piaget sugeriu que a interação social, durante o pré-operacional, encoraja o desenvolvimento da conservação de sentimentos. Desde a pré-escola as crianças têm relações com outras crianças a quem chamam de amiguinhos, mas é entre 6 e 12 anos que o grupo de amizade começa a influenciar. Em virtude da interação social com seus pares, as crianças tornam-se capazes de se “descentrar” e assumir o ponto de vista dos demais. A construção do conceito de intencionalidade e se manifesta e isto permite começar a levar em conta os motivos dos outros ao fazer julgamentos morais. Estes fatores alteram e, por sua vez, são alterados pela interação social. Surgem também os padrões de cooperação e das relações de respeito mútuo. Piaget afirma que é em torno dos 7 ou 8 anos (com o nascimento das operações cognitivas) e com o fim do egocentrismo pré-operacional, que ocorre o processo sistemático da cooperação. Isto é, facilmente percebido na compreensão das regras. Em pesquisas recentes, concluiu-se que as crianças se desenvolvem psicologicamente em três maneiras em relação ao tema desta pesquisa: Primeiro, elas desenvolvem habilidades para sociabilidade e intimidade, aprimoram relacionamento e são pertinentes. Segundo, são motivadas para atingir uma noção de identidade e, terceiro: aprendem. Aprendem como conversar oferecem oportunidade para os relacionamentos. É entre outras crianças que as crianças mais novas desenvolvem seus conceitos e formam sua auto-estima. Dentro de um grupo maior de companheiros chegam a perceber o quanto são inteligentes e quanto sua personalidades são diferentes. Então, o grupo de colegas ajuda as crianças a escolher valores de acordo com os quais viverão. O grupo de companheiros também oferece segurança emocional. Às vezes, outra criança pode oferecer apoio que adulto não consegue dar. O grupo de amigos ajuda as crianças a conviver em sociedade – quando ceder, quando manter sua posição e como ajudar aos outros. No aspecto positivo, essa relação abre novos caminhos, contrabalança a formar um auto conceito e a 45 desenvolver habilidades sociais. Este grupo de colegas pode sim, positivamente, ser o grupo de alunos da escola Mundial, na novela Carrossel. Por um lado, esse mesmo grupo pode oferecer alguns valores indesejáveis e algumas crianças podem não ter força para resistir a eles. As crianças entre 6 e 9 anos são mais sensíveis à pressão para agir com regras estabelecidas. Os efeitos da conformidade podem ser sérios. A influência dos colegas é mais forte quando as questões têm vários sentidos. E, embora os grupos de amigos façam tantas coisas boas juntos, geralmente é na companhia desses amigos onde começam a fazer coisas erradas e agirem de maneiras anti-sociais. Para crianças certo grau de conformidade aos padrões do grupo é uma coisa saudável de adaptação. É prejudicial quando se torna destrutivo ou faz com que as crianças passem a agir contra sua própria vontade. Este é um risco a correr. 46 4. ESTUDO DE CASO O presente trabalho é uma pesquisa descritiva que, como o próprio nome já diz, procura descrever situações de comportamento de crianças de 6 a 9 anos que estudam numa escola da rede Estadual localizada na cidade de Pará de Minas. Pretende-se nesse estudo coletar os dados a partir de aplicação de questionários aos docentes que atuam nas séries iniciais do Ensino Fundamental, tendo em vista que, o foco desse estudo é mostrar a influência que a novela Carrossel através das características de cada personagem pode assumir o papel de co-agente na construção de uma prática pedagógica positiva. Trata-se, portanto, de uma pesquisa quanti-qualitativo em que o questionário aplicado mostrará a visão das professoras sobre o recurso televisivo para o desenvolvimento de práticas pedagógicas e sobre a interferência da novela “Carrossel” sobre seus alunos. A pesquisa será realizada com 12 professoras. Os resultados da pesquisa serão analisados e interpretados buscando identificar as motivações que levam essas crianças a assistirem a novela Carrossel e qual é o papel, a relevância e importância das características atribuídas a cada personagem como ação educativa positiva. As técnicas de análise serão métodos estatísticos simples e não será utilizado cálculo da amostra por que, o objetivo do trabalho é