Opinião Xxxxxxx Parada cardíaca A imprensa noticiou amplamente, em janeiro passado, a morte estado mórbido que causou diretamente a morte”. Pode-se aceido famoso atleta brasileiro Adhemar Ferreira da Silva, aos tar que se coloque a expressão “parada cardíaca” nessa linha 73 anos, “de parada cardíaca”. Esse tipo de informação mas, na linha seguinte, deve vir a causa básica da morte, pois o tem circulado repetidamente na imprensa, caracterizando um enorme atestado orienta: “estados mórbidos que produziram a causa aciequívoco de comunicação. Não sei se o erro de informação é cauma registrada”. Ao anunciar a causa da morte, portanto, os jorsado pelos médicos ou pelos jornalistas, mas nalistas devem considerar a segunda linha. Esnecessita ser corrigido logo, se o objetivo sas observações não são feitas por mero precioda imprensa é dar informação que possa sismo semântico. Ninguém morre de acrescentar algo à biografia das pessoas ou O registro da causa básica da morte tem imporà estatística de mortalidade da humanidade. tância fundamental em dois aspectos: para a imparada cardíaca, Todos sabemos que ninguém morre de paprensa, noticiar a causa verdadeira da morte pode mas com parada estabelecer correlações, em função da celebridade rada cardíaca, mas com parada cardíaca. Nunca alguém morreu com o coração pulque faleceu. Se esse aspecto não for importante é cardíaca sando, pois o coração sempre pára. É nemelhor não dizer a causa da morte, pois o pior é cessário, portanto, registrar a causa básica dar uma notícia que não diz nada. Para o sistema da morte. Quando o médico não consegue estabelecê-la com exade saúde, o registro da causa básica da morte é um importantíssimo tidão, pode adotar duas condutas: ou solicitar necrópsia no Institudado epidemiológico para conhecer a realidade da saúde e planejar as to de Medicina Legal (quando há suspeita de morte violenta ou ações que devem ser desenvolvidas para melhorar o nível de saúde provocada) ou relatar, no atestado de óbito, a expressão: “morte da população. por causa não-esclarecida”. Nunca constar “parada cardíaca”. Acredito que haja outro motivo para a notícia equivocada: soliCid Veloso cita-se ao médico que registre no atestado de óbito a “doença ou Cardiologista e prof. da Universidade Federal de Minas Gerais Cardiofatos Mesmo passado mais de um século de sua utilização na terapêutica cardiológica, os pacientes ainda se espantam ao saber que lhes foi prescrito nitroglicerina para alívio das dores anginosas. A nitroglicerina, sintetizada em 1846 pelo químico italiano Sobrero, foi desenvolvida como uma substância explosiva, destacando-se devido à sua potência. Tal descoberta foi possível graças aos experimentos iniciais de Schonbein, que desenvolveu o “algodão-pólvora”, base de produtos nitrogenados. Brunton, médico escocês, relatou em 1867 o efeito favorável do uso de nitrito de amilo no tratamento da angina do peito, comprovando o seu efeito vasodilatador e despertando a comunidade científica para o potencial terapêutico dos nitratos. Mas só em 1879 Murrel utilizou, de forma pioneira, a nitroglicerina para o alívio da angina do peito. Hay, em 1883, publicou resultados experimentais comprovando o potencial farmacológico da substância, estabelecendo as bases da sua utilização na prática clínica que perdura até os dias atuais. 2 2 Jornal SBC • Março / Abril 2001 ILUSTRAÇÃO:DANIELVALÉRIO Uma explosão terapêutica