UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO ESCOLA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DE ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS Bento Adriano de Machado Aires e Aires Dissertação elaborada no âmbito do Mestrado em Engenharia Civil da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro sob a orientação científica do Prof. Dr. Luís Ramos e co-orientação pelo Prof. José Carlos Fernandes OUTUBRO | 2009 Aristotle’s view was that a city should be designed to make its people secure and happy. T. Randall, 2002 AGRADECIMENTOS - Ao Prof. Dr. Luis Ramos e Prof. José Carlos Fernandes que nos últimos dois anos esperaram pelo meu trabalho e sempre estiveram disponíveis para melhor conduzir esta tese de mestrado; - À Câmara Municipal de Vila Real que forneceu todos os elementos necessários para a elaboração desta dissertação; - À Eng. Elisabete Teixeira do Gabinete do Centro Histórico da Câmara Municipal de Vila Real pelo disponibilidade e apoio prestado; - Aos habitantes do Bairro dos Ferreiros que acederam ao meu pedido de resposta aos inquéritos e entrevistas, em especial ao Dr. Carlos Granjo; - Ao Conselho de Administração da Imorendimento – Sociedade Gestora de Fundos Investimento Imobiliário, S.A., que nos últimos tempos me permitiu a elaboração da tese de mestrado, espero que os conhecimentos aqui adquiridos possam vir a ser úteis no desempenho das minhas funções; - Aos meus actuais colegas de trabalho, Dr. Rui Madureira, Dr. João Vaz e Eng. Espinheira Gomes, Dr.ª Anabela Costa e Lídia Santos, de forma especial ao Dr. Rui Madureira na interpretação e análise da viabilidade financeira das propostas e dos casos de estudo; - À Eng.ª Mónica Portela, minha amiga e ex-colega de trabalho, pelo sentido crítico e contactos indicados; - À Dr.ª Adelina Silva pelo apoio prestado nas traduções e ajuda nas línguas estrangeiras; - A todos aqueles que nos últimos tempos me perguntavam frequentemente pela tese, e que esperam os resultados…aqui estão. - E por último aos meus Pais, familiares e amigos, que nos últimos tempos tiveram de prescindir da minha presença e sempre souberam ter uma palavra de apoio; i RESUMO A desertificação dos centros históricos tem vindo a ser assumida como um dos grandes problemas urbanísticos e de ordenamento do território das cidades contemporâneas. Este fenómeno deve-se à melhor oferta de qualidade de vida na periferia, habitações com melhor qualidade e custos mais competitivos, proximidade aos locais de trabalho e problemas de mobilidade, no entanto, os centros urbanos foram ficando despovoados, degradados, com problemas de salubridade, sociais e de segurança. Os processos de reabilitação urbana são processos lentos e complicados, dado o elevado número de factores que têm que ser considerados nas políticas de intervenção, dada a relevância do problema já foram implementados. Vários mecanismos de reabilitação urbana foram já implementados, uns com maiores índices de sucesso e outros com resultados mais insignificantes. A Cidade de Vila Real foi uma das cidades contempladas com o Programa Polis, onde um dos principais objectivos foi a reabilitação e recuperação do Bairro dos Ferreiros, sendo a linha de acção definida pelo Plano de Pormenor do Bairros dos Ferreiros. Passados 5 anos após o prazo previsto de conclusão importa avaliar os resultados da sua execução, considerando que a recuperação dos edifícios não foi possível, dada a falta de envolvimento dos proprietários, motivados por falta de capital financeiro para procederem às intervenções, baixo valor das rendas, tendo sido concluída uma grande parte da intervenção no espaço público, e recuperação das redes de infra-estruturas. A presente dissertação incide sobre a avaliação do Plano de Pormenor do Bairros dos Ferreiros, sobre as acções que foram executadas e quais as suas consequências, sobre as acções que não foram executadas e quais os motivos que levaram a essa situação, nomeadamente a recuperação dos edifícios. As intervenções promovidas pela administração pública foram em grande parte executadas, em especial a qualificação do espaço público, estando em falta a execução de alguns dos equipamento previstos, e a reabilitação das habitações referenciadas no plano, com intervenções aqui assumidas pelos privados. Assim, há a considerar que o sucesso das propostas de reabilitação urbana dependem em muito dos privados, e dos apoios que lhe são concedidos, da forma como os problemas sociais são abordados, dos mecanismos de actualização das rendas, das intervenções no espaço público, do envolvimento dos proprietários e residentes nos processos de decisão. Palavras-chave: Vila Real, Reabilitação Urbana, Plano de Pormenor; Avaliação de Planos ii ABSTRACT The desertification of historic centers is becoming a major urban problem and also a problem of land use planning of contemporary cities. This phenomenon is a result of better quality of life in the outskirts, better housing conditions, far more competitive costs, workplace proximity and mobility. Consequently, urban centers have lost inhabitants, faced degradation of public health and have accumulated social and safety problems. Urban rehabilitation processes are slow and complicated, because of the high number of factors taken into account by the intervention policies but they have been already implemented given the relevance of the problem. Several rehabilitation mechanisms have been implemented, with both successful and insignificant results. The city of Vila Real was one of the cities contemplated with "Programa Polis". One of the goals of this program was to undertake the rehabilitation of Bairro dos Ferreiros, through the line of action defined by the Site Plan of Bairro dos Ferreiros. Five years have passed since the predicted conclusion date of the Site Plan. It is important to comprehend the results of its implementation. It was impossible to rehabilitate the buildings given the owners lack of involvement, triggered by the lack of money to face the interventions and by the low rents. The major part of the intervention in public areas and the recovery of infrastructures networks were finished. This dissertation evaluates the Site Plan of Bairro dos Ferreiros, the actions taken and its consequences, those not taken and the reasons that conduced to that situation, specially the rehabilitation of buildings. The interventions promoted by public administration were almost fully performed, specially the qualification of public spaces. There is also the need to undertake some of the predicted equipments and the rehabilitation of the habitations referenced in the plan, with interventions assumed by the private sector. We reason that the success of the rehabilitation proposals depend a lot from the private sector and its support. They also depend from the way social problems are faced, from the update mechanisms of rents, interventions in the public space, involvement of owners and residents in the decision making processes. Keywords: Vila Real, Urban Rehabilitation, Site Plan, Evaluation of Plans. iii ÍNDICE 1. 2. 3. INTRODUÇÃO …………………………………………………................. 1 1.1. ENQUADRAMENTO ………………………………………………...... 1 1.2. PROBLEMÁTICA ……………………………………………………… 2 1.3. METODOLOGIA ……………………………………………………….. 3 1.4. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ………………………………...... 4 A DESERTIFICAÇÃO URBANA: ORIGENS E CONSEQUÊNCIAS DO PROBLEMA …………………………………………………………… 6 2.1. ENQUADRAMENTO ………………………………………………...... 6 2.2. CONCEITOS DE REABILITAÇÃO URBANA……………………...... 8 2.3. CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS…………….……………………...... 12 POLÍTICAS DE REABILITAÇÃO URBANA …………………………… 16 3.1. ENQUADRAMENTO…………………………………………………… 16 3.2. INSTRUMENTOS 4. E CAMPOS DE APLICAÇÃO DA REABILITAÇÃO URBANA ………………………………………….... 19 3.3. REGIME JURÍDICO DA REABILITAÇÃO URBANA……………….. 22 3.4. AS SOCIEDADES DE REABILITAÇÃO URBANA………………… 24 3.5. AS PARCERIAS PÚBLICO PRIVADAS…….………………………. 28 3.6. MECANISMOS DE FINANCIAMENTO …………………………….. 30 3.7. INCENTIVOS FISCAIS ……………………………………………...... 33 3.8. NOVO REGIME ARRENDAMENTO URBANO ……………………. 35 ALGUNS EXEMPLOS DE INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO 37 URBANA ……....................................................................................... 4.1. O CASO DE DOMINICK STREET EM DUBLIN…………………..... 37 4.1.1. CAUSAS IDENTIFICADAS DO PROBLEMA …………... 37 4.1.2. POLÍTICAS DE REABILITAÇÃO URBANA …………….. 41 4.2. O CASO DOS FUNDOS DE VIZINHANÇA EM BERLIM …………. 54 4.2.1. CAUSAS IDENTIFICADAS DO PROBLEMA …………... 54 4.2.2. POLÍTICAS DE REABILITAÇÃO URBANA …………….. 59 4.3. O CASO DA REVITALIZAÇÃO DA BAIXA PORTUENSE……...... 70 4.3.1. 70 CAUSAS IDENTIFICADAS DO PROBLEMA….………… iv 4.3.2. POLÍTICAS DE REABILITAÇÃO URBANA……………… 77 5. BALANÇO E PERSPECTIVAS DAS INTERVENÇÕES ……………... 91 6. A INTERVENÇÃO PROPOSTA PELO PLANO DE PORMENOR DO BAIRRO DOS FERREIROS …………………………………………….. 7. 93 6.1. PROGRAMA POLIS ……………………………………………..... 93 6.1.1. ENQUADRAMENTO………………... ……………………………. 93 6.1.2. O PROGRAMA POLIS EM VILA REAL…..……………………... 98 6.2. O PLANO DE PORMENOR DO BAIRRO DOS FERREIROS.... 102 6.2.1. 103 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO…..…….... 6.3. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO………………………………… 118 6.3.1. OBJECTIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS ……………………… 118 6.3.2. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO/REABILITAÇÃO URBANA .. 119 AVALIAÇÃO DA EXECUÇÃO …………………………………………... 129 7.1. AVALIAÇÃO DA EXECUÇÃO FÍSICA E FINANCEIRA ……….. 7.1.1. 129 REQUALIFICAÇÃO AMBIENTAL E URBANA E VALORIZAÇÃO E CONSERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO …………. 7.1.2. REVITALIZAÇÃO ACTIVIDADES ECONÓMICA SOCIAIS, E CULTURAIS, DINAMIZAÇÃO DE DESPORTIVAS E TURÍSTICAS……………………………………………………………. 7.1.3. VALORIZAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS ……….. 7.1.4. ESTRUTURA DE ARTICULAÇÃO, GESTÃO E AVALIAÇÃO PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO EM RELAÇÃO 149 156 DO PROGRAMA/PLANO NO LOCAL ......………….. 7.2. A 135 157 À INTERVENÇÃO ……………………………………………………...... 7.2.1. RECUPERAÇÃO DO PARQUE EDIFICADO …………... 7.2.2. REMODELAÇÃO DA REDE DE INFRA-ESTRUTURAS E REQUALIFICAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO ……………………. 7.2.3. INSTALAÇÃO DE EQUIPAMENTOS…………………….. 7.2.4. REABILITAÇÃO DO EDIFICADO A PERCEPÇÃO DOS PROPRIETÁRIOS E RESIDENTES ………………………………… 161 162 165 168 174 8. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES…..…………………………….. 183 9. BIBLIOGRAFIA ……………………………………………………………. 188 10. ANEXOS ………………………………………………………………….... 191 v - Inquérito aos residentes …………………………………………………. 192 - Questões aos privados …………………………………………………... 195 - Questões ao sector público ……………………………………………… 206 vi ÍNDICE DE FIGURAS FIGURA 1 – Organograma de funcionamento da iniciativa Jessica (Turró, 2008)... 32 FIGURA 2 – A cidade de Dublin (Dublin City Council Development Plan 20052011, Volume 1 – Written Statement) ……………………………………………………... 37 FIGURA 3 – Região Urbana de Dublin com indicação dos municípios e distritos (Kitchen, 2002) ………………………………………………………………………………… 38 FIGURA 4 – Mudanças demográficas 1986 - 1996 (Kitchen, 2002) ………………….. 40 FIGURA 5 – Aspecto Actual de Dominick Street (Dublin City Council, 2008) …….. 45 FIGURA 6 – Desenho urbano em 1891 – 2008 (Dublin City Council, 2008) ………... 45 FIGURA 7 – Extracto da planta de zonamento do plano de desenvolvimento da cidade de Dublin 2005-2011 (Dublin City Council, 2005) ……………………………… 46 FIGURA 8 – Grangegorman (Dublin City Council, 2008) ……………………………… 49 FIGURA 9 – Localização do Grangergorman, zona comercial e cultural (Dublin City Council, 2008) …………………………………………………………………………… 50 FIGURA 10 – Desenho urbano 2008-2019 (Dublin City Council, 2008) ……………... 51 FIGURA 11 – Faseamento da intervenção (com base Dublin City Council, 2008)... 52 FIGURA 12 – Cérceas existentes (com base Dublin City Council, 2008) …………... 53 FIGURA 13 – Cidade de Berlim …………………………………………………………….. 55 FIGURA 14 – Kottbussser no distrito de Kreuzberg (Senatsverwaltung für Stadtenwicklung, 2004) ……………………………………………………………………… 69 FIGURA 15 – Delimitação da ACRRU e ZIP (Porto Vivo,SRU, 2005) ………………… 78 FIGURA 16 – Baixa reabilitada (Porto Vivo,SRU, 2005) ……………………………….. 80 FIGURA 17 – Baixa administrativa e de serviços (Porto Vivo,SRU, 2005) …………. 82 FIGURA 18 – Baixa do comércio e dos negócios (Porto Vivo,SRU, 2005) ………… 84 FIGURA 19 – Baixa da cultura, turismo e lazer (Porto Vivo,SRU, 2005) ……………. 85 FIGURA 20 – Baixa do espaço público (Porto Vivo,SRU, 2005) ……………………... 86 FIGURA 21 – Áreas de acção especial (Porto Vivo,SRU, 2005) ……………………… 88 FIGURA 22 – Limites dos quarteirões definidos pelo INE (CMVR,2001) …………… 105 FIGURA 23 – Valor arquitectónico (CMVR,2001) ……………………………………….. 110 FIGURA 24 – N.º de alojamentos por edifício (CMVR,2001) …………………………... 110 FIGURA 25 – Regime de propriedade (CMVR,2001) ……………………………………. 112 FIGURA 26 – Estado de conservação (CMVR,2001) …………………………………… 113 FIGURA 27 – Cércea (CMVR,2001) ……………………………………………………….. 113 FIGURA 28 – Usos do Rés-do-chão (CMVR,2001) ……………………………………… 115 FIGURA 29 – Usos dos restantes pisos (CMVR,2001) ………………………………… 115 FIGURA 30 – Caracterização do espaço público existente (CMVR,2001) ………….. 116 FIGURA 31 – Ficha Regulamentar do Hotel do Parque (CMVR,2001) ………………. 120 vii FIGURA 32 – Estratégia da Intervenção (CMVR,2001) ………………………………… 123 FIGURA 33 – Gestão da intervenção (CMVR,2001) …………………………………….. 125 FIGURA 34 – Imóveis a recuperar – Zona Norte (CMVR,2001) ……………………….. 135 FIGURA 35 – Imóveis a recuperar – Zona Sul (CMVR,2001) ………………………….. 136 FIGURA 36 – Imóveis recuperados – Zona Norte em 2009 …………………………… 136 FIGURA 37 – Imóveis reabilitados – Zona Sul em 2009 …..…………………………… 137 FIGURA 38 – Hotel do Parque 2001/2009 ………………………………………………… 139 FIGURA 39 – Corte esquemático da proposta de alteração do Plano de Pormenor 141 (CMVR,2009) …………………………………………………………………………………… FIGURA 40 – Planta esquemática da proposta de alteração do Plano de 141 Pormenor (CMVR,2009) ……………………………………………………………………… FIGURA 41 – Ponte Metálica em 2001 (CMVR,2001) …………………………………… 142 FIGURA 42 – Ponte Metálica em 2009 …………………………………………………….. 142 FIGURA 43 – Rua do Corgo 2001/2009 – Passeios e Via Pública ……………………. 143 FIGURA 44 – Rede de drenagem de águas residuais domésticas e pluviais em 2009 ……………………………………………………………………………………………... 143 FIGURA 45 – Rede de iluminação pública, mobiliário urbano e rede de infraestruturas de telecomunicações em 2009 ……………………………………………….. 144 FIGURA 46 – Largo do Prado (CMVR,2001) ……………………………………………… 145 FIGURA 47 – Largo do Prado em 2009 …………………………………………………… 146 FIGURA 48 – Largo Sr.ª da Guia em 2001 (CMVR,2001) ………………………………. 146 FIGURA 49 – Largo Sr.ª da Guia em 2009 ……………………………………………….. 147 FIGURA 50 – Largo das Alminhas 2001/2009 …………………………………………… 147 FIGURA 51 – Percurso do Românico em 2001 (CMVR,2001) ………………………… 147 FIGURA 52 – Percurso do Românico em 2009 ………………………………………….. 148 FIGURA 53 – Entrada da escola em 2001 (CMVR,2001) ……………………………….. 148 FIGURA 54 – Parque de estacionamento e entrada para a escola primária em 148 2009 …………………………………………………………………………………………….. FIGURA 55 – Parque de estacionamento junto ao Hotel do Parque em 2009 …….. 149 FIGURA 56 – E/3 – Centro de Interpretação e Monitorização Ambiental e Centro de Artes Tradicionais (adaptado de CMVR,2001) …………………………..…………... 150 FIGURA 57 – Casa da Presa em 2001 (CMVR,2001) ……………………………………. 150 FIGURA 58 – Casa da Presa em 2009 …………………………………………………….. 151 FIGURA 59 – B – Centro de Dia/Convívio (adaptado de CMVR,2009) ………………. 152 FIGURA 60 – Edifícios destinados ao Centro de Dia/Convívio 2001/2009 …………. 152 FIGURA 61 – F – Localização prevista da Escola/Centro de Formação Profissional (adaptado de CMVR,2001) …………………………………………………... 153 FIGURA 62 – Edifício destinado à Escola/Centro de Formação Profissional 2001/2009 ………………………………………………………………………………………. 153 FIGURA 63 – A – Centro ATL (adaptado de CMVR,2001) ……………………………... 154 viii FIGURA 64 – Espaço destinado à construção do ATL em 2009 …………………….. 154 FIGURA 65 – C – Casa da Cultura (adaptado de CMVR,2001) ……………………….. 155 FIGURA 66 – Edifício destinado à Casa da Cultura 2001/2009 ………………………. 155 FIGURA 67 – D - Gabinete de Acção Local (adaptado de CMVR,2001) …………….. 157 FIGURA 68 – Edifício Destinado ao Gabinete de Acção Local 2001/2009 …………. 158 FIGURA 69 – Estacionamento na Rua da Prado ……………..…………………………. 175 FIGURA 70 – Edifícios em ruínas na Rua Sargento Pelotas ……………….…………. 177 FIGURA 71 – Vista panorâmica do bairro …………………..……………………………. 178 FIGURA 72 – Edifício em ruína na Rua do Corgo …………..…………………………... 178 FIGURA 73 – Edifício com processo de reabilitação em curso …………...…………. 179 ix ÍNDICE DE TABELAS TABELA 1 – Causas da degradação urbana (adaptado de Ribeiro, 2005) …………… 13 TABELA 2 – Consequências da degradação urbana (adaptado de Ribeiro, 2005) … 14 TABELA 3 – Tipo de intervenção de reabilitação urbana (adaptado de Ribeiro, 2005) ……………………………………………………………………………………………… 19 TABELA 4 – Repartição da população da cidade de Dublin (Kitchen, 2002) ……...... 39 TABELA 5 – Aplicação dos incentivos fiscais em Dublin (Ribeiro, 2002) ………….. 42 TABELA 6 – Distribuição etária da população em Dominick Street e DED Norte (com base em Dublin City Council, 2008) ………………………………………………….. 47 TABELA 7 – Perfil de investimento em Berlin (Berry et al, 1996) ……………………… 60 TABELA 8 – Perfil do mercado de arrendamento de escritórios 1992-1995 (adaptado de Berry et al, 1996) ……………..……………………………………………...... 60 TABELA 9 – População das unidades de gestão de vizinhança em Berlin (Senatsverwaltung für Stadtenwicklung, 2004) …………………………………………… 63 TABELA 10 – Aplicação dos fundos por proponentes (Senatsverwaltung für Stadtenwicklung, 2004) ……………………………………………………………………….. 66 TABELA 11 – Variação dos alojamentos familiares clássicos de residência 1991 e 2001 (Matos, 2007)………………………………………………………………………………. TABELA 12 - Variação dos alojamentos vagos 1991 e 2001 71 (Matos, 2007)………………………………………………………………………………………………. 71 TABELA 13 – Alojamentos segundo o regime de ocupação (%) (Matos, 2007) …….. 72 TABELA 14 – Alojamentos clássicos segundo o escalão de rendas, em 2001 (Matos, 2007) ……………………………………………………………………………………. 72 TABELA 15 – Alojamentos arrendados com contratos posteriores a 1991, em 2001 (Matos, 2007) ……………………………………………………………………………………. 73 TABELA 16 – População residente (Matos, 2007) ………………………………………. 73 TABELA 17 – População residentes (classes etárias) (Matos, 2007) …………………. 74 TABELA 18 – Programa de revitalização urbana e valorização ambiental das cidades (adaptado de Vazquez, 2001)………………………………………………………. 96 TABELA 19 – Análise dos projectos face à tipologia de intervenção (retirado de RCM N.º 26/2000, Quadro N.º 32)…………………………………………………………….. 97 TABELA 20 – Espaço público e qualidade de vida (CMVR,2001) ……………………... 99 TABELA 21 – Estrutura económica e sócio-cultural (CMVR,2001) ……………………. 100 TABELA 22 – Distribuição da população e famílias, em 1991 e 2001 (CMVR,2001)… 106 TABELA 23 – Relações de dependência, em 1991 e 2001 (CMVR,2001) ………...…… 106 TABELA 24 – Distribuição da população total por actividade económica (CMVR, 2001)………………………………………………………………………………………………. 107 TABELA 25 – Valor e tempo médio dos arrendamentos em 2001 (CMVR,2001) 108 ……... x TABELA 26 – Edifícios por quarteirão e época de construção (CMVR,2001)………... 109 TABELA 27 – Enquadramento paisagístico e ambiental (CMVR,2001) …..…………... 116 TABELA 28 – Contexto socioeconómico (CMVR,2001)…………………………………. 117 TABELA 29 – Contexto físico (CMVR, 2001) ………………………………………………. 117 TABELA 30 – Opções do programa Polis – Vila Real (CMVR, 2001) ………………….. 119 TABELA 31 – Programa de execução (adaptado de CMVR, 2001) ……………………. 128 TABELA 32 – Cronograma da intervenção (CMVR, 2001) ………………………………. 128 TABELA 33 – Avaliação da intervenção (fonte CMVR, 2001) …………………………... 133 TABELA 34 – Cronograma das acções realizadas e previstas ………………………… 135 TABELA 35 – Avaliação da execução do Plano de Pormenor…….……………………. 159 xi ÍNDICE DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 – Distribuição etária da população de Dominick Street e espaço envolvente (com base no Dublin City Council, 2008)…………………………………............ 47 GRÁFICO 2 – Estatuto sócio económico da população com mais de 15 anos em Dominick Street e envolvente (com base no Dublin City Council, 2008) ……………........ 48 GRÁFICO 3 – Razões para os fluxos migratórios (Adaptado de European Regional Development Funds, 2005) ………………………………………………………………………… 56 GRÁFICO 4 – Problemas dos bairros em estudo (Adaptado de European Regional Development Funds, 2005) ………………………………………………………………………… 57 GRÁFICO 5 – Oportunidades identificadas nos bairros (Adaptado de European Regional Development Funds, 2005) ……………………………………………………………. 58 GRÁFICO 6 – Projectos por linhas de acção (Senatsverwaltung für Stadtenwicklung, 2004) ………………………………………………………………………………………………….... 65 GRÁFICO 7 - Projectos apoiados pelos fundos de vizinhança (Senatsverwaltung für Stadtenwicklung, 2004) …………………………………………………………………………..... 65 GRÁFICO 8 – Montantes apoiados pelos fundos de vizinhança (Senatsverwaltung für Stadtenwicklung, 2004) …………………………………………………………………………….. 66 GRÁFICO 9 – Valores estimados dos projectos em € (Senatsverwaltung für Stadtenwicklung, 2004) …………………………………………………………………………….. 67 GRÁFICO 10 – Aspectos mais valorizados na baixa pelos inquiridos (Matos, 2007)…… 75 GRÁFICO 11 – Problemas da baixa referidos pelos inquiridos (Matos,2007) …………… 76 GRÁFICO 12 – Distribuição da população por grupos etários em 2001 (CMVR,2001)….. 107 GRÁFICO 13 – Distribuição das famílias segundo o rendimento do agregado familiar em 2001 (CMVR,2001) ………………………………………………………………………………. 108 GRÁFICO 14 – Distribuição etária da população inquirida ………………………………….. 161 GRÁFICO 15 – Avaliação das mais-valias do alargamento da ponte metálica ………….. 165 GRÁFICO 16 – Avaliação da intervenção de requalificação das redes de infraestruturas …………………………………………………………………………………………….. 166 GRÁFICO 17 – Classificação da intervenção no espaço público ………………………….. 166 GRÁFICO 18 – Melhoria da convivência no espaço público ………………………………... 167 GRÁFICO 19 – Vantagens da instalação do C.I.M.A ………………………………………….. 169 GRÁFICO 20 – Prioridade de um Centro de Dia/Convívio no Bairro dos Ferreiros …….. 169 GRÁFICO 21 – Prioridade da construção de uma Escola/Centro de Formação Profissional …………………………………………………………………………………………... 170 GRÁFICO 22 – Prioridade da Casa da Cultura ………………………………………………… 171 GRÁFICO 23 – Intervenção do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros na melhoria da qualidade de vida e na recuperação de uma zona urbana degradada …….. 172 xii ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 1. INTRODUÇÃO 1.1. ENQUADRAMENTO A alteração da estrutura urbana das cidades foi nas últimas décadas mais acentuada. As tendências de crescimento urbano, de novas construções na periferia das cidades levaram à desertificação dos centros históricos. A saída da população dos centros das cidades para a periferia devesse a vários factores: a deslocalização das unidades produtivas, a melhor qualidade das habitações, melhores acessos, melhores níveis de acesso aos serviços públicos, foram factores que ditaram os fluxos de migração da população. Por sua vez os centros urbanos tornaram-se espaços-problema. Se até aí funcionavam como centros de produção, comércio e serviços, deixaram de ter a gente necessária à prevalência destas funções, ficando espaços amorfos e sem vida. Como consequências dos factores que levaram à saída da população, pode referirse o envelhecimento da população residente, o aumento da degradação do parque edificado, a perda acentuada da população, a redução da actividade económica e a perda de serviços e de atractividade, por exemplo. Com base nestas causas dos problemas de desertificação foi necessária a aplicação de medidas correctivas deste descontrolo urbano, que permitissem a redução das assimetrias entre os centros urbanos e a periferia, podendo dividir-se estas medidas em três grandes grupos: reguladoras, de incentivo aos investimentos e apoio financeiro. Os programas de intervenção localizam-se em duas dimensões completamente distintas e opostas, sendo nomeadamente a intervenção do sector público ao nível dos espaços comuns (ruas, parques, praças, quarteirões, por exemplo) tornando-os mais atractivos, funcionais e adequados às actuais exigências. A segunda dimensão é a intervenção no espaço privado, com a reabilitação do parque edificado, aplicando-se aqui as políticas de incentivo aos privados para impulsionar a sua execução. No entanto nem todos os programas de intervenção conseguem os resultados esperados no espaço de tempo para que são previstos, a natureza destas intervenções envolve tempo e disponibilidade dos intervenientes, se por um lado as acções assumidas pelo sector público podem ser de execução mais fácil, a recuperação dos edifícios, maioritariamente privados, depende da própria conjectura 1 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 local e da forma como o investimento público conseguir capitalizar e dinamização as zonas de intervenção, tornando os investimentos dos proprietários rentáveis. 1.2. PROBLEMÁTICA A conjugação do conjunto de causas e consequências que encontramos hoje nas nossas cidades é encontrada no Bairro dos Ferreiros na cidade de Vila Real, sendo uma zona envelhecida, localizada a uma cota diferente da cota onde a vida urbana se assume na cidade Vila Real. No âmbito do programa Polis para a cidade de Vila Real, as entidades responsáveis pela execução do mesmo, assumiram a reabilitação e recuperação urbana deste bairro como uma opção, tendo sido elaborado um Plano de Pormenor para a zona onde estavam presentes, justificadas e materializadas as opções do programa Polis para o bairro. A intervenção proposta pelo Plano de Pormenor considerava uma grande parte de acções a realizar pelo sector público, ao nível da melhoria e reestruturação das infra-estruturas, qualificação do espaço público, criação de equipamentos e serviços no bairro, mas simultaneamente era assumida uma componente fortemente privada, com vista à reabilitação de 167 habitações, que não foi possível. Ora, visto isto coloca-se a necessidade de: - Avaliar o actual estado de execução do Plano de Pormenor, passados 5 anos do tempo considerado no cronograma de acção; - Avaliação de quais os motivos que levaram os privados a não proceder à reabilitação dos edifícios; - Ponderar sobre o papel do sector público no apoio à reabilitação dos edifícios pelos privados; - Analisar e avaliar a intervenção assumida pelo sector público como mecanismo de reabilitação urbana; - Contemporizar as acções do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros; Desta forma vai ser feita uma abordagem superficial sobre o actual estado da execução do Plano de Pormenor e procurar perceber quais os motivos que levaram a esse estado, considerando logo à partida a dificuldade de intervenção e reabilitação do espaço privado, considerando ainda que a intervenção pública, assim que planeada, terá que ser executada num espaço de tempo aceitável. 2 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 1.3. METODOLOGIA Para a elaboração da presente tese de mestrado procedeu-se à revisão bibliográfica de artigos científicos, teses, publicações sobre a matéria com especial incidência sobre elementos que, pela sua natureza, fossem similares à problemática, nomeadamente no que diz respeito à identificação das causas, consequências e políticas de intervenção já postas em prática e com resultados visíveis, assim, a dissertação foi organizada segundo os seguintes critérios: - Identificação das causas da desertificação dos centros urbanos, degradação do parque edificado e identificação das motivações que levaram à saída da população dos centros urbanos para o periferia. - Determinação das consequências da desertificação urbana, e quais os problemas que as causas anteriormente identificadas provocaram no sistema urbano. - Identificação dos mecanismos de reabilitação urbana que são usados de forma a incentivar e privilegiar as intervenções de reabilitação urbana, tendo aqui sido analisados incentivos, programas e meios de reabilitação urbana actualmente em vigor em Portugal, como incentivos fiscais, sociedade de reabilitação urbana e programas de financiamento, por exemplo. - A validação das causas, consequências e mecanismos de intervenção foi feita com o estudo de exemplos de reabilitação urbana já em prática e com resultados já conhecidos, dois deles ao nível europeu, Dublin e Berlim, e em Portugal o caso da revitalização da baixa portuense, na cidade do Porto. - Passando para o caso de estudo, foi feito o enquadramento da intervenção proposta pelo Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros com os objectivos nacionais do Programa Polis, e também com o constante no Plano Estratégico do Programa Polis de Vila Real. - Ainda no âmbito da apresentação do caso de estudo, foi analisado o relatório do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros que serviu de base à definição das acções a executar no bairro, sendo também analisado o programa de execução e financiamento da intervenção. - Como já indicado na problemática considerada nesta tese, o Bairro dos Ferreiros apresenta sinais claros de degradação e desertificação urbana que a intervenção do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros não foi capaz de resolver. Ora, depois de caracterizado o caso de estudo, foi avaliada a execução das acções definidas pelo plano. 3 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 - Identificadas as acções cuja execução não foi possível ou foi condicionada procura-se perceber quais as dificuldades encontradas, como a actual intervenção é vista e quais os resultados já verificados. A avaliação da execução do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros foi adjuvada de elementos fornecidos pelo Município de Vila Real relativas às acções executadas e também por um entrevista ao responsável técnico do Departamento de Planeamento e Controlo. - A percepção dos privados foi baseada em dois níveis de informação: auscultação por inquéritos de opinião dos residentes locais sobre a intervenção e melhorias notadas com as intervenções realizadas e com entrevistas aos intervenientes privados no bairro, proprietários residentes, proprietários arrendatários e inquilinos, aqui para avaliar quais as razões identificadas que levam à reabilitação do bairro ou à manutenção do problema. - Por último, a tese é fechada com a definição dos grandes grupos de problemas que condicionam o sucesso da intervenção de reabilitação urbana do Bairro dos Ferreiros, e cujo seu desenvolvimento pode ser determinante para intervenção. 1.4. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO Capítulo 1 – é introduzido o problema da desertificação urbana e as politicas de intervenção que têm sido implementadas, incluindo a indicação da metodologia usada na elaboração da dissertação e a sua própria estrutura. Capítulo 2 – são indicadas as causas e consequências da desertificação dos centros urbanos, incluindo a introdução de alguns conceitos de reabilitação urbana usados ao longo da tese, estando neste capítulo desenvolvidas as principais questões que as políticas de intervenção devem responder. Capítulo 3 – são referenciadas algumas das políticas de reabilitação urbana já implementadas, algumas delas extraídas dos casos particulares analisados no capítulo seguinte e outras em vigor em Portugal. 4 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Capítulo 4 – são estudadas três intervenções distintas, como métodos de abordagem aos problemas distintos, duas em cidades europeias, Dublin e Berlin, e a terceira no Porto, para cada intervenção são indicadas as causas e as politicas de intervenção. Capítulo 5 – são apresentadas algumas notas sobre os métodos de abordagem e resolução dos problemas de desertificação urbana, com base nas intervenções analisadas, servindo de base ao estudo do caso de estudo do Bairro dos Ferreiros. Capítulo 6 – é apresentado o caso de estudo do Bairro dos Ferreiros, incluindo a abordagem ao Programa Polis ao nível nacional, ao Plano Estratégico para a Cidade de Vila Real e os elementos do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros, incluindo a caracterização da área de intervenção e programa de execução. Capitulo 7 – é avaliada a execução do plano, todas as intervenções inicialmente previstas são analisadas e avaliada a sua execução sob o ponto de vista físico e financeiro. Nesta avaliação está presente a opinião do Município de Vila Real sobre a execução da intervenção. Capitulo 8 – com base no estudo realizado apresentam-se algumas conclusões e recomendações não só sobre o caso de estudo, mas de toda a dissertação, com a definição das grandes questões que se mantêm no caso da reabilitação urbana, sobretudo na recuperação do parque edificado. 5 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 2. A DESERTIFICAÇÃO URBANA: ORIGENS E CONSEQUÊNCIAS DO PROBLEMA 2.1 ENQUADRAMENTO As cidades e os centros urbanos são espaços dinâmicos que ao longo do tempo estiveram e sempre estarão sujeitos a processos de crescimento e adaptação às novas circunstâncias e necessidades dos seus habitantes. No entanto, foi nas últimas décadas que as tendências urbanas mais denotaram a existência de problemas nos centros históricos, nomeadamente a sua degradação e desvalorização. A causa da rápida evolução, organização e funcionamento das cidades, iniciase nomeadamente com o processo industrial, que originou a criação dentro e a partir dos maiores centros urbanos de zonas de produção, arrastando para aí capital humano e fazendo com que se iniciasse um processo de crescimento urbano, com a necessidade de novas habitações com condições de salubridade, uma vez que as existentes não respondiam em quantidade e qualidade. Com o decorrer dos tempos, os centros de produção industrial foram-se deslocalizando do centro das cidades para a periferia, para zonas com melhores acessibilidades e predestinadas à função, originando a criação de zonas e parques industriais. Ora, esta mudança originou uma reestruturação radical de funcionamento e reorganização das cidades, que até aí eram vistas como centros de produção e espaços de comércio e serviços, levando a uma deslocalização da população para a periferia, ficando assim a população mais próximas dos locais de trabalho, esvaziando assim os centros urbanos. Um outro factor que levou ao abandono dos edifícios nos centros históricos, foi o facto das habitações cuja construção era mais antiga se encontrarem obsoletas, com problemas de salubridade. Considera-se que os problemas de salubridade no espaço público contribuíram para que após a segunda guerra mundial, tivesse havido a preocupação dos estados em extinguir os bairros degradados e de relocalizar as respectivas populações em zonas com habitações que cumprissem esses pressupostos. Numa fase inicial, este processo de melhoria das condições das habitações e do espaço público, foi também um foco da desertificação urbana, uma vez que a 6 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 preocupação da administração pública era a resolução dos problemas do parque habitacional, dos problemas de educação, emprego, actividades económicas, e de apoio social às famílias. Com a resolução destas carências ao nível pessoal e em determinados sectores, foi necessário recorrer à construção de novas zonas urbanizáveis, assim a desertificação e degradação dos centros históricos foi-se agravando. Nesta fase o papel do estado assume uma postura mais assistencialista, com a preocupação do estabelecimento de um cenário de equidade e justiça social, uma vez que com a revolução industrial, os centros urbanos foram obrigados a adaptar-se a um crescimento considerável da população, e com falta de condições, o que fez com que os estados tivessem de assumir este papel como seu, de modo a poder garantir uma melhor qualidade de vida. Mas como já foi referido, este tipo de intervenção, fez com que a postura assistencialista do estado acabasse por funcionar também como um factor de desertificação urbana, proporcionando a saída da população para outros locais de expansão, que não os centros históricos. Foi nesta altura que correntes urbanísticas, como a unidade de vizinhança, a cidade-jardim, a cidade-racionalista e, até mesmo cidades espontâneas, se desenvolvessem e implementassem nos espaços livres existentes nos núcleos urbanos. Este tipo de intervenção assistencialista, localizou-se cronologicamente num período de pós-guerra até aos anos 70, em que os sentimentos de mudança e desenvolvimento estiveram particularmente presentes. A esta fase seguiu-se um período com intervenções sectoriais, com a canalização de esforços e criação de mecanismos capazes de reverter as tendências instaladas nas zonas degradadas. Foi sendo combatida a exclusão social nos centros urbanos. Medidas que normalmente acabaram por ser infrutíferas, dado que se estava a procurar criar uma cidade dentro de outra, medidas essas que sucederam a um longo período em que haviam sido esvaziadas essas mesmas zonas (Milão, 2006). Depois disto e já na época de 90 em que os mecanismos de planeamento e ordenamento do território se começaram a desenvolver, foi aparecendo uma nova forma de governação, com uma visão plurisectorial e integrada, trazendo para dentro do processo de decisão todos os intervenientes e actores no processo de urbanização. A ideia era que dentro das zonas críticas, fossem colmatados os problemas do combate da pobreza e exclusão social, o repovoamento dos centros históricos, com a 7 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 atracção de população em idade activa, pretendendo-se assim inverter como é claro, a tendência de degradação e desertificação urbana. Os fenómenos de crescimento dos espaços urbanos e o aumento das várias funções que podem ser associadas, fez com que nas últimas décadas os nossos centros históricos sofressem alterações, sobretudo ao nível social, fazendo com que estes se tornassem amorfos, originando assim mais um problema urbanístico. Este facto, deu origem à necessidade de dinamização e reocupação dos espaços, com a criação dos respectivos mecanismos associados. 2.2 CONCEITOS DE REABILITAÇÃO URBANA Os novos paradigmas de resposta à desertificação urbana, faz com que as intervenções se situem a variados níveis, Torna-se necessário actualizar os nossos centros urbanos, integrando-os no espaço envolvente, fazendo deles exemplos dentro da sua própria cidade, da região e até mesmo do próprio país. Para isto, a intervenção compatibiliza objectivos sociais, físicos e económicos, considerando todos os intervenientes no espaço urbano como agentes de recuperação e intervenção urbana. Numa fase inicial, as cidades foram respondendo ao fenómeno de desertificação dos seus centros urbanos com a dinamização e aproveitamento turístico dos mesmos espaços, dinamizando as funções culturais e potenciando o próprio património arquitectónico. Este conceito denominou-se de City Marketing. Este conceito veio a manifestar-se insuficiente, pois originou fazia com que fosse constatando um afastamento da população local, conclui-se que este conceito provocava uma desvirtualização da identidade dos espaços urbanos com a sua população local (Milão, 2006). O conceito de desertificação urbana, que até aqui era usado para caracterizar a fuga dos habitantes dos centros urbanos para a periferia, foi sendo alargado, constituindo assim uma área crucial ao nível da gestão urbana, que viu necessidades de enviar esforços com ou sem investimento público. No entanto, a resposta que a gestão urbana dá à necessidade de recuperação dos espaços urbanos degradados, pode levar a um outro problema social, uma vez se tornam espaços cuja intervenção obriga a custos de aquisição/utilização mais altos, o 8 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 que origina a segregação assim as classes mais desfavorecidas. Nos dias de hoje este fenómeno pode ser designado como gentrificação1. Desta forma, começaram-se a desenvolver as políticas de recuperação das áreas urbanas degradadas, desenvolvendo-se então a partir daí vários conceitos sobre os diferentes tipos de intervenção. A terminologia que designa as intervenções no espaço público, depende das próprias operações nos espaços, dos actores participantes no processo de recuperação. Usualmente, ouve-se de falar de conceitos como: renovação urbana requalificação urbana, reabilitação urbana, revitalização urbana e regeneração urbana. Ora, à primeira vista, todos eles nos remetem para o espaço urbano e de seguida para a resolução de problemas de ocupação desses mesmos espaços (Vazquez, 2002). Em Portugal, o conceito mais usual é o de reabilitação urbana, que normalmente é considerado como sendo a transformação do espaço público, que compreende a execução de obras de conservação, recuperação e readaptação dos edifícios aos dias de hoje. Com isso consegue-se melhorar a qualidade de vida, as condições de salubridade, e dando condições ao espaço público para que este valorize a função de cidade, conservando o seu carácter fundamental. Segundo o regime jurídico das sociedades de reabilitação urbana, Decreto-Lei 157/06 de 8 de Agosto, a reabilitação urbana é um processo de transformação do solo urbanizado, compreendo as obras de construção, reconstrução, alteração, ampliação, demolição e conservação de edifícios, com o objectivo de melhorar as suas condições de uso, bem como intervenções urbanísticas que visem a recuperação de zonas históricas e de áreas críticas de recuperação e reconversão urbanística, definidas pela sociedade de reabilitação urbana. Todos os outros conceitos andam em torno destes aspectos, variando de acordo com a intervenção proposta, podendo ser intervenções de ordem física, incidentes sobre a degradação do edificado, desqualificação do espaço público ou de ordem funcional, que intervém ao nível de uma reestruturação das actividades de serviços, provocada pelo desajuste dos usos num determinado espaço. De referir que, 1 Chama-se gentrificação ou enobrecimento urbano a um conjunto de processos de transformação do espaço urbano que ocorre, com ou sem intervenção governamental, nas mais variadas cidades do mundo, dizendo respeito à expulsão de moradores tradicionais, que pertencem a classes sociais menos favorecidas, de espaços urbanos e que subitamente sofrem uma intervenção urbana (com ou sem auxílio governamental) que provoca sua valorização imobiliária. (in www.wikipedia.org, Abril de 2009) 9 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 ao nível físico das acções ou ao nível funcional, todas elas são condicionadas pelo local, pelos aspectos sociais. Nos países anglo-saxónicos o conceito de reabilitação urbana é apresentado como regeneração urbana, sendo definida pelo Royal Institution of Chatered Surveyors do Reino Unido, como o processo de inversão da decadência económica, social e física nas nossas vilas e cidades, numa fase em que as próprias forças de mercado, só por si, já não são suficientes. Ou seja, este conceito introduz uma nova fase da intervenção, que se espera que o espaço urbano reaja por ele próprio (Ribeiro, 2005). A definição de uma política de intervenção num espaço urbano já consolidado e em declínio, apresenta condicionalismos completamente diferentes dos que uma proposta de ocupação de um espaço completamente livre possa apresentar. Quer-se com isto dizer que a própria caracterização do espaço é que define qual o tipo de intervenção. O facto de se ter pessoas nos espaços onde ser intervêm, faz com que todas as definições se tenham de adaptar às mesmas pessoas e aos seus interesses. A classificação de áreas urbanas degradadas é ditada pela forma do tecido urbano, sendo necessária a definição prévia da área de intervenção. Esta área de intervenção pode ser o edifício, o quarteirão, o bairro, e até mesmo a própria cidade. Com esta definição é identificada uma determinada zona, com necessidades e características semelhantes, que permitam a identificação de um conjunto de acções centradas em cada uma das necessidades. A definição de intervenção pode situar-se a várias dimensões, sendo a mais usual o quarteirão, que é delimitado pela estrutura fundiária dos lotes urbanos, havendo uma zona cuja dimensão permite a definição de um conjunto de modelos internos de relacionamento. Neste espaço, a urbanização e a edificação assumem-se como complementares, uma vez que só é possível edificar, se o espaço público permitir um determinado nível de características que permita garantir que os cidadãos tenham qualidade de vida. O mesmo acontece no inverso, só será possível e viável urbanizar se houver a motivação de edificar, e repovoar esse mesmo espaço urbano. Desta forma, a reabilitação urbana pode ser caracterizada por duas dimensões distintas, ao nível do bairro, quarteirão, ou cidade, a que chamaremos macro-escala, e também ao nível pontual, do edifício, ou até mesmo a uma questão de oportunidade a que chamaremos micro-escala. Ao nível macroscópico, a definição das políticas urbanas situa-se a nível superior, num espaço que pode incluir a definição de arquipélagos ou zonas de intervenção prioritária, com programas de financiamento e apoios definidos de forma 10 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 estratégica. Ao nível microscópico, as intervenções de reabilitação urbana assentam em medidas pontuais, associadas a custos de oportunidade, passando por vezes por propostas de ocupação dos edifícios, dos espaços vazios e até mesmo do espaço público com carácter inovador. Um outro problema que surge associado à reabilitação urbana e indicado no Estudo Estratégico para o Enquadramento de Intervenções de Reabilitação Urbana (Vasquez, 2004), é o facto destes espaços urbanos serem dotados de uma heterogeneidade, que encerra no mesmo espaço, uma degradação física, social e económica, que faz com que estas zonas sejam espaço de perdas, tornando a inversão num processo difícil e complexo, enquadrado numa visão estratificada dos desafios. A degradação torna o parque habitacional muito deteriorado e desajustado às necessidades de qualidade de vida dos nossos dias, tornando-o tendencialmente inabitável. Este fenómeno que pode ser também indiciado como motivo para fuga da população dos centros para a periferia, fixando-se ou permanecendo nestas zonas pessoas de classes económicas mais baixas, fazendo com que estes espaços se tornem hostis e sem condições de habitabilidade. Nestes espaços urbanos, para além da função de habitação, apenas encontramos actividade terciária, que sofre directamente com as consequências do ponto anterior, com falta de habitantes que são potenciais clientes, associado também à débil capacidade económica dos mesmos. Quer com isto dizer-se, que a ausência de mecanismos de reversão da fuga de população dos centros históricos, faz com que todas as outras actividades se vão simultaneamente reduzindo, ficando estas zonas urbanas desertificadas dentro de uma casca urbana definida e com condições de habitabilidade. Considerados estes aspectos, faz sentido que se procure responder às seguintes questões: - Porque se degradaram os centros históricos e cívicos das cidades? - Que tipo de intervenções têm sido desenhadas para estes locais? - Que dificuldades existem na sua implementação? - Quais os resultados que têm vindo a ser obtidos? - Que intervenções devem ser seguidas ou optimizadas em função dos resultados já obtidos? - Qual o papel que os sectores públicos e privados devem assumir no processo de reabilitação urbana? 11 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 - Quais os instrumentos necessários à prossecução da reabilitação urbana? 