O USO DE METÁFORAS COMO INTERVENÇÃO NO TRATAMENTO DE TOC: UM ESTUDO DE CASO Laurindo Marcolino da Silva1 Caroline Oliveira Garuti2 Natália Dallaqua Andreoti3 Amanda Aparecida Celedônio4 Pamela Ariane dos Santos5 Fabiana Harumi Shimabukuro6 Introdução: O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é um transtorno descrito pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-IV) como pertencente aos transtornos de ansiedade. As principais características desse transtorno são obsessões e/ou compulsões. O portador desse transtorno tem sua “mente” invadida por imagens e pensamentos indesejáveis que se repetem insistentemente, o que é chamado de obsessões. Isso faz com que realizem comportamentos para “tirar da cabeça” os pensamentos ou imagens ou pelo menos para “neutralizar” o seu teor negativo o que é chamado de compulsões ou rituais compulsivos. Tais experiências são acompanhadas de muita ansiedade e angústia. Cliente do sexo masculino, 70 anos, casado, aposentado. Foi encaminhado por um psiquiatra ao NPPA há sete anos com diagnóstico de TOC e depressão. A principal queixa do cliente era de pensamentos repetidos e indesejáveis experimentados como intrusivos e inadequados, que causavam ansiedade e sofrimento. A análise funcional do caso identificou que suas manias provocavam convivência conjugal incômoda com o afastamento da esposa tendo como resultado uma relevante carência afetiva. Recebia tratamento desprezível da filha que o considerava “louco” 1 Faculdade Alta Paulista, Graduando em Psicologia, [email protected] 2 Faculdade Alta Paulista, Graduanda em Psicologia, [email protected] 3 Faculdade Alta Paulista, Graduanda em Psicologia, [email protected] 4 Faculdade Alta Paulista, Graduanda em Psicologia, [email protected] 5 Faculdade Alta Paulista, Graduanda em Psicologia, [email protected] 6 Faculdade Alta Paulista, Docente da FAP, Especialista, [email protected] por causa das suas manias. Apresentava crises fortes de ansiedade na hora do banho quando estava com a cabeça ensaboada, apareciam os pensamentos obsessivos e não conseguia entrar embaixo do chuveiro, tinha que tirar a espuma do sabonete com a toalha. Apresentava pensamentos obsessivos relacionados a doenças quando acariciava o cachorro da filha e em seguida apresentava o comportamento compulsivo de lavar as mãos. Apresentava comportamentos de fuga/esquiva que o levava a uma vida bastante limitada socialmente. Objetivos: O presente trabalho teve como objetivo apresentar um estudo de caso onde foram utilizadas metáforas como intervenção. As metáforas estão sendo muito utilizadas como recurso terapêutico por serem menos diretas (menos aversiva). As metáforas devem estar relacionadas à vida do cliente, para que ele atribua um significado e assim opte pela mudança ou manutenção de seu comportamento atual. Metodologia: Foram realizadas 27 sessões com duração de 50 minutos cada, durante este período a cliente fez uso de Equilid e Inderal prescrita pelo psiquiatra. Nas sessões foram utilizadas metáforas como forma de intervenção. Foi explicado ao cliente que os pensamentos obsessivos são acompanhados de fortes crises de ansiedades e quando mais aumenta a ansiedade mais aumentam os pensamentos. Para os pensamentos obsessivos na hora do banho, ao dirigir e ao acariciar o cachorro, gerando também comportamentos compulsivos, foi usada a metáfora do “fogo, gasolina e água”. Que funciona da seguinte maneira: “Imagina que quando vêm os pensamentos obsessivos começa a acender uma pequena chama que é a sua ansiedade. Imagine que de um lado da chama você tem um balde de água e do outro lado um balde de gasolina. Quando você se acalma diante dos pensamentos obsessivos, se conscientizando de que está ansioso, mas isso não vai impedi-lo de viver nem de fazer nada de importante. Ao fazer isso está jogando o balde de água e a chama da ansiedade vai apagar. Quando você se desespera diante dos pensamentos obsessivos, acreditando que isso nunca vai acabar, que isso vai travar você e que está muito doente. Ao fazer isso você está jogando o balde de gasolina e a chama vai aumentar e os pensamentos e manias vão travar você”. Com o uso dessa metáfora o cliente conseguiu extinguir grande parte dos seus pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos. Outra metáfora utilizada foi a do “Botijão de gás”, para ajudá-lo a entender e a modificar o seu comportamento mantenedor ao comportamento indesejável da filha. Como funciona: “O fogo existe no bocal do fogão por uma simples razão: existe gás no botijão que está o tempo todo, alimentando o fogo. Quando o gás acaba automaticamente se extingue o fogo”. A filha o tratava muito mal com agressões verbais e até físicas. Telefonava e o chamava de velho louco e doente e ordenava que ele fosse ao supermercado comprar comida para ela, que a levasse ao médico, que comprasse remédio, que levasse o cachorro ao veterinário e muitas outras coisas. Mesmo sendo agredido fazia tudo e depois que fazia continuava sendo agredido. Desejava melhorar o relacionamento com a filha e percebeu que o comportamento indesejado da filha não se extinguia porque o seu próprio comportamento era mantenedor do comportamento da filha. Assim como o gás mantém o fogo aceso. Resultados e conclusão: Como resultado das intervenções realizadas o cliente apresentou mudanças como: aumento na qualidade das relações interpessoais, melhora no relacionamento conjugal e com a filha que agora o trata com respeito e admiração. A frequência dos pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos diminuíram consideravelmente. As metáforas possibilitaram que o cliente realizasse a EPR (exposição com prevenção de resposta), que foi outra intervenção proposta para o caso. O uso de metáforas neste caso foi bastante útil, uma vez que elas eram vistas como imagens, sendo mais fácil do cliente lembrar delas e aplica-las em várias situações de seu cotidiano (generalização). Palavras-chave: TOC, metáforas, esquiva Referências: American Psychological Association. Manual Diagnóstico e Estatístico de transtornos Mentais (4ª ed.). Porto Alegre: Artmed. 2002. TORRES, A. R., SHAVITT, R. G., MIGUEL, E. C. Medos, dúvidas e manias: orientações para pessoas com transtorno obsessivo-compulsivo e seus familiares. Porto Alegre: Artmed. 2001 ZAMIGNANI, Denis Roberto – BANACO, Roberto Alves – Lavar... Arrumar... Contar... Quando as manias se tornam um problema. RBTCC. 2005.