UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A CONSTRUÇÃO DA NOÇÃO DE INFÂNCIA NO BRASIL E A SUA REPERCUSSÃO NO ÂMBITO ESCOLAR Por: Daniella Coelho Parente Orientadora Prof (a). Fernanda Canavêz Rio de Janeiro 2012 1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A CONSTRUÇÃO DA NOÇÃO DE INFÂNCIA NO BRASIL E A SUA REPERCUSSÃO NO ÂMBITO ESCOLAR. Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia. Por: Daniella Coelho Parente 2 AGRADECIMENTOS Aos meus pais, por toda dedicação dispensada ao longo da minha vida estudantil. 3 DEDICATÓRIA Primeiramente a Deus, por me capacitar, tornando possível a realização desta monografia. Aos meus pais Ana Lúcia Coelho Parente e Miguel Martins Parente, pelo apoio e pelos ensinamentos diários. À minha irmã Renata, pelo carinho. Ao meu namorado Leandro, pelo incentivo aos estudos À minha orientadora Fernanda Canavêz, pela paciência e tempo dedicado às orientações. À todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para a realização deste trabalho. 4 RESUMO Esta monografia consiste em um estudo sobre a construção da noção de infância ao longo dos tempos e a sua influência nas relações estabelecidas entre o professor e o discente nos dias atuais. Visando uma melhor compreensão, o trabalho foi organizado em três capítulos. O primeiro capítulo refere-se à infância e busca explicitar como se deu o discernimento entre a fase adulta e a infância. No capítulo posterior, destacam-se os desdobramentos legais oriundos desta mudança de paradigma, pontuando algumas legislações que foram criadas com vistas a garantia os direitos infantis. Por fim, será abordada uma questão que tem repercutido na mídia e nos meios sociais, a violência no âmbito escolar. Para tanto, foi realizada uma pesquisa na literatura, páginas da internet e legislação concernente a temática proposta. Constatou-se com esta monografia a extrema importância de se pensar e questionar cotidianamente as nossas práticas, em especial a prática educacional. 5 METODOLOGIA A monografia foi confeccionada a partir de uma intensa pesquisa bibliográfica sobre a temática proposta: Infância. Sendo assim, foram utilizados como fontes de pesquisa diversos autores que explanaram sobre o assunto em livros, artigos e páginas da internet. Além disso, também foram consultadas diversas legislações, especialmente aquelas destinadas à regular aspectos concernentes à infância, dentre as quais se destacam o Código de Menores e o Estatuto da Criança e do Adolescente. 6 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - Evolução do conceito de infância 09 CAPÍTULO II - Legislação e importantes marcos relacionados à infância 20 CAPÍTULO III – Violência escolar e a prática docente 31 CONCLUSÃO 45 BIBLIOGRAFIA 47 ÍNDICE 49 FOLHA DE AVALIAÇÃO 50 7 INTRODUÇÃO Esta monografia consiste em pré-requisito para aquisição do título de Pós Graduado em Psicopedagogia Institucional. Para tanto se optou abordar um tema que, ao longo do curso, veio despertando o interesse da autora por mostrar-se bastante complexo e instigante: A Infância. Tendo em vista que a sociedade é perpassada pelo modo como a infância é compreendida pela subjetividade coletiva, objetivou-se, nesta monografia, investigar como vem sendo construída a idéia de infância e como esta noção tem perpassado algumas práticas educacionais. Assim, inicia-se o primeiro capítulo deste trabalho monográfico com a exposição acerca de como se processou a construção do conceito de infância ao longo dos tempos. Em seguida, no capítulo dois, apresentam-se algumas legislações que visam proteger e garantir os direitos da criança. Por fim, por entender que a criação de leis influencia e é influenciada pela prática cotidiana, optou-se pela discussão acerca da à violência escolar - um tema que tem ganhado destaque na mídia e nos debates de cunho educacional - enfatizando aspectos da prática docente e seus reflexos na evasão escolar. Sabe-se que, discutir a temática proposta não é tarefa simples, por isso, cabe salientar que, não se configura como objetivo desta monografia formular soluções ou esgotar os questionamentos. Acredita-se sim que, compreender a respeito de como se dá o processo de construção da infância nos auxiliará a contextualizar e entender a produção de determinadas práticas educacionais, além de nos fornecer subsídios para uma reflexão mais critica acerca da infância no Brasil 8 CAPÍTULO I EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE INFÂNCIA O conceito de infância é historicamente construído, porque os diferentes contextos políticos, sociais, culturais de cada época determinam a forma como será vista a criança. Ou seja, de acordo com o que está acontecendo em nossa sociedade em determinado momento da história pode modificar a forma de compreender a puerícia. A Idade Média (século V e foi até o XV) foi marcada por uma sociedade hierarquizada em que ocorria pouca mobilidade social. Basicamente era constituída pelos servos que eram responsáveis por pagar vários impostos aos senhores feudais; a nobreza, dona das terras e o clero, Igreja Católica responsável pela proteção espiritual. A economia era baseada na agricultura, com isso os nobres que possuíam mais terras tinham um maior poder. A religião tinha um enorme destaque, porque ditava as diretrizes do comportamento dos cidadãos que também possuíam vastas porções de feudo. Desta forma, observa-se que neste período não existia uma preocupação com a infância, porque por volta dos seis ou sete anos de idade era quando a criança adquiria autonomia na realização de funções básicas e era inserida no mundo dos adultos, ou seja, estas eram vistas como “adultos em miniatura” (Ariès, 1981, p.50). A autora Alessandra Schueler fala sobre as idéias de Ariès sobre a definição de infância. Esta só foi descoberta no século XVI, antes disso não se tinha interesse em sua representação, porque como não desempenhavam funções e nem contribuíam com sua mão de obra e não pagavam os impostos não eram considerados cidadãos. Todavia, com o fim do Antigo Regime, sistema de governo monárquico que adotava práticas como o mercantilismo e absolutismo, principalmente e implantação de princípios do capitalismo, muitas mudanças foram percebidas, 9 como: a divisão da população em duas classes - os donos dos meios de produção (burguesia) e os que fornecem a sua mão de obra (proletariado)- fim do poder do Rei e da nobreza. Nesta nova sociedade preocupa-se com as crianças pobres, órfãs e abandonadas: Ao processo de reordenação das antigas práticas familiares do Antigo Regime e da construção de novos modelos de família, pautados na ascensão social, econômica, cultural da burguesia mercantil na Europa. Por outro lado data também dessa época uma série de leis e iniciativas dos Estados para regulamentar e proteger a vida das populações, atentando notadamente para as crianças órfãs e abandonadas, para o infanticídio e as práticas abortivas e para a regulamentação das famílias populares. Nesse caso, o interesse pela infância manifesta a própria construção dos Estados Nacionais com sua política de controle das populações. (Gélis, 1986, p. 67) A estudiosa da infância, Sonia Kramer nos relatada que só foi com a inclusão dos preceitos da ordem econômica e social do capitalismo que se preocupou com o bem estar da criança e esta também passou a ser vista como o “futuro da nação”: a idéia de infância (... ) aparece com a sociedade capitalista, urbanoindustrial, na medida em que mudam a sua inserção e o papel social da criança na comunidade. Se, na sociedade feudal, a criança exercia um papel produtivo direto (“de adulto”) assim que ultrapassava o período de alta mortalidade, na sociedade burguesa ela passa a ser alguém que precisa de ser cuidada, escolarizada e preparada