2.3 CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS Desta forma vamos identificar em primeiro lugar quais os motivos que levaram ao fenómeno de desertificação urbana de forma genérica e quais os intervenientes no processo de reabilitação urbana e quais as dificuldades. No presente momento já várias intervenções de políticas de reabilitação urbana foram implementadas, sobretudo no estrangeiro. Vai-se analisar as motivações dessas mesmas operações e quais os resultados obtidos, englobando nesta análise também os casos de estudo portugueses, através das Sociedades de Reabilitação Urbana (SRU) já em funcionamento. A reabilitação urbana aparece no plano da resolução dos problemas urbanísticos, sociais e económicos motivados por fenómenos como: - Fuga da população dos centros históricos para a periferia; - Degradação do parque habitacional; - Alteração da estrutura social dos centros históricos; - Declínio das actividades económicas existentes nos centros históricos; - Espaços urbanos desqualificados; - Falta de equipamentos de lazer, espaços verdes e estacionamento. - Envelhecimento da População - Desajustes no mercado do arrendamento Todos estes factores são identificados empiricamente, bastando olhar para um centro histórico de uma cidade, e pensando nos motivos que condicionariam a nossa ocupação de um edifício de um centro histórico. Neste capítulo analisam-se, para além das razões já apresentadas, os motivos que levaram ao cenário que hoje em dia se verifica. Segundo vários autores, a permissão da criação de novas zonas de expansão urbana, propagadas a partir dos centros urbanos já consolidados, fez com que as pessoas iniciassem há algumas décadas o movimento de deslocação das suas habitações. A este fenómeno pode associar-se ainda a saída de unidades industriais do interior das cidades para a periferia, ou seja a deslocação dos postos de trabalho. Este facto fez com que houvesse uma tendência para a mudança da habitação, acrescendo ainda que estas duas mudanças proporcionassem o acesso a uma 12 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 habitação nova, com melhores condições e mais económica, considera-se ainda a redução de custos de mobilidade na relação casa-trabalho. As funções de habitação, trabalho e lazer a protagonizar os processos de decisão, o nível de exigência de qualidade de vida aumenta, e com isto os centros históricos entram num processo de declínio, com a falta de competitividade em relação às novas áreas urbanizadas. A esta ideia que aqui se apresenta, o despovoamento dos centros históricos e a fuga da população para a periferia, fez com que (F. Ascher, 1995) fosse criada uma nova forma de designação do tecido urbano das cidades, as metapoles. A degradação urbana, ou desertificação dos centros históricos, não pode ser vista como o único factor, mas sim por várias causas que actuam isoladamente, mas que acabam por funcionar num único sentido, provocando um efeito de espiral que apenas funciona no sentido do agravamento do problema, ou até mesmo num afastamento recíproco entre eles, não permitindo a definição de uma medida redundante, como veremos. Os factores que podem ser identificados como causas da degradação urbana, podem ser de ordem económica, sócio-demográfica e do próprio espaço e das funções urbanas. Factor Descrição - Desemprego Económico - Exclusão de mercado de trabalho - Trabalho precário - Desigualdades salariais - Transformação da estrutura das famílias Sócio-demográfico - Enfraquecimento das relações familiares e sociais - Pobreza extrema - Marginalidade - Reestruturação espacial das cidades - Consequências de políticas de habitação, transportes, serviços públicos e actividades económicas Urbanismo - Zonamento urbano - Deslocamento das estruturas produtivas - Promoção de zonas urbanas em detrimento de outras; - Desajustamento do espaço urbano às exigências. Tabela 1 – Causas da degradação urbana (adaptado de Ribeiro, 2005) 13 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 As formas como estes factores se manifestam fazem com que eles sejam à primeira vista as questões que se colocam à sociedade para a resolução destes problemas, uma vez que as consequências se localizam a vários níveis, tais como: - Administração pública (central e local) - Habitantes das áreas degradadas (proprietários e inquilinos) - Proprietários dos imóveis - Tecido empresarial das áreas degradadas (empresários e empregados) - Investidores As consequências da degradação afectam todos estes actores que se acabaram de indicar, limitando as escolhas, oportunidades e decisões para alguns e para outros a esforços financeiros para a manutenção das condições necessárias. Visto isto, torna-se necessária a percepção das consequências dos problemas de desertificação e degradação dos centros urbanos. Estas consequências podem ser identificadas dentro de cada um dos macro-factores indicados. No quadro seguinte apresentam-se as consequências e os tipos de actores no espaço urbano mais afectados por cada um dos factores. Factor Descrição - Dificuldade de incitativas empresariais Economia - Recuperação de danos provocados por vandalismo e criminalidade - Custos da Reabilitação Urbana - Redução de capital humano SócioDemografia - Classes sociais em dificuldades - Problemas sociais - Problemas de segurança Actor Empresários Empregados Administração Pública Habitantes Proprietários Administração Pública Habitantes Proprietários - Degradação das infra-estruturas públicas - Postura individual em detrimento da colectiva Urbanismo - Custo/Rentabilidade do investimento público e privado Todos - Definição de intervenção global Tabela 2 – Consequências da degradação urbana (adaptado de Ribeiro, 2005) 14 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Este quadro permite ter uma ideia mais aprofundada sobre a definição de uma política de reabilitação urbana, que envolve, além de despesas correctivas dirigidas ao espaço público e privado, também a criação de medidas compensatórias para os actores que se assumam como parte activa no processo, uma vez que, dado o agravamento do problema nas nossas cidades, já foi possível concluir que o mercado não possui a capacidade de se autoregenerar nestas zonas, sendo necessária a definição de medidas claras que o façam recuperar. Como conclusão deste resumo dos factores e causas da degradação urbana, pode-se usar a definição de regeneração urbana utilizada pelo Royal Institution of Charted Surveyors, do Reino Unido em 1996, que assumia que o processo de reabilitação urbana era também caracterizado pelo processo de inversão da decadência económica, social e física das cidades, quando o próprio mercado se manifeste insuficiente e incapaz. 15 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 3. POLÍTICAS DE REABILITAÇÃO URBANA 3.1. ENQUADRAMENTO Desde 1998 que a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico, OCDE (OCDE, 1998) vem insistindo sobre as formas e critérios por que se devem reger as políticas de reabilitação urbana. Este relatório procurou definir quais os aspectos fundamentais que devem ser tidos em linha de conta nas políticas de reabilitação urbana, bem como nas estratégias e meios de intervenção. Segundo este estudo, os aspectos que as políticas de reabilitação urbana devem ser capazes de resolver, devem estar ligadas com: - A incapacidade dos mercados por si só não serem capazes de resolver os problemas que as zonas em dificuldade podem apresentar; - O estabelecimento de condições sociais e económicas capazes de garantir a atractividade dos centros históricos; - A inversão do processo de descentralização dos centros urbanos e de redução da capacidade económico-financeira destes; - A necessidade da implementação de políticas urbanas activas, atendendo à participação dos cidadãos; - O estímulo de iniciativas locais, criando-se eventuais parcerias público privadas para a implementação de políticas e medidas de reabilitação urbana. Os princípios que a OCDE indica neste mesmo estudo como fundamentais, para que as zonas urbanas críticas se possam restabelecer como zonas funcionais, relacionam-se sobretudo com a forma como as relações se estabelecem, sendo fundamental: - Participação dos agentes e das comunidades na construção das soluções; - Especial atenção às especificidades locais, mediante um correcto diagnóstico das áreas urbanas degradadas; - Prevenção da intensificação dos fluxos de perdas nas respectivas zonas, de forma a não se tornarem zonas de estagnação; - Abordagem plurisectorial e integrada das questões de degradação urbana; - Avaliação e monitorização das intervenções realizadas e propostas. 16 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Conjugando os aspectos a ter em conta numa intervenção de reabilitação urbana, com os princípios orientadores dessa mesma intervenção, resultam num conjunto de estratégias, que surgem como uma espécie de corolário ao desenvolvimento dos programas de acção, a título de exemplo poderemos considerar: - Compatibilização das componentes sociais, económicas, de requalificação física e funcional, e por ultimo da estrutura fundiária; - Aposta nas potencialidades económicas, sociais e até mesmo ambientes dos locais; - Intervenção na zona de degradação urbana, integrando e abrindo esses mesmos espaços às cidades; - Ponderação dos tipos de intervenção, de forma a não criar problemas noutras zonas, nem a deslocalização de problemas existentes; - Definição de medidas contínuas no tempo, sendo as mais incisivas na área social, resolvendo problemas de coesão, formação e desenvolvimento sustentado da população. Como já vimos, os problemas de degradação urbana não podem ser encerrados por si só num mero problema de urbanismo, ou de ordenamento do território. Trata-se de uma situação que sai fora deste âmbito, entrando noutros domínios da sociedade. Em relação aos meios de intervenção, estes têm de ser transversais aos diversos sectores da administração pública, uma vez que se justifica uma intervenção conjunta, passando também pela discriminação positiva dos territórios e das populações a eles associadas, com o apoio a medidas de desenvolvimento sustentadas em acções de iniciativa local. Estes tipos de medidas que se caracterizam por uma discriminação positiva, poderiam ser assentes em subsídios e subvenções, e também com a melhoria dos níveis de educação da população. Quer-se com isto dizer que os princípios, estratégias e meios de intervenção vão procurar responder à degradação das zonas urbanas em crise, procurando dotar esses espaços de uma imagem urbana atractiva, estimulando o tecido empresarial local, havendo também a necessidade de conjugação e compatibilidade de objectivos políticos, sustentabilidade social, ambiental, cultural e económica, valorizando as capacidades locais e intrínsecas das próprias zonas de intervenção. Todo o processo de reabilitação urbana envolve um fluxo de custos na intervenção, quer para quem possui a responsabilidade de resolver os problemas de 17 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 degradação e desertificação urbana, quer para quem se situa ao nível da utilização dos edifícios e do próprio espaço público. O sistema de subsídios e subvenções que a administração pública possa criar como forma de incentivar o investimento em zonas deprimidas, pode manifestar-se insuficiente. Ora, à primeira vista qualquer tipo de investimento de natureza privada é condicionado pelo risco e pela rentabilidade que o projecto apresente. No caso dos projectos de reabilitação urbana este factores não se apresentam de forma favorável aos investidores, tendo em conta que: - Desvalorização da propriedade imobiliária, e a sua valorização condicionada pelo meio envolvente; - A prática de rendas/preço de venda mais elevados após a intervenção face a outras zonas da mesma cidade; - Elevado risco de investimento; - Fraca qualidade dos projectos e oportunidades de investimento; - Processo burocrático de licenciamento, financiamento e reparcelamento urbano; Estas são questões que o sector privado coloca como condicionantes ao processo de decisão de investimento em zonas deprimidas e que os governos elegem como zonas de desenvolvimento prioritário, e que fazem com que seja necessária a criação de medidas capazes de resolver as condicionantes colocadas ao investimento nestas zonas, podendo passar por: subsídios estatais, criação de sistemas de incentivo/desincentivos fiscais, criação de fundos de financiamento, simplificação dos processos de aquisição e emparcelamentos, melhoramento do espaço público e nível de infra-estruturas e até mesmo intervenção ao nível dos regulamentos de uso do solo condicionando e limitando alternativas de investimento. Todas estas medidas podem ser vistas como uma espécie de seguro que os estados fazem aos privados como forma de garantir a viabilidade e baixo risco dos investimentos através de medidas que podem ser reguladoras, de investimento e desenvolvimento e até mesmo financeiras podendo materializar-se várias formas. 18 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Tipos Meios - Controlo do desenvolvimento urbano Reguladoras - Limitando as zonas de expansão urbana - Incentivando e simplificando a intervenção em zonas deprimidas - Controlo do mercado e uso dos solos - Localização de equipamento de serviços em zonas deprimidas, através Investimento e Desenvolvimento da posse do solo com medidas de iniciativa pública ou parcerias público privadas - Incitativas privadas com o apoio da administração pública - Incentivos e penalizações fiscais Financeiras - Fundos de financiamento - Controlo da especulação imobiliária Tabela 3 – Tipo de Intervenção de Reabilitação Urbana (adaptado de Ribeiro, 2005) Estas medidas indicadas são à primeira vista consequência dos instrumentos de intervenção que a administração pública tem ao seu dispor de forma directa, não podendo interferir directamente sobre a estrutura fundiária existente, nem garantir que os custos de aquisição, recuperação e comercialização de um projecto sejam competitivos face a um mercado já consolidado, dai as reservas do sector privado em se abrir a projectos de reabilitação urbana sem que haja medidas de controlo do risco e da rentabilidade dos investimentos. Neste capítulo vão ser analisados os casos cujas origens dos problemas já foram estudadas e onde já estejam colocados em prática os planos de intervenção. Como vimos, o processo de reabilitação urbana torna-se complexo, apresentandose numa matriz com várias variáveis, que se alteram no espaço e no tempo, conforme as cidades, os objectivos que se pretendem atingir e a unidade de intervenção. 3.2. INSTRUMENTOS E CAMPOS DE APLICAÇÃO DE REABILITAÇÃO URBANA Nos capítulos anteriores, foram analisados quais os mecanismos que foram usados em cidades com alguma dimensão para a reabilitação e revitalização dos centros históricos. De referir que em todos os casos de estudo, a abordagem que foi feita para a determinação das causas da fuga da população dos centros históricos para a periferia esbarrava sempre em motivos como, a má qualidade do parque habitacional, 19 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 problemas de segurança, melhor qualidade de vida na periferia e habitação a custos mais baixos. Quanto aos mecanismos de abordagem e resolução do problema vimos que, em cada caso, estes foram adaptados às necessidades e objectivos a conseguir, mas sempre com a atracção e melhoria da qualidade das habitações, como factor chave de todas as intervenções. Em Dublin, o caso que vamos referenciar, incide sobre a intervenção numa rua, a Rua Dominick, onde os responsáveis pela intervenção partiram do princípio que a manutenção de uma zona de habitação social de fraca qualidade num espaço nobre e estratégico da cidade, seria de todo desaconselhado. Neste caso, foram auscultados os moradores, e encontrada uma solução que melhorasse o espaço público e que oferecesse melhores habitações para os vários grupos e estatutos sociais, garantindo uma cota mínima de habitação social, e todos os serviços adequados à melhoria dos modos de vida, bem como a coerência do desenho e funções urbanas da envolvente à zona de intervenção. Para a execução destes projectos, o Dublin City Council usa o sistema de parcerias público privadas para levar a cabo os planos de intervenção acordados com a população, associando a intervenção no espaço público à concessão da promoção imobiliária do espaço privado, uma vez que a intervenção vai até ao nível 0 do existente, prevalecendo apenas os imóveis de interesse patrimonial. Para além da intervenção territorial, o governo irlandês concedeu num determinado momento incentivos fiscais para qualquer tipo de intervenção em zonas definidas de reabilitação urbana, tendo-os restrito ao longo do tempo em função do caminho a seguir e para projectos pontuais, o que surtiu também algum efeito no âmbito da reabilitação de outras zonas críticas da cidade. Em relação à Cidade de Berlim, o sistema adoptado foi diferente, o urbanismo participativo foi levado quase ao extremo, após a queda do Muro de Berlim, a cidade entrou num processo de adaptação e transformação. As zonas degradadas do interior da cidade foram reabilitadas com constituição de um fundo de vizinhança, com capitais do governo alemão e de capitais provenientes de fundos comunitários, que foram colocados ao dispor das unidades de vizinhança criadas em cada um dos bairros. Por cada bairro foram constituídos júris, que decidiam sobre a viabilidade e aprovação dos projectos apresentados individualmente, por grupos de pessoas, sociedades e instituições colectivas. 20 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Os projectos apresentados teriam apenas de dotar o bairro de novas atracções, criando valor ao bairro, emprego, oportunidades de formação, melhorias do espaço público. Com isto o governo alemão procurou resolver os problemas sociais dos bairros, usando este mecanismo como alavanca para a atracção de pessoas e captação de investimento nas zonas críticas de reabilitação urbana. Os principais motivos da fuga dos centros urbanos para a periferia, para além da qualidade das habitações são os problemas de insegurança, falta de serviços de apoio a crianças e jovens e mau estado de conservação do espaço público, por exemplo, sendo estes últimos passíveis de resolução com as intervenções apoiadas pelos fundos de vizinhança. Por sua vez, foram também criados incentivos fiscais que beneficiam os investimentos na recuperação, ampliação e modernização de imóveis em zonas críticas de reabilitação urbana. Desta forma, o programa de intervenção na cidade de Dublin procura reabilitar a cidade com recurso a incentivos fiscais, e com a responsabilização da população nos processos de decisão. Por último, a cidade de Porto, sustenta a sua política de reabilitação e revitalização urbana na SRU Porto Vivo, definindo um programa com os objectivos e meios de intervenção para a sua execução, numa zona específica da área crítica de recuperação e reconversão urbanística, designada por zona de intervenção prioritária. Todas as linhas de acção assentam num grande objectivo que é, trazer vida à cidade e de novos habitantes. Como principal dificuldade, a intervenção no espaço privado, uma vez que as intervenções no espaço público dependem da própria administração que delineou quais os objectivos a cumprir. As parcerias público privadas são aqui um elemento que a SRU elege com meio para atingir os objectivos em todas as suas linhas de acção. De notar que são ainda referidos alguns meios necessários de incentivo à reabilitação da zona crítica de intervenção, nomeadamente no campo fiscal e para a reabilitação do parque habitacional, como benefícios fiscais em sede de IRS e IRC para os proprietários, linhas de crédito especiais, redução de taxas e licenças camarárias nas intervenções urbanísticas, redução do IMI e IMT, isto como meio complementar ao plano de intervenção. 21 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 3.3. REGIME JURÍDICO DA REABILITAÇÃO URBANA O recente Decreto-Lei 307/2009 de 23 de Outubro, estabeleceu o regime jurídico da reabilitação urbana, considerando que esta componente é indispensável nas actuais políticas das cidade e da política de habitação, em particular das zonas degradadas e da qualificação do parque habitacional. Este regime jurídico incide sobre a resolução de grandes desafios que são colocados à reabilitação urbana: - Articular o dever de reabilitação dos edifícios dos privados com a responsabilidade pública de qualificar e modernizar o espaço, os equipamentos e as infra-estruturas das áreas urbanas a reabilitar; - Garantir a complementaridade e coordenação entre os diversos actores, concentrando recursos em operações integradas de reabilitação urbana, em “áreas de reabilitação urbana”, cuja delimitação incumbe aos municípios consultado o Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, intensificando-se aqui os apoios fiscais e financeiros; - Diversificar os modelos de gestão das intervenções, abrindo novas possibilidades de intervenção dos proprietários e de outros parceiros privados; - Criar mecanismos que permitam agilizar os procedimentos de controlo prévio das operações urbanísticas de reabilitação; - Desenvolver novos instrumentos que permitam equilibrar os direitos dos proprietários com a necessidade de remover os obstáculos à reabilitação associados à estrutura de propriedade de áreas; Para as áreas de reabilitação urbana são definidos dois tipos de operações de reabilitação urbana que podem ser promovidos pelos municípios através da definição destas zonas ou por aprovação de um plano de reabilitação urbana. A operação de reabilitação simples e a sistemática; as operações simples dizem respeito apenas à reabilitação do edificado, a sistemática consiste numa intervenção integrada de uma determinada área, dirigida ao edificado, qualificação das infra-estruturas, dos equipamentos e dos espaços verdes e urbanos de utilização colectiva, e surge associado a um programa de investimento público. São também definidos os modelos de execução das operações de reabilitação urbana, que podem ser por iniciativa dos particulares com o apoio das entidades gestoras, através de administração conjunta, ou por iniciativa das entidades gestoras, 22 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 que podem assumir a sua execução directa, por administração conjunta e através de parcerias com entidades privadas, podendo aqui ser concessionada reabilitação ou por contrato de reabilitação urbana. Os Planos de Pormenor de Reabilitação Urbana regulamentados no regime jurídico dos instrumentos de gestão do território, Decreto-lei 380/99 de 22 de Setembro, funcionamento como instrumento de programação das áreas de reabilitação urbana, definindo os tipos de intervenção, enquadramento nas opções de desenvolvimento urbano do município e por último a estratégia de intervenção. O município pode assumir por si a gestão das operações de reabilitação urbana ou definir como entidade gestora uma empresa do sector empresarial local, nomeadamente uma sociedade de reabilitação urbana. Neste regime jurídico da reabilitação urbana a entidade gestora pode impor aos proprietários de um edifício ou de uma fracção a obrigação de o reabilitar, determinando a realização e o prazo para a conclusão das obras, bem como os trabalhos a realizar para restituição aos edifícios das características de desempenho e segurança funcional, estrutural e construtiva, de acordo com os critérios de necessidade, adequação e proporcionalidade. Caso os proprietários não procedam às obras no prazo e condições definidas pela entidade gestora, esta toma posse administrativa dos edifícios ou fracções para dar execução às obras determinadas, com custo imputados aos privados. Neste caso pode ainda a entidade gestora proceder à venda forçada em hasta pública dos edifícios ou das fracções autónomas, caso o proprietário não proceda às obras ou tenha respondido a notificação dizendo que não podem ou não querer proceder as referidas intervenções. No caso da hasta pública, o arrematante assume o compromisso de reabilitar no prazo anteriormente definido para o proprietário, contado a partir da data da arrematação. À entidade gestora é concedido ainda o direito de realizar uma empreitada única de reabilitação de um conjunto de edifícios, ou a ordenação de demolição de edifícios aos quais faltem os requisitos de segurança e salubridade indispensáveis ao fim a que se destinam e onde a reabilitação se mostre técnica e financeiramente inviável. É concedido à entidade gestora o direito de preferência nas transmissões a título oneroso entre particulares de terrenos, edifícios ou fracções situados em áreas de reabilitação urbana, reservando-se em primeiro lugar ao vendedor e em segundo 23 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 ao comprador o direito de reversão do bem depois da intervenção anteriormente definida, ou o direito de preferência na primeira alienação do bem. No caso das empreitadas únicas, considerando que o imóvel se mantém em propriedade dos privados, este deve no prazo máximo de 4 meses após a conclusão da obras ressarcir a entidade gestora de todas as despesas incorridas, ou colocar o imóvel no mercado de arrendamento pelo prazo mínimo de 5 anos afectando as rendas ao ressarcimento das mesmas despesas, caso contrários a entidade gestora procederá ao arrendamento do mesmo, pelo período de 5 anos, mediante concurso público. A identificação dos edifícios a integrar na operação de reabilitação urbana compete à entidade gestora com base nos níveis de conservação nos termos do Novo Regime do Arrendamento Urbano, Lei 6/2006 de 27 de Fevereiro. Em relação ao financiamento das intervenções, o estado pode conceder apoios financeiros e outros incentivos aos proprietários e a terceiros que promovam as acções de reabilitação de edifícios e no caso de operação sistemáticas, bem como às entidades gestoras. Os municípios podem conceder apoios financeiros às intervenções de reabilitação urbana, podendo ser concedidos aos proprietários, às entidades gestoras das operações de reabilitação urbana e a terceiros que promovam as mesmas acções, incluindo a dinamização e modernização das actividades económicas. As entidades gestoras podem contrair empréstimos a médio e longo prazo destinados ao financiamento das operações de reabilitação urbana, com autorização do ministro responsável pela tutela das finanças. È ainda concedida a possibilidade de constituição de fundos de investimento imobiliário para a execução destas intervenções, podendo a subscrição das unidades de participação ser feita em dinheiro ou através da entrega dos prédios ou de fracções a reabilitar. 3.4. AS SOCIEDADES DE REABILITAÇÃO URBANA A possibilidade de constituição de sociedades de reabilitação urbana foi concedida aos municípios pelo decreto-lei 104/2004, ficando com a competência de política administrativa, de expropriação e de licenciamento dentro das áreas de intervenção, possuindo os seguintes princípios: 24 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 - A reabilitação urbana é da responsabilidade dos municípios, concedendo aos municípios a possibilidade de constituírem sociedades de reabilitação urbana; - Os poderes públicos têm de ter meios efectivos de intervenção; - Controlo por parte dos poderes públicos de todo o procedimento de reabilitação; - Ponderação dos direitos e obrigações dos proprietários e do equilíbrio na protecção dos direitos dos arrendatários, cabendo aos proprietários a promoção da reabilitação dos seus imóveis. - Incentivos económicos à intervenção dos promotores privados no processo de reabilitação, através de contratos reabilitação urbana entre as SRU e os promotores privados. - Celeridade processual de decisão e aprovação dos licenciamentos, recorrendo sempre que necessário ao deferimento tácito. As SRU dentro das funções de promoção e coordenação da reabilitação urbana das respectivas zonas de intervenção cabe-lhe: licenciar e autorizar as operações urbanísticas, expropriar os bens imóveis e os direitos a eles inerentes destinado à reabilitação urbana, bem como servidões administrativas para os mesmos fins, proceder a operações de realojamento e fiscalizar as obras de reabilitação urbana, funções que até se encontravam dentro da esfera de acção dos municípios, mas que transitaram automaticamente para as SRU, bem como as operações de reabilitação urbana dentro das zonas de intervenção, definida no âmbito da constituição da Sociedade de Reabilitação Urbana. As zonas de intervenção sujeitas a reabilitação são definidas no acto ou contrato de constituição, podendo ser alteradas por deliberação da Câmara Municipal ou no caso de SRU, detidas maioritariamente pelo estado, por portaria conjunta dos Ministérios das Finanças, Obras Públicas, Transportes e Comunicações, e das Cidades e Ordenamento do Território sob proposta das Câmaras Municipais. Após a definição das zonas de intervenção, as SRU devem definir as unidades de intervenção, que poderá ser um quarteirão, pátio ou rua, podendo corresponder em casos específicos a um edifício. As operações urbanísticas executadas pelas SRU estão apenas isentas dos processos de licenciamento e autorização definidos no Regime Jurídico da Urbanização e Edificação, estando apenas sujeitas a aprovação simples pela Câmara 25 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Municipal, após audição das entidades exteriores ao município que devem ser consultadas. Em relação às operações promovidas pelos privados estão sujeitas a licença ou controlo prévio estejam ou não sujeitas a Plano de Pormenor, havendo lugar no caso dos licenciamentos às consultas às entidades exteriores, sendo os prazos reduzidos de pronúncia reduzidos para metade, sendo considerado parecer favorável na ausência de resposta. Finda a reunião de todos os elementos a SRU decide sobre o licenciamento no prazo de 20 dias, no caso da SRU e a Câmara Municipal entenderem ser necessária a elaboração de um Plano de Pormenor para as operações de reabilitação urbana, este ficará sujeito à modalidade simplificada. No âmbito dos procedimentos de Reabilitação Urbana, as operações urbanísticas devem ser levadas a cabo pelos proprietários e demais titulares de direitos sobres os imóveis, com o apoio das SRU na preparação e execução das acções de reabilitação. Ainda no âmbito da definição das unidades de intervenção, a SRU elabora um documento estratégico onde são definidos os edifícios e as extensões das intervenções previstas, com a identificação dos proprietários, de outros titulares de direitos sobre os imóveis e arrendatários, por exemplo. Com esta informação o documento estratégico deve prever um projecto base de intervenção, onde são explicadas as decisões tomadas e as devidas ponderações dos interesses públicos, compatibilizando nas unidades de intervenção: habitação, acessibilidades, equipamentos, infra-estruturas, e espaço público. Após a identificação das necessidades de intervenção, os proprietários e demais titulares de direitos reais sobre os imóveis, são notificados para promoverem a dinamização do processo e assumir a responsabilidade da reabilitação. No caso das propriedades identificadas para darem lugar a arruamentos e equipamentos públicos, segue-se de imediato o processo de negociação de aquisição da propriedade e caso seja necessário o avanço para a expropriação. Ao proprietário, a SRU pode conceder a possibilidade de celebração de um contrato de urbanização em três moldes distintos: - O proprietário compromete-se a reabilitar os prédios assumindo prazos para a autorização ou licenciamentos e respectivas obras; - Acordar com a SRU os termos da reabilitação do edifício e encarregando-a do processo de reabilitação, assumindo o proprietário os custos de uma comissão de 26 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 gestão a pagar à SRU, apenas para compensação dos custos e não com objectivo de obtenção de lucro. - No caso das obras serem em zonas comuns dos edifícios os respectivos encargos serão das assembleias de condóminos. No caso de falta de acordo dos proprietários com as SRU, sobre as fracções ou espaços comuns, a SRU pode assumir directamente a reabilitação adquirindo as propriedades daqueles que não assumem esse compromisso, podendo, caso se revele necessário, proceder à expropriação dos imóveis ou fracções, sendo consideradas ao abrigo do código das expropriações considerados os imóveis ou fracções de utilidade pública. No caso dos procedimentos de expropriação dos imóveis, fracções ou servidões de utilidade pública, as expropriações assumem carácter de urgência, podendo as SRU tomar posse imediata do imóvel, sendo os valores calculados com base no valor real dos imóveis no mercado, sem a contemplação de mais-valias da reabilitação da zona de intervenção e já realizadas no próximo imóvel. No caso de imóveis arrendados anteriores à 1990, o valor a considerar no cálculo do valor da indemnização incide sobre as rendas de mercado e não das efectivamente recebidas pelo proprietário. Depois dos imóveis e fracções reabilitadas, os antigos proprietários dos bens expropriados têm direitos de preferência sobre os imóveis, tendo o antigo proprietário de ser notificado da venda, com indicação do preço proposto base, e sobre o qual o proprietário pode usar esse mesmo direito. No caso dos arrendatários, a expropriação faz caducar os arrendamentos, podendo, no caso da intervenção nos imóveis, manter fracções destinadas a habitação, os arrendatários podem optar pela suspensão do contrato durante o período das intervenções, sujeitando-se ao regime de actualização das rendas, ou manter o contrato, aceitando a actualização das rendas no caso da desocupação da fracção não ser necessária, transitando nestes casos o contrato de arrendamento dos proprietários para a SRU. Num cenário em que as fracções reabilitadas se mostrem insuficientes ao número de arrendamentos, estas serão ocupadas primeiramente por idosos, seguidos dos arrendatários com rendimentos mais baixos e em igualdade de circunstâncias pela antiguidade dos contratos de arrendamento. Para os arrendatários não habitacionais, como podem ser as fracções comerciais, e que após a intervenção mantenham a função comercial, o arrendatário 27 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 vê os seus direitos seguros com o pedido de indemnização por caducidade do arrendamento, ou mediante a celebração de um novo contrato após a intervenção, sem prejuízo da interrupção da actividade durante as operações de reabilitação. O regime das Sociedade de Reabilitação Urbana prevê os contratos com parceiros privados, tal como previsto nas parcerias a celebrar no âmbito do Masterplan de Revitalização da Baixa do Porto. Com estes parceiros as SRU’s podem celebrar contratos em que ficam encarregados de executar a reabilitação de uma ou várias unidades de intervenção, ou apenas uma parte. No caso destas parcerias público privadas, os parceiros são escolhidos por concurso público, cumprindo-se todos os preceitos legais, podendo recorrer a SRU ao ajuste directo no caso de não apresentação de propostas no âmbito do concurso público, podendo, neste caso, a própria intervenção ser assumida pela SRU. Para os parceiros privados, a SRU atribui, através de contratos de reabilitação, as próprias intervenções bem como os direitos de comercialização e obtenção dos respectivos proveitos, podendo também ficar acordado a compra da totalidade ou parte dos imóveis, bem como a venda dos mesmos por conta da SRU, uma vez que a propriedade, apenas passará para posse dos privados após a conclusão das obras de reabilitação dos mesmos. O contrato de urbanização define a quem cabem todas as responsabilidades de aquisição ou expropriação dos imóveis, pagamento das indemnizações, responsabilidade da constituição dos processos de licenciamento, prazos e obrigações, eventuais realojamentos temporários de ocupantes e todas as garantias necessárias à execução da intervenção. Um outro aspecto que é permitido neste regime de reabilitação urbana, é a constituição de fundos imobiliários fechados, sendo permitida a subscrição de unidade de participação nos fundos em dinheiro, prédios ou fracções a reabilitar nas zonas de intervenção, sendo o valor dos imóveis definidos pelas entidades gestoras dos fundos com base em duas avaliações acreditadas para o efeito. 3.5. AS PARCERIAS PÚBLICO PRIVADAS As parcerias público privadas surgiram em função da limitação dos recursos públicos e com os requisitos cada vez mais exigentes, definindo este modelo de contratação pública como uma relação comercial entre o público e o privado, onde se partilham riscos, benefícios e responsabilidades (Marques e Silva, 2008). 28 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Para os mesmos autores, o livro verde da Comissão Europeia (COM327/2004) uma PPP (parceria público privada) pode ser definida como “ a forma de cooperação entre as autoridades públicas e as empresas, tendo por objectivo assegurar o financiamento, a construção, a renovação, a gestão ou a manutenção de uma infraestrutura ou a prestação de um serviço”, podendo os contratos possuir longos períodos de tempo, como garantia das necessidades colectivas e obtenção dos objectivos inicialmente definidos. A opção por uma PPP em detrimento dos tradicionais modelos de contratação pública, em que a administração pública assume todas as responsabilidades, apresenta várias vantagens, como a partilha dos riscos dos investimentos, das responsabilidades, o aumento dos níveis de infra-estruturação e serviços prestados a um custo inferior se o projecto fosse prestado pela entidade pública, com ganhos de eficiência e de eficácia obtidos pelo sector privado. Com este modelo o value for Money é aumentado na prestação dos serviços públicos por PPP. As PPP requerem um processo cuidado de preparação, com a identificação das necessidades e níveis do serviço prestado e qual virá a ser o nível de exigência. Estes paramentos por vezes são de definição complexa num processo de concurso, o que faz com que fiquem por vezes parâmetros por definir ao longo dos períodos de funcionamento, podendo, nessa altura, uma má definição dos valores iniciais condicionar e levar à necessidade do reposicionamento do equilíbrio económicofinanceiro com graves penalizações para o parceiro público. Normalmente, as PPP podem ser de dois tipos segundo o direito comunitário. As PPP são meramente contratuais, em que o sector público coopera com o sector privado dentro de moldes exclusivamente contratuais, havendo ainda o modelo institucional, em que a cooperação entre o sector público e o privado assenta numa terceira entidade de que ambos fazem parte. O primeiro modelo é normalmente utilizado pela administração central do estado, enquanto que o segundo é mais recorrente com os municípios, com a constituição de empresas mistas para prestação de serviços (Reabilitação urbana, águas, resíduos sólidos, por exemplo). Segundo os autores, o sucesso de uma PPP depende da forma como a matriz inicial de riscos e benefícios é definida, bem como do seu conhecimento público. Também (Vazquez, 2002) alerta para as debilidades das PPP, sobretudo no âmbito da Reabilitação urbana, referindo que as PPP são “encaradas como um ‘método’ para aceder a meios diversificados de financiamento, assim como um 29 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 ‘modelo de gestão’ para resolver dificuldades associadas às desiguais competências do poder central e local”, podendo ser um modelo de acção para integrar os mecanismos complexos que os problemas de reabilitação urbana acarretam, num sistema de resolução em que o poder local pode encontrar sem o apoio do poder central. Segundo Breda, em Portugal este modelo de contratação pública ainda não foi muito usado na resolução dos problemas de reabilitação urbana, dada a complexidade dos problemas, de ponderação dos riscos e benefícios. Não sendo possível à partida construir e apresentar uma matriz do investimento, as PPP que se vão constituindo neste âmbito, são casos pontuais, focalizados em intervenções em zonas históricas, em que é incentivada a recuperação de prédios nessas zonas em associação com promotores privados, ficando estes depois com os lucros da comercialização, ou até mesmo a cedência de edifícios municipais devolutos, apenas para que a sua reabilitação seja executada sem os custos de aquisição e recuperação de prédios em zonas críticas. 3.6. MECANISMOS DE FINANCIAMENTO Desde 1988 que Portugal, dentro dos fundos comunitários desenvolveu alguns programas de apoio à reabilitação urbana. Os resultados não foram os esperados ou pelo menos os necessários, como os programas RECRIA, RECRIPH, SOLARH. REABITA, isto para as habitações e o PRAUD para a administração pública. O RECRIA (Regime de comparticipação na recuperação de imóveis arrendados) visa financiar apenas a obras de conversação e beneficiação, que permitam a recuperação de fogos e imóveis em estado de degradação e que estejam arrendados O RECRIPH (regime de comparticipação e financiamento na recuperação de prédios urbanos em regime de propriedade horizontal) permite o financiamento da execução das obras nas partes comuns dos edifícios assim constituídos em regime de propriedade horizontal, e onde a reabilitação destes espaços seja necessária e ainda de forma a garantir a adequação do prédio às medidas cautelares de segurança contra incêndio em centros urbanos antigos, aprovadas pelo Decreto-lei n.º 426/89 de 6 de Dezembro. O REHABITA (Regime de Apoio à Recuperação Habitacional em Áreas Urbanas Antigas), consiste numa extensão do RECRIA para apoio às Câmaras 30 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Municipais na recuperação de zonas urbanas antigas em conjunto com o IHRU (Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana) Por último o SOLARH permite a concessão de empréstimos sem juros pelo UHRU para a realização de obras de conservação em habitações permanentes, em habitações devolutas em que sejam os municípios proprietários, pessoas colectivas de utilidade pública e administração, cooperativas de habitação e construção, e até mesmo habitações devolutas de que sejam proprietárias pessoas singulares. O PRAUD (Programa de Recuperação de Áreas Urbanas Degradadas) dá apoio financeiro aos municípios para operação de renovação nas ACRRU, através dos programas da União Europeia como o URBAN PILOTS PROJECTS , URBAN I e URBAN II, bem como outros mais vocacionados para a revitalização comercial nos centros das cidades como o PROCOM E URBCOM, estando sob gestão da Direcção Geral de Ordenamento do território e Desenvolvimento Urbano. Mas, apesar do já considerável período de tempo de funcionamento destes programas, os seus resultados não foram consideráveis (Vazquez, 2002). Estes programas são de natureza muito pontual e desarticulada com objectivos muito desiguais no que concerne à política pública de reabilitação urbana, dada a sua acção pontual e não numa área mais vasta em simultâneo, podendo cada uma das incitativas ser levadas a cabo pontualmente. Recentemente, foi lançada iniciativa JESSICA (Joint European Support for Sustentaible Investment in City Areas), que permite aos estados membros utilizarem as verbas atribuídas pelos fundos estruturais, nomeadamente o FEFER, para a criação de fundos de desenvolvimento urbano de apoio a operações sustentáveis de reabilitação urbana, com o apoio do BEI para o financiamento e consultadoria dos projectos. A iniciativa Jessica (DG Regio, 2008) é promovida pela Comissão Europeia e pelo BEI, vocacionada para os estados membros, regiões, cidades, bancos, investidores que tenham como objectivo a promoção de projectos sustentáveis a longo prazo que visem o desenvolvimento urbano, económico, a competitividade e a modernização do mercado financeiro. Os projectos que poderão ser alvo de financiamento pela iniciativa Jessica, têm de conter medidas para reduzir a dispersão urbana, de forma a equilibrar o uso eficaz dos serviços públicos, habitações, comércio, emprego e equipamentos de lazer. Um dos objectivos é também a promoção da interacção entre os cidadãos e participação de todos na vida social, e ainda fazer deslocalizar os investimentos de 31 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 espaços nos centros históricos desocupados ou com utilização inadequados, em detrimento de zonas ainda não urbanizadas. As zonas alvo de intervenções apoiadas pela iniciativa Jessica têm que ter um plano integrado local ou regional de reabilitação urbana, com a viabilidade financeira garantida (Turró, 2008). Neste plano integrado, a zona de intervenção deve estar bem identificada com os mecanismos de regulação do uso do solo, integrados na gestão da estratégia urbana e com os objectivos a cumprir claramente definidos, em todas as propostas de intervenção definidas quer ao nível público quer privado. Por último, o plano de intervenção tem que conter uma avaliação ambiental com as medidas correctivas que se mostrem necessárias, justificando-se também a avaliação sócio-económica, onde os mecanismos ou acções para obtenção dos efeitos sociais desejados sejam possíveis, como a criação de emprego, por exemplo. O plano de intervenção, contempla a programação financeira da intervenção com as componentes públicas e privadas, bem como os custos de manutenção, sendo a viabilidade dos investimentos garantida a longo prazo. Figura 1 – Organograma de funcionamento da Iniciativa Jessica (Turró, 2008) As intervenções passam pela constituição de fundos de participação (Holding Fundos) que por sua vez investem nos fundos de desenvolvimento urbano. São 32 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 entidades que são constituídas para receberem o financiamento da iniciativa Jessica e de outros participantes públicos e privados. Este fundos de participação possuem um contrato com a autoridade de gestão, que definem os princípios da sua acção e modo de funcionamento. Competem-lhes todas as decisões directamente ligadas com a gestão dos fundos e investimentos, uma vez que, com esta iniciativa se procura incentivar um novo segmento de mercado de investimentos, dado que, as PPP são instrumentos de excelência, com financiamento comunitário, permitindo aos privados e investidores assumir um papel mais activo na reabilitação urbano vendo o risco de investimento reduzido pelos incentivos e apoio ao sector público. 3.7. INCENTIVOS FISCAIS Em Dublin e Berlim, os mecanismos de incentivo fiscal foram também usados como formas de impulsionar a reabilitação urbana e são também indicados nos Masterplan de Revitalização da baixa do Porto, segundo o indicado nos capítulos seguintes. Neste momento, em Portugal já se encontram em vigor alguns incentivos fiscais, que incidem sobre o Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI), Imposto sobre Rendimento Singular (IRS) e Imposto sobre Rendimento Colectivo (IRC). Em relação ao IVA o Código do IVA, com a redacção dada pelo Decreto-lei 186/2009, prevê que “As empreitadas de construção, beneficiação ou conservação de imóveis realizadas no âmbito do Regime Especial de Comparticipação na Recuperação de Imóveis Arrendados (RECRIA), do Regime de Apoio à Recuperação Habitacional em Áreas Urbanas Antigas (REHABITA), do Regime Especial de Comparticipação e Financiamento na Recuperação de Prédios Urbanos em Regime de Propriedade Horizontal (RECRIPH) e do Programa SOLARH aprovado pelo Decreto-Lei nº 7/99, de 8 de Janeiro” estejam sujeitas a uma taxa de IVA reduzida de 5%, constituindo assim um incentivo fiscal, uma vez que submete as empreitadas apenas à taxa reduzida. A última redacção do Estatuto dos Benefícios Fiscais dada pela Lei 10/2009 de 10 Março, no artigo 41º são definidos os incentivos fiscais de reabilitação urbana, no âmbito do IMI, IMT, IRS e IRC. 33 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Em relação ao IMI é possível a isenção deste imposto por um período de cinco anos, a contar do primeiro ano e a partir da conclusão da operação de reabilitação, podendo ser renovada por um período de cinco anos. Um outro incentivo fiscal sobre a propriedade imobiliária, é a isenção de IMT nas aquisições de um prédio ou fracção urbana, destinado a habitação própria e permanente na primeira transmissão onerosa do prédio urbano reabilitado quando localizado em “área de reabilitação urbana”. Em relação ao IRC, são isentos os rendimentos de qualquer natureza obtidos por fundos de investimento imobiliário constituídos entre 1 de Janeiro de 2008 e 31 de Dezembro de 2011, caso os seus activos sejam constituídos pelo menos por 75% imóveis submetidos a operações reabilitação urbana em zonas definidas para o efeito, sendo apenas sujeitos a retenção na fonte à taxa de 10%. São dedutíveis à colecta em sede de IRS, até ao limite de 500€, 30% dos encargos suportados pelo proprietário, relacionados com a reabilitação de imóveis localizados nas áreas de reabilitação urbana ou imóveis arrendados cujos valores das rendas sejam actualizados no âmbito do Novo Regime Jurídico do Arrendamento Urbano (Lei 6/2006 de 27 de Fevereiro), que sejam alvo de intervenções de reabilitação. Reduzidas para 5% as mais-valias da alienação dos imóveis auferidas por sujeitos passivos de IRS, no caso de imóveis situados em áreas de reabilitação urbana, bem como os rendimentos prediais do arrendamento dos imóveis, nas mesmas condições das deduções à colecta, em sede de IRS. Para o efeito, o Estatuto dos Benefícios Fiscais define ‘Área de reabilitação urbana' como a área territorialmente delimitada, compreendendo espaços urbanos caracterizados pela insuficiência, degradação ou obsolescência dos edifícios, das infra-estruturas urbanísticas, dos equipamentos sociais, das áreas livres e espaços verdes, podendo abranger designadamente áreas e centros históricos, zonas de protecção de imóveis classificados ou em vias de classificação, nos termos da Lei de Bases do Património Cultural, áreas urbanas degradadas ou zonas urbanas consolidadas; A delimitação das áreas de reabilitação urbana para efeitos do presente artigo é da competência da Assembleia Municipal, sob proposta da Câmara Municipal, obtido parecer do IHRU, I. P., à excepção dos imóveis localizados numa área classificada como área crítica de recuperação ou reconversão urbanística (ACRRU), em que não há lugar à emissão do parecer do IHRU. 34 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 3.8. NOVO REGIME DE ARRENDAMENTO URBANO O recentemente publicado Decreto-Lei 306/2009 de 23 de Outubro que alterou o Novo Regime do Arrendamento Urbano, Decreto-lei N.6/2006 de 27 de Fevereiro, veio dar resposta à necessidade de actualização das rendas dos imóveis arrendados, hipótese que estava condicionada e limitada. O presente diploma assegura a compatibilização entre o novo regime da reabilitação urbana e o regime aplicável à denúncia ou suspensão do contrato de arrendamento para a demolição ou realização de obras de remodelação ou restauros profundos. Assim, é possível a denúncia ou suspensão do contrato de arrendamento, para a demolição ou realização de obras de remodelação ou restauro profundos, em áreas de reabilitação urbana, sendo o proprietário a obrigado de efectuar as obras necessárias à manutenção do estado de conservação do prédio arrendado no âmbito do regime jurídico da urbanização e edificação e regime jurídico da reabilitação urbana. Quando o senhorio pretenda realizar obras de remodelação ou restauro profundas, pode haver lugar à denuncia do contrato ou suspensão da sua execução pelo período de decurso das mesmas, sendo a suspensão obrigatória quando as obras implicam a inexistência de condições de habitabilidade no locado durante a obra ou no caso de demolição do locado, No caso da denúncia do contrato de arrendamento, o senhorio é obrigado ao pagamento de uma indemnização ou à garantia de realojamento do arrendatário por um período não inferior a 5 anos, este realojamento têm que ser feito no mesmo concelho em condições análogas às que ele já detinha, quer quanto ao local quer quanto ao calor da renda e encargos. Em relação à suspensão dos contratos de arrendamento, o senhorio fica obrigado a proceder ao realojamento dos arrendatários durante o período de suspensão, aplicando-se as mesmas condições exigidas para o realojamento no caso de renúncia do contrato. A parte mais relevante desta alteração ao Novo Regime do Arrendamento Urbano é a definição de regras de actualização das rendas para os senhorios que realizem obras de reabilitação ou que participem em operações urbanísticas de reabilitação nos três anos antes de proceder à actualização da renda anual tendo por base a seguinte formula: R=VPCxCCx4% em R é o valor da renda anual, VPC é o 35 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 valor patrimonial corrigido de acordo com avaliação feita no âmbito do Código do Imposto Municipal sobre Imóveis e CC é o coeficiente de conservação definido no Novo Regime de Arrendamento Urbano. 