Design sustentável em mobiliário Sustainable Design in Furniture Hisamatsu, Hugo Hissashi Hayashi; Graduando em Design; Universidade Estadual Paulista [email protected] Battistelle, Rosane Aparecida Gomes; Doutora; Universidade Estadual Paulista [email protected] Moizés, Fábio Alexandre; Mestre; IESB-PREVE [email protected] Resumo Com a crescente preocupação com o meio ambiente, repensar no modo como produtos são projetados torna-se necessário e inevitável. Este artigo pretende demonstrar conceitos ligados à Desmaterialização e ao Design para a montagem que podem ser aplicados em um projeto de mobiliário através do ecodesign, exemplificando o tema discutido com o desenvolvimento de um assento. Palavras Chave: Ecodesign; Sustentabilidade; Mobiliário. Abstract With the growing concern for the environment, rethinking the way products are designed becomes necessary and inevitable. This article intends to demonstrate concepts related to Dematerialization and Design for Assembly that can be applied in furniture projects through the ecodesign in order to illustrate the subject discussed with the development of a seat. Keywords: Ecodesign; Sustainability; Furniture. Design sustentável em mobiliário Sustentabilidade ambiental Segundo Pereira (1950 apud MARTINI, 2004), as relações jurídicas ambientais já são antigas, decorrendo das atividades de degradação ambiental e dos conflitos de interesses sócio-políticos. Na Grécia antiga e na Roma imperial, por exemplo, já era considerado crime atear fogo contra a vegetação. Atualmente, diante das catástrofes naturais decorrentes da ação do homem, sucessivas tentativas para solucionar questões ambientais têm sido realizadas em toda a parte do mundo. Diante disso, tornou-se necessário repensar as questões ambientais em todas as atividades humanas, surgindo a partir disso, diversos conceitos, dentre os quais o de ecodesign. O presente artigo aplicará os conceitos de ecodesign para a concepção de um produto mobiliário mais ambientalmente sustentável. Madeira reflorestada De acordo com Rosa et al. (2007), a maioria dos móveis possui como matéria-prima predominante a madeira, em especial os painéis de aglomerados, de fibra de média densidade denominados de MDF e compensados, que reduzem o uso de madeira nativa cada vez mais escassa. Além disso, o aumento das restrições de caráter ambiental no comércio internacional fez com que a disponibilidade de florestas naturais brasileiras não fosse mais uma vantagem do ponto de vista econômico em um mundo preocupado com questões ambientais. De acordo com Martini (2004), a prática do reflorestamento e da preservação florestal, que é uma solução para se evitar o desmatamento de mata nativa, teve como pioneiro no Brasil Edmundo Navarro de Andrade ao realizar pesquisas com o objetivo de suprir matériaprima para a Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Nesse panorama, o emprego de madeiras alternativas de reflorestamento como o pinus e o eucalipto representam, além de uma forma econômica de suprimento de matéria-prima, um modo sustentável de extração, cumprindo, assim, as exigências ecológicas de um mercado cada vez mais consciente sobre o assunto, abrindo também a possibilidade de uso de novos tipos de materiais de origem renovável como é o caso do bagaço de cana-de-açúcar. Ecodesign Para Manzini e Vezzoli (2008), no futuro, o desenvolvimento de um produto virá sempre acompanhado de um projeto de todo o seu ciclo de vida, ou Life Cycle Design, cujo objetivo é a redução da entrada de matéria e energia e da saída de refugos e emissões nas fases de pré-produção, produção, distribuição, uso e descarte, avaliando-se os aspectos ambientais, econômicos e sociais. Sobre o termo “ecoeficiência”, World Business Council for Sustainable Development (2000) o define como uma disponibilização de produtos e serviços a preços competitivos que supram as necessidades do consumidor com uma redução dos impactos do meio produtivo e dos recursos energéticos. Para tanto, os seguintes elementos podem ser usados: redução material, energética e de emissão de substâncias tóxicas; aumento da reciclagem, do uso de material renovável, da durabilidade dos produtos e da prestação de serviços. Quanto ao primeiro item, para Manzini e Vezzoli (2008), a redução do uso dos recursos naturais resulta em redução do impacto ambiental já que se diminui a quantidade de materiais produzidos, transformados, transportados e descartados, representando assim, uma oportunidade de economia durante a produção. Desta forma, a desmaterialização surge como uma redução material dos produtos e dos serviços necessários para se alcançar um bem-estar aceitável. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design Design sustentável em mobiliário Segundo Ausubel e Waggoner (2008, apud UNEP, 2009), a desmaterialização considera apenas o realmente necessário para a produção dos produtos, surgindo também quando consumidores optam por produtos e serviços que usem menos materiais e energia ao longo de seu processo de fabricação, montagem e uso. Outro conceito para o desenvolvimento de produtos sustentáveis é o Design for Assembly (Design para a montagem), representando eficiência e economia durante o ciclo de vida do produto. Tal conceito atribui ao produto uma maior otimização principalmente durante a produção e distribuição, uma vez que menor volume é ocupado pelo produto desmontado. Junto à prática do Design para a montagem surge o Design for Disassembly ou Design para a desmontagem, que segundo Manzini e Vezzoli (2008) tem por objetivo tornar sua desmontagem fácil, ágil e econômica, facilitando também a manutenção, reparação, atualização e re-fabricação dos produtos, além de possibilitar a reciclagem no caso de incompatibilidade entre os materiais e o isolamento de materiais tóxicos. Partindo-se desses conceitos, tem-se também o do it yourself, (“faça você mesmo”), sendo o próprio usuário o responsável pela montagem do produto. Segundo Kazazian (2005), tal prática é atualmente empregada em produtos como kits de móveis, proporcionando também redução dos custos na produção e na logística decorrente da economia no volume das embalagens, dos estoques e do