para uma função futura. Este conceito de infância é, pois, determinado historicamente pela modificação das formas de organização da sociedade. (KRAMER, 2003, p.19). No presente trabalho lançaremos mão do Movimento da Nova Historiografia, ou seja, através de imagens e pinturas é explicado o que está acontecendo em determinado momento da história. A imagem abaixo de Sandro Botelli, entre os anos 1490 a 1500, este pintor italiano mostra um pouco como a criança era vista neste período. Esta tinha uma concepção angelical, pura e doce. 10 Fonte: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, site: http://tania-arteimitavida.blogspot.com Estas modificações na sociedade da época foram possíveis com a ajuda de alguns dos preceitos do Renascimento de acordo com Myriam Becho Mota, Patrícia Ramos Braick (2011), como: Antropocentrismo: o homem é visto como um ser dotado de razão e é capaz de explicar os acontecimentos que ocorrem a sua volta através da racionalidade; Humanismo: engrandecimento do homem, dando a este uma nova dimensão; Individualismo: a capacidade que o indivíduo tem em se autogovernar; Racionalismo: crença de que tudo pode ser resolvido e explicado pela razão; Experimentalismo: tudo poderia ser provado através de experimentos científicos; Repúdio as idéias medievais. Na pintura do italiano Rafael Sanzio, é possível notar a diferença do olhar do adulto 11 sobre a criança, esta não é mais vista com indiferença e o cunho religioso não é mais tão forte quanto nos anos anteriores. Também é possível observar a relação de afeto com que mãe olha para seus filhos, sua preocupação e vigilância. Fonte: RENASCIMENTO, Site: http://www.biografia.inf.br/rafael-sanzio Entre os séculos, XVII e XVIII neste período compreendido podem-se citar a contribuição do Barroco na mudança da retratação de nossas crianças. Este movimento artístico surgiu em um período que se deu depois das Reformas Religiosas, ou seja, o início da decadência do poderio da Igreja Católica. Podem-se citar algumas características deste movimento que de acordo com Peter Burke são: Antropocentrismo X Teocentrismo (adoração por temas opostos, como: bem e mal, céu e inferno), Religiosidade (muito presente na vida da sociedade, todavia com muitos conflitos; tentava-se utilizar a racionalidade na busca da salvação), Gongorismo (as artes eram retratadas de forma exagerada para que causasse espanto), Pessimismo (que a morte é a única certeza do homem). 12 Nota-se que neste período que a infância pertence a um universo diferente dos adultos, esta possui o “seu lugar”. A religiosidade também se faz muito presente na vida da sociedade da época assim com também os princípios do capitalismo. Nas pinturas relacionadas abaixo, podese notar a preocupação e cuidado com as crianças. Fonte: BARROCO, site: www.educação.uol.com.br Fonte: BRONZINO, site: http://www.consueloblog.com 13 Nos séculos XVII e XVIII a infância já se adequava ao seu sentido moderno, portanto o universo infantil é totalmente separado do mundo dos adultos. Também estava estreitamente ligado á concepção de dependência, ou seja, a partir do momento que este indivíduo for capaz de realizar as principais tarefas cotidianas básicas, como: escovar os dentes, vestir-se, alimentar-se já não seria pertencente a este grupo. O terno "petit enfant" era uma expressão designada para soldados, lacaios e auxiliares, porque como estes eram subordinados a outrem se assemelhavam á situação das crianças. (Ariès, 1981, p.21) Fazendo um paralelo, os indivíduos que possuem necessidades especiais naquela época eram tratados de forma semelhantes aos anteriormente citados. O advento da institucionalização da escola, no século XIX, foi devido às transformações e mudanças de paradigmas. Notam-se algumas diferenciações da representação que a criança teve na sociedade da época. Não se pode deixar de citar que o auge do Iluminismo se deu neste período. Este movimento intelectual foi apoiado pela burguesia, que era essencialmente capitalista, pois a conjuntura era bastante desfavorável para essa camada social, por que: era enorme o poder da Igreja, mercantilismo e o absolutismo monárquico. Desta forma, este desejava, principalmente: possibilidade de estimular o estudo de diversas áreas do conhecimento através dos pilares da razão, a liberdade econômica para que fosse possível o desenvolvimento da economia capitalista. Com isso, a burguesia entende a necessidade da construção de uma instituição escolar que possa preparar o indivíduo para trabalhar nas indústrias, fábricas. Estabelecem-se também novas maneiras de pensar as relações sociais, políticas, econômicas e religiosas. Este contexto de organização de um Estado Nacional, no Brasil veio ligado com preocupações com a higiene, surgindo o campo de conhecimento chamado de medica social; a fim de promover o aumento dos anos de vida, através de uma prática que atua através da profilaxia. O autor Roberto Machado em seu livro “Danação da norma- Medicina social e constituição da psiquiatria no Brasil” nos reforça esta idéia: 14 Não é mais a ação direta e lacunar sobre a doença como essência isolada e específica que move o projeto médico. O “médico político” deve dificultar ou impedir o aparecimento da doença, lutando, ao nível de suas causas, contra tudo o que na sociedade pode interferir no bem estar físico e moral. A inserção do indivíduo na sociedade, a necessidade de conhecer o meio e agir para proteger o indivíduo de um perigo ao mesmo tempo médico e político não significa, porém que a Medicina sai de seu campo próprio de ação. Se a sociedade, por sua desorganização e mal funcionamento, é causa de doença, a Medicina deve refletir e atuar sobre os seus componentes naturais, urbanísticos e institucionais visando a neutralizar todo o perigo possível; nasce a periculosidade e com ela a prevenção. (GONDRA, 2004, p. 86) A sociedade ficou estratificada em camadas sociais com o estabelecimento do capitalismo como sistema econômico. Desta maneira, a criança de acordo com a sua condição financeira é vista de diferentes formas. Se esta for proveniente de uma família abastada ela pertence ao seu universo peculiar infantil, com suas brincadeiras, atividades, escola. Porém, se pertencer ao grupo desprivilegiado da população necessitará trabalhar para garantir a sua própria subsistência e de seus familiares. Ou seja, este pequeno indivíduo pertence “ao mundo” dos adultos como se já fosse um deles com as mesmas responsabilidades e obrigações. Na imagem a seguir pode-se notar o destaque dado ao homem como sendo o responsável pelo lar, a roupa por este vestida é preta para dar bastante notoriedade e propiciar o entendimento a todos que é ele quem gera o dar. Em contrapartida, os outros estão com vestimentas de cores amenas a fim de demonstrar à dependência dos mesmos a figura central. 