Oxigenoterapia Domiciliar Prolongada Introdução A oxigenoterapia domiciliar prolongada (ODP) é hoje indubitavelmente o tratamento padrão para a correção de hipoxemia crônica em pacientes com doença pulmonar, pois com seu uso há aumento de sobrevida e melhora da qualidade de vida. Os principais efeitos benéficos da ODP no organismo são: diminuição do trabalho ventilatório e melhora do metabolismo orgânico, com conseqüente melhora das funções cardiovascular e muscular. O uso de ODP diminui as internações, reverte a policitemia decorrente da hipóxia crônica, aumenta o peso corporal, melhora o sono, os testes neuropsicológicos e as atividades de vida diária. A ODP está universalmente indicada nas doenças pulmonares avançadas que cursam com hipoxemia crônica. Doença pulmonar avançada (DPA) é toda doença pulmonar crônica que determina falta de ar constante e limita a realização das tarefas rotineiras de vida diária em seus portadores. Estes pacientes também possuem graves alterações na função pulmonar e nas trocas gasosas e geralmente são idosos, reconhecidos fatores de risco para maior morbi-mortalidade. As doenças pulmonares que na fase mais avançada podem se enquadrar nesta definição são: doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), asma perene, bronquiectasias, fibrose cística, fibroses pulmonares, doenças da circulação pulmonar e outras. Nas doenças que cursam com hipoxemia crônica o oxigênio suplementar deve ser prescrito para uso contínuo e com baixos fluxos. Naquelas que possuem um caráter progressivo e múltiplas exacerbações, como a DPOC, a titulação da dose ideal de oxigênio deve ser constantemente refeita e individualizada na sua evolução, conforme as necessidades em repouso, aos esforços e durante o sono. Estudos científicos sobre ODP Estudo British Medical Research Council Clinical Trial (MRC) Médicos do Reino Unido estudaram a sobrevida de pacientes com DPOC estável e hipoxemia crônica (pressão parcial de oxigênio no sangue arterial [PaO2] ≤ 55 mmHg). Os pacientes foram divididos em dois grupos. Um grupo recebeu ODP durante 15 h/dia (incluindo as horas do sono) e outro não recebeu oxigênio. A figura 4 mostra a curva de sobrevida dos pacientes deste estudo, a qual evidencia que houve melhora na sobrevida somente nos pacientes que usaram ODP. Estudo Nocturnal Oxygen Therapy Trial (NOTT) Este estudo também avaliou pacientes com DPOC hipoxêmica. O critério de inclusão foi: PaO2 ≤ 55 mmHg após estabilização da doença, mas alguns pacientes com PaO2 entre 55-59 mmHg entraram no estudo por terem apresentado anteriormente sinais de cor pulmonale ou hematócrito ≥ 55%. Os 1 pacientes foram divididos em dois grupos. Um para receber oxigênio somente noturno (NOT) usando uma fonte de oxigênio estacionária e outro para receber oxigênio contínuo (COT) usando uma fonte de oxigênio estacionária e uma mochila portátil. As curvas de sobrevida destes pacientes estão ilustradas na figura 5. Diferenças significantes foram observadas na sobrevida entre os grupos, com evidente melhor sobrevida no grupo que usou ODP contínua (p<0,01). As características demográficas e a gravidade da doença nestes pacientes nos dois estudos eram similares, portanto, a comparação das curvas de sobrevida de todos se tornou possível e é mostrada na figura 6. Resumindo, a pior curva de sobrevida foi a dos pacientes que não usaram ODP e a melhor curva de sobrevida foi a dos que receberam ODP continuamente. 2 Indicações e prescrição de ODP As indicações de ODP são: PaO2 ≤55mmHg ou saturação ≤88% em repouso, ou PaO2 entre 56 e 59mmHg com evidências clinicas de cor pulmonale ou policitemia (hematócrito ≥55%). Portanto, a realização de gasometria arterial em ar ambiente é imprescindível para a prescrição de ODP e deve ser realizada sempre durante doença estável antes de se matricular um paciente no Programa de ODP. A prescrição do fluxo ideal de oxigênio deve ser feita por titulação individual, usando-se um oxímetro de pulso, adequando-se o fluxo de oxigênio até obtenção de saturação de pulso da oxihemoglobina (SpO2) maior ou igual a 90%.