Salvador de Donim Guimarães — Inquérito paroquial de 1842 Revista de Guimarães, n.º 108, 1998, pp. 249-253 1º Fica esta freguesia em uma situação baixa e côncava, na margem direita do Rio Ave, cercada de montes, pelo Nascente, Norte e Poente, que formam como uma bacia, ficando ela tão somente desafogada pela parte do Sul, por cujo lado a banha o rio; porém com um leito tão fundo, que não rega terreno algum da freguesia. Fica-lhe ao Sul a vila de Guimarães, em distância de légua e meia; ao Poente de Verão fica a cidade de Braga, em distância de duas léguas; goza de poucas vistas. 2º O seu clima é temperado nas diferentes estações do ano, menos no Estio, que é bastante afogada de calor, em razão dos montes que a cercam. 3º É o seu terreno cultivado, em figura quase circular; e terá de circunferência um quarto de légua; o terreno de montado formará o círculo de boa meia légua. 4º Confina esta freguesia, pelo Nascente, com a freguesia de Santo Emilião do concelho da Póvoa de Lanhoso, pelo Norte, com a freguesia de Pedralva do concelho da cidade de Braga, pelo Poente, com a freguesia do Salvador de Briteiros; pelo Sul, com a de Santa Maria de Souto, que fica na outra margem do Rio Ave; ambas estas do concelho de Guimarães. 5º Não tem esta freguesia vila, ou lugar distinto; mas é povoada regular e suficientemente, pelos diferentes casais que a compõem, e com as suas denominações. © Sociedade Martins Sarmento | Casa de Sarmento 1 6º A este artigo responde o mapa que vai junto, no qual se não faz menção especial de lugares por a freguesia constituir um só lugar, como fica dito. 7º Os animais, que há nesta freguesia, são os bois, empregados no trabalho da cultura; poucas vacas; menos bestas e os mais animais e animalejos comuns na província. É de pouca produção em razão do solo ser frio, arenoso, afogado. Produzirá de milho grosso 3 400 alqueires, de centeio 800 alqueires, de milho alvo 200, de feijão de toda a qualidade 400 alqueires, de vinho 70 pipas. Todas as mais produções são tão insignificantes que não merecem especial menção. As árvores são as ordinárias do país, tanto as frutíferas, como de lenha. Não há indícios alguns de minerais ou metálicos. Há muita abundância de pedra, e alguma de boa qualidade, de granito fino que chega a ir para a vila de Guimarães. 8º Esta freguesia foi sempre do termo de Guimarães, hoje do concelho da dita vila; o governo civil da cidade de Braga, antigamente da comarca eclesiástica daquela cidade, hoje do arciprestado de Guimarães. Os moradores pagam impostos: décima, ferrolho, côngrua ao pároco e as indirectas municipais. 9º Não há edifício algum notável; morgado ou pessoa nobre ou distinta, doutor, bacharel ou militar de consideração. 10º Há, nos limites desta freguesia, uma ponte de quatro arcos de cantaria, com suas guardas da mesma sobre o Rio Ave a qual dá passagem à estrada que da Póvoa de Lanhoso conduz à vila de Guimarães; não há memória de quando foi edificada, nem por quem. Ao Poente, entre esta freguesia e a de Briteiros, fica a Serra da Citânia, em cujo cume há vestígios de habitação fortificada; com seu antemural, esplanada, e muro; tudo em ruína; e tudo de pedra tosca, e sem picada. No centro há vestígios de povoação, pequenas casas, estreitas ruas, tudo de pedra bruta. Donde, e da sua pouca extensão que apenas terá trezentos passos, se deve concluir, ser fabulosa a tradição de que era uma antiga cidade deste nome. O terreno cultivado © Sociedade Martins Sarmento | Casa