15 Fonte: PINACOTECA, site: www.pinacoteca.org.br Na pintura da próxima página é facilmente observável o quanto os jovens têm traços de adultos, a vestimenta auxilia nesta compreensão. É difícil perceber que estes são crianças apenas com uma demorada e atenta observação é que pode notar-se a pouca idade dos mesmos. Volta-se a chamar estes de “adultos em miniatura”. Fonte: VAM, site: www.vam.ac.uk No século XX, após a II Guerra Mundial a bipolaridade (Guerra Fria) preponderou sob o 16 mundo, ou seja, as duas potências econômicas da época, Estados Unidos e União Soviética tiverem um conflito ideológico. Porque o primeiro era capitalista e o outro socialista e cada qual desejavam instituir o seu modelo político e econômico para todos os países. Foi neste período que surgiu a sociedade de “massa”: A Sociedade de massa pode ser definida como uma sociedade em que a grande maioria da população se acha envolvida, seguindo modelos de comportamento generalizados, na produção em larga escala, na distribuição e no consumo dos bens e serviços, tomando igualmente parte na vida política, mediante padrões generalizados de participação, e na vida cultural, através do uso dos meios de comunicação de massa. (BOBBIO,1995, p.1211) O maior ícone deste período foi à televisão em cores que foi responsável pela transmissão quase em tempo real dos acontecimentos e notícias. Também desencadeou o consumo, porque muitas empresas já nesta época compravam tempo neste veículo de informação para a divulgação de seus produtos. O poder da imagem misturada com os sons, cores e texturas aguça o prazer e interesse dos telespectadores em comprar cada vez mais objetos que antes não sabiam que tinham necessidade em suas vidas. Com a infância não foi diferente porque este instrumento midiático impunha as regras e brinquedos que os mesmos deveriam ter, criando uma situação de dependência deste para com o que era exibido na televisão. Retorna a idéia da criança como um “adulto em miniatura”, pois se acredita que estes sejam fortes consumidores. Um brinquedo bastante popular são as bonecas Barbie que servem como modelos de comportamento para estes pequenos indivíduos, alterando o que é peculiar na infância. Meninas querendo maquiar-se, usar sapatos de salto altos e meninos querendo usar roupas de grife são atitudes bastante recorrentes nos dias atuais. 17 Fonte: BARBIE, site: www.brightstarpc.blogspot.com Nos tempos atuais, a Internet é o mais forte canal midiático, além de ter um poder de persuasão muito maior que os outros veículos de comunicação. A pouca supervisão que alguns responsáveis têm para com os seus filhos propicia a liberdade com que estes jovens possam navegar em diferentes páginas o que propicia um aprendizado de assuntos que, muitas, deveria ser tratado com estes fossem mais velhos. Desta maneira, pulam se as fases do desenvolvimento normal de uma criança. Fonte: CRIANÇAS DO SÉCULO XXI, site: www.meupensamentododia.blogspot.com 18 Desta maneira, no capítulo seguinte será tratado da evolução do interesse em assegurar leis que protegessem e garantissem uma vida satisfatória as nossas crianças no Brasil. Pode-se notar, por exemplo, que do Código de Menores (1979) a instituição do Estatuto de Crianças e Adolescentes (1990) ocorreram muitas mudanças em prol de nossa juventude que serão abordadas a seguir. 19 CAPÍTULO II LEGISLAÇÃO E IMPORTANTES MARCOS RELACIONADOS À INFÂNCIA Como pode ser entendido a partir do primeiro capítulo do presente trabalho, demorou muito tempo para que se pudesse ter uma preocupação com a juventude, pois eram vistos como “adultos em miniatura”, ou seja, tinham as mesmas obrigações e responsabilidades dos indivíduos com idade mais avançada. Com isso, em 1891, o chefe do governo Provisório, Deodoro da Fonseca estabeleceu o Decreto nº 1.313 que tinha a intenção de regularizar o trabalho da infância, conhecida na época pelo terno “menores” nas fábricas brasileiras. Deve-se atentar que este período da história foi marcado pela tentativa de implantação de um projeto gerido pelo então Ministro da Economia, Rui Barbosa para a industrialização de nosso país. Este teve o intuito que promover o crescimento econômico e nos libertar das amarras da opressão do capital estrangeiro. Algumas melhorias nas condições do trabalho infantil podem ser notadas, como: passam a ser de responsabilidade do inspetor geral fiscalizar o que ocorre nas instalações fabris com a criança devendo estes emitir relatórios para as autoridades superiores competentes descrevendo os acontecimentos e dados pessoas destas: nome, idade, nacionalidade própria e paterna e condição de alfabetismo. Destaque bastante relevante é que menores de 12 anos não poderiam ser empregados, apenas em exceções de aprendizado, em fábricas têxteis devendo ter, no mínimo 8 anos de idade. Também são notadas as questões de horário e folga, por exemplo: domingos e em dias de feriado nacional não terão expedientes, assim como depois das 6 horas da tarde e antes das 6 da manhã. A carga horária máxima são de 7 horas diárias, o que é bastante revolucionário, porque 20 anteriormente eram adotadas mais de 12 horas para a realização das tarefas relativas á fábrica. Não sendo permitido aos menores trabalhar em todos os setores, isto é nos depósitos de carvão vegetal ou animal, de ácidos corrosivos são proibidos, pois atentam para a segurança destes. Em 1919, com o fim da I Guerra Mundial, conflito de viés político e econômico que foi o embate entre duas vertentes; Tríplice Aliança (Itália, Império Austro-Húngaro e Alemanha) e Tríplice Entente (França, Rússia e Reino Unido) que estavam descontentes com várias questões, tais como: a partilha da África e Ásia; intensas disputas por mercados comerciais; França e Alemanha eram livres para explorar quaisquer colônias e o pan germanismos e pan eslavismo. Foi neste período que ocorreu a criação, na Inglaterra, da Primeira Entidade Internacional de Apoio á Criança a fim de ajudar através de doações de dinheiro e comida á Juventude que foi vítima neste conflito. Muitas foram às mazelas ocorridas nestes anos, todavia, sempre afetam mais os de pouca idade, em virtude da desestruturação de seus lares, perda de seus pais e familiares que são a base para a construção de sua identidade e desenvolvimento social. A criação do Primeiro Juizado de Menores foi em 1923, pelo advogado José Cândido de Albuquerque Mello Mattos, pois este tinha a pretensão de assegurar, inicialmente as crianças os direitos a saúde, educação, vida, liberdade, respeito, dignidade. Muito disso foi estimulado pelo Movimento da Escola Nova que acreditava nos ideais da democracia e estimulava a aprendizagem na infância como uma preparação para o futuro. É neste contexto que o Decreto nº 17.943- A de 12 de outubro de 1927 é instituído a fim de consolidar as leis de assistência e proteção aos menores. Muitas mudanças podem ser notadas, tais como: o indivíduo que desejar se nutriz necessita ter autorização policial, além de ter necessidade de ter o seu último filho vivo e com no mínimo de quatro meses de vida; a introdução da idéia de infante exposto (pessoas com até de sete anos em situação de abandono) e 21 menor abandonando (menos de 18 anos) de acordo com os seguintes princípios: I. que não tenham habitação certa, nem meios de subsistencia, por serem seus paes fallecidos, desapparecidos ou desconhecidos ou por não terem tutor ou pessoa sob cuja, guarda vivam; II. que se encontrem eventualmente sem habitação certa, nem meios de subsistencia, devido a indigencia, enfermidade, ausencia ou prisão dos paes. tutor ou pessoa encarregada de sua guarda; III, que tenham pae, mãe ou tutor ou encarregado de sua guarda reconhecidamente impossibilitado ou incapaz de cumprir os seus deveres para, com o filho ou pupillo ou protegido; IV, que vivam em companhia de pae, mãe, tutor ou pessoa que se entregue á pratica de actos contrarios á moral e aos bons costumes; V, que se encontrem em estado habitual do vadiagem, mendicidade ou libertinagem; VI, que frequentem logares de jogo ou de moralidade duvidosa, ou andem na companhia de gente viciosa ou de má vida. VII, que, devido á crueldade, abuso de autoridade, negligencia ou exploração dos paes, tutor ou encarregado de sua guarda.