Depois da mina, o que fica?
Paulo R. Haddad, publicado originalmente no Estadão Online em 02/06/2012
As centenas de municípios mineradores do Brasil têm enfrentado um grave problema quanto às
perspectivas do seu desenvolvimento após a exaustão econômica das suas reservas minerais. Esse é um
problema que está presente na história econômica mundial desde a decadência da exploração das
reservas de carvão mineral durante a revolução industrial na Inglaterra. No caso brasileiro, com o fim dos
ciclos do ouro e do diamante no período colonial, a pobreza se alastrou em centenas de municípios nas
áreas centrais e do nordeste de Minas Gerais.
Mesmo em períodos mais recentes do pós-Segunda Guerra, dadas as ausências de políticas públicas
ambientais e de planejamento estratégico com responsabilidade social de empresas mineradoras, há uma
tendência de seguir o denominado ciclo boom-and-bust. Ou seja, nos períodos de operação plena da
extração mineral ocorrem anos ou décadas de rápido crescimento econômico das economias locais
(boom) em termos de renda e emprego, seguidos de severos declínios (bust) como resultado da exaustão
relativa dos recursos naturais. Ao final do ciclo, o resultado é conhecido: as populações pobres continuam
sem alternativas de promoção humana e sem perspectivas de melhorias nas condições de vida. A base
de recursos naturais fica exaurida e as economias locais, essencialmente sem dinamismo. As lideranças
políticas e comunitárias se perguntam: depois da mina, o que fazer?
Algumas empresas mineradoras, num contexto de responsabilidade social ampliada, têm procurado
contribuir com as comunidades onde se localizam os seus empreendimentos na busca de um processo
de diversificação da sua base produtiva, visando a um duplo objetivo: reduzir a dependência econômica
das comunidades em relação às atividades minerárias e gerar alternativas para o desenvolvimento local
quando da exaustão das minas.
Esse esforço não é uma tarefa simples, pois, em última instância, mesmo sendo identificadas as melhores
alternativas para a diversificação da base produtiva das regiões onde se localizam os seus projetos de
investimento, a mobilização das potencialidades intervenientes fica à mercê da disponibilidade de capital
social e da capacidade empreendedora local, sobre a qual não se tem controle.
É fundamental, pois, que haja a identificação e a consolidação de atividades econômicas que possam
gerar alternativas de desenvolvimento sustentável para os municípios mineradores. Mas não se trata de
um estudo ‘de fora para dentro’ elaborado por especialistas e posto à disposição das lideranças locais. Ao
contrário, é um processo de ‘autodescoberta’ em que essas lideranças vão, ao longo do tempo,
delimitando, por meio de iniciativas próprias, ‘vocações definidas’ para a economia do município.
Assim, uma estratégia de desenvolvimento de médio e de longo prazos para os municípios mineradores
deve enfatizar as ações que venham a diversificar a sua base produtiva, como tem ocorrido desde os
anos 90 com o município de Itabira, berço das atividades da Vale, onde para cada emprego na mineração
já há cerca de cinco empregos em outras atividades socioeconômicas.
Mas a busca pela diversificação da base econômica de um município minerador não significa que as
atividades de mineração sejam um mal necessário para o processo de desenvolvimento, tanto de um país
quanto de uma região ou município. Ao contrário, é possível identificar os benefícios da mineração em
diferentes contextos históricos tanto em nível nacional quanto em nível regional, durante a fase de sua
operação plena. Por exemplo, tanto em Minas Gerais quanto no Pará, muitos municípios mineradores
consolidados apresentam posição privilegiada quanto aos melhores indicadores de desenvolvimento
socioeconômico.
Como disse o itabirano Carlos Drummond de Andrade: ‘Perder é tocar alguma coisa mais além da vitória,
é encontrar-se naquele ponto onde começa tudo a nascer do perdido, lentamente’.
Paulo R. Haddad é professor do IBMEC, e foi Ministro do Planejamento e da Fazenda no governo
Itamar Franco
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