O TEÍSMO ARISTOTÉLICO1 FILIPE DUNAWAY 1. Aristóteles (384-322 a.C.) argumenta que há movimentos e que cada movimento é causado por um motor (o que move outro). 2. Uma série infinita de movimentos é impensável. Portanto, deve haver um primeiro motor que se move mas que não é movido por nenhum outro. Este se chama do “motor imóvel.” 3. Mover outro não envolve mudança alguma no motor. Consequentemente, o primeiro motor ou motor imóvel é impassível e inalterável em todos os seus aspectos, sendo separado de todas as coisas no mundo. 4. Este motor imóvel e eterno produz o movimento ou mudança nos outros seres por ser o objeto do amor, desejo e pensamento deles. 5. Aristóteles reconhece que a natureza do conhecimento de Deus, assim concebido, se torna problemática. Este Deus não pode pensar em outros seres, pois isto envolveria dependência desses outros seres que necessariamente causaria mudanças no próprio Deus, e mudança aqui, ele acha, seria sempre para o pior. Consequentemente, Deus pode pensar apenas em si memso. Ele só pode contemplarse a si mesmo como um Contemplador. “Durante toda a eternidade, ele é o pensamento que se tem a si mesmo como seu objeto.” A perfeição de Deus é exatamente esta sua auto-suficiência. Ele não precisa de nada ou de ningúem para seu bem-estar e alegria. “Ele não vai precisar de nenhum amigo.” Sua perfeita alegria consiste unicamente na sua auto-contemplação. Agir no mundo ou produzir algo no mundo seria uma ação trivial e indigno de um deus. Portanto, como um ser vivo, só resta para Ele o ato de contemplar-se a si mesmo. Observações Críticas sobre o Conceito Aristotélico de Deus 1. Aristóteles, pelo menos, mostra que a explicação da mudança ou contingência é incompleta sem a referência a um fator que não muda, mas que eterna e necessariamente existe. 2. Contudo, não é justificável simplesmente identificar este fator imutável e necessário com Deus no sentido religioso deste termo. A religião exige não somente um Ser Supremo que é necessário, estável e insuperavelmente forte, ela exige também um Ser Supremo que nos ama, que istá interessado em nós, que responde às nossas súplicas e que se envolve em nossa história. 1Esta apostila está baseada nos trechos tirados dos escritos de Aristóteles, os quais foram colecionados em Charles HARTSHORNE e William L. REESE, editores, Philosophers Speak of God (1969), pág. 58-75. Utilizamos também o comentário crítico de Hartshorne e Reese sobre a posição de Aristóteles. 3. Parece que o Deus de Aristóteles é um filósofo grego glorificado. Ele é o homem contemplativo e refletivo elevado ao nível da divindade. Isto representa a divinização do filósofo peripatético que, nas suas meditações especulativas, se isola da sociedade. Será que há outros “modelos” melhores para a dividade? Por exemplo, um “rabino” ou “profeta” como Jesus de Nazaré que, sendo seguro em si e invariável nas diversas aplicações de seus princípios éticos, se intromete na sociedade envolvendo-se plenamente nos sofrimentos e alegrias dos seus coterrâneos. 4. Nós somos não apenas irrelevantes a tal Deus, Ele é também religiosamente irrelevante a nós. Por um lado, nossa irrelevância a Ele é evidente, visto que Ele nem sabe que existimos e é perfeitamente contente na sua solidão absoluta. Por outro lado, o Deus aristotélico é irrelevante a nós em pelo menos dois sentidos: (1) Não podemos serví-lo, pois servir é auxiliar algúem, ser útil a ele nas suas tarefas e projetos, oferecer algo de valor a ele. Mas isto é impossível no caso do “motor imóvel,” que não recebe nada de ningúem. (2) Não deveríamos imitar este Deus anti-social, pois neste caso teríamos de tentar nos interessar cada vez menos em outras pessoas e suas necessidades, uma variedade de comportamento que é obviamente reprensível dos pontos de vistas religioso, psicológico e social.