(BRASIL,1927) Dá-se atenção a educação neste porque de acordo com esta lei não pode empregar os menores de 14 anos que não tenham o antigo primário completo (até o 5º ano), com exceção nas situações em que se fizer necessário trabalharem para garantir a sua subsistência e de sua família. Devendo no futuro obter esta escolarização. Impõem como obrigatória que os indivíduos com menos de 18 de idade não podem assumir funções que indiquem periculosidade ao seu bem estar físico. Apenas os maiores de 21 anos podem freqüentar os cabarés, bar noturnos, casas de jogo e cafés concertos por serem ambientes inapropriados para a juventude por incitar a sexualidade de forma precoce e preocupante. Com a criação do Ministério da Educação (1930) no governo de Getúlio Vargas foi possível focar uma atenção especial nas seguintes: áreas saúde, esporte, educação e meio 22 ambiente. Estas são tão fundamentais para o pleno desenvolvimento de nossa infância, pois é importante o incentivo na área psicomotora que proporciona o conhecimento do próprio corpo tão fundamental para a aprendizagem da criança. O serviço de Assistência ao Menor foi criado em 1942, todavia este não tinha a função de auxiliar em promover o real restabelecimento do futuro do jovem infrator, mas a função desta instituição é punir, através de internações ou perda de liberdade este indivíduo. Ao invés de instigar o gosto pela prática de bons o que acontece é que este jovem fica revoltado com as injustiças que o acometem: pobreza, falta de instrução e consequentemente, pouca perspectiva em obter um bom emprego. Com o fim da II Guerra Mundial, em 1945 que teve como antecedentes: a invasão pela Alemanha à Polônia, nacionalismo, armamentismo, rivalidades econômicas é que foi possível a criação da UNICEF, em 1946, com o intuito de oferecer assistência às crianças que foram afetadas com este conflito mundial. Pretende melhorar a vida de crianças e adolescentes em quesitos como: Programa Nacional de merenda escolar, permitir a sobrevivência destes cidadãos, campanhas de vacinação e nutrição, atenção com as gestantes. Após os destroços ocasionados por este conflito de âmbito mundial foi aprovado, em 1948 pela Organização das Nações Unidas (ONU) a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Muito importante porque determina já no artigo 1º que todos são iguais e têm direitos iguais aos seus semelhantes. Ou seja, o ideal que Hitler impôs na Alemanha sobre a raça ariana ser superior aos demais já é refutado com esta Resolução 217 A. Também determina que qualquer tipo de escravidão é proibida pois vai contra aos princípios de liberdade. Temos deveres para com a sociedade, família, trabalho que são invioláveis e não podemos deixar de cumpri-los. Todavia, foi apenas 11 anos depois que se teve a preocupação em foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos da Criança que são 10 princípios que asseguram direitos para estas, tais como: liberdade, dignidade, proteção social, educação. Não é discriminação a estas em relação a sua raça, cor, origem, língua, religião, sexo; pois todos são iguais e têm os mesmos 23 direitos. De acordo com o terceiro princípio se faz obrigatório a que todas as crianças tenham nacionalidade e nome o que culmina com a necessidade da emissão de certidão de nascimento. A importância do brincar como auxílio do desenvolvimento deste indivíduo e é um dos princípios básicos para que seja a alcançada e facilitada a educação dos alunos. No primeiro governo militar no período da ditadura militar brasileira (compreendido entre os anos de 1964 até 1985) em que ocorreram muitas mudanças: fim da democracia, autoritarismo exarcebado através de Atos Institucionais (AI). Foi que se criou a Fundação do Bem Estar do Menor (FUNABEM) através da Lei Federal nº 4.513/64 para que fosse possível que o Estado prestasse assistência aos jovens “em situação irregular” de 0 á 18 anos a fim de se evitar a marginalização por parte destes em relação à sociedade. Com a promulgação de uma nova Constituição de 1967, a fim de afirmar o poder militar e favorecer a opressão à sociedade é que se foi possível o surgimento do novo Código de Menores (1979) que foi instituído pela Lei nº 6.697. Nota-se que as medidas de punição ainda são encontaradas neste, pois a mentalidade desta época era que a execução de faltas deveria ter como consequência a imposição de medidas corretivas, tais como: a colocação em casa de semiliberdade, liberdade assistida, internação. Este documento trata a Juventude de forma semelhante aos adultos, no artigo 99 é relatado que quando um indivíduo menor de 18 anos cometer um ato infracional deverá ser encaminhado a uma entidade judiciária competente. Ou seja, esta autoridade tinha um poder de emorme expressão, pois era este setor que definia se o cidadão poderia e deveriam ser direcionado as casas de “reabilitação”. O Estado tem o poder de destituir o pátrio poder dos pais ou responsável pelo jovem, isto é bastante autoritário e também se percebe a transgressão dos direitos da família, pois se faz fundamental que esta se mantenha unida para o pleno desenvolvimento da criança. A visão que a sociedade tem do menor é como sendo um indivíduo em situação irregular, 24 podendo ser observado no artigo 2º relacionado abaixo: Art. 2º Para os efeitos deste Código considera-se em situação irregular o menor: I - privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de: a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las; II - vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável; III - em perigo moral, devido a: a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes; b) exploração em atividade contrária aos bons costumes; IV - privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável; V - Com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária; VI - autor de infração penal. (BRASIL, 1979) Desta maneira, pode-se inferir que nesta época qualquer jovem pertencente a uma camada econômica desprovida de muitos recursos financeiros era caracterizado como “Menor” e sendo visto e tratado como os que praticaram crimes. Na década de 80, com a implantação da Constituição de 1988 que é considerada como cidadã, porque adota princípios democráticos. Considera todos iguais perante a lei independente do sexo, religião ou de qualquer natureza. Ao contário do período ditatorial permite a livre expressão e manisfestação do pensamento e condena qualquer forma de tortura ou tratamento violento que seja praticado a outrem. No artigo 6º a nossa Constituição Federal garante uma série de direitos socias que dizem respeito à criança, como a educação e a proteção da infância. Começa-se, de fato a preocupação com estes que por muito tempo não eram notados e vistos como improducentes pela sociedade. Tais mudanças ocorreram devido aos princípios de liberdade e pelas idéias comunistas do Partido do Socialismo (PC do B) incutiam contra o governo militar. Têm-se o interesse que a criança se desenvolva para que assim possa contribuir para o bem 25 da sociedade e poder oferecer a sua mão de obra qualificada aos meios de produção para produzir o “aquecimento” da economia nacional: Art. 205 - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988) Nos anos 90, o Presidente, Fernando Collor, instituiu a lei número 8.069/90, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Ressultando assim, que a nossa juventude passa a ser sujeitos portadore de direitos especiais e pessoa (em desenvolvimento) em situação regular e que precisam de proteção integral. As funções do Estado e das famílias são tornar possíveis os seguintes direitos: à saúde, à vida, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária. Os nossos representantes políticos, governantes têm os deveres assegurar que estes tenham precedência de atendimentos nos serviços públicos, distinção privilegiada de recursos públicos nas áreas referentes à proteção à infância e à juventude, criação de programas de prevenção e atendimento especializado aos portadores de necessidades especiais. Ao contrário do Código de Menores, o Estatuto da Criança e Adolescente, através do artigo 19, entende à importância da permanência de que as crianças e adolescentes permaneçam com a família de origem1. Apenas em casos gravíssimos, tais como: castigos imoderados, abandono, havendo motivo grave, é que será possível o como: castigos imoderados, abandono, 1 Artigo 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. 