Curso Online A Escola no Combate ao Trabalho Infantil
Professora Cynthia Ramos1
Vídeo Aula 32
O Protagonismo de Meninos e Meninas no Enfrentamento do Trabalho Infantil
Vamos “conversar” um pouco sobre o protagonismo de meninos e meninas no
enfrentamento ao trabalho infantil. Conversando recentemente com um amigo, discutíamos
sobre a importância de “se dar” voz à criança e ao adolescente. Não é preciso “dar” voz,
eles já têm! Precisamos, sim, aprender a escutá-los e a estimular a capacidade de se
comunicarem de maneira efetiva e produtiva.
Criança e adolescente sempre são cheios de energia e receptivos às novidades.
Quando propomos fazer uma atividade que se faz todos os dias, o ânimo dos meninos e
meninas não é o mesmo. Mas quando a proposta é de fazer uma coisa diferente, uma
atividade, discutir um tema, fazer as coisas de uma maneira diferente, isso tem mais
efetividade com crianças e adolescentes.
E são estas as propostas que eu venho trazer: conversar sobre como podemos levar
um tema tão difícil como direitos humanos, como enfrentamento ao trabalho infantil para
dentro de sala de aula. Como conversar com crianças e adolescentes de diferentes idades
sobre este tema, sem tornar isso uma palestra, longa, sobre questões legislativas, ou
conceitos que não tem a ver com a vida deles, e sim, trazer isso para o contexto dos
alunos. Além de estimular o desenvolvimento de habilidades e de confiança, porque eles já
têm a sua voz, eles podem, sim, usar a sua voz, e você como educador pode simplesmente
contribuir para o bom uso desta força, para o bom uso desta capacidade de comunicação,
direcionando isso de forma positiva e construtiva.
Como abordar o tema do trabalho infantil com meninos e meninas, com
adolescentes, com crianças? É importante que o educador se prepare, tenha sempre à
mão informações, dados, estatísticas, de preferência relacionados a sua região, cidade,
Estado ou país. A discussão pode girar em torno de dados sobre o trabalho infantil no
mundo inteiro, mas quando se trata de informações do próprio bairro, das crianças que
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Cynthia Ramos é advogada, trabalhou por 10 anos na Organização Internacional do Trabalho, no
Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil - IPEC. Integra o Fórum Nacional pela
Erradicação do Trabalho Infantil, e atua como consultora na área do enfrentamento ao trabalho infantil.
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Foram feitas apenas as adaptações necessárias à transposição do texto falado para o texto escrito.
conhecemos, de situações que vemos todos os dias quando estamos caminhando para a
escola, isso se torna parte da realidade, parte da vivência, da experiência e, por isso, mais
interessante para crianças e adolescentes. É importante que eles, além de se associarem a
esta questão, se sintam estimulados, tenham vontade de fazer pesquisas, de conhecer, de
entrevistar pessoas de sua comunidade, sobre assuntos relativos a direitos humanos, à
educação, ao que impede crianças e adolescentes de irem à escola, à existência ou não de
situações de trabalho infantil em sua comunidade e, o que é mais importante, a partir do
momento em que eles desenvolvem esta pesquisa, buscam informações, começam a
elaborar suas próprias conclusões, e evoluem, no sentido que um pensamento, uma
informação, se torna um conceito. Esta conscientização sobre seus próprios direitos e
direitos de seus semelhantes é uma formação que vai permanecer pela vida inteira.
É importante o educador tente conhecer bem os alunos com quem vai trabalhar. E
busque abordá-los de uma maneira muito franca e direta, para que sintam confiança, e
sintam que podem trazer informações, muitas vezes do seu dia a dia, de suas casas, para
dentro da sala de aula. Isso cria um ambiente de confiança e de respeito mútuo, tanto com
os professores, como entre os alunos.