simplesmente (mas muito importante) mostrar e encontrar respostas que supram as perguntas dos objetivos deste estudo de forma bem objetiva e clara. Considerando, primeiramente, a classificação proposta por Gil (2006, p. 40), pode-se afirmar para esta investigação que será realizada uma pesquisa do tipo exploratória, cujo objetivo é possibilitar um maior conhecimento a respeito do problema, de modo a torná-lo mais claro ou auxiliando na formulação de hipóteses. No entendimento do autor, o principal objetivo deste tipo de pesquisa pode ser tanto “o aprimoramento de idéias”, quanto “a descoberta de intuições”, o que o torna uma opção bastante flexível, gerando, na maioria dos casos, uma pesquisa bibliográfica e/ou um estudo de caso (GIL, 2006; p. 41). Será realizado nesta ordem, a) levantamento bibliográfico; 47 b) entrevistas com professores que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e c) análise das experiências que estimulem a compreensão do estudo. Esta investigação foi feita numa Escola Estadual de Ensino Fundamental na cidade de Pará de Minas – MG. Acredita-se que esta pesquisa teve o cuidado de atender às três exigências apontadas anteriormente, representando, de fato, uma pesquisa exploratória, de caráter qualitativo e resultando num estudo de caso simples. Para Gil (2006, p. 54), a técnica do estudo de caso está plenamente adequada às pesquisas sociais uma vez que “consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou pouco objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento”, o que não seria possível por meio de outras técnicas de pesquisa acadêmicas reconhecidas. No âmbito desta pesquisa, a escolha da técnica de estudo de caso teve por base as seguintes justificativas: a) Trata-se de uma investigação empírica sobre a realidade de uma Escola; b) A singularidade e importância do objeto – uma Escola pública representando o próprio universo da pesquisa; c) A notória disponibilidade e facilidade de acesso da pesquisadora aos dados e fatos pertinentes à realidade da Escola investigada. Acrescenta Gonçalves (2005, p. 29) que o estudo de caso representa o método de investigação mais apropriado para analisar a relação existente entre os fenômenos e os seus contextos, já que estes limites não estão claramente definidos e exigem certa flexibilidade na modelagem estrutural da pesquisa. De acordo com pesquisa realizada com base nos estudos de GIL, (2006, p. 138-139), o atendimento às características descritas a seguir leva a classificar esta pesquisa como sendo um estudo de caso do tipo intrínseco: a) “O caso constitui o próprio objeto da pesquisa” (apud GIL, 2006, p. 138); b) “O pesquisador almeja conhecê-lo (o objeto da pesquisa) em profundidade, sem qualquer preocupação com o desenvolvimento de alguma teoria” (GIL, 2006, p. 138-139). Estes critérios parecem bastante coerentes com a proposta desta investigação, uma vez que o estudo de caso em questão está concentrado, tanto na investigação dos fenômenos da identidade organizacional e responsabilidade social 48 da Escola escolhida quanto na tentativa de se estabelecer uma relação de influência mútua entre ambos os conceitos, a partir da realidade singular da Instituição. 4.1 Análise das respostas dos Professores entrevistados Na Questão 1 foi perguntado com que freqüência os professores assistem televisão, de modo geral. Como última alternativa colocou-se: “Não assisto Novelas,” com o intuito de se observar se tal alternativa causaria impacto ou direcionaria as respostas dos professores. Sobre isso, não houve realmente nenhum impacto sobre os professores. Nenhum dos doze entrevistados marcou tal alternativa o que significa que todos assistem novelas aleatoriamente ou diariamente. Portanto, sete professores disseram assistir televisão todos os dias, um disse assistir apenas algumas vezes por semana, dois assistem somente no fim de semana e dois disseram que raramente assistem televisão. Todos os dias 17% 17% 58% 8% Algumas vezes por semana Só nos fins de semana Raramente Gráfico 1: Com que freqüência professores assistem televisão. Fonte: A Pesquisadora A segunda questão direcionada aos professores foi: Você acredita que programas de TV mexem com o imaginário das crianças? Dois professores disseram que não. Um apenas disse que sim, mas, muito pouco. Um professor respondeu que sim, razoavelmente, mas oito deles, responderam que sim, os programas de TV influenciam o imaginário das crianças. 