Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
10 a 12 de novembro de 2010
Uso de ninhos artificiais como metodologia para verificar a taxa
de predação em dois ambientes: borda e interior de mata
,Josilane Cordeiro Costa1, Ludiana Ribeiro da Silva 1Anamaria Achtschin Ferreira2
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Voluntárias de pesquisa, graduandas em Ciências Biológicas – UnUCET
Orientadora do projeto, pós doutorado pela Universidade Federal de Goiás,
docente do Curso de Ciências Biológicas – UnUCET
Universidade Estadual de Goiás (UnUCET), Rod. BR 153, Km 98, Bairro Arco Verde,
Anápolis/GO CEP :75001-970
Email 1 : [email protected]
Email 2: [email protected]
Palavras-Chave: Efeito de borda, ninhos artificiais, Cerrado
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INTRODUÇÃO
Dentre os biomas brasileiros o que possui maior extensão territorial é o
Cerrado, este ocupa aproximadamente 25% do território brasileiro. Calcula-se que o
Cerrado seja responsável por aproximadamente 5% da biodiversidade mundial
(PIRES, 1999). Segundo Eiten (1993), a vegetação que compõe este bioma forma
um mosaico heterogêneo com gradientes de altura e densidade, correspondendo às
características estruturais de suas fitofisionomias que podem variar de formações
campestres, Campo Cerrado, Campo Sujo, Campo Campestre, Cerrado strito sensu,
à florestais, Cerradão, Veredas, Mata Seca, Mata Ciliar e Galeria. Essa
heterogeneidade reflete em um maior número de abrigos para diversas espécies de
animais, que se distribuem conforme sua preferência de habitat e de recursos
disponíveis (JONER & RIBEIRO, 2009).
A sua biodiversidade é estimada, em 1/3 da biota brasileira e 5% da flora
e fauna mundiais. Segundo Machado et al (2004) existem hoje aproximadamente
6.600 espécies de plantas catalogadas no cerrado, 212 espécies de mamíferos, 150
espécies de anfíbios, 180 espécies de répteis, 1.200 espécies de peixes e 6.700
espécies de invertebrados. Sendo o terceiro bioma mais rico em aves do Brasil, com
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837 espécies, das quais 30 são endêmicas e 14 ameaçadas (SILVA 1995 apud.
MARTINS 2007).
É considerado um dos biomas mais ameaçados globalmente, uma vez
que seus ambientes naturais vêm sendo fragmentados e destruídos rapidamente
pela agricultura mecanizada e pecuária, havendo apenas 3,2% de seu território
resguardado por unidades de conservação de proteção integral. Por isso, no início
deste século, o cerrado foi considerado um dos 25 hotspots para a conservação em
escala global. Anteriormente apenas a Mata Atlântica ocupava tal status.
(MACHADO et al. 2005). Estudos recentes (MACHADO, 2000) indicam que pode
ocorrer uma perda de até 25% das espécies de aves associadas com a mata de
galeria apenas se houver a destruição dos ambientes naturais vizinhos à mata,
mesmo que ela permaneça intocada. Outras pesquisas mostram que a redução
excessiva das áreas nativas provoca a extinção de espécies de aves, que
desaparecem dos fragmentos de pequena dimensão (HASS, 2002).
A fragmentação de bioma é considerada atualmente uma das maiores
ameaças à biodiversidade global (VITOUSEK et al, 1997). O processo de
fragmentação da paisagem ocorre naturalmente, mas tem sido intensificado pela
ação antrópica nos últimos anos, tais como: agricultura, pecuária, exploração
florestal, mineração, urbanização e construção de barragens e de estradas. Esse
processo é caracterizado pela redução da área original e pelo aumento do hábitat de
borda (MURCIA, 1995).
Segundo o autor Faaborg et al.(1992) apud Machado (2000) define borda
como a junção entre dois tipos de habitas em estágios sucessionais diferentes. O
aumento do efeito de borda é o conjunto de características ecológicas associadas
com essa junção que afetam características biológicas locais, e que podem se
estender por grandes distâncias dentro dos habitas (MARINI et al. 1995).
Para as aves, a diversidade na estrutura da vegetação é fundamental
para a escolha de substratos, principalmente para atividades tais como a nidificação
(HOLMES 1990 apud HASS 2002). Além disso, outros fatores influenciam na
estruturação das comunidades de aves, como, por exemplo, a sazonalidade
climática,
a
qual
afeta
o
funcionamento
das
comunidades
vegetais
e,
consequentemente, a disponibilidade de recursos, a qual, por sua vez, também
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condiciona os sítios de nidificação (WINTER et al., 2005). Portanto a seleção dos
sítios de nidificação, por aves, é não randômica e adaptativa, sendo afetado pelo
risco de predação (SILVEIRA et al. 2007).