É importante que o educador leve, para dentro de sala de aula, o tema do trabalho
infantil permeado de questões de interesse das crianças e adolescentes. Por exemplo, um
assunto como o futebol, que sempre remete a paixões de meninos. É sonho de quase
todos os meninos de 8 a 12 anos de idade se tornarem jogadores de futebol. Mas como
isso pode ter um impacto negativo na vida profissional futura? Todos sabemos que
jogadores de futebol tem uma carreira razoavelmente curta, e se abandonam os estudos
para jogar futebol, como seguem a carreira depois do encerramento das atividades? Este
tipo de assunto é importante, pois instiga as crianças e adolescentes a se engajarem na
conversa. Trata-se de uma questão de diretos, de direito à educação, à proteção, ao
trabalho protegido, à profissionalização de uma maneira contextualizada na vida destas
crianças e adolescentes.
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O educador também pode propor um debate sobre aspectos negativos e positivos
do trabalho infantil. Existem sempre diversos aspectos que devem ser abordados quando
conversamos sobre isso. Nem tudo é negativo. É possível, por exemplo, pegar a questão
de um adolescente que trabalha e tem ganhos para comprar coisas que ele gostaria de ter
e a família não pode proporcionar. Este ganho financeiro não deixa de ser um aspecto
positivo do trabalho de crianças e adolescentes. É preciso buscar, dentro deste contexto,
qual seria o aspecto negativo. Aquele que trabalha deixa de se dedicar aos estudos, está
abrindo mão de no futuro ter melhores ganhos, uma profissão melhor, porque não pode
aproveitar dentro da fase da infância o tempo para estudar.
O intuito, na verdade, não é que só se leve a informação para os alunos, mas sim
que eles assumam isso como uma discussão própria, com questões importantes para eles
e se tornem propagadores destas informações relativas aos seus direitos e deveres.
Dentro de uma sala de aula, quando começamos a discutir uma questão como o
trabalho infantil, podem surgir as mais variadas ideias e propostas de como isso pode ser
levado adiante. Os educadores podem aproveitar as ideias dos alunos ou levar as suas
próprias propostas. Podem ser propostos debates, dissertações, dramatizações, pode-se
promover uma exposição de arte, de trabalhos, de desenhos, um concurso de poesias, e,
se a escola também permitir que todas as turmas participem, é possível organizar uma
feira, uma mobilização, uma passeata.
Existem algumas dicas sobre como promover o protagonismo de meninos e meninas
de uma maneira mais construtiva. O educador deve propor discussões e debates, evitando
brigas, deve sempre promover que todos participem, que cada um tenha um momento de
se manifestar, de ter a sua voz, a sua participação, respeitada. Sempre vai atrair mais a
atenção dos alunos quando o educador propuser atividades extraclasse. Aquilo que foge
um pouco ao ambiente fechado da sala tem mais apelo e costuma dar mais sucesso.
Uma questão muito importante, que pode realmente potencializar todas as
atividades que se desenvolva, é convidar, envolver, a família e a comunidade. Um trabalho
que é feito só dentro de sala de aula pode ser muito interessante, mas a partir do momento
que a família é convidada a compartilhar esta experiência e a discutir também o tema,
existe a possibilidade que se aproveite muito mais a oportunidade.
Para se trabalhar com crianças e adolescentes existem algumas regras básicas:
valorizar muito as ideias novas, que sempre vão surgir. Sempre existirão as opiniões
divergentes, e isso é bom, porque se todo mundo concordar em determinado assunto, o
debate fica meio solto. Se houver alguém a favor e alguém contra, é importante garantir
que cada lado coloque as suas opiniões, coloque as informações, para que se possa
discutir o que verdadeiramente importa. Sendo necessário, o educador poderá trazer
informações, dados, opiniões de outras pessoas, além de sempre deixar livre que os
alunos compartilhem as suas próprias experiências de vida, que vivem dentro da sua
comunidade ou família. É um momento de entrosamento.
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Muito importante quando o educador trabalha com crianças e adolescente é escutálas. Isso é fundamental. Qualquer atividade que for desenvolvida deve garantir que eles
sejam os protagonistas, que eles falem, que eles usem a sua voz, e o professor exerça o
seu direito de ouvi-los.
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