49 17% 8% 58% 17% Não Sim, pouco Sim, razoavelmente Sim, muito Gráfico 2: Programas de TV mexem com o imaginário das crianças? Fonte: A Pesquisadora Ao se perguntar se o professor acredita que programas de TV podem mudar o comportamento das crianças, obtiveram-se as mesmas respostas da questão anterior, pois, os professores entrevistados fizeram das duas questões, sinônimas. Obviamente, estas seriam as respostas esperadas, pois, o imaginário é comumente fator de alteração no comportamento, segundo a opinião da maioria dos professores entrevistados. Assim, dois professores disseram que não. Um apenas disse que sim, mas, muito pouco. Um professor respondeu que sim, razoavelmente, mas oito deles, responderam que sim, os programas de TV podem mudar o comportamento das crianças. 17% 8% 58% 17% Não Sim, pouco Sim, razoavelmente Sim, muito Gráfico 3: Programas de TV podem mudar o comportamento das crianças? Fonte: A Pesquisadora 50 Depois de responderem que os programas de TV podem mexer com o imaginário das crianças e até mesmo modificar o comportamento delas, foi perguntado se os professores acreditam que a novela Carrossel esteja influenciando positiva ou negativamente seus alunos. Sete professores marcaram que a novela influencia positivamente os alunos de suas turmas. Três responderam que influencia negativamente e dois professores não notaram tal influência respondendo que a novela Carrossel em nada influencia seus alunos. Esses dois professores devem ser os mesmos que responderam anteriormente que os programas de TV não mudam comportamentos nem mexem com o imaginário das crianças. 17% Positiva negativa 58% 25% Não influencia Gráfico 4: Influência da novela Carrossel nas crianças Fonte: A Pesquisadora Na Questão 5 foi perguntado se os alunos comentam sobre novelas e/ou programas que assistem. 8% 67% Não 8% 17% Sim, pouco Sim, razoavelmente Sim, muito Gráfico 5: As crianças comentam sobre Programas e/ou novelas que assistem? Fonte: A Pesquisadora 51 Na Questão 6: Seus alunos se identificam com personagem sejam de filmes, desenhos ou novelas? Seriam estes “ídolos”? Dez professores disseram que sim, que inclusive, os alunos possuem ídolos de desenhos e principalmente vindos da novela Carrossel. Nenhum professor respondeu sim razoavelmente pela convicção que tiveram os dez professores na afirmação anterior. Dois marcaram que sim, eles se identificam, mas não a ponto de torná-los ídolos. Quanto à resposta “Não”, ninguém a marcou. Esta é uma resposta divergente das demais, pois, significa que todos os professores sabem que seus alunos se identificam com algum personagem e no entanto, em questões anteriores marcaram o contrário. 0% 17% 0% 83% Não Sim, pouco Sim, razoavelmente Sim, muito Gráfico 6: Identificação aluno-personagem. Fonte: A Pesquisadora Ao ser perguntado se os alunos comentam sobre os capítulos da novela Carrossel, as respostas foram as mesmas da questão anterior mostrando a coerência nas informações prestadas. 0% 17% 0% 83% Não Sim, pouco Sim, razoavelmente Sim, muito Gráfico 7: Comentários dos alunos sobre a novela Carrossel. Fonte: A Pesquisadora 52 Ao serem questionados sobre a porcentagem de alunos que assistem à novela Carrossel na classe que lecionam, responderam: dois professores acreditam que esteja próximo de 50% e os demais professores responderam entre 75% (quatro deles) e 100% (seis professores). 0% 17% 50% 25% 50% 33% 75% 100% Gráfico 8: Porcentagem de alunos que assistem à novela Carrossel. Fonte: A Pesquisadora Ao ser perguntado se os professores percebiam mudanças no comportamento das crianças que poderiam estar sendo influência direta das características dos personagens da novela Carrossel, dois professores responderam que não percebiam nada. Três responderam que sim, razoavelmente e sete professores marcaram que percebiam claramente mudanças no comportamento das crianças que poderiam estar sendo influência direta das características dos personagens da novela Carrossel. Não 17% 58% 0% Sim, pouco 25% Sim, razoavelmente Sim, muito Gráfico 9: Mudanças comportamentais nas crianças pela novela Carrossel. Fonte: A Pesquisadora 53 Na décima questão, perguntou-se: ao ouvir seus alunos comentando sobre os personagens da novela carrossel, você percebe preferência dos alunos por determinado personagem? Dois marcaram que sim, que alguns poucos alunos tem suas preferências. Quanto à resposta “Não”, ninguém a marcou. Nenhum professor respondeu sim, razoavelmente pela convicção que tiveram os outros dez professores ao afirmarem que a maioria de seus alunos têm preferência por algum personagem da novela Carrossel. 