Prefácio
Há hoje em dia uma nova narrativa que tem como pressuposto a ideia de que a
investigação e a inovação são elementos-chave para o desenvolvimento regional.
Enquanto formadoras de capital humano e produtoras de conhecimento, as Instituições de Ensino Superior são potenciais alavancas para a competitividade da economia regional através da criação de mais e melhores empregos. Nesse sentido, o
impacto socioeconómico das Instituições de Ensino Superior é um tema que tem
vindo a merecer cada vez mais atenção por parte dos diversos atores regionais.
O presente trabalho, coordenado por Sandra Saúde, Carlos Borralho, Isidro Féria
e Sandra Lopes, docentes do Instituto Politécnico de Beja, é um testemunho marcante da preocupação desta instituição em aumentar a sua relevância e o seu contributo para o desenvolvimento da região em que se insere. O Instituto Politécnico de
Beja enfrenta os desafios que hoje, tipicamente, se colocam às instituições de
ensino superior: o reforço da sua visibilidade internacional através do estabelecimento de parcerias com instituições de outros países; a valorização da mobilidade
dos seus estudantes, docentes e funcionários; a assunção plena da sua autonomia
como ator regional, no quadro de uma economia global, com a capacidade de responder às exigências do mercado quer regional e nacional quer internacional. Um
passo importante na resposta a estes desafios é sem dúvida o conhecimento sobre
o impacto do Instituto Politécnico de Beja na região do Alentejo.
Além de reunir seis estudos de impacto de Instituições de Ensino Superior portuguesas e espanholas nos seus territórios, realizados com base em metodologias
diversas, o livro inclui um contributo para a reflexão acerca da reorganização do
ensino superior em Portugal. Dada a escassez de pesquisa nesta área, seria desejável que a presente obra servisse de exemplo e incentivo a outras Instituições de
Ensino Superior, tanto Universidades como Institutos Politécnicos.
É de realçar que alguns dos estudos de impacto reunidos nesta obra não se
limitam a considerar o efeito que a atividade das Instituições de Ensino Superior provoca do lado da procura, através dos consumos, transações e negócios que inevitavelmente gera. Um dos estudos avalia também o impacto da Instituição enquanto
«agente de transferência de conhecimento» e «agente empreendedor», funções que
as Instituições de Ensino Superior tendem hoje a desenvolver em resposta aos
desafios que lhes são colocados pela realidade envolvente. Um outro estudo complementa a sua análise com uma reflexão sobre o impacto que as atividades de
investigação e de participação institucional, em redes e parcerias, podem causar nos
territórios em que as instituições que desenvolvem essas atividades se inserem.
Na secção final, no contexto da reflexão sobre «A problemática da reorganização do Ensino Superior», é reiterada a necessidade de estimular uma maior proximidade entre a academia e o setor empresarial. De facto, é fundamental que as instituições de ensino não se fechem em si mesmas e não se limitem a reproduzir e
aperfeiçoar o conhecimento científico, é fundamental que criem mecanismos para os
transferir para as empresas e para a sociedade. Este é um esforço de abertura ao
tecido empresarial que as instituições de ensino devem prosseguir demonstrando a
sua capacidade de contribuir para a inovação de produtos e procedimentos – fatores
essenciais para a melhoria da competitividade das empresas. Para superar os desafios que lhes são colocados na atualidade, as Instituições de Ensino Superior devem
desenvolver a sua capacidade de se envolverem com parceiros heterogéneos, de
agir com celeridade e de permanecerem abertas à mudança.
É urgente que as Instituições de Ensino Superior encontrem formas de aumentar
e diversificar as suas receitas, seja através do financiamento público para a investigação e o ensino, seja através de contribuições privadas que compensem a ausência de financiamento por parte das fontes públicas tradicionais. Seria de todo conveniente a criação de um sistema fiscal favorável às doações privadas, bem assim
como a melhoria do sistema de ação social para os alunos carenciados, a fim de
assegurar o acesso democrático ao ensino superior.
A diferenciação entre ensino universitário e politécnico, bem assim como o respeito pela igual dignidade de ambos estes subsistemas, devem ser incentivadas e
reforçadas. Em Portugal, a percentagem de alunos com ensino superior é das mais
baixas da Europa – um indicador de desenvolvimento importante também a nível
mundial, como notam os autores da obra – e o aumento dessa percentagem deverá
ser feito, de preferência, através da atividade dos Politécnicos. Quadros mais vocacionados para o mercado serão mais facilmente absorvidos pelas empresas. Este é
um aspeto crucial, pois poderá contribuir de forma substancial para a redução do
desemprego jovem.
O desemprego jovem é um problema para o qual os países europeus devem
olhar de frente. O programa Horizonte 2020 – Programa Quadro Europeu de Ciência
e Inovação, de que fui relatora enquanto deputada europeia, será um instrumento
fundamental da batalha contra o desemprego jovem e para a competitividade das
Instituições de Ensino Superior europeias. O programa promete alterar a paisagem
da investigação na Europa afastando as dificuldades à entrada nas redes europeias,
alargando-as a um maior número de participantes, independentemente da sua
dimensão. Esta é uma questão de grande importância para as PMEs, as instituições
de ensino superior e os centros de investigação, sobretudo para os de menor dimensão. A importância do Horizonte 2020 para Portugal é indubitável. Esperemos que a
atual política de reforma estrutural do estado e da sociedade portuguesa nos venha
a colocar na posição adequada para, num futuro próximo, podermos retirar do Horizonte 2020, em articulação com os outros fundos comunitários, todos os benefícios
que encerra.
Em todo este processo é crucial a participação ativa de Instituições de Ensino
Superior pedagogicamente eficazes, cientificamente robustas, empreendedoras e
clarividentes quanto ao seu papel e importância para as regiões onde se inserem,
como é o caso do Instituto Politécnico de Beja.
Maria da Graça Carvalho
Deputada do Parlamento Europeu, pelo Grupo do PPE, desde 14 de
julho de 2009. Em novembro de 2011 recebeu o prémio de melhor
deputado ao Parlamento Europeu na área da Investigação e Inovação.
Em fevereiro de 2012 foi nomeada relatora do programa específico de
execução do programa Horizonte 2020 – Programa-Quadro de Investigação e Inovação (2014-2020). Foi Ministra da Ciência e do Ensino
Superior do XV Governo Constitucional e Ministra da Ciência, Inovação e
Ensino Superior do XVI Governo Constitucional.
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