36 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 4. ALGUNS EXEMPLOS DE INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO URBANA 4.1. O CASO DE DOMINICK STREET EM DUBLIN 4.1.1. CAUSAS IDENTIFICADAS DO PROBLEMA A cidade tem actualmente cerca de 500.000 habitantes, numa área de 114 km2, distribuídos por 5 zonas distintas. No primeiro quartel do século XX residiam no centro de Dublin cerca de 64% da população total das cidades, tendo-se iniciado a partir daí o processo de decadência e desertificação da zona central da cidade, com a saída das classes mais abastadas para novas áreas de expansão da cidade, localizadas na coroa exterior ao centro. Seguiu-se a saída da classe média, aquando da melhoria das relações de mobilidade nas várias zonas da cidade (Adair e al, 1994). Figura 2 – A cidade de Dublin (Dublin City Development Plan 2005-2011; Volume 1 Written Statement) Em consequência desta fuga desde os anos 20, a zona central da cidade iniciou um processo gradual de degradação física e social, levando a uma mudança radical da estrutura demográfica e económica. Os edifícios, que até agora eram habitacionais foram ocupados por funções comerciais e de serviços, era como que esta zona tivesse vida nas horas de trabalho e se desertifica-se durante a noite. 37 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Este processo foi continuando, segundo o mesmos autor, entre 1961 e 1981, O centro da cidade perdeu 39% da população, perdendo-se cerca de 18.500 habitações antigas, destas apenas houve a construção/recuperação de 3.400 com intervenção do sector público. Com base num estudo (Kitchen, 2002) que identifica as mudanças sociais na cidade de Dublin no período entre 1986 e 1996, refere que na década de 90 esta cidade sofreu uma mudança social sem precedentes com implicações no âmbito económico, social e sobretudo ao nível demográfico. Estas mudanças foram no espectro positivo com novos investimentos, ao nível da indústria, comércio e serviços. Estas situações levaram à criação de novos empregos e melhores salários, o que levou a que a população urbana tivesse de assumi-se uma postura de migração. Para o mesmo autor, as taxas de urbanização são claramente um factor de mudança social e económica, factores que foram analisados com base nos resultados do recenseamento da população da cidade de Dublin de 1986 e de 1996. A cidade de Dublin é dividida em 4 zonas, sendo o centro urbano Dublin County Borough e as regiões periféricas são Fingal, South Dublin e Dun Laoghaire-Rathdown. Figura 3 – Região urbana de Dublin com indicação dos Municípios e Distritos. (Kitchen, 2002) 38 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Peter Kitchen refere o conceito de “Slum City” explicado por Horner em 1999, este conceito caracteriza cidades que possuam um centro urbano pobre e densamente povoado, fenómeno que aconteceu em Dublin até à década de 50, em que se formou um anel de bairros suburbanos em redor de uma área já lotada. Ora, com este período na década de 80 e 90, com a rápida expansão urbana, provocada pela construção de novas estradas, a estrutura residencial e comercial foi progressivamente empurrada para as franjas da cidade. O interior da cidade de Dublin tem sofrido mudanças consideráveis. Estas mudanças são o resultado de vários anos de carências sociais e urbanas, associadas também à degradação e sobrecarga das infra-estruturas. Na tabela seguinte, apresenta-se a distribuição da população da cidade de Dublin no período de 1986 a 1996. Apesar do curto período de análise, dá para se perceber quais os fluxos migratórios da população neste período. Zona 1986 1996 Variação Dublin County Borough 502.749 481.854 -4,2% South Dublin 199.546 218.728 9,6% Fingal 138.479 167.683 21,1% Dun Laoghaire-Rathdown 180.675 189.999 5,2% 1.036.449 1.058.264 3,6% Total Tabela 4 – Repartição da população da cidade de Dublin (Kitchen, 2002) Os resultados aqui apresentados, denotam a tendência para a mudança na estrutura demográfica da cidade, verificando-se uma redução da população no centro de Dublin, num território que, a ver pelas referências utilizadas por Peter Kitchen, era caracterizado por ser um espaço densamente povoado, face ao crescimento das restantes zonas. No mapa que representa a variação da população por bairro, o autor indica que, o crescimento da população nas zonas em que se verifica este comportamento é nas classes etárias dos 15-24 e dos 45-64, enquanto que, ao mesmo tempo há uma diminuição de outros dois grupos etários dos 0-14 e dos 25-44. Este comportamento é mais visível em South Dublin e em Fingal, enquanto que em Dun Laoghaire-Rathdown e sobretudo em Dublin County Borough se acentua a diminuição da população, com especial incidência nas classes 15-24 e 45-64, curiosamente as mesmas classes cujo aumento se verifica nas duas outras grandes zonas. 39 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 FIGURA 4 – Mudanças demográficas 1986-1996 (Kitchen, 2002) O desinteresse do sector privado no investimento nas zonas degradadas no centro da cidade de Dublin (Adair et al, 1994), deveu-se fundamentalmente a 3 factores : - Estrutura fundiária muito repartida e fragmentada com vários proprietários, o que dificulta o emparcelamento, levando a problemas graves de aquisição de vários lotes urbanos, aumentando assim os custos de aquisição, o que reduz o lucro e agravando a viabilidade dos investimentos face a zonas livres e de expansão urbana nos subúrbios da cidade. - O carácter histórico do centro com interesse arqueológico, que poderia levar a que os investimentos tivessem de ser interrompidos por tempo indefinido, necessário ao estudos do local, podendo condicionar assim a possibilidade de construção. 40 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 - A não compatibilização de todas as entidades públicas que possuíam interesses no centro da cidade, fazia com que a inversão dos ciclos de degradação ambiental e social fosse complicada, desencorajando assim as incitativas de investimento. Ora, esta situação aqui descrita fez com que o governo irlandês fosse capaz de dar uma resposta concreta e eficiente, de forma a inverter os ciclos e a criar um clima de confiança nos investimentos. As intervenções que o governo irlandês foi propondo tiveram como unidade de intervenção, o quarteirão. Para isto o governo definiu zonas urbanas a que chamou Disadvantaged Areas, para as quais foi estabelecendo propostas de intervenção concretas. 4.1.2. POLÍTICAS DE REABILITAÇÃO URBANA Na cidade de Dublin, as políticas de renovação urbana desenvolvem-se em duas frentes no âmbito político. Uma primeira que criou um conjunto de instrumentos fiscais de apoio à reabilitação urbana e um segundo que define quais os tipos de intervenção e as formas como serão feitas. O conjunto de instrumentos fiscais de incentivo à reabilitação urbana implementados em Dublin, dividiram-se em dois diplomas: o Urban Renewal Act e o Finance Act, ambos de 1986, tendo-se estes dois diplomas centrado nos proprietários e ocupantes com a consciência que os potenciais investidores seguem as tendências deles. Estes dois diplomas criaram três pacotes de incentivos o Capital Alowance vocacionado para os proprietários e ocupantes, o Section 23, destinado a proprietários e senhorios e por último o double rent allowance para os inquilinos. O Capital Alowance incidia sobre o valor das obras de construção ou recuperação de edifícios localizados nas áreas identificadas como críticas, enquanto que, o Section 23 e o Double Rent Allowance, incidiam sobre o arrendamento urbano. O primeiro sobre a taxação do arrendamento dos imóveis, quando estes não eram a habitação principal dos arrendatários, e a possibilidade de declaração do dobro da renda para os inquilinos no caso de imóveis reconstruído ou em zonas elegíveis. Estes incentivos fiscais foram sendo revistos ao longo dos anos, estando actualmente em vigor a terceira revisão, uma vez que os diplomas iniciais vigoraram 41 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 de 1986 a 1994, sendo a primeira revisão feita em 1994, que vigorou até 1999, e por fim a terceira revisão que ainda se encontra hoje em vigor, para as zonas identificadas e com critérios mais apertados, tendo já o Double Rent ter sido revogado por imposição da comissão europeia. O Capital Allowance incentivava a construção e recuperação de edifícios nas Disadvantaged Areas, com a dedução dos custos de intervenção nos impostos sobre os rendimentos ao longo de período de tempo, conforme as necessidades dos espaços. Os tipos de incentivos e limites do mesmo, dependem do tipo de investimento e da sua localização e acabam por ser definidos em função das necessidades das zonas em que são aplicáveis. Destino do Imóvel Beneficiário Investimento Deduções no imposto sobre rendimento - 5% por ano até atingir 50% do Habitação investimento Proprietário- (construção e reconstrução) Ocupante - 10% por ano até atingir 100% do investimento (reabilitação) - 100% em depreciação livre Indústria e Proprietário- - 50% no primeiro ano, e 4% Comércio Ocupante anuais até perfazer 100% do investimento Parques de estacionamento e comércio anexo Construtor, Construção, operador, reconstrução ou proprietário reabilitação Investidor para arrendamento Residências para estudantes de idosos - 50% no primeiro ano, e 4% anuais até perfazer 100% do investimento - 50% no primeiro ano, e 4% anuais até perfazer 100% do investimento Construtor, operador, - 5% anuais ao longo de 10 anos proprietário Jardins de Infância, e lares - 100% em depreciação livre Investidor - 15% nos 6 primeiros anos e os restantes 10% no sétimo Tabela 5 – Aplicação dos incentivos fiscais em Dublin (Ribeiro,2005) 42 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 O Finance Act institui o regime de incentivos fiscais para o mercado do arrendamento urbano, através do Section 23, os proprietários-arrendatários de edifícios de uso habitacional podiam deduzir os seus investimentos até 100% do seu valor, deduzido o valor do terreno, nos seus rendimentos. Este tipo de incentivo é aplicável a projectos individuais (dentro das mesmas ocupações do Capital Allowance), que se candidatem à sua atribuição, em detrimento de áreas geográficas delimitadas. Os incentivos fiscais para investidores e ocupantes, apenas serão possíveis se forem criadas condições de atractividade, tais como infra-estruturas, qualidade de vida, reestruturação da estrutura fundiária e no caso de Dublin, pretendia-se a reversão de zonas no centro da cidade para habitação (Berry et al, 1996). Para os mesmos autores, a adopção de medidas de aceleração e o ritmo dos investimentos, foram fundamentais para ultrapassar as restrições dos processos de planeamento. Em Dublin, a entidade responsável pelo desenvolvimento dos projectos de reabilitação urbana é o Dublin City Council. Os projectos são concebidos em conjunto com a população sendo a forma de execução através de Parcerias Público Privadas (PPP). Com este tipo de intervenção, o Dublin City Council procura reestruturar toda a estrutura urbana do centro da cidade, impondo cotas de acesso às habitações, de forma a rejuvenescer o tecido social e económico dos quarteirões. Foram sento introduzidas também zonas comerciais e de serviços, de forma a transformar as actuais zonas degradadas, que por vezes acabam por ser bairros sociais camarários, em espaços atractivos, melhorando também a própria envolvente. Em Dublin, neste momento encontram-se em desenvolvimento três projectos de reabilitação urbana, St. Michael´s Estate, O’Devaney Gardens e Dominick Street. Analisando a intervenção em Dominick Street, constata-se que são três intervenções idênticas, sobre habitações sociais camarárias, cuja área se pretende rejuvenescer. O Dublin City Council, elege como objectivos das intervenções de reabilitação urbana a eficiência energética. Deste modo permite o acesso à habitação a classes mais desfavorecidas, tornando os espaços com mais pontos de interesse e ainda à captação de pessoas com funções como comércio e zonas públicas de lazer, tornando assim os bairros como espaços onde o viver e trabalhar se confundam. Para a compatibilização destes objectivos, foram criados órgãos com competência para produzir planos de intervenção, conjugando os anseios da 43 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 população com os da administração pública, a Special Housing Task Force, são-lhe atribuídas competências para decidir as formas de financiamento dos projectos, através de recurso a parcerias público privadas de intervenção no espaço público e privado. O estudo sobre a sustentabilidade das comunidades urbanas (European Regional Development Fund, 2005), definiu para Dublin alguns aspectos, cujas políticas de intervenção devem incidir a resolução de aspectos sobretudo sociais, tais como: - Emprego, formação e qualificação; - Limpeza, segurança, melhoria do espaço público e redução dos índices de criminalidade; - Oportunidade de desenvolvimento para crianças, jovens, melhores escolas e mais actividade de lazer e desportos; - Adaptação dos serviços públicos às necessidades da população local (emprego, minorias étnicas, pobreza) - Envolvimento da população nos processos de decisão. A Special Housing Taskforce (Dublin City Council, 2008) como metodologia de intervenção, começa por caracterizar o espaço e perceber qual a tipologia de uso definido para essa zona no Plano de Desenvolvimento da Cidade 2005-2011, seguindo a percepção de qual a estrutura demográfica da população residente e da envolvente. Neste âmbito a comunidade residente é ouvida e registada a sua opinião acerca do bairro, tendo em conta as suas necessidades A questão dos objectivos da administração pública são também registados, este tipo de intervenções são concertadas por toda a cidade, reestruturando o desenho e estrutura urbana. Se é um dos objectivos a gestão sustentável do território, as questões de mobilidade são consideradas assim como a forma como os espaços se conectam e a oportunidade que a envolvente possui de desenvolvimento das áreas críticas de recuperação urbana. Segundo o Relatório da Special Housing Taskforce para a intervenção em Dominick Street Lower, este bairro foi construído em 1750 como espaço de residência, tendo entrado em decadência. Seguiu-se um plano complexo das autoridades locais que aí construíram um bairro de habitação social em meados da década de 1960. O espaço de intervenção tem uma área de 1,24 ha, com oito blocos de cinco andares, com 198 unidades de habitação social. 44 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 5 – Aspecto actual de Dominick Street (Dublin City Council, 2008) Figura 6 - Desenho urbano em 1891 – 2008 (Dublin City Council, 2008) No Plano de Desenvolvimento da Cidade 2005-2011 (Dublin City Council, 2005) esta zona está destinada ao uso Z13, que é atribuído a zonas de implementação de acções de rejuvenescimento físico, económico e social, ou seja, esta designação remete para a importância de integrar propostas locais com a área envolvente, sendo necessária a introdução de serviços públicos de alta qualidade no processo de reabilitação urbana. 45 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 7 – Extracto da planta de zonamento do Plano de Desenvolvimento da Cidade de Dublin 2005-2011 (Dublin City Council, 2005) Em relação à admissibilidade de usos, a utilização da zona Z13, admite edifícios para a saúde, segurança e bem-estar público, guarda de crianças, espaços culturais, educação, escritórios, hotéis, indústria ligeira, habitação e comércio. A zona circundante ao quarteirão, que se estuda no plano de intervenção urbana, inclui zonas Z5 e Z8, sendo zonas de consolidação do centro da cidade e zonas de protecção o património arquitectónico, existindo também alguma predominância de zonas Z4, de uso misto comercial. Para a caracterização do espaço, o relatório incluiu a caracterização da estrutura demográfica e social da população. Este é um parâmetro considerado crucial para o sucesso do plano de regeneração, uma vez que as propostas de intervenção devem ir de encontro aos problemas sociais, tais como facilidades para pessoas idosas, crianças e adolescentes. Deve ser avaliada a relevância social destas classes etárias e também sociais, os dados apresentados são de acordo como o estudo censitário da população em 2006, usando como base de estudo a parte da Rua Dominick e a sua envolvente mais próxima. 46 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 6% 11% 21% 21% 0-14 15-24 25-39 40-64 41% >65 Gráfico 1 – Distribuição Etária da População de Dominick Street e espaço envolvente (com base Dublin City Council, 2008) Com base nos Censos de 2006, a zona eleitoral de que faz parte a Dominick Street, comporta um total de 2137 pessoas, distribuídos etariamente pelo gráfico anterior, pode assumir-se que a população maioritária desta zona encontra-se em idade activa de trabalho, este facto, pode dever-se ao facto de Dominick Street ser uma zona de habitação social, havendo a registar que cerca de um terço da população com idade inferior a 24 anos. Esta estrutura etária da população é idêntica à estrutura que a zona norte da cidade apresenta, denotando assim alguma homogeneidade na distribuição da população. O facto de se ter uma população jovem predominante, justifica uma intervenção mais vocacionada para este sector, com escolas, espaços de lazer, valorização do espaço público, por exemplo, para que esta população se fixe e o sentimento de vizinhança se instale e se intensifique em todas as classes etárias. DED Norte Dominick Street 0-14 11% 11% 15-24 21% 25% 25-39 41% 48% 40-64 21% 13% >65 6% 3% Tabela 6 – Distribuição etária da população em Dominick Street e no DED Norte (com base Dublin City Council, 2008) No relatório da intervenção na Rua Dominick, foi também analisada a situação socioeconómica da população com mais de 15 anos, com base nos resultados dos Censos para a zona norte da cidade de Dublin, tendo 60% dos habitantes declarado 47 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 que se encontram a trabalhar, reforçando assim a predominância de população em idade activa, havendo 8% de desempregados, 13% de estudantes e 7% de reformados. 1% 6% 7% A Trabalhar 3% À procura do primeiro emprego Desempregado 13% Estudante 8% 60% Doméstica Reformado 2% Invalido Outro Gráfico 2 – Estatuto económico da população com mais de 15 anos em Dominick Street e envolvente (com base Dublin City Council, 2008) Caracterizada a estrutura social de Dominick Street, o relatório passou a descrever a intervenção proposta e quais os fundamentos que estiveram na base da sua definição. Situando-se estes a dois níveis, com fundamentos mais amplos e integração das opções com a restante cidade e a um nível local de intervenção. Mais amplamente, a intervenção proposta procura aproveitar a proximidade a locais turísticos e culturais, como forma de captar e aproveitar a passagem de turistas pela rua, uma vez que é um dos canais preferenciais de chegada a alguns monumentos, bem como a equipamentos de serviços, hospitais e serviços judiciais. Apesar da sua localização privilegiada no centro da cidade, esta rua não consegue apresentar nenhuma vantagem capaz de atrair novos ocupantes e até mesmo de favorecer o atravessamento da cidade pelo seu interior. Este facto pode dever-se à ausência de usos mistos, e até mesmo do ambiente que a rua apresenta. Um dos grandes projectos do momento em Dublin e localizado na zona norte da cidade é o Grangegorman. Foi criada uma agência autónoma para a gestão deste projecto considerado como fundamental no Plano de Desenvolvimento da Cidade de Dublin. Este projecto, visa criar um novo bairro na cidade, que integre todas as valências educacionais nesse mesmo espaço, estimando-se que aí se instale uma população estudantil de cerca de 22.000 pessoas, com todos os serviços inerentes a 48 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 um campus educacional, tais como biblioteca, centros artísticos e equipamentos de saúde, ocupando uma área superior a 30 hectares. Figura 8 – Grangegorman (com base Dublin City Council, 2008) A rua Dominick pode beneficiar também deste grande projecto, uma vez que os circuitos de transportes públicos e de atravessamento da cidade para Grangegorman passam nessa zona. Na imagem seguinte os responsáveis pelo relatório procuram esquematizar os factores de atractividade ao bairro já indicados, e que o posicionam estrategicamente, justificando assim a necessidade da intervenção. Conjugando a referido a intervenção nesta zona de Dominick Street terá que privilegiar as ligações entre Grangegorman e a zona comercial situada abaixo de Parnell Street, bem como ao centro da cidade. A intervenção no espaço público passará por criar um corredor de circulação nesta zona, ligando a Parnell Street à parte superior de Dominick Street, privilegiando a circulação pedonal e de transportes públicos. 49 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 9 – Localização do Grangegorman, zona comercial e culturais (com base Dublin City Council, 2008) Como oportunidades que a reabilitação da Dominick Street pode aproveitar o para tornar este espaço atractivo e convidativo ao ser atravessamento, a zona comercial de Dublin, deve fazer com que esta rua se apresente como um prolongamento desse mesmo uso, uma vez que pode fazer a ponte com outros pontos de atracção da cidade. Desta forma, os objectivos da intervenção definidos pelo Dublin City Council para a Dominick Street são: a definição de uma área considerável para o comércio, o reforço das ligações pedonais com a envolvente, a valorização do espaço público e ainda proporcionar condições para estratificação dos usos e classes sociais. As novas utilizações têm que integrar serviços e facilidade para os visitantes da cidade, tais como cafés, restaurantes, hotéis, espaços públicos e equipamentos culturais, de forma a facilitar as ligações de que se falam, que são vistas como umas das forças que Dominick Street apresenta. O resultado do trabalho da Task Force e do Dublin City Council para Dominick Street resultou na definição da seguinte ocupação. Considerando-se uma intervenção a partir do nível 0, com demolição de todos os elementos existentes e a construção de uma nova ocupação urbana, repartida em 3 fases, durante 10 anos, com os seguintes pressupostos: - Construção de 200 habitações privadas, sociais e a custos acessíveis; - Construção de um centro comunitário com 1600m2; 50 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 - Construção de uma creche com 800m2; - Construção de espaços comerciais no mínimo de 12.000m2; - Construção de um novo open space, de uma nova praça e duas novas ruas, de forma a melhorar a conectividade e acesso pela própria rua. Em relação à volumetria e ocupação do solo, a proposta de intervenção tenta homogeneizar o local de acordo com a envolvente. A ver pelas figuras seguintes, a área de implantação do edificado é superior e com uma configuração diferente. O Masterplan da cidade de Dublin permitia para esta zona a construção de edifícios entre 2 e 8 andares, podendo ainda ser superior em casos específicos. Figura 10 - Desenho urbano 2008 - 2019 (com base Dublin City Council, 2008) A intervenção foi decidida em 2006 e o início está previsto para 2009, a primeira fase termina em 2013, englobando a construção de 80 habitações sociais nos pisos superiores. O piso térreo foi destinado a actividades comerciais, sendo também construído em todos os edifícios um piso inferior para estacionamento. Nesta fase o espaço público será já intervencionado, com uma nova praça e uma rua para Este. A segunda fase de 2014 a 2017 compreende o desenvolvimento de um edifício comercial com uma cave também para estacionamento, isto para nordeste. Para noroeste é construído também um novo edifício para habitação privada a custos 51 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 controlados, sendo os pisos térreos também para comércio e os pisos inferiores para estacionamento. Por último, a terceira fase de 2018 a 2019 irá dar por terminado o plano de intervenção com a construção do último edifício de uso misto, à semelhança dos existentes, sendo a componente comercial deste edifício que irá fazer a ligação com a zona comercial já estabilizada a sul, concluindo aqui a intervenção no espaço público com a execução de outra praça. Figura 11 - Faseamento da intervenção (com base Dublin City Council, 2008) Por sua vez, a proposta de intervenção na rua Dominick teve de se salvaguardar devido à concordância com o existente e também ser capaz de responder às necessidades da população e da sua envolvente, e ainda conservar a massa histórica do local. Um dos objectivos e pontos de ordem da intervenção, foi o aumento da área de circulação pedonal e da criação de mecanismos que aumentassem o fluxo de circulação entre as duas zonas da cidade ligadas por esta rua, fazendo da rua Dominick uma zona comercial ao nível do piso térreo De resto, todas as funções foram mantidas, como os pontos de interesse arquitectónico, bem como a habitação social, sendo até os edifícios destinados a este uso os primeiros a serem construídos. A qualidade do espaço público, foi também um aspecto prioritário para os autores do plano de intervenção, considerando mesmo que estes tinham de ser de alta qualidade, palpáveis, com ruas e praças abertas, uma vez que as ligações pedonais são fulcrais para o sucesso da intervenção. 52 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 12 – Cérceas existentes (com base Dublin City Council, 2008) Em suma, a intervenção nesta rua, circunscreve-se à manutenção dos objectivos iniciais e já existentes no próprio espaço, criando comunidades sustentáveis, com uma mistura de vários usos, com uma estrutura social estratificada, com a redução de segregações sociais, étnicas e culturais, com a melhoria da qualidade das habitações e também do espaço público. O financiamento das intervenções é normalmente feito com base em parcerias público privadas. No caso concreto desta intervenção na rua Dominick o Dublin City Council está a procurar financiamento para a habitação social e a custos controlados, para os usos residenciais e comercial. O sistema de parceria público privadas manterse-á. Um dos pressupostos que se mantém ao longo do processo, é que ele permanecerá em aberto, sendo possível ao longo do tempo efectuar melhorias e alterações quando assim se justifique. 53 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 4.2. O CASO DOS FUNDOS DE VIZINHANÇA EM BERLIM 4.2.1. CAUSAS IDENTIFICADAS DO PROBLEMA Para o estudo da cidade de Berlim, foi analisado o Estudo sobre o Desenvolvimento Urbano de Comunidades Sustentáveis (European Regional Developement Funds, 2005), que estudou a mobilidade e a diversificação em várias cidades europeias, entre as quais Berlim. A caracterização da cidade e dos fluxos migratórios da população, foram parâmetros cuja contabilização terá sido fácil, uma vez que na Alemanha existem registos de todos os fluxos, sendo obrigatória a comunicação às autoridades das alterações de residência. Em Berlim, o registo e monitorização destes comportamentos são da responsabilidade do Soziale Stadtentwicklung que faz o acompanhamento social do desenvolvimento urbano e também o Sozialstrukturatlas, que analisa as questões sociais e de saúde. A mobilidade em Berlim sofreu uma mudança radical no início da década de 1990 com a queda do muro de Berlim e com a união das duas repúblicas alemãs. Esta mudança, que uniu a parte oriental e ocidental permitiu a expansão urbana da cidade para os subúrbios, fazendo com que o caso de Berlim seja um caso onde a evolução urbana se processou a grande velocidade desde aí. Segundo o estudo, o número de movimentos por cada 100 habitantes em 1994 era de 25,4, tendo aumentado para 34,7 no ano de 1998 e começando a diminuir a partir daí e segundo o estudo, datado de 2005, nesse momento os movimentos situarse-ão nos 30 movimentos por 100 habitantes. Como amostra representativa da população de Berlim, o estudo baseou-se nos bairros de Bülowstrabe no distrito de Schöneberg e Kottbusser, no distrito de Kreuzberg. Ambos situados no interior oeste da cidade de Berlim, Kottbusser e Bülowstrabe são vulgarmente conhecidos pela elevada rotatividade populacional, elevado desemprego e com bastantes necessidades sociais. Em Bülowstrabe, a quase metade da população tem menos que 35 anos, e um quinto possui menos de 18 anos, desta estrutura demográfica há ainda a considerar que 43% da população é estrangeira, o desemprego é superior em cerca de 2% face só 8,9% da Alemanha. Segundo os dados do estudo relativos a 2004, a população 54 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 dependente de subsídios neste bairro é de 18,3% ao revês dos 7,6% que se verifica em média na população alemã. Figura 13 – Cidade de Berlim O mesmo estudo sobre a mobilidade urbana em Berlim, mostra os resultados de um estudo que indica os motivos indicados pela população que se deslocou para dentro ou fora do espaço urbano. O gráfico seguinte demonstra as razões indicadas para os fluxos migratórios, quer de entrada quer de saída. 55 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Facilidades de mobilidades Melhores ofertas de lazer e… Melhores ofertas religiosas Melhores ofertas socio-… Melhores ofertas para as… Escolas de melhor qualidade Melhor qualidade de serviços… Proximidade a espaços… Vizinhança de melhor… Melhor ambiente para as… Melhor ambiente habitacional Proximidade a amigos Proximidade a familiares Compatibilidade com o trabalho Custos de habitação mais… Habitação de melhor qualidade Mudança da situação… Alteração do agredado familiar 0% 20% Saida 40% 60% Entrada 80% 100% Gráfico 3 – Razões para os fluxos migratórios (adaptado de European Regional Developement Funds, 2005) Os motivos acima indicados, segundo o estudo podem ser agrupados em quatro categorias. O ciclo de vida familiar é considerado o mais importante, directamente relacionado com o aumento/redução das dimensões do agregado familiar. Em segundo lugar a qualidade e custos das habitações, segue-se o sentimento de vizinhança com a proximidade a espaços comerciais e com melhores condições para as crianças. Por último as redes sociais que podem aproximar os habitantes de outros familiares e amigos. Analisando os dados indicados pelo estudo, podemos identificar o facto de haver uma diferença acentuada entre os fluxos de entrada e saída do centro da cidade, favorecendo a entrada, a compatibilidade da função habitação com a função trabalho, bem como a proximidade a espaços comerciais e a ofertas religiosas. A maior diferença que ressalta no campo da mobilidade, uma vez que, nos centros urbanos, temos uma melhor oferta de transportes públicos. O mesmo se verifica na procura de melhores escolas, de melhores ofertas para crianças, de melhores serviços públicos e também de qualidade de vida. Os motivos que fundamentam os fluxos da população devem ser analisados de forma diferente, no que diz respeito aos movimentos de entrada e saída. Por exemplo 56 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 as maiores diferenças podem ser capazes de mostrar as vantagens e condicionantes de viver no centro urbano de Berlim. De referir que, as principais razões indicadas nos inquéritos relativos à migração para no centro urbano, são as facilidades de mobilidade, as ofertas ao nível cultural desportivo e religioso, os grupos sociais com a proximidade à família e amigos e, sobretudo, a proximidade ao local de trabalho. Por sua vez as razões de saída são a proximidade a melhores escolas, a espaço com melhores condições para a vivencia de crianças e também a melhoria da situação financeira e o acesso a habitações de melhor qualidade. Este estudo inquiriu também a população migrante da cidade de Berlim sobre quais os problemas dos bairros em estudo, e o que os levavam a mudar a sua residência para fora desses mesmos bairros ou para dentro deles. A maior parte dos problemas está relacionada com aspectos sociais, qualidade das habitações, poluição e uma imagem urbana de má qualidade. Insegurança para crianças Poluição Má imagem Sentimento de insegurança Criminalidade Falta de identificação com a área Conflitos entre os residentes Ofertas para minorias étnicas Ofertas para a terceira idade Ofertas para crianças e jovens Lazer e desporto Ofertas de oportunidades de formação Oportunidades de emprego Desemprego e pobreza Ofertas de serviços sociais Ofertas Culturais Proximidade a espaços comerciais Qualidade das escolas Espaços verdes Mau estado de conservação do espaço público Problemas de vizinhança Qualidade das habitações 0% 20% 40% Saida 60% 80% 100% Entrada Gráfico 4 - Problemas dos bairros em estudo (adaptado de European Regional Development Funds, 2005) 57 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Este dado, avaliado pelo estudo sobre a mobilidade da cidade de Berlim, pode ser um dos mais representativos ao nível da avaliação das causas da desertificação dos centros urbanos. Aqui a interpretação dos resultados deve ser feita de forma diferente, permitindo aqui ver quais os principais problemas que a população migrante identificou nos bairros, notando-se alguns desequilíbrios ao nível da população que se deslocou para dentro dos bairros, com problemas como: criminalidade, desemprego e pobreza, no entanto os restantes factores apresentam resultados muito semelhantes para as entradas e para as saídas. No entanto, os resultados apresentam nos dois fluxos alguns resultados que podem ser também alvo de análise, tais como os problemas de vizinhança, estado de conservação no espaço público, o desemprego, a pobreza, a falta de oportunidade de emprego, a criminalidade e segurança, uma vez que se destacam pelas elevadas percentagens de resposta. Assim, podem ser interpretados como os principais problemas que estes dois bairros oferecem a quem aí vive ou que pretenda para aí se mudar. No gráfico seguinte, o estudo demonstra os resultados obtidos aquando da avaliação das principais oportunidades de desenvolvimento dos bairros de Schöneberg e Kottbusser. Ofertas religiosas e culturais Lazer e ofertas de desporto Creches e escolas Oportunidades de qualificação Oportunidade de emprego Atmosfera multicultural Convivência dos moradores Instituições de apoio a minorias étnicas Participação activa dos cidadãos Redes de amigos e família Preços Proximidade a espaços públicos Proximidade a espaços comerciais Acessibilidade a área Ambiente habitacional Qualidade das habitações 0% 20% Saida 40% 60% 80% 100% Entrada Gráfico 5 – Oportunidades identificadas nos bairros (adaptado de European Regional Development Funds, 2005) 58 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Os desequilíbrios que aqui se encontram, podem ser interpretados pela relatividade das oportunidades de desenvolvimento identificadas por quem entra ou por quem sai dos bairros. Para a população que se desloca para dentro dos bairros, os aspectos culturais são os mais potencializadores, assim como as ofertas religiosas e culturais. A atmosfera multicultural, a proximidade aos espaços comerciais, a acessibilidade e oferta de transportes públicos e os preços mais baixos, representam uma das grandes oportunidades e vantagens dos bairros. De referir que a oferta vocacionada para a educação, como creches e escolas, oportunidade de formação e trabalho, apresentam os mais baixos resultados, não podendo ser vistas estas oportunidades como uma vantagem destas áreas, corroborando assim os problemas identificados e razões para a saída. 4.2.2. POLÍTICAS DE REABILITAÇÃO URBANA Os principais incentivos fiscais que foram aplicados em Berlim, permitiram que os valores aplicados nos investimentos pudessem ser deduzidos em sede de tributação, sendo aplicáveis a investimentos que visassem a construção, ampliação e modernização das propriedades. A regulamentação aplicável a toda a cidade desde Dezembro de 1991, permitia a dedução da tributação no primeiro ano de 50% dos investimentos, à excepção dos custos dos terrenos, independentemente do tipo de uso dos imóveis (Berry et al, 1996). Houve uma evolução em 1998, com a restrição dos incentivos fiscais para investimentos com o uso residencial e de modernização e reconstrução de edifícios. Os benefícios fiscais podem ser, à semelhança do que acontece em Dublin, repartidos no tempo, ou dedutíveis logo no primeiro ano, ou deduzidos ao longo de quatro anos, dependendo do tipo de tributação do requerente, sendo este sistema acumulável com a amortização dos edifícios, o que permite a redução de 4%/ano até serem atingidos os 100% do investimento total. Os autores usam como exemplo uma simulação de um investimento de 4 milhões de DM para a determinação do valor tributável, considerando o valor de financiamento público do investimento e as deduções ao valor tributável no primeiro ano. 59 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Milhões DM Investimento total 4,00 Apoio Estatal 0,92 Investimento 3,08 Beneficio Fiscal 1,66 Valor tributável 0,83 Tabela 7 – Perfil de Investimento em Berlin (Berry et al, 1996) Os fundos de investimento imobiliários fechados podem também usufruir destes incentivos. O conceito pode ser aplicável a um consórcio de pessoas que os possam constituir, sendo tradicionalmente usados em imóveis de usos residencial ou a retalho, uma vez que foram mercados emergentes após a reestruturação da cidade. O mercado dos escritórios no centro da cidade de Berlim, após 1990, foi um dos principais impulsionadores da reabilitação urbana da cidade de Berlim, Berry e McGreal consideram este mercado como altamente especulativo. Este facto levou à construção e adaptação de uma grande parte dos imóveis a este uso, uma vez que foi impulsionado pela localização do Governo Federal no centro da cidade, com o aproveitamento dos benefícios fiscais ainda aplicáveis a toda a cidade e a todas as tipologias de uso. A especulação que se verificou após a queda do muro de Berlim, foi motivada pelos elevados índices de procura face ao baixo nível de oferta e de baixa qualidade. Em 1992 o valor de arrendamento por m2 era de 90DM e com uma taxa de desocupação de menos de 1%, mas com os incentivos criados e com o impulso provocado por este mercado, até 1995 a situação foi-se invertendo, com a redução do valor de arrendamento por m2 para os 30-50DM com uma taxa de desocupação de 6,6%. No estando a procura manteve-se estável ao longo do tempo, tendo apresentado apenas pequenas oscilações (Berry, 1996). Oferta Procura 2 Rendas (DM/m ) Yelds (%) Taxa de desocupação 1992 1993 1994 1995 135.000 380.000 715.000 850.000 240.000 230.000 210.000 217.000 60-90 45-60 40-50 30-40 5 5 5,25 5,5-5,75 0,7 1,5 4,9 6,6 Tabela 8 - Perfil do mercado de arrendamento de escritórios 1992-1995 (adaptado Berry et al, 1996) 60 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 O crescimento da oferta de escritórios é o reflexo do conjunto de expectativas económicas criadas com o crescimento de Berlin e com o aproveitamento dos incentivos fiscais, que acabou se tornar um investimento de risco ao fim dos quatro primeiros anos. Dado o aumento da taxa de desocupação e redução das yelds, que tradicionalmente no mercado alemão são baixas. Dai ter provocado a mudança dos pressupostos dos incentivos fiscais em 1998, vocacionando-os para o mercado residencial. Para o projecto das unidades de vizinhança, foram escolhidas zonas de intervenção para aplicação de um programa nacional com incentivos comunitários, que visa o estabelecimento de uma abordagem integrada de reabilitação urbana, com uma abordagem participativa e com uma forte componente de envolvimento dos moradores locais na sua unidade de vizinhança. Para cada unidade de intervenção, foi criada uma estrutura própria com a função de gestão da vizinhança. Estabeleceram-se nove grandes objectivos para a cidade de Berlim, que incluem a melhoria das oportunidades de trabalho e nível de qualificação, reforçando as infra-estruturas locais e de participação, promoção da cultura local e melhores acesso aos serviços de saúde e sociais. Em Schöneberg, a implantação dos fundos de vizinhança foi iniciado em 1970 num bairro de habitação social. O conceito deste programa é colocar ao dispor do bairro uma determinada verba, para que a população local pudesse gerir e definir quais as aplicações até esse valor. No caso deste bairro, foi construído um café, um parque infantil e uma espécie de dormitório comum e foram melhoradas as condições de habitabilidade dos apartamentos. Este tipo de iniciativas fez com que fosse gerado um clima de segurança, que até aqui poderia ser posto em causa. Um indicador do sucesso deste tipo de abordagem é que em 1999, 100 dos 500 apartamentos se encontravam vazios, em 2004 apenas 10 permaneciam livres (Senatsverwaltung für Stadtenwicklung, 2004). Em Kreuzberg, segundo o estudo, a abordagem visou um conjunto de problemas semelhantes, bem como a promoção da região e dos activos, tais como a proximidade ao centro urbano de Berlim. O projecto aqui centralizou-se na educação e formação e particularmente na criação de emprego e integração social de minorias étnicas. A cidade de Berlim conheceu uma mudança assinalável com a queda do muro de Berlim em 1990. Com a reunificação das duas repúblicas federais, todas as 61 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 restrições de mobilidade caíram por terra, tendo também, por esta altura, ocorrido uma redefinição da estrutura urbana da cidade e uma expansão do perímetro urbano, que favoreceu a mobilidade da população, como já vimos. A principal necessidade de reabilitação urbana incidia sobre a propriedade privada, integrando e atendendo às necessidades das zonas críticas, tendo os espaços públicos sido reestruturados após a queda do muro de Berlim, com apoios da comunidade europeia, nomeadamente com o FEDER. Os critérios e moldes de intervenção estão definidos no relatório sobre a implementação dos Fundos de Vizinhança, The Neighboorhood Fund – a Berlin model of public partipation (Senatsverwaltung für Stadtenwicklung, 2004). Segundo o relatório sobre os fundos de vizinhança, estes foram implementados em 17 bairros, considerados como zonas críticas de reabilitação urbana. A cada uma destas zonas foi atribuída uma verba de cerca de 500.000€ e os moradores chamados a decidir sobre a forma de gerir essa verba. Foi uma decisão arrojada, uma vez que depositaram nos moradores quase toda a responsabilidade de recuperação dos seus bairros. A única condição, era que esta verba teria que ser utilizada para financiar projectos que trariam melhoramento a longo prazo para a localidade. Para os responsáveis pela implementação destes projectos, o principal objectivo era tornar a cidade socialmente atractiva, respondendo aos principais factores que haviam sido identificados como razões de saída, problemas e oportunidades dos bairros. Em 1999, o Governo Federal lançou uma iniciativa conjunta Soziale Stadt, dirigida para 17 zonas críticas. O objectivo desta medida era sobretudo desenvolver medidas capazes de responder ao desenvolvimento urbano, incluindo um conjunto de medidas de vários domínios públicos e dirigidas aos bairros (Senatsverwaltung für Stadtenwicklung, 2004). Unidade de Gestão de Vizinhança 1. Boxhagener Platz 2. Bülowstraße/Wohen am Kleistpark 3. Falkplatz 4. Helmholtzplatz 5. High-Deck-Siedlung/Sonnenallee 6. Magdeburger Platz 7. Marzahn Nord-West 8. Moabit West/Beusselkiez 9. Oberschöneweide 10. Reinickendorfer Straße 11. Reuterplatz 12. Rollbergsiedlung Distrito Friedrichshain Tempelhof-Schöneberg Pankow (Prenzlauer Berg) Pankow (Prenzlauer Berg) Neukölln Mitte (Tiergarten) Marzahn.Hellersdorf Mitte (Tiergarten) Treptow (Köpenick) Mitte (Wedding) Neukölln Neukölln Residentes * 19.335 10.120 8.832 20.092 5.242 8.544 22.182 21.274 6.121 15.180 18.419 5.574 62 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 13. 14. 15. 16. 17. Schillerpromenade Soldiner Straße/Wollankstraße Sparrplatz/Sprengelkiez Wrangelkiez Zentrum Kreuzberg/Wassertorplatz Total Neukölln Mitte (Wedding) Mitte (Wedding) Friedrichshain (Kreuzberg) Friedrichshain (Kreuzberg) 19.814 15.176 14.332 12.292 4.399 224.919 *dados de 31 de Dezembro 2003 Tabela 9 – População das unidades de gestão da vizinhança em Berlim (Senatsverwaltung für Stadtenwicklung, 2004) A esta de intervenção, o Governo Federal chamou Gestão de Vizinhança. O Senado alemão começou portanto em 1999 a implementar o programa da Cidade Socialmente Integrativa, financiando a intervenção com capitais do Fundo Social Europeu (FSE) e Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER). A opção por uma abordagem mais social, segundo o estudo, foi provocada pelo relatório apresentado em 1998 que demonstrou que, os problemas até ai identificados não haviam sido resolvidos pelos métodos clássicos, tais como o planeamento urbano, a promoção do mercado de trabalho e as políticas sociais. O programa implementado em 1999 nas 15 zonas críticas, tinha uma duração de 3 anos, como projecto-piloto. Mas, os resultados obtidos fizeram com que o senado prolongasse o programa em 2001 por mais três anos, tendo sido nesse mesmo ano incluídos mais dois bairros na intervenção. Para cada bairro, o Departamento de Desenvolvimento Urbano do Senado de Berlim, nomeou um gestor do programa, tendo-lhe sido atribuídas funções de motivar a integrar os moradores dentro desse programa, de forma a tornar o bairro um espaço atractivo e diferente, evitando os fenómenos migratórios, ao fim ao cabo, o gestor de vizinhança acabou por procurar envolver a população nos processos de decisão. Para este programa, o Senado de Berlim definiu oito campos de acção, onde o fundo de vizinhança podia ser aplicado: emprego e formação, empresas locais, integração dos diversos grupos sociais e étnicos, o desenvolvimento das infraestruturas sociais (escolas, creches, jovens, idosos e famílias), cultura urbana, os cuidados de saúde e as necessidades especiais. Na gestão dos fundos de vizinhança, quem decidia eram os residentes, tendo sido este um dos principais factores de sucesso. A cada bairro foi atribuído em 2000 um fundo com cerca de 500.000 € e dito à população que teriam de ser eles a decidir a forma como este valor teria de ser gerido, e onde ser gasto 63 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Estes fundos de vizinhança que foram atribuídos a cada um dos bairros críticos, estiveram sujeitos a regras e modelos de funcionamento. Como já vimos, cada fundo tinha um gestor nomeado pelo Senado de Berlim. A forma de regulação foi defina pela câmara municipal e pelos gestores de bairro, visando conferir ao maior número possível de pessoas a oportunidade de participar directamente na definição do espaço em que vivem. O quadro formal que rege a composição dos fundos de vizinhança foi definido pelo Senado de Berlim que dotou o fundo de uma verba destinada à instalação e funcionamento da unidade de gestão de bairro. Em relação ao júri, o seu tamanho dependia do número de moradores do bairro, por cada 1.000 habitantes havia um elemento do júri e um suplente, no mínimo 51% dos membros do júri deviam ser moradores, a menor parte do júri eram representantes dos grupos de acção local e empresas, conseguindo assim reunir no mesmo espaço representantes com competência e experiência capazes de por reestruturar os bairros. No processo de funcionamento do fundo de vizinhança, qualquer habitante do bairro podia fazer um projecto financiado pelo fundo, bem como as empresas, clubes, escolas e grupos de acção local. A única condição era que todas as candidaturas assentassem no desenvolvimento local através do Fundo de Vizinhança. As candidaturas eram apresentadas por escrito no gabinete de vizinhança ao gestor do fundo. O processo foi simplificado ao máximo e as formalidades foram evitadas quanto possível, ao longo do processo de apresentação das candidaturas foram organizados fóruns de discussão, workshops para os residentes locais, para que as ideias e capacidade de cada um deles fosse estimulada. Depois de apresentadas, as candidaturas eram analisadas nas reuniões do júri que decidia sobre as mesmas, eram aprovadas quando reunissem mais de dois terços da votação, e segundo as estatísticas, eram aprovados cerca de 50% dos projectos já apresentados, com especial preferência para os que imprimissem aos bairros um carácter inovador. Em relação aos projectos apresentados, os júris possuíam as suas próprias preferências sobre os domínios de acção, que deviam ser considerados em detrimento de outros, sendo os preferenciais os voltados para crianças e jovens. Segundo o relatório de implementação dos fundos de vizinhança, as estatísticas demonstram que a maioria dos projectos incidia sobre infra-estruturas sociais como escolas, crianças, jovens, idosos e famílias, seguindo-se os projectos de 64 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 natureza cultural e projectos de integração dos diversos grupos étnicos e sociais. Em último lugar apresentavam os projectos relacionados com o comércio local. Linha de Acção N.