26 havendo motivo grave, é que será possível o Estado destituir o poder familiar do responsável2 A Constituição de 1988 entende que a família é um alicerce insubstituível para que o indivíduo cresça e se desenvolva de forma mais completa possível e também é onde constroem laços de afetividade tão importantes ao longo da vida destes. As medidas assistenciais no Estatuto da Criança e do Adolescente passam a ser denominadas medidas protetivas que são determinadas pelo Juiz da Vara da Infância e Juventude ou Conselho Tutelar, quando ocorrem situações de ameaças ou violações dos direitos destes indivíduos em questão. Dentre estas podemos citar algumas: acolhimento institucional, orientação, apoio, acompanhamento temporários (período máximo são de 2 anos). Pode-se afirmar que evoluímos muito ao entender que estes indivíduos são seres portadores de direitos especiais de saúde e educação. Com isso, atendemos a infância e juventude como um todo e não segregamos esta em grupos de marginalizados e as do não marginalizados. O Conselho Nacional dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes (COMANDA) só foi criado no ano de 1991 pela lei nº 8.242 e este dá apoio aos diferentes Conselhos: Municipais, Estaduais, pois entende que é mais fácil zelar pela garantir dos direitos de nossa juventude quando se divide em diferentes órgãos executores, porque assim consegue-se atender um maior número de pessoas em nossa população. O Fundo Nacional para a Criança e o Adolescente (FNCA) que é gerido pelo COMANDA faz com que seja possível que sejam criados recursos para que seja garantido a estes algumas melhorias em suas condições de vida, como: II - no apoio aos programas e projetos de pesquisas, de estudos e de capacitação de recursos humanos necessários à execução das ações de 2 Antes se fazia referência apenas ao pátrio poder, agora se fala do poder familiar, ou seja o comando do lar não é apenas função do pai. De acordo com o artigo 21 do ECA o poder familiar, que é dever dos pais, será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurando a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução da divergência. 27 promoção, defesa e atendimento à criança e ao adolescente; III - no apoio aos programas e projetos de comunicação e divulgação das ações de defesa dos direitos da criança e do adolescente; IV - no apoio ao desenvolvimento e à implementação de sistemas de controle e avaliação de políticas públicas, programas governamentais e não -governamentais de caráter nacional, voltados para a criança e o adolescente; (BRASIL, 1994) A partir de 1995 (25 de Novembro), com a intenção de ampliar a discussão sobre a nossa juventude; ocorreu a I Conferência Nacional dos Direitos da Criança - Prioridade Absoluta e esta passou a ter a periodicidade a cada dois anos; tendo a finalidade de estabelecer diretrizes de âmbito nacional de atendimento de saúde, educação, assistência social, trabalho para as crianças e adolescentes. O Ministério da Saúde, Secretaria Especial dos Direitos Humanos e Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres instituíram a Portaria Interministerial MS/SEDH/SEPM 1.426/2004 que ocorreu devido à preocupação com a saúde de jovens que estavam em regime de internação, pois muito pouco é feito por estes quando se encontram em situação irregular. Temse o interesse é que sejam oferecidos os serviços de proteção, recuperação e promoção a estes de forma igualitária. Este princípio também é afirmado no Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 3º quando estabelece que seja direito adquirido destes á sua proteção integral pelo Estado a fim se permita o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual, social. Mas para que sejam alcançadas estas finalidades, principalmente: I - a implantação de estratégias de promoção da saúde, com o objetivo de promover ambiência saudável, estimular a autonomia, e desenvolver ações sócio-educativas, atividades corporais e de melhoria das relações interpessoais, bem como o fortalecimento de redes de apoio aos adolescentes e suas famílias; V - a educação permanente, tanto das equipes de saúde e dos 28 profissionais das unidades de internação e internação provisória, quanto dos profissionais que atuam nas unidades de saúde de referência voltadas às especificidades de saúde dessa população; O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou uma lista com os piores tipos de trabalho (Lista TIP) que as nossas crianças, jamais podem realizar estas atividades, como: na extração e corte de madeira; em condições hiperbáticas (pressão elevada); cata de iscas aquáticas e/ou mariscos; em qualquer tipo de escavações; na fabricação de bebidas alcoólicas; industrialização do fumo e/ou cana de açúcar; construção civil; transporte de pessoas e/ou animais e trabalho doméstico. De acordo com esta determinação que foi instituída pelo Decreto nº 6.481/08 fica terminantemente proibido que os cidadãos com menos de 18 anos sejam alocados nos postos de trabalhos relacionados na Lista TIP, pois estes garantem riscos à segurança, saúde e moral de nossas crianças e adolescentes. A possibilidade de que os jovens que estejam alocados em sistemas prisionais possam fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEN) através da Portaria nº 317 de 02 de Dezembro de 2009 contribuiu para o interesse destes em almejar um futuro melhor e o entendimento que o estudo o ajudará a melhorar a sua condição e a oportunidade conseguir um bom emprego. Desta forma, pode ser notado que durante mais de cem anos muitas leis surgiram com o intuito de auxiliar a nossa juventude, todavia nada mudará se não tomarmos consciência de que a criança pobre não pode ficar á margem da sociedade, recebendo uma educação que não irá contribuir em uma melhora significativa em sua vida. Muitas destas vão à escola apenas para ter como refeição a merenda, pois do caso contrário não irão ter o que comer durante o dia todo. No capitulo seguinte iremos abordar a violência escolar, assunto de grande seriedade, pois não adianta termos uma legislação especifica para as crianças e adolescentes se não promovermos seus preceitos na prática. Sabemos também que, muitas vezes, é a partir da prática 29 cotidiana que algumas leis são pensadas e, por isso, faz-se relevante a reflexão acerca de como esta prática tem se constituído e como vem repercutindo nas relações entre professor e aluno. Para isso, iremos destacar no próximo capítulo a questão da violência escolar cogitando algumas atitudes que podem interferir no índices de violência escolar e contribuir para desmotivação, repetência e evasão escolar. 