A predação de ninhos naturais vem sendo sugerida como a principal
causa do declínio de populações de aves, influenciando na estrutura e no
funcionamento das comunidades (MARINI et al. 1995). Devido à dificuldade de
localização e monitoramento dos ninhos naturais, e o consequente baixo esforço
amostral, resultando na inviabilidade de avaliações estatísticas, tais fatores, fizeram
com pesquisadores utilizassem outros métodos para estimar o sucesso reprodutivo
das aves, como os ninhos artificiais (MAJOR & KENDAL, 1996). Estes são utilizados
como uma rápida alternativa para avaliar o sucesso reprodutivo da avifauna. Os
estudos com ninhos artificiais são amplamente difundidos em ambientes temperados
e o que conhecemos sobre a predação de ninhos são provenientes destes
ambientes. Nos trópicos, os estudos com ninhos artificiais ainda são escassos e no
Brasil são quase inexistentes (ALVAREZ, 2007).
Embora o uso de ninhos artificiais possa apresentar algumas diferenças
na proporção de predação, quando comparados com ninhos naturais esses
experimentos são um rápido instrumento para averiguar a situação da avifauna
(BURKE et al. 2004). Além disso, o pesquisador possui maior controle sobre o tempo
de exposição, a distribuição e o tamanho amostral dos ninhos utilizados (ALVAREZ,
2007).
Neste contexto o objetivo deste trabalho é verificar a influência do efeito
de borda na taxa de predação de ninhos artificiais.
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MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo foi realizado entre os meses de agosto e setembro de
2010, em um remanescente de cerrado que ocorre na área na Reserva Ecológica do
Campus Dr. Henrique Santillo da Universidade Estadual de Goiás situado na cidade
de Anápolis (GO), distante a aproximadamente 60 km da capital Goiânia. O Campus
da UEG está localizado às margens da BR 153 do e Km 98, nas coordenadas
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16º20’34’’ S e 48º52’51’’ W. A altitude máxima é de 1.100m e mínima de 1.030m. O
clima da região, segundo a classificação de Köppen (EMBRAPA, 1982) é do tipo
Cwb - Tropical de Altitude com inverno seco e verão fresco. A área do Campus é de
134 ha e compreende três fisionomias: Cerrado sensu stricto, com maior dominância
8,2 ha; Mata de Galeria que se estende por cerca de 1 ha,
acompanhando a
extensão dos córregos Barreiro e Urubu, e Mata Seca Semidecídua com cerca de
5,3 ha (BARRETO JÚNIOR & ANGELINI, 2003). A área utilizada para o presente
estudo compreende a fitofisionomia de Mata Seca Semidecídua. Este trabalho visou
a comparação da predação de ninhos artificiais em dois ambientes: borda e interior
de mata. Para que os ninhos adquirissem um formato padronizado, foram
confeccionados manualmente usando Lagenaria siceraria (vulgarmente conhecida
como cabaça) todas com o diâmetro aproximadamente igual. Estas foram serradas
ao meio, formando duas peças côncavas e em seu interior foram colocados material
botânico disponível o que proporcionou aos ninhos um aspecto natural. Foram
colocados também dois ovos de codorna (Coturnix conturnix), pois é citado na
literatura que aves neotropicais colocam em média 2 a 3 ovos por postura. Durante
toda a preparação do experimento houve a utilização de luvas borracha para
minimizar o efeito do odor humano (MARINI & FRANÇA, 2009).
A borda da mata seca da Reserva Ecológica possui 500 m de
comprimento, contudo apenas uma parcela de 250 m foi utilizada para a disposição
de dez ninhos artificiais. Os mesmos foram colocados em pontos equidistantes de 25
metros. Para o interior de mata que dispõe de uma largura de 100 m, foram
colocados mais dez ninhos com distância média de 25 m da borda e equidistantes
entre si de 25 metros. Os ninhos foram colocados no solo da mata seca e marcados
com sacolas plásticas, junto às árvores em que os mesmos foram depositados, com
o intuito de facilitar o posterior monitoramento.
Os ninhos foram vistoriados duas vezes por semana pela manhã. Foram
considerados predados aqueles ovos que se acharam quebrados, riscados,
arranhados ou removidos. O monitoramento consistiu em percorrer as trilhas
removendo os ovos predados e substituíndo-os por ovos novos (GOMES &
MESSIAS, 2008), os experimentos começaram no final de agosto com data prevista
de término em novembro.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para analisar as diferenças de freqüência de predação dos ninhos
artificiais entre borda e interior utilizou-se o teste de independência Qui-quadrado e
também estatística descritiva. Foram predados 96 (53%) de um total de 180 ovos
utilizados no experimento, sendo 22,2 % predados na borda, e 31,1% interior da
mata. Comparando ambos os ambientes, os dados obtidos do esforço amostral total
empregado (n= 20 ninhos) mostram que a taxa de predação na borda foi menor, com
uma média de 50%. Ocorreu, no interior, 70% em média de predação. A taxa de em
cada monitoramento fica evidenciada com o gráfico 1 .