º 70,00% I - Emprego e formação 82 60,00% II -Incentivos empresariais 20 50,00% III -Integração de classes sociais desfavorecidas e minorias étnicas 40,00% IV -Apoio a áreas residenciais 30,00% 155 91 V- Infra-estruturas Sociais (escolas, 20,00% 10,00% 0,00% I II III IV V VI VII VIII creches, residências seniores) 417 VI - Iniciativas Culturais 196 VII - Saúde e necessidades especiais 94 VIII - Favorecimento da participação pública 72 Gráfico 6 – Projectos por linha de acção (Senatsverwaltung für Stadtenwicklung, 2004) Vendo pelo gráfico, mais de dois terços dos projectos foram vocacionados para jovens e crianças, tendo sido atribuidos 55% dos fundos a estes projectos, o que correspondeu a um investimento de cerca de 4 milhões e meio de euros. Os jurados mostraram também prefêrencia na aprovação de projectos com um âmbito mais alargado, em detrimento de projectos de alcatrão e obras estrturantes, centralizando assim o processo de reabilitação urbano em aspectos mais sociais e assumindo assim uma posição clara de apoio à intervenção no espaço privado do que propriamente nas intervenções no espaço público. Restantes Projectos; 264 Projectos para crianças e jovens; 388 Gráfico 7 –Projectos apoiados pelos fundos de vizinhança (Senatsverwaltung für Stadtenwicklung, 2004) 65 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Restantes Projectos; 3.768.064 ,59 € Projectos para crianças e jovens; 4.548.223 ,81 € Gráfico 8 –Montantes apoiados pelos fundos de vizinhança (Senatsverwaltung für Escolas e creches Igrejas Outros interesses sociais Clubes Desportivos Artistas e organizações culturais Economia local 77 93 37 90 20 189 22 114 27 11,81% 14,26% 5,67% 13,80% 3,07% 28,99% 3,37% 17,48% 4,60% 854.949,78 1.328.521,54 248.134,26 1.014.402,84 176.196,93 2.691.626,05 318.321,11 1.173.824,70 596.360,72 10.28% 15,97% 2,98% 12,20% 2,12% 32,37% 3,83% 20,73% 7,17% 11.103,35 € 14.285,18 € 6.706,33 € 11.271,14€ 8.809,85 € 14.241,41 € 14.469,14 € 15.121,27€ 22.087,77 € e outras instituições Grupos de acção % de aprovação Projectos individuais (Residentes) Projectos aprovados Serviços de apoios a escolas, creches Stadtenwicklung, 2004) Valor dos projectos aprovados % dos total dos fundo Media do apoio por projecto Tabela 10 – Aplicação dos fundos por proponentes (Senatsverwaltung für Stadtenwicklung, 2004) Analisando a tabela anterior, segundo a dimensão dos projectos aprovados por áreas, vemos um maior número de projectos aprovados para organizações e associações com aproximadamente 28,99%, seguindo-se as iniciativas culturais com cerca de 17,48% e os projectos de apoio a minorias e grupos com 14,26%, concentrando-se nestes três grupo de intervenção 60% dos projectos aprovados, que 66 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 representavam 69% dos fundos de vizinhança aplicados, uma vez que a distribuição por tipo de projectos se processou de uma forma muito semelhante ao número de projectos aprovados. O estudo de apresentação dos fundos de vizinhança refere também que, cerca de 15% dos projectos, estavam relacionados com a criação, transformação e renovação ou limpeza de instalações públicas, apresentado por instituições ou associações locais. É referido também que, dos 10 projectos cujo financiamento foi maior, 5 estavam eram de intervenções de requalificação do espaço público. 132 120 78 76 53 39 41 40 21 18 8 7 6 9 2 2 Gráfico 9 – Valor estimado dos projectos em € (Senatsverwaltung für Stadtenwicklung, 2004) Um outro dado importante dado por este gráfico, é que o apoio dos fundos de vizinhança para os projectos apresentados, em grande parte são pequenas iniciativas que procuravam ter uma grande amplitude nos bairros, este dado vê-se quando 47% dos projectos tinham um valor de apoio inferior a 5.000€, enquanto apenas 5% dos projectos tinham montantes de financiamento superiores a 50.000€. De seguida, apresentam-se quatro projectos já executados nos bairros já analisados de Bülowstrasse e Kreuzberg. Estes projectos foram considerados pelo Senado de Berlim como projectos de referência. Um dos projectos que foi apresentado e aprovado em Bülowatrasse, foi apresentado por privados que pretendiam criar uma estrutura de prestação de serviços de limpeza, contou com um financiamento de 9.852€, e a unidade de gestão dos 67 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 fundos viu neste projecto a capacidade de cuidar das zonas residenciais, a promoção da saúde e necessidades especiais e ainda a oportunidade de criação de emprego e formação. Segundo o relatório das unidades de gestão, este projecto não foi fácil, uma das linhas de acção era a integração de trabalhadores problemáticos, com problemas sociais, toxicodependência, minorias étnicas, que exigia uma capacidade acompanhamento psicossocial. Além da oportunidade de criação de emprego, este projecto acolheu o apoio dos responsáveis pela oportunidade de formação, que acabaria por ser administrada aos trabalhadores para a execução dos trabalhos. Por seu lado, e sob o ponto de vista da reabilitação urbana, introduziam-se no bairro novas funções, não só ao nível da prestação de serviços, como também com a criação das oportunidades de emprego que, dado o tecido social destes bairros, poderia fazer com que a saída para outras zonas fosse estagnada. Um outro projecto financiado pelos fundos de vizinhança em Bülowstrasse, mais concretamento num espaço verde, Keistpark, cujo titular foram os próprios habitantes do bairro, foi a construção de um parque desportivo, tendo contado com um financiamento de 116.063,26€. Identificando a unidade de gestão neste projecto as oportunidades de melhoria/construção de infra-estruturas sociais e de apoio a escolas, crianças, jovens, associados ao sentimento de preservação do espaço público e zonas residências e dada a natureza do requerente, trata-se de um exemplo de urbanismo participativo. No processo de decisão, foram os entrevistados convidados a responder a um inquérito onde teriam de dizer qual o desporto entre futebol, basquetebol, sreetball e patinagem gostariam de praticar no parque urbano. No fim do processo de inquirição, foram auscultadas 172 crianças e jovens. Avaliados os resultados, o pedido popular era que haveria dois campos de futebol com a possibilidade de se transformarem em campo de basquetebol, o que foi atendido. A pedido também das meninas, foi incluído um pavilhão coberto para proporcionar uma área de estar, com duas mesas para jogo de ténis de mesa. 68 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 14 - Kottbusser no distrito de Kreuzberg (Senatsverwaltung für Stadtenwicklung, 2004) No bairro de Kottbusser, no distrito de Kreuzberg, o relatório dos fundos de vizinhança, apresenta um único projecto, cujas dimensões e valores de financiamento foram os mais expressivos. O projecto consiste numa exposição sobre a história do bairro, mais concretamente na praça Wasserplatz, tendo sido um projecto apresentado pela autarquia local do distrito de Kreuzberg. Este projecto obteve um financiamento de 126.000€, sendo as principais linhas de acção, o incentivo à participação pública e o desenvolvimento das iniciativas culturais. A cultura e a história da cidade de Berlim nas décadas de 70 e 80 segundo o estudo, não faria sentido sem o lendário distrito de Kreuzberg, com a influência em todos os acontecimentos. A partir deste facto as pessoas experimentaram novos estilos e novas oportunidades. Para além dos acontecimentos históricos da cidade de Berlim, este distrito sofreu nas quatro décadas várias intervenções de renovação urbana, tendo sofrido várias alterações ao nível da sua própria estrutura. Daí a motivação de um grupo de estudo local que propôs a criação de um espaço onde a evolução do bairro fosse exposta e fazendo dessa historia um factor de dinamização e atracção cultural. Para produção dos elementos da exposição os próprios habitantes foram convidados a expor a sua história e a dar o seu contributo, tendo sido aproveitados 100 testemunhos. Foram consultados os arquivos históricos e jornais, de forma a produzir um conjunto de elementos capazes de retratar a vida no distrito de Kreuzberg com recurso a elementos multimédia. 69 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 O sucesso desta medida é retratada no relatório, pelo facto da exposição ter sido inaugurada em Fevereiro de 2003 com um carácter temporário, até Julho de 2004, mas dado o sucesso com mais de 30.000 visitantes, fez com que esta assumisse um carácter permanente, ficando assim patente a evolução urbana do distrito de Kreuzberg, dinamizando culturalmente e funcionando como um pólo de atracção ao local. 4.3. O CASO DA REVITALIZAÇÃO DA BAIXA PORTUENSE 4.3.1. CAUSAS IDENTIFICADAS DO PROBLEMA Para avaliar as causas e consequências dos problemas de reabilitação urbana na cidade de Porto, recorreu-se a um estudo elaborado em 1997 designado “Reabilitação Urbana da Baixa Portuense – Qualidade Habitacional” (Matos, 2007). Este estudo procurou compreender as aspirações e expectativas que alguns grupos gostariam de ver resolvidas nas suas habitações e também perceber qual a estrutura sócio-demográfica da Zona de Intervenção Prioritária da SRU – Porto Vivo. Um dos pressupostos deste estudo foi que era necessário captar novos residentes para a baixa do Porto, para reocupar os espaços habitacionais e desocupados da cidade. Mas, para isso era necessário saber quais os pontos positivos e a identificar os problemas. O estudo baseou-se em dois grandes aspectos, um primeiro com a caracterização da actual estrutura demográfica recorrendo à comparação dos resultados dos Censos de 1991 e 2001 e um outro aspecto por intermédio de um inquérito de opinião, inquirindo quais os motivos que levariam os inquiridos a viver na baixa do Porto e quais os motivos que os levariam a não se mudarem para essa zona. As freguesias comparadas no estudo do parque habitacional e que constituem a baixa são as freguesias de Bonfim, Cedofeita, Massarelos e Santo Idelfonso, tendo sido comparado como base de referência em todos os indicadores os resultados da Baixa no seu conjunto, da cidade do Porto e também da Área Metropolitana do Porto. Na baixa do Porto, os edifícios são exclusivamente residenciais, cerca de 82%, repartindo-se os restantes por edifícios, principalmente residências e não residenciais. O número de alojamentos entre 1991 e 2001 sofreu um aumento de 5%, ao revés de um aumento significativo de 74% de alojamentos vagos. Tendências que se 70 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 manifestaram também na cidade do Porto e na área metropolitana do Porto, embora em maior escala com o aumento de alojamentos clássicos, e com valores mais reduzidos para os alojamentos vagos, apesar de 40% dos alojamentos vagos de toda a cidade do Porto se localizam na baixa da cidade. Alojamento Alojamento Alojamento Alojamento familiar familiar residencial residencial clássicos clássicos habitual habitual 1991 2001 1991 2001 Bonfim 14017 14634 11722 11271 -3,8 Cedofeita 13319 13805 10893 9850 -9,6 Massarelos 3621 4074 3015 3014 0 Santo Idelfonso 6481 6698 5167 4138 -19,9 Baixa 37438 39211 30797 28273 -8,2 Porto 112405 124494 94453 96672 1,2 AMP 411094 537001 340863 424762 24,6 Freguesia Var. 1991/2001 % Tabela 11 – Variação dos alojamentos familiares clássicos de residência 1991 e 2001 (Matos, 2007) Alojamentos Vagos Alojamentos Vagos Peso no Var. 1991 2001 total do 1991/2001 Freguesia N.º % N.º % concelho % Bonfim 1445 10,3 2353 16,1 12,5 68,8 Cedofeita 1622 12,2 2699 19,6 14,3 66,5 Massarelos 367 10,1 519 12,7 2,8 41,4 Santo Idelfonso 837 12,9 1869 27,9 9,9 123,3 Baixa 4271 11,4 7440 19,0 39,5 74,2 Porto 12307 10,9 18835 15,1 100 53,0 AMP 39546 9,6 63737 11,9 - 61,2 Tabela 12 – Variação dos alojamentos vagos 1991 e 2001 (Matos, 2007) Um outro aspecto que o estudo aborda, é o perfil de utilização dos edifícios, se os ocupantes são proprietários, se são arrendatários ou eventualmente ainda subarrendatários, e quais os valores da rendas praticáveis. Na baixa, os resultados são bastantes equilibrados, repartindo-se quase que equitativamente os imóveis cujo ocupante é o proprietário (47,1%) e os edifícios arrendados (49,1%), representando os subarrendamentos apenas 1,3% dos imóveis 71 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 habitacionais, valores muito semelhantes aos parciais de cada uma das freguesias e também da própria cidade. Ocupante Freguesia Proprietário Arrendados Subarrendados Bonfim 47,9 49,1 0,9 Cedofeita 53,1 42,0 1,8 Massarelos 50,2 45,8 0,9 Santo Idelfonso 29,2 67,2 1,4 Baixa 47,1 49,1 1,3 Porto 49,1 47,3 1,0 Tabela 13 – Alojamento segundo o regime de ocupação (%) (Matos, 2007) Quanto aos níveis de rendas praticadas, são extremamente baixas por alojamento, sendo que na baixa do Porto cerca de 67% das rendas são inferiores a 99,75€ e destas, cerca de 37% são inferiores a 34,91€, fenómeno que até se acentua no conjunto da cidade do Porto. Freguesias Total de Rendas até 99,75€ Rendas até 34,91€ alojamentos Alojamentos Alojamentos clássicos arrendados N.º % N.º % Bonfim 5468 3663 67,0 2050 37,5 Cedofeita 4089 2621 64,1 1328 32,5 Massarelos 1368 967 70,7 544 39,8 Santo Idelfonso 2747 1882 68,5 943 34,3 Baixa 13672 9133 66,8 4865 35,6 Porto 44747 33175 74,1 23128 51,7 Tabela 14 – Alojamentos clássicos segundo o escalão de renda, em 2001 (Matos, 2007) O indicador do valor da renda, apenas indica que se está perante uma zona com escassa produção de novos alojamentos e de obras de recuperação dos existentes, (Matos, 2007). Avaliou-se as datas da realização dos contratos de arrendamento após 1991, e qual a percentagem de arrendamentos com rendas muito baixas (inferiores a 34,91€). Os imóveis arrendados após 1991 em todas as freguesias, baixa e cidade do Porto, representaram aproximadamente 26-27% dos arrendamentos, à excepção de Cedofeita e Massarelos com valores mais reduzidos. 72 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 No entanto, é de notar que os arrendamentos com valor mais reduzido são mais frequentes na cidade do Porto que nas freguesias da baixa, podendo ser um sinal da extensão dos problema a outras zonas da cidade. Segundo o mesmo estudo, na baixa, o parque edificado apresenta um estado bastante degradado, com 73% dos imóveis a precisar de reparações nas coberturas, 70% na estrutura e 75% nas paredes e caixilharia. Esta degradação é muito mais intensa nesta zona do que no resto da cidade. Freguesias Alojamentos arrendados depois de 1991 N.º % Alojamentos arrendados depois de 1991 com rendas mais baixas N.º % Bonfim 1526 27,9 130 6,3 Cedofeita 1138 27,8 47 3,5 Massarelos 312 22,8 22 4,0 Santo Idelfonso 638 23,2 22 2,3 Baixa 3614 26,4 221 4,5 Porto 11679 26,1 2156 9,3 Tabela 15 – Alojamentos arrendados com contratos posteriores a 1991, em 2001 (Matos, 2007) Passando para o contexto sócio-demográfico da população da cidade do Porto e em especial da baixa do Porto, a tendência de perda de população continua a verificar-se, este facto é resultante da tercialização desta zona da cidade, o aumento do preço do solo imobiliário, a degradação do parque habitacional e da qualidade ambiental e ainda do aumento das acessibilidades intrametropolitanas. Segundo os dados dos Censos de 1991 e 2001, a cidade do Porto perdeu 13% da sua população, sobretudo população jovem (menos 33%) e aumentou a população idosa em 14%. Estas perdas foram acentuadas nas freguesias da baixa, salientandose a perda de 30% da população em Santo Idelfonso e Miragaia com menos 41,1% da população residente. Bonfim Cedofeita Massarelos Santo Idelfonso Baixa Porto 1991 2001 Var. 1991-2001 % 34497 28578 -17,2 32066 24784 -22,7 9336 7756 -16,9 14431 10044 -30,4 90330 71162 -21,2 302472 263131 3% Tabela 16 – População Residente (Matos, 2007) 73 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 No que diz respeito à estrutura etária da população, os comportamentos verificados na baixa da cidade são semelhantes ao verificado na cidade do Porto, notando-se um agravamento no que diz respeito à diminuição mais acentuada da população dos 0 aos 14 anos na baixa da cidade e um aumento em menor escala da população com mais de 65 anos em relação aos valores apresentados para a cidade do Porto. População dos 0 aos 14 anos População com + 65 anos 1991 2001 1991 2001 Var. 1991 2001 1991 2001 Var. N.º N.º % % % N.º N.º % % % Bonfim 4940 3130 9,6 9,1 -36,6 6102 6670 13,6 13,1 9,3 Cedofeita 4717 2548 9,2 7,4 -46,0 5104 5365 11,4 10,5 5,1 Massarelos 1515 922 3,0 2,7 -39,1 1386 1535 3,1 3,0 10,8 1993 1918 3,9 2,7 -53,9 2960 2759 6,6 5,4 -6,8 Baixa 13165 8518 25,7 24,6 -35,3 15552 16299 34,7 32,0 4,8 Porto 51269 34584 100 100 -32,5 44780 51003 100 100 13,9 Santo Idelfonso Tabela 17 – População Residente (Classes etárias) (Matos, 2007) O estudo sobre a reabilitação da baixa portuense (Matos, 2007), avaliou também qual o potencial de regeneração e quais os problemas que levavam a tal comportamento na baixa. Para esta constatação foram inquiridos 442 indivíduos de vários escalões etários, sexos, dimensões dos agregados familiares, níveis de escolaridade, profissão, local de trabalho e residência. Os inquiridos foram questionados sobre as suas necessidades pessoais e sociais que colocariam para viver na baixa do Porto, indicando três aspectos que mais valorizavam na baixa e três aspectos que deveriam constituir uma prioridade na intervenção. Em relação às aspirações pessoais e sociais, foram colocadas as seguintes situações: “imaginemos que os preços da habitação na Baixa do Porto são semelhantes aos da sua habitação actual, viria viver para a baixa do Porto?”, 27,3% dos inquiridos responderam que gostariam, 12,8% que gostariam muito, 18% que gostariam em certa forma e 42% não gostavam. Quanto às razões invocadas pelos que gostariam de viver, destacam-se: o valor histórico e beleza da baixa com 66,3% dos inquiridos (62% para os que gostariam de viver na baixa e 72% para os que não gostariam), a centralidade com 54% (58% para os que gostariam de viver na cidade e 52% para os que não 74 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 gostariam), facilidade de transportes e acessibilidades com 40% (35% para os que gostariam de viver na baixa e 44% para os que não gostariam), seguindo-se a centralidade com a Área Metropolitana do Porto, a dinâmica cultural e o local de trabalho. Por sua vez, os motivos que levariam os inquiridos a não viver na baixa, que podem ser vistos como aspectos de intervenção prioritária cujas respostas foram mais notórias foram os níveis de segurança com 69% das respostas dos inquiridos (75% para os que gostariam de viver na baixa do Porto e 72% para os que não gostariam), seguindo-se a qualidade ambiental com 59% da resposta dos inquiridos (60% para os que gostariam de viver na baixa e 71% para os que não gostariam), o terceiro aspecto negativo da baixa da cidade do Porto foi as facilidades de deslocação automóvel, tendo merecido a resposta de 47% dos inquiridos (42% para os que gostariam de viver na baixa e 53% para os que não gostariam. Valor patrimonial e histórico Centralidade Comercial Transportes Publicos Centralidade face à AMP Equipamentos de lazes e cultura Local de trabalho Equipamentos de saude e ensino Prestigio Social Percursos Pedonais Niveis de Segurança Proximidade Familiar Outras redes de sociabilidade Qualidade Ambiental Associações recreativas e de lazer Facilidade de Deslocação automovel 0 10 20 30 40 50 60 70 Gráfico 10 - Aspectos mais valorizados na Baixa pelos inquiridos (Matos, 2007) 75 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Niveis de segurança Qualidade ambiental Facilidade de deslocação automovel Percursos Pedonais Valor patrimonial e historico Equipamentos de lazer e cultura Transportes publicos Equipamentos de saude e ensino Associações recreativas e de lazer Prestigio Social Centralidade Comercial Centralidade face à AMP Local de trabalho Proximidade Familiar Outras Redes de sociabilidade 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Gráfico 11 - Problemas da Baixa referidos pelos inquiridos (Matos, 2007) Visto isto, os principais aspectos que devem constituir as principais prioridades de intervenção na baixa do Porto na óptica dos inquiridos, são os níveis de segurança, a boa qualidade ambiental e as questões de acessibilidade/fluidez do tráfego, isto ao nível da intervenção do sector público, porque é necessário também atrair gente, reestruturar socialmente e demograficamente as zonas deprimidas. Para isto o estudo induz uma revitalização do mercado habitacional, provocando a melhoria da qualidade dos alojamentos e do espaço envolvente. Como conclusão, o estudo regista a predominância da função residencial, e o aumento do número de alojamentos vagos, bem como os baixos valores das rendas para imóveis arrendados. Tudo isto leva a uma redução da capacidade de investimento dos proprietários/senhorios que se acaba por propagar aos proprietários ocupantes, assentando neste aspecto o principal paradigma da reabilitação urbana da baixa do Porto, e a forma como a cidade pode responder à necessidade de reconstrução dos edifícios habitacionais da cidade. 76 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 4.3.2. POLÍTICAS DE REABILITAÇÃO URBANA A grande área metropolitana do Porto, corresponde ao centro económico da região nordeste da província ibérica, incluindo o norte de Portugal e também a vizinha Galiza, atingindo um universo de aproximadamente 7 milhões de pessoas, que, por sua vez, cerca de 1,2 milhões de habitantes se localizam na área metropolitana do Porto, que se desenvolve em redor da cidade com uma população de 270.000 habitantes, localizando-se na zona mais antiga da cidade aproximadamente 83.000 habitantes, 70.000 na baixa e 13.000 no Centro Histórico, isto segundo o Masterplan da revitalização urbana e social da baixa da cidade (Porto Vivo, SRU, 2005). Segundo o mesmo documento, nos últimos 25 anos, os parâmetros sócioeconómicos do Porto apresentaram dinâmicas negativas, com a fuga da população mais jovem para os concelhos limítrofes. O comércio tradicional sofreu um forte abalo com a abertura dos grandes centros comerciais na periferia das cidades, as empresas mudaram também as suas sedes para fora do grande Porto. A reabilitação urbana da cidade do Porto, assumiu desde 2005 como uma das prioridades políticas da cidade, tendo sido constituída uma Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU). Um dos objectivos da SRU – Porto Vivo foi, o desenvolvimento de uma nova cultura urbanística, criar novos processos de gestão, protecção e valorização da arquitectura, arqueologia e sociologia local, respeitando as pré-existências quer do centro histórico, quer da zona baixa mais recente. No estudo de revitalização urbana e social da baixa do Porto, foram identificadas as potencialidade e desafios da cidade que teriam que ser aproveitados para a revitalização da baixa da cidade, estas potencialidades passam pelo aproveitamento: - Dos grandes centros culturais, como os teatros de S. João, Rivoli, Carlos Alberto, já recuperados e ainda em recuperação e também aqueles cuja recuperação seria alvo do processo de revitalização urbana, como a Batalha, Sá da Bandeira, Trindade e Águia d’Ouro. - Das facilidades de mobilidade permitidas pelo desenvolvimento do metro, que funcionará como interface de todos os transportes públicos de e para o centro urbano - Aproveitamento da actividade turística, dos estabelecimentos com elevado valor comercial, nomeadamente a livraria Lello e o Café Majestic, bem como do mercado do Bolhão e várias lojas de rua. 77 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 - O património arquitectónico e artístico edificado, que deve ser o alvo principal da reabilitação urbana, é necessário dotar a cidade de habitabilidade para repovoar de população o centro da cidade. Foi definida no âmbito do projecto de intervenção, uma zona de intervenção prioritária (ZIP) baseada numa análise multicritério realizada com base em dados estatísticos relativos ao levantamento. A concentração de oportunidades nas áreas onde a degeneração económica, social e urbana se faz sentir com maior intensidade, desta forma foi definida a ZIP, que é uma parte da Área Critica de Reconversão e Recuperação Urbanística (ACRRU), definida pela SRU Porto Vivo, S.A. Os limites geográficos da ZIP estendem-se por 8 freguesias: Bonfim, Cedofeita, Massarelos, Miragaia, Santo Idelfonso, S. Nicolau, Sé e Vitória. Figura 15 – Delimitação da ACRRU e ZIP (Porto Vivo, SRU,2005) Para a estruturação da intervenção, o Masterplan organizou a intervenção segundo vectores de desenvolvimento, cujo objectivo se centrava na revitalização urbana e social da baixa portuense, procurando conjugar os vários factores e funções existentes dentro da cidade. Os vectores de desenvolvimento assentavam em pressupostos básicos tais como: - Centrar os habitantes como pilar fundamental de uma área urbana viva, e o desenvolvimento de novas políticas de habitação que consigam captar novas famílias para o centro da cidade. Este vector passa por intervenções ao nível dos regimes de arrendamento urbano, regime de usos dos solos, lei das expropriações, o que torna este tipo de políticas complexas. 78 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 - Negócios como oportunidade para a afirmação da baixa, com a criação de novas empresas, promoção da investigação e aposta em novos conceitos mais criativos e com mais capacidade de inovação, não se encerrando o processo em reabilitação mas também em revitalização da baixa. - O comércio é também um factor determinante na revitalização da cidade, sustentando os actuais conceitos já formados, com uma aposta num serviço de qualidade que fidelize o cliente e o faça interagir com as outras funções da cidade. - O aproveitamento turístico, cultural e de lazer como forças intrínsecas da cidade, são também factores de desenvolvimento da cidade segundo o Masterplan, com a criação de uma política contínua de desenvolvimento da cidade e não com actividade pontuais. - Por último, o Masterplan identifica o espaço público não como vector de desenvolvimento mas sim como um meio, como suporte de convivências e como elemento transversal e unificador de todas as linhas de intervenção descritas. Desta forma, para a reabilitação da baixa da cidade do Porto a SRU - Porto Vivo definiu 6 linhas de acção: Re-habitação da baixa do Porto Desenvolvimento e promoção do negócio na baixa do Porto Revitalização do comércio Dinamização do turismo, cultura e lazer Qualificação do domínio público Acções estratégicas Para isto, o Masterplan, para cada linha de acção indica quais os objectivos e públicos alvos, e as principais medidas a levar a efeito para o alcance dos objectivos. A - Re-habitação da baixa do Porto A re-habitação da baixa do Porto, foi eleita como uma prioridade a perda de população já analisada e a degradação do parque habitacional, justificando-se assim a definição de públicos-alvo, como camadas mais jovens, envolvendo também a necessidade de instalar ou melhorar serviços de apoio ao agregado familiar, como serviços de apoio à infância e equipamentos escolares, espaços desportivos e de lazer, equipamentos culturais com a valorização do espaço público e ambiento urbano, 79 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 como complementos às funções residências, é necessária uma política de aparcamento automóvel e da rede de transportes públicos, sendo as acções interligadas com as restantes linhas de acção. O público-alvo das medidas de re-habitação da baixa passa por atrair para a zona crítica de reabilitação urbana jovens licenciados, casais em início de vida familiar e população de meia idade com apetência para se reinstalar no centro da cidade. Tudo isto motivado por medidas modernizadoras e reestruturação da oferta ao nível dos vários segmentos habitacionais. A reestruturação e modernização da oferta habitacional, passa pela fragmentação ou divisão dos edifícios com maiores áreas e o emparcelamento de edifícios com menores dimensões de maneira a permitir a construção de fracções habitacionais adequadas ao mercado que se pretende desenvolver. Figura 16 – Baixa Reabilitada (Porto Vivo, SRU, 2005) As linhas de acção a implementar para a re-habitação da baixa, de acordo com a estratégia de captação de novos residentes, cumpre-se com a definição de critérios tipológicos. A cada tipologia de fogo, corresponde um público-alvo que se pretende captar, de acordo com o seguinte: - Tipologia T0 e T1: captar recém-licenciados ou em início de carreira e estudantes, sendo um segmento de mercado a médio prazo, caracterizando-se por uma utilização maioritariamente nocturna. - Tipologias T2 e T3: Captar casais sem filhos ou com um descendente e casais de meia-idade que queiram reinstalar-se na baixa, com níveis de exigência já mais elevados, cuja intenção seja contribuir para recuperação das zonas críticas de reabilitação urbana. 80 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 - Tipologia T4 e superior: captar casais com dois ou mais filhos, que possuam o objectivo de criar raízes na baixa a longo prazo, que queiram aproveitar e utilizar o espaço público, rede de serviços e equipamentos, envolvendo a necessidade de redefinição de equipamentos e serviços, dotando esta zona de capacidade de resposta às solicitações infantis e juvenis. No entanto, o apoio à terceira idade actualmente residente na baixa ou outra que aí se instale, não pode ser descurado, sendo necessária também uma nova tipologia habitacional com serviços de apoio. B- Desenvolvimento e promoção do negócio na baixa do Porto Uma das linhas de acção da reabilitação e recuperação da baixa do Porto para os responsáveis desta intervenção, é a promoção da actividade económica, promoção suportada no conhecimento e inovação. Esta necessidade surge na sequência de uma perda de capacidade de atracção de desenvolvimento económico, que progressivamente se foi afastando para a periferia. A revitalização da baixa do Porto quer promover o regresso da actividade económica ao centro do Porto, definindo regras como garantia da sustentabilidade desse crescimento, tais como a aposta em novos factores de competitividade, design, marketing e comunicação, I&D, considerando que o Porto é um centro operacional, como capital de uma grande região económica (norte de Portugal e Galiza) a que se junta o conhecimento emergente das Universidades e Empresas, quer desta forma o Masterplan de Revitalização da Baixa do Porto concretizar o projecto “Porto Cidade da Ciência” com a promoção dos seguintes aspectos: - Cultura da cooperação, parecerias e desenvolvimento de negócios baseados na criatividade e conhecimento, suportados em centros de investigação e inovação, com as universidades, institutos superiores e empresas. - Criação de Clusters de actividade nas mais diversas áreas, especialmente em áreas ligadas com a saúde e engenharias, potenciando o saber fazer das indústrias tradicionais com o desenvolvimento de novas. - E sobretudo, pelo empreendedorismo de uma população à espera de uma recuperação, apoiando planos de negócios, criação de novas empresas e apoio ao auto-emprego na zona de intervenção. 81 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 17 – Baixa Administrativa e de serviços (Porto Vivo, SRU, 2005) Um dos principais pólos dinamizadores desta linha de acção, segundo o Masterplan, é o Parque da Inovação, onde se instalaram um conjunto de industrias do conhecimento, que visaram recompor o tecido empresarial da cidade e da região, com: - A criação de empresas inovadores ligadas a sectores altamente qualificados como a nanotecnologia e nanociências ligadas à saúde, ambiente e energia e produção de equipamentos; - O desenvolvimento intensivo do conhecimento, promovendo a criação de empresas, projectos de cooperação entre empresas e universidades. Com isto, a intervenção proposta pela SRU – Porto Vivo,SA, quer procurar criar actividades económicas que criem valor e riqueza de forma sustentada e sustentável, fazendo do Porto, após a criação deste parque, uma fonte de oportunidades empresariais, relacionadas com o conhecimento, revitalização urbana e com um eminente papel formador. Desta forma, o desenvolvimento e promoção do negócio na baixa do Porto, passará pelas seguintes linhas de acção: - Criação do Parque da Inovação, no Campo 24 de Agosto; - Construção de um Pavilhão da Ciência/Centro do Futuro; - Instalação de Ninhos e Incubadoras de empresas para start-ups tecnológicas ou de alto valor de inovação e criatividade; - Instalação de empresas de consultadoria empresarial ou ambiental, ligadas à reabilitação urbana ou turística, e realização de eventos culturais. - Promoção da instalação de serviços de apoio ao comércio e habitação - Parcerias entre a Porto Vivo, S.A e Universidade do Porto 82 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 C - Revitalização do comércio Nesta linha de acção, o programa de revitalização da baixa do Porto incide no aproveitamento do actual comércio tradicional ainda aberto, considerando que faz parte da identidade das especificidades próprias, da história e do património do Porto enquanto cidade cosmopolita. Nesta revitalização do comércio, o Porto procura aproveitar as referências históricas como o Vinho do Porto, ourivesaria, e os produtos regionais, trazendo-os para a actualidade e introduzindo novas variantes. Desta forma, a revitalização do comércio, acaba por transpor e manter as referências existentes na baixa do Porto para os nossos dias, uma vez que todas as outras linhas de acção passam por mudanças dos próprios métodos de funcionamento e organização, fazendo com que se potencie a habitabilidade e vitalidade do centro urbano, dinamizando a própria actividade económica do comércio que aí se encontra em declínio. De considerar, que o conceito de comércio tradicional assume um papel crucial com a dinamização turística das baixa do Porto, que é também umas das linhas de acção do Masterplan, estimulando a circulação pelo centro da cidade e promoção da imagem e da marca Porto. As linhas de acção definidas para a revitalização do comercio na zona de intervenção prioritária, passa por desenvolver: - Uma grande área comercial de lazer e entretenimento entre o Bolhão e Rua de Santa Catarina; - Uma zona para um segmento comercial de luxo, nos Aliados e Galerias Paris; - Aproveitamento das áreas temáticas: vinho do Porto, ourivesaria, livraria, alfarrabistas, antiguidades, artesanato e produtos regionais - Comércio e serviços de proximidade - Férias temáticas e genéricas - Reestruturação do uso dos espaços comerciais devolutos no rés-do-chão dos edifícios 83 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 18 – Baixa Comercial de dos Negócios (Porto Vivo, SRU, 2005) D - Dinamização do Turismo, cultura e lazer O projecto de reabilitação social e económica da cidade do Porto, passa por uma aposta no desenvolvimento do turismo na cidade do Porto, vocacionado para uma classe média e alta. Mas para isso é necessário saber vender a cidade, com a dinamização da actividade económica e cultural, com a recuperação do património edificado, usando-os como meio de projecção a nível nacional e internacional. Assim o Masterplan de revitalização da Baixa do Porto define as seguintes linhas de acção: - Desenvolvimento do turismo cultural, do conhecimento e profissional - Desenvolvimento de actividades ligadas ao turismo - Criação de uma oferta cultural e lazer de carácter permanente, ancoradas nas tradições da cidade. - Aposta na renovação das festas e tradições populares do Porto - Criação do Centro Nacional das Artes de Rua - Animação turística na frente ribeirinha - Dinamização de rotas turísticas urbanas - Reforço da oferta de hotéis de 3 estrelas, com a adaptação de edifícios existentes e melhoria dos equipamentos hoteleiros existentes; - Promoção do património arquitectónico existente; 84 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 19 – Baixa da Cultura, Turismo e Lazer (Porto Vivo, SRU, 2005) E - Qualificação do Domínio Público A intervenção de qualificação no espaço público assume um papel transversal a todas as outras linhas de acção, uma vez que se torna necessário preparar a baixa com novas e actualizadas infra-estruturas de modo a tornar o espaço público mais atractivo. O Masterplan de revitalização da baixa do Porto, dividiu a qualificação do domínio público em dois subsectores: Infra-estruturas, Espaço Público e Convivialidade e Mobilidade, propondo intervenções próprias em cada uma delas. As infra-estruturas são essenciais ao processo de reabilitação da baixa. Foram assumidas duas escalas de intervenção, uma vez que o proposto não se encerra apenas na habitação, uma escala situa-se ao nível da reabilitação/renovação das redes existentes e a segunda no reforço/criação de infra-estruturas ao nível do espaço público e do edifício. No actual espaço da Zona de Intervenção Prioritária, as redes de electricidade e telecomunicações possuem uma boa cobertura, sendo necessárias apenas intervenções pontuais e localizadas. Por outro lado, o mesmo não acontece com a rede de drenagem de águas residuais domésticas e pluviais, onde em vários locais se misturam as duas redes. Assim sendo, será necessário garantir que as redes são efectivamente separativas, melhorando assim as questões ambientais e de segurança. O grande défice da ZIP, é a rede de abastecimento de gás, segundo os dados do Masterplan, apenas 70% do território está coberto por este serviço, estabelecendose um programa de intervenção sectorial para que a área coberta seja total. Em relação ao espaço público de convivialidade, a ZIP é caracterizada por várias tipologias de tecidos urbanos, onde cada um tem a sua imagem, aptidão e individualidade. 85 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 No entanto, a proposta de intervenção na baixa do Porto, pretende que seja colmatada a necessidade de espaços de apoio a actividades lúdicas, que envolvam crianças e adolescentes, com a instalação de parque infantis e de lazer. Um dos principais objectivos desta linha de acção, é definir atributos e valor aos espaços, tornando-os propícios às relações de vizinhança e usufruto, com a instalação de elementos de sombra, mobiliário urbano e espaços verdes. A melhoria do ambiente urbano e a reformulação da imagem da baixa, conseguem ser alcançáveis com a arborização das ruas, retirada gradual do estacionamento à superfície e a reformulação dos espaços públicos. Por vezes, pequenas intervenções como abertura de passagens entre os quarteirões, reformulação dos sentidos de tráfego automóvel, introdução de elementos dissuasores do tráfego, são medidas previstas no plano de intervenção como acções de dinamização de promoção do espaço público. Figura 20 – Baixa do Espaço Público (Porto Vivo, SRU, 2005) Todas estas medidas revestem-se de um carácter público de apoio e incentivo às intervenções no espaço privado, cujas linhas de acção já foram acima descritas, podendo ser vistas como uma contribuição do sector público na redução do risco dos investimentos na baixa, melhorando as condições de habitabilidade e de sustentabilidade habitacional, comercial, turística e de lazer na baixa, por exemplo. Por último, dentro das intervenções do domínio público, surgem as questões de mobilidade, onde se transpõem para o plano de intervenção na baixa do Porto as acções e objectivos do PDM do Porto, que passam pelo reforço da cobertura da rede de metro na cidade do Porto. São definidas também as seguintes propostas de intervenção: - Activar e pôr em funcionamento a linha do eléctrico; 86 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 - Dotar de estacionamento a área de acção especial para o Parque da Inovação - Reforçar o estacionamento da área norte; - Facilitar o estacionamento dos residentes com o aumento da oferta; - Proporcionar os movimentos terrestres e meios alternativos de locomoção; - Reestruturação dos períodos de cargas e descargas; - Implementar novos mecanismos de locomoção, como as ciclovias. Com estas intervenções, pretende a Porto Vivo, SRU, libertar os cidadãos para outros movimentos que não os de estacionamento, tais como os movimentos pedestres, ciclovias. Aproveita-se assim para reduzir a densidade e fluxo de tráfego. F - Acções estratégicas Para o sucesso da intervenção de revitalização da ZIP, são também considerados alguns projectos chave com incidência territorial, que são considerados estratégicos e determinantes para a sustentabilidade de todo o sistema urbano e socioeconómico em questão, tais como: - Parque da Inovação, na área oriental da ZIP, que consistirá num centro essencial de modernização económica e de apoio à sustentabilidade social; - Frente Ribeirinha, desenvolvimento e aproveitamento turístico, comercial e de actividades lúdicas. - Mercado do Bolhão, desenvolvimento de um novo conceito de comércio, com animação diurna e nocturna, preservando a valência de mercado, depurando segmentos menos prestigiantes e complementado com praça de alimentação e outras novas funções. - Linha do eléctrico, recuperação da circulação dos eléctricos nas zonas cujo trânsito automóvel seja retirado, promovendo a actividade comercial e turística na ZIP; - Projecto da Avenida da Ponte; desenvolvimento de um projecto à cota alta de habitação, comércio, hotelaria, serviços e estacionamento, numa zona já servida pelo metro, e qualificação da ligação da Baixa à cidade. 87 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 21 - Áreas de acção especial (Porto Vivo, SRU,2005) Todas estas linhas de acção envolvem uma especial e atenta coordenação, para que seja obtida uma coerência urbana e social capaz de obter os resultados esperados. As intervenções programadas visam refazer a malha urbana já existente, alterando de forma a garantir um centro urbano forte, moderno e sobretudo sustentável. O Masterplan – Revitalização social e urbana da baixa do Porto, define também um modelo de operacionalização para a implementação das linhas de acção, assumindo a Sociedade de Reabilitação Urbana Porto Vivo como o agente mobilizador e facilitador do processo. No entanto cabe à Porto Vivo implementar e gerir a intervenção, coordenando também a mobilização de outros agentes, assim como a agilização de todos os procedimentos necessários à exequibilidade dos processos. No entanto, as intervenções do domínio público têm que ser realizadas em consonância com a Câmara Municipal do Porto. Um outro papel que compete às SRU Porto Vivo, consiste em acordar e formar com as restantes SRU do país, numa estratégia que permite negociar e pressionar o governo a melhorar os incentivos à reabilitação urbana, como o regime de arrendamento urbano, estabelecimento de incentivos fiscais, alteração dos regimes de 88 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 expropriação quando assim se justifique e criação de linhas de crédito específicas para intervenções de Reabilitação urbana. Para a execução do plano de revitalização de recuperação da baixa do Porto, o Masterplan assenta a sua execução em parcerias com cariz público e privado. Este tipo de parcerias, vai tornar possível fazer-se mais e melhor em menor tempo, com a constituição de entidades que possam ser responsáveis pela promoção ou exploração de projectos ou actividades, protegendo assim o sector público em ter que assumir toda a responsabilidade dos custos, estando já definidas cinco parcerias em áreas temáticas. - Parceria para a Baixa Tecnológica, cujos objectivos passarão por fazer da baixa um local de residência de jovens, estudantes e da comunidade técnica e científica deslocada e procurar fazer da baixa um local de concentração de empresas de referência. Tudo isto, com a construção do Parque Tecnológico e de pólos de atracção de I&D e tecnologias de informação e comunicação. - Parceria para a Baixa Energética e Ambiental, com o objectivo de modernização e qualificação do uso das energias e sustentabilidade ambiental, com incidência nos padrões de conforto do parque edificado de uso residencial e terciário, bem como nos espaços públicos existentes e a construir. Esta parceria, segundo o Masterplan, vai também marcar a diferença no sentido positivo de viver na baixa, passando por acções de melhoria da climatização dos edifícios, recolha selectiva de resíduos sólidos urbanos, reestruturação das redes de abastecimento e redes separativas de águas residuais, aumento dos espaços verdes e melhoria da iluminação, por exemplo. - Parceria para a Baixa Social e Económica, como meio de dinamização e conjugação das funções residência, trabalho, lazer e turismo na baixa do Porto. Com isto, pretendem recriar a centralidade da baixa enquanto local de utilização colectiva e diversificada. Para isto a regeneração do sector da residência e dos serviços de proximidade, da revitalização do comércio tradicional e da promoção da baixa como local turístico são fundamentais. - Parceria para a Mobilidade, pode ser vista como um aspecto estruturante para o sucesso do processo de reabilitação do centro histórico do Porto, podendo ser vista como um aspecto fundamental para a requalificação dos modos de vida na cidade. Devendo ser aumentada a capacidade de mobilidade na baixa através de meios colectivos, que levem à redução do tráfego automóvel, bem como a definição de percursos pedonais, e melhoria da gestão das cargas e descargas. 89 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 - Parceria para reabilitação física, em conjunto com as restantes parcerias, esta pode ser a que mais pode ditar o sucesso do plano, com a intervenção no parque edificado e sobre o espaço público. Sendo as principais missões a atracção de incrementos residenciais na baixa, contribuindo para a animação urbana e valorização ambiental da Baixa, contribuindo para adaptação do património edificado residencial às solicitações contemporâneas, esta parceria engloba quatro subprogramas: - VIV’A BAIXA, de apoio aos proprietários, inquilinos e investidores. - ConVIVER NA BAIXA, de incentivo ao uso e convivência do espaço público. - PORTO COM PINTA, de apoio à reabilitação de fachadas com uso de telas promocionais - Criação de laboratórios/centros de conhecimento no âmbito das técnicas de reabilitação e acompanhamento das intervenções e certificação dos edifícios. Por último, o Masterplan de Revitalização Urbana e Social da Baixa do Porto define os meios de financiamento, incentivos e programas para a execução das linhas de acção, repartidas em três públicos alvo, Domínio Público, Mercado empresarial e Habitação – Promotores/Proprietários, com as seguintes medidas para cada um deles: E - Domínio Público Financiamento do BEI (Banco Europeu de Investimento) e de fundos comunitários de apoio à reabilitação. - Mercado Empresarial Disponibilização de escritórios para start-up’s com rendas controladas Constituição de um fundo de capital de risco de apoio às empresas Destacamento de pólos de investigação para esta zona da cidade Apoio ao empreendedorismo de jovens empresários Prémios anuais para as melhores empresas - Habitação – Promotores e proprietários Benefícios fiscais no IRS e IRC para as novas reabilitações Redução do IMT e IMI sobre aquisições reabilitação de habitações Incentivos a novas famílias residentes Linha de crédito bonificado para intervenções e aquisição de habitações reabilitadas. 