de Sarmento 2 da freguesia é pouco, comparativamente ao inculto, por este não ser susceptível de cultura, em razão da muita pedra e má qualidade da terra; que assim mesmo não é abundante de matos porque os montes só produzem caganho; muito mau estrume do que podia haver abundância se obrigassem os lavradores a semear os montes de tojo. Há poucas lenhas e medianamente suficientes águas de rega. 11º Corre nos limites desta freguesia o Rio Ave de que já se falou; corre de Nascente a Poente, e divide esta freguesia da de Santa Maria de Souto; terá de largo, no seu leito, de oitenta a noventa pés. Tem, no sítio da mencionada ponte, duas azenhas, e um lagar de fazer azeite com os seus açudes e levadas, que darão na sua maior altura de seis a dez pés de água, sem que o rio faça outra alguma utilidade à freguesia. Não há águas minerais, nem indícios delas. Igualmente não há fonte notável; e os povos se servem das que a natureza faz brotar, sem arte ou aperfeiçoamento algum. 12º Há na freguesia um cirurgião e um estanqueiro do tabaco; e não há mais loja alguma aberta de venda ou de ofício. Há poucos oficiais de pedreiro e alfaiate e muitos ordinários, que trabalham onde os chamam. Há uns vinte proprietários de bens de raiz e onze caseiros destes. 13º Não há feira alguma. 14º O terreno é arenoso, frio, seco, terra negra e de pouca produção. A cultura é feita do modo ordinário com arado puxado a bois e estes mesmos são os que fazem o estrume, que se emprega na cultura. Os jornais de um trabalhador de enxada é, no Inverno, setenta e, no Verão, oitenta réis e de comer. 15º Não há monumento algum notável na freguesia; nem alguma romaria. Os povos são costumados a ir à Senhora do Porto de Ave a 8 de Setembro, daqui distante uma légua. E à Senhora da Abadia a 15 de Agosto, distante três léguas. É terra muito pobre; os vícios ordinários é a ratonice, a murmuração e a inveja, companheiros inseparáveis da pobreza. 16º A igreja tem a invocação - o Salvador de Donim-. É antiga; não há memória de por quem possa ter sido fundada, nem em que © Sociedade Martins Sarmento | Casa de Sarmento 3 tempo; nem que existisse em outro lugar. Tem de comprimento 85 palmos, de largo 25 e de alto 22. Era de colação ordinária por concurso. Foi arbitrado ao pároco de côngrua cento e dez mil réis. Renderia no tempo dos dízimos trezentos mil réis. A casa da residência fica próxima à igreja, só com adro de entremeio. Não há indulgências algumas por titulares; não há irmandades, ou confrarias ou sepulturas algumas de particulares. 17º É o que posso responder aos quesitos que me foram feitos; e de como o fiz com verdade, e segundo a minha inteligência, o afirmo in verbo sacerdotis. Salvador de Donim, 10 de Agosto de 1842 Bento Joze Alvares de Moura, abade de Donim © Sociedade Martins Sarmento | Casa de Sarmento 4 © Sociedade Martins Sarmento | Casa de Sarmento 5 Mortos Nascidos Solteiros Casados Mulheres de idade exclusive 2 62 Casamentos Fogos 0 Expostos 2 Sexo Masculino 0 0 Expostos Sexo Feminino 2 3 269 25 10 73 64 Sexo Feminino Sexo Masculino Totalidade Homens Mulheres anos exclusive Com mais de 30 anos Homens 9 Viúvas Com menos de 30 10 39 Mulheres Viúvos 39 1838 62 0 0 3 5 0 6 3 270 26 11 75 63 10 9 38 38 1840 63 2 0 2 1 0 4 2 271 26 12 74 64 10 11 37 37 1841 Nada Lugares Bento Joze Alvares de Moura, abade de Donim Salvador de Donim de Agosto-10-de-1842 64 0 0 4 1 1 2 5 272 23 9 72 68 10 10 40 40 1839 Freguesia de Salvador de Donim Homens MAPA ESTATÍSTICO