10
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Taxa de predação
(%)
6
Borda
4
Interior
2
0
1
2
3
4
Dias de monitoramento
Gráfico 1: taxa de predação para a borda e interior de mata seca semidecídua, no campus
henrique santillo – ueg anápolis - ago/set 2010
Matas com diferentes graus de perturbação podem apresentar diferentes
taxas de predação, uma vez que as características da vegetação, como alta
densidade e cobertura vegetal, podem estar associadas às taxas altas de predação
de ninhos. A tabela 1, os valores observados nas freqüências de ninhos predados e
não predados, tanto na borda quanto no interior da mata seca semidecidua. Houve
uma maior predação no interior da mata (X2 = 4,2, df =1, P < 0,05). Estes resultados
sugerem que pode haver diferença na fauna que habita ambos ambientes
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analisados, ou seja, as espécies de predadores podem estar restritas apenas há um
dos ambientes.
Resultados semelhantes foram encontrados por Antunes et al. (2000) em
seu estudo a respeito de predação de ninhos em áreas preservadas e áreas com
maior grau de alteração antrópica, onde houve diferença nas taxas de predação nos
dois ambientes.
Tabela 1 - número total ninhos predados para borda e interior de mata seca semidecídua, no
campus henrique santillo – ueg, anápolis – ago/set 2010.
Categoria
Borda
Interior
Total
Predados
20
28
48
Não Predados
20
12
32
Total
40
40
80
( X2 = 4,2, df =1, P < 0,05)
A baixa predação da borda pode ser correlacionada a influencia antrópica.
A existência da trilha educativa do campus criada com a finalidade de promover
educação ambiental pode ocasionar alterações na comunidade vegetal, promovendo
um aumento no caso de espécies tolerantes à presença humana e uma diminuição
para aquelas mais sensíveis. Na margem esquerda da borda, a reserva ecológica
do campus faz divisa com zonas agropecuárias (chácaras e fazendas) uma região
com grande atividade humana devido à presença de casas e criações de animais
domésticos. Estudos revelam que mamíferos predadores se orientam pelo cheiro,
podem ser atraídos ou repelidos pelo odor humano (FRANÇA & MARINI, 2009).
Um dos problemas enfrentados por trabalhos que visam analisar a
predação de ninhos artificiais se dá pela falta de conhecimento sobre a identidade
dos predadores de ninhos em regiões tropicais sendo, pois considerado um
problema para análise das taxas de predação (JONER & RIBEIRO, 2009).
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Trabalhos executados por Passamani (2000) revelam que a presença de
pequenos mamíferos como gambás e cuícas, bem como cobras e lagartos seriam
apontados como os possíveis predadores dos ninhos em questão.
Em coerência com os resultados obtidos pode-se supor que vertebrados
potenciais à predação de ninhos usam preferencialmente a área do interior de Mata
para forrageio, devido a fatores como a baixa presença de atividade humana e
animais domésticos, que possam afugentá-los. Foi possível apenas sugerir os
grupos de predadores mais comuns neste experimento, através dos resquícios de
predação encontrados, como as cascas dos ovos ou pela aparência dos ninhos
monitorados. Ovos desaparecidos podem ter sido predados por serpentes e teiús, e
ovos com buraco (sem o conteúdo) por mamíferos ou aves (PIETZ & GRANFORS
2000). O Plano diretor da UEG (2007) lista a presença de seis espécies de
pequenos mamíferos presentes no campus tais como: Didelphis albiventris (gambá,
micurê - Família Didelphide); Gracilinanus sp. (catita- Família Didelphide); Philander
sp. (cuíca de quatro olhos- Família Didelphide); Oligoryzomys sp. (ratinho - Família
Cricetidae); Nectomys sp. (rato d’água- Família Cricetidae); Necromys lasiurus (rato
do chão- Família Cricetidae); estes poderiam ser apontados como os supostos
predadores.
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CONCLUSÕES
Atualmente no Brasil pesquisas que investigam aspectos metodológicos
que relacionadas a experimentos com ninhos artificiais são escassas. Para uma
melhor compreensão dos fatores que afetam a predação de ninhos artificiais,
sugere-se a realização de estudos a respeito para posterior comparação com os
resultados apresentados aqui. Maior conhecimento a respeito das espécies de
predadores também seria de grande importância, principalmente no que se refere a
iniciativas sobre conservação de habitats além da conservação de biomas que na
maioria das vezes abrigam espécies endêmicas, importantes para o equilíbrio
ambiental de certas áreas.
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