90 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 5. BALANÇO E PERSPECTIVAS DAS INTERVENÇÕES A desertificação dos centros históricos dos núcleos urbanos é um dos problemas que mais têm merecido a atenção das políticas urbanas e de gestão do território das cidades. Os problemas originados por esta fuga da população dos centros para a periferia passam por vários aspectos, por questões sociais, uma vez que aí fica instalada a população com mais fracos recursos, o que origina problemas de segregação social, degradação do parque edificado. O espaço público deixa de responder às funções para que estava dotado, os problemas de mobilidade agravamse com a alteração dos modos de vida, bem como dos tecidos económicos e produtivos instalados nos centros urbanos. Como meios de combate a este problemas têm sido realizadas vários tipos de intervenções, de natureza reguladora, de incentivos aos investimentos e desenvolvimento destas zonas deprimidas e incentivos financeiros. É de considerar que a inversão destes comportamentos engloba uma componente fortemente pública que tem de impulsionar o investimento privado na recuperação dos edifícios e funcionar como alavanca da melhoria da atracção dos centros urbanos. A falta de recursos públicos para a realização da totalidade das intervenções, foi contornado com o recurso a Parcerias Público Privadas para a realização das componentes públicas dos investimentos. Para os privados, os apoios passam por incentivos fiscais e programas de financiamento das intervenções. Os três casos indicados descrevem modelos diferentes de abordagem do problema, centrando sempre o seu objectivo na atracção da população perdida para os centros históricos e na recuperação do parque edificado. No caso de Dublin, a intervenção é programada por unidades de intervenção, estando já o processo reabilitação urbana da cidade num estado avançado. Neste caso, as intervenções são planeadas por um organismo próprio em conjunto com as necessidades do local em causa, compatibilizando nas intervenções as necessidades de habitação social e de habitação para colocação no mercado, equipamentos colectivos e reestruturação e requalificação do espaço público. Sendo as propostas implementadas com o recurso a parcerias público privadas, concessionando toda a intervenção de reabilitação urbana Ao longo dos tempos, a reabilitação urbana em Dublin tem sido impulsionada com incentivos fiscais aos proprietários que procedessem às intervenções nos seus próprios edifícios. 91 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Por sua vez, em Berlim, a intervenção é de natureza diferente, considerando que Berlim sofreu uma alteração na sua estrutura urbana, provocada pela queda do Muro de Berlim em 1986, com a reunificação das duas repúblicas federais e estando os centros urbanos degradados e desfasados das necessidades nessa altura, foram implementados incentivos fiscais específicos de apoio aos proprietários e investidores cujos investimentos correspondessem às necessidades da cidade nessa altura. No entanto e para fomentar o sentido de responsabilidade da população, foram criadas Unidades de Vizinhança em cada um dos bairros para gerirem os fundos de vizinhança, que financiavam as intervenções de desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida desses mesmos bairros propostas pelos proprietários, empresas, instituições locais, escolas, dando assim o poder de decisão aos locais em definir quais as intervenções a realizar nas unidades de vizinhança. A cidade do Porto constituiu uma Sociedade de Reabilitação Urbana para proceder à revitalização da baixa da cidade, englobando incentivos à re-habitação da baixa e à revitalização do comércio e dos negócios, com uma intervenção centrada na aposta do turismo, cultura, lazer, qualificação do domínio público e num conjunto de acções estratégicas que centrava o Porto como cidade da ciência. De referir, que todas as acções indicadas pela SRU Porto Vivo são centradas na dinamização das componentes privadas da intervenção, criando apoios para o seu desenvolvimento. A junção destes três casos, permite perceber-se que o sucesso e eficiência de uma operação de reabilitação urbana não são possíveis sem a componente privada, cabendo ao sector público criar as condições de apoio a estas mesmas intervenções. Isto porque se tratam de intervenções transversais a todos os âmbitos de acção, envolvendo aspectos sociais, económicos, urbanísticos, culturais, lazer e ambientais. Assim, cabe ao sector público criar condições aos privados para o desenvolvimento das opções definidas nos documentos estratégicos e propostas de intervenção, devendo num estado último assumir a responsabilidade da execução das intervenções como sua ou em parceria com os privados. 92 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 6. A INTERVENÇÃO PROPOSTA PELO PLANO DE PORMENOR DO BAIRRO DOS FERREIROS 6.1. PROGRAMA POLIS 6.1.1. ENQUADRAMENTO O Programa de Requalificação Urbana e Valorização Ambiental de Cidades (Polis), foi criado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 26/2000 de 15 de Maio, apoiado pelos III Quadro Comunitário de Apoio e aplicável a 15 cidades portuguesas. Na justificação e antecedentes mencionadas na mesma resolução, são referidos os erros urbanísticos cometidos que levaram à desvirtualização e à pulverização das várias funcionalidades dos centros históricos, e que, por outro lado, levaram à construção de dormitórios nas periferias das áreas metropolitanas e fluxos a migratórios que têm obrigado a uma reflexão sobre a adequada importância estratégica e funções dos centros históricos. Assim, o programa Polis assume quatro principais objectivos e princípios específicos, dentro da melhoria da qualidade de vida das cidades. Assim, as intervenções urbanísticas e ambientais, da competitividade dos centros urbanos, materializaram-se pelo seguinte, segundo a Resolução do Conselho de Ministros n.º 26/2000: - Desenvolver grandes operações integradas de requalificação urbana com uma forte componente de valorização ambiental; - Desenvolver acções que contribuam para a requalificação e revitalização de centros urbanos, que promovam a multifuncionalidade desses centros e que reforcem o seu papel na região em que se inserem; - Apoiar outras acções de requalificação, que permitam melhorar a qualidade do ambiente urbano e valorizar a presença de elementos ambientais estruturantes, como é o caso das como frentes de rio ou de costa; - Apoiar iniciativas que visem aumentar as zonas verdes, promover áreas pedonais e condicionar o trânsito automóvel em centros urbanos. 93 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Todos estes objectivos surgem em função dos pontos levantados por Félix Ribeiro (1999) e referidos na definição dos objectivos e princípios orientadores do Polis: “ – Esvaziamento da função residencial dos centros históricos, que atravessam em muitos casos processos paralelos de «tercialização», de desertificação, de abandono e degradação; - Processo acelerado de degradação do património edificado, em vastas zonas do «casco» urbano, nas periferias mais antigas e nos bairros sociais associados à inexistência de estímulos de mercado à reabilitação urbana; - Intensificação das extensões suburbanas, muitas vezes realizadas de modo caótico, desprovidas ou com deficiências, de infra-estruturas técnicas e sociais e com fracas condições de vivência urbana; - Segmentação etária do espaço da grande Lisboa e do Grande Porto, com os «centros» destas grandes áreas urbanas a envelhecerem acentuadamente, as novas gerações deslocaram-se para as «coroas suburbanas» cada vez mais distantes; - Crescente congestionamento do trânsito, associado pelo menos em parte, ao crescimento dos movimentos pendulares de habitação e emprego; - Degradação acelerada da paisagem urbana, com destaque para a escassez de espaços verdes e de espaços públicos, atrofiados pela dinâmica de construção compacta, ou desvirtuados pelo uso crescente do transporte privado.” Desta forma foram eleitas quatro componentes de intervenção, contemplando linhas de acção específicas em cada uma delas, distribuindo-se da seguinte forma: Componente 1 – Operações Integradas de Requalificação Urbana e valorização Ambiental Linha 1 – Intervenções identificadas pela sua relevância e natureza exemplar Contempla o financiamento de intervenções integradas e multifacetadas, que contribuam para a revitalização de cidade, com importância estratégica no sistema urbano nacional ou para a valorização da polarização de novas áreas urbanas, estas intervenções devem ser assumidas conjuntamente pela administração central e autarquias locais. 94 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Linha 2 – Outras intervenções a identificar Contempla projectos semelhantes aos anteriores propostos pelas autarquias locais. Componente 2 – Intervenções em cidades com áreas classificadas como Património Mundial Nesta componente, são financiadas intervenções realizadas em cidades classificadas pela Unesco, negociadas entre a administração central e as autarquias locais e que visem a melhoria da qualidade ambiental dessas cidades. Componente 3 – Valorização urbanística e ambiental em áreas de realojamento Financiava projectos de intervenção nos espaços públicos, envolventes às habitações construídas no âmbito de processos de realojamento e realizados pela administração central. Componente 4 – Medidas complementares para melhorar as condições urbanísticas e ambientais das cidades Linha 1 – Apoio a novas formas de mobilidade no espaço urbano Apoiava iniciativas que retirassem o tráfego automóvel dos centros urbanos, através de restrições de circulação, incentivos à utilização de transportes colectivos, ciclovias e vias pedonais. Linha 2 – Apoio à instalação de sistema de gestão e monitorização ambiental Projectos que contribuíram para uma melhor caracterização e gestão do ambiente urbano, nomeadamente a monitorização de variáveis ambientais, tais como a recolha selectiva de resíduos sólidos, reutilização da água e utilização racional dos recursos naturais. Linha 3 – Apoio à valorização urbanística e ambiental na envolvente dos estabelecimentos de ensino Apoio a projectos de requalificação ambiental e urbanística do espaço público envolvente aos estabelecimento de ensino. Linha 4 – Apoio a acções de sensibilização e educação ambiental no espaço urbano Promoção da educação ambiental dos cidadãos, tornando-os mais participativos nas decisões das suas cidades, com especial incidência nas iniciativas de requalificação urbana. Linha 5 – Apoio a outras acções com impacte positivo na qualidade de vida urbana 95 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 A última linha de acção, engloba outras acções de natureza ou dimensão que são fossem enquadradas nas componentes e linhas anteriores que visassem melhorar a qualidade de vida urbana, nas vertentes urbanísticas e ambientais. O programa Polis, comparativamente a outros programas semelhantes, inferia efeitos directos e indirectos tendo-os segmentados por cada uma das componentes e linhas de intervenção em áreas como a interferência na economia das cidades, melhoria das condições habitacionais, no apoio social, na melhoria da qualidade de vida e aspectos ambientais e administração pública (Vasquez, 2001), adaptando-se a seguinte tabela. 1 Promoção de novas Economia das actividades e especializações cidades Promoção geral da imagem das cidades Alteração das regras de Habitação investimento e desenvolvimento Aumento da oferta e qualidade Apoio Social dos serviços Sistemas de mobilidade Melhoria das infra-estruturas Intervenção no espaço público Qualidade de e melhoria da participação Vida e pública aspectos Promoção da qualidade ambientais ambiental Promoção da eficiência energética dos sistemas urbanos Reforço dos mecanismos de participação pública Ganhos no conhecimento dos Administração problemas Desenvolvimento de novas Estruturas e metodologias de intervenção ■ – Efeitos directos □- Efeitos indirectos 2 3 4.1 4.2 4.3 4.4 ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ 4.5 □ ■ ■ □ □ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ □ □ □ □ □ □ □ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ Tabela 18 – Programa de Revitalização Urbana e Valorização Ambiental das Cidades (adaptado de Vasquez, 2001) As intervenções foram estruturadas em função da significância da intervenção e das tipologias de intervenção para cada cidade analisada. No quadro seguinte, indicam-se os níveis de intervenção indicados na resolução do Conselho de Ministros N.º 26/2000 de 15 de Maio, onde esta patente a intenção de valorização do património 96 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 ambiental e histórico de cada uma das cidades, e da criação de pólos de desenvolvimento regional, em volta de cada uma cidades. Casos analisados Tipologias das intervenções 1 3 4 +++ +++ Vila Real + + +++ + Bragança +++ + + +++ +++ +++ +++ +++ +++ Coimbra +++ +++ + Viseu + +++ +++ Viana do Castelo 2 + AM do Porto +++ Aveiro + +++ 5 6 + + Guarda + +++ +++ +++ Covilhã +++ +++ + +++ Castelo Branco Leiria +++ Sintra (Cacém) +++ + Almada (Costa da Caparica) +++ +++ +++ + + +++ +++ +++ Beja +++ Albufeira +++ + +++ - Intervenção muito significativa; + - Intervenção com alguma relevância Tipologia das intervenções: 1- requalificação de zonas industriais deprimidas; 2 – Criação de novas polaridades em áreas metropolitanas; 3- Valorização de frentes de mar ou de zonas ribeirinhas; 4 – Valorização de património histórico ou natural e sua reintegração na cidade; 5 – Requalificação de cidades de media dimensão com pujança económica; 6 – valorização de cidade do interior ou raianas que podem constituir pólos de desenvolvimento regional. Tabela 19 - Análise dos projectos face à tipologia de intervenções (retirado de RCM N.º 26/2000, Quadro N.º 32) Inicialmente, segundo a Resolução do Conselho de Ministros N.º 26/2000 de 15 de Maio, quadro N.2, o programa Polis partia com um montante previsto de investimento de cerca de 800 milhões de euros, repartidos por fundos comunitários (58%), autarquias (16%), administração central (16%) e autofinanciamento (10%). 6.1.2. PROGRAMA POLIS EM VILA REAL A Resolução do Conselho de Ministros inclui uma descrição sumária de todos os projectos abrangidos pelo Programa Polis, para Vila Real a estratégia passava por 97 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 ultrapassar alguns dos problemas existentes, como a barreira física constituída pelo Rio Corgo, com a cidade voltada de costas e com a perda de importância das zonas urbanas nas margens do rio Corgo e a ribeira de Tourinhas. Passando a intervenção do Polis por requalificar as margens e criar condições para a sua plena utilização pela população. A requalificação da antiga zona industrial, permitirá o surgimento de um novo parque urbano, com aproveitamento as margens verdes, fazendo a ligação ao resto da cidade pelo Parque Florestal. A intervenção contemplava algumas intervenções no Centro histórico, com a intenção de reduzir o tráfego e o estacionamento, e ainda a eventual construção de um túnel que desviasse o tráfego de atravessamento da cidade, bem como a construção de uma central de camionagem e a implementação de uma rede de transportes públicos. Todas estas acções factores positivos, a necessidade de recriar uma centralidade ambiental e reordenar o tráfego automóvel. No entanto, nos aspectos gerais da intervenção, são acauteladas questões como as desvantagens da orografia do terreno e a necessidade do estabelecimento de uma estratégia de intervenção global, que ligue as diversas acções e que assegure a utilização/fruição das intervenções propostas. Desta forma, o Plano Estratégico do Programa Polis, acaba por assentar no Plano Estratégico para a Cidade de Vila Real, elaborado em 1995, delineando um conjunto de acções que visavam qualificar o espaço urbano e reabilitar ambientalmente a cidade de Vila Real. Acções que foram transpostas para o programa de acção do POLIS Vila Real, materializando-se pela: - Recuperação da valores ambientais e patrimoniais urbanos; - Complementaridade de intervenções noutras áreas relacionadas com a preservação da alínea anterior; - Investimento no espaço público, voltado para a valorização da cidadania e vivências urbanas; - Redimensionamento da escala urbana da cidade, valorizando a dimensão pedonal; - Obra de relevo, de forma a valorizar e potenciar um novo conceito de cidade. 98 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Todos estes objectivos e acções, que o Programa Polis, procurava concretizar no espaço urbano da cidade de Vila Real, não se encerravam apenas numa intervenção pública, mas também na forma de tornar a cidade num espaço atractivo para novos investimentos privados, e até mesmo o estabelecimento parecerias a realizar entre o sector público e o privado, criando assim pólos geradores de riqueza. Um outro aspecto a ressalvar nesta intervenção é o seu carácter regional, Vila Real assumia-se e assume-se como um centro catalisador de desenvolvimento e distribuição pela região, no distrito de Vila Real apenas esta cidade e Chaves beneficiaram deste programa da Administração central, fazendo que com um crescimento destes centros urbanos possa fazer com que a restante região se desenvolva também. O Sistema Urbano Nacional editado pela DGTDU, na altura da elaboração do Plano Estratégico, indicava para a Cidade de Vila Real, os seguintes pontos fracos e pontos fortes, distribuídos por duas áreas, espaço urbano e qualidade de vida e estrutura económica e sócio cultural. Pontos Fracos Crescimento urbano com volumetrias excessivas; Edifícios dissonantes próximos de áreas nobres da cidade; Falta de integração de importantes pólos geradores de tráfego; Carência de coesão urbana entre os principais "centros" da cidade; Problemas de circulação e estacionamento no Centro Histórico; Carência de transportes públicos; Carências de equipamentos de nível superior; Carência de infra-estruturas hoteleiras; Debilidades no tratamento de efluentes urbano Pontos Fortes Centro Histórico com significado e interesse histórico-cultural; Envolvente cénica de grande qualidade; Património artístico de importância nacional; Hábitos urbanos mais exigentes associados à presença da Universidade; Qualificação da estrutura comercial com consequências na imagem do centro; Crescimento das áreas pedonais no Centro Histórico; Potencial de atracção de turistas a partir do vale do Douro; Cidade com uma massa demográfica que garante limiares satisfatórios de utilização de novos investimentos de animação urbana Tabela 20 – Espaço Urbano e Qualidade de Vida (CMVR,2001) Pontos Fracos Insuficiente capacidade de criação de emprego e geração de iniciativa; Falta de promoção e qualificação da Zona Industrial; Pontos Fortes A UTAD como importante centro de investigação e formação superior nas áreas agrícola, florestal e de desporto; Taxa de escolaridade superior à média 99 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 nacional; População estudantil numerosa como potencial de animação urbana e de procura de bens culturais; Dinâmica associativa significativa; Crescimento demográfico; Conjunto de projectos numeroso e coerente que possibilitará, com a sua execução, uma capacidade de afirmação sem precedentes. Tabela 21 – Estrutura Económica e Sócio-Cultural (CMVR,2001) Pequena motivação para a qualificação associada à falta de perspectivas de emprego; Dificuldade de atracção de quadros superiores qualificados; Oferta cultural muito restrita; Existência de factores de debilidade social. A estratégia de intervenção para o espaço da cidade de Vila Real, procura a integração da actual estrutura urbana, aproveitando o património arqueológico, arquitectónico e natural como pontos de interesse, valorizando-os e estreitando a relação à urbe com esses mesmos valores; todos estes aspectos fecham-se em três propostas a desenvolver com as acções específicas do programa: - Reforçar a coesão urbana; - Valorizar a componente natural-urbana; - Criar uma cidade a duas cotas. O reforço da coesão urbana pode ser visto como um dos maiores problemas da cidade de Vila Real na altura da elaboração do Plano Estratégico do Programa POLIS, originada pela ausência de espaço edificável no centro urbano da cidade, onde se pudessem localizar alguns equipamentos estruturantes para cidade, o que fez com que estes mesmos equipamentos fossem deslocalizados para outras zonas da cidade. Criando uma rede própria a sua volta, criando-se assim clivagens na malha urbana e na forma do seu relacionamento. Desta forma, o reforço da coesão urbana estabeleceu-se pelas seguintes acções: - Minimização das assimetrias centro-periferia, criadas com a Universidade e com o Hospital, por exemplo. - Renovação do Centro Histórico, com a reconversão habitacional e estacionamento, necessários à reconversão do centro urbano da cidade. Por sua vez, a valorização da componente ambiental-urbana assenta no potencial das escarpas do Vale do Corgo e Cabril. A valorização desta componente passou também pela reestruturação do sistema de drenagem de águas residuais e da 100 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 construção de uma ETAR, que permite a valorização do recurso, que é o rio Corgo, para a cidade. A relação do meio ambiente com a função urbana passava pela introdução de elementos de modernidade que valorizam e que podem funcionar como formas de atracção à valorização do património ambiental e natural da cidade. Estes elementos de modernidade, passam pela ligação das duas cotas da cidade por intermédio de um teleférico, e da criação de grandes volumes com uma arquitectura de qualidade, como é o caso da biblioteca e da casa das artes. A criação de uma cidade a duas cotas, encerra as duas dimensões da cidade, a natural e a urbana. Na cota superior onde se tem um espaço urbano, e à cota inferior onde predomina um ambiente natural, as ligações e trocas entre estas duas cotas passaram pela ligação dos dois espaços, com a criação de uma simbiose entre ambos. A valorização do Parque Florestal, que transpõem a cota natural inferior até ao espaço urbano, e a valorização e requalificação do Bairro dos Ferreiros que levará o espaço urbano até à cota natural. Passando agora para os objectivos gerais da intervenção do Programa Polis na cidade, estes assentam nos pressupostos já referidos, resolvendo os problemas até aqui identificados, estruturando-se em quatro objectivos principais: OBJECTIVO 1 – Resolução de um conjunto de situações de conflito ou suprimir deficiências estruturais fundamentais ao nível das acessibilidades e dos sistemas de circulação na cidade OBJECTIVO 2 – Valorização das estruturas ecológicas inseridas na cidade OBJECTIVO 3 – Requalificação do espaço público OBJECTIVO 4 – Valorização da imagem urbana Desta forma, no âmbito do programa Polis, e por opção da Câmara Municipal foram definidas 5 zonas de intervenção tendo sido elaborado um Plano de Pormenor por cada uma delas: - Parque Corgo; - Antiga Zona Industrial; 101 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 - Zona das Tourinhas; - Vila Velha; - Centro Histórico; Tendo sido elaborados para cada uma das zonas de intervenção, planos de pormenor, de acordo com o ainda Decreto-Lei 380/99 de 22 de Setembro e seguindo as orientações dadas para a requalificação do ambiente urbano, com destaque para a articulação e estruturação do espaço-cidade, intervenção ao nível das acessibilidades, re/qualificação dos tecidos urbanos consolidados e da valorização do potencial natural existente. No entanto, o Plano Estratégico de Intervenção elaborado pelo Programa Polis, que aborda aspectos directamente relacionados com os instrumentos de gestão território, já indicados, assenta em quatro pilares estratégicos de desenvolvimento: - Resolução de situações de conflito, deficiências estruturais e coesão interna do espaço urbano, com a criação de novos eixos de ligação entre os espaços da cidade. - Valorização da estrutura ecológica existente, como é o caso dos vales do rio Corgo e Cabril; - Requalificação do espaço público, com especial relevo para a Vila Velha e Bairro dos Ferreiros; - Valorização da imagem urbana de Vila Real, aumentando a atractividade da cidade, com a valorização/ocupação do espaço público. 6.2. O PLANO DE PORMENOR DO BAIRRO DOS FERREIROS A caracterização que se apresenta, remete do bairro dos Ferreiros é relativa ao ano de 2002, momento em que foi elaborado o Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros no âmbito do Programa Polis e os estudos que o sustentam. Assim foram usados esses mesmos dados e informações para se perceber as motivações das opções referidas pelo plano. O Bairro dos Ferreiros está inserido no espaço restrito à cidade de Vila Real, localizado numa zona com o relevo acidentado, na margem direita do rio Corgo, podendo dizer-se que se trata de uma zona com uma malha urbana e demográfica envelhecida, apresentando alguns problemas relevantes, cuja solução é necessária, 102 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 de forma a dotar o espaço urbano de Vila Real de uma qualidade contínua entre os seus diversos sectores. Assim, para o Bairro dos Ferreiros, o Relatório do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros (CMVR, 2001); eram definidos os seguintes objectivos gerais: - Qualificação e integração do bairro na cidade, através de intervenções no tecido urbano e enquadramento paisagístico da área; - Recuperação de uma zona urbana degradada, associada à melhoria das condições de vida da população. - Reestruturação das funções do bairro, com a introdução de comércio e serviços. - Resolução de problemas associados a imóveis abandonados, ou desenquadrados, como é o caso do edifício inacabado do Hotel. - Requalificação do espaço público. 6.2.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO A descrição que se apresenta é sustentada nos estudos que foram elaborados de base ao Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros, sendo indicado no relatório do Plano de Pormenor (CMVR,2001). Os dados obtidos, assentaram na realização de inquéritos, que visaram caracterizar a população sob o ponto de vista social e económico, o edificado, actividades económicas e espaço público. Foram indicadas algumas limitações e redundâncias aos estudos tais como: dificuldade de realização do inquérito em todas as habitações, dado o curto prazo de tempo que havia disponível para a execução dos mesmos. Em relação ao edificado, o estudo epidérmico foi realizado de forma exaustiva, com a elaboração de uma ficha de caracterização para cada edifício. Por sua vez, a caracterização endérmica, que é o resultado da caracterização sócio-económica da população, apresenta também algumas limitações, devido aos factores já referidos. Em relação ao estudo e avaliação do espaço público, este foi caracterizado nas suas várias dimensões, tendo em conta os aspectos físicos, utilização, de forma a possibilitar uma adequada relação entre a função e a ocupação. 103 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 - Componente urbana A área de intervenção deste plano, estende-se para além do espaço que lhe está restrito, uma vez que é necessário estender a sua intervenção às restantes zonas da cidade, sobretudo a uma outra zona de intervenção no programa Polis, e alvo também de um Plano de Pormenor, a antiga zona industrial. O bairro dos Ferreiros enquadra-se no centro histórico da cidade de Vila Real, embora assuma um papel especial, dadas as diferenças de cotas existentes neste bairro, considerando o Relatório do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros (CMVR,2001) este aspecto como uma debilidade, além da estrutura sócio-económica, funcionando este espaço como uma zona marginal face à cidade. Daí a necessidade de intervenção, para que se possa verificar a uniformidade e unidade do conjunto edificado. A intervenção proposta no plano, vai procurar aproximar o território à cidade, através da introdução de novas funções e actividades no bairro dos Ferreiros. Em relação à rede de abastecimento de água e de drenagem de esgotos, o bairro estava totalmente coberto, embora nem todos os alojamentos estivessem ou ligados ou servidos. O abastecimento de água é feito através do sistema de abastecimento do Sordo, que alimenta a cidade de Vila Real, em relação às águas residuais são conduzidas até à ETAR de Vila Real, onde são tratadas e lançadas no rio Sordo. A rede de drenagem de águas residuais pluviais, apresentavam algumas deficiências, devido à sua antiguidade e falta de manutenção, o que materializava um certo desconforto a quem circulava no espaço público havendo ainda a possibilidade de infiltração de água nas habitações podendo originar patologias nos edifícios com essas causas. As infra-estruturas eléctricas e telefónicas são provenientes da Avenida 1.º de Maio, havendo linhas de distribuição ao longo do bairro. No momento de estudo e caracterização do território, ainda não existia no mesmo qualquer infra-estrutura de abastecimento de gás. - Componente Sócio-Económica O bairro dos Ferreiros é constituído por 13 quarteirões, que comportam na sua totalidade 265 edifícios, quase na totalidade habitacionais, à excepção de 5, e 53 104 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 completamente devolutos. Os edifícios habitacionais têm 255 alojamentos. Para a caracterização sócio-económica, o Relatório do Plano de Pormenor (CMVR,2001) baseou-se na realização de 113 inquéritos, na fase de estudo prévio. Figura 22 – Limites dos quarteirões definidos pelo INE (CMVR, 2001) Em termos demográficos, o Bairro dos Ferreiros apresenta uma acentuada redução da população, a ver pelo Censos de 1991 e 2001, bem como uma redução do peso populacional do mesmo, face à freguesia em que se insere e à própria cidade, podendo levantar-se assim a hipótese da fuga populacional para outras zonas da cidade, como é o caso dos bairros sociais da Araucária. O Bairro dos Ferreiros na década de 90 perdeu cerca de 64% da sua população e das suas famílias, mantendo-se a repartição da população pelas duas freguesias que constituem o bairro. 105 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Freguesia de S. Cidade de Vila Real Pedro População 741 5.283 13.809 Peso do Bairro 14% 5% Famílias 306 1.712 4.363 Dimensão do agregado 2,4 3,1 3,2 População 262 4.432 16.133 Peso do Bairro 7% 2% Famílias 113 2.472 8.232 Dimensão do agregado 2,3 1,8 2,0 Tabela 22 - Distribuição da população e famílias, em 1991 e 2001. (CMVR, 2001) 2001 1991 Bairro dos Ferreiros A estrutura etária da população apresenta também uma estrutura debilitada, com elevados índices de dependência, com um crescimento exponencial ao nível da dependência de idosos, remetendo-nos para um bairro com uma população envelhecida. Em 1991 esta taxa de dependência era de 25%, sendo agora de 61%, e com uma taxa de envelhecimento de 2,5 face aos 1,03 de 1991. Por sua vez a dependência jovem não sofreu grandes oscilações, oscilando de 25% para 24%, acompanhando uma redução da população activa de 67% para 54%. Indicadores 1991 2001 Taxa de dependência global 50% 85% Taxa de dependência jovem 25% 24% Taxa de dependência idosos 25% 61% % pop. idade activa 67% 54% Índice de envelhecimento 1,03 2,5 Tabela 23 - Relações de dependência, em 1991 e 2001 (CMVR,2001) 17% 13% 10% 16% 0-14 15-24 25-64 44% 65-74 >75 Gráfico 12 – Distribuição da população por grupos etários em 2001 (CMVR,2001) 106 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Estes indicadores permitem remeter a alteração da estrutura etária da população para as seguintes razões, tendo como base o Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros: - Aumento da população idosa; - Redução da população activa; - Fuga de população para o exterior, permanecendo a mais idosa. O inquérito caracterizou também os indivíduos por actividade económica. Os resultados, como era de esperar, apontam para os seguintes aspectos dominantes: elevada presença de reformados, e de pessoas sem actividade económica, tais como domésticas, estudantes e população com menos de 14 anos, bem como uma elevada percentagem de actividades no sector terciário, devido porventura ao meio urbano em que se encontra o Bairro dos Ferreiros. 1991 2001 População empregada 37% 35% Sector I 0,4% 0% Sector II 6,0% 6% Sector III 30,6% 29% Reformados 23% 30% Desempregados 3% 5% S/ actividade económica (domésticas, 36% 29% estudantes, pop. c/ (-) 14 anos) Tabela 24 – Distribuição da população total por a actividade económica (CMVR,2001) Os rendimentos familiares resultantes das actividade exercidas, demonstra as limitações económicas e também sociais que o bairro possui, em que, a maioria da população recebe mensalmente entre 334€ e 750€, havendo ainda 36% da população com rendimento mensal é inferior a 334€, o que correspondia ao salário mínimo nacional na altura em 2001, sendo nestes casos agregados com uma única pessoa, e com o rendimento proveniente de pensões de reforma. 107 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 3% 11% 36% < 334€ 334€-750€ 750€-1500€ 50% >1500€ Grafico 13 – Distribuição das famílias segundo o rendimento do agregado familiar em 2001 (CMVR,2001) Estes baixos rendimentos vão reflectindo nos restantes aspectos que caracterizam o bairro, desde as baixas rendas práticas, pouco actividade comercial, uma vez que não existe capacidade de compra e de transacção. A renda mensal praticada no bairro é de 67€/mensais, sendo isto o valor médio, nos edifícios arrendados, dentro dos inquiridos, porque os valores praticados chegam a ser de 10€ mensais, sobretudo nos casos em que os inquilinos ocupam a fracção há mais de 30 anos. N.º Valor médio da renda (€/mês) Tempo médio (anos) Alojamentos inquiridos 113 67€ 30 Comércio/ serviços 16 68€ 9 Tabela 25 – Valor e tempo médio de arrendamentos, 2001 (CMVR,2001) Em relação aos edifícios construídos no bairro dos Ferreiros, são na sua maioria edifícios antigos. Dos 265 edifícios, cerca de 65% dos mesmos tem construção anterior a 1945, sendo apenas de aproximadamente 12%, com construção depois de 1985. Caracterizando-se o bairro por construções antigas, os dados seguintes incidem sobre qualidade dos edifícios, usos, e estado de conservação. 108 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Épocas de Construção Total Quart. Edifícios Antes 1919 19/1945 46/1970 71/1980 81/1985 86/1991 601 44 26 59,09% 9 20,45% 2 4,55% 4 9,09% 1 2,27% 2 4,55% 602 62 27 43,55% 20 32,26% 0 0,00% 7 11,29% 6 9,68% 2 3,23% 603 14 11 78,57% 1 7,14% 0 0,00% 0 0,00% 0 0,00% 2 14,29% 604 14 8 57,14% 3 21,43% 0 0,00% 1 7,14% 1 7,14% 1 7,14% 204 5 0 0,00% 0 0,00% 3 60,00% 0 0,00% 0 0,00% 2 40,00% 207 12 1 8,33% 3 25,00% 6 50,00% 2 16,67% 0 0,00% 0 0,00% 208 11 2 18,18% 9 81,82% 0 0,00% 0 0,00% 0 0,00% 0 0,00% 209 20 4 20,00% 3 15,00% 10 50,00% 1 5,00% 2 10,00% 0 0,00% 211 3 2 66,67% 1 33,33% 0 0,00% 0 0,00% 0 0,00% 0 0,00% 301 37 16 43,24% 2 5,41% 10 27,03% 3 8,11% 3 8,11% 3 8,11% 205 10 2 20,00% 4 40,00% 2 20,00% 0 0,00% 1 10,00% 1 10,00% 201 5 1 20,00% 1 20,00% 1 20,00% 0 0,00% 1 20,00% 1 20,00% 606 28 15 53,57% 1 3,57% 6 21,43% 3 10,71% 3 10,71% 0 0,00% Total 265 115 43,40% 57 21,51% 40 15,09% 21 7,92% 18 6,79% 14 5,28% Tabela 26 – Edifícios por quarteirão e épocas de construção (CMVR,2001) A estrutura interna dos edifícios é também ela debilitada com base no mesmo inquérito: apenas 43% dos edifícios possuem todas as infra-estruturas disponíveis no bairro, materializando-se pela presença de instalações sanitárias e cozinhas com mais de 4m2; 14% dos edifícios possuem apenas instalações sanitárias, encontrando-se a maior parte dos edifícios com um elevado estado de degradação, com cozinhas e quartos sem ventilação, sem iluminação natural, com humidade interna e com problemas específicos devidos à elevada idade dos edifícios e/ou falta de obras de conservação ou reconstrução. Sob o ponto de vista do contexto físico, a área de estudo engloba duas zonas distintas. Uma que esta incluída no centro histórico, onde se privilegia muito mais o conjunto urbano face ao edifício e uma outra onde o edifício é entendido como uma peça arquitectónica, com valor arquitectónico. Desta forma, podemos dizer que o nosso território apresenta alguns imóveis com valor arquitectónico, alguns deles de ordem religiosa, e outros de arquitectura civil. Mas se temos imóveis com valor arquitectónico, também temos imóveis com uma arquitectura dissonante do conjunto urbano em que nos inserimos, correspondendo a edifícios com uma construção mais recente e/ou com intervenções recentes. 109 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 23 - Valor Arquitectónico (CMVR,2001) Figura 24 – N.º de Alojamentos por Edifício (CMVR, 2001) 110 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Em relação à tipologia, o tecido urbano está consolidado com uma maioria de edifícios unifamiliares, 60%, 22% bifamiliares ou multifamiliares de dois pisos, sendo na generalidade edifícios em banda, com uma frente estreita, desenvolvendo-se em profundidade, que, por vezes, ocupam a totalidade do lote, ou com um pequeno logradouro na traseira do edifício. A maior parte destes edifícios são de particulares e estão alugados, 53%, e 13% são mistos e habitados pelos próprios proprietários e arrendatários, e mesmo os edifícios que se encontram vazios ao momento do inquérito, pressupôs-se que estes estivessem alugados, a estudantes, ausentes nessa altura para férias. Segundo o Relatório do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros (CMVR,2001), aproximadamente 45% dos edifícios são ocupados pelos seus proprietários, considera-se que tenhamos alguns edifícios em condições plenas de funcionamento, sendo, os edifícios plurifamiliares, aqueles que apresentam piores condições de salubridade, uma vez que a sua construção não foi feita para o uso actual. O Bairro dos Ferreiros apresenta assim uma imagem de degradação e envelhecimento, factores agravados ainda pela ocupação do logradouro e pela divisão dos fogos em várias habitações, sem que para isso houvesse condições. Estas faltas de condições devem-se à inexistência de regras, ao longo de um determinado período de tempo, o que levou a uma adulteração dos edifícios do bairro, sem que isso obrigasse à manutenção das condições de salubridade e correcta habitabilidade dos mesmos, à adulteração dos materiais e a métodos construtivos desadequados, adulterando a imagem do bairro. 111 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 25 – Regime de propriedade (CMVR,2001) O aspecto geral de degradação do bairro do Ferreiros, é provocado pelo estado de conservação dos edifícios, pela ocupação dos logradouros e pela divisão dos edifícios em vários fogos, sem que para isso estivessem preparados. Segundo o relatório do Bairro dos Ferreiros, 33% dos edifícios encontram-se em mau estado de conservação e 4% em ruínas. A cércea dos edifícios apresenta uma certa homogeneidade, onde há uma prevalência de pisos de dois andares, havendo ainda uma percentagem de 24% de edifícios de 3 andares, sobretudo na zona mais baixa, diminuindo assim o impacto visual do parque edificado, ou ainda nas zonas onde existe um alargamento do espaço público, por exemplo junto à Capela de Santa Margarida/S. Lázaro. 112 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 26 – Estado de Conservação (CMVR,2001) Figura 27 – Cércea (CMVR, 2001) 113 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Um problema que o bairro dos Ferreiros possui, é o edifício designado por Hotel do Parque, considerado um dos maiores problemas urbanísticos da cidade de Vila Real. Este edifício fecha o bairro e faz a transição com a restante cidade, o que agrava o impacto negativo causado, uma vez que rompe com uma continuidade visual do bairro, que acompanha o relevo natural do mesmo. Por outro lado, o fecho do bairro é feito com o edifício do Colégio de Nossa Senhora da Conceição da Boavista, que, apesar da sua cércea ser de dois andares, a sua volumetria adequa-se ao existente no bairro, apesar de se encontrar na parte mais elevada do bairro. A ocupação acima dos pisos térreos, apenas 5 edifícios apresenta mais que uma funcionalidade, sendo os edifícios com maior cércea. Dois deles afectos à indústria hoteleira e dois a serviços e um outro de que já falamos a um equipamento escolar. Ao nível do rés-do-chão as coisas mudam de figura, uma vez que temos uma repartição mais elevada de usos, com 18 edifícios comerciais, 5 edifícios de comércio e serviços, 4 edifícios de arrumos, garagens ou armazéns, e 3 edifícios de equipamentos. O comércio existente no bairro do Ferreiros, é caracterizado como pequeno comércio, lojas comerciais de produtos com pouca saída que leva à baixa rentabilidade. Este comércio localiza-se na sua maior parte na Rua Miguel Bombarda, que era a antiga Rua Direita e que foi segmentada pela actual Avenida 1.º de Maio, que deixou esta parte da rua mais desprotegida sob o ponto de vista comercial. O espaço público que compõe o bairro dos Ferreiros, estende-se ao longo dos arruamentos que o compõem, confluindo para pequenos largos, onde se encontram duas ou mais ruas. Aqui, a filosofia da rua como espaço público de comunhão de vivências, de espaço social, ainda se encontra, temos a vida das pessoas a confluírem directamente com a rua, saindo de suas casas e entrando de imediato no espaço público. Esta predisposição é dada também pelo facto de possuirmos baixos níveis de tráfego nas ruas, e do estabelecimento de relações de vizinhança mais intensas. 114 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 28 – Usos Rés-do-chão (CMVR, 2001) Figura 29 - Usos dos restantes pisos (CMVR, 2001) 115 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 30 – Caracterização do Espaço Público Existente (CMVR,2001) De seguida, apresentam-se os aspectos mais relevantes, que foram identificados no relatório de diagnóstico do Plano, representados numa tipologia de análise SWOT, estando repartidas por sectores de intervenção: enquadramento paisagístico e ambiental, contexto sócio-económico, e contexto físico. Potencialidades / Pontos Fortes Estrangulamentos / Pontos Fracos Proximidade ao rio Corgo em zona com O conjunto edificado está de costas para o rio margens acessíveis; Corgo; Proximidade ao Parque Florestal; Imagem de degradação e isolamento do Visibilidade do conjunto decorrente da conjunto do bairro; diferença de cotas existente; Degradação do espaço público; Existência de percursos pedonais; Poluição das águas do Corgo; Existência de pontos de miradouro; Degradação das margens do rio. Proximidade ao centro de Vila Real. Tabela 27 - Enquadramento Paisagístico e Ambiental (CMVR,2001) 116 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Potencialidades / Pontos Fortes Estrangulamentos / Pontos Fracos Existência de população jovem – estudantes População residente envelhecida; universitários; "Espaço" físico Elevados índices de dependência; e económico, para a Baixos escalões de rendimento; localização de actividades comerciais; Baixa capacidade de investimento da Proximidade com o centro de Vila Real; população residente; Atractividade para a função habitação; Baixa escolaridade; Boa qualidade ambiental. Actividade económica insuficiente e pouco rentável; Baixos níveis de conforto na habitação; Ausência de equipamentos de apoio à população residente. Tabela 28 - Contexto Sócio-económico (CMVR,2001) Potencialidades / Pontos Fortes Estrangulamentos / Pontos Fracos Grande número de edifícios devolutos; Elevado número de edifícios em mau estado Unicidade e qualidade do conjunto edificado; de conservação (ocupados e devolutos); Valor histórico e identidade da área-plano; Existência de edifícios dissonantes e de Existência de elementos construídos com elementos dissonantes em edifícios de valor interesse patrimonial e histórico; arquitectónico; Existência de espaços públicos – praças e Rede de distribuição de energia eléctrica, largos. telefónica e antenas de televisão à superfície, utilizando como suporte as fachadas dos edifícios; Estacionamento desordenado e intenso nas zonas mais próximas da Rua Miguel Bombarda e Av. 1º de Maio; Deficiente inserção da Rua do Prado (principal acesso ao bairro para quem vem do centro) na malha viária da cidade; Exiguidade e fraca qualidade do mobiliário urbano. Tabela 29 - Contexto Físico (CMVR,2001) 117 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 6.3. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO 6.3.1. OBJECTIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS As propostas de intervenção no Bairro dos Ferreiros foram definidas em função dos resultados do relatório de caracterização dos Bairros dos Ferreiros, são distribuídas por linhas de acção, que relacionam estes eixos de acção com os campos ou áreas de intervenção do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros. Desta forma, as grandes opções do programa Polis incidem sobre: ‘Áreas/Campos’ de Eixos de Objectivos Gerais do Objectivos Acção do Polis Polis Específicos do Polis Suprir Intervenção no Tecido das Acessibilidades e Urbano, com especial de Circulação Integração da Ambiental e na de 167 Habitações, no mesmo timing do Polis, mas financiada por outros programas; Remodelação da Ponte Metálica. Imagem Urbana do Beneficiação do Percurso junto Estruturas Ecológicas Inseridas relevo no de Transição das Bairro na Cidade Valorização Ferreiros Reabilitação Deficiências Sistemas Acções – Polis no Bairro dos Bairro dos Ferreiros Estruturais ao Nível dos Requalificação Acção do Polis no Urbe (vales do rios Corgo Enquadramento à Levada associado à Casa da Paisagístico da Área Presa e Cabril) Recuperação Urbana Urbanística de uma Área Degradada Requalificação Espacial, Habitacional de e Reabilitação Urbana e do Paisagística Espaço-Público do Edifícios Edifício do Hotel Renovação Requalificação renovação Abandonados em particular do EspaçoPúblico Resolução Urbanística Aquisição do Espaço-Público e das Infra-Estruturas passam a infra-estruturas, enterradas; dar especial atenção à rede de Drenagem de Águas Pluviais; Remodelação da Iluminação Pública existente e Ampliação; Inserir Mobiliário Urbano. Aquisição e Reabilitação de uma Revitalização Requalificação Introdução Económica Funcional Comércio de Ruína para Criação de um Espaço Estabelecimento Comercial de para Comercialização Produtos ‘Vernáculos’; de Produtos Genuínos Criação de 1 Gabinete de Acção Local que Coordene toda a Intervenção no Bairro. 118 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Aquisição e Recuperação da Dinamização Criação Actividades Estrutura de Casa da Presa (de acordo com uma Criação de um Centro Sociais, Reforçar a Coesão Demonstrativa Culturais, Sócio-Cultural Objectivos Desportivas e da Turísticas Programa dos de Interpretação –Génese Monitorização Criação deste Ambiental e o programa funcional estabelecido); Elaboração dos Projectos de Execução, nomeadamente de Recuperação do Edifício e das respectivas Infra-estruturas. Tabela 30 – Opções do Programa Polis – Vila Real (CMVR, 2001) 6.3.2. PROGRAMA DE INTERVENÇÃO/REABILITAÇÃO URBANA A operação de reabilitação urbana, tem por objecto a recuperação física e social de um tecido urbano existente e que se encontre degradado, face às exigências e níveis de qualidade urbana socialmente estabelecidos como mínimos, bem como a preservação do carácter material e social de lugar em estudo. Relativamente ao ponto de vista material trata-se de proceder ao melhoramento dos níveis de serviço urbano, dos equipamentos, e também das próprias habitações. Depois de elaborado o relatório de caracterização do bairro, a equipa responsável pela elaboração do plano procurou representar as necessidades de intervenção, num programa de reabilitação urbana, estratificado pelas seguintes classes operacionais, de acordo com as componentes e linhas de intervenção do Programa Polis: - Requalificação Ambiental e Urbana; - Revitalização económica; - Dinamização de actividades sociais, culturais, desportivas e turísticas; - Valorização dos recursos humanos; - Valorização e conservação do património. - Estrutura de Articulação, gestão e avaliação do plano/programa no local; Na requalificação ambiental, e urbana procura dar melhor qualidade de vida à população residente e ainda tornar o bairro mais atractivo, chamando a si mais população também, esta requalificação passa pela reabilitação do parque edificado e pela melhoria do espaço público. 119 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 O Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros (CMVR,2001) pretendia levar a cabo a reabilitação de 167 habitações simultaneamente às intervenções do programa Polis, cujo financiamento seria proveniente de outros mecanismos, bem como a aquisição e renovação do até agora edifício do Hotel do Parque. Um outro aspecto relacionado com a requalificação urbana, passa pela intervenção no edifício inacabado localizado na Avenida 1.º de Maio, conhecido pelo Hotel do Parque, que se apresenta como uma das prioridades deste plano, dado o estado de conservação e ainda o impacte da estrutura na cidade, tendo sido propostas três alternativas: - Demolição dos dois últimos pisos no bloco voltado para a Avenida 1.º de Maio e ainda de dois pisos de estacionamento, ficando o espaço restante com o uso hoteleiro preferencialmente; - Demolição total dos pisos acima da Avenida 1.