(SpO2 ideal= 90-92%). Recomenda-se que à prescrição de oxigênio durante o dia em repouso, seja adicionado 1L a mais para uso noturno e 2 L a mais para os esforços (quando possível titular a dose ideal para os esforços individualmente, durante simulação das atividades de vida diária ou por um teste de esforço). Após uma alta hospitalar, antes de se matricular um paciente no Programa de ODP, nova gasometria arterial deve ser realizada após 45-90 dias da alta para confirmar se a hipoxemia ainda está presente (ou seja, durante doença estável). A hipoxemia pode ser transitória nestas situações, e ela pode ser revertida em aproximadamente 25-50% dos casos após estabilização da doença pulmonar. Critérios para prescrição de ODP Critérios para seleção de pacientes • Doença estável e com terapêutica farmacológica otimizada (isto é, broncodilatadores inalatórios, antibióticos, corticosteróides inalatórios) • Pelo menos uma gasometria coletada durante pelo menos 20 minutos respirando ar ambiente e em repouso • PaO2 ≤ 55 mmHg em ar ambiente ou PaO2 = 55-59 mmHg com sinais clínicos de cor pulmonale, ou hematócrito ≤ 55%. Doses ou Fluxos de oxigênio • Fluxo contínuo por cânula nasal • Se for prescrever válvula poupadora, documentar adequada saturação de oxigênio. • Titular individualmente o menor fluxo de O2 que mantenha a PaO2 de 60-65 mmHg ou a saturação de pulso da oxihemoglobina (SpO2) de 88-94% • Acrescentar + 1 L ao fluxo diurno de O2 para dormir e + 2 L durante esforços. Sistemas ou fontes para fornecimento de oxigenoterapia Cilindros de oxigênio Este é a fonte mais cara de ODP e costuma causar grande preocupação aos pacientes e familiares, pois os cilindros são pesados, se esvaziam rapidamente e necessitam constantemente ser substituídos. Ao preço do gás soma-se aqui toda a estratégia dos pedidos, transporte e entrega dos mesmos na residência do paciente e os custos elevados destes procedimentos. Portanto, estas ações necessitam ser sistematicamente muito bem orquestradas pelo sistema de saúde que dispensa a ODP, pela empresa fornecedora e pelos usuários para que o fornecimento da ODP seja ininterrupto. Concentradores de oxigênio São máquinas que separam o oxigênio do nitrogênio do ar ambiente, concentrando-o e fornecendo fluxos de O2 de 1 a 5L/min. São leves e possuem rodas nas bases, mas precisam ser conectados à energia elétrica. Apesar do gasto extra com energia, ainda os concentradores são muito mais baratos que os cilindros de oxigênio. Para o consumidor individual, o custo mensal do concentrador equivale a 25% do custo do cilindro, considerando-se um uso contínuo com fluxos equivalentes nos dois sistemas 24 h/dia. Oxigênio líquido O oxigênio líquido pode ser estocado no domicílio em recipientes ou matrizes de 44 a 46 L. A fonte de oxigênio líquido estacionária também possui uma mochila ou bolsa portátil que é segura e fácil de ser enchida. O oxigênio líquido ao sair da matriz, imediatamente se transforma em gasoso podendo ser 3 armazenado na mochila portátil. Esta bolsa tem autonomia aproximada de sete horas (quando se utiliza fluxo de oxigênio de 2L/m) e permite maior mobilidade ao paciente. Se o fluxo de oxigênio prescrito for em média 2L/m, o recipiente da matriz pode ser trocado a cada 10 dias, pois cada litro de oxigênio líquido se transforma em 863 litros de oxigênio gasoso. O seu custo é mais barato do que o custo dos cilindros, aproximadamente menos da metade para o consumidor individual, considerando-se um uso contínuo com fluxo equivalente nos dois sistemas 24 h/dia. Oxigênio gasoso portátil A fonte portátil pode ser um pequeno cilindro de alumínio com oxigênio gasoso sob pressão para permitir que o paciente se desloque fora do domicílio. Necessita de uma fonte de oxigênio estacionária extra. O custo vai depender da dose necessária e individualizada para cada paciente, e do tempo que ele vai precisar ficar longe da fonte estacionária de oxigênio. Métodos para administração de oxigênio A cânula nasal que termina em duas pequenas hastes introduzidas no vestíbulo das narinas é muito mais confortável para o paciente do que os cateteres longos (nasofaríngeos). Atualmente existem válvulas poupadoras de oxigênio, nas quais o oxigênio é liberado somente durante a fase inspiratória. As válvulas poupadoras de oxigênio são ideais para serem usadas acopladas nas fontes portáteis de oxigênio, pois ao conservar oxigênio elas dão maior autonomia ao sistema. Todas as fontes de oxigênio devem ser testadas individualmente, principalmente quando prescrevemos uma válvula poupadora de O2. Por exemplo, pacientes com doença extremamente grave que apresentam dispnéia importante e não mantém um sincronismo respiratório adequado durante os esforços, geralmente não se adaptam a válvula poupadora. Umidificação Não existem evidências científicas que indiquem a necessidade de umidificação em sistemas que empregam cateteres nasais e fluxos inferiores a 5L/min, exceto nos casos de seu uso transtraqueal ou em traqueotomias. Referências Bibliográficas 1- Petty TL, Burtis BB, Bigelow DB: Oxygen, an important pharmacologic agent (review). Rocky Mtn Med J 1967; 64: 66-71. 2Petty TL: Historical highlights of long term oxygen. 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