0% 17% 0% 83% Não Sim, pouco Sim, razoavelmente Sim, muito Gráfico 10: Preferência dos alunos sobre por algum personagem da novela Carrossel. Fonte: A Pesquisadora A última questão foi mais complexa. Primeiramente foi pedido que o professor fizesse uma breve sondagem com seus alunos sobre os personagens da novela carrossel e escrevesse um pequeno texto explicando suas preferências, bem como a alegação para não gostarem de determinados personagens. Para surpresa de alguns professores, todos os alunos presentes nas classes no dia em que realizaram a sondagem responderam ao que foi solicitado e, isso fez cair por terra a idéia que estes dois tinham e, verificaram que, realmente os alunos estão mesmo na “onda” da novela Carrossel e, por que não dizer, “levando a sério” as histórias e personagens. Faz-se aqui a observação de que esta questão não foi respondida por todos os professores entrevistados. A maioria dos professores fez somente a sondagem, mas não pediu que os alunos escrevessem o porquê das preferências. Assim, a 54 questão foi respondida em folhas separadas, totalizou-s num total de 115 o número de alunos nas turmas pesquisadas. Os dois gráficos abaixo apresentam os personagens que os alunos mais gostam (Gráfico 11) e os que eles menos agradam (Gráfico 12). Alguns personagens não foram citados. Foi pedido que as crianças não escrevessem como personagens que gostam ou não, a professora Helena pois, sabe-se que todos os telespectadores mirins amam a personagem. Cirilo 14% 17% 18% 13% 9% 9% 11% 9% Maria Joaquina Paulo Kokimoto Valéria Carmem Laura Jaime Gráfico 11: Personagem da novela Carrossel que é a preferência dos alunos. Fonte: A Pesquisadora Daniel 13% 4% 18% Maria Joaquina Paulo Kokimoto 11% 17% 11% 11% 15% Davi Carmem Laura Jaime Gráfico 12: Personagem da novela Carrossel que os alunos menos gostam. Fonte: A Pesquisadora Na segunda parte da questão 11, conforme observado acima, a maioria dos alunos não explicou suas preferências. Assim, num apanhado geral, os alunos relataram, independente de gostarem ou não do personagem, as características que talvez sejam mais marcantes neles. 55 Davi é um personagem muito carinhoso, meigo com as meninas, principalmente a Valéria, que é sua namorada. Ele também é judeu. Daniel é um aluno exemplar: ele é quieto, mas não deixa de brincar com os amigos e não se deixa levar pelas más influências. Ele também não consegue ver um amiguinho sofrendo e procura ajudar a todos, além de ser o braço direito da professora Helena. O Cirillo é muito ingênuo e também muito bondoso, por isso ele acredita em todas as pegadinhas dos colegas. E ele gosta da Maria Joaquina, mas ela não gosta dele. Ele é engraçado. O Jaime é meio burrinho, tem uma certa dificuldade pra aprender e é muito comilão. Ele tem um ótimo coração, ama ajudar os amigos, mas tem um ponto fraco que ele só resolve os problemas com brutalidade. Ele é muito carismático também. Paulo Guerra é antenado mas também é revoltado e crucifica os alunos Laura, a “gordinha romântica” e o “inocente” menino negro Cirilo alvo constante de preconceito racial que a aluna “rica e esnobe” Maria Joaquina nutre pelo “humilde” Cirilo. A menina não diz claramente que não gosta do garoto por ele ser negro, apenas que ela é normal, enquanto ele é diferente e que não acha certo se misturar como se fossem todos iguais. As dificuldades financeiras da família da “doce” Carmem também ganham destaque. Com os pais separados, a menina juntamente com a mãe e o irmão menor passa a ter problemas até mesmo para comprar comida. Assim, os personagens construídos na telenovela Carrossel - mesmo representando os vários estereótipos e tipologias que a mídia usualmente adota para retratar as crianças - exibem características que compreendem o conceito de infância. A criança é um sujeito socialmente em fase de preparação para desvendar os segredos da vida adulta e que pela fragilidade necessita de cuidados e atenção por parte dos adultos. 