º de Maio e dos dois pisos de estacionamento; - Demolição total do edifício com a construção de um silo; C B A 407.50 408.00 408.50 409.00 409.50 410.00 B 431.35 429.85 407.50 408.00 408.50 409.0 0 409.50 410.00 431.35 429.85 Figura 31 – Ficha Regulamentar do Hotel do Parque (CMVR, 2001) 120 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Um outro edifício a intervir, é a Casa da Presa, que se trata de um edifício susceptível de ser atingido pela subida das águas do corgo, em que, no espaço envolvente vai ser colocado um piso permeável, onde se vai instalar o Centro de Interpretação e Monitorização ambiental. Nesta categoria, é dado também algum destaque para as infra-estruturas, prevendo-se a reconversão das actuais redes existentes e enterrar aquelas que, neste momento, se encontrem acima do nível do solo. Englobando-se nesta intervenção as redes de: água, esgotos, águas pluviais, rede eléctrica, telecomunicações e sistemas de alarme e de segurança contra incêndios. A intervenção ao nível das infra-estruturas existentes, leva também a que se proceda à beneficiação/renovação das vias e passeios, criando uma uniformidade de materiais e sistemas construtivos ao longo de todo o bairro, aproveitando também para redefinir e afinar a circulação e estacionamento do bairro. Em relação aos espaços públicos, o plano propõem a beneficiação do percurso junto à levada associado à Casa da Presa, criar/renovar e ampliar os espaços públicos e de lazer. Estas acções, passam por trabalhos de pavimentação, arborização e colocação de mobiliário urbano, nomeadamente nos Largos do Prado, da N. Sra. da Guia e das Alminhas. Além da beneficiação voltada para a ocupação humana, o programa de intervenção define a criação de um parque de estacionamento junto à escola Primária, de apoio aos equipamentos envolventes. A intervenção no espaço público privilegiou a recuperação dos percursos pedonais e o incremento da sua utilização, restringindo-se o acesso automóvel e o estacionamento, assim beneficiando sempre o percurso pedonal, interligando sob este ponto de vista o bairro com o Parque Florestal. Na segunda classe de intervenção, para a revitalização económica o plano contempla a instalação do Centro de Artes Tradicionais, que engloba um espaço para a venda dos produtos vernáculos que no bairro se manufacturam, inserindo uma nova dinâmica comercial e também produtiva no bairro. Ocupação de zonas actualmente livres, que introduzem espaço vazios no tecido urbano existentes nomeadamente nas ruas da Guia, Prado, Corgo e de Sta. Marta. Em relação à Dinamização de actividades sociais, culturais, desportivas e turísticas, o programa define acções concretas, como é o caso da recuperação da Casa da Presa para o do edifício do C.I.M.A e das respectivas infra-estruturas com a 121 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 aquisição da Casa da Presa, e a criação de equipamentos no próprio bairro, recorrendo à aquisição de edifícios actuais, tendo já uma pré-indicação da sua localização, adaptando-os às funções futuras, tais como: Centro de dia/convívio (na rua do Corgo), Escola/Centro de Formação profissional (no edifício contíguo ao Arquivo Municipal), Centro de ATL de apoio à escola básica (junto à escola Básica), e casa da cultura (no largo do Prado). Para a valorização dos recursos humanos o plano pretende levar a cabo a realização de cursos profissionais, vocacionados para as necessidades internas do bairro, e das operações que se tem de levar a cabo, sendo quase todas elas relacionadas com a construção civil, no momento de implementação do plano, e depois viradas para a área administrativa/informática e para o comércio. A valorização e conservação do património, é assumida também como um dos objectivos da implementação do plano, uma vez que o património pode ser aproveitado e visto como factor de desenvolvimento e de atractividade. Desta forma, o programa de intervenção propõe: a reabilitação do percurso do românico, junto ao rio e a iluminação dos seguintes edifícios de valor patrimonial: Ponte de Santa Margarida, Ponte Metálica, Capela Sta. Margarida/S. Lázaro, Capela N. Sra. da Guia, Alminhas e Cruzeiro da Rua da Guia, e ainda as casas apalaçadas existentes. O último pressuposto, leva à criação de um Gabinete de Acção Local que coordene toda a intervenção do bairro, onde funcionará também a sede da Associação Desportiva e Recreativa “Bairro Latino” e um Posto de Turismo Local, como forma de definir a estrutura de articulação, gestão e avaliação do plano/programa no local. A ver pelo indicado, a requalificação ambiental e urbana acompanhada da valorização dos recursos humanos, constituem os eixos centrais de desenvolvimento do bairro. Todas estas acções visam assumir uma postura de ligação do bairro à cidade, recuperação e reutilização dos percursos pedonais, que vão da zona mais elevada até ao rio corgo, promover a dinamização económica e social com a recuperação do edifício inacabado do Hotel do Parque e com a recuperação da Casa da Presa. Por último é qualificado o espaço público, tornando-o atractivo às vivências sociais dos habitantes. 122 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 32 – Estratégia da intervenção (CMVR,2001) No seguimento do relatório de caracterização da intervenção no Bairro dos Ferreiros, foi definido o programa de execução e plano de financiamento do Plano de Pormenor (CMVR, 2001). No programa de execução, foram definidas as intervenções e acções que devem ser executadas para dar resposta aos problemas identificados, cujo âmbito fosse de acordo com as opções traçadas pelo programa Polis para o Bairro dos Ferreiros, dividindo-se por seis linhas de intervenção: I REQUALIFICAÇÃO AMBIENTAL E URBANA Neste campo, a intervenção assumia a reabilitação de 167 habitações em 80 edifícios assinalados, havendo a possibilidade de ser definida uma Área Crítica de Recuperação e Revitalização Urbana e ainda a aquisição e reabilitação do edifício do Hotel do Parque. A requalificação ambiental e urbana passava também pela melhoria da rede de infra-estruturas existentes, envolvendo a sua total reconversão, beneficiação e requalificação do espaço público, nomeadamente vias, passeios e o alargamento da ponte metálica. 123 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 II REVITALIZAÇÃO ECONÓMICA A revitalização económica do Bairro dos Ferreiros, segundo o Plano de Pormenor, assenta na instalação de um Centro de Artes Tradicionais no edifício do CIMA, e novas construções de equipamentos em espaços livres no programa de financiamento. Esta acção é associada à III linha de acção do Programa Polis. III DINAMIZAÇÃO DE ACTIVIDADES SOCIAIS, CULTURAIS, DESPORTIVAS E TURÍSTICAS Esta acção, assume um carácter mais amplo, com a construção do edifício do CIMA na Casa da Presa, onde será instalado o Centro de Artes Tradicionais, e ainda a construção de um Centro de Dia/Convívio, de uma escola/centro de formação, mais ao nível superior do Bairro dos Ferreiros, centro de ATL e apoio à escola básica junto da mesma e por último a Casa da Cultura no Largo do Prado. IV VALORIZAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS Um dos aspectos da intervenção do programa Polis, é a melhoria da qualidade de vida nos centros urbanos, passando também pela atractividade do bairro. Para isso, foi prevista a realização de cursos de artes e ofícios, vocacionados para a reconstrução civil, cursos de administração/informática e ainda acções de reciclagem para a população empregada no comércio. V VALORIZAÇÃO E CONSERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO Esta linha de acção, é associada no programa de financiamento à primeira linha de intervenção e Requalificação Ambiental e Urbana. A intervenção aqui prevista, incide sobre a reabilitação do percurso do romântico, do rio até ao arquivo municipal e a iluminação de edifícios de valor patrimonial como a Ponte de Sta. Margarida, ponte metálica, capela de Sta. Margarida/S. Lázaro, Capela N. Sra. da Guia, Alminhas e cruzeiro da Rua da Guia, casas apalaçadas (Arquivo Municipal e Futura Escola Profissional e a iluminação de largos e espaços públicos. 124 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 IV ESTRUTURA DE ARTICULAÇÃO, GESTÃO E AVALIAÇÃO DO PLANO/PROGRAMA LOCAL Esta linha de acção, encerra todas as outras com a criação de um Gabinete de Acção Local que coordene a intervenção no bairro (edifício frontal à Capela de S. Lázaro/Sta. Margarida) onde deve ser também instalada a Associação Desportiva e Recreativa do Bairro Latino e um Posto de Turismo Local. O Plano de Financiamento incluído no programa de execução do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros (CMVR, 2001) indica as principais acções a desenvolver, de acordo com o programa de intervenção apresentado e quais os valores que foram estimados das intervenções e mecanismos de financiamento e 32 800 entidades envolvidas. 180 750 Figura 33 – Gestão da intervenção (CMVR, 2001) O quadro seguinte conjuga as linhas de intervenção e quais os valores estimadas das acções, são unificadas mais que uma linha de intervenção em alguns casos, dada a semelhança das intervenções apesar das diferenças de objectivos a alcançar 125 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Estimativa Acções a Implementar no Bairro dos Ferreiros Financeira Financiamento Entidades a Euros Envolver/ Parcerias I. Requalificação Ambiental e Urbana e Valorização e Conservação Património 1. Estudos e Projectos 2. Recuperação Parque Edificado Mobilizar 8.342.524,22 523.618,08 7.818.906,14 2.1. Reabilitação de 167 habitações no mesmo tempo da intervenção do programa Polis, isto é a reabilitação dos 80 edifícios Programas a C.M.V.R./ 3.665.166,95 identificados no Plano de Pormenor, podendo Adm. Central/ III QCA ser criada um ACRRU.* RECRIA/ REHABITA/ RECRIPH / SOLARH 2.2. Aquisição e renovação do Edifício do Hotel do Parque incluindo a reformulação dos acessos ao estacionamento do “Hotel” e estabelecimento de uma ligação pedonal 4.153.739,49 Polis, SA POLIS entre o parque de estacionamento coberto do “Hotel” e do “Largo do Prado”. 3. Infra-estruturas e Acessibilidades 2.061.930,75 3.1. Alargamento da ponte metálica 1.097.355,37 I.E.P. 178.220,49 Polis, SA POLIS 47.685,08 Polis, SA POLIS 3.2. Renovação das redes de infraestruturas: - Abastecimento de água - Drenagem de esgotos - Drenagem de águas pluviais - Rede eléctrica e telecomunicações 3.3. Remodelação da Iluminação Publica existente e ampliação da mesma * 3.4.. Beneficiações/renovação das vias e passeios, redefinindo a circulação e 738.669,81 estacionamento. 4. Intervenção nos espaços públicos, incluindo: 235.761,83 126 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 - A beneficiação do percurso junto à levada associado à Casa da Presa*, incluindo o arranjo da envolvente ao Edifício do C.I.M.A. - Criação, renovação e ampliação de espaços-públicos de lazer/estadia; - Revitalização do Largo do Prado - Remodelação do Largo N. Sra. Da Guia - Criação de um parque de estacionamento junto à escola primária. III. Revitalização Económica e Dinamização de Actividades Sociais, 1.340.447,12 Culturais, Desportivas e Turísticas 1. Estudos e Projectos 122.704,28 Polis, SA POLIS 306.760,71 Polis, SA POLIS Polis, SA / POLIS / C.M.V.R/ S.S / FORHUM / S.C.M. CAD/ SAD 2. Aquisição e Recuperação da Casa da Presa para instalação do C.I.M.A* e Centro das Artes Tradicionais 3. Criação de Equipamentos (Aquisição e Recuperação dos Imóveis) 3.2.Centro de Dia/Convívio 164.603,31 POLIS / 3.3. Escola/Centro de Formação Profissional 635.967,32 Polis, SA / ACESSO/ I.E.F.P. INOVAR/ POEFDS 3.4.Centro de ATL 3.5.Casa da Cultura 14.963,94 104.747,56 Polis, SA / POLIS / C.M.V.R CASA Polis, SA / C.M.V.R POLIS / INSERJOVE M IV. Valorização dos Recursos Humanos 1. Formação Profissional - 2. Ensino para Adultos - VI. Estrutura de Articulação, Gestão e Avaliação do Plano/Programa no Local 151.435,04 I.E.F.P. / INOVAR/ C.M.V.R POEFDS I.E.F.P. / C.M.V.R - FORHUM - 127 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 1. Estudos e Projectos 13.766,82 - - 2. Recuperação Imóvel 137.668,22 Polis, SA POLIS 12.132.098,96 - - TOTAL *Acções do Programa Estratégico do Polis Tabela 31 – Programa de Execução (adaptado de CMVR,2001) O cronograma de acção de execução do plano, desenvolve-se um período inicial de 3 anos, de 2002 a 2004, onde se programava o encadeamento de todas as opções preconizadas pelo plano, de forma a que fosse possível a sua plena implementação, de acordo com as seis linhas de acção propostas. 2002 Acção 1º 2º Trimestre Trimestre 2 2003 3º 4º 1º 2º 3º Trimestre Trimestre Trimestre Trimestre Trimestre 2004 4º 1º Trimestre Trimestre I. 1. I. 2. I. 3. I. 4. III. 1. III. 2. III. 3.2 III. 3.3 III. 3.4 III. 3.5 VI. 1. VI. 2. Tabela 32 – Cronograma da Intervenção (CMVR,2001) 128 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 7. AVALIAÇÃO DA EXECUÇÃO Dados os elementos que foram considerados no capítulo anterior, de caracterização da intervenção prevista no Programa Polis, com as definições dadas pelo Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros (CMVR, 2001), pode dizer-se que a intervenção centrou-se em dois grandes tipo de intervenção, a promovida pelo domínio público e a intervenção promovida pelo domínio privado, onde havia sido prevista a reabilitação das 167 habitações. No âmbito da avaliação da execução do Plano de Pormenor, vão ser considerados os dois domínios de intervenção. Em relação à intervenção pública, são consideradas todas as acções cuja promoção cabia a entidades públicas ou sobre o espaço público. Por sua vez, a intervenção no espaço privado, incidia na reabilitação das 167 habitações repartidas por 80 edifícios, e cuja promoção a intervenção era da responsabilidade dos próprios proprietários. Os critérios de análise da intervenção, incidem sobre o actual estado do bairro dos Ferreiros e verificação da execução das acções propostas, incluindo a verificação dos custos totais das intervenções, programas e entidades mobilizadas, de modo a poder ser determinado o estado actual da execução do plano. Depois desta abordagem, é pertinente que a opinião dos intervenientes seja ponderada, nomeadamente da entidade responsável pela gestão do programa Polis Vila Real, como sector público. De notar que no âmbito do Programa Polis, o conjunto de acções definidas no Plano de Pormenor tinham um cronograma de trabalhos distribuído por 2 anos e um trimestre, no período compreendido entre Janeiro de 2002 e Março de 2004, e agora, passado já 5 anos após o término deste cronograma, faz sentido que as questões e pressupostos iniciais sejam avaliados e analisada a sua execução. Nas tabelas seguintes são indicadas as acções previstas, indicado domínio em que se inseriam e as indicações relativas à execução. 7.1 AVALIAÇÃO DA EXECUÇÃO FÍSICA E FINANCEIRA Analisando os dados fornecidos pela Câmara Municipal de Vila Real, do investimento inicialmente previsto foi apenas conseguido uma pequena parte. Os valores das estimativas financeiras comportavam intervenções no valor de 129 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 12.132.098,96 € repartidos por intervenções assumidos por várias entidades, no entanto o valor das intervenções realizadas totalizou o valor de 4.276.195,28 €. Em relação às acções realizadas, a intervenção realizada ao nível das infraestruturas e acessibilidades ascendeu a 3.281.446,51 € face aos 2.061.930,75 € inicialmente previstos. Ainda na Requalificação Ambiental e Urbana e Valorização e Conservação do Património, a intervenção de qualificação do espaço público foi também realizada com um investimento de 430.582,77 €, com a intervenção em todos os espaços privados, tendo sido na elaboração do programa de acção do plano uma estimativa de 235.761,83 €. A linha de intervenção do programa Polis responsável pela revitalização económica e dinamização de actividades sociais, culturais, desportivas e turísticas foi conseguida na intervenção de aquisição e recuperação da Casa da Presa para o Centro de Interpretação e Monitorização Ambiental, onde foram gastos 564.166,00€ face aos 429.464,99 €, de referir que esta linha de acção do programa Polis tinha uma estimativa orçamental de 1.340.447,12€ onde estavam incluídos para além do C.I.M.A todos os restantes equipamento previstos para o Bairro dos Ferreiros. No entanto das acções que não foram realizadas algumas delas foram já reprogramas nomeadamente o investimento na recuperação do parque edificado, com valores corrigidos face aos considerados na estimativa orçamental, ascendendo esta previsão a 35.000.000,00 €, estando afectos 15.000.000,00 € para a recuperação dos edifícios e 20.000.000,00 € para a resolução do problema do Hotel do Parque, sendo este investimento de iniciativa privada 130 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Estimativa Financeira Financiamento Valor Real da intervenção Euros Entidades a Envolver/ Parcerias Euros Acções a Implementar no Bairro dos Ferreiros I. Requalificação Ambiental e Urbana e Valorização e Conservação Património 1. Estudos e Projectos 2. Recuperação Parque Edificado 2.1. Reabilitação de 167 habitações no mesmo tempo da intervenção do programa Polis, isto é a reabilitação dos 80 edifícios identificados no Plano de Pormenor, podendo ser criada um ACRRU.* 2.2. Aquisição e renovação do Edifício do Hotel do Parque incluindo a reformulação dos acessos ao estacionamento do “Hotel” e estabelecimento de uma ligação pedonal entre o parque de estacionamento coberto do “Hotel” e do “Largo do Prado”. Período de intervenção Valor de Intervenção Previsto Período de Intervenção Euros 8.342.524,22 35.000.000,00 523.618,08 7.818.906,14 3.665.166,95 C.M.V.R./ Adm. Central/ III QCA 15.000.000,00 2010 – 2020 4.153.739,49 Polis, SA 20.000.000,00 2010-2012 3. Infra-estruturas e Acessibilidades 2.061.930,75 3.281.446,51 3.1. Alargamento da ponte metálica 3.2. Renovação das redes de infra-estruturas: - Abastecimento de água - Drenagem de esgotos - Drenagem de águas pluviais - Rede eléctrica e telecomunicações 1.097.355,37 I.E.P. 178.220,49 Polis, SA 2003-2005 131 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 3.3. Remodelação da Iluminação Publica existente e ampliação da mesma * 3.4.. Beneficiações/renovação das vias e passeios, redefinindo a circulação e estacionamento. 4. Intervenção nos espaços públicos, incluindo: - A beneficiação do percurso junto à levada associado à Casa da Presa*, incluindo o arranjo da envolvente ao Edifício do C.I.M.A. - Criação, renovação e ampliação de espaçospúblicos de lazer/estadia; - Revitalização do Largo do Prado - Remodelação do Largo N. Sra. Da Guia - Criação de um parque de estacionamento junto à escola primária. III. Revitalização Económica e Dinamização de Actividades Sociais, Culturais, Desportivas e Turísticas 47.685,08 Polis, SA 738.669,81 235.761,83 430.582,77 1.340.447,12 564.166,00 2003-2005 1. Estudos e Projectos 122.704,28 Polis, SA 212.916,00 2001-2004 2. Aquisição e Recuperação da Casa da Presa para instalação do C.I.M.A* e Centro das Artes Tradicionais 306.760,71 Polis, SA 351.250,00 2003 – 2005 3. Criação de Equipamentos 3.2.Centro de Dia/Convívio 164.603,31 3.3. Escola/Centro de Formação Profissional 635.967,32 3.4.Centro de ATL 14.963,94 Polis, SA / C.M.V.R/ S.S / S.C.M. Polis, SA / I.E.F.P. Polis, SA / C.M.V.R 132 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 3.5.Casa da Cultura 104.747,56 Polis, SA / C.M.V.R IV. Valorização dos Recursos Humanos 1. Formação Profissional - 2. Ensino para Adultos - VI. Estrutura de Articulação, Gestão Avaliação do Plano/Programa no Local e I.E.F.P. / C.M.V.R I.E.F.P. / C.M.V.R 151.435,04 - 1. Estudos e Projectos 13.766,82 - 2. Recuperação Imóvel 137.668,22 Polis, SA 12.132.098,96 - TOTAL 4.276.195,28 35.000.000,00 Tabela 33 – Avaliação da intervenção (Fonte CMVR,2009) 133 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 No cronograma das intervenções realizadas são indicados os períodos de tempo em que se as mesmas acções foram concretizadas, a acção I. 3., referente à remodelação das redes de infra-estruturas, tinha o seu inicio previsto para o quarto trimestre de 2002 e conclusão no segundo semestre de 2003, período de tempo manifestamente reduzido para esta intervenção, que acabou por ser realizada entre 2003 e 2005. A requalificação do espaço público, acção I.4., tinha uma previsão temporal de um semestre, o ultimo de 2003, que acabou por ser realizada no mesmo período da remodelação das redes de infra-estruturas entre 2003 e 2005, A acção III.1 – Estudos e projectos foi iniciada em 2001 por altura da elaboração do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros e terminou em 2004, estando inicialmente prevista no cronograma do plano para o primeiro semestre de 2002, tendo este período sido estendido por quatro anos. A última intervenção concretizada foi o edifício do C.I.M.A, III. 2., os trabalhos decorreram entre 2003 e 2005, ao revés do inicialmente previsto entre no segundo semestre de 2002 e no primeiro trimestre de 2003. De notar que as intervenções realizadas foram condensadas no período compreendido entre os anos de 2003 e 2005, tendo sido previsto inicialmente a conclusão de todas as intervenções no primeiro semestre de 2004. A ver pela informação fornecida pela Câmara Municipal de Vila Real, as acção de recuperação do parque edificado já foram recolocadas no tempo, uma vez que são operações morosas, onde é necessária a conjugação de interesses e sobretudo tempo, prevendo-se a reabilitação das habitações entre 2010 e 2020, sendo aqui incluída a recuperação do Hotel do Parque entre 2010 e 2012. 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 OBS. I. 1. I. 2. 2010-2020 I. 3. I. 4. III. 1. III. 2. III. 3.2 III. 3.3 134 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 III. 3.4 III. 3.5 VI. 1. VI. 2. Tabela 34 – Cronograma das acções realizadas e previstas 7.1.1 REQUALIFICAÇÃO AMBIENTAL E URBANA E VALORIZAÇÃO E CONSERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO A reabilitação de 167 habitações em 80 edifícios, era a primeira acção que o Plano de Pormenor no Bairro dos Ferreiros contemplava, considerando que, para esta execução, os proprietários dos imóveis contariam com o apoio da Câmara Municipal de Vila Real, administração central, III QCA e com a mobilização de programas de apoio financeiro como o RECRIA, REHABITA, RECRIPH e SOLARH. Nas figuras seguintes, são indicados os imóveis que o Plano de Pormenor identificou como prioritários de renovação urbana, por duas categorias, Muito Urgente e Urgente. Dentro da muito urgente há a considerar a reconversão do edifício do Hotel do Parque para parque de estacionamento. Figura 34 – Imóveis a recuperar – Zona Norte (CMVR, 2001) 135 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 35 – Imóveis a recuperar – Zona Sul (CMVR, 2001) Figura 36 – Imóveis Reabilitados – Zona Norte em 2009 136 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 37 – Imóveis Reabilitados – Zona Sul em 2009 Nas figuras anteriores, indicavam-se os imóveis que foram alvo de reabilitação, ou cujo processo está em curso, quatro edifícios estão completamente reabilitados, e três estão a ser reabilitados ou encontram-se em fase de licenciamento. No entanto, há que referir que dois dos imóveis já recuperados não estavam classificados como urgente ou muito urgente a sua reabilitação, ou seja, dos 80 edifícios a reabilitar, há assim a considerar ainda a reabilitação de 75 imóveis, não se considerando aqui o processo do edifício inacabado do Hotel do Parque. Segundo o Município de Vila Real a reabilitação dos 80 edifícios, que correspondiam a 167 habitações, “implicava uma parceria entre o município e a administração central, com a mobilização de fundos provenientes ambas e ainda de fundos da União Europeia, através do III QCA, então em vigor”. Esta intervenção englobava os edifícios identificados no Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros como mais urgentes e mobilizavam “ (teoricamente) vários programas de apoio à habitação, nomeadamente o RECRIA / REHABITA / RECRIPH / SOLARH”. Ponderando os resultados obtidos, depois do Programa Polis ter terminado em 30 de Setembro de 2009, o Município conclui que “em termos de indicadores concretos, são nulos, uma vez que ainda não foi realizada e concluída qualquer intervenção”, identificando a Câmara Municipal de Vila Real os seguintes motivos como principais dificuldades e condicionantes encontradas: - Elevado número de intervenções num reduzido espaço de tempo; - Necessidade de esforço financeiro dos proprietários; 137 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 - Dificuldades de circulação e acessos no bairro, caso todas as intervenções fossem realizadas em simultâneo; - Questões de segurança; - Dificuldade de mobilização de vontades dos intervenientes; - Necessidade de realojamentos temporários; A questão da intervenção conjunta entre a administração local e central já foi anteriormente referida como fundamental e obrigatória neste processo. O sector público, Município e o agora Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) estabeleceram um protocolo de financiamento da reabilitação de alguns fogos, embora ainda não tenha sido colocado em prática devido a dificuldade financeiras do IHRU, “não existe luz verde da administração central para se iniciarem as intervenções, uma vez que não tem verbas para assumir os compromissos financeiros da respectiva comparticipação”. Os aspectos abordados pela administração local, incidiram sobre as questões de operacionalidade das intervenções e do financiamento das mesmas, no entanto, a disponibilidade e abertura dos proprietários é fundamental, prevalecendo num espaço desta natureza realidades de natureza muito distinta, como “edifícios em ruína, edifícios em mau estado de conservação, outros ocupados, uns alugados, outros ocupados pelos proprietários, existem edifícios cujos proprietários estão disponíveis para avançar e participar num processo de parceria, e outros que se recusam a fazelo”. Todas estas realidades traduzem metodologias e critérios de intervenção distintos, limitando a aplicação e financiamento das intervenções dos programas já referidos, pelas particularidades de cada um deles, que reduz ainda mais a sua aplicabilidade já por si restrita a uma banda muito estreita de intervenções possíveis. Uma das opções do documento estratégico do Programa Polis passava pela criação de uma ACRRU que englobasse o Bairro dos Ferreiros e enquadrasse a reabilitação das 167 habitações nos 80 edifícios, tendo sido já sido criada e estendendo-se ao longo do Centro Histórico da Cidade de Vila Real. Com esta definição o Município de Vila Real constituiu o Gabinete do Centro Histórico, com o “objectivo principal a execução das acções de reabilitação do edificado do Bairro dos Ferreiros, em primeiro lugar, e do restante espaço do Centro Histórico de Vila Real numa segunda fase”, neste momento a criação deste gabinete contribuiu para mobilização dos recursos humanos indispensáveis, dando cumprimento às atribuições 138 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 legais das ACCRU, o que não quer dizer que a mobilização dos vários recursos, nomeadamente os apoios financeiros necessários à recuperação dos edifícios. Questionado o Município sobre falta de capacidade financeira dos privados para proceder às reabilitações e quais as suas consequências neste momento, a resposta foi mais alargada “incluindo aqui promotores privados, município e administração central” no entanto foi referida que as questão do financiamento “não é apenas a única razão mas é uma das que mais contribui para isso”. No entanto o facto de já existirem projectos de elaborados para os primeiros edifícios financiados pelo protocolo do Município de Vila Real com o IHRU, estando já emitida a declaração de utilidade pública necessária à expropriação e as verbas municipais cativas, faltando apenas a dotação orçamental do IHRU, faz com que entrave anteriormente referido seja ultrapassado com esta intervenção, promovida pela administração pública e enquadrada fora a falta de capacidade financeira dos privados. Em relação à perspectiva de futuro, foi indicado pelo Município que está em curso a implementação de um conjunto de soluções integradas, “que procura estruturar a intervenção atendendo à realidade concreta do bairro, à natureza diversa dos actores, às dificuldades financeiras, às dificuldades de realojamento temporário, à necessidade de trazer mais gente para viver no bairro”, assumindo assim o município uma postura de coordenação das varias dimensões de até mesmo de liderança do processo. A resolução do problema do edifício inacabado do Hotel do Parque como já foi visto estava prevista nas acções do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros, com a sua reconversão em parque de estacionamento nos pisos abaixo da Avenida 1.º de Maio e com a redução da volumetria do edifício, ficando os pisos superiores restritos a um Hotel. Figura 38 – Hotel do Parque 2001/2009 139 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Esta acção não foi concluída, estando a decorrer neste momento o processo de alteração do Plano de Pormenor com o intuito de viabilizar o projecto de instalação de um hospital privado, um bloco de residências assistidas e do parque de estacionamento já previsto na versão inicial. Com a variante deste projecto prever a manutenção da cércea do edifício e envolvendo uma reestruturação profunda do trânsito na Avenida 1.º de Maio, com a alteração do tráfego para um nível inferior, criando uma praça principal em frente ao edifício, permitindo o acesso ao parque de estacionamento através de rampas com as inclinações regulamentares. Foi questionada a administração local sobre os factores que levaram à não concretização da intervenção de acordo com o definido no Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros. Os motivos da não concretização falhou logo à partida pela falta de verbas para a expropriação total ou parcial do edifício inacabado, “Sem verbas, a única hipótese possível seria através de uma intermediação entre os proprietários e o mercado, no sentido de procurar encontrar quem estivesse interessado na aquisição e posterior transformação do edifício, nos precisos termos em que esta transformação estava prevista no PP”. Ainda sobre o definido pela versão inicial do plano, apesar do enquadramento urbanístico, não reunia as condições necessárias à sua execução, nomeadamente a viabilidade financeira, imprescindível num projecto de natureza privada como este se tratava, tendo sido indicado que “a sociedade (Polis Vila Real, S.A) realizou estudo de viabilidade económico-financeira do edifício, com a participação de um reputado especialista suíço e professor na Universidade de Madrid, que concluiu pela inviabilidade da proposta do PP”, com base na redução da área que retirava a competitividade e rentabilidade ao hotel, dada a falta de espaço para as valências que hoje são necessárias no ramo, como sala de reuniões, SPA, piscinas, espaço envolvente, por exemplo. Em relação à alteração do Plano de Pormenor actualmente em curso o Município de Vila Real assume a manutenção da volumetria do edificado nos termos em que este se encontra, com a sua adaptação para um hospital privado, residências assistidas e parque de estacionamento, indicando que “ao contrário do que aconteceu anteriormente, esta proposta não representa apenas uma intenção ou visão do município, que terá de ser testada posteriormente. A proposta resulta de um processo negocial intenso e demorado que permitiu aferir e concertar a proposta entre o município e um investidor privado, assegurando a exequibilidade prévia da proposta”. 140 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 39 – Corte Esquemático da Proposta de alteração do Plano de Pormenor (CMVR, 2009) Figura 40 – Planta Esquemática da Proposta de alteração do Plano de Pormenor (CMVR, 2009) 141 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 O alargamento da ponte metálica foi uma acção que foi executada na totalidade, com a criação duas faixas de rodagem na plataforma da ponte e dois passeios laterais cobertos. Para a administração local esta intervenção “foi uma intervenção estratégica da cidade”, estando inserida no Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros por uma questão operativa de localização e de financiamento. Figura 41 – Ponte metálica em 2001 (CMVR, 2001) Figura 42 – Ponte metálica em 2009 A renovação das redes de infra-estruturas, como as redes abastecimento de água, de drenagem de águas residuais domésticas e pluviais, rede eléctrica e telecomunicações, foram incluídas nos trabalhos de beneficiação e renovação das vias e passeios, redefinição da circulação e estacionamento, bem como todas as outras acções relacionadas com a qualificação do espaço público, nomeadamente com a intervenção no largo do Prado, largo de N. Sra. da Guia, largo das Alminhas, e criação de um parque de estacionamento fronteiro à escola primária. 142 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Assim, a verificação da intervenção é divida em dois sectores de intervenção, primeiramente na reestruturação da rede de infra-estruturas e de seguida pelas intervenções pontuais nos locais referidos. As redes de infra-estruturas nomeadamente, rede de abastecimento de água, rede de drenagem de águas residuais domésticas e pluviais, rede de energia eléctrica e de telecomunicações, foi também instalada a rede de abastecimento de gás, apesar da não ligação da rede em funcionamento da cidade a esta extensão, totalizou uma intervenção de 3.281.446,51€, superior ao valor inicialmente estimado de 2.061.930,75€. Figura 43 – Rua do Corgo 2001/2009 – Passeios, via pública Figura 44 – Rede de drenagem de águas residuais domésticas e pluviais em 2009 143 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 45 – Rede de iluminação pública, mobiliário urbano, infra-estruturas de telecomunicação em 2009 A requalificação do espaço público englobou a recuperação de todas as ruas, como referido no programa de execução do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros (CMVR,2001), nomeadamente as intervenções no Largo do Prado, Largo de N. Sr.a da Guia, Largo das Alminhas e a criação de um parque de estacionamento fronteiro à escola Primária. As pavimentações e passeios foram executados de acordo com o definido no Plano de Pormenor, com a pavimentação das vias em pavimento betuminoso, com calceta em granito e passeios foram executados em granito. O espaço público foi qualificado com mobiliário urbano, ecopontos, árvores, candeeiros, estando esta acção concluída em todo o bairro dos Ferreiros. O parque de estacionamento junto à Escola foi inicialmente construído para compensar os moradores dos lugares de estacionamento perdidos com a intervenção ao longo das ruas. No entanto, neste momento a sua utilização é restrita à escola entre as 8:30 e as 18h dos dias úteis. Foi construído um outro parque de estacionamento junto do parque florestal, no espaço adjacente ao edifício inacabado do Hotel do Parque, que os moradores indicam que a sua utilização é inviabilizada pelos problemas de segurança desta mesma zona. A requalificação do espaço público, englobando a beneficiação do percurso junto à Casa da Presa, criação, renovação e ampliação dos espaços públicos de lazer/estadia, revitalização do Largo do Prado; remodelação do Largo N. Sra. da Guia 144 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 e parque de estacionamento junto da escola primária, envolveu uma intervenção de 430.582,77€, superior em 194.820,94€, face ao valor estimado no Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros. Para o Município de Vila Real o aspecto visual do bairro foi especialmente melhorado, “a componente cénica deste tipo de intervenções é muitas vezes o aspecto mais conhecido e perceptível”, no entanto são indicados os dois impactes que eram esperados e que estiveram na origem das decisões tomadas. O primeiro impacte está relacionado com o estacionamento, é entendido pela administração local que “os automóveis em cima dos passeios espalhados por todo o bairro, são uma recordação do passado”, opinião divergente dos locais e constatada no local, no entanto esta disciplina que intervenção impôs, permite que os peões tenham hoje melhores condições de circulação. O segundo impacte referido é a qualidade do serviço publico prestado pelas varias infra-estruturas enterradas e já referidas, podendo considerar-se que “a remodelação das redes efectuada assegurou níveis de serviço verdadeiramente urbanos e idênticos ao que melhor existe na cidade”, - Largo do Prado; Figura 46 – Largo do Prado em 2001 (CMVR,2001) 145 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 47 – Largo do Prado em 2009 - Largo Sr.ª da Guia Figura 48 – Largo Sr.ª Guia em 2001 (CMVR,2001) 146 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 49 – Largo Sr.ª Guia em 2009 - Largo das Alminhas Figura 50 – Largo das Alminhas 2001/2009 - Percurso do Românico Figura 51 – Percurso do Românico 2001 (CMVR,2001) 147 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 52 – Percurso do Românico 2009 - Parque de estacionamento junto à Escola Figura 53 – Entrada da escola em 2001 (CMVR, 2001) Figura 54 – Parque de estacionamento e entrada para a escola primária em 2009 148 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 55 – Parque de estacionamento junto ao Hotel do Parque 2009 7.1.2 REVITALIZAÇÃO ECONÓMICA E DINAMIZAÇÃO DE ACTIVIDADES SOCIAIS, CULTURAIS, DESPORTIVAS E TURÍSTICAS A revitalização económica e dinamização de actividades sociais, culturais, desportivas e turísticas eram assumidas pelo Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros (CMVR, 2001), com a instalação de um conjunto de equipamento de serviços, capazes de capitalizar para o Bairro dos Ferreiros novas oportunidades desenvolvimento. Passa-se a analisar cada um dos equipamentos que se previa instalar, qual o seu estado de execução e quais as opções do Município actual estado da execução. - Centro de Interpretação de Monitorização Ambiental A instalação deste equipamento envolvia a recuperação da Casa da Presa, no fundo da Rua do Corgo e o seu reaproveitamento para a instalação de alguns equipamentos/serviços, como o C.I.M.A, Centro de Arte Tradicionais e um restaurante. Esta intervenção já foi concluída parcialmente, como a instalação da Agência de Ecologia Urbana. O valor de intervenção foi de 564.166,00€, repartidos por 212.916,00€ para estudos e projectos 351.250,00€ para a aquisição e recuperação da Casa da Presa, de referir que os valores indicados no programa de execução eram 429.464,99€. 149 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 56 – E/3 – Centro de Interpretação e Monitorização Ambiental e Centro de Artes Tradicionais (adaptado CMVR, 2001) Figura 57 – Casa da Presa em 2001 (CMVR, 2001) 150 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 58 – Casa da Presa em 2009 Este equipamento já estava previsto do Plano de Pormenor tendo a sua utilização sofrido algumas alterações face aos pressupostos inicialmente previstos. Neste momento encontra-se já aqui instalada a sede da Agência de Ecologia Urbana do Eixo Atlântico e virá a ser a Agência de Ecologia Urbana da Douro Alliance – Vila Real / Régua / Lamego. Este equipamento conjuga no mesmo espaço as instituições como: Douro Alliance, Município de Vila Real, UTAD e a instituição portuguesa responsável pelo ambiente. A evolução que o anterior Centro de Interpretação e Monitorização Ambiental sofreu até se tornar Agência de Ecologia Urbana, mantêm o ambiente como área de trabalho, segundo a administração local está agência vai corresponder a “um verdadeiro centro de saber onde existirá também uma área de exposições permanente e temporárias relacionadas com a ecologia urbana terá um impacto que ultrapassará a área do bairro, funcionando como um pólo de atracão regional”. - Centro de dia/convívio O centro de dia/convívio do Bairro dos Ferreiros, estava previsto ser localizado na Rua do Corgo, com um investimento de 164.603,31€ promovido pela Polis,S.A, Segurança Social e Santa Casa da Misericórdia de Vila Real, esta acção não foi conseguida, encontrando-se os dois edifícios em mau estado de conservação, a ver pelas imagens seguintes. 151 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 59 - B – Centro de Dia/ Convívio (adaptado de CMVR,2001) Figura 60 – Edifícios destinados ao Centro de Dia/Convívio 2001/2009 - Escola/Centro de Formação profissional A Escola/Centro de Formação Profissional estava prevista ser localizada ao nível superior da zona sul do Bairro dos Ferreiros, junto ao parque desportivo da estação, num edifício contíguo ao actual Arquivo Municipal, e que é propriedade da Santa Casa da Misericórdia, com uma estimativa orçamental de 635.967,32 €, assumido pela Polis, S.A e pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional. Esta acção não foi possível ser executada, encontrando-se o edifício em condições semelhantes às de 2001. 152 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 61 – F - Localização prevista da Escola/Centro de Formação Profissional (adaptado de CMVR, 2001) Figura 62 – Edifício destinado à Escola/Centro de Formação profissional 2001/2009 - Centro ATL O centro ATL estava previsto ser construído no espaço restrito à escola primária, assinalada com o n.º 1 na figura seguinte, reapresentava um pequeno investimento face aos outros investimentos em equipamento, de cerca de 14.963,94€, sendo realizado pela Polis,S.A. e Câmara Municipal de Vila Real, não tendo sido efectuada esta intervenção. 153 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 63 - A – Centro ATL (adaptado de CMVR,2001) Figura 64 – Espaço destinado à construção do ATL – 2009 - Casa da Cultura A Casa da Cultura estava prevista ser instalada num dos edifícios próximo do largo do Prado, com a sua aquisição e recuperação pelo Programa Polis, com uma intervenção orçamentada em 104.747,56€. 154 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 65 - C – Casa da Cultura (adaptado de CMVR,2001) Figura 66 – Edifício destinado à Casa da Cultura 2001/2009 Esta intervenção não foi conseguida, estando o edifício em reabilitação (sendo um dos imóveis cuja reabilitação era classificada como urgente) para habitação e não como estava previsto para Casa da Cultura ou outro equipamento público. Considerando que a concretização deste equipamento envolve a relocalização para um outro edifício. É assumida pelo Município a intenção a sua instalação, “já está decidido avançar com o projecto desta valência, com algumas adaptações”, estando já o financiamento garantido pelo programa ARTICULAR, ao abrigo do Programa Operacional para a Região Norte, passando a designar-se como “Casa dos Artistas 155 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Voltando à perspectiva do sector público, foi indicado que a instalação dos equipamentos públicos no bairro estava agora a ser revista, à luz das novas necessidades do bairro e incluídas numa operação de regeneração urbana, já aprovada pelo programa ARTICULAR, e das restrições de natureza financeira. Em relação à interferência da execução destes equipamentos na promoção incentivo à reabilitação dos edifícios, é assumido pelo Município que “as intervenções originam a criação de equipamentos públicos no bairro e por consequência, dos respectivos serviços associados, terão sempre de ser resultado de necessidades concretas e não de actos gratuitos”. No entanto, é assumido que se os pressupostos que levaram à sua programação no Plano de Pormenor se mantêm, a não execução é uma situação indesejada e continua “a ser importante a sua realização e concretização”. Um dos objectivos do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros (CMVR,2001) passava pela revitalização económica do Bairro dos Ferreiros, dependente da iniciativa privada, competindo à administração pública criar as condições necessárias para isso. Considerando o Município que o seu trabalho está feito ou em curso “investimento no espaço público (o que esta feito), do incentivo à reabilitação do edificado (que se espera que tenha um forte progresso) a do derrube de barreiras administrativas dispensáveis (o que se procurou fazer com a alteração do PP)”, considerando ainda que “a combinação destas realizações não é garantia suficiente, mas é necessária”. Para além destas condições, o ambiente económico e financeiro é crucial para fomentar as iniciativas de investimento, considerando o município que “a perseverança e o tempo são fundamentais para que se consigam ver resultados”. 7.1.3 VALORIZAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS Esta acção estava contemplada no Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros como um complemento e surgia associada a outras acções, como a construção da Escola/Centro de Formação Profissional, num ambiente de revitalização económica do Bairro, como âncora de formação da mão-de-obra que fosse necessária às actividades instaladas no Bairro. No seguimento do Programa Polis, não foi realizada nenhuma acção de formação especifica dentro dos moldes anteriormente definidos, de considerar que a Escola/Centro de Formação Profissional não construída. 156 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Para o Município “esta natureza de intervenções, são as que menos sentido faz estar presente ao nível de um instrumento de gestão do território”. Devendo a definição dos moldes da formação profissional advir de outro tipo de actividade de planeamento e da gestão municipal, com a avaliação das necessidades e moldes das acções de valorização dos recursos humanos. 7.1.4 ESTRUTURA DE ARTICULAÇÃO, GESTÃO E AVALIAÇÃO DO PLANO/PROGRAMA NO LOCAL A última acção definida no Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros era a instalação de um gabinete de acção local, junto à ponte de Santa Bárbara, onde se pretendia instalar também a sede da associação local, ou seja, pretendia-se aqui instalar um pólo de desenvolvimento e gestão do local. Esta acção tinha um valor orçamentado de 151.435,04€, assumido pelo sociedade Polis, SA, a ver pelo actual estado do edifício, esta acção não foi concretizada. Figura 67 – D – Gabinete de Acção Local (adaptado de CMVR,2001) 157 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 68 – Edifício destinado ao Gabinete de Acção Local 2001/2009 A criação desta estrutura de apoio à intervenção no Bairro dos Ferreiros estava relacionada com a gestão da intervenção, sendo revestida de uma componente eminente pública. Pelos motivos que os proprietários indicaram como entraves à recuperação das habitações esta estrutura é necessária. No entanto, com a criação da ACRRU foi constituído o Gabinete do Centro Histórico, como apoio às intervenções e de gestão da intervenção pública e privada no centro histórico, onde o Bairro dos Ferreiros se insere, desta forma, as funções do Gabinete de Acção Local estão garantiras apesar de não se enquadrar nos moldes definidos pelo Plano de Pormenor. Para a Câmara Municipal, o assegurar deste apoio é precisamente garantido pela forma já descrita, no entanto “a avaliação deste Planos (e dos demais, numa lógica que assenta numa visão integrada da cidade e do concelho) não é da responsabilidade deste G.C.H. mas sim da Divisão de Planeamento, estrutura inserida no Departamento de Planeamento e Coordenação”. 158 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Acções a Implementar no Bairro dos Ferreiros I. REQUALIFICAÇÃO AMBIENTAL CONSERVAÇÃO PATRIMÓNIO E URBANA E Execução VALORIZAÇÃO E Recuperação Parque Edificado Reabilitação de 167 habitações no mesmo tempo da intervenção do programa Polis, isto é a reabilitação dos 80 edifícios identificados no Plano de Pormenor, podendo ser criada um ACRRU. Aquisição e renovação do Edifício do Hotel do Parque incluindo a reformulação dos acessos ao estacionamento do “Hotel” e estabelecimento de uma ligação pedonal entre o parque de estacionamento coberto do “Hotel” e do “Largo do Prado”. Infra-estruturas e Acessibilidades Alargamento da ponte metálica Renovação das redes de infra-estruturas: - Abastecimento de água - Drenagem de esgotos - Drenagem de águas pluviais - Rede eléctrica e telecomunicações Remodelação da Iluminação Publica existente e ampliação da mesma Beneficiações/renovação das vias e passeios, redefinindo a circulação e estacionamento. Intervenção nos espaços públicos, incluindo: - A beneficiação do percurso junto à levada associado à Casa da Presa*, incluindo o arranjo da envolvente ao Edifício do C.I.M.A. - Criação, renovação e ampliação de espaços-públicos de lazer/estadia; - Revitalização do Largo do Prado - Remodelação do Largo N. Sra. Da Guia - Criação de um parque de estacionamento junto à escola primária. REVITALIZAÇÃO ECONÓMICA E DINAMIZAÇÃO DE ACTIVIDADES SOCIAIS, CULTURAIS, DESPORTIVAS E TURÍSTICAS Aquisição e Recuperação da Casa da Presa para instalação do C.I.M.A e Centro das Artes Tradicionais Criação de Equipamentos (Aquisição e Recuperação dos Imóveis) □ ■□ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■□ ■□ □ Centro de Dia/Convívio □ Escola/Centro de Formação Profissional Valorização dos Recursos Humanos □ □ □ □ Formação Profissional □ Ensino para Adultos □ Centro de ATL Casa da Cultura ESTRUTURA DE ARTICULAÇÃO, PLANO/PROGRAMA NO LOCAL GESTÃO E AVALIAÇÃO DO Recuperação Imóvel □ □ ■ Executado □ Não Executado ■□ Em curso Tabela 35 – Avaliação da Execução do Plano de Pormenor 159 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Como fecho da avaliação da execução, foram colocadas algumas questões ao sector público, Nomeadamente, a falta de financiamento dos programa que estavam referenciados como a mobilizar, a alteração das politicas nacionais ao nível de alguns equipamentos e por último qual visão actual que o Município têm sobre o bairro e quais os resultados esperados nos próximos Censos 2011. Assim, o programa de execução e financiamento do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros (CMVR,2001) indicava vários programas de financiamento a mobilizar para a realização das acções, no entanto e como vimos grande parte as intervenções não foram realizadas. Desta forma, o município indica que ao nível da recuperação do edificado os programas de financiamento foram claramente insuficientes, dado o curto espectro de aplicabilidade. em relação aos equipamentos “a não garantia de financiamento, não sendo a única razão, é uma das que claramente condiciona a sua execução, adiando ou até impedindo a concretização do planeado”. As alterações das políticas sectoriais ao longo dos últimos anos foram profundas, nomeadamente nas políticas de apoio social e educação. Estavam propostos equipamento e valências desta natureza para o bairro. Segundo o Município de Vila Real, estes equipamentos precisam de ser reequacionamos atendendo à previa definição sectorial que “no âmbito das politicas municipais que, com efeito, determina as decisões relativamente a este tido de equipamentos e que deverá anteceder as decisões sobre a sua localização, no seio de planos”. Por último, foi abordada a visão actual que o Município possui sobre Bairro dos Ferreiros, “o bairro continua a ser um espaço fundamental para a cidade e, em especial, no seu Centro Histórico” sendo necessário “inverter o processo de perda da população neste bairro, abrindo-o mais à cidade e trazendo a cidade para o seu interior”. Nos próximos Censos, em 2011, é esperada a melhoria dos níveis de serviço público, dependentes das infra-estruturas e ainda alguma inversão no parque edificado, resultante das intervenções propostas pelas Município em parceria com o IHRU, mantendo-se “a diminuição dos habitantes, já que é preciso mais tempo para que estas tendências sejam invertidas. 