30 CAPÍTULO III VIOLÊNCIA ESCOLAR E A PRÁTICA DOCENTE A violência escolar é um importante fator que contribui de forma significativa para a evasão nas instituições de ensino de crianças e adolescentes em todo o Brasil. É muito difícil fazer uma definição deste porque não existe um conceito definido sobre o que seja violência, esta é modificada de acordo com o ambiente em questão. De acordo com o autor Bernard Charlot (2002) para a explicação do termo citado este pode ser classificado, de acordo com o âmbito escolar, em: o Violência: consiste em roubos, vandalismo, violência sexual, golpes, ferimentos, crimes; o Incivilidades: falta de respeito, palavras grosseiras; o Violência simbólica ou Institucional: o ensino é vista de forma desprazerosa, porque o jovem tente que aprender matérias e conteúdo que não despertam o seu interesse. Será sobre o último item que iremos detalhar neste presente capítulo por compreendermos a importância de se evitar a evasão escolar. Muito pouco é levado em consideração quando é elaborado o currículo dos colégios brasileiros, uma vez que a grande parte de nossos discentes é pobre e, provavelmente frequenta este ambiente para que possa ser garantida, pelo menos uma refeição ao dia. Desta forma, o que é ensinado não tem nenhuma correlação com o cotidiano deste indivíduo, e consequentemente, não tem 31 o interesse em apreender e não toma gosto pelo conhecimento. Muitos de nossos jovens não se esforçam em conseguir tirar boas notas porque não existe um professor que, de fato o estimule a continuar seus estudos. Muitos necessitam ainda bastante jovens trabalhar para garantir a sua subsistência e de sua família e optam por desistir de uma escolarização. A tabela relacionada abaixo aponta alguns motivos desta: Motivos de evasão (faixa etária:16, 17 anos) 2006 2004 Falta de renda (demanda) 27.09 22.75 Oferta 10.89 11.14 Falta de interesse 40.29 45.12 Outros motivos 21.73 20.77 Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados dos suplementos da PNAD/IBGE Pode-se notar que a falta de interesse nos dois anos relacionados é fator majoritário para a evasão escolar. Com isso, se faz urgente com que melhore a formação de nossos professores, principalmente, de Educação Básica, porque só assim reverteremos este triste quadro. As Universidades preocupam-se mais em oferecer uma maior “carga de teoria” a seus alunos e o mais importante que é a prática em sala de aula são reservados apenas poucas horas na formação deste profissional. De acordo com o estudioso André Lévy, a violência pode ser entendida em sua dimensão simbólica que pode levar a destruição: A violência aterroriza, portanto. Mas menos em razão de sua destrutividade e dos sofrimentos que pode provocar que em razão de seu caráter excessivo, de sua intensidade louca que deixa transparecer nas palavras, no olhar, a força 32 bruta incontrolável das pulsões susceptíveis de nos invadir a todo instante. Todo excesso de prazer, de alegria ou de dor, implica, com efeito, um arrebatamento brutal, uma ruptura forçosamente dolorosa. E, entretanto, a violência não é boa nem má, ela faz parte da vida, ela é a vida: a desmedida, a intensidade, o “a mais”, sem os quais nenhuma obra de criação (literária, científica, artística ou filosófica), nenhum nascimento, nenhuma paixão seria possível. (LEVY, 2010, p. 235) A imposição da violência das relações de poder entre professores e alunos faz com que o interesse destes discentes sejam aniquilados e que estes percam a esperança por um futuro melhor, pois percebem que no ambiente escolar não possuem espaço para expor as suas idéias e se desenvolver de forma sadia. A autora Hannah Arendt estabeleceu uma relação entre violência e quebra de diálogo, este último é fundamental para o conhecimento. Ela acredita que: “violência é todo ato que implica a ruptura de um nexo social pelo uso da força. Nega-se, assim, a possibilidade da relação social que se instala pela comunicação, pelo uso da palavra, pelo diálogo e pelo conflito”. Ou seja, toda vez que um docente nega a possibilidade de um diálogo a qualquer um de seus alunos está abrindo mão de uma possibilidade de aprendizagem. Existem muitas variáveis que nos ajudam a explicar e entender a violência dentro da Instituição Escolar. Estes podem ser classificados como endógenos (aspectos internos) e exógenos (aspectos externos): Ø Aspectos Endógenos: o Nível de escolaridade e/ou idade dos alunos; o Comportamento dos docentes em relação aos discentes; o Regras e disciplinas; o Sistemas de punições. 33 Ø Aspectos Exógenos: o Características sociais das famílias; o Questões de gênero; o Relações raciais; o Influência dos meios de comunicação (computador, rádio, televisão, jornais, revistas); o Espaço social das escolas. Estes aspectos mencionados anteriormente facilitam a compreensão de como a evasão escolar pode ser uma constante em determinados grupos sociais, mas não pode se esquecer os diversos outros fatores que são particulares de cada indivíduo. Fazendo um paralelo com a realidade midiática, a artista mirim Maisa que trabalhava no Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) e que com sete anos de vida, possuía três anos de carreia. Quando enquadramos esta criança atriz no aspecto exógeno referente a influência dos meios de comunicação e fazemos uma comparação com outro indivíduo pertecente a uma família muito pobre; notamos duas realidades bastante diferentes em que se enquadram exemplos de violência simbólica. No caso de Maisa se deve a razão de que esta por pertencer ao elenco de um canal de televisão muitas das atividades que deveria realizar no colégio não o faz por conta da falta de tempo, em contarpartida o jovem que é muito pobre se exclui das informações, porque não tem acesso a estas devido a sua condição financeira. 34 Fonte:TUDO COM, site: http://www.tudocom.net/?p=2851 A formação que a escola pretende dar muitas das vezes é aquela que trata o discente de forma homogênia, ou seja o professor acredita que todos os alunos aprendem de forma igual. As práticas disciplinares são voltadas para o aluno considerado ``normal``, desta forma se este tiver qualquer dificuldade de aprendizagem ou atraso não aprenderá porque esta Instituição não valoriza os diferentes, mas que todos sejam iguais entre si. De acordo com o autor Feliciano Guimarães: A escola, como qualquer outra instituição, está planificada para que as pessoas sejam todas iguais. Há quem afirme: quanto mais igual, mais fácil de dirigir. A homogeneização é exercida através de mecanismos disciplinares, ou seja, de atividades que esquadrinham o tempo, o espaço, o movimento, gestos e atitudes dos alunos, dos professores, dos diretores, impondo aos seus corpos uma atitude de submissão e docilidade. Assim como a escola tem esse poder de dominação que não tolera as diferenças, ela também é recortada por formas de resistência que não se submetem às imposições das normas do dever-ser. Compreender essa situação implica aceitar a escola como um lugar que se expressa numa extrema tensão entre forças antagônicas. (Guimarães,1996,p.78-79) 35 Michel Maffesoli, professor titular da Universidade de Sorbonne entende que a violência pode ter três modalidades: ü Violência dos poderes instituídos: o professor tem o seu poder em sala de aula e é soberano, com isso apenas ele decide as atividades que irá desenvolver. ü Violência anômica: reação a dominaçào a que o opressor impõe em outrem. ü Violência banal: quando um indivíduo nào é aceito em um grupo social ele se utiliza de aspectos zombeiro, como: piadas, brincadeira para de alguma forma se encaixar ou ser aceito neste. Desta maneira, a violência apenas se estabelece no confronto das diferenças sejam estas provenientes de qualquer natureza. Lançando mão de um exemplo no contexto escolar: Toda vez que o docente se nega a adaptar a sua metodologia para que possa aumentar a quantidade de alunos aprendendes, ou quando este acredita que apelidando os seus discentes o ajudará a se comunicar com os seus colegas e ser tornar mais participativo. Até mesmo uma das principais pensadoras do século XX, Hannah Arrendt que tinha uma visão bastante conservadora, não defendia a idéia de um professor autoritário, pois isto emperraria a aprendizagem destes. Ela entendia: ``A função da escola é ensinar as crianças como o mundo é, e não instruí-las na arte de viver``; tal afirmação é bastante acertada porque é errado a postura de muitas Instituicòes escolares que desejam moldar o alunado de forma homogênea, afinal somos seres muito diversos e com opiniões diferentes. De acordo com esta autora os adultos teriam duas obrigações com as crianças: Ø A família desta deveria