PROPOSTA DE UMA METODOLOGIA ALTERNATIVA PARA VERIFICAR A DEGRADAÇÃO DE ADITIVO À BASE DE FOSFITO EM POLÍMEROS Regina Brock1, Silvia R. S. Rodrigues2 1 2 Braskem S.A. – 3º Polo Petroquímico, Triunfo-RS Braskem S.A. – 3º Polo Petroquímico, Triunfo-RS [email protected] [email protected] Aditivos do tipo estabilizantes são adicionados aos polímeros para protegê-los da degradação proveniente da ação da luz, calor e oxigênio. Uma das aplicações dos estabilizantes a base de fosfito têm sido usado para evitar à degradação térmica de polietilenos, cuja aplicação é a produção embalagens. Contudo, a alta temperatura durante a produção de embalagens leva a uma elevada degradação do estabilizante. A análise de embalagens usando HPLC tem sido a metodologia empregada para quantificar a degradação de estabilizantes. Esta metodologia utiliza solventes orgânicos para o preparo das amostras, o que não está de acordo com a Química Verde e com a tendência atual das indústrias, cuja meta é a diminuição do uso de solventes. Neste estudo propõe-se a técnica de FTIR como metodologia alternativa para a determinação do teor de estabilizante degradado. Sendo que na análise por FTIR não foi necessária a preparação da amostra, dispensando o uso de solventes. Palavras-chave: estabilizante, fosfito, polímero, FTIR, HPLC. An alternative methodology to characterize the phosphite additive degradation in polymers. The heat and light stabilizers are additives that prevent the degradation of polymers under the effects of heat, light and oxygen. The phosphite stabilizers have been used as heat stabilizers to polyethylene utilized to bags production, as 25 kg bags packing. The high temperature during the bags processing can generate more inactive stabilizer than expected and it can cause sealing problems in the final use of the bags packing. The HPLC has been the method that has been used to check the content of stabilizer in the polymer. After the processing, it is acceptable to have one amount of 35% less of the stabilizer, in the case of phosphite. To determine the stabilizer by HPLC demand in the use of organic solvents inclusive to prepare the sample, what is not in according of Green Chemistry and industries tendency in nowadays that is to decrease the use of solvents. In this study we are proposing the FTIR as an alternative methodology to check the phosphite stabilizer degradation. In the FTIR method we don’t need to prepare the sample using organic solvent. Keywords: stabilizers, phosphito, polymer, FTIR, HPLC. Introdução Os aditivos são substâncias adicionadas aos materiais com o objetivo de agregar valor ao produto acabado, quer seja melhorando a performance, aparência ou processabilidade durante a manufatura ou aplicação final1. Intencionando a não degradação do polímero por agentes tais como luz, calor e oxigênio, adiciona-se aos polímeros aditivos do tipo estabilizantes cuja função é a proteção do polímero quanto a ação destes agentes1. Tais estabilizantes são constituídos à base de fosfito orgânico, estes têm sido utilizados na produção de polietileno para aplicação final em embalagens do tipo sacaria de 25 kg. A alta temperatura durante o processamento destas embalagens pode levar a degradação excessiva do estabilizante, o que deixa a embalagem mais suscetível a problemas de solda no fechamento das mesmas. A quantidade de estabilizante ainda disponível na embalagem pode ser analisada por Cromatografia Líquida de Alto Desempenho (HPLC). A metodologia que utiliza HPLC tem sido normalmente aplicada na caracterização de aditivos, inclusive para estabilizantes a base de fosfitos2. Contudo, a análise via HPLC demanda manuseio de solventes, como o uso de tolueno para a extração do aditivo em estudo3. Em alinhamento com a Química Verde4 que tem entre os norteadores de conduta a diminuição no uso de solventes5, este estudo propõe o desenvolvimento de uma metodologia alternativa, sem o uso de solventes, que é a verificação do teor de estabilizante degradado, nas referidas embalagens, por Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR) Os polímeros são materiais sujeitos a