160 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 7.2 A PERCEPÇÃO INTERVENÇÃO DA POPULAÇÃO EM RELAÇÃO À A avaliação da intervenção foi adjuvada de entrevistas aos proprietários dos edifícios e residentes e de inquéritos de opinião aos habitantes do bairro. No total foram feitas oito entrevistas aos proprietários, correspondendo a 3% da população residente em 2001, tendo sido uma tarefa difícil, uma vez que se pretendiam respostas revestidas de algum sentido crítico, atendendo a que estamos perante uma população maioritariamente idosa e com fraca instrução escolar e que não permitia a obtenção das respostas necessárias à avaliação qualitativa da intervenção do programa Polis. Paralelamente às entrevistas, foram feitos os inquéritos de opinião, de resposta mais simples e objectiva, repartidos de forma equitativa pela estrutura etária da população e pelas várias ruas do bairro, no entanto o cumprimento restrito da distribuição etária não foi de todo possível, dada a dificuldade de resposta de alguns habitantes, foram feitos 26 inquéritos de opinião, cerca de 10% da população residente em 2001. 11% 27% 15-24 25-64 65-74 >75 12% 50% Gráfico 14 – Distribuição etária da população inquirida Questionados os proprietários sobre as debilidades do bairro do Ferreiros as respostas foram várias. Passando maioritariamente pela reabilitação dos edifícios e pelas más condições em que alguns se encontram, bem como algumas originadas pelas intervenções financiadas pelo programa Polis, tais como os problemas de estacionamento, “as debilidades advêm da falta de estacionamento para os moradores 161 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 do bairro visto que hoje em dia quase todos os moradores possuem pelo menos um carro, o que não acontecia à 50 anos”. A falta de vida, de gente e de equipamentos colectivos são debilidades referenciadas no bairro dos Ferreiros, sobre tudo quando estas se associam, “a falta de gente, e a que há é da minha idade ou mais velha, é necessário que seja feito alguma coisa para as pessoas idosas, um lar ou centro de dia”. A falta de uma organização social que funcione como um motivo comum a todos os moradores foi indicada como uma debilidade do bairro, pelas informações recolhidas chegou a haver um clube desportivo, “No antigamente havia um clube de bairro, “O Grupo Desportivo do Bairro Latino” que em meu entender, mobilizava muitos jovens e promovia o intercâmbio cultural e social e tinha a sua sede no próprio bairro” (no Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros estava definido que esta sede seria no edifício do Gabinete de Acção Local), esta unidade traria o movimento e a acção que os moradores dizem ser necessário, “porque de resto é um espaço atractivo e com boas condições de vida”. 7.2.1 RECUPERAÇÃO DO PARQUE EDIFICADO Neste âmbito foram feitas entrevistas aos privados sobre os motivos que levaram à não reabilitação dos 80 edifícios nos moldes previstos pelo Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros (CMVR, 2001). O principal motivo evocado foi a necessidade de montantes financeiros consideráveis para ser assumidos na totalidade pelos privados, sendo também um dos motivos “a dificuldade em conciliar os interesses dos proprietários com os dos inquilinos”, isto no imóveis arrendados. A necessidade de manutenção das fachadas e da cércea dos edifícios com as condicionantes impostas pelo regulamento do Plano do Pormenor do Bairro dos Ferreiros, obriga a que os proprietários restrinjam as suas intervenções e dificulte o emparcelamento, dos lotes com dimensões mais reduzidas, tendo este facto sido indicado por uma grande parte dos entrevistados. O apoio técnico foi também apontado como um dos entraves à reabilitação do bairro, de considerar que estamos perante uma população envelhecida e com um nível de conhecimentos reduzido, com dificuldade de percepção do funcionamento e do caminho que os processos devem seguir, tendo sido obtidas respostas como: “esta tarefa envolve muita burocracia e tempo”, “falta de vontade das pessoas”. 162 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 De salientar uma resposta a esta questão, que exigia uma posição mais intransigente do sector público “as pessoas têm que ser obrigadas a reabilitar as habitações, mas serem apoiadas para isso”, defendendo este proprietário, a necessidade de manutenção e de potenciar as linhas arquitectónicas do bairro. Os proprietários devem ser obrigados a proceder à reabilitação dos edifícios e obter apoios para estas intervenções. Uma outra questão incidia sobre os factores que levariam os proprietários a proceder às reabilitações, as respostas obtidas foram variadas e quase todas elas aceitáveis, podendo ser identificados como fragilidades do bairro. A falta de capacidade do bairro para a atracção de novos proprietários, de estabelecimento de comércio e serviços, as questões de acessibilidade e mobilidade, da ligação à rede de gás natural e reforço das ligações ao parque urbano/parque florestal, podendo a resolução/reforço destas componentes ser reforçadas e interpretadas como um incentivo à reabilitação dos edifícios pelos proprietários. Foi referida por alguns proprietários o descontrolo do mercado e especulação imobiliária, no Bairro dos Ferreiros encontram-se vários edifícios à venda, tendo os proprietários dos mesmos edifícios aproveitado a intervenção do programa Polis para aumentar o preço de venda. Este comportamento acaba por dificultar o processo de reabilitação, no caso de novos proprietários, têm que ser comportados os custos de aquisição, custos administrativos e custos da intervenção, acabando o investimento por não ser competitivo em relação a outros segmentos de mercado existentes na cidade, situação retratada por este testemunho: “a falta de pessoas faz com que o bairro não seja atractivo, as pessoas que aqui se querem instalar acabam por não comprar nem arrendar, porque as habitações não tem qualidade, e os edifícios que estão à venda apresentam-se com valores elevado, considerando ainda o valor das obras faz com que se torne inviável a instalação de novos moradores”. Foram os proprietários e residentes questionados, se no caso dos imóveis arrendados, a actualização do valor das rendas é um factor condicionante à reabilitação dos imóveis. Segundo os dados já indicados e com base no Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros (CMVR, 2001) a renda média no bairro são 67€, com 113 habitações arrendadas e com contratos de arrendamento celebrados em média à 30 anos. Não sendo possível a actualização do valor das rendas proporcionalmente ao valor dos investimentos de recuperação das habitações. 163 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Esta situação faz com que os proprietários não procedam à reabilitação dos imóveis porque não é financeiramente viável, segundo algumas opiniões dos entrevistados é necessário “proporcionar melhores condições aos inquilinos, com a possibilidade de devolução das casas aos proprietários para reabilitação, uma vez que um grande entrave é a actualização das rendas”, “os proprietários não as reabilitam (habitações) porque as rendas são muito antigas e muito baratas”. No entanto, há a considerar um outro factor, a maioria dos titulares destes contratos de arrendamento são idosos e sem posses, não sendo socialmente aceitável e possível actualização das rendas para valores normais, nem lhes sendo possível a própria realização das obras, de referir que “há muitas casas arrendadas, sem condições, não tem casas de banho por exemplo”. Uma outra consequência dos baixos valores das rendas é a interferência no mercado, uma vez que, no caso dos proprietários dos edifícios que procedam à sua recuperação para arrendamento podem não conseguir obter a rentabilidade e os valores de renda desejáveis, dado o próprio ambiente do bairro. O apoio financeiro às intervenções foi também varias vezes referido, “dar mais flexibilidade aos proprietários nas obras, e sobretudo alguma ajuda financeira, uma vez que este é um bairro histórico, e para se manter a história devíamos ter apoios” tendo sido também indicada a necessidade de um gabinete de apoio às intervenções, que desse apoio burocrático e técnico aos proprietários, tornando os processos de decisão fossem mais céleres. No programa de execução do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros eram indicados programas de apoio financeiro às intervenções de reabilitação dos edifícios. Neste âmbito os entrevistados foram confrontados com a questão se haviam sido informados sobre este programas tendo respondido na sua maioria negativamente, havendo uma resposta que indicava que “eu adquiri uma casa no bairro dos Ferreiros à sensivelmente 3 anos. Fui informada dos programas de financiamento das reabilitações, quando tive necessidade de a reabilitar, mas não consegui porque uma das condições para aceder a esse mesmo financiamento era possuir a casa há mais de 5 anos”, ou seja, se um dos problemas do bairro e a captação de novos proprietários e investidores, estes acabam por esbarrar em restrições desta natureza, acabando estes programas de financiamento por não funcionar e ainda como um desincentivo à reabilitação e ao usos nos programas. 164 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 7.2.2 REMODELAÇÃO DAS REDES DE INFRA-ESTRUTURAS E REQUALIFICAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO Como já foi visto o plano previa a remodelação das redes de infra-estruturas, alargamento da ponte metálica e requalificação no espaço público do Bairro dos Ferreiros, tendo sido acções já executadas na totalidade. Neste âmbito procurou-se recolher qual a opinião dos residentes sobre esta mesma intervenção, com base nos inquéritos e entrevistas realizadas. Uma das questões do inquérito visava a percepção da opinião dos habitantes do bairro dos Ferreiros sobre as mais-valias geradas com o alargamento da Ponte Metálica, as respostas foram claras, 42% dos inquiridos afirmaram que a intervenção foi razoável e 27% classificado a intervenção como boa. 45,00% 40,00% 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% >75 % 65-74 % 25-64 % 15-24 % muito boa boa razoável más sem opinião Gráfico 15 – Avaliação das mais-valias do alargamento da Ponte Metálica A remodelação da rede de infra-estrutura foi conseguida na totalidade e reestruturadas todas as redes de infra-estruturas no bairro dos Ferreiros, no inquérito, os habitantes foram questionados acerca da melhoria da qualidade do serviço prestado e se esta acção trouxe alguma vantagem para o bairro, aproximadamente 42% afirmaram que esta intervenção melhorou e trouxe vantagens para o bairro, havendo 8% que consideram a intervenção como muito boa e 34% como razoável. De notar que 15% dos inquiridos classificaram esta acção como má, tendo sido possível apurar que a rede de drenagem de águas residuais domésticas não funciona nas melhores condições, com a libertação de cheiros. Um outro aspecto que foi registado foi a não compatibilidade da rede de telecomunicações instalada com a 165 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 legislação actual, uma vez que um proprietário se viu obrigado a fazer a ligação à rede aérea pré-existente. 45,00% 40,00% 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% >75 % 65-74 % 25-64 % 15-24 % muito boa boa razoável más sem opinião Gráfico 16 – Avaliação das intervenções de requalificação das redes de infra-estruturas. Em relação à intervenção no espaço público, o inquérito colocava duas questões aos habitantes sobre estas intervenções. Uma primeira onde se procurava saber qual a opinião sobre a intervenção de beneficiação/requalificação das ruas, passeios, redefinidos os fluxos de tráfego automóvel e estacionamento, e a segunda questão onde se procurava saber se esta qualificação do espaço público contribuiu para uma maior e melhor convivência entre a população residente. Em relação à primeira questão, os habitantes consideraram na sua maioria que a intervenção foi má, com 65% de respostas, considerando apenas 23% dos inquiridos que a intervenção foi razoável e 8% que a intervenção foi boa. 70,00% 60,00% 50,00% >75 % 40,00% 65-74 % 30,00% 25-64 % 20,00% 15-24 % 10,00% 0,00% muito boa boa razoável más sem opinião Gráfico 17 – Classificação da intervenção no espaço público 166 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Nos habitantes, o principal sentimento que se notava nestas respostas era a ausência de estacionamento no bairro, sendo necessário os habitantes estacionarem em cima dos passeios, não havendo uma alternativa capaz de absorver a totalidade das necessidades de estacionamento no bairro. Em relação aos materiais usados na intervenção, apesar a elevada qualidade, os residentes indicam que os mesmos não são funcionais, que em períodos de chuva e gelo, os passeios em granito se tornam intransitáveis, dadas as elevadas inclinações das ruas do bairro os passeios ficam escorregadios, sendo necessário que a circulação pedonal seja feita pela via pública. Por sua vez, a segunda questão acaba por validar os resultados da primeira considerando 62% dos inquiridos que a intervenção não trouxe melhores condições de convivência e aproveitamento do espaço público, contra 38% que responderam afirmativamente, de notar que no caso das respostas negativas 23% foram reunidas na classe etária > 75 anos, enquanto que no caso das respostas afirmativas 27% foram obtidas na classe etária 25-64 anos. 70,00% 60,00% 50,00% >75 % 40,00% 65-74 % 30,00% 20,00% 25-64 % 10,00% 15-24 % 0,00% sim não sem opinião Gráfico 18 – Melhoria da convivência no espaço público Para os proprietários entrevistados, a avaliação das intervenções de renovação das redes de infra-estruturas e beneficiação/renovação do espaço público, trouxeram vantagens e desvantagens, denotando-se alguns sentimentos de insatisfação face às obras realizadas. Para alguns proprietários as intervenções realizadas trouxeram melhor qualidade de vida, melhor imagem do bairro, mas houve problemas que foram mantidos, sobre tudo ao nível das infra-estruturas, como a falta de abastecimento de gás natural e de algumas falhas na rede de iluminação pública se mantêm. Uma das respostas focalizava a rede de telecomunicações “ a rede de telecomunicações, que 167 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 após terem sido realizadas as obras para implantar a infra-estrutura subterrânea, continuam pendurados pelas fachadas os cabos de telecomunicações antigos e quando há novos pedidos de instalação novos cabos são acrescentados” Foi referido o funcionamento deficiente da rede de drenagem de águas residuais domésticas, com entupimentos frequentes e libertação de cheiros desagradáveis ao longo de todo o bairro, com especial incidência no Beco do Brasil. As reestruturações feitas ao nível da rede viária, originaram algumas respostas menos agradáveis sobretudo pela falta de estacionamento, e mesmo os parques existentes têm uma utilização condicionada. No caso do parque de estacionamento junto à escola primária, a sua utilização é exclusiva ao pessoal afecto à escola, no parque de estacionamento junto ao Hotel do Parque e Parque Florestal a sua utilização está também limitada por problemas de segurança. No entanto destacam-se respostas como ”os moradores têm um maior orgulho no bairro após a intervenção da Polis e alegria em viver ali”, “é indiscutível que trouxeram maior qualidade de vida a quem vive e trabalha no bairro”. A requalificação do rio para os moradores não foi bem conseguida, uma vez que, segundo os mesmos, deixou de ser possível a utilização como “praia fluvial” e para lavar a roupa, que segundo as informações recolhidas, era uma tradição do local. Questionado o sector público sobre os impactes das intervenções de reestruturação das redes de infra-estruturas e de qualificação do espaço público, as respostas obtidas foram contrastantes com as dos privados sobretudo em relação ao estacionamento. 7.2.3 INSTALAÇÃO DE EQUIPAMENTOS - Centro de Interpretação e Monitorização Ambiental Dentro do inquérito de opinião realizado aos habitantes, estes foram questionados sobre a sua opinião acerca deste equipamento e quais as vantagens do mesmo, 46% da população respondeu negativamente a esta questão, contra 39% de respostas afirmativas, de notar que 15% da população afirmou não ter opinião sobre o assunto, assumindo-se aqui uma postura de desconhecimento sobre o que ali se pretende instalar e quais as funções deste equipamento. 168 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 50,00% 45,00% 40,00% 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% >75 % 65-74 % 25-64 % 15-24 % sim não sem opinião Gráfico 19 – Vantagens da instalação do C.I.M.A - Centro de Dia / Convívio O inquérito realizado inquiriu os habitantes sobre a prioridade deste investimento, tendo 58% da população classificado a instalação de um centro de dia/convívio no Bairro dos Ferreiros como muito alta, e 39% classificado como muito alta, sendo cerca de 50% das respostas que classificaram este equipamento com uma prioridade muito alta habitantes possui mais de 65 anos, população alvo deste do equipamento. 70,00% 60,00% 50,00% >75 % 40,00% 65-74 % 30,00% 25-64 % 20,00% 15-24 % 10,00% 0,00% muito alta alta normal baixa sem opinião Gráfico 20 - Prioridade de um Centro de Dia/Convívio no Bairro dos Ferreiros 169 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 - Escola / Centro de Formação Profissional Os habitantes do Bairro dos Ferreiros consideram esta intervenção com uma prioridade alta, segundo 50% dos inquiridos, 19% consideram que esta intervenção é muito prioritária, havendo ainda algumas respostas que classificaram a instalação da escola/centro de formação profissional como normal. De notar que as respostas menos positivas eram motivadas pela distância do centro do Bairro, uma vez que se trata de uma zona limítrofe e localizada numa zona urbana já consolidada. A motivação das respostas que classificaram esta intervenção como muita alta ou alta, foi porque encontram nesta acção uma oportunidade de rejuvenescimento e atracão de população mais jovem. 60,00% 50,00% 40,00% >75 % 30,00% 65-74 % 20,00% 25-64 % 10,00% 15-24 % 0,00% muito alta alta normal baixa sem opinião Gráfico 21 – Prioridade da construção da Escola/Centro de Formação Profissional Dada a natureza estratégica deste equipamento, não só para o bairro dos Ferreiros mas para a própria cidade, o mesmo está a ser alvo de reavaliação e se a sua execução “corresponde efectivamente às necessidades e estratégias que ultrapassam o Bairro dos Ferreiros” na opinião do Município de Vila Real. - Casa da Cultura Os habitantes foram inquiridos sobre o nível de prioridade que atribuíam a estes equipamento para o bairro, considerando 50% como de alta e muito alta prioridade, havendo apenas 20% dos inquiridos que indicaram como de baixa prioridade. 170 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 40,00% 35,00% 30,00% 25,00% >75 % 20,00% 65-74 % 15,00% 25-64 % 10,00% 15-24 % 5,00% 0,00% muito alta alta normal baixa sem opinião Gráfico 22 – Prioridade da Casa da Cultura Genericamente, os proprietários entrevistados foram questionados sobre o facto de estes equipamentos poderem vir a ser parte a resolução das debilidades do bairro do Ferreiros por eles identificadas, tendo as respostas sido variadas, desde a concordância plena, até ao descrédito sobre a possibilidade da instalação dos equipamentos e até mesmo à identificação de equipamentos prioritários. O centro de dia foi um dos equipamentos mais referidos como prioritários, dentro dos identificados, no entanto há a referir uma intervenção proposta que pode ser associada ao centro ATL, que é a remodelação da escola primária, como factor de atracão de novos casais ao bairro. Houve também uma resposta que pode ser interpretada como uma questão de ordem e estratégica destes investimentos, “As debilidades a que me refiro não se colmatam com a instalação de novos equipamentos. Contudo a instalação destes novos equipamentos servem para abrir e mostrar um bairro à população em geral, que muitas vezes passa despercebido”, esta resposta pode ser interpretada de uma forma diferente da convencional, não se usando estes equipamentos como instrumentos de apoio ao desenvolvimento interno do bairro, mas também como promotores da imagem interna do Bairro dos Ferreiros no exterior, podendo funcionar como alavanca de novos investimentos, públicos e privados. A última questão do inquérito procurava avaliar se as intervenções realizadas e se as mesmas trouxeram alguma melhoria da qualidade de serviço e algum contributo para recuperação dos edifícios. 171 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 100,00% 90,00% 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% >75 % 65-74 % 25-64 % 15-24 % muito boa boa razoável más sem opinião Gráfico 23 – Intervenção do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros na melhoria da qualidade vida e na recuperação de uma zona urbana degradada. Cerca de 58% da população considerou o contributo da intervenção como razoável na melhoria da qualidade de vida, face aos 23% que classificaram como boa e os 19% que classificaram como má, de notar que todas as respostas na classe etária com mais de 75 anos, classificaram a intervenção como razoável e má. Podendo considerar-se a hipótese do não aproveitamento da intervenção da população local, dada a sua idade, e a valorização de outros valores no bairro, que não são contemporâneos dos actuais. Os proprietários entrevistados, foram questionados sobre duas questões que procuravam perceber quais os novos caminhos a seguir na reabilitação do Bairro dos Ferreiros. A primeira questão incidia sobre, se a intervenção fosse planeada hoje, os critérios e objectivos deveriam ser os mesmos. A segunda questão perguntava quais as medidas que consideravam necessárias para dar seguimento à reabilitação urbana. Em relação à primeira questão, as respostas são peremptórias para os proprietários, “a avaliação da situação actual apenas confirma que a intervenção realizada deveria ter sido programada e executada de forma distinta”, indicando-se que a intervenção de valorização do espaço público deveria ter sido mais profunda, não passando apenas pela colocação de mobiliário urbano, novos pavimentos e iluminação decorativa. A questão do estacionamento, altura e largura dos passeios foi também referenciada como pontos de partida para um reposicionamento do problema. A segunda questão permitia um espectro de respostas mais amplo, o que levou os proprietários a estender as suas propostas, todas elas relacionadas com os problemas anteriormente levantados. 172 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 A questão do estacionamento foi a mais referenciada, sendo proposto “demolição de alguns imóveis degradados para a criação de bolsas de estacionamento”, uma outra acção proposta foi o reforço da ligação ao Centro Comercial Dolce Vita. Bem como outras acções complementares/de correcção às intervenções realizadas, como reforço da iluminação pública, activação da rede de gás natural instalada durante a intervenção. Surgiu um aspecto que pode ser determinante na atracção de população mais jovem, através a instalação de uma rede wireless de acesso gratuito aos habitantes do bairro. A intervenção no rio das “lavadeiras” é também vista como fundamental para o aproveitamento turístico do bairro, como uma zona de lazer do próprio bairro, de forma a viabilizar e potenciar a capacidade do rio para lavar a roupa, como pelas informações recolhidas era normal e tradicional. A mobilidade foi abordada por alguns entrevistados, considerando que a passagem de uma linha de transportes públicos urbanos pelo bairro seria fundamental, quer para quem vive no bairro dos Ferreiros, quer para quem se possa vir a instalar, “o reequacionamento da linha de transportes públicos, a reabilitação do parque habitacional, a instalação de equipamentos sociais”. Em relação à reabilitação do parque edificado e das habitações, foram recolhidas varias opiniões sobre o caminho a seguir no bairro, a institucionalização de apoios financeiros e de apoio à própria tramitação dos processos. Em último grau a expropriação foi indicada como um meio para execução e recuperação dos edifícios, “eventualmente com algumas expropriações para resolver as necessidades do bairro”, a revisão das fachada definidas nas fichas do edifício que o Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros (CMVR,2001) foram também referenciadas, dadas as condicionantes que induzem em alguns edifícios, sobretudo quando se trata de operações de emparcelamento. A intervenção da Câmara Municipal de Vila Real de intervir no mercado, de adquirir os edifícios e proceder à sua reabilitação para habitações social é vista por uns como uma opção incorrecta, e por outros como uma medida acertada. Sob o ponto de vista contrário a esta postura, os proprietários indicam que a câmara não deve entrar neste mercado, que a compra e recuperação das habitações deve ser deixada para os privados devendo os negócios imobiliários fluir com naturalidade, “e que a Câmara Municipal não entre no mercado da habitação, os proprietários se tiverem apoios cumprem com as obrigações”, no entanto e perante o 173 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 cenário da não reabilitação dos edifícios os proprietários acabam por concordar e aceder a este tipo de intervenção. O uso da expropriação pode ser visto como uma interferência das entidades públicas no mercado, no entanto o uso deste instrumento é justificado em locais onde se note a ausência de uma componente privada capaz de responder às necessidades, o que se verifica Bairro dos Ferreiros. Um dos proprietários indicou como uma medida a ser tomada para ser dado seguimento à reabilitação dos edifícios, “a Câmara Municipal adquirir as habitações, reabilita-las e depois voltar a vende-las, agir no mercado que ninguém quer intervir”. Os proprietários esperam também mais da Câmara Municipal para interferir na reabilitação dos imóveis, “a Câmara Municipal deve ter uma postura mais activa de obrigação de reabilitar os edifícios, ou comprar, fazer as obras e vender”. A actualização das rendas é também uma das medidas mais referenciadas como condicionante à reabilitação das habitações sob este regime, onde a actualização das rendas não é possível depois da realização das obras. Com os baixos valores de renda praticáveis os investimentos deixam de ser viáveis, “a questão da actualização das rendas é muito importante para que o bairro fique melhor e os proprietários tenham condições para fazer as obras”. 7.2.4 REABILITAÇÃO DO EDIFICADO – A PERCEPÇÃO DOS PROPRIETÁRIOS E RESIDENTES Depois de considerada a opinião dos residentes sobre a intervenção de recuperação do parque edificado, importa registar os principais aspectos que foram referenciados como entraves e debilidades do bairro. Para os privados, a execução das acções do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros não responderam a algumas das necessidades, ou então mostraram-se insuficientes na capacidade de resposta. Uma coisa que há a salientar é a melhoria da qualidade do ambiente urbano e do espaço público, que trouxe o bairro para os parâmetros de referência nos dias de hoje, tal como foi referido na avaliação do plano, no entanto estas intervenções envolvem tempo e a necessidade de conciliação de um conjunto de factores favoráveis aos privados para a reabilitação do parque edificado. 174 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Desta forma os factores que foram consideradas como debilidades aspectos como: - O número de lugares de estacionamento no Bairro dos Ferreiros, foi considerado insuficiente face ao número de lugares de necessários para os residentes, “As coisas melhoraram, ficaram mais arranjadas, mas o problema foi os estacionamentos, não há estacionamento no bairro”, o “acesso ao estacionamento na zona é muito complicado”, continuando a verificar-se o estacionamento em cima dos passeios e noutras zonas de estacionamento não autorizado; Como vimos, foram construídos dois parques de estacionamento, um junto à escola primária e outro junto ao edifício Hotel do Parque, ambos inicialmente estavam destinados à utilização restrita dos habitantes. No entanto, o parque de estacionamento junto à escola primária ficou restrito ao estabelecimento de ensino, por sua vez o parque de estacionamento junto ao edifício do Hotel do Parque, que não é utilizado por motivos de segurança do local. Na requalificação das infra-estruturas e requalificação do espaço público, foi definida uma zona de estacionamento restrita aos residentes na Rua do Prado, mas segundo as informações recolhidas, não existe nenhum mecanismo de controlo e garantia que esses lugares são usados pelos aos residentes. Figura 69 – Estacionamento na Rua do Prado Assim, os proprietários vêm-se forçados a usar outras formas de estacionamento no Bairro, próximo preferencialmente das suas habitações, em largos cujas intervenções visavam impedir o estacionamento e em cima dos passeios por exemplo. 175 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Sob o ponto de vista da consideração da falta de estacionamento capaz de responder às necessidades actuais dos proprietários, a sua ponderação é de crucial importância, de notar que, a reabilitação dos edifícios trará novos habitantes ao bairro e mais automóveis consequentemente, o que contribuirá para o agravamento do problema. O mesmo problema existia em Dublin, Dominick Street, em pleno centro urbano da cidade. No entanto, a intervenção que foi planeada de reestruturação do espaço público e dos edifícios, garantiu as necessidades de estacionamento, com a construção de um piso abaixo do nível da via pública para estacionamento. No caso do Bairro dos Ferreiros as questões põem-se da mesma forma, com o elevado número de edifícios em muito mau estado de conservação e outros com necessidades de reabilitação que podem perfeitamente ser convertidos para estacionamento. - A burocracia dos processos de reabilitação é vista como um entrave, estamos perante uma população envelhecida, com fraca instrução e com falta da autonomia necessária ao desenvolvimento dos processos, os proprietários indicaram que a “criação de instrumentos de apoio aos proprietários ou investidores para enfrentar o processo burocrático que envolve a realização das operações de requalificação e reconstrução dos imóveis” e que são “mais apoio aos proprietários e que os processos sejam mais rápidos”. Assim a simplificação dos processos de licenciamento das operações de reabilitação urbana, dos prazos de tempo que as entidades envolvidas nos processos de licenciamento das obras de reconstrução têm que ser reduzidos e agilizados. No caso das Sociedades de Reabilitação Urbana e nos espaços delimitados sob a sua acção, os prazos de decisão foram reduzidos e o recurso sempre que possível ao deferimento tácito é uma das linhas estratégicas do diploma que regulamenta o regime excepcional da reabilitação urbana, daí a opção do município do Porto, em avançar com a criação da SRU Porto Vivo, S.A. que assumiu as funções de licenciamento das intervenções na zona de intervenção prioritária a ACRRU que até aqui pertenciam aos municípios. - O ambiente do bairro, a falta de gente e o facto de grande parte dos edifícios é propriedade de residentes fora do bairro, são entraves à reabilitação, o interesse económico e financeiro pela recuperação dos edifícios não justifica o investimento, 176 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 associado à falta de capacidade financeira dos proprietários residentes, “Trazer mais gente para cá, dar mais flexibilidade aos proprietários nas obras, e sobretudo alguma ajuda financeira, uma vez que este é um bairro histórico, e para se manter a história devíamos ter apoios”, “devia haver financiamento para os privados”. Assim, são conjugadas várias vontades dos proprietários dos edifícios indicados no Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros. De referir que a maior parte dos edifícios classificados como de reabilitação muito urgente está em ruínas. Este estado de conservação dos edifícios leva a que os proprietários abandonem por completo dos imóveis, uma vez que a viabilidade técnica e financeira das intervenções não se verifica. Pode com isto, assumir-se que dos 80 edifícios referenciados no Plano de Pormenor alguns não reúnem as condições necessários a validar a intervenção, sendo os proprietários obrigados a optar pela não reabilitação, ou pela venda a baixo custo, sendo de considerar sob o ponto de vista da definição da estratégia de intervenção de reabilitação urbana do Bairro dos Ferreiros a demolição destes edifícios, ficando estes espaços livres e devolutos para construção nova, equipamentos, estacionamento, espaço público, por exemplo, caso contrario é necessário esperar que o ambiente de confiança se restabeleça e que o mercado recupere no Bairro dos Ferreiros. Figura 70 – Edifício em ruína na Rua Sargento Pelotas 177 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Figura 71 – Vista panorâmica do bairro Figura 72 – Edifícios em ruína na Rua do Corgo - O facto do regulamento do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros obrigar as edificações existentes a cumprir o definido na fichas de intervenção para cada imóvel, dificulta os processos de emparcelamento dos lotes, ou seja, estamos perante lotes com uma frente por vezes reduzida e no processo de reabilitação os proprietários podem optar pela junção de mais do que um lote, dificultando, assim, estas as imposições regulamentares este procedimento, “a Câmara Municipal devia ser mais flexível no licenciamento das obras”. Considerando ainda que o regulamento prevê esta figura, obrigando a manter a morfologia do edificado nas mesmas condições e que as intervenções propostas se enquadrem dentro do existente no Bairro dos Ferreiros, podendo considerar-se estas duas disposições redundantes, uma vez que condicionam o conceito de emparcelamento. 178 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Um dos proprietários entrevistados, justificou a consideração das imposições regulamentares do Bairro dos Ferreiros, com o seu próprio caso. Adquiriu dois edifícios na Rua Sargento Pelotas, que estavam num levado estado de degradação e pretendia construir uma única habitação, emparcelando os dois edifícios num só. O processo de licenciamento segundo o proprietário arrasta-se há dois anos, uma vez que o edifício assinalado, estava referenciado no plano como uma das fachadas a manter rigorosamente como ela hoje se encontra, tendo assim entrado num processo de ajuste ao projecto inicialmente aprovado, não tendo ainda conseguido a viabilidade da intervenção. Figura 73 – Edifício com processo de reabilitação em curso A reabilitação deste edifício, para proprietário, está vocacionada para o mercado de arrendamento imobiliário, considerando que para além dos custos acrescidos que a intervenção já representa, esta morosidade de aprovação do projecto está a condicionar ainda mais a rentabilidade do mesmo, tendo referido que, hoje já não teria comprado os dois edifícios nesta zona, dada a envolvente e os valores de renda aqui praticados. - A intervenção no espaço público inspirou no bairro alguma confiança e expectativa da reabilitação urbana, que provocou um aumento dos preços de comercialização dos edifícios, verificando-se no local alguma especulação imobiliária. Que condiciona as intervenções, considerando os custos de aquisição da propriedade, custos administrativos, estudos e projectos, e ainda as obras de recuperação, “os edifícios que estão à venda, apresentam-se com valores elevados, que considerando ainda o valor das obras faz com que se torne inviável a instalação de novos moradores”; 179 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Espera-se com a intervenção de reabilitação de alguns edifícios, pelo Município de Vila Real em parceria com o IHRU, que esta situação possa ser controlada, quer ao nível do custo de aquisição dos edifícios devolutos, quer já reabilitados. Analisando a imagem urbana e perceptível do Bairro dos Ferreiros, é possível verificar que um elevado número de imóveis se encontra à venda, com publicidade das agências imobiliárias responsáveis pela comercialização. Pela informação recolhida juntos dos habitantes e proprietários os valores de comercialização são elevados face ao estado de conservação em que os edifícios se encontram. A opção do Município de interferir no mercado, pode vir a contribuir para a redução deste efeito, com o recurso ao instrumento de expropriação, pode provocar que os proprietários que têm os seus edifícios à venda reduzam os preços, dado o risco de expropriação, pelo município de Vila Real através do protocolo com o IHRU, contribuindo esta medida para a própria responsabilização dos proprietários e dos agentes imobiliários. - No caso dos imóveis arrendados a dificuldade de actualização das rendas funciona como um entrave ao processo de recuperação das habitações, as rendas residuais em grande parte das habitações arrendadas é um verdadeiro entrave aos proprietários, que não procedem às intervenções, dado o retorno no investimento. Tendo sido indicado que são necessárias “melhores condições habitacionais aos inquilinos, a possível devolução das casas aos proprietários mas como grande entrave, é sem dúvida a actualização das rendas”, repercutindo este facto no próprio mercado de arrendamento do Bairro dos Ferreiros, “esta questão tem também outros aspectos negativos no bairro, uma vez que interfere no mercado, uma vez que as pessoas podem por vezes arranjar as habitações, com melhores condições e não as podem colocar no mercado com valores reais.” O outro lado do problema tem que ser aqui considerado, havendo residentes instalados em habitações de fraca qualidade, com problemas graves de salubridade, constituindo assim um problema social considerável, “há muitas casas arrendadas, sem condições, não tem casa de banho por exemplo, e os proprietários não as recuperam porque recebem muito pouco de rendas” No entanto a última alteração ao Novo Regime do Arrendamento Urbano, Decreto-lei n.º 306/2009 de 23 de Outubro, contempla já os mecanismos de actualização das rendas e regulamenta as relações entre proprietário e inquilino, 180 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 nomeadamente de suspensão e denúncia dos contratos de arrendamento, impondo assim um mecanismo de actualização das rendas para imóveis reabilitados, que até aqui não era possível, devendo o sector público criar as condições necessárias ao abrigo do Regime Jurídico da Reabilitação Urbana, Decreto-lei n.º 307/2009 de 23 de Setembro, de forma a permitir a legal actualização das rendas. Importa referir que durante a realização das entrevistas e inquéritos foram encontradas situações que ultrapassam o problema da actualização das rendas em função das obras realizadas. Encontrou-se uma situação de arrendamento mensal de 60€, por um único compartimento, onde vivem duas pessoas, sem instalações sanitárias e sem abastecimento de água da rede pública. Assim, o problema da actualização das rendas para valores capazes de garantir aos proprietários a rentabilização das obras, é colocado em causa com falta de capacidade dos inquilinos para suportarem aumentos de rendas, bem como da vontade dos proprietários de proceder às intervenções. A reabilitação dos imóveis arrendados acaba por ser desta forma um problema de conjugação de vontades e de tempo, em que o sector público é chamado para conter o problema social, com ajudas aos privados no financiamento das obras, com apoio aos inquilinos ou arrendatários no financiamento do aumento das rendas, ou com o realojamento dos inquilinos em habitações sociais, por exemplo. - Os problemas de mobilidade do Bairro dos Ferreiros são uma condicionante e debilidade do bairro. Já por si o relevo é uma dificuldade à circulação pedonal dos residentes para o resto da cidade, no entanto foi referida a necessidade de uma linha de transportes, “reequacionamento da linha de transportes públicos”, com base na necessidade de “as linhas de transportes públicos passassem por aqui”. Este aspecto foi assumido pelos residentes como uma debilidade face ao resto da cidade, uma vez que está coberta pela rede de transportes públicos urbanos, sentindo assim a população alguma fragilidade e que está a ser remetida para segundo plano. A indicação da necessidade da passagem de uma linha de transportes públicos urbanos foi mais referenciada pela população idosa, indicando o relevo acidentado do bairro como um entrave à sua mobilidade. 181 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Podendo este aspecto vir a ser visto como uma mais-valia para atracção de alguns segmentos de potenciais habitantes, sem carro e com necessidades de mobilidade, nomeadamente os estudantes da Universidade. - Foi manifestado um grande afastamento entre a população e o Plano de Pormenor e Programa Polis, os residentes não tinham um conhecimento claro sobre a intervenção realizada e algum desconhecimento sobre as acções inicialmente propostas e não concretizadas; Estas situações foram verificadas com as respostas dos proprietários quando abordados sobre o conhecimento dos programas de financiamento das obras de reabilitação dos imóveis, sobre os equipamentos que estavam previstos ser instalados no Bairro, por exemplo. Esta situação significa que na elaboração e definição das opções do plano houve um alheamento da população, face ao direito à informação e à participação dos cidadãos na elaboração dos instrumentos de gestão do território. Em Berlin, a estratégia adoptada para a definição das intervenções foi de atribuir a responsabilidade de decisão aos habitantes, entregando-lhes a gestão dos fundos de vizinhança e trazendo-os para dentro do processo de decisão, procurando implementar e tirar resultados do urbanismo participativo, fazendo com que os habitantes se sintam a responsabilidade e se sintam bem com as intervenções realizadas. 182 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 8. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES A presente dissertação de mestrado visava a abordar as estratégias de reabilitação urbana das cidades contemporâneas, com especial incidência em medidas de resposta aos problemas de desertificação, degradação do parque edificado, perda de funções urbanas nos centros históricos das cidades. As operações desta ordem envolvem duas grandes componentes, pública e privada. A componente pública é chamada na sequência a incapacidade dos privados por si só resolverem os problemas indicados anteriormente, como forma de dar resposta às questões sociais, económicas de físicas das zonas de intervenção. Por sua vez a componente privada é impulsionada pelas acções realizadas pelo sector público de resposta às suas necessidades, com as intervenções no espaço público, prestação de serviços, incentivos aos fiscais e financeiros, medidas regulamentares de incentivo às operações urbanísticas nas áreas críticas de recuperação urbanísticas, ou desincentivo aos investimentos noutras áreas. Assim, importa ponderar que tipos de intervenções têm sido levadas a cabo, como foram decididas, quais os problemas notados, quais os resultados, como se podem optimizar esses resultados, colocando-se assim questão fundamental que se coloca na politicas de reabilitação urbana e de reversão os estados de degradação dos centros históricos. A relação entre os investimentos e acções assumidas pelo sector público com as opções dos privados, entenda-se aqui, investidores, proprietários, residentes, é crucial e determinante para o sucesso dos processos, é necessário o envolvimento de ambos na definição das estratégias. A revisão bibliográfica envolveu o estudo de algumas metodologias de reabilitação urbana com resultados já conhecidos, nas cidades de Dublin, Berlin e no Porto, em cada um destes casos foram analisadas as causas dos problemas e quais a intervenções que foram assumidas. No caso de Dublin, foi possível analisar quais os fluxos de população do centro da cidade para as zonas periféricas e o seu comportamento ao longo do tempo. As políticas de reabilitação urbana nesta cidade passaram dois tipos de intervenção, através de incentivos fiscais aos investimentos em áreas desfavorecidas e aplicáveis às funções que aí eram necessárias e por intermédio da definição de operações de reabilitação em unidades de intervenção, no caso de Dominick Street, o organismo responsável pela definição das intervenções em conjunto com a população 183 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 identificou e foi afinando as propostas finais de intervenção, compatibilizando todas as componentes dos investimentos desta natureza, qualificação do espaço público, habitação, equipamento de utilização pública e estacionamento, por exemplo. Em Berlin, a situação foi idêntica, considerando que foi uma intervenção mais recente, dada a unificação da cidade em 1986, passando a partir deste momento a gestão da cidade ter sido baseada em pressupostos diferentes. Foram analisadas as causas dos fluxos imigratórios, que se situavam em cinco grandes grupos: questões de segurança, habitação, espaço público, proximidade a equipamentos, proximidade a familiares e amigos, como factores de motivação aos fluxos migratórios da população dentro da cidade de Berlin. As políticas de intervenção passaram também aqui pela implementação de benefícios fiscais aos investimentos feitos no centro histórico e que viessem a colmatar às necessidades que aí se faziam sentir. Os incentivos propriamente ditos assentaram na responsabilização dos proprietários, trazendo-os para dentro dos processos de decisão, atribuindo a cada bairro uma determinada verba, que os agentes locais em conjunto com a administração pública local decidiam como devia ser aplicada. No Porto, os fluxos de população foram idênticos aos dos restantes casos de estudo, com uma forte degradação do parque edificado, redução dos habitantes e habitações ocupadas. Aqui a intervenção passou pela criação de Sociedade de Reabilitação Urbana, e definição uma Área Critica de Recuperação e Reconversão Urbanística, que seria o espaço de jurisdição desta entidade, abrindo assim esta área aos incentivos especificamente criados para estas zonas, tais como a simplificação dos processos de controlo administrativo das operações de urbanização e edificação, responsabilização dos privados de reabilitar os imóveis e possibilidade de agir sobre os edifícios degradados visando a sua recuperação. Foi criado um documento estratégico para a revitalização da baixa do Porto, com seis linhas de acção: Re-habitação, revitalização e promoção do negócio na baixa do Porto, revitalização do comércio, dinamização do turismo, cultura e lazer, qualificação do domínio público e acções estratégicas de dinamização desta zona da cidade. No caso de estudo do Bairro dos Ferreiros, a intervenção que ao abrigo do Programa Polis para a Cidade de Vila Real visava a recuperação das componentes: urbana, ambiental, económica, dinamização de actividades sociais, culturais, 184 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 desportivas, turísticas, valorização dos recursos humanos, valorização e conservação do património, através de acções definidas por um Plano de Pormenor. A intervenção do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros regeu-se por objectivos como a requalificação ambiental e urbana, revitalização económica, dinamização de actividades sociais, culturais, desportivas e turísticas, valorização dos recursos humanos, valorização e conservação do património e por fim a criação de uma estrutura de articulação, gestão e avaliação do plano, sendo definidas para cada um destes objectivos um conjunto de acções que levariam a bom porto o alcance destes objectivos. O Bairro dos Ferreiros, sofreu na última década uma quebra acentuada da população, caracterizando-se a actual estrutura demográfica por uma população envelhecida, com fracos recursos e baixos níveis de escolaridade, a imagem global do bairro é degradada, dai a componente de reabilitação urbana assumir um papel preponderante na intervenção. Passados 8 anos da elaboração do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros, foi constatado que as componentes públicas foram de certa foram executadas, com uma forte componente de qualificação no espaço público e de instalação de equipamentos no bairro, mas, a reabilitação das 80 habitações inicialmente definidas não foi possível. Centrou-se assim, a avaliação da execução do plano neste aspecto e nos motivos que levaram a esta situação, conjugando a posição do Município de Vila Real com a dos proprietários e residentes. A opinião dos residentes foi recolhida por dois níveis de informação, um inquérito de opinião sobre a percepção da intervenção de qualificação do espaço público e de avaliação das actuais necessidades da população face ao definido no Plano de Pormenor, o segundo nível de informação correspondeu à realização de entrevistas aos proprietários e residentes no bairro, onde se pretendia obter respostas com algum sentido critico sobre o bairro, sobre a intervenção realizada e em especial sobre a reabilitação do edificado. A falta de capacidade financeira dos proprietários é a principal razão desta situação, quer dos proprietários residentes, quer dos proprietários senhorios, pese embora, o facto de estes não encontrarem no Bairro dos Ferreiros um cenário favorável aos investimentos, provocado pela falta de estacionamento, algumas falhas as intervenções realizadas, falta de vida urbana, de equipamentos públicos e de serviços. 