assegurar o ``bem estar vital`` dos seus filhos, ou seja os responsáveis por estes devem prover tudo o que uma criança necessita para se desenvolver de forma sadia, como: amor, alimentação, acesso à educação, lazer 36 (incluindo o brincar). Ø A escola deve proporcionar a estas o ``livre desenvolvimento de qualidades e desenvolvimentos pessoais``, com isso nota-se que ela entende o indivíduo como um ser único e possuidor de particularidades que dizem respeito a preferências pessoais inerentes ao ser de cada um. O autor francês Michel Foucault nos relatava que a escola é um espaço de doutrinação de como devem agir em sociedade, não tendo uma preocupação com o aprender do aluno. Para ele esta instituição é semalhante uma prisão : ``são aquelas instituições que retiram compulsoriamente os indivíduos do espaço familiar ou social mais amplo e os internam, durante um período longo, para moldar suas condutas, disciplinar os seus comportamentos``. Este estudioso percebeu que a função desta não é proporcionar com que os cidadãos reflitam criticamente, mas sim em moldar os seus ideais e desejos. Pode-se fazer uma analogia com a imagem que segue na próxima página sobre o esquema de postura corporal, do século XIX da escola francesa de Port-Mahon, existia a forma correta de sentar e de ficar em pé em fila. A postura de muita disciplina era bastatnte visualizada neste período de nossa história. A forma de violência era muito mais fácil de ser notada, pois até mesmo castigos corporas eram empregados: palmatórias, ajoelhar no milho. 37 Fonte: Michel Foucault, site: http://revistaescola.abril.com.br/historia/praticapedagogica/critico-instituicao-escolar-423110.shtml?page=2 Na obra de Paulo Freire, grande pensador brasileiro, chamada “Pedagogia da Autonomia” pode-se retirar questões bastante atuais que são alguns dos dilemas e desafios que se enfrenta quando um professor tem que “encarar” quando dar aula em qualquer sala de aula no mundo. Pois, muitas vezes os alunos sofrem violências simbólicas de docentes que não tiveram uma boa formação e que necessitam se aperfeiçoarem e modificar algumas atitudes. Ø Ensinar exige pesquisa – Qualquer docente reconhece a necessidade de que para fazer um bom trabalho, ou seja, ser capaz de ensinar algo novo e interessante aos seus alunos; tem que se dar o trabalho de fazer uma pesquisa antes das aulas. Pois, este normalmente, amplia os seus conhecimentos na área, através desta busca que passou a se tornar obrigação, uma vez que a atenção dos discentes se torna cada vez mais difícil. 38 Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino3. Esses que – fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. (FREIRE, 1996, p.29) Ø Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos – Jamais, deve-se desrespeitar os saberes e conhecimentos que quaisquer alunos tenham, porque da mesma forma estará faltando com respeito a sua cultura. O dever de não só de respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os da classes populares, chegam a ela saberes socialmente construídos na prática comunitária (...).Por que não estabelecer uma “intimidade” entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduo? (FREIRE,1996, p. 30) Ø Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação – O professor já está tão arraigado as formas tradicionais de conduzir uma aula que a qualquer ameaça que o “novo”possa intervir em seu trabalho, este entra em desespero. Mas tem que se levar em consideração que os tempos mudaram e os alunos também, a tecnologia fez com que estes se tornassem mais práticos. Ou seja, não adianta ficar muitas horas tentando ensinar um conteúdo, pois o alunado não vai prestar a atenção, uma vez que ele acreditará que esta perdendo o tempo. Com isso, o docente deve mudar a sua dinâmica de trabalho 3 Fala-se hoje, com insistência, no professor pesquisador. No meu entender o que há de pesquisador no professor não é a qualidade ou a forma de ser ou de atuar que se acrescente ao ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. O de que se precisa é que, em sua formação permanente, o professor se perceba e assuma, porque professor, como pesquisador. (FREIRE, 1996) 39 sem medo de errar, a fim de que esses aumentem o seu desempenho. A aceitação do novo que não pode ser negado o acolhido só porque é novo, assim como o critério de recusa ao velho não é apenas o cronológico (...). A prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia. Quão longe dela nos achamos quando vivemos a impunidade dos que matam meninos nas ruas, dos que discriminam os negros, dos que inferiorizam as mulheres. (FREIRE, 1996, p. 36) Ø Ensinar exige consciência do inacabamento – O professor deve saber que não é o dono da verdade, ou seja, que há muito o que conhecer e que por muitas vezes e tão ignorante em alguns assuntos quanto os seus alunos. Daí a necessidade da pesquisa constate, pois se faz necessário que este profissional como qualquer outro se atualize, afinal a sociedade está em constante mudança. O inacabamento do ser humano do ser ou sua conclusão é próprio da experiência vital. Onde há vida, há inacabamento. Mas só entre mulheres e homens o inacabamento se tornou consciente. A invenção da existência a partir dos materiais que a vida oferecia levou homens e mulheres a promover o suporte em que os outros animais continuam, em mundo. Seu mundo, mundo dos homens e das mulheres. (FREIRE, 1996, p.50) Ø Ensinar exige bom senso – O educador tem que levar em consideração que quando dá aula em qualquer sala de aula, não pode e nem deve priorizar a “decoreba” sem fundamento. Mas deve aliar o conteúdo programático com a vivência do aluno, através das palavras geradoras4. Caso contrário, haverá muita evasão escolar e pouco rendimento. Outro ponto 4 São selecionadas através de conversas informais com o aluno, a fim de fazer um levantamento do universo vocabular deste e de sua comunidade. A quantidade de palavras geradoras pode variar de 18 a 23 e serão estas que serviram de base para a lição dos educandos.(http://pt.wikipedia.org/wiki/Método_Paulo_Freire) 40 importante, refere-se ao fato do professor saber respeitar a individualidade de cada discente, isso quer dizer que, cada um tem uma velocidade de aprendizagem e fixação dos conhecimentos. Com isso, este deve ministrar a aula em um ritmo em que todos possam estar acompanhando e entendendo a “matéria”. É o meu bom senso que me adverte de que exercer a minha autoridade de professor de classe, tomando decisões, orientando atividades, estabelecendo tarefas, cobrando a produção individual e coletiva do grupo não é sinal de autoritarismo de minha parte. É a minha autoridade cumprindo o seu dever. Não resolvemos bem, ainda entre nós, tensão que a contradição quase sempre autoridade cm autoritarismo, licença com liberdade. (FREIRE, 19996, p.61) Ø Ensinar exige alegria e esperança – Se faz necessário que o profissional em educação acredite em seu trabalho, ou seja tenha esperança que a conjuntura de problemas educacionais e sociais irá mudar e de que é um elemento importante e fundamental para auxiliar nesta mudança. Quando um docente ministra suas aulas com alegria e contentamento é porque acredita em seus alunos e em sua missão como professor. Há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A esperança de que professor e alunos juntos podem aprender, ensinar, inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos a nossa alegria. A esperança é uma espécie de ímpeto natural possível e necessário, a desperança é o aborto deste ímpeto. A esperança é um condimento indispensável à experiência histórica. Sem ela, não haveria História, mas puro determinismo. (FREIRE, 1996, p.72) Ø Ensinar exige curiosidade – A curiosidade é de extrema relevância, pois o indivíduo