oxidação, o que pode levar a perda de propriedades mecânicas e ópticas, como amarelecimento da peça acabada. A oxidação pode ocorrer durante o processamento da resina polimérica assim como durante o armazenamento e uso do produto acabado6. O efeito da oxidação na estrutura química do polímero é comumente denominado degradação6. O método mais comum para inibir a degradação ou dificultar a oxidação térmica é a utilização de estabilizantes6, estando os fosfitos entre os estabilizantes de ação mais efetiva7 e por isso estes têm sido usados em larga escala. O uso de temperatura demasiadamente elevada durante o processamento da resina polimérica leva a um alto consumo do estabilizante. No caso de estabilizantes a base de fosfitos orgânicos a quantidade de fosfito (forma ativa) que foi oxidada a fosfato (forma inativa), devido ao processamento da resina polimérica, por exemplo, pode ser determinada por HPLC2. Um processamento em condições adequadas geralmente leva a oxidação de cerca de 10 a 20% do fosfito a fosfato8. Na indústria, em geral, é adicionado ao polímero um teor de estabilizante suficiente para proteger o material, já considerando a taxa de oxidação ou degradação do aditivo no processamento. Assim, para fins de controle deste estabilizante, na indústria, é considerada aceitável a degradação de até 35% do fosfito quando analisado o produto acabado, no caso de sacaria, por exemplo. Desta forma, a consequência de um menor teor de estabilizante no produto acabado, em função de condições severas de processamento, pode comprometer a aplicação ou uso final do mesmo, como por exemplo, solda ineficiente e até o rompimento de embalagens, no caso de embalagens do tipo sacaria. A determinação do teor de estabilizantes por HPLC implica no uso de solvente orgânico de elevada toxicidade, inclusive na etapa de preparação da amostra quando é realizada a extração do aditivo. Neste estudo, buscou-se desenvolver uma metodologia alternativa para determinar o teor de fosfito que foi oxidado a fosfato, na resina polimérica processada. A metodologia estudada como alternativa foi a Espectroscopia de Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR), a qual permite realizar a análise sem a etapa de preparação da amostra, evitando desta forma a utilização de tolueno. Assim, neste estudo foi realizado um comparativo entre os resultados obtidos por FTIR e os resultados obtidos pela análise realizada por HPLC. A metodologia via FTIR leva em consideração que esta é uma técnica largamente empregada na indústria petroquímica, além de estar alinhada com a demanda mundial quanto à otimização de processos e tecnologias buscando meios alternativos que diminuam o impacto ambiental, sendo este, hoje, o foco das grandes empresas que buscam excelência quanto à segurança, saúde e meio ambiente. Como também está em acordo com a própria definição da Química Verde que é “a invenção, desenvolvimento e aplicação de produtos e processos químicos para reduzir ou eliminar o uso e a geração de substâncias perigosas”4. Experimental Determinação via HPLC Na determinação via HPLC, o estabilizante foi extraído das amostras através de refluxo na presença de 50 mL de tolueno e temperatura de 120ºC. As amostras foram deixadas em refluxo por 30 minutos para extração completa do aditivo. Na etapa de resfriamento foram adicionados 50 mL de metanol, sob agitação, para precipitação do polímero. Após filtração a solução contendo o estabilizante foi evaporada à 60ºC sob atmosfera de nitrogênio e adicionada um alíquota de 5 mL de acetato de etila. Após, uma alíquota foi injetada no HPLC e determinada a concentração de cada uma das formas do aditivo em cromatógrafo Waters com bomba 510 e detector 490E, usando coluna e pré-coluna Waters WAT084040 e WAT088070, respectivamente. Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 Determinação via FTIR A determinação foi realizada em filme de 0,15 mm, sendo colocado diretamente no suporte e coletadas 32 varreduras por amostra. Antes de cada amostra foi realizada a coleta do branco (sem amostra). Utilizado um espectrofotômetro Nicolet Magna IR 560. Resultados e Discussão A oxidação do fosfito leva a diminuição do teor deste com consequente aumento no teor de fosfato, o que permite calcular o teor de fosfito presente, assim como o teor de fosfato gerado e o teor de fosfato total9,10. Conforme bibliografia, as principais absorções11 ocorrem em torno de 849 cm-1 (forma ativa), 965 cm-1(forma inativa), 1083 cm-1 (fosfato total), 1170 cm-1 (fosfato total) e 1210 cm-1(fosfito). Nas reações de degradação o fosfito tem sido reportado como uma substância de sacrifício12 para evitar a degradação do polímero13,14. Os hidroperóxidos resultantes da degradação do polímero reagem com o fosfito produzindo álcool e fosfato, sendo que nas reações de degradação na presença de fosfito, além de compostos hidroxilados também tem sido observada a geração de compostos carbonilados12. Assim, neste trabalho buscou-se identificar as bandas que resultassem em melhor comparação com os resultados obtidos através da técnica de HPLC, e que indicassem o teor de aditivo degradado ou não ativo. Uma boa relação foi obtida considerando as bandas observadas em 1210 cm-1 (forma ativa) e 1170 cm-1 (forma não ativa). Neste estudo foram analisadas 4 amostras de filme proveniente de embalagem do tipo sacaria de 25 kg, as quais foram produzidas com polietileno linear. Na tabela I, são apresentados os teores de aditivo degradado nas amostras estudadas, cuja determinação foi realizada via HPLC e os resultados obtidos por FTIR. Tabela I – Teor de estabilizante degradado, determinado via HPLC Amostra Filme 1 Filme 2 Filme 3 Filme 4 Teor de estabilizante degradado (%) Teor de estabilizante degradado (%) (análise por HPLC) (análise por FTIR) 32 21 19 15 34 23 20 17 O teor do estabilizante degradado, quando determinado pela metodologia proposta ficou, em média, 2 % acima do valor determinado por HPLC. Verifica-se tendência de resultados num mesmo sentido. Considerando que a especificação para o teor deste aditivo na forma degradada é ≤ 35 %, o erro encontrado usando a técnica de FTIR não foi considerado relevante, sendo que este ficou em ± 6 %. Os resultados obtidos indicam que é possível determinar o teor do estabilizante degradado usando a técnica de FTIR. Esta metodologia permite, com maior agilidade, verificar se embalagens do tipo sacaria foram submetidas a condições severas de transformação. A metodologia estudada mostrou-se adequada para verificar a quantidade de aditivo que foi degradada, sendo que este trabalho não tem por objetivo substituir a técnica de HPLC pela técnica FTIR na determinação do estabilizante a base de fosfito, quando necessário conhecer a concentração deste aditivo na resina polimérica. A técnica de FTIR além de mostrar-se adequada como metodologia alternativa para o fim proposto traz maior agilidade na análise, devido a não Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 necessidade de preparo da amostra e principalmente por diminuir os custos com reagentes, diminuindo também o impacto ambiental devido a não geração de resíduos perigosos, como o tolueno, e evitar a exposição dos analistas a este solvente de elevada toxicidade. Conclusões Neste trabalho verificou-se que a técnica de FTIR pode ser usada para verificar o teor do estabilizante fosfito degradado usando como referências as bandas de absorção de 1210 cm-1 (forma ativa) e 1170 cm-1 (forma não ativa). O teor do estabilizante analisado, usando a técnica de FTIR, ficou acima do teor determinado pela técnica de HPLC, apresentando um erro de 6% em relação a esta técnica. O erro não foi considerado significativo considerando ao fim que se aplica. O uso do FTIR na determinação do teor de degradação do estabilizante tem como principais benefícios o menor custo da análise, uma vez que não é necessário preparar a amostra, eliminando, desta forma, o uso de reagentes e assim evita a exposição dos analistas ao solventes orgânicos e diminui o impacto ambiental pela não geração de resíduos perigosos, no caso o tolueno. Agradecimentos Agradecemos à Braskem pela oportunidade de desenvolver este trabalho. Referências Bibliográficas 1. J. 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