185 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Mediante a falta de capacidade dos proprietários de recuperar os edifícios e atendendo a que é fundamental esta intervenção para que a reabilitação urbana seja conseguida, a Município em conjunto com o I.H.R.U, vai avançar para a reabilitação de algumas habitações, aproveitando assim para intervir e procurar incentivar e agir no mercado. A intervenção no espaço público envolveu uma profunda recuperação das redes de infra-estruturas existentes e instalação de outras que se encontravam em falta, dotando o espaço de uma imagem urbana de alta qualidade e extremamente atractiva, mas que ainda não permitiu a capitalização de resultados. Em relação aos equipamentos previstos no plano de pormenor a sua instalação está a ser conseguida ou em curso, estando alguns dos equipamentos já reposicionados e o seu avanço decidido, como a actual Agencia de Ecologia Urbana e Casa dos Artistas. Os habitantes não se identificam na intervenção realizada, não a reconhecendo como uma melhoria das condições e da imagem urbana no bairro, denotando alguns problemas que consideram estruturais para a reabilitação do Bairro dos Ferreiros, como a ausência de estacionamento, deficiências da redes de infra-estruturas executadas, apoio burocrático e financeiro aos proprietários para procederem à reabilitação dos edifícios, por exemplo. No que diz respeito às condições necessárias para a reabilitação dos edifícios foi possível inferir algumas debilidades a esta intervenção, nomeadamente, a falta de capacidade financeira dos proprietários, a dificuldade de actualização das rendas e envolvimento dos inquilinos, especulação imobiliária dos imóveis degradados que estão à venda, restrições regulamentares do plano, ambiente de falta de confiança no bairro favorável investimentos, existência de imóveis em ruídas cujos proprietários não assumem as suas responsabilidades, situações cuja resolução seria determinante para a reabilitação dos 80 edifícios. No entanto há a denotar um grande afastamento da população em relação às intervenções e aos motivos que levaram à sua definição, que pode ser entendido como um motivo crucial para a não obtenção de resultados, uma vez que os habitantes não se mostram motivados para impulsionar a reabilitação urbana do Bairro dos Ferreiros. Um estudo desta natureza não permitiu uma abordagem mais profunda a alguns pontos estruturantes para a avaliação da intervenção realizada e como base de apoio à definição de uma nova estratégia de reabilitação, como: 186 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 - Análise casuística de todos os edifícios com indicação de reabilitação sobre a viabilidade técnica e financeira da intervenção; - Análise do custo/beneficio das intervenções, atendendo a que a elevada qualidade da intervenção no espaço público pode não ser suficiente ou até mesmo secundária para o sucesso das intervenções; - Reflexão sobre os métodos de elaboração e avaliação dos instrumentos de gestão do território em zonas urbanas consolidadas e com problemas desta natureza; - Compatibilização dos perfis sociológicos dos habitantes e população alvo das intervenções, considerando que a sua dissociação não é possível. Desta forma conclui-se que a reabilitação urbana é revestida de uma complexidade de factores que obrigatoriamente têm que ser conjugados no sentido favorável, caso contrário e admitindo que a inversão destas tendências não venha a ser possível, a sustentabilidade dos sistemas urbanos ficará em causa, com soluções cada vez mais complexas, distintas e ainda mais factores condicionantes. 187 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 9. BIBLIOGRAFIA [1] ADAIR, A.; BERRY, J.N. e Mc. GREAL, S.; Investement and private Sector Residential Development in Inner-city Dublin; in Journal of Property Valuation & Investement, Vol 12, N.º 1, 1994 B [2] ASCHER, François, Métapolis ou l‘avenir des villes, Paris, Odile Jacob, 1995 [3] BERRY, James N.; Mc GREAL, Stanley; Taxation Allowances – Implications for property investment and development in Dublin and Berlin, in Journal of Property Finance, Volume 7 Number 3, 1996, pp 71-80. 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ANEXOS - Inquérito aos residentes - Registo da realização dos inquéritos - Entrevistas aos privados - Entrevistas ao Sector público 191 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 INQUÉRITO AOS RESIDENTES classe etária 0-14 15-24 25-64 64-75 >75 1. Como vê a intervenção de requalificação do Bairro dos Ferreiros no âmbito do Programa Polis e desenvolvida pela Câmara Municipal de Vila Real? muito boa boa razoável má sem opinião Requalificação Urbana e Ambiental e Valorização e Conservação do Património 2. Uma das intervenções do Programa Polis foi o alargamento da Ponte Metálica, como classifica esta mais-valia para o Bairro dos Ferreiros? muito boas Boas razoáveis más sem opinião 3. Uma das intervenções do Programa Polis foi o renovação das redes de abastecimento de água, saneamento, electricidade, iluminação pública, foi sentida alguma melhoria do serviço prestado e havido alguma vantagem para o bairro? muito boa Boa razoável má sem opinião 4. Uma das intervenções do Programa Polis foi a beneficiação/renovação das ruas, passeios, redefinida a circulação e o estacionamento, na sua opinião foi positiva esta intervenção? muito boa Boa razoável má sem opinião 5. A melhoria do espaço publico pode contribuir para uma maior e melhor convivência entre a população residente? Sim não sem opinião Dinamização de Actividades Sociais, Culturais, Desportivas e Turísticas e Revitalização Económica 6. O Programa Polis previa a instalação na Casa da Presa do Centro de Monitorização Ambiental e do Centro das Artes Tradicionais, é um projecto que está em fase de conclusão, na sua opinião vai trazer alguma vantagem ao Bairro dos Ferreiros? Sim não 7. muito alta sem opinião Estava prevista a construção de uma Escola/Centro de Formação Profissional, no seu entender qual a prioridade desta intervenção? alta normal baixa sem opinião 192 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 8. Estava prevista a construção de um Centro de Dia/Convívio, no seu entender qual a prioridade desta intervenção? muito alta alta normal Baixa sem opinião 9. Estava prevista a construção da casa da cultura, no seu entender qual a prioridade desta intervenção? muito alta alta normal baixa sem opinião Questões genéricas 10. Um dos objectivos do programa Polis para o bairro dos Ferreiros era a melhoria da qualidade de vida e recuperação de uma zona urbana degradada, sob este ponto de vista como vê a intervenção? muito boa boa razoável má sem opinião 193 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 N.º de Inquérito, data de realização e classe etária N.1 – 19SET; 64-75 N.2 – 19SET; 64-75 N.4 – 20SET; 64-75 N.5 – 20SET; 15-24 N.6 – 20SET; 15-24 N.7 – 20SET; 15-24 N.8 – 20SET; 25-64 N.9 – 20SET; 25-64 N.10 – 20SET; 25-64 N.11 - 20SET; 25-64 N.12 - 20SET; 25-64 N. 13 - 20SET; 25-64 N.14 - 20SET; 25-64 N. 15 - 20SET; 25-64 N. 16 - 20SET; 25-64 N. 17 - 19SET; 25-64 N.18 - 19SET; 25-64 N.19 - 19SET; 25-64 N.20 - 19SET; 25-64 N. 21 – 19SET; >75 N. 22 - 19SET; >75 N. 23 - 19SET; >75 N. 24 - 19SET; >75 N. 25 - 19SET; >75 N. 26 - 19SET; >75 N.27 - 19SET; >75 194 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 QUESTÕES AOS PRIVADOS Em 2001 a Câmara Municipal de Vila Real elaborou um Plano de Pormenor para o bairro dos Ferreiros no âmbito do programa Polis, implementado a nível nacional, que visava a recuperação urbana. Passaram-se cinco anos após o prazo definido no Plano de Pormenor para a conclusão da intervenção, tornando-se necessário a avaliação e ponderação das acções executadas, desta forma e como estou a elaborar uma tese de mestrado subordinada às questões das estratégias de reabilitação urbana, tendo como caso de estudo o Bairro dos Ferreiros. Uma das componentes da avaliação da intervenção incide sobre a opinião dos privados sobre o trabalho desenvolvido, as questões que se seguem procuram recolher a informação necessária à definição da opinião. 1. No Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros, uma das principais linhas de acção passava pela reabilitação do parque edificado, com a recuperação de 167 habitações em 80 edifícios. Passados aproximadamente 6 anos após o prazo para a execução desta acção, esta não foi conseguida nos moldes definidos. Na sua opinião quais os motivos que levaram a que esta acção não fosse conseguida? OB (Orlando Baptista) – Via e-mail 28SET09 Do meu conhecimento, esta não foi conseguida em moldes alguns. Compreensível talvez pelo facto de que sendo uma intervenção que necessita de recursos financeiros consideráveis não pode ser suportada exclusivamente pelas entidades públicas envolvidas. Estratégia que passe quase exclusivamente pela reabilitação do edificado por parte da autarquia para posterior disponibilização de habitação com arrendamento a custos controlados parece assim inexequível. Sem o envolvimento do sector privado continuará tudo certamente por fazer. CJ (Carlos Granjo) – Via e-mail 29SET09 A dificuldade em conciliar os interesses dos proprietários com os dos inquilinos A utilização das verbas disponíveis em outras obras. AO (Aprigio Oliveira) – Bairro dos Ferreiros, 3OUT09 A reabilitação das habitações está muito má, a Câmara Municipal de Vila Real está agora a comprar edifícios para reabilitar, e a interferir no mercado, concordo com a obrigação dos proprietários de pintarem as fachadas, compor os telhados, mas tem que haver apoios financeiros para quem não tem posses para isso. A manutenção das fachadas e do número de pisos dos edifícios também não facilitam as intervenções, deviam deixar fazer as ampliações, mas claro está que sem mudar a imagem do bairro e dentro de certos limites. 195 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 IP (Isabel Pinto) – Bairro dos Ferreiros 05OUT09 Deveu-se sobretudo a falta de vontade das pessoas, e como o bairro representa poucos eleitores também não consegue atrair as intervenções como outras zonas da cidade consegue. SN (Sofia Neto) – Via e-mail 06OUT09 Esta tarefa envolve muita burocracia e tempo. AT (Artur Teixeira) – Bairro dos Ferreiros, 06OUT09 O que levou os proprietários a não arranjarem as casas foi a falta de estacionamento e as condições que exigem para as arranjar, por exemplo, no caso de se quererem juntar duas casas, não se pode por tudo da mesma altura, tem que ficar cada uma delas com a mesma altura. O bairro também perdeu muito, com a falta de estacionamento e não se poder subir numa das ruas do lado da cidade. Dantes o rio podia ser usado para lavar a roupa e como praia fluvial no verão, agora já não dá para essas coisas. MG (Margarida Gonçalves) – Via e-mail 10OUT09 A falta de respeito pelos moradores do bairro e acima de tudo uma falta de palavra incrível. DE (Domingos Esteves) – Bairro dos Ferreiros, 10OUTU09 O problema é que a Câmara não exige e nem apoia quem quer reabilitar, as pessoas têm de ser obrigadas a reabilitar as habitações, mas serem apoiadas para isso, e não andar a brincar ao faz de conta. 2. O que levaria os proprietários a proceder à reabilitação dos imóveis? OB As razões que levam os proprietários a não realizar obras de reabilitação e requalificação nos seus imóveis são certamente várias e variadas. No entanto parece-me que algumas serão transversais, tais como, a falta de atractividade do bairro para potenciais novos proprietários, a falta de condições para a instalação de espaços de comércio e serviços, a imagem negativa provocada pela degradação geral do edificado, a falta de condições de acessibilidade e mobilidade, a carência de infra-estruturas como gás natural, a falta de limpeza urbana, o isolamento do bairro em relação a equipamentos próximos como o parque da cidade, entre outras. Assim para responder à pergunta colocada, diria que o que levaria os proprietários a reabilitar os imóveis seria a resolução por parte das entidades públicas envolvidas nos problemas atrás enunciados. CJ A requalificação do parque edificado, proporcionar melhores condições habitacionais aos inquilinos, a possível devolução das casas aos proprietários mas como grande entrave, é sem dúvida a actualização das rendas. 196 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 AO A Câmara Municipal deve reduzir as complicações, e se possível, criar uma espécie de gabinete que apoie as pessoas nos processos, uma vez que por vezes as pessoas não têm formação e não percebem como é que as coisas se fazem. A criação de uma linha de financiamento para quem não tem dinheiro para reabilitar, e com a entrada de mais serviços no bairro. IP O principal problema que põem aos proprietários é o baixo valor das rendas, a maior parte dos edifícios estão arrendados, com baixos custos, o que faz com que os arrendatários não façam as intervenções que deviam fazer. E além disso o Polis teve falhas, ouve casos em que foram danificados os edifícios e não foram reparados. A falta de pessoas faz com que o bairro não seja atractivo, e as pessoas que aqui se querem instalar acabam por não comprar nem arrendar porque as habitações não tem qualidade, e os edifícios que estão à venda, apresentam-se com valores elevados, que considerando ainda o valor das obras faz com que se torne inviável a instalação de novos moradores. SN Necessidade de utilização dos imóveis, visto que grande parte dos donos dos imóveis têm outra residência. Nos casos em que as habitações se encontram alugadas, os proprietários não as reabilitam porque as rendas são antigas e muito baratas. AT Trazer mais gente para cá, dar mais flexibilidade aos proprietários nas obras, e sobretudo alguma ajuda financeira, uma vez que este é um bairro histórico, e para se manter a história deviam ter apoios. Os donos das casas arrendadas não têm posses para as reabilitar, e há gente a viver em más condições. MG Ver o nosso bairro novamente habitado e não com imóveis a meio de recuperação com falta de segurança. DE Para fazer com que os proprietários recuperem as habitações, a Câmara Municipal devia ser mais flexível no licenciamento das obras e algumas fachadas não deviam ser aceites como elas estão, se querem fazer do bairro dos Ferreiros um local histórico essas fachadas deviam ser alteradas, com apoio da Câmara. 3. Na altura da intervenção do programa Polis estavam disponíveis programas de financiamento das reabilitações, foram os proprietários informados desses mesmos incentivos? OB O único incentivo de que tive conhecimento foi a redução das taxas autárquicas para realização de obras. Desconheço qualquer campanha ou acção de divulgação de outros instrumentos de apoio por parte da autarquia ou de outras entidades. 197 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 CJ R: Sim. AO Nunca fui informado e nunca soube de nada IP Não, ninguém me disse, nem informou de nada. SN Eu adquiri uma casa no Bairro dos Ferreiros à sensivelmente 3 anos. Fui informada dos programas de financiamento das reabilitações, quando tive necessidade de a reabilitar, não consegui financiamento porque uma das condições para aceder a esse mesmo financiamento era possuir a casa à mais de 5 anos. AT Falou-se, mas não passou disso. MG Havia? DE Não tive conhecimento, deviam continuar a haver. 4. O que levou os proprietários a não proceder à reabilitação dos edifícios? OB V. Resposta à questão n.º 2. CJ A dificuldade em proceder à actualização das rendas e muitos dos imóveis ainda se encontrar em nome de antepassados dificultando o acesso ao financiamento. AO As condições que foram impostas e falta de dinheiro dos proprietários para as intervenções. IP Sobretudo as questões financeiras e a desregulação do mercado imobiliário, que torna os investimentos inviáveis. SN Na minha opinião, acho que foi devido à elevada faixa etária dos habitantes do bairro, que muitas vezes têm alguma aversão a obras em casa. AT O que levou, é que as casas estão livres, as pessoas saíram daqui, e não voltam porque há bastantes problemas no bairro, e as pessoas que aqui estão são na maioria idosos. 198 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 MG A falta de verbas, como me foi dito a mim própria quando pedi ajuda para a recuperação do meu telhado e frontaria… ou então… negarem a venda de imóveis a moradores temos um caso bem recente de um dos moradores querer recuperar e não lhe ser autorizada a venda! DE Foi a não obrigação dos proprietários da reabilitação dos edifícios como os devidos apoios e incentivos, o bairro tem também cada vez menos gente. A questão das rendas interfere muito na qualidade das habitações, aqui, muitas casas estão arrendadas por pessoas idosas, com contratos muito antigos e com baixas rendas, que não permite aos proprietários que façam obras porque as rendas não dão para isso e não podem ser actualizadas. 5. No caso dos imóveis arrendados, o valor das rendas é uma condicionante à reabilitação dos imóveis? OB Será certamente. Mas não o considero um factor relevante, no caso concreto do bairro de Santa Margarida, dado que a maior parte dos imóveis não estão arrendados, mas sim devolutos. CJ R: Sim, sem dúvida. AO Sim, as baixas rendas não permitem que os arrendatários façam as obras, e os inquilinos não fazem também por fazer as obras, e quando querem fazer, estas são complicadas. Mas deviam ser feitas, há casas sem qualidade nenhuma para se viver. IP Sim, se as obras fizessem subir as rendas seria mais fácil, assim com os contratos de arrendamento mais antigos as coisas complicam-se. SN Sim. AT Sim, há muitas casas arrendadas, sem condições, não tem casa de banho por exemplo, e os proprietários não as recuperam porque recebem muito pouco de rendas. MG Quanto a isso só me posso referir aos idosos com rendimentos pequenos e pagarem aos 80 euros de renda, parece pouco mas se olhar-mos ás suas reformas!!!! DE Sim, é um dos principais problemas, com rendas muito baixas os proprietários não vão fazer obras porque não é viável, uma vez que os inquilinos não permitem a actualização das rendas, nem fazem obras. 199 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Esta questão tem também outros aspectos negativos no bairro, uma vez que interfere no mercado, uma vez que as pessoas podem por vezes arranjar as habitações, com melhores condições e não as podem colocar no mercado com valores reais. 6. No âmbito da intervenção realizada, o programa Polis procedeu a obras de renovação das redes de infra-estruturas e beneficiação/renovação do espaço público, como é que o Bairro dos Ferreiros vê hoje essas intervenções? Trouxeram alguma vantagem para o Bairro dos Ferreiros? OB É indiscutível que trouxeram maior qualidade de vida a quem vive e trabalha no bairro. No entanto, não poderia deixar de salientar que são vários os problemas existentes no que às infra-estruturas diz respeito. Refiro-me por exemplo à falta de abastecimento por gás natural, a fraca iluminação dos espaços públicos, ou a rede de telecomunicações, que após se terem realizado as obras para implantar a infra-estrutura subterrânea, continuam pendurados pelas fachadas os cabos de telecomunicações antigos e quando há novos pedidos de instalação novos cabos são acrescentados. CJ R: Melhor do que o que estávamos. Porém muito mais podia ser feito. A titulo de exemplo temos a infra-estrutura da rede de gás mas o acesso ao gás nem sequer existe, apesar de já ter efectuado reclamação junto da entidade responsável. A rede de saneamento antiga nunca tinha dado problemas e com a nova é frequente existirem alguns problemas, nomeadamente o “constante “entupimento” da mesma. AO Sim, alguns serviços melhoraram, mas a rede de esgotos está muito má, liberta maus cheiros, aqui na minha rua é uma miséria, e ao nível dos estacionamentos a questão complicou-se também. IP Sim, trouxeram, o bairro ficou mais organizado, mas houve muitas falhas, sobretudo a ausência de estacionamento, e a instalação da Agência de Ecologia Urbana, espero que traga mais vida ao bairro. As redes de infra-estruturas trouxeram melhores serviços, faltando apenas a ligação da rede de gás natural. SN No geral as pessoas gostaram das intervenções, ficando unicamente desagradadas com a questão do estacionamento. As principais vantagens é que o Bairro possui uma nova aparência, limpo e arrumado, convidando mais pessoas a viverem lá e a visitarem-no e ainda, os antigos moradores têm maior orgulho no Bairro após a intervenção da POLIS e alegria em viver ali. AT As coisas melhoraram, ficaram mais arranjadas, mas o problema foi os estacionamentos, não há estacionamento no bairro, e o parque de estacionamento junto à escola, diziam que era para ser para os residentes a agora durante o dia está só para a escola, e os moradores não têm onde estacionar, de resto as coisas estão mais ou menos razoáveis ou bem. 200 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 MG As obras de um rio onde as nossas crianças não podem nadar? Ou a um parque de estacionamento onde a segurança é nula? Ou talvez a uns passeios mais largos que as próprias estradas? Onde se agravou a acentuada inclinação onde se tornou ainda mais difícil aos nossos idosos subirem a rua? Bom, como vê foi um fracasso! DE Sim, ficou com melhor imagem. 7. Se a intervenção estivesse a ser programada hoje, acha que devia assentar sobre o mesmo tipo de intervenção, com os mesmos critérios e objectivos? OB A avaliação da situação actual apenas confirma que a intervenção realizada deveria ter sido programada e executada de forma distinta. Aponto a título de exemplo, aquela que deveria ter sido a principal preocupação na planificação da intervenção, a requalificação do espaço público. Requalificação esta que deveria centrar-se obviamente em muito mais do que a implantação de mobiliário urbano, novos pavimentos e iluminação decorativa. CJ R: A renovação das infra-estruturas foi fundamental, porem o acesso ao estacionamento na zona é muito complicado, a altura dos passeios no meu entender também é excessivamente alta, deveriam ter tido em conta, antes do inicio das obras, a opinião dos moradores, a rede eléctrica pública, na prática, encontra-se constantemente a falhar, o ordenamento do sentido do tráfego também cria algumas dificuldades e os transportes públicos deveriam passar pelo bairro. AO Não, como já disse devia haver financiamento para os privados, a Câmara Municipal de Vila Real não se devia meter entre os privados, se fosse para instalar serviços, passar ruas, tudo bem, agora assim não me parece correcto. Os processos deviam ser simplificados e menos burocráticos e haver um serviço que nos apoiasse nas intervenções. IP Não, a escola devia ter melhores condições, uma vez que pode ser uma mais-valia para que as famílias se instalem no bairro dos Ferreiros, e que os investimentos que foram feitos tivessem sido mais reais e com maior impacte na população. A intervenção no rio foi muito má, fez com que deixasse de se poder lavar a roupa e de ser utilizado como um espaço de lazer. A questão do estacionamento era fundamental que fosse resolvida e talvez que as linhas de transportes públicos passassem por aqui. SN Eu acho que sim. AT Desde que a questão do estacionamento, do rio, e de não haver tantas restrições para quem quer comprar e arranjar as casas as coisas podiam estar melhores. 201 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 A linha de transportes públicos devia passar aqui pelo bairro também. MG Jamais! DE Não, a questão das fachadas e de não ser possível intervir em mais do que um lote com o mesmo número de pisos limita muito os proprietários, e o estacionamento devia ser melhorado. 8. Quais as principais debilidades sentidas hoje na vivência no Bairro dos Ferreiros? OB V. respostas anteriores. CJ R: Falta de infra-estrutura social que permitisse o convívio entre os moradores. No antigamente havia um clube de bairro, “O Grupo Desportivo do Bairro Latino” que em meu entender, mobilizava muitos jovens e promovia um intercambio cultural e social interessante, tinha a sua sede no próprio bairro. AO A falta de gente, e a que há é da minha idade ou mais velha, é necessário que seja feito alguma coisa paras as pessoas idosas, um lar ou centro de dia. As habitações não tem qualidade, falta água canalizada, algumas não têm casa de banho e faltam estacionamentos no bairro. IP A principal debilidade do Bairro dos Ferreiros é a falta de vida, de gente, porque de resto é um espaço atractivo e com boas condições de vida. SN As debilidades advêm da falta de estacionamento para os moradores do Bairro visto que hoje em dia todos os moradores possuem pelo menos um carro, o que não acontecia à 50 anos. AT A falta de gente, e a que há são idosos, temos também uma falta de serviços aqui no bairro para trazer mais gente. MG Se viu com atenção todas as minhas respostas deve calcular que é um todo!! DE Falta de gente, de incentivos para se recuperarem as habitações, do estacionamento e a possibilidade de actualização das rendas é fundamental. 9. Algumas delas poderiam ser ultrapassadas com instalação de novos equipamentos, como o Centro de Interpretação e Monitorização Ambiental, Centro de Artes 202 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Tradicionais, Centro de Formação Profissional, Centro de ATL e Casa da Cultura, previstos no Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros? OB São boas intenções. CJ R: Sem dúvida. AO Sim, com o Centro Dia. IP Sim, com o Centro de Dia e Remodelação da Escola Primária. SN As debilidades a que me refiro (estacionamento) não se colmatam com a instalação de novos equipamentos. Contudo a instalação destes novos equipamentos servem para abrir e mostrar um bairro histórico à população em geral, que muitas vezes passa despercebido. AT Não sei, talvez, mas mais o centro de dia e centro ATL. MG Se cuidassem das casas e ajudassem os moradores como disseram que faziam era a melhor solução…não estraguem uma rua histórica como esta!!! Já destruíram o nosso moinho …e mais os moradores não podem mexer na frontaria dos seus imóveis…mas destruir o nosso moinho foi fácil! Enfim DE Tudo o que for possível trazer para aqui é bom. 10. Considera que hoje o bairro dos Ferreiros está mais atractivo e que as intervenções realizadas vão conseguir atrair mais população para aqui residir? OB Não. CJ R: Está mais atractivo, mas não consegue mobilizar os jovens a radicarem-se. AO Sim, mas falta muita coisa e os apoios aos privados, mais escolas para as crianças e apoiar as intervenções dos privados. IP Não, está igual o que foi feito não consegue trazer novas pessoas. 203 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 SV Sim. Contudo, acho que as pessoas que não se instalam no Bairro dos Ferreiros não é por não o considerarem visualmente atractivo mas sim porque as habitações são pequenas comparativamente com os novos apartamentos da cidade. AT Está com outra imagem, mas não vai conseguir trazer mais gente. MG Não, talvez se consiga mais alguma coisa com uma passagem mais rápida para o shopping! DE Sim, está mais asseado e mais limpo. 11. Quais as medidas que considera que podiam ser tomadas para dar seguimento à reabilitação do Bairro dos Ferreiros? OB Demolição de alguns imóveis degradados para criação de bolsas de estacionamento, ligação do bairro ao parque da cidade associando um equipamento de grande mais-valia para a atractividade e qualidade de vida do bairro de forma clara e digna, reforço da iluminação pública, criação de instrumentos de apoio aos proprietários ou investidores para enfrentar o processo burocrático que envolve a realização das operações de requalificação e reconstrução dos imóveis, melhoria e correcção dos problemas relacionados com as infra-estruturas anteriormente enunciados, alargamento da rua a nascente que liga o bairro ao centro comercial, com implantação de passeios e iluminação, etc… Muito há a fazer, houvesse bom senso e vontade para se planearem intervenções exequíveis e executar as acções planeadas. CJ R: O reequacionamento da linha de transportes públicos, a reabilitação do parque habitacional, a instalação de equipamentos sociais. AO As que já disse, ajuda aos proprietários, e que a Câmara Municipal não entre no mercado da habitação, os proprietários se tiverem apoios eles cumprem com as obrigações. E é necessário trazer coisas novas para o bairro, mais serviços, mais gentes, escolas. IP Ajudas para os privados recuperarem as habitações, eventualmente com algumas expropriações para resolver algumas necessidades do bairro, recuperar a intervenção no rio das lavadeiras, aproveitamento das fontes públicas (não se sabe se a água é boa para consumo), instalação de uma rede wireless, actividades para jovens, estacionamento. SV A Câmara Municipal adquirir as habitações reabilitá-las e depois voltar a vendê-las, agir no mercado que ninguém quer intervir. 204 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 AT Era preciso que fossem dados incentivos às reabilitações e que fossem levantadas essas regras sobre as obras, há gente que quer comprar casas aqui no bairro e não o faz por causa disso. É necessário trazer mais gente e serviços para o bairro, o rio devia ser aproveitado como uma vantagem para o bairro, e não como está agora, sem isso o Bairro dos Ferreiros vai continuar a piorar. MG Fazer o que nos prometem em campanhas de eleições… não prometam o que não podem cumprir! Se estão no poder a nós o devem!!! Peço desculpa mas a mentira a mim incomoda-me !!! DE Alterar a regulamentação que condiciona a intervenção nas fachadas, e a Câmara deve ter uma postura mais activa de obrigação de reabilitar os edifícios, ou comprar, fazer as obras e vender. A questão da actualização das rendas é muito importante para que o bairro fique melhor e os proprietários tenham condições para fazes as obras. Podia também ser dado mais apoio aos proprietários e que os processos sejam mais rápidos. 205 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 QUESTÕES AO SECTOR PÚBLICO Eng. José Carlos Fernandes Departamento de Planeamento e Coordenação Câmara Municipal de Vila Real I. Requalificação Urbana e Ambiental e Valorização e Conservação do Património 1. No Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros, uma das principais linhas de acção passava pela reabilitação do parque edificado, com a recuperação de 167 habitações em 80 edifícios. Passados aproximadamente 6 anos após o prazo para a execução desta acção, esta não foi conseguida nos moldes definidos, quais os motivos, dificuldades e condicionantes que foram verificados e conducentes a esta situação? R: O PPBF previa como uma das acções a implementar durante o período de intervenção da sociedade PolisVilaReal a reabilitação de 80 edifícios, que correspondiam a 167 habitações, numa intervenção que implicava uma parceria entre o Município e a Administração Central, com a mobilização de fundos provenientes de ambas e ainda de fundos da União Europeia, através do III QCA, então em vigor. Esta intervenção procurava direccionar a intervenção para os edifícios identificados no PP como necessitando mais urgentemente de intervenção física, e combinava (teoricamente) vários programas de apoio à habitação, nomeadamente RECRIA/ REHABITA/ RECRIPH / SOLARH. A intervenção da sociedade PolisVilaReal terminou no passado dia 30 de Setembro, com a extinção da sociedade. Os resultados neste momento, em termos de indicadores concretos, são nulos, uma vez que não foi ainda realizada e concluída qualquer intervenção. Como motivos, dificuldades e condicionantes principais, podem ser identificados os seguintes: Em primeiro lugar, a proposta em si. O número total de intervenções previsto, considerando tempo proposto, é irrealista. Porque não é possível a realização de uma intervenção financeira tão vultuosa em tão pouco tempo, ainda por cima quando implica também o esforço financeiro dos proprietários, facto que não foi explicitamente abordado na programação do Plano. Porque fisicamente fazer a intervenção quase simultânea de tantas obras num espaço com dificuldades óbvias de circulação e acessos criaria um grande problema e incómodos insuportáveis, para além de colocar questões de segurança. Porque coloca enormes desafios de mobilização de vontades e de realojamento de actuais moradores, que aconselham a uma intervenção progressiva e mobilizadora de todos, em função dos resultados que se venham a obter, ao longo do tempo. Em segundo lugar, o financiamento e a sua obtenção. A ideia de uma parceria entre administrações é fundamental e obrigatória. E ela desenvolveu-se em concreto, 206 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 originando a assinatura de um protocolo de financiamento entre o Município e o agora IHRU, que contemplava uma intervenção de reabilitação de alguns fogos. No entanto esse protocolo, por dificuldades de natureza orçamental do IHRU não foi posto ainda em prática ou seja, ainda não existe luz verde da Administração Central para se iniciarem as intervenções, uma vez que não tem verbas para assumir os compromissos financeiros da respectiva comparticipação. Em terceiro lugar, a estruturação da natureza múltipla das intervenções. Num espaço urbano antigo, como é o bairro dos Ferreiros, coexistem realidades de natureza muito distinta. Existem edifícios, em ruína, edifícios em mau estado desocupados, outros ocupados, uns alugados, outros ocupados pelos proprietários, existem edifícios cujos proprietários estão disponíveis para avançar e participar num processo de parceria, e outros que se recusam a fazê-lo. E a natureza distinta de cada situação tem também impactos directos em termos da definição da respectiva intervenção de reabilitação e da estratégia para a conseguir realizar. Por essa razão, parte dos programas de apoio à habitação referidos na programação do PPBR não podem ser aplicados nesta intervenção de reabilitação. Como o RECRIA, o RECRIPH e até o SOLARH. Pelas particularidades de cada um destes programas, cujo conceito assenta numa banda muito estreita de intervenções possíveis. Deixando de fora muitas outras, como acontece neste bairro. O que coloca a questão em termos simples: como é que podemos fazer uma intervenção de reabilitação sem apoios financeiros aos proprietários? A resposta é por demais evidente. 2. Estava colocada nesta altura a hipótese da criação de uma Área Crítica de Recuperação e Reabilitação Urbanística, se esta tivesse sido criada podia ter sido mais fácil a mobilização dos recursos para a recuperação das habitações? R: A ACRRU foi efectivamente criada, tendo originado o gabinete do centro Histórico, serviço da Câmara Municipal que tem como objectivo principal a execução das acções de reabilitação do edificado do Bairro dos Ferreiros, em primeiro lugar, e do restantes espaço inserido no designado Centro Histórico de Vila Real, numa segunda fase. Podemos pois dizer que a sua criação contribuiu para a indispensável mobilização de recursos humanos. A mobilização de recursos financeiros da Autarquia é uma consequência directa da sua decisão de solicitar a ACRRU – não podemos esquecer que a iniciativa é sempre municipal – mas no que diz respeito à mobilização de recursos financeiros por parte dos restantes actores, a existência da ACRRU facilita mas não é garantia dos mesmos. Podemos pois concluir que a criação da ACRRU veio dotar o Município de um conjunto de instrumentos de intervenção previstos na Lei dos Solos, o que não significa maior facilidade de mobilização de recursos, em especial os de carácter financeiro. 3. O não alcance dos resultados esperados na reabilitação das 167 habitações com o Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros pode estar relacionado com a eventual falta de capacidade financeira dos proprietários dos imóveis? R: Está relacionado com a falta de capacidade financeira dos actores, não apenas dos proprietários, mas também dos restantes, incluindo aqui promotores privados, 207 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 município, e administração central. Não é apenas a única razão mas é uma das que mais contribui para isso. Basta verificar que no caso da intervenção pretendida pelo município, é a única razão para que a mesma não tenha tido lugar, uma vez que já existem projectos de execução para os primeiros edifícios, o respectivo processo de expropriação já foi iniciado (existindo já a DUP por parte da Assembleia Municipal) e as verbas municipais já estão cativadas, faltando apenas a autorização do IHRU, referida anteriormente. 4. Quais as actuais soluções para a resolução da reabilitação urbana do Bairro dos Ferreiros? R: Passam pela implementação de um conjunto de soluções integradas constantes do documento de estratégia entretanto produzido pelos serviços municipais e que procura estruturar a intervenção atendendo à realidade concreta do Bairro, à natureza diversas dos actores, às dificuldades financeiras, às dificuldades de realojamento temporário, à necessidade de trazer mais gente para viver no Bairro à necessário coordenação destas várias dimensões, assumindo o município esta posição de coordenação e até de liderança do processo. 5. Ainda no âmbito da recuperação do parque edificado, a recuperação do edifício inacabado do Hotel do Parque não foi possível de acordo com o definido, quais os motivos que condicionaram a intervenção? R: A intervenção partia de um pressuposto não verificável: a existência de verbas para a necessária expropriação (total ou parcial) do edifício. Sem estas verbas, a única hipótese possível seria através da intermediação entre os proprietários e o mercado, no sentido de procurar encontrar quem estivesse interessado na aquisição e posterior transformação do edifício, nos precisos termos em que esta transformação estava prevista no PP. Esta tentativa foi realizada pela PolisVilaReal e foi infrutífera. Posteriormente, e em função dos vários contactos realizados, a sociedade realizou um estudo de viabilidade económico-financeiro do edifício, com a participação de um reputado especialista Suíço e professor na Universidade de Madrid, que concluiu pela inviabilidade da proposta do PP, devido à diminuição de áreas prevista pelo plano que retiram a competitividade e rentabilidade ao hotel, uma vez que impedem a existência de um conjunto de serviços fundamentais (reuniões, spa, piscina, etc.). 6. Hoje é conhecida uma nova ocupação do referido edifício, como vê a Câmara Municipal de Vila Real esta solução? R: A Câmara tem em curso o processo de alteração do PP, processo esse em que também a situação do edifício do hotel é objecto de proposta, sendo agora proposto a manutenção do edifício, com a sua adaptação a hospital e a residências assistidas. Ao contrário do que aconteceu anteriormente, esta proposta não representa apenas uma intenção ou visão do município, que terá de ser testada posteriormente. A proposta resulta de um processo negocial intenso e demorado que permitiu aferir e concertar a proposta entre o município e um investidor privado, assegurando a exequibilidade prévia da proposta. 208 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 7. Com a intervenção ao nível das redes de infra-estruturas e da qualificação do espaço público, quais foram os impactes das intervenções que foram notados? R: Para além do aspecto visualmente melhorado – a componente cénica deste tipo de intervenções é muitas das vezes o aspecto mais conhecido e perceptível – existem dois impactos que eram esperados, porque estiveram na origem das decisões tomadas. O primeiro diz respeito ao estacionamento automóvel. A visualização das fotos utilizadas nas várias apresentações efectuadas no período de realização do PP permite desde logo perceber que os automóveis em cima dos passeios espalhados por todo o bairro, são uma recordação do passado. A disciplina conseguida a este nível permite hoje que os peões tenham de volta um espaço que é deles. O segundo tem a ver com o serviço público prestado pelas várias infra-estruturas enterradas, nomeadamente água, saneamento, comunicações ou energia. A remodelação das redes efectuada assegurou níveis de serviço verdadeiramente urbanos e idênticos ao que melhor existe na cidade. Acresce a tudo isto, que uma das consequências indirectas desta intervenção é o impacto que o edificado hoje provoca, por contraste qualitativo com o espaço público. Esse contraste, esperado, será uma das molas impulsionadoras para os vários actores se sentirem impelidos a actuar neste Bairro. 8. Hoje seriam assumidos os mesmos princípios, e tomadas as mesmas opções? R; No campo dos princípios sim. As opções também, com as necessárias correcções que estão hoje a ser efectuadas no processo de alteração, quer em termos do “edifício do hotel”, quer da programação. 9. O alargamento da Ponte Metálica, era uma opção estratégica da cidade mais do que dos objectivos da reabilitação do Bairro dos Ferreiros? R: Com efeito, a intervenção na Ponte Metálica foi uma intervenção estratégica de cidade, como facilmente se percebe. Está incluída no PP apenas por questões operativas e de financiamento. Dinamização de Actividades Sociais, Culturais, Desportivas e Turísticas e Revitalização Económica 10. Encontra-se em fase de conclusão a intervenção na Casa da Presa, para a instalação do CIMA e Casa das Artes, quais as consequências da instalação destas valências no bairro? Mantêm-se as mesmas ocupações e usos para o referido edifício (CIMA e Centro das Artes Tradicionais)? R: O edifício é já a sede da Agência de Ecologia Urbana do Eixo Atlântico (e será posteriormente da Agência de Ecologia Urbana da Douro Alliance – Vila Real/Régua/Lamego), que resulta a convergência entre a instituição, o município, a UTAD e a instituição portuguesa responsável pela área do Ambiente. A sua presença constitui uma evolução natural do conceito inicial, mantendo-se o ambiente como área de trabalho e prioridade, mas traduz-se numa âncora bem mais importante. A sua transformação num verdadeiro centro de saber onde existirá também uma área de exposições permanente e temporárias relacionadas com a ecologia urbana terá 209 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 um impacto que ultrapassará a área do Bairro, funcionando como um pólo de atracção regional. 11. Denota-se que ainda não foi possível a construção do Centro de Dia/Convívio, da Escola/Centro de Formação Profissional, quais os motivos que levaram a sua não conclusão? R: A criação dos equipamentos públicos previstos para o Bairro está agora a ser objecto de reavaliação, à luz das necessidades actuais, do facto do bairro estar incluído numa operação de regeneração urbana já aprovada (ARTICULAR) e das restrições de natureza financeira. 12. Mantêm-se a intenção da execução destas valências no bairro dos Ferreiros? R: No âmbito do processo de alteração em curso será tomada a decisão sobre esta matéria. 13. Aplicam-se os mesmos princípios ao Centro ATL e Casa da Cultura? R: Idem, sendo que no caso concreto da designada “Casa da Cultura” e fruto do ARTICULAR está já decidido avançar com o projecto desta valência, com algumas adaptações, passando a mesma a designar-se como a “Casa dos Artistas”. 14. Como é vista a não execução destas valências sob o ponto de vista da reabilitação do Bairro dos Ferreiros? R: As intervenções que originam a criação de equipamentos públicos no Bairro e, por consequência, dos respectivos serviços públicos associados, terão sempre de ser resultado de necessidades concretas e não actos gratuitos. Nesse sentido, mantendo-se as razões que estiveram na génese da sua proposição (o que está agora a ser avaliado) a sua não execução mantém a situação num estádio indesejável, continuando a ser importante a sua realização e concretização. 15. No âmbito da revitalização económica, estava previsto a introdução de novas actividades no bairro, nomeadamente no sector do comércio e serviços, foi possível esta acção? R: Esta alteração está fortemente dependente da iniciativa privada e individual dos promotores e empresários. Ao município compete criar as condições necessárias para isso, através do investimento no espaço público (o que está feito), do incentivo à reabilitação do edificado (que se espera tenha agora um forte progresso) e do derrube de barreiras administrativas dispensáveis (o que se procurou fazer com a alteração do PP). A combinação destas realizações não é garantia suficiente, mas é necessária. Espera-se e deseja-se que o ambiente económico e financeiro não seja demasiado difícil para que se reúnam as condições mínimas no sentido de permitir a transformação desejada. A perseverança e o tempo são fundamentais para que se consigam ver resultados. 210 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 Valorização dos Recursos Humanos 16. Foi dada alguma formação profissional, ou ensino para adultos de acordo com acções do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros? R: Esta natureza de intervenções é aquela que menos sentido faz estar presente ao nível de um instrumento de gestão do território. A sua proposição deve decorrer de outro tipo de actividade de planeamento e gestão municipal, mais adequados a determinar necessidades associadas a actividades desta natureza. 17. A não construção na totalidade dos equipamentos que estavam previstos no Plano de Pormenor condicionou esta mesma formação profissional, nomeadamente na formação de mão-de-obra especializada? R: Não. As razões prendem-se com a resposta dada anteriormente. 18. A execução do Centro de Formação Profissional, junto ao arquivo municipal, numa zona já marginal ao núcleo do Bairro dos Ferreiros, é assumida como uma prioridade da cidade mais do que do Bairro dos Ferreiros propriamente dito? R: É um equipamento que está a ser reavaliado, como foi referido anteriormente. A sua execução ou não, corresponde efectivamente a necessidades e estratégias que ultrapassam o Bairro dos Ferreiros. Estrutura de articulação, gestão e avaliação do Plano/Programa no Local 19. A criação desta estrutura estaria prevista após o alcance dos outros objectivos, é de esperar a criação deste mesmo gabinete para controlo e implementação de um novo plano de pormenor? R: Existe já um Gabinete do Centro Histórico, conforme foi referido anteriormente. A avaliação deste Plano (e dos demais, numa lógica que assenta numa visão integrada da cidade e do concelho) não é responsabilidade deste G.C.H. mas sim da Divisão de Planeamento, estrutura inserida no Departamento de Planeamento e Coordenação, a exemplo do referido Gabinete. Questões genéricas 20. Grandes partes das acções do Plano de Pormenor do Bairro dos Ferreiros estavam relacionadas com financiamentos de outros programas que não o Programa Polis e até mesmo da administração central. De que forma é que estes financiamentos condicionaram a sua execução? R: Relativamente ao edificado, a resposta já foi dada. No que diz respeito aos restantes investimentos na área dos equipamentos, a não garantia de financiamento, não sendo a única razão, é uma das que claramente condiciona a sua execução, adiando ou até impedindo a concretização do planeado. 21. Ao nível da educação, apoio à terceira idade, formação profissional houve nos últimos tempos reformas profundas, de que forma é que estas reformas podem condicionar a execução dos equipamentos previstos para o Bairro dos Ferreiros? 211 ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO URBANA CASO DO ESTUDO: BAIRRO DOS FERREIROS OUT/09 R: É a prévia definição sectorial, no âmbito das políticas municipais que, com efeito, determina as decisões relativamente a este tipo de equipamentos e que deverá anteceder as decisões sobre a sua localização, no seio de planos. 22. Como é que a Câmara Municipal de Vila Real, sob o ponto de vista urbanístico, vê o Bairro dos Ferreiros? Os pressupostos iniciais do Programa Polis para o bairro mantêm-se? R: Integralmente. O bairro continua ser um espaço fundamental para a cidade e, em especial, no seu Centro Histórico. Daí, a prioridade em termos de intervenção do GCH ser precisamente o Bairro dos Ferreiros. É urgente e fundamental inverter o processo progressivo de perda de população neste Bairro, abrindo-o mais ainda à cidade e trazendo a cidade ao seu interior. Por isso ele é um dos 4 bairros inseridos no programa ARTICULAR. 23. Dentro de dois anos vão ser realizados os Censos2011, quais os resultados esperados? R: Uma inversão ao nível dos resultados de 2001, no que diz respeito aos níveis de serviços públicos, em especial os que dependem das infra-estruturas. Uma inversão no panorama da qualidade do edificado, resultado das intervenções que entretanto tenham sido realizadas. A continuação do mix de usos e da diminuição dos habitantes, já que é preciso mais tempo para que estas tendências sejam invertidas. 212