que a tem procurará o conhecimento para satisfazê-la. Desta mesma forma, o docente quando percebe a necessidade de fazer cursos de especialização ou quaisquer fontes para aprender algum assunto está se rendendo a esta vital necessidade de informar-se. Como professor devo saber que sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo e nem ensino. Exercer a minha curiosidade de forma correta é um direito que tenho como gente e a que corresponde o dever de lutar por ele, o direito à curiosidade. Com a curiosidade domesticada posso alcançar a 41 memorização mecânica do perfil deste ou daquele objeto, mas não o aprendizado real ou o conhecimento cabal do objeto. (FREIRE, 1996, p.85) Ø Ensinar exige comprometimento – O educador tem que estabelecer um compromisso sério com a profissão. Uma vez que este é responsável pela vida escolar de muitos indivíduos, tal tarefa é difícil, mas ao mesmo tempo estimulante. Afinal, futuramente, estes alunos lembraram do professor como alguém que o auxiliou a desvendar os mistérios que cercam a vida. Não posso ser professor sem me pôr diante dos alunos, sem revelar com facilidade ou relutância minha maneira de ser, de pensar politicamente. Não posso escapar à apreciação dos alunos. E a maneira como eles me percebem tem importância capital para o meu desempenho. Daí, então, que uma de minhas preocupações centrais deva ser a de procurar a aproximação cada vez maior entre o que digo e o que faço, entre o que pareço ser e o que realmente estou sendo. (FREIRE, 1996, p.96) Ø Ensinar exige saber escutar – Não basta o docente ter amplo conhecimento do conteúdo, se este for ineficaz em perceber as dificuldades dos alunos. Não saber escutar para poder compreender quais os problemas que afligem e dificultam a aprendizagem. Pois, ao lidar com o ser humano, temos que entender que existem muitas singularidades e particularidades que podem intervir no processo de aquisição de novos saberes. No processo de fala e escuta a disciplina do silêncio a ser assumido com rigor e a seu tempo pelos sujeitos que falam e escutam é um “sine Qua5 da comunicação dialógica. O primeiro sinal de que o sujeito que fala sabe escutar é a demonstração de sua capacidade de controlar não só a necessidade de dizer a sua palavra, que é um direito, mas também o gosto pessoal, profundamente respeitável, de expressá-la. Quem tem o que dizer tem igualmente o direito e o dever de dizê-lo. (FREIRE, 1996, p. 116 e 117) 5 Expressão do latim que significa: ação, condição que tem caráter essencial. (http: //pt.wikipedia.org/wiki/Sine_qua_non) 42 Ø Ensinar exige disponibilidade para o dialogo – É na condição de inacabamento do ser humano que sempre temos que estar abertos para o diálogo, pois há muito o que aprender, não somos “donos da verdade” e nem detentores de todo conhecimento existente no mundo. É um ato de afeto pode estabelecer uma relação de diálogo com outro ser humano. O professor deve estar sempre atento para a necessidade que seus alunos têm em falar –lhes algo, pois só assim poderão amadurecer emocionalmente e transpor quaisquer barreiras do aprendizado. Como professor não devo poupar oportunidade para testemunhar aos alunos a segurança com que me comporto ao discutir um tema, ao analisa um fato, ao expor minha posição em face de uma decisão governamental. Minha segurança não repousa na falsa suposição de que sei tudo, de que sou o “maior”. Minha segurança se funda na convicção de que sei algo e de que ignoro algo que se junta a certeza de que posso saber melhor o que já sei e conhecer o que ainda não sei. Minha maior segurança se alicerça no saber confirmado pela própria experiência de que, se minha inconclusão, de que sou consciente, atesta, de um lado, minha ignorância, me abre, de outro, o caminho para conhecer. (FREIRE, 1996, p.135) Ø Ensinar exige querer bem aos educandos – É difícil imaginar que haja falta de afetividade e solidariedade entre alunos e professores dentro de uma sala de aula, pois, eles estão juntos no processo de ensino e aprendizagem e estão construindo conhecimentos. O papel do professor na vida dos seus alunos é de suma importância, afinal, a relação de confiança é muito alta, uma vez que estes procuram a escola por acreditarem que esta é fundamental em sua vidas. Com isso, os educadores devem auxiliá-los neste difícil processo (evitando a evasão), mas só quando o professor, realmente, querer bem aos educando, irá ajudá-los. A minha abertura ao querer bem significa a minha disposição à alegria ao viver. Justa alegria de viver, que, assumida plenamente, não permite que me transforme num ser “adocicado” nem tampouco num ser arestoso e amargo. (FREIRE, 1996, p.141) 43 Finalmente, pode-se afirmar que são muitos os cuidados que os nossos docentes devem tomar para se evitar que os alunos sofram a violência escolar. Pois, estes além de terem a necessidade de uma boa formação devem tentar entender a realidade de seus alunos e voltar suas aulas para as reais necessidades deste. Caso contrário, o que acontecerá será o fracasso escolar, na representação de repetências e evasão escolar. 44 CONCLUSÃO O conceito de infância sofreu modificações ao longo do tempo. Inicialmente não existia uma preocupação com a infância, a criança era vista como um adulto em miniatura, pois esta não era cercada de cuidados e pelos adultos, mas sim cumpridoras de deveres. Foi apenas no século XVI, com a implantação dos ideais da ordem capitalistas, que se passou a ter certa atenção com estes pequenos sujeitos. No histórico legislativo, observamos que algumas leis foram postas em destaque como forma de garantir uma série de direitos as crianças e adolescentes. Entretanto, é notável que pouco conseguiremos, se a educação oferecida aos nossos discentes não for significativa e funcional, tal como mencionado pelo estudioso Paulo Freire. [...] o educador aparece como seu indiscutível agente, como o seu real sujeito, cuja tarefa indeclinável é ‘encher’ os educandos dos conteúdos de sua narração. Conteúdos que são retalhos da realidade desconectados da totalidade em que se engendram e me cuja visão ganhariam significação. A palavra, nestas dissertações, se esvazia da dimensão concreta que deveria ter ou se transforma em palavra oca, em verbosidade alienada e alienante. Vemos assim, que o professores devem se implicar no processo educacional de seus alunos, esforçando-se para aproximar o conteúdo pedagógico da realidade vivida pelos alunos, pois, certamente a aprendizagem se imbuirá de sentido e eles se sentirão mais motivados a buscar o conhecimento. Cabe mencionar que os desafios que se colocam para os docentes são inúmeros (problemas estruturais, desvalorização profissional,...) e que estes também precisam ser constantemente apoiados, capacitados e motivados para enfrentar esta empreitada. Enfim, acredita-se que, através desta monografia, foi possível notar a relevância de se estudar a infância de maneira mais global e contextualizada para melhor compreendermos o 45 significado de algumas situações atuais. Destacamos como importante neste contexto, o papel do psicopedagogo institucional, na medida em que este se encontra habilitado a avaliar o modo de aprendizagem de cada aluno, os interesses e, assim trabalhar a motivação dos alunos e também dos professores, instigando estes a refletir o quanto a violência simbólica se faz ou não presente nas relações que estabelece com seus alunos. 46 BIBLIOGRAFIA ABRAMOVAY, Miriam & RUA, Maria das Graças. Violência nas escolas. Ed.Unesco, doações institucionais. ARTE ILUMINA A VIDA: Arte Sacra. Acessado em 20/01/2012 às 22:10h. Disponível em: http://tania-arteimitavida.blogspot.com BARROCO: Barroco no Brasil. Acessado em 20/01/2012 às 22:30h. 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