56 5. CONCLUSÕES Dar informação para os alunos é o melhor caminho. Fiz o mesmo, e hoje meus filhos não se interessam pelo programa. Cabe à família, mas também ao professor ensiná-los a escolher programas que realmente são educativos e que ajudem eles no aprendizado da escola. A novela Carrossel não é um programa que a criança não possa assistir, desde que alguém – familiar ou a professora mostre a ela o que é propaganda enganosa e como os comerciais tentam iludir as crianças para adquirir brinquedos, e também como o consumo afeta a produção de lixo no planeta, por exemplo. Em todas as turmas os alunos comentam e reproduzem gestos coletivos da cena das novelas (gritos de “surpresa” ou “sim professora Helena”). Então, essas situações precisam ser revertidas á favor das crianças. Sempre que surgir alguma polêmica que envolva a novela deve-se abrir a roda para conversarem. Isso dá bons resultados porque as crianças imitam menos e se envolvem no faz de conta com qualquer outro enredo e histórias oferecidos. Há muita riqueza nos contos infantis que se trabalhados com as crianças geram um senso crítico inclusive para minimizar os efeitos desse tipo de programação. Não é por que a criança assiste a novela que ela vá se tornar uma adolescente ou adulta racista, preconceituosa, frustrada ou consumista. Cabe aos pais abordarem muito bem todos os assuntos e sempre conversarem com seus filhos. Cabe aos professores aproveitarem a novela para treinar os filhos a serem mais seletivos e não se deixarem levar pelo coletivismo que nem sempre é saudável. A pesquisa foi direcionada a crianças de 6 a 9 anos. Assim cabe enfatizar ainda alguns tópicos sobre o desenvolvimento delas e sugerir algumas orientações que vão de encontro á temática do trabalho proposto que é a influência da mídia televisiva na vida destas crianças. Durante o desenvolvimento da criança de 6 e 7 anos, são característicos delas fazer perguntas sobre tudo que as rodeiam, distinguir a realidade da fantasia num nível mais elevado por que já possuem iniciativa. Já possuem curiosidade sexual mais acentuada e estão num período de transição entre individualismo e participação em grupos maiores. Mostra algum grau de pensamento abstrato e aumenta o poder de concentração da atenção. Conhecem e usam palavras descritivas e de ação e, já possuem maior capacidade de compreender, discutir e 57 enfrentar situações emocionais. Para estas crianças, pais e professores devem dar oportunidades para usar a iniciativa, deixando-a agir por si mesma, encorajá-las a tomar posse em grupos, mas não forçá-las, contar e faze-las contar histórias e, ainda, evitar chamar atenção, procurando colocar a criança à vontade. Evitar discussões é essencial para se obter sucesso nas atividades e objetivos propostos. No desenvolvimento da criança de 8 e 9 anos, é característico o aumento da habilidade em distinguir fatos de ficção. Possuem o direito da propriedade bem definido e o pensamento lógico está sendo gradativamente mais definido. As crianças possuem maior habilidade em exprimir suas idéias, em definir seus problemas, maior capacidade em aceitar críticas e em avaliar a si própria. Têm interesse em pertencer a grupo e ainda, apresentam independência em relação à família. O professor destas crianças deve oferecer a elas brincadeiras mais elaboradas, proporcionar leituras selecionadas de acordo com as preferências e capacidades, estabelecer um clima que permita à criança concordar e discordar bem como orienta-las na apreciação do valor do outro, assim como no da própria criança, estimulando-as na aprendizagem de práticas sociais. No que diz respeito ao objetivo proposto pelo trabalho, conclui-se que as crianças personagens representadas na tele novela Carrossel embora sejam crianças midiatizadas, tem acesso aos segredos do mundo adulto e revelam o conceito de infância, tanto por estarem sendo preparadas para o mundo adulto no ambiente escolar, como por serem caracterizadas como o centro das atenções em casa. 58 REFERÊNCIAS BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. 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