transporte. Representa também um meio para que o próprio usuário utilize sua criatividade com as possibilidades que o objeto proporciona. De acordo com Gorini (1998), o conceito “faça você mesmo” surgiu nos Estados Unidos nos anos de 1950, quando se identificou o público feminino como um nicho de mercado para materiais de construção. Na Europa, o conceito popularizou-se na década de 70, consolidando-se na França como bricolage. Ainda de acordo com a autora, os produtos do tipo “pronto para montar” e “faça você mesmo” proporcionam um barateamento e conseqüentemente, uma vantagem no comércio internacional. Para Rosa (2007) tais tipos de produtos foram a solução para a empresa sueca Ikea, similar à Tok&Stok no Brasil, para países de custo de mão-de-obra elevado. Outro aspecto que deve ser considerado durante o projeto ambientalmente sustentável é o próprio material a ser utilizado. De acordo com Manzini e Vezzoli (2005), o prolongamento da vida dos materiais pode ocorrer através da transformação em matériasprimas secundárias ou da incineração para o uso do conteúdo energético. No primeiro caso, o reprocessamento pode ser na forma de reciclagem para produção de novos produtos industriais ou para ser utilizada como fertilizante. Assim, evita-se o descarte de materiais no ambiente e dispõem-se recursos não-virgens para a produção de nova matéria-prima ou energia. A presente pesquisa visa desenvolver um assento baseado no tema proposto com a aplicação de matéria-prima alternativa sustentável e renovável. Materiais e Métodos O projeto e a execução do protótipo de um assento surgiram de projeto de iniciação científica com o auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (processo 2009/52618-2). Com a revisão da bibliografia pertinente ao tema proposto, o projeto seguiu os conceitos de desmaterialização, Design para a montagem e outros, conforme mencionados, utilizandose de chapas de aglomerado de bagaço de cana-de-açúcar Saccharum officinarum (descarte pré-consumo da indústria sucroalcooleira) e de folhas caulinares de bambu da espécie Dendrocalamus giganteus (figura 1), materiais renováveis e sustentáveis, foco do projeto de 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design Design sustentável em mobiliário pesquisa. Entretanto, o projeto também é aplicável a produtos madeireiros disponíveis no mercado como o aglomerado de madeira, o compensado laminado ou o MDF. Figura 1: Chapa de aglomerado de bagaço de cana-de-açúcar e folhas caulinares de bambu. Após levantamento bibliográfico, realizou-se uma análise de similares e, determinando-se que seria um mobiliário residencial para uso diverso, realizaram-se sketches e modelagem virtual de alternativas para o mobiliário (figura 2). No assento, é possível a montagem e a desmontagem a partir das peças que podem ser trocadas no caso de dano ou atualização do produto, seguindo-se os conceitos apresentados durante o levantamento bibliográfico. Há também a possibilidade de se criar combinações e personalizações através do uso de peças de diferentes cores ou estampas. Figura 2: Sketches e alternativas geradas durante a modelagem. Cinco peças compõem o assento conforme figura 3. As duas laterais e o encosto possuem a mesma forma, diferenciando-se entre si apenas pelos rasgos dos encaixes para a montagem apresentada. Priorizaram-se as limitações da produção em escala de laboratório e das propriedades das chapas, carecendo de um estudo ergonômico que deve ser desenvolvido para a aplicação do material para produção em maior escala. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design Design sustentável em mobiliário Figura 3: Peças desmontadas do mobiliário projetado e modelo final. Produto final Não há a necessidade de prego, parafuso ou cola, sendo a fixação obtida apenas pelos encaixes das peças na forma de rasgos (tipo meia-madeira), facilitando-se assim a reciclagem e os critérios de ecodesign aqui descritos, cumprindo bem os requisitos de Design para montagem e “faça você mesmo”. Na figura 4 estão as fotografias do primeiro protótipo com ajustes necessários para a produção, demonstrando os resultados do trabalho de forma satisfatória. Figura 4: Fotografias do primeiro protótipo. Referências GORINI, A. P. F. Panorama do setor moveleiro no Brasil com ênfase na competitividade externa a partir do desenvolvimento da cadeira industrial de produtos sólidos de madeira. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 8, p. 31, set. 1998. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/bnset/set801.pdf>. Acesso em 23 jun. 2009. KAZAZIAN, T. Haverá a idade das coisas leves. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2005. p. 33, 36, 46. MANZINI, E.; VEZZOLI, C. Desenvolvimento de produtos sustentáveis. Os requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: Edusp, 2008. p. 36, 91, 92-94, 100, 117, 119, 132, 133, 211, 243, 244. MARTINI, A. J. O Plantador de eucaliptos: A questão da preservação florestal no Brasil e o resgate documental do legado de Edmundo Navarro de Andrade. 2004. p. 6, 11, 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design Design sustentável em mobiliário 12.320 f. Dissertação (Mestrado em História Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Disponível em: <http://www.ipef.br/servicos/teses/arquivos/martini,aj.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2010. ROSA, S. E. S.; CORREA, A. R.; LEMOS, M. L. F.; BARROSO, D. V. O Setor de Móveis na Atualidade: Uma Análise Preliminar. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 25, p. 5,6, 81,82, mar. 2007. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhe cimento/bnset/set2503.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2010. UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME – UNEP. UNEP Year Book 2009 – New science and developments in our changing environment.Co-editor: Catherine McMullen. Nairobi, Quênia: Division of Early Warning and Assessment, 2009. p. 54. Disponível em: <http://www.unep.org/publications/UNEPeBooks/UNEP_YearBook2009_ebook.pdf> Acesso em: 23 jun. 2009. WORLD BUSINESS COUNCIL FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT. 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